1, 2, 3...
Autonomia ou autossuficiência?
O tema é difícil.
Eis uma enunciação brutal: se lido com intensidade, o Minimanual, pelo
menos em alguma medida, contém uma imagem do colapso da própria forma de
organização militar adotada pela Aliança Libertadora Nacional.
Voltemos à abertura do texto. Sua primeira seção, “O que é o guerrilheiro
urbano”, insinua a contradição que nunca foi resolvida:
A redação é tão direta que dispensa comentários. Porém, não nos desobriga
de levantar uma objeção: nesse caso, por que não principiar a ação por meio de um
processo lento de imersão no meio rural, a fim de preparar, passo a passo, e sem
pressa alguma, o amadurecimento das condições revolucionárias?
Não se diga que tal projeto é apenas ingenuamente utópico. Foi assim
mesmo que o futuro Ejército Zapatista de Liberación Nacional (EZLN) iniciou sua
atuação junto às comunidades indígenas de um dos lugares mais pobres e
desfavorecidos do México, o estado de Chiapas, ao sul do país. Em 1 de janeiro de
1994 eclodiu a rebelião zapatista, que ainda hoje segue firme em sua resistência
em zonas autônomas, estruturadas nos “caracoles zapatistas” – forma de
organização social que não pretende disputar o poder executivo federal, mas que
almeja antes revolucionar as esferas do cotidiano, confiando na ressonância de
suas práticas para muito além das fronteiras rígidas das zonas autônomas.
A guerrilha brasileira, contudo, adotou caminho oposto. A seção “Objetivos
das ações do guerrilheiro urbano” justifica a estratégia num outro tópico
igualmente revelador:
(Escrevi: talvez: isto é: trata-se de uma hipótese – não custa lembrar nos
tempos que correm.)
De outro lado, uma condição objetiva, qual seja, a eclosão da guerrilha rural
exigia tanto recursos generosos quanto recrutamento sistemático. A cidade
oferecia diretamente meios de acelerar o acúmulo dos dois fatores. Nas últimas
páginas do Minimanual a esperança se mantinha ativa: