EDIÇÃO - 132
por Tiago C. Soares
julho 3, 2018
Imagem por Allan Sieber
A German-American Bund era liderada por Fritz Kuhn, um ativista alinhado ao projeto
ideológico hitleriano. No comício, realizado por ocasião do aniversário de 207 anos de
George Washington, a German-American Bund propunha uma celebração do que
considerava como “verdadeiro americanismo”. Sob coros de “Heil Hitler” e
emoldurado por um gigantesco estandarte com a imagem de Washington, Fritz Kuhn
discursou contra a “imprensa dominada pelos judeus” e os “sindicatos comunistas”,
atacou Roosevelt e o New Deal, e elaborou um rascunho do que seria sua América
ideal: branca, nativista, anticomunista e antissemita.
É verdade que esse pacto não foi imune a tensões e rupturas – o papel instrumental da
grande imprensa brasileira em processos de ruptura democrática nos últimos sessenta
anos é um bom exemplo. Mas existia, enfim, uma intenção e uma tentativa de
compromisso institucional: a estabilização das fronteiras do aceitável no ringue da
democracia liberal.
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A declaração de Trump era uma espécie de controle de danos: pouco antes de sua posse,
no início de 2017, boatos sugeriam que o novo presidente estaria animado com a
possibilidade de, nas horas vagas da Casa Branca, continuar tocando seu reality show
empreendedor. Em circunstâncias normais, a hipótese de um presidente em exercício
dividir seu tempo entre o comando da nação e a apresentação de um programa de TV
seria coisa de charges, daquelas com políticos de terno e cartola sentados em cima do
Capitólio com sacos ilustrados com cifrões. Mas o fato era que os Estados Unidos
estavam mesmo às vésperas da entrega da presidência a um homem de negócios
tornado celebridade televisiva. E a imprensa, com seu poder de representação e
organização da realidade, estava em frangalhos.
Ao longo do processo eleitoral que opôs Donald Trump a Hillary Clinton, teve curso
uma aparentemente inédita intensificação na produção e circulação de desinformação.
O fato em si não era exatamente novidade – notícias falsas e propaganda descolada da
realidade gravitam disputas democráticas desde sempre. Mas o processo encontrado
nas eleições presidenciais norte-americanas tinha alguns aspectos novos. Conforme a
corrida pelos eleitores ganhava tração, o volume de notícias falsas que circulavam na
web se espalhava a ponto de embaralhar todo o sistema de notícias. Esses conteúdos,
criados e circulados por plataformas on-line descoladas do sistema da imprensa
tradicional, ganharam alcance exponencial conforme seus links eram semeados pelo
ecossistema das redes sociais. Os efeitos desse novo maquinário de notícias falsas
(ou fake news) no liberal ambiente de comunicação norte-americano, no meio de um
processo de disputa presidencial, tornaram-se um dos principais eixos da análise e da
cobertura política entre 2015 e 2016. A antiga expressão se transformou no jargão mais
quente da temporada: da denúncia de operações de desinformação on-line a boatos e
questionamentos sobre a legitimidade institucional da imprensa, o termo fake
news adquiriu múltiplos usos para múltiplos grupos.
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