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Resumo
século XX.
Introdução
Peter Burke também nos ajuda a
Em 1979 Lawrence Stone pensar questões como a narrativa e o
chamou a atenção de vários pesquisadores acontecimento, em capítulo dedicado ao
do campo historiográfico, ao publicar um assunto no livro, A escrita da história (1992).
texto no qual transcorria a respeito de um O autor destaca que mesmo a história
“ressurgimento da narrativa”1. O modelo estrutural predominante durante o século
narrativista de se fazer história, o qual XX, não pode ser concebida como isenta
muitos defendiam ser uma característica de uma narrativa, visto que a narrativa é
do Historicismo que havia sido deixada responsável pela coerência e significação
para trás pelos Annales, retorna sob os do texto histórico. Ele confronta também
holofotes do debate histórico, a narrativa tradicional com a moderna,
principalmente no campo da teoria e da com o intuito de indicar alguns problemas
filosofia da História. na escrita da história e sugerir soluções,
A ideia de Stone sobre um como é o caso da crescente tomada de
retorno da narrativa na produção do consciência dos historiadores sobre a
conhecimento histórico, ainda que particularidade que representa seu
colocada pelo autor como um trabalho e a necessidade destes em tornar
“mapeamento das tendências na pesquisa claro ao leitor que sua obra é apenas um
histórica e não como um juízo de valor”, dos inúmeros pontos de vista que
levou muitos autores a pronunciarem-se, determinado evento histórico pode ter,
manifestando duplamente suas sem perder a homogeneidade de sua
percepções do processo por qual passava narrativa. Burke salienta a importância de
a História e suas próprias noções do que é se pensar um novo modelo narrativo que
a narrativa. Eric Hobsbawm, em ensaio congregue as preocupações dos analíticos
resposta publicado em seu livro, Sobre e dos narrativistas e aponta a
história (1997), levanta algumas hipóteses micronarrativa e a narrativa de frente para
que possam explicar essa moda histórica, trás, assim como algumas contribuições
como por exemplo, a ascensão da história oferecidas pela história da ficção
social e a notável expansão do campo (principalmente o cinema), como
histórico, que consequentemente respostas a estas novas demandas.
implicaram novas dificuldades ao Este modelo de história
historiador e a produção de uma síntese estrutural do qual nos fala Burke,
histórica, e o próprio êxito que estes amplamente difundido pelos Annales e
historiadores narrativistas tiveram no com forte influência também das Ciências
período pós-guerra. Ainda que, em maior Sociais (seja o estruturalismo que nasce
ou menor caso, Hobsbawm busque com os estudos linguísticos de Saussure ou
dialogar com seu antigo companheiro de o do próprio Lévi-Strauss), passa a ter
revista, ele salienta a dificuldade em modelos de análise concorrentes,
determinar uma volta da narrativa como principalmente a partir da década de 1960,
colocada por Stone, uma vez que não há como é o caso dos estudos de Derrida e
evidências de que a maioria dos Foucault, posteriormente classificados
historiadores tenha aberto mão do esforço como pós-estruturalistas, ainda que
em explicar o passado e que as atuais Foucault negue todos os “pós” designados
tendências historiográficas não são a sua pessoa. Em torno do mesmo período
suficientes para caracterizar uma rejeição a se dá a emergência das discussões acerca
historiografia da primeira metade do da Virada Linguística, principalmente nos
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5Associada
cederam posteriormente em alguns casos. Ver
com frequência a figura de Ginzburg e
entrevista de Ankersmit integrante do livro
seu clássico, O queijo e os vermes (1976).
publicado pela Eduel, A escrita da história: a
6 Ambos já reconheceram que podem ter natureza da representação histórica (2012).
relativizado demasiadamente em alguns escritos e
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atualidade que tem dedicado esforços no livro, A Arqueologia do saber (1969), ajudam
sentido de pensar uma teoria da História a pensar a história da historiografia. Nesta
“conciliadora”. Ele deixa clara sua posição obra em específico, o filósofo francês
em defesa de uma História científica e propõe um método de análise que
defende a existência de uma razão investigue nas Ciências Humanas o
histórica que não deve ser negligenciada7. estabelecimento de um modelo dominante
Por outro lado, posta-se de maneira crítica de conhecimento através do tempo. O
diante do pós-modernismo e alega ser grande insight de Foucault é voltar-se não
crucial que as atuais teoria e filosofia da para o problema quase insolúvel entre
História deem atenção às reivindicações veracidade ou falsidade do discurso, mas
desse pensamento, reconhecendo as suas sim para os meios e condições que
críticas como um maneira de aperfeiçoar a permitiram o estabelecimento deste
ciência histórica. Como Diogo Roiz modelo dominante de conhecimento e
salienta ao analisar seu livro, Razão histórica para as análises internas e externas do
(1983), o autor tenta dar algumas respostas discurso, não necessariamente linguísticas.
e solucionar alguns problemas referentes à
teoria da História, apresentando a História Referências
como um tipo específico de ciência e a
teoria como uma categoria indissociável ANKERSMIT, Franklin Rudolf; MENEZES,
Jonathan. A escrita da história: a natureza da
da prática de produção do conhecimento representação histórica. Eduel, 2012.
histórico. Rüsen mostra-se como uma boa
saída ao diálogo entre surdos travado por ANKERSMIT, Frank R. Historiografia e pós-
modernismo. Topoi (Rio de Janeiro), v. 2, n. 2, p.
alguns e ao encastelamento que propõe 113-136, 2001.
outros autores mais ortodoxos.
BARROS, José D.’Assunção. A historiografia
Frank Ankersmit (2001, p. 131), pós-moderna. Ler História, n. 61, p. 147-167,
simpatizante de muitos postulados de 2011.
Hayden White e menos sensibilizado pela BAUMAN, Zygmunt; Modernidade Líquida.
corda bamba em que a História-ciência se Tradução: Plínio Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge
encontra, aponta para outro vértice. Zahar, 2001.
Diante da vasta produção historiográfica BURKE, Peter. A história dos acontecimentos e o
dos últimos anos e do incontável número renascimento da narrativa. In: BURKE, Peter. A
de historiadores, faríamos melhor se escrita da história. Unesp, 1992. p. 327-348.
olhássemos com mais atenção para essa GARCHET, Helena Maria Bomeny. Teoria
produção, ao invés de nos ocuparmos em literária e escrita da história de Hayden White.
produzir mais. Ankersmit desloca sua Revista Estudos Históricos, v. 7, n. 13, p. 21-48,
1991.
atenção para o fator hermenêutico
presente na História (principalmente HARTOG, François. Aristóteles e a história, mais
uma vez. História da Historiografia, n. 13, p. 14-
filosofia da História) e sugere que frente
23, 2013.
aos relativos pontos de vista que surgiram
nos últimos anos, foquemo-nos em refletir HOBSBAWM, Eric. A volta da narrativa. E.
HOBSBAWM, Sobre história. São Paulo, Cia.
melhor sobre as distintas interpretações das Letras, p. 201-206, 1998.
existentes sobre o passado, antes de
produzirmos novas interpretações. LYOTARD, Jean-François. A condição pós-
moderna. J. Olympio, 1998.
Ainda que não contribua PESAVENTO, Sandra Jatahy. Fronteiras da
diretamente a narrativa, os estudos ficção: diálogos da história com a literatura.
genealógicos de Michel Foucault já na Revista de História das Ideias, v. 21, p. 33-57,
década de 1960, principalmente em seu 2000.
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