INTRODUÇÃO
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O presente texto é o resultado das discussões desenvolvidas com os alunos do Mestrado Profissional
em Teologia das Faculdades Batista do Paraná, no contexto da disciplina “Temas relevantes no
Aconselhamento Pastoral”. Dois temas podem ser destacados no conteúdo da disciplina: a importância
da supervisão no processo de aconselhamento pastoral; e a discussão sobre uma ética voltada
especificamente para a teologia prática no aconselhamento religioso.
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Pós-doutorado pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Doutorado e mestrado em História pela UFPR. Psicólogo clínico. Bacharel em teologia.
Professor nas Faculdades Batista do Paraná (FABAPAR). Pesquisador no Núcleo Paranaense de
Pesquisa em Religião (NUPPER). E-mail: edilsonssouza@uol.com.br.
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CAIRNS, 2008, p. 147.
4
FARRIS, 1996, p. 19.
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O presente texto utiliza as expressões “aconselhamento pastoral”, “aconselhamento cristão” e
“aconselhamento religioso” como termos próximos, reconhecendo que não apresentam os mesmos
significados, ficando a discussão conceitual dos três termos para outro momento.
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Como outras Instituições de Ensino Superior, as Faculdades Batista do Paraná oferecem na área da
teologia três níveis de estudos em Aconselhamento Pastoral: a) os alunos e as alunas do curso de
bacharelado em teologia estudam Aconselhamento Pastoral durante um período, considerando
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religioso vai além das fronteiras dos grupos confessionais. É possível identificar
necessidades específicas de aconselhamento no que pode se chamar de capelania
voltada ao social ou ao sistema carcerário. O mesmo ocorre diante das demandas dos
sistemas familiares, que passam por conflitos, desestruturações e reorganizações
relacionais.
Neste sentido, o diálogo da teologia com outras áreas do conhecimento revela-se
fundamental, já que o conselheiro ou a conselheira pastoral vai se deparar com questões
que vão além dos temas sobre o sagrado e as convicções espirituais. Discussões sobre
algum tipo de violência familiar, seja psicológica ou física, atingindo mulheres e
crianças, são recorrentes nos mais variados tipos de aconselhamento religioso. Temas
sobre formas de opressão, algumas vezes mascaradas pelos discursos religiosos,
também estão presentes no cotidiano daqueles e daquelas que atuam no contexto de
aconselhamento, independente da confissão professada. Assim, certo conhecimento da
psicologia aplicada ao aconselhamento religioso e de aspectos relacionados à prática do
direito apresentam-se fundamentais nesta área de prática ministerial.
Lothar Carlos Hoch, num artigo intitulado Violência e criminalidade como
desafios à pastoral: considerações a partir da Pastoral Carcerária, escreveu o
seguinte:
aspectos básicos da área pastoral; b) o curso de Pós-Graduação Lato Sensu oferece o curso de
Capelania e Aconselhamento, destacando disciplinas como Capelania Social e Carcerária;
Aconselhamento Familiar e Conflitos e Psicologia Aplicada ao Aconselhamento; e c) em nível de
Pós-Graduação Stricto Sensu há o Mestrado Profissional em Teologia, objetivando a prática
ministerial e oferecendo duas disciplinas: Teoria e Prática do Aconselhamento Pastoral e Temas
Relevantes em Aconselhamento Pastoral.
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HOCK, 1985, p. 284.
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8
HOCK, 1985, p. 284.
9
SCHNEIDER-HARPPRECHT, 2005, p. 291-319.
10
SCHNEIDER-HARPPRECHT, 2005, p. 303.
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Áreas como a medicina, a odontologia e a psicologia, entre outras, podem ser citadas como profissões
que utilizam a supervisão. A supervisão pode favorecer uma maior troca de conhecimentos, teóricos e
práticos, entre profissionais e suas práticas, diante das mais complexas demandas.
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expostas pelas pessoas durante os atendimentos. Desta forma, não basta ter
conhecimento teórico ou prático, já que passar por determinadas vivências no ciclo da
vida revela-se igualmente importante, quando se objetiva ajudar o outro. Conselheiros
pastorais trabalharão necessariamente com temas como angústia, culpa, perdão e paz. É
importante que não somente se conheça conceitualmente o significado de cada uma
destas palavras, mas também que se procure entender a apropriação que as pessoas
fazem de cada uma delas. O importante, então, não é apenas o significado teológico de
tais expressões, mas o sentido que o aconselhando dá às mesmas.
A busca pela compreensão da estrutura mental de cada pessoa, suas emoções e
pensamentos, além de seus comportamentos, pode se dar no encontro entre o
conselheiro e o seu supervisor. Além das questões sobre as características pessoais dos
aconselhandos, aspectos como a vida e as práticas religiosas, tomando como
fundamento o contexto eclesiástico no qual se está inserido, podem ser considerados no
encontro de supervisão. Assim, pode-se entender a supervisão em aconselhamento
religioso como um encontro entre duas ou mais pessoas, objetivando discutir e
compreender determinados temas que são apresentadas e tratados no trabalho de
aconselhamento pastoral, favorecendo o direcionamento ou o redirecionamento do
processo de intervenção pastoral.
Uma afirmação de Gary Collins ajuda a considerar a importância da supervisão
em aconselhamento: “reconhecer que ninguém consegue fazer tudo, e que Deus não
espera que algum de nós revolva todos os problemas da humanidade, é algo que nos
liberta”.12 Pode-se, então, aplicar o pensamento de Collins ao processo de supervisão
em aconselhamento, quando o conselheiro ou a conselheira pode contar com o
conhecimento e a experiência de um conselheiro mais experiente, capaz de ouvir e
entender o que se passa, mesmo estando distante das vivências que se manifestaram no
processo de acompanhamento.
Nesta proposta de supervisão, é importante que o conselheiro ou a conselheira
reconheça suas limitações, não se cobrando ou se culpando pelos resultados,
aparentemente desfavoráveis. A ideia da supervisão é poder contar e dialogar com
alguém que percebe os problemas com os quais se trabalha, observando-os por outro
ângulo. Cabe ressaltar que aquele ou aquela que realiza a supervisão não resolve os
problemas no lugar do conselheiro, mas os questiona e pode apontar para caminhos
12
COLLINS, 2011, p. 699.
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ainda não percorridos. A supervisão pode ser entendida como um instrumento que
permite o desenvolvimento saudável do aconselhamento, a partir das contribuições de
alguém mais experiente.
A supervisão no aconselhamento pode ser colocada como um dos temas
relevantes, mas está ainda em processo de construção nas práticas pastorais no contexto
religioso das igrejas e denominações cristãs no Brasil, diferentemente de outras áreas
profissionais que percebem na supervisão um valioso recurso de apoio ao tratamento
proposto. Ao lado do preparo acadêmico e religioso no aconselhamento, a supervisão
apresenta-se como mais um recurso de intervenção diante de transtornos e conflitos
pessoais, relacionais e sistêmicos. No entanto, junto com a supervisão, pode-se
considerar outro tema importante no aconselhamento pastoral: a ética dos conselheiros.
A questão que envolve a ética indica tal complexidade, pois “diz respeito à
determinação do que é certo ou errado, bom ou mau, permitido ou proibido, de acordo
com um conjunto de normas ou valores adotados historicamente por uma sociedade”.13
Já no aspecto eclesiástico, o Código de Ética da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil
(OPBB) indica a compreensão que a coletividade alcançou sobre o cuidado com o
outro. Ao tratar “Dos Princípios Gerais”, em seu 4º artigo, o Código de Ética da OPBB
lembra: “o pastor compromete-se com o bem-estar das pessoas sob seus cuidados,
utilizando todos os recursos lícitos e éticos disponíveis, para proporcionar o melhor
atendimento possível, agindo com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade,
assumindo a responsabilidade por qualquer ato ministerial ou pessoal do qual
participou”.14
Uma das perguntas que motivou a presente reflexão foi esta: como as discussões
que envolvem as questões éticas podem ajudar no manejo do aconselhamento pastoral
no contexto brasileiro? Algumas respostas podem ser propostas, entre elas: porque o
aconselhamento pastoral está voltado para pessoas, casais e famílias, implicando em
posturas éticas durante o acompanhamento pastoral. Uma postural ética é importante,
pois as pessoas confiam aos conselheiros e conselheiras experiências muito pessoais e
profundas. Algumas destas experiências foram traumáticas, tornando-se um segredo na
13
MARCONDES, 2007, p. 9.
14
Código de Ética da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil.
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vida de muitas pessoas. São, portanto, conteúdos que não podem ser compartilhados,
inclusive com pessoas muito próximas daqueles que se dispõe a aconselhar.
O aconselhamento pastoral não pode ser confundido com as diversas terapias já
reconhecidas pela sociedade moderna ocidental, sobretudo aquelas que são
reconhecidas e praticadas pela medicina e pela psicologia. As diversas áreas de
conhecimento – teologia, medicina e psicologia – conservam os conjuntos teóricos e
práticos que dão sustentação às suas múltiplas intervenções. No entanto, a percepção de
Carlos José Hernández sobre a atuação do terapeuta pode ser aplicada a outras áreas de
apoio ao desenvolvimento humano, visando o crescimento das pessoas. Hernández é o
autor do livro O lugar do sagrado na terapia, que discute a presença do sagrado no
contexto da psicoterapia.
No que pese os estudos de Hernández aplicarem-se aos fenômenos da psicologia
e da psiquiatria, uma reflexão pode ajudar nas discussões sobre a postura ética daqueles
que atuam na área do aconselhamento religioso:
Outra contribuição pertinente é dada por James Carter e Joe Trull, no final da
obra intitulada Ética Ministerial, quando apresentam um breve exemplo de Código de
Ética para conselheiros e conselheiras pastorais (sendo esta uma produção
estadunidense). 16 Embora seja uma obra que remete a outro contexto religioso-
teológico, indicando práticas ministeriais diferentes e distintas das observadas na
América Latina, a discussão ajuda no entendimento da ética no aconselhamento. O
modelo do Código de Ética apresentado consta de 11 (onze) tópicos, destacando a
postura ética daqueles e daquelas que ministram na área de aconselhamento cristão. As
expressões utilizadas no início de cada tópico remetem a uma prática ética caracterizada
por responsabilidades bem definidas, tais como: terei; reconhecerei; evitarei;
demonstrarei; encaminharei; manterei; oferecerei; apoiarei; e procurarei.17
15
HERNÁNDEZ, 1986, p. 122.
16
CARTER, 2010.
17
CARTER, 2010, p. 317.
7
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18
CARTER, 2010, p. 317.
19
CARTER, 2010, p. 317.
20
CARTER, 2010, p. 317.
21
CARTER, 2010, p. 317.
22
CARTER, 2010, p. 317.
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CONSIDERAÇÕES
REFERÊNCIAS
CAIRNS, Earle Edwin. O cristianismo através dos séculos: uma história da Igreja
Cristã. 2.ed. São Paulo: Vida Nova, 2008.
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Para uma compreensão dos confrontos empreendidos entre teólogos do protestantismo e do
catolicismo romano, defendendo suas convicções doutrinárias, indica-se: SOUZA, 2014.
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COLLINS, Gary. Aconselhamento cristão: edição século 21. 1.ed. revisada. São
Paulo: Vida Nova, 2011.
SOUZA, Edilson Soares de. Cristãos em confronto: Brasil, 1890-1960. Curitiba, PR:
Editora CRV, 2014.
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