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EDUCAÇÃO
INCLUSIVA E ESPECIAL
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3 INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO INCLUSIVA


7 UNIDADE 1 – Conceitos e Fundamentos da Educação Inclusiva
9 1.1 Do Processo De Integração Ao Processo De Inclusão

12 1.2 A Valorização Das Diferenças Na Escola Como Fator De Inclusão

15 1.3 A Organização Docente na Educação Inclusiva

20 1.4 Uma Experiência De Pesquisa Sobre Inclusão Na Escola Regular – A Realidade Discursiva Dos Profissionais

24 1.5 Que Caminhos O Professor Deve Percorrer Para Ensinar E Aprender Na Diversidade?

28 1.6 Algumas Competências Didáticas Para a Educação Inclusiva

SUMÁRIO
31 1.7 Quanto Vale A Contribuição Dos Pais No Processo De Inclusão?

33 1.8 Conto De Uma Experiência De Inclusão/Exclusão Escolar De Uma Pessoa Portadora De Deficiência Visual

38 UNIDADE 2 – Considerações Finais


39 UNIDADE 3 – Introdução à Educação Especial
41 UNIDADE 4 – Retrospectiva Histórica da Deficiência: Do Banido ao Cidadão, de excepcional a especial
41 4.1 Da Antiguidade clássica à Idade Média

43 4.2 A Idade Moderna: da extrema ignorância às novas ideias

44 4.3 Contemporaneidade e as garantias atuais

46 UNIDADE 5 – A ONU e As Conferências Mundiais


46 5.1 Declaração Universal dos Direitos Humanos – 1948 – o começo de tudo

46 5.2 Declaração dos direitos das pessoas deficientes – 1975

48 5.3 Conferência de Jomtien – 1990

48 5.4 Declaração de Salamanca – 1994

49 5.5 Convenção da Guatemala – 1999

50 5.6 Declaração de Pequim – 2000

52 5.7 Declaração de Montreal – 2004

52 5.8 Convenção dos direitos da pessoa com deficiência da ONU e seu protocolo facultativo – New York – 2007

55 UNIDADE 6 – A Legislação Brasileira para Educação Especial e Inclusiva


56 6.1 Breve retrospectiva da educação especial no Brasil

57 6.2 Política Nacional para Educação Especial

60 6.3 Diretrizes Nacionais para educação Especial


64 UNIDADE 5 – A Educação Especial e a Terminologia mais recente para a área
68 UNIDADE 8 – A Pedagogia da Negação x Educação na Diversidade
72 UNIDADE 9 – A Formação de Professores: Saberes, Competências e Atitudes
76 REFERÊNCIAS
81 ANEXOS
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INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Ao longo das últimas três décadas até tar chamar àqueles que se interessam em
os dias de hoje o tema inclusão escolar entender um pouco mais sobre a comple-
continua a ser amplamente discutido nos xidade do processo de inclusão escolar,
espaços educativos e entre as pessoas no sentido de indicar algumas questões
que direta ou indiretamente, se envolvem que possam favorecer um repensar sobre
com este processo na escola ou em diver- como desenvolver uma educação inclusi-
sos ambientes sociais, onde há interação va, de forma que a própria ação de refletir
de pessoas. Não se pode negar a polêmi- possa significar mudança.
ca que existe em torno das questões que
Para início da discussão destacou-se al-
se relacionam com a inclusão nas escolas
guns conceitos e ideias sobre a educação
regulares de alunos com deficiências ou
inclusiva. Educadores que se dedicaram à
diferenças individuais acentuadas.
pesquisa sobre essa temática tentaram
Para alguns professores, o cotidiano da contextualizar conceitos de um proces-
educação inclusiva é tão complexo que ele so inclusivo de educação que consideram
se torna difícil de enfrentar, ou até mes- pertinente ao direito de participação de
mo, impossível de acontecer algo de novo. todos no espaço escolar. Sobretudo, por
Ele se apresenta, às vezes, de forma tão meio de práticas e ações estruturadas
incerta, tão cheia de dúvidas que gera in- para atender com igualdade a todos. A
segurança e medo de enfrentar situações discussão de ambos educadores mostrou
inesperadas. Isso, porque dependendo da que para se efetivar a educação inclusiva
situação a ser encarada poderá represen- de fato, haverá a necessidade de trans-
tar uma ameaça a identidade do professor formações na estrutura e organização
como sujeito que ensina. do tempo e espaço escolar. Além disso, é
preciso haver formação permanente dos
Não há dúvida de que a atividade do-
profissionais que atuam diretamente com
cente não é simples, principalmente,
a diversidade sociocultural presente num
quando se lida com uma heterogeneidade
mesmo espaço educacional escolar.
de maior complexidade. A formação do-
cente oferecida nos moldes que se apre- Uma das tentativas de mudanças de
senta nas instituições de ensino superior, paradigma educacional ficou registrada
infelizmente, não favorece uma visão na substituição do termo integração para
dessa complexidade que há nas relações o termo inclusão. Mudanças de estruturas
socioculturais no espaço escolar. Com e paradigmas são muitas vezes, lentas e
isso, o profissional terá que adquirir ex- até dolorosas. Mudar tradições requer pa-
periências e aprender a lidar com todas as ciência, persistência e enfrentamento de
situações inesperadas a partir de uma for- resistências e limites. Infelizmente, não
mação continuada em serviço e por meio se pode afirmar, hoje, que a inclusão como
de estudos. processo de inserção total, se instalou de
fato nas escolas brasileiras e substituiu,
No decorrer desta reflexão vamos ten-
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completamente, o modelo da integração, teóricas e práticas de como se fazer inclu-


processo parcial de inserção. são no espaço da escola regular de ensino.
Uma ideia que mereceu destaque e que
Neste sentido, há de se perceber que
precisa ser levada em conta é o fato de
este sonho de incluir todos num mesmo
que num processo de educação inclusiva
espaço e com as mesmas oportunidades
há a necessidade de formação de grupos
de aprendizado se realiza lentamente, por
de estudos e discussões entre os profis-
meio de tentativas, erros e acertos. Assim
sionais da educação sobre os problemas
sendo, torna-se necessário pensar que o
educacionais nas escolas. O foco central
processo de educação inclusiva vai exigir
desse modelo educacional precisa se fun-
de fato mudança de paradigma educacio-
damentar, prioritariamente, na apren-
nal e o fim da subdivisão do ensino espe-
dizagem do aluno. E para assegurar que
cial e ensino regular. Entretanto, sabe-se
ocorra a inclusão, se fará necessário, a
que é direito de qualquer pessoa, ocupar
compreensão de que é fundamental uma
um espaço na escola pública, tendo os
aliança entre teoria e prática em qualquer
mesmos direitos e oportunidades para
ação pedagógica que venha a ser execu-
aprender.
tada na escola.
Se numa visão tradicional de educação
Ao tratar neste estudo de uma experi-
o processo de integração imperou como
ência de pesquisa de inclusão na escola
paradigma de educação ideal, na atuali-
regular, a ideia foi mostrar um pouco da vi-
dade, urge uma mudança de mentalidade.
vência de uma aventura, que buscou res-
No contexto da inclusão escolar é neces-
postas para incertezas e angústias que
sário valorizar as diferenças individuais,
faziam parte da realidade de uma educa-
no sentido de que aprende-se com maior
dora, que buscava conhecer os caminhos
qualidade quando o professor deixa de
que contribuem para a inclusão/exclusão
ser o único detentor do saber. Num es-
de pessoas com deficiência no cenário es-
paço onde as diferenças individuais são
colar.
respeitadas e valorizadas haverá espaço
para a cooperação, para a solidariedade Na trajetória de pesquisa, a realidade
e para as significativas trocas culturais. do cenário revelou a necessidade de maior
Nessa ambiência educativa se instala as conhecimento do processo de educação
oportunidades de aprender com os pares, inclusiva por parte dos profissionais. Mos-
onde todos os alunos se beneficiam aca- trou que para se efetivar a inclusão na es-
demicamente, tendo a chance de expan- cola regular é preciso conhecer a essência
dir suas ideias, emoções e potencialida- do processo, planejar e organizar as ações
des que numa outra situação não lhe seria educativas. É necessário acreditar que
possível. todos os alunos são capazes de aprender
e, que a inclusão só se efetiva de fato,
Para se discutir uma forma mais ade-
quando há reconhecimento das diferen-
quada de organização da escola para o
ças individuais como fator positivo para
desenvolvimento da educação inclusiva,
enriquecimento do espaço cultural. Quan-
recorreu-se a pesquisadores que com per-
do há cooperação e busca de estratégias
tinência levantaram importantes ideias
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para desenvolver uma educação que va- participam de reuniões, que se aliam à es-
lorize todos os alunos nas suas variadas cola nas suas dificuldades de lidar com as
habilidades e talentos. diferenças individuais estão favorecendo
o êxito da inclusão. Contudo, torna-se ne-
É válido ressaltar alguns caminhos que
cessário que a escola abra as portas para a
são fundamentais ao professor quando
família de forma a envolvê-la como força-
este pretende ensinar e aprender na di-
-tarefa nesse processo inclusivo de edu-
versidade. É preciso ter a coragem de mu-
cação.
dar o que já está pronto, alçar vôos mais
altos e vislumbrar novos caminhos quando Encerrando a presente discussão ficou
se pretende ensinar e aprender num pro- exposto o conto de uma história relatada
cesso de educação inclusiva. A tarefa de por uma pessoa portadora de deficiência
ensinar é complexa, pois motivar alguém visual que descreveu algumas de suas
a aprender depende de estratégias cria- experiências escolares, com o propósito
tivas para fazê-lo de forma eficaz. Assim, de contribuir para uma reflexão sobre as
todo esse processo educacional vai de- ações e atitudes dos profissionais que fi-
mandar do professor não só conhecimen- zeram parte do seu processo educativo. É
tos científicos, mas, também uma tomada importante observar na presente história
de atitude para mudar as velhas práticas, certa fragilidade dos professores para li-
tornando-as espaços de interação e de dar com as diferenças individuais. Pode-
respeito à cultura e ao conhecimento de -se analisar também, que algumas ações
todos. daquela realidade vivida, infelizmente,
podem ser associadas a alguns fatos da
A seguir, a preocupação ficou em tor-
realidade educacional do momento atual,
no da discussão de quais competências
configurando ações excludentes.
didáticas poderiam favorecer a educação
inclusiva. Ficou registrado que uma edu- Importa ressaltar que o quadro con-
cação inclusiva exige uma ação docente ceitual e teórico que fundamentou este
dinâmica e inovadora que vai requerer estudo não esgotou as ideias que se rela-
uma formação docente continuada em cionam com o tema educação inclusiva. É
serviço. Na versão inclusiva os docentes importante lembrar, como foi mencionado
se colocam como gestores da ação edu- neste texto, que é necessário e urgente
cativa, tomam decisões, e têm liderança que os profissionais da educação perce-
compartilhada nos diversos espaços das bam a importância da formação continua-
escolas. Neste sentido, o professor busca da em serviço. Pois esta é estratégia que
estratégias específicas de atendimento pode permitir a melhoria das ações educa-
educacional especializado para atender tivas, no cenário da educação inclusiva.
às necessidades de todos os alunos.
Portanto, a partir deste estudo, espe-
Ficou também registrada a importân- ra-se que haja uma leitura crítica com rela-
cia da parceria dos pais com a escola para ção ao processo de inclusão. Vale lembrar
favorecer uma melhor qualidade ao pro- que nunca se discutiu tanto, esse tema,
cesso de educação inclusiva. Os pais que como nos dias de hoje. E nessa perspec-
acompanham o trabalho da escola, que tiva, muitos são os desafios a enfrentar e
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toda e qualquer tentativa de desenvolver


uma educação que promova a inclusão de
todos na escola ou na vida em socieda-
de, implicará em mudanças das condições
atuais em que se encontram as escolas re-
gulares. Então, fique alerta!
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UNIDADE 1 – Conceitos e Fundamentos
da Educação Inclusiva
O conceito de educação inclusiva mente, de seu talento, deficiência, origem
é amplo e complexo. Ele se expressa em sócio-econômica ou origem cultural onde
diferentes formas de concepção e con- todos possam se apropriar, igualmente,
textos. Para uma melhor compreensão de todos os benefícios que a escola pode
deste estudo é necessário levar em con- oferecer. A inclusão é um valor. Ela é o que
ta a questão dos direitos humanos e das fazemos com todas as crianças. Ela é o que
diferenças individuais. Sabemos que a desejamos para nós mesmos. Nesse mo-
inclusão de todos nas escolas brasileiras, delo de educação todos os alunos juntos
ainda, não é uma realidade de fato. Muitos têm o direito à mesma preparação para a
educadores que se dedicam a pesquisas vida na comunidade.
sobre esse assunto revelam que para ha-
Baseado neste conceito pode-se afir-
ver inclusão escolar na realidade das esco-
mar que esse tipo de educação requer
las regulares de ensino há a necessidade
uma transformação dos sistemas de ensi-
de mudanças de paradigmas educacionais
no no país. As escolas brasileiras se con-
e afirmam que, infelizmente, existe uma
figuram, ao longo da história de educação
cultura que persiste em conservar práti-
brasileira até os dias de hoje, no retrato de
cas excludentes no cenário das escolas.
uma educação para uma parcela da socie-
Neste sentido, a presente reflexão, dade. As mudanças ocorrem de forma len-
poderá contribuir com algumas questões ta com relação ao processo de inclusão de
sobre o desenvolvimento do processo todos no espaço educacional escolar. Bas-
de educação inclusiva. Elas ressaltam a ta verificar o índice de evasão, repetência
importância de valorizar as diferenças e e insucesso no processo de aprendizagem
oportunizar a todos os alunos, o acesso ao dos alunos.
espaço escolar e ao conhecimento cientí-
Na visão de Mitler (2003), a educação
fico com igualdade de oportunidades.
inclusiva se baseia num sistema de valo-
Antes de abordar algumas reflexões res que faz com que todos os alunos se
sobre o paradigma da educação inclusiva, sintam bem vindos à escola e esta celebra
considera-se pertinente analisar os con- a diversidade que tem como base o gêne-
ceitos de educadores que se dedicaram ro, a nacionalidade, a raça, a linguagem de
e ou dedicam a pesquisar sobre esse pro- origem, o nível de aquisição educacional e
cesso educacional. Educadores e pessoas cultural, ou a deficiência. Esse modelo de
que direta ou indiretamente, defendem o inclusão, porém, implica em uma reforma
direito de todos na escola com as mesmas radical nas escolas em termos de currícu-
oportunidades de acesso e permanência e lo, avaliação, pedagogia e agrupamento
aprendizagem de qualidade. dos alunos nas atividades de sala de aula.
Implica, também, no preparo apropriado
Nas ideias de Stainback (1999), a edu-
dos professores mediante uma formação
cação inclusiva é a prática da inclusão es-
de uma educação e desenvolvimento pro-
colar de todos os alunos, independente-
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fissional contínuo durante a vida profis- e isto requer mudança de antigos para
sional. novos paradigmas. E é a partir da compre-
ensão de inúmeros aspectos ligados aos
A ideia acima revela que o processo para
conceitos de igualdade e de diferença, é
uma educação inclusiva caminha como ex-
que se pode investir em seres humanos
pressão de luta para o alcance dos direitos
melhores e mais fraternos. E assim sen-
humanos, tendo, portanto, a necessidade
do, haverá significativa contribuição para
de amplas transformações.
profundas modificações na área educa-
Mantoan(2003), destaca que a educa- cional.
ção inclusiva implica em mudança de pa-
De acordo com Guimarães (2003), a in-
radigma educacional. É a nossa capacida-
clusão escolar que funciona se baseia na
de de entender e reconhecer o outro e,
ideia de que incluir é mais do que criar con-
assim, ter o privilégio de conviver e com-
dições para os deficientes, é um desafio
partilhar com pessoas diferentes de nós.
que implica em mudança da escola como
A educação inclusiva acolhe todas as pes-
um todo, partindo do projeto pedagógico,
soas, sem exceção. Esse processo prevê a
à postura do professor diante dos alunos.
inserção de todos os alunos de forma ra-
Na educação inclusiva não se espera que o
dical, completa e sistemática. A inclusão
aluno com deficiência se integre à escola,
escolar é produto de uma educação plural,
mas que esta se transforme de maneira a
democrática e transgressora que provoca
possibilitar a inserção total dele.
uma crise de identidade institucional, que
por sua vez, abala a identidade dos pro- Considerando a ideia acima, vale a pena
fessores, pois parte dos mesmos buscam chamar a atenção pelo fato de que a esco-
alunos de modelos ideais, permanentes e la precisa de transformação para receber
essenciais. qualquer tipo de aluno, mesmo aqueles
com deficiência. Valendo-se disso, uma
A ideia de aluno ideal pode nos levar
questão merece ser refletida: Há interes-
a refletir sobre a cultura da homogenei-
se e vontade política por parte de todos os
dade, muitas vezes, desejada por educa-
profissionais das escolas em mudar, radi-
dores que temem mudanças, utilizam de
calmente, atitudes, práticas e conceitos?
práticas imutáveis e rotineiras e desvalo-
rizam as diferenças individuais. Nas últimas décadas, o tema inclusão
tem sido palco de debate para educado-
O conceito de educação inclusiva nas
res, pais de alunos com deficiências e pes-
palavras de Ferreira e Guimarães (2003)
soas diretamente ligadas a instituições
se refere ao acesso à escola de todos os
que lutam pela inclusão e valorização das
alunos, indistintamente, independente-
pessoas que portam alguma deficiência
mente, do fato de apresentarem dificul-
ou dificuldades de aprendizagem. Pensar
dades e ou deficiências. Nesse modelo de
a educação numa lógica inclusiva é pensá-
educação é preciso criar alternativas téc-
-la em novas perspectivas educacionais,
nico-pedagógicas, psicopedagógicas e so-
é caminhar para a busca dos direitos, bem
ciais que possam contribuir para o proces-
como, levantar a bandeira da igualdade no
so de aprendizagem de todas as crianças,
cenário educativo.
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Para discutir com maior propriedade a colar regular e especial, em todos os tipos
educação inclusiva, consideramos neces- de atendimento, ou seja, classes especiais
sário refletir como esse processo surgiu e em escolas comuns, ensino itinerante,
como ele vem sendo analisado no cenário sala de recursos, classes hospitalares, en-
da educação escolar. sino domiciliar e outros.

Neste sentido, o aluno é submetido a


1.1 Do Processo De Integra- um processo parcial de inserção, pois o
ção Ao Processo De Inclusão sistema segrega quando oferece serviços
Para uma maior compreensão das polê- educacionais de forma diferenciada para
micas que envolvem a ideia dos processos alguns em lugares especiais, ou seja, a es-
de integração ao processo de inclusão, cola não muda como um todo, mas os alu-
Mantoan (2003, p. 22) sugere importan- nos precisam se deslocar, e mudar para se
tes reflexões que podem favorecer uma adaptarem às exigências de um sistema
melhor compreensão desses paradigmas que prima pela homogeneização e nivela-
educacionais. A discussão sobre integra- mento da aprendizagem. Assim sendo, o
ção e inclusão provoca dúvidas devido aos processo de integração tem por objetivo
significados semelhantes, porém, ambos inserir um aluno ou um grupo de alunos,
se referem à situações de inserção no en- que já foi anteriormente excluído.
sino regular de maneiras diferentes e se O sistema de integração na escola de-
divergem nos fundamentos teórico-me- nota situações de seleção e discrimina-
todológicos. Para iniciar a discussão ela ção, pois nem todos os alunos com defici-
faz o seguinte registro sobre o processo ência cabem nas turmas de ensino regular.
de integração escolar: Há, infelizmente, resistências por parte
Os movimentos em favor da integra- de algumas escolas em aceitar a presença
ção de crianças com deficiência surgiu de pessoas que possuem características
nos Países Nórdicos, em 1969, quando marcantes, sejam elas físicas ou mentais.
se questionaram as práticas sociais e E a situação é mais constrangedora, ain-
escolares de segregação. Sua noção de da, quando a escola nem se quer avalia as
base é o princípio de normalização, que reais condições do aluno de participar das
não sendo específico da vida escolar, atividades cotidianas do espaço educati-
atinge o conjunto de manifestações e vo.
atividades humanas e todas as etapas Considerando esta situação, percebe-
da vida das pessoas, sejam elas afeta- -se que a escola não muda, não avalia suas
das ou não por uma incapacidade, difi- estruturas, não mexe no sistema que já se
culdade ou inadaptação. encontra enraizado em ideias inflexíveis
e rigidamente registradas num modelo
No processo de integração escolar o cultural que parece se apresentar resis-
aluno participa das atividades escolares tente a mudanças.
na sala de aula do ensino regular e tam-
bém do ensino de escolas especiais. Assim Em situações onde a integração escolar
sendo, esse aluno transita no sistema es- é o único caminho que a escola adota, con-
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cebe-se uma proposta de trabalho menos labilidade do direito à vida, à liberdade, à


holística, pois os objetivos educacionais igualdade, à segurança e à propriedade.
são reduzidos para compensar as dificul- O registro deste artigo é claro e objetivo
dades de aprendizagem, os currículos são no que se refere aos direitos de qualquer
adaptados e as avaliações são especiais cidadão ter os mesmos direitos.
limitando a capacidade de transgressão
Neste sentido, caberia a qualquer es-
dos limites individuais, ou seja, é prede-
cola investir na organização de seu siste-
terminada a quantidade de conhecimen-
ma de ensino pautado na ideia de inclu-
tos que o aluno consegue aprender. Com
são. Sobre a questão da inclusão escolar,
base nesta afirmação, pode-se entender
Mantoan (2003) também sugere uma
que num sistema de ensino no qual não se
importante contribuição para as escolas
acredita na capacidade do ser humano de
brasileiras, no momento em que discute
ser mais e de aprender sempre fica clara a
conceitos, alternativas de melhoria da
situação de exclusão.
qualidade do ensino e favorece um novo
A integração escolar pode ser enten- olhar sobre a questão da valorização das
dida como o “especial na educação”, ou diferenças individuais no espaço da sala
seja, a justaposição do ensino especial de aula e na escola. Ela enfatiza que para
ao regular, ocasionando um inchaço, a escola ser inclusiva precisa partir de
desta modalidade, pelo deslocamento um bom projeto pedagógico que come-
de profissionais, recursos, métodos e ça pela reflexão. Um bom projeto valori-
técnicas da educação especial às esco- za a cultura, a história e as experiências
las regulares. (MANTOAN, 2003, p. 23) anteriores da turma. Os alunos precisam
de liberdade para aprender do seu modo,
de acordo com as suas condições. E isso
A ideia acima revela que o objetivo da
vale para os estudantes com deficiência
integração escolar se limita a inserir o
ou não.
aluno na escola regular sem mudanças e
abolição dos serviços segregados da edu- O processo de educação inclusiva exi-
cação especial. Além disso, essa modali- ge de fato mudança de paradigma educa-
dade exige que o aluno é que se adapte cional. Exige que chegue ao fim a subdi-
às exigências do sistema que já encontra visão do ensino especial e ensino regular.
alojado. Pois é direito de qualquer pessoa, ocupar
um espaço na escola pública, e ou, na so-
No caso da inclusão escolar, o trata-
ciedade, seja em qualquer tempo ou es-
mento das diferenças tem uma política
paço, considerando as normativas insti-
de organização que se baseia no prin-
tuídas em lei.
cípio da igualdade. Esta no sentido de
favorecer o direito a ter direitos iguais. A partir do momento que se instaura a
Pois a Constituição Federal prescreve no educação inclusiva no meio educativo ha-
seu Art. 5º que todos são iguais perante verá obstáculos reais a serem transpos-
a lei, sem distinção de qualquer nature- tos, pois os impactos da inclusão numa
za, garantindo-se aos brasileiros e aos cultura já instalada podem provocar in-
estrangeiros residentes no país a invio- segurança, insatisfação, medo e aversão
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ao processo. Além disso, essa nova visão Neste sentido, Mitler (2003) apud Morin
inclusiva de trabalho vai abalar a rotina (2000), que sugere com pertinência a se-
da massificação dos programas prontos e guinte ideia que poderia servir de relação
indiscutíveis e das classes especiais nas com essa transição de processos:
escolas que passarão a não existir mais.
Estamos numa época em que temos
Assim sendo, todas as turmas da es- um velho paradigma, um velho princí-
cola inclusiva se constituirão em espa- pio que nos obriga a disjuntar, a simpli-
ços da diversidade. Espaço para as trocas ficar, a reduzir, a formalizar sem poder
culturais, para o respeito à capacidade comunicar aquilo que está disjunto e
de cada aluno para aprender dentro do sem poder conceber os conjuntos ou
seu tempo. Tais afirmações podem gerar a complexidade do real. Estamos num
insegurança e até mesmo descrédito de período “entre dois mundos”: um que
alguns professores que não acreditam está prestes a morrer, mas que não
neste modelo de educação. morreu ainda, e outro, que quer nas-
A educação inclusiva vai, com certeza, cer, mas que não nasceu ainda. Es-
mexer com conceitos, paradigmas e cul- tamos numa grande confusão, num
turas cristalizadas de que não é possível desses períodos angustiantes, de
trabalhar na perspectiva da igualdade. nascimentos que se assemelham aos
Mitler (2003) apud Cláudia Werneck que períodos de agonia, de mortes.
salienta com propriedade a seguinte
contribuição “Traga dúvidas e incertezas, A atualidade da era do conhecimento,
doses de ansiedade, construa e descons- da globalização e da complexidade impri-
trua hipóteses, pois aí reside a base do me muitos desafios para a escola. Sem
pensamento científico do novo século . contar a questão da diversidade cultural
Um século cansado de verdades, mas se- que a cada dia evolui com as novas ideias,
dento de caminhos.” com as experiências e com as transforma-
ções que ocorrem na sociedade de manei-
Nessa reflexão presencia-se a emer- ra muito rápida. Toda essa mudança tende
gência de mudanças, de posturas cien- a provocar certa angústia nos professores
tíficas e complexas. O sujeito dessa so- que se sentem como se estivessem sem-
ciedade atual não pode mais conviver pre defasados diante da sala de aula.
com verdades prontas e incontestáveis.
É preciso caminhar para frente em busca Mantoan (2003) apud Mitler (2000),
de novas ideias e resolução para os pro- salienta que os professores do ensino
blemas que afligem. regular se consideram despreparados e
incompetentes para lidar com as diferen-
A realidade atual requer mudança de ças nas salas de aula, especialmente, ao
antigos para novos paradigmas. A tran- atendimento de alunos com deficiência,
sição do processo de integração e inclu- pois seus colegas especializados sempre
são passa por momentos de desafios, se distinguiram por realizar unicamente
incertezas, conflitos, medos e acima de esses atendimentos e exageraram essa
tudo insegurança de se lançar ao novo. capacidade de fazê-lo aos olhos de todos.
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De acordo com a autora pode-se anali-


sar que há por parte dos professores certa Se quisermos que cada pessoa seja
insegurança para lidar com situações que um membro respeitado de nossas comu-
fogem da normalidade da prática comum nidades, não podemos separar algumas
crianças de seus pares durante sua vida
do cotidiano. O fato dos colegas especiali-
escolar. Susan Stainback
zados exagerar na excelência da sua prá-
tica acaba favorecendo aos professores
Abordar a questão das diferenças indi-
da escola regular de ensino o sentimento
viduais é uma tarefa um tanto complexa.
de incompetência.
Porque ao mesmo tempo em que falamos
Vale a pena lembrar que mesmo a par- em diferenças, falamos de semelhanças.
tir de alguns acontecimentos como semi- A presente discussão não irá abordar a
nários e congressos destinados a discu- questão das diferenças de uma manei-
tir a educação inclusiva percebe-se que ra peculiar. O contexto de discussão vai
a prática da inclusão total e irrestrita é além das características físicas ou op-
incipiente nas escolas regulares. Muitas ções pessoais por determinadas prefe-
tentativas de inclusão escolar se tornam rências por coisas ou objetos.
experiências frustrantes devido a ações
As diferenças individuais aqui colo-
que não encontram novas alternativas de
cadas são mais profundas, se referem à
mudanças que favoreçam uma real edu-
essência da pessoa, por isso, é de funda-
cação inclusiva.
mental importância que sejam enalteci-
A importância central em torno desta das e valorizadas pela escola. É preciso
discussão está no fato de que a exclusão reconhecer que cada ser humano possui
e a discriminação devem ser extintas da suas especificidades e habilidades natu-
escola. Todos os alunos devem ter as mes- rais. São seres humanos diferentes por
mas chances de acesso aos conhecimen- natureza, pertencem a grupos variados,
tos e às atividades realizadas pela escola. convivem e desenvolvem-se em cultu-
É preciso que se reconheça que a igual- ras distintas. São diferentes por direito.
dade é direito de todos. Que a inclusão é Infelizmente, existem culturas que insis-
dever da escola e que os profissionais que tem em diferenciar pessoas por condi-
atuam no espaço educativo reconheçam ções intelectuais, sociais, físicas, dentre
que as diferenças existem e que elas de- outras. É preciso pensar que tratar pes-
vem ser incluídas dentro da escola para soas diferentemente, enfatizando suas
favorecer a riqueza da multiplicidade cul- diferenças de maneira a inferiorizá-las, é
tural e dos princípios éticos da valorização criar estigmas, é excluir.
humana.
Conviver reconhecendo e valori-
1.2 A Valorização Das Dife- zando as diferenças é uma experiên-
cia essencial à nossa existência, des-
renças Na Escola Como Fa- de que definamos a natureza dessa
tor De Inclusão relação, distinguindo o estar com o
outro do estar junto ao outro. Estar junto
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todo o grupo, enquanto outras precisam


ao outro tem a ver com o que o outro provar o seu valor porque são considera-
é – é um ser que não é como eu sou, das diferentes. Quando as crianças não
que não sou eu. Essa relação estabe- aprendem juntas e não se compreendem
lece uma identidade imposta, forjada mutuamente, enraíza-se o fenômeno do
e rotulada pelo outro. Estar com o ou- “nós e eles”. É preciso acreditar que toda
tro, tem a ver com quem é esse outro, criança tem algo a oferecer, e seus talen-
esse desconhecido, um enigma que tos não serão aproveitados pelos pares
tenho de decifrar e que vai sendo des- se segregarmos aquelas percebidas por
velado à medida que se constrói entre “nós como eles”.
nós um vínculo pelo qual nos confron-
A ideia acima ilustra uma das maiores
tamos, nos identificamos e nos cons-
dificuldades que precisam ser repensa-
tituímos como seres singulares e mu-
das e discutidas nas escolas. A constru-
tantes. (MANTOAN(2004/2205, p. 13
ção de novos paradigmas de inclusão
apud SILVA, 2000).
deve partir da ideia da valorização das di-
ferenças e do direito a igualdade. Na atu-
A escola como instituição formadora alidade, não é possível negar a política e
de ideias, não pode destruir as diferen- a organização das diferenças. A socieda-
ças no seu meio. Deve acima de tudo ex- de de hoje vive numa época em que se
tinguir a tentativa de assegurar homoge- assiste de maneira acelerada o abalo das
neidade das turmas escolares e acolher a certezas. Emerge o paradigma da lógica
diversidade cultural existente nos vários includente da complexidade.
pensamentos e vivências pessoais num
mesmo espaço. Morin (2002) concebe que a contribui-
ção da cultura das humanidades para o
Numa entrevista à revista Pátio, estudo da condição humana é fundamen-
Stainback (2004/2005) respondendo à tal. O estudo da linguagem sob a forma
pergunta se as escolas deveriam estar mais consumada que é a forma natural,
equipadas para atender a qualquer tipo literária e poética é criada na essência de
de criança com necessidade especial ou cada um. No momento em que a escola
seria melhor se patologias específicas conceder espaço para que todos se mani-
fossem atendidas somente em educação festem, independentemente de crença,
especial, ela ressaltou que: se quisermos etnia, condição física, deficiência, estará
que cada pessoa seja um membro res- criando um conjunto de estruturas para o
peitado em qualquer lugar, não se pode êxito da inclusão. Na educação inclusiva,
separar algumas crianças de seus pares as informações devem se transformar
durante a trajetória de vida escolar. Não em conhecimento. E esse conhecimento
há justificativa para a segregação nas precisa ser transformado em sabedoria
escolas e nem na sociedade. Todos os para que haja compreensão humana.
indivíduos têm direito de ser parte in-
tegrante de qualquer espaço na socie- A compreensão humana chega às pes-
dade. Não acredito que apenas algumas soas quando se sente e se concebe os
pessoas têm o direito de ser parte de humanos como sujeitos. Ela torna as pes-
14

soas abertas ao sofrimento e a alegria. E cial, política e humana exige um novo mo-
é a partir da compreensão humana que delo de educação. A escola atual tem uma
se pode lutar contra o ódio e a exclusão. função mais complexa. O seu processo de
formação deve estar pautado no desper-
Considerando as palavras desse autor,
tar da reflexão crítica e sistemática sobre
percebe-se que as maiores dificuldades da
a natureza humana, na importância das
escola em trabalhar com a inclusão ocorre
diferenças individuais, na valorização da
por falta de sabedoria de como lidar com
capacidade criadora de cada ser humano,
a diversidade humana. Enfrentar essa di-
na consciência da incompletude e da ne-
ficuldade exige o trabalho de uma peda-
cessidade de ser mais a cada dia.
gogia criativa que dialogue com a incerte-
za humana, que prepare as pessoas para Não se pode negar que falta um longo
situações inesperadas, que conscientize caminho para que as escolas brasileiras
as pessoas de que sua própria vida é uma incorporem na sua estrutura organizacio-
aventura da humanidade. nal todos estes requisitos mencionados.
Mas não se pode negar, também, que há
A diversidade humana apresenta-se
tentativas de avanço no aprofundamento
assim, como algo vivido e a viver. É um ca-
de valores e atitudes compatíveis com os
minho sem volta. Querendo ou não, todos
ideais de igualdade, diferença, diversida-
fazem parte dessa diversidade humana. É
de e deficiência.
preciso, portanto, lutar para adquirir res-
peito e o direito de ser diferente. Basea- Segundo Ferreira e Guimarães (2003),
do nesta reflexão, Ferreira e Guimarães é necessário repensar o significado da
(2003, p. 41), registraram a seguinte ideia: prática pedagógica na escola regular, para
poder assim evitar os erros do passado,
A sociedade está se tornando mais quando os alunos com deficiência eram
complexa a cada dia: a diversidade au- deixados á margem. Neste sentido, cabe a
menta de forma acelerada. Com isso, escola se tornar uma ambiente de ensino
imperceptivelmente, muda também a e aprendizagem de qualidade, garantindo
forma de compreender o mundo e os aos alunos, sem distinção, o apoio e incen-
próprios semelhantes. É este o novo tivo para que sejam sujeitos ativos nesse
paradigma que está nascendo: “viver novo tipo de sociedade.
a igualdade na diferença”, “integrar na
Pode-se concluir, portanto, que é ur-
diversidade” – eis o apelo dos líderes
gente repensar sobre a questão das di-
dos movimentos em conflito. O dife-
ferenças individuais e construir novos
rente fica cada vez mais comum.
paradigmas de convivência humana. Não
se pode negar a beleza da diversidade hu-
Partindo desta reflexão, qual é o papel
mana. É preciso percebê-la como algo po-
da escola a desempenhar para valorizar
sitivo e importante para a compreensão
todas as pessoas que ocupam um espaço
humana.
no seu interior? A escola de hoje tem que
assumir uma função diferente das quais
assumiu no passado. Hoje a demanda so-
15

1.3 A Organização Docente imutáveis. E isso poderia desencadear


uma transferência de posturas, aprendi-
na Educação Inclusiva zados e crenças para a sua própria prática
Teoria e Prática Segundo Pesquisa- docente, configurando-a num espaço de
dores educação que favoreça uma relativa par-
cela de repetição dos moldes tradicionais
Muitos professores reagem com per-
de educação.
plexidade quando se discute questões
relacionadas à inclusão na escola regular. Segundo Mantoan (2003) o argumen-
Há de se reconhecer que uma expressiva to usado, geralmente, pelos professores
parcela de professores foram formados a quando se vêem diante da possibilidade
partir de um processo de educação tradi- de envolvimento com um grupo mais he-
cional onde priorizava-se a memorização terogêneo de alunos é dizer que não estão
de conteúdos prontos e acabados que ao preparados ou não terem sido preparados
serem ensinados pelo professor da época para desenvolver a inclusão de alunos
tornava-se uma verdade única e indiscu- que não se enquadram no padrão da dita
tível. normalidade. Alguns professores reagem,
inicialmente, à metodologia de oferecer a
Ao analisar esta ideia pode-se notar
todos as mesmas oportunidades nas mais
que nesse modelo de educação havia pa-
variadas estratégias pedagógicas de tra-
dronização do saber e todos aqueles que
balho.
não se enquadravam ao nível mínimo exi-
gido pela escola, eram, totalmente, exclu- Não é novidade que mesmo que o pro-
ídos dela, sem justificativas que pudes- fessor utilize da mesma metodologia para
sem ser discutidas. ensinar todos os alunos, os resultados
serão diferentes. Porém, sabe-se que há
Certamente, um professor que fora
expectativas entre professores de que
formado nestes moldes educativos e que
todos os alunos aprendem os conteúdos
não tenha uma formação continuada na
num mesmo tempo e espaço.
profissão docente, poderá ter maiores
dificuldades de lidar com as diferenças Esta ideia revela a necessidade de co-
individuais no seu espaço pedagógico de nhecimento por parte desses professo-
atuação. Admite-se pensar assim, o fato res de como se processa a construção
de carregar na sua bagagem cultural um do conhecimento. E, enquanto esses se
retrato padronizado de ensino incompatí- fundamentarem no senso comum para
vel com as necessidades de um paradigma desenvolver sua prática de educação não
de educação inclusiva. haverá compreensão científica de como
desenvolver de forma eficaz uma educa-
O que pode acontecer, no entanto, com
ção inclusiva de fato.
professores oriundos dessa experiência
pedagógica tradicional é o fato dos mes- Considerando esta ideia, vale a pena
mos encontrar dificuldades de se des- citar as palavras de Mantoan (2003) que
garrar dessa referência de padrões pré- sugere que para se efetivar, na realidade,
-estabelecidos, rígidos e considerados uma educação inclusiva há a necessidade
16

de formação de grupos de estudos e dis- incertezas, dúvidas e novidades que vão


cussões sobre os problemas educacionais surgir no cotidiano do cenário educati-
nas escolas. Ainda, recomenda que a or- vo. E para não se desvencilhar da rota da
ganização desses grupos deve partir dos educação inclusiva, cada profissional en-
próprios professores no momento em que volvido vai precisar se libertar dos velhos,
se encontram na escola. As reuniões de- superficiais e rígidos paradigmas de inte-
vem ter como ponto de partida as neces- gração e inclusão parcial na escola de en-
sidades e os interesses comuns de alguns sino regular.
professores, como também, a discussão
Mitler(2003, p. 135) oferece uma con-
de estratégias de trabalho na sala de aula
tribuição quando assinala que na escola
e a troca de experiências que deram certo.
nunca deve deixar de haver questiona-
A questão sugerida acima é pertinente mentos, e acrescenta:
e fundamentalmente, importante para a
reflexão dos professores. Pois a intera- pensar a educação numa lógica bu-
ção, as trocas culturais de experiências rocrática e corporativa de mera adição,
são estratégias significativas para o de- confrontação ou justaposição de “pa-
senvolvimento da educação inclusiva. Se- péis educacionais” é pensar a educa-
gundo Mitler (2003) a partir do momento ção numa perspectiva profundamente
que os profissionais ligados è educação redutora, social e culturalmente per-
têm compreensão de inúmeros aspectos versa. Reforçar os mecanismos de in-
ligados aos conceitos de igualdade e de teração solidária e os procedimentos
diferença, fica mais fácil investir em seres cooperativos é, pois, um imperativo de
humanos melhores, mais fraternos e isso, qualquer política educativa que pre-
consequentemente, vai resultar em boas tenda assumir a educação como uma
modificações na área educacional. responsabilidade social.

Neste sentido, o autor chama a aten- Dessa forma, a interação é uma ativida-
ção para a importância da discussão nas de que deve acontecer como fator impres-
escolas de questões ligadas à diferença cindível nos ambientes da escola para que
e igualdade. Acredita-se que o ponto de se privilegie a circulação de informações,
partida para iniciar um trabalho de edu- a cultura da cooperação, o crescimento da
cação inclusiva é o conhecimento desses formação voltado para a construção de
conceitos. Um ensino inclusivo, como se novos conhecimentos, bem como a apren-
sabe é moroso porque requer a conscien- dizagem do aprender sempre.
tização da mudança de paradigmas anti-
gos para novos paradigmas. A educação inclusiva não prevê a
utilização de práticas de ensino escolar
Não é novidade que a implementação
específicas para esta ou aquela defici-
de um processo de educação inclusiva
ência e/ ou dificuldades de aprendiza-
irá exigir paciência, estudo, cooperação,
gem. Os alunos aprendem nos seus li-
solidariedade, conhecimento do funcio-
mites e se o ensino for, de fato, de boa
namento da inclusão e uma boa dose de
qualidade, o professor levará em conta
coragem e entusiasmo para enfrentar as
17

esses limites e explorará conveniente- É certo que não se consegue prede-


mente, as possibilidades de cada um. terminar a extensão e profundidade
Não se trata de uma aceitação passiva dos conteúdos a serem construídos
do desempenho escolar, e sim de agir- pelos alunos, nem facilitar/adaptar as
mos com realismo e coerência e ad- atividades escolares para alguns, por-
mitirmos que as escolas existem para que somos incapazes de prever, de an-
formar as novas gerações, e não ape- temão, as dificuldades e as facilidades
nas alguns de seus futuros membros, que cada um poderá encontrar para
os mais capacitados e privilegiados. realizá-las. Porque é o aluno que se
MANTOAN, 2003, p. 67). adapta ao novo conhecimento e só ele
pode regular o processo de construção
As palavras da autora mostram o de- intelectual. A maioria dos professores
safio que a realidade desse modelo de não pensa assim nem é alertada para
educação vai exigir do professor e demais esse fato e se apavora, com razão, ao
pessoas envolvidas no processo de apren- receber alunos com deficiência ou com
dizagem dos alunos com maiores dificul- problemas de aprendizagem em suas
dades. Contudo, ainda, vai ser necessário turmas, pois prevê como será difícil dar
reorganizar as estruturas educacionais conta das diferenciações que um pre-
embasadas nos moldes de uma educação tenso ensino inclusivo exigir-lhes-á.
que privilegia uma minoria.

A educação inclusiva impõe a rees- A educação assim compreendida, pro-


truturação dos espaços em sala de aula. porcionaria aos professores algumas re-
Neste contexto, os alunos não devem flexões que poderiam favorecer uma nova
se apoiar somente no professor, ou seja, estratégia pedagógica, onde o aluno dei-
precisam de liberdade para se apoiarem xaria de aprender sozinho na sua cartei-
mutuamente com todos os colegas de ra e passaria a buscar conhecimento com
classe. O papel controlador do professor todos ou com aqueles que lhe atribuísse
como único facilitador da aprendizagem maior confiança ou facilidade de entendi-
deixa de existir e o cenário educativo se mento.
abre para que todos ensinem e aprendem A superação das dificuldades e insegu-
juntos. rança poderia ser erradicada a partir de um
Uma situação que pode contribuir para trabalho voltado à exploração de talentos,
a aprendizagem de todos se encontra na ao desenvolvimento de predisposições, à
oportunidade das trocas de experiências criação de alternativas pedagógicas atu-
através de trabalhos coletivos em grupos alizadas e recheadas de possibilidades de
pequenos e diversificados que exercitam transcendência da criatividade. O ensino
a capacidade de decisão dos alunos diante deixaria de ter apenas uma metodologia
da escolha das tarefas. Mantoan (2003, p. para ser mediado e passaria a ser relacio-
68), destaca a seguinte reflexão com per- nado à vida dos alunos e da sociedade em
tinência: que se vive na realidade atual.

O foco central da educação inclusiva


18

não se fundamenta, prioritariamente, no to e de significações, em contraposição a


ensino e sim, na aprendizagem do aluno. currículos conteudistas, a verdades pron-
O processo de educação, assim entendi- tas e acabadas, listadas em programas es-
do, segundo Mitler (2003) implica a exis- colares seriados;
tência de processos transformadores que
a integração de saberes, decorrente
decorrem da experiência, algo inerente
da transversalidade curricular e que se
a cada sujeito e que depende da ação, da
contrapõe ao consumo passivo de infor-
interação e transação entre sujeito e ob-
mações e de conhecimentos sem sentido;
jeto, sujeito e meio.
policompreensões da realidade;
Para que a turma toda seja capaz de
aprender novos conhecimentos, o pro- a descoberta, a inventividade e a au-
fessor precisa ter consciência de que cada tonomia do sujeito, na conquista do co-
aluno já sabe alguma coisa, e que qualquer nhecimento;
educando é capaz de aprender dentro
ambientes polissêmicos, favorecidos
das suas capacidades cognitivas. Saben-
por temas de estudo que partem da re-
do disso, um dos caminhos é trabalhar os
alidade, da identidade sociocultural dos
conteúdos e atividades respeitando sem-
alunos, contra toda a ênfase no primado
pre as diferenças individuais, oferecendo
do enunciado desencarnado e no conhe-
estratégias pedagógicas dinâmicas, inte-
cimento pelo conhecimento.
rativas, integradoras, cooperativas e dia-
lógicas. Aliado a essas contribuições,
Diante dessas sugestões, vale ainda, outras de expressiva importância são
relembrar a questão já mencionada neste sugeridas por Mitler(2003, p. 152)
estudo de que o aluno é que vai se adap- para atender à proposta da educa-
tar ao novo conhecimento e que somente ção inclusiva:
ele pode regular o processo de constru-
Aprende-se não só com a escola e,
ção intelectual, porém, o professor po-
muito menos, só fora dela;
derá contribuir para que haja um equilí-
brio emocional diante das dificuldades de Aprende-se a vida inteira, através
aprendizagem que, muitas vezes, surgem das formas de viver e conviver;
e desencadeia falta de segurança, de ou-
Processos cognitivos e processos vi-
sadia e de motivação do aluno.
tais encontram-se e interagem constan-
Algumas outras ideias propostas temente;
por Mantoan (2003, p. 71) apud Gallo Aprende-se pelas expressões da au-
1999), podem servir de sugestões to-organização da complexidade e da per-
para a melhoria da prática da educa- manente conectividade de TODOS com
ção inclusiva: TODOS, em todos os momentos e etapas
o rompimento das fronteiras entre as do processo evolutivo;
disciplinas curriculares; Cada ser vivo, para existir e viver tem
a formação de redes de conhecimen- que se flexibilizar, adaptar-se, reestruturar-
19

-se, interagir, criar, coevoluir e transformar; serve-se de folhas mimeografadas e xe-


rocadas durante todo o período de ensino
Diante dessas reflexões, percebe-se
para que todos os alunos as preencham
que uma proposta de inclusão total vai
ao mesmo tempo, respondendo às mes-
demandar dos envolvidos no contexto
mas perguntas, com as mesmas respos-
desse processo, algumas posturas inova-
tas. Não é a favor de propor projetos de
doras, atitudes ousadas e conhecimentos
trabalho totalmente desvinculados das
biopsicossocial e histórico. Assim, caberá,
experiências e do interesse da turma,
principalmente o professor, como gestor
que na maioria das vezes, só serve para
da sala de aula, promover o ensino para
demonstrar a pseudo-adesão do profes-
todos, sabendo que cada educando vai
sor às inovações. E, também não é a favor
aprender dentro do seu ritmo de capaci-
da organização do modo fragmentado do
dade cognitiva. Porém, o professor pode
emprego do dia letivo, que se apresen-
e deve estimular e transgressão dos limi-
ta com rigidez e determinação de tempo
tes oferecendo atividades desafiadoras e
igual para que todos aprendam num mes-
carregadas de significado e sentido para
mo período, e ainda, com conteúdos es-
os alunos.
tanques desta ou daquela disciplina.
Parafraseando Mantoan (2003), algu-
A rotina escolar desenvolvida nestes
mas práticas consagradas nas escolas não
moldes retrata a exclusão escolar que de
são capazes de ensinar a turma toda. Elas
alguma forma atinge àqueles que apre-
contribuem para uma maior seleção e dis-
sentam uma maior dificuldade de apren-
criminação quando não são desenvolvidas
der ou deficiência específica ou necessita
a partir da visão de que cada pessoa pos-
de maior tempo para aprender. Pode-se
sui um processo de conhecimento dife-
imaginar qual seria a reação desses alunos
rente.
que rejeitam essas propostas de trabalho.
Assim sendo a autora destacou que é Em muitas ocasiões esse ensino seletivo
contra a proposta de trabalhos coletivos causa indisciplina, passividade, revolta,
que se resumem em atividades individuais evasão e frustrações que poderão ser car-
realizadas ao mesmo tempo pela turma. É regadas pelo resto da vida.
contra ensinar com ênfase e unicamente,
Ao refletir sobre as ideias acima, po-
a partir dos conteúdos programáticos da
de-se concluir que o êxito da educação
série. É contra adotar o livro didático como
inclusiva depende, de várias mudanças
única ferramenta exclusiva de orientação
de paradigma educacional escolar, a co-
dos programas de ensino. É contra a con-
meçar pela transformação nas práticas
siderar a prova final como único instru-
educativas da escola regular. Foi possível
mento para diagnosticar o desempenho
perceber que com práticas pedagógicas
escolar do aluno.
inflexíveis, seletivas, preconceituosas e
Outras práticas, segundo a mesma discriminatórias, a exclusão vai se alastrar
autora, não contribuem para o pleno de- e se perpetuar no cenário da escola regu-
senvolvimento da inclusão. Como por lar. Acredita-se, também que é necessário
exemplo, não é a favor ao professor que que os profissionais envolvidos direta e
20

indiretamente, na educação inclusiva tra- pela escola. Tais profissionais contribuí-


balhem, inovem e ousem na implantação ram com a pesquisa relatando crenças e
e execução desse modelo de educação, ideias sobre como concebiam e trabalha-
acreditando na otimização da perspectiva vam a inclusão no contexto das ativida-
inclusiva. des ligadas ao processo.

Na perspectiva de analisar crenças e


1.4 Uma Experiência De Pes- ideias dos profissionais que faziam parte
quisa Sobre Inclusão Na Es- de uma escola que estava envolvida no
processo de inclusão e que era a escola
cola Regular – A Realidade considerada modelo para incluir todos os
Discursiva Dos Profissionais alunos, foram realizadas entrevistas com
A intenção aqui é compartilhar uma a diretora, a supervisora pedagógica e a
experiência de pesquisa sobre a inclusão professora da sala de aula onde estudava
realizada numa escola da rede regular o aluno incluído.
de ensino, onde havia uma criança com A intenção presente nessa prática
Síndrome de Down de sete anos de ida- investigativa era conhecer alguns ele-
de matriculada na educação Infantil de mentos importantes relacionados a esse
uma escola da rede pública municipal de processo inclusivo, e, além disso, refletir
ensino. Concretamente, a pesquisa foi fala/ação, crenças e se havia possíveis
realizada durante o ano de 2004 e teve resistências desses profissionais que
por objetivo analisar o desenvolvimento participavam diretamente do desenvol-
do processo de inclusão realizado a partir vimento desse processo de inclusão.
da permanência dessa criança nesse am-
biente educativo. A esse respeito, a diretora da escola
foi a primeira profissional a ser entrevis-
Espera-se que este relato possa con- tada. A escolha se deu, segundo a pes-
tribuir para um novo repensar sobre a quisadora, pelo fato da diretora ser a pro-
educação inclusiva e mostrar que não fissional quem decidia sobre a matrícula,
basta incluir alunos com necessidades ou não, dos alunos que ingressavam na
educacionais especiais, sem acreditar na escola. Segundo Mantoan (2001), esses
possibilidade de aprender todo dia com líderes dão o “tom” do trabalho nas esco-
as experiências cotidianas, sem buscar las e podem contribuir bastante para as
novas estratégias de trabalho e, sem inovações, como a inclusão, que trazem
contudo, buscar conhecimentos que ser- novas oportunidades educacionais para
virão de guia no enfrentamento das difi- todos.
culdades que tal processo possa deman-
dar no cenário da escola. Ao ser indagada sobre o desenvolvi-
mento do processo de inclusão que acon-
As experiências pesquisadas por Ne- tecia na escola em que trabalha e se a
ves(2005) apresentadas aqui fazem mesma acredita na possibilidade de des-
parte da rotina de trabalho de profissio- se processo dar certo na escola regular, a
nais que estão diretamente envolvidos diretora assim se posicionou:
no processo de inclusão desenvolvidos
21

totalmente, preparado porque a realida-


Eu acredito que a inclusão dá certo. de exige sempre posturas diferentes para
Muito certo. Tanto que se não houves- cada cenário real de educação. Tudo muda
se a inclusão eu acho que não seria um a cada tempo e espaço. É preciso crer que é
trabalho perfeito do profissional da preciso se formar todo dia, a todo tempo e
educação. Que a inclusão dá abertu- com situações inesperadas que surgem no
ra para o próprio profissional da edu- cotidiano da escola.
cação, que goste realmente do seu
De acordo com Ferreira e Guimarães
trabalho e tem dom. Vê que é através
(2003, p. 22) “torna-se imperativo refletir
dessa inclusão é que podemos alcan-
alguns conceitos e estudar seus aspectos
çar os nossos objetivos. Porque se nós
históricos, culturais e sociais para se com-
realizamos algo com uma criança que
preender o que está implícito na inserção
precisa de mais atenção e carinho e
do aluno com deficiência no ensino regular.”
isso temos condições de dar, então nós Pois o simples fato de aceitar um aluno com
vamos ver que somos preparados para deficiência, afirmar que acredita na inclu-
trabalhar com essas crianças. Então, são não significa que o aluno foi totalmente
por isso eu acho que dá certo. E temos incluído.
que continuar porque através da inclu-
são é que vamos alcançar os nossos No decorrer das atividades de entrevis-
objetivos. tas, foi solicitado à supervisora pedagógica
um momento para que pudesse responder
Refletindo sobre seu depoimento, pode- a algumas questões sobre o processo inclu-
-se pensar que no universo escolar, muitas sivo da escola. De imediato, segundo a pes-
vezes, ao oferecer mais atenção e carinho quisadora, foi negada a sua contribuição,
para esse ou aquele aluno, poderia estar pois a mesma relatou que precisava saber
praticando um preconceito ou discrimina- que perguntas seriam feitas. Afirmou que
ção, pelo fato de não acreditar na capacida- não gostaria de responder oralmente às
de de desenvolvimento do aluno. perguntas, ou melhor, responderia se fosse
através de questionário para responder em
No depoimento, a diretora ressalta que é casa. Ainda, acrescentou que não gostaria
através da inclusão que vai alcançar os ob- que fosse gravada a sua voz no aparelho de
jetivos, porém não define que objetivos são gravador, instrumento que seria usado no
esses. Pode-se pensar através da sua fala momento da entrevista.
que há certa indefinição do que seja a in-
clusão, pois a mesma afirma que a inclusão Posteriormente, atendendo à solicita-
dá abertura para o profissional da educação ção da mesma para que fosse realizada a
que goste, realmente do seu trabalho e tem conversa, num outro dia, a supervisora foi
dom, em seguida, afirma que os profissio- procurada para a realização da entrevis-
nais estão preparados para trabalhar com ta. Pesquisadora e supervisora foram para
essas crianças. uma sala que estava vazia e iniciaram a con-
versa. Ao ser questionada se acredita na in-
Não se pode esquecer de que o preparo clusão e qual a sua ideia sobre o processo,
para a inclusão se faz no cotidiano e sem- assim a supervisora fez a seguinte leitura:
pre. Não se deve afirmar que alguém está,
22

formação que abordasse metodologias


“Acredito. Os alunos portadores de inovadoras quanto ao modelo de educação
necessidades especiais devem conviver inclusiva.
com crianças do ensino regular porque a
Torna-se imperativo ressaltar que um
convivência no meio de onde há diferen-
dos caminhos para melhor formação des-
ças lhes trarão mais oportunidades de
ses profissionais que lidam, diretamente,
socialização e momentos diversificados
com todo o processo ensino aprendizagem
de aprendizagens também.”.
é o exercício constante e sistemático de
Em sua leitura, ela afirmou com segu- compartilhamento de ideias, sentimentos
rança a importância do convívio dos alunos e ações entre todos, diretores, supervi-
com necessidades especiais com crianças sores e professores, que devem partir do
do ensino regular. Porém, um fato chamou aprimoramento em serviço. Esse exercício
a atenção: Qual o porquê da inseguran- é realizado sobre as experiências concre-
ça em responder à entrevista oralmente. tas, os problemas reais, as situações do co-
Considerando esse fato, vale a pena refle- tidiano que, muitas vezes, desequilibram
tir: Por que uma pessoa que participa de o trabalho inclusivo no interior da escola. É
um processo de inclusão escolar, se envol- preciso levar em conta que esta pode ser a
ve nas atividades diárias e resiste discutir matéria-prima das mudanças pretendidas
essa realidade vivida no cotidiano? para o êxito da educação inclusiva. (MAN-
TOAN, 2003)
A partir desse depoimento há de se
constatar a dificuldade que muitos profis- Para dar sequência à importante tare-
sionais, ainda, encontram para trabalhar fa de conhecer a crença desses profissio-
com o processo de inclusão. Muitos profis- nais no que dizia respeito à inclusão, numa
sionais sentem insegurança em discutir o outra ocasião, foi solicitado a entrevista à
assunto. Têm dificuldade de se livrar das professora da turma nomeada de inclusiva
discussões polêmicas que se relacionam pelos profissionais da escola. A entrevis-
com a inclusão. Sentem-se inseguros para ta ocorreu numa sala de aula que também
tomar atitudes corajosas em relação aos estava vazia, num momento extra da aula.
professores, aos pais, à comunidade esco- No momento em que foi questionada se a
lar como um todo. mesma acreditava na inclusão e porquê, a
professora afirmou, categoricamente:
Stainback, Stainback e Karagiannis
(1999), ressaltam que existem muitas ten- Eu acredito que possa ter inclusão
tativas para se resistir ao ensino inclusivo social, não a inclusão pedagógica no
e que talvez o indicador mais revelador da momento, esta está em processo de
resistência à inclusão esteja contido nas mudança. As pessoas ainda têm receio,
estatísticas referentes aos alunos com tem medo, por não ter apoio, por a lei
deficiência. Pois, o fato de receber alunos não ser cumprida como realmente ela
com deficiência tende a gerar maior inse- vem escrita. Então o professor de es-
gurança, ao passo que professores e co- cola regular se sente com medo, com
ordenadores pedagógicos das últimas dé- receio de trabalhar, por não conhecer e
cadas quase não tiveram a chance de uma por não ter suporte.
23

Nesse depoimento a professora res- No plano da educação escolar é preciso


salta a impossibilidade de haver inclusão aprender com a prática, construir teorias a
pedagógica no momento. A este respeito partir daquilo que funcionou bem na ação
como se pode analisar o discurso que re- desempenhada. A qualidade do trabalho
vela a possibilidade de credibilidade na in- docente não pode se resumir à questão de
clusão social e não na inclusão pedagógi- ter ou não um apoio ou suporte. É preciso
ca? Vale pensar, também, sobre o fato de reconhecer que aprende-se todo dia com
trabalhar com o processo e não se sentir falhas e acertos. E nessa ação, reflexão e
sujeito dele. Essa ideia pode levar a pen- ação é que o profissional da educação vai
sar que esse processo de inclusão não se contribuindo para a evolução do processo
efetivou no espaço educacional. de ensino e aprendizagem.

Baseado nestes pressupostos, Manto- Não se pode também esquecer que o


an (2003, p. 78) oferece uma contribuição professor é peça-chave no êxito da inclu-
quando diz que “o argumento mais fre- são, por isso, ele não pode se tornar um
quente dos professores, quando resistem mero ensinante. Ele precisa deixar esse
à inclusão, é não estarem ou não terem “medo” e insegurança de trabalhar com
sido preparados para esse trabalho.” E as diferenças na sala de aula, sejam ela
acrescenta que a maioria dos professores de qualquer origem e estar consciente de
tem uma visão funcional do ensino que que é possível aprender todo dia.
estão acostumados a lidar na rotina diária
“Quando vivemos a autenticidade
e tudo o que pode vir a ameaçar o rompi-
exigida pela prática de ensinar-apren-
mento do esquema de trabalho prático
der participamos de uma experiên-
que aprenderam a aplicar em suas salas
cia total, diretiva, política, ideológica,
de aula é inicialmente rejeitado.
gnosiológica, pedagógica, estética e
Acredita-se que o professor é peça ética, em que a boniteza deve achar-se
fundamental no êxito da inclusão. Ele é de mãos dadas com a decência e com a
sujeito ativo no processo, entretanto, seriedade.” (FREIRE, 1996, p. 26)
precisa acreditar na possibilidade de pro-
A situação real da escola onde se realizou
mover uma educação inclusiva de fato,
a pesquisa, retratada nos discursos de seus
ter a consciência da importância do cres-
profissionais revelou a necessidade de apri-
cimento e aperfeiçoamento de suas habi-
moramento e conhecimento do real signifi-
lidades diante das dúvidas e incertezas do
cado do processo de inclusão, suas crenças
cotidiano da sala de aula e da escola.
em torno do saber teórico e prático pareceu
Reportando ao depoimento da profes- trazer no bojo da subjetivação de ambas um
sora, quando destaca que o professor tem antagonismo presente na identidade e no
receio de trabalhar, por não conhecer, isto papel social.
poderia estar se constituindo numa teoria
Mantoan (2003) destaca que o fato dos
criada a partir do receio de que no ques-
profissionais da educação fundamentarem
tionamento da própria prática, nas com-
suas práticas e seus argumentos pedagógi-
parações, na análise das circunstâncias e
cos no senso comum dificulta a explicitação
dos fatos que provocam perturbações.
24

dos problemas de aprendizagem. E essa di- aula.


ficuldade pode mudar o caminho da traje-
Daí, torna-se necessário que educadores
tória escolar de alunos que, muitas vezes
busquem sua excelência em um dos atos
são encaminhados indevidamente para as
mais nobres da vida que é educar respeitan-
modalidades do ensino especial e outras si-
do as diferenças individuais. E, só a partir da
tuações segregativas de atendimento edu-
consciência de que todos os seres humanos
cacional.
são constituídos de culturas diferentes e
Morin (2002, p. 99-100) assim se mani- ritmos de aprendizagem variados é que os
festa com relação à resistência a mudanças: educadores poderão afirmar-se agentes de
“[...]. Há uma resistência obtusa, inclusive transformação pessoal, social e inclusivo.
entre os espíritos refinados. Para eles, o de-
Portanto, vale a pena registrar que os
safio é invisível. A cada tentativa de refor-
educadores devem ficar atentos às suas
ma, mínima que seja, a resistência aumen-
atitudes, desde a fala à ação, pois o repen-
ta.”
sar desses dois aspectos é inerente durante
As discussões com as profissionais da toda a trajetória de trabalho escolar. A esco-
escola trilharam no eixo dos saberes da in- la enquanto espaço sócio-político-cultural
clusão que aos poucos revelaram algumas e espaço de direito de todos demanda por
ideias frágeis do ponto de vista do conhe- educadores que conheçam as estruturas de
cimento de uma verdadeira educação in- um ensino para todos e que busquem uma
clusiva. Porém, neste sentido, é necessário formação que lhes ofereça conhecimento
questionar: Em que cultura de inclusão, es- suficiente para trabalhar a educação inclu-
ses profissionais se sustentaram para assu- siva de todos.
mirem a tarefa de desenvolver a educação
inclusiva? Há compreensão da complexida- 1.5 Que Caminhos O Pro-
de que envolve as questões de diversida-
des e diferenças?
fessor Deve Percorrer Para
Há de se pensar que o processo de inclu-
Ensinar E Aprender Na Di-
são, em alguns casos é abortado, devido o versidade?
fato do desconhecimento, em outros, de Nesta discussão pretende-se abordar
práticas revestidas de seleção e exclusão alguns caminhos fundamentais que o pro-
que passam despercebidas no tempo e no fessor deve encontrar para desenvolver
espaço. E nesse espaço e tempo, o aluno práticas pedagógicas de qualidade tendo
perde a chance de ocupar seu espaço de di- em vista ensinar a turma toda sem precon-
reito na escola e na sociedade. ceitos e exclusão. A expressão parece uma
A partir dessa reflexão, Mantoan (2001), afirmativa simples, mas não é. A dimensão
dá outra importante contribuição quando e complexidade que envolve a busca desses
diz que nem todos os caminhos levam à in- caminhos assustam e causam incertezas
clusão e que incluir tem a ver com o desafio que irão rondar o dia a dia do professor du-
de reconhecer que a exclusão é a negação rante seu trabalho.
da diversidade e das diferenças nas salas de Antes de destacar quais os compromis-
25

sos e ações serão necessárias ao professor em alguns casos nem se quer há o domínio
para que desenvolva uma prática de educa- dos conteúdos básicos a serem ministrados
ção inclusiva de qualidade e dentro dos pa- em sala de aula... (VASCONCELLOS, 2003), P.
drões do atendimento à diversidade, torna- 14).
-se necessário refletir algumas dificuldades
A situação acima destacada denota a fra-
da profissão que o professor enfrenta na
gilidade da formação dos professores para
realidade dos dias de hoje.
o magistério. Sem contar que muitos deles
Vasconcellos (2003), destacou que nas permanecem muitos anos na carreira docen-
últimas décadas ocorreram variadas mu- te sem uma formação continuada relaciona-
danças na escola brasileira, e isso de certa da à profissão. E isso poderia se denominar o
forma, influenciou as condições de vida e de verdadeiro caos da educação.
trabalho dos professores, deixando-os num
Nesse sentido, vale a pena questio-
dilema. De um lado, o professor pondera seu
nar: Como um professor advindo dessa for-
gosto pelo magistério, as alegrias que encon-
mação única e, provavelmente, ultrapassada
tra no exercício da função, os anos dedicados
no sentido de conhecimentos científicos,
à profissão, com também a sua remuneração
dentre outros, poderia favorecer uma apren-
que, independentemente do valor, de algu-
dizagem significativa, atualizada e coerente
ma forma garante-lhe a sobrevivência. De
com a diversidade de alunos que ocupa os
outro lado, emerge um conjunto de fatores
bancos das escolas de hoje?
bastante desestimuladores como a falta de
reconhecimento de seu trabalho por parte Seria um equívoco não buscar maior com-
dos dirigentes do sistema de educação, dos preensão para essa face da realidade. É ne-
pais, da equipe da escola, dos alunos e até cessário discutir resultados de pesquisas,
dos colegas. Como se não bastasse, a sobre- usar a imaginação, a intuição, a criatividade
carga de trabalho, as exigências crescentes para encontrar alternativas de melhorias nas
frente às condições mínimas que não são ga- situações que fazem muitas vezes o profes-
rantidas, a falta de clareza do seu papel. sor colecionar rótulos e estigmas.

Diante desse quadro cabe destacar que


esses dilemas precisam que ser discutidos A situação de muitos professores,
e enfrentados entre toda a equipe de traba- como constatamos, está difícil; procuram
lho, além de ser fator fundamental de refle- então, alternativas: O que fazer? Tal pro-
xão para cada educador na sua individualida- cedimento é absolutamente razoável.
de, poder encontrar suas próprias respostas. Ocorre que acabam buscando fora de si a
É certo que a tarefa é complexa, contudo, resposta; não percebem que a alternativa
torna-se necessário criar perspectivas holís- tem de fazer parte do seu plano de ação,
ticas em torno da educação escolar. tem de entrar no seu movimento reflexi-
vo. Além disso, não conseguem perceber
Muitas instituições passam uma visão re- o que de bom já fazem, não valorizam a
ducionista da atividade docente, de maneira própria prática, que seria ponto de parti-
que o professor recém-formado considera- da para novos avanços. (VASCONCELLOS,
-se um “especialista”, não sendo raro encon- 2003, P. 14)
trarmos uma postura até arrogante, quando
26

O autor procurou mostrar que é neces- O professor precisa desenvolver sua


sário ganhar clareza em relação às finali- capacidade reflexiva. É preciso vencer
dades e propósitos que se estabelecem inércias, ter vontade e persistência. É pre-
como metas, como sonho. É preciso ser ciso dialogar com o outro e consigo mes-
capaz de ter a coragem de mudar o que já mo atingindo o nível da crítica que permi-
está pronto, alçar vôos mais altos e vis- ta agir, melhorar e falar com o poder da
lumbrar novos caminhos. razão.

Entretanto, o que se verifica é que mui- Imbernon (2000, p. 48), destaca


tos ideais e sonhos morrem, por falta de cinco grandes linhas e eixos de atua-
ousadia e coragem de aprender a apren- ção na formação permanente do pro-
der sempre, todo dia, toda hora, com to- fessor e que as considera como base
das as pessoas que nos cercam. E pode se para uma reflexão dos sujeitos sobre
considerar que é na escola o lugar mais sua prática docente:
digno de encontrar novos conhecimen-
tos. Não se pretende aqui nesta discus- A reflexão prático-teórica sobre a
são esgotar as possibilidades de ideias própria prática mediante a análise, a com-
para ensinar e aprender na diversidade. É preensão, a interpretação e a intervenção
preciso conscientizar-se da complexidade sobre a realidade. A capacidade do pro-
de uma prática transformadora. Torna-se fessor de gerar conhecimento pedagógi-
necessário pensar que o problema não é co por meio da prática educativa;
apenas ter o que fazer e saber o que deve A troca de experiências entre iguais
ser feito. O que interessa é interiorizar para tornar possível a atualização em to-
conceitos, elaborar planos de ação, lançar dos os campos de intervenção educativa
mão de métodos criativos, construir no- e aumentar a comunicação entre os pro-
vas competências e descobrir espaços de fessores;
autonomia.
A união da formação a um projeto de
Interessa agora discutir que caminhos trabalho;
o professor deve trilhar para desenvolver
uma prática de educação inclusiva com A formação como estímulo críti-
competência e qualidade na docência. De co ante as práticas profissionais como a
acordo com Imbernon (2000, p. 99), “a hierarquia, o sexismo, prolietarização, o
qualidade não está unicamente no conte- individualismo, o pouco prestígio etc., e
údo, e sim na interatividade do processo, práticas sociais como a exclusão, a intole-
na dinâmica do grupo, no uso das ativida- rância;
des, no estilo do formador ou professor/a,
O desenvolvimento profissional da
no material que se utiliza.” Desse modo,
instituição educativa mediante o trabalho
assume importância a reflexão sobre a
conjunto para transformar essa prática.
prática em um contexto determinado, a
Possibilitar a passagem da experiência de
fundamentação em estabelecer estraté-
inovação (isolada e individual) à inovação
gias de pensamento, de percepção, e de
institucional.
estímulos.
27

Baseando-se nestas reflexões, perce- Tudo isso será obtido mediante


be-se a necessidade de formação perma- processos em que se verifique:
nente do professor a partir do exame de
suas teorias implícitas, de auto-avaliação Abandono do individualismo e do ce-
crítica, de recomposição do equilíbrio en- lularismo na cultura profissional docente.
tre os esquemas teóricos e práticos, bem Predisposição numa revisão crítica da
como a aprendizagem do aprender a in- própria prática educativa mediante pro-
terpretar, compreender e refletir sobre cessos de reflexão e análise crítica.
a educação e a realidade social de forma
comunitária. Modalidades de formação adequadas
ao que o professor tem como finalidade
Além dessas ideias, Imbernon formativa.
(2000, p. 69-70) elaborou outras re-
Busca do significado das ações edu-
lacionadas à formação permanente
cativas, que devem ser compartilhadas
do professor que são de fundamental
com outras equipes docentes tendo em
importância e merecem destaque:
conta o contexto em que se forma.
Aprender continuamente de forma
Formação como processo de defini-
colaborativa, participativa, isto é, anali-
ção de princípios e de elaboração de um
sar experimentar, avaliar, modificar jun-
projeto educativo conjunto que preveja
tamente com outros colegas ou membros
o uso de atividades educativas mais ade-
da comunidade.
quadas à mudança da educação.
Ligar os conhecimentos derivados da
Formação no lugar de trabalho, na
socialização comum com novas informa-
própria instituição educacional.
ções em um processo coerente de forma-
ção (adequação das modalidades à finali- A partir dessa perspectiva, segundo o
dade formativa) para rejeitar ou aceitar os mesmo autor, o trabalho docente incor-
conhecimentos em função do contexto. pora um conhecimento profissional que
permite criar processos próprios, autô-
Aprender mediante a reflexão indi-
nomos, de intervenção, em vez de buscar
vidual e coletiva a resolução de situações
uma instrumentação já elaborada e pron-
problemáticas da prática. Ou seja, a partir
ta. Dentre as características necessárias
da prática do professor, realizar um pro-
para promover esse conhecimento pro-
cesso de prática teórica.
fissional ativo, a formação permanente
Aprender em um ambiente formativo não deve oferecer apenas novos conhe-
de colaboração e de interação social: com- cimentos científicos, mas, principalmen-
partilhar problemas, fracasso e sucessos te, processos relativos a metodologias
com os colegas. de participação, projetos, observação e
diagnóstico dos processos, estratégias
Elaborar projetos de trabalho conjun-
contextualizadas, comunicação, tomada
to e vinculá-los à formação mediante es-
de decisões, análise de interação humana.
tratégias de pesquisa-ação.
Portanto, há de se perceber ao longo
28

dessas ideias que ensinar e aprender são Outra dimensão se refere aos docentes
atividades complexas que vão exigir do como gestores da ação educativa, da to-
professor uma boa dose de motivação e mada de decisões e da liderança compar-
um considerável nível de criatividade. tilhada nas escolas. Estes devem traduzir
as demandas de sua comunidade e as po-
1.6 Algumas Competências líticas educativas na visão estratégica e o
projeto educativo para sua escola, além
Didáticas Para a Educação de assumir a responsabilidade correspon-
Inclusiva dente aos resultados educativos.
Para se desenvolver uma ação docen- A dimensão das políticas educativas
te inclusiva o professor precisa vencer o refere-se à participação dos docentes na
desafio da dificuldade de lidar com as di- formulação, na execução e na avaliação
ferenças. Segundo Campos (2006/2007) por meio de mecanismos que tornam pos-
o professor precisa desempenhar sua sível sua presença real. Docentes que re-
função a partir de uma visão renovada e cuperam sua capacidade de se expressar
integral. Mobilizar suas capacidades pro- como sujeitos sociais com voz própria.
fissionais, sua disposição pessoal e sua
responsabilidade social para desenvolver As dimensões citadas pela autora não
relações significativas entre o conheci- podem ser esgotadas no que se refere ao
mento já produzido e a realidade, procu- desenvolvimento profissional dos docen-
rando dar sentido à aprendizagem dos tes. Muitas outras considerações teóricas
alunos. poderiam ser aqui sugeridas. Porém, há a
necessidade de abordar também, compe-
Esse foco assinala a necessidade de tências didáticas diretamente relaciona-
transformação de práticas tradicionais das à prática docente na sala de aula. Pois
onde se privilegiava, simplesmente, a me- estas ações poderiam servir de sugestões
morização de conteúdos prontos. Para ser para aqueles que buscam incessantemen-
coerente com essas ideias, vale a pena te, desenvolver um processo de educação
mencionar algumas dimensões de traba- inclusiva.
lho docente, que segundo a mesma auto-
ra, se tomadas como base da ação peda- Não é novidade que trabalhar com alu-
gógica educativa poderiam favorecer o nos com deficiências na sala de aula exi-
desenvolvimento de uma educação para ge do professor algumas competências
todos, sem distinção. que são imprescindíveis para que a ação
educativa produza resultados positivos.
Uma das dimensões é focalizar apren-
O professor quando se deparar com
dizagem dos estudantes, já que a razão
alunos com deficiências na sala de
do ser docente é facilitar-lhes a aprendi-
aula tem que tomar algumas provi-
zagem. O docente sem ser o único agen-
dências de início:
te educativo em interação com os estu-
dantes, poderia garantir a aprendizagem Ele precisa investigar e diagnosticar
como um processo intencional, sistemáti- junto a outros profissionais que tipo de
co e teoricamente fundamentado. deficiência tem o aluno;
29

É preciso tomar iniciativas de usar aliadas a outras ações poderão favorecer


estratégias e ferramentas que facilitam a melhor qualidade à educação inclusiva.
aprendizagem desse aluno; Observe a seguir como poderá trabalhar
com a inclusão de todos.
Dialogar com a turma de forma críti-
ca e construtiva sobre as necessidades No caso da deficiência auditiva, fale
educativas especiais do aluno e solicitar a sempre de frente. A escola precisa pro-
compreensão e ajuda de todos para ensi- videnciar um instrutor para a criança que
nar o aluno; não conhece a Língua Brasileira de Sinais
(Libras), mas cujos pais tenham optado
Mudar a rotina metodológica para fa-
pelo uso dessa forma de comunicação.
vorecer uma didática mais estimuladora e
Esse profissional deve estar disponível
criativa;
para ensinar os professores e as demais
É preciso pensar que a educação in- crianças. Seria importante o professor da
clusiva vai, realmente, mexer com as es- turma e os alunos aprendam a língua de
truturas do ambiente educativo, como já sinais para poder facilitar a comunicação
mencionamos, anteriormente. Entretan- entre todos. O ideal é ter também fonoau-
to, a escola, juntamente com seus profis- diólogos disponíveis.
sionais é que precisam de mudança para
Segue aqui algumas sugestões:
incluir integralmente todos os alunos.
consiga junto ao médico do estudan-
Neste sentido, existem propostas de
te informações sobre o funcionamento e a
práticas que se desenvolvidas com com-
potência do aparelho auditivo que ele usa.
petências poderão se transformar de fato,
o ambiente escolar num espaço inclusivo Garanta que ele possa ver, do lugar
de convivência humana. onde estiver sentado, seus lábios. Ou seja,
nunca fale de costas para a classe.
Guimarães (2003), sugeriu aos profes-
sores da escola regular alguns cuidados Solicite que o estudante repita suas
diferentes para trabalhar com cada de- instruções para se certificar de que a pro-
ficiência, partindo das orientações e in- posta foi compreendida.
formações do kit Escola Viva, criado pelo
Use representações gráficas para in-
Ministério da Educação em conjunto com
troduzir conceitos novos.
a associação Sorri Brasil, com indicações
elaboradas pela Procuradoria Federal dos Oriente o restante da classe a falar
Direitos do Cidadão. Vale lembrar que a sempre de frente para o deficiente.
escola é que precisa se adaptar ao aluno
com deficiência e não o contrário. A se- No caso da criança com deficiência visu-
guir, transcrevemos esses cuidados e su- al, há a necessidade de material específi-
gestões do texto: inclusão que funciona: co. A escola deve solicitar à mantenedora
o material didático necessário — regletes
Vale lembrar que os serviços de apoio (régua para escrever em braille) e soroban
não substituem o professor da escola re- —, além da presença de um profissional
gular. Eles servem como estratégias que para ensinar a criança cega, os colegas e
30

os professores a ler e escrever em braille. de acesso, instalação de barras de apoio e


O deficiente deve contar com tratamento alargamento das portas. No caso de haver
oftalmológico e receber, na rede ou em deficientes físicos nas classes, a modela-
instituições especializadas, instruções gem do mobiliário deve levar em conta as
sobre mobilidade e locomoção nas ruas. características deles. Entre os materiais
Deve também conhecer e aprender a uti- de apoio pedagógico necessários estão
lizar ferramentas de comunicação, como pranchas ou presilhas para prender o pa-
sintetizadores de voz que possibilitam ao pel na carteira, suporte para lápis, com-
cego escrever e ler via computador. Em putadores que funcionam por contato na
termos de acessibilidade, o ideal é colocar tela e outros recursos tecnológicos.
cercados no chão, abaixo dos extintores
de incêndio, e instalar corrimão nas esca-
As sugestões aqui destacadas são
das. importantes para facilitar o acesso
dos alunos com deficiência física a to-
Algumas sugestões podem ajudar dos os espaços da escola:
a melhorar o processo de aprendiza-
Pergunte ao aluno e à família que
gem, tais como:
tipo de ajuda ele precisa, se toma medica-
Pergunte ao aluno e à família quais mentos, se tem horário específico para ir
são as possibilidades e necessidades dele. ao banheiro, se tem crises e que procedi-
mento adotar se isso ocorrer.
A melhor maneira de guiar o cego é
oferecer-lhe o braço flexionado, de forma Informe-se sobre a postura adequa-
que ele possa segurá-lo pelo cotovelo. da do aluno, tanto em pé quanto sentado,
e garanta que ele não fuja dela.
Descreva os ambientes com detalhes
e não mude os móveis de lugar com frequ- Se necessário, fixe as folhas de papel
ência. Os recursos didáticos aconselhados na carteira usando fita adesiva. Os lápis
são: lupa, livro falado e materiais despor- podem ser engrossados com esparadrapo
tivos como bola de guizo. para auxiliá-lo na escrita, caso ele tenha
pouca força muscular.
Busque na turma colegas dispostos a
ajudá-lo. Ouça com paciência quem tem com-
prometimento da fala e não termine as
Substitua explicações com gestos por
frases por ele.
atividades em que o deficiente se movi-
mente. Por exemplo: forme uma roda com No que se refere à deficiência men-
a criançada para explicar o movimento de tal, é preciso ficar atento à questão das
translação da Terra. tarefas mais abstratas que precisam do
atendimento individual. Geralmente os
No caso da deficiência física, é neces-
deficientes mentais têm dificuldade para
sário adaptar os espaços. Toda escola
operar as ideias de forma abstrata. Como
precisa eliminar as barreiras arquitetô-
não há um perfil único, é necessário um
nicas, mesmo que não tenha jovens com
acompanhamento individual e contínuo,
deficiências matriculados na escola. As
tanto da família como do corpo médico.
adaptações do edifício incluem: rampas
31

As deficiências não podem ser medidas e cola comum. O processo de inclusão, como
definidas, genericamente. Há que levar vemos, vai exigir uma reestruturação da
em conta a situação atual da pessoa, ou base cultural já formada em moldes prati-
seja, a condição que resulta da interação camente imutáveis.
entre as características do indivíduo e as
Finalizando, fica registrado que a edu-
do ambiente. Informe-se sobre as espe-
cação inclusiva vai exigir uma ação docen-
cificidades e os instrumentos adequados
te dinâmica, inovadora e competente do
para fazer com que o jovem encontre na
ponto de vista da valorização das diferen-
escola um ambiente agradável, sem dis-
ças e da formação continuada em serviço.
criminação e capaz de proporcionar um
Esta é uma tarefa complexa, repleta de
aprendizado efetivo, tanto do ponto de
desafios e possível de colocar em prática.
vista educativo quanto do social.

Esta deficiência exige paciência e cui- 1.7 Quanto Vale A Contri-


dados para não haver preconceito quan-
to as possíveis dificuldades enfrentadas
buição Dos Pais No Proces-
pelo aluno. Eis aqui algumas sugestões, so De Inclusão?
dentre muitas outras possibilidades de Não se pode negar que a boa relação
ensinar a todos, valorizando as peculia- entre família e escola contribui para a
ridades de cada aluno e respeitando seu qualidade da educação oferecida no es-
ritmo de aprendizagem. paço escolar. Quantas vezes, escuta-se
Posicione o aluno nas primeiras car- na escola que alguns alunos fracassam na
teiras, de forma que você possa estar aprendizagem porque a família não ofere-
sempre atento a ele. ce apoio e transfere toda a responsabili-
dade da educação para escola. Esse dis-
Estimule o desenvolvimento de ha- curso é muito frequente em reuniões de
bilidades interpessoais e ensine-o a pedir professores, em palestras educacionais,
instruções e solicitar ajuda. dentre outros encontros onde profissio-
nais da educação se reúnem para discutir
Trate-o de acordo com a faixa etária.
desempenho dos alunos.
Só adapte os conteúdos curriculares
De maneira geral, vamos tratar nesta
depois de cuidadosa avaliação de uma
reflexão sobre a importância do vínculo
equipe de apoio multiprofissional.
família e escola para a melhoria da edu-
Avalie a criança pelo progresso indi- cação inclusiva de todos. Muitos pais ao
vidual e com base em seus talentos e suas participar de reuniões nas escolas não se
habilidades naturais, sem compará-la com sentem à vontade para sugerir ideias, dar
a turma. opiniões. Acredita-se que esse comporta-
mento pode estar relacionado a experiên-
A inclusão de todas as crianças na esco-
cias vividas na época de escolarização que,
la regular representa um avanço histórico
por motivos pessoais, prefere guardar no
com relação ao processo de integração
âmago da sua história. Parece irônico, mas
que exigia algum preparo ou conheci-
quem passou pela escola e nunca passou
mento para a criança ser inserida na es-
32

por alguma situação constrangedora?


ridicularizados, excluídos, desrespei-
É interessante que os pais se sintam à
tados ou ignorados por seus pares ou
vontade para participar das decisões da
quando são reprovados. Autoconfian-
escola. Por esse motivo, a escola deveria
ça, generosidade e preocupação com
promover mudanças na organização do
o bem estar dos outros são caracterís-
plano de trabalho e acolher a família, sem
ticas que desejamos que nossos filhos
receio de que a mesma vá interferir de
desenvolvam. Os pais também repas-
modo negativo no caminhar do trabalho
sam suas percepções aos seus filhos.
escolar. A escola que pretenda falhar me-
Se criamos oportunidades para que os
nos, produzir mais, no sentido de acolher
pais conheçam os colegas do seu filho
todos os alunos, terá que angariar ajuda
que são considerados portadores de
das famílias, pois elas podem tanto ajudar
diferenças acentuadas, assim como os
no êxito do processo inclusivo, como se li-
pais desses colegas, o medo, a apre-
mitar a culpar a escola pelo fracasso dos
ensão do desconhecido podem ser
alunos.
abrandados. Os pais também podem
Numa entrevista à educadora e escri- ter oportunidade de reconhecer os be-
tora Stainback (2004,/2005, p. 23-24), nefícios educacionais, a segurança e
foi solicitado que ela respondesse se é a proteção de escolas inclusivas para
possível, e mais do que isso, é desejável seus filhos.
envolver os pais e a comunidade em uma
proposta de educação inclusiva? A mesma Na resposta da educadora, percebe-se
fez a seguinte ressalva: que se a escola permitir uma boa relação
dos pais com todos os que se inserem no
Os pais são uma parte importante espaço educativo, como também, estabe-
da comunidade escolar. Eles devem lecer diálogo constante com as famílias e,
não apenas ter conhecimento do que sobretudo, compartilhar as ideias e proje-
as escolas estão fazendo, como tam- tos, a mesma poderá ter maior êxito nas
bém, saber pro que o estão fazendo. É ações educativas. E, consequentemente,
positivo que os pais reconheçam que esses aspectos poderão contribuir para
são uma parte integrante e bem vin- que o trabalho educacional seja realizado
da da educação de seu filho e que seu com maior transparência e tranquilidade.
envolvimento é valorizado. Incentivá-
-los a se sentirem livres para contatar Existem variadas formas de estabele-
o professor e conversar com ele e com cer parcerias entre a escola e os pais de
os outros pais sobre suas eventuais forma que haja informações, conhecimen-
preocupações pode ajudar a torná-los tos e perícia das duas direções. Uma par-
mais seguros em seu apoio a um pro- ceria bem sucedida deve partir de práticas
grama de inclusão. Se os pais tivessem efetivas que causem um impacto positivo
uma melhor compreensão dos motivos no desenvolvimento das crianças.
da inclusão, haveria maior cooperação Neste sentido, Mitler (2003), traz parte
e ajuda. Muitas vezes, eles já sentiram da publicação Early Learning Goals (QCA e
a dor de seus filhos quando estes são DFEE, 1999) que inclui indicadores úteis
33

para “pais como parceiros” na escola: as atividades de aprendizagem re-


levantes e as atividades de jogo, como
os profissionais da área demonstram
compartilhar e ler livros, são continuadas
respeito e compreensão acerca do papel
em casa. Da mesma forma, experiências
do pai e da mãe na educação de sua crian-
em casa são usadas para desenvolver a
ça.
aprendizagem no contexto, por exemplo,
a parte passada e futura desempe- visitas e celebrações.
nhada pelos pais na educação de suas
Diante desses indicadores, pode se
crianças é reconhecida e é explicitamente
analisar que a parceria da família e escola
encorajada.
baseada nestes moldes de apoio mútuo,
os esquemas de adaptação são fle- favorecerá, com certeza, o bom desempe-
xíveis e dão bastante tempo às crianças nho da aprendizagem de todas das crian-
para que se sintam seguras e aos profis- ças.
sionais da área e aos pais para que discu-
tam as circunstâncias de cada criança, os 1.8 Conto De Uma Experi-
interesses, as competências e as necessi-
dades dela.
ência De Inclusão/Exclusão
Escolar De Uma Pessoa Por-
todos os pais devem sentir-se bem
vindos, estimados e úteis, através de uma tadora De Deficiência Visual
gama de oportunidades diferentes para INCLUSÃO: difícil, mas essencial-
colaboração entre as crianças, os profes- mente necessária.
sores e os profissionais nas escolas.
Meu nome é Eloísia. Sou a filha mais ve-
o conhecimento e as especializações lha de uma família de cinco filhos. Desde
dos pais e de outros adultos na família são os primeiros meses de vida, perceberam
usados para apoiar as oportunidades de algo de errado comigo, visto que eu não
aprendizagem oferecidas pelo contexto. fixava os olhos em nada. Após consulta
os professores e os profissionais nas com o Dr. Hilton Rocha, em BH, foi diag-
escolas usam uma variedade de meios nosticada minha deficiência visual. Este
para manter os pais completamente infor- acompanhou meu caso até eu completar
mados sobre o currículo, como panfletos, seis anos e, por não encontrar solução,
exibições, vídeos que estão disponíveis encaminhou-me ao Instituto São Rafael,
em línguas usadas nos lares da família e escola especializada para deficientes vi-
discussão informal. suais.

os pais, os professores e os profissio- Nesta instituição, fui alfabetizada


nais nas escolas falam e registram infor- como uma criança normal, utilizando ape-
mações sobre o progresso e as aquisições nas o método Braille. Apesar de minhas
da criança, por exemplo, fazendo reuniões limitações, procurei aprender tudo o que
ou elaborando um livro sobre a trajetória a escola me ofereceu. Desde os três anos,
educacional da criança. manifestei sensibilidade musical. Como
gostava de cantar, fui selecionada para
34

participar do coral Infantil do Instituto, com pacientemente, me ditando as questões


o qual fazíamos apresentações com os di- propostas.
versos corais de outras escolas. Aos nove
Português sempre foi minha matéria
anos, iniciei o curso de Teoria Musical e aos
preferida, mas nem sempre me deram as
dez, como na época a Escola não dispunha
melhores notas, visto que é tão cheia de
de professor de piano, iniciei minhas aulas
regrinhas! Contudo, meu maior problema
de Acordeão.
sempre foi a interpretação de textos, justa-
Algo que o Instituto também proporcio- mente pela falta de livros em Braille à minha
nava aos alunos, era o curso de locomoção disposição. No período que estudei no Insti-
pelas ruas de BH, mas infelizmente, este eu tuto São Rafael, li muita Literatura Infantil;
não pude fazer, visto que com doze anos, talvez isso tenha me favorecido maior facili-
meus pais trouxeram-me de volta para o in- dade de escrever para crianças.
terior.
Com os colegas, meu relacionamento
Após o nascimento de três meninos sau- não foi muito fácil, com exceção de alguns
dáveis, nasceu Vilma, também deficiente vi- que se mostraram mais sensíveis às minhas
sual. Ao atingir a idade escolar, com a ajuda limitações e me ajudaram no que podiam,
de uma de minhas tias que atuava na área principalmente, nos trabalhos extra classe.
da Educação aqui em Lagoa da Prata, Minas Penso que a diferença no que se refere à
Gerais, Vilma e eu fomos matriculadas em maturidade afetaram em nossos relaciona-
escolas regulares. Na época, eu estava com mentos. Nesta escola, concluí até a oitava
quinze anos, cursando a quinta série. série.

Por parte dos professores, fui bem aco- No ano seguinte, 1987, tive que me mu-
lhida na Escola Estadual Virgínio Perillo, dar de escola, visto que a anterior que eu
dentre elas, duas me marcaram muito: Dona estudara não oferecia segundo grau. Am-
Iraídes, professora de História por 4 anos biente diferente, com professores que não
consecutivos. De fala tão mansa e com uma conseguiram se adaptar à minha realidade
sabedoria incrível, contávamos a História e colegas adolescentes, onde a maioria se
do Brasil e do mundo de maneira tão cla- reunia para fazer seus trabalhos e contar
ra que na hora das avaliações, que sempre suas histórias. Por não encontrar o mesmo
eram orais, porque a Escola não dispunha apoio da escola anterior, preferi deixar.
de recursos e tecnologia para me fornecer
E, em 1989, cursei o segundo grau em BH
provas em Braille, eu nunca encontrava difi-
na Escola Palomar. Com a graça de Deus, ali
culdade. E durante os quatro anos que esti-
encontrei alguns professores e colegas que,
ve com ela, só tirei notas boas. O u t r a
mesmo na correria que é passada a matéria
professora que me marcou muito por seu
nos cursos supletivos, muito se esforçaram
zelo e carinho foi Dona Guilhermina, profes-
pra me ajudar e, consegui concluir todas as
sora de Português e Inglês da quinta a oita-
matérias em apenas quatro meses e meio.
va série. Com muito carinho ela explicava a
matéria e, na hora de meus colegas resolve-
rem os exercícios nos livros didáticos, lá es- Não ingressei em nenhuma Faculdade,
tava a Dona Guilhermina em minha carteira, por não definir dentro de mim um curso que
35

me realizasse como pessoa e como profis- Senhora de Guadalupe, Vilma concluiu tam-
sional. Afinal, mais que financeiramente, bém o curso técnica em contabilidade, sem-
minha meta é ajudar a todos que precisam pre amparada por bons colegas, que Deus
de mim. colocou em seu caminho.

Com a minha irmã Vilma, a história foi um Hoje, Vilma é telefonista concursada na
tanto diferente. Antes de a mesma frequen- Prefeitura de Lagoa da Prata. É casada há
tar a Escola, eu a alfabetizei. Na Escola Es- três anos, tem um filho de um ano e quatro
tadual Dr. Jacinto Campos, sua primeira pro- meses, o Gabriel, verdadeiro presente de
fessora, viu-se perdida por não conseguir Deus para todos nós.
compreender que, além de sua deficiência
Quanto a mim, faço trabalhos voluntários
visual, Vilma era uma criança extremamen-
em nossa Paróquia com a equipe de música
te saudável e inteligente. Esta professora
da missa das crianças há vinte anos, e colo-
sugeriu à minha mãe que a levassem para a
co-me a disposição para qualquer outra ati-
APAE. Minha tia, a que conseguira as vagas
vidade onde Deus precisa de mim. Agradeço
nas escolas pra nós, pediu à direção da Es-
à Professora Janilcélia por me permitir con-
cola que a trocassem de turma.
tar um pouco de nossa experiência de inclu-
Encaminharam-na então para a profes- são não apenas nas escolas que frequenta-
sora Cleuza que, sem nenhuma experiência mos, mas na sociedade onde vivemos.
com o método Braille, mas com muito cari-
Vale destacar que promover a inclusão
nho, soube aproximá-la das outras crian-
da pessoa com deficiência nas escolas e
ças, onde ela conquistou vários colegas. Foi
em toda parte, é extremamente necessá-
quando uma professora, Conceição Freitas,
rio, afinal, viver, conviver e aprender é um
cunhada de minha tia que lecionava na pri-
direito de todos. No entanto, deve-se ter o
meira série da mesma Escola, soube do caso
cuidado em saber que, incluir não é apenas
e se propôs aprender o Braille e, após o tér-
permitir que o portador de deficiência fre-
mino da aula, Vilma era levada até sua casa
quente os mesmos ambientes das pessoas
para aulas particulares.
que se dizem normais, mas, esses ambien-
Essas aulas permitiram-na concluir a pri- tes e os que vão receber tais pessoas ESPE-
meira série no mesmo ano. Percebendo a CIAIS, devem ser devidamente adaptados
inteligência de Vilma, no ano seguinte, já a e preparados para receberem a estes que,
transferiram para a sala da Conceição, cuja como todos, são humanos e merecem ser
turma era de alunos de aprendizagem mais respeitados e preservados em sua dignida-
rápida. A partir daí, Vilma já com a ajuda tam- de e auxiliados em suas dificuldades.
bém dos colegas que tinham a mesma idade
Desta forma, com certeza atingiremos o
e os mesmos interesses, se destacava no
objetivo de Deus: Construiremos um mun-
aprendizado e ano após ano, esteve sem-
do melhor onde TODOS se amam e se res-
pre nas melhores turmas por apresentar
peitam. Pode parecer utopia, mas, quando
boas notas em suas provas, sempre feitas
fazemos a nossa parte, dando nossa con-
de forma oral aplicadas por algum profes-
tribuição por menor que seja, a felicidade
sor ou em dupla com alguma colega. Além
acontece em nós mesmos. E, é a partir de
do ensino Médio, na Escola Estadual Nossa
36

nós, que o meio onde vivemos se transfor- Talvez, estas ações excludentes podem ter
ma e, quando menos percebermos, o mun- sido a maior causa da evasão de Eloísia, que
do se torna melhor pra gente viver. não obteve a confiança necessária das pes-
soas que a educavam. Mas existem, tantas
E assim estará acontecendo a verdadeira
outras ações que excluem que estão pre-
inclusão, porque a gente não cruzou os bra-
sentes nas escolas e que precisam ser re-
ços. E quando há cooperação, solidariedade
pensadas e expulsas da escola.
e amor entre as pessoas, há sempre um es-
paço para proporcionar aos portadores de Considerando estas ideias, é relevante
alguma deficiência, o prazer de ouvir, falar, ressaltar Mantoan (2003), quando a mes-
enxergar e caminhar. ma diz que muitas vezes, o professor não é
capaz de predeterminar a extensão da assi-
Entretanto, para que esse plano se cum-
milação dos alunos nem saber o grau de fa-
pra, basta que abramos nossos corações e
cilitação e adaptação das atividades escola-
imaginemos naquela pessoa a quem nos
res para alguns. Isto porque o próprio aluno
propomos a servir, o nosso semelhante,
é que se adapta ao conhecimento dentro
porque somos todos iguais e diferentes ao
de suas capacidade de construí-lo. E vale
mesmo tempo. Portanto, precisamos fazer
o que os alunos são capazes de aprender
dessas diferenças a grande diferença que
hoje e o que o professor pode oferecer-lhes
é compreendermos a alegria e o prazer de
de melhor para que todos os alunos se de-
viver, servir e amar e se completar no outro.
senvolvam num ambiente rico de estímulos
A história contada por Eloísia, mostra um e conhecimentos importantes para a boa
pouco da realidade que se configura no ce- convivência na sociedade.
nário real das escolas e da sociedade. Infeliz-
Ainda, no presente conto, pode-se per-
mente, podendo assim dizer, várias escolas
ceber que a inclusão, também, ocorreu no
produzem a exclusão, às vezes de maneira
momento em que o professor deixou de fo-
inconsciente, por vários fatores, que dentre
calizar a deficiência como fator impeditivo
eles vale a pena destacar, novamente: inse-
para a aprendizagem e passou a valorizar a
gurança, medo de não ser competente nas
capacidade de aprender do aluno, através
ações inclusivas, pouco conhecimento teó-
de uma outra estratégia que não a dos de-
rico e prático para conduzir o processo, do-
mais alunos, que escreviam, e passou a tra-
ses de ansiedade, receio de perder a identi-
balhar a oralidade.
dade de ensinante.
Neste momento, pode-se concluir que
Analisando as questões colocadas pela
a parceria de profissionais e pessoas que
autora do conto, no que diz respeito à es-
se interessam pela inclusão transforma-
cola não oferecer recursos didáticos para
ram a realidade da exclusão e construíram
avaliar, e o fato das diferenças de idade/
outra maneira de valorizar as pessoas que
maturidade, às vezes ocorridas pelo fato
nasceram com alguma deficiência. E, nes-
de acreditar que pessoas com deficiências
te sentido vale a pena destacar, novamen-
sensoriais são acometidas, também de
te, as palavras de Eloísia, que ressalta que
atrasos mentais, são apenas algumas reali-
promover a inclusão da pessoa com defi-
dades que favorecem a exclusão na escola.
ciência nas escolas e em toda parte, é ex-
37

tremamente necessário, e que aprender


é um direito de todos. Mas, deve-se ter o
cuidado em saber que, incluir não é ape-
nas permitir que o portador de deficiência
frequente os mesmos ambientes, mas,
que estes espaços que vão receber todas
as pessoas, inclusive, àquelas que portam
alguma deficiência devem ser devidamen-
te adaptados e preparados. E acrescenta:
todos são humanos e merecem ser respei-
tados e preservados em sua dignidade e
auxiliados em suas dificuldades.
38

UNIDADE 2 – Considerações Finais

De repente é preciso construir o des- todos:


fecho deste estudo. A tarefa é complexa,
Mudança do modelo educativo esco-
pois quando se encerra uma ideia, o que
lar estabelecendo como foco a aprendiza-
parece é que muita coisa ainda falta para
gem de todos.
ser discutida. Pensando assim, o tema
educação inclusiva não vai ser esgotado, Mudança na organização do trabalho
pois a realidade se transforma a cada ins- pedagógico com flexibilização do tempo e
tante demandando a construção de novas espaço na escola.
ideias e de novos caminhos. A perspectiva
Adoção da formação continuada para
de construir uma escola para todos é fru-
todos os profissionais da educação, pre-
to do exercício diário de ações de pesso-
ferencialmente em serviço.
as que reconhecem o valor do outro, que
aprenderam a cooperar e a ser solidários Processo de avaliação que respeita e
e, acima de tudo, que aprenderam a valo- acompanha o ritmo de aprendizagem de
rizar as diferenças. cada aluno.
Superar o paradigma da integração es- Metodologia que desafia a criativida-
colar e acolher de vez todos os alunos no de e o espírito crítico de todos os alunos.
espaço educacional escolar, independen-
temente, de suas diferenças individuais Garantia de atendimento educacio-
é uma ação prudente e coerente com a nal especializado, preferencialmente na
questão dos direitos humanos. escola regular.

Assim, é preciso ficar em alerta para Respeito às diferenças culturais, so-


que a simples inserção de alunos com ne- ciais e cognitivas.
cessidades educativas especiais na escola Sabe-se que um ensino de qualidade
regular não seja declarada como inclusão. implica numa aprendizagem também de
Pois, incluir significa muito mais do que qualidade. O fato de refletir sobre essas
integrar. A inclusão exige que a escola se sugestões e conhecer algumas estraté-
transforme para que todos possam, de gias de educação inclusiva já favorece um
fato, participar do seu espaço. repensar da realidade escolar. É preciso,
Considerando as ideias aqui discutidas, pois, acreditar que a construção uma es-
tornou-se perceptível a necessidade de cola inclusiva é uma ação possível de se
se repensar a educação inclusiva no ce- realizar. Basta querer, planejar, fazer e
nário educacional escolar. Talvez o maior transformar a realidade.
desafio esteja na mudança de paradigma
educacional. Neste sentido, fica aqui re-
gistrado algumas sugestões que podem
fortalecer os ideais de uma escola para
39
UNIDADE 3 – Introdução à Educação
Especial

No dicionário “Aurélio”, encontramos as guns dos temas sobre os quais discorrere-


seguintes definições para a palavra funda- mos ao longo do módulo.
mento: base, alicerce, razões ou argumen-
Claro que a Constituição Federal de
tos em que se funda uma tese, concepção,
1988; o Estatuto da Criança e do Adoles-
apoio, razão, justificativa e ainda: conjunto
cente (ECA – Lei nº 8.069/90); a Lei de Dire-
dos princípios básicos de um ramo de co-
trizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº
nhecimento, de uma técnica, de uma ativi-
9394/96); diretrizes, decretos, resoluções
dade, entre outros (FERREIRA, 2004).
e afins também norteiam nossos estudos,
Filosoficamente, fundamento seria além de outros materiais disponibilizados
aquilo sobre o que se apoia, quer um dado pelo Ministério da Educação de onde saem
domínio do ser (e então o fundamento é os conteúdos, diretrizes e orientações di-
garantia ou razão de ser), quer uma teoria dáticas e metodológicas para a educação
ou um conjunto de conhecimentos (e então especial no contexto da educação inclusiva.
o fundamento é o conjunto de proposições
Vamos partir de uma breve retrospec-
de onde esses conhecimentos se dedu-
tiva histórica dos acontecimentos em prol
zem).
das pessoas que um dia foram simplesmen-
Poderíamos resumir nossos estudos as- te banidas da sociedade, noutro momento
sim: razões de ser da Educação Especial! chamadas de “pessoas defeituosa”, até que
tiveram seus direitos reconhecidos mun-
Pois bem, nesta apostila, intitulada “Fun-
dialmente e nos pautaremos nos seguintes
damentos da Educação Especial”, temos,
questionamentos: Quem são essas pes-
dentre vários objetivos, levá-los a conhecer
soas para a qual existe a proposta da edu-
a origem e evolução da trajetória dessa área
cação especial? Qual a terminologia usada
que congrega várias ciências, das básicas
neste século XXI e o porquê dessa mudan-
como a Educação, a Psicologia e as ciências
ça de “nomes”?
da saúde passando por áreas que buscaram
se especializar como a psicomotricidade. A De antemão, justificamos para aqueles
evolução do conceito e a urgência da inter- que não valorizam à altura essa retrospec-
venção em âmbito internacional também tiva histórica, com palavras emprestadas
são temas contemplados. Estamos falando de Freitas (2010, p. 6):
aqui dos tratados, convenções e legislação
para amparo das pessoas portadoras de o caráter temporal, datável e mu-
necessidades especiais e seus familiares. tável é uma forma pragmática de de-
monstrar o valor dos estudos históricos
Conceitos, definições, o ajuste de conte-
e do hábito de ‘pensar historicamente’,
údos, de ambientes, técnicas de trabalho,
ou seja, de relacionar passado, presen-
tecnologias adaptativas, o atendimento
te e futuro com vistas à orientação da
para a primeira infância, o envolvimento do
vida prática.
trinômio família/escola/sociedade, são al-
40

Reportando essa importância para a ção das ideias de vários autores, incluindo
educação especial quer dizer simplesmen- aqueles que consideramos clássicos, não
te que só chegamos a esse nível de com- se tratando, portanto, de uma redação ori-
preensão, solidariedade, respeito e valo- ginal e tendo em vista o caráter didático da
rização dos sujeitos sem distinção porque obra, não serão expressas opiniões pesso-
aprendemos com os eventos que foram se ais.
sucedendo ao longo da nossa história.
Ao final do módulo, além da lista de refe-
Falamos de objetivos e usamos os ver- rências básicas, encontram-se outras que
bos “conhecer”, “definir”, mas são ações foram ora utilizadas, ora somente consul-
que precisam ser completadas! É o que tadas, mas que, de todo modo, podem ser-
desejamos: que conheçam para refletir e vir para sanar lacunas que por ventura ve-
agir, proporcionando às pessoas com ne- nham a surgir ao longo dos estudos, além
cessidades especiais os direitos que lhe de anexos com legislação de interesse às
são reservados, dentre eles: educação de pessoas com necessidades especiais que
qualidade, atendimento clínico terapêuti- doravante chamaremos de PNE, aos pro-
co, dentre outros. fessores, enfim, a todas as pessoas que de
uma maneira ou de outra se interesse pela
Outro viés que a Educação Especial nos
educação especial.
remete, relaciona-se com a questão dos
Direitos Humanos e a busca pela cidadania
que é um direito de todos, portanto, fecha-
mos nossa introdução com palavras do so-
ciólogo Boaventura Souza Santos (2003, p.
56):

Temos o direito a ser iguais quando


a nossa diferença nos inferioriza; e te-
mos o direito a ser diferentes quando
a nossa igualdade nos descaracteriza.
Daí a necessidade de uma igualdade
que reconheça as diferenças e de uma
diferença que não produza, alimente ou
reproduza as desigualdades.

Ressaltamos em primeiro lugar que em-


bora a escrita acadêmica tenha como pre-
missa ser científica, baseada em normas e
padrões da academia, fugiremos um pouco
às regras para nos aproximarmos de vocês
e para que os temas abordados cheguem
de maneira clara e objetiva, mas não me-
nos científicos. Em segundo lugar, deixa-
mos claro que este módulo é uma compila-
41
UNIDADE 4 – Retrospectiva Histórica da
Deficiência: Do Banido ao Cidadão, de ex-
cepcional a especial
Rodrigues, Capellini e Santos (2014) jus- dos iguais. De certo modo a diferença nos
tificam com propriedade e de maneira su- move.
cinta, o porquê de fazermos um resgate da
Na perspectiva da diferença, as defi-
história e da evolução das expressões, das
ciências sempre existiram e continuarão
conceituações acerca das pessoas com de-
existindo. Inúmeras expressões igualam e
ficiência: porque é importante perceber-
tornam as pessoas diferentes ao mesmo
mos que caminhamos, evoluímos sim! Mas
tempo, dentro de determinado grupo ou
ainda precisamos “nos aprimorar”, porque
sociedade. Esse movimento é semelhan-
a exclusão ainda não foi erradicada, por-
te ao que vivemos dentro dos grupos dos
que ainda somos preconceituosos e em
quais participamos, por esta ou aquela
algumas situações, segregadores de ma-
característica – ao mesmo tempo em que
neira velada, essa é uma verdade que não
uma característica nos iguala, outras nos
gostamos de aceitar.
diferenciam. Entender o outro enquanto
No entanto, não queremos ser radicais diferente não significa aceitar que ele dife-
e dizer: devemos ter vergonha do passado. re de nós, mas sim buscar alternativas para
Desde o surgimento do ser humano, este nos comunicarmos, promovendo interação
vem se conhecendo, modificando, aprimo- e desenvolvimento coletivo (RODRIGUES;
rando, é esse o caminho. Não nascemos MARANHE, 2010).
prontos, não nascemos todos iguais, em-
Respeitar a diferença e valorizar as ca-
bora tenhamos um modelo de ser humano
racterísticas diferentes, esse é um bom
perfeito, não é verdade? Então, a questão
começo.
não passa por vergonha e remorso, mas
sim, perceber que evoluímos sempre. Es-
tamos sendo redundantes nesses senti-
4.1 Da Antiguidade clássi-
mentos de vergonha e segregação porque ca à Idade Média
lá atrás o que o ser humano fez com seus
Nosso ponto de partida é mesmo a an-
pares que apresentavam “deficiências” era
tiguidade e sem alongar muito, as expres-
radicalmente exclui-lo, apriori no sentido
sões ‘endemoniados’, ‘loucos’, doentes
mais real, de morte, e mais adiante, segre-
eram bem comuns naqueles tempos.
gando-o, o que também é extremamente
triste. Mas evoluímos! Os pleonasmos se Silva (1998) cita falas de Sêneca (4 a.C.-
justificam nessa questão porque precisa- 65 d.C.) que nos mostram como a Lei da XII
mos nos valorizar e nada melhor do que Tábuas, na Roma antiga, autorizavam a
percebermos que evoluímos. matar seus filhos defeituosos, ou seja, os
romanos já tomavam posições bem mais
Também não queremos que as dife-
drásticas em relação às pessoas deficien-
renças simplesmente evaporem, não é
tes:
mesmo? Não teria muita graça sermos to-
42

postos, onde as crianças eram colocadas e


Matam-se cães quando estão com as religiosas as recolhiam. Essas religiosas
raiva; exterminam-se touros bravios; proporcionavam alimentação, educação e
cortam-se as cabeças das ovelhas en- todos os cuidados que necessitassem.
fermas para que as demais não sejam
Para Mazzotta (2005 apud FERNANDES;
contaminadas; matamos os fetos e os
SCHLESENER; MOSQUERA, 2011), a própria
recém-nascidos monstruosos; se nas-
religião, ao colocar o homem como “ima-
cerem defeituosos e monstruosos afo-
gem e semelhança de Deus”, portanto, ser
gamo-los, não devido ao ódio, mas à
perfeito, acrescia a ideia da condição hu-
razão, para distinguirmos as coisas inú-
mana, incluindo-se aí a perfeição física e
teis das saudáveis.
mental. E, não sendo “parecidos com Deus”,
Os deficientes carregavam uma imagem os portadores de deficiências (ou imperfei-
de deformação do corpo e da mente, por- ções) eram postos à margem da condição
tanto denunciavam as imperfeições hu- humana, e tidas como culpadas de sua pró-
manas o que não era aceitável numa época pria deficiência. Tal circunstância foi uma
em que, por exemplo, na cidade de Esparta constante cultural no decorrer da História.
as leis tinham por finalidade criar um povo Os hospitais e asilos de caridade, com ob-
poderoso, guerreiro. jetivos de abrigar, proteger e educar, aca-
bavam excluindo-os da convivência social.
Existem relatos históricos que dão conta
de pais que abandonavam crianças dentre No período medieval, a ideia do que fa-
de cestos ou em lugares sagrados, devido zer com esses sujeitos deficientes foi fi-
estes ora serem considerados castigo de cando macabra. Os deficientes eram julga-
Deus, ora vistos como bruxos ou feiticei- dos como demônios já que a igreja católica
ros, daí a necessidade de serem castigados estava em seu apogeu, por isso, tinha que
para se purificarem e quando estes so- se afirmar como estado governamental e
breviviam eram explorados e se tornavam religião dominante. À medida que a “idade
atrações de circos (GUGEL, 2007). das trevas” avança, a relação da diferença
física com o pecado começa a intensificar-
Esse mesmo autor relata que o surgi- -se, entretanto, é necessário que se perce-
mento do cristianismo romano que tinha ba que esta relação surge muito antes, em
como doutrina a caridade e o amor para sociedades como a judaica que já coloca no
com os indivíduos ajudou a combater a prá- Antigo Testamento referências a esse res-
tica da eliminação, abrigando os indivíduos peito. (ANDRADE, 2008).
com deficiências.
A Bíblia no Novo Testamento também
No Brasil, há também relatos de crianças se refere aos cegos, surdos, aleijados e
com deficiência que eram “abandonadas leprosos como pessoas que tinham come-
em lugares assediados por bichos que mui- tido algum pecado e, por esse motivo, so-
tas vezes as mutilavam ou matavam” (JAN- friam tais “penalidades” físicas. Portanto, é
NUZZI, 2004, p. 9). compreensível que a Igreja Católica tenha
manipulado a sociedade medieval neste
Tendo em vista esse abandono, foram
sentido. Tanto que os castigos impostos ao
criadas, em 1726, as chamadas rodas de ex-
43

corpo, tais como as flagelações, a fogueira os mutilados das guerras, que como sem-
e as torturas da Santa Inquisição represen- pre influenciaram muitos períodos, e para
tavam a purificação dos pecadores, inten- indivíduos cegos e surdos (FERNANDES;
sificando a ideia de que o corpo era o refle- SCHLESENER; MOSQUERA, 2011).
xo de tudo o que a alma cometia de errado.
Garcia (2012) faz uma lista dos
Enquanto isso, povos do Norte da Europa
acontecimentos desse período que in-
como os Visigodos, Ostrogodos considera-
cluem:
dos bárbaros, matavam seus deficientes,
assim como os Célticos que achavam ser o invento de um método para ensinar
um mal pressagio ou castigo dos deuses; pessoas surdas a ler e escrever (até então
também eram povos nômades e deixa- a crença era de que pessoas surdas não po-
vam seus deficientes para trás (ANDRADE, deriam ser educadas);
2008).
um médico francês, Ambroise Paré
Felizmente veio a Idade Moderna que (1510-1590) que se dedicou a atender fe-
tem início em 1453, com a tomada da Cons- ridos com amputações em guerra, aperfei-
tantinopla e vai até o início da Revolução çoou os métodos cirúrgicos para ligar arté-
Francesa, em 1789. Começamos a passar rias, substituindo cauterizações com ferro
do feudalismo e das trevas para o capitalis- em brasa e azeite fervente, contribuindo
mo e no contexto mais humano, começam para a criação de próteses;
a surgir movimentos de contestação ao
pessoas com problemas de visão como
poder da Igreja Católica.
Galileu Galilei e Johannes Kepler estuda-
vam o céu, mostrando que essa deficiência
4.2 A Idade Moderna: da ex- não era impedimento;
trema ignorância às novas
Pinel explicou que pessoas com per-
ideias turbações mentais deviam ser tratadas
Foi com a Idade Moderna que surgem como doentes, ao contrário do que acon-
novas ideias e transformações marcadas tecia na época, quando eram tratados com
pelo humanismo. Em tal época, segundo violência e discriminação;
Kassar (1999, p.4), “houve uma grande
nesse período e mais adiante (século
população de pobres, mendigos e indiví-
XIX, 1819), cria-se um método para intera-
duos com deficiência, que se reuniam para
ção com cegos. Charles Barbier, um capitão
mendigar”. A sensação e a constatação da
do exército francês, atendeu um pedido
miséria resultavam na esperança de que
de Napoleão Bonaparte e desenvolveu
alguma coisa precisava ser feita para os
um código para ser usado em mensagens
pobres e deficientes.
transmitidas à noite em suas batalhas.
Mas nesse panorama caótico, os hospi- Esse sistema de uma letra ou conjunto de
tais que mais pareciam prisões sem qual- letras, representado por duas colunas e
quer tipo de tratamento especializado, ini- pontos que tinha uma tabela de referência
ciaram o desenvolvimento no atendimento foi a inspiração para o Código Braille.
aos indivíduos com deficiências, com as-
É importante ressaltar que, a partir da
sistência especializada em ortopedia para
44

Revolução Industrial iniciada no século malidade que poderia ser “curada” pela
XVIII e caracterizada pela passagem da medicina, cremos ter feito alguns avanços
manufatura à indústria mecânica, a ques- significativos! Claro, os preconceitos e a
tão da habilitação e da reabilitação da pes- segregação ainda eram acentuados.
soa com deficiência para o trabalho ganhou
força. 4.3 Contemporaneidade e
Segundo Fonseca (2000 apud FERNAN- as garantias atuais
DES; SCHLESENER; MOSQUERA, 2011), Ainda no século XIX, foi criado no Rio de
as anomalia genéticas, as epidemias e as Janeiro, em 1854, o Imperial Instituto dos
guerras deixaram de ser as causas únicas Meninos Cegos e, em 1857, o atual Institu-
das deficiências. O trabalho, muitas vezes to Nacional de Educação de Surdos – INES
em condições precárias, começou a oca- – que passou atender pessoas surdas de
sionar acidentes mutiladores e também todo Brasil, a maioria abandonada pela fa-
doenças profissionais. Assim, tornou-se mília.
necessário a criação do Direito de Trabalho
e de um sistema de seguridade social mais O Século XX trouxe avanços importan-
eficiente. tes para as pessoas com deficiência, so-
bretudo em relação às ajudas técnicas ou
O Século XIX, ainda com reflexos das elementos tecnológicos assistivos. Os ins-
ideias humanistas da Revolução France- trumentos que já vinham sendo utilizados
sa, ficou marcado na história das pessoas – cadeira de rodas, bengalas, sistema de
com deficiência. Finalmente se percebia ensino para surdos e cegos, dentre outros
que elas não só precisavam de hospitais – foram se aperfeiçoando. A sociedade,
e abrigos, mas também de atenção espe- não obstante as sucessivas guerras, orga-
cializada. É nesse período que se inicia a nizou-se coletivamente para enfrentar os
constituição de organizações para estudar problemas e para melhor atender a pessoa
os problemas de cada deficiência. Difun- com deficiência (GARCIA, 2012).
dem-se então os orfanatos, os asilos e os
lares para crianças com deficiência física. Por volta dos anos de 1902 até 1912,
Grupos de pessoas organizam-se em torno cresceu na Europa a formação e organiza-
da reabilitação dos feridos para o trabalho, ção de instituições voltadas para preparar
principalmente nos Estados Unidos e Ale- a pessoa com deficiência. Levantaram-se
manha (GUGEL, 2007). fundos para a manutenção dessas institui-
ções, sendo que havia uma preocupação
Foi o início de estudos mais aprofun- crescente com as condições dos locais aon-
dados no campo biológico, buscando ex- de as pessoas com deficiência se abriga-
plicações fisiológicas e anatômicas das vam. Já começavam a perceber que as pes-
deficiências e quase que paralelamente, soas com deficiência precisavam participar
preocupação com a educação desses defi- ativamente do cotidiano e integrarem-se
cientes. na sociedade.
Enfim, de vítimas de um poder sobrena- Somente no século XX, os indivíduos
tural, criado pela ignorância do próprio ser com deficiências começaram a ser consi-
humano para conduta desviante ou anor- derados cidadãos com seus direitos e de-
45

veres de participação na sociedade; no en-


tanto, ainda numa abordagem assistencial.
Com o surgimento da Declaração Universal
dos Direitos Humanos da Organização das
Nações Unidas (ONU, 1948), iniciam-se os
primeiros movimentos organizados por fa-
miliares desses indivíduos, norteados pe-
las críticas à discriminação (FERNANDES;
SCHLESENER; MOSQUERA, 2011).

Evidentemente que a história tem mui-


tos outros eventos que vieram se soman-
do, como as duas guerras mundiais e todas
as suas nefastas consequências, mas não
nos cabe abrir esse leque de estudos no
momento. O certo é que, principalmente
após a segunda guerra, o mundo precisou
se reorganizar não só econômica e finan-
ceiramente como olhar para as mazelas
sociais que ela deixou para todo o mundo,
desde Europa, Ásia, África e Américas. O le-
gado dessa guerra passa por combatentes
mutilados, famílias sem sustento, sem mo-
radia, saúde, alimentação, deformações
em milhares de pessoas causadas pelas
bombas atômicas no Japão, crianças órfãs,
uma verdadeira penúria global.

As garantias atuais, veremos ao longo


das próximas unidades, garantias estas
que nasceram com a Declaração da ONU,
vieram num continuum crescente em di-
versas outras declarações.
46

UNIDADE 5 – A ONU e As Conferências


Mundiais

5.1 Declaração Universal venção e a Repressão do Crime de Geno-


cídio (1948), a Convenção Internacional
dos Direitos Humanos – sobre a Eliminação de Todas as Formas de
1948 – o começo de tudo Discriminação Racial (1965), a Convenção
sobre a Eliminação de Todas as Formas de
A Declaração Universal dos Direitos Hu-
Discriminação contra as Mulheres (1979),
manos da Organização das Nações Unidas
a Convenção sobre os Direitos da Crian-
(DUDH-ONU), de 1948, é um marco na his-
ça (1989) e a Convenção sobre os Direi-
tória dos direitos humanos. Foi ele que de-
tos das Pessoas com Deficiência (2006),
sencadeou um processo de mudança no
comportamento social e na produção de ins- entre outras (ONU, disponível em: http://
trumentos e mecanismos internacionais de www.dudh.org.br/declaração).
direitos humanos que foram incorporados ao
ordenamento jurídico dos países signatários. 5.2 Declaração dos direitos
Esse processo resultou na base dos atuais das pessoas deficientes –
sistemas global e regionais de produção dos
direitos humanos (PNEDH, 2007). 1975
É interessante observar como veio
A Declaração foi proclamada pela Assem-
crescendo e se adequando a nomencla-
bleia Geral das Nações Unidas, em Paris, em
tura para as pessoas com necessidades
10 de Dezembro de 1948, através da Resolu-
especiais, a começar pela declaração de
ção 217 A (III) da Assembleia Geral como uma
1975, onde falava-se em “pessoa defi-
norma comum a ser alcançada por todos os
ciente”.
povos e nações. Ela estabelece, pela primei-
ra vez, a proteção universal dos direitos hu- Tendo em vista a necessidade de pre-
manos. venir deficiências físicas e mentais e de
prestar assistência às pessoas deficientes
Desde sua adoção, em 1948, a DUDH foi
para que elas possam desenvolver suas
traduzida em mais de 360 idiomas – o do-
habilidades nos mais variados campos
cumento mais traduzido do mundo – e ins-
de atividades e para promover, portanto
pirou as constituições de muitos Estados e
quanto possível, sua integração na vida
democracias recentes. A DUDH, em conjunto
normal, consciente de que determinados
com o Pacto Internacional dos Direitos Civis
países, em seu atual estágio de desen-
e Políticos e seus dois Protocolos Opcionais
volvimento, podem, desenvolver apenas
(sobre procedimento de queixa e sobre pena
limitados esforços para este fim, procla-
de morte) e com o Pacto Internacional dos
ma esta Declaração dos Direitos das Pes-
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e
soas Deficientes e apela à ação nacional e
seu Protocolo Opcional, formam a chamada
internacional para assegurar que ela seja
Carta Internacional dos Direitos Humanos.
utilizada como base comum de referência
Eles incluem a Convenção para a Pre- para a proteção destes direitos:
47

1 - O termo “pessoas deficientes” refe- 6 - As pessoas deficientes têm direito a


re-se a qualquer pessoa incapaz de asse- tratamento médico, psicológico e funcio-
gurar por si mesma, total ou parcialmente, nal, incluindo-se aí aparelhos protéticos e
as necessidades de uma vida individual ou ortóticos, à reabilitação médica e social,
social normal, em decorrência de uma de- educação, treinamento vocacional e re-
ficiência, congênita ou não, em suas capa- abilitação, assistência, aconselhamento,
cidades físicas ou mentais. serviços de colocação e outros serviços
que lhes possibilitem o máximo desenvol-
2 - As pessoas deficientes gozarão de
vimento de sua capacidade e habilidades
todos os diretos estabelecidos a seguir
e que acelerem o processo de sua integra-
nesta Declaração. Estes direitos serão ga-
ção social.
rantidos a todas as pessoas deficientes
sem nenhuma exceção e sem qualquer 7 - As pessoas deficientes têm direito à
distinção ou discriminação com base em segurança econômica e social e a um nível
raça, cor, sexo, língua, religião, opiniões de vida decente e, de acordo com suas ca-
políticas ou outras, origem social ou na- pacidades, a obter e manter um emprego
cional, estado de saúde, nascimento ou ou desenvolver atividades úteis, produti-
qualquer outra situação que diga respeito vas e remuneradas e a participar dos sin-
ao próprio deficiente ou a sua família. dicatos.

3 - As pessoas deficientes têm o direi- 8 - As pessoas deficientes têm direito


to inerente de respeito por sua dignidade de ter suas necessidades especiais leva-
humana. As pessoas deficientes, qual- das em consideração em todos os está-
quer que seja a origem, natureza e gravi- gios de planejamento econômico e social.
dade de suas deficiências, têm os mesmos
9 - As pessoas deficientes têm direito
direitos fundamentais que seus concida-
de viver com suas famílias ou com pais
dãos da mesma idade, o que implica, an-
adotivos e de participar de todas as ativi-
tes de tudo, o direito de desfrutar de uma
dades sociais, criativas e recreativas. Ne-
vida decente, tão normal e plena quanto
nhuma pessoa deficiente será submetida,
possível.
em sua residência, a tratamento diferen-
4 - As pessoas deficientes têm os mes- cial, além daquele requerido por sua con-
mos direitos civis e políticos que outros dição ou necessidade de recuperação. Se
seres humanos: o parágrafo 7 da Decla- a permanência de uma pessoa deficiente
ração dos Direitos das Pessoas Mental- em um estabelecimento especializado for
mente Retardadas 1 , aplica-se a qualquer indispensável, as condições de vida e o
possível limitação ou supressão destes meio ambiente devem aproximar-se, tan-
direitos para as pessoas mentalmente de-
ficientes. 1- Sempre que pessoas mentalmente retardadas forem incapa-
zes devido à gravidade de sua deficiência de exercer todos os
seus direitos de um modo significativo ou que se torne necessá-
5 - As pessoas deficientes têm direito rio restringir ou denegar alguns ou todos estes direitos, o pro-
cedimento usado para tal restrição ou denegação de direitos
a medidas que visem capacitá-las a torna- deve conter salvaguardas legais adequadas contra qualquer
rem-se tão autoconfiantes quanto possí- forma de abuso. Este procedimento deve ser baseado em uma
avaliação da capacidade social da pessoa mentalmente retar-
vel. dada, por parte de especialistas e deve ser submetido à revisão
periódicas e ao direito de apelo a autoridades superiores.
48

to quanto possível, de uma vida normal por países do mundo inteiro não haviam
para pessoas da mesma idade. assegurado o direito à educação para to-
dos, persistindo as seguintes realidades:
10 - As pessoas deficientes deverão ser
protegidas contra toda exploração, todos mais de 100 milhões de crianças, das
os regulamentos e tratamentos de natu- quais pelo menos 60 milhões são meni-
reza discriminatória, abusiva ou degra- nas, não têm acesso ao ensino primário;
dante.
mais de 960 milhões de adultos –
11 - As pessoas deficientes deverão dois terços dos quais mulheres são anal-
poder valer-se de assistência legal qualifi- fabetos, e o analfabetismo funcional é um
cada quando tal assistência for indispen- problema significativo em todos os países
sável para a proteção de suas pessoas e industrializados ou em desenvolvimento;
propriedades. Se forem instituídas medi-
mais de um terço dos adultos do
das judiciais contra elas, o procedimento
mundo não têm acesso ao conhecimento
legal aplicado deverá levar em considera-
impresso, às novas habilidades e tecnolo-
ção sua condição física e mental.
gias, que poderiam melhorar a qualidade
12 - As organizações de pessoas defi- de vida e ajudá-los a perceber e a adaptar-
cientes poderão ser consultadas com pro- -se às mudanças sociais e culturais; e,
veito em todos os assuntos referentes
mais de 100 milhões de crianças e
aos direitos de pessoas deficientes.
incontáveis adultos não conseguem con-
13 - As pessoas deficientes, suas fa- cluir o ciclo básico, e outros milhões, ape-
mílias e comunidades deverão ser ple- sar de concluí-lo, não conseguem adquirir
namente informadas por todos os meios conhecimentos e habilidades essenciais.
apropriados, sobre os direitos contidos
Sendo a educação para todos, incluem-
nesta Declaração.
-se aí as pessoas com necessidades espe-
Resolução adotada pela Assembleia ciais, ou seja, a partir desses documentos,
Geral das Nações Unidas, de 09 de dezem- sela-se um compromisso com a constru-
bro de 1975, Comitê Social Humanitário e ção de sistemas de educação inclusivos.
Cultural.
5.4 Declaração de Salaman-
5.3 Conferência de Jomtien ca – 1994
– 1990 Em julho de 1994, foi realizada na Espa-
Realizada em março de 1990, na cidade nha, cidade de Salamanca, a Conferência
de Jomtien, na Tailândia, essa conferên- Mundial sobre Educação de Pessoas com
cia proclamou a Declaração Mundial sobre Necessidades Especiais, com o patrocínio
Educação para Todos, um plano de ação da UNESCO e do Governo Espanhol. Nessa
para satisfazer as necessidades básicas Conferência foi criada a Declaração de Sala-
de aprendizagem, justificando que em- manca e o Plano de Ação para a Educação de
bora mais de 40 anos as nações tivessem Necessidades Especiais, que foi aceito por
afirmado a DUDH, os esforços realizados mais de 300 participantes de 92 países e 25
49

organizações internacionais. inclusiva e alcançando educação para to-


dos;
Essa Declaração contém 83 propostas,
sendo um dos mais completos textos sobre além disso, tais escolas proveem uma
a inclusão de pessoas com deficiências físi- educação efetiva à maioria das crianças
cas. Os seus parágrafos evidenciam que a aprimoram a eficiência e, em última instân-
educação inclusiva não é aquela destinada cia, o custo da eficácia de todo o sistema
apenas às pessoas com deficiências, mas, educacional.
também, a todas as pessoas com neces-
A Declaração de Salamanca não deixa
sidades educacionais especiais, sejam em
dúvidas quanto ao direito à educação. Para
caráter temporário, intermitente ou perma-
ela, todos os sujeitos têm direitos à educa-
nente (SANTOS, 2013).
ção, independentemente de ter ou não ne-
À página 1, a Declaração “[...] de- cessidades educacionais especiais. Todos
manda que os Estados assegurem que os sujeitos são iguais em direitos e sendo
a educação de pessoas com deficiên- tratados como iguais, tornam a aprendiza-
cias seja parte integrante do sistema gem única. Essa Declaração demanda ain-
educacional”, tendo como princípios da que os governos “[...] adotem o princípio
básicos os seguintes: de educação inclusiva em forma de lei ou
de política, matriculando todas as crianças
toda criança tem direito fundamental
em escolas regulares, a menos que existam
à educação, e deve ser dada a oportunida-
fortes razões para agir de outra forma” (DE-
de de atingir e manter o nível adequado de
CLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p. 2).
aprendizagem;

toda criança possui características, 5.5 Convenção da Guatema-


interesses, habilidades e necessidades de
aprendizagem que são únicas;
la – 1999
A partir da Convenção Interamericana
sistemas educacionais deveriam ser para a Eliminação de Todas as Formas de
designados e programas educacionais de- Discriminação contra as Pessoas Porta-
veriam ser implementados no sentido de se dores de Deficiência os Estados Partes –
levar em conta à vasta diversidade de tais Guatemala, março de 1999 – reafirmaram
características e necessidades; que
aqueles com necessidades educacio-
nais especiais devem ter acesso à escola re- as pessoas portadoras de deficiên-
gular, que deveriam acomodá-los dentro de cia têm os mesmos direitos humanos
uma pedagogia centrada na criança, capaz e liberdades fundamentais que outras
de satisfazer a tais necessidades; pessoas e que estes direitos, inclusive
o de não ser submetido a discriminação
escolas regulares que possuam tal com base na deficiência, emanam da
orientação inclusiva constituem os meios dignidade e da igualdade que são ine-
mais eficazes de combater atitudes discri- rentes a todo ser humano.
minatórias criando-se comunidades mais
acolhedoras, construindo uma sociedade
No seu artigo I, a Convenção define que
50

o termo deficiência dial de Pessoas com Deficiência (Disabled


Peoples’ International - DPI), da Inclusão
significa uma restrição física, mental Internacional (Inclusion International),
ou sensorial, de natureza permanente da Reabilitação Internacional (Rehabilita-
ou transitória, que limita a capacida- tion International - RI), da União Mundial
de de exercer uma ou mais atividades de Cegos (World Blind Union - WBU) e da
essenciais da vida diária causada ou Federação Mundial dos Surdos (World Fe-
agravada pelo ambiente econômico e deration of the Deaf - WFD), bem como
social. de organizações não-governamentais
(ONGs) de e para pessoas com deficiência
Para os efeitos desta Convenção, o ter-
de todos os continentes – reunimo-nos
mo discriminação contra as pessoas com
em Pequim, nos dias 10 a 12 de março de
deficiência
2000, a fim de desenvolver uma estraté-
significa toda a diferenciação, exclu- gia para o novo século visando à partici-
são ou restrição baseada em deficiên- pação plena e igualdade das pessoas com
cia (...) que tenham efeito ou propósito deficiência.
de impedir ou anular o reconhecimen-
2. Nós reconhecemos, com gratidão,
to, gozo ou exercício por parte das pes-
que as duas últimas décadas do século 20
soas portadoras de deficiência de seus
testemunharam e aumentaram a consci-
direitos humanos e suas liberdades
ência das questões enfrentadas por mais
fundamentais.
de 600 milhões de pessoas com deficiên-
Também define que não constitui dis- cia, assistidos em parte por vários instru-
criminação mentos da Organização das Nações Uni-
das (ONU).
a diferenciação ou preferência ado-
tada pelo Estado Parte para promover 3. Nós expressamos profunda preocu-
a integração social ou desenvolvimen- pação no sentido de que tais instrumen-
to pessoal dos portadores de defici- tos ainda não criaram impacto significati-
ência desde que a diferenciação ou vo para melhorar a vida das pessoas com
preferência não limite em si mesmo o deficiência, especialmente das mulheres
direito a igualdade dessas pessoas e e meninas com deficiência que permane-
que elas não sejam obrigadas a aceitar cem como o mais invisível e marginalizado
tal diferenciação (ARANHA, 2004). de todos os grupos sociais em situação de
desvantagem.

5.6 Declaração de Pequim – 4. Nós enfatizamos que a contínua


exclusão de pessoas com deficiência da
2000 corrente principal do processo de desen-
Em 12 de março de 1990, durante a Cú- volvimento constitui uma violação dos
pula Mundial das ONGs sobre Deficiência direitos fundamentais e uma acusação da
realizada em Pequim, capital da República humanidade no limiar do novo século.
Popular da China, vale saber o seguinte:
5. Nós compartilhamos a convicção
1. Nós - os líderes da Organização Mun-
51

de que a plena inclusão das pessoas com participantes neste processo para que
deficiência na sociedade requer a nossa facilitem ativamente a adoção de tal con-
solidariedade para trabalharmos em prol venção, a qual deve abordar, entre outras
de uma convenção internacional que le- coisas, as seguintes áreas de preocupa-
galmente obrigue as nações para reforçar ção prioritária:
a autoridade moral das Normas sobre a
(a) Melhoria da qualidade de vida das
Equiparação de Oportunidades para Pes-
pessoas com deficiência e sua libertação
soas com Deficiência, da ONU.
da privação, opressão e pobreza.
6. Nós acreditamos que o limiar do novo
(b) Educação, treinamento, trabalho
século é uma época oportuna para todos –
remunerado e participação em todos os
pessoas com deficiência de qualquer tipo
níveis do processo de tomada de decisão.
e suas organizações e outras instituições
cívicas, governos locais e nacionais, mem- (c) Eliminação das atitudes e práticas
bros do sistema da ONU e outros órgãos discriminatórias, bem como das barreiras
intergovernamentais, bem como o setor de informação, de infraestrutura e legais.
privado – colaborarem estreitamente em
um processo consultivo inclusivo e amplo,
(d) Alocação crescente de recursos
para assegurar a igual participação das
visando à elaboração e adoção de uma
pessoas com deficiência.
convenção internacional para promover
e proteger os direitos das pessoas com 9. Nós, através desta declaração, emi-
deficiência e aumentar as suas oportuni- timos uma convocação a todos aqueles
dades iguais de participação na corrente preocupados com a igualdade e a dignida-
principal da sociedade. de humanas, para que se unam em amplos
esforços abrangendo capitais, municípios
7. Nós, portanto, instamos todos os
e cidades, aldeias remotas e os fóruns da
chefes de estado e de governo, admi-
ONU, a fim de assegurarem a adoção de
nistradores públicos, autoridades locais,
uma convenção internacional sobre os di-
membros do sistema da ONU, pessoas
reitos de todas as pessoas com deficiên-
com deficiência, organizações cívicas que
cia. E,
participam do processo de desenvolvi-
mento e organizações do setor privado 10. Nós comprometemos nossas res-
socialmente responsáveis, no sentido de pectivas organizações para se empenha-
que iniciem imediatamente o processo rem por uma convenção internacional, le-
por uma convenção internacional, inclu- galmente obrigatória, sobre os direitos de
sive provocando-o em todos os fóruns todas as pessoas com deficiência à parti-
internacionais, especialmente a Sessão cipação plena e à igualdade na sociedade
Especial da Assembleia Geral da ONU so- (TRADUÇÃO DE SASSAKI, 2003).
bre Desenvolvimento Social, o Fórum do
Milênio das ONGs, a Cúpula e a Assembleia Essa declaração foi mais uma amos-
Geral do Milênio da ONU e as reuniões pre- tra de que a legislação até então, embo-
paratórias pertinentes. ra afinada com as vertentes mundiais de
inclusão, não garantia o acesso e, mais, o
8. Nós, além disso, instamos todos os sucesso das crianças com deficiências na
52

escola. te, substituindo o termo “doença men-


tal” por “transtorno mental”. Permanece,
5.7 Declaração de Montreal sim, o adjetivo “mental” (o que é correto),
mas o grande avanço científico foi mudar
– 2004 para “transtorno”. Aqui também se aplica
Em outubro de 2004, foi realizado em o critério do número (singular e não plu-
Montreal no Canadá, uma conferência que ral) para a palavra “transtorno”. Dizemos:
culminou no documento “Declaração de “pessoa(s) com transtorno mental”, e não
Montreal sobre deficiência intelectual”. “pessoa(s) com transtornos mentais”,
Sassaki (2004) nos leva a observar que mesmo que existam vários transtornos
o termo “intelectual” foi utilizado também mentais. Segundo especialistas, o trans-
em francês e inglês: Déclaration de Mon- torno mental pode ocorrer em 20% ou até
treal sur la Déficiénce Intelectuelle, Mon- 30% dos casos de deficiência intelectual
treal Declaration on Intelectual Disability. configurando-se aqui um exemplo de de-
ficiência múltipla (SASSAKI, 2004).
O mesmo autor faz um comentário so-
bre os termos “deficiência mental” e “defi- 5.8 Convenção dos direitos
ciência intelectual”. A partir da década de
80, o termo utilizado tem sido “deficiência da pessoa com deficiência
mental”. Antes disso, muitos outros ter- da ONU e seu protocolo fa-
mos já existiram. E, atualmente, há uma
tendência mundial (brasileira também) cultativo – New York – 2007
de se usar “deficiência intelectual”, termo Resende e Vital (2008) organizaram
com o qual concorda por duas razões. A um material que traz os mais diversos
primeira razão tem a ver com o fenômeno comentários sobre a convenção acima, a
propriamente dito. Ou seja, é mais apro- qual tomou por referência, os 60 anos da
priado o termo “intelectual” por referir-se DUDH, em 2008.
ao funcionamento do intelecto especifi-
Na introdução do material, Maior (2008)
camente e não ao funcionamento da men-
explica que para celebrar esta data de
te como um todo.
alto simbolismo, a ONU cunhou a expres-
A segunda razão consiste em podermos são “Dignidade e Justiça para Todos Nós”
melhor distinguir entre “deficiência men- e sob esta inspiração, os Estados Partes
tal” e “doença mental”, dois termos que estão desenvolvendo suas agendas de
têm gerado muita confusão há décadas, educação em direitos humanos. No Bra-
principalmente na mídia. Os dois fenôme- sil, a Secretaria Especial dos Direitos Hu-
nos trazem o adjetivo “mental” e muita manos da Presidência da República, com
gente pensa que “deficiência mental” e status de ministério, já está trabalhando
“doença mental” são a mesma coisa. En- para a mais ampla divulgação da Declara-
tão, em boa hora, Sassaki separa os dois ção Universal dos Direitos Humanos. As
fenômenos. Também no campo da saúde atividades se desenvolvem com base no
mental (área psiquiátrica), está ocorrendo lema “Iguais na Diferença”. Nada melhor
uma mudança terminológica importan- do que juntarmos dignidade e justiça para
53

reconhecer que muito deve ser feito até Existem no mundo 600 milhões de
que as diferenças não nos impeçam de ser pessoas com deficiência, sendo que 400
iguais, justifica ela. milhões vivem em países pobres ou em
desenvolvimento. No Brasil, 27% destes
Vital (2008) cita o grande avanço que já
brasileiros vivem em situação de pobreza
tivemos na proteção dos direitos das mu-
extrema e 53% são pobres (IBGE, 2000).
lheres e meninas com deficiência que são
mais vulneráveis a todo tipo de violência Estes dados por si só nos mostram a ur-
doméstica, bem como de qualquer outra gência e importância devida à questão das
ordem. pessoas com alguma deficiência e mais
uma vez podemos dizer fundamentam os
O princípio do movimento de vida in-
estudos e reflexões da educação especial
dependente está valorizado quando se
no Brasil.
assinala a autonomia e independência
individuais das pessoas com deficiência, O material é extenso, mas vale a pena
inclusive da liberdade delas fazerem suas ser conferido, principalmente os comen-
próprias escolhas, e participarem ativa- tários feitos a artigos que tratam de ques-
mente das decisões relativas a programas tões ligadas mais de perto à deficiência.
e políticas públicas, principalmente as que
lhes dizem respeito diretamente. Nada
Vejamos os comentários ao artigo
sobre nós, sem nós. 7 – Crianças com deficiência, por Flá-
via Cintra (2008, p. 42):
A promoção da acessibilidade, assim, é
o meio que dará a oportunidade às pes- Chegamos ao terceiro milênio diante da
soas com deficiência de participarem ple- constatação de que os direitos universais
namente na sociedade, em igualdade de das crianças ainda são violados em todas
condições com as demais. as partes do mundo.

A pobreza e a deficiência estão dire- A ONU estima, por exemplo, que a cada
tamente ligadas por múltiplas razões e é ano, 2 milhões de meninas são submeti-
natural que a Convenção contemple o de- das a rituais de mutilação genital, princi-
senvolvimento, conceito extraído dos di- palmente na África e na Ásia, o que resul-
ferentes documentos oficiais do sistema ta em deficiências severas, infertilidade e
das Nações Unidas, que além de sustentá- mortalidade. Mutilação genital é a prática
vel deve ser inclusivo. da extração total ou parcial dos órgãos
genitais femininos. Sua forma mais severa
A deficiência é tanto uma causa como inclui a mutilação total do clitóris, a exci-
uma consequência da pobreza; alguns são (extirpação total ou parcial dos lábios
cálculos indicam que uma em cada cinco menores) e a raspagem dos lábios maiores
pessoas pobres apresenta uma deficiên- para criar superfícies em carne viva que,
cia (DEVANDAS, 2006 apud VITAL, 2008). depois de unidas pela cicatrização, tapem
Podemos então dizer que todas as famí- a vagina.
lias de uma comunidade pobre são dire-
tamente afetadas pelos efeitos socioeco- A proteção da criança é abordada por
nômicos dela decorrentes. muitas convenções internacionais. Ao
54

dedicar um artigo da Convenção sobre os zagem de qualquer criança. Os defensores


Direitos das Pessoas com Deficiência às da inclusão acreditam que a entrada dos
crianças, as Nações Unidas reafirmam os alunos com deficiência no ambiente edu-
direitos conquistados na Declaração dos cacional regular vai pressionar as escolas
Direitos da Criança de 1959, bem como a se reestruturarem física e pedagogica-
nas Regras de Beijing de 1985, na Conven- mente, respeitando o ritmo de aprendiza-
ção sobre os Direitos da Criança (1989), gem de cada aluno, tenha ele uma defici-
nas Regras das Nações Unidas para a pro- ência ou não.
teção dos menores privados de liberdade
A Constituição Brasileira de 1988, ga-
(1990) e nas Diretrizes das Nações Unidas
rante o acesso ao Ensino Fundamental
para Prevenção da Delinquência Juvenil
regular a todas as crianças, sem exceção.
(Diretrizes de Riad – 1990).
A inclusão ganhou reforço com a Lei de
No Brasil, o Estatuto da Criança e do Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
Adolescente – ECA – é a norma aplicável a de 1996, e com a Convenção da Guatema-
todos com idade de até 18 anos e, em ca- la, de 2001, que proíbe qualquer tipo de
sos excepcionais, até 21 anos. O ECA foi restrição baseada na deficiência de uma
criado em consonância com a Convenção pessoa.
sobre os Direitos da Criança, ratificada
Todos os instrumentos nacionais e in-
pelo Brasil, em 21 de novembro de 1990,
ternacionais criados para proteger os di-
pelo Decreto 99.710, com o objetivo de
reitos da criança, embora o âmbito possa
satisfazer e garantir os direitos inerentes
variar, giram em torno do tema comum de
à criança e ao adolescente.
promover seu bem-estar e desenvolvi-
Por falta de informação ou omissão mento.
da família e do poder público, milhões de
Deste modo, espera-se combater o ci-
crianças com deficiência ainda vivem es-
clo da invisibilidade das pessoas com de-
condidas em casa ou isoladas em institui-
ficiência. No Brasil, começam a aparecer
ções. O lugar destas crianças também é na
os primeiros resultados. A presença das
escola.
pessoas com deficiência na mídia, espe-
A inclusão é um conceito defendido por cialmente nas telenovelas, tem gerado
educadores de todas as partes do mun- reflexão do público a respeito da inclusão,
do. Atualmente, é difícil encontrar quem como uma pauta social inadiável.
se oponha publicamente ao convívio de
O artigo 7 da Convenção sobre os Direi-
crianças com algum tipo de deficiência
tos das Pessoas com Deficiência é o mais
com outras de sua idade, tanto para o de-
novo instrumento que temos para traba-
senvolvimento social e educacional como
lhar pela inclusão das crianças com defici-
para diminuir o preconceito. Porém, no
ência em todas as rotinas educacionais e
Brasil, a realidade da rede pública de en-
sociais, garantindo seu direito ao desen-
sino ainda é de salas superlotadas, baixos
volvimento pleno, saudável e seguro.
salários, má formação dos professores,
projetos pedagógicos ultrapassados e es-
trutura precária, o que dificulta a aprendi-
55
UNIDADE 6 – A Legislação Brasileira para
Educação Especial e Inclusiva

Historicamente, a escola se caracteri- peciais e classes especiais. Essa orga-


zou pela visão da educação que delimita nização, fundamentada no conceito de
a escolarização como privilégio de um normalidade/anormalidade, determina
grupo, uma exclusão que foi legitimada formas de atendimento clínico terapêu-
nas políticas e práticas educacionais re- ticos fortemente ancorados nos testes
produtoras da ordem social. A partir do psicométricos que definem, por meio de
processo de democratização da educa- diagnósticos, as práticas escolares para
ção, evidencia-se o paradoxo inclusão/ os alunos com deficiência.
exclusão, quando os sistemas de ensino
Entretanto, assegurar a todos a igual-
universalizam o acesso, mas continuam
dade de condições para o acesso e a per-
excluindo indivíduos e grupos considera-
manência na escola, sem qualquer tipo
dos fora dos padrões homogeneizadores
de discriminação, é um princípio que está
da escola. Assim, sob formas distintas, a
em nossa Constituição desde 1988, mas
exclusão tem apresentado característi-
que ainda não se tornou realidade para
cas comuns nos processos de segregação
milhares de crianças e jovens: meninas e
e integração que pressupõem a seleção,
adolescentes que apresentam necessi-
naturalizando o fracasso escolar.
dades educacionais especiais, vinculadas
A partir da visão dos direitos humanos ou não a deficiências (ARANHA, 2004).
e do conceito de cidadania fundamen-
Esse é apenas um dos motivos que nos
tado no reconhecimento das diferenças
levam a analisar a política de educação
e na participação dos sujeitos, decor-
especial no Brasil, partindo de breve evo-
re uma identificação dos mecanismos e
lução que começa ainda no império, mas
processos de hierarquização que operam
centrando os estudos nos anos 1990.
na regulação e produção das desigualda-
Outros contornos que merecem ser ana-
des. Essa problematização explicita os
lisados são por conta de suas mudanças
processos normativos de distinção dos
conceituais e estruturais.
alunos em razão de características inte-
lectuais, físicas, culturais, sociais e lin- Segundo Garcia (2013), parte de tal
guísticas, entre outras, estruturantes do movimento está relacionada à adoção
modelo tradicional de educação escolar de uma perspectiva inclusiva para a edu-
(BRASIL, 2008). cação nacional, que ganhou definições
particulares quando voltada aos sujeitos
Quanto à educação especial, esta se
que constituem o público-alvo das políti-
organizou tradicionalmente como aten-
cas de educação especial, “sujeitos estes
dimento educacional especializado subs-
definidos na política nacional como aque-
titutivo ao ensino comum, evidenciando
les com deficiências, altas habilidades e
diferentes compreensões, terminologias
transtornos globais do desenvolvimen-
e modalidades que levaram a criação de
to” (BRASIL, 2008).
instituições especializadas, escolas es-
56

6.1 Breve retrospectiva da Em 1973, é criado no MEC, o Centro Na-


cional de Educação Especial – CENESP –,
educação especial no Brasil responsável pela gerência da educação
Já comentamos que o atendimento especial no Brasil, que, sob a égide inte-
brasileiro às pessoas com deficiência gracionista, impulsionou ações educacio-
teve início na época do Império com a nais voltadas às pessoas com deficiência
criação de duas instituições: o Imperial e às pessoas com superdotação; ainda
Instituto dos Meninos Cegos, em 1854, configuradas por campanhas assisten-
atual Instituto Benjamin Constant – IBC, ciais e ações isoladas do Estado.
e o Instituto dos Surdos Mudos, em 1857,
Nesse período, não se efetiva uma po-
atual Instituto Nacional da Educação dos
lítica pública de acesso universal à educa-
Surdos – INES, ambos no Rio de Janeiro.
ção, permanecendo a concepção de ‘polí-
No início do século XX, é fundado o ticas especiais’ para tratar da temática da
Instituto Pestalozzi – 1926 –, instituição educação de alunos com deficiência e, no
especializada no atendimento às pesso- que se refere aos alunos com superdota-
as com deficiência mental; em 1954, é ção, apesar do acesso ao ensino regular,
fundada a primeira Associação de Pais e não é organizado um atendimento espe-
Amigos dos Excepcionais – APAE; e, em cializado que considere as singularidades
1945, é criado o primeiro atendimento de aprendizagem desses alunos.
educacional especializado às pessoas
Eis que com a promulgação da Cons-
com superdotação na Sociedade Pesta-
tituição Cidadã de 1988, esta traz como
lozzi, por Helena Antipoff 2 .
um dos seus objetivos fundamentais,
Em 1961, o atendimento educacional “promover o bem de todos, sem precon-
às pessoas com deficiência passa ser ceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e
fundamentado pelas disposições da Lei quaisquer outras formas de discrimina-
de Diretrizes e Bases da Educação Nacio- ção” (art.3º inciso IV). Define, no artigo
nal, Lei nº 4.024/61, que aponta o direito 205, a educação como um direito de to-
dos “excepcionais” à educação, preferen- dos, garantindo o pleno desenvolvimen-
cialmente dentro do sistema geral de en- to da pessoa, o exercício da cidadania e a
sino. qualificação para o trabalho. No seu arti-
go 206, inciso I, estabelece a “igualdade
A Lei nº 5.692/71, que altera a LDBEN
de condições de acesso e permanência
de 1961, ao definir ‘tratamento especial’
na escola”, como um dos princípios para o
para os alunos com “deficiências físicas,
ensino e, garante, como dever do Estado,
mentais, os que se encontrem em atraso
a oferta do atendimento educacional es-
considerável quanto à idade regular de
matrícula e os superdotados”, não pro- 2 - (1892-1974) Psicóloga e pedagoga russa que fixou residên-
move a organização de um sistema de cia no Brasil, a partir de 1929, a convite do governo do estado
de Minas Gerais, no contexto da operacionalização da reforma
ensino capaz de atender as necessidades de ensino conhecida como Reforma Francisco Campos-Mário
educacionais especiais e acaba reforçan- Casassanta. Grande pesquisadora e educadora da criança por-
tadora de deficiência, foi pioneira na introdução da educação
do o encaminhamento dos alunos para as especial no Brasil, onde fundou a primeira Sociedade Pestalo-
zzi, iniciando o movimento pestalozziano brasileiro (CAMPOS,
classes e escolas especiais. 2003).
57

pecializado, preferencialmente na rede zação específicos para atender às suas


regular de ensino (art. 208). necessidades; assegura a terminalidade
específica àqueles que não atingiram o
Em 1990, a promulgação do Estatu-
nível exigido para a conclusão do ensino
to da Criança e do Adolescente, Lei nº
fundamental, em virtude de suas defi-
8069/90, reforça em seu artigo 55, os
ciências e; a aceleração de estudos aos
dispositivos legais supracitados, ao de-
superdotados para conclusão do progra-
terminar que “os pais ou responsáveis
ma escolar. Também define, dentre as
têm a obrigação de matricular seus fi-
normas para a organização da educação
lhos ou pupilos na rede regular de ensi-
básica, a “possibilidade de avanço nos
no”. Também, nessa década, documentos
cursos e nas séries mediante verifica-
como a Declaração Mundial de Educação
ção do aprendizado” (art. 24, inciso V) e
para Todos (1990) e a Declaração de Sa-
“[...] oportunidades educacionais apro-
lamanca (1994), passam a influenciar a
priadas, consideradas as características
formulação das políticas públicas da edu-
do alunado, seus interesses, condições
cação inclusiva.
de vida e de trabalho, mediante cursos e
Em 1994, é publicada a Política Nacio- exames” (art. 37).
nal de Educação Especial, orientando o
Vamos nos centrar então na Política
processo de ‘integração instrucional’ que
Nacional para Educação Especial e a se-
condiciona o acesso às classes comuns do
guir comentaremos sobre outras legisla-
ensino regular àqueles que “(...) possuem
ções que vieram embasar o preconizado
condições de acompanhar e desenvolver
por esta.
as atividades curriculares programadas
do ensino comum, no mesmo ritmo que
os alunos ditos normais” (BRASIL, 1994,
6.2 Política Nacional para
p. 19). Educação Especial
Ao reafirmar os pressupostos constru- A legislação passa necessariamente
ídos a partir de padrões homogêneos de por uma política nacional, portanto, va-
participação e aprendizagem, a Política mos nos situar para falar de políticas na-
não provoca uma reformulação das prá- cionais, na década de 1990, que caracte-
ticas educacionais de maneira que sejam rizou-se como um período de reformas,
valorizados os diferentes potenciais de quer seja no âmbito do Estado ou na es-
aprendizagem no ensino comum, man- pecificidade da área da Educação, consi-
tendo a responsabilidade da educação derada naquele contexto como campo
desses alunos exclusivamente no âmbito privilegiado para a manutenção das re-
da educação especial. lações sociais. Tais reformas atingem to-
dos os setores da educação, dentre eles,
A atual Lei de Diretrizes e Bases da a Educação Especial. Do ponto de vista da
Educação Nacional – Lei nº 9.394/96, presença da Educação Especial no apare-
no artigo 59, preconiza que os sistemas lho do Estado brasileiro, a Secretaria de
de ensino devem assegurar aos alunos Educação Especial – SESPE, extinta no
currículo, métodos, recursos e organi- Governo Fernando Collor de Melo, foi re-
58

tomada pelo Governo Itamar Franco com poder e consenso político em torno das
a mesma denominação, mas de sigla SE- funções sociais e educativas);
ESP (GARCIA; MICHELS, 2011).
ajuste econômico com a dimensão
A Educação Especial tinha como orien- humana (valor que se deve atribuir à dig-
tação o documento intitulado Política nidade dos portadores de necessidades
Nacional de Educação Especial (1994), especiais como seres integrais);
o qual apresentava como fundamentos
legitimidade (participação direta ou
a Constituição Federal (1988), a Lei de
indireta das pessoas portadoras de defi-
Diretrizes e Bases da Educação (Lei nº
ciência na formação de políticas públicas,
4.024/61), o Plano Decenal de Educação
planos e programas) (BRASIL, 1994).
para Todos (1993) e o Estatuto da Crian-
ça e do Adolescente (1990). Até aqui, Garcia e Michels (2011) ob-
servam que o princípio da integração foi
A proposição política, naquele momen-
apresentado como organizador da políti-
to, tanto para a educação como para a
ca para a área. Por outro lado, 1994 tam-
Educação Especial, tinha como princípios
bém foi o ano de promulgação da Decla-
a democracia, a liberdade e o respeito à
ração de Salamanca que, segundo muitos
dignidade. A Educação Especial, em me-
intelectuais da área, substituiria o funda-
ados dos anos 1990, orientava sua ação
mento integracionista pelo inclusivista.
pedagógica por princípios específicos,
quais sejam: Entretanto, como indica Bueno
(2008), a introdução do termo inclusão
normalização (que pode ser conside-
em substituição à integração, no Brasil,
rada a base filosófico-ideológica da inte-
está constituída de problemas em rela-
gração);
ção à tradução do referido documento.
integração (que se refere a valores Segundo o autor, a primeira tradução im-
como igualdade, participação ativa, res- pressa da Declaração de Salamanca, pu-
peito a direitos e deveres); blicada pela Coordenadoria Nacional para
Integração da Pessoa Portadora de Defi-
individualização (que pressupõe a
ciência – CORDE –, em 1994, assumia uma
adequação do atendimento educacional
orientação integradora. Já em 2007, essa
a cada portador de necessidades educa-
mesma coordenadoria altera essa tradu-
tivas especiais, respeitando seu ritmo e
ção com a substituição de integração por
características pessoais);
inclusão, o que gera um dilema conceitu-
interdependência (envolve parce- al e de fundamentação de política (BUE-
rias entre diferentes setores); NO, 2008).

construção do real (para atender as Outro marco para a educação especial,


necessidades do alunado); também da década de 1990, já vista, é a
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Na-
efetividade dos modelos de aten-
cional – LDB – nº 9394/96, que trouxe um
dimento educacional (envolve três ele-
capítulo específico com três artigos para
mentos: infraestrutura, hierarquia do
tratar da Educação Especial.
59

Nessa nova lei, o atendimento a alu- ambiguidade dessa reforma educacional


nos deficientes é dever do Estado e sua nos anos 90. Vejamos:
educação deve ser pública, gratuita e
preferencialmente na rede regular de Se por um lado o Governo Federal
ensino. Porém, o que rege a lógica da traçou as políticas que objetivaram a
obrigatoriedade do atendimento ao alu- integração das pessoas com necessi-
no com necessidades especiais ainda são dades especiais, por outro, delegou
as parcerias, como mostra documento aos Estados, Municípios e às ONGs, as
da Secretaria de Educação Especial que medidas que assegurariam tal políti-
afirma: “É necessário ampliar o nível de ca.
participação social na implementação do
De forma resumida, são objetivos da
atendimento, buscando-se todas as for-
Política Nacional de Educação Especial
ças existentes na comunidade” (BRASIL,
na Perspectiva da Educação Inclusiva,
1994, p. 29).
assegurar a inclusão escolar de alunos
Na LDB nº 9394/96, a Educação Es- com deficiência, transtornos globais do
pecial está definida como modalidade desenvolvimento e altas habilidades/su-
de ensino destinada aos educandos com perdotação, orientando os sistemas de
necessidades especiais, preferencial- ensino para garantir:
mente na rede regular de ensino. É indu-
acesso ao ensino regular, com par-
bitável o avanço da discussão sobre in-
ticipação, aprendizagem e continuidade
tegração, porém, é importante destacar
nos níveis mais elevados do ensino;
que o termo “preferencialmente” abre a
possibilidade de que o ensino não ocorra transversalidade da modalidade de
na rede regular, mas que permaneça nas educação especial desde a educação in-
instituições especializadas. Além disso, a fantil até a educação superior;
lei indica no Artigo 58, parágrafo 1º, que
haverá, quando necessário, serviços es- oferta do atendimento educacional
pecializados na escola regular, mas não especializado;
há referência sobre quem define sua ne- formação de professores para o
cessidade. No 2º parágrafo do mesmo ar- atendimento educacional especializado
tigo, está prescrito que as modalidades e demais profissionais da educação para
de atendimento fora da classe comum da a inclusão;
rede regular serão aceitas quando, pelas
condições específicas do aluno, a inte- participação da família e da comuni-
gração não for possível. dade;

Desta forma, criam-se instrumentos acessibilidade arquitetônica, nos


legais para manter alunos considerados transportes, nos mobiliários, nas comu-
com condições graves de deficiência em nicações e informação; e,
instituições especializadas. articulação intersetorial na imple-
Muito pertinente o comentário de mentação das políticas públicas (BRASIL,
Garcia e Michels (2011, p. 108) acerca da 2008).
60

Mas quem são mesmo esses alu- tos públicos de ensino; a consideração da
nos? educação especial como modalidade de
educação escolar, permeando todos os ní-
Alunos com deficiência são aqueles veis e modalidades de ensino; dentre ou-
que têm impedimentos de longo prazo, tras medidas.
de natureza física, mental, intelectual ou
sensorial, que em interação com diversas Em 2001, foi a vez do Plano Nacional de
barreiras podem ter restringida sua par- Educação, a Lei nº 10172, que estabele-
ticipação plena e efetiva na escola e na ceu objetivos e metas para a educação das
sociedade. pessoas com necessidades educacionais
especiais (hoje já estamos no Plano para o
Os alunos com transtornos globais decênio 2011-2020).
do desenvolvimento são aqueles que
apresentam alterações qualitativas das Logo no início dos anos 2000, o Conselho
interações sociais recíprocas e na comu- Nacional de Educação – CNE – promulgou a
nicação, um repertório de interesses e resolução que institui as Diretrizes Nacio-
atividades restrito, estereotipado e re- nais para a Educação Especial na Educa-
petitivo. Incluem-se nesse grupo alunos ção Básica (BRASIL, 2001). Tal documento,
com autismo, síndromes do espectro do com caráter de lei, passa a regulamentar os
autismo e psicose infantil. artigos presentes na LDB nº 9.394/96, que
já instituía a Educação Especial como mo-
Alunos com altas habilidades/super- dalidade educacional, o Atendimento Es-
dotação demonstram potencial elevado pecializado aos alunos com necessidades
em qualquer uma das seguintes áreas, especiais na rede pública iniciando desde a
isoladas ou combinadas: intelectual, aca- educação infantil, ou na faixa etária entre
dêmica, liderança, psicomotricidade e zero e seis anos.
artes. Também apresentam elevada cria-
tividade, grande envolvimento na apren- Se a LDB nº 9.394/96 propôs um aten-
dizagem e realização de tarefas em áreas dimento especializado, preferencialmen-
de seu interesse. Dentre os transtornos te na rede regular, a Resolução CNE/CEB
funcionais específicos estão: dislexia, di- 2/2001, em seu artigo 7º indicou a edu-
sortografia, disgrafia, discalculia, trans- cação de sujeitos com necessidades es-
torno de atenção e hiperatividade, entre peciais na escola regular. Suprimiu-se o
outros. “preferencialmente” e foi acrescentada a
noção segundo a qual os alunos da Educa-
6.3 Diretrizes Nacionais ção Especial poderão, extraordinariamen-
te, ser atendidos em classes ou escolas
para educação Especial especiais. A mudança do texto legal – reti-
Em 1999, vimos surgir a Política Nacio- rou-se o “preferencialmente” e acrescen-
nal para a Integração da Pessoa Portadora tou-se o “extraordinariamente” – manteve
de Deficiência/Decreto 3298 que estabe- a histórica lógica dual integrado/segrega-
leceu a matrícula compulsória nos cursos do, modificando, contudo, sua intensidade
regulares; a oferta obrigatória e gratuita (GARCIA; MICHELS, 2011).
da educação especial em estabelecimen-
61

A Resolução CNE/CEB nº 2/2001 (BRA- públicos.


SIL, 2001) ganhou importância por nor-
O Decreto nº 5.626/05, que regulamen-
matizar no Brasil as premissas inclusivas
ta a Lei nº 10.436/2002, visando ao acesso
que estavam no debate internacional e, ao
à escola dos alunos surdos, dispõe sobre a
mesmo tempo, expressou o modo pelo qual
inclusão da Libras como disciplina curricu-
a política nacional incorporou um conjunto
lar, a formação e a certificação de profes-
de ideias que se firmaram como hegemôni-
sor, instrutor e tradutor/intérprete de Li-
cas no campo da Educação Especial.
bras, o ensino da Língua Portuguesa como
Em relação à definição do público-alvo segunda língua para alunos surdos e a or-
das políticas de Educação Especial, a Re- ganização da educação bilíngue no ensino
solução CNE/CEB 2/2001 utilizou a termi- regular.
nologia “alunos com necessidades espe-
Em 2007, é lançado o Plano de Desen-
ciais”, os quais são definidos como todos
volvimento da Educação – PDE –, reafirma-
aqueles que apresentarem dificuldades
do pela Agenda Social, tendo como eixos a
de aprendizagem, com ou sem correlação
formação de professores para a educação
com questões orgânicas. Contudo, tal defi-
especial, a implantação de salas de recur-
nição, a exemplo das indicações encontra-
sos multifuncionais, a acessibilidade arqui-
das na Declaração de Salamanca (UNESCO,
tetônica dos prédios escolares, acesso e a
1994), abriu o foco de atenção para uma
permanência das pessoas com deficiência
diversidade de sujeitos muito grande e
na educação superior e o monitoramento
fora das características de atuação da Edu-
do acesso à escola dos favorecidos pelo
cação Especial no Brasil (GARCIA; MICHELS,
Beneficio de Prestação Continuada – BPC.
2011).
No documento do MEC, ‘Plano de Desen-
Em 2002, foi a vez de se reconhecer a
volvimento da Educação: razões, princípios
língua brasileira de sinais como meio le-
e programas’, é reafirmada a visão que bus-
gal de comunicação e expressão (Lei nº
ca superar a oposição entre educação re-
10.436/02) bem como vimos a Portaria nº
gular e educação especial (BRASIL, 2014).
2678/02 aprovar normas para o uso, o en-
sino, a produção e a difusão do braile em Contrariando a concepção sistêmica da
todas as modalidades de educação. transversalidade da educação especial nos
diferentes níveis, etapas e modalidades de
Impulsionando a inclusão educacional e
ensino, a educação não se estruturou na
social, o Decreto nº 5.296/04 regulamen-
perspectiva da inclusão e do atendimento
tou as Leis nº 10.048/00 e nº 10.098/00,
às necessidades educacionais especiais,
estabelecendo normas e critérios para a
limitando, o cumprimento do princípio
promoção da acessibilidade às pessoas
constitucional que prevê a igualdade de
com deficiência ou com mobilidade redu-
condições para o acesso e permanência
zida. Nesse contexto, o Programa Brasil
na escola e a continuidade nos níveis mais
Acessível, do Ministério das Cidades, é de-
elevados de ensino (2007, p. 09).
senvolvido com o objetivo de promover a
acessibilidade urbana e apoiar ações que Para a implementação do PDE, é publica-
garantam o acesso universal aos espaços do o Decreto nº 6.094/07, que estabelece
62

nas diretrizes do Compromisso Todos pela cação Básica e preconiza em seu artigo 29,
Educação, a garantia do acesso e perma- que os sistemas de ensino devem matricu-
nência no ensino regular e o atendimento lar os estudantes com deficiência, trans-
às necessidades educacionais especiais tornos globais do desenvolvimento e altas
dos alunos, fortalecendo seu ingresso nas habilidades/superdotação nas classes co-
escolas públicas (BRASIL, 2014). muns do ensino regular e no Atendimento
Educacional Especializado – AEE –, comple-
Tem muito mais!
mentar ou suplementar à escolarização,
O Decreto nº 6571/08, incorporado pelo ofertado em salas de recursos multifun-
Decreto nº 7611/11, institui a política pú- cionais ou em centros de AEE da rede públi-
blica de financiamento no âmbito do Fun- ca ou de instituições comunitárias, confes-
do de Manutenção e Desenvolvimento da sionais ou filantrópicas sem fins lucrativos.
Educação Básica e de Valorização dos Pro-
O Decreto nº 7084/10, ao dispor sobre
fissionais da Educação – FUNDEB –, esta-
os programas nacionais de materiais didá-
belecendo o duplo cômputo das matriculas
ticos, estabelece no artigo 28, que o Mi-
dos estudantes com deficiência, transtor-
nistério da Educação adotará mecanismos
nos globais do desenvolvimento e altas
para promoção da acessibilidade nos pro-
habilidades/superdotação. Visando ao
gramas de material didático destinado aos
desenvolvimento inclusivo dos sistemas
estudantes da educação especial e profes-
públicos de ensino, este Decreto também
sores das escolas de educação básica pú-
define o atendimento educacional espe-
blicas.
cializado complementar ou suplementar à
escolarização e os demais serviços da edu- O Decreto nº 7611/2011 define como
cação especial, além de outras medidas de público da Educação Especial os estudan-
apoio à inclusão escolar (BRASIL, 2014). tes com deficiências, Transtorno Global
do Desenvolvimento-TGD e Altas Habili-
Com a finalidade de orientar a organiza-
dades/Superdotação-AH/SD. É dever do
ção dos sistemas educacionais inclusivos,
Estado garantir a esses estudantes um
o Conselho Nacional de Educação – CNE –
sistema educacional inclusivo em todos os
publica a Resolução CNE/CEB, 04/09, que
níveis, etapas e modalidades, assim como
institui as Diretrizes Operacionais para o
oferecer aprendizado ao longo de toda a
Atendimento Educacional Especializado –
vida e combater as práticas de exclusão no
AEE – na Educação Básica. Este documento
sistema educacional e a segregação sob
determina o público-alvo da educação es-
alegação de deficiência, conforme dispõe
pecial, define o caráter complementar ou
o Decreto 7611/2011.
suplementar do AEE, prevendo sua institu-
cionalização no projeto político-pedagógi- A fim de promover políticas públicas de
co da escola. inclusão social das pessoas com deficiên-
cia, dentre as quais, aquelas que efetivam
O caráter não substitutivo e transver-
um sistema educacional inclusivo, nos ter-
sal da educação especial é ratificado pela
mos da Convenção sobre os Direitos das
Resolução CNE/CEB nº 04/10, que institui
Pessoas com Deficiência, instituiu-se, por
Diretrizes Curriculares Nacionais da Edu-
meio do Decreto nº 7612/11, o Plano Na-
63

cional dos Direitos da Pessoa com Defici- mano, ganhando em contornos conceitu-
ência – Viver sem Limite. ais e estruturais.

A Política Nacional de Proteção dos Di- Ainda em consonância com os instru-


reitos da Pessoa com Transtorno do espec- mentos legais mencionados, Pitta (2008)
tro Autista é criada pela Lei nº 12.764/12. nos lembra que diversos documentos nor-
Além de consolidar um conjunto de direi- teadores foram elaborados, desencadean-
tos, esta lei em seu artigo 7º, veda a recusa do ações de reflexão e reestruturação das
de matrícula a pessoas com qualquer tipo práticas educacionais desenvolvidas no
de deficiência e estabelece punição para o país no atendimento ofertado às pessoas
gestor escolar ou autoridade competente com necessidades educacionais especiais.
que pratique esse ato discriminatório.
Dentre estes documentos, desta-
Ancorada nas deliberações da Confe- cam-se:
rência Nacional de Educação – CONAE/
2010 –, a Lei nº 13.005/14, que institui o “Saberes e Práticas da Inclusão na
Plano Nacional de Educação – PNE –, no Educação Infantil” (2003) – garantin-
inciso III, parágrafo 1º, do artigo 8º, deter- do condições de acessibilidade física e de
mina que os Estados, o Distrito Federal e acessibilidade a recursos materiais e técni-
os Municípios garantam o atendimento às cos apropriados a suas necessidades reais;
necessidades específicas na educação es- “Educação Profissional – Indica-
pecial, assegurado o sistema educacional ções para a Ação: a Interface Educa-
inclusivo em todos os níveis, etapas e mo- ção Profissional/Educação Especial” –
dalidades. Com base neste pressuposto, a estimula o desenvolvimento da qualidade
meta 4 e respectivas estratégias objeti- da gestão escolar na remoção de barreiras
vam universalizar, para as pessoas com de- atitudinais, arquitetônicas e educacionais
ficiência, transtornos globais do desenvol- na formação do cidadão com necessidades
vimento e altas habilidades/superdotação, especiais;
na faixa etária de 04 a 17 anos, o acesso à
educação básica e ao atendimento educa- “Direito à Educação – Subsídios
cional especializado. O AEE é ofertado pre- para a Gestão do Sistema Educacional
ferencialmente na rede regular de ensino, Inclusivo” – que apresenta os subsídios
podendo ser realizado por meio de convê- legais para a construção de sistemas edu-
nios com instituições especializadas, sem cacionais inclusivos.
prejuízo do sistema educacional inclusivo
(BRASIL, 2014).

Documentos legais não nos faltam,


essa é a verdade, mas igualmente, o que
se constata é que na prática cotidiana não
conseguimos atingir as metas propostas,
de todo modo, percebam que pelo menos
a terminologia veio se modificando e aten-
dendo às questões de respeito ao ser hu-
64

UNIDADE 5 – A Educação Especial e a


Terminologia mais recente para a área
Em linhas gerais, a evolução do conceito avaliação por uma equipe de profissio-
de deficiência na história da humanidade nais, intervenção e encaminhamento para
pode ser dividida em três períodos: o primei- a vida na comunidade.
ro, que abrange da pré-história até a Idade
Expansão das escolas especiais, das
Média; o segundo, que vai até a Revolução
entidades assistenciais e dos centros de
Industrial, que aconteceu no final do sécu-
reabilitação.
lo XIX e, o terceiro, até os dias atuais (vimos
anteriormente na breve história da defici-
ência ao longo dos tempos). Essa evolução INCLUSÃO
pode ser materializada em três paradigmas:

SEGREGAÇÃO

Suporte: parte-se do pressuposto que


o estudante da Educação Especial tem di-
reito à con¬vivência não segregada e ao
Institucionalização: fundamenta-se na acesso imediato e contínuo aos recursos
ideia e na concepção de que o estudante da disponíveis aos demais cidadãos.
Edu¬cação Especial não é produtivo e esta-
ria bem cuidado se mantido em ambiente se- Expansão da disponibilidade de su-
gregado. Expansão de institutos, hospitais, portes materiais e humanos, melhoria de
manicômios, entre outros. estrutura física (acessibilidade) de forma
que o acesso de todos os estudantes a
INTEGRAÇÃO quaisquer recursos da comunidade seja
garantido (RODRIGUES; CAPELLINI; SAN-
TOS, 2014).

Vale ressaltarmos que o uso de deter-


minada terminologia pode reforçar a se-
gregação e a exclusão e muitos profissio-
nais que lidam com a educação especial
desconhecem a terminologia adequada,
quiça a população em geral!
Serviços: caracteriza-se pela oferta
de serviços, organizados em três etapas: Ainda está na mente e na fala das pes-
65

soas “portadores de deficiência”, o que como portar um talão de cheques, portar


precisa ser mudado e você enquanto pro- um documento ou ser portador de uma
fissional que lida cotidianamente com doença.
essa modalidade pode ajudar a mudar a
A deficiência, na maioria das vezes, é
realidade errônea.
algo permanente, não cabendo o termo
Sassaki (2003) nos explica que usar ou “portadores”. Além disso, quando se rotu-
não usar termos técnicos corretamente la alguém como “portador de deficiência”,
não é uma mera questão semântica ou nota-se que a deficiência passa a ser “a
sem importância, se desejamos falar ou marca” principal da pessoa, em detrimen-
escrever construtivamente, numa pers- to de sua condição humana.
pectiva inclusiva, sobre qualquer assunto
Até a década de 1980, a sociedade utili-
de cunho humano. E a terminologia cor-
zava termos como “aleijado”, “defeituoso”,
reta é especialmente importante quando
“incapacitado”, “inválido”... Passou-se a
abordamos assuntos tradicionalmente
utilizar o termo “deficientes”, por influên-
eivados de preconceitos, estigmas e es-
cia do Ano Internacional e da Década das
tereótipos, como é o caso das deficiências
Pessoas Deficientes, estabelecido pela
que aproximadamente 14,5% da popula-
ONU, apenas a partir de 1981. Em mea-
ção brasileira possuem.
dos dos anos 1980, entraram em uso as
Os termos são considerados corretos expressões “pessoa portadora de defici-
em função de certos valores e conceitos ência” e “portadores de deficiência”. Por
vigentes em cada sociedade e em cada volta da metade da década de 1990, a ter-
época. Assim, eles passam a ser incorre- minologia utilizada passou a ser “pessoas
tos quando esses valores e conceitos vão com deficiência”, que permanece até hoje.
sendo substituídos por outros, o que exi-
A diferença entre esta e as anteriores é
ge o uso de outras palavras. Estas outras
simples: ressalta-se a pessoa à frente de
palavras podem já existir na língua falada
sua deficiência. Ressalta-se e valoriza-se
e escrita, mas, neste caso, passam a ter
a pessoa, acima de tudo, independente-
novos significados. Ou então são constru-
mente de suas condições físicas, senso-
ídas especificamente para designar con-
riais ou intelectuais. Também em um de-
ceitos novos. O maior problema decorren-
terminado período acreditava-se como
te do uso de termos incorretos reside no
correto o termo “especiais” e sua deri-
fato de os conceitos obsoletos, as ideias
vação “pessoas com necessidades espe-
equivocadas e as informações inexatas
ciais”. “Necessidades especiais” quem não
serem inadvertidamente reforçados e
as tem, tendo ou não deficiência? Essa
perpetuados.
terminologia veio na esteira das necessi-
De maneira mais prática, Sassaki dades educacionais especiais de algumas
(2003), Silva (2011) e outros explicam que crianças com deficiência, passando a ser
o termo “portadores” implica em algo que utilizada em todas as circunstâncias, fora
se “porta”, que é possível se desvencilhar do ambiente escolar.
tão logo se queira ou chegue-se a um des-
Não se rotula a pessoa pela sua carac-
tino. Remete, ainda, a algo temporário,
66

terística física, visual, auditiva ou inte- Termo correto: Pessoa com Deficiência.
lectual, mas reforça-se o indivíduo acima Não se utiliza o termo portador de defici-
de suas restrições. A construção de uma ência, visto que a pessoa não porta uma
verdadeira sociedade inclusiva passa deficiência, ela TEM uma deficiência.
também pelo cuidado com a linguagem.
Jamais utilizar: incapacitado, aleijado,
Na linguagem se expressa, voluntária ou
defeituoso, inválido. O termo portador de
involuntariamente, o respeito ou a discri-
necessidades especiais é utilizado tanto
minação em relação às pessoas com defi-
para pessoas que tem deficiência como
ciência. Por isso, vamos sempre nos lem-
para pessoas sem deficiência, assim não é
brar que a pessoa com deficiência antes
correto utilizá-lo quando se refere à pes-
de ter deficiência é, acima de tudo e sim-
soa com deficiência.
plesmente: pessoa (SILVA, 2011).

Enfim, a Convenção sobre os Direitos


das Pessoas com Deficiência, aprovada Deficiente mental, retardado mental
pela Assembleia da ONU, em 2006, assi-
Termo correto: Pessoa com Deficiência
nada pelo Brasil e outros cerca de 80 pa-
Intelectual
íses, em 2007, e ratificada, em 2008, pelo
Congresso Nacional, foi criada por gover-
nos, instituições civis e pessoas com defi-
ciência de todo o mundo e acabou por ofi-
Pessoa normal
cializar o termo “pessoas com deficiência” Termo correto: Pessoa sem Deficiência
em seu próprio título, além de o reafirmar ou Pessoa Não-Deficiente
em todos os seus artigos, especialmente
no artigo de número 1: Ex: A inscrição nas atividades será para
pessoas com deficiência e pessoas sem
O propósito da presente Convenção é o deficiência.
de promover, proteger e assegurar o des-
frute pleno e equitativo de todos os direi-
tos humanos e liberdades fundamentais Defeituoso físico
por parte de todas as pessoas com defici-
ência e promover o respeito pela sua ine- Termo correto: Pessoa com Deficiência
rente dignidade. Física.

Pessoas com deficiência são aquelas


que têm impedimentos de natureza física, Classe normal / Escola normal
mental, intelectual ou sensorial, os quais,
em interação com diversas barreiras, po- Termo correto: Classe Comum, Classe
dem obstruir sua participação plena e efe- Regular / Escola Comum, Escola Regular.
tiva na sociedade com as demais pessoas.

Vamos a alguns exemplos: Crianças excepcionais


Portador de deficiência, portador de Termo correto: Crianças com Deficiência
necessidades especiais Intelectual.
67

LIBRAS - Linguagem Brasileira de Si-


nais
Termo correto: Língua de Sinais Brasilei-
ra. Trata-se de uma língua e não de uma
linguagem.

Necessidades educativas especiais


Termo correto: Necessidades Educacio-
nais Especiais.

Pessoa presa [confinada, condena-


da] a uma cadeira de rodas.
Termos corretos: Pessoaem Cadeirade
Rodas; Pessoa que anda em Cadeirade
Rodas; Pessoa que usa Cadeira De Rodas.
Os termos presa, confinada e condenada
provocam sentimentos de piedade. No
contexto coloquial, é correto o uso do ter-
mo cadeirante.

Sigla correta: PcD – Pessoa com Deficiência.

Porém deve-se evitar a utilização de


siglas para seres humanos, utilizá-la ape-
nas quando for necessária a abreviação
(SASSAKI, 2003).
68

UNIDADE 8 – A Pedagogia da Negação


x Educação na Diversidade
Acreditamos existir dois elementos e/ Dessa forma, a Educação Especial surge
ou características na Educação Especial para oportunizar a esses sujeitos, o pleno
que somados às condições oferecidas pelo desenvolvimento de suas potencialidades,
Estado favorecem o desenvolvimento dos através de um atendimento educacional
alunos dentro de suas limitações. São eles: especializado, para que possam ser inseri-
apagar a ideia da pedagogia da negação e dos na sociedade. Na verdade, a Educação
educar na diversidade sobre os quais te- Especial só se difere da educação normal
mos o dever de lançar algumas reflexões. devido a abordagem de métodos e proces-
sos especializados, respeitando as limita-
A educação é uma das formas de dis-
ções e as características pessoais de uma
seminar o direito de igualdade, isto é, de
pessoa com deficiência mental (FURLAN;
permitir a todos, as mesmas condições
ARAÚJO; PERALTA, 2010).
de competição numa sociedade. A cultura
imposta pela educação tem por finalidade Pois bem, vamos então partir da Peda-
desenvolver o intelecto de uma pessoa, gogia da negação, bem explicada por Go-
tornando-a capaz de competir em uma so- mes, Poulin e Fugueiredo (2010).
ciedade no âmbito profissional e cultural
Para eles, alguns professores privilegiam
(FURLAN; ARAÚJO; PERALTA, 2010).
o caminho das aprendizagens mecânicas
Nesse contexto, a Educação Especial quando atuam junto aos alunos que apre-
é uma modalidade, um processo que visa sentam deficiência intelectual. Ao invés
promover o desenvolvimento das poten- de apelar para situações de aprendizagem
cialidades de pessoas com necessidades que tenham raízes nas experiências vivi-
educativas especiais e que abrange os di- das pelo aluno, atividades essas capazes
ferentes níveis e graus do sistema de en- de mobilizar seu raciocínio, propõem ativi-
sino, fundamentando-se em referenciais dades baseadas na repetição e na memó-
teóricos compatíveis com as necessidades ria. Frequentemente, essas atividades são
específicas de seus alunos. desprovidas de sentido para os alunos. Es-
ses professores privilegiam o caminho das
Como dizem Kirk e Gallagher (1987, p.
aprendizagens mecânicas sob o pretexto
33):
de que os alunos os quais apresentam de-
[...] nem todas as crianças aprendem ficiência intelectual manifestam numero-
e se desenvolvem no mesmo ritmo, rea- sas dificuldades nos processos de apren-
gem emocionalmente do mesmo modo, dizagem que eles agem pouco no mundo
e veem ou ouvem igualmente [...] as no qual evoluem e, enfim, sob o pretexto
crianças ‘deficientes’ abandonavam a de que os alunos antecipam o fracasso e
escola porque não conseguiam compe- não se apoiam sobre seus conhecimentos
tir com as crianças normais e as escolas quando estão em situação de aprendiza-
não estavam organizadas para elas. gem ou de resolução de problemas.
69

Agindo desta maneira, tais professores quando resolve o problema no lugar do


se comportam como se não reconheces- aluno, logo que ele apresenta dificuldades;
sem no aluno que apresenta deficiência in-
quando o professor não desafia o alu-
telectual um sujeito capaz de crescimento
no, provocando dúvida, contrapondo ideias;
e de afirmação.
quando o professor coloca na mochila
Seu acompanhamento pedagógico pa-
do aluno o material necessário para os de-
rece respaldado por uma concepção de
veres e para as lições de casa ou quando re-
aluno que se apoia sobre a ideia de insufici-
solve a tarefa para o aluno, ele está atuan-
ência ou de lacuna, mesmo de falta no que
do sob o princípio da pedagogia da negação.
diz respeito ao raciocínio. Os professores
não reconhecem nesse aluno capacidades É importante considerar que uma das
cognitivas as quais convém mobilizar para grandes responsabilidades do professor
favorecer a melhor interação com o meio de sala de aula, bem como do professor do
onde ele vive. Consequentemente, eles Atendimento Educacional Especializado
negam um aspecto absolutamente funda- (AEE), consiste no desenvolvimento inte-
mental do desenvolvimento humano, a sa- lectual e da autonomia do seu aluno.
ber, o intelectual. Em suma, eles se fecham
O desenvolvimento intelectual do aluno
em uma pedagogia da negação. Uma peda-
com deficiência deve ser objeto de preocu-
gogia que não reconhece o potencial dos
pação constante do professor. A inteligên-
alunos, sobretudo daqueles que apresen-
cia deve ser estimulada e educada para que
tam deficiência intelectual e que, conse-
ele possa evoluir. E o aluno que apresenta
quentemente, causa prejuízos para as suas
deficiência intelectual não escapa à regra.
aprendizagens e autodeterminação.
Mesmo o aluno que apresenta uma neces-
A Pedagogia da negação encontra sua sidade de apoio importante ou intenso,
fonte na superproteção, que é um paren- pode tirar proveito de intervenções educa-
te próximo da rejeição. A superproteção de tivas destinadas a favorecer ou estimular o
um professor em relação a um aluno que desenvolvimento de suas estruturas inte-
apresenta deficiência intelectual pode se lectuais. Os exemplos, neste sentido, são
manifestar de várias maneiras. numerosos na literatura científica.

São exemplos: Diante dessa realidade, Gomes, Poulin e


Fugueiredo (2010) afirmam ser inadmissí-
quando o professor propõe frequen-
vel que a Pedagogia da negação continue
temente atividades que não provocam
a fazer adeptos entre os professores que
dificuldades verdadeiras para o aluno,
têm a responsabilidade pela educação dos
com medo que ele perca a motivação para
alunos. Um exemplo de atividades inade-
aprender ou com receio que ele não seja ca-
quadas é quando o professor impõe aos
paz de realizar a atividade;
alunos longos exercícios de multiplicação
quando aprova o trabalho do aluno com ajuda de tabuadas sem que tenham
sem que o aluno tenha demonstrado um construído o sentido da multiplicação.
esforço para a realização dele; Os alunos podem dar respostas corretas
apoiados apenas na tabuada, de forma me-
70

cânica, copiando resultados, sem compre- Assim, o nível de desenvolvimento a ser al-
ender o sentido da operação. cançado pela criança, com deficiência men-
tal, irá depender não só do grau de compro-
Nem todos os alunos que apresentam
metimento da mesma, mas também de sua
deficiência intelectual chegam a assimilar
história de vida, particularmente do apoio
as operações de multiplicação e de divisão
familiar e das oportunidades verificadas
e a compreender o sentido destas. Este
(FURLAN; ARAÚJO; PERALTA, 2010).
professor seria mais bem sucedido em sua
ação pedagógica, se tivesse como objeti- Pense nisso professor!
vo o desenvolvimento lógico-matemático
E a educação na diversidade, o que que-
de seus alunos, se propusesse atividades
remos realmente, como chegar até ela?
de aprendizagem próximas aos interesses
deles com base nas experiências vivencia- Bom: o primeiro passo é levar sempre em
das por eles. Deste modo, o professor, pro- consideração o fato de que as pessoas são
vavelmente, teria contribuído mais para o diferentes e que, portanto, a escola deve
desenvolvimento dos alunos e permitido a ajudar cada um a desenvolver suas aptidões
eles aprendizagens mais significativas. A no contexto comum a todos, livre de sele-
qualidade da vida social e profissional das ção e da consequente classificação de alu-
pessoas que apresentam deficiência inte- no(a)s em diferentes tipos de instituições
lectual repousa em boa parte sobre bases especializadas. O segundo passo é eliminar
que são o desenvolvimento intelectual e o espírito de competitividade, a partir do
as aprendizagens significativas que teve qual a visão de mundo se restringe a uma
na escola e fora dela. Quando o professor corrida na qual apenas alguns conseguirão
percebe a capacidade de o aluno aprender, chegar ao final e o terceiro passo, oferecer
ele empreende ações que possibilitam essa oportunidades a todos para compensar as
aprendizagem. desigualdades existentes, mas sem educar
para ‘formar pessoas iguais’ (ALVAREZ; SO-
Uma vez que a Educação Especial é de
LER, 1998 apud DUK, 2006).
suma importância para o desenvolvimento
de pessoas com deficiência mental, todo in- No atendimento à diversidade, po-
vestimento em programas de estimulação dem ser apontados alguns princípios,
precoce, pedagogia e outros profissionais, entre os quais, destacam-se:
visa sempre o pleno desenvolvimento do
potencial apresentado pelo indivíduo com personalização em lugar de pa-
deficiência mental e a inserção do mesmo dronização – reconhecer as diferenças
em sua comunidade. Quanto maior for a in- individuais, sociais e culturais dos aluno(a)
tegração da pessoa, maiores serão as opor- s, a partir das quais a ação educacional é
tunidades de aceitação e inclusão na socie- orientada;
dade. Vale aqui ressaltar que o trabalho da resposta diversificada versus res-
família, de instituições como a Associação posta uniforme – permite adequar os
de pais e amigos dos excepcionais (APAE) e processos de ensino-aprendizagem às di-
de profissionais formam um canal empáti- ferentes situações;
co para a obtenção de resultados positivos.
heterogeneidade versus homoge-
71

neidade – este princípio realça o valor dos


agrupamentos heterogêneos dos alunos
com o objetivo de educar com base em va-
lores de respeito e aceitação das diferen-
ças numa sociedade plural e democrática
(DUK, 2006, p. 62).

Eis que uma escola inclusiva caracteri-


za-se, fundamentalmente, pelo compro-
misso com o direito de todo(a)s à educa-
ção, à igualdade de oportunidades e à
participação de cada uma das crianças,
adolescentes, jovens e adultos nas várias
esferas da vida escolar.

É isso que se busca ao retirar do nos-


so meio a pedagogia da negação e pro-
por concomitantemente a diversidade:
fazer acontecer a escola inclusiva na qual
o ensino e a aprendizagem, as atitudes e
o bem-estar de todos os(as) educando(a)
s são considerados igualmente importan-
tes. É uma escola na qual não há discrimi-
nação de qualquer natureza e que valoriza
a diversidade humana como recurso valio-
so para o desenvolvimento de todo(a)s,
uma escola que busca eliminar as barrei-
ras à aprendizagem para educar de forma
igualitária todos os meninos e meninas da
comunidade. Na escola inclusiva, todos
são reconhecidos em sua individualidade
e apoiados diligentemente em sua apren-
dizagem.
72

UNIDADE 9 – A Formação de Professores:


Saberes, Competências e Atitudes
A alma dos diferentes é feita de uma conhecimentos de gestão de sistema educa-
luz além. Sua estrela tem moradas des- cional inclusivo, tendo em vista o desenvol-
lumbrantes que eles guardam para os vimento de projetos em parceria com outras
poucos capazes de os sentir e enten- áreas, visando à acessibilidade arquitetôni-
der. Nessas moradas estão tesouros ca, os atendimentos de saúde, a promoção
da ternura humana dos quais só os di- de ações de assistência social, trabalho e jus-
ferentes são capazes. Não mexa com tiça (BRASIL, 2008).
o amor de um diferente. A menos que
Percebe-se que a formação docente é um
você seja suficientemente forte para
dos vieses de grande interesse quando se
suportá-lo depois. (Arthur da Távola)
trata de política de educação especial e in-
Segundo a Política Nacional de Educação clusiva.
Especial na perspectiva da Educação Inclusi- Na formação inicial é preciso superar a
va (BRASIL, 2008), para atuar na educação histórica dicotomia entre teoria e prática e
especial, o professor deve ter como base da o divórcio entre a formação pedagógica e a
sua formação, inicial e continuada, conheci- formação no campo dos conhecimentos es-
mentos gerais para o exercício da docência pecíficos que serão trabalhados na sala de
e conhecimentos específicos da área. Essa aula. E em se tratando da formação continu-
formação possibilita a sua atuação no aten- ada, esta assume particular importância, em
dimento educacional especializado e deve decorrência do avanço científico e tecnoló-
aprofundar o caráter interativo e interdisci- gico e de exigência de um nível de conheci-
plinar da atuação nas salas comuns do ensino mentos sempre mais amplos e profundos na
regular, nas salas de recursos, nos centros de sociedade moderna e que ganhou forma a
atendimento educacional especializado, nos partir de 2003, com a instituição do Progra-
núcleos de acessibilidade das instituições de ma Educação Inclusiva: direito à diversidade,
educação superior, nas classes hospitalares e cuja finalidade assumida é disseminar a po-
nos ambientes domiciliares, para a oferta dos lítica de educação inclusiva nos municípios
serviços e recursos de educação especial. brasileiros e apoiar a formação de gestores
Esta formação deve contemplar também, e educadores para efetivar a transformação
dos sistemas educacionais em sistemas in-
3 - Integra o programa de formação de professores de educa-
ção especial em ação conjunta com a Universidade Aberta do
clusivos (CAIADO; LAPLANE, 2009).
Brasil (UAB).
4 - O programa apoia os sistemas de ensino na implantação A partir de 2007, o programa passou a de-
de salas de recursos multifuncionais (SRMs) com mate-
riais pedagógicos e de acessibilidade para a realização do senvolver outra modalidade de curso, qual
atendimento educacional especializado, complementar ou seja, Curso de Aperfeiçoamento de Profes-
suplementar à escolarização. A intenção é atender alunos
matriculados nas classes comuns do ensino regular, uma vez sores do Atendimento Educacional Especiali-
que o programa é destinado às escolas das redes estaduais
e municipais de educação, nas quais os alunos com deficiên- zado 3. Tal ação de formação está diretamen-
cias, altas habilidades e transtornos globais do desenvolvi- te articulada ao Programa de Implantação de
mento estejam registrados no censo escolar do Ministério da
Educação (MEC)/Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Salas de Recursos Multifuncionais 4 .
Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
73

Estes programas mencionados consti- tem três dimensões de formação que de-
tuem o esteio da atual política para a edu- vem ser consideradas para capacitar os
cação especial no Brasil e estão vinculados professores no apoio à Educação Inclusiva
ao Plano de Desenvolvimento da Educação tanto no âmbito de especialização como
(PDE), o plano de metas do governo federal nível generalista: os saberes, as compe-
que apresenta um corpo de projetos para tências e as atitudes. Vejamos cada uma
diferentes níveis e modalidades da educa- delas:
ção nacional (GARCIA, 2013).
a) Dimensão dos saberes
Rodrigues (2008) ressalta que a disse-
A dimensão dos saberes refere-se ao
minação do modelo de Educação Inclusiva,
conjunto de conhecimentos de índole mais
nomeadamente pela inclusão de alunos
teórica que fundamentam as opções de in-
com condições de deficiência na escola
tervenção. Estes conhecimentos vão des-
regular, origina novos desafios para a for-
de aspectos mais diretamente teóricos,
mação de professores. Já não se trata de
tais como o contato com o pensamento e
formar professores para alunos que são
a teorização de diferentes autores, até (e
educados num modelo segregado, mas,
sobretudo) trabalhos de investigação fei-
sim, professores que são capazes de tra-
tos em contextos reais que possam funda-
balhar com eficácia com turmas assumida-
mentar a adoção de determinadas opções
mente heterogêneas. Para isto, é neces-
metodológicas.
sário um novo olhar sobre os saberes, as
competências e as atitudes que são neces- No que respeita à Educação Inclusiva,
sárias para se trabalhar com classes inclu- esta dimensão de saberes envolve o co-
sivas. Essas competências são complexas nhecimento das características de desen-
e diversificadas. volvimento e de aprendizagem de alunos
com condições não habituais. Envolve
Espera-se que o professor seja compe-
certamente a caracterização pedagógica
tente num largo espectro de domínios que
destas condições não habituais de desen-
vão desde o conhecimento científico do
volvimento. Tradicionalmente é dada uma
que ensina à sua aplicação psicopedagógi-
grande ênfase ao estudo das condições de
ca, bem como em metodologias de ensino,
deficiência nomeadamente à etiologia e à
de animação de grupos, atenção à diversi-
patologia em termos clínicos. Precisamos,
dade, entre outras. Isto sem considerar as
pelo contrário, reforçar o olhar educacio-
grandes expectativas que existem sobre o
nal para as dificuldades encaradas sob o
que o professor deve promover no âmbito
ponto de vista educacional; isto é, conhe-
educacional mais geral, tal como a edu-
cer como se avalia, como se planeja, como
cação para a cidadania, educação cívica,
se desenvolve um processo educacional e
sexual, comunitária, entre outras. Alguns
de aprendizagem em alunos com dificulda-
autores têm, por isso, denominado a mis-
des ou com deficiências que, se não forem
são do professor na escola contemporânea
enquadradas, poderão influenciar a plena
como uma “missão impossível” (BEN-PE-
participação no processo educativo.
RETZ, 2001 apud RODRIGUES, 2008).
A dimensão dos saberes implica também
O mesmo autor acima acredita que exis-
74

conhecer formas diversificadas de anima- entre os alunos pode servir para justificar
ção de grupos, quer na esfera da decisão a sua não inclusão. Pode servir, ainda, para
quer no nível do desenvolvimento do cur- encontrar estratégias e metodologias que
rículo, bases sobre o trabalho com famílias levem à anulação dessas diferenças. Nes-
e com comunidades em diferentes escalas te caso, conhecer as diferenças seria só o
de compreensão ecológica. primeiro passo para anulá-las; considerar
a heterogeneidade não seria mais que a
b) Dimensão das competências
primeira etapa de um processo educativo,
A dimensão das competências relacio- que teria como finalidade promover a ho-
na-se com o “saber fazer”, isto é, o conheci- mogeneidade dos alunos.
mento específico que o professor deve ter
c) Dimensão das atitudes
para conduzir, com sucesso, processos de
intervenção em contextos assumidamen- De pouco serviriam os saberes e as com-
te diversos. petências se os professores não tivessem
atitudes positivas face à possibilidade de
Cabe aqui refletir sobre os objetivos do
progresso dos alunos. É fundamental que
trabalho pedagógico com grupos assumi-
os professores do ensino regular e de Edu-
damente heterogêneos.
cação Especial conheçam por experiência
Podemos dizer “assumidamente” por- própria situações em que uma adequada
que todos os grupos são heterogêneos modificação do currículo e das condições
em termos de aprendizagem; a questão é de aprendizagem consiga eliminar barrei-
se nós os tratamos como tal (considerando ras à aprendizagem e promover a aquisição
que a heterogeneidade é inerente ao gru- de novos saberes e competências aos alu-
po e, portanto, “natural”) ou se nos relacio- nos.
namos como grupos (naturalmente) hete-
Um professor para desenvolver atitudes
rogêneos como se fossem problemáticos
positivas, não pode, como era tradicional,
só pelo fato de não serem homogêneos.
construir a sua intervenção baseado no
Trabalhar com grupos assumidamente he-
déficit, mas, sim, naquilo que o aluno é ca-
terogêneos é, pois, considerar em termos
paz de fazer para além da sua dificuldade.
de avaliação, planejamento e intervenção,
que a heterogeneidade é própria do grupo Basta imaginar qual seria o futuro aca-
e a situação anômala seria a de encontrar dêmico de um jovem que tendo dificulda-
um grupo de aprendizagem que se pudes- des, por exemplo, em Matemática, visse
se considerar homogêneo (RODRIGUES, todo o seu currículo escolar ser referen-
2008). ciado a essa matéria. Assim, a construção
curricular baseada na deficiência ou na
Ainda refletindo sobre o trabalho com
dificuldade, para além de ter uma duvido-
grupos assumidamente heterogêneos,
sa probabilidade de sucesso para o aluno,
cabe perguntar o que significa considerar
evidencia uma visão do professor que mais
as diferenças dos alunos, porque o simples
realça as dificuldades do aluno do que as
conhecimento das diferenças não conduz
suas potencialidades.
inexoravelmente à adoção de modelos in-
clusivos. O conhecimento das diferenças Para desenvolver expectativas positi-
75

vas, é essencial que o professor conheça ção das diferenças impede que os alunos
múltiplas formas de eliminar e contornar se confrontem com outros pontos de vista
dificuldades e barreiras e que possa, a par- e realidades e por este motivo empobre-
tir deste trabalho, acreditar e fazer acre- ce a qualidade da educação (RODRIGUES,
ditar que o aluno é muito mais do que as 2008).
suas dificuldades e que existem variadas
Fazendo uma síntese retrospectiva,
formas para se chegar ao sucesso.
vimos que a educação especial se funda-
Conhecer casos de boas práticas, co- menta em bases filosóficas, históricas, so-
nhecer percursos pessoais para além da ciológicas, legislativas e pedagógicas.
idade escolar, conhecer, enfim, depoimen-
Há um artigo elaborado por Luiza Corte-
tos de pessoas que conseguiram construir
são (pesquisadora e professora portugue-
vidas autônomas e úteis apesar de con-
sa), “O arco-íris e o fio da navalha – proble-
dições adversas, são certamente fatores
mas em face das diferenças” que propõe
que influenciam a formação de atitudes.
duas metáforas em que o arco-íris simbo-
Claro que quanto maior for a implicação e
liza uma situação de preocupação e intran-
proximidade da pessoa com estes proces-
quilidade, mas oferece também esperan-
sos bem sucedidos, mais sedimentada e
ça; já o fio da navalha, segundo a autora,
convicta será a sua atitude positiva face à
poderá acentuar a vertente da dificuldade,
possibilidade de sucesso de alunos com di-
do risco que comporta cada passo dado e
ficuldade.
cada iniciativa. Estas metáforas represen-
De acordo com os documentos oficiais, tam o equilíbrio e a ousadia que ora tom-
a educação especial, modalidade de edu- bam para um lado, ora para outro.
cação escolar, é um processo educacional
Pois bem, trabalhar com educação es-
definido por uma proposta pedagógica que
pecial no contexto da educação inclusiva é
assegure recursos e serviços educacionais
complexo, é desafiador e igualmente moti-
especiais, organizados institucionalmente
vador se nossas opções passarem por vias
para apoiar, complementar, suplementar
de mão dupla onde transitem autonomia e
e, em alguns casos, substituir os serviços
emancipação para todos.
educacionais comuns, de modo a garantir a
educação escolar e promover o desenvol-
vimento das potencialidades dos educan-
dos que apresentam necessidades edu-
cacionais especiais, em todas as etapas e
modalidades da educação básica.

Ela não caminha sozinha, isolada, ao


contrário, hoje é entendida como inclusiva
nos sistemas regulares de ensino, tendo
como objetivo, não acabar com as diferen-
ças, mas mantê-las ativas para poderem
ser rentabilizadas na educação de todos
os alunos. A anulação ou impermeabiliza-
76

REFERÊNCIAS

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81

ANEXOS

PORTARIA Nº 2.344, DE 3 DE NOVEM- IV - Onde se lê “Coordenadoria Nacional


BRO DE 2010 para Integração da Pessoa Portadora de
Deficiência”, leia-se “Secretaria Nacional de
DOU de 05/11/2010 (nº 212, Seção 1, pág.
Promoção dos Direitos da Pessoa com Defi-
4)
ciência”;
O MINISTRO DE ESTADO CHEFE DA SE-
V - Onde se lê “Política Nacional para Inte-
CRETARIA DE DIREITOS HUMANOS DA PRE-
gração da Pessoa Portadora de Deficiência”,
SIDÊNCIA DA REPÚBLICA, no uso de suas
leia-se “Política Nacional para Inclusão da
atribuições legais, faz publicar a Resolução
Pessoa com Deficiência”;
nº 1, de 15 de outubro de 2010, do Conselho
Nacional dos Direitos da Pessoa Portadora Art. 3º - Os artigos 1º, 3º, 5º, 9º e 11, pas-
de Deficiência – CONADE –, que altera dispo- sam a vigorar com a seguinte redação:
sitivos da Resolução nº 35, de 6 de julho de
“Art. 1º -
2005, que dispõe sobre seu Regimento In-
terno: XI - atuar como instância de apoio, em
todo território nacional, nos casos de reque-
Art. 1º - Esta portaria dá publicidade às
rimentos, denúncias e reclamações formula-
alterações promovidas pela Resolução nº 1,
das por qualquer pessoa ou entidade, quan-
de 15 de outubro de 2010, do Conselho Na-
do ocorrer ameaça ou violação de direitos
cional dos Direitos da Pessoa Portadora de
da pessoa com deficiência, assegurados na
Deficiência – CONADE – em seu Regimento
Constituição Federal, na Convenção sobre os
Interno.
Direitos das Pessoas com Deficiências e de-
Art. 2º - Atualiza a nomenclatura do Re- mais legislações aplicáveis;
gimento Interno do CONADE, aprovado pela
XII - participar do monitoramento e imple-
Resolução nº 35, de 6 de julho de 2005, nas
mentação da Convenção sobre os Direitos da
seguintes hipóteses:
Pessoa com Deficiência, para que os direitos
I - Onde se lê “Pessoas Portadoras de De- e garantias que esta estabelece sejam res-
ficiência”, leia-se “Pessoas com Deficiência”; peitados, protegidos e promovidos; e

II - Onde se lê “Secretaria Especial dos Di- ” (NR).


reitos Humanos da Presidência da Repúbli-
Art. 3º - Os representantes das organiza-
ca”, leia-se “Secretaria de Direitos Humanos
ções nacionais, de e para pessoa com defici-
da Presidência da República”;
ência na forma do inciso II, alínea a, do art. 2º,
III - Onde se lê “Secretário de Direitos Hu- serão escolhidos dentre os que atuam nas
manos”, leia-se “Ministro de Estado Chefe seguintes áreas:
da Secretaria de Direitos Humanos da Presi-
dência da República”; II - um na área da deficiência auditiva
e/ou surdez;
82

ência serão representados por conselhei-


ros eleitos nas respectivas Assembleias
IV - dois na área da deficiência mental
Gerais estaduais ou municipais, convoca-
e/ou intelectual;
das para esta finalidade.
(NR).
Parágrafo único - O Edital de Convo-
Art. 5º - As organizações nacionais cação para a habilitação dos Conselhos
de e para pessoas com deficiência serão Estaduais e Municipais será publicado em
representadas por entidades eleitas em Diário Oficial pelo menos 90 (noventa)
Assembleia Geral convocada para esta dias antes do início dos novos mandatos
finalidade e indicarão os membros titula- e definirá as regras da eleição, exigindo
res e suplentes. que os candidatos comprovem estar em
pleno funcionamento, ter composição
§ 1º - As entidades eleitas e os repre-
paritária e caráter deliberativo.
sentantes indicados terão mandato de
dois anos, a contar da data de posse, po- Art. 11 -
dendo ser reconduzidos.
§ 1º - A eleição do Presidente e do Vi-
§ 2º - A eleição será convocada pelo ce-Presidente dar-se-á mediante esco-
CONADE, por meio de edital publicado no lha, dentre seus membros, por voto de
Diário Oficial da União, no mínimo 90 (no- maioria simples, para cumprirem manda-
venta) dias antes do término do mandato. to de dois anos.

§ 4º - O edital de convocação das en-


tidades privadas sem fins lucrativos e de
§ 4º - Fica assegurada a representação
âmbito nacional exigirá para a habilitação
do Governo e da Sociedade Civil na Presi-
de candidatos e eleitores, que tenham fi-
dência e na Vice-Presidência do CONADE
liadas organizadas em pelo menos cinco
e a alternância dessas representações
estados da federação, distribuídas, no
em cada mandato, respeitada a paridade.
mínimo, por três regiões do País.

§ 6º - Caso haja vacância do cargo de


§ 6º - O processo eleitoral será condu-
Presidente, o Vice-Presidente assumirá
zido por Comissão Eleitoral formada por
e convocará eleição para escolha do novo
um representante do CONADE eleito para
Presidente, a fim de complementar o res-
esse fim, um representante do Ministério
pectivo mandato, observado o disposto
Público Federal e outro da Secretaria Na-
no § 4º deste artigo.
cional de Promoção dos Direitos da Pes-
soa com Deficiência – SNPD –, especial- § 7º - No caso de vacância da Vice-Pre-
mente convidados para esse fim. sidência, o Plenário elegerá um de seus
membros para exercer o cargo, a fim de
(NR).
concluir o mandato, respeitada a repre-
Art. 9º - Os Conselhos Estaduais e Mu- sentação alternada de Governo e Socie-
nicipais de Direitos da Pessoa com Defici- dade Civil.
83

(NR). base nos seguintes princípios:

Art. 4º - Revogam-se os §§ 1º, 2º e 3º I – igualdade de condições para o aces-


do art. 9º da Resolução nº 35/2005. so e permanência na escola;

Art. 5º - As alterações no Regimento Art. 208. O dever do Estado com a Edu-


Interno do CONADE entram em vigor na cação será efetivado mediante a garan-
data de publicação desta Portaria. tia de:

III - atendimento educacional especia-


lizado aos portadores de deficiência, pre-
LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA E DOCU-
ferencialmente na rede regular de ensi-
MENTOS INTERNACIONAIS
no;
CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988,
IV - atendimento em creche e pré-es-
com ênfase nos artigos 7º, inciso XXXI;
cola às crianças de 0 a 6 anos de idade.
40; 205; 206; 208 e 213.
Art. 213. Os recursos públicos serão
Artigo 7º - inciso XXXI - proíbe qual-
destinados às escolas, podendo ser di-
quer discriminação no tocante a salário e
rigidos a escolas comunitárias, confes-
critérios de admissão do trabalhador por-
sionais ou filantrópicas, definidas em lei,
tador de deficiência.
que:
Artigo 40 - vedada a adoção de requi-
I – comprovem finalidade não lucrativa
sitos e critérios diferenciados para a con-
e apliquem seus excedentes financeiros
cessão de aposentadoria aos servidores
em educação.
portadores de deficiência.
LEIS:
Capítulo VII - Estabelece garantias
constitucionais para criação de progra- Lei 10.048/00 - Dá prioridade de aten-
mas de prevenção e atendimento espe- dimento às pessoas portadoras de defici-
cializado para os portadores de defici- ência, os idosos com idade igual ou supe-
ência física, sensorial ou mental. Acesso rior a 60 (sessenta) anos, as gestantes,
a logradouros, edifícios de uso público e as lactantes e as pessoas acompanhadas
fabricação de veículos de transporte co- por crianças de colo.
letivo adequado às pessoas portadoras
Lei 10.098/00 - Estabelece normas
de deficiência.
gerais e critérios básicos para a promo-
Art. 205. A educação, direito de todos ção da acessibilidade das pessoas porta-
e dever do Estado e da família, será pro- doras de deficiência ou com mobilidade
movida e incentivada com a colaboração reduzida.
da sociedade, visando ao pleno desen-
Lei 10.845/04 - Institui o Programa de
volvimento da pessoa, seu preparo para
Complementação ao Atendimento Edu-
o exercício da cidadania e sua qualifica-
cacional Especializado às Pessoas Porta-
ção para o trabalho.
doras de Deficiência.
Art. 206. O ensino será ministrado com
Lei 11.126/05 - Dispõe sobre o direito
84

do portador de deficiência visual de in- gratuitos em benefício da comunidade


gressar e permanecer em ambientes de em que atua).
uso coletivo acompanhado de cão-guia.
Lei nº 9394/96 – Lei de Diretrizes e
Lei 7.752/89 - Dispõe sobre benefícios Bases da Educação Nacional – LDBN.
fiscais na área do imposto sobre a renda
Lei nº 10.098/94 - Estabelece normas
e outros tributos, concedidos ao despor-
gerais e critérios básicos para a promo-
to amador - (desenvolvimento de progra-
ção da acessibilidade das pessoas porta-
mas desportivos para o deficiente físico).
doras de deficiência ou com mobilidade
Lei 7.853/89 - Dispõe sobre o apoio às reduzida, e dá outras providências.
pessoas portadoras de deficiência, sua
Lei nº 10.436/02 - Dispõe sobre a Lín-
integração social, sobre a Coordenadoria
gua Brasileira de Sinais – Libras – e dá ou-
Nacional para Integração da Pessoa Por-
tras providências.
tadora de Deficiência – Corde –, institui a
tutela jurisdicional de interesses coleti- Lei nº 7.853/89 - CORDE - Apoio às pes-
vos ou difusos dessas pessoas, disciplina soas portadoras de deficiência.
a atuação do Ministério Público, define
Lei Nº 8.859/94 - Modifica dispositi-
crimes, e dá outras providências.
vos da Lei nº 6.494, de 7 de dezembro de
Lei 8.112/90 (artigo 5º) - Assegura às 1977, estendendo aos alunos de ensino
pessoas portadoras de deficiência, o di- especial o direito à participação em ativi-
reito de se inscrever em concurso público dades de estágio.
para provimento de cargo cujas atribui-
Lei nº 8069/90 - Estatuto da Criança e
ções sejam compatíveis com a deficiência
do Adolescente - Educação Especial.
de que são portadoras; para tais pesso-
as serão reservadas até 20% (vinte por Lei nº 9394/96 – LDBN - Educação Es-
cento) das vagas oferecidas no concurso. pecial.
Lei 8.160/91 - Dispõe sobre a caracte- DECRETOS:
rização de símbolo que permita a identi-
ficação de pessoas portadoras de defici- Decreto 3.691/2000 - Regulamenta a
ência auditiva. Lei 8.899, de 29 de junho de 1994, que
dispõe sobre o transporte de pessoas
Lei 8.899/94 - Concede passe livre às portadoras de deficiência no sistema de
pessoas portadoras de deficiência no sis- transporte coletivo interestadual.
tema de transporte coletivo interestadu-
al. Decreto 5.296/04 - Regulamenta as
Leis 10.048, de 8 de novembro de 2000,
Lei 9.249/91 - Altera a legislação do que dá prioridade de atendimento às
imposto de renda das pessoas jurídicas pessoas que especifica, e 10.098, de 19
– (Doações dedutíveis de até 2% - desti- de dezembro de 2000, que estabelece
natário da doação seja uma entidade civil normas gerais e critérios básicos para a
sem fins lucrativos, com título de utilida- promoção da acessibilidade das pessoas
de pública federal, que preste serviços portadoras de deficiência ou com mobili-
85

dade reduzida. Decreto nº 3.956/01 - (Convenção da


Guatemala) Promulga a Convenção Inte-
Decreto Nº 186/08 - Aprova o texto da
ramericana para a Eliminação de Todas as
Convenção sobre os Direitos das Pessoas
Formas de Discriminação contra as Pes-
com Deficiência e de seu Protocolo Facul-
soas Portadoras de Deficiência.
tativo, assinados em Nova Iorque, em 30
de março de 2007. Decreto Nº 6.094/07 - Dispõe sobre a
implementação do Plano de Metas Com-
Decreto nº 6.949 - Promulga a Conven-
promisso Todos pela Educação.
ção Internacional sobre os Direitos das
Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Decreto Nº 6.214/07 - Regulamenta o
Facultativo, assinados em Nova York, em benefício de prestação continuada da as-
30 de março de 2007. sistência social devido à pessoa com de-
ficiência.
Decreto nº 5.626/05 - Regulamenta
a Lei 10.436 que dispõe sobre a Língua Decreto Nº 6.215/07 - institui o Comitê
Brasileira de Sinais – LIBRAS. Gestor de Políticas de Inclusão das Pes-
soas com Deficiência – CGPD.
Decreto nº 2.208/97 - Regulamenta
Lei 9.394 que estabelece as diretrizes e Decreto Nº 6.571/08 - Dispõe sobre o
bases da educação nacional. atendimento educacional especializado.

Decreto nº 3.298/99 - Regulamenta a PORTARIAS:


Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989,
Portaria nº 976/06 - Critérios de aces-
dispõe sobre a Política Nacional para a In-
sibilidade os eventos do MEC.
tegração da Pessoa Portadora de Defici-
ência, consolida as normas de proteção, e Portaria nº 1.793/94 - Dispõe sobre a
dá outras providências. necessidade de complementar os currí-
culos de formação de docentes e outros
Decreto nº 914/93 - Política Nacional
profissionais que interagem com porta-
para a Integração da Pessoa Portadora
dores de necessidades especiais e dá ou-
de Deficiência.
tras providências.
Decreto nº 2.264/97 - Regulamenta a
Portaria nº 3.284/03 - Dispõe sobre
Lei nº 9.424/96.
requisitos de acessibilidade de pessoas
Decreto nº 3.076/99 - Cria o CONADE. portadoras de deficiências, para instruir
os processos de autorização e de reco-
Decreto nº 3.691/00 - Regulamenta a
nhecimento de cursos, e de credencia-
Lei nº 8.899/96.
mento de instituições.
Decreto nº 3.952/01 - Conselho Nacio-
Portaria nº 319/99 - Institui no Minis-
nal de Combate à Discriminação.
tério da Educação, vinculada à Secretaria
Decreto nº 5.296/04 - Regulamenta as de Educação Especial/SEESP a Comissão
Leis n° 10.048 e 10.098 com ênfase na Brasileira do Braille, de caráter perma-
Promoção de Acessibilidade. nente.
86

Portaria nº 554/00 - Aprova o Regula- AEE - Pessoa com Surdez


mento Interno da Comissão Brasileira do AEE - Deficiência Física
Braille.
AEE - Deficiência Mental
Portaria nº 8/01 – Estágios. AEE - Deficiência Visual
RESOLUÇÕES: AEE - Orientações Gerais e Educação a
Distância
Resolução nº4 CNE/CEB.
Política Nacional de Educação Especial
Resolução CNE/CP nº 1/02 - Diretrizes na Perspectiva da Educação Inclusiva
Curriculares Nacionais para a Formação
Revista Inclusão Nº 1
de Professores.
Revista Inclusão Nº 2
Resolução CNE/CEB nº 2/01 - Normal
Revista Inclusão Nº 3
0 21 Institui Diretrizes Nacionais para a
Educação Especial na Educação Básica. Revista Inclusão Nº 4
Revista Inclusão Nº 5
Resolução CNE/CP nº 2/02 - Institui a
duração e a carga horária de cursos. Revista Inclusão Nº 6

Resolução nº 02/81 - Prazo de conclu- Revista Inclusão Nº 7


são do curso de graduação. Revista Inclusão Nº 8

Resolução nº 05/87 - Altera a redação Revista Inclusão Nº 9


do Art. 1º da Resolução nº 2/81. Ensaios Pedagógicos - Programa Edu-
cação Inclusiva (2006)
Estatuto do Torcedor - Art. 13 - O tor-
cedor tem direito a segurança nos locais Ensaios Pedagógicos - Construindo Es-
onde são realizados os eventos espor- colas Inclusivas*
tivos antes, durante e após a realização Experiências Educacionais Inclusivas
das partidas. Será assegurado acessibili- - Programa Educação Inclusiva: Direito à
dade ao torcedor portador de deficiência Diversidade
ou com mobilidade reduzida. Série Educação Inclusiva - Referências
para Construção dos Sistemas Educacio-
Convenção ONU Sobre os Direitos das
nais Inclusivos
Pessoas com Deficiência 2007.
Documento Subsidiário à Política de In-
MATERIAIS DE APOIO clusão*
No sítio do Ministério da Educação, Direito à Educação - Subsídios para a
encontraremos vários materiais que sua Gestão dos Sistemas Educacionais*
leitura enriqueceria sobremaneira na Educar na Diversidade: Material de For-
reflexão e ação dos profissionais que se mação Docente - 2006*
envolvem com a Educação Especial e In- Educação Inclusiva: Atendimento Edu-
clusiva. Abaixo temos alguns títulos e o cacional Especializado para a Deficiência
link para acessá-los. Vale a pena conferir Mental
o que lhe chamar atenção.
Brincar para Todos *
87

Orientação e Mobilidade - Conhecimen-


tos básicos para a inclusão da pessoa com
deficiência visual *
A construção do conceito de número e
o pré-soroban
Grafia Braille para a Língua Portuguesa
Normas Técnicas para a produção de
textos em braille *
Grafia Braille para Informática *
Estenografia Braille para a língua por-
tuguesa
Manual Internacional de Musicografia
Braille *
Ensino de Língua Portuguesa para Sur-
dos - Caminhos para a prática pedagógica
Ideias para ensinar português para alu-
nos surdos
O Tradutor e Intérprete de Língua Bra-
sileira de Sinais e Língua Portuguesa
A Construção de Práticas Educacionais
para Alunos com Altas Habilidades/Su-
perdotação
Portal de Ajudas Técnicas *
Manual de Acessibilidade
88

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