Editora
Léa Carvalho
Capa
MaLu Santos
Projeto gráfico
MaLu Santos
Revisão
Sinei Salles
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
M342a
Martins, Cléo
As Ayabas do Rei / Cléo Martins. -1. ed. - Rio de Janeiro : Metanoia, 2017.
228 p. ; 23 cm.
Glossario.
ISBN 9788594750242
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Impresso no Brasil
Em memória de
Alev hasholom
Agradecimentos
os dois.
Olhou o relógio. Ainda oito e meia. Seu embarque, no quadro azul, estava
previsto para as nove e quinze.
Abriu a bolsa à procura da pílula contra o enjoo, certamente causado pelos
tranquilizantes. Ela deveria ter posto fora aquela bolsa maldita, presente de
Théo na viagem à Holanda. O objeto, gasto pelo uso, aumentava-lhe o senti-
mento de derrota.
Bateu os olhos no celular desligado. Outro presente dele. No sábado, a cai-
xa de mensagens registrara inúmeras chamadas do infiel e de Mãe Etelvina:
a vampira.
Engoliu o comprimido fazendo careta.
Resolveu comprar algo para ler: o melhor veneno contra a galopante de-
pressão.
Na livraria do aeroporto, esbarrou no rabino baixinho de casaco e chapéu
pretos. Tinha peiots: os cachos laterais. Carregava o Sidur.
O ancião protestou, em ídiche: - “Vey!” Em outra época, Cláudia teria
achado graça. “Só a rebbitzin – a mulher dele – pode tocá-lo sem que fique
treif” – impuro – lembrou-se.
Reparou na estante de livros estrangeiros. Em destaque, exibiam-se obras
de Stephen King e Anne Rice. Muito apreciados, no final do século XX.
Gostava da autora de Nova Orleans: onde havia passado a lua de mel,
em outra existência...
Lera “Entrevista com o vampiro” e “O vampiro Lestat”. Não conhecia “A
rainha dos malditos”.
Folheou-o, batendo os olhos no poema de Stan Rice, o esposo da roman-
cista norte-americana. Isso aumentou o desconforto de Cláudia. Deu-se
conta de que a Transilvânia – de Drácula – ficava na atual Romênia, anti-
ga Bessarábia, a terra de seus avós. Compreendia a presença de chupadores
de sangue em sua vida. “Os meus comem alho, usam espelhos, frequentam
praias, vão a igrejas e terreiros...”.
O riso rouco despertou a atenção. – Danem-se – disse baixinho.
Resolveu ficar com o livro. Apresentou o cartão de débito, louca para
dar o fora.
Cláudia pôs o bilhete de embarque no romance. O perfume adocicado
da funcionária, no final da gravidez, era tenebroso. Na saída, foi alcançada
pela voz provinciana da capital paulista.
– Moçáá, você esqueceu o cartão! Com o agito que fica – isso seimpre
(oriki Sángó)
Livro I
A VIAGEM
1
Salvador, quarta-feira, 12 de Junho de 2013
FELICIANO DOS SANTOS BONFIM
faleconosco@metanoiaeditora.com