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Ciência

no Brasil
100 anos da Academia
brasileira de
ciÊncias
Ciência
no
Brasil
m
c o o r d e na d o r e s

José Murilo de Carvalho e Ildeu de Castro Moreira

Ciência no Brasil
m 100 anos da ABC

1916-2016ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s | 2 0 1 7
ACADEMIA BRASILEIRA DE CIÊNCIAS (ABC) ENTREVISTADOS
(Diretoria 2016-2019)
Adalberto Val m Aloísio Pessoa de Araújo m Débora Foguel m Eduardo
presidente comissão do centenário da abc
Moacyr Krieger m Jacob Palis m José Antonio Aleixo da Silva m José
Luiz Davidovich Américo Fialdini Junior redação
Carlos Alberto Aragão de Carvalho Filho Catarina Chagas Galizia Tundisi m José Israel Vargas m Keti Tenenblat m Luiz Davidovich
vice-presidente Débora Foguel Carla Almeida
João Fernando Gomes de Oliveira Helena Nader Daniela Oliveira m Marcos C. Barnsley Scheuenstuhl m Maurício Matos Peixoto m
Hernan Chaimovich Thaís Fernandes Roberto Dall`Agnol m Umberto Giuseppe Cordani m Wanderley de Souza
vice-presidentes regionais Ildeu de Castro Moreira Bianca Encarnação
Região Norte: Roberto Dall’Agnol Jacob Palis Junior Cathia Abreu
Região Nordeste: Cid Bartolomeu de Araújo João Fernando Gomes de Oliveira
Região Sul: João Batista Calixto
Minas e Centro-Oeste: Mauro Martins Teixeira
João Alziro Herz da Jornada
Jorge Almeida Guimarães
revisão
Catarina Chagas AGRADECIMENTOS
Rio de Janeiro: Lucia Mendonça Previato José Murilo de Carvalho Carla Almeida
São Paulo: Oswaldo Luiz Alves Luiz Davidovich Ângela Fatorelli (FBN) m Carolina Venturini (UFPA) m Cássio Leite Vieira
Almirante Sergio Roberto Fernandes dos Santos produção editorial
diretores Catarina Chagas (CBPF) m Gabriela Ferraz (Pictorama Design) m Jório Coelho (Revista
Elibio Leopoldo Rech Filho pesquisa histórica Escola de Minas da Ufop) m Ligia Alves Cruz (Fundação Getúlio Vargas) m
Francisco Rafael Martins Laurindo José Murilo de Carvalho (coordenador) design gráfico
Hilário Alencar da Silva Diogenes de Almeida Campos (consultor) Pictorama Design Márcia Reis (CBPF) m Marcus Siqueira (Pictorama Design) m Maria José
José Murilo de Carvalho Ildeu de Castro Moreira (consultor) da Silva Fernandes (FBN) m Rodrigo Piquet (Museu do Índio RJ) m Wayne
Marcia Cristina Bernardes Barbosa Maria Regina Hippolito von der Weid suporte
Vicente Saul Moreira dos Santos Seale (IF-USP) m Academia Brasileira de Letras m Acervo Roquette-Pinto
comitê assessor
Débora Foguel pesquisa iconográfica
m Arquivo Central da Universidade de Brasília m Associação Brasileira
Fernando Garcia de Mello Maria Regina Hippolito von der Weid de Educação m Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas m Centro Técnico
Jacob Palis Junior Vicente Saul Moreira dos Santos
membros institucionais da abc Audiovisual m Diários Associados da Empresa Brasileira de Comunicação
Lindolpho de Carvalho Dias Ildeu de Castro Moreira
Lucia Mendonça Previato Bruno Ribeiro Azevedo m Fundação Biblioteca Nacional m Fundação Oswaldo Cruz m Instituto
Thais Soares
Butantan m Instituto Ciência Hoje m Instituto de Física da Universidade
Juliana Vasconcellos
de São Paulo m Memória da Universidade de São Paulo m Museu da
texto
José Murilo de Carvalho (coordenador)
Imagem e do Som – Rio de Janeiro m Museu de Astronomia e Ciências
Ildeu de Castro Moreira (coordenador) Afins m Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
Elisa Oswaldo-Cruz Marinho (supervisão geral)
Catarina Chagas | Sinapse Comunicação
e Ciência (coordenação e edição)
Carla Almeida | Sinapse Comunicação
e Ciência (edição)
Apresentação
CEM ANOS DE CIÊNCIA

E
m seus cem anos de vida, a Academia Brasileira de Ciências (ABC)
foi testemunha e partícipe do grande progresso da ciência no
Brasil. Em um período marcado por uma guerra mundial que
inaugurou a era das armas nucleares, por instabilidades políticas
que afetaram a democracia no país e por crises econômicas que prejudicaram
o desenvolvimento nacional, a ciência brasileira avançou, multiplicou suas
áreas de atuação, afirmou-se internacionalmente e espraiou-se nas diversas
regiões do país, beneficiando a sociedade brasileira.
Multiplicaram-se os grupos de pesquisa, o número de artigos
publicados em revistas de prestígio, o número de doutores formados. Com
consequências diretas para o desenvolvimento nacional: sem a ciência
brasileira, a Petrobrás não teria sido uma empresa inovadora, detentora
de prêmios internacionais por sua tecnologia de extração de petróleo em
águas profundas; a Embraer não estaria exportando aviões para um grande
número de países; a produtividade da soja não teria sido multiplicada por
quatro, contribuindo para a pauta de exportações do país; e estaríamos de
mãos atadas frente a epidemias emergentes, como as arboviroses.
Nesses cem anos, a ABC destacou-se como defensora da ciência, da
educação e da inovação como eixos estruturantes do desenvolvimento
nacional. Visionária, a ABC desempenhou um papel essencial na fundação do
CNPq e na estruturação de outras agências de fomento à pesquisa no Brasil.
Hoje, a ABC é um centro de pensamento independente e crítico,
capaz de mobilizar os melhores cientistas em torno de temas relevantes
para o país: educação de qualidade em todos os níveis, Amazônia,
recursos hídricos, recursos minerais, medicina translacional, doenças
negligenciadas, clima, biodiversidade, inovação nas empresas, colaboração
internacional. Uma instituição que se nutre de sua experiência centenária
para construir uma visão de futuro, contribuindo para um projeto de
Brasil sustentável nos âmbitos econômico, social e ambiental.

— l u i z dav i d ov i c h

ac e rvo a b c
PARTE 1 PARTE 2 PARTE 3
1916-1921 12 1964-1980 44 Acadêmicos que fizeram Outros cientistas Ciência a serviço da Aproveitamento
Nasce a Sociedade Brasileira Ciência: caminho de história 70 de destaque 110 sociedade 158 de recursos naturais 184
de Ciências 13 desenvolvimento 45 Adolpho Lutz 112 Panorama cinzento 185
Uma iniciativa para dar frutos 14 Cientistas cassados 46
Presidentes 72 Alberto Santos Dumont 114 Precisamos falar sobre Salto de qualidade 185
Notícias de uma instituição
cinquentenária 48 Henrique Charles Morize 74
Aziz Nacib Ab’saber 116
educação 162 Estratégias para a sustentabilidade 188
Bertha Koiffmann Becker 118 Riqueza abaixo do solo 188
1922-1931 22 Juliano Moreira 76 Carlos Ribeiro Justiniano Chagas 120 Uma nova forma de ensinar 163
Exploração mineral no Brasil 190
Miguel Ozorio de Almeida 78 Celso Monteiro Furtado 122 Mecanismos para aprimorar
Expansão e consolidação 23 Olhar para o futuro 193
Ciência engajada 24 1981-1993 50 Euzébio Paulo de Oliveira 80 César Mansueto Giulio Lattes 124 o ensino superior 164
Arthur Alexandre Moses 82 Crodowaldo Pavan 126 O futuro das universidades
Visitas ilustres 25 Do Brasil ao mundo 51
Dificuldades e tragédia 30 Ciência para salvar o planeta 51
Álvaro Alberto da Motta e Silva 84 Djalma Guimarães 128 brasileiras 166 Olhos voltados para a saúde 194
Adalberto Menezes de Oliveira 86 Henriette Mathilde Maria Elizabeth Educação básica: ponte para o Do laboratório ao consultório 195
Novas publicações 53
Ignacio Manoel Azevedo do Amaral 88 Emilie Snethlage 130 desenvolvimento 167 Um movimento global 196
1932-1945 32 Cândido Firmino de Mello Graziela Maciel Barroso 132 Como manter os jovens na escola? 167 Diagnóstico 196

Interação entre ciência e educação 33 1994-2015 54 Leitão Junior 90 Johanna Lisbeth Kubelka Döbereiner 134 Educação em ciências: estado da arte 170 Perspectivas e recomendações 197
Mario Paulo de Brito 92 José Leite Lopes 136 Antes da escola 171 Avanços recentes 198
Atuação na ciência e na política 35 Porta-voz da ciência 55
Carlos Chagas Filho 94 Leopoldo De Meis 138 Em busca de equilíbrio 171 Doenças negligenciadas: desafios da saúde
Atuação internacional 55
Aristides Azevedo Pacheco Leão 96 Leopoldo Nachbin 140 Propostas baseadas em evidências 172 no contexto capitalista 198
Projetos para um Brasil melhor 57
Maurício Matos Peixoto 98 Inegável impacto 173
1946-1963 38 Ações para todas as idades 58
Oscar Sala 100
Marcelo Damy de Sousa Santos 142
Educação total 173
Cenário atual 200
Marcos Luiz dos Mares Guia 144
O Brasil ganha um conselho José Israel Vargas 102 Mario Schenberg 146
de pesquisas 39 Eduardo Moacyr Krieger 104
A institucionalização da 2016 60 Jacob Palis Junior 106
Maurício Oscar da Rocha e Silva 148 Debates sobre meio ambiente 174 lista de siglas 203
Oswaldo Gonçalves Cruz 150
ciência no Brasil 40 Um ano para celebrar 61 Luiz Davidovich 108 Desenvolvimento e preservação, bibliografia 205
Otto Richard Gottlieb 152
Período de transformações A Reunião Magna 61 uma união possível 175
Veridiana Victoria Rossetti 154
na ABC 40 Divulgando a história da ciência Linhas de ação 176
no Brasil 63 Avanços e retrocessos na reformulação
Outros eventos comemorativos 67 do Código Florestal 178
Um projeto de ciência Política ambiental integrada
para o Brasil 67 e participativa 180
Questões abertas 181
m história
1916m
12 1920 1930 1940 1950 1960 1970
c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s 1980 1990 2000 2010 2016 história m 1916–1921 13

Nasce a Sociedade Brasileira de Ciências

U
ma ciência tímida: talvez esta
seja a melhor forma de qualificar
a ciência que existia no Brasil
na virada do século XIX para o
século XX. Apesar das várias instituições que
já realizavam ou apoiavam pesquisas e das
publicações que divulgavam seus resultados,
o país ainda carecia de um cenário científico
mais robusto e organizado. A Primeira Guerra
Mundial escancarou essa e outras fragilidades

1916-1921
nacionais – por exemplo, a vulnerabilidade
da economia brasileira, devido à forte
dependência das importações.
Mas foi justamente durante esse período
de guerra, enquanto os olhos do mundo se
voltavam para a Europa, que o Brasil iniciou
um processo importante de renovação, um
movimento de afirmação da produção cultural
e científica do país. Nos salões da Escola
Politécnica do Rio de Janeiro – uma das mais
importantes instituições científicas de sua época,
ao lado do Museu Nacional, do Observatório
Nacional e do Instituto Soroterápico Federal em
Manguinhos –, a preocupação com os rumos da
ciência no Brasil era particularmente relevante.
Ali, um punhado de professores
renomados e inventivos começou a idealizar
uma associação que transcendesse os muros
da Escola e abrigasse também profissionais de
outras especialidades além das engenharias.
Eles tinham como objetivo primordial
reunir os principais cientistas do Brasil para
discutir e divulgar pesquisas importantes
nas diferentes áreas do conhecimento,
impulsionando o desenvolvimento da ciência
pura no país, ou seja, da ciência desvinculada
de interesses industriais ou comerciais – uma
r e s u m o da ata de c r i aç ão da s o c i e da de
orientação que, vale notar, seria contestada
b ra s i l e i ra de c i ê n c i a s , e m 3 de m a i o de 1 9 1 6 .
por parte da comunidade científica, em ac e r vo a b c

especial aquela ligada às ciência médicas.


l o g o t i p o da s o c i e da de
Pelo esforço conjunto de Everardo Adolpho b ra s i l e i ra de c i ê n c i a s .
Backheuser, Antônio Ennes de Souza e Alberto ac e r vo a b c
14 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 1916–1921 15

Betim Paes Leme – os primeiros idealizadores “A Sociedade Brasileira de que usassem a imprensa para criar ou fomentar
da associação –, e Henrique Morize – o
principal concretizador da ideia – foi criada,
Ciências é uma associação polêmicas sobre questões referentes à instituição.
Nos primeiros anos, a SBC se manteve
em 3 de maio de 1916, a Sociedade Brasileira de trabalhadores intelectuais financeiramente com as contribuições dos
de Ciências (SBC). Era a terceira academia
nacional de ciências fundada nas Américas,
resolvidos a consagrar todos os sócios – muito embora nem todos pagassem as
anuidades, cujo valor (200$000) era considerado
depois da norte-americana (instituída em 1863) seus esforços ao progresso da alto para a época – e doações de órgãos públicos,
e da argentina (criada em 1874) . 1
ciência e ao engrandecimento incluindo diferentes ministérios.
Além dos quatro nomes já citados, a nova Nas primeiras sessões delinearam-se as
instituição tinha o respaldo de vários outros
do nosso querido Brasil.” principais linhas de atuação da Sociedade
cientistas, incluindo Allypio de Miranda — henrique morize Brasileira de Ciências, notadamente o incentivo
Ribeiro, Alberto Childe, Edgard Roquette-Pinto, à ciência desvinculada de objetivos comerciais
Joaquim Cândido da Costa Senna e Manuel ou industriais e voltada ao engrandecimento do
Amoroso Costa, entre outros, que participaram sócios beneméritos (cientistas brasileiros com país, a organização de cursos e conferências de
formalmente de sua criação. Em seguida, notadas contribuições à Sociedade) e honorários formação e vulgarização de temas científicos
outros pesquisadores também foram (pesquisadores internacionais de notável e a divulgação de resultados de pesquisas
convidados a se juntar ao grupo, e, assim, a merecimento) em número indeterminado. originais em uma revista especializada. Outro
recém-criada SBC passou a contar com Roberto O pesquisador que desejasse se associar objetivo almejado pela entidade era servir
Marinho de Azevedo, Adalberto Menezes de à instituição deveria se inscrever por carta como uma espécie de bússola da ciência feita
Oliveira, Alfredo Loefgren, Arthur Alexandre ou ser indicado por três sócios efetivos. no Brasil, sugerindo aos pesquisadores temas
Moses, Adolfo Lutz, Bruno Lobo, Juliano Em sua apresentação, era necessário incluir importantes para estudo. Nesse sentido, a
Moreira, Oswaldo Gonçalves Cruz, Antônio uma relação de trabalhos realizados, títulos nova geração de cientistas tinha como diretriz
Pacheco Leão, Henrique Aragão, Álvaro Osório obtidos e a seção na qual se almejava vaga, trabalhar sobre os desafios impostos pela
de Almeida, Cândido Firmino de Mello-Leitão, além de exemplares de publicações científicas realidade nacional, em vez de buscar temas nas
Carlos Chagas e outros cientistas de peso. que permitissem comprovar se tratar de principais linhas de pesquisa da comunidade
Pelas mãos desses pesquisadores, os um “brasileiro de notável saber científico”. científica internacional. Vale lembrar que,
estatutos da associação começaram a ganhar O material era analisado por uma comissão entre os primeiros membros da Sociedade,
forma, sob a liderança de uma diretoria especial e, se o parecer fosse favorável, o nome estava o sanitarista Oswaldo Cruz, cuja vida
provisória eleita ainda em 1916 e chefiada por do candidato era submetido à votação na científica foi dedicada ao enfrentamento dos
Henrique Morize. Estabeleceu-se, assim, que seção especializada a que ele se candidatava problemas de saúde pública nacionais.
a Sociedade seria formada por 100 membros e ao plenário geral da SBC. Para ser admitido,
efetivos, divididos em três seções, seguindo o candidato precisava que a maioria absoluta Uma iniciativa para dar frutos
o modelo da academia francesa: Ciências dos votos dos sócios fosse favorável à sua Em 1917, tomou posse a primeira diretoria
Matemáticas (que compreendiam, além da entrada. Essa seletividade, que, para alguns, eleita da SBC, composta por Henrique Morize
matemática propriamente dita, a astronomia e demonstrava certo elitismo, gerou críticas (presidente), Joaquim Candido da Costa
a física matemática), Ciências Físico-Químicas contumazes à SBC em seus primeiros anos. Senna e Juliano Moreira (vice-presidentes),
(que incluíam física, química, mineralogia e Para continuar sócio da SBC, os cientistas Alfredo Loefgren (secretário), Betim Paes Leme
geologia) e Ciências Biológicas (que abrangiam a deveriam contribuir com, no mínimo, um (tesoureiro) e Edgard Roquette-Pinto (segundo
biologia, a zoologia, a botânica e a antropologia, trabalho original por ano e pagar uma anuidade
entre outras disciplinas). A SBC teria, também, estabelecida. Os inadimplentes seriam afastados,
assim como os sócios que utilizassem as c a pa d o j orna l a ep o ca ( 16 / 0 5 / 19 17) n ot i c i a
a p os s e da p ri m e i ra d i re t ori a e l e i ta da
1  Houve uma academia de ciências em Cuba, fundada reuniões da Sociedade para discutir assuntos não s oc i e da d e bra s i l e i ra d e c i ê n c i a s .
quando esta ainda era colônia espanhola, em 1861. científicos. Também seriam destituídos aqueles re p rod u ç ão
e s c o l a p o l i t éc nic a d o r io d e janeir o,
o n d e f o i c r iada a s oc iedad e b ras il eira
d e c iê n c ia s.
mu se u da im age m e do so m
18 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 1916–1921 19

secretário). Em seu discurso de posse, Morize, “O fim principal da Sociedade espírito” ou uma “corrente científica” que e professor Mário Ramos. O encontro teve
que era diretor do Observatório Nacional
e professor de física da Escola Politécnica,
Brasileira de Ciências valorizasse a busca do conhecimento pela
investigação.
como tema “A radiotelegrafia ultrapotente e o
desenvolvimento da ciência elétrica” e lotou
exprimiu a filosofia da nova instituição: consiste em espalhar essa A gestão de Morize foi marcada por uma o auditório da Biblioteca Nacional, obtendo
“A Sociedade Brasileira de Ciências é uma
associação de trabalhadores intelectuais
noção da importância da atividade intensa nessa área. Já em 1917 foi
criada a Revista da Sociedade Brasileira de
repercussão na imprensa da época, que se
apressou em anunciar a realização de palestras
resolvidos a consagrar todos os seus esforços ciência como fator de Sciencias, com o propósito de apresentar a futuras sobre biologia, física e astronomia.
ao progresso da ciência e ao engrandecimento prosperidade nacional.” ciência como motor de desenvolvimento do Também nessa fase inicial, a SBC recebeu
do nosso querido Brasil”, afirmou. Seu país. A publicação divulgava resultados de seus primeiros visitantes ilustres, dos quais
— henrique morize
objetivo era promover a “ciência pura, da qual pesquisa dos membros da Sociedade e de destaca-se o médico e psicólogo francês
resultam as aplicações tão espontaneamente pesquisadores externos, além da transcrição George Dumas, da Universidade de Paris, que
como à flor sucede o fruto”. Para Morize e as p rim e iras con f e rê n cias d e d iv ul gação de conferências e discursos e das atas das esteve no Brasil pela primeira vez em 1917 –
seus colegas na SBC, portanto, a ciência era cie n tíf ica da sbc f oram re al izadas n o reuniões da entidade. No mesmo ano, a retornaria em 1922, para presidir a instalação
aud itório da bibl iote ca nacional , na
uma condição necessária para se chegar a cin e l ân d ia.
Sociedade realizou sua primeira conferência do Instituto Franco-Brasileiro de Alta Cultura,
aplicações úteis ao país, o que hoje se conhece m a rc fe rre z / d om í n i o p ú bl i c o de divulgação científica, proferida pelo sócio ligado à Sociedade Brasileira de Ciências.
como tecnologia e inovação.
A fim de fomentar a interação entre seus
membros, a SBC se propunha a realizar
reuniões mensais e bimestrais, que serviriam
à discussão de trabalhos científicos originais
e que obedecessem a padrões metodológicos
considerados modernos. Havia uma
preocupação de eliminar o caráter “artesanal”
da pesquisa científica brasileira daquela época.
Outro ponto importante levantado
no discurso de posse de Morize era a
importância de se divulgar a ciência feita
no Brasil e a relação dessa ciência com o
desenvolvimento do país. “O fim principal
da Sociedade Brasileira de Ciências consiste
em espalhar essa noção da importância
da ciência como fator de prosperidade
nacional”, proferiu, possivelmente inspirado
pelo pensamento do fisiologista francês
Louis Couty (1854-1884), antigo professor
da Politécnica e fervoroso defensor da
divulgação científica no Brasil, para quem
era de extrema importância promover,
na população brasileira, um “estado de

capa da revista da sociedade brasileira de sciencias, a


primeira publicação da sbc.
ac e rv o a bc
20 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 1916–1921 21

Em 1922, o também Acadêmico Manuel


Amoroso Costa publicaria o primeiro livro no
Sobral no mapa da física por uma estrela deveria ter sua trajetória
Brasil sobre a Teoria da Relatividade, decorrente
A Teoria da Relatividade do físico alemão desviada ao passar perto de um forte
Albert Einstein é uma das ideias científicas de um curso que lecionara sobre o tema.
campo gravitacional – no caso, o do Sol.
mais famosas de todos os tempos. Mas A intensa atividade e o grande engajamento
O desvio faria com que a estrela fosse
talvez não seja tão conhecido o fato observada em uma posição ligeiramente dos cientistas nos primeiros anos da
de que ela foi comprovada por meio diferente e, durante o eclipse, os cientistas SBC reforçam a ideia de que a nova associação
de observações de um eclipse solar no fizeram fotografias que comprovaram viera para preencher uma lacuna na vida
Brasil, em 29 de maio de 1919. O evento o fenômeno. cultural da então capital federal. “Numa
movimentou a pequena cidade de Sobral, Além de participar da organização das capital rica e próspera como a cidade do Rio de
no Ceará, que recebeu uma comitiva de observações do eclipse, Henrique Morize Janeiro, era indispensável que se fundasse um
cientistas brasileiros e estrangeiros. No chefiou, no momento do fenômeno, a grêmio, onde aqueles que estudam as questões
mesmo dia, outra expedição científica foi realização de medidas da coroa solar da ciência pura pudessem encontrar fraternal
agendada para a ilha de Príncipe, na África. (atmosfera do Sol) com a ajuda de um agasalho”, disse Morize em seu discurso por
O objetivo era confirmar a deflexão da espectrógrafo – instrumento que registra a obse rvação d o e cl ip se p e l os cie n tistas
p e rm itiu a com p rovação da te oria da ocasião do primeiro aniversário da Sociedade
luz, um fenômeno previsto por Einstein as diferentes cores emitidas pela luz
re l ativ idad e d e al be rt e in ste in . Brasileira de Ciências, em 1917. A relação
segundo o qual um feixe de luz emitido de um objeto astronômico. f. w. d ys on , a . s . e d d i n gt on , c . dav i d s on
estreita da SBC com a cidade se refletia em seus
estatutos – curiosamente, eles especificavam
que, no caso de dissolução da entidade, seus
bens deveriam ser doados à municipalidade.
Vista com entusiasmo por seu primeiro
quadro de associados, a instituição mudou de
nome em 1921, quando passou a se chamar
Academia Brasileira de Ciências (ABC), como
é conhecida até hoje. A alteração, sugerida
pelo sócio Júlio Afrânio Peixoto e aprovada por
mais de dois terços de seus colegas, buscava
adequar a instituição brasileira ao padrão de
outras associações científicas importantes no
cenário internacional e enaltecer os nobres
objetivos da instituição.

pági na ao l a d o:
A promoção de palestras de cientistas a observação de um eclipse solar que permitiu j orna l a rua ( 17/ 0 9 / 19 17) d i v u l ga e v e n t o
estrangeiros para o público brasileiro era uma a medida de deflexão da luz nas proximidades da s bc e m q u e o p s i c ól ogo fra n c ê s ge orge
d u m a s p rofe ri u c on fe rê n c i a .
das prioridades da nova associação em sua do Sol, o que levou à confirmação da Teoria da
re p rod u ç ão
primeira década de atividades. Relatividade Geral de Albert Einstein (veja o
Por meio de seus sócios, a recém-criada quadro “Sobral no mapa da física”). ge orge d u m a s ( 18 6 6 - 19 4 6 )
d om í n i o p ú bl i c o
SBC também tomou parte nos principais No ano seguinte, o sócio Roberto Marinho
acontecimentos científicos da época. Por de Azevedo publicou, na então Revista de f oto da e q uip e q ue v iajou a sobral (ce )

exemplo, em 1919, Henrique Morize, presidente Sciencias (antiga Revista da Sociedade Brasileira de para obse rvação d o e cl ip se . con tan d o da capa da revista de sciencias, que traz o artigo
e sq ue rda para a d ire ita, he n riq ue de roberto marinho sobre a relatividade, além de
da Sociedade e diretor do Observatório Sciencias), o artigo “O princípio da relatividade” m orize é o q uarto, d e p é . artigos de amoroso costa e henrique morize.
Nacional, ajudou a escolher o melhor lugar para – destinado a divulgar a teoria de Einstein. ac e rv o a bc ac e r vo a b c
1916m
22 1920 1930 1940 1950 1960 1970
c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s 1980 1990 2000 2010 2016 história m 1922–1931 23

Expansão e consolidação

A
enérgica atuação e a
representatividade dos
fundadores da Academia
Brasileira de Ciências garantiram
a vitalidade e a consolidação da entidade na
década de 1920. Determinados a desenvolver
a cultura científica no país, eles tomaram a
frente de diversas iniciativas que marcaram
a história da ciência no Brasil.
Um dos acontecimentos mais marcantes

1922-1931
deste período, no qual os Acadêmicos
tiveram importante participação, foram
as comemorações do centenário da
Independência do Brasil, em 1922. Na cidade
do Rio de Janeiro, foi organizada uma grande
exposição universal, nos moldes daquelas que
vinham sendo realizadas em diferentes países
desde a segunda metade do século XIX – e das
quais o Brasil já participava desde a edição
londrina do evento, em 1862.
A exposição abria espaço para a
apresentação de diferentes aspectos da cultura s e lo c o me mo rat i vo d o s c o r r e i o s pa ra o
c e nt e ná r i o da i nd e p e nd ê nc i a d o b ra s i l.
e da economia nacionais, incluindo as ciências
r e p r o d u ç ão
e as artes. Na ocasião, a ABC organizou uma
mostra, intitulada “Os 12 minerais descobertos
por José Bonifácio”, que homenageava José
Bonifácio de Andrada e Silva (1763-1838),
enviado pela coroa portuguesa a percorrer
a Europa a fim de adquirir conhecimentos
sobre mineralogia, filosofia e história natural.
Nessa viagem, ele descobriu, na Suécia, os
12 minerais exibidos na mostra. Paralelamente
à carreira científica, José Bonifácio teve
importante atuação política no processo
de independência do Brasil.
Além da mostra sobre o trabalho do
mineralogista, a ABC contribuiu para a
exposição universal com a organização de
conferências proferidas por cientistas, entre o s m i n e ra i s de s c o b e r t o s p o r j o s é b o n i f ác i o

os quais se destaca o matemático francês f o ra m t e m a de e x p o s i ç ão p r o m o v i da p e l a a b c


j o s é b o ni f ác i o d e a nd ra da e s i lva du ra n t e a s c o m e m o raç õ e s do c e n t e ná r i o
Émile Borel (1871-1956), da Universidade ( 1 7 63 - 1 8 3 8 ) da i n de p e n dê n c i a .
de Paris, que falou sobre “A Teoria da s . a . s i s s o n / d o mí ni o p ú b li c o ac e r vo a b c
24 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 1922–1931 25

foi o primeiro presidente da Rádio Sociedade


e Roquette-Pinto, o secretário (veja o quadro
“ABC e a radiodifusão no Brasil”).
Além da popularização do rádio, outra
frente em que a ABC atuou nesse período foi a
de renovação da educação superior. Em 1924,
vários Acadêmicos, sob a liderança de Everardo
Backheuser, participaram da fundação da
Sociedade Brasileira de Educação, atual
Associação Brasileira de Educação (ABE), com
o objetivo de modernizar o ensino superior
no país e promover a institucionalização da
pesquisa científica nas universidades.
“O problema da educação nacional só
estará a caminho de ser resolvido no dia
em que possuirmos uma ‘elite’ esclarecida
e consciente, capaz de compreender sua
importância e de empreender sua solução.
ABC e a radiodifusão no Brasil a r á di o s o c i e da de do r i o de ja n e i r o
Preparar uma ‘elite’ é, pois, o primeiro passo A Rádio Sociedade foi criada em f o i c r i a da e m 1 9 23 , c o m a c o l a b o raç ão

a realizar”, dizia o Boletim da ABE em julho de vá r i o s ac a dê m i c o s .


20 de abril de 1923 por um grupo de r e p r o d u ç ão / f o n f o n ( 2 6/ 0 5/ 1 92 3 )
Relatividade e a curvatura do universo”. poderiam ser presos. Os governantes viam d i re t ore s e s óc i os da rá d i o s oc i e da d e de 1927. Entre 1926 e 1929, a Associação, cientistas e intelectuais do Rio de
d o ri o d e ja n e i ro. s e n ta d os e s tão c a rl os
A Academia tomou parte, ainda, na os aparelhos com desconfiança, pois tinham então presidida pelo Acadêmico Amoroso Janeiro, nos salões da então jovem
gu i n l e , h e n ri q u e m ori z e e l u i z be t i m
criação da primeira Sociedade Brasileira medo de que fossem usados para espalhar pa e s l e m e . d e p é , roq u e t t e - p i n t o é o Costa, realizou cerca de 50 eventos de Academia Brasileira de Ciências. O do radiofônico é simplesmente um
de Química – extinta em 1951 –, durante o segredos militares. t e rc e i ro da e s q u e rda pa ra a d i re i ta . divulgação científica por ano, incluindo principal objetivo de seus fundadores conceito poético, coisa desejável, mas
ac e rv o a bc era promover, por meio do rádio, a
Primeiro Congresso Brasileiro de Química, Edgard Roquette-Pinto era um dos opositores cursos, palestras e conferências. Entre difícil ou irrealizável. Quem pensa
que também fez parte das celebrações do mais contumazes dessa visão tão negativa da os cursos oferecidos por membros da educação e a divulgação da ciência desse modo não conhece o que se faz no
ao l a d o:
centenário da Independência. radiodifusão. Para ele, o rádio era uma forma e d ga rd roq u e t t e - p i n t o ( 18 8 4 - 19 5 4 ) ABC destacam-se os de Manuel Amoroso e da cultura. Brasil”, diz Roquette-Pinto.
nova e promissora de entreter e educar a
ac e rv o a bc
Costa sobre geometria não euclidiana e O contexto da época era de grande Os programas transmitidos pela rádio
otimismo em relação ao potencial das incluíam, além de música e noticiário,
Ciência engajada sociedade brasileira. “O rádio é a escola dos que o m at e m át i c o fra n c ê s é m i l e bore l cosmologia, o de Roquette-Pinto sobre
foi u m d os pa rt i c i pa n t e s d o c i c l o d e
novas tecnologias de comunicação uma série de cursos livres – como os
Desde o início, a Academia Brasileira de não têm escola; é o jornal de quem não sabe antropologia e o de Tobias Moscoso sobre
c on fe rê n c i a s re a l i z a d o p e l a a bc na para a democratização da informação. de inglês, francês, história do Brasil,
Ciências esteve engajada com os problemas ler; é o mestre de quem não pode ir à escola; é teorias de crescimento populacional.
e xp os i ç ão u n i v e rsa l d e 19 22. Acreditava-se que o rádio seria capaz de literatura portuguesa, literatura francesa,
do país, se posicionando e participando de o divertimento gratuito do pobre; é o animador m on d i a l p h ot o- p re s s e /
disseminar o conhecimento científico, de radiotelefonia e telegrafia – e dezenas
movimentos importantes em diferentes de novas esperanças, o consolador dos enfermos bi bl i ot h è q u e
Visitas ilustres forma fácil e ágil, para todo o Brasil. de conferências de divulgação científica
nat i ona l e d e fra n c e
setores. Na década de 1920, por exemplo, e o guia dos sãos – desde que o realizem com Foi nesse mesmo período que a ABC recebeu “O rádio representa o papel sobre temas diversos, incluindo física,
seus membros mobilizaram-se para defender espírito altruísta e elevado”, defendia. alguns de seus visitantes mais famosos. preponderante de guia diretor, de química e saúde.
a regulamentação da radiotelefonia sem fio, Sob sua liderança, membros da Albert Einstein, que já era reconhecido grande fundador de almas, porque A Rádio Sociedade encerrou suas
como era chamado o rádio. ABC criaram, em 1923, uma das primeiras mundialmente por sua Teoria da Relatividade espalha a cultura, as informações, atividades em 1936, quando foi doada
Nesse contexto, a Academia publicou um rádios brasileiras, a Rádio Sociedade, que e havia recebido, em 1921, o prêmio Nobel por o ensino prático elementar, o para o governo com a condição de que
manifesto que reivindicava a liberdade para era mantida pela contribuição de sócios e seu trabalho sobre o efeito fotoelétrico, esteve civismo, abre campo para o progresso seus objetivos originais fossem mantidos.
aquisição de aparelhos receptores de rádio – na funcionava na sede da Academia. A emissora na instituição em 1925, durante uma espécie preparando os tabaréus, despertando em Passou a se chamar Rádio Ministério
época, brasileiros que quisessem adquirir um trazia em sua programação inúmeros cursos e de turnê político-científica pela América cada qual o desejo de aprender. Muita da Educação, mais conhecida como
rádio enfrentavam grande burocracia e aqueles conferências de divulgação científica, além de do Sul – além do Brasil, visitou também gente acredita que o papel educacional Rádio MEC.
flagrados com o aparelho sem permissão música clássica e noticiários. Henrique Morize Argentina e Uruguai, disseminando suas
26 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 1922–1931 27

ac ima : abaixo: pesquisas e defendendo a paz mundial, com a da Luz”, na qual estiveram presentes mais contrários à Teoria da Relatividade – foram
re c e p ç ão a a lbe r t e in ste in na po r ta einstein em v isita ao instituto oswal do
ideia de que a ciência poderia contribuir para de 100 representantes de várias instituições. publicados nos jornais. O tema foi debatido
da a n t iga s e de da acade m ia brasile ira cruz, acompanhado dos acadêmicos carl os
d e c iê n c ia s, e m 7 de m aio de 1 92 5 . ribeiro justiniano chagas (o terceiro da a superação das discórdias entre as nações. Em sua conferência, Einstein apresentou em várias sessões na ABC, culminando no
ac e rvo a b c esquerda para a direita) e roberto marinho Naquela época, não havia, no resultados de pesquisas que comparavam suas artigo “Resposta a algumas objeções feitas
de azev edo (o sexto).
acerv o abc
Brasil, instituições científicas voltadas ideias sobre o fóton às teorias anteriores sobre entre nós contra a Teoria da Relatividade”,
especificamente à física e à matemática. a natureza ondulatória da luz. Na mesma de Roberto Marinho de Azevedo.
Porém, alguns cientistas da Escola Politécnica ocasião, recebeu o diploma de membro Um ano depois do físico alemão, a cientista
c o b e r t u ra da r e vi s ta e l e c t r on
e outras escolas de engenharia dedicavam- correspondente da ABC, e a instituição polonesa Marie Sklodowska Curie, ganhadora ( a no 1 , nú me r o 1 6, s e t e mb r o d e 1 92 6)
se a estudar essas áreas. No Rio de Janeiro, estabeleceu o prêmio Einstein, que seria de dois prêmios Nobel – o de física em s o b r e a vi s i ta d e ma r i e c u r i e à a b c .
r e p r o d u ç ão
Einstein esteve no Palácio do Catete, no oferecido anualmente. 1903 e o de química em 1911 – foi recebida
Museu Nacional, no Hospital dos Alienados, O manuscrito que baseou a fala de pela ABC no Anfiteatro de Física da Escola ao la d o :
no Clube de Engenharia e no Observatório Einstein – traduzido do alemão – foi Politécnica. Ela proferiu uma série de palestras ma r i e c u r i e e m vi s i ta ao pão d e aç ú c a r .
s ua vi ag e m ao b ra s i l f o i a mp la me nt e
Nacional. Também fez um breve depoimento publicado na primeira edição da Revista sobre radiação, incluindo temas como as
d i vu lga da p e la i mp r e nsa .
em alemão na Rádio Sociedade. da Academia Brasileira de Sciencias, no ano constantes radioativas e a extração de rádio, mu s é e ma r i e c u r i e / i ns t i t u t c u r i e

Mas seu compromisso científico mais seguinte à visita do físico. polônio, urânio e outros metais radioativos de
ac i ma :
relevante foi a palestra proferida na ABC, A visita de Einstein captou a atenção amostras de minério. As conferências foram ma r i e c u r i e ( 1 8 67 - 1 93 4)
“Observações sobre a situação atual da Teoria da imprensa. Muitos artigos – favoráveis e transmitidas pela Rádio Sociedade. w i ki me d i a c o mmo ns
28 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 1922–1931 29

Na cobertura do evento na ABC em das principais atividades da Academia em dos visitantes foi empossada como
homenagem à pesquisadora, a revista Electron seu período de consolidação. A presença membros correspondentes.
descreve que Curie foi “calorosamente de grandes nomes da ciência internacional Tão importante quanto representar
aplaudida” pela audiência. A imprensa, de dava credibilidade à instituição e reforçava a ciência internacional no Brasil era
uma maneira geral, via com grande simpatia seu papel de promotora da ciência no tornar a comunidade científica brasileira
a cientista, anunciada em O Jornal como “a Brasil. Ao longo de toda a década de 1920, conhecida no exterior: em junho de 1926,
mulher mais sábia do mundo”. Sua passagem a ABC recebeu numerosos cientistas a ABC participou pela primeira vez de uma
pelo Brasil – além do Rio de Janeiro, Curie estrangeiros, como o físico Waclaw Radecki instância internacional oficial, com Henrique
visitou São Paulo, Belo Horizonte e Águas (Universidade de Varsóvia, Polônia), Morize representando o Brasil no Conselho
de Lindoia – levantou ainda uma questão de o engenheiro Fernando de Almeida Internacional de Pesquisas em Bruxelas,
gênero importante: a presença das mulheres Vasconcelos (Universidade de Lisboa, na Bélgica. Amoroso Costa, por sua vez,
na ciência. Curie foi a primeira mulher aceita Portugal), o físico Henri Abraham (Escola realizou conferência sobre as geometrias
como membro correspondente da ABC. Normal Superior, França) e o biólogo Henri não arquimedianas na Universidade de Paris,
As visitas de Einstein e Curie são apenas Pièron (Instituto Franco-Brasileiro de Alta dentro do programa do Instituto Cultural
a face mais famosa daquilo que seria uma Cultura, França), entre outros. A maioria Franco-Brasileiro.

n o s e n t i d o h orá ri o:
ca reta ( 0 8 / 12/ 19 28 ) n ot i c i ou o d e sa s t re
d o h i d roav i ão sa n t os d u m on t, q u e
m at ou t rê s ac a d ê m i c os .
re p rod u ç ão

p ri m e i ra e d i ç ão d os a nna es da
a ca d emia bra sil eira d e sciencia s,
p u bl i c a da e m 19 29 .
ac e rv o a bc

p os s e da n ova d i re t ori a da a bc foi


d e s taq u e na ca reta ( 16 / 0 5 / 19 3 1) .
re p rod u ç ão

pági na ao l a d o:
pav il hão da tche cosl ováq uia n o
ce n te nário da in d e p e n d ê n cia,
d oad o a abc e m 1 92 4 . atrás, v ê - se
o m orro d o caste l o.
m u s e u da i m age m e d o s om
30 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 1922–1931 31

seu regresso de navio ao Brasil. Deixou


14 mortos na Baía de Guanabara, incluindo
os Acadêmicos Manuel Amoroso Costa,
Ferdinando Labouriau e Tobias Moscoso,
causando consternação na Academia e nos
meios científico e cultural do país.
A direção da ABC, a partir da gestão
de Miguel Ozório de Almeida, em 1929,
concentrou esforços na consolidação
Dificuldades e tragédia da Silva Prado Junior, sob a alegação de que prosseguimento, foi publicada apenas em institucional, incluindo a viabilidade
A crescente visibilidade das atividades da havia sido cedido “a título precário”. 1926 e 1928. financeira, a renovação de suas lideranças,
Academia rendeu frutos como a doação, pelos Esse não foi o único percalço enfrentado Houve ainda, em 1928, um trágico o crescimento controlado do quadro de
governos do Brasil e da Tchecoslováquia, pela ABC na década de 1920. A escassez de acidente com o hidroavião Santos Dumont, associados e a tentativa de aquisição de
do pavilhão na Avenida das Nações (atual recursos tornou impossível a manutenção que voava para homenagear o inventor no uma sede própria. A criação dos Anais da
Avenida Presidente Wilson), no Castelo, das publicações de divulgação de resultados Academia Brasileira de Ciências, em 1929,
construído para abrigar a mostra do país de pesquisas dos Acadêmicos e associados. foi, ao mesmo tempo, um resultado desses
e n t re os e s forç os pa ra forta l e c e r a
europeu na Exposição Universal de 1922. O A Revista de Sciencias, que sucedeu a Revista i m age m da c i ê n c i a bra s i l e i ra n o e xt e ri or
esforços e um elemento determinante na
prédio tornou-se a primeira sede própria da da Sociedade Brasileira de Sciencias (1917-1919), e s t e v e a v i s i ta d e j u l i a n o m ore i ra ao continuação das atividades da Academia.
ja pão. o c i e n t i s ta p u bl i c ou u m l i v ro s obre
ABC, inaugurada em 1924, e abrigou também sofreu descontinuidade depois de ser Editada ininterruptamente até hoje, a
e s sa e xp e ri ê n c i a , s ob o t í t u l o i m p r e s s õe s
a Rádio Sociedade. Quatro anos depois, publicada em 1920 e 1921. A Revista da d e u m a vi ag e m ao japã o e m 19 28 . revista é um dos periódicos científicos mais
porém, foi tomado pelo prefeito Antônio Academia Brasileira de Ciências, que lhes deu ac e rv o bi bl i ot e c a nac i ona l respeitados do Brasil ainda em circulação.
1916m c i1920
32 ência 1930 1940 1950 1960 1970
n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s 1980 1990 2000 2010 2016 história m 1932–1945 33

Interação entre ciência e educação

A
pesar das diversas dificuldades
enfrentadas pela Academia
Brasileira de Ciências nos anos
1920, a instituição virou o jogo
na década seguinte. O marco mais memorável
dessa volta por cima foi o reconhecimento
oficial dos serviços prestados pela ABC à
sociedade: em 14 de julho de 1934, pelo
decreto número 24.785, assinado pelo então
chefe do governo provisório do Brasil, Getúlio

1932-1945
Vargas, o órgão recebeu o título de instituição
de utilidade pública, voltada à cultura e ao
desenvolvimento da ciência.
Como personagem fundamental deste
período figura Arthur Moses, cuja presidência na
ABC foi marcada por uma postura pública mais
discreta e preocupada em criar coesão entre os
membros da entidade. Sua atuação permitiu
a continuidade da Academia e sua adaptação
a um novo contexto nacional – a Era Vargas
(1930-1945) – e internacional – a deflagração da
Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Também se
deve a ele a regularidade mantida na publicação
dos Anais da Academia Brasileira de Ciências,
tornada possível graças ao auxílio financeiro
do governo federal. Como desdobramento,
a ABC pôde aumentar o número de revistas
recebidas em permuta.
O momento de reorganização e
fortalecimento interno da Academia coincidiu
com um período crucial para a educação
superior no Brasil, no qual foram criadas várias
das principais faculdades e universidades
de ciências do país. A ABC, por meio de
seus membros, participou desse processo.
Na fundação da Universidade de São Paulo
(USP), em 1934, por exemplo, o Acadêmico o d e c r e t o nú me r o 2 4. 7 8 5,
a s s i na d o p o r g e t ú li o va r ga s ,
Theodoro Ramos foi comissionado pelo
r e c o nh e c e u a a b c c o mo i ns t i t u i ç ão
governador paulista para ir à Europa contratar d e u t i li da d e p ú b li c a .

professores para a instituição. Lá, auxiliado ac e r vo a b c

pelos professores George Dumas, Paul Rivet e g e t ú l i o va r ga s ( 1 882- 1 9 5 4 )


Pierre Janet, contatou vários cientistas e trouxe d o mí ni o p ú b li c o
34 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 1932–1945 35

Raios cósmicos, chuveiros


e físicos no Brasil
A todo instante, a Terra é bombardeada
por partículas vindas do espaço – os raios
cósmicos. Esse bombardeio constante
lembra uma chuva, e a chegada das
partículas à atmosfera gera muitas outras
partículas de alta energia, que caem em
cascata sobre a Terra: são os chamados
chuveiros penetrantes. Os dois fenômenos
foram estudados no Brasil por um grupo de experimentos realizados no túnel da
de cientistas liderado pelo físico Gleb Avenida 9 de julho (na época, ainda em
Wataghin, que veio da Itália para tornar-se construção) e na mina de ouro de Morro
como docentes nomes como Luigi Fantappiè, auxiliar para a pesquisa e o ensino desde o O pano de fundo por trás desses e Velho, a uma profundidade de 200 a
docente da USP na época de sua criação.
Gleb Wataghin, Fernand Broudel, Paul início do século XX, foi na virada entre as outros investimentos em educação na Era 400 metros abaixo do nível do mar.
Wataghin foi o principal responsável
Arbousse-Bastide, Claude Lévy-Strauss e Ernest décadas de 1920 e 1930 que essa tendência se Vargas era a ambição de construir uma Seus resultados, de repercussão
pela formação dos primeiros físicos na
Breslau – alguns deles se tornaram, mais tarde, tornou mais forte, com a criação de salas de identidade nacional relacionada à ciência internacional, foram apresentados e
Universidade, e teve alunos que depois
membros da Academia. Da USP, vale lembrar, projeção de filmes para fins educativos nas e ao desenvolvimento industrial. Em 1932, se tornaram pesquisadores de destaque, discutidos no Simpósio Internacional
fazia parte a Faculdade de Filosofia, Ciências escolas brasileiras. 26 pensadores brasileiros, incluindo os como Mario Schenberg, Marcello Damy de Raios Cósmicos. A ocasião atraiu a
e Letras, considerada a primeira faculdade a Em 1929, a Exposição de Cinematografia Acadêmicos Afrânio Peixoto e Roquette- de Souza Santos, César Lattes e Paulus presença de cientistas estrangeiros como
formar cientistas no Brasil, incluindo vários Educativa foi um marco importante para o Pinto, lançaram o Manifesto dos Pioneiros Aulus Pompéia – todos foram também o norte-americano Arthur Compton,
membros da Academia. uso do cinema em sala de aula, mas a criação da Educação Nova, no qual propunham um membros da ABC. que realizou com o grupo de Wataghin
Os Acadêmicos também foram atores do Ince, dirigido em seus primeiros anos pelo projeto de renovação intelectual do país. Apesar das instalações modestas de uma expedição para detectar e medir os
seu laboratório, a equipe – que muitas raios cósmicos na estratosfera (camada
decisivos na fundação da Universidade do Acadêmico Roquette-Pinto, representou um
vezes criava os aparelhos necessários da atmosfera que se estende até cerca de
Distrito Federal (UDF), em 1935 – idealizada impulso ainda maior para o fortalecimento Atuação na ciência e na política
às suas próprias pesquisas e construiu 50 quilômetros de altitude) com a ajuda
por Anísio Teixeira e na qual lecionaram Júlio do cinema educativo brasileiro. Sua ideia era O evento científico mais importante desse
o primeiro acelerador de partículas da de balões meteorológicos.
Afrânio Peixoto, Roberto Marinho de Azevedo usar os filmes como uma ferramenta ampla período, promovido pela ABC, foi o Simpósio
América Latina – foi responsável por
e Joaquim Costa Ribeiro, entre outros –, e, de educação popular. Internacional sobre Raios Cósmicos, no Rio alguns dos grandes físicos brasileiros
descobertas importantes. Na virada entre
em 1939, na criação da Faculdade Nacional Entre 1936 e 1966, o Ince produziu mais de Janeiro, em 1941. O encontro, que contou reunidos na inauguração do instituto
as décadas de 1930 e 1940, Wataghin, de física gleb wataghin da universidade
de Filosofia da Universidade do Brasil (atual de 400 películas, voltadas principalmente com a participação de cientistas brasileiros e
Damy e Pompéia realizaram estudos sobre estadual de campinas em 1966: da
Universidade Federal do Rio de Janeiro), a apoiar as disciplinas escolares e divulgar norte-americanos – entre os quais o físico da esquerda para a direita, paulus pompéia é
raios cósmicos na atmosfera (com a ajuda
que absorveu as instalações e parte dos as aplicações da ciência e da tecnologia, os Universidade de Chicago Arthur Compton, de aviões da Força Aérea Brasileira, que
o segundo; wataghin, o quarto; e marcelo
damy, o sétimo.
professores da UDF. Em 1937, o Acadêmico resultados de pesquisas científicas realizadas ganhador do prêmio Nobel em 1927 –, incluiu voavam até a altura de sete quilômetros) acervo do instituto de pesquisas
Carlos Chagas Filho criou o Laboratório de no Brasil e o trabalho de instituições a apresentação de trabalhos e a realização e nos espaços subterrâneos, por meio tecnológicas
Biofísica da mesma universidade, que hoje nacionais. Entre os temas abordados de experimentos sobre essas partículas de
ao l a d o:
carrega seu nome. pelos filmes do Ince estavam prevenção e alta energia provenientes do espaço, que
fac h a da d o e d i fí c i o on d e fu n c i ona ra m
Outra iniciativa merecedora de destaque tratamento de doenças, plantas, animais, a s p ri m e i ra s i n s ta l aç õe s da fac u l da d e d e bombardeiam constantemente a atmosfera Metrologia, responsável por legislar sobre ao la d o :
e d ga r d r o q u e t t e - p i nt o e m pa le s t ra
na área de educação foi a criação do Instituto física e cultura brasileira. O órgão contou com fi l os ofi a , c i ê n c i a s e l e t ra s , na av e n i da da Terra (veja o quadro “Raios cósmicos, o sistema de pesos e medidas utilizado no
d ou t or a rna l d o. s o b r e c i ne ma e e d u c aç ão , no i ns t i t u t o
Nacional de Cinema Educativo (Ince), a participação de Acadêmicos na produção chuveiros e físicos no Brasil”). país. O grupo era composto por cientistas, nac i o na l d e c i ne ma e d u c at i vo , e m 2 5
ac e rv o c a p h / ffl c h
sugerida pelo então ministro da Educação e de vários títulos – por exemplo, na do filme Neste período tornou-se também mais militares e enviados da indústria e de diversas d e ja ne i r o d e 1 940 .

“ o re at or a rgonau ta ” e “ o p u raq u ê ” s ão ac e r vo a b c
da Saúde, Gustavo Capanema, e aprovada por sobre o poraquê e os mecanismos de choque intensa a relação entre a ciência e as políticas entidades científicas, incluindo a ABC,
e xe m p l os d e fi l m e s p rod u z i d os p e l o i n s t i t u t o
Getúlio Vargas em 1936. Embora o cinema já do peixe-elétrico, pesquisa levada a cabo por nac i ona l d e c i n e m a e d u c at i v o.
públicas. Um exemplo concreto dessa relação representada por seu presidente, Adalberto
fosse utilizado, no Brasil, como ferramenta Carlos Chagas Filho. re p rod u ç ão foi a criação, em 1938, da Comissão de Menezes de Oliveira.
36 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 1932–1945 37

A estreita relação entre ciência e política


o c o ma nda nt e á lva r o a lb e r t o da mo t ta
transpareceu, ainda, na discussão, fomentada e s i lva f o i p e r s o nag e m f u nda me nta l
pela ABC, acerca das armas nucleares, no na mo b i li z aç ão da a b c c o nt ra a s a r ma s
nu c le a r e s .
final da Segunda Guerra Mundial. A aplicação ac e r v o a b c
de conhecimento científico sofisticado para
o u s o de b o m ba s at ô m i c a s na s e g u n da
a construção de uma arma tão destrutiva
g u e r ra m u n di a l l e va n t o u di s c u s s ão s o b r e
como a bomba atômica gerou, no mundo, um a s a p l i c aç õ e s do c o n h e c i m e n t o c i e n t í f i c o .
grande debate sobre a atividade científica. c h a r le s le vy / w i ki me d i a c o mmo ns

A ABC participou ativamente deste debate,


não apenas no âmbito nacional, mas também
em eventos internacionais. Criada em 1945,
a Organização das Nações Unidas (ONU)
estabeleceu, no ano seguinte, uma Comissão
de Energia Atômica, na qual o Brasil foi
representado pelo Acadêmico Álvaro Alberto
da Motta e Silva.
A Academia promoveu palestras públicas
sobre o tema e sugeriu ao governo federal o
desenvolvimento de pesquisa na área nuclear
no país. Uma moção da ABC, proposta em atômica) deveria “tornar-se poderosa e forte
1945 por Álvaro Alberto e inspirada em influência para assegurar a paz no mundo”.
manifestações internacionais similares, Em sessão realizada na ABC, Álvaro Alberto
registrou o interesse dos Acadêmicos pelo defendeu que o Brasil deveria dedicar mais
uso pacífico da energia atômica e pela atenção à questão atômica, incluindo suas
cooperação internacional nesta área. dimensões militares, e ressaltou que o país
Vários cientistas – incluindo Joaquim deveria aprofundar-se na pesquisa sobre a
da Costa Ribeiro, Carlos Chagas Filho e ocorrência de reservas de urânio em seu
Bernard Gross – assinaram o documento, que território. Não por acaso, foi homenageado
apregoava o uso pacífico da energia atômica, posteriormente pela Central Nuclear Almirante
“para que sirva a memorável descoberta ao Álvaro Alberto, em Angra dos Reis, que produz
bem-estar e felicidade do gênero humano, e a maior parte da energia nuclear do país.
dê eficaz garantia da liberdade e da dignidade Nos anos seguintes, a Academia permaneceu
das Nações e dos indivíduos, sem as quais se envolvida com o tema. Em 1961, um grupo de
fariam insubsistentes as próprias razões de cientistas que incluía muitos Acadêmicos, como
viver”. O manifesto, divulgado pelo jornal o então presidente Arthur Moses, publicou m o ç ão da a b c p u b l i c a da n o c or r e i o
da m a n h ã ( 02/09 /1 9 4 5 ) de f e n di a o u s o
Correio da Manhã em 2 de setembro, também um manifesto que condenava as explosões
pac í f i c o da e n e r g i a at ô m i c a .
clamava que “o maior feito da ciência nucleares, destacando a necessidade de se r e p r o d u ç ão
organizada, na história” (a obtenção de energia reiniciar as discussões sobre o desarmamento
geral. No mesmo ano, foi assinado um acordo
co rreio da ma nh ã ( 14 / 0 8 / 19 3 8 ) n ot i c i a de cooperação entre o Brasil e a Comunidade
a c ri aç ão da c om i s s ão d e m e t rol ogi a , Europeia de Energia Nuclear, com o objetivo de
c om pa rt i c i paç ão d o p re s i d e n t e da a bc ,
a da l be rt o m e n e z e s d e ol i v e i ra .
assegurar a utilização da energia atômica para
re p rod u ç ão fins pacíficos.
1916m c i1920
38 ência 1930 1940 1950 1960 1970
n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s 1980 1990 2000 2010 2016 história m 1946–1963 39

O Brasil ganha um conselho de pesquisas

F
oi no contexto do pós-guerra, em
que a discussão sobre ciência e
atuação do Estado fervilhava, que
a participação governamental
no apoio à pesquisa científica nacional
se institucionalizou. Ficou claro para a
comunidade científica que, no Brasil, apenas
o Estado disporia de recursos para apoiar
programas científicos mais amplos. Desta
certeza surgiu a proposta de criação de

1946-1963
um órgão nacional de fomento, que seria
responsável por financiar projetos de pesquisa.
A ideia já vinha sendo gestada desde
a década de 1920. Em 1931, a ABC sugeriu
formalmente ao governo federal, pela primeira
vez, a criação de um conselho de pesquisas.
Em maio de 1936, o então presidente Getúlio
Vargas enviou mensagem ao Congresso
Nacional acerca da criação de um “conselho amparar, coordenar e prestigiar o esforço universidades brasileiras e intercâmbio com
de pesquisas experimentais”, com o objetivo dos cientistas brasileiros. Em 1948, a criação instituições estrangeiras.
específico de conceber um sistema de pesquisas do conselho foi apresentada na Câmara dos Vale lembrar que Gaspar Dutra, ao
capaz de modernizar e aumentar a produção Deputados e, no ano seguinte, o presidente apresentar a lei que criou o CNPq, deu
do setor agrícola brasileiro. A ideia, no entanto, Eurico Gaspar Dutra nomeou uma comissão grande ênfase à responsabilidade do novo
não foi bem recebida pelos parlamentares especial para elaborar o anteprojeto de lei sobre órgão de orientar e fomentar a investigação
naquela época. a criação do órgão. relacionada às questões nucleares,
Mais tarde, no contexto pós-Segunda O trabalho dessa comissão culminou na lei notadamente os estudos de aproveitamento
Guerra Mundial, em que os avanços da de criação do Conselho Nacional de Pesquisas da energia atômica de minérios de urânio,
tecnologia bélica e sobretudo as questões (CNPq), em abril de 1949. Após ser debatida em tório, cádmio, lítio, berílio e boro, entre
nucleares começaram a despertar os países diferentes comissões, a implantação do órgão outros. Álvaro Alberto, nomeado o primeiro
para a importância da pesquisa científica, finalmente foi concretizada em 1951, quando presidente da nova instituição, era, também,
diversos governos começaram a acelerar suas Gaspar Dutra sancionou o estabelecimento um entusiasta e defensor das pesquisas
pesquisas e/ou montar estruturas de fomento do CNPq como autarquia vinculada à nucleares, de modo que o tema foi pauta
ao desenvolvimento científico. O Brasil juntou- presidência da República, em lei (nº 1.310, de prioritária nos primeiros anos do CNPq.
se a esse movimento – afinal, apesar de ser 15 de janeiro de 1951) apelidada por Álvaro No entanto, com o tempo, atuação do
detentor de recursos minerais estratégicos, o Alberto de “Lei Áurea da pesquisa no Brasil”. Conselho tornou-se muito mais ampla,
país não possuía, ainda, a tecnologia necessária Nela, ficou estabelecido que o Conselho como estava previsto em sua constituição.
para aproveitá-los da maneira adequada. tinha como finalidade promover e estimular
Uma nova proposta concreta de um órgão o desenvolvimento da pesquisa científica
p r i me i ra r e u ni ão d o c o ns e lh o
de fomento à pesquisa foi apresentada por mediante a concessão de recursos tanto para d e li b e rat i vo d o c o ns e lh o nac i o na l d e

Álvaro Alberto da Motta e Silva aos Acadêmicos as investigações quanto para a formação de p e s q u i sa s , e m 1 951 . e s tava m p r e s e nt e s
vá r i o s ac a d ê mi c o s , i nc lu i nd o á lva r o
em 1946. Aprovado por todos os presentes, pesquisadores e técnicos em instituições a lb e r t o e c é sa r lat t e s .
o projeto sugeria que o novo órgão pudesse públicas e privadas, além da cooperação com ac e r vo a b c
40 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 1946–1963 41

da esquerda para a direita:


flâmula comemorativa dos dez anos da sociedade
r i c h a r d f e y n m a n , ga n h a do r do
brasileira para o progresso da ciência,
n o b e l de f í s i c a e m 1 9 6 5 , e , a ba i xo ,
comemorados em 1958.
r o b e r t o p p e n h e i m e r , di r e t o r do
acervo sbpc
p r o j e t o m a n h at ta n , e s t i v e ra m na
a foto, tirada em princeton (eua) em 1949, mostra abc em 1953.
alguns dos principais nomes da física brasileira w i ki me d i a c o mmo ns e w o r ld
h i s t o r y a r c h i ve
naquela época junto ao japonês hideki yukawa (em Ciência e a sabedoria da floresta
pé, no centro). em pé também estão césar lattes e
Mesmo atualmente, não é muito
walter schutzer; agachados, hervásio de carvalho,
josé leite lopes e jayme tiomno. lattes, tiomno, comum que saberes dos povos
leite e hervásio são acadêmicos e fundadores do indígenas ganhem espaço em eventos
centro brasileiro de pesquisas físicas. científicos. Mas, ao mesmo tempo,
acervo cbpf
não é raro que conhecimentos
tradicionais atraiam a curiosidade de
A institucionalização da ciência no Brasil Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), que eram selecionados com base na notabilidade pesquisadores. O curare é um exemplo
A criação do Conselho Nacional de Pesquisas tentava resolver o grave problema das secas de sua contribuição a determinada área do bem marcante dessa união entre a
não foi uma iniciativa isolada. Entre as na região, em 1959. conhecimento, a SBPC se propunha a reunir cultura e a pesquisa científica.
décadas de 1940 e 1960, o Brasil viu nascer Entre as instituições criadas ao longo quaisquer atores interessados no progresso Utilizado há muitos séculos
alguns de seus mais importantes institutos dessas décadas, tem especial relevância para a e na promoção da ciência no Brasil, ou por povos das florestas tropicais
de pesquisa e órgãos de fomento à atividade ABC a fundação da Sociedade Brasileira para o seja, sequer era necessário ser um cientista da América do Sul, o curare é uma
científica. Além do CNPq, foi criada a Progresso da Ciência (SBPC), em 1948. Embora para tornar-se um associado. Um ano combinação de diferentes compostos
Campanha Nacional de Aperfeiçoamento as duas guardem diferenças em termos de depois de criada, a Sociedade já tinha mais extraídos de cipós e até animais
de Pessoal de Nível Superior (Capes), que composição e organização, ambas atuaram de 300 membros – a maioria, vale notar, como cobras e formigas. A mistura,
fervida em água por cerca de dois
reforçou o papel do Estado no apoio ao em conjunto nas décadas seguintes, em ações cientistas, professores universitários
dias e evaporada, tem a aparência
ensino superior e à pesquisa. pelo desenvolvimento científico do país. e estudantes de áreas afins.
de uma pasta escura e o sabor bem
Neste período, foram fundados também: o Vários Acadêmicos participaram da criação
amargo, e costumava ser utilizada para
Centro Técnico Aeroespacial, em 1946 – que da SBPC, um órgão ativista surgido para lutar Período de transformações na ABC envenenar pontas de flechas usadas no
mais tarde, em 1950, daria origem ao Instituto pela afirmação da ciência e dos cientistas Enquanto participava de um movimento amplo
combate a grupos inimigos.
Tecnológico da Aeronáutica (ITA) –; o Centro no Brasil – missão que conserva até hoje. de institucionalização da ciência no Brasil, a Exploradores europeus que viajaram
Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), em 1949; Naquela época, o governador do estado de ABC seguia na realização de suas atividades à América no século 16 fizeram os
o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia São Paulo, Ademar de Barros, tentava reduzir internas. Em 1951, por exemplo, organizou um se Richard Feynman, um dos maiores físicos primeiros registros sobre o curare e
(Inpa), o Instituto Nacional de Matemática Pura as atividades de pesquisa realizadas no Simpósio Internacional de Biologia, que tratou do século XX e Nobel de Física em 1965, obtiveram amostras da substância
e Aplicada (Impa) e o Instituto de Pesquisas Instituto Butantan, que pretendia transformar de temas como neurobiologia, metabolismo e Julius Robert Oppenheimer, diretor do com os índios. No século 19, alguns
Radioativas (IPR), em 1952; e o Instituto em centro exclusivamente dedicado à dos insetos, fotossíntese e aplicação da radiação Projeto Manhattan, que construiu a primeira trabalhos científicos começaram a
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), em investigação sobre soros antiofídicos. infravermelha à biologia. bomba atômica durante a Segunda Guerra explicar os mecanismos de atuação
1961. Membros da ABC tiveram participação À medida governamental seguiu-se uma Em 1957, a ABC apoiou a realização do Mundial. Feynman esteve várias vezes no do curare e, mais tarde, passou-se a
importante na criação e desenvolvimento de reação imediata da comunidade científica Simpósio Internacional sobre o Curare e as Brasil desde 1949, quando tornou-se membro investigar o potencial de uso da mistura
(ou seu equivalente sintético) na
grande parte desses institutos. local, que, em uma reunião com cerca de Substâncias Curarizantes – curare é uma correspondente da ABC e ali apresentou
medicina, com aplicações, por exemplo,
Acadêmicos também participaram uma centena de pesquisadores, fundou mistura de venenos de plantas usada pelos trabalhos sobre a eletrodinâmica
em anestesiologia e neurologia.
ativamente da criação da Petrobras, empresa a SBPC levantando a bandeira de que os índios nas pontas das flechas, que começou a quântica e o experimento da dupla
resultante da lei que institui o monopólio pesquisadores deveriam ter liberdade em ser estudada pelos cientistas como anestésico fenda. A convite de Álvaro Alberto,
estatal sobre a prospecção, a exploração e a seus projetos, bem como estabilidade para a e medicamento (veja o quadro “Ciência Oppenheimer falou no CNPq,
distribuição do petróleo brasileiro, em 1953; realização de suas investigações. e a sabedoria da floresta”). em 1953, sobre a necessidade ac i ma , no b ox :
s u b s tâ n c i a s t ó x i c a s e x t ra í da s de p l a n ta s
da Comissão Nacional de Energia Nuclear Diferentemente da ABC, em que o número Entre as personalidades internacionais de o Brasil investir em p o de m t e r a p l i c aç õ e s m e di c i na i s
(CNEN), em 1956; e da Superintendência do de Acadêmicos era limitado e os membros recebidas pela ABC nessa época, destacam- energia atômica. f ra nz e u g e n kö h le r / d o mí ni o p ú b li c o
42 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 1946–1963 43

“Em verdade, se foi a pesquisa


científica uma ocupação de
cientistas, antes da primeira
conflagração mundial, e se tornou
dever do Estado no período que a
sucedeu, ela é hoje – depois de
1945 – a angustiosa preocupação
das sociedades atualizadas.”
— carlos chagas filho,
em seu discurso de posse
na p r e s i d ê n c i a da a b c .

Em 1961, visitaram a ABC o cosmonauta


soviético Yuri Gagarin, primeiro homem a membros titulares da ABC: as matemáticas Em 1952, alterou-se a configuração das
viajar pelo espaço, e o ganhador do prêmio Maria Laura Mouzinho e Marília Chaves seções da ABC, que passaram a ser cinco:
Nobel Peter Brian Medawar, nascido no Brasil Peixoto. A pernambucana Mouzinho foi a Ciências Matemáticas, Ciências Físicas, Ciências
e radicado na Inglaterra, que palestrou sobre primeira doutora em matemática do país e Químicas, Ciências Geológicas e Ciências
sua pesquisa com tolerância imunológica, teve ampla atuação em sua área. Foi professora Biológicas. Todas essas modificações revelavam
crucial para o estudo da rejeição pós- da Faculdade Nacional de Filosofia e do preocupação, por parte da instituição, de
transplante de órgãos. Instituto de Matemática da Universidade acompanhar o crescimento da comunidade
De uma maneira geral, no entanto, os do Brasil; atuou no Centro Brasileiro de científica nacional, inclusive do ponto de vista
encontros presenciais entre os membros Pesquisas Físicas; participou, com outros geográfico, com São Paulo despontando como
da ABC viram sua frequência reduzida cientistas, da criação do Instituto Nacional de importante polo de pesquisa.
neste período. Com isso, a publicação dos Matemática Pura e Aplicada no Rio de Janeiro;
Anais da Academia Brasileira de Ciências teve e foi a primeira mulher a ministrar aulas de
importância redobrada na divulgação de geometria no curso de engenharia do Instituto marília chaves peixoto e maria laura
mouzinho, matemáticas, foram as
resultados de pesquisas científicas. Tecnológico da Aeronáutica. Teve, também, primeiras mulheres incluídas como
No que diz respeito ao âmbito interno destaque na organização e coordenação de membros titulares da abc.
ac e r vo a b c
à Academia, talvez o fato mais marcante projetos de educação matemática na UFRJ.
tenha sido a aquisição, com apoio do governo Peixoto, por sua vez, nasceu no Rio a v i s i ta do c o s m o nau ta s o v i é t i c o y u r i
Juscelino Kubitschek, e inauguração, em 1960, Grande do Sul e estudou na Escola Nacional gaga r i n f o i n o t í c i a n o c or r e i o da m a n h ã
e m 27 de j u l h o de 1 9 6 1 .
da sede atual da ABC, um andar inteiro de um de Engenharia, onde foi colega de Maurício
r e p r o d u ç ão
prédio à rua Anfilófio de Carvalho, no centro Peixoto – que mais tarde tornou-se seu
do Rio. A Academia também passou por marido – e Leopoldo Nachbin. Ao lado pág i na ao la d o :
na s c i d o no b ra s i l e ra d i c a d o na
reformulações de seus estatutos, referentes de Maurício, publicou um importante
i ng lat e r ra , p e t e r me dawa r ga nh o u o
principalmente à formação do seu quadro trabalho sobre a caracterização dos sistemas p r ê mi o no b e l d e f i s i o lo g i a / me d i c i na

e admissão de novos membros. estruturalmente estáveis em variedades e m 1 960 . no a no s e g u i nt e , vi s i t o u a


a b c , o nd e p r o f e r i u pa le s t ra s o b r e s ua
Merece destaque aqui a entrada, em 1951, bidimensionais, que mais tarde ficou p e s q u i sa .
das primeiras mulheres brasileiras como conhecido como o “teorema de Peixoto”. ac e r vo a b c
1916m c i1920
44 ência 1930 1940 1950 1960 1970
n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s 1980 1990 2000 2010 2016 história m 1964–1980 45

Ciência: caminho de desenvolvimento

A
eleição de Carlos Chagas Filho
para a presidência da ABC, em
1965, confirmou a ascendência
na entidade de pesquisadores da
área biológica, que já vinha ocorrendo desde a
década de 1930, em relação ao grupo fundador,
formado principalmente por engenheiros,
matemáticos e físicos. Sua gestão, como as
que a seguiram, caracterizou-se por uma
preocupação política, relacionada à crescente

1964-1980
importância econômica atribuída à pesquisa
científica pelas esferas governamentais.
A preocupação traduziu-se em ações
concretas, como a criação da pós-graduação e o
aumento dos recursos destinados à ciência e à
tecnologia durante o regime militar, que tinha
como discurso a promoção do desenvolvimento
nacional. Em 1966, o presidente Castelo Branco
autorizou, durante a celebração dos 50 anos Acadêmicos, foram perseguidos e exilados.
da ABC, a doação de número significativo de A ABC manifestou preocupação, em agosto
Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional de 1965, com a invasão da UnB, que levou,
à Academia – o equivalente, na época, a US$ no mês seguinte, ao pedido de demissão de
1 milhão –, com a justificativa de fortalecer duas centenas de professores – alguns dos
a ciência e a tecnologia no país. A entidade quais membros da ABC. No mesmo ano,
teve seu papel destacado no I e II Plano Básico manifestações de intelectuais e artistas, dentre
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico os quais alguns Acadêmicos, condenavam
(1973/74 e 1975/79). as práticas do regime militar. Por outro
Foram criadas nesse período a lado, outros Acadêmicos apoiaram, no
Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), em primeiro aniversário do golpe civil-militar,
1967; o Fundo Nacional do Desenvolvimento a publicação de um manifesto em prol das
da Educação (FNDE), em 1968; e o Fundo ações governamentais. Diante do quadro, a
Nacional de Desenvolvimento Científico ABC adotou, ao longo do período da ditadura,
e Tecnológico (FNDCT), em 1969; além da uma postura discreta e cuidadosa em relação
Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. aos acontecimentos políticos.
(Embraer), também em 1969; da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária ac i ma :
(Embrapa), em 1972; do Instituto Nacional de i nva s ão da u ni ve r s i da d e d e b ra s í li a
p e lo s mi li ta r e s e m 1 965.
Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro),
ac e r vo u nb
em 1973; e do Laboratório Nacional de
Computação Científica (LNCC), em 1980. a s e s s ão c o me mo rat i va d o s 50 a no s
da a b c f o i no t í c i a no j or na l d o b ra s i l
Durante o regime ditatorial, e m 4 d e ma i o d e 1 966.
muitos cientistas brasileiros, incluindo r e p r o d u ç ão
46 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 1964–1980 47

Cientistas cassados Celso Furtado Fernando Braga Ubatuba Jayme Tiomno Luis Hildebrando Pereira da Silva Simon Schwartzman
Durante o regime militar, dezenas de Economista Médico Físico Médico parasitologista Sociólogo e cientista político
membros ou futuros membros da ABC Ministro do Planejamento do governo João Preso em 1968 na Universidade Federal Demitiu-se da UnB em 1965, em solidariedade Foi denunciado por atividades subversivas Professor da UFMG, foi preso por três meses
foram atingidos por medidas ditatoriais, que Goulart, teve os direitos políticos cassados Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), foi levado aos colegas perseguidos. Tornou-se professor por uma comissão da USP e demitido em no Departamento de Ordem Política e Social
incluíram prisão, aposentadoria, demissão, em 1964, com base no AI-1. para o paiol de pólvora do exército, em da USP, de onde foi aposentado em 1969, 1964. Retornou em 1968 para a Faculdade (Dops) de Belo Horizonte. Depois de solto, foi
censura, impedimento ou cerceamento de Paracambi. Em abril de 1970, foi aposentado quando teve seus direitos políticos cassados de Medicina de Ribeirão Preto, mas foi mantido em prisão domiciliar e impedido de
exercer a atividade científica. Alguns deles Elisa Esther Frota Pessoa compulsoriamente do Instituto Oswaldo Cruz pelo AI-5. Foi também afastado do CBPF. aposentado em 1969, com base no AI-5. retornar à Universidade.
estão mencionados a seguir. Física (IOC) no evento conhecido como Massacre de
Demitiu-se da UnB em 1965, devido às Manguinhos, e em novembro do mesmo ano João Cristóvão Cardoso Maria Laura Mouzinho Leite Lopes Thomas Maack
Amilcar Vianna Martins perseguições políticas na Universidade. foi aposentado da Universidade. Químico Matemática Médico fisiologista
Médico parasitologista Tornou-se pesquisadora do Centro Brasileiro Professor catedrático do Instituto de Química Foi aposentada compulsoriamente da UFRJ Foi detido em seu laboratório na USP em
Foi aposentado compulsoriamente do Instituto de Pesquisas Físicas (CBPF) e professora da Haity Moussatché da Universidade Federal do Rio de Janeiro em abril de 1969, com base no AI-5, e, em 1964 e levado para o navio-prisão Raul Soares,
de Ciências Biológicas da Universidade Federal Universidade Federal do Rio de Janeiro, mas Médico (UFRJ), foi aposentado compulsoriamente em julho do mesmo ano, foi aposentada também onde ficou preso por cerca de quatro meses.
de Minas Gerais (UFMG) pelo AI-5. foi aposentada compulsoriamente da função Teve os direitos políticos suspensos e foi abril de 1969 com base no AI-5. da função de professora do ensino médio. Foi denunciado por atividades subversivas
em 1969 com base no AI-5 e, no mesmo ano, aposentado compulsoriamente do IOC em pela comissão interna da Universidade,
Antônio Rodrigues Cordeiro demitida do CBPF. abril de 1970 com base no AI-5, no evento José Israel Vargas Mario Schenberg submetido a Inquérito Policial Militar e
Geneticista conhecido como Massacre de Manguinhos. Físico Físico demitido da instituição com base no AI-1.
Um dos criadores da UnB, foi demitido Elza Salvatori Berquó Professor da Faculdade de Filosofia da UFMG Ficou preso por 50 dias, denunciado por
da instituição em 1965. Demógrafa Herman Lent e assessor técnico da Comissão Nacional de atividades subversivas pela comissão interna Tito Arcoverde Cavalcanti de Albuquerque
Pesquisadora do Centro de Estudos de Médico parasitologista Energia Nuclear (CNEN); com o golpe civil- da USP, instituída em 1964, e submetido a Médico fisiologista
Bernardo Boris Vargaftig Dinâmica Populacional e catedrática da Teve os direitos políticos suspensos e foi militar de 1964, foi demitido da CNEN e Inquérito Policial Militar, além de ter sua Teve os direitos políticos suspensos e foi
Farmacologista Faculdade de Higiene da Universidade de São aposentado compulsoriamente do IOC em abril afastado da UFMG. biblioteca destruída. Posteriormente, em abril aposentado compulsoriamente do IOC em
Indicado por Vital Brazil para assistente do Paulo (USP), foi aposentada compulsoriamente de 1970 com base no AI-5, no evento conhecido de 1969, foi aposentado compulsoriamente 1970, com base no AI-5, no evento conhecido
Departamento de Farmacologia da Faculdade em abril de 1969 com base no AI-5. como Massacre de Manguinhos. José Leite Lopes com base no AI-5, sendo proibido até mesmo como Massacre de Manguinhos.
de Ciências Médicas de Campinas, teve a Físico de frequentar a Universidade.
nomeação negada. Foi preso em 14 de julho Erney Felício Plessman de Camargo Hugo de Souza Lopes Foi preso e ficou detido por um dia e Victor Nussenzveig
de 1964 e ficou detido por mais de 50 dias Médico parasitologista Médico veterinário submetido a Inquérito Policial Militar logo após Michel Pinkus Rabinovitch Médico
no navio-prisão Raul Soares. Foi denunciado por atividades subversivas Teve os direitos políticos suspensos e foi o golpe civil-militar. Afastou-se, então, do cargo Médico parasitologista Professor da Faculdade de Medicina da USP,
pela comissão interna da USP, onde era aposentado compulsoriamente do IOC em de diretor do CBPF. Em 1969, foi aposentado Foi convidado em 1964 a integrar a equipe de foi submetido a Inquérito Policial Militar.
Bolivar Lamounier professor, e demitido em outubro de abril de 1970 com base no AI-5, no evento compulsoriamente da UFRJ com base no AI-5 e professores da UnB e chegou a ser nomeado,
Cientista político 1964 com base no AI-1 e submetido a conhecido como Massacre de Manguinhos. demitido do CBPF no mesmo ano. Retornou em mas não tomou posse na nova Universidade Walter Oswaldo Cruz
Professor do Instituto Universitário de Pesquisas Inquérito Policial Militar. Retornou ao 1986, a convite do então ministro da Ciência e em função do golpe civil-militar. Na USP, foi Médico patologista
do Rio de Janeiro (Iuperj), foi aposentado trabalho, mas foi demitido novamente Isaías Raw Tecnologia, Renato Archer. denunciado por atividades subversivas pela Pesquisador e chefe da Divisão de Patologia
compulsoriamente em 1969 com base no com base no AI-5. Bioquímico comissão interna da Universidade e indiciado do IOC, foi submetido em 1966 à comissão de
AI-5 mesmo sem ser funcionário público. Foi preso e ficou detido por 13 dias, José Reinaldo Magalhães em Inquérito Policial Militar. Tentaram inquérito interna constituída para investigar
Ernst Hamburger denunciado por atividades subversivas pela Fisiologista prendê-lo durante uma reunião da Sociedade denúncias de malversação de verbas e
Carlos Medicis Morel Físico comissão interna da USP, onde era professor. Professor do Instituto Central de Biociências Brasileira para o Progresso da Ciência, atividades subversivas na instituição.
Biólogo Foi preso em 1970, quando era secretário- Submetido a Inquérito Policial Militar, foi da UnB, foi preso e demitido da Universidade sem sucesso – ele conseguiu fugir e ficou
Conseguiu uma bolsa de doutorado no geral da Sociedade Brasileira de Física (SBF), aposentado compulsoriamente em abril em 1965. escondido por dez dias. Wanderley Guilherme dos Santos
exterior pelo Conselho Nacional de e ficou detido por algumas horas. Convidado de 1969 com base no AI-5. Cientista político
Pesquisas em 1969, mas não recebeu o a lecionar na Inglaterra, teve o exercício da Luiz Fernando Gouvêa Labouriau Professor do Departamento de Filosofia do
benefício por determinação dos órgãos profissão coibido pelo impedimento de Botânico Instituto Superior de Estudos Brasileiros, foi
de segurança do governo. sair do Brasil. Deixou a UnB em 1973 devido a perseguições aposentado compulsoriamente em outubro
políticas. de 1964 com base no AI-1.
48 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 1964–1980 49

Notícias de uma instituição cinquentenária pesquisadores estrangeiros, muitos deles Do ponto de vista institucional, a
Em 1966, a ABC passou por uma profunda ganhadores de prêmios Nobel, para falar sobre ABC procurou estabelecer ou fortalecer
reformulação de estatuto. Além de modificar economia, química e matemática. Na ocasião, convênios já existentes com suas congêneres
as categorias de membros, a nova versão foi instituído o prêmio de Ciência e Tecnologia estrangeiras, incluindo a Sociedade Japonesa
detalhou minuciosamente o rigoroso processo Academia-IBM, destinado a cientistas para a Promoção da Ciência e os Institutos
seletivo de novos acadêmicos. brasileiros. Nacionais de Saúde dos Estados Unidos.
Neste período, também, a Academia voltou A cinquentenária ABC começou também A instituição reforçou suas atividades
a fortalecer sua agenda de conferências, a deslocar algumas de suas atividades para científicas, lançando-se na coordenação de
reuniões e simpósios, promovendo outras cidades além do Rio de Janeiro. programas de pesquisa multidisciplinar sobre
intercâmbio com instituições nacionais Em 1966, o Acadêmico e vice-presidente da uma variedade de temas, incluindo o estudo
e m 19 8 1, a a bc a s s u m i u a p u bl i c aç ão
e internacionais. O astronauta norte- ABC Paschoal Senise presidiu a primeira sistemático e químico da flora amazônica,
da rev ista bra sil eira d e bio l o g ia .
americano Richard Gordon, por exemplo, sessão regular da Academia em São Paulo, da biodiversidade do Nordeste e do cerrado ac e rv o a bc
proferiu palestra na ABC em 1966. Em 1970, no campus da USP. do estado de Minas Gerais. Participou, ainda,
da e s q u e rda pa ra a d i re i ta :
o Simpósio Brasileiro de Paleontologia, na Além da publicação constante dos Anais da por meio de seus membros, da criação
as con f e rê n cias re al izadas e m parce ria
sede da Academia, reuniu especialistas de ABC, em 1981 a Academia assumiu a Revista dos primeiros cursos de pós-graduação em com a ibm in cl uíram d iv e rsos con v idad os
vários países para discutir a pesquisa sobre Brasileira de Biologia, que havia sido criada em diferentes universidades brasileiras. in te rnacionais e buscavam e stim ul ar
a in te ração e n tre com un idad e cie n tíf ica
a pré-história do Brasil. Em 1978, teve início 1940 pela Sociedade Brasileira de Biologia,
e in d ústrias.
uma série de conferências realizadas em com foco na fauna e flora neotropicais. re p rod u ç ão/ j orna l d o bra s i l ( 19 / 0 8 / 19 78 )

parceria com a IBM, com vistas à promoção A revista ficaria nas mãos da ABC até 1998, ac i m a :
p l at e i a d o s i m p ós i o bra s i l e i ro j o rna l d o bra sil ( 22/ 0 9 / 19 70 ) n ot i c i a o s i m p ós i o
da interação entre a comunidade científica e quando passou a ser publicada pelo Instituto d e pa l e on t ol ogi a . bra s i l e i ro d e pa l e on t ol ogi a .
a indústria, que trouxe ao Brasil renomados Internacional de Ecologia. ac e rv o a bc re p rod u ç ão
1916m c 1920
50 iência 1930 1940 1950 1960 1970
n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s 1980 1990 2000 2010 2016 história m 1981–1993 51

Do Brasil ao mundo

O
país foi redemocratizado. Em 1985,
foi criado o Ministério da Ciência Um ministério para chamar de nosso
Se a criação de um Ministério
e Tecnologia (veja o quadro “Um
da Ciência e Tecnologia foi vista
ministério para chamar de nosso”)
inicialmente com certa desconfiança –
– a proposta inicial de sua criação, formulada
houve quem achasse que os temas de
na década de 1960, partiu da ABC, com a
ciência deveriam ficar subordinados
ativa participação de diversos Acadêmicos, ao Ministério da Indústria e do
como José Leite Lopes, e do CNPq. Uma nova Comércio –, 30 anos depois o quadro
Constituição, promulgada em 1988, incluiu um é completamente diferente. Diante da
capítulo inédito dedicado à ciência e tecnologia decisão do presidente Michel Temer

1981-1993
-- no Artigo 218, Parágrafo 1º, diz: “A pesquisa de unir a pasta de Ciência, Tecnologia
científica básica receberá tratamento prioritário e Inovação à de Comunicações, a
do Estado, tendo em vista o bem público e o comunidade científica brasileira
progresso das ciências”. Nas décadas de 1990 mostrou-se receosa em relação ao
e 2000, alguns Acadêmicos ocupariam o cargo que a fusão de ministérios poderia
de ministros da Ciência e Tecnologia, o que significar para o futuro da pesquisa
científica brasileira. Quando a decisão
ajudou a estreitar as relações da Academia
foi anunciada, em 12 de maio de 2016,
com o governo federal. Especialmente a partir
uma série de pesquisadores se
da década de 1990, o apoio governamental
manifestou de forma contrária.
permitiu à instituição investir em novas frentes,
Em parceria com a SBPC, a
como a produção de programas de televisão academias de ciências e outras organizações ABC organizou a redação de um
dedicados a temas ambientais e a expansão da de abrangência nacional em diferentes manifesto chamado “O MCTI é o
cooperação científica internacional. países, unindo os esforços dessas instituições motor do desenvolvimento nacional”,
em um grande número de programas e no qual destacava o papel crucial do
Ciência para salvar o planeta iniciativas interdisciplinares, além de projetos Ministério na história da ciência no
Em 1986, foi instalada na ABC a comissão relacionados a questões globais, incluindo o já Brasil, incluindo a atuação na gestão de
brasileira do Programa Internacional Geosfera- citado exemplo das mudanças climáticas. duas dezenas de institutos de pesquisa,
Biosfera (IGBP, na sigla em inglês), uma rede O surgimento do IGBP foi incentivado pela além da responsabilidade na tomada de
global de cientistas voltada ao estudo das constatação de que os grandes problemas decisões técnicas e do apoio à pesquisa
mudanças climáticas globais e do sistema globais que afetam o ambiente, ameaçando o científica no país como um todo.
A união artificial dos dois ministérios,
terrestre, com vistas à compreensão das futuro dos ecossistemas e da própria espécie
argumentou-se no manifesto, ameaça
alterações ambientais em curso no planeta. O humana, não podem ser resolvidos pelos países
o desenvolvimento científico,
Programa fez parte das atividades do Conselho isoladamente. Ao contrário, exigem um esforço
tecnológico e de inovação do país.
Internacional para a Ciência (ICSU, na sigla em conjunto, tanto no que diz respeito aos países
Apesar dos protestos da
inglês), do qual a Academia foi designada como envolvidos quanto em relação às áreas da comunidade científica, a fusão
representante brasileiro, em 1992, pelo CNPq. ciência que devem ser mobilizadas para pensar se concretizou, dando origem ao
Fundado em 1931 para promover a soluções para os problemas que se apresentam. Ministério da Ciência, Tecnologia,
atividade científica internacional em Um trabalho interdisciplinar de cooperação Inovações e Comunicações. O novo
benefício da humanidade, o ICSU é uma das órgão gere atividades tão díspares
organizações não governamentais mais antigas quanto a atuação de empresas de
fac h a da d o p r é d i o d o mi ni s t é r i o da c i ê nc i a
do mundo. Ele abrange a representação das correio e a pesquisa espacial.
e t e c no lo g i a e m b ra s í li a .
sociedades científicas internacionais e das mc t i c
52 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 1981–1993 53

global foi, portanto, a alternativa mais


promissora de ação sobre o curso das mudanças 1.
globais causadas pela ação do homem.
Entre os temas que foram estudados
no âmbito dessa iniciativa estão processos
meteorológicos, climatológicos e
oceanográficos globais e seus impactos
sobre a biosfera, incluindo, por exemplo,
o El Niño, a redução da camada de ozônio
e o efeito estufa. O exame das mudanças
ocorridas no passado da Terra, por meio de
estudos geológicos, foi outra vertente, assim artigos científicos aceitos para compor um
como a ação antrópica sobre a natureza. novo número da revista. 2.
Durante três décadas, o IGBP mobilizou Na década de 1990, precisamente em 1992,
cientistas de vários países, encerrando suas a ABC iniciou também outra publicação, o
atividades no final de 2015. informativo eletrônico Boletim do Acadêmico,
Outra iniciativa voltada à discussão sobre a atualmente denominado Notícias da ABC.
preservação do meio ambiente abraçada pela Destinado inicialmente a divulgar as
ABC foi a realização da RioCiência-92 durante atividades da Academia e dos Acadêmicos aos
a Conferência das Nações Unidas sobre o próprios membros da instituição, o boletim
Ambiente e o Desenvolvimento (Eco-92), estabeleceu-se também como um canal de
no Rio de Janeiro. O evento, organizado em diálogo da ABC com a sociedade.
conjunto com a SBPC e a UFRJ, incluiu uma
3.
série de discussões sobre as relações entre
1 . a p e s q u i sa b ra s i l e i ra na a n tá r t i c a
ecologia, ciência e política.
ga n h o u f o r ç a na dé c a da de 1 9 80.
p i x a bay. c o m / d o mí ni o p ú b li c o
Novas publicações
2 . a b e r t u ra da r i o c i ê nc i a - 92 . o ac a d ê mi c o
Entre as iniciativas de cunho científico,
j o s é g o ld e mb e r g , e ntão mi ni s t r o da e d u c aç ão
destacou-se neste período a criação da revista ( 1 991 a 1 992 ) , é o s e g u nd o da e s q u e r da pa ra

Pesquisa Antártica Brasileira, em 1989, com a d i r e i ta .


ac e r vo a b c
apoio do CNPq. Publicado inicialmente como
suplemento dos Anais da ABC, o periódico 3. à e s q u e r da , o ac a d ê mi c o e mi ni s t r o da 4.
c i ê nc i a e t e c no lo g i a ( 1 992 a 1 999) j o s é i s ra e l
divulga até hoje os resultados de pesquisas
va r ga s . à d i r e i ta , o e ntão p r e s i d e nt e da
realizadas no âmbito do Programa Antártico r e p ú b li c a , i ta ma r f ra nc o .
Brasileiro (Proantar), impulsionado pela ac e r vo a b c

construção, em 1982, da primeira base


4. a r e vi s ta pe s q u i sa a n tá r t i c a b ra s i l e i ra f o i
brasileira no continente gelado, a Estação c r i a da e m 1 98 9.
Antártica Comandante Ferraz. Destruída por ac e r vo a b c

um incêndio em 2012, a base encontra-se em


pág i na ao la d o :
processo de reconstrução, com inauguração mat é r i a no j or na l d o b ra s i l ( 2 7 / 0 5/ 1 992 ) .

prevista para 2018. Sem periodicidade a r e a li z aç ão da e c o - 92 no r i o d e ja ne i r o


le va nt o u no pa í s u ma s é r i e d e d i s c u s s õ e s
definida, as edições do periódico são s o b r e me i o a mb i e nt e .
publicadas à medida que haja suficientes r e p r o d u ç ão
1916m c i1920
54 ência 1930 1940 1950 1960 1970
n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s 1980 1990 2000 2010 2016 história m 1994–2015 55

Porta-voz da ciência Atuação internacional

A
atuação de Acadêmicos em Internacionalmente, a ABC expandiu sua
ministérios, principalmente no atuação junto à Academia de Ciências do
de Ciência e Tecnologia, e sua Terceiro Mundo (TWAS, na sigla em inglês,
parceria com a SBPC reforçaram a atualmente chamada Academia Mundial
posição da Academia junto aos governos e ao de Ciências para o Avanço da Ciência nos
Congresso Nacional na formulação de políticas Países em Desenvolvimento), organização
científicas e educacionais. A instituição internacional fundada em 1983, com a
passou a ter participação ativa nos principais participação de pesquisadores brasileiros.
conselhos e comissões nacionais na área da A instituição tem como missão promover o
política científica e tecnológica, empenhando- progresso da ciência e da tecnologia nos países

1994-2015
se ativamente na luta por mais recursos para a em desenvolvimento e, para isso, reúne em seus
C&T e na criação dos fundos setoriais perenes quadros cientistas de países como Índia, China e
para a pesquisa científica. África do Sul, além do Brasil, entre outros.
A ABC teve participação fundamental A parceria com a TWAS estreitou-se ainda
também nas três Conferências Nacionais mais quando da realização da 6ª Conferência
de Ciência e Tecnologia realizadas no país. da instituição no Rio de Janeiro, em 1997.
A primeira delas, realizada em 2001, gerou O evento, que teve como tema “Ciência para
o Livro Verde, documento coordenado pelo o desenvolvimento sustentável na América
Acadêmico Cylon Gonçalves da Silva que serve Latina e no Caribe”, contou com apoio do
como instrumento para elaboração de diretrizes governo brasileiro, graças às articulações
estratégicas nessa área. A segunda, em 2005, escritórios estabelecidos em Brasília, Minas feitas pelo Acadêmico José Israel Vargas, na
foi coordenada pelo Acadêmico Carlos Alberto Gerais, Pernambuco e Rio Grande do Sul, em época vice-presidente da TWAS e ministro
Aragão de Carvalho Filho e resultou no Livro 2009 foi consolidada no Estatuto a criação de da Ciência e Tecnologia no Brasil.
Branco, que resume as discussões do evento e seis vice-presidências regionais (São Paulo, Posteriormente, o presidente da
traça rumos para o setor de ciência, tecnologia Rio de Janeiro, Minas Gerais e Centro-Oeste, ABC, Jacob Palis, foi eleito presidente da
e inovação. Por fim, a terceira, em 2010, foi Nordeste e Espírito Santo, Sul e Norte), dando TWAS por dois mandatos consecutivos, de
coordenada pelo Acadêmico Luiz Davidovich maior visibilidade nacional à ABC. 2007 a 2012. Nessa época, foi retomada a
e deu origem ao Livro Azul, que traz novas Em 2013, o governo do estado do Rio ideia de uma integração multidisciplinar
propostas para o setor de ciência e tecnologia no de Janeiro doou à Fundação Carlos Chagas entre o Brasil e os países vizinhos, tendo
Brasil, conjugando inovação e sustentabilidade. Filho de Amparo à Pesquisa no Estado do Rio como ponto de partida a conferência
Paralelamente, a Academia passou por de Janeiro (Faperj) um prédio situado à rua “Avanços e perspectivas da ciência no Brasil,
modificações estruturais que ampliaram sua da Alfândega, no Centro, com três andares América Latina e Caribe”, realizada em 2007.
atuação científica. A instituição expandiu destinados à ABC. Em reforma até 2014, o Na programação, houve palestras com o
progressivamente suas áreas especializadas, edifício é destinado à futura sede do Palácio ministro e Acadêmico Sergio Rezende, além
até chegar à configuração atual, com dez da Ciência – atualmente, as obras estão de representantes das principais agências
seções: Ciências Matemáticas, Ciências Físicas, paradas em função da crise do Estado. de fomento à pesquisa no âmbito nacional.
Ciências Químicas, Ciências da Terra, Ciências No âmbito financeiro, uma novidade surgida Em seguida, cerca de 40 especialistas das
Biológicas, Ciências Biomédicas, Ciências neste período foi a criação da categoria de
da Saúde, Ciências Agrárias, Ciências da membros institucionais da ABC, que podem ser
fac h a da da f u t u ra s e d e da fa p e r j na r ua
Engenharia e Ciências Sociais. Geograficamente, de caráter público ou privado. Desta maneira,
da a lf â nd e ga . o p r é d i o t e r á t r ê s a nda r e s
também se espalhou pelo território nacional. ampliou-se a captação de recursos para a d e s t i na d o s à a b c .
Embora já houvesse atividade regional com instituição, em esferas que vão além do governo. ac e r vo a b c
56 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 1994–2015 57

“Os cientistas precisam, além


de fazer ciência, além de se
dedicar ao laboratório, participar
politicamente das decisões que
implicam em ciência, quer dizer,
o reconhecimento da ciência
pelo governo, o financiamento da
ciência, as condições de trabalho.”
— e d ua r d o m o a c y r k r i e g e r ,
e m e n t r e v i s ta à e q u i p e d o
ac ima : c e n t e ná r i o da a b c
c o n f e rê n c ia do iap co m o te m a “gra n de s
d e sa f io s e in o vaçõ e s in te gradas – ciê n cia
pa ra a e rradicação da po br e z a e o e alimentos transgênicos, realizados a
d e se n vo lvim e n to suste n táve l”, r e a liz a da
pedido da Organização das Nações Unidas.
n o rio d e ja n e ir o e m 2 0 1 3.
ac e rvo a b c Em 2013, o IAP reuniu-se no Rio de Janeiro,
em evento com 160 cientistas de 51 países,
ao la d o :
organizado pela ABC, com foco na erradicação
a 6 ª c o n f e r ê n cia da twa s fo i r e aliz ada
n o rio d e ja n e ir o , co m a po io da abc e do da pobreza e no desenvolvimento sustentável.
g o ve rn o f ede ra l. O encontro discutiu temas como mudanças
ac e rvo a b c
climáticas, energia sustentável, acesso à
água limpa e saneamento básico e saúde e
dez áreas da ABC apresentaram temas de as recomendações fundamentais dos que levaram, em 2000, à fundação do segurança alimentar. Além disso, uma pauta
interesse, seguidos de jovens cientistas e participantes acerca do futuro da pesquisa Painel InterAcademias (IAP, na sigla em importante foi o estabelecimento de parcerias
pesquisadores dos países vizinhos, visando a científica com vistas a um mundo mais inglês, e atual Rede Global de Academias que permitissem ao IAP ampliar sua atuação,
um intercâmbio de ideias e projetos. sustentável: promover a cooperação de Ciências), que reúne academias de mais por exemplo, por meio do apoio financeiro
Outro evento de grande relevância, internacional e coordenar ações nacionais de 100 países para discutir e divulgar os da iniciativa privada.
organizado pela ABC em parceria com a para o desenvolvimento sustentável global; aspectos científicos de diferentes questões
Academia de Ciências da Hungria, com o apoio educar para reduzir inequidades e promover globais, como a dinâmica populacional, Projetos para um Brasil melhor
da Unesco, do Ministério da Ciência, Tecnologia a ciência e a inovação sustentáveis a um as mudanças climáticas e a clonagem No Brasil, em 1996, a ABC sediou a Comissão
e Inovação (MCTI) e de várias entidades nível mundial; conduzir a pesquisa e a reprodutiva. A ABC manteve posição Nacional Independente sobre os Oceanos, uma
nacionais e internacionais, foi o Fórum Mundial inovação de forma responsável e ética; de destaque no órgão, tendo exercido a iniciativa presidida pelo então ministro de
de Ciências, no Rio de Janeiro, em 2013. Tendo melhorar o diálogo entre a comunidade copresidência de 2000 a 2003, através do Ciência e Tecnologia e Acadêmico José Israel
como tema “Ciência para o Desenvolvimento científica e os governos, a sociedade, as Acadêmico Eduardo Moacyr Krieger, e Vargas. A ideia, que surgiu na celebração dos
Sustentável”, a reunião envolveu cerca de indústrias e os meios de comunicação, nas pertencido ao Comitê Executivo do órgão. 500 anos da famosa viagem de Vasco da Gama,
mil pesquisadores para debater o papel e as questões referentes à sustentabilidade; e A ABC foi eleita, também, para um grupo gerou um relatório e uma pesquisa de opinião
responsabilidades da ciência no século XXI. desenvolver mecanismos sustentáveis mais restrito, o Conselho InterAcademias pública sobre o mar.
Ao fim do evento, gerou-se um documento para o financiamento da ciência. (IAC), em que 13 países se articulam para o p re s i d e n t e da a bc , jac ob pa l i s , pa rt i c i pa ac i ma : Já em 2009, a ABC patrocinou
d o e v e n t o ava n ç os e p e rs p e c t i va s da c i ê n c i a n o jac o b pa li s na a b e r t u ra d o f ó r u m
que resumiu as discussões ocorridas no Na década de 1990, a Academia realizar projetos de pesquisa internacionais, bra s i l , a m é ri c a l at i na e c a ri be , e m 20 0 7. mu nd i a l d e c i ê nc i a s , e m 2 0 1 3 .
as atividades brasileiras do Ano
Rio de Janeiro. O relatório apresentava participou ativamente das negociações incluindo estudos sobre a mulher na ciência ac e rv o a bc ac e r vo a b c Internacional da Terra, que incluíram a
58 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 1994–2015 59

ABC na Educação Científica – Mão na massa,


voltado aos mais jovens e realizado em
várias cidades do país. O projeto tem como
objetivo provocar a reflexão e despertar a
curiosidade das crianças, a partir de atividades
investigativas que seguem o método científico:
levantamento de problemas e hipóteses, A vez das mulheres pesquisa a cientistas da África e dos países
exploração e saída a campo, experimentação e “O mundo precisa de ciência. A ciência árabes, da Ásia e do Pacífico, da Europa, da
registro de resultados. precisa de mulheres”. Este é o mote do América Latina e da América do Norte.
Para o público do ensino médio, a prêmio criado pela L’Oréal em 1998, em No Brasil, a iniciativa chegou em
ABC lançou, em 2010, o site ProfiCiência, parceria com a Organização das Nações 2006 e, até a edição de 2016, já havia
que visa informar os jovens sobre as Unidas para a Educação, a Ciência e a recebido mais de 3,4 mil projetos inscritos
e q u ip e o rgan iz a do ra do 1 º e n co n tr o possíveis agendas de pesquisa e diretrizes Ações para todas as idades possibilidades de atuação profissional nas Cultura (Unesco). Com o objetivo de e laureado 75, que receberam, no total,
nac io na l de m e m br o s afiliado s da abc, e m
estratégicas. Na ocasião, lançou o projeto A ABC investiu, ainda, no estímulo às vocações diversas áreas de pesquisa em ciência. reconhecer e incentivar a carreira de cerca de R$ 3,5 milhões em auxílio para
2 01 1 .
ac e rvo a b c “+20 Ideias para girar o mundo”, que reúne científicas, com a criação, em 1994, do Programa A página apresenta essas diferentes áreas jovens pesquisadoras em diferentes áreas pesquisa. A ABC é parceira da L’Oréal
em vídeo declarações de personalidades Aristides Leão, que abriu a jovens universitários e traz depoimentos e vídeos de cientistas da ciência, em seus 18 anos de existência, no prêmio e comanda a seleção das
sobre sustentabilidade. Vários Acadêmicos a oportunidade de estagiar em laboratórios brasileiros, que contam por que se o prêmio global já ofereceu bolsas de vencedoras.
conferência “Geociências nos países de participaram, como Sérgio Mascarenhas, dirigidos por acadêmicos durante as férias de interessaram por essa carreira.
língua portuguesa: um passado comum Mayana Zatz e Carlos Alberto Aragão. verão. O projeto, que teve apoio do CNPq, foi Outra iniciativa visando a formação de
para um futuro de integração”. Como Por fim, nas últimas décadas a interrompido em 2005 e retomado em 2014, novos talentos para a ciência foi a criação de autonomia dos jovens cientistas” e “Publicação ac i ma , ao la d o :
o p r o g ra m a a b c na e du c aç ão c i e n t í f i c a –
temas prioritários, destacaram-se águas ABC conduziu uma série de estudos desta vez com foco no treinamento de jovens da um programa de membros afiliados de até como meio e não como fim”. O evento
m ão na m a s sa é v o l ta do pa ra p r o f e s s o r e s
subterrâneas, desastres naturais, Terra e estratégicos sobre temas de grande relevância, região amazônica, que realizaram estágios em 40 anos, que já selecionou mais de 150 jovens resultou em um documento final, que do e n s i n o b á s i c o .
saúde, clima, recursos naturais e energia, como recursos hídricos, reforma do ensino diferentes estados do Brasil, com apoio da Capes. pesquisadores desde 2007. Cada cientista sintetiza as principais discussões realizadas. ac e r vo a b c

megacidades, núcleo e crosta terrestres, superior, uso sustentável de recursos Mas os jovens universitários não são o permanece no programa por um período de Para a promoção da igualdade de gênero
i mag e m d o b ox :
oceanos, solos e Terra e vida. da Amazônia, doenças negligenciadas, único público-alvo das atividades de educação cinco anos. A cada dois anos, a ABC realiza um na pesquisa científica, junto à Unesco e com v e n c e do ra s da dé c i m a e di ç ão do p r ê m i o

Em 2012, a ABC promoveu o Fórum aprendizagem infantil e ensino de científica promovidas pela ABC. A instituição Encontro Nacional de Membros Afiliados, no apoio da L’Oréal, a ABC participa, desde 2011, pa ra m u l h e r e s na c i ê n c i a , e m 201 5 .
d i vu lgaç ão l’o r é a l
sobre Ciência, Tecnologia e Inovação para ciências na educação básica. Os projetos acredita também na importância de apresentar qual os pesquisadores apresentam aos colegas do prêmio Para Mulheres na Ciência, que
o Desenvolvimento Sustentável, evento foram desenvolvidos por grupos seletos temas científicos às crianças, ainda no ensino o andamento de suas pesquisas e discutem um concede recursos a jovens pesquisadoras
preparatório à Conferência das Nações de especialistas e seus resultados foram fundamental. Por isso, a partir de um convênio tema em especial. Na última reunião, em 2016, para o desenvolvimento de seus projetos
Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável publicados como contribuições destinadas firmado com a Academia de Ciências da os três assuntos escolhidos foram “O impacto nas diversas áreas do conhecimento (veja o
(Rio+20), com o objetivo de discutir à formulação de políticas públicas. França, a ABC criou, em 2001, o programa da ciência brasileira”, “Independência e quadro “A vez das mulheres”).
1916m c 1920
60 iência 1930 1940 1950 1960 1970
n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s 1980 1990 2000 2010 2016 história m 2016 61

“Os primeiros 100 anos da


Academia comprovaram a
sabedoria de seus criadores
e a elevaram a símbolo
maior da ciência brasileira.”
­— j a c o b pa l i s

2016
Um ano para celebrar

C
em anos depois de iniciar suas
atividades no Rio de Janeiro, a
Academia Brasileira de Ciências
comemora a história que
construiu e planeja o futuro de suas ações. O
ano do centenário, que se estendeu de maio de
2016 a maio de 2017, não apenas esteve repleto
de celebrações do passado, mas também
marcou o início de um grande projeto da ABC
para a pesquisa científica brasileira.

A Reunião Magna Rodrigo Brindeiro, do Departamento O evento, coordenado pelos Acadêmicos


Tradicionalmente o evento anual mais de Genética e Laboratório de Virologia Débora Foguel e Carlos Aragão, incluiu,
marcante promovido pela Academia, a Reunião Molecular da Universidade Federal do Rio além da programação científica, a posse
Magna de 2016 ganhou novo formato, com de Janeiro, falaram sobre a epidemiologia do novo presidente eleito da instituição,
conferências e debates dedicados a temas da doença e perspectivas de tratamento e Luiz Davidovich. Na cerimônia estiveram
atuais e instigantes abordados de forma prevenção, destacando iniciativas científicas presentes a então ministra da Ciência,
transdisciplinar, sob o lema “Pavimentando brasileiras para o melhor conhecimento Tecnologia e Inovação, Emilia Curi, que
um futuro melhor”. O encontro, realizado e combate ao vírus. destacou a importância de instituições
no recém-inaugurado Museu do Amanhã, na Entre os cientistas estrangeiros como a ABC para o enfrentamento da crise
zona portuária do Rio, foi aberto, como já é convidados para a Reunião estiveram o de financiamento da ciência pela qual o
de praxe, não apenas a Acadêmicos e outros japonês Takaaki Kajita, ganhador do prêmio Brasil está passando; o diretor-executivo do
cientistas, mas também ao público geral, Nobel de Física em 2015 pela comprovação grupo IDG, gestor do Museu do Amanhã,
interessado em questões como saúde global, de que os neutrinos possuem massa; o Ricardo Piquet; e o secretário estadual de
segurança alimentar sustentável, energia, norte-americano John Hopcroft, ganhador Ciência e Tecnologia do Rio de Janeiro,
novas tecnologias e educação. do prêmio Turing e um dos pioneiros da Gustavo Tutuca. O evento incluiu, ainda,
Uma das sessões que atraíram maior ciência da computação; e a bióloga Marcia
interesse do público tratou do vírus zika, McNutt, então editora-chefe da revista Science
questão emergencial de saúde pública no e primeira presidente mulher da Academia au t o r i da d e s e r e p r e s e nta nt e s d e
i ns t i t u i ç õ e s li ga da s à c i ê nc i a na a b e r t u ra
Brasil. O Acadêmico Pedro Vasconcelos, do Nacional de Ciências dos Estados Unidos, da r e u ni ão mag na d o c e nt e ná r i o da a b c .
Instituto Evandro Chagas, e o especialista entre muitos outros. ac e r vo a b c
62 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 2016 63

1. 2. “Podemos dizer que a ABC se


tornou um importante centro
de pensamento sobre o país,
mobilizando os melhores
pesquisadores para apresentar
propostas sobre temas de interesse
nacional. Uma instituição que se
3. nutre de sua experiência centenária
para construir uma visão de futuro,
contribuindo para um projeto de
Brasil sustentável nos âmbitos
econômico, social e ambiental.”
­ luiz davidovich, em discurso

de posse na presidência da abc

4. o lançamento de um selo comemorativo da ABC e da pesquisa científica brasileira em As informações levantadas originaram
do centenário da ABC, com a presença do diferentes fontes de informação, incluindo, produtos de divulgação da história da
diretor regional dos Correios no Rio de por exemplo, as atas e os anais da Academia, ABC e da ciência no Brasil, incluindo este livro
Janeiro, Éverton Machado. o arquivo da Biblioteca Pacheco Leão e comemorativo. Outros produtos, lançados
A programação da Reunião Magna de entrevistas com Acadêmicos e ex-presidentes na Reunião Magna de 2016, foram as revistas
2016 abarcou também a cerimônia de da instituição. Academia Brasileira de Ciências e os caminhos da
boas-vindas aos novos membros titulares Entre as fontes externas consultadas pesquisa científica no Brasil – Uma história entrelaçada
e correspondentes e a outorga do prêmio estiveram o Centro de Pesquisa e e 18 cientistas brasileiros e suas contribuições.
Almirante Álvaro Alberto ao Acadêmico Documentação de História Contemporânea A primeira resume a história da ABC em
Paulo Eduardo Artaxo Netto, professor do do Brasil da Fundação Getúlio Vargas, o seus 100 primeiros anos, com fotos e citações
Departamento de Física Aplicada do Instituto Museu da Imagem e do Som do Rio de marcantes de presidentes e associados. Já a
de Física da Universidade de São Paulo. Janeiro, o Arquivo Nacional, a Biblioteca segunda, voltada ao público jovem, traz biografias
1. jac ob pa l i s , p re s i d e n t e e m e xe rc í c i o
Nacional, o Museu de Astronomia e Ciências enxutas de quase duas dezenas de cientistas de
na oc a s i ão, e l u i z dav i d ov i c h ,
e l e i t o pa ra a p re s i d ê n c i a da a bc Divulgando a história da ciência no Brasil Afins, o Instituto Moreira Salles, a Casa de especial relevância na história da ciência no Brasil.
n o t ri ê n i o 20 16 - 20 19 . Um aniversário de 100 anos é, sempre, um Oswaldo Cruz da Fundação Oswaldo Cruz,
ac e rv o a bc
convite a olhar para a história. Para guardar os projetos Memória da Universidade de São
2. / 3 . / 4 . ta ka a k i ka j i ta , m a rc i a m c n u t t memória de suas atividades e divulgar ao Paulo e da Universidade Federal do Rio de a l i n h a do t e m p o i n t e rat i va c o m a
e j oh n h op c roft, t rê s d os vá ri os grande público sua trajetória, a Academia Janeiro e o arquivo da Academia Brasileira h i s t ó r i a da a b c f o i a p r i n c i pa l at raç ão
pa l e s t ra n t e s i n t e rnac i ona i s c on v i da d os da e x p o s i ç ão m o n ta da pa ra o c e n t e ná r i o
pa ra a re u n i ão m agna d e 20 16 .
Brasileira de Ciências organizou uma de Letras, além dos acervos dos jornais n o m u s e u do a m a n h ã .
ac e rv o a bc pesquisa histórica que investigou o passado O Globo e Folha de S. Paulo. ac e r vo a b c
64 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 2016 65

“Nestes 100 anos de existência, [a Academia] tem mobilizado


cientistas e pesquisadores em atividades em favor da Nação. Sem
abdicar de sua necessária independência, a ABC estreitou, nos
últimos anos, laços com o Ministério da Educação e o Ministério
da Ciência, Tecnologia e Inovação, com ricas contribuições à
formulação de políticas públicas — uma importante colaboração
entre a comunidade científica nacional e instâncias de governo em
prol de propostas e soluções para elevar a qualidade de vida
da população brasileira.”
­ d i l m a r o u s s e f f , p r e s i d e n t e da r e p ú b l i c a , e m m e n sag e m

e n v i a da à a b c na c e l e b raç ão d o c e n t e ná r i o

Também durante o evento foi inaugurada i lu s t raç ão d e a b e r t u ra d o e - b o o k s o b r e a


h i s t ó r i a da a b c vo lta d o ao p ú b li c o i nfa nt o -
a exposição 100 anos da Academia Brasileira de
j u ve ni l.
Ciências, uma linha do tempo interativa que fábio uru
marcava os acontecimentos mais importantes
p u b li c aç õ e s e s p e c i a i s la nç a da s na
da história da ABC em textos, fotografias c o me mo raç ão d o c e nt e ná r i o da a b c .
e vídeos, além de destacar o contexto ac e r vo a b c

nacional e internacional no qual eles se


desenrolaram. A mostra incluiu, ainda, uma
versão virtual da publicação 18 cientistas
brasileiros e suas contribuições e uma área
especialmente destinada ao público infantil,
que apresentava pesquisadores brasileiros
de forma interativa, incluindo jogos e
passatempos, além de animações sobre essas
personalidades. Essa parte da exposição
foi lançada também em formato virtual no
livro eletrônico 100 anos da ABC – convidados
especiais, que ficou disponível gratuitamente
para download em tablets e celulares.
Além do Museu do Amanhã, a exposição
sobre o centenário da Academia foi montada
em Brasília (DF), no Congresso Nacional; em
simp ó sio de safio s para a ciê n cia e
t e c n o lo g ia n o brasil, r e aliz ado na Porto Seguro (BA), durante a 68ª Reunião
fa p e sp e m ho m e nage m ao s 1 0 0 a n o s da Anual da SBPC; e em São Paulo (SP), como
abc.
parte de um evento promovido pela Fundação
le a n d ro n e gr o / fape sp
de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo.
66 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s história m 2016 67

“Para o futuro, impõem-se novos desafios. O patamar alcançado prioridades de pesquisa em diferentes áreas

pela ciência e tecnologia no país permite enxergar um horizonte científicas para os próximos anos.
São, ao todo, 14 grupos, com os temas
mais amplo, vislumbrar oportunidades e almejar um novo salto “Água, solo e ar para a qualidade de vida”,

de qualidade. É preciso aumentar o impacto internacional da “Atividades espaciais”, “Biodiversidade,


ecossistemas e serviços ecossistêmicos”,
ciência brasileira – o que pressupõe financiamento público “Cérebro”, “Cidades sustentáveis-inteligentes”,
adequado –, melhorar a educação básica, renovar a educação “Ciências agrárias”, “Ciências básicas”,
“Ciências do mar”, “Energia”, “Igualdade
superior, estimular a inovação. Enfrentar esses desafios é condição e inclusão social”, “Mudanças climáticas,
necessária para que o Brasil possa ter um desenvolvimento adaptação e mitigação”, “Novas tecnologias

econômico e social sustentável. A ABC certamente terá um papel para o século XXI”, “Recursos minerais”
e “Saúde”. Cada grupo é coordenado por
importante na consecução desses objetivos, como centro de pesquisadores especializados e tem a função

pensamento capaz de mobilizar os melhores cientistas em torno de levantar o estado da arte da pesquisa
científica brasileira em cada área e elencar
de temas relevantes para o país.” as principais lacunas de conhecimento e
­— l u i z d a v i d o v i c h possíveis estratégias para preenchê-las.
A coordenação geral do projeto está a
cargo dos Acadêmicos Jerson Lima da Silva e
Outros eventos comemorativos Débora Foguel, Jorge Almeida Guimarães e José Galizia Tundisi. Além de Acadêmicos, a
A celebração do centenário estendeu-se, João Alziro Herz da Jornada, em companhia iniciativa envolve outros cientistas brasileiros
ainda, por uma série de eventos-satélite em do presidente Luiz Davidovich. de destaque em suas áreas de atuação e
todo o território nacional, incluindo a 26ª O evento destacou a participação da prevê a realização de simpósios e congressos
Sessão Ordinária da Academia Brasileira Academia na criação da SBPC, em 1948, e a temáticos em diferentes estados do Brasil.
de Ciências e o XI Simpósio de Lasers, em atuação conjunta das duas instituições em O objetivo final é responder, até o final
Recife (PE); a mesa de debate “A política diversos momentos importantes da história de 2017, a uma pergunta que é, ao mesmo
de Ciência, Tecnologia e Inovação que o da ciência no Brasil, como a criação da Capes tempo, simples e de extrema complexidade:
Brasil necessita”, organizada pelo Instituto e do CNPq, as Conferências Nacionais de o que a ciência pode fazer pelo Brasil?
de Biofísica Carlos Chagas Filho da UFRJ; Ciência e Tecnologia e a elaboração do Marco Paralelamente, outro grupo de estudos
o 16o workshop do Projeto do Proteoma Legal de Ciência, Tecnologia e Inovação, dedica-se ao registro do que a ciência já fez
Humano, no Rio de Janeiro (RJ); o encontro aprovado no início de 2016. pelo país. A expectativa é que um trabalho
“A Pesquisa na Agricultura: implicações para minucioso de mensuração do retorno trazido
a sustentabilidade alimentar global”, em Um projeto de ciência para o Brasil pelos investimentos em ciência e tecnologia
Goiânia (GO); e o Simpósio “Desafios para a Cem anos após sua criação, a ABC tem transforme-se em ferramenta valiosa para
Ciência e Tecnologia no Brasil”, organizado mais de 900 membros (entre titulares, justificar a importância da pesquisa e da
pela Fapesp em São Paulo (SP). correspondentes, associados, colaboradores e inovação junto a governantes, investidores e
Além da já mencionada exposição sobre afiliados) e relação consolidada com as mais outros tomadores de decisão e impulsionar os
a história da ABC, a 68ª Reunião Anual da importantes instituições científicas nacionais próximos 100 anos da ciência no Brasil.
Sociedade Brasileira para o Progresso da e estrangeiras. Inicia, assim, uma de suas
Ciência (SBPC) incluiu também uma sessão empreitadas mais ambiciosas: “Um projeto
c i e nt i s ta s pa r t i c i pa nt e s da i ni c i at i va
comemorativa do centenário, da qual de ciência para o Brasil”, esforço conjunto “u m p r o j e t o d e c i ê nc i a pa ra o b ra s i l”.
participaram os Acadêmicos Helena Nader, de vários grupos de estudo para desenhar ac e r vo a b c
m personagens
70 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e rs onage n s 71

Acadêmicos que U
ma lista que tente resumir 100 anos de história em poucos
personagens será sempre incompleta. A história da ciência no
Brasil – e mesmo a história da Academia Brasileira de Ciências –
tem, felizmente, nomes para preencher uma publicação muito

fizeram história
maior do que esta. Para fazer parte deste livro, selecionamos 40 cientistas
que fizeram diferença em suas áreas de atuação e que contribuíram, cada um
a seu modo, para o desenvolvimento e a consolidação da ciência nacional,
bem como para o seu reconhecimento e visibilidade internacionais.
São homens e mulheres de origens sociogeográficas diversas, com
formação nos mais distintos campos do saber, que dedicaram parte
significativa de seu tempo e energia à produção de conhecimento e à
busca de soluções para problemas da sociedade brasileira. Alguns fizeram
descobertas científicas importantes, que tiveram repercussão em todo
o mundo e impacto profundo na ciência. Outros resolveram questões
essenciais para o país, com consequências econômicas positivas e grande
relevância social. Ainda outros desempenharam papel político estratégico
para a institucionalização da ciência no Brasil. Estão entre eles candidatos
ao prêmio Nobel, professores que formaram gerações de pesquisadores
do mais alto nível e até ministros de Estado.
Dezoito dos aqui perfilados destinaram atenção especial à Academia
Brasileira de Ciências, ocupando o posto máximo da entidade e
empenhando-se em torná-la a referência de expertise científica que é
hoje, atuando como assessora das três instâncias de poder do país. Alguns
deles ocuparam o cargo por mais de uma década, sacrificando parte de seu
tempo em salas de aula e nas bancadas de laboratório para administrar a
entidade e ocupar-se da política científica do país. A Academia – e também
a ciência brasileira – jamais seria a mesma sem os esforços e a dedicação
de seus presidentes.
Nas próximas páginas, apresentamos os principais fatos da vida e da
obra desses ilustres personagens. Por meio de suas trajetórias, vamos
costurando parte importante da história da Academia Brasileira de Ciências
e da história da ciência no país no último século. Ao final da leitura,
esperamos que você tenha orgulho desta parte da nossa história –
nós temos!
72 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 73

presidentes Henrique charles Morize Juliano Moreira


Miguel Ozorio de Almeida Euzébio Paulo de
Oliveira Arthur Alexandre Moses Álvaro
Alberto da Motta e Silva Adalberto Menezes
de Oliveira Ignacio Manoel Azevedo do
Amaral Cândido Firmino de Mello Leitão
Junior Mario Paulo de Brito Carlos Chagas
Filho Aristides Azevedo Pacheco Leão
Maurício Matos Peixoto Oscar Sala José
Israel Vargas Eduardo Moacyr Krieger
Jacob Palis Junior Luiz Davidovich
74 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 75

Henrique Charles
Morize
(1860-1930)
Presidente da ABC
1916-1926

F
rancês, naturalizado brasileiro, Henrique
Morize mudou-se para o Brasil aos 15 anos.
Após uma curta temporada em São Paulo,
estabeleceu-se no Rio de Janeiro, onde Morize e o eclipse solar eclipse solar total que permitiu a confirmação
estudou engenharia industrial. Em 1885, ingressou Henrique Morize foi um dos principais do fenômeno da deflexão da luz, previsto por
no Imperial Observatório do Rio de Janeiro, onde articuladores à frente da fundação da ABC. Albert Einstein e elemento-chave da sua Teoria
se tornou astrônomo e do qual, em 1908, assumiu Não à toa, assumiu a primeira presidência da Relatividade. Seis anos depois, em 1925,
da entidade, mantendo-se no cargo por uma conheceria Einstein pessoalmente, durante a
a direção. Junto a outros pesquisadores, participou
década e contribuindo significativamente para estadia do físico alemão no Rio de Janeiro.
de comissão responsável por demarcar o local
a sua implementação. Morize teve papel de destaque em diversas
apropriado para a nova capital federal. Lecionou O pesquisador foi um grande defensor áreas vizinhas à física e à astronomia,
física na Escola Politécnica do Rio de Janeiro, a da ciência pura, desinteressada de objetivos tendo iniciado as pesquisas de sismologia
mesma onde estudou engenharia. Foi fundador e comerciais, financiada pelo governo. Nesse no Brasil. Estudou questões de geodésia e
primeiro presidente da ABC, cargo que exerceu por sentido, buscou assegurar o desenvolvimento investigou o campo elétrico da atmosfera
da pesquisa básica nas instituições onde atuou, do Rio de Janeiro. Deu também importantes
três mandatos consecutivos. Foi também o primeiro
bem como disseminar sua importância entre a contribuições à meteorologia, em particular
presidente da Rádio Sociedade, tendo participação
comunidade científica, as autoridades políticas na organização da rede nacional de estações c h a r g e na c a pa d e o m a l h o ( 1 3 / 1 0 / 1 92 3 )
ativa em sua criação. Fez parte de diversas e a sociedade brasileira de maneira geral. meteorológicas. h o me nag e i a o c i e nt i s ta .
ac e r vo b i b li o t e c a nac i o na l
sociedades e academias. Em 1919, ainda como diretor Como presidente da ABC e diretor do Sua extensa produção, que inclui
do Observatório, chefiou a missão brasileira para Imperial Observatório do Rio de Janeiro (atual artigos, resenhas, livros e discursos, reflete no a lt o , à e s q u e r da , h e nr i q u e
mo r i z e e a mu lh e r , r o sa r i b e i r o d o s
a observação e o registro fotográfico do eclipse Observatório Nacional), teve participação a preocupação em fortalecer o interesse
sa nt o s , e m s ua p r i me i ra r e s i d ê nc i a
importante em um dos mais relevantes pela ciência no Brasil. Parte dela, sobretudo
total do Sol em Sobral, no Ceará. A expedição teve e m sa lva d o r , ba h i a ( 1 91 9) .
acontecimentos científicos de sua época. os escritos produzidos nas duas primeiras ac e r vo a b c
papel importante na comprovação da Teoria da
Em 1919, líder de uma comitiva de cientistas décadas do século XX, aborda temas gerais da
no a lt o , à d i r e i ta , o at ua l o b s e r vat ó r i o
Relatividade de Albert Einstein. brasileiros em Sobral, no Ceará, ajudou a astronomia, descritos para o público não-
ac e rvo a bc nac i o na l, d o q ua l mo r i z e f o i d i r e t o r .
escolher o melhor lugar para a observação do especializado. c a r lo s lu i s m. c . da c r u z
76 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 77

Por uma psiquiatria humanizada

Juliano Moreira No início do século XX, o tratamento de


doenças mentais incluía amarrar e isolar
os pacientes, práticas verdadeiramente

(1872-1933) desumanas. Como diretor do Hospital


Nacional dos Alienados, Juliano Moreira

Presidente da ABC lutou para mudar essa realidade. Redigiu,


em 1903, uma lei sobre a reforma da
1926-1929 assistência a esses pacientes, abrangendo
tanto a proteção dos direitos das pessoas com
transtornos mentais quanto a estrutura das

B
instituições que as acolhiam.
aiano da capital, Juliano Moreira ingressou O médico aboliu os coletes e camisas-
de-força, retirou as grades e derrubou os
aos 14 anos na Faculdade de Medicina da
quartos de isolamento do hospital. Para ele, o
Bahia, da qual tornou-se, posteriormente,
espaço deveria lembrar um lar, com jardins,
professor de clínica psiquiátrica e doenças aparelhos de ginástica e jogos. Instalou,
nervosas. Iniciou sua carreira como médico do no prédio, laboratórios científicos e novas
Hospital Santa Isabel, na Santa Casa de Misericórdia enfermarias. Também instituiu a assistência
da Bahia. Em seu estado natal, também ajudou aos familiares e reativou as oficinas de
trabalho – de carpintaria, sapataria e pintura,
a fundar a Sociedade de Medicina e Cirurgia e
entre outras –, iniciativas fundamentais para a
a Sociedade de Medicina Legal. É considerado
reintegração dos pacientes à sociedade.
um dos pioneiros da psiquiatria no Brasil, tendo Moreira conseguiu um grande terreno
desempenhado papel fundamental na humanização em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro, para
do tratamento psiquiátrico no país, especialmente a instalação de uma colônia agrícola, que
enquanto diretor do Hospital Nacional dos Alienados. foi inaugurada em 1924 como Colônia de “Dir-se-ia que seus grandes olhos não sabiam ver os males, que, por serem
Participou da criação de periódicos especializados e Psicopatas-Homens. A medida visava sanar
os problemas de espaço e infraestrutura
inevitáveis, nem por isso deveriam ser realçados. O que eles sempre
de associações na área, dentre as quais a Sociedade
existentes nas antigas “colônias de percebiam, o que nunca a eles escapava, mesmo quando deformadas e
Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Ciências Afins.
Ingressou na ABC em 1916, ocupando os cargos de
alienados” da Ilha do Governador e
introduzia a atividade agrícola como carro-
perdidas em uma ocasional trama de elementos depreciados, eram as
vice-presidente (1917-1926) e de presidente (1926-1929) chefe das diretrizes terapêuticas. Em 1935, parcelas de bem, de verdade, eram as intenções honestas, os esforços
da entidade. Fez parte da recepção de Albert Einstein em homenagem ao médico, a instituição foi sinceros para alguma coisa de melhor, de mais elevado e mais justo.”
renomeada Colônia Juliano Moreira.
e Marie Curie em suas visitas ao Brasil, em 1925 e — m i g u e l o z o r i o d e a l m e i da s o b r e j u l i a n o m o r e i ra
O médico foi, ainda, o mentor do
1926, respectivamente. Teve grande atuação nos
primeiro manicômio judiciário do Brasil
meios científicos internacionais. Faleceu em maio e defendia a criação de instituições que a mistura de raças degenerava o povo à frente do hospital nacional dos alienados, no
de 1933, em Petrópolis, Rio de Janeiro. especialmente dedicadas ao tratamento de brasileiro e o tornava mais suscetível à rio de janeiro, juliano moreira lançou as bases
para um atendimento mais humanizado às pessoas
alcoólatras e outros dependentes químicos. doença mental. Ele excluía completamente
com transtornos mentais. o médico é conhecido
ac e rvo a bc Mulato e de família pobre, Juliano a possibilidade de os distúrbios psiquiátricos como um dos pioneiros da psiquiatria no brasil.
Moreira lutou contra o pensamento de estarem associados a aspectos raciais. ac e r vo i p h a n
78 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 79

“O conhecimento vale por si,

Miguel Ozório independente de sua utilização, e


esse valor é bastante grande para

de Almeida que se não meçam os esforços


no afã de adquiri-lo...”
(1890-1953) — discurso de posse como
p r e s i d e n t e da a b c , 1 4 / 0 5 / 1 9 2 9

Presidente da ABC
1929-1931 O vulgarizador
Miguel Ozório de Almeida fazia parte de um
grupo de intelectuais e cientistas que tinham

C
como propósito a valorização da pesquisa
arioca, cursou a Faculdade de Medicina básica e da ciência nacional. A ideia do grupo,
do Rio de Janeiro, onde veio a se tornar que não por coincidência esteve à frente da
doutor e professor. Seu interesse por criação da ABC, em 1916, e da Associação
Brasileira de Educação, em 1924, era estimular
ciência fez com que ele e o irmão,
o desenvolvimento da pesquisa científica
Álvaro Ozório de Almeida, começassem a fazer
por meio do fortalecimento do sistema
experimentos em um local inusitado: o porão da educacional, da criação de faculdades de
casa dos pais. O laboratório improvisado acabou ciências e letras e de um ambiente favorável
se transformando em um espaço de encontros de ao desenvolvimento da ciência.
importantes pesquisadores, sendo visitado por Albert A divulgação científica despontava, nesse
contexto, como um instrumento importante
Einstein e Marie Curie em suas passagens pelo Rio
para a aproximação entre a ciência e a
de Janeiro. Trabalhou no Instituto de Manguinhos,
sociedade e teve, em Miguel Ozório de
tendo contribuído para o desenvolvimento da área Almeida, um notável representante, tanto no
de fisiologia na instituição. Foi diretor geral da que diz respeito à atuação prática quanto à
Diretoria Nacional de Saúde e Assistência Médico- reflexão sobre o campo.
Social (1934-1935). Ingressou na ABC em 1917. Foi Ao longo de sua carreira, fez conferências
públicas, ministrou cursos abertos e
1º secretário interino (1920 a 1923), secretário-geral no a lt o , ac a d ê mi c o s r e u ni d o s na e nt r e ga d o
publicou diversos textos sobre a ciência e sua Miguel Ozório publicou ainda um p r ê mi o e i ns t e i n a mi g u e l o z ó r i o d e a lme i da ,
(1923-1926), vice-presidente (1926-1929) e presidente e m 1 93 3 .
“vulgarização” – termo usado à época para se romance científico, Almas sem abrigo (1933),
(1929 a 1931) da entidade. Além da carreira científica, referir ao que se chama hoje de divulgação que aborda as aventuras de um matemático
ac e r vo a b c

desempenhou papel importante na educação e científica. Dentre seus livros sobre o tema no Brasil do início do século XX. Além disso, à e s q u e r da , c a pa d o r o ma nc e c i e nt í f i c o a l ma s
se m a br i g o , p u b li c a d o e m 1 93 3 .
divulgação da ciência no Brasil. Também se dedicou estão A mentalidade científica brasileira (1922), colaborou com a então incipiente produção
r e p r o d u ç ão
à literatura e publicou ensaios, tendo sido eleito Homens e coisas de ciência (1925) cinematográfica brasileira voltada para a
e A vulgarização do saber (1931), que talvez seja educação e a divulgação da ciência e da à d i r e i ta , no ta e s c r i ta p o r o z ó r i o d e a lme i da
membro da Academia Brasileira de Letras. e e nvi a da à r o ya l s o c i e t y d e lo nd r e s p o r
ac e rvo a bc o primeiro no país a discutir de forma mais cultura, ao dirigir, junto com Humberto o c a s i ão da c e le b raç ão d o c e nt e ná r i o da s
sistemática a divulgação científica. Mauro, o documentário Fisiologia geral (1938). d e s c o b e r ta s d e mi c h a e l fa ra day, e m 1 93 1 .
80 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 81

“O nosso progresso econômico

Euzébio Paulo está em estreita dependência


com o valor dos seus homens

de Oliveira de ciência.”
— e m d i s c u r s o d e d e s p e d i da
da p r e s i d ê n c i a da a b c ,

(1883-1939) 16/05/1933

Presidente da ABC Do desenvolvimento da geologia


1931-1933 à descoberta do petróleo
Euzébio Paulo de Oliveira teve papel de grande
relevância no desenvolvimento das ciências

N
geológicas na América do Sul. Fez contribuições
ascido em Minas Gerais em 1883, estudou importantes como pesquisador da estrutura do
engenharia de minas e civil na Escola solo do Brasil, de seu passado geológico e de
de Minas de Ouro Preto. Ingressou parte significativa de sua fauna e flora fósseis,
bem como professor e divulgador desses
como geólogo no Serviço Geológico e
conhecimentos e membro ativo da ABC.
Mineralógico do Brasil em 1907, ano de sua criação,
Fez parte da Comissão de Estudos das
e trabalhou na instituição durante toda a vida. Secas, Inundações, Insetos e Terremotos,
Como diretor do Serviço, entre 1925 e 1933, deu um instituída na entidade em novembro de
novo impulso ao órgão, com a reorganização de sua 1924, ficando responsável pelos estudos das
estrutura física e a aquisição de novos equipamentos. inundações. Em 1926, foi eleito tesoureiro,
cargo que exerceu até 1931.
Em 1914, participou da Comissão Roosevelt-
Ainda em 1926, foi designado, junto a
Rondon, que consistiu na travessia do rio Prata ao
outros membros da ABC, para representar
Amazonas, tendo realizado valiosas observações a entidade nas homenagens à Marie Curie
paleogeográficas. Em 1916, publicou artigo sobre a em sua visita ao Brasil. Em maio de 1930,
geologia do estado do Paraná, estudo que marcou o foi escolhido para integrar a comissão da
início das pesquisas mais sistemáticas sobre petróleo ABC cujo objetivo era apoiar a criação (estudo da composição e da estrutura e u z é b i o d e o li ve i ra pa r t i c i p o u da c o mi s s ão
r o o s e ve lt - r o nd o n, e x p e d i ç ão q u e at rave s s o u
do Instituto de Pesos e Medidas. das rochas), bem como apresentou a
no Brasil. Ingressou na ABC em 1917. Na entidade, d o r i o p rata at é o a ma z o na s . na f o t o , t i ra da
No campo da educação e divulgação, descrição do acervo brasileiro de plantas e m ma nau s e m 1 91 4, da e s q u e r da pa ra a d i r e i ta ,
ocupou os cargos de tesoureiro (1926-1931), presidente e le é o p r i me i r o e m p é .
ministrou curso sobre a geologia de petróleo e animais fósseis.
(1931-1933) e vice-presidente (1933-1935). Em 1933, na Escola Politécnica, em 1927, e proferiu Dentre suas obras mais importantes
ac e r vo a b c

concluiu o Mapa Geológico do Brasil. O aparelhamento um ciclo de quatro palestras acerca de estão A Geologia do Paraná, Regiões s e u s e s t u d o s g e o ló g i c o s c o nt r i b u í ra m

técnico que ajudou a criar para a pesquisa de petróleo mineralogia, paleobotânica, petrografia Carboníferas dos Estados do Sul, Rochas pa ra vi a b i li z a r a e x p lo raç ão d e
p e t r ó le o no b ra s i l.
no país possibilitou a descoberta do combustível em e paleozoologia do Brasil na Associação Petrolíferas do Brasil, Geologia Estratigráfica ac e r vo s p g o v

janeiro de 1939, poucos meses antes de sua morte. Brasileira de Educação, em 1931. Nesse ciclo, e Econômica, Geognose do Solo Brasileiro,
ac e rvo a bc enfatizou a relevante contribuição brasileira Mineral Resources of Brazil e História da
à mineralogia sistemática e à litologia Pesquisa do Petróleo no Brasil.
82 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 83

Arthur
Alexandre Moses
(1886-1967)
Presidente da ABC
1933-1935; 1941-1943;
1947-1949; 1951-1965

N
asceu no Rio de Janeiro, em 1886, e graduou-
se na Faculdade de Medicina da então capital
federal, onde foi professor de microbiologia.
Atuou como pesquisador no Instituto Oswaldo
Cruz (atual Fundação Oswaldo Cruz), realizando estudos
em histologia, microbiologia e medicina veterinária. Fez
importantes contribuições nessas áreas, como a primeira Duas décadas de conquistas Moses participou de uma série de ações
descrição de um método para o diagnóstico imunológico à frente da ABC e comissões da ABC que foram importantes
Membro fundador da ABC, Arthur Moses para o desenvolvimento da ciência brasileira
da neurocisticercose, infecção que afeta o sistema nervoso
teve papel de destaque na entidade, e de sua institucionalização. Fez parte,
central. Descreveu também um tipo específico de tumor
contribuindo significativamente para o seu por exemplo, da comissão designada para
em coelhos. Trabalhou no Ministério da Agricultura e desenvolvimento e a sua consolidação. elaborar o anteprojeto de lei de criação do
dirigiu o Instituto Experimental de Veterinária entre 1921 Antes de ter uma sede própria, os Conselho Nacional de Pesquisas, o CNPq.
e 1933. Foi um dos fundadores da ABC e vice-presidente membros da ABC se reuniam frequentemente Foi membro do Conselho Deliberativo
da entidade por dois mandatos (1929-1931 e 1949-1951), no laboratório de análises clínicas de Moses. do órgão desde a criação, em 1951, até
Em uma dessas reuniões, um grupo de o seu falecimento.
mas sua atuação mais longa foi como presidente, cargo
Acadêmicos decidiu recuperar a revista da Durante sua gestão na ABC, o governo
que ocupou por 20 anos. Presidiu também a Associação
Academia, que se encontrava suspensa. federal reconheceu oficialmente a entidade,
a ne u r o c i s t i c e r c o s e é u ma i nf e c ç ão q u e
Brasileira de Educação, entre 1929 e 1931 e 1946 e 1948. A partir de março de 1929, com o nome um passo fundamental para as relações a f e ta o c é r e b r o e o s i s t e ma ne r vo s o
Recebeu vários prêmios, entre eles o prêmio Kümmel, da de Anais da Academia Brasileira de Ciências, a internacionais da Academia. Foi também c e nt ra l. mo s e s d e s c r e ve u u m mé t o d o pa ra
d i ag nó s t i c o i mu no ló g i c o da d o e nç a .
Alemanha. Faleceu em 1967. Em sua homenagem, publicação passou a circular regularmente, durante sua administração que, em 1959, a
c d c / d r . g e o r g e r . h e a ly
a ABC criou o prêmio Arthur Moses, que estimulava a tendo Moses como um dos editores. Academia conseguiu recursos para a compra
O periódico tornou-se um veículo de alto de sua sede à rua Anfilófio de Carvalho, no t o p o da pág i na , r e u ni ão d o c o ns e lh o
pesquisa concedendo auxílio financeiro. nac i o na l d e p e s q u i sa s . mo s e s é o t e r c e i r o
ac e rvo a bc nível científico e ajudou a disseminar a onde se instalou no ano seguinte e da e s q u e r da pa ra a d i r e i ta .
ciência brasileira no exterior. funciona até hoje. ac e r vo a b c
84 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 85

Energia nuclear para o Brasil


A geração de energia nuclear acontece pela

Álvaro Alberto fissão ou divisão do núcleo atômico, um


processo que libera grandes quantidades
de energia. Isto acontece, de forma muito

da Motta e Silva intensa, na explosão de uma bomba atômica.


Mas, se este processo for controlado, a
energia gerada pode ser aproveitada para

(1889-1976) fins pacíficos. É o que acontece nas usinas


de energia nuclear em funcionamento

Presidente da ABC no mundo.


O vice-almirante Álvaro Alberto da

1935-1937; 1949-1951 Motta e Silva foi pioneiro nas pesquisas


brasileiras sobre energia nuclear e defendia
que esse conhecimento – malfadado pela
explosão destrutiva das bombas atômicas

C
arioca, estudou engenharia na Escola – fosse usado também para a promoção
do desenvolvimento e da paz. Partindo
Politécnica do Rio de Janeiro e na Escola
dessa premissa, ajudou na constituição do
Técnica Central de Bruxelas, na Bélgica. Programa Nuclear Brasileiro.
Seguiu carreira na Marinha, tornando-se Motta e Silva também teve importante
vice-almirante. Durante a Segunda Guerra Mundial, atuação na institucionalização e
desenvolveu método de fabricação de estabilizantes desenvolvimento da ciência nacional, sendo

químicos. Entusiasta do uso pacífico da energia nuclear, um dos principais nomes por trás da criação,
em 1951, do Conselho Nacional de Pesquisas,
esteve à frente da implantação do Programa Nuclear
principal órgão estatal de fomento à
Brasileiro. Foi o representante do Brasil na Comissão pesquisa no Brasil.
de Energia Atômica da Organização das Nações Unidas Na época, havia o entendimento, por
no biênio 1946-1947. Em 1921, ingressou como membro parte da comunidade científica, de que
da ABC, ocupando diversos cargos na entidade: 2° apenas o Estado disporia de recursos para

secretário (1924-1926), secretário geral (1926-1929), vice- apoiar programas científicos de peso no país. no t o p o da pág i na , á lva r o a lb e r t o e m
Por sugestão de Motta e Silva, endossada au d i ê nc i a c o m o p r e s i d e nt e g e t ú li o
presidente (1929-1931) e presidente (1935-1937 e 1949- va r ga s no pa lác i o d o c at e t e ( r j ) .
pela ABC, foi apresentada então ao governo
1951). Participou ativamente da criação do Conselho federal, em 1946, a proposta de criação do
ac e r vo a b c

Nacional de Pesquisa, do qual foi o primeiro presidente. CNPq, concretizada cinco anos depois. à e s q u e r da , o c i e nt i s ta r e u ni d o c o m
o p r e s i d e nt e d u t ra , ta mb é m no pa lác i o
Neste cargo, ajudou a criar o Instituto Nacional de Em homenagem ao cientista, foi CURIOSIDADE
d o c at e t e . ne s ta r e u ni ão , f o i d e c i d i da
Matemática Pura e Aplicada e o Instituto de Pesquisas instituído pelo CNPq, em 1986, o prêmio a c r i aç ão d o c np q . Apaixonado por explosivos, Motta e
da Amazônia. Hoje, é homenageado pela Central Almirante Álvaro Alberto para Ciência e ac e r vo a b c Silva chegou a inventar dois deles, a
Tecnologia, atribuído anualmente a um rupturita e a alexandrinita. E foi assim
Nuclear Almirante Álvaro Alberto, em Angra dos Reis, à d i r e i ta , c a r ta d e á lva r o a lb e r t o a
que nasceu seu interesse pela energia
pesquisador que tenha se destacado pela pac h e c o le ão , na é p o c a p r e s i d e nt e da a b c ,
que produz a maior parte da energia nuclear do país. realização de obra científica ou tecnológica s u g e r i nd o c o ng rat u la r a sa nta s é p e la nuclear, área na qual pesquisou e
i ni c i at i va d e a nu la r a s s e nt e nç a s q u e militou ao longo de sua carreira.
acerv o abc de reconhecido valor para o progresso c o nd e nava m ga li le u ga li le i ( 2 3 / 0 7 / 1 968 ) .
da sua área. ac e r vo a b c
86 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 87

Adalberto Menezes
de Oliveira
(1883-1973)
Presidente da ABC
1937-1939

N
asceu em São João del-Rei, em Minas Gerais,
e fez carreira como oficial da Marinha no Rio
c a r ta - c o nvi t e pa ra q u e
de Janeiro. No exterior, estudou engenharia a da lb e r t o me ne z e s d e

elétrica na Universidade de Liége, na Bélgica, o li ve i ra pa r t i c i pa s s e da


c o mi s s ão o r ga ni z a d o ra da
formando-se em 1908, e estagiou, no ano seguinte, na vi i i c o nf e r ê nc i a mu nd i a l
d e e d u c aç ão , r e a li z a da
Inglaterra. Em 1919, fez curso na Faculdade de Paris, no b ra s i l e m 1 93 9.
com a Nobel Marie Curie e Fernand Holweck. Na capital ac e r vo a b c

francesa, também se formou engenheiro radiotelegrafista f i c h a d e c a da s t r o d o


pela Escola Superior de Eletricidade. No campo da c i e nt i s ta na a b c .
ac e r vo a b c
educação, escreveu livros didáticos de física e foi professor
da Escola Naval, da Escola Politécnica do Rio de Janeiro,
Ciência, política e educação de estudos sobre a regulamentação da revista Educação, que começou a circular
da Escola Normal do Distrito Federal e da Faculdade de Adalberto Menezes de Oliveira teve atuação radiotelegrafia e radiotelefonia no Brasil. em fevereiro de 1939. Dez anos antes, havia
Filosofia, Ciências e Letras da Universidade do Brasil. importante tanto na ciência quanto na Também representou a ABC na Comissão ajudado a criar a revista Ciência e Educação,
Defendia a realização de experimentos e atividades educação, tendo ocupado os cargos mais de Metrologia, criada em 1938 pelo então dedicada à divulgação científica e aos novos
práticas como forma de desenvolver senso crítico e altos nas principais entidades representativas Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio métodos pedagógicos, da qual foi diretor.
desses campos. para legislar sobre os sistemas de medidas Ainda no campo da educação e divulgação
investigativo nos alunos. Na ABC, fez parte do primeiro
Durante sua gestão na ABC, a relação utilizados no país. da ciência, participou da série de conferências
grupo de sócios, foi vice-presidente de 1929 a 1931 e
entre a comunidade científica e os assuntos Participou ainda da comissão nomeada da ABE iniciada por Álvaro Ozorio de Almeida
presidente no biênio 1937-1939. Também integrou a de Estado se tornou mais estreita, de pelo então presidente Eurico Gaspar Dutra em 1929, abordando os temas das auroras
Associação Brasileira de Educação, ocupando o cargo de modo que a Academia passou a fazer (1946-1951) para elaborar o projeto que polares e da alta atmosfera.
presidente da entidade entre 1934 e 1936. parte de discussões importantes sobre a resultou na criação do Conselho Nacional Durante a gestão do ministro da Educação
regulamentação e a formulação de políticas de Pesquisa, o atual CNPq. e Saúde Gustavo Capanema (1934-1945), foi
públicas em diversas áreas. Na Associação Brasileira de Educação convidado para integrar a Comissão Nacional
ac e rvo a bc Oliveira integrou, por exemplo, (ABE), além de presidente, foi membro do Livro Didático, que se manteve ativa nos
junto a outros Acadêmicos, a comissão do Conselho Diretor, criador e redator da primeiros anos da década de 1940.
88 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 89

Ignacio Manoel
Azevedo
do Amaral
(1883-1950)
Presidente da ABC
1939-1941

N
ascido em 1883 no Rio de Janeiro, fez
carreira na Marinha do Brasil e teve
importante papel como educador.
Formou-se na Escola Naval e doutorou-
se em física e matemática pela Escola Politécnica do
Rio de Janeiro, onde também foi professor e diretor.
Lecionou ainda na Escola Normal do Distrito Federal
e no Colégio Pedro II. Entre 1925 e 1935, presidiu
o Instituto Técnico Naval. Foi um dos fundadores
Universidade, cérebro da nação universitária e no lançamento das bases para a “A universidade é a consciência
da Associação Brasileira de Educação e defendeu
ativamente a melhoria do ensino universitário no
Azevedo do Amaral foi um dos fundadores da
Associação Brasileira de Educação, criada em
construção da cidade universitária.
Em seu primeiro pronunciamento como
e o cérebro da nação, pois ela
país. Foi reitor da Universidade do Brasil. Ingressou 1924 com a finalidade de reunir educadores reitor, afirmou que “a universidade não é reflete o pensamento do Brasil.”
na ABC no ano de sua fundação, em 1916, e foi e outros atores comprometidos com as somente a depositária da ciência, da cultura e — em seu primeiro
questões educacionais do país. Em vários da técnica, para sua transmissão às gerações pronu nciament o como reit or da
presidente da entidade entre 1939 e 1941. Colaborou u niv ersidad e d o brasil, em 1945
cargos e posições, lutou pela melhoria do sucessivas, como um patrimônio sagrado;
com jornais e dirigiu a Companhia Brasileira de
ensino, especialmente nas universidades, que cumpre-lhe também, por uma ininterrupta
Publicidade, além de atuar em diversas sociedades começavam a se estabelecer no Brasil. atividade de pesquisa, contribuir de forma
internacionais. Faleceu em 1950. Presidiu a comissão que elaborou o Plano da eficiente para o progresso e grandeza do Brasil”.
a z e ve d o d o a ma ra l pa r t i c i p o u da
r e c e p ç ão d e e i ns t e i n no b ra s i l. na f o t o , o
Universidade do Brasil e foi nomeado reitor da Teve, ainda, uma passagem pela g r u p o vi s i ta o mu s e u nac i o na l, na q u i nta

instituição em 1945, permanecendo na função imprensa, tendo colaborado para os jornais da b oa vi s ta . i g nac i o é o q ua r t o da
e s q u e r da pa ra a d i r e i ta , e nt r e h e nr i q u e
ac e rvo a bc até 1948. Nesse período, atuou na criação O Paiz e O Imparcial. Publicou artigos sobre mo r i z e e e i ns t e i n.
de institutos, no empenho pela autonomia matemática, educação e política nacional. ac e r vo a b c
90 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 91

Cândido Firmino
de Mello
Leitão Junior
(1886-1948)
Presidente da ABC
1943-1945

P
araibano de Campina Grande, iniciou a carreira
como médico, formando-se na Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro e trabalhando em
diversos hospitais. No entanto, sua paixão por
aracnídeos levou-o a migrar para o campo da zoologia, no Aranhas, redes e educação Como presidente da ABC, que desde c o nf e r ê nc i a d o p s i c ó lo g o e p s i q u i at ra
f ra nc ê s p i e r r e ja ne t na a b e e m 1 93 3 . na
Graduado em medicina, Mello Leitão formou- o início apoiou o fortalecimento e a
qual se tornou reconhecido especialista. Ao longo de sua f o t o , da e s q u e r da pa ra a d i r e i ta , o s t r ê s
se quase como um autodidata no campo consolidação de diferentes áreas da ciência, p r i me i r o s s ão mi g u e l o z ó r i o d e a lme i da ,
trajetória acadêmica, descobriu uma grande variedade de da zoologia, transformando-se, de um desempenhou papel importante na ja ne t e me llo le i tão .

espécies de aranhas brasileiras e estudou a distribuição colecionador de aranhas apaixonado, em uma afirmação da zoologia como área específica
ac e r vo a b c

de aracnídeos pelo continente sul-americano. Lecionou referência nos estudos dos aracnídeos. do conhecimento no Brasil, defendendo seu me llo le i tão d e s c r e ve u d i ve r sa s e s p é c i e s
d e a ra nh a . a da f o t o é u ma c a ra ng u e j e i ra -
em várias instituições, destacando-se entre elas a Escola Ao longo da carreira, identificou, catalogou papel estratégico para o país.
r o sa - sa lmão - b ra s i le i ra ( l a si o d o ra
Superior de Agricultura e Medicina Veterinária e o Museu e nomeou diversos gêneros e espécies de Além da extensa produção especializada, pa ra h y ba na ) , u ma da s ma i o r e s ta r â nt u la s
aranhas, registradas em uma extensa produção Mello Leitão dedicou-se à elaboração de livros d o mu nd o .
Nacional. Ainda no campo da educação, dedicou-se à g e o r g e c h e r ni le vs ky
científica. Mas sua contribuição para a área vai didáticos destinados a alunos do ensino
elaboração de livros didáticos. Tornou-se membro da ABC muito além da classificação desses artrópodes. médio e superior, que se destacavam pela
em 1917, ocupando a vice-presidência da entidade nos O zoólogo foi pioneiro ao pesquisar a atualização científica, pelo espaço dedicado
biênios 1916-1923 e 1937-1939 e a presidência entre 1943 distribuição espacial histórica dos aracnídeos e às imagens e pela utilização majoritária de
e 1945. Um ano após seu falecimento, em 1948, sua viúva ajudou a construir uma perspectiva de pesquisa exemplos da fauna e da flora do Brasil.

doou apólices da dívida pública federal à ABC, que, com mais ampla das aranhas como seres vivos. Escreveu também uma série de textos
A robusta e dinâmica rede de contatos que sobre ciência para o público geral, não
os juros, instituiu o prêmio Mello Leitão. Em 1949, foi
estabeleceu com naturalistas e entomólogos de especializado, tendo mantido uma coluna de
homenageado com a inauguração do Museu de Biologia diversos países foi fundamental para a coroação divulgação científica no jornal O Imparcial,
ac e rvo a bc
Professor Mello Leitão, no Espírito Santo. de sua trajetória acadêmica, bem como seus do Rio de Janeiro, nos anos 1922-1923.
vínculos institucionais e suas atividades didáticas.
92 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 93

Mario Paulo
de Brito
(1894-1974)
Presidente da ABC
1945-1947

N
asceu em 1894, no Rio de Janeiro.
Formou-se engenheiro geógrafo em
1913 e, dois anos depois, engenheiro
civil, na Escola Politécnica do Rio de
Janeiro. Em 1919, obteve título de doutor em ciências
físicas e naturais na mesma instituição, da qual
se tornou, posteriormente, professor. Lecionou
também no Instituto de Educação do Distrito Federal,
ocupando o cargo de diretor durante dois mandatos,
e na Universidade do Brasil. Integrou o grupo de
fundadores da Associação Brasileira de Educação, A educação como prioridade nacional frequentavam as escolas em todo o país. transcrição do discurso de brito por ocasião
de sua posse na presidência da abc, em 1945.
criada em 1924, e foi secretário-geral de Educação O engenheiro Mario Paulo de Brito foi um Criticou a falta de compromisso das
b r u no r i b e i r o / a b c
e Cultura do Distrito Federal entre 1951 e 1952 e de grande defensor das questões educacionais no autoridades com a educação, uma área
país. Não à toa, participou do movimento que essencial a ser priorizada pelo governo.
1955 a 1956. Ingressou na ABC em 1927. Na entidade,
levou à criação da Associação Brasileira Nesse sentido, cobrou dos Acadêmicos de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
foi 1º secretário de 1931 a 1933, vice-presidente entre
de Educação, que tinha como objetivo sanar empenho em combater os problemas apresentado ao Congresso Nacional em 1948.
1949 e 1951 e presidente no biênio 1945-1947. Faleceu os problemas do setor. educacionais brasileiros como forma de O engenheiro também foi um entusiasta
em 1974. Em sua homenagem, a Escola Municipal Na ABC, procurou reforçar a ideia de melhorar a formação científica no país. da divulgação científica. Nesse âmbito,
Mario Paulo de Brito, localizada no bairro que a ciência tem papel fundamental na Durante a Era Vargas (1930-1945), participou colaborou com a Rádio Sociedade, criada na
carioca de Irajá, leva seu nome. melhoria da educação. Em seu discurso da discussão que resultou no projeto de lei de ABC. Também fundou, com Matos Pimenta e
de posse como presidente da Academia, criação do Conselho Nacional de Educação. Plínio Cantanhede, o Jornal de Debates, dedicado
destacou a falta de continuidade das No governo do general Eurico Gaspar Dutra à divulgação da pesquisa científica no Brasil.
políticas públicas na área, a necessidade (1946-1950), foi indicado pelo Ministério Escreveu, ao longo da carreira, vários artigos
acerv o abc de modernização da infraestrutura escolar da Educação para participar da comissão sobre temas científicos e educacionais e também
e o pequeno número de estudantes que encarregada de elaborar o anteprojeto da lei sobre administração pública e questões políticas.
94 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 95

Carlos
Chagas Filho
(1910-2000) Pesquisa de qualidade na universidade
Presidente da ABC Filho de um expoente da ciência brasileira,

1965-1967  Carlos Chagas Filho recebeu uma herança


científica de peso. No entanto, seguiu
trajetória diferente da do pai, privilegiando

N
a carreira acadêmica na universidade
asceu no Rio de Janeiro, em 1910, um ano
e assumindo posições importantes em
após a descoberta da doença de Chagas, organismos nacionais e internacionais.
feito que transformou Carlos Chagas, Ao criar, em 1945, o Instituto de Biofísica
seu pai, em um dos maiores cientistas na então Universidade do Brasil, o cientista
brasileiros. Estudou na Faculdade Nacional de Medicina, inaugurou a tradição de pesquisa na
universidade brasileira e estabeleceu novos
da qual também foi professor. Completou a formação
padrões profissionais para a prática científica
no Instituto Oswaldo Cruz e na Universidade de
no país.
Paris, especializando-se em biofísica, farmacologia O instituto tinha um perfil inovador para
e diferenciação celular. Na Universidade do Brasil, a época. Caracterizado pela articulação entre
fundou o Instituto de Biofísica, que hoje leva seu pesquisa e docência, pelo regime de trabalho
nome. Adotou o peixe-elétrico como modelo de em tempo integral, pela possibilidade de
ascensão na carreira via titulação e pelo
estudo neurofisiológico em suas pesquisas e, a partir
intenso intercâmbio científico com outras ABC e como representante de outros órgãos ac i ma , à e s q u e r da , c h aga s f i lh o na x i i i
delas, contribuiu para o melhor entendimento dos c o nf e r ê nc i a g e ra l da u ne s c o , r e a li z a da
instituições, tornou-se uma referência para os nacionais voltados à ciência. e m pa r i s e m 1 964.
mecanismos de transmissão neuromuscular em seres centros fundados posteriormente. Paralelamente às iniciativas desenvolvidas ac e r vo a b c
vivos. Ingressou na ABC em 1941, assumiu a vice- Outras marcas do instituto foram a nas instituições brasileiras, Chagas Filho
no c e nt r o , o c i e nt i s ta e m s e u la b o rat ó r i o .
presidência entre 1951 e 1953 e foi eleito presidente ênfase na ciência básica e o estabelecimento teve uma atuação política importante junto ac e r vo a b c

para o biênio 1965-1967. Durante sua gestão, conseguiu de linhas de pesquisa calcadas em objetos a organizações internacionais. Destacam-se,
à d i r e i ta , c a r lo s c h aga s c o m o s f i lh o s ,
nacionais, como o peixe-elétrico e o curare – nessa esfera, sua posição como embaixador do
a promulgação da lei que autorizava o Poder Executivo e va nd r o ( o ma i s a lt o ) e c a r lo s .
substância com ação farmacológica extraída Brasil junto à Organização das Nações Unidas ac e r vo c o c / f i o c r u z
a doar para a ABC Obrigações Reajustáveis do Tesouro
de espécies vegetais da Amazônia. para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco)
Nacional. Foi membro da Academia Brasileira de Letras, Chagas Filho legitimava, assim, tanto a e a nomeação, pelo Papa Paulo VI, como
a ba i xo , o p e i x e - e lé t r i c o , mo d e lo
d e e s t u d o s d e c h aga s f i lh o .
embaixador do Brasil junto à Unesco e presidente produção do conhecimento pelo conhecimento presidente da Pontifícia Academia de Ciências, w i ki me d i a c o mmo ns /
da Academia de Ciências do Vaticano. quanto a importância de uma ciência nacional no Vaticano, cargo em que defendeu ko s

ace r vo a bc e de qualidade, ideais que defendeu ao longo a aproximação entre fé e ciência.


da carreira, inclusive como presidente da
96 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 97

Aristides Azevedo
Pacheco Leão
(1914-1993) u ma da s pa i x õ e s d o c i e nt i s ta : a o r ni t o lo g i a .
a p e sa r d e não s e r s ua á r e a d e e x p e r t i s e ,

Presidente da ABC pac h e c o le ão d e d i c ava o t e mp o li vr e à


o b s e r vaç ão d o s pá s sa r o s .

1967-1981
w i ki me d i a c o mmo ns ( j u ni o r g i r o t t o
e p e d r o d e l va le )

ao la d o , pac h e c o le ão e m r e u ni ão c o m o
lí d e r da s o c i e da d e f í s i c a d o ja pão , e m 1 98 1 .

N
ac e r vo a b c
asceu em 1914, no Rio de Janeiro.
Ingressou na Faculdade de Medicina de São
Paulo em 1932, mas, em função de uma Política científica, cérebros e pássaros Na pesquisa, Pacheco Leão fez
Pacheco Leão dividiu sua carreira entre contribuições importantes para a
tuberculose, teve que se afastar do curso.
a pesquisa e a política científica, tendo neurociência. Em sua tese de doutorado,
Já curado, em 1940, viajou para os Estados Unidos e
feito importantes descobertas na bancada descreveu um fenômeno que se tornou
obteve graus de mestre e doutor pela Universidade e participado de diversos organismos e internacionalmente conhecido como
de Harvard. De volta ao Brasil, tornou-se professor da instituições. Leão’s spreading depression, em português,
Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Na presidência da ABC, logrou conquistas depressão alastrante de Leão. Trata-se de
Brasil. Posteriormente, foi transferido para o Instituto importantes, apesar do complexo contexto uma queda de atividade elétrica do córtex
da ditadura militar. Conseguiu, por exemplo, cerebral ao ser estimulado de maneira
de Biofísica da universidade, onde foi pesquisador
que o governo federal reconhecesse a artificial. A descoberta foi fundamental
e professor, além de diretor entre os anos de 1966 e
entidade como parte integrante do sistema para a compreensão de doenças como
1970. Ingressou na ABC em 1948 e foi vice-presidente de ciência e tecnologia, com capacidade de a epilepsia e a enxaqueca.
nos períodos de 1955-57 e 1965-67 e presidente de emitir pareceres nessas áreas. Tal medida Enquanto estudava fenômenos
1967 a 1981. Seu mandato como presidente ocorreu gerou recursos para a Academia que relacionados ao cérebro no laboratório,
durante o difícil período da ditadura militar e, graças a possibilitaram o desenvolvimento de projetos dedicava seu tempo fora dele aos pássaros,
multidisciplinares de relevância nacional tornando-se um ornitólogo amador com
seus esforços, a Revista Brasileira de Biologia continuou
e internacional. contribuições também para essa área. Suas
sendo publicada mesmo após a cassação dos editores.
No escopo mais amplo do gravações de canto de pássaros brasileiros,
Conseguiu, ainda, que o governo federal reconhecesse sistema nacional de C&T, teve, entre por exemplo, ajudaram a mapear diferentes
a ABC como parte do setor de ciência e tecnologia, 1985 e 1991, intensa atuação nas secretarias habitats no cerrado e a delimitar zonas de
gerando recursos para a entidade. Suas pesquisas de Planejamento e de Ciência e Tecnologia proteção ambiental. Seus trabalhos nesse
a r t i g o q u e d e s c r e ve a d e p r e s s ão
foram fundamentais para a compreensão de doenças da presidência da República, como campo também serviram de estímulo para a a la s t ra nt e d e le ão , p u b li c a d o no j o ur na l o f

membro e presidente do Grupo Especial de publicação do livro Ornitologia brasileira, do n e ur o ph y si o l o g y e m 1 944.


como a epilepsia e a enxaqueca. r e p r o d u ç ão / le ão a a p. s p r e a d i ng d e p r e s s i o n
ac e rvo a bc Acompanhamento do Programa de Apoio cientista alemão Helmut Sick, ornitólogo o f ac t i vi t y i n t h e c e r e b ra l c o r t e x . j
ao Desenvolvimento Científico. do Museu Nacional. n e ur o ph y si o l 7 : 3 59– 3 90 , 1 944.
98 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 99

Maurício
Matos Peixoto
(1921-)
Presidente da ABC
1981-1991

C
earense de Fortaleza, nasceu em 1921 Matemática brasileira de excelência
e formou-se na Escola Nacional de Apesar da formação em engenharia, CURIOSIDADE
Engenharia da Universidade do Brasil. foi na matemática que Peixoto realizou Maurício Matos Peixoto foi reprovado
suas principais contribuições científicas, em matemática no Colégio Pedro II.
Foi estudar nos Estados Unidos, onde
tornando-se especialista na área de sistemas Embora amarga, a experiência foi
começou a se interessar pela pesquisa sobre sistemas decisiva para que o pesquisador se
dinâmicos. Os pesquisadores que trabalham
dinâmicos e lançou um teorema matemático que apaixonasse por essa ciência.
com esses sistemas procuram teorias
hoje é conhecido como Teorema de Peixoto. De volta matemáticas capazes de compreender e
ao Brasil, foi um dos fundadores do Instituto Nacional prever sua evolução. Esse conhecimento é
de Matemática Pura e Aplicada, onde trabalhou até usado, por exemplo, na previsão do tempo, sistemas dinâmicos, o que resultou em uma
se aposentar aos 70 anos. Premiados, seus estudos na compreensão da evolução de epidemias revitalização desse campo da matemática.
e na programação de computadores. Os estudos de Peixoto também foram
foram fundamentais para o desenvolvimento de uma
O grande feito de Peixoto foi descrever um centrais para a criação, em 1953, do Instituto
escola de matemática no Brasil. Fez parte da diretoria
teorema que hoje leva seu nome. O trabalho, Nacional de Matemática Pura e Aplicada
do CNPq, exercendo o cargo de vice-presidente entre que teve a participação de sua esposa Marília (Impa), idealizado por ele, Lélio Gama e
1971 e 1974 e assumindo a presidência por um ano em Peixoto, rendeu-lhe, em 1987, o prêmio da Leopoldo Nachbin. O objetivo do trio era
1979. Foi também presidente da Sociedade Brasileira então Academia de Ciências do Terceiro estabelecer no Brasil um centro de excelência
de Matemática entre 1975 e 1977. Ingressou na ABC Mundo, “por seu estudo fundamental e em matemática, um projeto tão ambicioso
pioneiro sobre estabilidade estrutural de quanto bem-sucedido.
em 1949. Na entidade, foi secretário-geral de 1969 a no a lt o , à e s q u e r da , o p r e s i d e nt e j oão
sistemas dinâmicos, em particular por provar A instituição se tornou uma referência
1977, vice-presidente nos biênios 1977-1979 e 1979- f i g u e i r e d o , mau r í c i o p e i xo t o e o u t ra s
que os fluxos em superfícies são genérica e para as pesquisas matemáticas na América au t o r i da d e s e m b ra s í li a , d u ra nt e a c e r i mô ni a
1981 e presidente entre 1981 e 1991. Em seu discurso estruturalmente estáveis”. Latina e é responsável pela formação de várias d e d oaç ão d e t e r r e no à a b c e m 1 98 4.
ac e r vo a b c
de posse como presidente da entidade, defendeu a Além da importância científica do feito em gerações de matemáticos, alguns dos quais
inclusão das ciências humanas na ABC, reivindicação si, o Teorema de Peixoto inspirou o matemático reconhecidos mundialmente pela qualidade ao la d o , c o r r e s p o nd ê nc i a s e nvi a da s a p e i xo t o

norte-americano Stephen Smale, vencedor, de seus trabalhos. Exemplo disso é o carioca p e lo p r e s i d e nt e d o c np q , c r o d o wa ld o pava n,
que foi atendida posteriormente. e p e lo s e na d o r ma r c o mac i e l, s o b r e t e ma s
acerv o abc em 1966, da medalha Fields – prêmio máximo Artur Avila, formado pelo Impa e vencedor d e p o lí t i c a c i e nt í f i c a .
da matemática –, a criar a teoria geral dos da medalha Fields em 2014. ac e r vo a b c
100 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 101

Oscar Sala
(1922-2010)
Presidente da ABC
1991-1993

I
taliano nascido em 1922, mudou-se para o
Brasil com dois anos de idade. Formou-se na
primeira turma de físicos do país, em 1945.
Trabalhava com raios cósmicos quando se Sala e o Van de Graaff paulista
envolveu na construção de transmissores de rádio Oscar Sala construiu uma sólida carreira de CURIOSIDADE
portáteis para o exército brasileiro durante a Segunda físico nuclear no momento em que a área Antes de ingressar no mundo da física,
Guerra Mundial. Estagiou nos Estados Unidos, onde vivia seu ápice, com a detonação das bombas Oscar Sala tinha um reconhecido
atômicas no Japão e o fim da Segunda talento musical, tendo inclusive
iniciou o projeto de desenvolvimento do acelerador
Guerra Mundial. ganhado uma bolsa para se aperfeiçoar
eletrostático encomendado pela Universidade de em piano. No entanto, seu interesse
Trabalhando com raios cósmicos antes do
São Paulo (USP), do tipo Van de Graaff, importante conflito, sob orientação do físico Gleb Wataghin, pela ciência e tecnologia acabou
para pesquisas em energia nuclear. Foi professor prevalecendo em suas escolhas
passou a se dedicar à física nuclear experimental
profissionais.
e pesquisador de física nuclear na Faculdade de com o fim da guerra e o interesse crescente da
Filosofia, Ciência e Letras da USP. Com a dissolução USP pelos aceleradores de partículas.
Para se especializar na área, realizou
da faculdade em 1969, seu departamento foi
estágios em universidades norte-americanas no o núcleo atômico, as partículas aceleradas na f o t o me no r , 2 9º r e u ni ão a nua l da s b p c ,
integrado ao Instituto de Física da universidade. Foi r e a li z a da e m s ão pau lo e m 1 97 7 . na f o t o
fim da década de 1940, fazendo contribuições provocam reações que levaram, por exemplo,
e s tão mau r í c i o r o c h a e s i lva , d o u g la s
presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso importantes nesse período. Na Universidade à melhor compreensão da estrutura nuclear. t e i x e i ra mo nt e i r o , o s c a r sa la ( s e nta d o ,
da Ciência e diretor-científico da Fundação de de Illinois, participou do desenvolvimento de De volta à USP, o físico continuou se s e m g ravata ) , lu i s e d mu nd o d e maga lh ã e s ,
c a r o li na m. b o r i e r e nat o ba s i le .
Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo. Ingressou uma nova técnica para medidas de tempos dedicando ao projeto de construção do ac e r vo fa p e s p
na ABC em 1951. Foi vice-presidente da entidade de curtíssimos de fenômenos nucleares. acelerador eletrostático. Concluído em 1954, foi
Na Universidade de Wisconsin, começou o primeiro a utilizar feixes pulsados para estudos ac i ma , da e s q u e r da pa ra a d i r e i ta , e d ua r d o
1981 a 1991 e presidente entre 1991 e 1993. Sua gestão o s wa ld o c r u z , a nt ô ni o b r i t o da c u nh a ,
a trabalhar no projeto do acelerador sobre reações nucleares com nêutrons rápidos.
na presidência foi interrompida por problemas de i lya p r i g o g i ne , mau r í c i o mat o s p e i xo t o ,
eletrostático encomendado pela USP, do tipo Embora esses equipamentos não sejam wa ld y r mu ni z o li va , j o s é i s ra e l va r ga s ,
saúde e exercida por seu vice, José Israel Vargas. Van de Graaff. Esses equipamentos eram mais usados nas pesquisas de fronteira da física o s c a r sa la e c r o d o wa ld o pava n.
ac e r vo a b c
usados à época em experimentos de física nuclear, o acelerador Van de Graaff paulista
nuclear, pois têm capacidade de produzir teve importante papel no desenvolvimento da
ac e rvo a bc tensões elevadas e, assim, acelerar partículas, área no Brasil e envolveu a formação de uma
conferindo-lhes altas energias. Lançadas sobre geração de físicos brasileiros de alta qualidade.
102 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 103

José Israel Vargas


(1928-)
Presidente da ABC
1991-1993

N
asceu em Paracatu, Minas Gerais, em 1928. ac i ma , g o ve r no d e mi na s g e ra i s
r e c o nh e c e a i mp o r tâ nc i a d e va r ga s pa ra
Formou-se químico pela Universidade a c au sa a mb i e nta l ( 0 7 / 0 7 / 1 992 ) .

Federal de Minas Gerais (UFMG), estudou


ac i ma , à e s q u e r da , lí d e r e s da a b c e
física no Instituto Tecnológico de pa r t i c i pa nt e s da c o mi s s ão mu nd i a l
i nd e p e nd e nt e s o b r e o s o c e a no s . da e s q u e r da
Aeronáutica e fez doutorado em ciências nucleares pa ra a d i r e i ta : d i ó g e ne s d e a lme i da c a mp o s ,
na Universidade de Cambridge, no Reino Unido. De e d ua r d o kr i e g e r , ma r i o s oa r e s , j o h a nna
d ö b e r e i ne r e j o s é i s ra e l va r ga s .
volta ao Brasil, tornou-se professor da UFMG, onde
dirigiu o Instituto de Pesquisas Radioativas, e foi a ba i xo , à e s q u e r da , j o s é i s ra e l va r ga s e nt r e
j o s é g o ld e mb e r g ( no c a nt o d i r e i t o ) e j o s é
assessor técnico da Comissão Nacional de Energia p e lú c i o f e r r e i ra .

Nuclear (CNEN). Deu início à formulação da política


à d i r e i ta , va r ga s e wa lt e r mo r s e m e ve nt o
de energia nuclear no Brasil, trabalho interrompido na ac a d e mi a b ra s i le i ra d e c i ê nc i a s .
t o da s a s i mag e ns : ac e r vo a b c
quando seu laboratório foi tomado pelo exército
durante a ditadura. Nesse período, foi demitido da
CNEN e afastado da UFMG. Partiu em exílio voluntário Do núcleo atômico ao Ministério da Ciência descrever o estado do próprio átomo. Seu trabalhado para aprimorar a qualidade da
José Israel Vargas contribuiu fortemente objetivo era entender o que acontece com o produção nacional, aperfeiçoando o Sistema
para a França, onde trabalhou como pesquisador do
para o processo de consolidação da ciência átomo que sofre uma transformação nuclear. Nacional da Propriedade Intelectual e a
Centro de Estudos Nucleares do Comissariado de brasileira no século XX, tanto do ponto Na política, o engajamento começou cedo, Metrologia e a Normatização.
Energia Atômica, em Grenoble. Em 1972, regressou ao de vista científico quanto político, tendo quando ainda era universitário. Mas foi na Ocupou também cargos importantes no
Brasil. Fez carreira política, atuando como secretário ocupado os mais altos cargos do sistema de volta do exílio voluntário na França que esse exterior. Foi membro da Comissão Assessora
e ministro da Ciência e Tecnologia e presidente do ciência e tecnologia nacional, inclusive o de lado de sua trajetória ganhou maior peso. para as Políticas de Cooperação Intelectual
ministro da pasta. De secretário de Ciência e Tecnologia de Internacional da Organização das Nações
Conselho Executivo da Unesco. Ingressou na ABC em
Como muitos de sua geração, formada Minas Gerais no fim da década de 1970, foi Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
1975 e foi vice-presidente e presidente da entidade,
no pós-guerra, Vargas foi atraído pela física a ministro da Ciência Tecnologia em 1992, (Unesco) e integrou o Conselho do Instituto
cargos que também exerceu junto à Academia de nuclear. Nessa área, desenvolveu trabalhos permanecendo no cargo até 1998. de Estudos Avançados da Universidade das
Ciências do Terceiro Mundo. sobre as transformações nucleares nos Esteve à frente de realizações relevantes Nações Unidas, onde ajudou a desenvolver
sólidos observadas por meio das interações nesse campo, como, por exemplo, a projeto para a pesquisa de uma linguagem
acerv o abc hiperfinas. Nesse tipo de interação, a expansão e consolidação da Rede Nacional entre computadores que permitisse a
radiação emitida pelo núcleo é usada para de Ensino e Pesquisa (RNP), além de ter tradução automática de línguas.
104 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 105

ac e rvo a bc

Eduardo
Moacyr Krieger
(1928-)
Presidente da ABC
1993- 2007 ac i ma , no d e ta lh e , r e p r o d u ç ão d e c a r ta
e nvi a da p o r f e r na nd o h e nr i q u e c a r d o s o
a kr i e g e r , c u mp r i me nta nd o - o p e lo b o m
t ra ba lh o d e s e mp e nh a d o p e la a b c .

G
no a lt o , e d ua r d o moac y r kr i e g e r e o u t r o s
aúcho nascido em Cerro Largo, estudou d u ra nt e r e c e p ç ão no ja pão .
na Faculdade de Medicina de Porto
a ba i xo , à e s q u e r da , kr i e g e r r e c e b e a g r ã -
Alegre, onde teve contato com o grupo c r u z da o r d e m nac i o na l d o mé r i t o c i e nt í f i c o
de fisiologistas argentinos liderado pelo da s mão s d o p r e s i d e nt e f e r na nd o h e nr i q u e
c a r d o s o e m 1 994.
médico e prêmio Nobel Bernardo Houssay. Passou
uma temporada em Buenos Aires trabalhando com à d i r e i ta , kr i e g e r e o u t r o s e s p e c i a li s ta s
d u ra nt e o 8 º c o ng r e s s o da s o c i e da d e
Eduardo Braun-Menendez, que integrava o grupo, e na b ra s i le i ra d e h i p e r t e ns ão e m 1 999.
t o da s a s i mag e ns : ac e r vo a b c
Geórgia, nos Estados Unidos, estagiando nas áreas de
farmacologia e hipertensão experimental. Doutorou-
Entre a política e a hipertensão No plano internacional, estabeleceu Sua contribuição científica permitiu incluir
se em fisiologia cardiovascular pela Faculdade de Seja na bancada de laboratório, seja na conexões e reforçou intercâmbios e convênios o Brasil no radar internacional de pesquisas
Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São gestão de instituições científicas, Eduardo com entidades científicas estrangeiras e clínicas e experimentais relacionadas à
Paulo (USP), da qual veio a tornar-se professor. Foi Moacyr Krieger sempre lutou para que a academias congêneres. Articulou a entrada hipertensão arterial. Estudou particularmente
pioneiro no uso de ratos como modelo de estudo da ciência nacional fosse devidamente valorizada da ABC no Painel InterAcademias e foi eleito os mecanismos de regulação da pressão arterial
e financiada. À frente da ABC durante sete presidente para representar, no órgão, os relacionados ao sistema nervoso, tendo feito
regulação da pressão arterial no sono e no exercício,
mandatos consecutivos, testemunhou países em desenvolvimento. descobertas importantes nesse campo. Com
tendo descrito mecanismos amplamente aceitos
e participou ativamente de conquistas Krieger integrou e dirigiu outras seu grupo da USP de Ribeirão Preto, realizou
atualmente. Em 1980, ingressou na ABC e foi vice- importantes nesse sentido. academias e sociedades científicas, tais também trabalhos pioneiros sobre a influência
presidente e presidente da entidade, cargo no qual Durante sua gestão como presidente, Krieger como a Sociedade Brasileira de Hipertensão do sono na pressão arterial.
permaneceu por 14 anos. Foi convidado, em 1985, projetou a ABC nacional e internacionalmente. e a Federação de Sociedades de Biologia
para trabalhar no Instituto do Coração do Hospital das No Brasil, com o Acadêmico José Israel Experimental. Também se envolveu na
Vargas no cargo de ministro da Ciência e administração de importantes órgãos ligados
Clínicas da USP, onde dirigiu, até 2010, uma equipe
Tecnologia, teve oportunidade de inserir a à política científica nacional, entre eles o
multidisciplinar de pesquisa sobre hipertensão.
Academia no centro da política nacional e, Conselho Nacional de Desenvolvimento
assim, transformar a entidade em um órgão de Científico e Tecnológico e o Ministério da
assessoramento do governo. Ciência e Tecnologia.
106 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 107

Jacob Palis Junior


(1940-)
Presidente da ABC
2007- 2016

F
ilho de pai libanês e mãe síria, nasceu em
Uberaba, Minas Gerais, em 1940. Aos 16
anos, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde
formou-se engenheiro pela Universidade do Ousadia a serviço da matemática “Esperamos chegar aos 200 anos com muito mais força do que temos
Brasil. Fez mestrado e doutorado na Universidade
da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos. Lá,
Jacob Palis é um dos matemáticos mais
respeitados do Brasil. No campo dos sistemas
agora. Além de defender a ciência brasileira, é muito importante a
iniciou seus estudos com sistemas dinâmicos, que dinâmicos, formulou um programa global Academia ser propositiva, propor caminhos para a ciência brasileira
modelam fenômenos da natureza que evoluem com para caracterizar seu comportamento típico e crescer cada vez mais, ser visível no mundo todo. Isto é de primeira
estimar incertezas de previsões futuras. Mas
o tempo. Em 1968, tornou-se pesquisador do Instituto
seu reconhecimento vai além da ciência dos importância para o país, porque aumenta sua credibilidade. E tudo isso é
Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), números. Como dirigente de diversos órgãos, feito por amor, por convicção de que a ciência é o caminho do país.”
que dirigiu por dez anos, fomentando intercâmbio o matemático tem prestado um importante
— e m e n t r e v i s ta à e q u i p e d o c e n t e n á r i o d a a b c
de jovens matemáticos na América Latina. Foi serviço à ciência brasileira.
presidente da União Internacional de Matemática Palis cursou engenharia por influência de
um dos oito irmãos, que era engenheiro e o onde alavancou sua área de pesquisa, formou sua gestão, em 2013, que a ABC organizou,
(IMU) e da Academia de Ciências dos Países em
estimulou a seguir carreira na área. Mas seu uma geração de matemáticos notáveis, foi em parceria com a Academia de Ciências da
Desenvolvimento (TWAS). Nesses cargos, contribuiu
gosto pela matemática prevaleceu. Assim diretor e ao qual está vinculado até hoje. Hungria, o Fórum Mundial de Ciência, realizado
para projetar a matemática e a ciência do Brasil que se formou, foi para os Estados Unidos Paralelamente à trajetória acadêmica, Palis pela primeira vez fora da Hungria. O encontro
internacionalmente. Ingressou na ABC em 1970. estudar com o medalhista Fields Stephen mantém uma importante atuação como gestor. envolveu cerca de mil pesquisadores para
Foi primeiro secretário, vice-presidente e, em 2007, Smale, que o orientou em seu doutorado na Foi o primeiro brasileiro a integrar o conselho debater o papel e as responsabilidades da
tornou-se presidente da entidade, cargo que ocupou Universidade da Califórnia. Já doutor, foi executivo da IMU, entidade da qual se tornou ciência no século XXI.
contratado como professor assistente pela presidente em 1999. Presidiu, também, entre
até 2016, ano do Centenário da Academia. Uma das
instituição, mas ficou pouco tempo no cargo. 2007 e 2012, a TWAS. Seu envolvimento
marcas de sua gestão foi a criação da categoria de à d i r e i ta , pa li s na s e d e da a b c no r i o d e ja ne i r o .
Em atitude ousada para um jovem administrativo nestas instituições ajudou a
membros afiliados, constituída por jovens cientistas matemático com carreira garantida no conferir projeção internacional à ABC, a qual à e s q u e r da , o mat e mát i c o r e c e b e , e m 2 0 1 0 , o
p r ê mi o ba lz a n e m r e c o nh e c i me nt o ao s s e u s
selecionados pelas vice-presidências regionais da exterior, voltou ao Brasil com o objetivo de passou a dirigir em 2007. e s t u d o s s o b r e s i s t e ma s d i nâ mi c o s .
ABC para ingressar na entidade. revolucionar a matemática nacional. Depois Como presidente da Academia,
a ba i xo , o c i e nt i s ta r e c e b e o t í t u lo d e d o uto r
acerv o abc de uma rápida passagem pela Universidade criou vice-presidências regionais, com o objetivo h o n o r i s c ausa na u f r j .
Federal do Rio de Janeiro, instalou-se no Impa, de descentralizar a entidade. Foi durante t o da s a s i mag e ns : ac e r vo a b c
108 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m presidentes 109

Movido pela curiosidade – e pela luz


Motivado por uma imensa curiosidade

Luiz Davidovich e vontade de entender a natureza, Luiz


Davidovich enveredou pela física teórica
e se estabeleceu em uma área que, desde

(1946-) os tempos de Einstein, não para de causar


perplexidade: a mecânica quântica.

Presidente da ABC Esse campo da física lida com o mundo


microscópico dos átomos, partículas
2016- subatômicas e outros entes minúsculos, onde
fenômenos surpreendentes, como objetos
ocupando dois lugares ao mesmo tempo, são

O
comuns. Nesse mundo, Davidovich procura
físico carioca se formou na Pontifícia entender como o ambiente, em especial a
luz, altera os efeitos quânticos.
Universidade Católica do Rio de Janeiro
Essa busca o tem levado a desenvolver
(PUC-Rio) e cursou o doutorado na
trabalhos com pesquisadores de diversos
Universidade de Rochester, nos Estados países, em especial a França, onde
Unidos. Entre 1976 e 1977, foi professor assistente estabeleceu uma parceria de mais de duas
do Instituto de Física Teórica em Zurique, na Suíça. décadas com o grupo da Escola Normal 2010, que resultou em propostas para o setor, ac i ma , davi d o vi c h e nt r e ga a me da lh a h e nr i q u e
mo r i z e a h e le na na d e r , p r e s i d e nt e da s b p c .
Retornou em seguida ao Brasil, para o Departamento Superior liderado pelo prêmio Nobel Serge conjugando inovação e sustentabilidade. c r i s t i na lac e r da
Haroche. Dessa colaboração resultaram Na direção da ABC entre 2004 a 2016,
de Física da PUC-Rio, onde trabalhou até 1994. Nesse abaixo, o cientista entre os acadêmicos josé
trabalhos importantes sobre as propriedades Davidovich deixou o cargo para assumir a
mesmo ano, ingressou no Instituto de Física da galizia tundisi (à esquerda) e jerson lima, líderes
fundamentais do mundo quântico e o limite presidência da entidade, abrindo, com vigor, da iniciativa “um projeto de ciência para o
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde clássico da física quântica. o segundo centenário da Academia. brasil”, durante a reunião magna da abc em 2017.

lidera o Laboratório de Ótica Quântica e conduz A forte interação entre físicos teóricos
b r u no r i b e i r o / a b c

estudos de alto nível e reconhecimento internacional. e experimentais que vivenciou em suas


Mantém, desde a década de 1980, parceria com grupo estadias em Paris o inspirou na criação, na
década de 1990, do Laboratório de Ótica
de físicos da Escola Normal Superior, em Paris, na
Quântica, no Instituto de Física da UFRJ.
França, com quem fez importantes contribuições ao
Ali, teoria e prática se complementam de
campo da mecânica quântica. Coordenou o Instituto maneira simbiótica.
do Milênio de Informação Quântica entre 2001 e 2006 Embora ainda motivado pela curiosidade
e a 4a Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia a respeito do funcionamento do mundo,
e Inovação, em 2010. Ingressou na ABC em 1996. sem focar as potenciais aplicações de
seu trabalho, Davidovich e seu grupo
Compõe a direção da Academia desde 2004 e foi
têm se dedicado ao ramo da informação
eleito presidente para o biênio 2016-2018.
quântica, que, acredita-se, irá gerar dados
fundamentais para a criação do tão sonhado
computador quântico.
No mundo macro da política científica, o
ac e rvo a bc físico coordenou a 4a Conferência Nacional de
Ciência, Tecnologia e Inovação, em maio de
110 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 111

Outros Adolpho Lutz Alberto Santos Dumont Aziz


Nacib Ab’saber Bertha Koiffmann Becker
cientistas de Carlos Ribeiro Justiniano Chagas Celso
Monteiro Furtado César Mansueto Giulio
destaque Lattes Crodowaldo Pavan Djalma Guimarães
Henriette Mathilde Maria Elizabeth Emilie
Snethlage Graziela Maciel Barroso Johanna
Lisbeth Kubelka Döbereiner José Leite Lopes
Leopoldo De Meis Leopoldo Nachbin Marcelo
Damy de Sousa Santos Marcos Luiz dos Mares
Guia Mario Schenberg Maurício Oscar da
Rocha e Silva Oswaldo Gonçalves Cruz Otto
Richard Gottlieb Veridiana Victoria Rossetti
112 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 113

Adolpho Lutz
(1855-1940)

N
à e s q u e r da , mé d i c o s d o i ns t i t u t o o s wa ld o c r u z
asceu no Rio de Janeiro e, aos dois anos, e vi s i ta nt e s d i a nt e d o c a s t e lo d e ma ng u i nh o s .

mudou-se com a família para a Suíça, lu t z a pa r e c e d e ja le c o ,


na p r i me i ra f i la ( é o q ua r t o da d i r e i ta pa ra a
terra natal de seus pais. Formou-se em e s q u e r da ) .
ac e r vo a b c
medicina em 1879, na Universidade de
Berna, e retornou ao Brasil aos 26 anos, fixando-se ac i ma , o u t r o g r u p o d e c i e nt i s ta s da at ua l
f i o c r u z . s e nta d o s , da e s q u e r da pa ra a d i r e i ta ,
no interior de São Paulo. Entre 1885 e 1893, dedicou- e s tão o s vi no a lva r e s p e na , a d o lp h o lu t z , o s wa ld o
se ao estudo da hanseníase, com passagens por c r u z , c a r lo s c h aga s e j o s é da c o s ta - c r u z .
ac e r vo a b c
Hamburgo, na Alemanha, e pelo Havaí. De volta
ao Brasil, ingressou como pesquisador no Instituto a ba i xo , o h e lmi nt o sc h i sto so ma ma n so n i , ve r me
c au sa d o r da e s q u i s t o s s o mo s e . a d o e nç a f o i u m
Bacteriológico de São Paulo, de onde foi diretor, d o s p r i nc i pa i s t e ma s d e e s t u d o d e lu t z .
cdc
com participação relevante em pesquisas sobre
doenças endêmicas no estado. Em 1908, transferiu-
Luta contra doenças negligenciadas Após estudar a doença na Alemanha incidência da esquistossomose na região e
se para o Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, Médico e pesquisador dedicado ao estudo dos e uma curta passagem pelo Hospital dos desenvolveu pesquisas sobre o Schistosoma
e produziu intensamente sobre temas de interesse hospedeiros de doenças que afetam os seres Lázaros, no Rio de Janeiro, Lutz foi tratar mansoni e os moluscos responsáveis pela
médico e biológico. Ingressou na ABC em 1916 e, humanos, Adolpho Lutz contribuiu de modo doentes na ilha de Molokai, no Havaí. Lá, propagação da doença em seus hospedeiros
em 1935, recebeu o prêmio Einstein, concedido pela fundamental para o entendimento de doenças prosseguiu com os estudos e fortaleceu sua humanos. Os trabalhos gerados a partir
tropicais, historicamente negligenciadas – teoria sobre a transmissão por mosquitos da dessas investigações constituem a maior
instituição. Foi casado com a enfermeira inglesa Amy
dentre elas, a hanseníase, mais comumente bactéria causadora da doença – possibilidade contribuição de Lutz à zoologia médica
Marie Gertrude Fowler, com quem teve os filhos
denominada lepra. Naquela época, os posteriormente descartada com a no Brasil.
Bertha, zoóloga, e Gualter Adolpho, que se dedicou à pacientes com a doença eram afastados do comprovação da propagação da infecção por
medicina legal. Após a morte do cientista, o Instituto convívio social e mantidos isolados em meio das vias respiratórias.
Bacteriológico de São Paulo passou a se chamar, em locais remotos. Além de suas contribuições para os estudos
sua homenagem, Instituto Adolpho Lutz. Lutz acreditava que a medida era ineficaz sobre a lepra, Lutz avançou no combate, como
e cruel e, por isso, mantinha o contato com médico, e na produção de conhecimento
seus pacientes. Naquela época, não havia acerca de doenças como varíola, peste
consenso sobre a transmissão da doença: bubônica, cólera, febre tifoide, malária
alguns acreditavam que era hereditária; para e tuberculose. Foi um dos responsáveis
outros, tratava-se de moléstia contagiosa. pela identificação do Aedes aegypti como
Em 1874, o norueguês Gerhard Armauer transmissor da febre amarela.
ac e rvo a bc Hansen relatou a descoberta do agente Em viagem ao Nordeste brasileiro, no fim
etiológico da lepra, o Mycobacterium leprae. dos anos 1910, investigou a distribuição e a
114 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 115

Uma vida no ar
Figura fundamental na história da aviação,

Alberto
Inventos de Santos Dumont
Alberto Santos Dumont desenvolveu muito Embora a execução do primeiro voo
cedo o interesse pelo campo, sob influência completo de um avião seja considerada
de obras que abordavam a locomoção aérea

Santos Dumont
o grande feito de Santos Dumont, é
– como os escritos do astrônomo Camille de sua autoria uma série de inventos
Flammarion e os romances de Julio Verne. que vão além de suas experiências
Partiu para a experimentação e, em pouco com aparelhos voadores. Entre eles,

(1873-1932) tempo, desenvolveu competências não apenas


na arte de voar, mas também na construção
a projeção de um relógio de precisão
para ser usado no pulso, elaborado em
parceria com o joalheiro Louis Cartier
de motores, na introdução de materiais e no
no ano de 1904. Para sua casa em

F
desenvolvimento de novas configurações para
Petrópolis (RJ), desenvolveu um chuveiro
ilho do engenheiro francês Henrique Dumont e aparelhos por ele projetados. um balão de hidrogênio, batizado de 14-bis.
de água quente com aquecimento
No fim dos anos 1890, manteve-se imerso A intenção foi concorrer à taça Archdeacon,
da brasileira Francisca de Paula Santos, nasceu a álcool. Criou também um esqui
na construção de balões e dirigíveis, propondo destinada ao primeiro voo controlado de mais
em Minas Gerais, na região do município de mecânico para escalar montanhas de
alterações que os tornaram capazes de de 25 metros, sem qualquer auxílio externo.
gelo, uma de suas últimas invenções.
Palmira – que, em 1932, teve seu nome alterado alcançar maiores altitudes e tempos de voo No mês de outubro, após algumas tentativas
para Santos Dumont. Passou a infância em São Paulo, mais longos. A bem-sucedida participação em frustradas, Santos Dumont atravessou
onde o pai administrava uma fazenda de café, e mudou- concursos promovidos por aeroclubes chamou 60 metros do campo de Bagatelle, em Paris.
ac i ma , sa nt o s d u mo nt e á lva r o a lb e r t o
se para Paris aos 18 anos. Na capital francesa, estudou a atenção do mundo para o jovem inventor. Em 12 de novembro repetiu o feito, dessa no a r s e na l d e ma r i nh a e m 1 91 8 .
Em 1901, ganhou o prêmio Deutsch de vez por 220 metros, e provou ser possível ac e r vo a b c
física, química, mecânica e eletricidade; motivado por seu
La Meurthe, no valor de 100 mil francos, por construir uma aeronave mais pesada que
interesse pela aeronáutica, aprendeu a pilotar e projetar a ba i xo , o 1 4- b i s , i nve nç ão ma i s fa mo sa
completar o percurso de ida e volta ao Parque o ar capaz de decolar e voar. d e sa nt o s d u mo nt.
aparelhos voadores. Em 1898, levantou voo com o balão de Saint-Cloud, contornando a Torre Eiffel, Patrono da aeronáutica brasileira, título j u le s b e au

Brasil, leve, menor e mais estável que os similares da em até 30 minutos. Os projetos de dirigíveis, concedido em 1984 por lei federal, Santos
época. No mesmo ano, construiu seu primeiro dirigível, que geravam admiração e também críticas, Dumont recebeu inúmeras homenagens
que inaugurou com sucesso o uso de motor a petróleo. principalmente por sua fragilidade, evoluíram no Brasil e no exterior. Em 1973, o Comitê
aos primeiros protótipos de mono e biplanos. de Nomenclatura da União Astronômica
Após anos de experiências com balões e dirigíveis, passou
Em 1906, iniciou os primeiros ensaios Internacional deu o nome de Santos Dumont
a se dedicar aos aviões. Em outubro de 1906, realizou o
com um novo aparelho, um biplano unido a a uma das crateras da Lua.
primeiro voo no 14-Bis, com o qual conquistou, no mês
seguinte, os primeiros recordes mundiais reconhecidos
pela Federação Aeronáutica Internacional. Foi eleito em
1924 para a Academia Brasileira de Ciências, na seção
de Ciências Físico-Químicas.

zaida ben-y usuf museu casa natal de sant os d u m on t


116 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 117

Aziz Nacib
Ab’saber
(1924-2012)

P
aulista de São Luiz do Paraitinga, região do m e m bros da d i re t ori a da s bp c d u ra n t e a 4 8 ª Geografia humana
Vale do Paraíba, filho de imigrante libanês re u n i ão a n ua l da e n t i da d e , re a l i z a da e m s ão
As lembranças e impressões do jovem do
pau l o e m 19 9 6 . da e s q u e rda pa ra a d i re i ta :
e mãe brasileira. Ingressou em 1941 no orl a n d o s i l va , a z i z a b’ sa be r, c rod owa l d o pava n, interior paulista que migrou para a capital
os c a r sa l a e e d ua rd o m oac yr k ri e ge r. acerca das paisagens da Serra do Mar, do
curso de Geografia e História da Faculdade ac e rv o s bp c
Planalto Atlântico e da Planície Litorânea
de Filosofia da Universidade de São Paulo (USP),
tiveram influência na atuação de Aziz Ab’Saber
instituição onde desenvolveu toda sua carreira
como geógrafo. Da mesma forma, sua formação
acadêmica e científica, tornou-se livre docente em em geografia e história contribuiu para uma
1965 e recebeu o título de professor emérito em 2000. visão dos fatos geográficos sob a perspectiva do
Especializou-se em geografia física e geomorfologia, passado. A integração entre diferentes campos
com pesquisas também nas áreas de ecologia, do conhecimento, propiciada pela vivência
na Faculdade de Filosofia da USP, possibilitou
fitogeografia, geologia e no campo das humanidades,
o aprimoramento da capacidade de associar
com foco no espaço social. Foi professor honorário do
aspectos da natureza e da organização humana
Instituto de Estudos Avançados da USP. Ingressou na fot o t i ra da p e l o p róp ri o a b’ sa be r e m u m a d e s ua s
no espaço geográfico.
v i age n s a c a m p o. a z i z a b’ sa be r
Academia Brasileira de Ciências em 1976. Participou O geógrafo reconhecia a relevância do suas representações cartográficas e desenhos
com destaque da Associação de Geógrafos Brasileiros trabalho de campo e do conhecimento in esquemáticos, é utilizado até hoje como
e da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, situ da realidade do país. Ainda durante a recurso didático no ensino de geografia.
especialização, participou de excursão até Ab’Saber estabeleceu parcerias com
da qual era presidente de honra. Recebeu a Grã-Cruz
Aragarças, na fronteira entre o sudoeste de pesquisadores de outros campos. Trabalhou,
em Ciências da Terra, pela Ordem Nacional do Mérito
Goiás e o leste de Mato Grosso, na região por exemplo, com o zoólogo Paulo Emílio
Científico, o prêmio Internacional de Ecologia (1998) conhecida como Brasil Central. O relatório de Vanzolini na teoria dos refúgios, que associa
e o prêmio Unesco para Ciência e Meio Ambiente pesquisa gerado a partir de suas observações a biodiversidade amazônica aos períodos do
(2001), entre outros. foi uma das primeiras experiências de passado de clima seco e isolamento geográfico.
conhecimento de uma região sob os pontos Além das contribuições teóricas, seu profundo
de vista físico e humano. A viagem foi conhecimento sobre ecossistemas o posicionou
a b’ sa be r v i s i ta u m a c om u n i da d e c a re n t e
os va l d o j os é d os sa n t os também ponto de partida para sua proposta na vanguarda de lutas pela preservação do
de distribuição espacial dos grandes domínios meio ambiente e na discussão sobre questões
à d i re i ta , o p e s q u i sa d or d u ra n t e a 4 7ª re u n i ão
acervo sbpc a n ua l da s bp c , re a l i z a da e m s ão l u í s ( m a ) e m 19 95.
integrados de natureza no Brasil. O material nacionais, sempre considerando o aspecto
ac e rv o s bp c . criado para classificar o relevo brasileiro, com humano e sua incorporação à paisagem.
118 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 119

Geógrafa da Amazônia entrada principalmente da soja e do gado na


A concepção da geografia não apenas como floresta. Foi uma das principais defensoras

Bertha ciência social, mas também como ciência


política, é oriunda da paixão e da identificação
de Bertha Becker com a geografia do Brasil.
da compatibilização entre conservação
ambiental e desenvolvimento econômico, ao
apontar os problemas da polarização entre

Koiffmann Para ela, o sentido de sua atuação acadêmico-


profissional passava pelo entendimento do
país como parte de um projeto mais amplo,
as duas perspectivas.
Também propôs a ideia de uma Amazônia
urbanizada, caracterizada por intensa

Becker planetário. Nesse sentido, a geógrafa conjugou


teoria e pesquisa de campo para se dedicar a
alguns de seus temas mais caros: o território,
mobilidade populacional, conflitos fundiários
e forte regionalização – ao contrário da visão
de um espaço vazio, exótico e homogêneo.

(1930-2013) as regiões de fronteira e o estudo


da Amazônia.
A partir de suas reflexões acerca das
dinâmicas territoriais e sociais da Amazônia,
A partir de sua obra, é possível a geógrafa buscava também contribuir com a b e r t h a b e c ke r c o nt ra p u nh a à i d e i a
da f lo r e s ta vi r g e m e i nt o c a da a i mag e m d e u ma
compreender a territorialidade como produto formulação de projetos e políticas públicas de

F
a ma z ô ni a u r ba ni z a da , p r o p o nd o p o lí t i c a s d e
de relações políticas – induzidas pelo Estado desenvolvimento para a região. Reconhecida d e s e nvo lvi me nt o pa ra a r e g i ão .
ilha de pai romeno e mãe ucraniana, nasceu e por grandes corporações ou como resultado nacional e internacionalmente por sua ne i l pau lme r ( s u p e r i o r d i r e i ta ) e c r i s t i na

no Rio de Janeiro em 1930. Graduou-se em de movimentos de organização e resistência produtividade científica e intelectual no campo
a lb u q u e r q u e / e mba r q b ra s i l

geografia e história em 1952 pela Faculdade sociais. Bertha dedicou-se, desde os anos da geografia e na geopolítica, Bertha atuou
Nacional de Filosofia. Em 1957, ingressou 1960, ao estudo da expansão da fronteira como consultora de órgãos governamentais em
agropecuária no Brasil, acompanhando a questões relacionadas ao meio ambiente.
como auxiliar de ensino na Universidade do Brasil,
atual Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Entre 1966 e 1976, lecionou no Instituto Rio Branco,
preparando futuros diplomatas, e lá aprofundou
os estudos sobre a dimensão política da geografia.
Foi professora visitante em instituições de Estados
Unidos, México, França e Inglaterra. Em 1986, tornou-
se professora titular da UFRJ, onde coordenou por
mais de 20 anos o Laboratório de Gestão do Território.
Entre as honrarias que recebeu estão as medalhas
Carlos Chagas Filho de Mérito Científico (2000) e
David Livingston Centenary, da Sociedade Geográfica
Americana (2001), e, em 2007, a Ordem Nacional do
Mérito Científico, na classe comendador, e a medalha
do Mérito Geográfico, da Sociedade Brasileira de
Geografia. Ingressou em 2006 na Academia Brasileira
de Ciências, na seção de Ciências Sociais.

acerv o pessoal
120 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 12 1

Herança científica

Carlos Ribeiro Assim como a convivência com um


tio materno estimulou o interesse

Justiniano Chagas
de Carlos Chagas pela medicina, a
experiência de observar e acompanhar
o trabalho do pai teve influência
nas carreiras de Evandro Chagas

(1879-1934) (1905-1940) e Carlos Chagas Filho


(1910-2000), filhos de Chagas com
Iris Lobo. O primeiro destacou-se por
contribuições ao conhecimento dos

N
aspectos clínicos da doença de Chagas
ascido na fazenda Bom Retiro, município e pela identificação dos primeiros
de Oliveira, em Minas Gerais, iniciou casos humanos de leishmaniose
sua formação em colégios religiosos. visceral americana. Já Chagas Filho
Com apoio do tio materno, médico desvendou o mecanismo do choque
do peixe-elétrico, característico da
em Oliveira, foi para a capital federal e formou-
fauna brasileira, fundou o Instituto de
se em 1902 pela Faculdade de Medicina do Rio de
Salto triplo na história da ciência conhecidos como barbeiros. No laboratório Biofísica da UFRJ e teve participação
Janeiro. Desenvolveu pesquisa sobre os aspectos A entomologia médica, voltada ao estudo de montado em um vagão de trem, o cientista fundamental na institucionalização da
hematológicos da malária, orientado pelo diretor insetos transmissores de doenças, era um dos observou a presença de um tripanossoma no pesquisa universitária no país.
do Instituto Soroterápico Federal, o então jovem principais campos de investigação do Instituto intestino dos insetos. Enviou amostras para
microbiologista Oswaldo Cruz. Em 1907, identificou de Manguinhos no início do século XX. Várias testes no Instituto de Manguinhos e, com base
regiões do Brasil enfrentavam epidemias, nos resultados e em pesquisas posteriores, na s f r e s ta s da s pa r e d e s d e
o protozoário Trypanosoma cruzi, causador da c a sa s d e pau - a - p i q u e ( no a lt o ) ,
entre elas a de malária, que atingia fortemente concluiu ter identificado uma nova espécie,
tripanossomíase americana, hoje conhecida como e s c o nd e m- s e o s ba r b e i r o s
trabalhadores das obras de modernização a que deu o nome Trypanosoma cruzi em t ra ns mi s s o r e s da d o e nç a d e
doença de Chagas. Assumiu em 1917, logo após a do país. Em 1907, Carlos Chagas iniciou homenagem a Oswaldo Cruz. c h aga s . a ba i xo , i ns e t o da

morte de Oswaldo Cruz, a direção do Instituto de sua participação no combate à doença nas Chagas estudou o ciclo evolutivo do
e s p é c i e tr i ato ma i n f e sta n s, u ma
da s e nvo lvi da s no c i c lo
Manguinhos (antigo Instituto Soroterápico Federal e proximidades de Lassance, norte de Minas protozoário, identificou a infecção em da e nf e r mi da d e .
Gerais, onde era construído o prolongamento animais domésticos e observou, em abril de r e p r o d u ç ão e b ä r b e l
atual Fundação Oswaldo Cruz), cargo que ocupou até s t o c k ( ba r b e i r o )
da Estrada de Ferro Central do Brasil. 1909, o T. cruzi no sangue de uma criança – o
o fim da vida. No mesmo ano, ingressou na Academia
Além de coordenar ações relacionadas à primeiro caso comprovado da tripanossomíase
Brasileira de Ciências. Por indicação do presidente
malária, o cientista desenvolvia pesquisas humana. Estudou suas manifestações clínicas,
Epitácio Pessoa, comandou a Diretoria Geral de Saúde com espécimes da fauna local. Àquela época, complicações e epidemiologia. Foi, assim, o
Pública entre 1919 e 1926. Foi membro honorário de o estudo dos tripanossomas era um dos primeiro e o único cientista na história da
dezenas de associações médico-científicas, recebeu focos da medicina tropical. Atento a essa medicina a descrever completamente uma
inúmeros títulos e condecorações, além de duas preocupação, Chagas identificou uma nova moléstia infecciosa, conhecida hoje como mal
espécie do protozoário no sangue de um sagui de Chagas ou doença de Chagas. Pelo feito,
indicações ao Nobel de Medicina.
comumente encontrado em Lassance. Meses ingressou em 1910 na Academia Nacional
depois, em parceria com o médico Belisário de Medicina, que pela primeira vez admitiu
ac e rv o casa de o swa ldo cr uz Penna, dedicou-se à coleta e ao estudo de um membro titular sem que houvesse
insetos hematófagos existentes na região, vaga disponível.
122 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 12 3

Desenvolvimento social formação histórico-estrutural particular.


Economista brasileiro mais conhecido Apontou caminhos para superar essa

Celso Monteiro nacional e internacionalmente, Celso


Furtado empenhou-se na reflexão sobre as
relações entre desenvolvimento econômico e
condição, que incluíam transformações
estruturais, entre elas a industrialização e o
criterioso planejamento econômico.

Furtado processos sociais. Buscou entender a formação


histórica do Brasil e, durante sua atuação
na Comissão Econômica para a América
O reconhecimento à contribuição de
Furtado em questões relacionadas ao
desenvolvimento social e ao combate à

(1920-2004) Latina, aprofundou seus estudos sobre o


subdesenvolvimento latino-americano. No
pobreza manifesta-se em iniciativas e tributos
ao economista. Nos anos 2000, por ocasião
livro Formação Econômica do Brasil (1959), uma de seus 80 anos, seminários e exposições em
de suas obras mais importantes, propôs uma referência a sua obra aconteceram pelo país

N
interpretação original do desenvolvimento e no exterior. Em 2004, nas comemorações
ascido em Pombal, sertão da Paraíba, regional brasileiro, que levou em conta os do 40º aniversário da Conferência das Nações
formou-se em direito. Trabalhou como fatores condicionantes e os efeitos da dinâmica Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento,
jornalista e na área administrativa federal econômica e populacional no território do país. recebeu menção do então secretário-geral da
antes de ser convocado para a Força Durante o governo de Juscelino ONU, Kofi Annan. No evento, foi lançada a
Kubitschek, teve papel fundamental na proposta de criação do Centro Internacional
Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial.
proposição de análises e projetos para o Celso Furtado de Políticas Públicas para o
Direcionou seu interesse para a economia, área na
desenvolvimento do Nordeste. Como diretor Desenvolvimento, cujas atividades tiveram
qual doutorou-se, em 1948, pela Universidade de Paris- do Banco Nacional de Desenvolvimento início em 2005.
Sorbonne. No ano seguinte, ingressou na Comissão e integrante do grupo de trabalho da
Econômica para a América Latina da Organização das instituição voltado para a região, formulou um
o d e s e nvo lvi me nt o e c o nô mi c o e s o c i a l
Nações Unidas (ONU). Durante as décadas de 1950 e diagnóstico das razões do subdesenvolvimento d o no r d e s t e e s t e ve e nt r e a s p r i o r i da d e s

do Nordeste. Para ele, não se tratava de d o t ra ba lh o d e c e ls o f u r ta d o .


1960, produziu algumas de suas obras intelectuais le o nu ne s / w i ki me d i a c o mmo ns ( f o t o d e
uma etapa do processo de desenvolvimento c i ma ) ; a nt ô ni o f lo r ê nc i o ( f o t o d e ba i xo ) ;
mais reconhecidas, relacionadas à formação
econômico, e sim do resultado de uma r e p r o d u ç ão ( c a pa d o li vr o )
econômica do Brasil. Contribuiu com estudos para o
governo de Juscelino Kubitschek e atuou como titular
da Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste
(Sudene) nas gestões de Jânio Quadros e João Goulart,
de quem foi ministro do Planejamento. Com direitos
cassados pela ditadura militar, dedicou-se a atividades
de ensino e pesquisa nos Estados Unidos e na
França. Nos anos 1980, após a redemocratização, foi
embaixador do Brasil junto à Comunidade Econômica
Europeia e ministro da Cultura. Ingressou na ABC
em 2003, depois de se tornar imortal da Academia
Brasileira de Letras.

f e rna ndo rabe lo


124 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 12 5

Para além dos prótons e elétrons


Átomos são formados por um núcleo composto

César Mansueto
Sobre nomes
de prótons e nêutrons, somados a um grupo Lates é o nome de um rio localizado
de elétrons que se movimentam ao redor dele. entre a Espanha e a França. Depois
Mas, se os prótons têm carga positiva e os

Giulio Lattes
que a rainha Isabel deu seis meses
nêutrons, carga neutra, por que permanecem para os judeus saírem da Espanha e de
juntos em vez de se repelir? A resposta teórica Portugal, muitos deles atravessaram
foi apresentada pelo japonês Hideki Yukawa, o rio, passando a utilizar Lattes, com

(1924-2005) que previu, em 1935, a existência de outra


partícula no núcleo atômico, o méson. Os
dois “t”s, como sobrenome.
“Méson” significa “intermediário”
em grego, nome apropriado para a
mésons funcionariam como uma espécie de
partícula cuja massa fica entre a dos
“cola” para impedir a desintegração do núcleo.

N
prótons e a dos elétrons.
Já a comprovação experimental da
asceu em Curitiba, Paraná, e graduou-se existência dos mésons partiu do jovem físico
em física na Universidade de São Paulo, brasileiro César Lattes, quando, aos 23 anos,
onde iniciou sua carreira científica. Em pesquisava em Bristol, na Inglaterra, técnicas
Cientista popular
1946, foi estudar na Universidade de de emulsões nucleares. A metodologia envolve Mesmo tendo se destacado em uma
o uso de placas fotográficas capazes de registrar área científica de alta complexidade, a
Bristol, na Inglaterra. Lá realizou seu principal feito
o caminho percorrido pelas partículas atômicas figura de César Lattes, pela importância
científico: a comprovação experimental da existência
após incidir sobre elas. Essas placas eram muito e repercussão do seu trabalho, acabou
do méson-pi. Tornou-se membro da ABC em 1949. utilizadas para registrar a atividade de raios sendo incorporada à cultura brasileira,
No mesmo ano, participou ativamente da criação do cósmicos, partículas vindas do espaço e que por meio de diferentes manifestações
Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio bombardeiam a Terra a todo instante. artísticas. O físico é citado no samba-
Em 1947, Lattes pediu ao colega Giuseppe enredo Ciência e Arte, de Cartola e
de Janeiro, do qual foi o primeiro diretor científico.
Occhialini que, durante suas férias nos Carlos Cachaça, que levou a Mangueira
Também teve atuação importante na criação do ao segundo lugar no desfile do carnaval
Pirineus, expusesse algumas placas de emulsão
CNPq, do Instituto Nacional de Matemática Pura e carioca de 1947. A letra da música exalta
nuclear aos raios cósmicos. Já se sabia à época
Aplicada, da Escola Latino-americana de Física e do os feitos de brasileiros notáveis nos
que, quanto maior a altitude em que a placa
dois campos. Enquanto o pintor e poeta
Centro Latino-americano de Física. Recebeu diversos é exposta, melhor a análise dos raios. Quando
Pedro Américo representa a arte, César
prêmios, medalhas e comendas, dentre os quais examinou o material, o cientista notou rastros
Lattes representa os cientistas do país.
se destacam o prêmio Einstein (1950), o prêmio da de partículas atômicas que não combinavam Ainda no contexto carnavalesco, César
com a trajetória esperada para elétrons, Lattes faz companhia a outros bonecos
Academia de Ciências do Terceiro Mundo (1988) e a
prótons ou nêutrons: estavam detectados, pela gigantes nos desfiles do “Com Ciência na
Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico
primeira vez, os mésons. As observações foram Cabeça e Frevo no Pé”, bloco de carnaval
(1994). Em homenagem ao pesquisador, o repositório repetidas e confirmadas por Lattes no monte que se dedica à divulgação científica e
online de currículos de professores, cientistas e Chacaltaya, na Bolívia. anima as festas pernambucanas desde
estudantes brasileiros mais usado no país recebe o Em 1948, com o norte-americano Eugene 2005. Lattes também é tema de um
Gardner, Lattes produziu pela primeira vez cordel do cearense Gonçalo Ferreira da
nome de Plataforma Lattes.
mésons artificiais em um acelerador de Silva, que afirma no folheto: “O esforço
lat t e s e m aç ão , c o mo p r o f e s s o r e
partículas nos Estados Unidos. Tinha, então, de César Lattes/ foi importante demais/
c o mo p e s q u i sa d o r , e s e lo c o me mo rat i vo
d o s 50 a no s da d e s c o b e r ta d o mé s o n- p i . sua força intuitiva/ foi luminosa e capaz/
24 anos. Não é exagero dizer que o cientista
a i mag e m r e t rata o p e s q u i sa d o r e o de alargar as ideias/ para avanços reais”.
ac e rvo cbpf teve grande relevância no desenvolvimento mo nt e c h ac a ltaya .
da física brasileira. ac e r vo c b p f
126 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 12 7

Crodowaldo
Pavan
(1919-2009) Investigação e divulgação da ciência
A atração pelas descobertas e o prazer
de divulgá-las para a sociedade são
características que marcam grandes nomes

D
da ciência: Crodowaldo Pavan é um deles.
escendente de italianos, nasceu em Um dos primeiros a se dedicar ao estudo
Campinas, São Paulo, em 1919. Ainda da genética no Brasil, elucidou, durante o
criança, mudou-se com a família para a doutorado, a questão evolutiva dos bagres
capital, onde o pai mantinha uma fábrica cegos que habitavam cavernas em Iporanga,
São Paulo, ao demonstrar que os peixes
de porcelanas. Em 1937, iniciou o curso preparatório
compunham uma linhagem adaptada
com vistas à Escola Politécnica, mas, inspirado por
à vida na escuridão.
um filme sobre Louis Pasteur e aconselhado pelo Sob influência de André Dreyfus, e
geneticista André Dreyfus, pioneiro da área no Brasil, em parceria com o professor Theodosius
optou pelo curso de História Natural da Faculdade Dobzhansky, analisou e classificou novas
de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São espécies de drosófilas. Entre 1948 e 1956,
coordenou um grupo de pesquisadores em
Paulo (USP). No Departamento de Biologia Geral, foi
experimentos voltados à compreensão da
assistente de Dreyfus, a quem substituiu na chefia
genética de populações, os quais marcaram
da unidade após a morte do professor. Realizou pós- o início da utilização de espécies de moscas
doutorado nos Estados Unidos, como bolsista da tropicais como organismos-modelo para
Fundação Rockefeller, e, com apoio da instituição, análises genéticas.
desenvolveu parceria com o geneticista russo Entre suas principais descobertas estão as
larvas do inseto Rhynchosciara, especialmente Além da trajetória bem-sucedida na no a lt o , à e s q u e r da , mo s c a d o g ê ne r o
Theodosius Dobzhansky em pesquisas com as moscas r h y n c h o sc i a ra , mu i t o u t i li z a da na
favoráveis ao estudo da ação gênica e de pesquisa, Pavan destacou-se também por sua
drosófilas. Recebeu, entre outros, o prêmio Nacional p e s q u i sa e m g e né t i c a .
citologia por terem cromossomos gigantes. atuação em favor da divulgação científica e e d s o n r o c h a d e o li ve i ra e f á b i o s i vi e r o
de Genética (1963), o prêmio Moinho Santista Investigações com o inseto levaram Pavan do desenvolvimento institucional da ciência
à d i r e i ta , c r o d o wa ld o pava n e
de Biologia (1980) e o prêmio Alfred Jurzykowski, a quebrar um paradigma científico ao no país. Esteve à frente de entidades como a f ra nc o mo nt o r o d u ra nt e a 3 6ª r e u ni ão
da Academia Nacional de Medicina (1986). demonstrar que a quantidade de DNA nas Sociedade Brasileira de Genética (1958-1960), a nua l da s b p c , r e a li z a da e m s ão pau lo
e m 1 98 4.
Ingressou na ABC em 1952. células não era sempre constante, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
ac e r vo s b p c
se acreditava. O achado foi reconhecido de São Paulo (1981-1984), o Conselho Nacional
internacionalmente nos anos 1960 e levou de Desenvolvimento Científico e Tecnológico o s bag r e s - c e g o s e a s mo s c a s e s t i ve ra m
e nt r e o s o b j e t o s d e e s t u d o d e pava n.
o cientista a lecionar por dez anos na (1986-1990) e a Sociedade Brasileira para o
j u ni o p e ta r ( bag r e ) e w i ki me d i a c o mmo ns
ac e rvo sbpc Universidade do Texas, nos Estados Unidos, até Progresso da Ciência, da qual foi presidente
voltar ao Brasil, no fim dos anos 1970. em três mandatos.
128 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 12 9

Djalma Guimarães
Homenagens
Como reconhecimento às contribuições
de Djalma Guimarães ao campo
da geologia, registram-se diversas

(1894-1973) homenagens feitas em vida e


póstumas ao cientista. Nos anos 1940,
os geólogos Caio Pandiá Guimarães
e Octávio Barbosa nomearam como

M
djalmaíta um tantalato de urânio e
ineiro da cidade de Santa Luzia, formou- cálcio. Em 2006, uma nova espécie
se engenheiro de minas e civil no ano de mineral foi batizada pelo grupo
do pesquisador Daniel Atencio, do
de 1919, na Escola de Minas de Ouro
Instituto de Geociências da Universidade
Preto. Atuou no Serviço Geológico e de São Paulo, em sua homenagem: a
Mineralógico do Brasil como petrógrafo, na análise e guimarãesita, um fosfato.
descrição de rochas, e foi convidado para organizar Em 1979, a prefeitura de Belo
Horizonte instituiu o prêmio Djalma
o Serviço Geológico do Estado de Minas Gerais,
Guimarães, destinado a estudantes dos
posteriormente Serviço de Produção Mineral. Ingressou cursos de Geologia e de Engenharia
na ABC em 1926, tendo atuado como conselheiro Geológica das universidades federais
da entidade por quase 30 anos. Como pesquisador, Investigador dos minerais Como fruto de seus estudos, o geólogo de Minas Gerais e de Ouro Preto.
O estudo das rochas graníticas foi uma descreveu quatro novos minerais: eschwegeíta, A medalha, cunhada em prata, contém a
contribuiu com diversas áreas das geociências, com
das principais atividades da trajetória de arrojadita, pennaíta e geannettita, nomes efígie do geólogo e o desenho do Museu
destaque para o estudo das rochas graníticas. Seu das Minas e do Metal, que incorporou
Djalma Guimarães, interesse que resultou escolhidos em homenagem aos geólogos e
trabalho teve importância também para a economia no desenvolvimento de uma nova concepção engenheiros Wilhelm Ludwig von Eschwege, o acervo do Museu de Mineralogia
do país, ao possibilitar que o Brasil se tornasse o maior Professor Djalma Guimarães, criado em
da gênese dessas rochas. Com a publicação Miguel Arrojado Ribeiro Lisboa, José Moreira
1974 e fechado em 2009.
produtor de nióbio do mundo. Participou da criação de suas ideias na Alemanha, em 1938, sob dos Santos Penna e Américo Renné Gianetti.
de diferentes instituições, como a Escola de Ciências o título Das problem der Granitbildung, o Estudou os diamantes e seus satélites, e
cientista passou a ser conhecido como um dos propôs para aqueles da região de Diamantina
da Universidade do Distrito Federal, onde lecionou; o ac i ma , i ns ta laç õ e s d o a nt i g o mu s e u d e
pais da Teoria da Granitização. No trabalho, um processo genético metamórfico. mi ne ra lo g i a p r o f e s s o r d ja lma g u i ma r ã e s ,
Instituto de Pesquisas Radioativas e o Conselho Nacional f e c h a d o e m 2 0 0 9. ac e r vo mu s e u d e mi ne ra lo g i a
admitiu que o fenômeno só poderia ser Guimarães desenvolveu também
de Pesquisa, atual CNPq. Foi professor também nas explicado por atividades de metamorfismo pesquisas na área de metalogênese, com
p r o f e s s o r d ja lma g u i ma r ã e s

universidades federais de Minas Gerais e de Ouro Preto, profundo e propôs, para a origem de maciços influência no campo da geologia econômica. a me da lh a d o p r ê mi o d ja lma g u i ma r ã e s ,
c o nc e d i d o a a lu no s da s u ni ve r s i da d e s
e colaborou com as discussões sobre a profissionalização graníticos, um conceito baseado em processos Algumas de suas atividades refletiram de
f e d e ra i s d e mi na s
da geologia e o ensino de ciências no país. de substituição de íons provocados ou modo fundamental na economia, como as g e ra i s e d e
facilitados pela circulação de fluidos. descobertas em terras mineiras das jazidas de ouro preto.
ac e r vo mu s e u d e
Um dos pioneiros da geoquímica no apatita, mineral rico em fosfato, com grande
mi ne ra lo g i a
Brasil, Guimarães foi responsável pela valor para a produção de fertilizantes; e de professor

nióbio, metal de grande


criação, dentro do Instituto de Tecnologia pirocloro, abundante em nióbio, metal raro d ja lma g u i ma r ã e s

importância para a indústria Industrial de Minas Gerais, de um laboratório e de grande importância para a indústria
tecnológica.
de análises espectroquímicas, projetado de alta tecnologia. O feito do cientista em
ac e rvo m use u de m in e ra lo gia pr o fe ssor wikimedia commons/
d ja lma guim ar ã e s artem topchiy como órgão de referência para análises de Araxá possibilitou ao Brasil tornar-se o maior
amostras geológicas. produtor de nióbio do mundo.
130 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 131

Henriette
Mathilde Maria
Elizabeth Emilie
Snethlage
(1868-1929) Travessia Xingu-Tapajós
Uma das viagens mais emblemáticas

N
de Emília Snethlage foi a travessia
ascida em Brandeburgo, Alemanha, foi entre os rios Xingu e Tapajós, em
educada em casa pelo pai e atuou por dez 1909, com o objetivo de analisar a
Exploradora do campo pesquisadora alemã à frente da instituição, da
anos como preceptora, lecionando em casas distribuição das espécies de aves
Entre os motivos que impulsionaram a vinda qual foi afastada. Ao retornar às suas funções,
naquele espaço geográfico. Durante
de família. Em 1899, já com mais de 30 de Emília Snethlage – como assinava seus após o fim da guerra, Emília encontrou um
quatro meses, na companhia apenas
anos, ingressou na Universidade de Berlim para estudar textos no Brasil – para a Amazônia, nos ambiente institucional hostil, o que motivou
de índios, a pesquisadora dedicou-
história natural, obtendo o título de doutora em 1904, primeiros anos do século XX, conjectura- sua ida, em 1922, para o Museu Nacional se a coletar espécimes da fauna e da
se que a vontade de desenvolver pesquisas do Rio de Janeiro. flora e dados sobre as línguas faladas
com tese sobre a origem da inserção da musculatura
próprias, de maior alcance científico, tenha A transferência permitiu que a nas tribos, além de registrar mapas
dos insetos, ilustrada pela própria. Após estágio como
pesado na decisão da pesquisadora. Na ornitóloga se dedicasse a um de seus da região, à época ainda inexplorada
assistente em zoologia no país natal, decidiu se mudar Europa, eram pequenas as possibilidades principais interesses: o trabalho de campo. pela ciência. Mesmo com a saúde
para o Brasil, em 1905, e ocupou uma vaga no Museu de alçar uma trajetória que fosse além da Em comparação com o Museu Goeldi, a prejudicada pela malária, Snethlage
Emílio Goeldi, no Pará, onde se dedicou ao estudo da carreira de assistente, numa realidade instituição do Rio de Janeiro carecia de percorreu o trajeto pelo rio e pela
pouco favorável à presença das mulheres coleções organizadas e de literatura técnica, mata, enfrentando dificuldades como
ornitologia. Em 1914, tornou-se diretora interina da
nas ciências. o que impulsionou a realização de viagens intempéries e escassez de comida.
instituição e a primeira mulher a chefiar um museu
No Museu Goeldi, a cientista conseguiu se exploratórias num território mais amplo
no Brasil. No mesmo ano, publicou o Catálogo das
inserir nesse contexto predominantemente que a Amazônia. Assim, Snethlage percorreu
aves amazônicas, importante obra de referência que masculino. Contratada para trabalhar como os estados do Maranhão, Espírito Santo,
à e s q u e r da , a d i r e t o ra d o mu s e u g o e ld i ,
d e d i c a d o ao e s t u d o da h i s t ó r i a nat u ra l da
registra mais de 1.100 espécies. No início dos anos assistente da seção de Zoologia, chegou a Minas Gerais, Bahia, Mato Grosso e Goiás. r e g i ão a ma z ô ni c a .
1920, transferiu-se para o Museu Nacional do Rio de dirigir a unidade e, com a morte do botânico Viajou também do Paraná ao Rio Grande a r q u i vo g u i lh e r me d e la p e nh a /
mu s e u pa ra e ns e e mi li o g o e ld i
Janeiro, onde atuou como naturalista viajante. Ingressou suíço Jacques Huber (1867-1914), assumiu do Sul, pela Argentina e pelo Uruguai.
interinamente a direção do museu. Com Suas investigações resultaram em mais à d i r e i ta , e m p é , e mí li a s ne t h lag e . s e nta da s ,
na ABC em 1926, como membro correspondente, e
o início da Primeira Guerra Mundial e o de 40 artigos, com a descrição de cerca a b i ga i l mat o s e a na c a r r e ra , f u nc i o ná r i a s da
a rq u iv o guilhe r m e de la pe n ha ⁄ integrou também a Sociedade Internacional de Mulheres i ns t i t u i ç ão . a f o t o é , p r o vave lme nt e , d e 1 90 7 .
mu se u parae n se e m ilio go e ldi alinhamento do Brasil à política norte- de 60 espécies e subespécies de aves e a r q u i vo g u i lh e r me d e la p e nh a /
Geógrafas. americana, tornou-se inviável manter a reconhecimento no Brasil e no exterior. mu s e u pa ra e ns e e mi li o g o e ld i
132 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 133

Graziela
Maciel
Barroso
(1912-2003)

N
ascida em Corumbá, Mato Grosso, casou-se
aos 16 anos com o agrônomo do Ministério
da Agricultura Liberato Barroso. Com a
transferência do marido, em 1940, para
Legado duradouro e sementes – morfologia aplicada à sistemática
assumir a direção do Horto Florestal, no Rio de Janeiro,
Conhecida como primeira dama da botânica de dicotiledôneas (1999) reúne informações Ciência e samba
instalou-se na cidade com os dois filhos e, incentivada
brasileira, Graziela Barroso atuou em diversas e ilustrações sobre a morfologia de frutos Em 1997, a escola Unidos da Tijuca
por Liberato, passou a trabalhar como herborizadora frentes: além de exímia pesquisadora, encontrados no país. teve como samba-enredo “Viagem
na instituição. Por meio de concurso, ingressou em trabalhou ativamente em favor da preservação O reconhecimento da contribuição Pitoresca pelos cinco continentes
1946 no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, no cargo de da flora brasileira e dedicou-se à formação de de Graziela à botânica, que aparece na num jardim”. A música homenageava
novos botânicos e profissionais de diferentes reverência da comunidade científica, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro
naturalista – foi a única mulher a concorrer à vaga. Lá,
áreas da história natural. A partilha do materializou-se também em diversos e, no desfile, um dos destaques
construiu a maior parte de sua carreira, envolvida na era a grande pesquisadora daquela
conhecimento era uma de suas preocupações, tributos. Mais de 25 espécies vegetais foram
descoberta, descrição e análise de inúmeras espécies instituição, Graziela Barroso, já com
que promovia tanto por meio da orientação batizadas em sua homenagem, entre elas
vegetais. Aos 47 anos, começou o curso de biologia 85 anos de idade.
de seus estudantes e estagiários quanto pelo Bauhinia grazielae (pata-de-vaca), Dorstenia
da Universidade do Estado da Guanabara e recebeu o registro e publicação de estudos. grazielae (caiapiá-da-graziela) e Diatenopteryx
diploma de bacharel. Atuou no ensino e na pesquisa Algumas de suas obras são até hoje grazielae (maria-preta). Em instituições por
mesmo depois da aposentadoria compulsória, aos referência no campo da sistemática de onde passou, registram-se salas, auditórios e
plantas, no qual atuou antes do aparecimento departamentos que mantêm sua memória,
70 anos. Recebeu, entre outras láureas, o diploma da
de bancos de dados informatizados ou de assim como o herbário da Universidade
Ordem Nacional do Mérito Científico (1989) e a medalha
técnicas de análise genética que facilitam Federal do Piauí, que tem o nome da o ja r d i m b o tâ ni c o d o
Millenium Botany Award (1999), concedida a um restrito substancialmente o trabalho. Em Sistemática pesquisadora. Em 2002, por ocasião de seus r i o d e ja ne i r o e m d o i s
mo me nt o s d i s t i nt o s . a f o t o
grupo de botânicos em todo o mundo. Eleita membro de angiospermas do Brasil, publicada em três 90 anos, o Ministério do Meio Ambiente
da e s q u e r da é r e c e nt e ,
da ABC em 2003, faleceu pouco antes de sua posse. volumes (1978, 1984 e 1986), a pesquisadora proclamou o “Ano Graziela Maciel Barroso”. a da d i r e i ta , d e 1 91 4.

caracterizou as angiospermas – plantas com Em seu estado natal, desde 2013 é concedido w i ki me d i a c o mmo ns / sa i lko
e ac e r vo b i b li o t e c a nac i o na l/
semente, frutos e flores, que predominam o troféu Marco Verde “Doutora Graziela a nt ô ni o c a e ta no da c o s ta
acerv o abc
no planeta. Outro livro de sua autoria, Frutos Maciel Barroso”. ribeiro
134 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 135

Por uma agricultura sustentável na natureza, mas o mecanismo de simbiose


Após a Segunda Guerra Mundial, intensificou- pode ser potencializado com a inoculação

Johanna se a utilização de tecnologia para


incrementar a produção de alimentos, bem
como o desenvolvimento de fertilizantes
artificial dessas bactérias no solo, de modo
a garantir que as futuras plantas sejam
abastecidas com os compostos de que

Lisbeth Kubelka e produtos químicos de combate a pragas.


Johanna Döbereiner, porém, acreditava ser
possível aproveitar processos naturais na
precisam para crescer.
Após testar diversas bactérias na fertilização
de plantações de soja, a pesquisadora descobriu

Döbereiner agricultura. Seu trabalho, baseado nessa


ideia, levou a uma solução mais barata e
menos agressiva ao meio ambiente para
uma espécie ideal para atuar em conjunto
com a soja brasileira, Rhizobium. A descoberta
reduziu os custos de produção do grão no

(1924-2000) viabilizar as plantações em larga escala de


leguminosas, em especial da soja.
Brasil, representando uma economia anual de
bilhões de reais em fertilizantes, e aumentou
Na década de 1970, a agrônoma tcheca o potencial agrícola do país, um dos maiores
naturalizada brasileira dedicou-se ao estudo produtores de soja no mundo.

N
de bactérias fixadoras de nitrogênio, isto A agrônoma também orientou a prática
ascida na Tchecoslováquia em 1924, é, microrganismos capazes de captar esse no cultivo da cana-de-açúcar, e os resultados
mudou-se para a Alemanha durante a elemento na atmosfera e fornecê-lo aos seres obtidos contribuíram para a implementação
Segunda Guerra Mundial e lá se formou vivos por meio de relações de simbiose com do Programa Nacional do Álcool, na

pela Faculdade de Agronomia da Escola plantas. A presença das bactérias junto às década de 1970. Seus estudos no campo da
sementes acontece de forma espontânea agronomia lhe renderam, além de diversos
Superior Técnica de Munique. No início dos anos 1950,
prêmios e honrarias, a indicação ao prêmio
chegou ao Brasil. Iniciou suas contribuições à ciência
Nobel da Paz em 1997.
do país com artigo acerca da influência da cobertura
do solo sobre a flora microbiana. Foi contratada como
a p e s q u i sa d e d ö b e r e i ne r p e r mi t i u
assistente de pesquisa de Álvaro Barcellos Fagundes, e x pa nd i r a p r o d u ç ão d e s o ja no pa í s .
ac e r vo u f r g s
então diretor do Serviço Nacional de Pesquisas
Agronômicas, atual Empresa Brasileira de Pesquisa a ba i xo , a c i e nt i s ta e m s e u e s c r i t ó r i o .
ac e r vo u f r g s
Agropecuária (Embrapa), onde Johanna trabalhou até
o fim de vida. Eleita membro da ABC em 1977, foi a
primeira mulher a integrar a direção da entidade,
atuando como primeira secretária e vice-presidente.
Em 1978, tornou-se integrante da Pontifícia Academia
de Ciências do Vaticano. Esteve entre os membros
fundadores da Academia de Ciências do Terceiro
Mundo e recebeu, em 1989, o prêmio Ciência da
Unesco. Em 2002, após o falecimento da pesquisadora,
foi criada a Sociedade de Pesquisa Johanna
Döbereiner, para dar continuidade a seu trabalho.
ac e rv o ufr gs
136 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 137

José Leite Lopes


(1918-2006)

N
ascido em Recife, graduou-se em química
industrial pela Escola de Engenharia de
Pernambuco em 1939. No Rio de Janeiro,
para onde se transferiu com uma bolsa de
estudos, integrou a primeira turma de físicos formados
pela Universidade do Brasil (atual Universidade Federal
do Rio de Janeiro). Após passagem pela Universidade
de São Paulo, em contato com professores como Gleb
Wataghin e Mario Schenberg, desenvolveu tese de
le i t e lo p e s e s ua s d ua s pa i x õ e s : a f í s i c a
doutorado na Universidade de Princeton, sob orientação t e ó r i c a e a p i nt u ra . o c i e nt i s ta e ra u m
de Wolfgang Pauli, laureado com o Nobel de Física em e nt u s i a s ta da pa r c e r i a e nt r e c i ê nc i a
e arte.
1945, durante a temporada de Leite Lopes nos Estados f o t o ma i o r : ac e r vo a b c ; q ua d r o :

Unidos. Era muito amigo também de Richard Feynman, ac e r vo c b p f ; f o t o s me no r e s : c a na l


c i ê nc i a / i b i c t
com quem publicou artigo científico e passou um
ano sabático no Instituto de Tecnologia da Califórnia Interações de forças da natureza da natureza, juntamente com as forças relações entre ciência e sociedade. Lutou
(Caltech). Teve participação fundamental na criação, A primeira metade do século XX, e forte e gravitacional. Em artigo publicado por melhores condições salariais e de
em 1949, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas particularmente os anos 1940 e 1950, foi na revista Nuclear Physics, em 1958, previu a trabalho para docentes da Universidade do
um período de grande efervescência para a existência de bósons vetoriais neutros – hoje Brasil, participou ativamente da criação dos
(CBPF), instituição da qual foi diretor e que abrigou
física no Brasil, com a atuação de um grupo conhecidos como bóson Z0 –, responsáveis principais órgãos de ciência do país e atuou
seus estudos na área de física de partículas até o fim da
de cientistas que se destacavam nacional pela mediação das interações fracas no em movimentos voltados ao desenvolvimento
vida. Ingressou na ABC em 1949. Professor emérito de e internacionalmente. Ao lado de César núcleo do átomo. A teoria de unificação da física brasileira. Nos anos 1960, teve seus
universidades e membro de academias no Brasil e no Lattes, Mario Shenberg e Jayme Tiomno, eletrofraca, especulada por Leite Lopes direitos cassados pela ditadura militar, o que
exterior, recebeu entre outras láureas a Ordem Nacional entre outros, José Leite Lopes contribuiu nos anos 1950, rendeu, em 1979, o prêmio o levou a viver quase 20 anos no exterior.
do Mérito Científico (1994) e a medalha Nacional de não apenas para o avanço do campo da Nobel de Física aos pesquisadores Sheldon A maior parte desse período foi passada em
física de partículas, mas também para a Glashow, Abdus Salam e Steven Weinberg. Estrasburgo, na França, após desistir dos
Ciências (1989). Ao longo da vida, publicou mais de
institucionalização e o desenvolvimento Já a partícula apontada pelo físico brasileiro Estados Unidos em função do apoio do
20 livros, alguns sobre física e outros sobre ciência,
da ciência no país. foi detectada experimentalmente por Carlo país ao golpe militar.
educação e política cientifica, temas sobre os quais Autor de ampla obra científica, o físico Rubia e Simon Van der Meer, também
escreveu também mais de uma centena de artigos. foi o primeiro a sugerir a integração entre ganhadores do Nobel, em 1985.
acerv o cbpf as forças eletromagnética e fraca – as duas Leite Lopes transitou com igual destaque
compõem o conjunto de forças fundamentais pela política científica, tendo como foco as
138 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 139

Leopoldo De Meis
(1938-2015)
r e p r o d u ç ão / y o u t u b e

N
ascido no Egito, filho de pais italianos,
emigrou com a família para o Rio de
Janeiro logo após o fim da Segunda
“Não sei o que é mais
Guerra Mundial. Aos 17 anos, ingressou importante: publicar um
na Faculdade de Medicina da Universidade do
a lg u ns d o s li vr o s
artigo revolucionário numa
Brasil (atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, p u b li c a d o s p o r revista científica como a
UFRJ), onde se graduou em 1961. Fez estágio com
Nature ou a Science; ou ver
le o p o ld o d e me i s .
r e p r o d u ç ão
o pesquisador Walter Oswaldo Cruz no Instituto
Oswaldo Cruz (IOC) e atuou como bolsista no um jovem feliz ao entrar
Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos, com Educação para a ciência de férias voltados a meninos e meninas de na universidade.”
A vasta produção científica, com a publicação baixa renda, ministrados por pesquisadores
estudos na área de bioquímica. Ingressou na ABC — leopoldo de meis,
de mais de 10 livros e centenas de artigos e pós-graduandos. A iniciativa culminou ao r e c e b e r o p r ê m i o fa z
em 1963. Em 1964, passou pelo IOC e ingressou no
em revistas nacionais e internacionais, na criação da Rede Nacional de Educação d i f e r e n ç a , d o j o r na l
Instituto de Biofísica da UFRJ. Com o regime militar, demonstra a importância de Leopoldo de e Ciência: Novos Talentos da Rede Pública, o globo, em 2010.
transferiu-se como professor visitante para o Instituto Meis para a bioquímica. Entre suas principais voltada à promoção de cursos e estágios em
Max Planck, na Alemanha. No fim da década de 1970, contribuições está a descoberta, em 1973, da laboratórios para estudantes e professores.
foi aprovado como professor titular do Departamento formação da fosfoenzima de baixa energia, Na rede, são desenvolvidas oficinas e
relacionada à síntese de ATP (adenosina atividades culturais, entre as quais o teatro,
de Bioquímica Médica da UFRJ, no qual desenvolveu
trifosfato), em parceria com o aluno de fortalecendo a relação entre ciência e arte –
pesquisas relacionadas aos mecanismos de produção
mestrado Hatisaburo Masuda. No mesmo outra grande paixão de Leopoldo.
e transformação de energia em sistemas biológicos. ano, o norte-americano Paul Boyer publicou A trajetória do bioquímico é marcada
Atuou na criação, em 2004, do Instituto de resultados similares e, 24 anos mais tarde, também pelo interesse em divulgar a ciência
Bioquímica Médica da universidade, que, em 2013, recebeu o Nobel de Química pela descoberta de forma clara e acessível para toda a
passou a ter o nome do pesquisador. do mecanismo de funcionamento da síntese sociedade. Ainda no início da carreira, atuou
mitocondrial de ATP. no Jornal do Commercio – veículo de imprensa
Junto com o prazer pela pesquisa, Meis de grande relevância à época – como um dos
cultivava também a satisfação por ensinar: responsáveis pela página dominical dedicada
fazia questão de estar em contato com os à ciência. Décadas depois, contribuiu na
jovens e familiarizado com o modo de pensar proposição e para a implantação da área de
de gerações posteriores à sua. Nos anos Educação, Gestão e Difusão em Biociências do
acerv o ibqm/ ufrj
1980, aproximou-se do ensino de ciência nas programa de pós-graduação do Instituto de
escolas por meio de cursos experimentais Bioquímica da UFRJ.
140 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 141

Leopoldo Nachbin
(1922-1993)

N
asceu em Recife e mudou-se, em 1939,
para o Rio de Janeiro, onde cursou a
Escola Nacional de Engenharia. Aos
19 anos publicou seu primeiro artigo
científico, nos Anais da Academia Brasileira de Ciências.
Foi professor de matemática na Faculdade Nacional
de Filosofia. Ingressou na ABC em 1948. Foi membro
fundador do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
(CBPF) e do Instituto Nacional de Matemática Pura e
Aplicada. Atuou no Conselho Nacional de Pesquisas
Contribuições para a matemática pura Após estágio na Universidade de Chicago,
como diretor do Setor de Pesquisas Matemáticas
Desde cedo, o jovem Leopoldo Nachbin entre 1948 e 1950, Nachbin voltou ao
e membro do Conselho Deliberativo. Fundou, em
demonstrou dedicação e talento para o estudo Brasil e candidatou-se à cátedra de análise
1967, ao lado de Heitor Gurgulino de Souza, a Escola da matemática. O contato, porém, com matemática da UFRJ com a tese Topologia e
Latino-Americana de Matemática, evento regional pesquisadores estrangeiros que lecionaram Ordem. Entretanto, houve forte contestação à
que acontece a cada dois anos. Lecionou também em no Brasil, na década de 1940, estimulou ainda participação do pesquisador, sob a justificativa
universidades de Paris e no Instituto de Matemática mais seu interesse pela área. Entre eles estavam de que ele não tinha o grau de bacharel, e
o italiano Gabrielle Mammana, o português o concurso foi adiado. Somente em 1972 o
da Universidade Federal do Rio de Janeiro, instituição
Antonio Monteiro e o norte-americano matemático viria se tornar professor titular
na qual permaneceu até sua aposentadoria em 1982,
Marshall Stone, professores na Faculdade da Universidade, com a mesma tese.
quando se vinculou novamente ao CBPF. Recebeu Nacional de Filosofia. Além da dedicação à pesquisa, Nachbin
diversas honrarias, entre elas o prêmio Moinho Nachbin foi um dos pioneiros da pesquisa foi professor e orientador de inúmeros ac i ma , p r é d i o d o i mpa , q u e nac h b i n a j u d o u
a f u nda r no r i o d e ja ne i r o .
Santista, em 1962, e o prêmio Bernardo Houssay de matemática no Brasil, em especial nas áreas de alunos de diferentes nacionalidades, tendo ac e r vo i mpa

Matemática, concedido pela Organização dos equações diferenciais, séries trigonométricas contribuído intensamente para o intercâmbio
ac i ma , à e s q u e r da , f ra nc i s c o a lc â nta ra
clássicas, análise funcional e espaços entre instituições e pesquisadores do Brasil
Estados Americanos, em 1982. g o me s , e li sa e s t h e r ma i a f r o ta - p e s s oa ,
vetoriais topológicos. Entre suas principais e do exterior. Teve quatro livros editados no jay me t i o mno , j oaq u i m da c o s ta r i b e i r o ,
contribuições estão os estudos sobre o Teorema exterior e cerca de 100 artigos publicados lu i g i s o b r e r o , le o p o ld o nac h b i n, j o s é le i t e
lo p e s e mau r í c i o mat o s p e i xo t o .
de Hahn-Banach para aplicações em espaços em revistas internacionais de matemática.
ac e r vo a b c
normados, que explica a função holomorfa em Editou a série Notas de Matemática, publicada
detalhes, e sobre os espaços Hewitt-Nachbin. pelo Instituto Nacional de Matemática Pura le o p o ld o nac h b i n t i nh a a p e na s 1 9 a no s
q ua nd o p u b li c o u s e u p r i me i r o a r t i g o
ac e rvo a bc
Apesar da carreira bem-sucedida, o e Aplicada e, posteriormente, pela editora c i e nt í f i c o no s a na i s da a b c , e m 1 941 .
pesquisador não se viu livre de percalços. holandesa North-Holland Publishing Co. ac e r vo a b c
142 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 143

Marcelo Damy
de Sousa Santos
(1914-2009)

N
atural de Campinas, ingressou na Escola
Politécnica de São Paulo em 1933. A
mudança da engenharia para a física se
deu a convite do físico Gleb Wataghin, de
quem era aluno ouvinte, após a unificação dos cursos
básicos da Politécnica e da recém-criada Faculdade
Entre raios cósmicos e energia nuclear na Comissão de Energia Atômica do Conselho da my pa r t i c i p o u, c o m o u t r o s
de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de Numa época em que não havia muitos recursos Nacional de Pesquisas (CNPq). Em 1961, c i e nt i s ta s , d e i mp o r ta nt e s d e s c o b e r ta s
r e lac i o na da s à nat u r e z a d o s c h u ve i r o s
São Paulo (USP). Em 1938, já bacharel, tornou-se no Brasil para o estudo dos raios cósmicos, assumiu a presidência da Comissão Nacional p e ne t ra nt e s .
assistente de Wataghin, dedicando-se aos estudos Marcelo Damy aproveitou a oportunidade de de Energia Nuclear, de onde foi afastado na sa

dos raios cósmicos. Após estágio na Universidade de estágio na Inglaterra para desenvolver um após o golpe militar de 1964. Reassumiu a
ao la d o :
equipamento capaz de detectá-los. Com o início chefia do Departamento de Física Nuclear do
Cambridge, na Inglaterra, participou, no Brasil, da o j o ve m ma r c e lo da my e m e x p e r i me nt o
da Segunda Guerra Mundial, que provocou a IEA e, em 1967, participou da organização na mi na d e mo r r o ve lh o , e m 1 93 9.
fabricação de um sonar para detecção de submarinos, ac e r vo h i s t ó r i c o d o i ns t i t u t o
suspensão das atividades e o fechamento do do Instituto de Física Gleb Wataghin na
d e f í s i c a da u s p
importante contribuição à Marinha brasileira na laboratório onde trabalhava, o pesquisador Universidade Estadual de Campinas, unidade
época da Segunda Guerra Mundial. Fundou, em conseguiu autorização para trazê-lo ao Brasil. que dirigiu até 1971.
1956, o Instituto de Energia Atômica da USP, atual Após ter o aparelho confundido com um Como docente em diferentes instituições,
Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, onde transmissor de rádio e retido pela alfândega Damy atuou na formação de renomados
por cerca de dois meses, prosseguiu com físicos, entre os quais César Lattes, José
foi responsável pela instalação do primeiro reator
os estudos e conseguiu registrar em São Goldemberg e Oscar Sala. Para ele, ensino
nuclear do Brasil. Presidiu a Comissão Nacional de
Paulo, juntamente com Paulus Aulus e pesquisa caminhavam juntos: “Um bom
Energia Nuclear e lecionou na USP, na Universidade Pompeia e Gleb Wataghin, a natureza dos professor é um pesquisador que gosta de
Estadual de Campinas e na Pontifícia Universidade chuveiros penetrantes, que atingem a Terra contar as coisas que faz e que viu outros
Católica de São Paulo, entre outras instituições. acompanhados de partículas de alta energia. fazerem”, disse em uma entrevista à revista
Ingressou na ABC em 1942 e foi vice-presidente Reproduzido no fundo de uma mina em Ciência e Cultura.
Morro Velho, Minas Gerais, o experimento foi No ano seguinte à sua morte, o Instituto
da entidade no biênio 1955-1957.
publicado na Physical Review, em 1940, com de Pesquisas Energéticas e Nucleares da
repercussão no Brasil e no exterior. USP inaugurou, em sua homenagem, o Espaço
ac e rvo histó r ico do in stituto
Nos anos 1950, além de dirigir o Instituto Cultural Marcello Damy.
d e f ísica da usp
de Energia Atômica (IEA) da USP, Damy atuou
144 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 145

ac e rvo sbpc

Marcos Luiz
dos Mares Guia
(1935-2002)

M
ineiro de Santa Bárbara, cursou
medicina na Universidade de Minas
Gerais. Doutorou-se pela Universidade Inovação em biotecnologia de Minas Gerais, da Universidade de Brasília

de Louisiana, nos Estados Unidos, com Doença crônica que acomete mais de 420 e da Biobrás, entre outras instituições, Mares
milhões de pessoas no mundo, o diabetes Guia deu início a um projeto de produção de
tese sobre cinética de enzimas, e fez o pós-doutorado
decorre da não produção ou da produção insulina humana recombinante, primeiro
no Centro do Câncer Anderson, na Universidade do
insuficiente do hormônio insulina pelo produto biotecnológico a ser comercializado
Texas. Como professor e pesquisador da Universidade pâncreas, ou ainda da sua utilização precária no mundo.
Federal de Minas Gerais, desenvolveu estudos que no organismo. Em parte dos casos, o paciente Até então, a insulina utilizada por diabéticos
serviram de base para a criação da primeira empresa depende do uso de insulina sintética para que era extraída do pâncreas de bois e porcos e,
capaz de fabricar enzimas no Brasil, a Biobrás, que seu organismo funcione bem. em alguns casos, acarretava reações alérgicas
As contribuições de Mares Guia foram nos pacientes ou era simplesmente ineficaz.
se tornou a maior produtora de insulina sintética da
fundamentais para a produção de insulina no Obtida através da bactéria Escherichia coli,
América Latina. Foi um dos idealizadores da Fundação
Brasil. A partir dos estudos iniciados nos Estados comum na flora intestinal humana, a insulina
de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais Unidos sobre as reações químicas catalisadas recombinante surgiu, portanto, como opção aos
a nt e s da p r o d u ç ão da i ns u li na h u ma na
(Fapemig), fundada em 1986, e presidiu o CNPq entre por enzimas humanas, o pesquisador pacientes que não respondiam bem à de origem r e c o mb i na nt e , a i ns u li na u sa da no t rata me nt o

1991 e 1993. Ingressou na ABC em 1970. Recebeu coordenou, no fim dos anos 1960, com o bovina ou suína. Somente quatro empresas no d e d i a b é t i c o s e ra e x t ra í da
d o pâ nc r e a s d e b o i s e p o r c o s .
distinções importantes, como o título de Comendador bioquímico Carlos Ribeiro Diniz, a implantação mundo, incluindo a Biobrás, têm tecnologia de w i ki me d i a c o mmo ns / my r i a ms
de um laboratório de alta tecnologia para produção industrial desse tipo de insulina.
da Ordem Nacional do Mérito Científico, em 1995, e at ua lme nt e , e mp r e sa s d e b i o t e c no lo g i a
a fabricação de enzimas. A iniciativa serviu
a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico, u t i li z a m a bac t é r i a e sc h e r i c h i a c o l i , c o mu m
de base para a criação, em 1976, da primeira na f lo ra i nt e s t i na l h u ma na , pa ra
em 2000. Em 2008, a Fapemig instituiu o prêmio empresa do ramo no Brasil, a Biobrás. a p r o d u ç ão d e i ns u li na .

de Pesquisa Básica Marcos Luiz dos Mares Guia, Quatro anos após a sua criação, a empresa cdc

concedido anualmente a instituições, empresas e começou a produzir insulina. Em pouco


pesquisadores por sua colaboração com o avanço tempo, passou a desenvolver insulinas
altamente purificadas, menos imunogênicas,
do conhecimento da ciência.
inclusive na formulação da insulina injetável,
ou seja, do medicamento pronto para uso.
No início da década de 1990, em colaboração
com pesquisadores da Universidade Federal
146 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 147

Da Urca para as estrelas


O mecanismo de colapso das estrelas gigantes,

Mario Schenberg conhecido como supernova, era o objeto de


estudo do físico russo, naturalizado norte-
americano, George Gamow, quando Mario

(1914-1990) Schenberg foi trabalhar em Washington,


Estados Unidos, no início da década de 1940.
Na época, não havia explicação para a
violência das supernovas. Do físico brasileiro

N
veio a proposta que elucidou o problema: s u p e r no va . | na sa
asceu em Recife e iniciou seus estudos os neutrinos presentes no interior do
na Escola de Engenharia de Pernambuco, átomo eram os responsáveis pelo colapso
transferindo-se, depois, para a Escola das estrelas. Segundo ele, a emissão dessas Na ciência e na arte
Politécnica de São Paulo, onde se partículas esfriaria rapidamente o centro Como crítico de arte, as principais
dos corpos estelares e diminuiria a pressão contribuições de Mario Schenberg
diplomou engenheiro eletricista. Bacharelou-se
interna; assim, o núcleo não suportaria o foram no campo das artes plásticas.
em matemática na primeira turma da Faculdade Sua forte atuação e vasta produção
peso das camadas externas e explodiria,
de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de com ampliação significativa de seu tamanho na área, entre os anos 1940 e 1980,
São Paulo (USP), da qual viria se tornar, mais tarde, – daí a forte luminosidade das supernovas. direcionavam-se a impulsionar um
movimento de renovação do cenário
professor. Nos anos 1940, desenvolveu nos Estados A proposta de Schenberg abriu nova
artístico nacional. Mas circulava
Unidos trabalhos em astrofísica, ao lado de George perspectiva para o entendimento das
também por outros segmentos da arte,
supernovas. O mecanismo foi batizado pelos
Gamow, e com o físico propôs uma teoria, de grande como na música, por exemplo. Por
cientistas de Processo Urca – em referência
repercussão, sobre o mecanismo de explosão das sugestão e insistência de Schenberg, o
à rapidez com que a energia desaparecia do
cantor Gilberto Gil compôs a música
supernovas. Ingressou na ABC em 1942. Elegeu-se centro das estrelas em colapso, similar Oração pela libertação da África do Sul,
deputado em São Paulo pelo Partido Comunista em à velocidade com que se perdia dinheiro no gravada em 1985 e dedicada ao físico.
1945. Entre 1953 e 1961, dirigiu o Departamento de Cassino da Urca, visitado pelos dois físicos Teve ainda uma produção fotográfica,
Física da Faculdade de Filosofia da USP. Com o golpe no Rio de Janeiro. realizada principalmente em preto
Ainda nos Estados Unidos, o pesquisador e branco, voltada ao registro da
militar de 1964, foi preso e teve seus direitos políticos
passou alguns meses na Universidade de natureza e do cotidiano.
cassados pelo AI-5. Nesse período, foi aposentado
Princeton, onde pôde conviver com o físico
compulsoriamente da USP e afastado do Centro Albert Einstein e trabalhar com o indiano
Brasileiro de Pesquisas Físicas, ao qual tinha se Subramanyan Chandrasekhar, vencedor ac i ma , s c h e nb e r g e m sa la d e au la .
ac e r vo h i s t ó r i c o d o i ns t i t u t o d e
vinculado em 1967. Anistiado em 1979, reintegrou-se do prêmio Nobel em 1983. Nesse contexto,
f í s i c a / g e ra ld o nu ne s
à universidade paulista, na qual se aposentou Schenberg aproximou-se dos estudos sobre
filosofia oriental e aprofundou o interesse no me i o , mau r i c i o mat o s p e i xo t o
em 1983, ao completar 70 anos. e ma r i o s c h e nb e r g na d é c a da
pela arte. A partir de então, passou a atuar
d e 1 98 0 .
como crítico das artes plásticas; em 1944, ac e r vo a b c

organizou a primeira exposição de Alfredo


ao la d o , s c h e nb e r g , ao c e nt r o ,
Volpi, um dos mais importantes artistas e pa r t i c i pa nt e s d e s e u c u r s o
da segunda geração do modernismo. d e r e lat i vi da d e , e m 1 97 8 .
ac e r vo h i s t ó r i c o d o i ns t i t u t o
ac e rvo a bc d e f í s i c a / g e ra ld o nu ne s
148 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 149

Maurício Oscar
da Rocha e Silva
(1910-1983)

N
ascido no Rio de Janeiro, graduou-se
em 1933 pela Faculdade Nacional de
à e s q u e r da , o p e s q u i sa d o r e m s e u
Medicina. No ano seguinte, mudou-se la b o rat ó r i o .
ac e r vo s b p c
para São Paulo para ser assistente do
professor Quintina Mingóia na Escola de Farmácia à d i r e i ta , mau r i c i o o s c a r da r o c h a e s i lva
d u ra nt e a 2 5ª r e u ni ão a nua l da s b p c ,
e Odontologia. Em 1937, ingressou no Instituto r e a li z a da na u f r j e m 1 97 3 .
Biológico, onde desenvolveu pesquisas nas áreas ac e r vo s b p c

de bioquímica e farmacologia. Após passagens


pela Universidade de Toronto, no Canadá, e Veneno que cura Era a bradicinina, cujo nome, que remete à O feito foi considerado, então, um
pela University College, na Inglaterra, onde Em pesquisas desenvolvidas no Instituto sua ação lenta no organismo (de brady = lento importante estímulo à pesquisa e gerou
Biológico de São Paulo e também no exterior, e ekinesia = movimento), foi acordado com o desdobramentos científicos relevantes, entre
estudou a ação da histamina em medicamentos
Maurício Rocha e Silva tinha como foco cientista José Reis, que trabalhava no Instituto eles o desenvolvimento de medicamentos
cardiovasculares, publicou, em 1949, o primeiro
principal a histamina, substância relacionada Biológico e acompanhava o trabalho do grupo utilizados atualmente no controle da
trabalho sobre a descoberta da bradicinina, a processos inflamatórios e que causa, entre de Rocha e Silva. hipertensão arterial.
substância originada do veneno da jararaca e que outros efeitos, diminuição da pressão arterial. A comunidade científica não foi
revolucionou o tratamento da hipertensão arterial. O pesquisador buscava um princípio que imediatamente receptiva aos resultados
Foi presidente e vice-presidente da Sociedade se opusesse à ação da histamina, de forma apresentados por Rocha e Silva e
similar à angiotensina, descoberta em 1940, colaboradores. Aventou-se a hipótese de
Brasileira para o Progresso da Ciência. Participou
na Argentina, pelo pesquisador Eduardo que a substância já havia sido descoberta
da fundação da Escola Paulista de Medicina e da
Braun Menendez. nos anos 1930, na Alemanha, com o nome
Universidade de São Paulo. Nos anos 1960, coordenou Estudioso da farmacologia dos venenos D. K. (Darmkontrahirende Substanz),
o Instituto Central de Biologia da Universidade de das serpentes, Rocha e Silva realizou um posteriormente renomeada calidina. Após
Brasília e integrou o Conselho Federal de Educação. experimento utilizando uma mistura de discussões no Brasil e no exterior, foi em
Recebeu o prêmio Moinho Santista de Ciências plasma canino e veneno de jararaca. Nesse um simpósio em Londres, em 1959, que se
trabalho, contou com a colaboração de Wilson confirmou a descoberta brasileira. No evento,
Biológicas, em 1967, e o prêmio Nacional de
Beraldo, do Instituto Biológico, e Gastão o depoimento do respeitado farmacologista
Ciência e Tecnologia do CNPq, em 1982.
Rosenfeld, do Instituto Butantan. A pesquisa J. H. Gaddum afirmando que a substância
acerv o sbpc resultou na descoberta, em 1948, de nova havia sido descrita por Rocha e Silva em
substância, com ação similar à da histamina. 1948 colocou fim à controvérsia.
150 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 151

O desafio da saúde pública Oswaldo Cruz adotou medidas não


Ainda muito jovem, Oswaldo Cruz convencionais, que motivaram forte oposição

Oswaldo iniciou-se como pesquisador no campo da


microbiologia. Em seus primeiros postos
de trabalho, tratou de se cercar de mestres
ao cientista. Entre elas, montou uma brigada
para caçar ratos, vetores da peste bubônica;
destinou esforços para a eliminação de focos

Gonçalves Cruz com mais experiência. Ao lado dos cientistas


Adolfo Lutz e Vital Brasil, teve importante
contribuição no diagnóstico e combate à
de mosquitos – em lugar de desinfecções
– para o combate à febre amarela; e
implementou a obrigatoriedade da vacinação

(1872-1917) epidemia de peste bubônica na cidade de


Santos, no litoral de São Paulo.
antivariólica. Apesar de impopulares, as
ações possibilitaram a eliminação da peste e
A dificuldade de importação do soro a erradicação da febre amarela urbana no Rio
antipestoso impulsionou a criação, em 1900, de Janeiro, e motivaram a adesão em massa

N
no Rio de Janeiro, do Instituto Soroterápico à campanha de vacinação contra a varíola
ascido em São Luís de Paraitinga, São Federal, no qual Oswaldo Cruz trabalhou de 1908 – a moléstia foi erradicada no Brasil c h a r g e d e le o ni da s f r e i r e i lu s t ra
Paulo, mudou-se com a família para o como bacteriologista, assumindo sua direção apenas nos anos 1970. o e p i s ó d i o c o nh e c i d o c o mo r e vo lta
da vac i na ( o ma l h o , 2 9/ 1 0 / 1 90 4) .
Rio de Janeiro em 1877. Com apenas 15 em 1902. Seis anos depois, a instituição Ainda no campo da saúde coletiva, w i ki me d i a c o mmo ns

anos, ingressou na Faculdade de Medicina passou a se chamar Instituto Oswaldo Cruz o cientista liderou a reforma do Código
(atual Fundação Oswaldo Cruz), tendo o Sanitário e reestruturou órgãos ligados o i c ô ni c o c a s t e lo mo u r i s c o , e m
e recebeu o título de doutor em 1892, com tese ma ng u i nh o s , no r i o d e ja ne i r o , q u e
cientista como líder até 1915. ao setor. Lançou expedições científicas
sobre veiculação microbiana pela água. Estagiou h o j e a b r i ga a p r e s i d ê nc i a da f u ndaç ão
No comando da saúde pública, diante de ao interior do país e foi responsável pela o s wa ld o c r u z .
por três anos no Instituto Pasteur, na França, onde um panorama sanitário bastante desfavorável, campanha de saneamento da Amazônia. w i ki me d i a c o mmo ns
se especializou em bacteriologia. De volta ao Brasil,
foi diretor do Instituto Soroterápico Federal (atual
Fundação Oswaldo Cruz) e esteve à frente da Diretoria
da Saúde Pública do Rio de Janeiro, a convite do
presidente Rodrigues Alves. Deflagrou campanhas
e implantou medidas sanitárias para combater
doenças como peste bubônica, febre amarela e
varíola. Enfrentou forte resistência contra a vacinação
obrigatória, que culminou com uma rebelião popular
em 1904 – episódio conhecido como Revolta da
Vacina. Em 1915, por motivos de saúde, deixou a
direção do instituto que já carregava seu nome e
mudou-se para Petrópolis, cidade em que se elegeu
prefeito. Ingressou em 1916 na Academia Brasileira
de Ciências, da qual foi vice-presidente.

ac e rvo a bc
152 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 153

Otto Richard
Gottlieb
(1920-2011)

N
ascido na Tchecoslováquia, filho de
mãe brasileira, chegou ao Brasil em
1939. Seis anos depois, formou-se em
química industrial pela Escola Nacional
de Química da Universidade do Brasil. Participou
de um dos mais importantes grupos de produtos g o t t li e b d e d i c o u - s e ao e s t u d o da s
naturais da época, o Instituto Weizmann de Ciências, e s p é c i e s da f lo ra b ra s i le i ra c o m a p li c aç õ e s
c o me r c i a i s . e nt r e s e u s t e ma s d e p e s q u i sa ,
em Israel. Foi bolsista no Instituto de Química d e s tac a m- s e a s ne o li g na na s , s u b s tâ nc i a s a nt i -

Agrícola do Ministério da Agricultura, onde se i nf la mat ó r i a s o b t i da s no t r o nc o d e d i ve r sa s


á r vo r e s e u sa da s no c o mbat e a t u mo r e s .
dedicou ao estudo da estrutura química de produtos f o t o ma i o r : h e mi d i / f li c kr ; f o t o no a lt o :
p i x a bay. c o m; a ba i xo : g u t o d e li ma / f li c kr .
naturais brasileiros. Ingressou na ABC em 1961. Teve
trajetória itinerante por diversas instituições, onde
Raízes familiares o abastecimento das caldeiras até a compra e Juntamente com sua equipe, desenvolveu
lecionou e fundou grupos de pesquisa; entre elas, O interesse pela química é uma marca venda. Para tornar o trabalho mais interessante, técnicas de isolamento e determinação
as universidades federais de Brasília, Minas Gerais, da família de Otto Gottlieb. O avô, dono começou a desenvolver um método de análise estrutural das neolignanas, substâncias com
Ceará e Rural do Rio de Janeiro, além da Universidade de uma fábrica de louças esmaltadas na inorgânica chamado titimetria gasométrica, que propriedades anti-inflamatórias.
de Sheffield, na Inglaterra, do Instituto Oswaldo Cruz Tchecoslováquia, começou a trabalhar gerou publicação em revistas estrangeiras. Gottlieb mapeou centenas de espécies e
empiricamente na área para acompanhar A partir de então, a carreira de estabeleceu índices para seu comportamento,
e da Universidade de São Paulo. Nesta, organizou
os processos de produção, que envolviam o pesquisador tomou impulso: Gottlieb o que permitiu a medição da biodiversidade
o Laboratório de Química de Produtos Naturais,
uso de borato e de pigmentos inorgânicos. aproximou-se da Associação Brasileira de ecossistemas. Suas pesquisas levaram,
propiciando a formação de um promissor grupo de Já o pai formou-se químico. Numa ida à de Química, conseguiu uma bolsa para ainda, ao desenvolvimento de uma nova área
pesquisadores. Por seus estudos sobre a estrutura Argentina para verificar uma infração de trabalhar no Instituto de Química Agrícola de estudo no campo da química de produtos
química das plantas, que permite analisar o estado patente das louças, passou pelo Brasil, onde e ali iniciou sua trajetória de sucesso naturais: a quimiossistemática ou taxonomia
de preservação de ecossistemas brasileiros, foi conheceu sua futura esposa e mãe de Otto. no estudo de espécies nativas e suas química, que consiste na identificação de
Antes de abraçar a carreira de pesquisador, propriedades químicas. grupos de substâncias químicas presentes
indicado ao prêmio Nobel de Química.
Gottlieb trabalhou por dez anos na fábrica Dedicou-se à fitoquímica, estudando nas plantas.
fundada pelo pai no Brasil, produtora de espécies de famílias vegetais com importância
ac e rvo a bc óleos essenciais provenientes da flora econômica, entre elas o pau-rosa, fornecedor de
brasileira. Atuava em diversas frentes, desde óleo essencial de grande interesse da indústria.
154 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s p e r s o nag e n s m o u t r o s c i e n t i s ta s d e d e s ta q u e 155

Veridiana
Projeto Genoma brasileiro
Em outubro de 1997, a Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado de São

Victoria
Paulo apresentou o Projeto Genoma,
voltado para o sequenciamento
genético da bactéria Xylella
fastidiosa, identificada por Victoria

Rossetti Sobre os citros e suas doenças


A infância passada em fazendas do interior
de São Paulo contribuiu para despertar o
Rossetti como causadora da clorose
variegada dos citros. Concluído em
1999, com a determinação de 2,7

(1971-2010) interesse de Victoria Rossetti pela natureza


e pelos vegetais. Na companhia do pai,
milhões de bases do cromossomo
do patógeno, o estudo reuniu mais
de 30 laboratórios e cerca de 200
engenheiro agrônomo, e dos irmãos, a
pesquisadores. O feito alcançou
menina ajudava na coleta de materiais para
grande visibilidade internacional,

N
verificar o estrago que pragas e doenças
com artigos publicados nas principais
ascida em Santa Cruz das Palmeiras, causavam nas plantas das propriedades. Mais
revistas e jornais do mundo.
São Paulo, filha de imigrantes italianos, tarde, na mesma profissão de seu progenitor,
cursou a Escola Superior de Agronomia seguiu na fitopatologia e dedicou anos ao

Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade estudo das doenças de plantas produtoras


de frutas cítricas. nome dado por Rossetti à doença constatada na pág i na à e s q u e r da , a me da lh a lu i z
de São Paulo (USP), e tornou-se a primeira engenheira d e q u e i r o z , q u e vi c t o r i a r o s s e t t i
No início da carreira, investigou o isolamento em plantações de laranja na região norte
agrônoma formada pela instituição, no fim dos de fungos do gênero Phytophtora, relacionados do estado de São Paulo ao fim da década
r e c e b e u e m 1 993 .

anos 1930. Em seguida, iniciou estágio no Instituto à gomose dos citros. Os trabalhos desenvolvidos de 1980. Para estudar a praga, conhecida ac i ma , c a pa da nat u r e ( 1 3 / 0 7 / 2 0 0 0 )
Biológico, de onde foi pesquisadora por mais de pela pesquisadora e seus colaboradores, no como amarelinho, a agrônoma coletou a nu nc i a o s e q u e nc i a me nt o d o g e no ma
da bac t é r i a x y l e l l a f a s t i d i o s a .
60 anos, além de chefe da Seção de Fitopatologia e Instituto Biológico, contribuíram para um galhos doentes e saudáveis e, com a ajuda
r e p r o d u ç ão
diretora da Divisão de Patologia Vegetal. Aperfeiçoou melhor conhecimento daquela patologia e de cientistas franceses, verificou a presença
também da virose conhecida como tristeza dos do agente causador da doença nas amostras
no exterior seus conhecimentos sobre doenças que
citros – e para a adoção de porta-enxertos de comprometidas. A Xylella fastidiosa tornou-
acometem plantas e frequentou instituições de
citros resistentes às anomalias. se, anos depois, o primeiro fitopatógeno
ensino e pesquisa dos Estados Unidos e da França. A agrônoma foi responsável também a ter seu genoma completamente
Entre 1966 e 1967, atuou como fitopatologista pela comprovação do ácaro Brevipalpus sequenciado.
assistente da Organização das Nações Unidas para a phoenicis como vetor da leprose dos citros.
Agricultura. Membro titular da Academia Brasileira Dedicou-se ainda ao estudo de patologias
de frutos cítricos como sorose, cachexia e
de Ciências desde 2003, recebeu honrarias como
exocorte, o que possibilitou a disseminação
a medalha Luiz de Queiroz, concedida pela Esalq/
de informações relevantes aos programas
USP (1993), o prêmio Frederico de Menezes Veiga, da de produção e certificação de citros,
Embrapa (1993), e a condecoração Grã-Cruz da Ordem especialmente em São Paulo.
Nacional do Mérito Científico (2004). A mais importante de suas contribuições
à ciência, no entanto, foi a identificação
pau l o s oa res / esa l q da bactéria Xylella fastidiosa como agente
etiológico da clorose variegada dos citros,
m ações
158 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s açõe s  159

Ciência a serviço A
ciência não existe isolada do mundo. Como atividade humana,
a pesquisa científica busca respostas para perguntas formuladas
por pessoas e grupos reais, inseridos em seus contextos
cotidianos, motivados por necessidades concretas, provocados

da sociedade
pelo mundo ao seu redor. Assim, a atividade científica está debruçada,
sempre, sobre aquilo que instiga a curiosidade humana, e responde às
necessidades e aos desejos de grupos de pessoas. Na maioria dos casos, o
conhecimento gerado pela pesquisa científica tem a possibilidade de atender
demandas não apenas de uma equipe seleta de cientistas, mas de populações
inteiras. Colocar a ciência a serviço da sociedade é, talvez, uma das missões
mais nobres assumidas pelos que a ela se dedicam.
Ao longo de sua existência, a Academia Brasileira de Ciências procurou
em diversos momentos aproximar a pesquisa científica desenvolvida
no Brasil e as necessidades concretas de um país que luta para assistir
populações tão diversas quanto suas paisagens. Nos anos 2000, esse esforço
tomou forma com a criação de grupos de estudos dedicados a temas
fundamentais da realidade brasileira, incluindo educação, meio ambiente,
recursos naturais, saúde e economia, entre outros. Acadêmicos e outros
cientistas de todas as regiões do país reuniram-se em simpósios, workshops
e reuniões de diferentes portes, e dedicaram-se a traçar um panorama
cuidadoso da ciência brasileira em suas áreas de atuação.
Uma parte importante dos resultados desses encontros foi transformada
na série “Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Nacional: Estudos
Estratégicos”, disponibilizada gratuitamente para consulta na forma de
livros virtuais. As publicações, assinadas por cientistas de destaque, ora
descrevem o estado da arte da pesquisa brasileira em diferentes áreas, ora,
mais assertivas, tecem recomendações explícitas para tomadores de decisão
e formuladores de políticas públicas, muitas das quais foram efetivamente
aplicadas e já começaram a render frutos.
Nas páginas a seguir, pincelamos alguns aspectos dos estudos publicados
entre 2004 e 2017 para dar a conhecer os principais temas trabalhados pela
ABC nos últimos anos. Os trabalhos completos podem ser consultados na
página da instituição.
160 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s açõe s  161

Todos os livros da série


Ciência e Tecnologia para o
Desenvolvimento Nacional:
Estudos Estratégicos estão
disponíveis gratuitamente
em PDF na página da ABC
www.abc.org.br,
na seção Publicações

201 6 2 0 14 2 0 11 2010 2008


recursos minerais m e d i c i na t ra n s l ac i ona l o c ód i go fl ore s ta l e a c i ê n c i a : ág ua s d o b ra s i l o e ns i no d e c i ê nc i a s e a e d u c aç ão
no brasil c on t ri bu i ç õe s pa ra o d i á l ogo b á s i c a : p r o p o s ta s pa ra s u p e ra r a
crise

201 4 2 0 11 2 0 10 2008 2004


recursos hídricos a p re n d i z age m i n fa n t i l : d oe n ç a s n e gl i ge n c i a da s a ma z ô ni a : d e sa f i o b ra s i le i r o s u b s í d i o s pa ra a r e f o r ma
no brasil u m a a bordage m da n e u roc i ê n c i a , e c on om i a e do séc. xxi d o e ns i no s u p e r i o r
p s i c ol ogi a c ogn i t i va
162 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s ações m educação 163

Precisamos O
investimento em recursos humanos,
educação, ciência e tecnologia é
essencial para a construção de um
país desenvolvido e com autonomia
de decisão sobre os caminhos que pretende seguir.

falar sobre
Por isso, o sistema de educação precisa estar
preparado para desempenhar plenamente esse
papel e atender com a necessária qualidade a
demanda crescente da população pelo acesso
ao ensino superior e pela qualificação dos
profissionais nele formados. Da importância das

educação
universidades para a construção de um país mais
capacitado para enfrentar grandes desafios em
ciência e tecnologia nasceu o primeiro grupo de
estudos estratégicos da Academia Brasileira
de Ciências, em 2004.
Com o avançar das discussões, no entanto,
tornou-se claro que um ensino superior de
qualidade dependia, entre outros fatores, de
uma educação básica consistente. Assim, foi
estabelecida uma segunda equipe de especialistas,
debruçada sobre as escolas de nível fundamental e
médio, cujas reflexões foram publicadas em 2008.
Os trabalhos tiveram como ponto de partida a
convicção de que “o ensino adequado de ciências problemas da educação no Brasil – sobre este tema da c r e c h e à u ni ve r s i da d e , t o da s a s e ta pa s da
e d u c aç ão f o ra m a lvo d e e s t u d o s da a b c .
estimula o raciocínio lógico e a curiosidade, ajuda versa o terceiro volume de estudos estratégicos ta ma r c u s b r o w n
a formar cidadãos mais aptos a enfrentar os dedicado à educação, publicado em 2011.
desafios da sociedade contemporânea e fortalece
a democracia, dando à população em geral Uma nova forma de ensinar
melhores condições para participar dos debates Por estar intimamente relacionado à
cada vez mais sofisticados sobre temas científicos formação de recursos humanos para a
que afetam o seu cotidiano”. ciência e a tecnologia, o ensino superior foi
Por fim, a terceira camada dessa reflexão o ponto de partida natural para as reflexões
foi, naturalmente, a aprendizagem que se da ABC sobre educação. Mas houve, também,
dá antes mesmo da escola, com ênfase nas uma motivação de ordem prática: no início
enormes desigualdades socioeconômicas do dos anos 2000, o Governo Federal, por meio
contexto brasileiro e suas consequências para do Ministério da Educação (MEC), anunciava
o desenvolvimento infantil. No cuidado com que faria uma reforma universitária, ao
os primeiros anos da infância, argumentam que a ABC decidiu se adiantar e reunir
os especialistas, pode estar o embrião de especialistas para debater o assunto. Mais
uma mudança radical para a sociedade. A tarde, a Academia apresentaria ao MEC os
aprendizagem infantil aparece, portanto, como resultados do grupo de estudos (publicados
a a ro n b u rde n questão estratégica para atacar os grandes em 2004 sob o título Subsídios para a Reforma
164 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s ações m educação 165

da Educação Superior), aproximando os dois especialização e poderiam adotar a seleção


órgãos e instigando a criação de políticas Casos de sucesso de estudantes por carreira e a verticalização
mais antigas, no entanto, há uma
públicas e a organização de novos debates Se ainda não conseguiram causar dos cursos. Também deveriam ser valorizadas
dificuldade maior de adotar a prática do
sobre o tema no Brasil. uma grande revolução em nível e ampliadas as instituições voltadas à
ciclo básico, pois essas instituições ainda
Embora a universidade pública represente nacional, as recomendações do grupo seguem um modelo implementado formação de técnicos (que recebem o título
apenas uma parte do problema mais amplo e da ABC para a melhoria do ensino em 1979, data da última reforma de tecnólogos), um modelo análogo ao dos
complexo do ensino superior no país, ela foi superior no Brasil já começaram a ser universitária no Brasil. community colleges norte-americanos, com
o foco da atenção do grupo de trabalho, por implementadas em algumas iniciativas Outra recomendação feita em cursos de dois anos.
concentrar quase exclusivamente a formação regionais. Os casos mais emblemáticos 2004 que teve efeito concreto foi a Para que as instituições cumprissem seu
do melhor nível em graduação e pós- são os das universidades federais do diversificação do rol de instituições dever de formar com excelência, foi proposto
ABC e do Sul da Bahia, que atendem públicas de ensino superior, com a
graduação, bem como de pesquisa científica um sistema de avaliação constante dos cursos
várias das propostas de reformulação criação de modelos alternativos, voltados,
e tecnológica no país, e por seu papel na por comissões externas, compostas por
apresentadas, como a divisão dos cursos por exemplo, à formação de técnicos.
valorização da cultura e na realização de profissionais da área. Incorporada ao dia a
em ciclos – básico e profissionalizante Nesse sentido, o Governo Federal criou
projetos estratégicos de desenvolvimento dia das universidades, a avaliação seria a base
–, de modo a evitar que o estudante seja os chamados Institutos Federais de
regional e nacional. para o seu desenvolvimento, para o aumento
obrigado a fazer sua escolha profissional Tecnologia. O projeto teve êxito parcial,
Uma das principais bandeiras levantadas precocemente, o que leva a um alto da qualidade de seus quadros docentes, de seu
pois houve pressão dos próprios institutos
pelo documento da ABC foi a de que, para índice de desistência. Nas universidades ensino e de sua produção intelectual e para
para se tornarem universidades.
que o sistema de ensino superior brasileiro sua expansão regional e nacional.
cumprisse plenamente seus objetivos, seria Quanto ao financiamento das
preciso, em primeiro lugar, estabelecer novos compostos por ciclos de curta duração, índice global de desistência nas universidades universidades públicas pelo governo, este
paradigmas curriculares, que levassem a uma respeitando a especificidade de cada área de brasileiras seja incomumente elevado. seria garantido apenas para custeio de
formação ampla e sólida no primeiro ciclo de conhecimento. Os alunos seriam selecionados O modelo proposto incluía, por fim, despesas básicas e necessárias para o bom
ensino superior. Justifica esse argumento a para ingresso em uma de três grandes áreas – uma redução substancial da carga horária funcionamento dessas instituições. Formas
constatação de que a formação especializada Ciências Básicas e Engenharia (CBE), Ciências obrigatória, compensada por uma formação adicionais de financiamento, especialmente
se torna rapidamente obsoleta frente ao da Vida (CV) e Humanidades, Artes e Ciências mais abrangente promovida por meio de aquelas que permitem maior aproximação da
crescimento explosivo da inovação tecnológica Sociais (HACS) –, cada uma delas com um disciplinas eletivas e oficinas de trabalho. A graduação com a pós-graduação e a pesquisa, qualitativo dos cursos de graduação estariam O financiamento público a pesquisadores de
e ao caráter cada vez mais interdisciplinar dos ciclo básico interdisciplinar que apresentaria iniciativa individual e o trabalho em grupo estariam condicionadas à avaliação de mérito entre suas atribuições. instituições privadas passaria pelos mesmos
avanços no conhecimento. seus fundamentos gerais. Após terminar fora de sala de aula seriam estimulados, bem dos projetos apresentados e sua continuidade O mecanismo de financiamento das critérios de avaliação e acompanhamento
Na prática, a proposta da ABC se esse ciclo, os estudantes receberiam um como a participação ativa e o desenvolvimento dependeria de acompanhamento regular por pesquisas por meio de projetos submetidos usados para os pesquisadores de instituições
traduziria em cursos universitários diploma e, se tivessem interesse, poderiam do espírito crítico dos estudantes no processo comissões de especialistas externos. às agências de fomento já existentes seria públicas e consideraria ainda a estabilidade da
se matricular em um ciclo posterior, cujas de aprendizagem. Outra proposta do grupo de trabalho preservado – e até reforçado –, evitando-se, instituição, a contrapartida por ela oferecida e
vagas seriam preenchidas com base em seu da ABC foi a criação de um fundo para o no entanto, o repasse direto às universidades sua estrutura de carreira docente.
desempenho no ciclo básico. Mecanismos para aprimorar desenvolvimento do ensino de graduação, a para distribuição interna. Esses recursos Por meio dessas propostas, a ABC levantou
Para os Acadêmicos, a formação o ensino superior ser gerido por órgão de atuação semelhante à deveriam ser acompanhados de um a ideia de uma reforma do ensino superior
universitária inicial de caráter mais abrangente, A proposta da ABC não se restringiu, no Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal percentual destinado à infraestrutura da que valorizasse o mérito, a liberdade
ao evitar a especialização prematura, teria entanto, às reformas curriculares. O grupo de Nível Superior (Capes). Nos primeiros anos instituição, a ser fornecido pelo Fundo acadêmica, a formação de lideranças
reflexos positivos na ampliação do ingresso e na de estudos defendeu, por exemplo, a de funcionamento, seu alvo principal seria Setorial de Infraestrutura. intelectuais, a pesquisa de excelência e a
redução da evasão de alunos da universidade. diversificação do rol de instituições de ensino o sistema de instituições federais de ensino A ABC sugeriu ainda a criação de um interação da universidade com a sociedade.
Segundo eles, o processo de seleção em que os no Brasil como estratégia para ampliar superior e, depois, as demais instituições sistema nacional de laboratórios associados,
estudantes competem por vagas em carreiras o alcance da formação superior. Além de públicas e privadas. O financiamento de que financiaria, por quatro anos, com
predefinidas é uma das principais causas da universidades abrangentes (de grande projetos (inclusive de infraestrutura), a possibilidade de renovação, projetos de c i ê nc i a , t e c no lo g i a e saú d e no b ra s i l
– e nt r e o u t ra s á r e a s – d e p e nd e m da
ineficiência das universidades públicas do país. porte), haveria, por exemplo, universidades concessão de bolsas e auxílios e outros instituições de ensino e pesquisa que tivessem e d u c aç ão d e q ua li da d e .
A escolha precoce e estanque faz com que o técnicas, que teriam vários graus de mecanismos necessários ao desenvolvimento sido alvo de avaliação criteriosa de mérito. f i o c r u z i mag e ns / p e t e r i li c c i e v
166 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s ações m educação 167

Desde 2004, a instituição vem acompanhando discutidas no documento de 2004, olhando estudantes universitários brasileiros estão à ciência é parte essencial da cidadania nas

Palavra do com atenção as discussões sobre o tema e já


contribuiu efetivamente para o planejamento
para a situação atual do ensino superior no
Brasil. Os resultados do trabalho desse novo
nessas instituições.
O novo documento também enfatiza
sociedades modernas. Ela habilita os indivíduos
a lançar mão de conceitos científicos básicos
Acadêmico de novas universidades que surgiram desde grupo, que visa atualizar informações e alguns pontos já defendidos anteriormente, para compreender e tomar decisões a
então, como a Universidade Federal do constatar novidades da área, foram reunidos como a necessidade de diversificação respeito do mundo natural, assim como os
“O Brasil precisa de universidades ABC e a Universidade Federal do Sul da Bahia, em um documento que se encontra em fase das instituições de ensino superior e de capacita a reconhecer questões científicas,
modernas, que estimulem a criatividade que colocaram em prática várias final de revisão, com previsão de publicação flexibilização dos programas universitários, usar evidências, chegar a conclusões bem
e o empreendedorismo entre os das recomendações feitas pela Academia em 2017. para que os alunos possam ter percursos embasadas e comunicar essas conclusões.
estudantes e permitam que eles tenham (veja o quadro ‘Casos de sucesso’). Uma das mudanças verificadas no diferenciados dentro de uma mesma No Brasil, no entanto, a formação
contato, de forma mais dinâmica, com ensino superior no Brasil em relação ao instituição. Outra importante questão científica deixa – e muito – a desejar. O
outros setores da sociedade.” O futuro das universidades brasileiras cenário de 2004 é a presença de grandes reforçada é o maior tempo de duração da conhecimento dos estudantes brasileiros
— Luiz Davidovich, em entrevista à equipe Uma década após a publicação do documento conglomerados de universidades privadas, formação universitária, para que alunos de ensino fundamental e médio acerca de
do Centenário da ABC Subsídios para a Reforma da Educação Superior, que têm como objetivo principal o lucro. com mais dificuldades tenham tempo de conceitos científicos é extremamente baixo,
a ABC criou, em 2015, um novo grupo Essas universidades, em geral, não são bem se recuperar, sem prejuízo para alunos de como reiteradamente demonstrado pelos
de estudos com o tema ‘Universidades’. avaliadas pelo MEC, o que é motivo de melhor desempenho, que poderiam avançar resultados do Programa Internacional de
Os especialistas retomaram as questões preocupação, uma vez que cerca de 75% dos em sua formação. Aspectos relativos à Avaliação de Alunos (PISA), desenvolvido pela
autonomia e à avaliação das universidades f i o c r u z i mag e ns / p e t e r i li c c i e v OCDE. Entre os quase 60 países avaliados
também foram novamente discutidos. em ciências, matemática e leitura, o país
a mel horia do ensino básico é
pré-requisito para o aperfeiçoamento No debate atual sobre o ensino superior Educação básica: ponte para ocupa as últimas posições.
do ensino superior. no Brasil, a relação entre educação e o desenvolvimento Essa deficiência é sentida no dia a
fiocruz imag ens/ raul santana
desenvolvimento surge como uma das A melhoria do sistema de ensino superior dia pelos professores universitários, que
principais questões. Vários setores da está condicionada a uma reforma profunda observam que muitos de seus estudantes,
sociedade reconhecem que há um nó no na educação em nível fundamental e médio, mesmo quando oriundos de escolas
desenvolvimento do país: a produtividade. de modo a reduzir a dificuldade de acesso consideradas de boa qualidade, terminam
No Brasil, a produtividade do trabalhador é das camadas menos favorecidas da população a educação básica e chegam à universidade
cinco vezes menor do que nos Estados Unidos, à universidade pública, maximizando a sem condições de utilizar informações e
por exemplo. E isso se deve, em boa parte, diversidade sem prejudicar a qualidade conhecimentos científicos para entender
à educação deficiente. da educação fornecida. Ações afirmativas o mundo que os cerca ou resolver problemas
Além disso, o desenvolvimento de inclusão são necessárias, não apenas e questões que lhes são colocados.
nacional é prejudicado pelo baixo número na universidade, mas em todo o sistema A empobrecida educação científica dos
de pesquisadores. Nosso país tem dez educacional brasileiro. A questão central a jovens estudantes brasileiros advém de um
vezes menos pesquisadores por milhão ser enfrentada é a desigualdade social e de problema bem maior e mais profundo, que
de habitantes do que a média dos países oportunidades, que afeta indivíduos dos mais é a precariedade da educação básica em
da Organização para a Cooperação e variados grupos étnicos e culturais. nosso país. Embora haja, na sociedade, um
Desenvolvimento Econômico (OCDE), cuja Para refletir sobre as questões reconhecimento desta deficiência, poucas
maioria dos membros é composta por nações fundamentais da educação que antecede a iniciativas apontam para um diagnóstico
consideradas desenvolvidas, com PIB per entrada nas universidades, a ABC estabeleceu correto de suas causas ou sugerem políticas
capita e índice de desenvolvimento humano seu segundo grupo de estudos sobre o tema, factíveis para solucioná-la.
elevados. Por isso, o grupo de estudos reforça cujos resultados foram reunidos no livro O
a necessidade de universidades modernas Ensino de Ciências e a Educação Básica: Propostas Como manter os jovens na escola?
no Brasil incentivarem a criatividade e o para Superar a Crise, publicado em 2008. Outro problema que precisa ser atacado para
empreendedorismo e estimularem o contato Assim como a formação no uso da a formação bem-sucedida de novas gerações,
dinâmico com outros setores da sociedade. linguagem e nas humanidades, a iniciação e que está intimamente relacionado à má
168 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s ações m educação 169

qualidade do ensino, é a evasão escolar.


Segundo dados da Pesquisa Nacional por
Palavra do Amostra de Domicílios de 2005, citados na
Propostas para um ensino básico efetiva entre as escolas e a atividade
de qualidade econômica local, envolvendo as empresas
Acadêmico publicação da ABC, embora, entre os 8 e 14
> Valorização da carreira de professor: em atividades educativas, para dar aos
anos de idade, a quase totalidade das crianças
Melhorar substancialmente a alunos experiência concreta de trabalho
“É importante que o salário inicial brasileiras frequente a escola, a partir daí remuneração e o reconhecimento do supervisionado.
do professor da educação básica a porcentagem de jovens que estuda cai trabalho do professor, além de repensar > Atividades sistemáticas de difusão
seja comparável ao salário de outras rapidamente – aos 18 anos, representa menos os atuais regimes de trabalho e vincular científica: Incentivar, por meio dos
profissões graduadas. O interesse é da metade da população nessa faixa etária. as carreiras e os benefícios à qualificação governos municipais, estaduais e
atrair os melhores alunos da educação Uma parte desses adolescentes começa, e ao desempenho dos professores. federal, atividades de difusão científica
básica para essa carreira – para isso, a partir dos 10 ou 12 anos, a ter algum tipo > Aumento da duração do turno escolar: dirigidas a crianças e adolescentes, por
temos que oferecer boas condições.” ­ de trabalho produtivo, o que leva quase Estimular a implantação progressiva, em meio de oficinas, centros e museus de
— Luiz Davidovich, em entrevista à equipe automaticamente à conclusão de que é a todo o país, de regime escolar em turno ciência que interajam fortemente
do Centenário da ABC necessidade de trabalhar que afasta os jovens completo, de, pelo menos, seis horas com as escolas.
da escola. Porém, um olhar mais cuidadoso diárias. > Ensino de língua portuguesa: Deve ser
> Melhorias na infraestrutura das escolas: vivo, pela leitura constante e exercício
sobre os dados revela que, na atualidade,
Garantir o básico (banheiro, luz, água u ma da s p r o p o s ta s da a b c é va lo r i z a r o permanente da escrita e da comunicação
a e va são e sco la r é um do s pr o ble m as as oportunidades de trabalho são cada vez e ns i no p r o f i s s i o na l na e d u c aç ão b á s i c a .
e n f re n ta d o s pe la e ducação básica n o encanada, carteiras, por exemplo), além de oral, permitindo que os estudantes sejam
menores para quem não tem instrução – o f i o c r u z i mag e ns / rau l sa nta na
b ra sil. u ma par ce la im po r ta n te do s considerar a existência de laboratórios e de capazes de ler, entender e comunicar
jo v e n s a pa r tir do s 1 7 o u 1 8 an o s não dado triste por trás dessa tendência é que,
computadores, bem como o treinamento verbalmente o conteúdo de um texto
e st u da , n e m tra ba lha . a partir dos 17 ou 18 anos de idade, cerca de de professores para uso dos mesmos. descredenciar cursos de licenciatura ou obra literária e escrever textos de
f io c ru z image n s / raul sa n ta na
15% dos jovens nem trabalha, nem estuda. A > Fortalecimento dos diretores de escola: que obtenham resultados negativos na forma coerente.
evasão parece ser, na verdade, resultado direto fi oc ru z i m age n s / rau l sa n ta na Descentralizar as responsabilidades das avaliação do MEC; rever as políticas de > Ensino de matemática: Como ferramenta
Secretarias de Educação, dando maior formação continuada de professores; avaliar fundamental para o desenvolvimento
autonomia às escolas para tornar o as experiências atuais de formação de do raciocínio lógico e parte essencial
sistema mais eficiente do ponto de vista professores pela educação a distância antes da linguagem de todas as ciências, deve
educacional e administrativo. de uma expansão em caráter nacional. oferecer o suporte adequado para as
> Avaliações educacionais nacionais e regionais: > Alfabetização infantil: É imprescindível outras disciplinas do currículo.
Valorizar as avaliações sistemáticas, que, ao final do segundo ano do primeiro > Ensino de ciências: Deve estimular a
vinculadas aos programas de ensino, e a grau, todas as crianças que não tenham curiosidade natural e a criatividade dos
utilização dos resultados dessas avaliações deficiências graves estejam plenamente alunos, de modo que, desde o início do
para definir ações específicas que possam alfabetizadas, lendo com fluência, ensino fundamental, eles aprendam a
corrigir os problemas encontrados. entendendo o que leem e se expressando observar, questionar, formular hipóteses,
> Reorganização dos cursos de formação de de forma oral e escrita. experimentar e verificar suas conclusões.
professores: Garantir a formação adequada > Reformulação dos currículos do > Ensino de língua estrangeira: Objetivar,
do professor, reforçando o conteúdo ensino básico: Incentivar atividades no ensino de inglês, que todos os
científico nos cursos de licenciatura multidisciplinares e participação em estudantes, ao concluir o ensino médio,
de ciências e matemática; incentivar a projetos e considerar a redução do número sejam capazes, pelo menos, de ler textos
formação qualificada de licenciados, com de disciplinas, a partir do sexto ano, para de baixa complexidade.
atenção especial para áreas com deficiência algumas essenciais na formação básica > Ensino de humanidades: Dar aos alunos
de profissionais; criar um sistema de do estudante, e complementação com acesso ao patrimônio cultural, literário
certificação de competência docente, que atividades multidisciplinares. e artístico, brasileiro e universal, assim
permita o exercício do magistério por > Diversificação do ensino médio: Valorizar como conhecimento de aspectos centrais
outros profissionais de nível superior; o ensino profissional e a aproximação da sociedade e da cultura em que vivem.
170 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s ações m educação 171

orientação de um professor que também tenha iniciar uma alfabetização adequada, que

Palavra da passado por esses aprendizados.


Segundo os especialistas ouvidos pela
Palavra do permita aos alunos estabelecer as conexões
neuronais necessárias à aprendizagem. A
Acadêmica ABC, esta é uma lacuna grave na formação Acadêmico capacidade de efetuar uma leitura eficiente
de educadores que atuam em todas as é um processo de complexas adaptações do
“Apesar do avanço na área da educação
“Educação e ciências andam de braços áreas da ciência, e que não será preenchida sistema nervoso, que necessitam de estímulo
infantil, especialmente com o aumento
dados, uma precisa da outra. Por isso, apenas pelo aparelhamento das escolas e orientação externa. Essa capacidade se
do número de vagas em creches, é
a ABC sempre se preocupou com a com laboratórios. Afinal, não basta ter baseia no reconhecimento de que símbolos
preciso focar as crianças mais pobres,
educação em geral, e com o ensino de equipamentos, reagentes, bancadas: é preciso representam unidades que, quando agrupadas,
que são as mais necessitadas e ainda
ciências em particular.” ­ saber utilizá-los. ficam de fora desse processo de formam palavras. A aquisição da leitura torna-
­ Débora Foguel, em entrevista à equipe
— Uma solução possível, e que já vem sendo universalização do ensino.” se mais fácil quando essas palavras já são de
do Centenário da ABC aplicada em proporções modestas no Brasil, — Aloísio Pessoa de Araújo, em entrevista conhecimento prévio do aprendiz.
é envolver os professores em formação nas à equipe do Centenário da ABC
atividades de iniciação científica, para que Em busca de equilíbrio
da má qualidade da educação básica, unida possam experimentar o fazer científico em Vários estudos mostram que é possível
às altas taxas de retenção escolar, sobretudo laboratórios de suas próprias universidades quanto os genes por meio dos quais elas se compensar parcialmente os ambientes
entre os jovens de famílias de baixa renda. ou centros associados. Alguns programas estabelecem. A neurobiologia, por sua vez, familiares adversos na primeira infância
A ABC considera fundamental que oferecem iniciação científica também indica que grande parte do desenvolvimento com investimentos na educação pré-escolar.
se estabeleça um compromisso de toda para alunos do ensino médio, um modelo cerebral ocorre do pré-natal aos primeiros Pesquisas em economia mostram que tais
a sociedade com a definição de políticas que pode ser expandido para obtenção de anos de vida, o que torna este um período investimentos, realizados em fases precoces
educacionais, que devem passar a ser políticas educação brasileira possa passar a um patamar sobre a contribuição do ensino técnico- resultados mais eficazes. sensível para a aquisição das habilidades da vida e capazes de produzir habilidades
de Estado, em vez de políticas de governo – isto mais alto de qualidade (leia o quadro ‘Propostas profissionalizante e do ensino não formal, envolvidas no processo de aprendizagem que possam ser usadas no desenvolvimento
é, políticas duradouras, cujos resultados não se para um ensino básico de qualidade’). como o que acontece em museus e centros de Antes da escola da linguagem. de outras habilidades (como a formação
verá em poucos anos, mas sim em décadas. ciências. Mas, além das especificidades de cada Paralelamente à proposição de iniciativas Os especialistas argumentam, ainda, que, de engenheiro, que requer conhecimentos
É ainda fortemente recomendável que o Educação em ciências: estado da arte área, aponta para uma carência comum: a da que ajudem a melhorar a educação básica no por uma série de fatores econômicos, sociais básicos de álgebra), têm grande
Brasil aumente seus investimentos em educação Em 2015, a ABC constituiu novo grupo de vivência do método científico nas escolas. Brasil, a ABC dedicou-se ao estudo de como e culturais, algumas famílias não conseguem rentabilidade. Mas as grandes políticas
básica e atente, especialmente, à melhoria estudos sobre o ensino de ciências, com Essa carência decorre de uma deficiência aquilo que acontece na primeira infância, criar ambientes favoráveis ao aprendizado, o públicas de educação têm ignorado todas
substancial da remuneração dos professores, apoio da BG Brasil. A estratégia utilizada foi na própria formação do professor de ciências, e, portanto, antes da idade escolar, pode que resulta em sérias consequências para seus as evidências científicas.
à ampliação do turno escolar e à efetiva reunir Acadêmicos e especialistas na área da que muitas vezes não teve a oportunidade impactar a educação de uma maneira geral. filhos. Desigualdades no desenvolvimento Vale notar, no entanto, que já se observa
alfabetização infantil. Sem isso, quaisquer educação para discutir temas importantes de, durante a graduação, experimentar de Um grupo de estudos sobre aprendizagem cognitivo na primeira infância, relacionadas um movimento de diferentes níveis de governo
outras propostas terão efeito reduzido na acerca do ensino das disciplinas de ciências, fato como a ciência é feita. Sem essa vivência, infantil publicou, em 2011, algumas reflexões a diferenças no nível de educação da mãe, no sentido de abrir mais vagas para essa etapa
transformação da educação básica em nosso país. tecnologias, engenharias e matemática o professor tende a repetir o conteúdo e recomendações para que o Brasil comece a por exemplo, persistem ao longo da trajetória de ensino. Outro grande avanço foi obtido com
A Academia acredita que seja possível (expressão conhecida pelo acrônimo em inglês dos livros didáticos como conhecimento investir em seus estudantes muito antes de educacional da criança. Algumas habilidades não um projeto de emenda constitucional aprovado
alcançar melhor educação por caminhos STEM). Os resultados serão publicados em consolidado, deixando de lado a percepção de sua chegada à sala de aula, apresentadas no cognitivas, como perseverança e criatividade, pelo Congresso Nacional em 2009, que torna
diferentes, e todas as políticas que possam ser 2017, em mais um volume da série de estudos que o que hoje se considera fato é resultado livro Aprendizagem Infantil: uma abordagem da também ficam comprometidas, embora outras, obrigatória a matrícula escolar para crianças
sugeridas estão sujeitas a controvérsias. Mas, estratégicos da Academia. O momento não de séculos de experimentação. neurociência, economia e psicologia cognitiva. como disciplina, interação social e obediência
apoiada no trabalho de especialistas, oferece podia ser mais apropriado: atualmente, o Brasil Para que os alunos de fato conheçam Estudos sobre o desenvolvimento humano à hierarquia, ainda possam ser adquiridas em
uma série de recomendações para que a discute uma ampla reforma no ensino médio e a ciência – para que conheçam o método mostram que as pessoas aprendem, desde fases posteriores do processo educacional.
a reformulação de suas bases curriculares. científico, para que saibam formular hipóteses os primeiros anos de vida, habilidades que Segundo pesquisas identificadas pelo grupo
b ra sil p re c isa aum e n tar se us A nova publicação traz artigos de e refutá-las, para que saibam desenhar podem explicar grande parte de seu sucesso da ABC, alunos que tiveram mais estímulos
in ve st ime nto s e m e ducação básica – especialistas sobre o papel de cada disciplina experimentos e analisar dados –, é preciso viver econômico e social. A família desempenha cognitivos até os quatro anos chegam à escola
e n t re o u t r o s m o tivo s, pa ra m e lho ra r
a re mu n e ração do s pr o fe sso r e s.
científica – química, física, biologia etc. a ciência em sala de aula ou nos laboratórios papel crucial no desenvolvimento dessas em melhores condições de aprender. A partir
f io c ru z image n s / pe te r iliccie v – na educação em ciências, e também especializados. E isso só se torna possível com a habilidades, pois fornece tanto o ambiente dessa idade, a escola tem menos chance de
172 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s ações m educação 173

sua vida. Por isso, é importante incorporar das combinações entre eles. Segundo os Educação Básica (Saeb) divulgados pelo MEC
no atendimento pré e pós-natal dos serviços pesquisadores, os Parâmetros Curriculares indicam uma melhora da educação brasileira
de saúde pública e assistência familiar já Nacionais para o ensino da leitura e da nessa faixa de ensino, com desempenho
existentes a atenção ao desenvolvimento escrita e as diretrizes curriculares oficiais satisfatório em língua portuguesa e perto
cognitivo e linguístico das crianças. Como de importantes cidades e estados brasileiros do satisfatório em matemática, o que está
parte desse processo, é preciso incentivar e contêm afirmações diametralmente opostas associado à melhora na educação infantil.
capacitar os profissionais de saúde. ao que estabelece o conhecimento científico O principal legado de todo esse trabalho
Além disso, deve ser prioridade o consagrado nesse campo. foi a criação de creches, o que aumentou
diagnóstico precoce de condições que afetem As orientações, os currículos e os muito a oferta de vagas para crianças. Mas o
o desenvolvimento posterior da criança, tanto programas de ensino deveriam levar em grupo de estudos pensava a educação infantil
na linguagem quanto na sociabilidade, e o conta a importância de se estimular essa de forma mais ampla, com outras possíveis
oferecimento de tratamentos adequados para capacidade de decodificação fonológica no intervenções, que fossem feitas mais cedo
crianças com necessidades especiais, como início da alfabetização. A leitura em voz alta, (para crianças de dois anos, por exemplo)
déficits auditivos e visuais e transtornos do que contribui para a ativação da área cerebral peter hershey
e estivessem inclusive associadas à área da
espectro autista. relacionada ao processamento auditivo saúde. O alto custo desse tipo de iniciativa fez
Para estabelecer processos mais eficientes e favorece, assim, o desenvolvimento da sua expansão ser mais lenta.
de 4 a 5 anos. Além disso, o Plano Nacional para o seu desenvolvimento. Essas políticas de alfabetização, a prática educacional deve capacidade da associação entre sons e símbolos fazer estudos quantitativos sobre os custos e Outro ponto abordado pelo grupo de
de Educação (PNE) prevê matrícula para 50% devem minimizar o efeito de fatores de ser norteada pelas evidências científicas. Os gráficos, é uma prática a ser estimulada. Além benefícios dos diversos métodos de ensino. estudos que não chegou a ser revertido em
das crianças de 0 a 3 anos em 2022 – porém, risco como a condição socioeconômica dos conhecimentos sobre como o cérebro atua disso, é preciso estabelecer critérios para aferir Junto a essas ações estaria a criação ações concretas do governo foi a criação de
isso ainda é muito pouco para um país como pais. Recomenda-se, também, atendimento durante o processo de aprendizado da leitura se os alunos estão sendo alfabetizados até, no de centros de ensino de nível médio e centros dedicados à pesquisa em educação
o Brasil, onde a maioria das crianças vem diferenciado a famílias em condições críticas, podem ser grandes aliados dos educadores, máximo, a idade de sete anos. superior para capacitação e certificação de infantil. A ideia é que eles fossem criados em
de família de baixa renda per capita e baixa como aquelas com problemas relacionados a seja na escolha da estratégia de ensino, seja Outra medida importante é o profissionais para apoio às instituições de universidades e outras instituições de ensino
educação dos pais. Essa situação, agravada violência e pobreza extrema. na eventual mudança da opção escolhida estabelecimento de políticas de adoção e pré-escola e séries iniciais de aprendizagem. superior, para ajudar a estabelecer um padrão
pela qualidade duvidosa da maioria das Uma medida adequada seria a construção para se adequar a alunos que, por causas aquisição de livros e materiais didáticos Essa formação, tanto teórica quanto para a educação infantil.
creches, tende a perpetuar boa parte da alta de creches de alta qualidade nas regiões de diversas, possam apresentar limitações em com conteúdo rico e variado, capazes prática, deve estar alinhada às necessidades Além disso, embora o aumento no número
desigualdade de renda em nosso país. baixo desempenho escolar. Tanto para as certo tipo de aprendizado. A compreensão de contribuir para o desenvolvimento específicas da primeira infância e da de vagas em creches tenha sido um grande
O grupo de estudos da ABC defende que, creches quanto para as pré-escolas, é preciso dos processos associados ao desenvolvimento das múltiplas competências associadas alfabetização e aos conhecimentos científicos avanço na área da educação infantil, as
para corrigir as desigualdades educacionais estabelecer mecanismos de regulação que funcional e anatômico das diferentes áreas ao processo de alfabetização, bem como mais atuais sobre os fatores que promovem o crianças mais pobres, oriundas de famílias
e permitir a absorção de um número maior assegurem a qualidade dos atendentes, a cerebrais relacionadas ao aprendizado políticas para criar e manter atualizadas desenvolvimento infantil. menos escolarizadas – e que são as mais
de adolescentes em faixas mais elevadas de proporção adequada entre adultos e crianças, da leitura, bem como o uso de técnicas bibliotecas na escola e em sala de aula. necessitadas de um suporte adequado para
educação, é preciso fazer intervenções nos equipamentos, livros e infraestrutura, de avançadas capazes de demonstrar algum O grupo de estudos da ABC considera Inegável impacto promover seu desenvolvimento – ainda não
primeiros anos de vida da criança. Uma das forma a promover o desenvolvimento integral atraso na ativação dessas regiões do cérebro, igualmente importante que se criem centros As recomendações do grupo de estudos da têm amplo acesso à escola.
medidas possíveis seria estabelecer políticas da criança e atitudes que favoreçam o sucesso poderão servir, no futuro, para a identificação de pesquisa em educação infantil nas ABC tiveram impacto sobre políticas públicas
integradas e flexíveis de atendimento às da escolarização posterior. precoce, na fase pré-escolar, de crianças que universidades brasileiras públicas e privadas, na área de educação infantil, tanto em nível Educação total
famílias com crianças pequenas, conforme Outro caminho é concentrar recursos já no terão dificuldade de ler. principalmente para estimular a formulação municipal quanto federal. Participantes do Com esse que é um dos principais conjuntos
suas diferentes necessidades, visando período pré-natal, aliando políticas de saúde de experimentos e o levantamento sistemático grupo atuaram como consultores de diferentes de seus estudos estratégicos, a ABC espera
assegurar o direito a condições básicas e educação, inclusive instruindo os pais sobre Propostas baseadas em evidências de dados que explorem o relacionamento da esferas do governo, e o documento publicado contribuir para a melhoria da qualidade
a aprendizagem infantil. Os cuidados com a Apoiado em resultados de trabalhos científicos neurobiologia e da psicologia com a educação. serviu de base para diversas iniciativas. da educação brasileira em seus diferentes
saúde e a nutrição durante o pré-natal e nos internacionais, o grupo de estudos argumenta Esses centros poderiam ser financiados tanto O grupo acredita que já é possível observar segmentos. Embora alguns dos grupos de
in t e rve n ç õe s e ducativas n o s pr im e ir o s primeiros anos de vida são determinantes para a favor da introdução de práticas do método pela iniciativa privada quanto por órgãos um impulso no desempenho escolar de trabalho já tenham encerrado suas atividades,
a n o s d e v ida a j uda m a m in im iz a r o r isco a plasticidade cerebral e, consequentemente, fônico nos processos de alfabetização das públicos como o MEC e seriam conduzidos crianças entre 6 e 10 anos, que integram o novos grupos surgem para atualizar essas
d e p ro b le mas de de se n vo lvim e n to das
c ria n ç a s.
para o desenvolvimento educacional, bem crianças brasileiras – isto é, a apresentação por educadores, neurocientistas, pediatras 1º ciclo do ensino fundamental – resultados reflexões e propor novas soluções para a
p ix a bay. c o m /do m ín io público como para a saúde do indivíduo ao longo de dos sons de cada letra e, em seguida, e economistas. Estes últimos poderiam recentes do Sistema Nacional de Avaliação da educação no Brasil.
174 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s ações m meio ambiente 175

Debates sobre A
relação entre as atividades humanas
e o planeta que habitamos é uma das
grandes questões de nosso tempo.
Entre as muitas pautas que tangem
o desenvolvimento sustentável, a ABC escolheu

meio ambiente
duas para iniciar seus estudos estratégicos
relacionados ao meio ambiente: a Amazônia e o
Código Florestal Brasileiro.
Uma das maiores florestas do mundo,
habitada por populações indígenas que dela
tiram seu sustento e interrompida em vários
pontos por cidades que cresceram além da conta,
a Amazônia coloca uma série de desafios para
a política ambiental brasileira. A pergunta que
norteia esse estudo é: como conciliar crescimento
socioeconômico e preservação ambiental?
Algumas reflexões e recomendações da Academia
foram publicadas em livro em 2008.
Em 2011, a ABC voltou-se novamente à
temática ambiental, unindo-se à SBPC em prol
de uma participação mais efetiva da comunidade
científica na reformulação do Código Florestal.
Juntas, as instituições formaram um grupo
de trabalho com o intuito de oferecer dados
e argumentos técnico-científicos capazes de
subsidiar as discussões em torno das mudanças ja i me s pa ni o l

propostas pelo então Projeto de Lei n.o 1.876/99.

Desenvolvimento e preservação, ambiental e desejo de desenvolvimento Ao reunir especialistas para discutir essas
uma união possível econômico e social cria uma situação questões, a ABC manifesta a confiança de
Ao pensar em Amazônia, a maioria das singular. Não há exemplo a ser copiado na que a ciência pode ajudar a criar soluções
pessoas tem em mente imagens de floresta busca de um crescimento sustentável, pois que proporcionem um desenvolvimento
intocada, habitada por uma rica variedade não há no mundo modelo de país tropical sustentável à região amazônica. No entanto,
de espécies animais e vegetais. A região desenvolvido cuja economia seja baseada em para isso, uma das necessidades mais
ainda tem, é claro, áreas de mata virgem, recursos naturais diversificados. A Amazônia básicas a serem atendidas é a existência e
onde vivem bichos e plantas que a ciência apresenta-se como um desafio complexo, a consolidação de instituições de pesquisa
desconhece. Mas, nas últimas décadas, vê-se que vai muito além da antiga antítese locais, dedicadas aos problemas relevantes
surgir uma outra faceta da Amazônia: uma preservação versus destruição. A pobreza, para a Amazônia.
região com cidades que crescem, habitadas os impactos das mudanças climáticas e o Ora, a concentração de recursos e
por populações que demandam serviços e desgaste ambiental gerado pela expansão da instituições de ciência e tecnologia no eixo
ganhos econômicos. atividade agropecuária são os exemplos mais Sul-Sudeste do país não é novidade. Décadas
A coexistência de floresta e cidade traz destacados dos desafios que se apresentam, de investimentos localizados deixaram o
uma combinação de pressão por preservação mas há muitos outros. Norte e outras regiões do Brasil muito atrás
st e fa n st e i n baue r
176 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s ações m meio ambiente 177

l ac i e s l e z a k

Palavra do
Acadêmico
“A realidade socioeconômica da
Amazônia não acompanha sua
exuberância natural: o clima quente,
úmido e chuvoso, mais a vegetação
densa e os solos delicados, incapazes
de suportar agricultura em larga escala
sem o uso de tecnologias agrícolas
refinadas, dificultam a formação de
centros urbanos e a instalação de
infraestrutura básica para o transporte.
A grande biodiversidade, admirada
por turistas como uma maravilha da
natureza, acarreta a proliferação de
agentes patológicos e de vetores de
doenças como malária, febre amarela
e dengue.”
— Roberto Dall`Agnol e Adalberto Val

no quesito pesquisa científica de qualidade. uma articulação entre diferentes ministérios, e recursos minerais. Articulados, universidades
Mas a transformação dos recursos naturais governos e setores da sociedade, incluindo as e institutos serão capazes de fortalecer núcleos
amazônicos em riqueza tem forte relação de empresas que atuam no local. para o desenvolvimento de polos industriais
dependência com a disponibilidade e geração inovadores e descentralizados, voltados à
de conhecimentos e tecnologias adequadas à Linhas de ação inovação para a melhoria das condições
sua exploração sustentável. Uma das primeiras necessidades práticas é socioambientais e econômicas da Amazônia.
Por isso, uma das principais proposições a formação de recursos humanos para lidar Para serem implementadas, essas ações
feitas pela ABC na publicação, em 2008, de com os complexos desafios locais. A expansão requerem um grande aporte de recursos
seu estudo estratégico Amazônia: Desafio da pós-graduação na região amazônica é financeiros – um investimento que deve
Brasileiro do Séc. XXI foi o fortalecimento de um dos eixos centrais dessa proposta, e ser compensado no futuro breve, com a
uma rede local de pesquisa, condizente com depende de um melhor aproveitamento das emergência de novas atividades econômicas,
o rico patrimônio natural da região e com seu tecnologias da informação e de comunicações incluindo a expansão da industrialização,
potencial econômico, cultural e científico. – o que permitirá vencer o isolamento a ampliação das ofertas de emprego e o
Embora tenham existido, nas últimas décadas, regional e promover a pronta conexão por aproveitamento da mão-de-obra altamente
iniciativas de fomento à ciência e à tecnologia terra com as demais regiões do país.
na Amazônia, estas têm sido fragmentadas É urgente, também, a criação de institutos ac i m a :

e insuficientes. Um planejamento de longo científico-tecnológicos voltados para pesquisas u n i r p re s e rvaç ão a m bi e n ta l e


d e s e n v ol v i m e n t o e c on ôm i c o é o gra n d e
prazo, com projetos de grande porte para aplicadas, sobretudo nas áreas de recursos d e sa fi o e n fre n ta d o p e l a a m a z ôn i a .
o desenvolvimento da região, depende de florestais e biodiversidade, recursos aquáticos n e i l pa l m e r
178 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s ações m meio ambiente 179

evitar retrocessos na legislação ambiental.


Por isso, a ABC e a SBPC decidiram ni c k ka r vo u ni s
Desafios urgentes e metas alcançadas Tecnologias Minerais, em 2015, ambos desafio 4: Fortalecimento das redes
participar ativamente dos debates acerca da
No documento de 2008, a ABC identificou em Belém (PA). Há a expectativa, ainda, de informação
reformulação do Código Florestal em 2011.
quatro grandes desafios a serem superados da criação de um instituto voltado à O Governo do Estado do Pará tomou
iniciativas expressivas para a ampliação Esta iniciativa multi-institucional – que, além
na Amazônia. Passados quase dez anos, inovação em microeletrônica, com
alguns deles já dão sinais de melhora: papel importante no fomento do da rede de transmissão terrestre de de ABC e SBPC, incluiu diversas instituições
empreendedorismo e sediado em Manaus. dados em seu território. Porém, um de pesquisa, universidades, representações
desafio 1: Criação de novas universidades Embora sejam dados promissores, avanço ainda maior é esperado para profissionais e organizações civis – foi norteada
públicas na região permanece o desafio de descentralizar a 2017, quando deve entrar em operação pela perspectiva de novos conceitos e novos
Das três universidades recomendadas, pesquisa na região, para além de Belém e um satélite estacionário com o objetivo instrumentos tecnológicos para o planejamento
duas já foram efetivamente criadas: Manaus, que já são reconhecidos polos de suprir a região amazônica com o e ordenamento territorial, orientados para
a Universidade do Oeste do Pará e a de estudos da Amazônia. acesso à banda larga. Espera-se que a estimular o aumento da produtividade agrícola
Universidade do Sul-Sudeste do Pará, que medida possa proporcionar um salto no em harmonia com a sustentabilidade ambiental.
atendem polos regionais expressivos. Além desafio 3: Ampliação e fortalecimento desenvolvimento regional, com impacto Seus resultados explicitam as bases científicas
disso, a descentralização da Universidade da pós-graduação positivo sobre o sistema local de ciência,
para análise de vários temas do ambiente rural
Federal do Amazonas e a expansão da Reconhecendo a necessidade de expandir tecnologia e inovação.
e urbano que não deveriam ser desconsiderados
Universidade do Estado do Amazonas a formação, atração e fixação de recursos
na revisão da legislação florestal brasileira
contribuíram para uma maior cobertura humanos altamente qualificados em desafio 5: Modernização da infraestrutura
e estão reunidos no livro O Código Florestal e a
da educação superior em toda a região. ciência, tecnologia e inovação, a ABC de laboratórios
sugeriu medidas que ainda não foram Merecem destaque os dez Institutos Ciência: contribuições para o diálogo.
desafio 2: Criação de institutos científico- inteiramente adotadas. Embora os cursos Nacionais de Ciência e Tecnologia O primeiro passo para a preservação
tecnológicos associados ao ensino e à pesquisa de pós-graduação estejam passando, de (INCTs) instalados na região desde e conservação dos recursos naturais e a
tecnológica 1996 até o presente, por um período 2009 com o apoio, principalmente, do sustentabilidade da agricultura é o uso
A proposta inicial da ABC era criar, em de crescimento em relação ao que CNPq, da Capes e das fundações locais adequado das terras, planejado de acordo com
dez anos, três institutos de pesquisa em havia antes, nota-se que essa tendência de amparo à pesquisa. Voltados às sua aptidão, de modo a otimizar o potencial
torno de temas estratégicos – recursos tornou-se mais modesta de 2010 a 2016. questões científicas relevantes para a de utilização dos recursos naturais e garantir
florestais e da biodiversidade; recursos A previsão para os próximos anos é de região, os novos centros contam com sua disponibilidade para gerações futuras.
aquáticos; e recursos minerais. Nesse estagnação, o que sugere que a criação e laboratórios modernos e bem equipados No Brasil, o processo histórico de ocupação
sentido, foram fundados o Instituto o fortalecimento dos cursos de mestrado para pesquisar temas como biologia o b ra s i l a b r i ga p e lo me no s 2 0 % da s e s p é c i e s d o p la ne ta – mu i ta s
do território resultou, em alguns casos, no d e la s s ó e x i s t e m aq u i . p o r i s s o , a p r e s e r vaç ão da b i o d i ve r s i da d e
Tecnológico Vale de Desenvolvimento e doutorado na região ainda são um de vetores de doenças, crescimento de
aumento das pressões sobre o meio ambiente, d e ve e s ta r e nt r e a s p r i o r i da d e s da p o lí t i c a a mb i e nta l.
Sustentável, em 2010, e o Instituto de desafio importante. peixes e plantas e cenários ambientais.

qualificada. Esta será a base de um novo modelo mundo. “Na realidade”, escrevem os autores, dando passos largos para se tornar o primeiro
de desenvolvimento para a região amazônica, “chegou a hora de transformar as declarações país tropical plenamente desenvolvido”.
valorizando a floresta e seus produtos, de e as visões de futuro em realizações concretas,
modo que o mais atraente seja sua exploração que contribuam para melhorar a qualidade Avanços e retrocessos na reformulação
sustentável, e não sua derrubada – como de vida das populações amazônicas. Tal ação do Código Florestal
defende o paradigma da “floresta em pé”. deve ser desenvolvida com a proteção da O Brasil é um dos países com maior
Esse cenário, segundo os especialistas riqueza biológica, aproveitando-se de forma diversidade biológica no mundo, pois abriga
da ABC, é factível, desde que haja vontade sustentável a rica herança cultural e natural pelo menos 20% das espécies do planeta,
política para evitar que seja reproduzida na que hospeda um dos biomas mais importantes com altas taxas de endemismo. Diante da
Amazônia a ampliação das desigualdades, do planeta e o coração geográfico da América importância desse patrimônio natural único
como vemos em outras regiões do Brasil e do do Sul: a Amazônia. Ao fazê-lo, o Brasil estará e de seu potencial econômico, é preciso
f i o c r u z i mag e ns / r o d r i g o me x a s
180 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s ações m meio ambiente 181

e deslizamentos. O Código Florestal deveria,


portanto, estabelecer limites mínimos,
w ikimedia commons/
sharp photog raphy mas diferenciados para áreas urbanas sem
ocupação consolidada, enquanto os planos
diretores municipais de uso do solo tratariam
das áreas de risco com ocupação consolidada
ou determinariam limites mais rigorosos para
APPs às margens de cursos d’água, em encostas
ou topos de morro. O aumento de áreas verdes
nas cidades brasileiras levaria à diminuição
da erosão e do assoreamento, à atenuação da
temperatura e à elevação da umidade do ar,
aumentando o conforto térmico da população
e reduzindo a poluição atmosférica.
Manter pequenas frações de vegetação
nativa também diminui o isolamento dos
poucos fragmentos maiores, permitindo o
deslocamento das espécies pela paisagem
e retardando o processo de extinção. Além
disso, em regiões com alta ocupação humana,
áreas pequenas (com menos de 100 hectares)
representam uma parcela considerável dos
remanescentes florestais.
Uma alternativa apontada pelo grupo de dada à propriedade familiar, devido às suas O grupo de trabalho ressaltou ainda integrado de uso da terra, que compatibilize os
na perda de biodiversidade, na contaminação levando em conta alguns temas, escolhidos trabalho é o uso de áreas de baixa aptidão particularidades sociais e econômicas. Além a necessidade de garantir que todos os zoneamentos agrícolas e ecológico-econômicos
ambiental e em desequilíbrios sociais. Para por sua abrangência espacial, ambiental e agrícola e elevada aptidão florestal para disso, as propostas deveriam estar apoiadas produtores – principalmente os que têm com o ordenamento territorial e a revisão
reverter esse quadro, são necessárias medidas social. São eles: a legislação ambiental em compensar a Reserva Legal de regiões de maior no conhecimento científico e, em caso de menos acesso às tecnologias agrícolas do Código Florestal, visando à construção de
urgentes dos tomadores de decisão, como áreas urbanas; a alteração da largura de capacidade agrícola. Muitas dessas áreas, conclusões controversas, ficar pendentes e ser – integrem-se efetivamente a sistemas paisagens rurais com sustentabilidade social,
preservar áreas remanescentes de vegetação Áreas de Preservação Permanentes (APPs); a usadas inadequadamente para a agricultura incluídas em um programa para preenchimento produtivos técnica e ambientalmente ambiental e econômica.
nativa nas propriedades rurais – o que incorporação das APPs no cômputo da área e com rendimento econômico muito baixo, de lacunas do conhecimento financiado por corretos. A ocupação de áreas agrícolas deve
traz, inclusive, ganho econômico para os de Reserva Legal (RL); e a compensação da RL poderiam ser revertidas para florestas de instituições públicas. ser feita com base na sua aptidão, visando Questões abertas
produtores, pois essas áreas são essenciais fora da propriedade rural (na microbacia ou produção, usando espécies nativas. Essa nova política precisaria integrar o potencializar a produtividade com o menor O estudo da ABC e SBPC tornou-se referência
para manter a produtividade em sistemas no bioma). Tanto no Código da época quanto meio rural com o urbano, respeitando as impacto ambiental possível e respeitando as para as discussões relativas ao Novo Código
agropecuários, devido à sua influência direta no substitutivo, previa-se que as áreas urbanas Política ambiental integrada particularidades ambientais de cada bioma limitações e particularidades locais. Florestal, sancionado em 2012. Com a
na produção e conservação da água, da deveriam obedecer aos mesmos princípios e e participativa e o conceito de ordenamento territorial e Os dados científicos disponíveis e as publicação do estudo, os parlamentares
biodiversidade e do solo e na manutenção de limites das áreas rurais, a menos que planos A análise realizada pelo grupo de trabalho da planejamento da paisagem, usando para projeções indicam que o país pode resgatar dispunham de conhecimento científico
abrigo para agentes polinizadores, dispersores diretores e leis municipais determinassem ABC mostrou a necessidade e possibilidade de isso os recursos mais atuais e avançados de passivos ambientais sem prejudicar a produção
de sementes e inimigos naturais de pragas, parâmetros mais rigorosos para as urbanas. grandes avanços no Código Florestal de 1965. imageamento e modelagem computacional e a oferta de alimentos, fibras e energia,
entre outros benefícios. Quando se trata de ocupações humanas Para isso, seria desejável a consolidação de uma de terrenos. Também deveria ter uma visão mantendo a tendência de aumento continuado
pa ra o s e s p e c i a li s ta s da a b c , a le g i s laç ão
O estudo liderado pela ABC e pela SBPC de modo geral, o princípio de proteção à vida política ambiental fundamentada na construção integrada da propriedade rural em relação de produtividade das últimas décadas, desde a mb i e nta l d e ve s e r c o ns t r u í da d e f o r ma

analisou alguns dispositivos do Código deve ser privilegiado, evitando-se a ocupação participativa, consensual, com consulta a à sua adequação ambiental, considerando que sejam estabelecidas políticas mais pa r t i c i pat i va , i nc lu i nd o d i f e r e nt e s
s e t o r e s da s o c i e da d e – p r o d u t o r e s r u ra i s ,
Florestal de 1965, vigente na época de sua de áreas com risco de desastres naturais, todos os setores diretamente envolvidos, sem as áreas de produção agrícola, as áreas de consistentes de renda na agropecuária. Para c i e nt i s ta s , g o ve r na nt e s e t c .
realização, e do substitutivo proposto, principalmente os decorrentes de inundações privilégios – com exceção da atenção especial preservação e de uso misto. isso, é necessário um cuidadoso planejamento f i o c r u z i mag e ns / r o d r i g o me x a s
182 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s ações m meio ambiente 183

ac e rvo mma Palavra do


cientista
“Era importante atualizar
cientificamente as questões abordadas no
Código Florestal, uma vez que o código
vigente à época era fundamentado no
conhecimento adquirido décadas antes
e precisava evoluir muito.”
— José Antônio Aleixo da Silva, em
entrevista à equipe do Centenário da ABC

para sustentar as mudanças necessárias no


Código. No entanto, nem sempre as decisões
legislativas privilegiaram os dados técnicos
e científicos.
Atualmente, há três Ações Diretas de
Inconstitucionalidade (ADIN) relativas
ao Novo Código Florestal. Uma refere-
se à largura das Áreas de Preservação
Permanentes (APPs), que, apesar da
ac e rvo mma recomendação de ter um mínimo de 30
metros, foi aprovada com variações de 5,
8, 15, 20 e 30 metros. Outra diz respeito à
Reserva Legal, que, segundo o Novo Código, Entre as sugestões efetivamente sa nc i o na d o e m 2 0 1 2 , o no vo c ó d i g o
f lo r e s ta l b ra s i le i r o d e s c o ns i d e r o u
não é obrigatória para propriedades com implementadas, destaca-se o estabelecimento
u ma s é r i e d e r e c o me ndaç õ e s
menos de quatro módulos fiscais, pode do Cadastro Ambiental Rural, uma t é c ni c o - c i e nt í f i c a s .
ser recomposta com espécies exóticas e ferramenta inédita que permitirá o ac e r vo mma

pode ter APPs descontadas no cômputo de mapeamento das propriedades rurais e a


sua área. A terceira ADIN trata da anistia identificação de seu passivo ambiental.
para proprietários de terra que já tinham Mas o Brasil ainda tem muito o que
desmatado além do que a lei permitia. avançar na integração entre o planejamento
Para os especialistas, isso pode indicar que há agrícola e ambiental. Hoje, essas áreas são
hoje no Judiciário um ambiente mais propício à tratadas separadamente, mas seria mais
sustentação das evidências científicas relativas interessante aliar a regularização ambiental
aos tópicos abordados na legislação ambiental. das propriedades com estratégias agrícolas
Os argumentos usados nessas Ações Diretas de que visassem à produtividade.
Inconstitucionalidade estão fundamentados O Código Florestal é um tema que continua
em citações do livro da ABC/SBPC, e o grupo de em discussão, e a ciência tem o papel de gerar
estudos estratégicos tem sido consultado em conhecimento capaz de sustentar a formulação
audiências públicas relativas ao tema. de políticas públicas na área.
ações m r e c u r s o s nat u ra i s 185

Aproveitamento de N
ós, brasileiros, costumamos relatar
com orgulho que nosso país é repleto
de riquezas naturais: biodiversidade
impressionante, paisagens de tirar o
fôlego, solos férteis e clima favorável à agricultura

recursos naturais
são alguns exemplos óbvios dessas riquezas. Água
e minérios também o são, e foi sobre esses últimos
que a Academia Brasileira de Ciências realizou
estudos estratégicos para o aproveitamento dos
recursos naturais no país.
Em um contexto de aumento da população,
dos problemas ambientais e da crise econômica
mundial, a gestão compartilhada dos recursos
hídricos impõe-se como grande desafio.
Como enfrentaremos a escassez de água no
futuro próximo? Essa foi uma das perguntas
norteadoras do grupo de estudos ‘Águas do
Brasil’, que já produziu duas publicações sobre o
tema, em 2010 e 2014.
Para a pesquisa das riquezas mais escondidas,
precisamente abaixo da superfície – ouro, ferro, sobre a melhor forma de gerir a produção e recursos humanos. Passa, também, por uma
nióbio, níquel, cobre, zinco e outros minerais de distribuição de água potável, favorecendo a maior articulação da ciência com a gestão e a
grande potencial econômico –, a ABC estabeleceu um população do país como um todo. formulação de políticas públicas. As reflexões
grupo de estudos em 2011. Mas certamente não é O segundo tem a ver com a variedade de do grupo de estudos da ABC sobre o tema
esta sua primeira atividade relacionada ao tema: a espécies da nossa fauna e flora que depende foram publicadas nos livros Águas do Brasil:
história da exploração mineral no Brasil se confunde da água. O território brasileiro inclui um Análises Estratégicas, em 2010, e Recursos
com a própria história do país e, no período de grande conjunto de ecossistemas aquáticos Hídricos no Brasil, em 2014.
existência da ABC, também com a história da continentais, formado por rios, lagos, represas
entidade, que, desde o princípio, contava com vários artificiais, áreas alagadas etc.; seu valor Salto de qualidade
cientistas dedicados a essa área do conhecimento. ecológico, econômico e social é imenso. Porém, Nas décadas mais recentes, a gestão de
toda essa biodiversidade vem sendo ameaçada recursos hídricos no Brasil passou por alguns
Panorama cinzento pela descarga de esgotos não tratados, pela avanços expressivos. O principal deles
“O panorama atual da água no Brasil ainda contaminação por metais tóxicos, herbicidas foi começar a ver a questão da água sob
é cinzento”. A frase resume a situação de e pesticidas, pela remoção das matas ciliares diferentes pontos de vista: sustentabilidade
um país que, embora possua cerca de 12% da e pela degradação morfológica dos corpos de ambiental, social e econômica; legislação e
disponibilidade mundial dos recursos hídricos, água doce, entre outros fatores. agências de regulação; e arranjos políticos que
encontra enormes desafios na gestão das águas. Frente a essas questões de extrema incluem a participação da sociedade.
O primeiro deles, e mais evidente, é a relevância, a gestão compartilhada dos
distribuição desigual. A título de ilustração, recursos hídricos impõe-se como urgente e
80% das nossas reservas de água estão na apresenta múltiplas facetas. Por exemplo, o me lh o r a p r o ve i ta me nt o d o s r e c u r s o s

Amazônia, contra apenas 4% na região semi- uma visão estratégica para a otimização do h í d r i c o s no b ra s i l d e p e nd e d e ma i o r
a r t i c u laç ão e nt r e p e s q u i sa c i e nt í f i c a
árida, mesmo incluindo a grande bacia do uso dos recursos hídricos do país passa pelo e p o lí t i c a s p ú b li c a s .

ja sp e r va n de r m e j i rio São Francisco, o que levanta questões fortalecimento da pesquisa e da formação de y u li a s o b o l


186 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s ações m r e c u r s o s nat u ra i s 187

o g r u p o d e e s t u d o s e s t rat é g i c o s s o b r e ág ua
p e r ma ne c e at ua nt e . e nt r e o s t e ma s q u e ag o ra
p e s q u i sa e s tão a r e laç ão e nt r e ág ua e p r o d u ç ão
d e a li me nt o s , a q ua li da d e da ág ua d i s p o ní ve l
no b ra s i l e a s ág ua s u r ba na s .
j o h nny c h e n
188 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s ações m r e c u r s o s nat u ra i s 189

Estratégias para a sustentabilidade Hoje, os especialistas apontam como


Segundo o grupo de estudos da ABC, “não estratégicas as propostas de implantar um
Palavra do existem instrumentos outros para lidar com sistema de reuso de água, encontrar formas
Acadêmico esse previsível impasse social, senão adotar de reduzir a demanda por recursos hídricos
para os recursos hídricos uma ponderação e atingir 100% de tratamento do esgoto –
“A iniciativa brasileira incentivou equilibrada de todos os fatores envolvidos, atualmente, o Brasil trata cerca de 40%. Lidar
outros países a fazerem reflexões e com planejamento eficiente, pesquisa com as mudanças climáticas e os eventos
estudos sobre seus recursos hídricos. metódica, visão estratégica e aplicação extremos que delas decorrem também é um
Hoje, temos uma rede nas Américas
científica”. Na prática, o futuro dos recursos desafio crescente, assim como evitar e tratar
e fornecemos não apenas base para
hídricos no Brasil depende da integração a contaminação das águas superficiais e
pesquisas científicas, mas também
entre pesquisa e gerenciamento, uma relação litorâneas do Brasil.
para a gestão das águas.”
estreita que precisa ser estabelecida em todas O grupo de estudos, um dos mais ativos
— José Galizia Tundisi, em entrevista
à equipe do Centenário da ABC as bacias hidrográficas do país. da ABC, pretende seguir suas atividades,
Da parte da ciência, algumas linhas de aprofundando-se em temas como a relação entre
investigação que se destacam na publicação são água e produção de alimentos, a qualidade da
o impacto da eutrofização – acúmulo de certos água disponível no Brasil e as águas urbanas.
Alguns avanços notáveis foram a Lei nutrientes – sobre os ecossistemas aquáticos,
de Gestão dos Recursos Hídricos do Brasil; os estudos de ecotoxicidade, a avaliação Riqueza abaixo do solo
a criação da Agência Nacional de Águas do impacto de espécies invasoras sobre a Quem vive nas cidades talvez não tenha o
em 2006; o monitoramento integrado da biota aquática e a mensuração dos efeitos costume de se perguntar sobre a origem dos
qualidade da água do aquífero Guarani; a de poluentes orgânicos persistentes sobre a objetos, equipamentos e edificações à sua
Resolução 396/2008 do Conselho Nacional saúde humana e do ambiente. A utilização de volta. Mas vale a reflexão. As construções que
do Meio Ambiente (Conama) para a proteção modelos matemáticos para simular impactos compõem as cidades demandam cimento,
de águas subterrâneas; e a Resolução futuros em recursos hídricos superficiais e tijolos, aço, tintas de base mineral. A energia
91/2008, que trata dos procedimentos para subterrâneos e nas bacias hidrográficas é outra que faz funcionar cada eletrodoméstico
o enquadramento de águas superficiais e importante tecnologia que deve ser estimulada chega às casas por meio de fios de cobre,
subterrâneas. em universidades e institutos de pesquisa. cabos de alumínio, torres de aço. Por trás
Eles mostram que as recentes políticas de As recomendações feitas em 2010 e 2014 de cada celular, carro, joia ou cosmético
recursos hídricos no Brasil estão baseadas nos pelos cientistas foram aproveitadas em há também elementos minerais. Mesmo
princípios da gestão integrada da qualidade grande parte pelos gestores e governantes, sem ser notada por todos, a mineração
e da quantidade da água, da gestão adaptada e os documentos são hoje uma referência faz parte do cotidiano e é essencial para o
às condições biogeofisiográficas locais e no conhecimento sobre recursos hídricos no desenvolvimento do país. Por isso, em 2011,
regionais, da articulação com programas de Brasil. Um exemplo de aplicação prática do a ABC elencou os recursos minerais entre
uso do solo e gestão ambiental e da integração conhecimento coletado pelos pesquisadores seus estudos estratégicos. Os resultados estão
das bacias hidrográficas continentais com os foi o aconselhamento das autoridades durante reunidos em livro publicado em 2016,
sistemas estuários e costeiros. a grave crise hídrica enfrentada pelo estado de com o título Recursos Minerais no Brasil:
Ainda assim, se considerarmos as São Paulo e por toda a região Sudeste em 2014. problemas e desafios.
necessidades estratégicas para a conservação Naquele ano, o grupo de estudos estratégicos
de recursos hídricos no Brasil em um organizou uma reunião com o objetivo de
horizonte de 30 anos, é importante ressaltar levar à sociedade a opinião da comunidade at ua l m e n t e , o bra s i l t rata a p e na s
que as atividades humanas terão ainda científica sobre o tema, o que resultou em um c e rc a d e 4 0 % d o s e u e s got o. o d e s p e j o
d e m at e ri a l não t rata d o n o m a r
um impacto grande na disponibilidade documento chamado ‘Carta de São Paulo’, que
a m e aç a e c os s i s t e m a s aq uát i c os .
e qualidade da água. obteve grande repercussão na imprensa. j e re m y bi s h op
190 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s ações m r e c u r s o s nat u ra i s 191

O grupo de trabalho se dedica a estudar promover o uso sustentável dos recursos para implementar planos já definidos,
como a pesquisa científica pode auxiliar a minerais brasileiros. A partir de um simpósio a carência de pessoal qualificado para o
exploração mineral no Brasil. Esse auxílio realizado em 2013, eles elaboraram uma desenvolvimento da área e, acima de todos, Palavra do
pode assumir diferentes formas, incluindo análise aprofundada e atualizada do tema. a demora na aprovação, pelo Congresso, de Acadêmico
o mapeamento preciso de depósitos de A iniciativa envolveu não apenas cientistas, um novo marco regulatório para o setor,
minérios, o desenvolvimento de tecnologias mas também agências do governo e o setor causando desinteresse da iniciativa privada “Esperamos que os resultados da
voltadas à mineração e a predição das futuras privado – o grupo foi apoiado pela Vale, em investir em novos empreendimentos. publicação possam influenciar a
demandas de recursos minerais, incluindo membro institucional da ABC. tomada de decisões no setor mineral,
embasando novas políticas de governo.”
os energéticos. Cabe notar que a publicação chegou Exploração mineral no Brasil
— Umberto Cordani, em entrevista à
A preocupação central dos cerca de em um momento de crise do setor Sua grande extensão territorial e geologia
equipe do Centenário da ABC
70 especialistas que formam o grupo é mineral brasileiro. Os fatores que levaram diversificada fazem do Brasil um país
estabelecer estratégias que permitam usar a essa crise são vários, entre os quais os propício para a exploração mineral – não
os resultados de pesquisas científicas para especialistas destacam a falta de recursos é coincidência que seja um importante
exportador de ferro (aliás, ocupa o terceiro
lugar no ranking mundial de produtores
deste minério), nióbio, alumínio e outros. No
entanto, essa exploração está concentrada nos
estados de Minas Gerais, Pará, Bahia e Goiás,
deixando de fora vastas e promissoras regiões,
p o rta l mg incluindo a Amazônia.
Para melhorar esse quadro, a ciência tem,
em muitos aspectos, papel fundamental,
sobretudo no desenvolvimento de técnicas
mais modernas e eficazes de detecção,
prospecção e beneficiamento de minérios.
A pesquisa científica é essencial também
para a exploração adequada de minerais
estratégicos como terras raras e lítio, no
melhor aproveitamento da água na mineração
e na busca de processos ambientalmente
sustentáveis.
e x p lo raç ão d e p e t r ó le o na
A relação entre exploração mineral e bauxita em Trombetas, na região Norte do
ba í a d e g ua na ba ra ( r j ) .
meio ambiente é um aspecto importante país. Para os autores, os casos de sucesso f i o c r u z i mag e ns / rau l sa nta na

abordado pela publicação da ABC. Os comprovam que a sustentabilidade ambiental


especialistas contrapõem exemplos em que na exploração de recursos minerais pela
a atividade mineradora causou impactos iniciativa privada pode e deve ser cobrada por
ambientais irreparáveis – como o recente meio de regulamentações claras e objetivas.
rompimento da barragem do Fundão, que Essa perspectiva ganha importância ainda
devastou uma grande área ao longo do vale maior quando se fala da possível ampliação
do rio Doce – e casos em que a exploração da exploração mineral na Amazônia, reduto
mineral foi conduzida de forma sustentável, de uma enorme porção da biodiversidade
minimizando seus impactos no ambiente brasileira e lar de populações tradicionais.
– como aconteceu com a mineração de Os cientistas argumentam que, se realizada
192 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s ações m r e c u r s o s nat u ra i s 193

de forma responsável e com as técnicas Olhar para o futuro


adequadas, a mineração pode Apesar dos grandes e complexos desafios
Seis passos para impulsionar
trazer benefícios amplos e duradouros que a exploração mineral apresenta ao
a mineração no Brasil
para a região. país, os especialistas parecem concordar
•  Discutir o novo Marco Regulatório
Outro desafio abordado no livro é a que se trata de uma área estratégica para para o setor, incluindo no debate
agregação de valor aos produtos extraídos o desenvolvimento do Brasil. Por isso, os não apenas os congressistas e
– matérias-primas como o ferro, por coordenadores encerram a publicação com um representantes do Ministério de
exemplo, são vendidas, embora em grande capítulo de recomendações para os diferentes Minas e Energia, mas também a
quantidade, a preços muito baixos. Pesquisas atores envolvidos no setor mineral, incluindo academia e a iniciativa privada.
em ciência e tecnologia podem ajudar a órgãos governamentais e empresas privadas. •  Fazer do Departamento Nacional da
transformar essa realidade: um caso de Eles destacam a importância de revisar Produção Mineral (DNPM) um órgão de
sucesso é a exploração de nióbio. Embora o plano estratégico para a exploração de fomento dessa área, e não apenas um
não seja um elemento raro no mundo, o recursos minerais no Brasil, bem como a ator de fiscalização e arrecadação.
Brasil é seu único produtor em larga escala, legislação que rege o setor e a fiscalização das •  Investir na busca de bens minerais
para o setor agropecuário, como
graças ao desenvolvimento tecnológico atividades que podem causar danos ao meio
nitrogênio, fosfato e potássio.
agregado à exploração desse elemento. Ao ambiente. Os autores propõem adequações
•  Estimular parcerias entre empresas
longo de décadas, a Companhia Brasileira que tornem o investimento em extração
de mineração, órgãos do governo e
de Metalurgia e Mineração esforçou- mineral – volumoso e de alto risco – mais
academia.
se para criar produtos de nióbio e um atraente para as empresas privadas, cuja •  Assegurar recursos para que o
mercado de aplicações para o seu consumo, participação é fundamental para modernizar o Serviço Geológico do Brasil e os
especialmente por parte da indústria setor e torná-lo mais competitivo e lucrativo. equivalentes estaduais possam investir
siderúrgica. O processo resultou em um Do ponto de vista das prioridades de ação em mapeamentos geológicos.
produto de alto valor agregado e, portanto, para incrementar os ganhos que o Brasil •  Incluir o setor mineral na relação
grande potencial econômico. obtém com seus recursos minerais, uma das dos itens de tecnologias críticas ou
A publicação aborda, ainda, a participação questões mais básicas é deixar de ser mero estratégicas para o desenvolvimento
dos recursos minerais na matriz energética exportador de commodities – cujo preço sofre do país.
do Brasil, incluindo aspectos geológicos das com as oscilações do mercado – e passar a
regiões ricas em petróleo, o histórico e a dar preferência aos produtos com alto valor
promessa de ampliação do aproveitamento agregado, uma transformação em que a de profissionais com mestrado e doutorado
do urânio como combustível nuclear e os ciência e a tecnologia têm papel crucial. nas indústrias é reduzida, e a demanda
riscos da prospecção e exploração do gás Aumentar a interação entre a academia de técnicos de nível médio é maior que a
não convencional. Por fim, os especialistas e a indústria mineral é outro ponto a disponibilidade de profissionais.
abordam o papel modesto do carvão na melhorar: “a desconfiança entre as partes é Mesmo com tantos desafios, a atividade
produção de energia nacional, sugerindo grande e impede uma colaboração efetiva mineral já é valiosa para a economia
que o produto poderia ser valorizado a partir e profícua”, afirmam os coordenadores. Em brasileira, participando com 4% do PIB do
da modernização das usinas de geração seguida, citam a área de petróleo e gás como país, e pode tornar-se ainda mais, se forem
de energia. modelo de relação mais estreita entre esses implementadas as medidas necessárias
setores, que poderia ser seguido por outras para corrigir erros políticos e históricos e
áreas relacionadas aos recursos minerais. otimizar o funcionamento do setor. Em 2017,
a m i n e raç ão p od e s e r c on d u z i da d e A academia também pode contribuir o grupo de estudos da ABC pretende dar
form a s u s t e n táv e l . p oré m , s e re a l i z a da com a formação de recursos humanos continuidade à sua atuação, formulando um
d e m a n e i ra i rre s p on s áv e l , t ra z a m e aç a s
i n c a l c u l áv e i s ao m e i o a m bi e n t e .
especializados para o trabalho nas indústrias documento para embasar políticas públicas
i ba m a / fe l i p e we rn e c k do setor mineral – atualmente, a presença na área da mineração.
ações m saú d e 195

Olhos voltados R
eduzir o tempo entre a produção
de um conhecimento novo na
área médica e a transformação
deste em um novo produto,

para a saúde
seja ele um método de diagnóstico ou uma
abordagem terapêutica, é a essência da medicina
translacional. No Brasil, a defasagem existente
entre o desenvolvimento de pesquisas nas
universidades e a prática da medicina envolve
fatores econômicos e políticos que precisam
ser enfrentados. Com o propósito de avaliar a
experiência do país e engajar as comunidades
científica e médica na proposição de um projeto
nacional nessa área, a Academia Brasileira de
Ciências e a Academia Nacional de Medicina
(ANM) somaram forças e elaboraram um
estudo sobre o tema, publicado em 2014.
Esse foi o segundo estudo estratégico que
a ABC realizou na área da saúde. O primeiro,
publicado em 2010, foi uma análise cuidadosa
do estado da arte da ciência brasileira no que
diz respeito às doenças negligenciadas – aquelas
que atingem principalmente as populações
pobres e, por isso, não atraem o interesse aos consultórios e aos hospitais. Infelizmente, pesquisa, incluindo o incentivo à colaboração
nem o investimento das grandes indústrias nesse processo, muitas propostas se perdem com outros centros e com a indústria, essas
farmacêuticas. antes de serem sequer testadas. Outras, instituições logo atraíram o interesse das
De 2015 para cá, os dois assuntos embora promissoras, levam anos até que publicações científicas, que repercutiram
encontraram, no surto de zika que acometeu possam efetivamente se transformar em seus resultados.
o país, um ponto de contato. Por um lado, os produtos disponíveis à população. Estavam lançadas as sementes de
estudos sobre a doença infecciosa partiram Fato é que quanto mais tempo as pesquisas uma nova maneira de pensar a pesquisa
majoritariamente das instituições públicas demoram a ser aplicadas, mais pessoas científica na área médica, estimulando o
de pesquisa; por outro, para responder com perdem a oportunidade de beneficiar-se do desenvolvimento de abordagens inovadoras
prontidão à demanda dos hospitais e postos conhecimento delas resultante. Por isso, em pesquisa e tecnologia para acelerar a
de saúde que se enchiam de pacientes com essa a medicina translacional busca agilizar a transferência de conhecimento e melhorar a
doença ainda incompreendida, os grupos de transformação de resultados científicos assistência à população, com o compromisso
pesquisa em medicina precisaram, em curto em práticas clínicas. de formar uma nova geração de pesquisadores
espaço de tempo, encontrar translacionalidade. Essa preocupação começou a se e grupos de pesquisa multidisciplinares.
concretizar a partir de simpósios promovidos
Do laboratório ao consultório pela Academia Americana de Medicina em
Idealizar, planejar, pesquisar, descobrir, 2000, culminando, dois anos mais tarde, na o c a mi nh o q u e u m no vo me d i c a me nt o

testar, publicar, aplicar. Ideias para novos criação dos primeiros centros de medicina p e r c o r r e e nt r e a ba nc a da d e
la b o rat ó r i o e a s p rat e le i ra s da s
medicamentos ou testes diagnósticos têm um translacional nos Estados Unidos. Com fa r mác i a s p o d e le va r a no s .
f io c ru z image n s/ pe te r iliccie v longo caminho a percorrer antes de chegarem altos investimentos e uma nova postura na w i ki me d i a c o mmo ns
196 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s ações m saú d e 197

promoção da pesquisa translacional. Cabe


ressaltar, porém, que, mesmo nos países
Palavra do em que a interação academia-indústria
Acadêmico é mais amadurecida e fluida, há desafios
específicos, principalmente no que tange
“Hoje, há mais compreensão de que é aos assuntos regulatórios.
absolutamente necessário fazer parcerias
entre universidades e indústrias.” Perspectivas e recomendações
— Eduardo Moacyr Krieger, em entrevista
Na publicação de 2014, o grupo de estudos
à equipe do Centenário da ABC
sobre medicina translacional fez algumas
recomendações para o avanço do setor no
país. Uma das principais era a elaboração de
Um movimento global um plano estratégico para o desenvolvimento
Não demorou muito para que outros países da medicina translacional no Brasil, incluindo
além dos Estados Unidos começassem a objetivos e metas bem definidos, áreas
organizar as próprias iniciativas de medicina prioritárias para estímulo e mecanismos
translacional. Logo surgiram os primeiros de avaliação continuada.
centros europeus e, no Brasil, as academias de Ao setor público – especialmente
Ciências e Medicina organizaram, em 2012, aos ministérios da Ciência, Tecnologia,
um simpósio para debater o assunto. Seus Inovações e Comunicações (MCTIC), da
resultados foram publicados em 2014 no estudo Educação (MEC) e da Saúde (MS) e às
Medicina Translacional – conceitos e estratégias. fundações estaduais de amparo à pesquisa –
Uma das constatações mais básicas fi oc ru z i m age n s / recomendou-se prioridade no financiamento
peter ilicciev
do trabalho é que o próprio conceito de atividades de pesquisa com enfoque
de medicina translacional ainda precisa multidisciplinar, com ênfase particular em
ser mais bem divulgado na comunidade projetos que transferem o conhecimento
científica brasileira. Em artigo que integra Ciência e Tecnologia (INCTs), que agregam Diagnóstico também a pouca atratividade da carreira obtido na pesquisa clínica para aplicação
a publicação, o Acadêmico Manoel Barral- os melhores grupos de pesquisa em áreas de Algumas características do ambiente de pesquisa científica para os médicos; há poucos no sistema de saúde pública.
Neto expõe os dados de um levantamento fronteira da ciência e em temas estratégicos médica brasileiro tornam difícil a realização médicos-cientistas. Esta lacuna, que não é Às universidades, às faculdades de
realizado na plataforma Lattes, do CNPq, que para o desenvolvimento sustentável do país, de investigações dessa natureza. Por exemplo, exclusividade do Brasil e já foi identificada medicina e aos hospitais universitários,
abriga os currículos de cientistas atuando no apenas três utilizavam o termo “medicina parte importante das verbas de agências de também em diversos países desenvolvidos, sugeriu-se intensificar o treinamento de
Brasil. Entre os doutores com cadastro no translacional” em sua designação na época fomento à pesquisa é destinada a financiar tem sido objeto de discussão na comunidade equipes multidisciplinares capazes de realizar
banco de dados, apenas 71 usavam os termos do estudo. No entanto, sabe-se que diversos iniciativas de curta duração, sem o compromisso científica internacional. Se o Brasil deseja pesquisa translacional e promover inovação
“medicina translacional” ou “pesquisa outros INCTs da área de saúde têm significativa de manter o auxílio para as fases posteriores de estimular a pesquisa translacional, precisa no setor de saúde; criar, nos hospitais
translacional”. Embora isso não queira atuação em pesquisa translacional. projetos que cumprem adequadamente seus realizar uma análise aprofundada dessa universitários, a unidade de medicina
dizer que apenas 71 cientistas se dediquem É difícil também contabilizar quantos objetivos e demonstram potencial de aplicação. sua carência. translacional, centralizando facilidades de
a atividades nesses moldes, pode sugerir o projetos de medicina translacional são Na medicina translacional, essa praxe faz com Por fim, a interação entre a academia pessoal e infraestrutura – como consultórios,
quão pouco o termo é disseminado no país. financiados no Brasil, uma vez que as que muitas propostas promissoras não passem e a indústria é outro aspecto crítico. A laboratórios e serviços – para a realização
O infrequente uso da expressão “medicina chamadas públicas das entidades de fomento da fase inicial exploratória, inviabilizando a tradição brasileira de contato entre os de pesquisa clínica de qualidade; e, por
translacional” traz ainda um desafio: sem ele, à pesquisa raramente fazem menção explícita verdadeira tradução do conhecimento básico dois setores é baixa em todos os campos, último, vencer as barreiras representadas por
torna-se muito difícil mensurar a atividade ao tema. Ainda que esse número seja para o aplicado. a a rt i c u l aç ão e n t re ac a d e m i a e incluindo o da saúde. Sem superar departamentos setoriais, criando centros e
i n d ú s t ri a p od e au xi l i a r o ava n ç o da
que o Brasil desenvolve nessa área. Por desconhecido, é seguro afirmar que há pouco No que diz respeito a recursos humanos, m e d i c i na t ra n s l ac i ona l n o pa í s .
esta limitação, é difícil imaginar como áreas temáticas para facilitar a integração de
exemplo, entre os Institutos Nacionais de suporte à medicina translacional no país. destaca-se um déficit de médicos no país e fi oc ru z i m age n s / v i n i c i u s m a ri n h o acontecerão avanços importantes na pesquisadores das áreas básica e clínica.
198 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s ações m saú d e 199

Avanços recentes Embora solucionar a questão da falta de Doenças negligenciadas: desafios da h a ns e ní a s e é u ma da s d o e nç a s

Embora nem todas as recomendações tenham recursos humanos para a pesquisa em medicina saúde no contexto capitalista ne g li g e nc i a da s e s t u da da s no b ra s i l.
f i o c r u z i mag e ns / p e t e r i li c c i e v
se concretizado em políticas nas diferentes seja uma tarefa complicada, há uma tendência “Negligenciadas” é um termo relativamente
esferas de fomento à pesquisa e o Brasil ainda de melhora nesse quadro, graças à atuação dos novo, usado a partir da década de 1970 para
careça de um plano estratégico para a área cursos de pós-graduação na área. Cerca de 10% designar as doenças causadas por agentes Em 1911, Gaspar Viana descreveu a
de medicina translacional, pode-se dizer que dos novos doutores que se formam anualmente infecciosos e parasitários, endêmicas em Leishmania braziliensis, importante agente de
houve avanços significativos desde 2014. no Brasil são pesquisadores da área médica, o populações de baixa renda, vivendo, sobretudo, uma das formas clínicas de leishmaniose.
Um exemplo particularmente importante que, no futuro, pode ajudar a impulsionar a nos países em desenvolvimento da África, Posteriormente, inúmeros pesquisadores
foi a criação, em São Paulo, da Associação pesquisa clínica no país. da Ásia e das Américas. Este foi o adjetivo brasileiros aprofundaram esses estudos e
Brasileira de Cardiologia Translacional, que tem Também se caminha, hoje, para um encontrado para ilustrar que essas doenças deram contribuições importantes na área
como missão promover o conceito de pesquisa entendimento mais claro da necessidade não despertam o interesse da indústria da parasitologia.
translacional e unir as diferentes áreas de de unir academia e indústria no farmacêutica nem das agências de fomento Cientistas que atuam na área da
conhecimento médico. A nova instituição tem desenvolvimento da medicina translacional. à pesquisa. Elas são responsáveis por um alto protozoologia, sobretudo aqueles mais
realizado simpósios em congressos médicos Cada setor pode exercer papel fundamental índice de mortalidade em nosso país e, por envolvidos com o estudo do Trypanosoma
e de enfermagem, além de trabalhar em nas diferentes etapas de elaboração e testes isso, despontam entre os estudos estratégicos cruzi, criaram, na década de 1970, as bases
conjunto com associações internacionais. de novas e inovadoras soluções terapêuticas para uma profunda transformação da ciência
O pioneirismo na cardiologia deve ser e de diagnóstico. biomédica brasileira, introduzindo as mais
seguido por iniciativas em outras áreas da No entanto, o Brasil ainda tem grandes modernas abordagens celulares, bioquímicas,
a re c e n t e e p i d e m i a d e z i ka n o bra s i l
medicina, em especial no campo das doenças desafios pela frente. Um deles é a articulação foi u m e xe m p l o c on c re t o d e rá p i da moleculares e imunológicas para o estudo
crônicas, incluindo diabetes e câncer. As mais estreita entre o Ministério da Saúde, t ra n s form aç ão d o c on h e c i m e n t o do T. cruzi, da sua interação com a célula
c i e n t í fi c o e m p rát i c a m é d i c a .
doenças infecciosas, por sua vez, não devem responsável pelas políticas públicas nessa área, fi oc ru z i m age n s / rod ri go m é xa s
hospedeira e da doença de Chagas. Tal fato
ficar de fora: um exemplo recente em que e a comunidade científica da área médica. e raq u e l p ort u ga l está na base do desenvolvimento da biologia
foi necessário transformar rapidamente da ABC como temática de suma importância da esquistossomose, com importante celular, da biologia molecular, da bioquímica
o conhecimento obtido nas bancadas para orientar políticas públicas na área de contribuição ao melhor conhecimento do e da imunologia brasileira, todas com
de laboratório em informações úteis ao saúde. Sobre este assunto, foi publicado em ciclo evolutivo do Schistosoma mansoni. No forte impacto na atual produção científica
atendimento direto de pacientes e às políticas 2010 o livro Doenças Negligenciadas. mesmo ano, Alfonso Splendore, em São Paulo, quantitativa e qualitativa da nossa ciência.
públicas de saúde foi a epidemia causada De uma fragilidade – os graves problemas descreveu o protozoário hoje conhecido como Certamente, um fator preponderante
pelo vírus zika em 2015, à qual a comunidade de saúde pública historicamente enfrentados Toxoplasma gondii, um dos mais importantes para o desenvolvimento da parasitologia
científica brasileira respondeu rapidamente pela população mais pobre do país – nasceu agentes patogênicos com distribuição brasileira foi a criação e o funcionamento
com a publicação de estudos e a elaboração de uma das fortalezas da ciência brasileira: universal. Em 1909, Carlos Chagas descreveu regular, entre 1976 e 1986, do Programa
métodos diagnósticos. o estudo das doenças negligenciadas, o Trypanosoma cruzi e a doença de Chagas. Integrado de Doenças Endêmicas (PIDE), que,
frequentemente deficitário em países ricos,
nos quais as pesquisas estão voltadas a
outros problemas de saúde, relacionados, por
exemplo, ao envelhecimento da população,
como câncer, Alzheimer e Parkinson.
As doenças parasitárias causadas por
protozoários e helmintos (vermes) estão
na base do desenvolvimento científico
brasileiro há cerca de um século. Em
1908, Pirajá da Silva, um dos líderes da
chamada Escola Tropicalista Baiana, realizou
estudos fundamentais na área da biologia
20 0 m c i ê n c i a n o b ra s i l : 1 0 0 a n o s da ac a d e m i a b ra s i l e i ra d e c i ê n c i a s ações m saú d e 2 01

a febre amarela (e outras arboviroses), a


raiva, a hantavirose, as hepatites virais, as
gastroenterites virais, a paracoccidioidomicose
(e outras micoses profundas) e a contaminação
por toxinas (incluindo envenenamentos
por animais peçonhentos).
O trabalho conduzido pela ABC concluiu
que os estudos de algumas dessas doenças
integram programas de pesquisa com
financiamento específico e convergiu para
priorizar o apoio à investigação daquelas
que, pela descontinuidade de investimentos,
necessitam de atenção maior. Nesse contexto,
recomenda-se que as várias agências de
financiamento do governo federal e dos
governos estaduais se unam, no sentido de
estabelecer um programa de apoio consistente
com sucesso, investiu recursos significativos à pesquisa e à formação de recursos humanos
nos grupos que atuavam na área e que nesse conjunto específico de enfermidades
atraiu, em consequência da política de que afetam a população do país.
financiamento diferenciado, outros grupos Pretende-se, com esse esforço, consolidar
de pesquisa. Posteriormente, a Organização a liderança da pesquisa brasileira em áreas
Mundial de Saúde (OMS) criou o Programa de significativo impacto econômico e social.
TDR (Tropical Diseases Research), que também Na sequência, assumir a responsabilidade de
contribuiu para a consolidação de várias estimular o parque científico, tecnológico
equipes inicialmente apoiadas pelo PIDE e e industrial nacional a trabalhar em temas
estimulou o aparecimento de outras. que não despertam o interesse dos países
mais desenvolvidos. É também de suma
Cenário atual importância desenvolver ainda mais a
Hoje, o Brasil dispõe de grandes referências capacidade da comunidade científica de
e especialistas no campo das doenças trabalhar em um sistema integrado de redes. programa de apoio à pesquisa científica básica bioquímica e biologia molecular, entre pa ra a a b c , a s d o e nç a s ne g li g e nc i a da s
d e ve m s e r c o ns i d e ra da s á r e a
negligenciadas, mas sofre com a falta E, por último, mas não menos importante, e aplicada e à inovação tecnológica na área outras – o que já começou a ser feito. Destaca,
p r i o r i tá r i a na c o o p e raç ão c i e nt í f i c a
de continuidade dos programas de fazer deste um dos temas relevantes para os das doenças em foco neste estudo estratégico. ainda, como essencial obter a participação e nt r e pa í s e s d o h e mi s f é r i o s u l.
financiamento para pesquisa nessa área. programas de cooperação internacional com Essa recomendação, embora não tenha sido das fundações estaduais de apoio à pesquisa e
E, sem o investimento em longo prazo, países do Hemisfério Sul, cujas populações cumprida em sua totalidade, rendeu alguns contar com suporte para projetos de pesquisa,
será difícil conquistarmos avanços que se são afetadas por várias das mesmas doenças. frutos, como a publicação de editais específicos bolsas e apoio às empresas.
traduzam em benefícios notórios para a Para corresponder à demanda social no para o financiamento de pesquisas sobre À Academia Mundial de Ciências
saúde pública. campo das doenças negligenciadas com total doenças negligenciadas. para o Avanço da Ciência nos Países em
o b ra sil p ossui bo n s e spe cia listas
Entre as doenças negligenciadas clássicas abrangência, a Academia Brasileira de Ciências Por fim, a ABC sugere aprofundar suas Desenvolvimento (TWAS), a ABC indica este
e la b o rat ó r io s de pe squisa e m do e n ça s
n e g lig e n c i adas, m as so fr e co m a falta mais relevantes no Brasil estão a doença sugere ao Ministério da Ciência, Tecnologia, relações com a Academia Nacional de estudo estratégico como referência para que
d e c o n t in uida de da s ve r bas de de Chagas, as leishmanioses, a malária, Inovações e Comunicações (MCTIC), ao Medicina e algumas sociedades científicas a área em foco seja considerada prioritária
p e sq u isa na á r e a .
ac ima : f io cr uz im age n s/ raque l po r tuga l
as filarioses, a hanseníase, a tuberculose, Ministério da Saúde (MS) e ao Ministério da que atuam nas áreas de protozoologia, no processo de integração científica entre
a ba ixo : f iocr uz im age n s/ pe te r iliccie v as clamidioses, as riquetsioses, a dengue, Educação (MEC) a articulação de um grande parasitologia, medicina tropical, imunologia, países do Hemisfério Sul.
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
abc - Academia Brasileira de Ciências iea - Instituto de Energia Atômica pne - Plano Nacional de Educação
abe - Associação Brasileira de Educação igbp - International Geosphere-Biosphere proantar - Programa Antártico Brasileiro
adin - Ações Diretas de Inconstitucionalidade Programme (Programa Internacional Geosfera- puc-rio - Pontifícia Universidade Católica do
anm - Academia Nacional de Medicina Biosfera) Rio de Janeiro
app - Áreas de Preservação Permanentes impa - Instituto Nacional de Matemática Pura rnp - Rede Nacional de Ensino e Pesquisa
capes - Coordenação de Aperfeiçoamento de e Aplicada saeb - Sistema Nacional de Avaliação da
Pessoal de Nível Superior imu - International Mathematical Union Educação Básica
cbpf - Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (União Internacional de Matemática) sbpc - Sociedade Brasileira para o Progresso da
cnen - Comissão Nacional de Energia Nuclear ince - Instituto Nacional do Cinema Educativo Ciência
cnpq - Conselho Nacional de inct - Institutos Nacionais de Ciência e sudene - Superintendência do
Desenvolvimento Científico e Tecnológico Tecnologia Desenvolvimento do Nordeste
conama - Conselho Nacional do Meio inmetro - Instituto Nacional de Metrologia, tdr - Tropical Diseases Research (Pesquisa de
Ambiente Qualidade e Tecnologia Doenças Tropicais)
dnpm - Departamento Nacional da Produção inpa - Instituto Nacional de Pesquisas da twas - The World Academy of Science for
Mineral Amazônia the Advancement of Science in Developing
dops - Departamento de Ordem Política e inpe - Instituto Nacional de Pesquisas Countries (Academia Mundial de Ciências
Social Espaciais para o Avanço da Ciência nos Países em
eco-92 - Conferência das Nações Unidas sobre ioc - Instituto Oswaldo Cruz Desenvolvimento)
o Ambiente e o Desenvolvimento ipr - Instituto de Pesquisas Radioativas udf - Universidade do Distrito Federal
embraer - Empresa Brasileira de Aeronáutica S. A. ita - Instituto Tecnológico da Aeronáutica ufmg - Universidade Federal de Minas Gerais
embrapa - Empresa Brasileira de Pesquisa iuperj - Instituto Universitário de Pesquisas ufrj - Universidade Federal do Rio de Janeiro
Agropecuária do Rio de Janeiro ufrrj - Universidade Federal Rural do Rio de
esalq - Escola Superior de Agronomia Luiz de lncc - Laboratório Nacional de Computação Janeiro
Queiroz Científica unesco - United Nations Educational,
fapemig - Fundação de Amparo à Pesquisa do mc - Ministério das Comunicações Scientific and Cultural Organization
Estado de Minas Gerais mcti - Ministério da Ciência, Tecnologia e (Organização das Nações Unidas para a
faperj - Fundação Carlos Chagas Filho de Inovação Educação, a Ciência e a Cultura)
Amparo à Pesquisa no Estado do Rio de Janeiro mctic - Ministério da Ciência, Tecnologia, usp - Universidade de São Paulo
fapesp - Fundação de Amparo à Pesquisa do Inovações e Comunicações
Estado de São Paulo mec - Ministério da Educação
finep - Financiadora de Estudos e Projetos ms - Ministério da Saúde
fiocruz - Fundação Oswaldo Cruz ocde - Organização para a Cooperação e
fndct - Fundo Nacional de Desenvolvimento Desenvolvimento Econômico
Científico e Tecnológico oms - Organização Mundial de Saúde
fnde - Fundo Nacional do Desenvolvimento onu - Organização das Nações Unidas
da Educação pide - Programa Integrado de Doenças
iap - InterAcademy Partnership (Painel Endêmicas
InterAcademias) pisa - Programme for International Student
icsu - International Council for Science Assessment (Programa Internacional de
(Conselho Internacional para a Ciência) Avaliação de Alunos)
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CDD 509.81

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