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desse no tempo e na memória, a exemplo das pintu visual de seu próprio criador. “Aparece na primei
ras rupèstres que documentam o olhar milenar da metade do século XIX, na Europa, ganhando rápi<
realidade vivenciada pelo homem, em período mui desenvolvimento. No Brasil, já por volta de 186
to anterior à criação da linguagem escrita. Talvez constituía-se um acervo valioso de imagen
até possamos pressupor que a escrita tenha sido preservadas hoje nas coleções fotográficas de a
uma forma de grafia visual das palavras. tores como Fidanza, Frisch, Mulock, Gaensle
Progressivamente, as formas de representação Leuzinger e Marc Ferrez, que percorreram o país’
do universo, ou seja, do diverso, do desconhecido, No entanto, a fotografia não surgiu com o inti
ou daquilo que se julgava inusitado, foram se ex to de substituir as técnicas de registros iconogr
pandindo ao longo dos tempos. ficos adotados até então, mas conquista gradativ
Durante o século XVI, os viajantes retrata mente a garantia de uma fidelidade maior da real
ram o mundo desconhecido utilizando a icono dade captada, por não depender da memória de u:
grafia como registro da memória, visto que a es pintor, desenhista etc., que muitas vezes se sujeit
crita não dava conta de descrever com fidelida va a falhas e consequentemente à construção í
de as imagens e cenários que iam sendo desbra um retrato distorcido ou até idealizado do elemeni
vados, de uma terra que se apresentava sem con enfocado.
tornos definidos, povoada por povos e animais Desde a sua criação, a técnica fotográfic
estranhos a serem desvendados. vem se desenvolvendo rapidamente, sendo an
As formas de representação através de ima pliada e aperfeiçoada cada vez mais. Com isso,
gens estiveram também, sempre muito presentes câmera torna-se um instrumento de grande p<
em livros de viagens que forneciam informações tencial de pesquisa fundando, entre outros a:
sobre as populações indígenas do interior do Brasil, pectos, uma nova metodologia de análise dc
fazendo apelo ao estado natural dos homens e ao fenômenos culturais.
estágio de civilização dos índios. Pintores como
Rugendas, Debret e vários outros que incursiona-
ram pelo território brasileiro, tomaram-se famosos A fotografia como
por matizarem imagens detalhadas do Brasil em técnica na pesquisa antropológica
suas viagens e expedições, que ao mesmo tempo
em que pareciam pitorescas diante de alguns olha
A invenção da fotografia possibilitou, já a pa
res, diante de outros assumiam o caráter de re
tir da primeira metade deste século, que antropóli
gistros inéditos das diferenças e desigualdades
gos adotassem essa técnica inovadora em suas pe:
humanas no Brasil. Um dos exemplos mais mar
quisas de campo, incorporando o registro de im;
cantes é a obra “ Viagem Pitoresca através do Bra
gens aos processos de investigação, coleta, orden;
sil ” , do d esenhista e pin to r Johan M oritz
ção e interpretação dos dados. A exemplo de Mal
Rugendas, que veio em expedição ao Brasil no
nowski, que buscou instrumentos próprios de tr;
início do século XIX. Entre várias representa
balho e investigação que fossem capazes de regi;
ções, encontramos imagens dos mesmos índios
trar, tanto quanto possível, as atividades cotidi:
Botocudos, que foram fotografados em 1909 por
nas dos habitantes das ilhas Trobrians na Melam
Walter Garbe, filho e assistente de Ernesto Garbe,
sia, utilizando a fotografia como um de seus instn
naturalista e viajante contratado pelo Museu
mentos para coleta e registro de dados.
P aulista em 1901 para am pliar as coleções
O início da carreira de Malinowski, em Loi
etnográficas. (Imagens 1 e 2).
dres, se deu em um período em que a antropolc
Poderíamos arrolar uma série infindável de
gia debatia e criticava os métodos de interpret!
exemplos em que a imagem tem sido utilizada como
ção vigentes e, por sua vez, buscava novas té<
registro do olhar sobre o diverso através de for
nicas de pesquisa em que a obtenção das infoi
mas simbólicas inovadoras de representação pic
tórica, que a história vem se encarregando de de
senvolver. E a partir do século X3X, com o advento
(1) M onte-M or (1995: 83) faz uma observação pert
da fotografia, a captação de informações através nente, de que essas im agens podem fornecer hoje ui
de imagens tomará maior destaque, vindo como retrato da diversidade cultural do Brasil na virada d
artifício revolucionário da capacidade da memória século.
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mações deveriam ser baseadas na observação dias de hoje, como observação participante,
direta. Em conseqüência da declaração da pri- Embora não fosse fotógrafo, em sua primei-
meira Guerra Mundial, Malinowski se viu obri- ra monografia publicada em 1915, os nativos de
gado a sair do país, por motivo de sua naciona- Mailú, já havia inserido 34 fotografias. Uma quan-
lidade polonesa. Partindo para a Nova Guiné, tidade razoável, considerando-se as dificuldades
marca uma nova época de sua vida e do desen- enfrentadas em campo no que diz respeito a trans-
volvimento de uma prática inovadora de inves- portar na bagagem um equipamento pesado e de
tigação etnográfica conhecida e adotada até os m anuseio d elicado, pois o autor, além de
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forma em imagem singular composta de elemen comparativo (...) os dados apresentados pelo
tos espaciais e temporais, mesmo que sejam ape etnógrafo” (1975: 14). Num sentido de correspon
nas registros de frações das descobertas. Porém, dência, o autor aproxima a etnologia da antropo
para que o registro fotográfico chegasse ao pon logia social e cultural. Ou seja, são novas faces
to de assumir o status de documento, não bastou de outros olhares acerca dos estudos dos fatos e
estar por trás da câmera apenas um fotógrafo ex realidades sócio-culturais distintos.
periente e com pleno domínio técnico do equipa A partir do início do século, a antropologia
mento, mas alguém dotado de sensibilidade in vem intensificando suas pesquisas, buscando
vestigadora capaz de elaborar uma seleção cons colocar os processos culturais em evidência com
ciente entre a realidade observada e a captada, o propósito de enfocar as condições de existên
fundando-se assim, um outro olhar sobre o diver cia do homem. No cumprimento de seus objeti
so que passava a ampliar as possibilidades de vos, vem elaborando teorias sistemáticas sobre
registro das singularidades e diversidades de gru o comportamento humano em suas dimensões
pos sociais desconhecidos. transculturais, bem como o desenvolvimento de
técnicas de coleta e análise de dados que possi
bilitem uma aproximação mais fiel da realidade
Antropologia e fotografia: evidenciada. Nesse sentido, a fotografia e o fil
histórias paralelas? me etnográfico conquistam e consolidam um im
portante espaço junto às Ciências Sociais.
Não devemos nos furtar da lembrança, de que Desde o primeiro instante da descoberta da
o reconhecimento da antropologia enquanto ciên fotografia, ou de formas de congelar momentos
cia, não se deu em período muito anterior ao adven que antes só eram preservados pela memória, não
to da fotografia. Ao mesmo tempo, uma mudança cessaram as buscas de aperfeiçoamento da técni
metodológica adotada nas técnicas de pesquisa, ca, surgindo, como decorrência, form as da
acompanha o desenvolvimento da técnica foto preservação de imagens em movimento. Da união
gráfica, quando os antropólogos passam a cole de vários fotogramas em seqüência obteve-se o
tar diretamente seus dados e não apenas a inter efeito de continuidade da ação, o que possibili
pretar os registros e informações dos viajantes, tou a criação de técnicas que fossem transfor
missionários e exploradores. Essa postura foi im mando gradativamente a imagem estática da fo
plantada no princípio deste século justificada pela tografia na imagem em movimento. O Kinetos-
necessidade cada vez maior da presença do pes cópio de Edison foi o primeiro equipamento cria
quisador em cam po, fato que determ inou o do no final do século capaz de mostrar o efeito da
surgimento de duas vertentes da pesquisa antro imagem continuada, que consistia na montagem
pológica: a Etnologia e a Etnografía. de uma série de instantâneos fotográficos passa
O contexto histórico da invenção da fotogra dos rapidamente diante de um único espectador.
fia acompanha o período de desenvolvimento No entanto, foi a invenção do cine mató grapho
da antropologia, onde problemas se ampliam di dos irmãos Lumière que possibilitou, de fato, a
ante de um vasto universo de pesquisas e, com difusão de imagens em movimento, e em tamanho
isso, as polêmicas conceituais se tornam mais natural, a um número maior de espectadores.
complexas diante da necessidade de estabeleci No Brasil, a fotografia vem se tomar popu
mento das fronteiras de atuação entre antropo lar e acessível por volta de 1860. Trinta anos
logia, etnologia e etnografía, principalmente pelo mais tarde, por volta de 1894 as primeiras ima
fato da existência de uma imprecisão distintiva gens fílmicas são apresentadas, às elites do Rio
entre os três estudos dos fatos sócio culturais. de Janeiro, com o Kinetoscópio. E, em 1907, com
Lévi-Strauss arriscou uma distinção, mesmo aparelhagem mais desenvolvida, era inaugurada
que assumida por ele como sumária e provisória, a primeira sala de cinema no Brasil - o Cinema
dizendo que “a etnografía consiste na observa Pathé.3
ção e análise de grupos humanos considerados
em sua particularidade (...), e visando à reconsti
tuição, tão fiel quanto possível, da vida de cada (3) Segundo Clarice Peixoto, as primeiras im agens em
um deles; ao passo que a etnologia utiliza de modo m ovim ento produzidas no país foram apresentadas em
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ensão e interpretação de fatos da cultura huma se estreitavam de tal modo que, por vezes, con
na e vem atribuindo ao texto escrito o rigor de tava com a participação dos índios, dada a gran
sua expressão científica. O objeto de observa de dificuldade de mão de obra.6
ção geralmentç é descrito em cadernos de cam Era pública a posição humanista de Rondon
po acum ulando-se dados para uma posterior e seu empenho em manter o indígena em seu
compreensão e interpretação. Desde que a ima habitat, como forma de proteger sua cultura. Essa
gem vem sendo incorporada aos métodos de re posição levou-o à designação governamental de
gistro, percebe-se a possibilidade de uma con chefe do Serviço de Proteção ao índio, criado
junção de olhares, em que a memória pode re em 1910 como órgão do Ministério da Agricul
compor com maior amplitude a realidade obser tura com a finalidade de conduzir os índios ao
vada a partir da combinação das várias formas estágio de “civilização” para posterior integração
de registros. Por essas razões, a fotografia, o à sociedade nacional, segundo os ideais
filme e o vídeo vêm conquistando novos domí positivistas.
nios, transformando a imagem em fonte revela Para afirmar sua posição, empenhou-se em re
dora do conhecimento antropológico. gistrar e divulgar a situação de cada grupo contata
do através de imagens fotográficas e fílmicas,
aglutinando inúmeros registros da situação geográ
A ntropologia e imagem: fica de regiões brasileiras quase inexploradas, bem
um exem plo brasileiro como das populações nativas que as ocupavam.
Com a divulgação das imagens foi possível desven
O desenvolvimento da antropologia no Bra dar um Brasil pouco conhecido, despertando o in
sil se divide em dois momentos significativos, teresse em estudos acerca dos aspectos culturais
sendo que o grande “divisor de águas” foi a tão distintos. Como decorrência, em 1912 o antro
fundação da Universidade de São Paulo, momen pólogo Roquette Pinto integrou a equipe de Rondon
to em que se deu a implantação da faculdade de realizando as primeiras imagens dos índios Nham-
Ciências Sociais, em 1936, e da Escola de Socio biquara, e a ele, sucedeu uma série de fotógrafos,
logia e Política, no mesmo ano. Anterior a esta antropólogos e etnólogos que registraram momen
data as investigações de caráter antropológico tos de contato com várias populações indígenas,
eram debatidas e subsidiadas pelos museus e vindo a demonstrar como o registro de imagens
pelas missões exploratórias européias.5 Entretan foi sendo incorporado rapidamente como recur
to, um dos grandes acervos sistemáticos de ima so para a pesquisa etnológica.
gens fotográficas de populações indígenas foi Alguns autores ainda continuam no anoni
coletado pela Comissão Construtora das Linhas mato, a exemplo de Harald Schultz, que a partir
Telegráficas e Estratégicas do Mato Grosso ao de 1939 passou a integrar o quadro de funcio
Amazonas - CLTEMGA. Tratava-se de uma mis nários do Serviço de Proteção ao índio, incum
são militar comandada pelo Marechal Cândido bido por Rondon de organizar um centro de do
Mariano da Silva Rondon, conhecida como Co cumentação fotográfica e filmográfica. A partir
missão Rondon, que atravessou o país de sul a dessa data, passou a acom panhar as expedi
norte no final do século XIX, destacando-se por ções fotografando e filmando aspectos do co
registrar os diversos agrupamentos sociais en tidiano dos povos indígenas que eram encon
contrados. trados nas rotas de instalação da rede telegrá
A missão durou muitos anos e o Marechal fica. Com o material produzido, criou-se o De
Rondon tornara-se nome de destaque na ação partamento de Documentação Cinem atográfi
indigenista. Suas relações com os grupos tribais ca e Etnográfica, que veio a transformar-se na
(5) M aiores inform ações acerca do contexto histórico (6) Em m uitos m om entos, observa G agliardi (1989:
que marca o debate estabelecido entre a Universidade de 145), ”os ín d ios estiveram incorporados à co m issã o ,
São Paulo, E scola de S o c io lo g ia e P olítica e M useu substituindo os soldados mortos, doentes e desertores(...)
Paulista, consultar Campos, S.L. O olh ar an tropológi colaborando ingenuamente com uma sociedade que em
co: O índio b ra sileiro sob a visão de H arald Schultz, breve iria tirar-lhes im pied osam ente a terra em que
Disseratação de mestrado, PUC/SP, 1996. v iv ia m ” .
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Seção de Estudos do SPI.7 Entre 1942 e 1945, Brasil. Em 1946 já trabalhava como assistente de
período em que foi funcionário do SPI, efetuou pesquisa junto à Escola de Sociologia e Política
pesquisas com os grupos Terêna, K adiuéu, de São Paulo e, em 1947, foi contratado como
Bakairi e Umutina, sendo que, entre os filmes Assistente de Etnologia do Museu Paulista, se
que produziu e aos quais ainda se pode ter aces ção recém-criada e dirigida por Herbert Baldus.
so, destaca-se o “Danças de culto aos mortos”, Era um momento em que se investia na forma
por documentar um dos rituais de maior rele ção de uma intelectualidade brasileira e na inves
vância da sociedade Umutina , que hoje não o tigação de realidades nacionais, quando as temáti
pratica mais. Foi produzido em 1944/45 em pelí cas folclóricas e principalmente as indígenas en
cula colorida de 16mm com duração de 4 ’30”, contravam destaque na afirmação de um espíri
registrando em detalhes, 3 das 17 danças ceri to de brasilidade. Ao mesmo tempo debatiam-se
moniais relacionadas ao culto. Foi seu último as articulações entre a pesquisa teórica e a pes
trabalho junto ao SPI, pois discordava da orto quisa aplicada em Antropologia, as áreas e rea
doxia positivista impressa aos ideais desse ser lidades a serem pesquisadas e a difusão dos re
viço. sultados das pesquisas que se realizavam no
Nos relatórios das expedições comandadas Brasil. Alguns estrangeiros vieram debater e
por Rondon encontra-se uma farta e detalhada ampliar as reflexões brasileiras sobre o trabalho
documentação escrita e fotográfica, porém, não de campo, corroborando a idéia difundida por
foi possível resgatar os registros oficiais dos Radcliffe-Brown de que “a coleta de dados de
três primeiros anos de atuação de Schultz junto via mudar de caráter e só o antropólogo profis
ao SPI, pois a prática de citação da autoria das sional podia fazê-lo”.8 (Mercier 1974: 93-144).
fotografias nem sempre era comum nesse perío A parceria de Schultz com Baldus resultou em
do; ao lado disso, parte considerável dos docu intensa atividade de pesquisa, apoio e divulgação
mentos do SPI foi destruída por um incêndio e da cultura indígena, destacando-se a participação
outra se encontra dispersa. de ambos como membros da Sociedade Amigos
Entretanto, sua maior atuação tem início na do índio,9 fundada em São Paulo no ano de 1948,
década de 40, quando mudou-se para São Paulo, o que tinha, segundo Baldus, o objetivo de “traba
que favoreceu sua aproximação a um dos mais im lhar em prol do nosso silvícola, pondo ao alcance
portantes centros difusores do conhecimento etno do grande público, por meio de publicações, confe
lógico. Passou o ano de 46 freqüentando os cur rências, exibições cinematográficas e exposições
sos de Etnologia Brasileira, como aluno de Herbert etnográficas, a verdade até agora acessível a um
Baldus, Curt Nimuendajú e outros, na Escola de pequeno grupo de especialistas”. (Baldus: 1949).
Sociologia e Política, tendo a oportunidade de ini Nesse sentido, Schultz ocupou lugares
ciar sua formação acadêmica conforme as exigên estratégicos de atuação, pois teve a oportunida
cias do período que estimulavam a formação de de de acompanhar de perto os debates teóricos,
novos profissionais na área. Porém, não a con quando aluno na Escola de Sociologia e Política,
cluiu, pois dava prioridade à pesquisa de campo e e divulgar seus filmes, fotografias e artigos, no
não à formação teórica que o obrigava a ficar res Brasil e fora do país, enquanto membro da Socie
trito às salas de aula ou aos gabinetes de estudo. dade Amigos do índio e, ainda, divulgar as mani
Seu talento fotográfico e filmográfico aliado festações mágico- simbólicas de várias etnias,
à sua capacidade e interesse de investigação das através da produção material, favorecido por seu
culturas indígenas, colaboraram para que se tor
nasse assistente de Baldus em suas pesquisas
de campo, dedicando-se à coleta de material
(8) Para maiores detalhes sobre a história da antropolo
etnográfico e arqueológico e à documentação gia, consultar a obra de Mercier, 1974.
fotográfica e filmográfica de culturas indígenas, (9) A Sociedade Am igos do índio, tinha com o estatuto:
principalmente nas regiões Norte e Central do a) promover e fomentar atividades científicas e artísti
cas relacionadas com o índio e sua cultura; b) divulgar,
por todos os m eios possíveis, os conhecim entos a res
peito do índio e sua cultura, de modo a tomá-los cada vez
(7) Com a extinção do SPI, o acervo foi transferido mais compreendidos; c) cooperar com qualquer institui
para o Museu do índio, do Rio de Janeiro. ção ou pessoa que tenha objetivos iguais ou similares.
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vínculo ao Museu. Nos vinte anos que trabalhou todo de investigação praticado por Schultz, pois
como assistente de etnologia no Museu Paulista, se tratava de um momento de intensa reflexão e
coletou mais de um terço do acervo etnográfico, ampliação das tendências teóricas trazidas da
registrou suas experiências em inúmeros artigos Europa e sua aplicação na realidade brasileira. A
etnográficos publicados na revista do museu, além prática da pesquisa sobre as sociedades indíge
de produzir cerca de sessenta filmes etnográficos. nas mostrava resultados conflitantes aos ideais
Sua produção tem uma característica peculi positivistas e à teoria evolucionista, pois toma
ar e, por isso, muito rica, pois documentou as va evidente que não só havia uma resistência
culturas indígenas utilizando os recurso textu cultural, como estavam muito longe de desapa
ais, visuais e de coleta sistemática de artefatos. recerem ou se integrarem à sociedade abrangente.
Em muitos casos, os artefatos que foram exibi Harald Schultz foi testemunho de um período
dos nos filmes em processo de confecção, foram no qual surgiu uma nova consciência sobre a
descritos e contextualizados nos artigos e leva questão indígena, gerada, talvez, pela grande cri
dos para o museu, sendo que muitos deles já se por que passou o Serviço de Proteção ao ín
não são mais confeccionados, pois a técnica se dio, e pelas evidências que se chocavam com a
perdeu no tempo, ou estão bem simplificados teoria positivista. Podemos dizer que Schultz é
como conseqüência do contato intercultural. um dos representantes de uma geração de antro
O agrupamento de todo o material produzi pólogos indigenistas, que se preocupava em de
do ao longo de 30 anos de pesquisa sistemática linear o papel decisivo do etnólogo na preserva
e ininterrupta nos permite mapear a trajetória e ção das populações, pois, segundo Baldus, “ao
transformação de vários grupos étnicos, alguns etnólogo caberia, enquanto investigador, estu
hoje extintos ou aculturados. O fato de seus fil dar a fundo a estrutura e função de uma etnia,
mes apresentarem as cenas em tempo real, não para depois, como interventor, dar a sua opinião a
impede a visão etnográfica dos grupos eviden respeito do tratamento a ser empregado para eli
ciados. São filmes de curta duração e temáticos minar ou preservar certos traços culturais. O
possibilitando ao observador a constatação da etnólogo se diferenciava do funcionário adminis
existência da diversidade cultural, ou seja, quan trativo e do missionário, porque se dedicava ex
do o autor explora a temática da aquisição de clusivamente à ciência”. (Gagliardi 1989:252-248).
alimento, destacando a pesca, fornece ao espec Deixa-nos também, um material visual repre
tador a noção das várias técnicas utilizadas en sentativo sobre o qual possa-se refletir metodológi
tre os distintos grupos, além das diferenças de camente no campo da antropologia visual, mesmo
aparência física, de comportamento, de meio que esta ainda não tenha ampla aceitação nas áreas
ambiente, entre outros traços distintivos. de ensino e pesquisa no Brasil.
Cabe observar as limitações de seus filmes, O alcance dos registros através de imagens não
pois o autor não era cineasta e não manifestava tem limites, por avançar as barreiras do tempo. A
uma grande preocupação estética na composição exemplo de Schultz, que pretendia divulgar a um
das imagens, tanto é que, os filmes não foram edita público mais abrangente a diversidade das culturas
dos e nem sonorizados. Entretanto, seus objetivos indígenas. Hoje, as mesmas imagens ampliam as
eram claros: “divulgar, por todos os meios possí pretensões do autor, no sentido de se tomarem fon
veis, os conhecimentos a respeito do índio e sua tes reveladoras que possibilitam o resgate da me
cultura, de modo a tomá-los cada vez melhor com mória cultural de povos que já estão extintos ou
preendidos”, seguindo um dos itens do estatuto da aculturados. Mesmo que questionada, trata-se de
Sociedade Amigos do índio, buscando ainda tor mais uma comprovação de que a adoção do recurso
nar suas imagens acessíveis ao público em geral e de imagens pode cumprir seu objetivo enquanto
não apenas ao pequeno grupo de especialistas. registro, junto à pesquisa antropológica.
Outro ponto polêmico para reflexão, refere-se
à pertinência da expressão fílmica, e à indagação
C onclusão se a palavra “fala” mais que a imagem. Ou será
que am bas refletem aspectos p arciais da
O contexto de desenvolvimento da Antropo realidade?, ou ainda, se a imagem não pode as
logia brasileira tomou oportuna a adoção do mé sumir um papel de equivalência à própria escrita?.
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de A rq u eo lo g ia e E tnologia, São Paulo, 6: 275-286, 1996.
Enquanto buscam os as respostas a estas do e explorado, por se tratar de uma nova cons
e a outras inúm eras questões, não podemos trução do depoim ento antropológico, funda
perder a dimensão de que o potencial da lin da sob uma nova ótica e um outro olhar sobre
guagem imagética merece ser mais investiga o diverso.
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CAMPOS, S.M.C.T.L. A imagem como método de pesquisa antropológica: um ensaio de Antropologia Visual. Rev. do Museu
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Obtenção de fogo 6 ’3 0 ”
Pintando o corpo 6’
Buscando água 3 ’3 0 ”
Luta romana 5 ’3 0 ”
Cozendo beijus 1 5 ’3 0 ”
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CAMPOS, S.M.C.T.L. A imagem como método de pesquisa antropológica: um ensaio de Antropologia Visual. Rev. do Museu
de A rqu eologia e E tn ologia, São Paulo, 6: 275-286, 1996.
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