Rio de Janeiro
2017
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Rio de Janeiro
2017
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FOLHA DE APROVAÇÃO
Aprovada por:
_______________________________________
Prof. Dr. Victor Andrade de Melo - Presidente
_______________________________________
Profa. Dra. Andréia Cristina Lopes Frazão da Silva
_______________________________________
Prof. Dr. Flávio dos Santos Gomes
_______________________________________
Profa. Dra. Regina Maria da Cunha Bustamante
_______________________________________
Profa. Dra. Valéria Lima Guimarães
_______________________________________
Prof. Dr. Fábio de Faria Peres
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4
Dedico esta tese ao bem mais precioso que tenho, minha família!
Em especial aos meus pais, meu irmão e meu esposo.
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AGRADECIMENTOS
O que dizer deste momento tão sonhado e esperado? Só tenho muito a agradecer a todos
que contribuíram para a realização deste sonho.
Primeiramente, agradeço a Deus pelo dom da vida, por me guiar, iluminar e me dar
força para superar todos os desafios e conseguir trilhar o meu caminho.
Ao meu orientador, Professor Dr. Victor Andrade de Melo, pela disponibilidade,
atenção dispensada, paciência, dedicação, profissionalismo e além de tudo por ter acreditado e
confiado em mim.
Aos meus pais, “ouro de mina”, por todo amor e por nunca medirem esforços para que
meus sonhos se tornassem realidade.
Ao meu querido irmão Vinicius, amigo de todas as horas.
Ao Dé e à Lena, meus irmãos de coração.
À tia Kity por todo carinho e pelas palavras certas nos momentos mais difíceis.
Um agradecimento mais que especial ao meu esposo Cleber, meu grande amor,
parceiro, amigo e, sem sombra de dúvida, meu maior incentivador. Ele foi o presente mais
lindo e esperado que ganhei neste doutorado. Agradeço por toda a troca de conhecimento e
por me fazer apaixonar cada dia mais por ele, assim como pela pesquisa na história.
À Universidade Federal do Rio de Janeiro, ao Instituto de Nutrição Josué de Castro, aos
colegas do curso de Gastronomia, em especial aos professores Márcio e Joyce, que assumiram
as minhas disciplinas durante o meu período de afastamento para que eu pudesse me dedicar
totalmente a este trabalho.
Ao Professor Nuno Domingos, da Universidade de Lisboa, pela oportunidade e convite
para pesquisar em Portugal.
À Professora Andréia Frazão, pelo grande incentivo na busca pelo doutorado, assim
como por ter me colocado em contato com o Professor Victor e por toda contribuição para
esta pesquisa.
À Professora Valéria Guimarães, por todo apoio e indicações bibliográficas
fundamentais para o amadurecimento e desenvolvimento do meu projeto de doutorado.
Aos meus queridos amigos que entenderam a minha ausência neste período.
Aos colegas do curso de doutorado, em especial aos amigos do Sport. Aprendi muito
com eles!
A todos que fizeram parte desta conquista, o meu muito obrigada! Sem eles nada disso
seria possível!
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RESUMO
ABSTRACT
In the 1850s, the process of modernization in Rio de Janeiro city became more noticeable, as
had already been happening progressively since the arrival of the royal family (1808) and the
Brazilian independence (1822). It was also from this period that the search for public spaces,
as places of social experience and leisure activities, began to better conform. Among them,
the most outstanding are theaters, circuses, dances, sport and gymnastic practice spaces, as
well as a public food structure, such as restaurants and confectionery stores. Thus, this study
has as its objective to analyze, in a comparative perspective, the profile of restaurants and
confectionery stores in Rio de Janeiro in the nineteenth century (1854-1890), pointing out
their similarities and differences, and trying to understand how the ideas of modernity in the
city were incorporated into the relationships between individuals and their eating habits in
public spaces. We aimed to configure these events as occurrences that, while feeding the
physical needs of the customers, could recurrently be part of entertainment, recreation and
leisure rituals ascending at that time. A whole spatial dynamics could be perceived in the city,
where restaurants and confectionery stores expanded their domains according to their
characteristics and lined up with an urban development. This study also verified the
peculiarities of each category of both commercial establishments in what refers to their main
functions, considering the customer public, services provided and their relation with a
blooming entertainment industry. It was considered imported and national food marketed by
both establishments, as well as the production and the parties organized by them. In this
context, the knowledge that linked food to health, and which were also recorded in the Codes
of Posture and Public Notices of Rio de Janeiro, were analyzed on the stage of a broad
relation of ideas that characterized the capital of the country in the nineteenth century.
SUMÁRIO
Introdução ......................................................................................................... 11
Capítulo 1
Restaurantes e confeitarias: dinâmicas no Rio de Janeiro do século XIX
(1854-1890) ....................................................................................................... 26
1.1 Localização desses dois espaços de alimentação na cidade do Rio de
Janeiro.............................................................................................................. 29
1.2 Serviços prestados..................................................................................................
52
1.3 Aspectos visuais e estruturais.................................................................................
63
1.4 Para além da alimentação.......................................................................................
67
1.5 Público frequentador..............................................................................................
69
1.6 Entretenimento e sociabilidade........................................................................ 76
Capítulo 2
Novos e antigos sabores: a alimentação nos restaurantes e confeitarias . 84
2.1 Produtos comercializados................................................................................ 87
2.1.1 Os produtos importados................................................................................... 88
2.1.2 Os produtos nacionais...................................................................................... 92
2.2 A produção...................................................................................................... 97
2.3 As festas organizadas por restaurantes e confeitarias...................................... 115
Capítulo 3
Alimentação e saúde: novas preocupações ................................................. 119
3.1 Higiene e controle sanitário............................................................................. 120
3.2 Fiscalização..................................................................................................... 129
3.3 Alimentação e saúde....................................................................................... 134
3.4 Questão de saúde pública: incêndios, fumaça e fuligem................................. 142
Referências...................................................................................................... 153
10
. Fontes............................................................................................................... 160
Apêndices........................................................................................................ 188
Apêndice 1 - Quadro 1: restaurantes e sua localização (1850-60).................. 188
Apêndice 2 - Quadro 2 : restaurantes e sua localização (1861-70)................. 190
Apêndice 3 - Quadro 3: restaurantes e sua localização (1871-80).................. 193
Apêndice 4 - Quadro 4: restaurantes e sua localização (1881-90).................. 198
Apêndice 5 - Quadro 5: confeitarias e sua localização (1850-60)................... 205
Apêndice 6 - Quadro 6: confeitarias e sua localização (1861-70)................... 209
Apêndice 7 - Quadro 7: confeitarias e sua localização (1871-80)................... 214
Apêndice 8 - Quadro 8: confeitarias e sua localização (1881-90)................... 224
11
Introdução
1
Neste estudo, as palavras “entretenimento”, “lazer”, “diversão” e “divertimento” foram utilizadas como
sinônimos. Não faremos o uso de conceitos isolados para cada uma delas.
13
Com efeito, a década de 1850 representa um marco para o Rio de Janeiro e para o
Brasil. Conforme Sidney Chalhoub (2012, p. 38), “o ano de 1850 é um divisor de águas na
vida política e social do Império”. Também nesse período, o tráfico negreiro se tornou ilegal
através da Lei Eusébio de Queirós, que proporcionou um lento processo de substituição da
mão de obra escrava pela assalariada, cujo processo culminou com a abolição da escravidão
um ano antes da proclamação da República.
Esse interlúdio foi marcado pela ascensão do café como elemento importante da
economia brasileira, enriquecendo o país e sendo um dos principais fatores da atração de
imigrantes europeus assalariados em uma política de extinção do trabalho escravo. A
produção cafeeira foi fundamental para as transformações da economia nacional, como a
mudança do polo econômico do norte para a região do sudeste brasileiro, na segunda metade
do século XIX. Tal fato possibilitou que a urbe fosse responsável por mais de 50% da
exportação nacional entre os anos de 1876 e 1880. A prosperidade da economia cafeeira
impulsionou a expansão de estradas e ferrovias, além de induzir a uma vida social cada vez
mais ativa. (FREIXA; CHAVES, 2009; PAULA, 2012)
No processo de aplicação de uma série de práticas associadas a ideias e discursos de
modernidade na localidade, destacamos a década de 70 do século XIX. A tecnologia
possibilitou a introdução dos bondes e facilitou o acesso ao centro urbano, ao comércio, aos
restaurantes e às confeitarias, o que ajudou a promover o consumo, a condição da alimentação
pública, renovando, assim, a vida social de grande parte da população do Rio de Janeiro
(RENAULT, 1978; 1982). Nas palavras de Belluzzo, “a vida social fluminense assume novas
formas de sociabilidade quando o espaço privado invade as ruas, os teatros e os clubes”
(2010a, p. 91). Após a proclamação da república e a iminência do fim do século XIX, quando
a população carioca se aproximava do meio milhão, o local tornara-se mais propício à
industrialização, com um mercado interno em consolidação e um significativo aumento de
assalariados brasileiros e imigrantes (NEEDELL, 1993).
Apesar de toda evolução no desenvolvimento da capital do Império, graves problemas,
como a saúde pública nos estabelecimentos ligados à alimentação, tinham de ser enfrentados.
A região, no século XIX, era considerada insalubre, e deveria ser higienizada de acordo com
os preceitos mais “avançados” da ciência. Machado (2011, p. 1) destaca que a cidade sofria
com “sua economia ainda agrária e dependente do trabalho escravo, as condições higiênicas e
as constantes epidemias de febre amarela que espantava turistas e investidores”. A Corte,
nesse período, apresentava poucas melhorias, sendo que ainda nem dispunha de rede de
esgoto e de água encanada nas casas, assim como constantes surtos de doenças assolavam-na
14
2
O Correio Mercantil ocupou espaço de importância no Segundo Reinado. Possuía um perfil político liberal e
engajado, diferente do mais moderado Jornal do Comércio (MELO, 2015).
15
3
Belluzzo (2010a) define que “as tavernas ou adegas eram uma espécie de armazém onde vendiam vinhos,
cachaça e outros tipos de bebidas alcoólicas, além de petiscos e comidas caseiras a bom preço” (p. 67).
4
De acordo com Belluzzo (2010a), as casas de pastos “atendiam uma camada média. As refeições servidas eram
de dois tipos: ‘prato de colher’ ou ‘prato de garfo’. O ‘prato de colher’ conhecido também como ‘prato único’,
dispunha das seguintes opções: sarrabulho (ensopado preparado com carne, miúdos e sangue de porco), ‘iscas
com elas’ (prato composto de bacalhau com batatas) ou ‘sem elas’ (prato composto de bacalhau sem batatas),
tripas à moda do Porto, guisado de mocotó, canja de galinha e angu de quitandeira. A segunda alternativa, o
‘prato de garfo’, tinha menu fixo a preço único. O cardápio, mais leve e refinado, era acompanhado por meia
garrafa de vinho” (p. 67).
5
Para Carvalho (1981), “uma novidade para os brasileiros foi o sorvete. Em 1834, aportou no Rio de Janeiro o
navio americano Madagascar, com 160 toneladas de blocos de gelo, trazidos de Boston e acondicionados em
serragem. Os blocos eram enterrados e conservados em covas profundas por quatro ou cinco meses” (apud
BELLUZZO, 2010a, p. 75). Cruls sinaliza que, “a princípio, o carioca recebeu-o meio ressabiado. Parecia que
lhe queimava a boca” (1949, p. 304). Mas, enfim, os sorvetes caíram no gosto das famílias cariocas
(BELLUZZO, 2010b, p. 75). Segundo Freixa e Chaves, “vale destacar que D. Pedro II apoiou a importação de
uma paixão da época, o sorvete. Depois que ele degustou e aprovou essa delícia gelada, preparada então de
forma rudimentar com gelos que vinham dos lagos congelados do norte dos Estados Unidos, o doce caiu no
gosto da população” (2009, p. 200).
16
6
Termo em francês que também é utilizado para designar a palavra restaurante. Nesta tese, consideramos como
sinônimos tanto o termo em português “restaurante” como a sua escrita em francês “restaurant”, já que ambos
eram utilizados recorrentemente com o mesmo propósito.
17
populacional nesse período, seria pouco provável uma grande diminuição deles em menos de
dez anos. Para a autora, o mais provável é que a palavra taberna, empregada pelo Almanaque,
englobasse outros tipos de comércio ligados à alimentação, como armazéns, lojas ou barracas.
Segundo a pesquisadora, “isto pode ter ocorrido, porque havia muitas formas de denominar os
locais de venda e consumo de alimentos: botequins, tabernas, tabernas com comida, tabernas
sem comida, armazéns, armazéns de molhados, vendas, casas de pasto, cafés e barracas entre
outras” (ALGRANTI, 2009, p. 69). A complexidade na conceituação de estabelecimentos
relacionados à alimentação parece ser um problema não somente da cidade fluminense. De
acordo com Lousada (1995), existia, em Lisboa, uma multiplicidade de termos para designar
as lojas de comes e bebes ou, simplesmente, bebidas: taberna, casa de pasto, casa de povo,
tendas que vendem vinho, loja de bebidas, botequim, café, armazém de vinhos entre outros
mais. “Nos documentos da época a confusão terminológica era frequente, tendo a
correspondência entre a “palavra” e a “coisa” variado ao longo do tempo” (p. 159). Ainda,
conforme a autora, vários pesquisadores de outros países têm apontado a dificuldade em fixar
as distinções entre os variados estabelecimentos, o que não foi diferente na capital durante o
Segundo Império.
Podemos inferir, a partir da documentação analisada, que, na cidade, no período da
segunda metade do século XIX, não havia uma definição clara para o termo restaurante. Um
mesmo espaço que oferecesse alimentos e bebidas poderia ser classificado de diversas formas:
café, botequim, estalagem, casa de pasto, hotel, hospedaria e restaurante. Levando em
consideração as questões apresentadas, utilizamos, como critério metodológico, a análise dos
estabelecimentos que se autodefiniam através de seus anúncios, ou que possuíam no seu nome
a palavra “restaurante” (considerando também restaurant em francês); adotamos o mesmo
método para as confeitarias, pelos mesmos motivos.
Buscando compreender o conceito do termo “restaurante”, no espaço e tempo
analisados, recorremos aos dicionários da época. No Novo Dicionário Critico e Etymologico
da Lingua Portugueza, de Francisco Solano Constâncio (1844), a palavra “restaurante” não
constava na relação. Já em 1849, no Novo Diccionario da Lingua Portugueza, de Eduardo de
Faria (V. III), “restaurante” se definia como “algo que restaura”. O termo “restaurar” foi
conceituado como renovar, repousar, e restabelecer a saúde e as forças perdidas. Em 1879, no
Diccionario da Lingua Portugueza, de José da Fonseca, a palavra foi mencionada novamente,
mas com a mesma conceituação7. Somente no ano de 1881, no Diccionario Contemporaneo
7
No intervalo de 1849 a 1879, tivemos acesso a mais dois dicionários, dos anos de 1857 (FARIA, 1857) e 1863
(CONSTANCIO, 1863), mas não constavam a palavra restaurante.
18
da Lingua Portugueza, de Clemente Pinto, a definição desse termo surge ligada ao preparo e
venda de alimentos, sendo definida como algo “que restaura, que restabelece, casa de pasto,
lugar público onde se preparam e servem comida” (p. 1541).
Após dez anos, no Diccionario da Lingua Portugueza, de Antonio de Moraes Silva
(1891), o verbete restaurante apresenta um conceito bem próximo do anterior, mas um pouco
mais amplo, “de restaurar, que restaura, que restabelece; as forças, a saúde; restaurativo.
Bebida, que fortifica, restabelece as forças, a saúde, etc. Casa de pasto elegante, e servida com
boas iguarias, onde geralmente se come por lista8” (p. 715). Como ocorreu em Paris9, a
palavra restaurante, nos dicionários de língua portuguesa, esteve ligada, inicialmente, à
alimentação e à saúde, como alimentos e bebidas que tinham a função de restabelecer as
energias10.
Para ampliar nossa compreensão sobre “confeitaria”, também fizemos uso dos
dicionários. No Novo Dicionário Critico e Etymologico da Lingua Portugueza, de Francisco
Solano Constâncio (1844, p. 293), a palavra “confeitaria” é identificada como “loja de
confeiteiro, fábrica de doces; rua de confeiteiros”, e confeiteiros como “o que faz e vende
doces, confeitos”, ou seja, local no qual eram produzidos e comercializados doces e a pessoa
que executava e até vendia estes.
Já em 1849, no Novo Diccionario da Lingua Portugueza, de Eduardo de Faria (V. II),
“confeitaria” é definida de forma mais clara e abrangente: “casa onde se fazem e vendem
confeitos, conservas e outros doces; rua ou lugar onde há confeitarias” (p. 156). Em 1855, no
Novo Diccionario da Lingua Portugueza, de Eduardo de Faria, “confeitaria” manteve a
mesma definição anterior. No Novo Dicionário Critico e Etymologico da Lingua Portugueza,
de Francisco Solano Constâncio (1863), a palavra conservou o mesmo conceito que o
dicionário do ano de 1844 do mesmo autor. No Diccionario da Lingua Portugueza, de José da
Fonseca (1879), confeitaria é “loja onde fazem e vendem doces” (p. 293). No ano de 1881, no
Diccionario Contemporaneo da Lingua Portugueza, de Clemente Pinto, a definição desse
8
“Lista” pode ser compreendido no Brasil como cardápio.
9
De acordo com este fragmento referente ao significado da palavra restaurant no Dictionnaire Universel
publicado em Paris, “Alimento ou remédio que tem a propriedade de restaurar as forças de uma pessoa doente
ou esgotada. O consomê e o extrato de perdiz são restaurantes excelentes. Vinho, conhaque e licores são todos
bons restaurantes para aqueles que estão sem energia [...]” (apud SPANG, 2003, p. 7), é possível perceber que,
inicialmente, o termo foi utilizado para definir um alimento ou líquido revigorante e não um espaço físico, como
conhecemos nos dias de hoje. “Séculos antes de um restaurante ser um lugar aonde se ia para comer (e até várias
décadas depois disso), um restaurant era algo de comer, um caldo restaurativo” (SPANG, 2003, p. 11).
10
Todas estas obras foram publicadas e circularam na cidade de Lisboa, exceto as dos anos de 1844 e 1879, que
foram publicadas em Paris e a de 1891 no Rio de Janeiro.
19
termo é praticamente igual ao dicionário anterior: “casa onde fazem ou vendem doces” (p.
375).
Com a publicação, em 1890, do Diccionario da Lingua Portugueza, de Antonio de
Moraes Silva, a palavra apresenta basicamente as mesmas explicações antecedentes, “casa
onde se fazem ou vendem doces: bairro de confeiteiros, ou rua d’elles” (p. 511). Em relação a
esta última definição, acreditamos que faça referência à antiga rua das confeitarias que existia
em Lisboa até o terremoto de 175511.
No Brasil, não encontramos grande variedade de dicionários do período. Por isso,
optamos, também, pela utilização de publicações disponíveis em Portugal, que pudessem
corroborar na compreensão dos conceitos relativos a restaurante e confeitaria na urbe
fluminense12 durante os anos de 1854 a 1890.
Duas foram as produções que tivemos acesso no setor de obras raras da Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro. Elas praticamente não alteraram os sentidos dos verbetes
pesquisados. Frei Domingos Vieira (1874) identificou “restaurante” como: “que é próprio a
restaurar. Remédio restaurante. Bebida restaurante. Alimento restaurante” (p. 261). Vieira
(1873) nomeou confeitaria como “casa onde se fazem e vendem confeitos, conservas e toda
qualidade de doce; loja de confeiteiro. Rua ou lugar onde há confeitarias” (p. 391).
Os vocábulos do Diccionário Contemporâneo da Língua Portugueza, elaborado por
Francisco Júlio de Caldas Aulete (1881), seguem, praticamente, o mesmo desenvolvimento
daqueles já demonstrados. O termo “restaurante” já começava a se caracterizar como o local
de alimentação pública. O autor o conceituava como o “que restaura, que restabelece. Casa de
11
Todas estas obras foram publicadas e circularam na cidade de Lisboa, exceto as dos anos de 1844 e 1879, que
foram publicadas em Paris, e a de 1890 no Rio de Janeiro, mas que foram localizadas na capital portuguesa.
12
Os dicionários, mesmo sendo editados e publicados na Europa, tinham largo trânsito no Rio de Janeiro do
século XIX. A partir deles podemos verificar traços dos significados destes conceitos nesta época. Por isso, a sua
relevância na nossa análise. Essa significativa presença pode ser percebida nos jornais que anunciavam nos seus
reclames inúmeras possibilidades de compra de um exemplar, dos quais trazemos alguns exemplos que
comprovam nossa suposição.
Anúncios, já na década de 1820, informavam sobre a oferta desta literatura na capital fluminense. O Diário do
Rio de Janeiro chamava a atenção para o Diccionário da Língua Portugueza de Antonio de Moraes Silva, que se
encontrava a venda na loja de livros de João Batista Santos, na Rua da Cadeia (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO,
15/02/1828, p. 1).
No decênio de 1830 o Diccionário da Lingua Portugueza de José da Fonseca, impresso em Paris, era anunciado
como “muito bem impresso, em bom papel e com boa encadernação”, à venda na loja de Albino Jordão, situada
na Rua do Ouvidor, 138 (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 11/01/1831, p. 2).
No ano de 1837 o Diário de Rio de Janeiro destacava que na Loja de Livros de Veiga & Comp., situada na Rua
da Quitanda, o Diccionario Critico e Etymologico da Lingua Portuguesa de Francisco Solano Constância se
encontrava à venda (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 03/05/1837, p. 2). Em 1865, a mesma publicação foi
divulgada pela livraria da Rua da Quitanda, 55, ao preço de 10$000 (CORREIO MERCANTIL, 20/01/1865, p.
4).
O Novo Diccionario da Lingua Portugueza de Eduardo Faria era anunciado como “o mais exato e o mais
completo de todos os dicionários até hoje publicados” (CORREIO MERCANTIL, 07/01/1857, p. 3; CORREIO
DA TARDE, 21/11/1856, p. 3).
20
pasto, lugar público onde se preparam e servem comidas. Coisa que restaura” (p. 1541). Já a
palavra “confeitaria”, praticamente seguiu sem alteração: “casa onde se fazem ou vendem
doces” (p. 375).
É possível perceber, pelo menos ao analisarmos o desenvolvimento da palavra
restaurante nos dicionários, que ela deixou de estar apenas relacionada a questões
restauradoras da saúde e do corpo, para nomear um local que, aos poucos, se tornou sinônimo
de ambiente público, de alimentação pública. Além disso, restaurante também se
transformaria em local privilegiado de entretenimento e o termo ficaria, principalmente,
conhecido por estas funções. Se considerarmos que o registro nos dicionários e sua publicação
são sempre estabelecidos a posteriori da prática pública, é possível inferir que, em
praticamente todo o nosso período de investigação, espaços com essa nomenclatura já
existiam, mesmo que em proporções diferenciadas. Já para o termo “confeitaria”, não existiu
uma variação no seu conceito que fosse relevante. Esteve sempre associado à elaboração e
comercialização de doces. O incremento nos seus ofícios e demais modificações nesses
ambientes são analisados no decorrer desta tese.
Os estabelecimentos de alimentação também se enquadravam em um conjunto de ideias
cada vez mais significativas ligadas à modernidade, em que uma indústria do entretenimento
se gestava e crescia constantemente. Nesse cenário, os divertimentos eram cada vez mais
valorizados, onde restaurantes e confeitarias se adaptavam em um contexto complexo, no qual
suas funções flutuavam entre a necessidade da alimentação, do lazer e da diversão.
Entretenimento, lazer e diversão, utilizados como sinônimos nesta investigação, são
conceitos que abrangem um leque muito grande de possibilidades analíticas e, de maneira
nenhuma, podem ser interpretados de forma simplista. De fato, o lazer não pode ser
compreendido somente como as atividades realizadas no tempo da ausência de trabalho. Ele é
formado por um conjunto de variáveis que extravasa um modelo fechado em si mesmo
(MELO, 2013). Deveras, “paulatinamente a dinâmica do tempo da produção (do trabalho)
impregnará o lazer (não trabalho), um dos elementos que ajuda a entender (como causa e
consequência) a nova excitabilidade pública” (MELO, 2010a, p. 57). Todavia, negamos
peremptoriamente que o incremento dos hábitos associados a novos ambientes de alimentação
pública sejam consequência apenas desses vetores. De toda a forma, a palavra lazer passou a
ser sinônimo de distração, tempo para ser desperdiçado, dentro ou fora de casa (PRIORE,
2010). De uma maneira mais ampla, o conceito de lazer não bastava para explicar um
contexto mais abrangente “de uma sociedade que não conhecia a limitação legal das jornadas
21
13
O Diário de Notícias de 14 de fevereiro de 1890 (p. 3) e o Gazeta da Tarde de 17 de fevereiro de 1890 (p. 1 e
2) trazem para que se observe o Código de Postura, no qual a seção 5° refere-se a hotéis, hospedarias,
restaurantes, confeitarias, estalagens, casas de pensão, e de quitanda e fechamento de portas. Apontam regras
para o estabelecimento de casas comercias relacionadas à alimentação e questões físicas como: ladrilhos no chão
da cozinha e azulejos na parede com até um metro e meio de altura, lavatórios de mármore, louça ou ferro para a
lavagem de vasilhames, repartimentos onde estiverem masseiras de confeitaria será revestida de azulejo até 2
metros de altura. No domingo, esses estabelecimentos deverão fechar suas portas ao meio dia ou estarão sujeitos
a penalidades. O jornal Gazeta da Tarde de 28 de novembro de 1890 (p. 2) e a Revista de Engenharia de 28 de
dezembro de 1890 (p. 301 e 302) publicaram um edital referente a cozinhas de hotéis e estabelecimentos
congêneres, que entrará em execução a partir de 01 de maio de 1891. Este edital aponta várias alterações físicas
nas cozinhas e mobiliários de estabelecimentos comerciais de alimentação.
23
14
Hemeroteca Digital Brasileira disponível em: http://memoria.bn.br/hdb/periodico.aspx e Center for Research
Libraries disponível em: http://www-apps.crl.edu/brazil/almanak.
15
No Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro se encontram os Códigos de Posturas de 1830, 1854, 1860,
1870, 1889, 1894.
16
Apesar do Código de Posturas de 1894 estar fora do nosso recorte temporal, fazemos uso dele, por conter
Editais e posturas de períodos anteriores, os quais estão inseridos em nossa análise.
24
A tese foi organizada em três capítulos. Na primeira parte desta pesquisa - Restaurantes
e confeitarias: dinâmicas no Rio de Janeiro do século XIX (1854-1890), procuramos
compreender como se estruturavam os restaurantes e as confeitarias neste período, apontando
a localização desses espaços, serviços prestados, aspectos visuais e estruturais, itens
comercializados não alimentícios e o público frequentador. Além disso, buscamos associar
esses locais com os entretenimentos e a sociabilidade nesta cidade que passava por um
processo de acomodação e adaptação das ideias de modernidade.
No segundo capítulo - Novos e antigos sabores: a alimentação nos restaurantes e
confeitarias, abordamos os produtos alimentícios importados e nacionais comercializados, as
produções e as festas organizadas por estes estabelecimentos. Verificamos a estruturação de
uma culinária local e nacional e suas relações com as influências estrangeiras.
Já na terceira etapa - Alimentação e saúde: novas preocupações, correlacionamos a
higiene e o controle sanitário, a atuação da fiscalização, a alimentação e a saúde. Destacamos
as preocupações com a comida e sua vinculação com a salubridade, além dos constantes
incêndios que assolavam os dois espaços.
26
Capítulo 1
É interessante perceber que a palavra restaurante tem uma etimologia que a remete a um
conceito distinto do que conhecemos atualmente. O termo restaurant é definido como
restaurador e deriva do verbo “restaurer”, cujo significado é reparar ou recuperar (FREIXA;
CHAVES, 2009).
Em 1765, na cidade de Paris, durante o Reinado de Luís XV, foi aberta a “Casa
Poulies”, por um senhor conhecido somente como Boulanger, que oferecia caldos
restauradores, propícios a restaurar as forças debilitadas17. Além desses pratos, também eram
servidos pés de carneiro ao molho branco (PITTE, 1998; BRUIT, 2006; FREIXA; CHAVES,
2009).
Conforme Franco (2001), foi a partir dessa data que o termo restaurant foi criado pelo
próprio Boulanger, proprietário do local, para designar caldos restaurativos. Esse também é
considerado, por muito pesquisadores, como o primeiro Restaurant de Paris18 e, por
consequência, do mundo. Não estamos negando a existência anterior de outros espaços com a
mesma função, porém, por enquanto, essa é a primeira experiência conhecida da associação
do nome restaurante a um espaço físico que tinha a sua atividade principal no fornecimento de
refeições.
No princípio, o público alvo do restaurante eram pessoas enfraquecidas, sem apetite, de
paladar embotado, fracas do peito19, e não pessoas famintas. Para atender a esse público, era
servido, além do caldo restaurativo, uma variedade de pratos considerados saudáveis.
Percebe-se que, já nos primórdios desse estabelecimento, a comida e a saúde caminhavam
juntas, sendo a medicina uma fonte de informações para a história da alimentação
(CARNEIRO, 2003).
Apesar da França ter sido a percussora desses empreendimentos que passaram a ser
designados como restaurantes, esse serviço já existia bem antes nos mercados e nas feiras da
17
Na entrada deste estabelecimento, constava a seguinte frase: Boulanger débite de restaurants divins, que
significa “Boulanger serve caldos restauradores divinos” (FREIXA; CHAVES, 2009, p. 112).
18
Conforme o Jornal da Tarde de 16 de março de 1878 foi nesta mesma data que este estabelecimento foi
demolido na cidade de Paris. “Está se demolindo em Paris, na Rua des Poulies, a casa, onde um indivíduo
chamado Boulanger abriu, em 1765, o primeiro restaurant naquela capital. Neste restaurant vendia se quase
exclusivamente caldos preparados de um modo especial, e chamava-se ele o restaurant divino” (p. 1).
19
Segundo Spang (2003) fraqueza de peito “era, portanto, muito mais que uma simples condição física. Ao
contrário, esse diagnóstico setecentista, tal qual o de tuberculose no século XIX, reunia uma variedade de
significados culturais em uma série de atributos especificamente fisiológicos” (p. 54).
27
Europa, onde camponeses e artesãos deixavam seus domicílios por um ou mais dias, para
trabalhar e eram obrigados a fazer suas refeições fora de casa, muitas vezes, comercializando
e consumindo alimentos nesse próprio espaço. (PITTE, 1998)
De acordo com Spang (2003), muito depois de 1850, os restaurantes eram um fenômeno
exclusivamente parisiense, e raramente eram encontrados fora desta cidade. Divergimos da
autora ao verificar que o Rio de Janeiro já possuía uma larga quantidade desse tipo de
estabelecimento em meados do século XIX, e que tenderam a se expandir cada vez mais20.
Identificamos anúncios deles já na metade inicial do período oitocentista quando o
Almanaque dos Negociantes do Império do Brasil, do ano de 1829, apresentava o item
Principaux hotel, avec restaurans, de Rio de Janeiro, e o termo fora destacado no Restaurant
de Madame Philippe, situado na Rua do Ouvidor (p. 204), junto a um hotel.
Conforme uma pesquisa efetuada no Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
do Rio de Janeiro, de 1850 a 1858, muitos estabelecimentos eram mencionados na relação de
Hotéis e Casas de Pastos sem se identificarem com o termo restaurant. A partir do ano de
1859 é que se tornou mais comum perceber esses locais nesta listagem designados apenas
como restaurant (p. 699). Já em outros periódicos, o termo pode ser verificado comumente
nos anúncios.
É provável que, por ser uma palavra relativamente nova, ainda não fosse utilizada de
forma expandida na capital brasileira. Também ficou perceptível, através das fontes, que
alguns desses espaços passaram por reformas físicas e só posteriormente acrescentaram a
nomenclatura de restaurant (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO21, 20/03/1858, p. 4).
20
Para exemplificar o que acabamos de afirmar, verificamos no Almanaque Administrativo, Mercantil e
Industrial do Rio de Janeiro, do ano de 1850 (p. 404), dentro da relação de hotéis e casas de pasto, um
estabelecimento que se denominava como Casa de Pasto Restaurant, localizada na praia do Botafogo, número
72. Acreditamos que este, na verdade, era uma casa de pasto cujo o nome restaurant era utilizado para designar
alimentos e bebidas restauradoras, ou ainda, que ele começava a se adequar para oferecer um serviço mais
próximo do desempenhado pelos restaurantes propriamente ditos. Outra incidência que reforça as observações
anteriores foi um anúncio do Jornal do Comércio (15/09/1850, p. 3) que destaca a abertura do Restaurant
Français, porém, em sua descrição, esse espaço se definia como uma casa de pasto. Em 17 de fevereiro de 1850
(p. 4), o mesmo jornal noticiou que o antigo dono do Restaurant da Bola de Ouro acabava de se estabelecer
novamente na cidade com um novo restaurant situado no Hotel London (JORNAL DO COMÉRCIO,
17/02/1850, p. 4). O Correio Mercantil de 15 de março de 1851 (p. 4) anunciava o Hotel de L’Union com
restaurant a preço fixo e à la carte e com salas particulares para a refeição. O mesmo jornal, no mesmo ano
divulgava um Restaurant Suíço e Francês, na Rua da Assembleia, 76, ofertando almoço e jantar (20/09/1851, p.
4). Ainda o jornal Correio Mercantil (24/05/1851, p. 4) notificou o Hotel e Restaurant do Nicolao. O Almanaque
Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro do ano 1855 já apresentava o Restaurant Français de
Charles Legendre (p. 605).
21
O Diário do Rio de Janeiro foi o primeiro diário da história da imprensa brasileira. Publicado a partir de 1º de
junho de 1821. “O mesmo foi impresso inicialmente na tipografia real, mas já em março de 1822 Meirelles
instalou sua própria tipografia, a Tipografia do Diário do Rio de Janeiro, que passou a publicar a folha
homônima”. O custo da mensalidade era de 640 réis (ou 40 réis por exemplar avulso) do jornal (BRASIL, 2014,
p.1).
28
confeitos passaram a fazer parte da cultura brasileira, conforme atesta Câmara Cascudo
quando declara que “nunca um brasileiro dispensou adoçar a boca depois de salgar o
estomago” (CASCUDO, 2004, p. 308).
No Brasil, as tradições da doçaria portuguesa ganharam novos sabores, se misturando
com as frutas dos índios e os quitutes dos negros. Uma das heranças mais importantes para a
confeitaria brasileira foi recolhida de Portugal e, principalmente, dos mouros, onde “os doces
de freira foram um dos maiores encantos da velha civilização portuguesa, que antes aprendera
com os mouros a fabricar açúcar e a fazer o mel, doce e bolo” (FREYRE, 2007. p. 66).
A partir do século XIX, com a ampliação da cidade do Rio e o trânsito estrangeiro cada
vez mais perceptível, a influência francesa na confeitaria brasileira se tornou mais nítida
através dos doces mais requintados dos confeiteiros franceses, que começaram a ser
considerados chiques na Corte e em Recife. As sinhás doceiras, os negros quituteiros e os
mulatos boleiros sofriam da competição com pasteleiros e confeiteiros franceses. Em meados
do século, os confeiteiros franceses e italianos passaram a ter mais importância para a alta
sociedade fluminense que a doceira de casa. (FREYRE, 2007)
Enfim, o período investigado no Rio de Janeiro foi testemunho de uma considerável
disseminação de estabelecimentos de alimentação, no caso, restaurantes e confeitarias. Esse
processo estava inserido em uma complexa estrutura que demonstrou seus desdobramentos
em diversas variáveis sociais. Para que possamos compreender de forma mais ampla esse
movimento, dedicamos as páginas a seguir a esta análise.
sul, da Lapa em direção ao Catete, Laranjeiras, Botafogo e Lagoa Rodrigo de Freitas, sendo
definido como cidade velha tudo que ficava entre o mar e aquele campo. O Rio de Janeiro,
nesse período, possuía 71 ruas, 27 becos, 7 travessas, 12 largos, 3 campos, 5 ladeiras e 3
caminhos. Até o século XIX, as chácaras constituídas entre a Lapa e os morros do Livramento
e da Conceição marcavam os limites da cidade velha (NEEDELL, 1993). Ambos os morros se
situam na área central da cidade, sendo o do Livramento posicionado entre o da Conceição e o
da Providência, próximo à região portuária.
Principalmente, a partir da segunda metade do século XIX, a municipalidade continuava
a introduzir melhoramentos na capital, com novos calçamentos e retificação dos arruamentos
e assentamento de novas calçadas em diversas ruas da cidade velha, terraplanagem dos
pântanos da velha estrada de São Cristóvão e aterrado da cidade nova (RIOS FILHO, 2000).
Esse processo de expansão e benfeitoria motivou o surgimento de novos estabelecimentos
comerciais conjuntamente com um contexto de crescimento econômico e populacional
significativo. Conforme a Revista Industrial do Diário do Rio de Janeiro (11/04/1856, p. 2), a
cidade mercante já não era tão pequena, de forma que se pudesse correr de uma vez.
Nem mesmo com o almanaque na mão, conseguiria no fim de sua excursão dizer o
número exato das perfumarias, casas de modas, de roupas feitas, lojas de fazenda,
alfaiatarias, hotéis, cafés, restaurants, botequins, boticas, cocheiras, confeitarias,
floristas, charutarias, livrarias, bazares, sapatarias, litografias, armazéns de viveres,
lojas de papel, em fim de todas essas espécies de estabelecimentos industriais que
existem no Rio de Janeiro atualmente.
23
As cores utilizadas nas linhas dos quadros fazem referência à localização da rua nas imagens no mapa. As
linhas sem cores correspondem a ruas localizadas em locais não contemplados pelo mapa, como, por exemplo,
áreas da Zona Sul e Zona Norte da cidade, cuja direção está demonstrada nas imagens através de duas setas.
31
Entre os anos de 1850 e 1860 (quadro 1), é possível perceber que boa parte dos
restaurantes estavam inseridos em hotéis, sendo quatorze dos trinta e quatro apontados. Deste
total, a maioria tinha como endereço as ruas centrais da cidade, como Assembleia, São José e
Ouvidor (imagem 1). O ambiente privilegiado era o espaço que ficava entre o Paço Imperial e
o Campo de Santana, região conhecida como cidade velha. Podemos notar que a espacialidade
dos restaurantes acompanhava o centro comercial da época. Ao mesmo tempo em que muitos
desses locais de alimentação se associavam a hotéis, também se localizavam na região de
maior circulação de pessoas. Esse fato pode apontar uma relação estreita entre viajantes,
comerciantes e restaurantes, visto sua proximidade física.
Needell (1993) aponta que, em 1850, alguns homens de negócios ainda permaneceram
nos limites da cidade velha, mas que a elite já começara a se mudar para a Zona Norte e Sul.
Fato que pode explicar a proliferação de restaurantes e confeitarias nestas regiões ao longo
dos anos. Portugueses e brasileiros preferiam, geralmente, as casas da cidade velha, próximas
à orla. Foram os ingleses e outros estrangeiros que despertaram a vontade de buscar novos
lugares para se fixar. O autor ainda reforça que:
Antes, ricos e pobres viviam e trabalhavam juntos nas ruas apinhadas e fétidas do
porto colonial. No século XIX, a elite deixava seus afazeres nos ministérios, casa
de contabilidade ou escritórios profissionais abafados e retornava aos solares e
palacetes em estilo europeu, que proclamavam seu status e a afastavam dos locais
e da mão-de-obra que tornavam este status possível. (NEEDELL, 1993, p. 182)
Na década seguinte, 1861-1870 (quadro 2; imagem 2), se tornou ainda mais evidente a
associação entre hotéis e restaurantes. Dos quarenta e nove restaurantes apontados pela
documentação, vinte e seis deles se encontram estabelecidos em hotéis, sendo que outros oito
desempenhavam a função de café e restaurant, preferencialmente, ainda na região central da
cidade. Um exemplo disso é o Hotel de Luxemburgo e o Hotel Ravot, ambos com restaurantes
situados no centro do comércio, notificou o Correio Mercantil (01/02/1857, p. 3; 27/08/1857,
p. 3) e o Diário do Rio de Janeiro (12/01/1863, p. 3). A localização e a facilidade de acesso,
proporcionada pelo avanço nos meios de locomoção, eram considerados requisitos
importantes na escolha do local a se frequentar.
Podemos constatar o crescimento geral desses espaços em comparação à década anterior
- de trinta e quatro para quarenta e nove - como também o aumento dos que não estavam
vinculados a hotéis - de vinte para vinte e três, o que demonstra como a celebração desses
ambientes foi espraiada no decorrer das décadas.
Acompanhando o desenvolvimento urbano da cidade e a modernização dos transportes,
os restaurantes começaram, lentamente, a expandir seus domínios. O Diário do Rio de
Janeiro, de 23 de setembro de 1862 (p. 4), veiculava a abertura de um local denominado de
Novo Mundo. Tratava-se de um hotel com restaurant, posicionado no bairro de Botafogo e,
por ser afastado do centro da Corte, dispunha de opção de transporte para a cidade velha.
Outro exemplo disso foi o Hotel e Restaurant Aurora, localizado no bairro da Tijuca, o qual
divulgava, em seus anúncios, a disponibilidade de bondes à porta do estabelecimento
(GAZETA DE NOTÍCIAS, 28/02/1880, p. 4).
Por serem distantes do porto e dos locais de trabalho no comércio que se encontravam
na parte central da cidade, o avanço no transporte foi um fator importante para a ampliação de
áreas como os bairros de Botafogo e São Cristóvão, os quais eram utilizados, no início do
século XIX, para veraneio e agricultura. (NEEDELL, 1993)
Esses bairros faziam parte de regiões onde residiam muitos estrangeiros, os quais foram
responsáveis pela criação de inúmeros clubes. Consequentemente, eram espaços privilegiados
de diversão, já que as práticas de divertimentos eram usuais antes mesmo da primeira metade
do século. Na enseada de Botafogo, por exemplo, já se organizavam páreos desde a década de
1810. As corridas equestres se conformavam em verdadeiras festividades com presenças
ilustres, tanto de comerciantes e curiosos adventícios quanto da própria família real que, por
vezes, marcava presença. Da mesma forma, o ano de 1851 assistia à regata inaugural
promovida pela Sociedade Recreio Marítimo, que, nas areias de Botafogo, “entusiasmou
mesmo um setor da cidade”. (MELO, 2014a, p. 28)
36
O bairro de São Cristóvão, além de ser a região de moradia do Imperador, foi local de
divertimento e de esportes. Podemos destacar, como exemplo, o prado Guarany que se
instalou próximo à pequena vila de operários. Esse hipódromo realizava também disputas de
outras três sociedades: o Sport Club, o Hipódromo Fluminense e o Sport Fluminense.
(MELO, 2010b)
37
24
Needell (1993) aponta que, em termos simbólicos, a Rua do Ouvidor era a Europa. Nos limites desta “[...]
reinavam apenas artigos europeus de luxo mais finos e as últimas conquistas” (p. 194).
39
acesso das elites às áreas afastadas, tornando possível sua transformação em bairros
residenciais” (NEEDELL, 1993, p. 46). Por outo lado, os terminais também se tornaram
propícios para a instalação de empreendimentos alimentícios.
O jornal A Reforma (30/09/1877, p. 4) divulgou um restaurant localizado no último
ponto dos bondes do Jardim Botânico. Nas Paineiras, ponto da Estrada de Ferro do
Corcovado, também existia um restaurante (O PAÍS, 27/11/1887, p. 2). O Cruzeiro
(02/09/1878, p. 4) anunciou a abertura da Confeitaria Estrada de Ferro D. Pedro II, situada a
menos de um minuto de distância da estação central. Também era anunciado o funcionamento
da Confeitaria e Sorveteria Época Lírica, fixada no ponto dos bondes de Botafogo, à Rua de
Gonçalves Dias n. 75 (GAZETA DA TARDE, 19/08/1881, p. 3). Essas são tendências de uma
cidade que cada vez mais se modernizava e ampliava as funções e territórios de atuação dos
seus estabelecimentos de alimentação, passando a não ter somente a função de alimentar, se
adaptando a ambientes cada vez mais distintos.
A implantação dos bondes facilitou o acesso ao centro urbano, ao comércio, ao
restaurante e à confeitaria, o que ajudou a promover o consumo e as formas de alimentação
pública, renovando a vida social da sociedade (RENAULT, 1978; 1982). Existiam, também,
restaurantes e confeitarias próximos e até mesmo inseridos nos teatros (estes eram um dos
principais espaços de diversão da época25), oferecendo opções de consumo aos seus
frequentadores. O Hotel Restaurant Des Frères Provencaux divulgava, em seus anúncios, que
ele se encontrava próximo aos teatros (CORREIO MERCANTIL, 24/01/1858, p. 3), assim
como o Hotel Ravot, situado no centro do comércio e próximo aos teatros, e o Restaurant
Recreio Comercial, localizado em frente ao Teatro Lírico (CORREIO MERCANTIL,
01/02/1857, p. 3 e 04/08/1859, p. 4). A Gazeta de Notícias (06/10/1878, p. 6) divulgou a
abertura do Grande Café, Restaurant e Confeitaria no salão e terraço do Teatro São Pedro de
Alcântara. É possível inferirmos que esses espaços estavam diretamente articulados com
outros entretenimentos públicos da cidade. Um indício dessa relação foi a flexibilização dos
horários de funcionamento de restaurantes e confeitarias com essa característica de
localização. Eles poderiam permanecer abertos até depois de terminarem os espetáculos,
conforme atestou o Diário do Rio de Janeiro de 05 de abril de 1870 (p. 2).
25
Sobre esta relação ver em Marzano (2010).
44
Nos últimos anos do Império e início da República, entre os anos de 1881 e 1890, a
localização dos restaurantes foi ampliada ainda mais (quadro 4; imagem 6). Crescia o número
de estabelecimentos na Zona Sul, basicamente em Botafogo e nos arredores do Jardim
Botânico e no Catete. Podemos perceber, através dos anúncios, que o bairro de Botafogo,
além de suas belezas naturais, também passou a ser um território destacado como bem
frequentado, principalmente quando as famílias de alta renda passam a buscar a região para
fixar suas moradias. Essa valorização era uma tendência que podia ser verificada nos
comunicados dos periódicos, como quando a Gazeta de Notícias (09/04/1882, p. 4) notificou
que o Restaurante Sereia era situado em Botafogo, o bairro "mais lindo e mais frequentado da
Corte".
As oportunidades de negócios e a demanda por alimentação e divertimento
acompanhavam o desenvolvimento do Rio de Janeiro.
46
Ainda conforme Abreu (2013), as famílias de mais altas rendas do Segundo Reinando
passaram a procurar os bairros de Botafogo, Glória e Catete para fixarem suas moradias. Essa
busca por arredores mais afastados da região central era, também, motivada pela necessidade
do afastamento de doenças e pela demanda de bem-estar. Esses locais eram menos atingidos
pelas febres e também mais frescos no verão (NEEDELL, 1993). Além disso, o bairro de
Botafogo também atraiu populações não aristocratas, como imigrantes portugueses que
passaram a se instalar e se dedicar ao comércio nessa localidade (ABREU, 2013). No sentido
da Zona Norte, na Rua Estácio de Sá, quatro confeitarias estavam instaladas acompanhando o
desenvolvimento urbano em direção ao bairro da Tijuca e Vila Isabel, regiões destacadas na
época.
48
bairros, enquanto que os restaurantes estavam, em sua maioria, concentrados em áreas mais
restritas, fato esse que talvez possa ser explicado pela incumbência de cada um. Enquanto o
encargo principal dos restaurantes eram os serviços de refeições, almoço e jantar, as
confeitarias, além da venda de doces e açúcar (refinação), se portavam como local de venda
de secos e molhados. Ali, os clientes poderiam adquirir vários produtos para serem
consumidos no lar. As incumbências específicas de cada estabelecimento serão analisadas nos
próximos pontos.
O perfil de frequentadores das duas dependências comerciais, que será apresentado
neste capítulo, também é uma justificativa para o crescente desenvolvimento de confeitarias,
superior ao de restaurantes na Zona Sul.
É interessante apontar a grande influência estrangeira nos nomes dos restaurantes que
foram apresentados nos quadros 1, 2, 3 e 4, enquanto que nas confeitarias esse fenômeno foi
verificado em quantidade bem inferior. Havia uma recorrência de identificações semelhantes,
e era comum encontrar nos anúncios a utilização do nome do proprietário ou da rua onde
funcionava para diferenciá-las.
Para Abreu (2013), o período de 1870 a 1902 representa a primeira fase de expansão
acelerada da malha urbana e também a primeira etapa onde essa dilatação estava diretamente
ligada às necessidades de reprodução do capital nacional e estrangeiro.
Todavia, conjugado aos fatores apresentados de ampliação dos domínios urbanos e ao
poder aquisitivo da população onde esses estabelecimentos se instalavam, é importante notar,
também, uma mudança de comportamento. As práticas de alimentação, que se davam no
início do período analisado, numa proporção muito maior no ambiente privado, iniciavam um
processo em que foram mais valorizadas como atividades públicas. Com o transcorrer do
século XIX, o ato de se alimentar estava associado mais fortemente a lazer e divertimento,
onde o palco priorizado não era o ambiente doméstico. Esses fatores podem nos ajudar a
compreender a ampliação dos restaurantes e confeitarias.
É possível perceber o reconhecimento desses espaços através de anúncios distintos.
Tanto os restaurantes como as confeitarias eram utilizados como forma de referência na
localização de alguns pontos comerciais, o que demonstra a sua popularidade. Como exemplo,
nos anúncios de venda de um hotel, o interessado que desejasse maiores informações deveria
dirigir-se ao Restaurant Feliz Acaso, do grande Circo Ginástico, informado ser perto do
Chalet Restaurante (GAZETA DE NOTÍCIAS26, 06/02/1877 e 08/04/1877, p. 4). Outro caso
26
A Gazeta de Notícias passou a ser publicada no Rio de Janeiro, em dois de agosto de 1875. Além de um
folhetim romance, a Gazeta de Notícias era composta de folhetim de atualidade, artes, literatura, teatros, modas,
51
é de um dentista americano que avisava que seu consultório se situava defronte à Confeitaria
do Sr. Francioni, na Rua Direita (CORREIO MERCANTIL, 18/02/1855, p. 3). Ainda, havia o
anúncio da Águia Imperial, Alfaiataria de Ferreira de Mello e Companhia, que publicou que
este comércio se localizava em frente à Confeitaria Paschoal (O PROGRAMA GUIADOR,
23/05/1887, p. 3). Apesar de já existir um plano de numeração dos endereços da cidade, desde
21 de maio de 1824, esses estabelecimentos ainda eram utilizados com frequência como
referência para outros (RIOS FILHO, 2000).
É importante mencionar aqui que o Restaurante Rio Minho, tombado pelo Iphan27, se
intitula e é considerado por alguns pesquisadores como o restaurante mais antigo em atividade
na cidade, tendo seus trabalhos iniciados em 188428 (BELLUZZO, 2010a). Atentamos que
essa informação não foi confirmada em nosso material. O estabelecimento não foi sinalizado,
talvez porque, na época, utilizasse outro nome ou endereço, ou ainda, porque não fazia uso de
jornais e revistas para divulgação. Encontramos referência da sua possível existência apenas a
partir do ano de 1895, na relação de hotéis e restaurantes do Almanaque. Constatamos um
local denominado de Hotel do Rio Minho, que se localizava na Rua Ouvidor no. 8, e que
talvez pudesse ser o Restaurante Rio Minho (ALMANAQUE ADMINISTRATIVO,
MERCANTIL E INDUSTRIAL DO RIO DE JANEIRO, 1895, p. 757).
Da mesma forma, apesar do site da Casa Cavé29 ou Confeitaria Cavé definir que essa é
originária do ano de 1860, também não tivemos referência em nossa documentação. Apenas
identificamos um estabelecimento no ano de 1891, denominado Confeitaria Parisiense,
localizada na Rua Sete de Setembro no. 127, cujo proprietário era Auguste Cavé, considerado
o mesmo fundador da Confeitaria Cavé (O MERCANTIL, 24/01/1891, p. 2). No ano de 1896,
localizamos, no jornal Cidade do Rio (05 de jan., p. 4), uma menção à Confeitaria Cavé como
referência para demonstrar a localização exata de outro prédio que se situava também na Rua
Sete de Setembro. Podemos inferir que talvez a Confeitaria Cavé utilizasse um nome
diferente do atual, ou era definido como outro tipo de comércio, ou ainda, que não utilizasse
jornais e revistas como forma de divulgação durante o período que pesquisamos. Não
podemos descartar, porém, que tanto a Casa Cavé quanto o Restaurante Rio Minho não sejam
tão antigos quanto declaram.
acontecimentos notáveis. Fundada pelos editores Ferreira de Araújo, Manuel Carneiro e Elísio Mendes e pelos
redatores Henrique Chaves e Lino de Assunção (ASPERTI, 2006).
27
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional
28
http://rioshow.oglobo.globo.com/gastronomia/restaurantes/rio-minho-641.aspx
29
http://www.casacave.com.br/
52
A Confeitaria Colombo também não foi mencionada neste estudo por estar fora do
nosso recorte temporal. Ela foi inaugurada no ano de 1894 (FREIXA; CHAVES, 2009).
Desde o início do século XIX, o Rio de Janeiro foi modelo de cultura e costumes da boa
mesa. Foi ali e na cidade de São Paulo que surgiram os primeiros restaurantes do Brasil, como
apontam Freixa e Chaves (2009).
Nos restaurantes do Rio, a diversidade dos serviços prestados era ampla, mas o principal
produto oferecido por grande parte deles era o almoço e o jantar, sendo que o almoço era
geralmente composto por dois pratos, sobremesa e meia garrafa de vinho - e o jantar oferecia
sopa, três pratos, sobremesa e meia garrafa de vinho. Até a década de 1870, essa composição
era constantemente divulgada nos anúncios dos restaurantes de hotéis. Posteriormente, a
encontramos também naqueles estabelecimentos independentes (A VIDA FLUMINENSE,
05/06/1875, p. 181; GAZETA DA TARDE, 03/01/1881, p. 4).
Podemos destacar o anúncio do Hotel dos Estrangeiros sobre o seu restaurant à moda
de Paris, no Correio Mercantil (04/08/1856, p. 3), com almoço e jantar. Esse mesmo
periódico (17/07/1859, p. 3) publicou que o Hotel D. Pedro, com restaurant de primeira
ordem, oferecia almoço composto de dois pratos: meia garrafa de vinho, sobremesa e café, e o
jantar servia sopa, três pratos, meia garrafa de vinho, sobremesa e café. Segundo Belluzzo
(2010a), foi nessa época que a moda de tomar café após as refeições começou a se fixar,
mesmo que de forma tímida, seguida de um licor ou digestivo, e sendo sempre associada às
refeições festivas e banquetes.
O Hotel das Quatro Nações, com restaurant francês, dispunha de almoço com dois
pratos, sobremesa, meia garrafa de vinho e pão, e no jantar havia sopa, três pratos, sobremesa,
meia garrafa de vinho, e pão. Disponibilizavam também o serviço para pensionistas mensais,
ou seja, era possível fazer refeições diariamente e pagar por mês, assim como dispunham do
serviço de hospedagem com quartos mobiliados (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO,
04/05/1860, p. 4). Essa prática era comum tanto nos restaurantes inseridos dentro de hotéis
como também nos que se encontravam fora deles (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO,
19/06/1860, p. 3; CORREIO MERCANTIL, 02/09/1860, p. 4; O PORTUGUÊS, 29/05/1864,
p. 3). O pensionato era interessante para os comerciantes pois era uma forma de vincular o
cliente ao estabelecimento, e por isso criavam promoções que incentivassem esse tipo de
53
serviço. Por exemplo, o Restaurant Baiano anunciava o desconto de 10% nas refeições para
pensionistas (GAZETA DE NOTÍCIAS, 31/07/1882, p. 3).
o qual erguia-se uma pirâmide escarlate, cor de rosa e branca querendo o anunciante por este
modo indicar as cores das frutas de que os sorvetes eram feitos”.
De acordo com o jornalista, os sorvetes mais afamados eram os da Confeitaria
Francioni, os quais somente eram vendidos nas confeitarias de primeira ordem. Já as de
segunda se limitavam a vender biscoitos sortidos, doces, licores e xaropes, onde a principal
função era refinar açúcar: “[...] Os confeiteiros de alta categoria não refinam açúcar.
Perguntem aos refinados Castellões, Paschoal e Cailtou se eles refinam. As confeitarias de
hoje invadiram a esfera das quitandeiras, vendendo frutas e até legumes, e a esfera dos
padeiros com pães e roscas” (O PAÍS, 13/12/1886, p. 2).
Podemos perceber que as confeitarias, em geral, tinham as suas funções muito mais
amplas que o simples preparo e comércio de doces, se portando também como padarias e até
armazéns, com comércio de frutas, bebidas, pães, biscoitos, guloseimas e presentes.
Um tipo de serviço comum aos dois espaços era o de encomendas e buffet. Entre os
anos de 1850 e 1870, os restaurantes encarregavam-se de jantares e comida “para fora”, como
no Restaurant e Pastelaria Ao Chevet Brasileiro, que divulgava jantares, bodas, banquetes,
pastelaria, doces e refrescos, em áreas distintas à sua localização (DIÁRIO DO RIO DE
JANEIRO, 07/07/1856, p.4); o Restaurant do Hotel das Quatro Nações também recebia
encomendas para jantares fora do restaurante (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 04/05/1860,
p. 4); e o Restaurant do Hotel Luxemburgo dispunha de entrega de encomendas de jantares
para casamentos e reuniões (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 12/01/1861, p. 4). Esse tipo de
serviço era comum tanto nos restaurantes de hotéis como nos demais.
Havia, até mesmo, um restaurant no Jardim Botânico que, por se situar em área
afastada do centro, dispunha de um escritório na Rua dos Ourives, localizado na região
central, para atender as encomendas (CORREIO MERCANTIL, 09/06/1861, p. 3). Pode-se
perceber a preocupação em proporcionar comodidade aos clientes, ao mesmo tempo em que a
iniciativa poderia ser também uma forma de não perder a concorrência com outros
estabelecimentos situados na parte principal da capital do Império.
Já as confeitarias recebiam, principalmente, encomendas para bailes, soirées, jantares e
ceias, assim como de doces para os mesmos eventos e ainda para batizados e casamentos. No
Largo do Valdetaro no. 92, situava-se uma confeitaria que “se encarregava de qualquer
encomenda pertencente ao mesmo negócio” (CORREIO MERCANTIL, 02/11/1850, p. 4 e
24/12/1850, p. 4). Já a confeitaria da Rua do Hospício no. 66 recebia apenas encomendas de
doces finos para bailes, batizados e casamentos (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO,
14/10/1850, p. 4).
55
30
Um metal quase igual à prata.
31
No mesmo jornal, no ano de 1879, este estabelecimento é mencionado com o nome de Grand Restaurant de la
Terrasse (02 de dez., p. 4).
59
Podemos constatar que o preço das refeições variava de acordo com cada local, girando
em torno de quatrocentos a dois mil e quinhentos réis, e também com o menu ofertado. Era
fato que, com a presença do vinho, elas passavam a ser mais dispendiosas, ainda mais que
grande parte dele, consumido na Corte, era oriundo da Europa.
Nas confeitarias, a oscilação dos preços também era perceptível, mesmo que em
proporções diferentes dos restaurantes. Se compararmos o preço da empada vendida nas
confeitarias, confeitaria e pastelaria da Rua Imperatriz no. 59 e Confeitaria do Rocio,
quinhentos réis (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 28/04/1854, p. 3 e 20/05/1855, p. 4), com o
custo de algumas refeições, almoço e jantar, ambos por quinhentos réis no Restaurant
Lacombe e quatrocentos réis no Restaurant Rivas (DIÁRIO DO BRASIL, 02/12/1881, p. 4; O
PAÍS, 13/08/1889, p. 4), ou ainda o sorvete da Confeitaria Pelicano que era vendido por
duzentos e quarenta réis (CORREIO MERCANTIL, 12/01/1863, p. 3), podemos inferir que
frequentar uma confeitaria era ainda mais caro do que realizar uma refeição em determinados
restaurantes. Verificamos que as confeitarias eram espaços ainda mais restritos que a maioria
dos restaurantes, o que se percebia através dos preços praticados.
É ainda possível realizar uma comparação dos valores pagos nas confeitarias e
restaurantes com outros aplicados na época. O custo de venda da libra de açúcar no Rio de
Janeiro, por exemplo, variava de cento e sessenta a duzentos réis (CORREIO DA TARDE,
03/12/1855, p. 2). O quilo do café moído saía por um mil e duzentos réis (GAZETA DE
NOTÍCIAS, 24/11/1887, p. 2). Já o preço da garrafa de vinho custava de quatrocentos a três
mil réis, e a libra da manteiga custava de um mil réis a um mil e duzentos e oitenta réis, além
da libra do chocolate, de um mil a dois mil réis (CORREIO MERCANTIL, 25/05/1859, p. 3).
O preço de venda dos jornais avulsos em circulação na Corte era de quarenta réis
(PERIÓDICO DOS POBRES, 28/12/1850, p. 1; JORNAL DO POVO, 01/12/1878, p. 1), e a
tarifa para visitar uma exposição de bonecos de cera, na qual constava a presença de suas
altezas reais na inauguração, era de dois mil réis, sendo a entrada para meninos (meia entrada)
de um mil réis (acreditamos tratar aqui de crianças) (A REFORMA, 02/10/1871, p. 2).
Também soubemos, no estudo de Melo (2015), que os bilhetes para participar de eventos
esportivos, os quais também eram considerados atividades de entretenimento, tinham um
custo inicial aproximado de um mil réis para entrar e mais um mil réis para sentar na
arquibancada. Deduzimos, então, que frequentar restaurantes e confeitarias não era algo
demasiado caro em comparação aos demais valores demonstrados. É importante destacar que
havia diversas faixas de preço nos entretenimentos e, devido a essa variação, diferentes
camadas sociais tinham condições de frequentar esses locais.
61
Gostaríamos ainda de destacar alguns aspectos relevantes que podem confirmar ainda
mais a dedução anterior. Segundo o jornal Correio Mercantil (21/07/1853, p. 3), o custo do
aluguel de uma preta para ama de leite era de vinte mil réis mensais. Já o aluguel de um preto
cozinheiro era um pouco mais baixo, saindo por quatorze mil réis ao mês (JORNAL DO
COMÉRCIO, 25/03/1854, p. 3). Se ainda formos um pouco além e entrarmos em questões
salarias de homens livres, temos que o salário de trabalhadores nas plantações de cana de
açúcar variava de um mil réis a um mil e quatrocentos réis por dia, mais a comida. E o de um
vendedor de doces na rua era de quinze mil réis mensais. O salário de um chefe e de um
segundo cozinheiro em um hotel chegava até sessenta mil réis mensais, assim como o de um
padeiro, que girava também em torno de sessenta mil réis (JORNAL DO COMÉRCIO,
15/11/1866, p. 3; 27/02/1880, p. 5; 28/02/1883, p. 6; 12/11/1890, p. 10). Também percebemos
um anúncio que oferecia cento e cinquenta mil réis por mês para um chefe cozinheiro com
prática nos hotéis restaurantes da cidade (JORNAL DO COMÉRCIO, 14/09/1874, p. 6).
Como acontece até os dias atuais, podemos verificar faixas salarias desiguais que
variam de acordo com o cargo, mas que nos levam a perceber que esses espaços poderiam,
sim, ser frequentados por um público variado, onde o fator determinante era o custo dos
alimentos e refeições.
Com relação aos horários de funcionamento, os restaurantes apresentavam escalas um
tanto peculiares, se compararmos com os praticados atualmente. Infelizmente, só percebemos
uma maior divulgação nos anúncios dessas casas e que eram os mais variados.
No Grande Café Restaurant e Bilhares, o almoço era servido às nove horas da manhã, o
jantar era às quinze horas e trinta minutos, e a ceia saía às vinte horas (CORREIO
MERCANTIL, 02/09/1860, p. 4). Já no Hotel Restaurant dos Estrangeiros, o almoço era
oferecido às dez da manhã, e o jantar era às quatro da tarde (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO,
03/06/1864, p. 3).
No reformado Café e Restaurante do Cruzeiro, "situado na mais elegante e frequentada
rua desta cidade”, o horário de funcionamento era das cinco horas e trinta minutos até uma
hora da manhã (GAZETA DE NOTÍCIAS, 01/01/1878, p. 3). O Café Javanez e restaurant
funcionava também até uma hora da manhã (GAZETA NACIONAL, 07/12/1887, p. 3). A
Confeitaria de Petrópolis, que também exercia a função de um restaurante, servindo almoços
e ceias, e cujo horário de funcionamento era das seis até uma hora da manhã (GAZETA DE
NOTÍCIAS, 10/08/1877, p. 3). Ainda existiam estabelecimentos que iniciavam suas
atividades um pouco mais cedo, como a Confeitaria da Estrada de Ferro D. Pedro II, que
62
começava às 4 horas da manhã (O CRUZEIRO, 02/09/1878, p. 4), fato que talvez possa ser
explicado pelo local onde ela estava inserida e pelo horário inicial de partida dos trens.
Já o Chalet Restaurante funcionava até às duas horas da manhã, caso que também pode
ser esclarecido pela sua localização, já que ele se situava em frente ao portão do Jardim
Botânico, ou seja, afastado da área central da cidade (DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 05/06/1886, p.
3). No entanto, existia uma confeitaria no Largo do São Francisco de Paula que encerrava
suas atividades também às duas horas da manhã (PERIÓDICO CARICATO, SÁTIRICO E
POPULAR, 1871, N°46, p. 7).
Alguns restaurantes, situados dentro de hotéis, divulgavam que estariam abertos a
qualquer hora do dia ou da noite, como o do Hotel do Brasil e do Hotel do Império (DIÁRIO
DO RIO DE JANEIRO, 18/11/1863, p. 4 e 21/02/1864, p. 3). Conforme já destacamos, havia
uma relação direta entre outros espaços de entretenimento e os restaurantes, tanto que a
legislação previa que estes poderiam permanecer funcionando até depois dos espetáculos
encerrarem, declarava o Diário do Rio de Janeiro de 05 de abril de 1870 (p. 2).
Talvez essa maior flexibilidade de horários para as principais refeições pudesse ter o
foco de atender, aos comerciantes e trabalhadores, principalmente, que nem sempre poderiam
se ausentar de seus trabalhos no mesmo horário fixo. A maleabilidade buscava atender o
maior número possível de clientes. Ao mesmo tempo, esses turnos de funcionamento
poderiam estar acompanhando os hábitos de uma classe mais abastada e disposta a gastar, e
que cada vez mais via o ambiente público como divertido. É o que menciona Lilia Schwarcz
(1998), quando destaca que os horários na Corte carioca dos anos 60 “passam a ser pautados
por festas, rituais e passeios. Uma roupa para cada ocasião, passeios na rua do Ouvidor,
encontros nas confeitarias, desfiles nos teatros, etiqueta nos jantares: era a nova agenda de
atividades que cercava as elites, sobretudo da província do Rio de Janeiro” (p. 203).
Refutamos, dessa forma, um enquadramento mais contundente nesse aspecto apontado
por alguns pesquisadores. De acordo com Renault (1978), desde o tempo de João VI, o
almoço era servido às nove horas, o jantar às quatro horas da tarde e a ceia às dezoito horas,
hábito que se manteve no Primeiro e no Segundo Reinado. O autor ainda sublinhou que o
costume do café da manhã foi criado pelos brasileiros. Schwarcz (1998) ainda reforçou que se
almoçava, em geral, às dez horas e se jantava às quatro da tarde.
Como pudemos perceber através dos periódicos, esses horários não eram tão restritos e
uma definição geral se torna incoerente. Apesar de existir uma relativa harmonia entre os
horários de funcionamento dos estabelecimentos apresentados nos anúncios, não podemos
enquadrá-los e limitá-los, visto a documentação.
63
Através dos comunicados dos restaurantes, podemos constatar que o almoço era servido
das oito horas da manhã até as onze, e o jantar das quatorze até às dezoito horas. A ceia
geralmente acontecia em torno das vinte horas.
Após esse apontamento, e ao analisarmos o anúncio da Padaria, Confeitaria e
Refinação São João (FOLHA DE DOMINGO, 01/05/1887, p. 2), que divulgava ter pão
quente às sete da manhã, duas horas da tarde e sete horas da noite, podemos inferir que estes
horários eram propositais e tinha como foco acompanhar o almoço, jantar e a ceia da
sociedade fluminense.
deduzir que se tratava de um restaurante com um amplo espaço, já que dispunha de oito
diferentes ambientes. Nessa mesma linha, o Restaurant do Jet D’Eau possuía um salão para
duzentos talheres, que acreditamos que possa comportar duzentas pessoas (GAZETA DA
TARDE, 01/02/1888, p. 4). Maior que esses, tivemos evidência apenas do Café Restaurante
Cascata, que em uma festa esplendorosa e, segundo o jornal Diário de Notícias (25/04/1886,
p. 2), totalizava mais de dez mil pessoas enchendo seus vastos salões. Podemos perceber que
não existia uma grande preocupação nos anúncios em descrever o espaço destinado aos
clientes.
Tomando como base o que foi constatado na documentação analisada e na imagem a
seguir, é possível compreender uma estrutura base nos hotéis que possuíam restaurantes.
Geralmente, o restaurante se localizava no primeiro andar e os quartos no segundo, como
podemos notar no Hotel e Café Dous Irmãos com restaurant (DIÁRIO DO RIO DE
JANEIRO, 31/12/1856, p. 7) e no Hotel L’Union com restaurant (CORREIO MERCANTIL,
15/03/1851, p. 4). Isso também pode ser comprovado no Hotel Restaurant de Bragança
(DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 18/11/1863, p. 3) e no Hotel e Restaurant do Comércio
(GAZETA DE NOTÍCIAS, 28/07/1877, p. 4), que destacaram essa característica nos seus
comunicados.
o grande salão do café esta pintado e decorado com lindas paisagens sobre tela e
ornamentado com grandes espelhos, tudo dividido por graciosas colunas, sendo as
paisagens: a entrada da barra do Rio de Janeiro, e a enseada de Icaraí, tomadas
ambas do ponto de vista da volta da Itapuca; uma parte do Rio Amazonas, o salto de
Itú, a serra dos Órgãos, a rua de palmeiras da entrada do Jardim Botânico, uma cena
de índios no interior do Mato Grosso, as pirâmides do Egito, um chalé na Suíça, um
rio no México, etc. No prolongamento da confeitaria foi o salão ricamente decorado
a papel dourado e de cor e ornamento com espelhos e quadros ricos: e ao lado desta
sala encontrarão mais outra especial destinada a famílias, ricamente decorada, com
espelhos, estatuas, e vidros de cores e troféus de assuntos campestres, tudo
graciosamente combinado e de magnífico efeito. (GAZETA DE NOTÍCIAS,
16/09/1880, p. 5)
Uma característica comum, tanto nos salões dos restaurantes quanto nos das
confeitarias, é a utilização de espelhos e pinturas na decoração, que se inspiravam no
comércio europeu.
Essa referência constante a outros países, na maioria, nações da Europa, tende a
confirmar a necessidade que esses espaços, e até mesmo o Rio de Janeiro, tinham de vincular-
se a hábitos considerados evoluídos e, por conseguinte, civilizados. Os ambientes de
alimentação e entretenimento estavam inseridos nesse grande contexto.
Conforme o periódico O Mequetrefe (janeiro de 1889, p. 6), a Confeitaria Pey & C. era
montada com o luxo e comodidade necessários a uma casa que seria um dos muitos pontos de
reunião da Rua do Ouvidor. O Diário de Notícias (11/01/1889, p. 1) ainda complementa: “[...]
mais um ponto de rendes-vous da moda, da elegância, do high-life, acha-se, pois, à disposição
do nosso mundo elegante”. Através desses anúncios, podemos concluir que essa era uma casa
comercial focada em uma camada social economicamente privilegiada.
66
Da mesma forma, a confeitaria da Rua da Lapa no. 12 se definia como um novo e útil
negócio, sendo montada com todo o luxo e capricho, além de dispor de gêneros de primeira
qualidade (DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 11/01/1890, p. 2).
Já a Confeitaria O Ponto divulgava ter uma imponente copa com um hábil empregado
para o preparo de bebidas, além de destacar o luxo da casa e de seus gêneros como sendo de
primeira qualidade (GAZETA DE NOTÍCIAS, 17/05/1890, p. 6). Outro periódico apontava
que o estabelecimento era frequentado pelos “aristocráticos populares” (DIÁRIO DE
NOTÍCIAS, 21/05/1890, p. 2). Não sabemos, ao certo, o que o jornal definia com o termo
“aristocráticos populares”, mas acreditamos se referir a pequenos burgueses, comerciantes de
classe intermediária. A Revista Ilustrada (31/05/1890, p. 6) ainda complementou dizendo que
esse era bem situado, na Rua do Ouvidor e possuía “[...] uma sala discreta, luxuosa, alegre e
arejada”. O local reunia rapazes elegantes e as famílias do high-life.
Juca n´O Mequetrefe (18/09/1880, p. 391) faz uso de uma poesia para falar da
Confeitaria Braço de Ouro. Além de fazer referência a alimentos e bebidas comercializadas,
ele a descreve como um “deslumbrante tesouro”.
De acordo com Needell (1993), a sociedade carioca era caracterizada, a priori, por dois
estratos: um “composto de fazendeiros e comerciantes brancos” (p. 19) - pessoas poderosas e
ricas - e outro composto por negros e mulatos. Inseridos neste último grupo, havia tanto
escravos como libertos e seus descendentes, que englobavam “trabalhadores rurais,
empregados domésticos, artesãos, braçais da lavoura, trabalhadores urbanos, meeiros
empobrecidos e pequenos sitiantes” (p. 19). Definitivamente, o segundo grupo era mais
populoso que o primeiro. O autor destaca que esses dois estratos constituíam as principais
forças sociais, mas ainda era possível identificar uma estreita camada de setores médios
formada por “profissionais liberais, burocratas subalternos, empregados dos escritórios e
pequenos lojistas” (NEEDELL, 1993, p. 20).
Assim como os estabelecimentos de alimentação no Segundo Império operavam com
uma grande diversidade de produtos e locais de atuação, o público frequentador também se
diferenciava. Existiam perfis distintos, que contemplavam diversos estilos de consumidores
em uma cidade que crescia cada vez mais e também se diversificava.
O Restaurant de l'industrie era recomendado especialmente para a classe trabalhadora,
com boa cozinha e preços acessíveis. Percebemos que o público alvo desse espaço eram os
trabalhadores, “spécialement à la classe ouvrière par sa bonne cuisine et la modicité de ses
prix”, mesmo que não saibamos ao certo quem era essa “classe trabalhadora”. No entanto,
como podemos verificar a seguir, tratava-se de um anúncio em francês, o que nos faz acreditar
que não se referia à necessidade de uma maior atração de trabalhadores estrangeiros que
dominassem a língua francesa, mas sim do glamour ou status que o idioma acarretava. O
perfil francês talvez trouxesse credibilidade ao empreendimento, acompanhando os mais
renomados restaurantes da cidade, mesmo que fosse recomendado a trabalhadores (CORREIO
MERCANTIL, 10/05/1857, p. 3).
Esse caso não foi uma exceção, pois nessa época era muito comum a utilização de
anúncios com línguas estrangeiras nesses tipos de casas comercias, como pode ser visto, por
exemplo, no comunicado anterior e no seguinte do Real Hotel de Veneza, que eram
apresentados em três idiomas: português, inglês e francês (CORREIO MERCANTIL,
02/09/1860, p. 3). Essa característica possibilita diferentes leituras: a língua poderia facilitar a
comunicação com estrangeiros, tanto empreendedores quanto imigrantes que circulavam pela
cidade, mas também poderia ser sinônimo de status, ressaltando o refinamento inerente a
esses locais.
Além disso, segundo Renault (1978), o batismo de casas comerciais com nomes
estrangeiros também era uma forma de atrair a freguesia, o que parece ter sido muito utilizado
pelos restaurantes dessa época.
Apesar do nome de Restaurant Popular, esse estabelecimento não se diferenciava dos
outros em relação ao preço. Estava localizado em um dos principais logradouros, à Rua do
Ouvidor, fato que nos leva a acreditar que o seu público não se destoava dos bons restaurantes
do centro da cidade, em grande parte frequentado por uma camada social economicamente
privilegiada, a qual podemos denominar de elite. Abaixo, o anúncio de A Vida Fluminense
(07/06/1873, p. 1433):
Segundo Needell (1993), a elite carioca era composta, principalmente, por homens de
negócios, latifundiários, burocratas e políticos. “A Corte, na condição de sede do Império e
cidade mais europeizada do Brasil, atraía os melhores membros das famílias provinciais
poderosas, os quais se tornavam deputados, senadores e ministros” (p. 131).
Reinaugurado em 25 de setembro de 1873, o Restaurant Carceller fornecia refeições
para a Casa Imperial, tendo a nobreza como um de seus clientes, ou seja, todos aqueles que
faziam parte da aristocracia monárquica (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 25/09/1873, p. 4).
72
O Chalet Restaurant Campestre declarava que tinha, como seu público frequentador,
excelentíssimas famílias (O GLOBO, 20/01/1876, p. 2). Em contrapartida, no ano de 1887,
existiram relatos de que aquele local já não era mais tão bem frequentado: "queixam-se
pessoas serias de que o Restaurant Campestre no Jardim Botânico está convertido em casa de
cômodos por fora. As famílias que caem na asneira de lá irem tomar alguma coisa, passam
pela decepção de acotovelarem-se com mulheres à toa, que saem dos compartimentos, com os
seus bilontras" (CARBONARIO, 18/03/1887, p. 2).
Dirigido por Manuel Ribeiro e inaugurado no dia 20 de maio de 1876, o Hotel e
Restaurant Oriental oferecia almoços, jantares e ceias não apenas para qualquer particular,
como também para famílias, tanto pela lista do hotel como por encomenda. O anúncio ainda
deixava claro que a nova casa pretendia atrair não apenas os viajantes, mas também o público
fluminense.
É de esperar que o público fluminense e bem assim os viajantes que visitam a capital
do Império procurem neste novo estabelecimento asseio, confortabilidade,
prontidão, bom gosto nos preparos das comidas, assim como variada escolha de
vinhos e bebidas triviais ou dos mais generosos. (GAZETA DE NOTÍCIAS,
20/05/1876, p. 3)
32
O enunciado ainda destaca que os consumidores dos restaurantes B e C, a cada refeição realizada, receberão
um cartão especial, sendo que quando totalizarem 100 unidades deles, serão presenteados com dez mil réis.
74
que fornecia refeições para a Casa Imperial, tendo a nobreza como seu cliente (DIÁRIO DO
RIO DE JANEIRO, 25/09/1873, p. 4). Além desses, a Confeitaria do Pellicano e a Imperial
Padaria e Confeitaria também eram fornecedoras da Casa Imperial e utilizavam o brasão do
Império em seus anúncios (CORREIO MERCANTIL, 18/05/1862, p. 3; 23/10/1864, p. 4;
ALMANAQUE ADMINISTRATIVO, MERCANTIL E INDUSTRIAL DO RIO DE
JANEIRO, 1871, p. 73). Acreditamos que esse brasão seria um símbolo da credibilidade
desses espaços perante seus clientes.
O Diário de Notícias (07/02/1871, p. 2) notificava que a Confeitaria Castellões
continuava a ser frequentada pela elite da sociedade fluminense. O mesmo jornal, em 17 de
agosto de 1888 (p. 1), continuou a destacar o público da Confeitaria Castellões: “É nesta casa
que se reúnem os rapazes mais chics da sociedade fluminense, as mais altas sumidades
políticas, muitos representantes do genuíno high life, os mais distintos dilettanti, os artistas
celebres que nos visitam, os empresários de teatros”. E complementou: “É nesta casa que o
mundo elegante vem tomar assinatura para o teatro Lírico, que são encomendados os
banquetes das casas ricas e das grandes festividades”. Finalizou, apontando que essa foi
fundada há muitos anos e que goza de notoriedade até na Europa.
Identificamos apenas uma confeitaria fazendo menção aos pobres em seus anúncios. A
Tribuna Militar, de 20 de outubro de 1881 (p. 4), no comunicado da Confeitaria e Refinação
do Conde D’Eu, divulgava que os atuais proprietários “vem pedir a todos indistintamente,
nobres e plebeus, ricos e remediados, que honrem o seu estabelecimento com uma visita;
todos lucrarão: tem o que há de mais fino e delicado em sortimento deste gênero de negócio, e
ninguém pode competir com a confeitaria Conde D’Eu em modicidade de preços”.
Alguns faziam questão de mencionar a predileção do público feminino, especialmente
as confeitarias que, em diversas oportunidades, registravam essa característica.
A matéria Na Rua Do Ouvidor, de Sovesis, publicada na primeira página do jornal
Diário de Notícias (22/06/1887, p. 1), apontava o prestígio junto ao público feminino que "[..]
ainda ontem esteve cheia a confeitaria do Paschoal; e cheia, não de jornalistas, mas de moças
e, apesar da censura daqueles, estas trincavam com muito gosto as gulodices da celebre
confeitaria".
O jornal Cidade do Rio (21/08/1888, p. 1) também faz menção a mulheres frequentando
as confeitarias na Rua do Ouvidor: “a Rua do Ouvidor encheu-se de elegantes senhoras que
iam e vinham dos armarinhos as confeitarias e das confeitarias aos armarinhos, no grande afã
de comprar”. O Diário de Notícias (23/08/1888, p. 2) apontava a Confeitaria do Leão: “a hora
em que lá estivemos todas as mesas achavam-se ocupadas por elegantes e gentis damas da
75
nossa melhor sociedade, que constituíram o salão do Leão como um dos seus mais preferidos
pontos de reunião”. Esse mesmo periódico (24/08/1888, p. 2) também publicou que a
Confeitaria do Cailtau era frequentada por moças, assim como a do Paschoal, que chegou a
ser comparada com um “jardim” - ambas estavam situadas no principal logradouro do centro
da cidade.
As confeitarias eram espaços onde, progressivamente, a figura feminina se fazia
presente, a exemplo de outros locais que estavam cada vez mais acostumados com isso. É o
que Victor Melo (2007) destaca quando depõe que foi no século XIX que esse quadro
começou paulatinamente a se alterar. Associado a um conjunto de modificações que se
baseavam, principalmente, no antigo continente, chegavam também os ecos das
reivindicações femininas e um novo modelo de mulher mais presente na vida social. Essa
mudança foi lenta, assim como diferenciada entre os estratos sociais.
A participação feminina na vida pública e social era um processo em pleno
desenvolvimento na segunda metade desse século. A urbanização e o alargamento de um
melhor sistema de transporte (com o surgimento do bonde, primeiro à tração animal e depois
elétrico) “convidavam” as mulheres à rua, aumentavam sua possibilidade de mobilidade e
criavam contrapontos à tradicional ideia de confinamento doméstico. A presença feminina se
tornou cada vez mais constante nas competições esportivas, no teatro, no cinema, nos parques
públicos e, consequentemente, nos restaurante e confeitarias da Corte. (MELO, 2007)
Podemos apontar, através do que já foi constatado e do que França Júnior escreveu (O
PAÍS, 13/12/1886, p. 2), que esses locais poderiam ser classificados como de primeira e de
segunda ordem, e que, de certa forma, isso estaria diretamente ligado com o seu público
frequentador. As de primeira ordem eram frequentadas por camadas médias e altas, como
nobreza e burguesia; e as de segunda ordem, por uma camada média a baixa. Com a
ampliação do número de estabelecimentos, como apontamos no início deste capítulo, as
opções de consumo nas confeitarias, assim como as suas localizações, tiveram um aumento
considerável. Ao seguir o desenvolvimento urbano e social do Rio de Janeiro, elas também se
adaptaram ao público consumidor, com os rótulos de primeira e segunda ordem, o que muito
provavelmente estava relacionado ao seu refinamento e dos seus frequentadores.
Embora acreditemos que os maiores usuários de restaurantes e confeitarias fossem os
integrantes de camadas sociais de maior poder aquisitivo, ou componentes de fatias medianas
em ascensão, não é possível descartar que houvesse clientes menos remediados que
comparecessem a esses lugares cada vez mais comuns e diversos. O próprio desenvolvimento
de um mercado de entretenimento, que incluía os ambientes de alimentação em seu leque de
76
[...] nos anos 1880, o turfe e o remo, mais o primeiro que o segundo, eram
referências na cidade, valorizados pelas camadas populares, que simultaneamente se
divertiam e acalentavam a esperança de ganhar algum dinheiro com as apostas, e
pelas elites, que encaravam as atividades esportivas como uma adequada ocasião
para exibir publicamente seus sinas de status e distinção, bem como para fortalecer
laços de solidariedade, o que para muitos significava consolidar estratégias de
negócios (p. 121).
CRUZEIRO, 23/06/1878, p. 4), cuja novidade era anunciada efusivamente e buscava atrair
clientes no período noturno.
Era também comum alguns comunicados de restaurantes fazerem uso da palavra
divertimento. O Restaurant do Oriente constantemente divulgava a realização de bailes e
solicitava “aos senhores frequentadores por especial obsequio, se lhes pede para apresentarem
decentemente vestidos, para melhor abrilhantar o divertimento” (JORNAL DO COMÉRCIO,
23/03/1861, p. 4). Outro anúncio dele destacava que o empresário estava disposto a cumprir
ao público o que prometeu “dando-lhes bailes para seus divertimentos” (JORNAL DO
COMÉRCIO, 08/05/1861, p. 4). O restaurant em frente ao Jardim Botânico, nos dias de festa
Santa, encontrava-se habilitado a servir bem as pessoas que quisessem se divertir, apontou o
Correio Mercantil (09/06/1861, p. 3).
ampla. Esse fato talvez possa ser explicado pela necessidade que esses espaços tinham de
manter e atrair mais público, ao mesmo tempo em que o mercado do entretenimento era cada
vez maior e estruturado, e os domínios da cidade se ampliavam.
As novidades que buscavam entreter e atrair o público não cessavam, com diversão e
alimentação cada vez mais coligadas. O restaurant do Hotel dos Príncipes, por ocasião do
solene aniversário do dia 07 de setembro, alterou o horário do jantar das dezessete para às
vinte horas e anunciou uma brilhante iluminação à luz oxídrica de cores, “Coisa nunca vista
até hoje”. Entre a luz elétrica aparecia a sombra do príncipe do Grão Pará, referência a D.
Pedro II (O GLOBO, 07/09/1876, p. 4).
As músicas e instrumentos em restaurantes se tornaram alvo de comunicados e
buscaram atrair a população. O Chalet Restaurant Campestre destacava que oferecia um
piano às “excelentíssimas famílias” que desejassem fazer uso deste instrumento (O GLOBO,
20/01/1876, p. 2). Nesse mesmo espaço, foi noticiada uma grande festa artística, com uma
excelente banda de música e concerto de piano aos domingos, quintas-feiras e sábados, e
noites recreativas com divertimento gratuito (O CRUZEIRO, 20/01/1878, p. 8). O Restaurant
Cascata destacou, no periódico, um grande concerto com música alemã (GAZETA DE
NOTÍCIAS, 21/07/1880, p. 6).
O Café Concerto Eldorado foi inaugurado em 14 de abril de 1888, sendo considerado o
novo centro de diversões. Oferecia boa música, bom restaurant, buffet recomendável e local
apropriado (DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 14/04/1888, p. 1). De acordo com o anúncio, tratava-se
de uma imitação dos cafés cantantes de Paris. Todas as noites, havia concerto vocal e
instrumental dirigido por André Gravenstein. Del Priore (2010) destaca que Paris era a grande
inspiração para a capital da Corte, que buscava se modernizar. Para a historiadora, “Paris
dominava o mundo. O Rio de Janeiro se contagiava por imitações” (p. 43). Essa era uma
prática que identificamos como sendo exclusiva dos restaurantes. Não temos informação
quanto a apresentações musicais em confeitarias.
Exposições também eram eventos que tinham local fecundo no ambiente da
alimentação. Conforme o jornal A República (13/10/1871, p. 4), em uma grande exposição de
figuras de ceras representando os principais personagens da guerra franco prussiana, realizada
na Rua dos Inválidos, haveria um elegante restaurant para maior comodidade do público
presente. Já na entrada do Restaurant Democrata tinha, em exposição, uma tartaruga pesando
76 quilos e 208 gramas (DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 01/04/1887, p. 1).
80
33
Um dos casos é o estabelecimento comercial denominado de All' Isola di Caprera, que se apresentava como
restaurant e dispunha de seis bilhares disponíveis para quem quisesse se divertir através do jogo apontou O
Fígaro (1876, p. 143).
81
34
Localizado no bairro de Vila Isabel, antigo Jardim Zoológico do Rio de Janeiro (DIÁRIO DE NOTÍCIAS,
01/01/1890, p. 2).
82
Em dias de grande calor, em que havia corridas no Prado de Vila Isabel, ele era requisitado.
Além disso, o restaurante gozava de uma bela vista e ar agradável. Dali mesmo, os
aficionados pelas corridas de cavalo podiam realizar suas apostas (DIÁRIO DE NOTÍCIAS,
01/01/1890, p. 2).
Também era comum a prática de tiro ao alvo nas confeitarias. No recreio da Confeitaria
Estrada de Ferro D. Pedro II havia tiro ao alvo todos os dias, das sete horas da manhã às
nove horas da noite, segundo a Gazeta de Notícias (05/04/1885, p. 5). No dia 10 de agosto de
1886, foi inaugurado um tiro ao alvo com espingardas no salão da Confeitaria Ouvidor, que
destacou que “para os atiradores tal logar será o utile dulci” (O PAÍS, 11/08/1886, p. 1),
fazendo referência à “útil e prazerosa” prática. A entrada era gratuita (A SEMANA,
14/08/1886, p. 267). Passou a ser comum, nessa confeitaria, a ocorrência de concursos de tiro
ao alvo, além da ampliação das opções de divertimento: “aumentando o número de diversões
que oferecem aos seus fregueses, os proprietários da Confeitaria Ouvidor inauguraram um
salão com bilhares, xadrez, bagatelas35 e outros jogos” (O PAÍS, 30/11/1886, p.1).
Também, a estrutura física era valorizada e atraía o público nos estabelecimentos de
alimentação. A partir da chegada da família real, uma nova sensibilidade foi despertada em
relação à paisagem e a natureza passou, também, a ser um objeto que deveria ser domesticado
no espaço urbano. De acordo com Terra, “[...] no século XIX, várias foram as áreas verdes no
Brasil que serviram de lugar de lazer e diversão” (2010, p. 87).
Assim como no Brazilian Garden, o Restaurant Maison Moderne possuía jardim, salões
particulares, caramanchões e balcão com 15 metros de comprimento, além de geladeira
sistema Peters, demonstrando toda uma inovação e pioneirismo tecnológico, a fim de garantir
o bom estado de suas iguarias e um serviço incomparável a outro estabelecimento (GAZETA
DA TARDE, 26/02/1883, p. 4). No ano de 1884, esse mesmo espaço passou por uma reforma
e foi reinaugurado, sendo composto de oito salões reservados, um restaurant a preços fixos,
bilhares, bagatelas e jardins (GAZETA DE NOTÍCIAS, 14/12/1884, p. 6). Como nos outros
dois espaços, a Confeitaria Estrada de Ferro D. Pedro II também dispunha de jardim de
recreio (O CRUZEIRO, 02/09/1878, p. 4).
É notável que os restaurantes também tinham a função de entretenimento, quer seja
como complemento de outra diversão em um contexto amplo de várias opções na cidade do
Rio de Janeiro, quer seja de forma isolada. O comer por necessidade física deixou de ser a
35
A bagatela é uma peça originária da Alemanha, que consiste em uma mesa de madeira com vários pregos e
pequenos buracos na tábua que possibilitam que uma pequena bolinha arremessada por um propulsor caia dentro
deles e, assim, o jogador some pontos. Muito parecido com o pinball (JORNAL DE SANTA CATARIANA,
2013).
83
única motivação para frequentar esses espaços, e a busca pelo divertimento, pelo diferente,
pelo chique, e pela necessidade de se relacionar com outras pessoas passou a ser empregado e
motivador para as incursões.
Assim como os restaurantes, as confeitarias também ofereciam atividades de diversão
para seus clientes. Enquanto restaurantes ofertavam, na sua maioria, bilhares, bagatelas,
música e jardins, as confeitarias proporcionavam exposições de retratos, plantas, animais e
bebidas, campeonatos de tiro ao alvo, xadrez e, também como os restaurantes, jardim, bilhares
e bagatelas.
Nesse processo, é possível concordar com Guerrero (2007), quando enfatiza que a vida
noturna no Rio de Janeiro já se encontrava muito desenvolvida quando a República foi
proclamada, no final de 1889. O autor ainda complementou que “essa atividade noturna, em
público, girava em torno de uma refeição, o teatro e o após teatro” (p. 207), ou seja, em
espaços de alimentação como restaurantes e confeitarias.
Tanto os restaurantes quanto as confeitarias estavam inseridos, se moldando e
adaptando a uma realidade cada vez mais perceptível, que era o desenvolvimento eminente de
uma indústria do entretenimento. A alimentação era parte integrante e essencial de um
ambiente moderno e “divertido”. O Rio de Janeiro, mesmo com suas características
peculiares, a exemplo das grandes cidades e de vasta parte do mundo ocidental, estava
introduzido nesse cenário.
Esses fatores expostos podem nos levar a entender cada vez mais o comportamento
adotado por restaurantes e confeitarias, ainda mais se levarmos em conta que se situavam em
pontos fixos da cidade, diferentemente dos circos e apresentações teatrais que eram itinerantes
e podiam rodar o Brasil em busca de novos públicos. Sendo assim, eles procuravam conservar
e atrair seus clientes através dos serviços prestados, cardápio, produtos comercializados,
espaço físico, ambientes reservados, música, jogos e exposições, que tinham que se manter
atualizados e capazes de cativar a população.
84
Capítulo 2
Ao som das caçarolas e das marmitas chocam-se mutuamente, à luz das chamas que
lambem as chapas férreas de Perry e C. e ao fumegar das altas chaminés dos hotéis,
casas de pasto, cafés, restaurantes, etc. eu procuro o meu herói, o Rio de Janeiro
gastrônomo e beau-vivant que deixei encaminhando-se para... a mesa. (DIÁRIO DO
RIO DE JANEIRO, 23/01/1857, p. 1)
destacados, essas peculiaridades ficam bem marcadas. O Exchange Hotel fazia com que os
ingleses sentissem um “ar de quem depara enfim com um canto da cara pátria sobre estranho
solo” (p. 2). Aos amantes da culinária franca, caberiam os restaurantes dos hotéis des Frères
Provenceaux, Chevet Brésilien, dos Estrangeiros ou La Bourse, representantes da tradicional
culinária francesa, “a mais celebrada no mundo”. O texto ainda apontou os sabores do
Damiani e Angelo, que trazia como especialidade o “macarroni, le salsiocie e outros primores
de arte culinária que dispensam a aplicação do velho rifão italiano appetitto non vuol salsa”.
Da mesma forma, “os nababos felizes, os herdeiros parvenus e os afilhados da fortuna”
tinham, como espaço cativo, o Hotel del´Europe (p. 2). Associavam-se a eles, inúmeros
outros locais, cada qual com suas características, mas com a atividade principal em comum - a
alimentação.
O quase anônimo cronista, que somente assinou ao final do texto com a letra “C”,
fazia uma busca pelo lugar perfeito, embora nem sempre encontrado. Dessa forma, esses
foram apenas alguns exemplos de estabelecimentos ligados à alimentação citados em uma
crônica publicada no Diário do Rio de Janeiro, no início da segunda metade do período
oitocentista. Através das suas análises, foi possível perceber algumas características que
vínhamos trabalhando no decorrer desta investigação e que agora seguiremos explorando
pormenores. Os restaurantes e as confeitarias, com seus pratos, seus doces e seus produtos
comercializados, merecem destaque especial. Não é sem perceber o que se produzia nesses
empreendimentos que poderemos compreender o seu funcionamento, de uma maneira mais
holística, em um contexto do Rio de Janeiro do século XIX.
O Brasil, em toda a sua história, com maior ou menor ênfase, foi local de convergência
de diferentes relações étnicas que destacaram sua influência na formação do país.
Concomitantemente com o desenrolar do período oitocentista, a atuação do elemento
estrangeiro (franceses, ingleses, alemães, austríacos, suíços, italianos, espanhóis, suecos,
dinamarqueses e russos) se tornou marcante na alimentação do país (RIOS FILHO, 2000).
Belluzzo (2010b) destaca que os novos moradores adventícios aplicaram um inédito
ritmo à cidade e foram responsáveis pela inauguração de novos espaços de alimentação, como
mercearias de secos e molhados, padarias, confeitarias, restaurantes e rotisserias. Aliado e
miscigenado36 às diferentes especificidades regionais brasileiras, esse hibridismo cultural
nacional, que se reflete diretamente nas práticas alimentares, pode ser interpretado e
36
Utilizamos os termos “miscigenado” e “miscigenação”, nesta tese, com referência à alimentação que é
mestiça, misturada culturalmente, não num sentido proposital, mas resultante do encontro e da intersecção de
diversas influências, de forma eventual e aleatória, que aconteciam no Rio de Janeiro do século XIX.
86
percebido através da análise do perfil dos restaurantes e confeitarias, locais fundamentais para
compreendermos os simbolismos que envolvem a prática de comer.
Para além das relações comerciais, com o desenvolvimento do século XIX, ingleses e
franceses se instalaram no Rio de Janeiro e em outras cidades brasileiras, dando feição nova e
progressista ao comércio que, até então, era dominado pelos portugueses. Os lusitanos eram
os principais proprietários. Os “armazéns, cafés, bares, padarias, açougues, leiterias,
quitandas, papelarias, armarinhos pertenciam, em sua maioria, a estes imigrantes, que os
administravam juntamente com seus familiares mais próximos” (FREITAS FILHO, 2002, p.
169).
Os ingleses eram atacadistas e tinham armazéns, localizados, principalmente, na Rua
Direita, atual Primeiro de Março. Eles também foram fundamentais para o processo de
modernização da cidade. Freyre (2000, p. 62) pontuou que, no Brasil, “[...] as primeiras
fundições modernas, o primeiro cabo submarino, as primeiras estradas de ferro, os primeiros
telégrafos, os primeiros bondes, as primeiras moendas de engenho moderno de açúcar, a
primeira iluminação a gás, os primeiros barcos a vapor, as primeiras redes de esgotos foram,
quase todas, obras de inglês”. Além desses, a importação de artigos britânicos como: louças,
talheres, móveis, alimentos, calçados, espelho, vidro, ferro, entre outros mais, que, em grande
parte, eram consumidos no Rio, Bahia e em Pernambuco, e que foram importantes para a
nossa formação cultural. As casas de negócios inglesas não eram tão numerosas quanto as
francesas. (FREYRE, 2000)
Os franceses estavam inseridos de forma mais enfática no comércio a varejo, nas ruas
dos Ourives e Ouvidor, com lojas reconhecíveis pela graça dos mostruários e elegância do
arranjo interno. A livre entrada dos franceses nesse país se deu a partir de 1814. Em 1828, já
existiam 1.400 franceses nesta cidade, exercendo funções de padeiros, confeiteiros, licoristas,
relojoeiros, lampistas, tapeceiros, joalheiros, cabelereiros e modistas. Para cá também vieram
imigrantes das províncias hispânicas, americanos do norte, suecos, alemães e italianos, mas
em escala menor e poucos se dedicaram aos negócios (CRULS, 1949). Eles transformaram o
comércio e criaram novas necessidades, hábitos, usos e práticas no cotidiano da cidade. “A
presença desses novos moradores repercutiu no ordenamento urbano, na arquitetura das casas,
na disposição e na decoração dos cômodos internos, na moda e na maneira de comer e de se
vestir” (TOSTES, 2009, p.46). Como não poderia ser diferente, dentre os hábitos estava a
alimentação que, como procuramos demonstrar neste trabalho, tem origens diversas.
Divergimos, portanto, de pesquisadores que não consideram essas variáveis e
restringem as suas análises. É o caso de Chaves e Freixa (2007), no Larousse da Cozinha
87
Brasileira, quando apontam que “as influências da cozinha carioca são basicamente
portuguesas e africanas” (p. 105). Da mesma forma, Belchior e Poyares (1987) limitam a
complexidade do assunto quando afirmam que, naquele período de tempo, a cozinha
portuguesa era predominante na cidade e hegemônica na maior parte dos hotéis. Ainda,
Menezes (2002) declara que “o Rio de Janeiro é o estado brasileiro que resume toda a tradição
culinária portuguesa” (p. 559), e que a “gastronomia é uma química entre o espaço, os
sentidos e os sentimentos. Devemos aos portugueses os segredos desta alquimia” (p. 578).
Não nos resta dúvida que, tanto os aspectos da cultura lusa quanto aqueles precedentes de
vários pontos do continente africano, foram significativos. No entanto, nos negamos a limitar
nossa análise baseados somente nessas informações, visto a considerável quantidade de
indicações contidas na documentação recolhida e, consequentemente, os apontamentos a uma
série de considerações que ainda não foram apuradas pela historiografia recente.
Além da introdução de novos alimentos e receitas, a mesa também passou a ser mais
requintada. A louça de macau substituiu a de flandres e de barro. Passou a ser comum a
utilização de copos e taças de cristal, bem como os talheres quase não usados nem mesmo
pela elite, assim como as toalhas de linho. Todas essas modificações deram origem a um novo
ritual nos hábitos da alimentação. (TOSTES, 2009)
Para Panegassi (2015), “[...] as migrações humanas são das maiores causas das
novidades nas cozinhas ao promoverem o intercâmbio de ingredientes e maneiras de comer”
(p. 25). Conforme Maciel (2015), os “alimentos, temperos e modos de preparo costumam ser
fortes referencias associados à população de um determinado lugar, seja pelos hábitos
cotidianos, ou pelos pratos que acabam se tornando emblemáticos da região, a chamada
cozinha típica” (p. 14).
De toda forma, partindo da documentação recolhida, tentaremos apontar uma série de
aspectos que podem nos trazer importantes constatações acerca dos restaurantes e confeitarias
na cidade e período pesquisados. Este capítulo procura desvendar um pouco das
características desses estabelecimentos no que se refere a sua função principal, a alimentação,
cada um a sua maneira.
Por uma questão de organização, optamos por tratar dos alimentos em duas categorias
distintas: os artigos individualizados, separados entre importados e nacionais, chamados
simplesmente de “produtos”, que são aqueles não preparados nas dependências dos
88
De acordo com os anúncios dos periódicos, nos parece claro que, ao abordarmos a
predileção por determinados tipos e origens de alimentação, temos a França enquanto
preponderante destaque. Não nos causa, de fato, surpresa ao apurar essa consideração, mesmo
se tratando da capital de um país de colonização preferencialmente portuguesa, além de
abrigar uma Corte de origem lusa. O fato é que a cultura francesa era sinônimo de sofisticação
e requinte.
Needell (1993) apontou que “para os brasileiros do século XIX, a Civilização era a
França e a Inglaterra” (p. 49). Apesar da afirmação, o autor reforça mais os aspectos
franceses, anotando que os jornalistas “não consideravam o afrancesamento do Rio apenas
como um conjunto saudável e eficiente de novas vias, mas também como símbolo e
instrumento da reabilitação do país e de um futuro “civilizado” (isto é, europeu)” (p. 68). O
prestígio francês era incontestável nesse período devido à reputação de qualidade e pela
tradição luso-brasileira de patrocínio oficial. Para ele, “[...] os cariocas refaziam Paris, com
seus teatros, bulevares, bois, mulheres e restaurantes [...]” (NEEDELL, 1993, p. 196). Mialhe
(2009) reforça essas questões quando afirma que “[...] a maior parte dos imigrantes franceses
89
que escolheu como destino o Brasil indicou o Rio de Janeiro como porto de desembarque, já
que a capital proporcionava melhores oportunidades para os imigrantes que atuavam no setor
terciário” (p. 56), ou seja, no comércio. O autor ainda sinalizou que “as informações acerca da
cidade, no final do século XIX, divulgada pelos autores franceses, destacavam a forte
influência cultural da França junto às elites brasileiras” (p. 56).
De acordo com Menezes (2009), os fatores que motivaram a vinda dos franceses para a
capital do Império foram: “[...] a presença da vida de Corte, com seus circuitos de
sociabilidade; o progresso material possibilitado pelos lucros do café, que dotou a capital e
outras cidades brasileiras de novos equipamentos urbanos, e o surgimento de uma camada
urbana da população pronta e apta a consumir novidades, prazeres e diversão” (p. 240).
Dentre as novidades de prazer e diversão, podemos destacar os restaurantes e confeitarias do
Segundo Império. Para Muller (2002), “a culinária francesa substituiu os triviais alimentos
servidos nas refeições no Rio de Janeiro” (p. 308).
Inúmeros eram os anúncios que exaltavam a França como sendo a origem e a
inspiração para os alimentos comercializados, tanto em restaurantes como em confeitarias.
Para ratificar ainda mais essa vinculação, vários estabelecimentos investiam na contratação de
profissionais europeus, o que servia como legitimação da qualidade. É o caso da Confeitaria
Francesa, que oferecia, nos seus serviços, a habilidade de um cozinheiro parisiense que, a
domicílio, poderia “preparar um grande jantar ou alguma ceia de baile com todos os usos da
Europa”. Dentre os alimentos importados, a “Francesa” ressaltava, nos seus reclames, grande
sortimento de licores finos, xaropes e frutos conservados e cristalizados da Europa (O
GLOBO, 05/07/1854, p. 2. Grifos nossos).
Produtos francos eram destaque entre as confeitarias fluminenses, que faziam questão
de ressaltar a origem desses gêneros alimentícios. Muitos são os exemplos possíveis, como as
“Geleias e Marmeladas francesas”, vendidas pela Confeitaria Pão de Açúcar (CORREIO
MERCANTIL, 15/10/1854, p. 3), assim como uma máquina de fazer chocolate de qualidade
superior e altos preços, oriunda da França, que no Brasil produzia produtos similares com o
cacau nacional (O GLOBO, 13/11/1854, p. 4); “amêndoas com licor francesas” (CORREIO
MERCANTIL, 17/04/1857, p. 3), “brioches parisienses” (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO,
24/12/1861, p. 4), além de artigos para festas de fim de ano chegados de Paris, como
caixinhas de presente, bombons e amêndoas finas de todas as qualidades, e o afamado
“chocolate Praliné” (CORREIO MERCANTIL, 31/12/1857, p. 3).
Variados restaurantes também tinham a França e especialmente Paris como a origem
dos produtos comercializados ou, pelo menos, a inspiração para os seus serviços, já que
90
37
São referidos como revendedores: “Carvalho Brandão & C., Fernandez & Alvarez, J. Jorge & C., Baptista da
Costa & C., Viuva Garcia & C., Monteiro Junior & C., Café de Londres, Café Brasil, Café Inglês, Hotel
Bragança, Pey & C., Café Central, I. F. Granja, Freitas Guimarães & C., Hotel Leão de Ouro, Hotel Globo, J. B.
Friederizi, Miranda & Freitas, Hotel Paris, Café da América, Café Americano, Hotel d´Orbe, etc.”.
92
38
No Rio de Janeiro, neste período, já existiam muitas cervejarias que também desempenharam um papel
importante nas questões que envolvem alimentação pública e divertimento, mas que não foram contempladas
nesta tese por não se encaixarem dentro dos critérios metodológicos. Para saber mais sobre as cervejarias ver
Melo e Schwan (2016).
95
39
Dentre os locais onde o mate estava disponível para a venda, o informe destacava os seguintes: “José
Fernandes Granja & C., Gonçalves, Costa, Rocha & Menezes, Pedro José Fernandes Guimarães, Vieira
Guimarães & Santos, José Vaz Teixeira do Amaral, Cardoso & Siqueira, Vianna & Gonçalves, Alves Costa & C,
Martins & Carneiro, França & Carvalho, Candido Augusto de Souza, Antonio Alves de Souza, Constantino
96
Este vinho, fabricado com a uva manga, na colônia Isabel40, Rio Grande do Sul, tem
um paladar especial, diferente dos vinhos europeus. É agridoce, pouco alcoólico, e
deve satisfazer os mais escrupulosos defensores do vinho fabricado de pura uva
fresca. A Confeitaria Ouvidor é o estabelecimento encarregado da divulgação deste
artigo, que, se encontrar ao público a precisa aceitação, dará grande impulso a mais
uma indústria de grande futuro – a indústria dos vinhos nacionais de uva. (DIÁRIO
DE NOTÍCIAS, 29/01/1886, p. 1)
Pereira dos Santos, A. R. de Freitas Guimarães, Maximo & Souto, Joaquim Antonio de Carvalho Guimarães,
José Gonçalves Dias, Antonio do Rego Araujo, Ferreira & irmão” (O PAÍS, 08/09/1887, p. 4).
40
Atual município de Bento Gonçalves.
97
2.2 A produção
41
Podemos identificar, nesta relação, pratos e ingredientes típicos da culinária francesa, como galantines (carnes
desossadas, geralmente enroladas como rocamboles e cobertas com uma geleia transparente), presunto, trufas,
peixes, foie-gras (fígado do pato), vols-au-vent (massa folhada). Para saber mais dos ingredientes e pratos
típicos da culinária francesa, ver Robuchon (2001) e Larousse da cozinha do mundo – Mediterrâneo e Europa
central (2005).
99
sistema dos irmãos Provenceaux de Paris. Sublinhava que, às sextas-feiras e sábados, oferecia
“aura en plus brandade de morue bouillabaisse et ayoli” (CORREIO MERCANTIL,
22/05/1856, p. 2), pratos típicos da culinária francesa.
A aproximação com a França não era uma característica única dos restaurantes. As
confeitarias também mostravam grande predileção pelas receitas francas. É o caso do
estabelecimento que trazia no próprio nome essa característica: a Confeitaria Francesa. Esta
anunciou, em 16 de abril de 1853, no jornal O Globo (p. 4), que diariamente oferecia pão de
Paris, totalmente novo na cidade, pão de Provença e pão de Cabeça. A missiva destacava que
tudo era elaborado por um padeiro francês recentemente chegado.
Conforme Cascudo (2004), o pão demorou a se popularizar no Brasil, “[...] sua
popularidade não era positiva mesmo nas primeiras décadas do século XX para as populações
pobres” (p. 197). O pão branco, oriundo da farinha de trigo, era consumido pelas elites
brasileiras ao invés do pão de mandioca e milho (MULLER, 2002). O hábito de consumir pão
de trigo, cerveja e chá foi introduzido pelos ingleses no Brasil (FREYRE, 2000).
Outro anúncio, desta vez mais completo, foi publicado pelo mesmo comércio em 29
de março de 1854, exaltando um novo “hábil cozinheiro-pasteleiro” chegado recentemente da
França, que, além de preparar as já tradicionais receitas de petiscos de carnes, de aves e
variado sortimento de pastéis, também era recomendado aos “amantes do bom paladar”, pelas
preparações pouco ou nada conhecidas na cidade:
O confeiteiro francês vendo que sua freguesia vai-se aumentando nada poupou para
obter de seus correspondentes da Europa produtos novos e de bom gosto: ele acaba
100
encontrar o cacau no Brasil fazia com que se fabricasse um ótimo chocolate com preços bem
mais em conta que na Europa. (O GLOBO, 13/11/1854, p. 4)
É interessante perceber a insistência que muitos estabelecimentos tinham em
mencionar uma vinculação à cozinha francesa, mesmo que esta não fosse a principal linha de
atuação do restaurante ou confeitaria. Como já apontamos anteriormente, essa característica
poderia ser um indicador da proximidade desses espaços com o mundo civilizado e evoluído e
a sua principal referência, a França.
As opções do menu, totalmente escrito em francês, mais uma vez procuravam manter o
vínculo com a culinária francesa, mesmo que alguns pratos tivessem outras referências
culturais, como o “Ravioli à la Genoise”, claramente um prato típico italiano, e a “Salade
Russe”, muito famosa na cozinha Russa, mesmo sendo lançada por um celebrado chef francês
no renomado restaurante Ermitage de Moscou, em 1860 (FOLHA DE SÃO PAULO, 2005, p.
17). Ainda, o reclame ressaltou que “todos os pratos são cuidadosamente preparados por um
dos mais acreditados chefs de cuisine desta capital”, mais uma vez a referência francesa que
buscava atestar a qualidade e refinamento ao empreendimento (O PAÍS, 10/05/1885, p. 4).
Como pudemos notar, a aproximação com a França era frequente, mas não era a única.
Os restaurantes e confeitarias da capital recorriam às mais diversas especialidades e
orientações para atrair o seu público. Outra referência culinária, reconhecida mundialmente,
também tinha seus representantes e era bem expressiva: a italiana. As pastas eram o principal
alvo dos anúncios, destacadamente raviólis (também chamado de rabioli) e talharins. Já em
1851, o Hotel e Restaurant Nicolao oferecia o “famoso rabioli” (CORREIO MERCANTIL,
24/05/1851, p. 4). Até mesmo em francês, o prato era divulgado pelo mesmo estabelecimento:
“Nicolas prévient ses habitués que demain dimanche on trouvera chez lui la fameuse rabiole”
(CORREIO MERCANTIL, 17/06/1851, p. 4).
Esses pratos, aparentemente, tinham uma aceitação positiva, visto que eram
constantemente mencionados em anúncios de diferentes empreendimentos comerciais, como
o Grande Café Restaurante e Bilhares, que oferecia “sopa de rabioli e talharim à italiana”
(CORREIO MERCANTIL, 02/09/1860, p. 4). O Hotel Garibaldi destacava que o seu
restaurante servia, como especialidade, “sopa de tagliaris e rabiolis e variadas iguarias”
(CORREIO MERCANTIL, 14/08/1861, p. 4). Ainda, o Café du Jardin Public destacava,
juntamente com pratos reconhecidamente franceses, as especialidades italianas: “on trouvera
tous les vendredis et dimanches – ayolis, bouillabaisse, ravióli et taillarini” (GAZETA DE
NOTÍCIAS, 02/06/1876, p. 3). Através destes exemplos, é possível verificar que as massas
italianas transitavam em diversificados modelos de restaurantes do Império. Desde
restaurantes de hotéis, passando por estabelecimentos de alimentação e diversão com bilhares
e cafés, dividindo espaço com os pratos franceses, a culinária italiana tinha uma considerável
aceitação.
Identificamos até mesmo uma confeitaria comercializando massas italianas. A
Confeitaria ao Quinze de Novembro fornecia massa fresca de farinha de trigo à moda de
Genova, entre as quais: ravióli, tagliolini, lasanha e gnocchi (GAZETA DE NOTÍCIAS,
27/11/1890, p. 3).
103
42
A Canja que era frequentemente utilizada na alimentação de enfermos passou a ser um prato bem presente nos
restaurantes do Segundo Império (RENAULT, 1982). De acordo com Cascudo (2004) esta no Brasil se deve a
uma influência europeia. O autor destacou que “[...] essa notoriedade é herança da Europa conquistada pelas
canjas douradas, inarredáveis nas ceias aristocráticas, literárias e políticas, por todo o século XIX” (p. 573).
104
tempo em que comercializava pratos identificados com Portugal como “Buchas do Alto
Minho”, “Carapuças de Braga” ou “Granadas do Alentejo”43, também incluía nos seus
comerciais, preparados de alguma maneira um tanto exóticos e miscigenados, pelo menos no
nome, como o “russinho à baiana” (O GLOBO, 21/11/1881, p. 4).
Quando perscrutamos acerca dos alimentos produzidos nas confeitarias da cidade
fluminense, notamos uma ligação mais efetiva com Portugal do que pudemos verificar com os
restaurantes. Essa afirmação se constata, principalmente, a partir da grande quantidade de
anúncios que ofereciam empadas e pastéis, artigos de grande popularidade no país europeu.
Pelo que podemos perceber, através da bibliografia, esses preparados já faziam parte do
cardápio português, e acreditamos que foram trazidos por eles para o Brasil. Conforme
Menezes (2002, p. 560), “nos escassos registros culinários da época do descobrimento,
constatamos que, há 500 anos, o português rico já era bom de garfo, e para os padrões da
época, comia bem. De seu cardápio diário constavam ovos mexidos, pastéis de forno
recheados de carne, frango, ou pombo; empadões de pombo ou de codornas [...]”. Renault
(1978) também sinalizou que “nossa imaginação nos permite ver sobre a mesa os pudins
trabalhados e as empadas saborosas resultado de um artesanato originário de Portugal e
aperfeiçoado pela preta escrava” (p. 88). Em relação aos pudins, achamos poucas ocorrências
nas confeitarias e restaurantes, por isso não o contemplamos nesta tese, optando pelos
produtos com maior incidência nos dois espaços.
A variedade desses era grande. No caso das empadas, as mais comuns eram de
galinha, de palmito e camarão, as quais possuíam grande divulgação em todo o período
pesquisado (CORREIO MERCANTIL, 02/11/1850, p. 2). Já os pastéis mais tradicionais eram
os de ovos e nata, de carne (CORREIO MERCANTIL, 24/12/1850, p. 4), além dos
conhecidos pastéis de “Santa Clara” (CORREIO MERCANTIL, 19/05/1861, p. 3). Os
anúncios dessas iguarias eram os mais diversos, presentes em praticamente todas as
confeitarias. É possível identificar que não existia uma referência determinante para o que era
servido nas confeitarias. Até mesmo a Confeitaria e Pastelaria Francesa destacava que “fez
vir um oficial das primeiras casas de Paris tanto para pastelaria como para confeitaria”
(CORREIO MERCANTIL, 14/01/1858, p. 3), evidenciando que esses não estavam ligados a
uma origem étnica, mas, sim, se caracterizaram justamente por não ter uma identificação ou
por ser um emaranhado delas.
43
Para saber mais dos pratos típicos da culinária portuguesa ver Larousse da cozinha do mundo – Mediterrâneo e
Europa central (2005).
105
De fato, o que se pode perceber, principalmente na década final do Império, é que uma
culinária praticada na capital da Corte começava a criar laços com as questões nacionais e se
identificar com o Brasil. Num primeiro momento, não podemos declarar que se trata de uma
afirmação nacionalista, mas, aparentemente, que nos remete à criação de hábitos que ficaram
reconhecidos enquanto questões regionais brasileiras, fruto de uma formação extremamente
fragmentada, como é a do Brasil e, em especial, sua capital na época.
Nas fontes pesquisadas, notamos que uma primeira referência a um prato “à moda
brasileira” se deu no ano de 1880, quando o Restaurant Comercial ofereceu “leitão recheado à
brasileira”. Essa constatação pode nos ajudar a afirmar que características que estavam
relacionados aos hábitos culinários no Brasil identificavam, neste período, uma maneira
peculiar de cozinhar, praticada ao menos no Rio de Janeiro e que foi rotulada como brasileira
(GAZETA DE NOTÍCIAS, 05/04/1880, p. 3). Infelizmente, não temos mais detalhes sobre a
preparação desse prato para que pudéssemos analisar mais minuciosamente a afirmação.
É marcante que, paralelamente a uma ascendente identificação nacional da culinária
oferecida na cidade, aspectos regionais brasileiros também começaram a ser divulgados a
partir da década de 1880. Um dos casos é do Restaurante Baiano, o qual anunciou na Gazeta
da Tarde de 09, de novembro de 1881, que “se acha funcionando com muita regularidade
desde o dia 05 do corrente” (p. 4). No anúncio, não percebemos nenhum prato específico, mas
é provável que o nome estivesse fazendo menção ao tipo de culinária servida no
estabelecimento. Esse fato pode ser comprovado em 30 de novembro de 1881 (p. 4), no
mesmo jornal que divulgou “Mocotó, nos domingos; Vatapá, nas terças e sábados; Feijoada,
nas quintas; e Caruru, às segundas e sextas-feiras”. O Mocotó, o Vatapá e o Caruru44 são
considerados pratos típicos da culinária baiana.
Todavia, existiam locais que faziam questão de mencionar as características regionais
em suas cozinhas. O Restaurante Estellita recorrentemente apresentava os seus pratos
tradicionais, fator diferencial, segundo eles: “pela primeira vez a boa e suculenta Moqueca.
Assim, cheguem, baianinhos, que as boas petisqueiras à moda de lá só aqui no Restaurante
Estellita que se encontram” (GAZETA DE NOTÍCIAS, 03/09/1885, p. 4). Também o
“Vatapá” era destacado em outro anúncio, além de enfatizar que na sua cozinha havia “o que
há de bom, bem feito e picante” e valorizar a qualidade dos seus produtos, anunciando “todos
os dias uma iguaria à baiana de X.P.T.O., isto é, de comer, chorar e pedir mais” (DIÁRIO DE
44
O Caruru assim como a Moqueca são heranças indígenas no Brasil, mas que foram adaptados por outras mãos
dando origem aos pratos com estes nomes que conhecemos atualmente. O uso do dendê nestes de deve as
cozinheiras africanas (CASCUDO, 2004).
106
45
O bolo no Brasil surgiu por influência portuguesa (CASCUDO, 2004).
107
sua origem, o que nos interessa aqui é entender como esse prato se inseria nos restaurantes do
período investigado.
Câmara Cascudo (2004) destacou, em seu livro História da Alimentação no Brasil,
que a feijoada é o prato mais gloriosamente nacional do país e que esta é “[...] um modelo
aculturativo do cozido português com o feijão e carne seca iniciais” (p. 242). O autor ainda
apontou que o porco e seu consumo no Brasil foram inseridos pelos portugueses.
Para Freixa e Chaves (2009), é comum ler e ouvir falar que a feijoada era comida dos
escravos e que teve sua origem na senzala. No entanto, as autoras salientam que a comida de
escravos era pobre em nutrientes e que os europeus apreciavam e valorizavam partes do porco
como: orelha, rabo, língua, pé e miúdos, ou seja, itens presentes em uma feijoada. Elas
afirmaram que “quando e onde se fez pela primeira vez a feijoada completa é fato
desconhecido. Mas recortes de jornais da época mostram que o prato apareceu entre o final do
século XIX e começo do século XX no Rio de Janeiro” (p. 218).
Refutamos as indicações das autoras, pois temos evidencias da feijoada presente em
uma barraca na Festa de Nossa Senhora do Socorro, na Igreja de São Cristóvão, destacado
pelo periódico: “uma barraca, na qual, se achará bons petiscos, entre eles boa feijoada [...]”
(DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 07/09/1839, p. 4). Neste mesmo sentido, também havia
uma casa de pasto na década de 1840 que já servia o prato.
É interessante verificar que, já na primeira metade do século, uma casa de pastos, que
anunciava a sua abertura, colocava a feijoada como destaque entre outros pratos (DIÁRIO DO
RIO DE JANEIRO, 30/07/1842, p. 4). Esse pode ser um indício de um conhecimento e gosto
pela iguaria, já que estava fazendo parte do menu de um local de alimentação que estava
inaugurando e procurava divulgar seus principais produtos, objetivando atrair o público. Além
deles, identificamos um anúncio no Folhinha das Flores (1858, p. 25), que apontou “[...] uma
bela feijoada com lombos, linguiças e cabeça de porco [...]”. O Jornal do Comércio, em 1866,
destacou “Para uma boa feijoada, orelhas de porco [...]” (14/08/1866, p. 3), o que reforça
ainda mais que a feijoada já era conhecida na Corte bem antes do que apontaram as autoras.
Em um banquete preparado para a futura eleição do Sr. Anselmo, o mesmo ordenou que “em
lugar de Haricots verts sautes, façamos a costumada panelada de feijão, conhecida pelo nome
popular de feijoada com cabeça de porco, mocotó e entrecosto salpresado. Isto é nacional e
democrático: deixemos de francezias” (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 26/03/1872, p. 1).
Já inserido no nosso recorte e objeto, o primeiro anúncio de uma feijoada a que
tivemos acesso em um restaurante se deu no ano de 1862. O Restaurant Estrela do Rio
anunciava “uma bela feijoada todas as quintas-feiras, para que tem um bom cozinheiro
108
46
O angu era um mingau mais consistente feito do milho (CASCUDO, 2004).
109
pudins e pratos sob encomenda, como peixes assados e a feijoada (DIÁRIO DO RIO DE
JANEIRO, 15/06/1860, p. 4). Em 1865, a Confeitaria Braço de Ouro também ofertava
feijoada em conserva, entre outros pratos, especialmente àqueles que estavam de partida para
a Europa e que desejassem levar alguma lembrança do Brasil (JORNAL DO COMÉRCIO,
07/06/1865, p. 3).
Não nos cabe levantar essa discussão aqui neste momento, mas é interessante constatar
que a feijoada estava se tornando um prato referência da culinária brasileira 47. Assim como no
exemplo anterior, que indicava que aqueles interessados em uma lembrança do país poderiam
adquirir a feijoada, pudemos inferir em outra oportunidade que o prato estava, realmente,
ligado a uma representação da cozinha nacional. O periódico A Pátria de 17, de novembro de
1877, publicou um artigo em que discutia aspectos da Exposição Universal que se realizaria
em Paris no ano de 1878. Um dos pontos debatidos eram os cafés e restaurantes, um tanto
desorganizados de acordo com o texto, que poderiam ser mais úteis ao objetivo da exposição.
De acordo com o escrito, com a devida ordem, se faria estudos sobre as cozinhas de todas as
nações: “provar o cucussa dos árabes, o macarroni italiano, a olla-podrida espanhola, os
ninhos de andorinha da China, o rostbeef inglês e a feijoada brasileira, todas as suculentas
produções da cozinha francesa, etc” (A PÁTRIA, 17/11/1877, p. 3, grifos nossos).
Também identificamos, em algumas fontes, referência à feijoada como um prato
nacional consagrado. Conforme a Gazeta da Tarde (21/10/1880, p. 3), “O prato nacional, a
feijoada, é um manjar feito diluindo farinha de mandioca no caldo negro que se obtém,
cozinhando em muita água e com grande fogo o feijão preto com toucinho e um pedaço de
carne seca (carne secada ao sol)”. O Diário de Notícias, de 25 de dezembro de 1889 (p. 2),
trouxe uma apreciação sobre D. Pedro II. Tratava-se de um artigo publicado no jornal
português O Comércio do Porto sobre o ex-imperante brasileiro. Ele contemplava os
costumes e gostos do Imperador em família e em viagens. Em uma dessas viagens, o mestre
cozinheiro da embarcação no qual D. Pedro II se encontrava fez uma feijoada, “o prato
nacional brasileiro”. De acordo com o artigo, o Imperador comeu da feijoada com o mesmo
prazer que os russos encontravam no seu prato nacional, o chichi.
Outros pratos muito populares nos restaurantes do período oitocentista foram aqueles à
base de tartaruga, principalmente sopas, “fillets” e fricassés. É possível que a inspiração para
estes preparos fosse europeia, já que alimentos à base desse animal já existiam e eram comuns
no Velho Continente.
47
Para saber mais dos pratos típicos e receitas da culinária brasileira ver Chaves e Freixa (2007).
110
No entanto, não podemos descartar o gosto pelos pratos com tartaruga tradicionais do
norte brasileiro, que poderiam influenciar o que se fazia na Corte. De acordo com a Coleção
Cozinha Regional Brasileira (v. 19, 2009), na região norte, a sopa de tartaruga é considerada
um prato típico exótico, que tem se tornado cada vez mais raro devido ao seu caráter
predatório: “a tartaruga, hoje, é criada em cativeiro, e seu consumo voltou aos hábitos
alimentares amazônicos” (p. 22). Todavia, não se pode desprezar que existisse uma terceira
via, em que a culinária europeia teria influenciado fortemente os hábitos locais, mas não sem
adquirir traços próprios que seriam características da capital.
A exemplo do que acontecia com a feijoada, os pratos à base de tartaruga também
circulavam por distintos restaurantes e, pela regularidade de anúncios visualizados, tinham
uma aceitação bastante positiva. As iniciais manifestações nos trazem a iguaria servida por
estabelecimentos aparentemente refinados, que tinham um preço acima da média48, e que
faziam questão de colocar o preparado como destaque nos seus comerciais. O primeiro
anúncio verificado foi feito no ano de 1857 e destacava vários pratos e técnicas com a
utilização da tartaruga como ingrediente principal, como sopa, bife e fricandó, no restaurante
do Hotel des Fréres Provençaux (JORNAL DO COMÉRCIO, 08/12/1857, p. 4). No ano de
1877, a Gazeta de Notícias valorizava a sopa de tartaruga no Restaurant Rocher de Cancale,
ao valor de dois mil réis (GAZETA DE NOTÍCIAS, 21/05/1877, p. 2). No mesmo ano, o
Restaurant de Grand Hotel Des Princes servia sopa e fillet de tartaruga ao preço de dois mil e
quinhentos réis (GAZETA DE NOTÍCIAS, 21/08/1877, p. 1). Somente a título de uma rápida
comparação, o Restaurant Democrata anunciava sopa de tartaruga ao preço de quatrocentos
réis, no almoço ou jantar (DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 22/11/1887, p. 1). Também existiam
alternativas intermediárias, como o Restaurant Francês, que divulgava sopa e filé de tartaruga
ao preço de seiscentos réis (GAZETA DE NOTÍCIAS, 11/12/1886, p. 3). De fato, preços bem
mais razoáveis que os anteriormente mencionados, mas com o mesmo prato anunciado, o que
nos induz a constatar que a iguaria era apreciada por pessoas de diferentes poderes
aquisitivos.
É interessante mencionar que o ingrediente principal para os pratos, ou seja, a própria
tartaruga, se obtinha através de extração local, como comprova o anúncio publicado em
setembro de 1886: “tendo aparecido há dias um grande número de tartarugas na nossa baia, o
proprietário do Restaurante do Melo convida os amadores a virem segunda-feira, 6 de
setembro, saborear uma excelente sopa e um bom fricandó de tartaruga” (O PROGRAMA
48
Para uma melhor compreensão dos preços na Corte, ver no primeiro capítulo da tese a página 59.
111
AVISADOR, 04/09/1886, p. 1). No caso dos pratos à base de tartaruga, não encontramos
nenhuma referência que ligasse sua produção às confeitarias.
O Mequetrefe, de 10 de janeiro de 1878 (p. 1), destacou o Rio de Janeiro como a
“cidade da feijoada e da sopa de tartaruga”, pratos bem disseminados durante o período
pesquisado, como concordamos, visto o grande destaque desses na imprensa local.
Com efeito, mesmo com prestígio diferenciado no que se refere à importância no
metier dos estabelecimentos, estava o sorvete, visto como um produto comum aos
restaurantes e confeitarias da época.
Na Corte, a fabricação do sorvete estava ligada diretamente à importação de gelo do
norte do continente americano, que era comercializado, geralmente, nas confeitarias da
cidade. Uma pequena crônica publicada no Diário do Rio de Janeiro, em 05 de novembro de
1853, bem demonstrou a importância da importação desse gênero, essencial no verão
fluminense: “A estação torna-se calmosa, que do mês de novembro em diante o Rio de
Janeiro sempre assim foi, e o gelo nos falta desta vez. Se não aparecer nenhum navio dos
Estados Unidos com este gênero de regalo e de necessidade, mal irão no presente ano os
bailes, soirées e reuniões” (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 05/11/1853, p. 2). A publicação
ainda declarou que o gelo artificial tinha um custo muito alto, não acessível a qualquer um.
Um sorvete com gelo fabricado seria praticamente inviável, ao passo que a solução seria
enfrentar o calor, dizia o artigo.
No entanto, nos anos de 1863 e 1864, tivemos acesso a comunicados de venda de
sorvete feitos em uma máquina que também fabricava o gelo 49. “Máquinas para fazer gelo e
sorvete em poucos minutos”, diziam os anúncios. A engenhoca estava em exposição nas
confeitarias de João Gonçalves Guimarães, nas ruas do Ouvidor e Direita e, todos os dias, ao
meio dia em ponto, elas fabricavam sorvete em frente ao público (DIÁRIO DO RIO DE
JANEIRO, 30/12/1863, p. 3; CORREIO MERCANTIL, 01/01/1864, p. 3).
Causa estranheza a existência de máquinas de gelo, a priori, elétricas, na década de
1860 no Rio de Janeiro, salvo outra maneira de gerar esse produto sem a sua utilização. A
própria historiografia apresenta dados que divergem dessas informações. Gastão Cruls (1952)
sublinha que os primeiros ensaios da eletricidade apontam para o período final do Império,
sendo que apenas em 1891, em algumas ruas centrais como Ouvidor, Quitanda e Ourives, a
49
Henrique Leiden, proprietário de uma das fábricas de cerveja da cidade, foi um dos pioneiros da Corte a
fabricar o “gelo artificial”. Com isso, pôde oferecer sorvete durante todo ano na sua cervejaria. Pelo decreto de
14 de outubro de 1862, Leiden, depois de grande debate público, recebeu o privilégio de explorar o mercado de
gelo. Nesse ano, fizera várias demonstrações na Escola Central, contando com a presença de deputados,
senadores e negociantes (CORREIO MERCANTIL, 15/08/1862, p. 1).
112
iluminação à gás já havia sido substituída pela elétrica. Da mesma forma, o autor destaca que,
em 1892, à Rua Dois de Dezembro, uma usina de eletricidade foi montada por iniciativa da C.
F. Carril Jardim Botânico e possibilitou que o primeiro bonde elétrico realizasse o seu
itinerário do Flamengo ao Centro.
Divergindo ainda dessa informação, Renault (1982, p. 213) apontou que, em 1887,
houve a primeira experiência para a introdução da energia elétrica na cidade, empregada em
transporte, onde um bonde movido por “tração elétrica sistema Julien” descarrilhou no Largo
da Carioca, tendo o Conde d´Eu e alguns ministros como ilustres passageiros. Até mesmo o
site do Centro da Memória da Eletricidade no Brasil depõe que foi somente em 1879 que
houve, pela primeira vez, a geração de energia elétrica por meios mecânicos no país.
Contraditoriamente a essas informações, os periódicos fluminenses demonstraram
indícios de que a existência de eletricidade na cidade já era uma possibilidade. Para além do
funcionamento de máquinas de fazer gelo na década de 1860, que são fortes sinais da possível
geração de energia elétrica, percebemos vestígios que nos levam a acreditar ainda mais
vigorosamente nessa hipótese. Em 07 de setembro de 1876, o jornal O Globo publicou a
programação para o aniversário da independência do Brasil, que seria promovida no Hotel
Des Princes. Ao final, o anúncio de um dos principais atrativos: “Entre a luz elétrica
aparecerá a sombra do príncipe do Grão Pará” (O GLOBO, 07/09/1876, p. 4). Outro indício
ainda mais evidente foi feito no ano de 1878, pelo Ao Chalet Restaurante Campestre que se
localizava em frente ao portão do Jardim Botânico. O estabelecimento indicava que, após as
corridas realizadas no prado nos festejos de São João, lá haveria música, luz elétrica, fogo de
bengala e grande concerto ao piano (O CRUZEIRO, 23/07/1878, p. 4). Em 24 de fevereiro de
1888 (p. 1), O País sinalizou que a Confeitaria da Liberdade inaugurou, no dia anterior, nova
iluminação pela luz elétrica. Podemos inferir assim, que cada ambiente, ao longo do tempo,
foi fazendo o uso da luz elétrica de acordo com suas possibilidades e necessidade.
Certamente, não podemos afirmar peremptoriamente que gelo artificial produzido com
eletricidade já existia na cidade, mas temos fortes indícios que nos levam a acreditar que isso
seria possível, provavelmente por geradores particulares.
113
50
Em uma livre tradução: panqueca, bolo de manteiga e bolo de açúcar. As “kuchen” são bolos tradicionais
alemães que se adaptaram ao Brasil, tanto com relação aos ingredientes quanto a própria nomenclatura.
Principalmente na região sul do país, são muito tradicionais e chamados de “cuca”, um aportuguesamento de
115
“kuchen” e se constituem, geralmente, de uma base de massa doce com coberturas de diversos tipos que podem
variar desde o tradicional “streusel”, que é uma espécie de mistura de manteiga, açúcar e farinha de trigo até
frutas e doces, dependendo da criatividade da confeiteira.
51
Uma iluminação muito clara como o dia (a giorno).
52
Fogos de artifício que ardem sem ruído, produzindo luz de várias cores.
116
sua casa” (GAZETA DA TARDE, 25/08/1888, p. 1). Havia anúncios que, além do nome da
confeitaria, ainda publicavam o menu completo, o que pode ser uma tentativa de ratificar o
refinamento e a qualidade dos serviços prestados53.
Outro atestado dos reconhecidos e refinados serviços prestados pelas confeitarias
fluminenses foram os comentários acerca de um dos mais conhecidos acontecimentos do fim
do período Imperial, o Baile da Ilha Fiscal54, famoso por representar a última grande festa da
monarquia. No imponente evento, o fornecimento de gêneros alimentícios ficou a cargo da
Confeitaria Paschoal, que foi destacada inúmeras vezes pela imprensa da época, como pela
Gazeta de Notícias, de 11 de novembro de 1889, declarando que “as duas mesas em ferradura
ostentavam o riquíssimo serviço da Casa Paschoal”. Deveras, essa ostentação se comprovava
quando algumas descrições das mesas se apresentavam: “seguiam-se alternadamente peças
inteiras de caça e de peixe, entre as quais ficavam enormes castelos armados em açúcar, de
mais de um metro de altura, em cujos terrões as bandeiras chilena e brasileira guardavam
delicadíssimos bombons” (GAZETA DE NOTÍCIAS, 11/11/1889, p. 1).
Os periódicos convergiam nos elogios. O Novidades, ao mesmo tempo em que
declarava que o Baile da Ilha Fiscal “foi uma suntuosidade”, ou, como se poderia afirmar sem
exagero, que jamais havia se realizado outra festa como aquela no Rio de Janeiro, também
exaltando a qualidade do buffet, que chamava de “magnífico” (NOVIDADES, 11/11/1889, p.
2). Também, o Cidade do Rio sublinhou enfaticamente: “seria uma falta de consideração ao
trabalho inteligente e ativo se na nossa folha não déssemos os parabéns a casa Paschoal pelo
festim verdadeiramente pantagruélico (pela suas dimensões), realizado na noite de 9”
(CIDADE DO RIO, 13/11/1889, p. 2). Ratificava, ainda, a Gazeta de Notícias, exaltando a já
consagrada fama da confeitaria: “pela qualidade do serviço, via-se logo que o fornecedor foi a
casa Paschoal” (GAZETA DE NOTÍCIAS, 07/12/1889, p. 1).
De fato, restaurantes e confeitarias tinham uma ampla área de atuação que, muitas
vezes, divergia com sua especialidade e função. Em outras oportunidades, essas mesmas casas
53
Um exemplo pode ser constato na ocasião da publicação de comentários sobre as festividades de aniversário
da Sr. Adelina Queiroz, que comemorou, em sua residência em Vila Isabel. O periódico registrou que “o serviço
de buffet foi magnífico, de forma a fazer honra à conhecida Confeitaria Cailtau como poderá imaginar-se pelo
seguinte menu: Buvette: Grenadine, Orgeat, Punch au Rhum, Bières. Vins: Porto, Xerès, Madères; Liqueurs:
Eaus des Seltz, Sandwichs variés. Service au salon: premier, Glaces moulées assorties; gaufres à la vanille;
deuxième, Thé vert, noir et lait, plateau monté, gateaux des Savoie, pams grilés assortis; troisième: punch au
champagne et à la chinoise, merengues à la vanille. Quatrième: souper au buffet: consommé à l´anglaise, poison
flu à la bordelaise, fillet de boeuf sauce chambord, chaux-froix de perdreaux, galantine de macuco à l´industrie,
jambom d´York decoré, salade à la parisienne, d´indonneaux truffé et a la brésilienne, pouding à la diplomate,
macedoise de fruits à la gelée, dessert assorti: quintiéeme, chocolate à la vanille et pain d´araruta. Vins: Xerés,
Madére, Chateau Yquem, Bordeuaux, Bourgagne, Champagne, Porto vieux, Liqueurs, Cognac, etc.” (DIÁRIO
DO COMÉRCIO, 22/09/1890, p. 2)
54
Mais informações sobre o “Baile da Ilha Fiscal”, ver Malerba, Heynemann e Rainho (2014).
118
Capítulo 3
Acontece que “ser civilizado”, com “bons modos”, não se resumia somente a uma
maneira de se portar à mesa. O refinamento necessário ao cidadão, o hábito evoluído, também
consistia no ato de se alimentar baseado nos preceitos da época. Era indispensável o
conhecimento sobre as boas maneiras, mas, da mesma forma, se deveriam consumir os
120
Carvalho (2015) destaca que o pensamento higienista chegou ao Brasil, em 1808, com a
Corte portuguesa e se perpetuou durante todo o século, sendo, muitas vezes, vinculado a atos
de civilidade necessários a uma nação em desenvolvimento. A medicina, com o seu discurso,
legitimava práticas que justificavam mudanças na ordem pública, onde a saúde tinha causas
sociais. Combater essas enfermidades era uma necessidade.
Esse pensamento, que na Europa foi essencial para uma remodelação urbana, também
influenciou o Rio. Contudo, foi na década de 1860 que esses critérios foram determinantes
para as transformações e ordenações da capital. Esse decênio inaugurou grandes
reorganizações e um novo período na história do saneamento da cidade, como aponta
Machado (2011). O discurso relacionado à higiene teve grande influência nas ações para a
melhoria das condições sanitárias desta urbe. Carvalho coloca que:
Mais do que isso, o discurso formulado e fortalecido no século XIX, que defende a
higiene e rejeição das heranças coloniais como solução para o alcance da civilização
avançada, resultando na "evolução da sociedade”, foi recuperado e apropriado no
início do século XX para legitimar suas propostas. A abertura de largas e extensas
avenidas nas áreas mais degradadas e mais vulneráveis da cidade viabilizou a
"limpeza" não só da urbe carioca, mas também da população; excluiu e afastou a
população pobre trabalhadora da valorizada e remodelada área central. (2015, p. 13)
atuais, o lixo da cidade passou a ser despejado nos subúrbios e periferias da cidade,
transferindo os problemas do despejo do lixo da área central para as regiões populares
periféricas, desaparecendo com o problema das vistas da burguesia” (MACHADO, 2011, p.
7).
Os dois últimos quarteis do período oitocentista remodelou o Rio de Janeiro e
procurou enquadrar a capital mais importante do Brasil em um parâmetro condizente com a
sua relevância. O fornecimento de água, que era realizado por um sistema de distribuição em
chafarizes e bicas, em 1840, começou a ser ofertado por um serviço de abastecimento das ruas
no perímetro urbano, por meio de carroças com pipas, que persistiu até depois das reformas
feitas por Pereira Passos. Em relação à canalização dos esgotos, as primeiras experiências
para a sua efetivação foram no ano de 1855, sendo que o ano de 1864 foi marcado pelo
término do sistema de encanamento de dejetos do primeiro distrito. (NEEDELL, 1993; RIOS
FILHO, 2000)
Contudo, de acordo com Abreu (2013), a partir do Segundo Reinado, a capital do
Império passou por diversos “surtos” de industrialização que acarretou, não apenas na
multiplicação de fábricas, mas também em um crescimento populacional acelerado devido ao
grande afluxo de imigrantes estrangeiros que, com o fim da escravidão, passaram a ser mão de
obra empregada na atividade cafeeira e, posteriormente, na industrial. Esse aumento
populacional proporcionou graves problemas, “pois levou ao adensamento ainda maior dos
cortiços e ao recrudescimento das epidemias de febre amarela que assolavam a cidade
periodicamente” (ABREU, 2013, p. 57).
Temerosos com as questões de higiene e salubridade, o Estado promulgou, em 9 de
dezembro de 1882, um decreto que isentava impostos e concedia benefícios às industrias que
construíssem “casas populares higiênicas” para seus operários. Essas deveriam ser elevadas
do solo, com boa circulação de ar e dispor de fossas. Em 8 de fevereiro de 1888, o Decreto do
Legislativo concedeu isenções de impostos sobre importação de materiais de construção e a
concessão de terrenos e edifícios às instituições que construíssem casas com preços
acessíveis. No final do Império, em 1889, foi criada a Companhia de Saneamento do Rio de
Janeiro, cuja função era averiguar as concessões do decreto anterior. Essas iniciativas foram
importantes, mas não suficientes. A população mais pobre ainda se encontrava concentrada
em cortiços na região central, situação que começaria a ser modificada logo no início do novo
século, com o deslocamento dessa para outras áreas. (ABREU, 2013)
Segundo Renault (1978), “a vida social do fluminense contrastava com as condições
sanitárias e higiênicas da cidade” (p. 82). Apesar de iniciativas adotadas desde a chegada da
123
compreensões acerca do uso do espaço urbano. Além disso, houve diversos Editais que
procuravam sanar dúvidas e lacunas ou ajustar certos itens do regulamento. Contudo,
restringiremos nossa análise às principais regras, que tem como escopo os alimentos e os
locais destinados ao comércio e consumo deles.
Conforme a avaliação do período proposto, inferimos que questões inerentes à
salubridade da Corte eram assuntos reincidentes nos seus Códigos de Posturas.
Evidentemente, aspectos e interpretações eram alterados, incluídos ou retirados de acordo
com o desenvolvimento do século, e as necessidades e demandas da cidade. No entanto, é
possível constatar que a preocupação em relação à sanidade existia em todo o período
investigado. No ano de 1854, já se podia perceber essas discussões latentes sem, no entanto,
existir um olhar mais atento e detalhado sobre os estabelecimentos de alimentação. Além de
questões básicas de salubridade pública, como o enterro de pessoas e animais (p. 3-6), havia a
preocupação com os alimentos produzidos e comercializados e com sua condição, já que não
era permitida a venda de artigos “danificados” (p. 7) - leia-se em estado de decomposição
avançado. Mesmo sendo um caso um tanto isolado, foi possível verificar o poder público
legislando acerca da produção de alimentos.
Da mesma forma, notamos uma legislação um tanto elaborada, tratando do asseio nos
currais e dos matadouros de gado55, normatizando formas e locais para o abate, transporte e
comércio da carne bovina. O mesmo acontecia de maneira muito tímida e esparsa com relação
aos restaurantes e confeitarias, que eventualmente eram citados nas Posturas da cidade. Um
exemplo é o que pudemos notar no Código de Posturas, de 1854, quando a atenção com os
produtos utilizados pelos confeiteiros foi destacada como um problema pontual, pelo que
compreendemos, e, por isso, caberia o registro. O código determinava o seguinte: “os
confeiteiros, que pintarem seus doces com óxidos ou sais de metais venenosos, como cobre,
chumbo, mercúrio, etc., sofrerão a pena de 8 dias de cadeia, e de 30$000 rs. de multa” (p. 10).
Quanto aos demais itens das leis, não foi possível identificar questões que tratavam
pontualmente desses espaços.
É importante salientar que reclamações em relação à utilização de ingredientes
insalubres na produção de alimentos eram rotineiros, legitimados nas regras que vetava o seu
emprego. Foi o caso de uma confeitaria, denunciada pelo jornal A República, de 06 de julho
de 1873. O periódico registrou que foram informados por “pessoas competentes e de inteira fé
que em alguns doces, procedentes de uma confeitaria, foi encontrada quantidade regular de
55
Para informações mais detalhadas, ver o Código de Posturas de 1854, p.12, Título quarto: economia e asseio
dos currais, matadouros, açougues públicos ou talhos.
126
mercúrio”. Interpelado, o dono da casa de comércio declarou que, sem dúvida, o mercúrio
provinha das latas em que o doce era cozido. Nesses recipientes, utilizariam o produto
proibido na sua galvanização. Mais uma vez o jornal repreendeu enfaticamente o comerciante:
“se houve descuido é preciso evitar que eles repitam, pois não se trata com tanta leviandade a
vida das pessoas, que em boa fé vão tomar alimento a uma casa pública” (A REPÚBLICA,
06/07/1873, p. 2). A seguir o trecho relatado:
56
Ver página 40, “Sobre limpeza e desempachamento das ruas e praças e providências contra a divagação de
loucos e embriagados, de animais ferozes e dos que podem incomodar o público”.
127
57
Para informações mais detalhadas sobre o aumento do número de restaurantes e confeitarias, ver tabelas das
páginas 188 a 233.
58
Pudemos verificar esta publicação nos seguintes periódicos: Diário de Notícias (14/02/1890, p. 3); Gazeta de
Notícias (14/02/1890, p. 3); Gazeta da Tarde (17/02/1890, p. 1-2); Diário do Comércio (22/02/1890, p. 2).
128
Esses foram apenas alguns exemplos de uma nova normatização sobre as casas
comerciais de alimentação em que a higiene estava posta enquanto um dos principais vetores.
Restaurantes e confeitarias eram representantes de um Brasil crescentemente público e
urbano, onde estabelecimentos como esses, paulatinamente, se ampliavam e diversificavam
em um ambiente onde o entretenimento estava cada vez mais presente. Desta forma, a
salubridade também era um requisito destacado do final do período oitocentista, valorizados
nos anúncios e também inspecionados pelo poder público.
O Código e o Edital, lançados em 1890, modificaram, realmente, o olhar sobre esses
espaços, inaugurando novas exigências e uma padronização que levou em consideração
inúmeras regras que podem ter alterado o perfil desses locais.
129
3.2 Fiscalização
assunto pautado pela população da época que reivindicava alguns cuidados. É difícil
estabelecer uma relação sobre a dimensão acerca do que era considerado nocivo à saúde, mas,
de fato, uma atenção era dada a certas questões sanitárias, em especial a temas que faziam
referência a odores desagradáveis e gêneros pútridos.
As acusações sobre insalubridades não se restringiam tão somente às confeitarias. O
mau cheiro expelido por alguns comércios parecia ser um dos pontos que mais aborrecia a
população e suscitava indignadas declarações nos jornais, e eram comuns também nos
restaurantes disciplinados a partir da mesma legislação. É o caso do Restaurant Voltaire,
estabelecido na Rua Uruguaiana, que estava com o encanamento entupido há três dias. A
queixa era que, com as chuvas do dia anterior, “o aludido restaurant foi lavado por uma água
que não se pode chamar propriamente de água de cheiro... antes pelo contrário” (GAZETA
DE NOTÍCIAS, 16/11/1885, p. 1). Em destaque o trecho:
nome do local, “um freguês faz umas horríveis caretas ao saborear um peixe arruinado”.
Quando tratamos de questões relativas à conservação da alimentação, a legislação não os
diferenciava. Semelhantemente, as críticas contidas nos jornais apontavam problemas tanto
em restaurantes quanto em confeitarias, o que pressupomos que não fosse exclusividade
destes locais, mas, sim, problemas inerentes a qualquer ambiente onde houvesse alimentos
perecíveis.
Como pode ser constatado, a limpeza e a higiene eram fatores que se colocavam cada
vez mais em destaque, tanto pelas publicações jornalísticas quanto pela legislação que tornava
gradualmente mais rígidas as normas que tratavam delas. Um bom restaurante e uma boa
confeitaria, há muito, tinham a sua competência medida não apenas pelo sabor do alimento
produzido. As questões sanitárias se tornaram critério determinante na valorização dos
serviços destes locais, tanto que passaram a ser mencionados como pontos de destaque nos
anúncios comerciais.
É possível ter ideia da situação de salubridade dos espaços pesquisados através de
alguns relatos de inspeções que aconteceram nesses locais. Apesar de informações um tanto
genéricas, é razoável perceber a atuação e o enfoque principal dado pelos agentes
fiscalizadores.
Verificamos que as vigilâncias autuavam as casas comerciais a partir de conceitos
latos de falta de asseio em várias das suas variáveis, e sem uma descrição muito definida
sobre a natureza da irregularidade, independentemente se eram restaurantes ou confeitarias.
Pelo menos nos jornais da época, a situação detalhada do empreendimento punido não foi
mencionada, ficando as informações restritas a amplos conceitos associados à insalubridade.
É o que verificamos no Correio Mercantil, de 21 de julho de 1855, que relatou uma série de
fiscalizações realizadas na Freguesia do Sacramento (região central do Rio de Janeiro), que
autuou vários estabelecimentos como açougues da Rua da Vala (atual Rua Uruguaiana) por
furtarem no peso da carne, além de dois armazéns de mantimentos, duas fábricas de velas,
uma casa de depósitos de ossos, “uma confeitaria e uma taverna, por imundícias e gêneros
danificados” (CORREIO MERCANTIL, 21/07/1855, p. 3).
Entre os motivos que suscitavam notificações, termos gerais justificavam a
penalização pela vigilância. Por “ter em putrefação a água do poço de sua serventia”, a
confeitaria do Beco do Cotovelo foi multada (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 24/06/1858,
p. 1), assim como uma confeitaria da Rua da Alfândega foi advertida por falta de asseio
(DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 21/08/1858, p. 2). Em outros casos, era comum a
recomendação de medidas higiênicas sem uma definição (GAZETA DE NOTÍCIAS,
133
08/03/1882, p. 1). Da mesma forma, O País destacou que, “membros da comissão sanitária da
Glória, em serviço externo, mandaram retirar de alguns hotéis, restaurantes, casas de quitanda
e açougues, e imediatamente inutilizar, grande porção de carne, línguas e frutas que
encontraram em estado de deterioração” (O PAÍS, 11/11/1884, p. 1).
É importante destacar que, ao compararmos as ocorrências apresentadas pela
fiscalização aos restaurantes e confeitarias, as mesmas pareciam convergir quanto às
exigências do controle sanitário. As imposições eram muito próximas e basicamente questões
relacionadas à conservação dos alimentos, da água e da limpeza dos locais verificados.
Por vezes, números relativos a essas vistorias eram publicados. Como exemplo,
podemos notar um pequeno balanço com relação ao mês de março de 1884, publicado no
jornal Gazeta de Notícias, em 10 de abril de 1884. O periódico demonstrou que, naquele mês,
ocorreram 601 (seiscentas e uma) visitas sanitárias, número certamente bem expressivo. Do
total, 45 aconteceram em restaurantes e 14 em confeitarias.
Além dessas, foram registradas visitas a casas de maternidade (1), farmácias (7),
padarias (7), estábulos (9), drogarias (5), açougues (31), casas de alugar quartos (60),
armazéns (91), estalagens e cortiços (95), hotéis (62), entre outros, na qual a valorização da
higiene era importante. Além disso, 390 intimações foram lavradas. (GAZETA DE
NOTÍCIAS, 10/04/1884, p. 2)
É interessante perceber que, no período dessa informação, entre os anos de 1881 e
1890, foram visualizadas 160 confeitarias e 16559 restaurantes, de acordo com os critérios já
mencionados no primeiro capítulo. Portanto, um mês, em que praticamente 1/3 dos
restaurantes e aproximadamente 10% das confeitarias foram averiguadas, é um número
relevante a se considerar. É possível, dessa maneira, inferir que existia uma vigilância ativa
acerca das questões sanitárias nos espaços de alimentação da cidade e que a legislação era
reivindicada. Contudo, é impossível enfatizarmos a intensidade e a rigidez desses controles.
Essas diligências realizadas pela comissão sanitária fiscalizavam diversos tipos de
comércios, nos quais a exigência de um enquadramento a modelos salubres passava por
adequações que, certamente, não representavam exatamente uma cidade higiênica, mesmo
para os padrões da época. Respeitados os limites do século XIX, as condições impostas pelas
autoridades demonstravam um Rio de Janeiro que ainda tinha práticas referidas a um
ambiente rural, que forçavam a comissão ordenar como medidas de saneamento, por exemplo,
59
Para mais informações ver as tabelas das páginas 198 e 224.
134
quente/frio, úmido/seco, atribuído a uma categoria que pudesse surtir efeito contra
determinada doença. Foi apenas no início desse período que a alimentação diminuiu seu
destaque terapêutico na Europa. Esse fato afetou até mesmo cidades da costa brasileira,
diferentemente da sua região central. No interior do país, a importância medicinal da nutrição
se manteve por todo o século. Apesar disso, verificamos, nos anúncios de periódicos da Corte,
a divulgação de comidas indicadas para algumas enfermidades e, até mesmo, remédios como
os xaropes à venda nas confeitarias.
Já no ano de 1850, podemos identificar preocupações e recomendações alimentares no
intuito de controlar e evitar doenças. O Jornal do Comércio, de 24 de janeiro de 1850 (p. 2-3),
publicou um comunicado com a opinião da Imperial Academia de Medicina sobre a febre
amarela e também um Edital da Câmara Municipal com um extrato do parecer dado pela
mesma, com cuidados a fim de prevenir a moléstia. Neles, podemos perceber e destacar
algumas orientações à população, referentes à alimentação e saúde:
pela falta de cuidados domésticos e higiênicos, idade precoce das mães, doenças venéreas,
tratamento inadequado do cordão umbilical, alimentação insuficiente e imprópria, aleitamento
proporcionado por amas doentes e contato com adultos portadores de doenças, foi criado, em
1851, uma Junta Central de Higiene responsável pelas questões de asseio público (RIOS
FILHO, 2000).
No seu trabalho, Couto e Goldfarb (2015) trazem um panorama entre alimentação,
saúde e doença no Brasil Império, notadamente no Rio de Janeiro daquele século, com base
nas teses médicas e livros de receitas desse período. De acordo com as autoras, grande parte
das noções de nutrição que transitaram na Corte, a partir dos anos de 1830, incorporaram
aspectos da Química e da Fisiologia. Referências essas importadas do velho continente que,
juntamente com a realidade local, ganharam as páginas dos estudos médicos na capital. Tais
pesquisas, em grande parte, eram responsáveis pela prática alimentar da elite, considerada
saudável, apontou o estudo.
Uma das discussões apresentadas nesses trabalhos foi o malefício da carne de porco
para a saúde. Uma das considerações era de que ela poderia favorecer o aparecimento de
doenças como a elefantíase. “As relações de alimentação e saúde funcionavam como uma das
explicações para o surgimento de várias moléstias que acometiam a capital do Império,
acompanhadas, ainda, dos aspectos ambientais” (COUTO; GOLDFARB, 2015, p. 37). Nessas
produções, o clima e o relevo também eram favoráveis ao desenvolvimento de enfermidades.
Além disso, existiam outros alimentos sinalizados como maléficos, conforme apontado pelas
autoras:
O artigo também aponta que os médicos acreditavam que o uso de alimentos crus e o
abuso de condimentos, como canela, pimentas, cravo e óleo de dendê eram prejudiciais à
inteligência. Além das discussões acadêmicas, as ideias de alimentação e saúde, conforme já
apontadas pelas autoras, também estavam presentes em alguns livros de receitas brasileiras da
época.
137
Os frangos são excelentes para a saúde, e como são de fácil digestão, é um dos
principais alimentos que se dá aos doentes; deles se faz um meio caldo para os
febricitantes que carecem de alimento ligeiro, a que se chama água de frango.
Quando se quiser a dita água para remédio, e com certa virtude, recheiam-se com as
ervas e drogas necessárias para isto; para os que têm saúde, compõe-se na cozinha
por diferentes modos como se segue. (R.C.M., 1887, p. 135)
O livro traz, também, um alerta em relação aos mariscos - no caso, as lagostas: “notem
os leitores que as lagostas têm no lombo uma tripa ou veia que é muito danosa á saúde; e por
isso deves-lhes tirar depois de aferventada” (R.C.M., 1887, p. 200). Já as ostras, “devem
comer-se cruas com sumo de limão e pimenta. São prejudiciais nos meses de verão: os que
dito se esquecem, arriscam inutilmente a sua saúde e até á vida” (R.C.M., 1887, p. 47).
No capítulo XVII do exemplar Cozinheiro Nacional61 (1889, p. 435-436), são
apresentadas receitas para restabelecer a saúde perdida, dentre as quais podemos destacar
sopas, caldo de mocotó, chocolate com âmbar, sob o título de “Receitas confortativas contra a
fraqueza geral, debilidade do estômago, provenientes de diferentes causas ou excessos
sexuais, pelo professor Brillat Savarin62”.
Tanto quanto nos ingredientes e pratos comercializados em restaurantes, a saúde era
pautada nas publicações relativas às confeitarias. Editado no ano de 1883, a obra o Doceiro
Nacional63 ou a Arte de fazer toda a qualidade de doces também destacava alguns aspectos.
Verificamos orientações para a produção de guloseimas. Recomendava-se usar tachos de
cobre e não tachos estanhados, pois o sumo das frutas não ataca o cobre, mas ataca o estanho,
tornando-o preto pelo calor e convertendo em iguarias nocivas a saúde. Também foi feito
referência à importância e os cuidados que devemos ter ao ingerir o açúcar. Este era muito
utilizado por favorecer a digestão de alguns alimentos. A seguir trecho do Doceiro Nacional
(1895, p. 10):
60
O Cozinheiro Imperial foi o primeiro livro de culinária editado no Brasil, no ano de 1840 (WÄTZOLD, 2012,
p. 2017). Nesta tese, tivemos acesso à décima edição, do ano de 1887.
61
A primeira edição deste livro é datada de 1882; nesta tese, fizemos uso da terceira edição do ano de 1889.
62
Era um advogado, político e cozinheiro francês. Foi um dos mais famosos epicuristas e gastrônomos franceses
de todos os tempos. Muito conhecido pela sua obra “Fisiologia do Gosto”.
63
Nesta tese, fizemos uso da quarta edição, datado de 1895.
138
O livro ainda orientava quanto à hora de tingir o açúcar para os confeitos. Devia-se
atentar para usar cores que não tenham sabor desagradável e que não sejam prejudiciais.
Identificamos, em o Doceiro Nacional, que um dos alimentos ofertados nas confeitarias da
cidade, o chocolate homeopático, era classificado também como chocolate de saúde.
Apesar de todas as medidas adotadas, procurando melhorar a salubridade na capital do
Império, Renault (1982) ressalta que as precárias condições sanitárias ainda alarmavam a
população na década de oitenta. O autor salienta que as verbas destinadas aos serviços de
higiene e saúde pública eram demasiadamente pequenas. As chuvas tornavam a cidade
pestilenta, as águas empoçadas levantavam maus odores pela falta de esgotos e encanamentos
para escoá-la. A cólera, descrita no recente estudo de Koch como uma doença gastrointestinal,
ainda preocupava. As Comissões Sanitárias condenavam os cortiços, a sua proliferação e
destacavam as dificuldades para desalojar seus ocupantes. A Junta de Higiene alertava sobre o
cuidado com determinados produtos sem vistoria, como o leite que era consumido. Ou seja,
diversos fatores humanos e naturais ainda assolavam esta cidade que buscava ser saudável.
Os estabelecimentos, por vezes, refletiam a compreensão da relação existente entre
alimento e saúde, nesse período. A partir dos seus anúncios, foi possível identificar a
legitimação entre os prováveis benefícios nos produtos comercializados, principalmente, nas
confeitarias do Rio.
No caso dos restaurantes, reconhecimentos dessa forma foram percebidos de maneira
distinta, provavelmente, pela diferenciação dos serviços prestados. O que pode ser verificado
de maneira mais pontual foram citações a “dietas restaurantes”. Compreendemos que estas
faziam referência especialmente aos alimentos ditos saudáveis. Todavia, o termo, como já
mencionamos no início desta tese, está associado à etimologia do espaço comercial analisado
neste trabalho. Podemos identificar, nesses casos, ligação entre restaurantes no sentido de
restauração da saúde, como no artigo que tratava sobre moléstias do peito publicado no
Correio Mercantil, de 24 de agosto de 1855 (p. 2): “o tratamento da Sra. D. M. consistiu em
dieta restaurante, uso de preparações ferruginosas, do ópio, ipecacuanha e laetucario”.
Até mesmo os Anais Brasilienses de Medicina descreviam, nas suas páginas, os
benefícios de uma boa alimentação: “com o aumento progressivo de dieta restaurante e o uso
de vinho generoso em pequena quantidade, ficou o doente restabelecido em menos de dois
139
meses” (Out/Nov/Dez, 1881, p. 223). É perceptível, no entanto, que a esses “restaurantes” era
empregado um caráter que os associava a uma espécie de medicação. As dietas restauradoras
eram prescrições salubres.
Nesse mesmo contexto, um restaurant, situado à Rua do Ouvidor no. 81, destacou, em
seu anúncio, que “as nossas iguarias, preparadas por um dos mais hábeis cozinheiros desta
corte, tem as seguintes vantagens: engordam os magros, dão cores a quem é pálido,
envernizam e amaciam a pele e fazem desaparecer os efeitos da velhice!” (A VIDA
FLUMINENSE, 08/03/1873, p 1329). O proprietário do Restaurant do Mello divulgou no
Diário de Notícias (11/04/1886, p. 1) que “A boa alimentação, sadia e confortante, é tudo!”, e
que seu empreendimento atuava com o seguinte princípio: “de engorda”. Nos dois exemplos,
apesar de não ficar tão nítido quanto nas confeitarias, podemos captar aspectos que
concatenavam saúde e alimentação. Nesses casos, o que percebemos é que esses espaços
praticamente não tinham, na divulgação da comida ofertada, nenhum apelo que os
remetessem a questões salutares e, sim, ao constante enfoque na higiene, diferentemente das
confeitarias, que passamos a abordar.
Dentre as inúmeras possibilidades de relacionar a saúde à alimentação, a figura dos
médicos era recorrentemente utilizada como forma de sustentar os benefícios dos produtos
comercializados. É relevante mencionar que esses especialistas e, por conseguinte, a
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, tiveram destaque nesse cenário em um contexto de
prática profissional em processo de construção. Para Lilia Schwarcz (1993), os médicos
fluminenses buscavam sua originalidade e identidade na descoberta de doenças tropicais,
como a febre amarela e o mal de Chagas, que deveriam ser prontamente sanadas pelos
programas “hygiênicos”. Ainda para a pesquisadora, tratava-se de “perceber a existência de
uma querela - mais ou menos formalizada – acerca das áreas de saber, projetos profissionais,
ou mesmo formas diversas de conceber o país” (SCHWARCZ, 1993, p. 190).
Com efeito, os doutores eram os responsáveis por legitimar o alimento saudável
propício a uma adequada nutrição e esse discurso era utilizado nos reclames publicados nos
periódicos da capital brasileira. Tais indicações, possivelmente conectadas a preceitos
higienistas característicos da época, nos quais os médicos eram os principais teóricos,
acabavam por influenciar tanto estabelecimentos quanto seus clientes que passavam a exigir
tais condições e denunciar quando elas não eram promovidas.
As casas comerciais faziam questão de destacar a outorga desses “homens de ciência”.
Os produtos eram sustentados de acordo com a opinião médica, como o “Pâte de Guimauve”.
O comercial do Correio Mercantil, de 27 de novembro de 1853 (p. 2), indicava que
140
“conforme o desejo de muitos Srs. Médicos, achar-se-á na confeitaria da Rua do Ouvidor no.
61 a massa de Guimauve, muito frescal e reconhecida como mais peitoral, própria para a tosse
e moléstia do peito”.
No entanto, parece que o elemento que deu maior visibilidade ao sinistro foi o fato do
incêndio ter atingido o camarim imperial, mesmo que parcialmente. Os estragos foram
registrados como superficiais. Parte do forro teria ficado carbonizado e outros danos foram
causados pela água dos bombeiros. O jornal registrou que, assim que S. M. o Imperador ouviu
o boato de que as labaredas atingiram o teatro, o mesmo se dirigiu ao local para averiguar a
situação, assim como diversas autoridades fizeram o mesmo:
144
64
Pudemos perceber que vários jornais publicaram matérias sobre o acontecido como o Diário de Notícias (p.1)
e a Gazeta de Notícias (p. 1-2) em 15/07/1885 assim como O País em 19/07/1885 (p. 2).
145
menos de um metro. A chaminé será de ferro ou cobre galvanizado, e terá um diâmetro nunca
inferior a 0,11m”65 (CÓDIGO DE POSTURAS, 1894, p. 302-303).
Mesmo sendo um pouco mais detalhista e exigente, a nova norma, aparentemente, não
demonstra ser tão diferenciada da anterior. Não podemos afirmar se, após essa publicação que
estabeleceu algumas pequenas regras de segurança, o número de ocorrências envolvendo
restaurantes e confeitarias foi reduzido. O fato é que, anteriormente a esse período, incidentes
envolvendo o fogo foram fatos corriqueiros e regularmente retratados pela imprensa, tendo as
mais diversas causas.
Os problemas com as chaminés não se restringiam somente aos prováveis incêndios
causados. Outros incômodos relacionados às mesmas também faziam parte do rol de queixas
da população. O Correio Mercantil, de 21 de fevereiro de 1865, denunciava uma confeitaria
na Rua da Lapa que não possuía uma chaminé de tamanho adequado. Outrossim, a espessa
fumaça de carvão de pedra expelida por uma rasa chaminé, que lançava grande quantidade de
fuligem, fazia com que toda essa sujeira se depositasse na roupa estendida nos quintais
próximos, causando, além de desconforto, um grande prejuízo aos vizinhos do local. A
denúncia assinada pelos “incomodados” encerrava declarando: “não parece estarmos em uma
cidade policiada em uma capital do império!” (CORREIO MERCANTIL, 21/02/1865, p. 3).
Por todo o interstício analisado, temos casos envolvendo confeitarias e restaurantes.
Nem sempre a chaminé era indicada como a causadora do sinistro. Em 14 de julho de 1855, o
Correio Mercantil (p. 1) destacou que um pequeno incêndio ocorreu em uma confeitaria
estabelecida à Rua da Imperatriz devido a uma fornalha mal construída. Outro caso foi
retratado em 1872, pela ocasião de um incêndio na Confeitaria Castelões. O sucedido teria
iniciado devido ao excesso de fogo no fogão da mesma casa onde se havia acabado de
fabricar grande quantidade de geleia e marmelada (CORREIO MERCANTIL, 07/02/1872, p.
2). Uma estufa de secar jujuba e amêndoas também foi responsabilizada por um incêndio
acontecido na confeitaria da Rua São Pedro, em 1874 (A NAÇÃO, 28/05/1874, p. 2).
Outro caso de vasta dimensão foi uma ocorrência acontecida no restaurante do Jardim
Zoológico do Rio de Janeiro, em 23 de janeiro de 1890. Segundo relatos do Diário do
Comércio, de 24 de janeiro de 1890 (p. 2), uma queima de grandes proporções destruiu, em
pouco tempo, o referido espaço. O início das chamas foi atribuído a uma bacia que continha
enxofre e álcool, utilizada para a desinfecção do local e que foi deixada no fogo.
65
Percebemos que o diâmetro de 0,11m está divergente em relação ao Edital publicado na Revista de
Engenharia (28/12/1890, p. 302), no qual constava a medida mínima de 1,11m das chaminés das cozinhas.
Devido à diferença considerável entre essas, acreditamos que houve um erro de impressão e a medida correta
seja a menor.
147
Frente aos inúmeros relatos fornecidos pela imprensa fluminense do século XIX, que
narravam incêndios nos restaurantes e confeitarias, podemos reconhecer que estes locais de
alimentação conviviam constantemente com o perigo do fogo. Produzir, comercializar,
divulgar e criar pratos, eram práticas que coexistiam com a necessidade e a iminência das
chamas que, muitas vezes, causavam desastres. Os incêndios colocavam esses dois tipos de
estabelecimentos num mesmo patamar.
O que se pode inferir é que esses problemas não eram uma exclusividade dos
restaurantes ou das confeitarias, mas, sim, uma questão de segurança e saúde pública latente
na principal cidade do Brasil. O Rio de Janeiro, nomeadamente na sua região central, crescia
rapidamente e, muitas vezes, de maneira desordenada. Nesse meio, prédios residenciais se
confundiam com casas de espetáculo e empreendimentos de alimentação, sendo todos frágeis
a um grande inimigo, o fogo. Se a Corte não possuía ameaças como as lareiras tão presentes
nas grandes urbes europeias, o calor era um aliado dos incêndios. Nesse sentido, o cotidiano
das confeitarias e dos restaurantes da capital fluminense era lidar com esse perigo que
circundava a todos no período oitocentista.
Definitivamente, questões que, para um olhar superficial, podem parecer assuntos
divergentes, são, na verdade, peças de um complexo emaranhado onde diversos fragmentos se
encaixavam mesmo que, inicialmente, se demonstrassem tão discrepantes. Os ambientes
estudados estavam inseridos em uma conjuntura onde discursos, cujos temas se vinculavam à
saúde, higiene e urbanização, faziam parte da rotina. Amalgamando esses conteúdos, uma
legislação, que representava um elo entre o ideal e a prática em uma metrópole com
características distintas, se apresentava. Justamente por esses motivos, esses assuntos foram
debatidos neste capítulo.
Enfim, a cidade mais importante do Brasil era o resultado de um conjunto enorme de
variáveis. Os restaurantes e confeitarias representavam toda essa complexidade. Por isso, o
estudo de questões inerentes à alimentação, higiene e saúde se torna uma peça importante e
necessária de análise, em um cenário maior, apresentado nesta tese.
148
Considerações Finais
confeitarias, além da venda de doces e açúcar, com refinação deste último, se portavam como
pontos de comércio de secos e molhados. Isto posto, os clientes poderiam adquirir vários
produtos para serem consumidos em suas residências. No entanto, ambos os espaços
dispunham de atividades de encomendas e entrega de refeições, prioritariamente em casas de
comércio, no caso dos restaurantes, e serviço de buffet em festas, comum aos dois.
Pudemos constatar que existia uma variação muito grande em relação aos preços dos
produtos comercializados. Embora acreditemos que os maiores frequentadores de restaurantes
e confeitarias fossem os integrantes de camadas sociais de maior poder aquisitivo, ou mesmo
componentes de fatias medianas em ascensão, não é possível descartar que houvesse clientes
menos remediados que comparecessem a esses lugares cada vez mais comuns e diversos.
Todavia, conjugado aos fatores apresentados de alargamento dos domínios urbanos e ao
poder aquisitivo da população onde estes estabelecimentos se instalavam, é importante notar,
também, uma mudança de comportamento. As práticas de alimentação iniciaram um processo
em que foram reconhecidas progressivamente como atividades coletivas, onde o comer estava
ligado a diferentes ofícios.
Com o transcorrer do século XIX, alimentar-se na esfera pública passou a estar
associado fortemente a lazer e divertimento. Fatores estes que nos ajudaram a compreender a
ampliação dos restaurantes e confeitarias e o reconhecimento cada vez maior destes enquanto
ambientes comuns.
É notável que os restaurantes exerciam o papel de locais de lazer, quer seja como
complemento de outra diversão em um contexto amplo de várias opções na cidade, quer seja
de forma isolada. As confeitarias também dispunham de atividades para seus clientes.
Enquanto os restaurantes ofertavam, na sua maioria, bilhares, bagatelas, música e ambiente
com jardins, as confeitarias proporcionavam exposições de retratos, plantas, animais e
bebidas, campeonatos de tiro ao alvo, xadrez e, também, jardim, bilhares e bagatelas.
Nesse contexto, ambos estavam inseridos, se moldando e adaptando a uma realidade
cada vez mais perceptível, que era o desenvolvimento eminente de uma indústria do
entretenimento. À vista disso, a alimentação era parte integrante e essencial de um ambiente
moderno e “divertido”. O Rio de Janeiro, mesmo com suas características peculiares, a
exemplo das grandes cidades e de vasta parte do mundo ocidental, estava introduzido nesse
cenário.
A comercialização de alimentos importados em restaurantes e confeitarias da principal
metrópole brasileira, durante o Segundo Reinado, refletia o abundante número e diversidade
de personagens que frequentavam a Corte naquela época. Principal ligação do Brasil com a
150
Europa, a capital fluminense reproduzia, à sua maneira e, de certa forma, tentava imitar nos
trópicos, a alimentação do Velho Mundo em uma versão miscigenada e única.
Além desses, produtos oriundos de diversas regiões brasileiras se encontravam à venda
na cidade, destacando a sua importância no país e representando as amplas migrações que,
nesse período, eram comuns. Com efeito, os gêneros alimentícios nacionais, que
caracterizadamente destacavam a sua origem nos anúncios comerciais, tiveram íntima relação
com a culinária praticada nos ambientes analisados.
Identificamos alimentos procedentes de praticamente todas as regiões do Brasil, dentre
as quais se destacaram o sudeste e o nordeste brasileiro. No entanto, quando comparamos os
espaços de comércio de gêneros alimentícios, podemos constatar que havia uma grande
diferenciação, onde os restaurantes forneciam majoritariamente pratos elaborados no local ao
passo que as confeitarias funcionavam como revenda de alimentos, uma espécie de pequena
loja de mantimentos.
A grande maioria dos produtos negociados nas confeitarias era de origem nacional,
diferentemente dos restaurantes que majoritariamente tinham inspiração estrangeira. Neste
sentido, é provável que, devido aos serviços diferenciados oferecidos pelas duas categorias de
casas comerciais, a oferta maior tenha acontecido nas confeitarias. Essa constatação permite
perceber, também, a maior amplitude delas, que extravasavam a função de preparo e comércio
de doces e atendiam a outro segmento, que era o fornecimento de comidas prontas, sem serem
preparadas no seu interior. Nos restaurantes, essa opção era quase inexistente.
Foi possível constatar que a culinária praticada nos restaurantes e divulgada nos
periódicos da época era, em sua maioria, de orientação francesa. Também identificamos a
italiana, portuguesa e, posteriormente, se destacavam a brasileira e a culinária regional baiana.
Seguindo a mesma tendência, o prestígio francês era marcante nas confeitarias. Por outro
lado, a relação com a presença portuguesa ficou mais forte e evidente nestas. Também
detectamos aspectos da cozinha italiana, pequenos vestígios da alemã e, mais próximo da
década de 1870, estabelecimentos que se vinculavam a uma culinária dita brasileira,
nomeadamente, através dos produtos nacionais comercializados por elas, com destaque aos
oriundos de Minas Gerais.
Realmente, o que se pode conceber, principalmente na década final do Império, é que a
alimentação praticada nessa cidade começava a criar laços com as questões nacionais e se
identificar com o Brasil. Os produtos e produções ofertados em ambos os espaços ajudavam a
compor o que conhecemos atualmente como culinária nacional.
151
Podemos destacar, como amostra, a feijoada que circulou tanto em restaurantes quanto
em confeitarias. Neste sentido, ficou nítido o início da gestação de uma cozinha tipicamente
brasileira. Esse fato pode ser verificado em uma publicação do jornal Gazeta de Notícias, de
28 de dezembro de 1891 (p. 1). Ali, já se apresentava uma conexão entre a região e a culinária
local. De acordo com o periódico, em uma festa promovida pelo Club Rio-Grandense, cada
membro ficou responsável por oferecer um prato típico do seu estado, dentre os quais
apontamos: Amazonas - sopa de tartaruga; Bahia – vatapá; Rio Grande do Sul – churrasco;
Minas Gerais – lombo de porco assado no espeto; e Capital Federal: feijoada. Esses pratos
ainda são representativos, nos dias atuais, tanto nas cozinhas regionais quanto na brasileira.
Além desses aspectos, também foi possível identificar a vinculação de novas ideias que
estabeleciam uma inédita associação entre os ambientes de alimentação e a legislação,
principalmente em relação às normas para um melhor funcionamento e que visava a
segurança para a população, particularmente nos quesitos higiene e saúde. Os próprios
Códigos de Posturas e os Editais, que deles faziam parte e suas alterações no decorrer desta
pesquisa, são provas das mudanças que a cidade passava.
É importante destacar que, nesta tese, procuramos não fazer o uso da palavra
“gastronomia”, por acreditarmos, e também constatarmos através da documentação, que era
um termo ainda em formulação e pouco usual. Através dos jornais e revistas desse período,
percebemos que esta já era conhecida e até mesmo utilizada na Corte. De toda forma, era um
conceito muito menos comum e mais restrito do que conhecemos atualmente66. A
gastronomia ainda se desenvolvia, como bem lembra Tim Wätzold (2012).
Exemplos eventuais podem ser visualizados através da imprensa. Uma definição para a
gastronomia oitocentista pôde ser verificada na Revista Popular, do ano de 1861: “é a arte de
comer digna e honrosamente como homem de bom gosto, espírito e juízo” (p. 142). Da
mesma forma, já eram divulgados livros que tratavam do assunto. Em 1854, a livraria B. L.
Garnier, situada na Rua Ouvidor, anunciava a venda da obra Gastronomia ou os prazeres da
mesa (DIÁRIO DO RIO DE JANEIRO, 01/12/1854, p. 3). A palavra também era usada
66
A gastronomia na contemporaneidade estabelece uma relação muito aproximada entre a alimentação e as
sensações relacionadas a esta. Podemos perceber essas questões a partir de Atala e Dória (2008, p. 175):
“gastronomia é o discurso e a prática que se estabelece em torno de um objeto – a culinária -, com o propósito de
potencializar sabores e outros prazeres sensuais que se organizam em torno da mesa”. Da mesma forma,
Ariovaldo Franco (2001, p. 234) potencializa ainda mais essas sensibilidades em torno da gastronomia: “a
gastronomia induz a fazer do comer uma intensa fonte de satisfações, uma experiência sensorial total. Assim,
além dos sabores, consistências, texturas e odores são importantes o cenário, os sons, as cores, a intensidade da
luz, as alfaias, o flamejar das velas, o tilintar dos cristais e, evidentemente, a interação entre os convivas”.
Definitivamente, as relações estabelecidas com o ato de comer, no século XIX, estavam distantes desses aspectos
abordados nos conceitos acima. Desta forma, preferimos não nos referir à prática da alimentação em restaurantes
e confeitarias deste período como “gastronomia”.
152
casualmente, como quando o Diário do Rio de Janeiro, de 26 de agosto de 1874 (p. 3),
relatou que a Sra. Libania Rosa de Jesus, no restaurante do Hotel Restauração, “também
entregava-se ao prazer da gastronomia”.
Contudo, esse ainda não era um vocábulo regularmente empregado. A gastronomia
ainda se encontrava fortemente associada à forma correta de comer ou ao prazer transmitido
pela comida, e não aos aspectos culinários e culturais de determinadas sociedades. Por isso,
nossa opção em não utilizá-la, também procurando evitar de incorrer em anacronismos.
Devido ao grande número de documentos disponíveis na hemeroteca digital e também a
uma opção metodológica, utilizamos, como fontes, somente os periódicos em circulação na
capital do Império e os Códigos de Posturas e Editais da mesma época. Certamente, este
trabalho não encerra as discussões sobre o assunto. Ao contrário, pretendemos que este seja
motivo de inquietação e de novas investigações que tratem sobre temáticas congêneres.
No futuro, tencionamos realizar novos estudos nos quais devemos ampliar as análises e
diversificar as fontes pesquisadas, abordando as visões de cronistas e viajantes estrangeiros
que visitaram o Brasil no século XIX, assim como confrontando esses espaços de alimentação
com os de outras capitais do país.
Esperamos que esta apuração possa gerar contribuições a novas pesquisas ligadas às
áreas de alimentação, história e cultura do Rio de Janeiro e do Brasil, propiciando uma maior
consistência em estudos de História da Gastronomia e a consolidação deste campo no meio
acadêmico. Almejamos, também, que os dados disponíveis nesta tese, como as tabelas com a
relação de restaurantes e confeitarias situadas nos apêndices, possam favorecer novos projetos
que tenham como objeto a análise desses estabelecimentos ou até mesmo comparações entre
eles.
153
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L’Assemblée
Hotel D. Pedro com Rua da Lampadosa, 28. Correio Mercantil, 1859, 17 de jul., p.3.
restaurant
Restaurant Recreio Rua dos Ciganos, 68 (em Correio Mercantil, 1859, 04 de ago., p.3.
Comercial frente ao Museu e ao Teatro
Lírico).
Restaurant Viracanto Ilha de Paquetá Correio Mercantil, 1859, 08 de ago., p. 3.
Restaurant Italiano Rua do Teatro, 2 . Correio Mercantil, 1860, 08 de jan., p. 3.
Hotel do Brasil com Rua dos Latoeiros, 62. Diário do Rio de Janeiro, 1863, 18 de nov., p. 4;
restaurant ou Grand Hotel Diário do Rio de Janeiro, 1864, 27 de out., p. 4.
Du Brésil
Restaurant del Oriente ou Rua do Teatro, 33. Jornal do Comércio, 31/01/1858, p. 2; Almanaque
Restaurant do Oriente Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de
Janeiro, 1864, p. 670.
Restaurant Abacachy Rua do Teatro, 33. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do
Rio de Janeiro, 1865, p. 651.
Hotel Restaurant de Rua da Carioca, 128. Jornal do Comércio, 1864, 24 de jan., p. 4.
Bordeaux
Hotel do Império com Rua do Teatro, 35. Diário do Rio de Janeiro, 1864, 08 de fev., p. 2.
restaurant
Restaurant Pension Rua do Cano, Diário do Rio de Janeiro, 1864, 21 de fev., p. 3.
Bourgeoise 81(atualmente rua Sete
de Setembro),.
Hotel e Restaurant La Borse Rua da Alfândega, 8. Correio Mercantil, 1864, 19 de mai., p. 5.
191
Casa de pasto e botequim Rua do Cano, 61 (entre Diário do Rio de Janeiro, 1864, 03 de jun., p. 3; O
denominado Novo á rua dos Ourives e a Português, 1865, 01 de jan., p. 3.
Restaurant do Comércio dos Latoeiros) e em
1865 rua Sete de
Setembro, 61.
Jardeim Brasseria com Café Rua da Ajuda, 57. Diário do Rio de Janeiro, 1864, 24 de set., p. 4.
Restaurant
Hotel Restaurante da Corte e Travessa do Ouvidor, Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do
Café Restaurante da Corte 13. Rio de Janeiro, 1865, p. 651; Almanaque
Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de
Janeiro, 1866, p. 596.
Restaurant e Café Praça da Constituição, Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do
20 e rua do Teatro Rio de Janeiro, 1865, p. 653.
(pregado ao Teatro de
São Pedro), atualmente
Praça Tiradentes.
Restaurant Mangini Rua do Teatro, 2 (junto Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do
ao Teatro de São Pedro). Rio de Janeiro, 1870, p. 657.
Café Restaurant Praça da Constituição, Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do
20, atualmente Praça Rio de Janeiro, 1866, p. 597.
Tiradentes.
Restaurant Carceller Boulevard Carceller, rua Diário do Rio de Janeiro, 1865, 21 de jun., p. 4.
Direita, 7 e 9
(atualmente rua
Primeiro de Março).
Hotel do Comércio com Rua da Alfândega, 31. Correio Mercantil, 1865, 28 de ago., p. 4.
restaurant
Café Restaurant do Passeio Rua das Marrecas, 34. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do
Rio de Janeiro, 1866, p. 596.
Restaurant Français Rua do Ouvidor, 130. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do
Rio de Janeiro, 1866, p. 629.
Hotel Restaurant de Lyon (e Rua do Carmo, 53. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do
café) Rio de Janeiro, 1866, p. 629.
Hotel de La Plata com Rua da Assembleia, 69. Jornal do Comércio, 1866, 17 de mar., p. 4.
restaurant
Café de Paris e Café Rua Sete de Setembro, Estafeta, 1866, 06 de out., p. 4; Almanaque
Restaurant de Paris 39. Administrativo, Mercantil e Industrial do Rio de
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Hotel dos Príncipes com Palacete da Praça da Correio Mercantil, 1866, 24 de nov., p. 4.
restaurant Constituição, 8
(atualmente Praça
Tiradentes).
Restaurant Gardim Praça da Constituição Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do
(atualmente Praça Rio de Janeiro, 1868, p. 654.
Tiradentes), (em frente á
porta lateral do Teatro).
Café Restaurant Rua da Carioca, 107. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do
Rio de Janeiro, 1869, p. 643.
Restaurant Français Rua de Santo Antônio, Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do
8. Rio de Janeiro, 1869, p. 678.
Restaurant et Table d’hôte Rua do Hospício, 62, Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do
1°andar. Rio de Janeiro, 1869, p. 678.
Restaurante Rotschild Rua da Assembleia, 87. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial do
Rio de Janeiro, 1870, p. 657.
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Rio de Janeiro, 1870, p. 657.
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Cruzeiro
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restaurant
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e Italiano Veiga, 20 (Largo da
Mãe do Bispo).
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Confeitaria Teatro São Pedro de
Alcântara
Restaurant de la Terrasse No Teatro São Pedro Gazeta de Notícias, 1879, 02 de dez., p. 4.
de Alcântara
Hotel Thomé com Rua Sete de Setembro, Gazeta de Notícias, 1878, 01 de out., p. 4.
Restaurant 81.
Hotel Portugal com Rua do Sacramento Gazeta de Notícias, 1878, 08 de out., p. 3.
Restaurant (de frente para o
jardim do Rocio).
Maison Meublée com Rua de Santo Amaro, Gazeta de Notícias, 1878, 14 de nov., p. 6.
Restaurant 18 (próximo da linha
dos bondes de
Botafogo).
Hotel New York com Rua Primeiro de Jornal do Comércio, 1878, 17 de nov., p. 5.
restaurant Março, 41.
Hotel Restaurant de Rua Uruguaiana, 54. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
Alcazar do Rio de Janeiro, 1879, p. 916.
Brazilian-Garden com Rua do Espírito Santo, Diário do Rio de Janeiro, 1878, 23 de out., p. 3.
Restaurant 43 e 45.
Skating-Rink com Rua do Costa, 31 A. O Repórter, 1879, 16 de fev., p. 4.
Restaurant
Restaurant do Tesouro Rua do Sacramento, Gazeta de Notícias, 1879, 26 de mar., p. 4.
26.
Restaurant Particular Rua de São José, 16. Gazeta de Notícias, 1879, 25 de abr., p. 5.
Restaurante Casa Rua de São José, 16. Gazeta de Notícias, 1879, 20 de ago., p. 4.
Particular
Restaurant Particular Rua da Assembleia, Gazeta de Notícias, 1879, 15 de ago., p. 6.
13.
Hotel Leão de Ouro com Rua da Candelária, 6. Gazeta da Noite, 1879, 10 de jun., p. 4.
restaurant
Restaurant São João Rua do Sacramento, Gazeta de Notícias, 1879, 24 de jun., p. 3.
15.
Restaurant da Península Rua Uruguaiana, 63. Alvorada Propriedade de uma Associação, 1879,
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Café Restaurant Duas Rua de São José, 47. Gazeta de Notícias, 1879, 25 de ago., p. 3.
Águias de Ouro
Hotel com restaurant Rua Fresca, 7. Gazeta de Notícias, 1879, 04 de set., p. 3.
Restaurant Retiro Rua do Jardim Gazeta de Notícias, 1879, 14 de set., p. 6.
Campestre Botânico, 07.
Salão Oliveira - Rua Uruguaiana, 29. Gazeta da Noite, 1879, 22 de dez., p. 4.
Restaurant e Bilhares
197
Restaurant X.P.T.O. Rua Sete de Setembro, 239. Gazeta de Notícias, 1881, 12 de nov., p.
4.
Hotel Novo Mundo Rua Primeiro de Março, 13, O Globo, 1881, 30 de nov., p. 1.
com restaurant Boulevard Carceler.
Restaurant Lacombe Rua de São José, 39. Jornal da Noite, 1881, 30 de nov., p. 3.
Restaurant Graham's Rua da Alfândega, 1. Brasil, 1881, 11 de dez., p. 2.
Restaurant Rua da Alfândega, 10. Almanaque Administrativo, Mercantil e
Industrial do Rio de Janeiro, 1882, p.
297.
Hotel Balneário com Botafogo (em frente á rua do Almanaque Administrativo, Mercantil e
restaurant Marquês de Olinda). Industrial do Rio de Janeiro, 1882, p.
252.
Restaurant das Três Rua Larga de São Joaquim, 106. Gazetinha, 1882, 01 de fev., p. 2.
Nações da Mocidade
Restaurant L'Elysée No terraço do Tetro São Pedro Gazeta de Notícias, 1882, 15 de fev., p.
Alcântara. 2.
Restaurant Bordeaux Rua Uruguaiana, 52. Gazeta de Notícias, 1882, 02 de abr., p.
5.
Restaurante Sereia Praia de Botafogo, 236 (Freguesia da Gazeta de Notícias, 1882, 09 de abr., p.
Lagoa). 4.
Restaurant No Teatro Príncipe Imperial. Gazeta de Notícias, 1882, 10 de mai., p.
4.
Restaurant Grande Praça da Constituição, 5 e 7 Almanaque Administrativo, Mercantil e
Oriente (atualmente Praça Tiradentes). Industrial do Rio de Janeiro, 1883, p.
581.
Restaurante Príncipe Praça da Constituição, 5 (atualmente Diário Ilustrado, 1887, 19 de mai., p. 5.
Imperial Praça Tiradentes).
Maison Champétre Rua do Riachuelo, 81. Almanaque Administrativo, Mercantil e
Restaurant Industrial do Rio de Janeiro, 1883, p.
582.
Restaurant Vencedor Rua Luiz de Camões, 36 Almanaque Administrativo, Mercantil e
Industrial do Rio de Janeiro, 1883, p.
582.
Restaurant Maison Entrada pela rua do Espírito Santo, Gazeta da Tarde, 1883, 26 de fev., p.4;
Moderne 113 e Praça da Constituição 19 A Almanaque Administrativo, Mercantil e
(largo do Rocio) e em 1889 entrada Industrial do Rio de Janeiro, 1889, p.
pela rua do Espírito Santo, 1, 3, 5 e 7 604.
e Praça da Constituição 19 A (Largo
do Rocio) (atualmente Praça
Tiradentes).
Restaurant Comércio Rua do Hospício, 139. A Folha Nova, 1883, 04 de mar., p. 4.
e Artes
Restaurante a Canoa Largo do Rocio, 50 (atualmente A Folha Nova, 1883, 18 de mar., p. 3.
do Beija-Flor Praça Tiradentes).
Restaurant Martins Rua de São José, 30. Corsário, 1883, 15 de mai., p. 4.
Restaurant Castro Rua do Carmo, 25. Gazeta da Tarde, 1883, 30 de jun., p. 3.
Alves
Restaurant da Gruta Rua do Carmo, 25. Gazeta da Tarde, 1884, 01 de dez., p. 3.
Restaurante Especial Rua de São José, 121. Gazeta de Notícias, 1883, 14 de jul., p. 4.
Restaurant da Ópera Largo de São Francisco de Paula, 10. Gazeta de Notícias, 1883, 19 de jul., p. 5.
Restaurant Olivia Rua da Quitanda, 131. Gazeta de Notícias, 1883, 03 de nov., p.
4.
Botequim, Rua da Candelária, 21. A Folha Nova, 1883, 17 de nov., p. 4.
Restaurante e salão
de bilhares
201
Confeitaria e Refinação de Rio Comprido (em Correio Mercantil, 1859, 25 de mai., p.3.
Açúcar do Rio Comprido frente ao portão do
Bispo).
Confeitaria Rua Nova do Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
Conde, 84. do Rio de Janeiro, 1860, p. 685.
Confeitaria Rua do Rosário, Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
122. do Rio de Janeiro, 1860, p. 685.
Confeitaria Rua Nova do Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
Conde, 168. do Rio de Janeiro, 1860, p. 685.
Confeitaria Rua de São Pedro, Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
10. do Rio de Janeiro, 1860, p. 685.
Confeitaria Largo do Bispo Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
(Rio Comprido) do Rio de Janeiro, 1860, p. 685.
Confeitaria Largo de São Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
Domingos, 243. do Rio de Janeiro, 1860, p. 685.
Confeitaria Rua da Imperatriz, Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
63. do Rio de Janeiro, 1860, p. 685.
209
Confeitaria Braço de Rua do Ouvidor, 124. Diário do Rio de Janeiro, 1878, 19 de jul., p.1.
Ouro
Confeitaria Estrada de Praça da Aclamação, O Cruzeiro, 1878, 02 de set., p. 4.
Ferro D. Pedro II 123.
Café, Restaurant e Teatro São Pedro de Gazeta de Notícias, 1878, 06 de out., p. 6.
Confeitaria Alcântara
Confeitaria Rua Sete de Setembro, Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
23. do Rio de Janeiro, 1879, p. 874.
Confeitaria Rua do Riachuelo, 140. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
(antigamente rua de do Rio de Janeiro, 1879, p. 874.
Matacavalos)
Confeitaria Rua de São Clemente, Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
78. do Rio de Janeiro, 1879, p. 874.
Confeitaria Beco do Rosário, 1 B. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
do Rio de Janeiro, 1879, p. 875.
Confeitaria Rua da Floresta, 6. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
do Rio de Janeiro, 1879, p. 875.
Confeitaria Rua do Cotovelo, 29. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
do Rio de Janeiro, 1879, p. 875.
Confeitaria Largo da Lapa, 1. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
do Rio de Janeiro, 1879, p. 875.
Confeitaria Rua da Misericórdia, Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
14. do Rio de Janeiro, 1879, p. 875.
Confeitaria Rua dos Andradas, 21. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
do Rio de Janeiro, 1879, p. 875.
Confeitaria de Praia de Botafogo, 254. O Repórter, 1879, 26 de jul., p. 3.
Sant'Anna
Confeitaria Imperial Largo do General Jornal do Comércio, 1880, 24 de mar., p. 5.
Osório, 152.
Confeitaria Rua do Catete, 69. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
do Rio de Janeiro, 1880, p. 126.
Confeitaria Rua de São Pedro, 182. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
do Rio de Janeiro, 1880, p. 930.
Confeitaria Rua do Mercado, 5. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
do Rio de Janeiro, 1880, p. 930.
Confeitaria Rua do Mercado, 75. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
do Rio de Janeiro, 1880, p. 930.
Confeitaria Praia de Botafogo, 250. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
do Rio de Janeiro, 1880, p. 930.
Confeitaria Rua do Senador Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
Pompeu, 16. do Rio de Janeiro, 1880, p. 930.
Confeitaria Rua de Gonçalves Dias, Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
75. do Rio de Janeiro, 1880, p. 931.
Confeitaria Rua do Senador Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
Eusébio, 106. do Rio de Janeiro, 1880, p. 931.
Confeitaria Rua do Lavradio, 122. Almanaque Administrativo, Mercantil e Industrial
do Rio de Janeiro, 1880, p. 931.
223
Confeitaria Bom Marché Rua do Teatro, 17. Gazeta de Notícias, 1881, 24 de ago., p. 4.
Confeitaria Rua Primeiro de Março, Almanaque Administrativo, Mercantil e
22. Industrial do Rio de Janeiro, 1882, p. 30
Confeitaria Ouvidor, em Rua do Ouvidor, 105. Gazetinha, 1882, 11 de fev., p. 4; Jornal do
1883 Confeitaria Santos e Comércio, 1883, 19 de abr., p. 4; Gazeta de
em 1890 Confeitaria O Notícias, 1890, 10 de mai., p. 5.
Ponto
Confeitaria Márquez de Praça da Constituição, 52 Gazeta da Tarde, 1882, 10 de jul., p. 2.
Pombal (atualmente Praça
Tiradentes).
Confeitaria Rua da Carioca, 73. Almanaque Administrativo, Mercantil e
Industrial do Rio de Janeiro, 1883, p. 507.
Confeitaria Rua de São Pedro, 3. Almanaque Administrativo, Mercantil e
Industrial do Rio de Janeiro, 1883, p. 508.
Confeitaria do Anjo Rua de São Pedro da Jornal do Comércio, 1883, 28 de mai., p. 6.
Cidade Nova, 83.
Confeitaria Rua da Alfândega, 156. Almanaque Administrativo, Mercantil e
Industrial do Rio de Janeiro, 1883, p. 506.
Confeitaria Rua do Santo Cristo dos Almanaque Administrativo, Mercantil e
Milagres, 161. Industrial do Rio de Janeiro, 1884, p. 572.
Confeitaria Rua do Lavradio, 100. Almanaque Administrativo, Mercantil e
Industrial do Rio de Janeiro, 1884, p. 572.
Confeitaria Rua do Lavradio, 36 A. Jornal do Comércio, 1890, 08 de set., p. 3.