Resumo: A mística pode ser entendida como uma forma superior que o indivíduo se encontra numa “experiência
transracional”, que o eleva ao mais alto nível de conhecimento. Em um sentido geral, como uma procura do indivíduo
que tenta superar o estado no qual se encontra, é uma forma que os espíritos solitários se utilizam para ter um
encontro com o ser divino. Ainda consta que, os místicos têm a sensação de sentir Deus, sem que haja nenhuma
intermediação. O seu contato com a divindade é único e imediato, e a experiência mística do sujeito é particular, não
pode ser partilhada. Sören Kierkegaard por ter tido uma formação cristã protestante rígida, sem dúvidas, essa
formação o marcou profundamente ao longo de sua vida, procurou em certo sentido se manter cada vez mais
próximo de seu Deus, o que fez com que o mesmo tivesse divergências com o cristianismo protestante de sua
época. Para Kierkegaard, Deus seria um amo que ele não é e também seria um estribilho celestial que se faz
apaziguar. Kierkegaard entende que Deus pode ser encontrado no indivíduo e não na multidão, a multidão seria uma
mentira com vista a um plano terreno. E para se chegar a Deus é necessário que alguém guie o caminho, mas o guia
tem por dever saber mais do que aquele que é guiado, senão, o mestre apenas atrapalha o crescimento espiritual
daquele que já está em um estado mais avançado, neste sentido, o mestre quando percebe que o discípulo não
precisa mais de suas orientações deve deixá-lo que o mesmo siga o próprio caminho. Ao fazer uma leitura da obra
kierkegaardiana é possível identificar nos textos certos traços de misticismo no pensamento do presente autor.
Assim, o objetivo da presente pesquisa consiste em analisar e expor que Kierkegaard tem uma percepção mística
acerca da religião. O método que é empregado consiste numa abordagem teórico-bibliográfica acerca do
pensamento do filósofo dinamarquês, em especial, no que concerne a possibilidade de uma leitura mística dos seus
textos. Com a análise feita em relação ao pensamento de Kierkegaard se pode perceber que o mesmo possui uma
mística que está imbrincada em seu pensamento. Ao analisar a conjectura da obra kierkegaardiana, fica em
evidência que nelas existe uma expressão mística. A angústia toma boa parte de sua obra, ela é o pano de fundo. É
na angústia que Kierkegaard traz à luz respostas a seus questionamentos e é na angústia que se dá o salto
qualitativo, o salto para a fé.
Abraão fica angustiado diante dá prova de fé que Deus faz perante ele e o
mesmo tem duas possibilidade, ele decide acreditar e saltar, e salta para a fé. Portanto,
Abraão passa da conduta ética para a religiosa, pois o mesmo em vias de cometer um
crime acredita e aceita a exigência divina de sacrificar o seu único filho. Neste caso, se
diz que Abraão saltou para fé.
Assim, Deus se apresenta para Kierkegaard como um amo do qual sente medo,
mas esse medo que ele sente consistiria mais precisamente em um espanto, um
espanto que o indivíduo sente diante da estranheza de perceber a sua nulidade, a sua
finitude. Assim, Deus é esse amo que Kierkegaard reconhece não ser. Ao reconhecer a
sua nulidade Kierkegaard se coloca em seu lugar de origem, coloca-se na condição de
servo. Neste caso, ao se pôr nessa condição o filósofo dinamarquês entende o seu
caráter de finitude.
Deus também se apresenta para o filósofo de Copenhague como um Estribilho
Abraão não enxergou a Deus como os olhos humanos, mas com os olhos da fé.
Se por um instante ele tivesse enxergado Deus com os olhos da carne, ele teria
duvidado de sua condição e teria recuado diante das palavras que lhe foram
pronunciadas. Assim, a fé pode ser considerada como uma forma pela qual o indivíduo
tende a conhecer o absoluto, mas esse absoluto não consta fora, pelo contrário, está
“no coração da consciência do infinito” (FARAGO, 2009, p. 159).
De certa maneira, é possível identificar Kierkegaard como um místico, contudo,
um místico na angústia, pois ao vê na angústia um modo pelo qual o homem pode se
auto identificar consigo mesmo. A angústia revela assim a condição na qual o homem
se encontra, a de finitude e por meio dessa finitude procura atingir o infinito. Heidegger
não estaria menos certo em afirmar que o homem é um ser-aí, um ser jogado no
mundo, porém, em Kierkagaard esse homem tem uma saída, saltar, fazer o salto
qualitativo.
Referenciais
______ Temor e tremor. Tradução de Maria José Marinho. São Paulo: Abril Cultural,
1979.