A metodologia que Santo Tomás utilizava para elaborar tais artigos era
muito comum nas Universidades Medievais da época, basicamente
neste método, Tomás inicia com pergunta [questão] e a desenvolve em
artigos. Cada questão disputada pode conter diversos artigos. Cada
artigo considera uma parte da questão, mediante a uma pergunta e
está composto por argumentos prós e contras e uma conclusão, onde
aparece a resposta do autor à pergunta elaborada na forma de artigo
que, por sua vez, compõe a questão. Em cada artigo Tomás procede da
seguinte maneira: ante à pergunta proposta num artigo da questão, ele
a afirma ou nega, expondo em contrário a diversos argumentos. Em
seguida, toma um ou mais argumentos fortes contrários a estes
diversos raciocínios que se seguiram na pergunta inicial. E então, logo
depois destes argumentos que contradizem os anteriores, ele inicia em
conformidade com o que pretende demostrar, uma resposta, onde
escreve no corpo do artigo, uma conclusão-resposta à pergunta feita
inicialmente e termina esclarecendo as dificuldades ou contradições
dos primeiros argumentos expostos.
Para Santo Tomás, existem 2 tipos de correções que são de ofício aos
seus respectivos encarregados de aplica-las, uma é a correção coativa
e a outra a correção caritativa. A diferença entre as 2, além do seu
contexto, é do ofício de quem está encarregado de aplica-las, a primeira
é de ofício(dever) dos superiores aplica-las, pois é uma imposição,
portanto somente os clérigos e prelados podem assim impor para
alguém que faça parte do Corpo Místico de Cristo(Igreja), são as
correções exemplo que implicam numa pena, que chamamos de penas
canônicas ou eclesiásticas, segundo o Prof. Dr. Liyoiti Matsunaga e
Conforme o cânone 1312,8 § 1º e § 2º do CIC/1983, as penas podem
ser medicinais (ou censuras) e penas expiatórias. A excomunhão, o
interdito e a suspensão (cânones 1331 a 1333 do CIC/1983) são
considerados as mais graves censuras e têm como objetivo medicinal
fazer o indivíduo retroceder de sua conduta delituosa. Já o segundo
tipo de correção, a caritativa, como afirma Santo Tomás é ofício de
todos independentes do encargo na Igreja, cumpri-la.
Mas ai fica a questão: até que ponto devemos chegar para salvação do
irmão? Devemos seguir à risca os 4 passos nós importando apenas com
o seguimento ordenado dos passos, ou devemos distinguir até que
ponto devemos chegar para a correção do próximo
Ou seja, tudo tem seu certo limite, e com a correção fraterna não
poderia ser diferente já que estamos tratando do próximo que possui
também certas limitações adversas, espírito fraco, coração perturbado,
razão desprovida do intelecto e diversas outras circunstâncias pela
qual limita as chances de conversão de um irmão.
...ou para revelar que é um pecado cometido por alguém, como diz S.
Jerônimo;
...ou para convencer do seu ato, se o ato se repetir, como diz St.
Agostinho;
...ou para o testemunho de que o irmão que admoesta faz o que lhe
compete, como diz Crisóstomo.
Diz à objeção que, como diz St Agostinho na Regra que se deve antes
mostrar ao superior do que às testemunhas. E, no entanto, mostrar ao
superior ou prelado seria o mesmo que mostrar a Igreja e, portanto
denuncia-lo. Sendo assim que a ordem do Senhor não está no preceito.
Porém, diz o St Tomás que, “St. Agostinho entende que se diga antes ao
prelado do que as testemunhas, segundo que o prelado é certa pessoa
privada que pode ser mais útil do que as demais. Contudo, dizer, desta
forma, ao prelado não é dizer a Igreja, mas quando se diz em público,
como no lugar do juiz competente“.
Não podemos querer ser o “todo poderoso” saindo por ai, agindo
soberbamente e ousando revelar todos os pecados ocultos dos irmãos,
com a intenção que eles perdam sua fama, em outras palavras, sua
dignidade. Pois, este encargo só pertence aquele que é o juiz do oculto,
a saber, Deus, do qual se diz em 1Cor 4, 5 “Ele porá às claras o que está
oculto nas trevas e manifestará os desígnios dos corações”. Só Ele, que
sonda os corações e sabe as intenções do Espírito, pode aplicar desta
pena. Portanto, pode se concluir segundo S. Tomás, que “aquele que
viola o modo e a ordem devidos, corrigindo em público os pecados
ocultos, não faz um bem, mas um mal”. (pr 15.17)
Diz à objeção que é raro que alguém se torne pior, sendo removida sua
boa fama através de outrem e como eles seriam censurados pela
revelação de seus pecados, não seria preceito da lei divina que alguém
seja corrigido em segredo antes de sê-lo me público. Porém, responde
S. Tomás que, como “é raro quando ocorre que os pecados ocultos
sejam publicados; e, por isso, é raro o perigo que aconteça. Se, de fato,
os pecados ocultos são frequentemente publicados, a experiência
avaliaria os perigos disso que se sucederia”. (pr 18)
Portanto, conclui-se que assim como disse St. Agostinho, no livro Sobre
a palavra do Senhor³: “Se negligencias na correção, tornaste-te pior do
que aquele que pecou”. Ora, aquele que pecou o faz contra o preceito.
Logo, parece que não cuida de corrigir o faz contra o preceito e, desse
modo, a correção fraterna se subordina ao preceito.
Além do mais, em Mt 18, 15 lê-se: “Se teu irmão pecar, vai corrigi-lo a
sós; e a Glosa ⁴ diz: “Peca do mesmo modo quem vê que seu irmão
pecar e se cala, como favorecendo o pecado”. Ora, aquele que tendo
pecado não for corrigido, age contra o preceito. Logo, aquele que não
corrige age contra o preceito.
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Considerações finais:
Além do mais, em Mt 18, 15 lê-se. Se teu irmão pecar contra ti, etc,
porém diz a Glosa: Por esta ordem, devemos evitar os escândalos. Ora,
evitar os escândalos cai sob o preceito, como é claro em Rm 14. Logo a
ordem da correção fraterna cai sob o preceito.
Além do mais, diz-se em Eclo 17,12: “Deu a cada um mandamentos com
o próximo”, para que tenham cuidado. “Logo, o homem cai sob o
preceito quando põe o devido cuidado para a salvação do próximo,
corrigindo-o.”
1- Summa, 2-2, q.33, a .2; IV Sent., dist. 19, q.2, a. 1, ad. 6; a.2, q.a 1.
Summa, 2-2, q.33, a .7; IV Sent., dist. 19, q.2, a. 2-3, ad. 6; a.2, q.a 1;
Quodl., I, q. 10, a.1,2; In Match, c.10.
2- Livro A Caridade, a Correção Fraterna e a Esperança; Editora:
Ecclesiae; Tradução: Instituto Aquinate.
3- AGOSTINHO, De Verbis Domini, Sermo 82, C. 4, n.7: PL 38, 508.
4- GLOSSA ORDINARIA, Evangelium secundum Matthaeum, 18, 15:
PL 114, 146-147.
5- AGOSTINHO, De Verbis Domini, Sermo 82, C. 4, n.7: PL 38, 510.