Literatura / Poesia
Vou-me embora pra Pasárgada é um poema de Manuel Bandeira, publicada no livro Libertinagem em 1930. O poema de
características modernistas evoca um escape do poeta para um lugar melhor, fugindo da sua realidade.
Poema completo
https://www.culturagenial.com/poema-vou-me-embora-pra-pasargada-de-manuel-bandeira/ 1/6
19/11/2018
Na cama que escolherei Análise do poema Vou-me embora pra Pasárgada de Manuel Bandeira - Cultura Genial
Análise do poema
Pasárgada era uma cidade persa e também foi a capital do Primeiro Império Persa, cuja construção iniciou-se pelo imperador
Ciro II. Como o próprio poeta explicou, a imagem dessa cidade ficou em sua cabeça desde a adolescência até a composição do
poema.
Uma das figuras mais marcantes nesse poema é o escapismo. Elemento comum na literatura, teve forte influência na
produção do romantismo e do arcadismo. Para os românticos, o escapismo era uma forma de aliviar a dor do amor não
correspondido, procurando refúgio em lugares distantes ou na morte.
Para o arcadismo, a fuga era em direção ao bucólico e rural. Em uma época de adensamento urbano, o campo era visto como
forma de inspiração e pureza.
Manuel Bandeira usa essa figura de uma forma genial, movendo-as dos lugares comuns. A poesia é construída com
redondilhas, da mesma forma que os poemas árcades, porém a fuga é para uma cidade tecnológica. Como visto nos versos
O poeta faz referência ao modernismo e à admiração pelas máquinas e tecnologia, bem diferente do pensamento arcadiano.
A fuga do poeta é em direção à liberdade. Uma vida que poderia ter sido e que não foi por conta da doença. A volta para a
infância antes de ficar doente também está presente no poema nos versos
"Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo (...)
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar".
Uma vida ativa é um dos desejos do poeta que é privado de exercícios físicos por causa da tuberculose.
O afeto e o contato também são temas sensíveis para Manuel Bandeira, que os evoca mais de uma vez nos versos
https://www.culturagenial.com/poema-vou-me-embora-pra-pasargada-de-manuel-bandeira/ 2/6
19/11/2018 Análise do poema Vou-me embora pra Pasárgada de Manuel Bandeira - Cultura Genial
"Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei"
e em
Pasárgada é também um lugar para a satisfação dos desejos eróticos onde não existe solidão.
A busca por uma aventura também é uma característica marcante nesse poema. Manuel Bandeira teve uma vida com muitas
privações. A busca por um lugar onde ele podo se arriscar é presente em Pasárgada no trecho
Manuel Bandeira criou esta cidade em busca de um lugar onde pudesse estar livre das obrigações e das limitações de sua
doença e de sua vida. Este lugar transcendeu a própria poesia e se tornou em um lugar imaginário onde a vida é melhor e a
cidade de Bandeira se tornou um símbolo da liberdade.
O "poeta menor" via sua vida com ironia. Destinado a ser alguém seu caminho foi interrompido pela tuberculose, que nunca o
deixou por inteiro. Desde então ele sempre viveu com limitações e com medo, porém teve uma vida longa e com muito
reconhecimento.
Vou-me embora pra Pasárgada é uma espécie de grito de liberdade. Mesmo sendo um lugar inalcançável ele está presente para
nos fazer sentir melhor quando nos achamos acuados.
Libertinagem é o livro mais modernista de Manuel Bandeira, mas mesmo assim ele usa diversos elementos biográficos na obra.
Segundo Alfredo Bosi, em História Concisa da Literatura Brasileira, "o adolescente mal curado da tuberculose persiste no
adulto solitário que olha de longe o carnaval da vida e de tudo faz matéria para os ritmos livres do seu obrigado
distanciamento".
A marca biográfica na poesia Vou-me embora pra Pasárgada é muito clara e o próprio autor comenta sobre essa sua poesia:
"Foi o poema de mais longa gestação em toda a minha obra. Vi pela primeira vez esse nome de Pasárgada quando tinha os
meus dezesseis anos e foi num autor grego (...) Mais de vinte anos quando eu morava só na minha casa da Rua do Curvelo,
https://www.culturagenial.com/poema-vou-me-embora-pra-pasargada-de-manuel-bandeira/ 3/6
num momento de fundo desânimo,Análise
19/11/2018 da mais agudaVou-me
do poema sensação de tudo
embora o que eude
pra Pasárgada não tinhaBandeira
Manuel feito na- minha
Cultura vida
Genialpor motivo da
doença, saltou-me de súbito do subconsciente esse grito estapafúrdio: “Vou-me Embora pra Pasárgada!”"
Enquanto Poética é uma vontade de liberdade estética, Vou-me embora pra Pasárgada é um anseio pela liberdade da doença e
da solidão.
Você tem poderá gostar de ler: Análise do poema E agora, José, de Carlos Drummond de Andrade.
Manuel Bandeira fez parte da Semana de Arte Moderna de 1922 e foi um dos grandes poetas da geração heroica do
modernismo brasileiro. Suas primeiras obras possuíam influência simbolista. Foi em Libertinagem (1930) que o poeta aderiu
totalmente ao modernismo. Neste mesmo livro ele publicou a poesia Poética, na qual explica suas intenções líricas.
R$ 810,67 R$ 804,74
R$ 396,03 R$ 322,54
https://www.culturagenial.com/poema-vou-me-embora-pra-pasargada-de-manuel-bandeira/ 4/6
Antes do surgimento das vanguardas
19/11/2018 no Brasil,
Análise o parnasianismo
do poema Vou-me embora era a correntedeliterária
pra Pasárgada Manuel mais seguida
Bandeira naGenial
- Cultura época. Os parnasianos
pregavam uma poesia com rimas ricas e versos metrificados. O principal tema da poesia era a apreciação do belo e a
linguagem era muito formal e rebuscada.
Esse era o lirismo "comedido" que Manuel Bandeira critica. Um lirismo que é feito de dicionários e manuais e que dão pouco
espaço para a poesia mais íntima e livre. O poeta defende uma liberdade estética e de temas.
Manuel Bandeira tem como matéria prima para as suas poesias uma enorme variedade temática. É acima de tudo um artesão
da palavras, que busca por meio delas construir imagens bonitas, extraindo lirismo até mesmo de cenas cotidianas e banais.
Manuel Bandeira se considerava um "poeta menor".
Auto injustiças à parte, o poeta de certo modo expõe suas intenções de construir poemas com temáticas simples, muitas vezes
com um aprofundamento psicológico e autobiográfico, evitando poesias sobre grandes temas universais ou sobre o belo. O
esforço e o trato com a palavra redimem Manuel Bandeira de ficar fechado em si.
O poeta do Castelo é um curta-metragem documental de Joaquim Pedro de Andrade rodado em 1959. Nesse filme, o diretor
segue Manuel Bandeira enquanto o poeta realiza atos banais do cotidiano em uma manhã qualquer. O poeta também recita
alguns de seus poemas, como o Vou-me embora pra Pasárgada.
Gilberto Gil, cantor e compositor brasileiro, musicou e gravou o poema com Olivia Hime em 1987, para o álbum estrela da vida
inteira.
Manuel Bandeira foi um poeta brasileiro, que nasceu em 19 de abril de 1886 no Recife, e morreu em 13 de outubro de 1968 no
Rio de Janeiro. Participou da Semana de Arte Moderna de 1922.
É um dos maiores representantes da chamada geração heroica. Viveu boa parte da vida com tuberculose, tendo ido para a
Suíça para tratar da doença. Porém, nunca ficou totalmente curado.
Manuel Bandeira teve uma vida com muitas limitações, e o poema Vou-me embora pra Pasárgada é uma fuga dessa vida de
privações.
Conheça também
Hotel Urbano
https://www.culturagenial.com/poema-vou-me-embora-pra-pasargada-de-manuel-bandeira/ 6/6