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Editora
Léa Carvalho
Capa
MaLu Santos
Projeto gráfico
MaLu Santos
Revisão
Sinei Salles
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
M342a
Martins, Cléo
As Ayabas do Rei / Cléo Martins. -1. ed. - Rio de Janeiro : Metanoia, 2017.
228 p. ; 23 cm.

Glossario.
ISBN 9788594750242

1. Romance brasileiro I. Título.

17-42176 CDD: 869.93


CDU: 821.134.3(81)-3
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Impresso no Brasil
Em memória de

Delfina Kauf an, da Bessarábia, t isavó mater a


de mamãe, Cleófe (1934-2015), filha de minha
inesquecível Vovó Jandira (1909-2004) que era
filha de Otília e neta de Donária.

Alev hasholom
Agradecimentos

A Mãe Stella com quem passei a limpo – imaginei e senti –


Mãe Aninha e o Axé Opô Afonjá de 1936.

A Ida Apor da Conib.

A Iane Rocha: afilhada fiel e g ardiã desses escritos.


PRÓLOGO

A eroporto Internacional de Guarulhos, São Paulo, 12 de junho de 2013,


quarta-feira.
Na manhãzinha cinzenta, o aeroporto parecia enlutado. Membros da
colônia espanhola, maestros, musicistas, políticos, fãs e curiosos rendiam
homenagens à memória de Pablo Estebán Gracián. Sempre risonho, atencio-
so; tão esbelto quanto os dançarinos de flamenco.
Havia morrido em pleno camarim, no Teatro Municipal de São Paulo,
pouco depois de ovacionado, de pé, pela delirante plateia. Imponentes as
fotos do tenor de quarenta e cinco de mãos dadas, no palco, com a prima
donna de trinta e nove e esposa na vida real: o soprano Fuensanta; a mãe de
seus filhos e Maria da famosa ópera de Giuseppi Verdi, Simon Boccanegra,
em que ele interpretara pela última vez Gabrielli Adorno.
De volta para a Espanha – sob a proteção de seu fiel agente de quase dois
metros – a longa mantilha negra escondendo-lhe o rosto de viúva – a cantora
fugia da massa dos jornalistas.
Dava tudo para apagar as imagens: o champanha escorrendo; o espelho
que não embaçara; o sorriso pálido; o pandemônio; a sentença de óbito – en-
farte no miocárdio – sem direito a apelação.
Apertando o terço de pétalas de rosas das Carmelitas Descalças do Mos-
teiro San Jose, de Toledo, Santita compreendia que a senhora do alfanje
pusera ponto final na vida de seu marido. Quase no embarque, implorava o
dom da fortaleza à Santa Madre di Diós, embaralhando as ave-marias com o
desfecho da ópera: – É una verità: I mortali piangono sempre. La natura si
avvolge in un manto di dolor!
De óculos escuros, Cláudia Esther esperava seu voo para Salvador. A dura
realidade. A marcha fúnebre, de Chopin, repetindo-se, repetindo-se em sua
cabeça, impedia-a de despertar do cruel pesadelo.
Passou duas horas ouvindo o taxista. O homem tagarelara sobre o espa-
nhol fulminado pelo enfarte; a bela esposa aos prantos; a moça enforcada, na
página policial; homicídios e assaltos; o alto custo de vida na metrópole; seu
desejo de voltar para Campina Grande...
“O aeroporto se vestiu de luto” – constatou – passando as mãos nos fartos
cabelos crespos e ruivos, agora desalinhados, com ódio de seu blazer e calças
compridas negras. Parecia do fã clube.
Quase não dormira. Levantou-se atrasadíssima. A portaria do hotel
se esquecera de chamá-la. Tinha saído às pressas, deixando para trás o ro-
mance policial pela metade – do tempo em que andava cheia de vida –, a
agenda e o celular do Robson. O detetive convencera-a a permanecer com o
aparelho dele.
Cláudia lembrou-se dos enterros no candomblé: todos de branco, no
cemitério e no ritual para os defuntos, chamado axexê. Sentia inveja da viúva
espanhola; de seus filhos e memórias felizes. Apenas a morte havia separado
Cléo Martins 8

os dois.
Olhou o relógio. Ainda oito e meia. Seu embarque, no quadro azul, estava
previsto para as nove e quinze.
Abriu a bolsa à procura da pílula contra o enjoo, certamente causado pelos
tranquilizantes. Ela deveria ter posto fora aquela bolsa maldita, presente de
Théo na viagem à Holanda. O objeto, gasto pelo uso, aumentava-lhe o senti-
mento de derrota.
Bateu os olhos no celular desligado. Outro presente dele. No sábado, a cai-
xa de mensagens registrara inúmeras chamadas do infiel e de Mãe Etelvina:
a vampira.
Engoliu o comprimido fazendo careta.
Resolveu comprar algo para ler: o melhor veneno contra a galopante de-
pressão.
Na livraria do aeroporto, esbarrou no rabino baixinho de casaco e chapéu
pretos. Tinha peiots: os cachos laterais. Carregava o Sidur.
O ancião protestou, em ídiche: - “Vey!” Em outra época, Cláudia teria
achado graça. “Só a rebbitzin – a mulher dele – pode tocá-lo sem que fique
treif” – impuro – lembrou-se.
Reparou na estante de livros estrangeiros. Em destaque, exibiam-se obras
de Stephen King e Anne Rice. Muito apreciados, no final do século XX.
Gostava da autora de Nova Orleans: onde havia passado a lua de mel,
em outra existência...
Lera “Entrevista com o vampiro” e “O vampiro Lestat”. Não conhecia “A
rainha dos malditos”.
Folheou-o, batendo os olhos no poema de Stan Rice, o esposo da roman-
cista norte-americana. Isso aumentou o desconforto de Cláudia. Deu-se
conta de que a Transilvânia – de Drácula – ficava na atual Romênia, anti-
ga Bessarábia, a terra de seus avós. Compreendia a presença de chupadores
de sangue em sua vida. “Os meus comem alho, usam espelhos, frequentam
praias, vão a igrejas e terreiros...”.
O riso rouco despertou a atenção. – Danem-se – disse baixinho.
Resolveu ficar com o livro. Apresentou o cartão de débito, louca para
dar o fora.
Cláudia pôs o bilhete de embarque no romance. O perfume adocicado
da funcionária, no final da gravidez, era tenebroso. Na saída, foi alcançada
pela voz provinciana da capital paulista.
– Moçáá, você esqueceu o cartão! Com o agito que fica – isso seimpre

As Ayabás do Rei 9


acontece quando morre geinte famosa – talvez num desse teimpo de anun-
ciá, num desse.
A futura mamãe sorriu para Cláudia. A mulher de preto – cabelos de fogo
– arrancou o objeto das mãos da perplexa trabalhadora do Caixa, sem voltar-
-se para trás.
“S
“Sángo, Olúkòso Oko Oba, Oya, Osun
Bàlé mi ògiri gbèdu”

“Xangô, o rei vivo, esposo de Obá, Oiá e Oxum;


Meu Senhor, o dono dos tambores reais.”

(oriki Sángó)
Livro I

A VIAGEM
1
Salvador, quarta-feira, 12 de Junho de 2013
FELICIANO DOS SANTOS BONFIM

O Pero Vaz é distrito da Liberdade – o maior bairro do


Salvador da Bahia de Todos os Santos.
As ruas apertadíssimas (tais quais as de Alfama, em Lisboa,
onde, outrora, imperavam as varinas-peixeiras) são de casa-
rios de taipa e telhas vãs, em geral construções de mais de um
andar, conforme Deus ajuda.
Estaciona-se onde der: pedestres, cães e veículos trafegam
no meio das ruas, desviando-se das crateras causadas pelas
chuvas e jamantas. As igrejas pentecostais proliferam: alto-
-falantes rivalizam. Desempregados jogam dominó, bebem
cerveja e urinam nos muros. Coloca-se o lixo na porta nos dias
em que o lixeiro não vem; crianças brincam de bolas de gude,
figurinhas e correm atrás das arraias – os papagaios – de vá-
rias cores e tamanhos.
Muitos sobrevivem do comércio de comidas, o que torna o
Pero Vaz o paraíso dos temperos e panelas.
O povo não perde a festa da Conceição da Praia, a Lavagem
do Bonfim; as rezas – de casa em casa – de primeiro a treze de
junho – para o popularíssimo Santo Antonio. Os altares – nas
salas caiadas e de tintas vivas não laváveis – são de caixas de
sapatos ornamentadas. Alguém tira os cânticos: “Português
Antonio, santo soberano, retornou ao mundo depois de um
ano”...
Recitam-se ladainhas em latim periclitante: “Orai pros
nobis”. Gente de consideração incensa com mistura de mirra,
alfazema e benjoim: “Subi precioso incenso, até o trono do
Altíssimo; incensai glorioso Antônio, com perfume suavíssi-
mo”.
O São João equipara-se ao Natal. Festeja-se desde a vés-
pera, com licores de jenipapo, bolos, amendoins e espigas de
milho; canjica, mungunzá; laranjas; troca de presentes; fo-
gueiras, fogos, forrós e ressaca de lavar a égua.
As Ayabás do Rei 227
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faleconosco@metanoiaeditora.com

Este livro foi composto nas famílias tipográficas:


Georgia, GrandDesing Neue e Dalek
Impresso em papel offset
Outono de 2017

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