A EVANGELIZAÇÃO DA CIDADE: O
APOSTOLADO URBANO. Porto Alegre, EDIPUCRS, 1ª edição, 2004, páginas
51 a 59.
É certo que nem todas as pessoas que vivem na cidade endossam essa
mentalidade. Nem ela é pura, nem ninguém. Trata-se, antes de tudo, de uma
tendência, que deve ser levada em consideração para qualquer trabalho de
evangelização ou de humanização da cidade. Não se pretenderá mudá-la, mas
reconhecê-la como um dado, a partir do qual se tentarão mudar as condições
de vida da e na cidade.
Cox, numa primeira análise, nos idos da década de 60, viu as cidades
como produto dos interesses econômicos. Colocou na sua base o
economicismo. Segundo ele, os templos religiosos estavam sendo substituídos
pelos bancos e as catedrais pela bolsa de valores. Criou-se uma super-cultura,
que abafa as culturas particulares. Faz as cidades perderem sua alma própria,
implantando uma mentalidade generalizada. Corre já o aforismo: todas as
cidades são iguais. Tudo começa a se uniformizar, desde o transito até as
construções, desde os costumes até a própria urbanística.
Acontece que a primeira obra de Cox sobre a “Cidade Secular” não foi a
ultima palavra sobre o assunto. Ele mesmo se deu conta de que se enganou na
leitura dos sinais urbanos. A religiosidade não morre nas cidades. Pelo
contrário, após longa repressão, quer ideológica nos países marxistas, quer
pragmática pela mensagem cientificista que promoveu o secularismo, a
religiosidade nasceu nas cidades, de modo vigoroso, incontrolável e
surpreendente.
Artificialismo Urbano
Sendo criação humana, é óbvio que a cidade seja artificial. Isto significa
que proporcionará condições artificiais de vida.Basta citar alguns exemplos
elucidativos: a cidade corta o contato do homem com a natureza: não pisa, com
seus pés descalços, a terra; não mexe, com suas mãos, na natureza; a vida
torna-se preponderantemente, noturna; as luzes da cidade não se apagam de
noite, desaparecendo a escuridão e, em conseqüência, a apreciação das noites
estreladas, que, no seu silêncio profundo, reconfortam a alma; a vida se
caracteriza como sedentária, no sentido etimológico da palavra, de ficar
sempre sentado, sem uma movimentação suficientemente variada para a
circulação orgânica; o homem vive permanentemente engaiolado, com poucas
chances de descortinar um horizonte mais amplo; apesar de todo o asseio da
residência, o ar está infestado de poluição e a água tem o cheiro do cloro; a
movimentação nas ruas é extremamente dificultada pelo atropelo das pessoas
e pelos sinais de trânsito; a poluição sonora agita constantemente o sistema
nervoso; o superego constrange permanentemente as atitudes espontâneas;
impõe-se um bitolamento para todas os hábitos pessoais; cria-se uma
instabilidade, que não permite previsões a longo prazo; os homens se tornam
apáticos frente aos problemas alheios; ninguém se conhece, ninguém se
relaciona: multidões anônimas se entrecruzam diariamente, sem a mínima
atenção de uns aos outros; o espírito de massa desafia a responsabilidade
pessoal; as solicitações, de todos os lados, constituem tentações constantes
para o mal, o sexo, as drogas, o furto... toda essa situação pode ser resumida
em quatro palavras: dispersão, massificação, solidão e marginalização.
As consequências
Fala-se cada vez mais de violência urbana. Seus fatores são múltiplos.
Mas, na base, se encontra a própria urbanização desordenada. A
agressividade se manifesta em diversas circunstâncias e oportunidades.
Parece a explosão de uma força, comprimida por muito tempo. É a
irracionalidade que prevalece sobre os sentimentos mais nobres.
Tentativas de solução
Outra atitude é o conformismo: deixar como está para ver como fica. Se
não se tomarem medidas mais sábias, a humanidade corre sérios riscos de
vida. É necessário humanizar a cidade. A solução concreta é evangelizá-la.
O evangelho de Cristo tem algo a dizer para nossa cidade. Ele nos diz
que é possível viver nela. A cidade apresenta inúmeros valores. Mas é preciso
eliminar uma série de defeitos, que os próprios homens criaram nela. Não
haveremos de tirar o artificialismo das cidades – isso seria uma contradição –
mas fazer com que a vida humana não seja abafada, mas plenificada por ele.
Não resolveremos nossos problemas contra a técnica, mas exatamente por
meio dela, servindo-nos de critérios mais humanos e orientando-nos pela
sabedoria.
As periferias urbanas
Quem hoje quiser falar da problemática das cidades deve recolher, pelo
menos, oito gêneros de dados:
1. Dados geográficos: clima, localização e relevo.
2. Dados históricos: acontecimentos marcantes e personalidades ilustres
3. Dados demográficos: total de habitantes e composição étnica da
população.
4. Dados econômicos: principais ocupações, produções, agências.
5. Dados políticos: organização. Partidos, ideologias.
6. Dados sociais: serviços públicos e privados.
7. Dados culturais: escolas, associações, clubes, meios de comunicação.
8. Dados religiosos: igrejas, seitas, crenças.