1.1.1. Pastar
É a forma natural de um cavalo se alimentar. A ela estão adaptados a
fisiologia e os traços hereditários do comportamento do animal.
Os cavalos servem-se do lábio superior para meter a erva entre os dentes
incisivos, e cortam-na por trituração e um movimento da cabeça para trás ou
para o lado. Apanham bocados pequenos de cada vez. A altura de corte
depende do comprimento da erva: se for curta, cortam-na rente. Vão andando
à medida que comem, à razão de uma ou duas dentadas por passada, pelo
que fazem grandes percursos a pastar. Evitam comer a erva nos sítios com
excrementos frescos, mas sobrepastoreiam os restantes se forem mantidos
numa pastagem pequena, fazendo um aproveitamento muito irregular da
superfície.
Passam cerca de 12 horas em cada 24 a pastar, o que é bastante mais do
que o normal em ruminantes. Têm dois períodos principais de pastoreio: o
primeiro desde o amanhecer até cerca do meio-dia e o segundo desde o
princípio da tarde até à noite. Quando podem, mudam de local entre um
período e o outro. Se a erva for abundante, prolongam o segundo período até à
meia-noite ou mais tarde. Não têm dificuldade em pastar de noite, graças à
constituição da retina. No entanto, são mais assustadiços de noite que de dia,
sobretudo, ao que dizem alguns autores, os de pêlo claro — mais visíveis no
escuro.
Quando o pasto é pobre, também alargam o tempo de pastoreio. Se andam
sossegados, pastam dispersos, mas juntam-se quando há motivos de alarme.
Outra particularidade da retina, é que permite focar ao mesmo tempo,
quando pastam, a erva diante do focinho e o horizonte.
Só interrompem o pastoreio por mau tempo com chuva forte. Nessa altura,
viram a traseira contra o vento e ficam imóveis.
Os poldros começam a comiscar erva, imitando a mãe, logo na primeira
semana de vida. A princípio, tal não tem expressão no regime alimentar. Para
povoar o cego com a flora bacteriana indispensável à digestão da erva, os
poldros ingerem as fezes de cavalos adultos, sobretudo da mãe. Nos adultos,
porém, a coprofagia (ingestão de fezes) é um comportamento anormal.
Segundo Hafez et al. (1969), o cavalo chega a dormir 7 h por dia, mas
Houpt et al. (1978) dão apenas 2 h para o sono de ondas lentas (ligeiro), de pé,
e 47 minutos para o sono paradoxal (profundo), deitado. Provavelmente, o
segundos autores são mais exactos, uma vez que se baseiam em dados de
electroencefalograma. Hafez et al. (1969) devem ter confundido com sono o
descanso que o cavalo faz de pé, imóvel, durante o qual há períodos curtos e
irregulares de sono.
O descanso de dia é mais prolongado no Verão que no Inverno. É feito às
horas mais quentes, procurando a sombra nos dias de calor ou apanhando sol
nos dias frescos. Com céu encoberto, os períodos de descanso são irregulares:
os animais aproveitam as abertas para apanhar sol, normalmente deitado.
Em terreno ondulado, os cavalos costumam escolher para passar a noite
pontos mais altos do que aqueles onde passam o dia. No Inverno, procuram
sítios abrigados do vento. Em tempo calmo, mesmo com muito frio, dormem
em campo aberto. Nos temporais, preferem o abrigo das matas ao de
barracões e alpendres, talvez por causa das correntes de ar que quase sempre
se formam nestes.
Os cavalos descansam principalmente de pé. O aparelho suspensor dos
membros permite a estação sem esforço muscular, ao mesmo tempo que a
cabeça e o pescoço se sustêm passivamente, graças ao ligamento cervical.
Passam muito pouco tempo deitados. Não se apoiam sobre o esterno, como os
bovinos. O bordo cortante do osso torna essa posição impossível de manter,
excepto nos poldros. Os poldros por vezes estiram-se completamente no chão,
mas nos adultos esta posição provoca estase (estagnação da circulação)
pulmonar em pouco tempo.
1.3. Abeberamento
1.5. Locomoção
2. Comportamento de relação
2.1. Relação social
2.1.1. Os grupos
Na natureza, o grupo básico é formado por um garanhão, 2-4 éguas
adultas e crias até aos 2 anos de idade, mais ou menos. Os poldros mais
velhos separam-se da manada ou são expulsos pelo garanhão e vão formar,
com outros, grupos de 7-8 elementos, até conseguirem éguas próprias. Os
garanhões velhos acabam por perder as suas éguas e passam a viver
solitários.
Nas coudelarias, as condições alteram-se. As éguas de ventre não vivem,
em geral, com o garanhão. Os poldros são separados das mães ao desmame.
Os grupos podem ser muito maiores que os naturais. Surge um terceiro "sexo":
o dos castrados. No entanto, prevalece a tendência natural para os grupos
pequenos, que se formam e se mantêm dentro das manadas grandes.
Numa piara de poldras da Coudelaria Nacional, vimos há anos uma coisa
interessante. Três anglo-lusitanas faziam grupo à parte das outras, que eram
lusitanas puras. Todas eram filhas de éguas lusitanas da mesma éguada, mas
aquelas três, por serem filhas de um Puro-sangue Inglês, tinham maior
afinidade social entre elas do que com as outras companheiras. Enfim, umas
"betinhas", como se diz nos liceus.
2.1.2. Dominância
Nas manadas de cavalos forma-se sempre uma estrutura bastante estável
de relações de dominância e subordinação, em que os conflitos praticamente
deixam de existir. Os animais subordinados, evitando activamente o contacto
com os dominantes, são os que mantêm a paz. A estrutura social mais
frequente é a linear: A domina B e os dois dominam C. Também podem existir
estruturas triangulares, estas menos estáveis: A domina B, que domina C, que
domina A. As brigas que surgem numa manada hierarquizada são entre
animais de posições sociais imediatas.
Num grupo de cavalos que vive parte do tempo no pasto e outra parte
estabulada, notam-se por vezes alterações da ordem social entre uma situação
e outra, e com a presença ou ausência de pessoas.
A ordem hierárquica num grupo de cavalos que antes não se conheciam
estabelece-se por lutas ou manifestações agressivas mais ou menos violentas.
Os factores que favorecem um cavalo são o temperamento, o tamanho e a
idade, excluindo a velhice.
Nas manadas naturais, o garanhão é o primeiro da escala e os poldros são
os últimos. Quanto à posição relativa das éguas, não depende da antiguidade
na manada mas dos factores acima referidos. As mais velhas vão descendo de
categoria à medida que perdem o vigor.
A hierarquização entre os poldros começa a manifestar-se no primeiro
Inverno. É muito influenciada pelas posições relativas das mães, e esta
influência pode manter-se até à maturidade. Os poldros sem mãe são os
últimos da escala.
À medida que os poldros crescem, as hierarquias dos dois sexos tendem a
separar-se. Contudo, em situações de competição, os machos, em geral,
dominam as fêmeas.
Nota-se, da parte dos cavalos dominantes, uma grande tolerância em
relação aos subordinados, principalmente em grupos de poldros. As agressões
só ocorrem em situações de extrema competição. Estas podem dar-se em
manadas estabuladas na altura da distribuição do concentrado, por exemplo.
As brigas, nestes casos, são perigosas porque o vencido não pode fugir.
2.1.3. Chefia
Enquanto a dominância é a prioridade do mais prepotente em situações de
competição, a chefia é a iniciativa que se transmite à manada, sobretudo nas
deslocações. O chefe do grupo típico é o garanhão. Noutros grupos, ou na falta
do garanhão, pode ser qualquer dos animais adultos.
3. Comportamento reprodutivo
3.2.1. O parto
A gestação da égua dura cerca de 11 meses. Ao iniciarem-se as dores
preliminares, que podem aparecer, em acessos, vários dias antes do parto, a
égua mostra uma sintomatologia de cólicas (dores abdominais): ansiedade,
olha o flanco deita-se e levanta-se, rebola-se no chão, senta-se sobre os
posteriores.
As éguas que estão no campo, normalmente afastam-se da manada, para
um sítio escolhido com alguns dias de antecedência. As primíparas nem
sempre o fazem; por vezes parem no meio da manada.
Nas coudelarias de cavalos de desporto de grande valor, a égua costuma
ser metida numa box maternidade, quando está na iminência de parir, e o parto
é assistido. O parto em liberdade dispensa, normalmente, assistência, mas na
box, onde a égua não pode andar e mover-se livremente durante as
contracções, e com o risco de o poldro ficar entalado contra a parede, a
assistência é indispensável e todos os cuidados são economicamente
justificados.
O parto é rápido. Dura, em média, um quarto de hora, com uma variação
entre 5 e 47 minutos, segundo um autor. Quase sempre, as éguas parem
deitadas. Depois da expulsão do feto continuam deitadas, a descansar, por
cerca de meia hora.
Bibliografia
Arnold, G. W. & Dudzinski, 1978. Ethology of free-ranging domestic animals.
Elsevier, Amsterdam.
Collery, L., 1978. Social interactions in an equine herd. Proc. 1st World
Congress of Ethology Applied to Zootechnics. Editorial Garsi, Madrid.
Evans, J. W., A. Borton, A. F. Hintz & L. D. Van Vleck (editors), 1977. The
horse. W. H. Freeman Company, San Francisco. (Tradução espanhola: El
caballo. Editorial Acribia, Zaragoza).