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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

INSTITUTO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


FACULDADE DE MEDICINA
EIXO DE ATENÇÃO INTEGRAL A SAÚDE DO INDIVÍDUO, FAMÍLIA E
COMUNIDADE

MÓDULO DISCIPLINAR DE ATENÇÃO INTEGRAL A SAÚDE I

Portfólio do Estudante: Apresentação da Unidade de Saúde da Família (ESF) e


Territorialização na ESF

Débora Pinheiro Xavier


Matrícula: 201709740149
Unidade de Estratégia da Família / Comunidade Parque Amazônia I
Docente: Rosiane Pinheiro Rodrigues

Data: 06/11/2017

Belém
2017
Débora Pinheiro Xavier

Portfólio do Estudante: Apresentação da Unidade de Saúde da Família (ESF) e


Territorialização na ESF

Portfólio avaliativo com descrição da aula prática da


disciplina Atenção Integral à Saúde I, realizada em
06.11.2017 na Unidade de Estratégia da Família e
Comunidade do Parque Amazônia I, no bairro da
Terra Firme, Belém-PA, durante o 1º período, 2º
semestre de 2017, orientado pela professora
Rosiane Pinheiro Rodrigues.

Belém
2017
São casas simples com cadeiras na calçada
E na fachada escrito em cima que é um lar
Pela varanda, flores tristes e baldias
Como a alegria que não tem onde encostar

E aí me dá uma tristeza no meu peito


Feito um despeito de eu não ter como lutar
E eu que não creio, peço a Deus por minha gente
É gente humilde, que vontade de chorar

(Gente Humilde, Vinícius de Moraes)


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 5
1. RELATO SOBRE A PRÁTICA NA UNIDADE/COMUNIDADE .............................. 6
1.1. A chegada ........................................................................................................ 6
1.2. Conhecendo a microárea ............................................................................... 7
1.3. Regressando à unidade .................................................................................. 8
2. REFLEXÃO CRÍTICA DA(S) ATIVIDADE(S) PRÁTICA(S), A PARTIR DO
REFERENCIAL TEÓRICO CONSULTADO ............................................................... 9
3. AUTO AVALIAÇÃO SOBRE A PRÁTICA ........................................................... 13
3.1. Acréscimos à minha vida pessoal e profissional....................................... 13
3.2. Pontos de maior dificuldade ........................................................................ 14
3.3. O que preciso compreender para dar significado ou melhorar o meu
aprendizado no contexto abordado ................................................................... 15
CONCLUSÃO ........................................................................................................... 16
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 17
ANEXOS ................................................................................................................... 18
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INTRODUÇÃO

A Medicina converge ciência à arte do cuidado. Ao contrário de ciências


modernas predominante teóricas, o componente humanístico é indissociável da
qualidade de ser médico; sem este componente, o exercício das habilidades médicas,
pior do que inútil, pode ser prejudicial.

Componente fundamental do percurso curricular acadêmico é o estudo do


sistema nacional de saúde. Particularmente em países de média e baixa renda, a
adaptação do discente aos desafios cotidianos da saúde pública são imperativas na
formação de profissionais aptos, ou ao menos conhecedores, de toda sorte de
dificuldades técnicas e emocionais.

O presente portfólio reflexivo tem por escopo relatar uma experiência


pessoal na unidade de saúde da família (ESF), realizada no dia 06 de novembro de
2017, como parte do plano de ensino do módulo de Atenção Integral à Saúde I, da
Universidade Federal do Pará. Colhido o relatório, far-se-á um breve cotejo entre a
prática e a literatura e apresentar-se-á reflexões pessoais acerca da visitação.

Ao final, anexos ilustram o diagnóstico situacional promovido pela


territorialização da microárea visitada. Espera-se que este portfólio ilustre as
impressões pessoais da visita à ESF Parque Amazônia I, sem a pretensão de esgotar
os desafios lá constatados.
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1. RELATO SOBRE A PRÁTICA NA UNIDADE/COMUNIDADE

1.1. A chegada

Conforme ajustado no plano de ensino do módulo de Atenção Integral à


Saúde I, a aula prática do dia 06 de novembro de 2017 teve por escopo a
apresentação da Unidade de Saúde da Família (ESF) e Territorialização na ESF aos
estudantes da turma D, do curso de Medicina da Universidade Federal do Pará. Após
divisão de grupos, potencializando o aproveitamento, fui designada à unidade do
Parque Amazônia I, no bairro da Terra Firme, junto a seis outros colegas.

A unidade está situada na Avenida Perimetral, nº 11, nas proximidades do


portão 4 da Universidade Federal do Pará, campus Guamá. Com o encontro do grupo
marcado para o horário de 8h30, fomos caminhando do campus à sede da unidade.

No caminho, o descaso das autoridades públicas foi de fácil observação. A


par da infraestrutura precária das vias, a sensação de insegurança era latente. Nas
proximidades da esquina da Avenida Perimetral com a Rua Vinte e Cinco de
Setembro, observou-se pichação inscrita no muro com os dizeres “Proibido rouba se
rouba vai pro sal (sic)” 1, sugerindo uma zona dominada, ao menos em parte, por
organizações criminosas.

Ao ingressar nas instalações da Unidade, as condições estruturais revelam


precariedade similar. Em ambiente não climatizado e pouco espaçoso, cartazes de
campanhas de saúde cobriam as paredes infiltradas, enquanto os profissionais e
membros da comunidade se acomodavam em mobiliário inadequado – cadeiras
desconfortáveis e carteiras escolares.

Notoriamente, o local não foi planejado para comportar uma unidade de


saúde (ANEXO I): a fachada é arquitetonicamente relacionada a um imóvel
residencial, de modo que a divisão de cômodos da unidade denota ar de desleixo e
improviso. Se, nos poucos minutos que permanecemos no local, sentimos o
desconforto e a suscetibilidade ao estresse, com muito mais razão o sentiam os
pacientes e funcionários.

Uma vez no interior da edificação, fomos instruídos acerca das atividades


do dia. O objetivo seria colher subsídios para um diagnóstico situacional das

1 O verbo “salgar”, no vocabulário de organizações criminosas, está associado ao crime de homicídio.


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microárea componentes da ESF, avaliando, entre outros, a estrutura do território e as


necessidades da comunidade.

Fui designada a conhecer a microárea do Agente Comunitário de Saúde


(ACS) Sidney. Em diálogo acerca da territorialização, o ACS nos informou que sua
microárea era a de número 10 e abrangia 102 famílias, conforme diretrizes do
Ministério da Saúde. Em termos práticos, corresponde à Passagem Belo Horizonte,
entre Avenida perimetral e Rua da Ligação (ANEXO II).

1.2. Conhecendo a microárea

Acompanhada do ACS, da professora Rosiane Pinheiro e de meu colega


Andrey, procedi, caminhando, à Passagem Belo Horizonte, limítrofe ao muro da
empresa Eletronorte S/A (ANEXO III).

No local, fui surpreendida. A porção da rua mais próxima à Avenida


Perimetral revelou padrões socioeconômicas flagrantemente superiores à média do
que constatara até então. Asfaltada, limpa e com residências de alvenaria e vários
andares, a visita desmistificou preconceitos: em lugar de precariedade, vislumbramos
preservação.

O ACS Sidney nos informou que, de fato, esta região da microárea


apresentava maior grau de organização, possivelmente em função do poder aquisitivo
dos moradores. Habitada por advogados, professores e engenheiros, a própria
comunidade tinha subsídios manutenção de um espaço seguro e compatível com a
manutenção de níveis adequados de saúde, em seu conceito amplo.

Considerando o predomínio de profissionais liberais, a via apresentou


poucos pontos de trabalho: segundo confirmou o ACS, eram de número de quatro –
uma oficina de motor de embarcações, uma de móveis e duas mercearias (ANEXO
IV). Constatou-se, ainda, a presença de uma instituição religiosa.

De modo geral, o lado direito da via é predominantemente ocupado pelo


muro da empresa Eletronorte S/A; assim, as 102 residências componentes da
microárea se concentravam ao lado esquerdo.

Ao longo do trajeto, paramos pontualmente para que o ACS acionasse


famílias. Sua familiaridade com os moradores reforça aspectos positivos da Atenção
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Primária à Saúde. Enquanto caminhávamos, descobríamos mais aspectos acerca da


ESF Parque Amazônia I: a quantidade de ACSs (um total de cinco, abaixo dos padrões
estabelecidos no ordenamento normativo) e a estrutura do Núcleo de Apoio à Saúde
da Família (NASF) e sua escassez de profissionais foram pontos reiterados em nossos
diálogos.

1.3. Regressando à unidade

A porção final do trajeto marcou a enorme disparidade socioeconômica


local, associada à miserabilidade de parte da comunidade: o final da Passagem Belo
Horizonte apresentou declínio sensível em termos de infraestrutura e saneamento.
Com asfalto praticamente inexistente, nos esquivamos entre buracos e excesso de
matagal para prosseguir no trajeto.

Neste ponto, experiência marcante nos surpreendeu: o encontro com dona


Emília, uma senhora de aproximadamente 70 anos de idade. Diabética, cumprimentou
o ACS Sidney e imediatamente relatou seu estado de saúde, com a voz embargada e
propensão a choro. Uma vez mais, o papel do ACS foi determinante: providenciou
uma consulta à dona Emília e palavras de consolo. Uma vez afastada, revelou que a
senhora cuidava sozinha dos netos, já que as filhas eram viciadas em drogas, e que
um dos netos, de onze anos de idade, já estava envolvido com práticas delituosas.

O regresso à unidade nos permitiu vislumbrar outras vias, já externas à


microárea. Uma vez de volta às suas instalações e reunidos com os demais alunos
do grupo, fomos apresentados à estrutura local.

Com o habitual ar de improviso, a unidade conta, distribuídos em altos e


baixos, com copa, farmácia, consultórios médico e de enfermagem, local de triagem
e acolhimento e uma brinquedoteca, fruto de doações realizadas pelos alunos de
Medicina da Universidade Federal do Pará. Estruturalmente, é flagrantemente abaixo
de padrões apropriados para acomodar, com conforto, pacientes e funcionários.

Ao final, o grupo se reuniu para partilhar experiências. Especialmente


marcante foi o relato de um de nossos colegas, acerca da presença de um ponto de
venda de drogas, em região inacessível aos ACS’s. O relato confirmou o que
constatamos no início da visita, na mensagem pichada no muro: trata-se, de fato, de
local com presença de organizações criminosas associadas ao tráfico de
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entorpecentes. Inobstante, os ACS’s relataram pouco índice de assaltos


especificamente na unidade; ao que tudo indica, a comunidade tem ciência de que,
mesmo com a precariedade e os inúmeros desafios, precisam da equipe.

2. REFLEXÃO CRÍTICA DA(S) ATIVIDADE(S) PRÁTICA(S), A PARTIR DO


REFERENCIAL TEÓRICO CONSULTADO

A Estratégia de Saúde da Família (ESF) é parte do Programa Saúde da


Família (PSF), política pública que tem por escopo reorientar o modelo assistencial.
Neste cenário, redefine-se o sistema de saúde para organizá-lo a partir da atenção
básica. Para melhor compreensão da importância da territorialização como
pressuposto do PSF, nos termos do relato do tópico anterior, forçoso um breve resgate
histórico e teórico a respeito do sistema de saúde brasileiro e da própria acepção
contemporânea de saúde.

O ano de 1986 foi determinante para a reformulação nas propostas de


mudança do setor de saúde. Recentemente findo um longo período ditatorial e uma
sucessão de crises econômicas, o Brasil efervescia em propostas de reformas nos
mais amplos setores políticos, econômicos e jurídicos. Nesta ocasião, realizou-se, em
Brasília, debate com mais de 4 mil pessoas, entre profissionais do setor da saúde,
funcionários públicos e usuários de serviços; foi a Oitava Conferência Nacional de
Saúde (VIII CNS), cujo lema restou eternizado no caput do artigo 196 da Constituição
Federal de 1988: saúde como direito de todos e dever do Estado.

A respeito dos princípios sagrados na VIII CNS, assevera Batistella (2007):

A força de seus postulados procura resgatar a importância das dimensões


econômica, social e política na produção da saúde e da doença nas
coletividades. Contrapondo-se à concepção biomédica, baseada na primazia
do conhecimento anatomopatológico e na abordagem mecanicista do corpo,
cujo modelo assistencial está centrado no indivíduo, na doença, no hospital e
no médico, o texto defende como princípios e diretrizes para um novo e único
sistema de saúde a universalidade, a integralidade, a eqüidade, a
descentralização, a regionalização e a participação social. Alinha-se a uma
corrente de pensamento crítico que tem expressão em diversos autores na
América Latina.

A partir destas reflexões, constata-se que, muito além de um conceito


centrado na ausência de patologia, a saúde precisava ser redefinida, incorporando
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determinantes abrangentes e orientando um sistema universal, integrado, equânime


e descentralizado.

Para viabilizar as intervenções propostas por ocasião da VIII CNS, as


principais estratégias giraram em torno da criação de um Sistema Unificado e
Descentralizado de Saúde (SUDS), em transição para o SUS, além da criação das
bases jurídicas para a sua implantação. Ademais, formulou-se um conceito de saúde
inédito, incorporado ao Relatório Final da conferência nos seguintes termos:

Em sentido amplo, a saúde é a resultante das condições de alimentação,


habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego,
lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde.
Sendo assim, é principalmente resultado das formas de organização social,
de produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de
vida.

A contraposição a um conceito restritivo e negativo de saúde é um dos


elementos constatáveis nesta visita prática. Muito além de canalizar o enfoque para o
aspecto biologicista e medicalizante da atenção à saúde, foi possível compreendê-la
em uma perspectiva abrangente e dinâmica. Do momento em que avaliamos as
condições estruturais do bairro e da própria unidade, à análise biopssicológica de
alguns dos membros da comunidade, pudemos compreender os desafios da saúde
pública sob uma perspectiva interdisciplinar.

Digno de menção, neste sentido, é o modelo conceitual dos determinantes


socais da saúde: as condições, em diferentes graus de especificidade, que tornam
determinados grupos mais ou menos suscetíveis a patologias. Conforme proposto por
Whitehead e Dalgreen (2006), incluem-se, muito mais do que fatores biológicos como
idade, sexo e hereditariedade, toda a rede social e comunitária do indivíduo, incluindo
condições de vida e de trabalho (ANEXO V).

A partir do conceito de saúde, pode-se ampliar o entendimento sobre


problemas e necessidades no setor. Não mais identificados exclusivamente por
enfoques clínicos e epidemiológicos, compreende-se, entra outras necessidades, a
urgência em fomentar-se melhores condições de vida, com acesso a tecnologias,
vínculos com a equipe de saúde e estímulo à autonomia. Neste sentido,

No caso específico desta visita, a meu juízo, fator positivamente


surpreendente foi a relação de confiança entre os membros da comunidade e o Agente
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Comunitário de Saúde, consolidando um dos objetivos preconizados pelo Ministério


da Saúde nas estratégias de saúde da família. De fato, o ACS Sidney, residente da
microárea, conhecia a fundo cada um dos seus integrantes, apresentando domínio na
identificação de suas necessidades.

Não obstante, a correlação direta entre menor poder aquisitivo e pior oferta
de saúde não está clara para a literatura. Nos dizeres de Deaton (apud Harrison,
2013), “as pessoas nos países pobres não adoecem primariamente por serem pobres,
mas em função de outras falhas na organização social, incluindo a oferta de saúde,
que não melhoram de maneira automática com uma renda maior”.

De fato, atribuir os desafios da ESF Parque Amazônia I a elementos


socioeconômicos é deveras simplista. Ainda assim, no contexto diferenciado da
microárea a que fui designada, restou claro que o poder aquisitivo dos moradores
influenciava significativamente sua qualidade de vida e, por conseguinte, sua saúde
em sentido amplo. Não só a Passagem Belo Horizonte apresentava melhores
condições estruturais, mas, como informado pelo próprio ACS, boa parte da
comunidade sequer usufrui dos serviços da ESF, sendo beneficiária de planos
privados de saúde.

De todo modo, é de fácil constatação a noção de que um ambiente


inseguro, com exposição prolongada a criminosos, falta de saneamento e condições
precárias de moradia desatendem ao contemporâneo conceito ampliado de saúde,
inspiração à Carta Magna de 1988.

O diagnóstico das principais necessidades da comunidade é, de longe,


profundamente complexo; o nível de interdisciplinaridade e convivência com a unidade
são tantos que o vislumbre de soluções efetivas exorbita as prerrogativas capacidades
técnicas de uma única ESF. Inobstante, o entendimento dos principais problemas de
saúde, para promoção de soluções mais iminentes e urgentes, autoriza a articulação
dos vários ramos do saber para organização de práticas.

É neste contexto que está inserida a estratégia da territorialização no


âmbito do Programa Saúde da Família (PSF). Proposto em 1994, o PSF se baseia na
atuação multiprofissional de equipes de Unidades Básicas de Saúde (UBS), que
acompanham comunidades em porções adstritas em vários níveis – da prevenção à
promoção, passando pela recuperação e reabilitação. Neste sentido, a territorialização
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visa não só a demarcar os limites de atuação da equipe, mas também reconhecer e


estabelecer relações com a população, nas diferentes dinâmicas sociais.

O PSF parte do pressuposto de que o menor nível de atenção à saúde é a


família. De fato, embora ainda não tenhamos acompanhado visitas domiciliares, foi
possível constatar o domínio, pelo ACS, das necessidades não somente em um nível
individual, mas familiar. Esta constatação foi marcante, embora não suficiente, por
ocasião do diálogo com dona Emília: para além de focar nas necessidades biomédicas
individuais, o agente tinha ciência das fragilidades psicológicas e emocionais daquela
senhora, considerando, sobretudo, os problemas enfrentados em sua família (filhas
envolvidas com drogas, neto envolvido com criminalidade).

As atribuições das equipes de Saúde da Família vêm inscritas na Política


Nacional de Atenção Básica (PNAB). Conforme sintetizado no portal do Departamento
de Atenção Básica (DAB):

Um ponto importante é o estabelecimento de uma equipe multiprofissional


(equipe de Saúde da Família – eSF) composta por, no mínimo: (I) médico
generalista, ou especialista em Saúde da Família, ou médico de Família e
Comunidade; (II) enfermeiro generalista ou especialista em Saúde da Família;
(III) auxiliar ou técnico de enfermagem; e (IV) agentes comunitários de saúde.
Podem ser acrescentados a essa composição os profissionais de Saúde
Bucal: cirurgião-dentista generalista ou especialista em Saúde da Família,
auxiliar e/ou técnico em Saúde Bucal.

O enfoque da prática foi o reconhecimento do recorte territorial da ESF


Parque Amazônia I. Em linhas gerais, a área no PSF é formada por um conjunto de
microáreas, totalizando uma média de 600 a 1.000 famílias. Cada microárea abrange
um conjunto de famílias de uma faixa de 450 a 750 habitantes – em torno de 100
famílias. A microárea corresponde à unidade de atuação do ACS. No caso desta
experiência, visitei a microárea de nº 10, correspondente à atuação do ACS Sidney.

As áreas das ESFs compõem diversos segmentos territoriais (níveis de


agregação mais gerais no planejamento em saúde), culminando, em última instância,
no município como um todo. Para efeitos de planejamento pedagógico do curso de
Medicina da Universidade Federal do Pará, a ESF Parque Amazônia I está situada no
Distrito Administrativo do Guamá (Distrito DAGUA).

Digna de nota é a constatação prática de fundamentos essenciais da


Atenção Primária à Saúde, a que estão sujeitos os membros da eSF. Nesta
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experiência em particular, além da já mencionada reorientação do cuidado (não mais


um modelo focado em curar, mas em orientar continuamente), da
multidisciplinariedade e da adstrição (territorial), válido mencionar a diretriz da
longitudinalidade.

A longitudinalidade consiste no prolongamento e na regularidade da


atenção, independente do tipo de problema específico (Starfield, 2002). Esta fonte
regular de atenção é instrumentalizada pela relação pessoal e duradoura entre os
usuários e os profissionais da saúde (Cunha e Giovanella, 2011).

Muito além dos laços evidentes entre o ACS – que relatou já ter sido líder
de associações locais – e os membros da comunidade, esta longitudinalidade é, a
meu juízo, positivamente consagrada por nós, membros da Academia. Isto porque,
embora não sejamos componentes da eSF aos moldes do que preconiza a PNAB,
nossa vinculação às comunidades próximas ao campus da Universidade Federal do
Pará fomenta laços indispensáveis à durabilidade e personalidade da atenção à
saúde.

3. AUTO AVALIAÇÃO SOBRE A PRÁTICA

3.1. Acréscimos à minha vida pessoal e profissional

A visita à ESF Parque Amazônia I foi minha primeira experiência, enquanto


discente de Medicina, em uma unidade do Sistema Único de Saúde. Antes de adentrar
nos acréscimos desta experiência em minha vida pessoa e profissional, impende
ressaltar a honra e a gratidão à docente Rosiane Pinheiro e aos membros da
Universidade Federal do Pará que, a par de todas as dificuldades, organizaram uma
aula prática e segura e relevam, cotidianamente, a inexperiência dos calouros de
Medicina.

Em nível pessoal, apesar de experiências anteriores enquanto advogada,


jamais presenciei, com tanta proximidade, a realidade de uma comunidade carente
em tantos aspectos. Confinados em escritórios, os profissionais de outros ramos são
distanciados destes microcosmos pela impessoalidade dos noticiários e pelo torpor
de rotinas ensimesmadas. Na esteira oposta, profissionais da saúde, em todos os
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seus níveis, contemplam a humanidade em todas as suas nuances, fragilidades e


necessidades.

Cada instante, pois, foi dignificante. Muito além da experiência acadêmica,


conhecer a comunidade me atingiu em níveis religiosos e espiritualistas, despertando
a consciência da responsabilidade que carrego enquanto acadêmica da área da
saúde. A par de todas as necessidades, afinal, somos portadores de esperança e
recebemos uma avalanche de conhecimentos científicos multidisciplinares para levar,
aos carentes, a arte da cura.

Ademais, desmistifiquei uma avalanche de preconceitos. Apesar das


disparidades socioeconômicas regionais e locais, a Medicina ensina que, em última
instância, as necessidades humanas são universais e transcendem o bem-estar
material: trata-se de um conjunto de carências que culminam com o desejo coletivo
de atenção, altruísmo e amor. O simples fato de o ACS dialogar com membros da
comunidade gozava de poder terapêutico intrínseco.

Profissionalmente, a experiência proporcionada pelo módulo de Atenção


Integral à Saúde é, talvez, a de maior importância para qualquer profissional médico:
resgatar a humanidade na relação com os pacientes. O estudo teórico, por vezes, nos
cega e nos afasta daquele que é o escopo primordial da Medicina: ajudar o próximo.

Em última instância, a sede por conhecimentos biomédicos, sobretudo


focados em elementos anatomofisiopatológicos dos sistemas humanos, passa a
rivalizar com a aspiração por contribuir com o sistema de saúde brasileiro. Muito mais
do que tecnicamente capacitada, espero prosseguir e concluir o curso mais empática,
humanizada e consciente das necessidades mais pungentes do setor da saúde em
meu país.

3.2. Pontos de maior dificuldade

Os maiores desafios em aulas práticas dizem respeito à manutenção da


serenidade diante de situações de desequilíbrio e injustiça. Ter a noção de que os
brasileiros são pesadamente onerados com tributos e não acompanham o retorno
nem em saúde, nem em infraestrutura e segurança, são lamentáveis.

Notoriamente, é necessário amadurecer psicologicamente para lidar com


situações de adversidade. Conviver pacientemente com o desconforto e a
15

inadequação das unidades de saúde exige, mais do que profundo equilíbrio mental,
doses de criatividade e improviso. Não raro surgirão situações em que, para melhor
atender às necessidades concretas, será necessário aproveitar os itens
precariamente disponíveis na unidade, potencializando sua utilização. Exemplo
marcante, no caso em tela, é o da utilização de carteiras escolares como mobiliário
de acomodação dos pacientes – ainda que inadequado, é melhor, em muitos casos,
do que a ausência de local para sentar.

Ainda, preciso progredir nas leituras dos referenciais teóricos, otimizando


meu tempo disponível com o das demais disciplinas. De longe, um dos maiores
desafios enquanto discente de Medicina é conciliar a pesada carga horária com o
denso conteúdo programático, sem superestimar determinados módulos em
detrimento de outros.

3.3. O que preciso compreender para dar significado ou melhorar o meu


aprendizado no contexto abordado

A otimização de meu aprendizado perpassa, fatalmente, por amadurecer


meu repertório teórico. Muito além de me reter aos textos sugeridos no Plano
Pedagógico, preciso buscar outras fontes para compreender, de modo analítico e
crítico, as nuances sociais, econômicas, psicológicas, políticas e jurídicas que
permeiam o conceito contemporâneo de saúde e sua verificação no contexto da ESF.
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CONCLUSÃO

Foge ao escopo deste relato esgotar a infinidade de nuances percebidas


por ocasião da aula prática na ESF Parque Amazônia I e suas relações com a
produção acadêmica contemporânea. Este mesmo relato poderia ter sido avaliado sob
uma perspectiva puramente jurídica, sociológica ou filosófica, sem que qualquer
aspecto da experiência fosse alterado.

Não obstante, adotando como enfoque a Atenção Primária à Saúde e a


contextualização da territorialização enquanto instrumento das ESFs, deu-se
destaque ao conceito ampliado de saúde, às diretrizes da Atenção Básica, à acepção
de territorialização e às observações pessoais acerca da experiência.

Para fins de reflexão e revisão da prática, a confecção deste portfólio foi de


extrema valia. Em um processo de auto avaliação e investigação crítica, ponderei uma
série de desafios e soluções, não só no âmbito do setor da saúde propriamente dito;
levei-me a refletir e criticar uma série de métodos atualmente empregados pelo Poder
Público.

Em suma, a experiência prática e a construção deste portfolio estimularam


novos níveis de compreensão, reflexão e crítica. Com um senso renovado de
responsabilidade, abrem-se portas para uma formação mais humanística e atenta às
necessidades sociais no contexto da realidade brasileira.
17

REFERÊNCIAS

BATISTELLA, C. Saúde, Doença e Cuidado: complexidade teórica e necessidade


histórica In. Fonseca, AF; Corbo, AMD. O território e o processo saúde-doença. Rio de
Janeiro, EPSJV; FIOCRUZ, 2007. Disponível em:
<http://www.epsjv.fiocruz.br/pdtsp/index.php?verifica=1&area_id=2&livro_id=6&arquivo=ver_
conteudo_2>.

BRASIL. Comissão Nacional dos Determinantes Sociais da Saúde – CNDSS.


Determinantes Sociais da Saúde ou Por Que Alguns Grupos da População São Mais
Saudáveis Que Outros? Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006. Disponível em:
www.determinantes.fiocruz.br.

__________. Ministério da Saúde. VIII Conferência Nacional de Saúde. Brasília: Ministério


da Saúde, 1986. (Anais). Disponível em:
http://conselho.saude.gov.br/biblioteca/relatorios/relatorio_8.pdf

__________. Constituição Federal da República. Brasília: Governo Federal, 1988.

__________. Estratégia Saúde da Família. Brasília: Ministério da Saúde, Departamento de


Atenção Básica. Disponível em: http://dab.saude.gov.br/portaldab/ape_esf.php,

Cotta RMM, Mendonça ET, Costa GD. Portfólios reflexivos: construindo competências
para o trabalho no Sistema Único de Saúde. Rev Panam Salud Publica. 2011:30(5):415–
21.

Cunha EM, Giovanella LL. Longitudinalidade/continuidade do cuidado: identificando


dimensões e variáveis para a avaliação da Atenção Primária no contexto do sistema
público de saúde brasileiro. Ciênc Saúde Coletiva [periódico na internet], 2011. Disponível
em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-
81232011000700036&lng=en

LONGO, Dan L. et al. Medicina interna de Harrison. 18.ed. Porto Alegre: AMGH, 2013. 2 v.

Starfield B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e


tecnologia. Brasília: UNESCO, Ministério da Saúde; 2002.

__________: Contribution of primary care to health systems and health. Milbank Q


83:457, 2005.
18

ANEXOS

ANEXO I

Fachada das instalações da ESF Parque Amazônia I. Destaque para a arquitetura inadequada a uma
unidade de saúde. Fonte: Google Street View.
19

ANEXO II

Mapa da região onde está situada a ESF Parque Amazônia I. No destaque do círculo em azul, a
localização das instalações da unidade. Em amarelo, a microárea objeto desta aula prática, cinco ruas
depois da sede da unidade. Fonte: Google Maps.

ANEXO III

Recorte da visão da Passagem Belo Horizonte, abrangida pela microárea objeto desta prática.
Destaque para a limpeza. À esquerda, imóvel com altos e baixos e dois carros. À direita, muro da
Eletronorte.
20

ANEXO IV

Representação esquemática da região em que transitei durante esta prática. A microárea corresponde
às 102 famílias da Passagem Belo Horizonte, a partir da Av. Perimetral.

ANEXO V

Modelo de Dahlgren e Whitehead para análise de determinantes sociais da saúde e sua influência em
camadas. Fonte: Whitehead & Dahlgren apud Brasil, 2006.

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