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OCTAVIO PAZ ADUPLACHAMA AMOR EROTISMO Tradugdo ‘Wladyr Dupont DadortanilorasdeCatlgaco na Pulao (Clow Bese ao Liv, 57, Bath ‘Adupia cham / Cosa Pax tduso Wide pont = Ss Pl: Sno 35 tie ed eopnaes Indios pas cogs semis 1g Leta cin MBH Titulo original: The double fame {© 1953 by Octavio Paz Diteitos exclusives para o Brasil cedidce & ‘Agila Sklane de Livro, Jornais Revistas Lida ‘Av, Raimundo Perelta de Magalhes, 3395. (CEP 05145-200 — Sf0 Paulo — Brasil Coord. editorial: Ana Emilia de Oliveia Revielo: Svia , Ribeiro eShila T. Fabre ‘Bditor Skcliana, 1994 Liminar Quando se comeca a escrever um livro? Quanto tempo demoramos para escrevé-lo? Perguntas aparentemente Ficeis, mas na verdade arduas. Se me atenho a fatos exteriores, co- mecei estas paginas nos primeiros dias de marco deste ano e terminei em fins de abril: dois meses. A verdade € que come- cei na minha adolescéncia. Meus primeiros poemas foram de amor ¢ desde entio esse tema aparece constantemente em minha poesia, Fui também um vido leitor de tragédias e co- médias, romances e poemas de amor — dos contos das Mile uma noites a Rome e Julieta € A cartuxa de Parma, Essas leituras alimentaram minhas reflexdes ¢ iluminaram minhas experigncias. Em 1960 escrevi meia centena de paginas sobre Sade, nas quais procurei tragar as fronteiras entre a sexualida- de animal, 0 erotismo humiano © 0 dominio mais restrito do ‘amor. Nao fiquei inteiramente satisfeito, mas aquele ensaio serviu para que eu percebesse a imensidao do tema. Em 1965 vivia na India; as noites eram azuis e elétricas como as do poema que canta os amores de Krishna e Radha, Enamorei- me, Entio decidi escrever um pequeno livro sobre 0 amor que, partindo da conexao intima entre os és campos — 0 sexo, 0 erotismo e o amor —, fosse uma exploragao do sent mento amoroso. Fiz algumas anotagdes. Tive de parar: obri- gagdes circunstanciais me forgaram a adliar © projeto. Deixei a India e uns dez anos depois, nos Estados Unidos, escrevi um ensaio sobre Fourier no qual voltei 2 algumas daquelas idéias esbogadas em minhas anotagdes. Outras preocupa- (goes e trabathos, novamente, se interpuseram. Meu projeto ficava cada vez mais longe. Eu ndo podia esquecé-lo, mas tampouco tinha animo para executé-lo, Passaram os anos. Continuei escrevendo poemas que, ‘com freqiiéncia, exam de amor. Neles apareciam, como frases musicais recorrentes — também como obsessdes —, ima- gens que exam a cristalizagio de minhas reflexdes. Nao ser dificil para um leitor que tenha lido meus poemas encontrar pontes e correspondéncias entre eles ¢ estas paginas. Para ‘mim, a poesia e © pensamento silo um sistema tinico. A fonte ‘de ambos € a vida: escrevo sobre o que vivie vive. Viver tam- bém é pensar e, as vezes, atravessar essa fronteira na qual sentir ¢ pensar se funclem: isso € poesia, Nesse meio tempo, papel em que havia mscunhado minhas anoragdes na fnclia foi amarelanco e algumas paginas se perderam nas mudan- ‘case vingens. Abanclonei a idéia de escrever o livro, Em dezembro passado, 20 reunir alguns textos para uma colegio de ensaios (ideas y castumbred), lembrei caquele li- vro tantas vezes pensado e nunca escrito. Mais que pena, senti vergonha: nfo era um esquecimento, era uma tiaicho. Passei algumas noites em claro, rofdo pelo remorso. Senti a necessidacle cle voltar a minha idéia e realizé-la, Mas eu me detinha: nfo era um pouco ridiculo, no final de minha vida, escrever um livro sobre o «mor? Ou era um adeus, um testa mento? Balangava a cabega, pensando que Quevedo, em meu lugar, teria aproveltado a ocasito para escrever um soneto sa. tirico. Procurei pensar em outras coisas; foi intel: a idia do li- vio naio me deixava. Passei virias semanas cheio de diividas. De repente, uma manha, lancei-me a escrever com uma es- pécie de alegre desespero. A medida que avangava, surgiam novas visOes. Pensara em um ensaio de umas cem paginas ¢ © texto se alongava mais e mais com imperiosa espontanei- dade, até que, com a mesma naturalidade e 0 mesmo impé- rio, deixou de Auir. Esfreguei os olhos: escrevera um livro. Minha promessa estava cumprida. Este livro tem uma relag&o intima com um poema que es- revi ha poucos anos: “Carta de creencia", A expressio desig- naa carta que levamos conosco para sermos acreditados por pessoas clesconhecidas; neste caso, a maioria de meus leito- res. Também pode ser interpretada como uma carta que con- tém uma declaragio de nossas crengas. Pelo menos € esse 0 sentido que Ihe dou. Repetir um titulo é feio e se presia a con- fusbes. Por isso preferi outro de que, além disso, eu gosto: A dupla chama, Segundo o Diciondrio de auitoridades, a cha- ma é “a parte mais sutil do fogo, e se eleva em figura pirami- dal”, O fogo original e primorclial, a sexualidacle, levanta a chama vermelha do erotismo e esta, por sua vez, sustenta ou- tra chama, azul e trémula: a do amor. Erotismo e amor: a du- pla chama da vida ‘Octavio Paz México, 4 de maio de 1993

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