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16/11/2018 “As nossas vidas como homossexuais nunca seriam o que são sem Proust, Gide ou Garcia Lorca”

ou Garcia Lorca” | Edouard Louis

Edouard Louis
05/01/2015 · 15:55

“As nossas vidas como homossexuais nunca


seriam o que são sem Proust, Gide ou
Garcia Lorca”

Entrevista por Pedro Garcia / Dezanove

A homossexualidade de Eddy era sentida como uma


perturbação, um fenómeno raro na realidade da sua aldeia, e este sentimento de estranheza foi-
lhe imposto logo desde o início. Sente que estas condições fizeram a homossexualidade uma
característica definidora da sua personalidade?

Édouard Louis: Sim, na verdade logo no princípio do livro, na primeira cena, no primeiro capítulo, Eddy está na
escola e dois rapazes aproximam-se dele no corredor, chamam-lhe de “paneleiro”, e batem-lhe por isso. Coloquei
a cena do insulto como a cena de abertura porque, para mim, era simbólica. Quis sublinhar esta capacidade da
sociedade de criar-nos e de impôr-nos as nossa identidades. Estes dois rapazes que insultam e batem no Eddy
dizem-lhe quem ele é antes que ele o perceba, antes de ter a oportunidade de saber quem é por si mesmo. Eles
dizem-lhe “és um paneleiro”, e o insulto é como uma certidão de nascimento, irá definir o resto da sua vida, e
estará sempre presente no comportamento dos outros em relação a ele. Tentei no livro falar deste insulto que nos
aprisiona. E a literatura parecia ser a melhor forma, porque podia exprimir, através de personagens, todas estas
frases da vida diária que aprisionam as pessoas numa identidade. Para responder mais directamente à sua
questão, talvez a homossexualidade não define toda a personalidade do Eddy ou de qualquer outro homossexual,
mas a realidade é que os homossexuais são sempre chamados a obedecer a isso. É exactamente como os negros
ou as mulheres:
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consideram-no redutor. Mas é a ordem social que cria estas restrições. O romance que escrevi é precisamente

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sobre a história da criança que fui, Eddy, a tentar espaçar os mundos do seu círculo, da sua aldeia e da sua
família.

A guerra interior de Eddy contra a sua homossexualidade era sustentada pela crença de que os
comportamentos externos definem melhor uma pessoa do que a essência, o desejo dessa mesma
pessoa? Isto é, conseguimos mesmo fugir de nós mesmos? Há em nós algo imutável, apesar dos
nossos comportamentos?

Na escola e na família, Eddy era considerado um “paneleiro” (uso esta palavra porque precisamente uma das
características do livro é explorar a violência da linguagem). E sem dúvida, como disse, ele luta contra a sua
própria homossexualidade, contra o seu próprio desejo. Quando, no fim do livro, conto que escapei da minha
aldeia e do meu milieu, não era para ser capaz de viver a minha vida como homossexual. Pelo contrário, foi uma
tentativa de fugir disso. Eddy pensa: “Vou para outro sítio onde as pessoas não vão considerar-me homossexual”.
Agora posso dizer que esta fuga permitiu-me viver a minha vida como gay. Mas, nessa altura, Eddy não o quer.
Ele foge porque não tem hipótese, mas, dentro dele na verdade, ele não quer sair da aldeia. É como disse: ele luta
contra si mesmo para tentar ser aquilo que os outros chamam de “normalidade” (ser masculino e heterossexual).
Posso dizer agora que a fuga deu-me a liberdade. Mas a liberdade de Eddy é um acidente. Sempre senti que nos
livros sobre as trajectórias das pessoas que escapam ao seu meio, como na autobiografia de Bourdieu, ou nos
livros de James Baldwin, ou, na cultura pop, como em Billy Eliot, a pessoa que escapou era sempre descrita como
uma pessoa que sonhava em ser livre ou em ser diferente do meio onde também pertencem, desde sempre. Tentei
mostrar algo diferente no Eddy Bellegueule: como esta partida era algo como uma derrota para Eddy. Descobri,
tantos anos depois, que foi a minha sorte quando comecei a escrever este livro. Sim, podemos mudar muitas
coisas.

A dada altura na vida de Eddy Bellegueule, ele


compreendeu que, de forma a quebrar o ciclo, a única solução era escapar. O que diria a respeito
de um rapaz preso na mesma situação?

Sempre considerei a literatura como um acto político. Penso que foi assim com todos os escritores (ou quase) que
interessam agora. As nossas vidas como homossexuais nunca seriam o que são sem Proust, Gide ou Garcia Lorca.
Eu diria que o meu livro é uma exortação e um manifesto de fuga. Penso que recusar tentar lidar com algumas
situações que sabemos que iremos automaticamente perder, porque as regras estão definidas à partida, é, cada
vez mais, uma grande preocupação artística e política, como Edward Snowden provou recentemente. E a
literatura pode ter um papel importante no que toca a esta nova forma de resistência.

As pessoas que descreveu da aldeia serão inocentes de todo o sofrimento que infligiram a Eddy –
na medida em que são apenas o fruto de um sistema social do qual não têm consciência – ou
devem arcar inteiramente com a culpa dos seus actos?

Não sei se “inocente” é uma boa palavra mas certamente que não são responsáveis. A responsabilidade pertence
às estruturas e às suas condições de vida. É a exclusão que o pai de Eddy sofre que cria a sua violência. E é o
mesmo para todos os outros. A violência é uma consequência da dominação no meio e na aldeia que descrevo no
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livro. A violência tem sempre razões sociológicas. Assim, claro que o livro era uma tentativa de compreender isso
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– entre outras violências – a violência homofóbica, precisamente para combatê-la, mas não o combate individual.
Não há uma noção estúpida de « responsabilidade individual ». É uma noção que implica um julgamento. Pode
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prender-se um homofóbico, mas não irá terminar com a homofobia. Na história dos Estados Unidos da América,
prender os racistas não acabou com o racismo. Mas seria uma longa conversa…

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