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SUPERVISÃO E ÉTICA NO ACONSELHAMENTO PASTORAL1

Edilson Soares de Souza.2

INTRODUÇÃO

Desde Gregório (540-604), também conhecido como “O Grande”, até os dias


atuais, muito se discutiu e também se produziu sobre a importância e os desafios que
perpassam o cuidado pastoral. Além de intensificar o poder do bispado de Roma,
Gregório marcará a história do cristianismo como um pastor que deu ênfase à pregação
e aos temas complexos da teologia. Ao comentar a consistente obra deixada por
Gregório, Earle Cairns afirmou que ele “escreveu também uma obra conhecida como o
Livro do Cuidado Pastoral, que trata de teologia pastoral, em que se ocupa com os pré-
requisitos para o ministério, as virtudes indispensáveis a um pastor e o valor da
introspecção”.3 Assim, podemos observar em Gregório certo zelo em relação ao cuidado
pastoral. Tal cuidado manifesta-se entre o final da Antiguidade Tardia e o início da
Idade Média.
Já na chamada Era Moderna, dos muitos conceitos que remetem ao cuidado
eclesiástico ou ministerial, mais especificamente ao chamado Aconselhamento Pastoral,
um pode ser inserido no presente texto, auxiliando no desenvolvimento da reflexão.
Para James Reaves Farris, “o aconselhamento pastoral é o processo pelo qual um
pastor, ou outro representante da igreja, trabalha com indivíduos, grupos e famílias,
num contexto relativamente estruturado, com um programa de conhecimento
emocional, psicológico e espiritual, tentando curar suas feridas”. 4 Da afirmação de
Farris, pode-se entender que o aconselhamento pastoral não é apenas um ato ou um
rápido encontro pastoral, mas um processo. O autor também entende que o processo de
aconselhamento pode estar vinculado ao ministério mais amplo da igreja local, pois o

1
O presente texto é o resultado das discussões desenvolvidas com os alunos do Mestrado Profissional
em Teologia das Faculdades Batista do Paraná, no contexto da disciplina “Temas relevantes no
Aconselhamento Pastoral”. Dois temas podem ser destacados no conteúdo da disciplina: a importância
da supervisão no processo de aconselhamento pastoral; e a discussão sobre uma ética voltada
especificamente para a teologia prática no aconselhamento religioso.
2
Pós-doutorado pelo Programa de Pós-graduação em História da Universidade Federal do Paraná
(UFPR). Doutorado e mestrado em História pela UFPR. Psicólogo clínico. Bacharel em teologia.
Professor nas Faculdades Batista do Paraná (FABAPAR). Pesquisador no Núcleo Paranaense de
Pesquisa em Religião (NUPPER). E-mail: edilsonssouza@uol.com.br.
3
CAIRNS, 2008, p. 147.
4
FARRIS, 1996, p. 19.
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conselheiro pode constituir-se num “representante da igreja”, além de apoiar-se em


elementos que remetem à psicologia e espiritualidade.
Motivado pela intenção de Gregório, “O Grande”, mas também pelos desafios
que o aconselhamento pastoral coloca na atualidade, como observado no conceito de
Farris, o presente texto reflete objetivamente sobre dois temas relacionados ao cuidado
pastoral: a importância do trabalho de supervisão no processo de aconselhamento
pastoral e a discussão atual sobre a relevância de uma ética voltada ao exercício do
aconselhamento religioso. 5 O principal objetivo desta reflexão, que é resultado das
discussões no curso do mestrado das Faculdades Batista do Paraná, é ampliar a
compreensão sobre as duas temáticas: supervisão pastoral em aconselhamento e ética no
aconselhamento religioso.

1. A SUPERVISÃO NO TRABALHO DE ACONSELHAMENTO

Atualmente, a disciplina de Aconselhamento Pastoral ou Aconselhamento


Cristão faz parte da grade curricular das faculdades de teologia, objetivando preparar os
acadêmicos no processo de acompanhamento de pessoas em aconselhamento religioso.
Em nível de graduação, objetiva-se introduzir os alunos nos principais conceitos que
remetem ao trabalho de aconselhamento pastoral ou cristão, além de apresentar os
principais teóricos da área prática da teologia. Se o espaço nos currículos de teologia,
destinado ao preparo de uma liderança religiosa capaz de atuar com propriedade no
processo de aconselhamento, atende as principais demandas é outra discussão, bastante
pertinente nos dias atuais.
Visando atender a tais demandas e objetivando capacitar aqueles que já atuam
ou desejam atuar em nível de aconselhamento, as instituições teológicas passaram a
oferecer cursos de aconselhamento pastoral em nível de pós-graduação Lato Sensu,
permitindo maior aprimoramento àqueles que escolhem entender e atuar junto aos que
buscam no apoio das confissões religiosas uma compreensão e solução para os seus
problemas e sofrimentos.6 Mas a demanda pelo acompanhamento em aconselhamento

5
O presente texto utiliza as expressões “aconselhamento pastoral”, “aconselhamento cristão” e
“aconselhamento religioso” como termos próximos, reconhecendo que não apresentam os mesmos
significados, ficando a discussão conceitual dos três termos para outro momento.
6
Como outras Instituições de Ensino Superior, as Faculdades Batista do Paraná oferecem na área da
teologia três níveis de estudos em Aconselhamento Pastoral: a) os alunos e as alunas do curso de
bacharelado em teologia estudam Aconselhamento Pastoral durante um período, considerando
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religioso vai além das fronteiras dos grupos confessionais. É possível identificar
necessidades específicas de aconselhamento no que pode se chamar de capelania
voltada ao social ou ao sistema carcerário. O mesmo ocorre diante das demandas dos
sistemas familiares, que passam por conflitos, desestruturações e reorganizações
relacionais.
Neste sentido, o diálogo da teologia com outras áreas do conhecimento revela-se
fundamental, já que o conselheiro ou a conselheira pastoral vai se deparar com questões
que vão além dos temas sobre o sagrado e as convicções espirituais. Discussões sobre
algum tipo de violência familiar, seja psicológica ou física, atingindo mulheres e
crianças, são recorrentes nos mais variados tipos de aconselhamento religioso. Temas
sobre formas de opressão, algumas vezes mascaradas pelos discursos religiosos,
também estão presentes no cotidiano daqueles e daquelas que atuam no contexto de
aconselhamento, independente da confissão professada. Assim, certo conhecimento da
psicologia aplicada ao aconselhamento religioso e de aspectos relacionados à prática do
direito apresentam-se fundamentais nesta área de prática ministerial.
Lothar Carlos Hoch, num artigo intitulado Violência e criminalidade como
desafios à pastoral: considerações a partir da Pastoral Carcerária, escreveu o
seguinte:

a criminalidade em nosso contexto anda de mãos dadas com a corrupção.


Está aí a máfia econômica, nacional ou transnacional, a ditar as regras do
contrabando, do comércio de armas e do tráfico de drogas. Com frequência
isso acontece mediante a cumplicidade de órgãos públicos e de integrantes da
classe política.7

Cabe ressaltar que o autor apresentou suas considerações sobre a violência e a


criminalidade no Brasil em 1985, apontando para a urgência de uma pastoral que
atuasse de forma adequada e coerente naquele contexto sócio-cultural. Trinta anos se
passaram e as demandas sociais continuam a desafiar o cristianismo brasileiro,
sobretudo no manejo de um efetivo aconselhamento social, inclusive voltado para a
pastoral carcerária. Hoch ainda afirmou o seguinte:

aspectos básicos da área pastoral; b) o curso de Pós-Graduação Lato Sensu oferece o curso de
Capelania e Aconselhamento, destacando disciplinas como Capelania Social e Carcerária;
Aconselhamento Familiar e Conflitos e Psicologia Aplicada ao Aconselhamento; e c) em nível de
Pós-Graduação Stricto Sensu há o Mestrado Profissional em Teologia, objetivando a prática
ministerial e oferecendo duas disciplinas: Teoria e Prática do Aconselhamento Pastoral e Temas
Relevantes em Aconselhamento Pastoral.
7
HOCK, 1985, p. 284.
3
4

quero antecipar desde já que considero a Pastoral Carcerária como um dos


mais importantes canais de acesso que a Igreja possui para se acercar do
problema da violência e das suas raízes mais profundas. A pessoa do preso e
a realidade carcerária são um ponto crucial para o qual convergem as mais
diferentes formas de injustiça e de sofrimento individual e coletivo.8

Evidentemente, os desafios das comunidades religiosas, das várias igrejas em


cada localidade e das múltiplas denominações de confissão cristã na América Latina
aumentaram em quase duas décadas do presente século, apontando para outros modelos
de aconselhamento pastoral, como analisou Christoph Schneider-Harpprecht em artigo
intitulado Aconselhamento Pastoral.9
Antes de empreender uma análise de alguns tipos de aconselhamento, Christoph
Schneider-Harpprecht afirmou:

uma dificuldade com que nos deparamos na apresentação de tipos de


aconselhamento pastoral na América Latina consiste no fato de que a maioria
dos livros sobre o assunto são traduções de textos escritos no contexto norte-
americano que mostram apenas na superfície algumas semelhanças com o
contexto latino-americano (organização congregacionalista das igrejas,
separação de Igreja e Estado, fortes movimentos fundamentalistas, problemas
raciais, sociedade multicultural de imigrantes).10

A discussão sobre uma tipologia do aconselhamento pastoral remete a outra


discussão pertinente: a importância de o aconselhamento apropriar-se de referenciais
teóricos e metodológicos que reflitam a realidade da América Latina, dando sustentação
ao trabalho de acompanhamento pastoral em momentos de crise e conflitos pessoais,
sociais e relacionais. Além da percepção sobre a importância dos aspectos teóricos e
metodológicos, observa-se que aqueles que atuam no aconselhamento podem ser
beneficiados com um treinamento continuado, caracterizado por um trabalho de
supervisão em aconselhamento. Cabe lembrar que a proposta de supervisão não é nova
em diversas áreas profissionais, inclusive naquelas que estão relacionadas ao cuidado do
ser humano nas mais variadas áreas.11
Os conselheiros pastorais fizeram uma opção no sentido de trabalhar com
pessoas e sistemas familiares, sendo que os conflitos e as diversas formas de sofrimento
constituem-se na temática principal dos encontros, quando a dor e as angústias são

8
HOCK, 1985, p. 284.
9
SCHNEIDER-HARPPRECHT, 2005, p. 291-319.
10
SCHNEIDER-HARPPRECHT, 2005, p. 303.
11
Áreas como a medicina, a odontologia e a psicologia, entre outras, podem ser citadas como profissões
que utilizam a supervisão. A supervisão pode favorecer uma maior troca de conhecimentos, teóricos e
práticos, entre profissionais e suas práticas, diante das mais complexas demandas.
4
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expostas pelas pessoas durante os atendimentos. Desta forma, não basta ter
conhecimento teórico ou prático, já que passar por determinadas vivências no ciclo da
vida revela-se igualmente importante, quando se objetiva ajudar o outro. Conselheiros
pastorais trabalharão necessariamente com temas como angústia, culpa, perdão e paz. É
importante que não somente se conheça conceitualmente o significado de cada uma
destas palavras, mas também que se procure entender a apropriação que as pessoas
fazem de cada uma delas. O importante, então, não é apenas o significado teológico de
tais expressões, mas o sentido que o aconselhando dá às mesmas.
A busca pela compreensão da estrutura mental de cada pessoa, suas emoções e
pensamentos, além de seus comportamentos, pode se dar no encontro entre o
conselheiro e o seu supervisor. Além das questões sobre as características pessoais dos
aconselhandos, aspectos como a vida e as práticas religiosas, tomando como
fundamento o contexto eclesiástico no qual se está inserido, podem ser considerados no
encontro de supervisão. Assim, pode-se entender a supervisão em aconselhamento
religioso como um encontro entre duas ou mais pessoas, objetivando discutir e
compreender determinados temas que são apresentadas e tratados no trabalho de
aconselhamento pastoral, favorecendo o direcionamento ou o redirecionamento do
processo de intervenção pastoral.
Uma afirmação de Gary Collins ajuda a considerar a importância da supervisão
em aconselhamento: “reconhecer que ninguém consegue fazer tudo, e que Deus não
espera que algum de nós revolva todos os problemas da humanidade, é algo que nos
liberta”.12 Pode-se, então, aplicar o pensamento de Collins ao processo de supervisão
em aconselhamento, quando o conselheiro ou a conselheira pode contar com o
conhecimento e a experiência de um conselheiro mais experiente, capaz de ouvir e
entender o que se passa, mesmo estando distante das vivências que se manifestaram no
processo de acompanhamento.
Nesta proposta de supervisão, é importante que o conselheiro ou a conselheira
reconheça suas limitações, não se cobrando ou se culpando pelos resultados,
aparentemente desfavoráveis. A ideia da supervisão é poder contar e dialogar com
alguém que percebe os problemas com os quais se trabalha, observando-os por outro
ângulo. Cabe ressaltar que aquele ou aquela que realiza a supervisão não resolve os
problemas no lugar do conselheiro, mas os questiona e pode apontar para caminhos

12
COLLINS, 2011, p. 699.
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ainda não percorridos. A supervisão pode ser entendida como um instrumento que
permite o desenvolvimento saudável do aconselhamento, a partir das contribuições de
alguém mais experiente.
A supervisão no aconselhamento pode ser colocada como um dos temas
relevantes, mas está ainda em processo de construção nas práticas pastorais no contexto
religioso das igrejas e denominações cristãs no Brasil, diferentemente de outras áreas
profissionais que percebem na supervisão um valioso recurso de apoio ao tratamento
proposto. Ao lado do preparo acadêmico e religioso no aconselhamento, a supervisão
apresenta-se como mais um recurso de intervenção diante de transtornos e conflitos
pessoais, relacionais e sistêmicos. No entanto, junto com a supervisão, pode-se
considerar outro tema importante no aconselhamento pastoral: a ética dos conselheiros.

2. A ÉTICA NA INTERVENÇÃO DO ACONSELHAMENTO

A questão que envolve a ética indica tal complexidade, pois “diz respeito à
determinação do que é certo ou errado, bom ou mau, permitido ou proibido, de acordo
com um conjunto de normas ou valores adotados historicamente por uma sociedade”.13
Já no aspecto eclesiástico, o Código de Ética da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil
(OPBB) indica a compreensão que a coletividade alcançou sobre o cuidado com o
outro. Ao tratar “Dos Princípios Gerais”, em seu 4º artigo, o Código de Ética da OPBB
lembra: “o pastor compromete-se com o bem-estar das pessoas sob seus cuidados,
utilizando todos os recursos lícitos e éticos disponíveis, para proporcionar o melhor
atendimento possível, agindo com o máximo de zelo e o melhor de sua capacidade,
assumindo a responsabilidade por qualquer ato ministerial ou pessoal do qual
participou”.14
Uma das perguntas que motivou a presente reflexão foi esta: como as discussões
que envolvem as questões éticas podem ajudar no manejo do aconselhamento pastoral
no contexto brasileiro? Algumas respostas podem ser propostas, entre elas: porque o
aconselhamento pastoral está voltado para pessoas, casais e famílias, implicando em
posturas éticas durante o acompanhamento pastoral. Uma postural ética é importante,
pois as pessoas confiam aos conselheiros e conselheiras experiências muito pessoais e
profundas. Algumas destas experiências foram traumáticas, tornando-se um segredo na

13
MARCONDES, 2007, p. 9.
14
Código de Ética da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil.
6
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vida de muitas pessoas. São, portanto, conteúdos que não podem ser compartilhados,
inclusive com pessoas muito próximas daqueles que se dispõe a aconselhar.
O aconselhamento pastoral não pode ser confundido com as diversas terapias já
reconhecidas pela sociedade moderna ocidental, sobretudo aquelas que são
reconhecidas e praticadas pela medicina e pela psicologia. As diversas áreas de
conhecimento – teologia, medicina e psicologia – conservam os conjuntos teóricos e
práticos que dão sustentação às suas múltiplas intervenções. No entanto, a percepção de
Carlos José Hernández sobre a atuação do terapeuta pode ser aplicada a outras áreas de
apoio ao desenvolvimento humano, visando o crescimento das pessoas. Hernández é o
autor do livro O lugar do sagrado na terapia, que discute a presença do sagrado no
contexto da psicoterapia.
No que pese os estudos de Hernández aplicarem-se aos fenômenos da psicologia
e da psiquiatria, uma reflexão pode ajudar nas discussões sobre a postura ética daqueles
que atuam na área do aconselhamento religioso:

o terapeuta é uma pessoa autêntica, isto é, liberada da máscara do


profissionalismo. De algum modo, é um modelo de espontaneidade em sua
relação com o outro e na aceitação do transcendente. Ele está convencido de
que não é a técnica que estimula o crescimento, mas é sua própria pessoa que
impressiona e impacta, que intervém na mudança de atitudes. Por outro lado,
o terapeuta entende a relação de ajuda como um instante no vasto campo de
interações que o paciente tem em sua existência.15

Outra contribuição pertinente é dada por James Carter e Joe Trull, no final da
obra intitulada Ética Ministerial, quando apresentam um breve exemplo de Código de
Ética para conselheiros e conselheiras pastorais (sendo esta uma produção
estadunidense). 16 Embora seja uma obra que remete a outro contexto religioso-
teológico, indicando práticas ministeriais diferentes e distintas das observadas na
América Latina, a discussão ajuda no entendimento da ética no aconselhamento. O
modelo do Código de Ética apresentado consta de 11 (onze) tópicos, destacando a
postura ética daqueles e daquelas que ministram na área de aconselhamento cristão. As
expressões utilizadas no início de cada tópico remetem a uma prática ética caracterizada
por responsabilidades bem definidas, tais como: terei; reconhecerei; evitarei;
demonstrarei; encaminharei; manterei; oferecerei; apoiarei; e procurarei.17

15
HERNÁNDEZ, 1986, p. 122.
16
CARTER, 2010.
17
CARTER, 2010, p. 317.
7
8

Três ênfases podem ser identificadas na proposta do Código de Ética


apresentado pelos autores: a) a compreensão que o conselheiro ou a conselheira tem de
si mesmo; b) a percepção que se tem da responsabilidade no trabalho de
aconselhamento pastoral; c) a visão de um processo de aconselhamento religioso que
implique na participação de vários profissionais que atuam em diversas áreas, mas que
podem favorecer no desenvolvimento da pessoa ou do sistema familiar em atendimento.
As três ênfases anteriormente citadas reforçam a ideia de se buscar na supervisão um
instrumento que permita um acompanhamento qualificado, visando o crescimento
pessoal, relacional e social.
Lendo o Código de Ética em análise, depara-se com as seguintes
recomendações: a) “terei um pastor/conselheiro ao qual possa recorrer para trocar ideias
e receber aconselhamento”;18 b) “demonstrarei aceitação incondicional e amor para com
todas as pessoas que aconselhar, independentemente de seus valores, crenças, atitudes
ou ações”; 19 c) “encaminharei qualquer cliente para outro profissional que possa lhe
oferecer terapia apropriada, caso eu seja incapaz de beneficiá-lo”; 20 d) “manterei
confidenciais todos os assuntos discutidos no contexto do aconselhamento, a menos que
alguma informação implique risco para o cliente ou outra pessoa ou que a lei exija a
quebra de sigilo”; 21 e) “procurarei apoiar as políticas e crenças de minha igreja sem
impô-las indevidamente aos meus clientes”.22
A partir das afirmações encontradas no modelo de Código de Ética referenciado,
voltado aos conselheiros e conselheiras pastorais, a ênfase no “terei” um pastor
conselheiro a quem possa recorrer faz parte das “obrigações” daqueles que atuam nessa
área da teologia. Por outro lado, o reconhecimento das chamadas “políticas e crenças”
de determinada denominação podem ser observadas, sem criar qualquer
constrangimento àqueles que optaram pelo processo de aconselhamento. Cabe lembrar
ainda que, tais práticas nesta área da teologia diferem das práticas desenvolvidas no
contexto de América Latina quando o conselheiro ou a conselheira, além de seu
trabalho em aconselhamento, exerce tantas outras funções como líder de uma igreja
cristã local. Algumas vezes, aquele que atua como conselheiro é legitimado por sua
comunidade religiosa como o guardião da moralidade e dos chamados “bons costumes”,

18
CARTER, 2010, p. 317.
19
CARTER, 2010, p. 317.
20
CARTER, 2010, p. 317.
21
CARTER, 2010, p. 317.
22
CARTER, 2010, p. 317.
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atuando também na esfera disciplinar de suas congregações. Eis um outro desafio ao


aconselhamento pastoral.

CONSIDERAÇÕES

Os desafios que envolvem o trabalho de aconselhamento pastoral na América


Latina e no Brasil inspiram e motivam os teólogos cristãos num esforço de reflexão e
diálogo entre os diversos segmentos denominacionais, entendendo que o período de
confronto discursivo entre os intelectuais cristãos ficou no passado. 23 Dos muitos
desafios para a teologia pastoral nos dias atuais, alguns estão relacionados ao cuidado
pastoral, mais especificamente, ao trabalho de aconselhamento. O cristianismo é
chamado a responder determinadas questões que afligem as sociedades da América
Latina. Desta forma, o aconselhamento religioso no contexto brasileiro pode se colocar-
se como um instrumento de apoio ao povo em meio ao sofrimento, constituindo-se
como renovador da esperança e um fator de fortalecimento das pessoas, das famílias e
mesmo da sociedade.
É importante se reconhecer a trajetória empreendida pela teologia pastoral na
América Latina, sobretudo no que se refere ao trabalho de aconselhamento cristão.
Além das produções que foram traduzidas para o português, auxiliando na formação
teológica de gerações, deve-se destacar o trabalho dos teólogos em favor de uma
reflexão que responda aos anseios das sociedades numa era de profundas
transformações. Pode-se pensar num tipo de aconselhamento pastoral pautado no
trabalho de supervisão, além de estar apoiado numa ética reflexiva e prática, que
contribuirá para um cristianismo cuja mensagem é de esperança e graça, em meio ao
sofrimento das pessoas, das famílias e da sociedade.

REFERÊNCIAS

CAIRNS, Earle Edwin. O cristianismo através dos séculos: uma história da Igreja
Cristã. 2.ed. São Paulo: Vida Nova, 2008.

CARTER, James E. Ética ministerial: um guia para a formação moral de líderes


cristãos. São Paulo: Vida Nova, 2010.

23
Para uma compreensão dos confrontos empreendidos entre teólogos do protestantismo e do
catolicismo romano, defendendo suas convicções doutrinárias, indica-se: SOUZA, 2014.
9
10

CLINEBELL, Howard J. Aconselhamento pastoral: modelo centrado em libertação e


crescimento. São Paulo: Paulina; São Leopoldo, RS: Sinodal, 1987.

Código de Ética da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil. Disponível em:


<http://www.opbb.org.br/recursos/documentos/cat_view/1-institucional?start=5>.
Acesso em: 15 de setembro de 2015.

COLLINS, Gary. Aconselhamento cristão: edição século 21. 1.ed. revisada. São
Paulo: Vida Nova, 2011.

FARRIS, James Reaves. Teologia prática, cuidado e aconselhamento pastoral: um


resumo da história recente e suas conseqüências atuais. Estudos de Religião: Revista
Semestral de Estudos e Pesquisas em Religião, ano XI, n. 12, dez/1996, p. 11-30.

HERNÁNDEZ, Carlos José. O lugar do sagrado na terapia. São Paulo:


Nascente/CPPC, 1986.

HOCK, Lothar Carlos. Violência e criminalidade como desafios à pastoral:


considerações a partir da Pastoral Carcerária. Palestra proferida pelo autor na Consulta
Internacional sobre Pastoral Carcerária, no Instituto Ecumênico de Bossey, Suíça, entre
21 e 25 de agosto de 1985.

MARCONDES, Danilo. Textos básicos de ética: de Platão a Foucault. Rio de Janeiro:


Jorge Zahar Editor, 2007.
SCHNEIDER-HARPPRECHT, Christoph. Aconselhamento Pastoral. In: SCHNEIDER-
HARPPRECHT, Christoph. (org.). Teologia Prática no contexto da América Latina.
2.ed. São Leopoldo: Sinodal; São Paulo: ASTE, 2005, p. 291-319.

SOUZA, Edilson Soares de. Cristãos em confronto: Brasil, 1890-1960. Curitiba, PR:
Editora CRV, 2014.

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