Marcelo A. Silva
Orientador: Prof. Dr. Éder Soares Santos
RESUMO
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Martin Heidegger é o filósofo de Ser e Tempo. É comum que nos
círculos acadêmicos, nas mesas de discussões em geral tanto de especialistas,
quanto de estudantes e pesquisadores em filosofia, quando se referem ao filósofo da
Floresta Negra, o façam nestes termos. Isso aponta para um aspecto interessante,
qual seja: autor e obra como que se revelam, se apresentam e se caracterizam
mutuamente. Segundo Dubois (2000) toda grande obra se difere e distingue por
aquilo que contém um porvir inaudito e deste modo é capaz de ensinar o que é o
nosso tempo, sobretudo naquilo que poderíamos ter a força de lhe objetar. Dito isso,
fica claro num certo sentido que para obter uma compreensão de Heidegger,
bastaria apenas lê-lo em Ser e Tempo.
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inevitavelmente a certas opiniões filosóficas. Segundo Casanova1, se a filosofia for
encarada apenas como este conjunto de opiniões, seria muito difícil pensar em uma
obra filosófica justamente porque mesmo que estas opiniões fossem articuladas
entre si, jamais poderiam construir uma unidade que o percurso de um pensamento
requer. Diante disso, quando nos colocamos diante de Ser e Tempo, é necessário
percebermos o modo como o filósofo vai mantendo a unidade de seu pensamento
ainda que esta unidade em certos momentos sofra modificações em momentos
diversos. Neste sentido, todo empenho deve se concentrar em determinar uma
espécie de via de saída, daquilo que chamamos conjunto de opiniões para um
“horizonte de compreensão”2 em que o pensamento do filósofo se move para aí
estabelecermos um caminho de compreensão; isso significa dizer que devemos ter
claro, em se tratando do pensamento heideggeriano, a partir de qual ponto,
Heidegger dialoga com a tradição filosófica ocidental e que seu pensamento sofre
estas modificações.
1
CASANOVA, Marco Antônio – Compreender Heidegger – Ed. Vozes, 2009, p.11.
2
CASANOVA, Marco Antônio – Compreender Heidegger – Ed. Vozes, 2009, p.12
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acompanhou no despontar do seu caminho, a saber: os entes se dizem de muitas
maneiras, possuem diversas significações, mas o ser se mantém uno e
independente desta pluralidade de diversidade. Eis configurado o fio condutor
sempre contínuo do pensamento heideggeriano.
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A compreensão heideggeriana para o termo ser-aí, será posteriormente trabalhada dentro do contexto da Analítica Existencial em Ser e
Tempo. Por ora segue apenas a introdução deste termo como via de compreensão para a ambientação do Tratado.
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da subjetividade, isso significa: o problema do ser não se põe para ele. Ser e Tempo
“concentrou um conjunto de questões, como anteriormente apontado, um método,
um estilo de argumentação, um modo de resolver problemas, uma crítica a estilos de
4
filosofar concorrenciais” Sobre o método fenomenológico devedor a seu mestre E.
Husserl,5 acompanhará a ideia husseliana de que é preciso ir à própria coisa. Esta
não é a consciência intencional ou o ego transcendental mas sim, o ser. Portanto, a
fenomenologia eleva-se ao status de uma ontologia. Terá a missão de “mostrar” o
verdadeiro sentido do ser em geral a partir de uma analítica do ente.
4
STEIN, Ernildo – Seis estudos sobre Ser e Tempo – pág10 Ed. Vozes 2005 – 3ª ed.
5
É a Edmund Husserl que Heidegger dedica Ser e Tempo.
6
A diferença ontológica será tratada por Heidegger já nos parágrafos iniciais do tratado, como a razão do esquecimento do ser legado pela
tradição filosófica ocidental o ao desviar-se da questão com a qual Platão, Aristóteles e outros ocuparam-se inicialmente ( pensamento pelo
ser ) e que posteriormente passou para uma investigação do ente. Ao ocupar-se com o ente, a questão do sentido do ser caiu em
esquecimento.
7
PASQUA, Hervé – Introdução à leitura do Ser e Tempo de Martin Heidegger – pág. 9 – Inst. Piaget – Coleção Pensamento e Filosofia
1993 – Trad. Joana Chaves.
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concebida como exteriorização pura. Esta é, portanto, a via que o conduzirá a
procurar a fonte do ser num para além do ser.
8
HEIDEGGER, Martin – Ser e Tempo – Ed. Vozes 3ºed. Pág 37
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nos inclina a intuir que o filósofo inicia uma verdadeira “limpeza” de caminho
preparatória para a introdução da Analítica Existencial.
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questiona o seu ser porque já se move numa compreensão prévia de ser...
Heidegger introduz o termo ser-aí em Ser e Tempo: “Designamos com o termo
Dasein este ente que cada um de nós mesmos sempre somos e que, entre outras
coisas, possui em seu ser, a possibilidade de questionar.” 10
10
HEIDEGGER, Martin – Ser e Tempo - Ed. Vozes 3º ed. Pág. 42-43
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A segunda parte da Introdução (parágrafos 5 a 8) pretende dar conta
de encaminhar a resposta da seguinte questão: Como a analítica do ser-aí pode
revelar o sentido do ser? Este é o tema do parágrafo 5 e a questão se mostra tanto
mais difícil quanto o ser do ser-aí parece escapar-lhe. O ente como qual o ser-aí se
relaciona essencialmente é o mundo. É justamente o ser-aí que fundamenta o
mundo em Ser e Tempo porque estabelece relações com o mundo. O ser-aí
conforme foi dito antes, só é capaz de fundamentar o mundo porque estabelece
relações no mundo.
11
HEIDEGGER, Martin – Ser e Tempo. Tradução de Márcia Sá Cavalcanti – Petrópolis: Vozes 2008 – pág.79
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
STEIN, Ernildo. Seis estudos sobre Ser e Tempo: Vozes, 2005 – 3ª ed.
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