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CIDADE

Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas,

Ó vida suja, hostil, inutilmente gasta,

Saber que existe o mar e as praias nuas,

Montanhas sem nome e planícies mais vastas

Que o mais vasto desejo,

E eu estou em ti fechada e apenas vejo

Os muros e as paredes, e não vejo

Nem o crescer do mar, nem o mudar das luas.

Saber que tomas em ti a minha vida

E que arrastas pela sombra das paredes

A minha alma que fora prometida

Às ondas brancas e às florestas verdes.

Este é um poema de mais uma poetisa portuguesa, Sophia de Mello Breyner Andresen. Escolhi
fazer a análise do poema Cidade por ser um dos meus poemas preferidos da autora. Antes de ater-me à
análise em si, é válido esclarecer que a poesia para Sophia tem três sentidos: a Poesia, com P maiúsculo,
é uma necessidade, é algo essencial para viver. A autora ainda escreve em seu ensaio Poesia e
realidade: que “a Poesia existe em si – independente do homem.” (...) “a Poesia é a própria existência
das coisas em si, como realidade inteira, independente daquele que a conhece”. A poesia, com p
minúsculo, seria então “a relação do homem com a Poesia”. Por fim, o terceiro sentido da palavra poesia
é poema, a linguagem da poesia. “O poeta vê a Poesia, vive a poesia e faz o poema.”

Como pude observar, no poema Cidade encontram-se muitos elementos referentes à natureza.
Como mar, praia, montanhas, florestas, entre outros. A partir dessa observação, já se percebe um marco
da poesia de Sophia. No prefácio de uma de suas obras já se encontra uma citação da autora: “Nasci (...)
entre a cidade e o mar”. Em especifico neste poema, o titulo já diz qual o objeto (o tema) tratado no
mesmo: a cidade. Através da observação de Sophia ela descreve o essencial modo de ser das coisas.
Segundo Eduardo Prado Coelho, há uma “exaltação afirmativa do real”. Como já atentei mais acima
quanto aos elementos da natureza, devo dar atenção em especial para o “mar”, local bastante privilegiado
na poesia de Sophia. A poetisaa vê o mar como um modelo de perfeição.

Em contrapartida percebe-se que a cidade é representada no poema como um grande inimigo.


Idéia explicitada nos dois primeiros versos: “Cidade, rumor e vaivém sem paz das ruas, / Ó vida suja,
hostil, inutilmente gasta”. Coelho diz em Sophia, a lírica e a lógica que a autora tem dois grandes
inimigos: a cidade e o tempo. A cidade é representada como um polvo na obra de Andresen. E posso até
arriscar o motivo. Imaginando um polvo, a primeira coisa que me vem à cabeça é aquele molusco com
oito tentáculos que fazem movimentos incessantemente. Seria então algo que não tem paz, quietude,
seria uma coisa em movimento constante, trazendo assim, bagunça, rumor, caos.
Nos versos seguintes: “Saber que existe o mar e as praias nuas,” / “Montanhas sem nome e
planícies mais vastas”. Percebe-se um tom de inconformismo, que é confirmado nos versos seguintes: “E
eu estou em ti fechada e apenas vejo” / “Os muros e as paredes, e não vejo” / “Nem o crescer do mar,
nem o mudar das luas”. Sophia então não se conforma em viver presa à cidade, ao caos, e ser privada de
ver o mar, enxergar um horizonte maior e a mudança de fases da lua.

Na última estrofe: “Saber que tomas em ti a minha vida” / “E que arrastas pela sombra das
paredes” / “A minha alma que fora prometida” / “Às ondas brancas e às florestas verdes.”, todo o
descontentamento com a cidade vem à tona novamente. Nestes versos Sophia diz que a cidade é capaz
de “prendê-la”, tornar sua vida obscura. Podemos vê-la até como o exílio. Neste caso, pode-se
compreender o exílio no contexto deste poema como uma condição humana imposta aos homens. E até
comprometer sua alma, prometida às ondas e às florestas, ou seja, as coisas boas, belas. Aqui se
encontra presente mais uma vez o elemento mar (ondas). E percebe-se que todas as vezes em que
Sophia se refere a esse elemento há uma positividade, um enorme apreço por este elemento.

Partindo para uma análise estrutural, Rosa Maria Martelo fala sobre a necessidade de Sophia em
transitar da palavra para a sílaba em Sophia e o fio de sílabas. Para ela
“Sophia sempre entendeu que a sua poesia não se faria nem com idéias nem com
palavras, mas com sílabas, e que o seu conceito de justeza da linguagem poética radica
precisamente nessa perspectiva.”

Quanto ao ritmo do poema, percebe-se a predominância do ritmo binário ascendente: um acento fraco
(breve) seguido de um acento forte (longo). Nos versos de Cidade as rimas são marcadas de tal forma:
a/b/a/b/c/c/c/a/d/e/d/e. Pude notar ainda que as consoantes [s] e [m] são bastante marcadas no poema.
Rosa Maria nos chama atenção quanto a isso, na questão da oralidade na poesia de Sophia. Pois,
quando criança, Andresen
“pensava que os poemas não eram escritos por ninguém, que existiam em si mesmos,
por si mesmos, que eram como que um elemento do natural, que estavam suspensos,
imanentes. E que bastaria estar muito quieta, calada e atenta para os ouvir”.

Neste sentido, o leitor é convidado a ouvir e sentir o fluir das palavras enquanto desfruta do poema.

Já que se trata da análise de apenas um poema, muitos aspectos da poesia de Sophia ficaram
de fora do texto. No entanto, o esplendor de sua obra ainda pode ser bastante explorado. Que esta
humilde análise tenha trazido pelo menos um pouco de Sophia para dentro de cada leitor, e que desperte
o interesse de novos espectadores por essa poetisa sui generis. Termino minha análise com alguns
versos de um grande amigo de Sophia, o poeta Eugénio de Andrade, os quais dizem: “Sempre que penso
nela vejo o mar, muito nítido e azul ao fundo”

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