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Fabrique você mesmo

Tecnologias como as impressoras 3D


deverão trazer para cada um de nós uma
fábrica particular. Quem são os pioneiros
dessa onda que promete uma nova
Revolução Industrial
CAMILA GUIMARÃES
28/04/2014 - 07h00 - Atualizado 28/04/2014 08h11
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A evolução que nos trouxe das cavernas para o mundo conectado pela internet foi
uma sequência de eventos complexos. Envolveram um concerto de novas
tecnologias e ideias. É possível apontar, em cada uma delas, uma inovação
decisiva que, como uma chave, abriu um universo de possibilidades. Foi assim
com o arado, que aumentou a produção agrícola, gerou excedentes e permitiu a
criação de Estados e impérios. Ou com a caravela, que uniu continentes, abriu
caminho para o imperialismo intercontinental e o comércio global. Com a
máquina a vapor, que forneceu energia para a Revolução Industrial e a produção
em massa. Ou, recentemente, com o chip de silício, que permitiu a criação de
computadores, de celulares, da internet e da vida digital. Agora estamos às
vésperas de uma nova revolução. Sua chave são as máquinas capazes de
imprimir em três dimensões, as impressoras 3D.
>> As profissões condenadas a desaparecer – e as que resistirão às novas
tecnologias

As impressoras 3D podem confeccionar em minutos objetos de plástico, metal ou


até materiais orgânicos. Evoluem rápido, e seu preço cai a cada dia. É impossível
hoje imaginar onde isso vai dar. Temos algumas pistas. Imagine que você entra
num site de comércio eletrônico, escolhe um tênis e compra. Em vez de esperar o
pacote pelo correio, você recebe um arquivo digital com o modelo escolhido e
seu computador tira, com a webcam, as dimensões de seus pés. Sua impressora
de casa ou de uma loja próxima recebe as informações e imprime o calçado. Seu
carro enguiçou? Você imprime uma peça nova. Cansou da capinha do celular?
Invente uma e faça em casa. Cansou do celular? Monte outro. O projeto Ara, da
Motorola, desenvolve peças modulares para você armar um telefone ou tablet
como quiser. Outras grandes empresas entenderam esse movimento. A HP
comprou uma fábrica de impressoras 3D e enxerga nelas seu novo modelo de
negócio. O autor americano Chris Anderson fundou uma empresa que fabrica
robôs com código aberto. Você pode montar seu robô para cozinhar, limpar a
piscina ou animar as crianças. De acordo com a revista britânica The
Economist, estamos às vésperas de uma terceira Revolução Industrial. Nela, a
produção em pequena escala e projetos compartilhados de fabricação competirão
com a indústria atual.

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>> A redenção do plágio
Claro que isso tudo ainda não chegou às ruas e aos shoppings. Mas já está em
gestação. Para imaginarmos o que vem por aí e nos prepararmos, é importante
acompanhar de perto quem está na vanguarda dessa revolução. É um grupo de
gente criativa, empreendedora e organizada. Compõem o que chamam de
movimento maker. Ele ganhou força nos Estados Unidos nos últimos dois anos e
começa a fisgar adeptos no Brasil. Como qualquer outro movimento, o Maker é
um fenômeno popular; uma ação organizada de um grupo de pessoas que seguem
ideologias e filosofias afins. O fio condutor das ideias dos makers é: fabrique
você mesmo, não compre produtos ou serviços pré-moldados por grandes
fabricantes e indústrias. “O movimento reúne pessoas apaixonadas, artesãos,
designers, inventores de qualquer coisa, empreendedores que perseguem o
aprendizado, a criatividade e o compartilhamento”, diz a revista Make:,
publicação criada em 2005 para divulgar os feitos dos participantes do
movimento. Acima de tudo, os promotores do movimento acreditam que
qualquer um pode se tornar um maker. “Todos nascemos inventores”, afirma o
americano Dale Dougherty, fundador da Make:.

>> Peggy Johnson: “Um smartphone é uma sala de aula sem paredes”

Amadores com hobbies, inventores de garagem e artesãos sempre estiveram por


aí. Por que agora se tornaram os novos revolucionários do “fabrique você
mesmo”, algo tão grandioso? Seus porta-vozes dizem que foi por causa da
internet. Graças à rede, as pessoas se conectam e compartilham mais. Alguém
que gosta de peças de submarinos da Segunda Guerra Mundial pode encontrar na
internet alguém com exatamente o mesmo interesse. Portais gigantescos, em
diversas línguas, agrupam artistas caseiros, que vendem seus trabalhos feitos em
pequena escala ou sob encomenda – bijuterias, capas de almofada, cartões de
agradecimento, decoração de festas infantis. Além da internet, há o avanço
tecnológico das ferramentas usadas para esse tipo de produção. Embora a
impressora 3D tenha virado o símbolo mais vistoso dessa revolução, ela também
é movida por um conjunto de outras tecnologias, como programas de computador
acessíveis, cortadoras a laser e scanners 3D.

CÉLULAS DA REVOLUÇÃO
Alguns revolucionários brasileiros disseminam por aqui a ideia de Dougherty, da
revista Make: qualquer um pode fabricar alguma coisa. Há duas frentes nesse
sentido. A primeira, conhecida como espaços makers, são salas ou galpões
equipados com computadores e máquinas em que qualquer um pode desenhar,
programar e produzir quase tudo o que quiser. Em alguns deles, paga-se uma taxa
pelo uso. “São lugares onde as pessoas trazem, compartilham e materializam suas
ideias”, afirma Heloísa Neves, diretora da Fab Lab Brasil, ligada à rede
internacional desses laboratórios de fabricação, também chamados de “fab labs”.
Nada muito diferente dos clubes de entusiastas digitais que movimentaram os
primórdios da computação pessoal e reuniam aqueles que se autointitulavam
“hackers”. O berço acadêmico dos “fab labs” é o mesmo dos “hackers”: o
Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Desde a década de 1990, o MIT
estuda a relação entre átomos e bits. Seus laboratórios, criados antes mesmo da
onda maker, atendem perfeitamente aos princípios de criatividade,
compartilhamento e execução de ideias dos makers. Há mais de 200 “fab labs”
espalhados pelo mundo – dois deles em São Paulo. “Nossa missão é, além de dar
acesso aos equipamentos, disseminar a filosofia dessa nova maneira de aprender
e produzir”, diz Heloísa, também sócia do Garagem Fab Lab.

Outro espaço maker deverá chegar ao Brasil até o final do ano, a TechShop. Com
oito unidades nos Estados Unidos, deverá abrir em breve sua primeira na Europa,
na Alemanha. A TechShop vai além da parafernália tecnológica. Fundada em
2005, é uma grande estação de trabalho, em que se paga uma mensalidade para
usar computadores, impressoras e scanners 3D, cortadoras a laser e outros
equipamentos para criar seus protótipos. Também é um centro de ensino, com
pessoal treinado para ajudar o cidadão comum a usar o que há ali. O espaço
criativo é aproveitado por grandes empresas, que mandam seu pessoal de
desenvolvimento de produtos e inovação para fazer cursos lá.

“O brasileiro não tem o hábito dos trabalhos manuais, mas tem criatividade”, diz
o engenheiro paulista José Michel. Ele trará a franquia para o Brasil. “A
TechShop terá aqui um trabalho forte de educação dos usuários.” Formado em
engenharia civil, Michel preferiu, em vez de construir viadutos, trabalhar com
design de produtos. Nos últimos cinco anos, depois de vender seu negócio,
começou a investir num novo tipo de marcenaria. Ao lado das serras tradicionais,
trabalha com uma máquina que esculpe madeira em 3D. Dali, saiu sua última
criação, um motor de uma moto, que deu de presente a um amigo. Michel produz
outros mimos para dar aos outros ou para uso próprio. Como guitarras. Ou o
pisca-pisca de sua moto italiana. O original quebrou, e ele teria de esperar meses,
além de pagar uma fortuna pela reposição da peça. Ele mesmo fabricou um novo.
(Foto: Filipe Redondo/ÉPOCA)
EDUCAÇÃO REVOLUCIONÁRIA
A segunda frente de disseminação do “fabrique você mesmo” está dentro das
escolas. Alguns colégios particulares se apropriaram da filosofia maker para
ensinar de um jeito diferente em seus próprios “fab labs”. Os alunos do professor
Charles Esteves Lima, do Colégio Liessin, no Rio de Janeiro, ganharam uma
impressora 3D e uma máquina de soldagem para tocar projetos pessoais. Pode ser
qualquer coisa. Uma maquete com trens que se movimentam para um projeto da
aula de geografia. Ou um colete massageador. Ou uma bengala eletrônica de
baixo custo para cegos. “O principal é que fabriquem suas próprias ideias”, diz
Lima. No Colégio Bandeirantes, de São Paulo, a sala antes usada para aulas de
informática se transformou no Hub, nome do salão que pode ser usado por
qualquer professor, para qualquer projeto. Os antigos computadores deram lugar
a laptops em mesas móveis e a bancadas com materiais de costura, tintas,
madeira, papéis. “É um espaço colaborativo e criativo; um lugar para fazer
acontecer”, diz Cristiana Mattos, coordenadora de tecnologia do Bandeirantes. O
Hub, criado no início do ano, tem mais de 20 projetos em andamento. “Ele acaba
com a divisão artificial dos temas em disciplinas”, diz Leo Burd, pesquisador do
MIT e consultor do Bandeirantes. “Artes, ciências e engenharia se misturam no
Hub.”

O tipo de aprendizado dentro de laboratórios assim é bem diferente da educação


como a conhecemos, em que o professor transmite um conhecimento pronto ao
aluno. “Os ‘fab labs’ dão recursos para que os alunos criem seu próprio
conhecimento”, afirma Paulo Blinkstein, professor e pesquisador da Faculdade
de Educação da Universidade Stanford, egresso do MIT. “Isso é riquíssimo,
porque, durante a construção de um objeto, eles têm a oportunidade de errar,
rever a teoria e consertar. Um mecanismo poderoso para o aprendizado de
ciências e matemática.” Nas aulas tradicionais de exatas, desde os primeiros anos
escolares acontece o oposto disso. A maioria dos professores despeja teorias
prontas sobre os alunos, e eles rapidamente perdem o interesse na área e
desenvolvem um medo injustificável de errar. Blinkstein lidera, desde 2008, o
projeto fablab@school, que instala laboratórios de fabricação digital dentro de
escolas públicas e particulares em diversos países. Seu objetivo é coletar e
analisar dados sobre o impacto no aprendizado, para mostrar que um “fab lab”
pode mudar a cultura escolar e até a opção de carreira dos alunos. Um dos
resultados da pesquisa mostra que, antes de ter um “fab lab”, 2% dos alunos
seguiriam pela engenharia. Depois, essa proporção foi para 14%.
A filosofia de aprender fazendo também será colocada em prática na nova escola
de engenharia do Insper, em São Paulo. Ela deverá ser inaugurada em 2015. A
ideia é formar engenheiros com perfil de empreendedores, mais bem preparados
para a criação e inovação de produtos. Isso significa mais prática do que traz o
atual currículo dos cursos brasileiros de engenharia. “Os alunos terão aulas
práticas num ‘fab lab’ desde o início do curso”, afirma Vinícius Licks,
coordenador do curso de engenharia mecatrônica e da nova escola.
(Foto: Daryan Dornelles/ÉPOCA)
A CONTRARREVOLUÇÃO
Há muita divergência sobre os rumos do movimento maker. Afinal, o que eles
querem? Muitos gastam tempo inventando apenas pelo prazer de criar algo e de
dominar o processo. Há uma sensação de satisfação pessoal. Mas há também
certo aspecto ideológico e político, ao contrapor o consumidor que compra tudo
pronto da grande indústria ao inventor que faz seus próprios objetos, mais baratos
e sob medida. Alguns comparam os “makers” não apenas aos “hackers”, mas
também aos ativistas da contracultura das décadas de 1960 e 1970, quando
questionavam a industrialização e o domínio de poucos e grandes grupos
econômicos. Afirmam que a produção em pequena escala para toda a
humanidade é inviável economicamente.

Isso seria um retorno a tempos anteriores à Revolução Industrial, quando a


fabricação estava a cargo de artesãos independentes. Eles perderam seus
empregos e conhecimentos para as linhas de produção em massa. Décadas
depois, as habilidades manuais se limitavam a passatempos. Os ativistas da
contracultura pregavam a volta da vida simples (às vezes em comunidades
hippies), em que objetos fossem produzidos pelos próprios indivíduos e,
sobretudo, pregavam o consumo inteligente. “Um consumidor tem mais poder
que um eleitor”, afirmava Stewart Brand, escritor e pensador da contracultura. As
ideias de Brand tiveram papel importante quando, inspirados nos ideais da
contracultura, alguns universitários começaram, na década de 1970, a construir
em suas garagens os computadores pessoais e se tornaram os primeiros hackers.

Depois das comunidades hippies, eram eles que carregavam a bandeira da


emancipação e da rebeldia contra a grande indústria. Alguns são nomes
familiares hoje: Jef Raskin, Steve Jobs, Bill Gates e Paul Allen. Suas invenções
deram tão certo que foram parar na linha de produção. Ironicamente, eles criaram
algumas das maiores indústrias do mundo. Os dois primeiros fundaram a Apple.
Os outros dois, a Microsoft. Questionado recentemente sobre quem, nos dias de
hoje, carrega a bandeira da contracultura, Brand respondeu sem hesitar: os
“makers”.
Os críticos do movimento apontam duas questões. Primeiro, algo parecido com o
que aconteceu com a Apple e a Microsoft poderá ocorrer com os makers. Suas
invenções podem dar tão certo que serão absorvidas ou se transformarão na
grande indústria. A maioria dos “makers” que empreendem são donos de seus
próprios e pequenos negócios. Já há casos de grandes marcas, como a Levi’s, que
contratam “makers” para produzir objetos especiais, como uma bolsa, vendida
por um preço mais alto, já que o consumidor reconhece o valor, por ter sido feita
à mão.

Outro ponto é levantado pelos críticos dos “makers”: as fábricas não são o alvo
certo. As verdadeiras empresas dominantes de hoje são Facebook, Google,
Apple, Amazon e outras do tipo. Revolução mesmo, só quando alguém levantar
bandeira contra elas. Os “makers” rebatem os críticos com desdém. Dizem que
estão equivocados ao deixar de lado o principal: por ora, os “makers” querem,
antes de mais nada, se divertir.
(Fotos: divulgação)

https://epoca.globo.com/vida/vida-util/carreira/noticia/2014/04/bfabrique-voceb-
mesmo.html

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