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Grings, Dom Dadeus.

A EVANGELIZAÇÃO DA CIDADE: O
APOSTOLADO URBANO. Porto Alegre, EDIPUCRS, 1ª edição, 2004, páginas
51 a 59.

A cidade, como obra humana, apresenta muitas ambigüidades. Num


lado, se constitui num centro de cultura e de tecnologia e, de outro lado,
modifica as condições de vida e de trabalho, nem sempre num sentido mais
humano. De um lado, proporciona um modo mais radical e estruturado de
morar, e de outro, deixa, muitas vezes, o indivíduo isolado; domestica a
natureza, mas deixa o homem longe dela; proporciona uma infinidade de
possibilidades para conhecer mundos de diferentes idéias sociais, políticas,
artísticas e religiosas, mas facilmente o priva de sua própria identidade cultural;
com os meios de comunicação amplia os conhecimentos, mas fomenta
também uma ânsia consumista; reúne as pessoas para encontrar soluções
para seus problemas, mas também acentua a distância entre setores ricos e
marginalizados.

A cidade cria um modo de pensar e agir, que lhe é próprio. Podemos


elencar algumas dimensões dessa mentalidade que permeia, de algum modo,
todas as cidades:

a) uma mentalidade científico-técnica. A cidade não se ocupa com


problemas pessoais, mas concentra sua atenção na organização
racionalizada, tendo em vista o bem comum. Os próprios homens não
são vistos em sua dignidade pessoal, mas na eficácia de sua
funcionalidade. O homem da cidade resolve os problemas pela ciência e
pela técnica, contrariamente ao homem do campo, que sente sua
dependência da natureza. Acontece, porém, que a ciência e a técnica
não respondem às interrogações existenciais, que ficam a descoberto.

As cidades modernas são, em grande parte, produto dos interesses


econômicos, criados pela revolução industrial e tecnológica. Na sua
base se encontra um economicismo radical, que ignora os outros fatores
de convivência humana.

b) Uma mentalidade aberta. Nada se herda, tudo é conquista ou opção


pessoal. Isto significa que o homem da cidade não tem compromissos a
não ser aqueles que ele mesmo assumiu. Por isso é extremamente
vulnerável.

c) Uma mentalidade dinâmica. O homem da cidade prefere a novidade.


Busca o novo, no modo de vestir, nas canções, nos costumes. Troca
facilmente de domicílio. Vive em contínua mudança, trabalha em um
lugar, dorme em outro, come num terceiro e se diverte em lugar
diferente.
d) Uma mentalidade desarraigada: grande parte dos que moram nas
cidades são imigrantes. Não tem raiz em parte alguma. Sua
característica é a mutabilidade. Assim, a população urbana se torna
extremamente heterogênea.

e) Uma mentalidade secularizada. O homem do campo vive numa


mentalidade sacral: vê, na natureza, a obra e a presença de Deus. O
homem da cidade, ao invés, não encontra Deus, mas em toda parte se
depara com sua própria obra e imagem. Em consequência, sente-se
invadido pela angústia e frustrações.

f) Uma mentalidade extrovertida. Na cidade a pessoa é vitima de um


bombardeio de idéias e de novidades, que não a deixam pensar por si
mesma. Conduzem à ditadura do anonimato. A pessoa se perde na
massa. Não mais diz “eu”, mas a gente. A ação humana não brota da
consciência pessoal, mas de um impulso coletivo, que invade a todos.

g) Uma mentalidade de relações funcionais. Não conta mais o parentesco,


nem a vizinhança. Todo relacionamento se reduz à função, numa
solidariedade apenas com aqueles que estão empenhados no mesmo
setor. O homem é avaliado pelo trabalho e não pelo ser.

h) Uma mentalidade audiovisual, criada pelos meios de comunicação. Não


se trabalha tanto com idéias como com imagens. Não se pensa, mas se
imagina.

É certo que nem todas as pessoas que vivem na cidade endossam essa
mentalidade. Nem ela é pura, nem ninguém. Trata-se, antes de tudo, de uma
tendência, que deve ser levada em consideração para qualquer trabalho de
evangelização ou de humanização da cidade. Não se pretenderá mudá-la, mas
reconhecê-la como um dado, a partir do qual se tentarão mudar as condições
de vida da e na cidade.

É sabido que a cultura da cidade não resolve os problemas íntimos do


homem. Mas ela apresenta um texto de sinais legíveis que devem ser
interpretados, avaliados e eventualmente trabalhados.

Cox, numa primeira análise, nos idos da década de 60, viu as cidades
como produto dos interesses econômicos. Colocou na sua base o
economicismo. Segundo ele, os templos religiosos estavam sendo substituídos
pelos bancos e as catedrais pela bolsa de valores. Criou-se uma super-cultura,
que abafa as culturas particulares. Faz as cidades perderem sua alma própria,
implantando uma mentalidade generalizada. Corre já o aforismo: todas as
cidades são iguais. Tudo começa a se uniformizar, desde o transito até as
construções, desde os costumes até a própria urbanística.
Acontece que a primeira obra de Cox sobre a “Cidade Secular” não foi a
ultima palavra sobre o assunto. Ele mesmo se deu conta de que se enganou na
leitura dos sinais urbanos. A religiosidade não morre nas cidades. Pelo
contrário, após longa repressão, quer ideológica nos países marxistas, quer
pragmática pela mensagem cientificista que promoveu o secularismo, a
religiosidade nasceu nas cidades, de modo vigoroso, incontrolável e
surpreendente.

Isso se deve a dois fatores: de um lado está a tendência religiosa, que


pertence à camada profunda do homem. Ela pode ser abafada por algum
tempo, não sem grandes prejuízos psíquicos. Mais cedo ou mais tarde, porém,
ela reivindica seus direitos e explode as supra-estruturas que a tentaram
reprimir. De outro lado está a desilusão da técnica. Ela não consegue preservar
os calores espirituais, como o amor, a honestidade, a alegria, a convivência
pacífica... As “divindades urbanas” não deram acesso, em seus átrios, aos
pobres e provocaram uma marginalização em larga escala.

A desenfreada corrida às cidades decepcionou. Hoje já é considerada


como sintoma de subdesenvolvimento. Basta dizer que, das 15 maiores
cidades do mundo, 13 se encontram nos países mais pobres. México e São
Paulo lideram o triste campeonato com 20 milhões de habitantes. A cidade de
Nova York, mesmo situada no primeiro mundo, apresenta aspectos totalmente
desumanizadores, e que, em certos bairros, causam verdadeiros arrepios.

Na década de 80, se fez um levantamento de opinião em São Paulo.


Constatou-se que 52% da população não gosta da cidade. Até tem raiva e ódio
dela. Nessa altura só a minoria dos paulistanos amam sua cidade e zela por
sua conservação.

Até nas cidades do interior já fazem campanhas no sentido de não


acolher nem ajudar os andarilhos e esmoleres. A caridade cristã atrairia mais
gente dessa categoria e, em breve, criaria problemas gravíssimos para a
cidade. Parece então que é preciso ser desumano para não se tornar
desumano.

Artificialismo Urbano

Sendo criação humana, é óbvio que a cidade seja artificial. Isto significa
que proporcionará condições artificiais de vida.Basta citar alguns exemplos
elucidativos: a cidade corta o contato do homem com a natureza: não pisa, com
seus pés descalços, a terra; não mexe, com suas mãos, na natureza; a vida
torna-se preponderantemente, noturna; as luzes da cidade não se apagam de
noite, desaparecendo a escuridão e, em conseqüência, a apreciação das noites
estreladas, que, no seu silêncio profundo, reconfortam a alma; a vida se
caracteriza como sedentária, no sentido etimológico da palavra, de ficar
sempre sentado, sem uma movimentação suficientemente variada para a
circulação orgânica; o homem vive permanentemente engaiolado, com poucas
chances de descortinar um horizonte mais amplo; apesar de todo o asseio da
residência, o ar está infestado de poluição e a água tem o cheiro do cloro; a
movimentação nas ruas é extremamente dificultada pelo atropelo das pessoas
e pelos sinais de trânsito; a poluição sonora agita constantemente o sistema
nervoso; o superego constrange permanentemente as atitudes espontâneas;
impõe-se um bitolamento para todas os hábitos pessoais; cria-se uma
instabilidade, que não permite previsões a longo prazo; os homens se tornam
apáticos frente aos problemas alheios; ninguém se conhece, ninguém se
relaciona: multidões anônimas se entrecruzam diariamente, sem a mínima
atenção de uns aos outros; o espírito de massa desafia a responsabilidade
pessoal; as solicitações, de todos os lados, constituem tentações constantes
para o mal, o sexo, as drogas, o furto... toda essa situação pode ser resumida
em quatro palavras: dispersão, massificação, solidão e marginalização.

As consequências

A cidade, e consequentemente, a civilização urbana, é artificial. Mas a


vida é natural e tem suas exigências próprias, decorrentes das leis da natureza.
A vida não é máquina. Diante da repressão, que sofre do artificialismo, ele
reivindica, com certa veemência, seus direitos e dá o alarme contra a
sufocação a que é submetida.

Em primeiro lugar aparecem as reações no plano psicológico. A cidade


produz neuroses. Chegando o fim de semana as pessoas procuram fugir da
cidade. Os nervos não agüentam as tensões urbanas e provocam
desequilíbrios psicológicos.

Também o físico reage, causando uma série de doenças, entre as quais


se destacam as cardíacas. O câncer e a AIDS devem ser creditados, em
grande parte, aos problemas urbanos.

Talvez a sexualidade seja a maior vítima da civilização urbana. Tirada de


seu habitat natural, do contato direto com a natureza e da harmonia de todas
as faculdades, a sexualidade ficou exasperada. Parece que todas as energias,
recalcadas pela civilização, se concentram nela, explodem-na em alucinações
frenéticas. A vida sedentária e reclusa não favorece um sadio desenvolvimento
da sexualidade.

As drogas, do cigarro à maconha, do alcoolismo às doses injetáveis, são


um subproduto das cidades, talvez como fuga dos problemas urbanos, ou
preenchimento do seu sem-sentido. Seu comércio e utilização criam um
verdadeiro submundo, com características assustadoras, que chegam a
ameaçar a estabilidade da sociedade e o desenvolvimento da vida humana
sobre a terra.

Fala-se cada vez mais de violência urbana. Seus fatores são múltiplos.
Mas, na base, se encontra a própria urbanização desordenada. A
agressividade se manifesta em diversas circunstâncias e oportunidades.
Parece a explosão de uma força, comprimida por muito tempo. É a
irracionalidade que prevalece sobre os sentimentos mais nobres.

Tentativas de solução

Sendo as cidades um produto da ação humana, os males de que sofre


devem ser imputados a esta mesma ação. Portanto, é novamente o homem
que deve resolver os problemas que ele mesmo criou. A técnica constrói a
cidade. Mas é preciso cuidar para que ela não transforme o homem em
máquina, que se manipula à vontade. A máquina se sujeita a isso e quando o
excesso de esforço exorbita suas potencialidades, se estraga e se joga fora. A
vida agüenta pressões, até certos limites. Deve–lhe vir em socorro a sabedoria,
que é muito mais que o planejamento técnico.

Uma primeira tentativa de solução é representada pela fuga. É o


saudosismo bucólico das matas virgens, dos rios caudalosos, da fauna e da
flora exuberantes, onde se elogia a vida indígena e se defende a ecologia.
Trata-se de uma solução poética, desligada da realidade. Afinal, a urbanização
é um fato irreversível. Os homens residem em cidades e a migração para elas
é um dado indiscutível. Portanto, os problemas que a cidade cria devem ser
resolvidos na e pela cidade.

Apresentemos um exemplo típico: se uma população é intoxicada pela


poluição da cidade, não é solução levá-la para fora e, depois de desintoxicada,
trazê-la de volta para a mesma poluição. A solução seria, pelo contrário,
trabalhar no sentido da diminuição da poluição, de um lado, e da promoção de
defesas orgânicas contra ela, de outro. Esse exemplo se aplica particularmente
à situação dos drogados. É utópico levá-los para alguma fazenda de
recuperação, desligados do ambiente contagiante que os prostrou e, depois de
“recuperados”, devolve-los à cidade de onde provieram.

Outra atitude é o conformismo: deixar como está para ver como fica. Se
não se tomarem medidas mais sábias, a humanidade corre sérios riscos de
vida. É necessário humanizar a cidade. A solução concreta é evangelizá-la.

O evangelho de Cristo tem algo a dizer para nossa cidade. Ele nos diz
que é possível viver nela. A cidade apresenta inúmeros valores. Mas é preciso
eliminar uma série de defeitos, que os próprios homens criaram nela. Não
haveremos de tirar o artificialismo das cidades – isso seria uma contradição –
mas fazer com que a vida humana não seja abafada, mas plenificada por ele.
Não resolveremos nossos problemas contra a técnica, mas exatamente por
meio dela, servindo-nos de critérios mais humanos e orientando-nos pela
sabedoria.
As periferias urbanas

Quem hoje quiser falar da problemática das cidades deve recolher, pelo
menos, oito gêneros de dados:
1. Dados geográficos: clima, localização e relevo.
2. Dados históricos: acontecimentos marcantes e personalidades ilustres
3. Dados demográficos: total de habitantes e composição étnica da
população.
4. Dados econômicos: principais ocupações, produções, agências.
5. Dados políticos: organização. Partidos, ideologias.
6. Dados sociais: serviços públicos e privados.
7. Dados culturais: escolas, associações, clubes, meios de comunicação.
8. Dados religiosos: igrejas, seitas, crenças.

Cada um desses dados merece um longo estudo, quando se quer


conhecer uma cidade, e apresenta uma série de problemas e desafios. O que
hoje assusta, nas grandes metrópoles, é um centro opulento, cercado por um
miserável cinturão de pobreza. As muralhas das cidades antigas serviam-lhes
de proteção contra as hordas inimigas, bem como contra invasões que as
pudessem desestabilizar. Nos grandes portões se controlavam as entradas e
as saídas. Sabia-se muito bem quem estava dentro e não se deixava entrar
quem não tivesse aval para isso.

As cidades modernas estão abertas. Não há mais muros, nem controles.


As pessoas e famílias vão chegando e acampando onde acham espaço, e se
arranjam cada qual à sua maneira. Grande parte não consegue furar o cerco
da opulência que a atraiu e fica à margem da sociedade, causando contínuos
sobressaltos para os que se entrincheiraram nos grandes centros urbanos.

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