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Domingo, 15 de Abril de 2018 ESTE SUPLEMENTO É PARTE INTEGRANTE DO JORNAL PÚBLICO N.º 10.221 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE
Caramulo A glória
e a ruína da vila onde
Portugal se tratou P10 a 15
Adam Kampff
“Não precisamos de mais
dados, precisamos de
ideias melhores”P20 a 23
“A fé tem de ser
uma escola do desejo”
Entrevista a José Tolentino Mendonça P4 a 9
4afef307-0fc4-446e-8509-41f17eead690
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Índice
4 10 16 20
Tema de capa Entrevista: A glória e a Estação Imagem Entrevista Adam Kampff
Tolentino Mendonça ruína da vila Próxima paragem, “Não precisamos de
“Deus é um problema onde Portugal Coimbra mais dados, precisamos
também para os crentes” se tratou de ideias melhores”
Ficha técnica Director David Dinis Directora de Arte Sónia Matos Editor Sérgio B. Gomes Designers Marco Ferreira e Sandra Silva Email: sgomes@publico.pt
24 25 30 31
Tecnologia O que é um computador? Lazer Festival Estar bem Crónica
Televisão The Crossing: Leiria aos Nem só de carne e Sobre a participação
é bom ou mau associar uma museus frutos secos se alimenta das crianças
nova série a Perdidos? um crossfitter nas notícias
“Deus
é um
problema
também
para os O Elogio da Sede foi o tema
que o padre José Tolentino
Mendonça propôs ao
Papa Francisco, quando
que o também poeta e exegeta bíblico
propôs ao Papa e aos seus mais directos
colaboradores.
No tempo litúrgico que antecede e
crentes”
este o convidou a orientar prepara a Páscoa, os cristãos são chamados
os exercícios espirituais a repensar a sua vida à luz da fé que
da Quaresma para os responsáveis da professam. Esse desafio pode assumir
Cúria Romana — a primeira vez de um a forma de um encontro de reflexão
padre português. Com o mesmo título, ou meditação, muitas vezes chamado
foi anteontem posto à venda o livro (ed. “exercícios espirituais”, adoptando a
Quetzal) que reúne os textos das meditações expressão cunhada por Inácio de Loiola,
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fundador dos jesuítas. “Um exercício proposta. “O silêncio com que vivemos este desejavas ter: ‘É só a Ele que eu cobiço, é só e artísticas que marcam também a sua obra
espiritual é, sobretudo, um momento de retiro podia interpretar-se como uma sede”, a Ele que busco e nada mais senão Ele.’ E se poética e ensaística. E é essa intersecção
encontro, uma viagem ao interior de si, uma acrescentava o padre português. te perguntar quem é esse Deus, responde permanente que transparece no seu livro.
abertura ao que pode ser a voz de Deus, No livro A Nuvem do Não-Saber, do final que é o Deus que te criou e redimiu, e por Que tem um único risco: o de se tornar,
um balanço da própria vida”, explicaria do século XIV — que muitos historiadores sua graça te chamou ao seu amor. Insiste que também ele, uma das grandes obras da
Tolentino Mendonça nesta entrevista. da matéria consideram “um dos mais belos acerca d’Ele tu nada sabes.” mística. A par de obras como A Imitação de
Foi isso que, durante cinco dias, entre 18 textos místicos de todos os tempos”, como Foi sobre essa busca e sobre tactear Cristo ou o já citado A Nuvem do Não-Saber.
e 23 de Fevereiro, aconteceu em Ariccia, recordava José Mattoso na edição portuguesa na procura de Deus que, nas suas dez Ou a par de nomes como Hildegarda de
perto de Roma: duas meditações diárias, (ed. Assírio & Alvim) —, o autor anónimo meditações, Tolentino Mendonça se Bingen, Juliana de Norwich, São João da
e o resto do tempo em silêncio, para escreve: “[À] pergunta: ‘Que buscas? Que debruçou, mesclando a investigação dos Cruz, Teresa d’Ávila, Etty Hillesum, Dietrich
cada pessoa se confrontar com a reflexão desejas?’, responde que era a Deus que textos bíblicos com as inspirações literárias Bonhoeffer, o irmão Roger de Taizé... c
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Não é por
acaso que tanta
gente esteja a
dar à Igreja
Comecemos por uma pergunta
impressiva: o que se sente ao estar diante
do Papa, convidado por ele, a orientar
das Grandes Perguntas, acaba a falar
de ampliar o espanto como legado
daqueles que se amam. Estas meditações
uma segunda pergunto: qual é a primeira sede?...
Qual é a primeira sede?...
A primeira sede é a sede da sede, viver não
um retiro quaresmal?
Sentem-se três coisas. A primeira é uma
começam com o tema “aprendizes do
espanto”. Que espanto ou espantos se
oportunidade na administração das nossas certezas, mas
numa espécie de fronteira, numa espécie
grande humildade, porque toda a palavra
que dissermos é atravessada pela densidade
daquela vida, do que ele representa — e
devem aprender?
O grande perigo, numa viagem interior, é
habituarmo-nos à nossa própria vida e a
com o Papa de limiar, que faz do acto de crer ou do acto
de rezar uma forma de atenção: de atenção
a nós próprios, de atenção à vizinhança de
poucas vezes na minha vida me senti tão
pequeno. Depois, um grande sentido de
rotina acabar por dominar. É um fazer por
fazer, os acontecimentos são mecânicos. Na
Francisco. Deus, de atenção aos outros, à história...
No final do retiro, o Papa disse-me: “Uma
serviço e responsabilidade: estava ali porque
ele me convidou. E por fim, por estranho
que pareça, uma grande simplicidade e
vida dos padres, por exemplo, há um retiro
anual, que o próprio calendário impõe. E, a
dada altura, é como se um piloto automático
Muitas vezes até das coisas que achei importante foi dizer que
Deus tem sede das nossas sedes.” Esse é um
bom resumo da proposta que fiz.
naturalidade: eu era um padre a prestar
serviço a outros padres e era mais um a fazer
estivesse a comandar a nossa vida e já não
fôssemos nós próprios.
se ouve dizer Um dos aspectos da atenção aos outros
passa por uma das faces da sede
o que qualquer um pode fazer. Sentia-me a
fazer coisas muito normais.
E também a fazer o caminho que
O espanto é poder abrir os olhos, poder
dar-se conta do que somos, do que está
perto de nós, do que está longe. É ganhar
que ele é a única espiritual: a solidão. A dado passo,
cita uma história intensa do escritor
uruguaio Eduardo Galeano, que acaba
interessa ao Papa: como ele escreve
no prefácio, as meditações que
um olhar crítico sobre a nossa própria
realidade, perceber que muitos gestos, à
voz humana com a criança hospitalizada a pedir ao
médico: “Diga a alguém que estou aqui.”
propôs cruzam o estudo da Bíblia
com referências literárias, poéticas, a
actualidade e o quotidiano. Há um apelo
custa de os repetirmos, se tornam tiques
e manias, e se esvaziam da autenticidade
fundamental. Por isso, a primeira palavra do
no contexto da A companhia e o abraço do outro são
necessidades maiores?
São necessidades maiores, também para
a uma reflexão que seja também o que o
Papa propõe?
retiro é esse “espanta-me”, mais uma vez.
Como se pudéssemos ganhar um olhar novo,
ordem mundial o clero e para a Igreja, que foram os
primeiros destinatários desta palavra. É
Claramente. Quando ele me convidou, disse- um primeiro olhar sobre a nossa própria muito fácil, em todas as condições de vida,
me duas coisas: que me sentisse muito livre existência. É essa frescura que permite a experimentarmos a radical solidão do existir
e que fosse eu próprio. E que só ajudaria infiltração do espírito nas nossas vidas. e não encontrarmos interlocutores para as
com estas duas condições. Aceitei isso com
grande verdade, no sentido de que a minha
... e que leva ao tema da sede. Num outro
livro anterior, A Mística do Instante, já
Acabamos por grandes questões, para as grandes sedes que
trazemos no coração. Essa solidão torna-se
experiência de vida aparece muito reflectida,
tal como as minhas leituras ou o que me
escrevia que bebemos de muitas fontes
mas a sede volta sempre. A que sedes o nos consumir uma espécie de peso, de custo existencial,
com o qual nos conformamos: vivemos
parecem ser os caminhos do presente e do
futuro da Igreja...
Isso é feito num grande diálogo com o
cristianismo deve hoje dar resposta?
Escolhi o tema da sede porque ele me parece
indicar um património fundamental do
uns aos outros como podemos viver.
São necessários momentos de
revitalização na nossa vida, de
magistério do Papa Francisco e o que ele
representa, com o impulso reformista que
crer. Crer não é satisfazer-se, não é ter as
soluções nem ter encontrado as respostas. e não há um questionamento mais profundo, de pausa,
como os exercícios espirituais podem ser.
ele introduz a este tempo do catolicismo.
Estes cruzamentos dão-me a medida
do concreto. A teologia não pode ser uma
Crer é habitar o caminho, habitar a tensão,
viver dentro da procura. Nesse sentido,
mais do que estar saciados de Deus, os
verdadeiro Momentos que nos ajudem a romper com o
conformismo e a ouvir a solidão profunda
que temos dentro de nós. Não escutaremos
ideologia nem a espiritualidade se pode
confundir com um conjunto de abstracções.
crentes aprendem os benefícios da sede, a
importância de viverem no desejo de Deus,
encontro, uma a voz de Deus se não escutarmos também a
voz dessa ferida, desse peso de solidão que
Qual é o contributo da literatura? É trazer
uma “concretude” muito grande, é trazer
histórias de vida, modelos do vivido, do
na espera de Deus. Um crente não possui
Deus, não o domestica com os seus rituais
e as suas crenças. Ele vive na expectativa
hospitalidade muitas vezes nos esmaga, que muitas vezes
condiciona a nossa esperança, condiciona a
nossa alegria e que é preciso olhar de frente
pessoal, do individual para uma reflexão de
conjunto. Nesse sentido, é um papel muito
de Deus e da sua revelação, que, em
grande medida, é sempre surpreendente,
autêntica. e desconstruir.
Fala da relação como um alimento
grande, porque é uma espécie de zoom sobre
a realidade. É muito envolvente sentirmo-
nos dentro de uma história.
é sempre inédita. Por isso, a sede é um
lugar necessário no itinerário cristão, que
precisamos de revisitar.
Diminuímos invisível, que passa pela hospitalidade,
pela palavra, pelo cuidado e
afecto com os outros. Mas, hoje,
A grande vantagem de utilizar o texto
bíblico e a tradição espiritual cristã, mas
A dada altura, falo da necessidade de
revalorizarmos mais uma espiritualidade da
a nossa chamamos “amizade” a relações com
desconhecidos. Como trabalhar a
também a antropologia, o cinema, a
literatura, a pintura e as artes em geral
é permitir uma tradução existencial da
sede. E percebermos que, mais do que estar
a produzir respostas para perguntas que
não escutámos dentro de nós e dentro dos
capacidade relação, tendo em conta esta realidade?
A grande ideologia dominante, hoje, é o
consumo. Já não é tanto uma ideologia
mensagem cristã.
E isso é necessário?
outros, o importante é perceber a sede como
uma palavra que Deus nos diz. Deus coloca-
de esperar uns política, mas uma transversalidade que faz
de nós consumidores de alguma coisa e
Sim. Quando se propõem exercícios
espirituais, claramente não é para ensinar
doutrina às pessoas. Aquelas pessoas é que
nos numa situação, em acto, em experiência,
mais do que numa montra ou pódio onde
a vida já aparece concluída e rematada. O
pelos outros: ou é continuamente estimulados a isso. Qual é o
problema da sociedade de consumo? É que
ela não suporta a sede, não suporta o desejo.
me poderiam ensinar doutrina. Por isso é
que essa chamada ao real e ao concreto me
tempo da Igreja, o tempo da crença, é um
tempo de inacabamento, de construção, é
no imediato, ou Todos os desejos são para ser realizados
no mais imediato possível. A satisfação
parecem traços indispensáveis.
O seu livro anterior, O Pequeno Caminho
um estar a caminho, é um fazer-se. A sede
desempenha, aí, um papel fundamental. E aí já não funciona dos nossos desejos é colocada como uma
promessa fantasma ao alcance da mão.
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Um dos perigos
do discurso
religioso
é ser uma
generosidade, pelo amor... Quando temos
o privilégio de servir, de forma desmedida,
também recebemos o tamanho da nossa
tem sido, em grande medida, tocar as
sedes dos corações e das periferias. Mesmo
para aquelas situações em que não há
superestrutura não-crentes é fundamental que aconteça, no
catolicismo contemporâneo.
Vivemos num mundo dominado por uma
vida.
O título de um dos seus poemas e da
uma resposta única e rápida, ele não tem
medo de tocar as várias sedes e de tocar
que anda indiferença, uma neutralidade, uma não-
crença... É preciso dialogar. Os cristãos têm
sua antologia poética, diz: “A noite
abre meus olhos”. São João da Cruz fala
da fonte que, no meio da noite, pode
com ternura as sedes que as mulheres e os
homens do nosso tempo transportam. E,
nomeadamente, as vítimas, os excluídos, os
por cima das de ser actores de um diálogo infatigável com
os não-crentes. É preciso um humanismo
cristão, capaz de pensar articulações,
iluminar a sede. O que pode a sede abrir?
Isso mesmo que São João da Cruz diz: “De
mais pobres. Não é um acaso que ele tenha
começado as suas viagens por Lampedusa,
nossas cabeças pontes, proximidades, afinidades. Não é:
ou, ou. Em tantos campos pode ser: e, e. E
noite iremos, de noite, ao encontro da fonte,
porque só a sede nos ilumina.” Quando os
nossos olhos se abrem na noite — a noite é
com os refugiados, os imigrantes...
Um dos perigos do discurso religioso é ser
uma superestrutura que anda por cima das
e não toca, percebermos que podemos ser aristotélicos
e platónicos, e amar a cultura grega e
perceber o discurso cristão. O mundo de
também o símbolo do precário, da nossa
fragilidade, do que é maior do que nós, do
nossas cabeças e não toca, não se infiltra na
própria realidade e não se deixa ensopar
não se infiltra hoje precisa dessas pontes, desses diálogos.
Temos muito a aprender uns com os
que não tem resposta —, quando abrimos
os olhos, percebemos que somos chamados
a uma experiência de vida autêntica. Esse
de vida, não tem cheiro, não tem cor nem
sabor. Muitas vezes, a religião é uma coisa
inodora, virtual. O Papa traz realidade,
na própria outros...
Falámos de sedes espirituais, mas
também há milhões de pessoas com
sentir-se chamado é alguma coisa que a
escuta profunda de nós próprios permite.
traz verdade. O cristianismo, com ele, tem
cheiro. Ele fala muitas vezes do cheiro, do
realidade e não sede física, “uma dura experiência de
sacrifício e de prova”, como escreve,
Essa disponibilidade para a escuta é
um pôr-se num dinamismo de mudança;
é dizer que Deus é que conduz a história,
toque, do sabor e é a experiência de um
cristianismo vivido com os seus sentidos,
com a realidade desperta. Isso toca muito
se deixa ensopar que têm de percorrer quilómetros só
para transportar água. Como se devem
escutar estas sedes que atingem tantas
que não somos nós, com os nossos olhares
parciais, a conduzir a história, mas o próprio
as pessoas que trazem uma briga com uma
religião desencarnada e, quando encontram
de vida, não tem pessoas?
A [encíclica] Laudato Si’ é um dos textos
Deus. Mas, para isso, temos de abrir os
olhos e sentir que há uma iluminação,
um cristianismo encarnado no amor e na
misericórdia, dão-lhe uma segunda hipótese. cheiro, não tem maiores do Papa Francisco e, sem dúvida,
será um dos grandes textos do século XXI.
que só acontece quando nos expomos. Um dos capítulos é dedicado ao papel Identifica a realidade do mundo de hoje,
Os exercícios espirituais, a experiência de
oração ou, no mundo contemporâneo,
das mulheres nos evangelhos. O
cristianismo e a humanidade têm algo
cor nem sabor. mostrando como a questão da água e da
sede é absolutamente fundamental para
também a arte, a música, o contacto com a
natureza, tantas outras formas que são uma
a aprender com o “fluxo de realidade a
modelar a fé” que o seu lado feminino Muitas vezes, a o futuro do mundo. Muita da justiça ou da
injustiça da ordem presente tem que ver com
exposição do que somos e da vida, a escutar
o mistério que está presente, que está perto
e se revela quando lhe abrimos a porta...
lhe traz?
O Papa Francisco tem colocado
deliberadamente essa questão na agenda
religião é uma o acesso à água potável, com o acesso aos
bens, à habitação, ao trabalho, o acesso às
condições de uma vida digna. E a Igreja tem
Essa ideia da proximidade é central
no discurso e na prática do Papa. Ele
eclesial, o que é muito importante. Há
páginas do evangelho que não percebemos coisa inodora, de ouvir: o Papa Francisco tem-nos ajudado
muito a viver um cristianismo com os pés
insiste muito nela, como sinónimo da
misericórdia e da atenção ao outro.
Ainda nesta [última] exortação apostólica,
se não forem lidas também em chave do
feminino. Há uma plástica da fé, uma
tradução existencial da fé que só as lágrimas
virtual. O Papa assentes na terra e capaz de ouvir a voz do
sofrimento humano. Que se traduz também
nessa realidade mais viva, mais literal,
ele fala muito da santidade de trazer por
casa, poderíamos traduzir assim. Da
das mulheres, o rosto e a vida das mulheres
é capaz de explicar. Há um património muito
traz realidade, porque a sede, antes de tudo, não é uma
alegoria. A sede é uma impossibilidade de
santidade de todos os dias, da vida comum.
Não apenas dos santos canonizados, mas
das pessoas que lutam pela sobrevivência,
grande do feminino, nestes dois mil anos de
cristianismo, que claramente precisa de ser
lido melhor e ser mais frequentado.
traz verdade. viver assim, que tantas mulheres e homens
nossos contemporâneos experimentam hoje
na sua pele.
das que estão doentes e continuam a sorrir,
dos pais ou dos avós que dão as mãos às
Diz que, sobre Deus e o caminho
espiritual, faz bem aos crentes escutar
O cristianismo, Olhando para o índice onomástico (outra
forma de ler este livro), qual é o rio que
crianças e as ajudam a crescer, dos amigos
que partilham momentos de alegria e de
impasse... isso é expressão de um Deus
os não-crentes. O que pode um crente
aprender, sobre Deus, com um não-
crente?
com ele, tem une pessoas tão diversas como Emily
Dickinson, rodeada de puritanismo
norte-americano, Primo Levi, morto em
próximo e vizinho. E tem sido, no magistério
do Papa Francisco, uma mensagem de
A resposta mais óbvia é a sede: num não-
crente, encontramos uma sede muitas vezes
cheiro Auschwitz, Eugène Ionesco com as suas
personagens do absurdo, Etty Hillesum,
reconciliação com Deus e, muitas vezes, até em estado bruto, em estado de pergunta, Fernando Pessoa, Santo António Abade,
com a própria Igreja. Não é por acaso que num grau de pureza... Nos automatismos da São João da Cruz?...
tanta gente esteja a dar à Igreja uma segunda fé e no achar que sabemos, a ignorância que É o rio da sede. Há um rio que atravessa a
oportunidade com o Papa Francisco. Muitas
vezes até se ouve dizer que ele é a única voz
muitas vezes um não-crente tem, em relação
à fé, permite-lhe ter um olhar crítico e livre
Crer é habitar história, um caudal imenso, do qual nós
fazemos parte e que tem como pontos
humana no contexto da ordem mundial,
porque nos aproxima uns dos outros e
aproxima-nos desse sentido fundamental
que faz bem aos crentes.
Deus é um problema para todos, não é
só uma questão para os não-crentes, Deus
o caminho, luminosos os corações sedentos, aqueles
que não desistiram de levantar mais alto o
sentido da sua sede.
que acreditamos que está em Deus.
Quase podemos dizer que há sedes que o
também é uma questão para os crentes.
Deus é uma questão que nos une, não é uma
viver dentro da Se tivesse de escolher uma expressão
para dizer qual é o “elogio da sede” a
Papa está a saciar em muita gente...
Não tenho dúvidas de que o trabalho dele
questão que nos separa: Deus está em todos,
crentes e não-crentes. Esse diálogo com os procura partir do evangelho, qual seria ela?
Bem-aventurados os que têm sede.
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E Caramulo
stacionou os sonhos para guar- chamar-se Grande Hotel Sanatório. Em 1933,
dar a vida. apenas Grande Sanatório.
Tinha despistado a doença Era, na verdade, mais do que isso. Na peque-
há quatro anos, cavalgado as na localidade do distrito de Viseu nasceu uma
amarguras de tratamentos estância sanatorial que chegou a ter 20 pólos. A
dolorosos, suportado roti- Sociedade do Caramulo construiu uma rede de
A glória
nas hospitalares. Mas a duas distribuição de água, barragem própria, rede
cadeiras de conseguir o seu de esgotos, centro de tratamento e incineração
diploma de médico, enfraqueceu de novo. Tu- de lixos, uma estrutura para recuperação das
berculose. O medicamento que havia tomado águas contaminadas, estrada alcatroada até
antes já não era eficaz. E a nova droga depressa Campo de Besteiros, posto de correios, cen-
perdeu a batalha com os bacilos. O diagnósti- tral telefónica, matadouro, escola primária.
co foi comunicado sem subtilezas a um dos No Grande Sanatório — enorme edifício de três
irmãos mais velhos: “Disse-lhe que ia morrer.” pisos, dois corpos laterais, águas furtadas e ga-
À rendição da medicina acudia a crença no lerias à volta — havia bloco operatório, labora-
e a ruína
poder curativo do descanso prolongado, da tório de análises clínicas, serviço de radiologia,
comida certa, dos ares de uma serra afamada farmácia central, consultório de estomatologia,
no centro do país. zona de esterilização de louças. E bibliotecas,
— Tens de ir para o Caramulo. salas de jogos, um ecrã gigante onde chegavam
As palavras do irmão instalaram o medo. as produções cinematográficas estreadas nas
O curso inacabado. O sofrimento. A morte. salas do país, mais tarde um cineteatro.
António Passos Coelho pediu duas semanas. Ali curava-se gente. Ali morria gente.
Seria o suficiente para completar as disciplinas António Passos Coelho sabia-o bem. Fez a
em falta. Mas a medida do tempo, explicou- viagem de Lisboa para o Caramulo a mastigar
da vila
lhe o seu tisiologista em jeito de ultimato, era o medo. Filho de um lavrador e de uma pro-
agora outra. “Tu queres morrer médico, é? Se fessora primária de uma vila transmontana, es-
queres, está bem...” tudou em casa, à boleia dos nove irmãos e da
Estacionou os sonhos. ambição de chegar à Faculdade de Medicina.
Naquela década de 1950, o Caramulo vivia “Estudava 14, 15, 18 horas por dia. E malco-
os seus anos de glória. Terra rural onde no iní- mido. Nem tinha o que vestir”, conta o pai
cio do século existiam apenas algumas casas do ex-primeiro-ministro. Completou o liceu
da povoação e um punhado de construções sem professores. E na capital iniciou o sonho
simples para comércio e acolhimento de do- de menino insubmisso a destinos formatados.
onde
entes em convalescença, tinha-se transfor- Mas, contra a doença, pouco podia. Desespera-
mado em geografia central para combater a dos com a fragilidade do estudante de 25 anos,
“tísica”, o nome pelo qual era inicialmente os médicos do Caramulo quiseram fazer-lhe
apelidada a doença. A narrativa havia come- uma toracoplastia, corte de várias costelas que
çado anos antes. Jerónimo Lacerda conhecia procurava fechar as cavernas pulmonares. Ele
a fama de “bons ares” do Caramulo desde me- recusou. “Impressionava-me tirar as costelas...
nino, quando, com o pai, delegado de saúde, Preferia morrer.” Fez uma cura intensiva. Só
percorria quilómetros infindos pela serra. Já podia levantar-se para comer e ir à casa de ba-
homem feito, ao regressar a Portugal depois nho. O resto do tempo estava deitado, a dar
Portugal
de uma passagem por Angola e por solos eu- descanso aos pulmões. “Pensei que enlouque-
ropeus, o médico formado em Coimbra trazia cia ao cabo de um mês, dois...” Aos poucos,
planos de ali construir um hotel para hóspe- ganhou algum fôlego. O suficiente para fazer
des com fraquezas. uma operação alternativa. “Tenho cá óleo”,
A Sociedade do Caramulo nasce em Dezem- aponta para o pulmão esquerdo, ao recordar
bro de 1920 e menos de dois anos depois está a cirurgia que lhe devolveu os sonhos.
a abrir as portas do seu Grande Hotel. Por Eram, por vezes, experiências desespe-
esta altura, fintava-se a carga negativa da do- radas.
se tratou
ença e da palavra “sanatório” e ignorava-se “Sabia-se pouco e tentava-se tudo. Os médi-
que pudesse ser esse o fim último do espaço. cos propalavam mil recomendações, avançavam
Não se falava ainda em destino para tubercu- as hipóteses de tratamento mais extravagantes,
losos. Mas a “peste branca” assolava o país, para logo se desmentirem e recuarem. Um co-
a Europa, e o número de tísicos internados po de vinho do Porto em jejum. Beber goles de
no Caramulo aumentava de ano para ano. No petróleo. Fricções de sabão nas espáduas, duas
início dos anos 30, as estatísticas oficiais apon- vezes por semana, à hora de deitar, tendo o cui-
tavam para 13 mil mortes anuais em Portugal. dado de lavar depois com água quente a parte
Com a Guerra Civil de Espanha, primeiro, e a friccionada.”
Segunda Guerra Mundial, mais tarde, muitos A casa de Olímpia Madeira Lopes tem poiso
tuberculosos dos grandes sanatórios euro- numa serra e vista para outra. Quando chegou
peus rumaram a Portugal. E a obra de Lacer- ao Caramulo, estava a década de 50 a meio, es-
da foi reflectindo as mudanças e o crescente tranhou o frio penetrante das terras serranas.
desespero na nomenclatura: em 1928, passa a Mas encantou-se pelo manto branco que lhe
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Ruínas
Muitos dos sanatórios estão
hoje abandonados. António
Passos Coelho (em baixo) foi
um dos últimos médicos
a abandonar a estância
História
A estância do
Caramulo,
criada em 1920
por Jerónimo
Lacerda, chegou
a ser a maior da
Península Ibérica.
José dos Prazeres
(à esquerda)
esteve internado
num dos
sanatórios
“Peste branca”
Nos anos 1930,
as estatísticas
falavam de 13 mil
mortes anuais
em Portugal. No
Grande Sanatório
foi criada em
1939 uma rádio
que sobrevive
até hoje. Maria
Helena é locutora
desde os anos 70
— Consegue imaginar aquele tempo ao en- Ficção real no chão, tectos caídos, tinta a soltar-se das pa- As ruínas
trar aqui? Isabel Rio Novo foi redes como casca de ovo, pingos da chuva que
— Perfeitamente. Sobretudo ao chegar às finalista do Prémio Leya fazem eco. No corredor à esquerda, avista-se Maria Alice vai com o cajado na mão a arrastar
galerias. Imaginei logo as pessoas a fazerem a com um romance que uma sala redonda onde vive uma estrutura que as suas ovelhas. Entristece ao admitir o cami-
cura em frente à serra. desenterra uma doença parece ter sido uma mesa de operações. Ao nho sem volta: “Então é que era, agora nem é
Para lá da ficção, está sempre a realidade. para retratar um país lado, uma máquina de raio x Siemens largada o Caramulo”, comenta, a rematar a conversa
Por isso, visitar os locais sobre os quais roman- com amarras. Um livro à sua sorte. À direita, uma maca perdida com antes de desaparecer no nevoeiro cinemato-
ceia é essencial para Isabel Rio Novo. “É preciso poderoso que se lê parte do tecto em cima. gráfico que se abateu sobre a serra.
sentir para depois fingir e ficcionar”, diz. A sua a suster a respiração Parecem templos de dor. Agudizam a vera- Às vezes, de olhos fechados ou pensamentos
primeira ida ao Caramulo com esse objecti- cidade de tudo o que se leu e ouviu. voadores, António Passos Coelho ainda está em
vo aconteceu meio ano depois de inaugurar a Há no Caramulo um silencioso despovoa- terras serranas. Traz um sobretudo e chapéu
narrativa. Com o marido, o também escritor mento, uma mágoa ensurdecedora. pretos, livros na mão, poesia decorada para
Paulo M. Morais, foi do Porto ao distrito de grandes da literatura portuguesa como Camilo Quando Jerónimo Lacerda morreu, inespe- explicar a alma.
Viseu para respirar o ambiente ali vivido. E Castelo Branco, Agustina Bessa-Luís ou Mário radamente, em 1945, os filhos João e Abel assu- Caramulo,
na vila mágica aumentou um sentimento que Cláudio — são invulgares e “aparentemente miram os destinos da sua empreitada. Sabiam Boa terra!
depositou nas páginas do seu romance: “Acre- pouco organizados”. Sabe sempre como vai da inevitável queda da estância, à boleia da Boa serra!
dito que há sítios alegres e sítios que não o são. terminar a história, começa por um excerto em evolução da medicina. E burilaram alternati- Que saudades acumulo.
Como se ficassem marcas das vivências. Senti que se sinta confiante e não pelo início (dica vas. Abel tinha o sonho de transformar o Cara- Sabe de cor todos os nomes. Daqueles que
essa cicatriz no Caramulo.” de Umberto Eco no seu livro Como se Faz Uma mulo numa estância cultural. E chegou a reunir lhe devolveram os sonhos, daqueles a quem
Aconteceu-lhe sobretudo ao chegar ao Sa- Tese) e sabe sempre o título à partida. mais de 400 peças de arte — quadros doados recuperou a vida. Ali se curou, se fez médico,
natório Infantil. “A partir daquele momento Nas ruínas do Caramulo, Isabel descobriu por Picasso e Dali incluídos — na sua colecção. descobriu o amor, foi pai. “Nunca mais aprendi
tudo foi real”, recorda a escritora de 45 anos. uma “beleza soturna” — algo que os românticos Mas um acidente trágico numa passagem de nada desde que saí do Caramulo”, certifica. Não
Os tectos mais baixos, as portas mais estreitas, apreciariam. É o que sobra de uma história dei- nível roubou-lhe a vida precocemente, em 1957. precisa estar lá para ver as ruínas. Estão-lhe na
as estruturas enferrujadas de um baloiço, um xada ao abandono, “uma boa metáfora daquilo João não abandonou completamente a ideia: memória, quais metástases de uma doença que
escorrega, um balancé. E o recorte da serra que é a vida humana e o esquecimento”. A tra- o Museu do Caramulo, inaugurado em 1959, não vacila. Costuras de um país que escolheu
em frente, a igreja de branco cálido que não gédia que assolou milhares de pessoas durante é parte do sonho do irmão. E podia ter sido o esquecer. Era possível “outro destino” para a
salvou. “Pensei: ‘Aqui morreu gente. Aqui séculos esvaiu-se, tal como os espaços onde a princípio da mudança do Caramulo. vila mágica, aponta, a notar a mágoa que não é
morreram crianças’.” tragédia viveu. Não foi suficiente. Em 1978, o jornal A Capital só dele. Mas os apagões não são globais.
Para construir o romance, Isabel percorreu Dos 20 sanatórios, quatro foram transfor- dava conta da grave crise financeira da Socie- — Sou todo do Caramulo. O meu coração
livros de histórias, jornais, manuais médicos, mados em lares. Um em hotel. Alguns foram dade do Caramulo, falava numa “reconversão está lá.
livros de memórias como o de António Passos demolidos. A maioria é agora ruína. No Grande inevitável” que nunca aconteceu. Já havia mais
Coelho. Depois, a partir de uma base real de Sanatório, há janelas entaipadas com tijolos camas do que doentes. mariana.pinto@publico.pt
cartas trocadas entre familiares, escreveu. Em vermelhos, vidros partidos, cadeados enferru- As portas dos sanatórios vão-se fechando,
apenas um ano. Os métodos da autora — cujo jados a proibir a entrada. No Pavilhão Cirúrgi- um a um, até ao derradeiro fim, já nos anos Veja o vídeo em
estilo da escrita tem sido comparado a nomes co, as portas permanecem abertas. Há buracos 80. Sobra, agora, um Caramulo vazio. www.publico.pt/multimedia
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Pessoas e natureza
Até à Morte — História das Lutas Políticas em África
é a exposição que Marco Longari apresentará
na Galeria Pedro Olayo (filho). Em cima, instante
de uma uMkhosi woMhlanga (dança da cana),
cerimónia tradicional zulu de maturidade. Em
baixo, o orfanato da Fundação David Sheldrick para
a Vida Selvagem, Nairobi, Quénia, que faz parte da
retrospectiva de Michael Nichols. A exposição Uma
Vida Selvagem pode ser vista na Sala da Cidade
© MARCO LONGARI
© NIELS ACKERMANN
E
com esta já lá vão três para- agência de notícias norte-americana Asso-
gens para o Prémio Estação ciated Press, e os fotojornalistas Sara Naomi
Imagem. Depois de Mora e Lewkowicz, norte-americana com dois World
de Viana do Castelo, é a vez Press Photo (WPP) no currículo, Marco Lon-
de Coimbra acolher um dos gari, responsável de fotografia da AFP para
mais importantes encontros o continente africano, e Tanya Habjouqa,
de fotografia documental da fotógrafa jordana vencedora de um WPP.
Península Ibérica. O progra- A cerimónia de anúncio dos vencedores
ma arranca esta terça-feira, com um leque está marcada para o dia 21 de Abril, no Con-
Imagem
alargado de actividades e dez exposições vento de São Francisco. Para além dos pré-
espalhadas por vários espaços da cidade, que mios nas várias categorias a concurso, será
incluem uma retrospectiva do trabalho ligado anunciada a primeira bolsa de criação ligada
à natureza de Michael Nichols, reconhecido à região de Coimbra. Em conversa com o P2,
e veterano repórter da National Geographic, Luís Vasconcelos avança que houve este ano
apontamentos sobre as lutas políticas em mais candidatos à bolsa de criação do que em
África de Marco Longari, fotógrafo da Agence anos anteriores (ao contrário de Mora, com o
France-Presse, o quotidiano da geração que Alentejo como pano de fundo, a bolsa de cria-
nasceu após o desastre de Tchernobil, na ção ligada a Viana do Castelo, com o Minho e a
cidade ucraniana de Slavutich, pela lente do Galiza como tema genérico, mantém-se).
freelancer Niels Ackermann, ou um retrato da A exposição com os trabalhos vencedores
paragem,
comunidade cristã do Líbano, da autoria de será inaugurada no dia 2 de Junho, na Ga-
Patrick Baz, que decidiu olhar para as suas leria Pedro Olayo (Filho), no Convento São
próprias raízes depois de muitos anos como Francisco, onde poderá ser visitada até 10
repórter de guerra. de Julho.
Para Luís Vasconcelos, da organização, Entre as várias actividades durante a se-
a chegada dos Prémios a Coimbra assume mana de arranque, destaque ainda para o
particular relevância tendo em conta “a for- ciclo de projecções no auditório do Círculo
te ligação da cidade à fotografia”, por causa de Artes Plásticas de Coimbra (entre os dias
dos Encontros que ali se realizaram durante 17 e 21 de Abril), onde serão mostradas re-
quase duas décadas. Esse encontro regular portagens das principais agências noticio-
deixou marcas e criou naquela região “um sas do mundo e trabalhos de fotojornalistas
público específico” que, na opinião do pre- como Francesco Zizola ou Stanley Greene, o
sidente da associação cultural Estação Ima- influente repórter que morreu no ano passa-
gem, ficou “órfão” de iniciativas do género. do. Durante o mesmo período, o espaço Bla-
Para a selecção dos melhores trabalhos ckbox, no Convento São Francisco, receberá
enviados à nona edição do Prémio Estação documentários vindos da programação do
Imagem, foram convidados o espanhol San- DocLisboa e do catálogo da Midas Filmes.
tiago Lyon, presidente do júri do World Press
Photo 2013 e antigo director de fotografia da sgomes@publico.pt
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João Ferreira
Um arquipélago
entre o real e o onírico
Isadora Kosofsky
Os três (ou o amor como
uma ciência pouco exacta)
“Não precisamos de
mais dados, precisamos
de ideias melhores”
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O
fascínio de Adam cérebro de um peixe — que é um vertebrado chamada “córtex”, que é imensamente que é construir um robô bípede, que ande
Kampff pelos — e para o de um humano, eles são muito importante para aquilo que significa ser-se de pé. Noutros mamíferos e na maioria
sistemas inteligentes parecidos. Quase idênticos. humano. dos outros vertebrados, os comandos
tem-no levado ao Quais são as semelhanças? Qual é a relação entre estas três partes? para movimentar os músculos não vêm
aprofundamento A imagem genérica mais crua de um Lutam, cooperam entre si? do córtex, vêm do mesencéfalo e do
do estudo das cérebro de um peixe com 400 milhões Nos inputs de entrada, a informação chega rombencéfalo. Uma analogia perfeita é
funções nervosas de anos consiste em três estruturas a todos estes níveis, incluindo a espinal a seguinte: imaginemos que um cavalo
que os suportam. básica: o rombencéfalo, o mesencéfalo medula. Se removermos o cérebro a um é o mesencéfalo e o rombencéfalo; o
Licenciado em Astronomia e doutorado e o prosencéfalo — respectivamente, a sapo, ficando somente com a espinal córtex de um mamífero inferior e de
em Neurociências pela Universidade de parte de trás, do meio e da frente. Cada medula, ainda podemos “fazer cócegas” no outros vertebrados tem o controlo que
Harvard, onde ensinou, tenta perceber uma destas partes desempenha tarefas flanco do sapo, que ele activa a pata para se um cavaleiro teria. O cavaleiro consegue
com exactidão que partes do cérebro mais diferentes. A parte de trás é aquela que coçar. Trata-se apenas da espinal medula orientá-los na direcção certa, consegue
contribuem para vermos o mundo como está mais próxima da espinal medula e a responder. Se tropeçarmos, se a parte ajustar os seus movimentos, os seus
vemos. Kampff acredita que um dia, vamos acaba por ser uma longa faixa de neurónios da frente do nosso pé bater contra um saltos. Ao fazer isso, terá inevitavelmente
ser capazes de controlar totalmente estados responsável por controlar os músculos obstáculo, o outro pé começa logo a esticar- consequências sobre o destino do cavalo.
emocionais, como por exemplo evitar ter — no caso de um peixe, a sua cauda. se para a frente para nos equilibrarmos, E penso que essa é a principal razão pela
ciúmes. “Seria muito semelhante, creio, O mesencéfalo é onde estão os inputs antes mesmo de qualquer informação qual o córtex se tornou tão grande. Não
a ter controlo sobre os nossos músculos”, sensoriais, a informação visual ou sonora. chegar às outras três partes do cérebro, só por causa da quantidade de detalhes
diz o investigador numa conversa onde Esses inputs chegam e geram comandos. por acção da espinal medula. À medida que que controla, mas pelo facto de poder
revela que a sua experiência como pai de Se virmos comida, ou um predador, é subimos de nível, da parte de trás para a ter em conta todas as variantes: onde
duas crianças pequenas (um rapaz e uma transmitido um sinal ao rombencéfalo para parte da frente do cérebro, a informação estamos, qual a decisão certa a tomar. E
rapariga) o tem ajudado a fazer novas construir um movimento que nos permita é processada cada vez com maior detalhe. isso influencia a forma como usamos o
perguntas. Entre 2011 e 2015, Adam Kampff fugir, por exemplo. Foi essencialmente No sentido inverso, em outputs, a história mesencéfalo e o rombencéfalo para nos
foi investigador principal no Programa de o que estudei nos meus primeiros anos torna-se mais complicada. Descobriu-se movimentarmos. O melhor exemplo, se
Neurociências da Fundação Champalimaud. como neurocientista, a ligação entre o muito recentemente que o prosencéfalo, quisermos saber de que forma o córtex é
Actualmente, é investigador principal no mesencéfalo e o rombencéfalo. Estas o córtex, não detém informação muito importante para um humano, da mesma
Kampff Lab, que fundou em Londres. A duas estruturas estão presentes em todos detalhada sobre o movimento. Isto é o que forma que é importante para um rato ou
partir daqui partilha muita da informação os cérebros. Se ouvirmos um ruído, a estudamos há vários anos nos laboratórios um cão, é imaginarmo-nos a saltar ao pé-
recolhida, porque acredita que a melhor nossa cabeça vira-se: é o mesencéfalo a do Instituto Champalimaud. Assumimos, tal coxinho. Pomo-nos num pé e começamos a
maneira de descobrir o funcionamento do trabalhar de uma forma muito parecida como a maioria da comunidade científica, saltar. Fazemos isso aqui, ou num passeio,
cérebro, é envolvendo o maior número de com o cérebro de um peixe. A parte da que o córtex, por ser muito importante na rua. Depois fazemos exactamente o
cérebros possíveis. frente do cérebro do peixe que estudei tem para o processamento de inputs sensoriais mesmo, mas à beira de um precipício, ou
Em que é que trabalha exactamente no umas centenas, talvez uns mil neurónios. complexos, também seria necessário num parapeito desprotegido. A sensação
Kampff Lab? Todo o cérebro do peixe tem cerca de 100 para executar movimentos complexos. é logo diferente. Como é diferente andar
Tento perceber como é que o cérebro mil. O prosencéfalo do peixe é uma parte E de facto não é verdade, a não ser que numa superfície perfeitamente normal,
constrói um modelo do mundo, uma visão relativamente pequena de um cérebro consideremos apenas uma pequena com e sem um corrimão a proteger-nos de
tridimensional do espaço em que vivemos. já de si pequeno. E esta é uma parte espécie de mamíferos, que são os primatas, uma queda de 50 metros. O nosso córtex é
Mas é mais do que isso, porque não consiste muito misteriosa. Porque se olharmos incluindo nós. O cérebro humano é o único o que faz com que a sensação seja diferente.
apenas na estrutura do mundo, como um para o cérebro de um peixe, para o seu do planeta que precisa do prosencéfalo E é diferente porque os nossos músculos
modelo arquitectónico; tem também que mesencéfalo, está simplesmente ali, não para andar. É uma longa história, mas creio estão a ser estimulados através de sinais
ver com a percepção das propriedades faz muito. Quando é emitido um estímulo que estamos a começar a juntar as peças. do córtex que viajam pelo mesencéfalo,
físicas. Na realidade, com a percepção visual de alguma coisa que lhe possa Porque é que precisamos do pelo rombencéfalo. Não mudam o facto
de todas as interligações, de como tudo interessar, o mesencéfalo activa-se e o prosencéfalo para andar? Por sermos de estarmos a caminhar de A até B. O que
funciona. Olhamos por exemplo para o animal foge ou ataca. Mas, se olharmos bípedes? fazem é preparar-nos: se escorregarmos ou
modelo de um copo: sabemos identificá- para o prosencéfalo, está a cintilar É sem dúvida parte da resposta. Andar se alguém aparecer e gritar “Olá!”, a forma
lo, tem um certo aspecto, mas também energicamente. Chamamos-lhe “actividade de pé é raro na vasta diversidade de como reagimos, estando no meio da rua
sabemos que ruído vai produzir quando o espontânea” porque não sabemos bem espécies do reino animal. As avestruzes e ou à beira de um precipício, vai ser muito
pousamos numa mesa de vidro. Sabemos o que provoca ou o que significa. O muitos pássaros fazem-no, mas penso que diferente. O córtex é, neste caso, a parte do
o que aconteceria se entornasse a água que sabemos dos peixes é que no seu fazem batota, porque têm umas pernas cérebro que conhece a estrutura do mundo,
que contém e se cair na minha roupa, telencéfalo, que faz parte do prosencéfalo, magrinhas, umas barrigas enormes e um para determinar qual será a melhor coisa
sei calcular o tempo que levaria a secar. esta actividade está apenas marginalmente pescoço longo. O seu centro de equilíbrio a fazer no caso de qualquer coisa correr
Sabemos um número desmesurado de ligada aos inputs (estímulos?) sensoriais, proporciona-lhes mais estabilidade. menos bem.
coisas sobre o mundo. É este modelo do tendo uma fraca influência no Portanto, não os consideramos. Passou os últimos anos a estudar o
mundo que o cérebro cria que procuro comportamento que o peixe irá exibir. A O bipedismo é mesmo difícil por ser córtex. Quais são os seus métodos de
perceber, já há mais de dez anos. razão pela qual damos importância a esta intrinsecamente instável. O problema análise?
Como é que se deu a evolução do parte da frente do cérebro está relacionada motor para manter a estabilidade é muito Em termos práticos, colocamos eléctrodos
cérebro? Existe uma sequência de com o facto de se ter tornado enorme nos mais fácil de resolver em seres de quatro nos cérebros de animais que têm córtex.
eventos que nos trouxe ao cérebro humanos. Na realidade, o prosencéfalo patas e mais fácil ainda para seres que Idealmente, enquanto estão a criar um
actual? expandiu-se de uma forma que engloba vivem no mar. As exigências para um corpo modelo de um mundo que criámos para
Sim. Começou bem atrás, há cerca de quase o resto do cérebro. No ser humano, se manter estável num mundo complexo eles. Usamos ferramentas como a realidade
400 milhões de anos, quando os seres é apenas isso que se vê quando se olha são muito subestimadas, até mesmo virtual ou realidade aumentada. Estão
vertebrados surgiram. Animais que, para uma imagem do cérebro, toda aquela por neurocientistas. Mas são exigências numa caixa com projectores e sons, e jogam
como nós, tinham espinal medula. O que superfície ondulosa é toda o prosencéfalo. com que os especialistas em robótica se um videojogo. Eu uso especificamente
é fascinante é que, se olharmos para o Em particular, é uma parte do cérebro deparam; eles sabem bem a dificuldade ratos. Os ratos andam por ali num c
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brincar, a Alice pega em objectos que Isso libertou-nos as mãos, mas também
possam falar uns com os outros. O Albert nos permitiu falar, comunicar e, no fundo,
preocupa-se mais com o som que aquilo criar de forma coordenada as sociedades
faz, se começar a bater com as coisas umas em que vivemos como humanos. A
nas outras. E essas são duas características próxima coisa que precisamos de controlar
fundamentais sobre o que significa ser- são as fontes profundas, antigas e
se humano: é necessário perceber o poderosas das “vontades” e das emoções.
mundo relacional; é preciso saber como Não sei quanto tempo irá levar, mas serão
os materiais do mundo funcionam para se aspectos que o córtex terá de um dia
poder operar nele. Ambos são essenciais. conseguir controlar. Temos de ser capazes
Mas se as hormonas sexuais ditarem que de decidir se vamos ser felizes ou tristes,
nos preocupemos 51% com as relações zangados ou apaixonados. E tenho noção
e 49% com a simulação física, essa de que isto soa muito mal, mas precisamos
diferença é suficiente para influenciar o de ter controlo sobre estas dimensões
comportamento. emocionais em nós.
A sociedade pode empurrar-nos para À partida, o que parece é que estou a
determinadas categorias, mas não há sugerir que um simulador inteligente, que
verdadeira necessidade de o fazer. Não não tem nenhum desses ingredientes,
creio que tenhamos encontrado algo no passe a controlar o meu comportamento e
cérebro que nos diferencie radicalmente. as minhas emoções. Mas eu argumento o
Diz-se que os homens têm melhor noção seguinte: a razão pela qual existe ballet ou
espacial que as mulheres. Mas também break-dance é porque o córtex consegue
pode ser apenas porque preferem brincar fazer os nossos corpos dançar e movimentar-
desde tenra idade a chocar objectos uns se de diferentes formas. O córtex consegue
com os outros e observar os resultados. brincar com o movimento. Consegue
Para além de que somos encorajados a torná-lo ainda mais interessante do que
agir dessa forma. A diferença entre 51% quando apenas se preocupava em fugir de
e 49% é subtil. Mas diferenças subtis no predadores e não cair de precipícios. Penso
cérebro podem ter enormes repercussões, que usar a inteligência para controlar as
dado que treinamos o nosso simulador, o emoções pode ser interessante. Os estados
nosso “motor”, no aspecto do mundo que emocionais têm um impacto muito forte
preferimos: pessoas ou coisas. no simulador, e penso que todos nós já
Há então espaço para um futuro queer? tomámos decisões que desejávamos ter sido
O movimento queer é um sinal muito capazes de evitar. Não seria óptimo saber
motivador de que um dia teremos de saber evitar sentir ciúmes? Ou sentir, sim, mas
chegar atrasado, pode ter uma dúzia de que existe uma certa vontade social para como lidar com estes aspectos. Acredito sermos verdadeiramente capazes de decidir
programações algorítmicas, mas não se vai estar em sintonia, para a existência de que a preferência sexual e identidade de como lidar com o que estamos a sentir? Seria
sentir envergonhado. A “vergonha” resulta um acordo sobre aquilo que estamos a género se vão transformar em conceitos muito semelhante, creio, a ter controlo sobre
de uma rede gigante de factores e é preciso representar. Essa vontade é determinante arcaicos, tal como com o imperialismo e os nossos músculos. Diria que as religiões
ir ao nível molecular para a conseguir na comunicação. E de onde é que isto a escravatura. Vai-nos parecer impossível ocidentais ou em particular o budismo têm
explicar e entender. E isso é parte do que vem? Como é que isto está construído? já termos pensado assim, não vamos vindo a referir-se a esta questão, só que não
significa estar vivo. Se construirmos um Que consequências tem? Vemos isto acreditar. Da perspectiva do córtex, que sendo neurocientistas pararam em conceitos
replicant a partir de moléculas, temos de em qualquer criança jovem. Os seres interessa por quem nos sentimos atraídos? como a calma ou o desapego, no fundo
construir todos esses componentes. E isso humanos são uma espécie incrivelmente Óptimo é sentir atracção. E porque é que estratégias para não deixar as emoções
ainda vai levar muito, mas mesmo muito social. Estamos atentos ao que fazemos e isso havia de ser um factor de decisão controlar o que pensamos.
mais tempo do que construir um robô dizemos, somos extremamente sensíveis para o que quer que seja? Mas o facto de Como neurocientista, o que ambiciono
inteligente capaz de andar por aí e falar a este ambiente social. E perceber o ainda não estarmos bem aí é um sinal de é que o córtex tenha o mesmo tipo de
connosco. funcionamento de um ambiente social que as sociedades humanas ainda têm um controlo sobre o que sinto que aquele que
Como é que as hormonas influenciam é um projecto enorme para um cérebro conjunto de programas, de normas e de tem sobre a forma como me movimento.
o cérebro? Há diferenças observáveis jovem. restrições, mas acho que são superáveis. E não é uma questão de deixarmos de nos
entre homens e mulheres? O outro aspecto que torna o cérebro Já ultrapassámos vários obstáculos; ainda preocupar, mas antes a possibilidade de
Há diferenças nos géneros. Tanto a nível humano tão fascinante e que já aqui nos faltam muitos outros. Mas termos brincar com o que nos preocupa. Penso
cerebral como em vários outros tecidos aflorámos um pouco tem que ver com o começado a entender a necessidade que é o projecto do futuro e pode levar um
do corpo. Aqui vou simplesmente dar volume do simulador, como ele é bom de discutir estes conceitos, parece-me milhão de anos, mas consigo imaginar uma
a minha opinião como pai de um rapaz a representar um mundo cada vez mais muito entusiasmante. Mas não vai ser um sociedade humana que finalmente dominou
e de uma rapariga, na perspectiva de complexo, dinâmico e em constante percurso fácil ou linear. as suas últimas teimosias — e aí poderemos
um neurocientista bastante interessado mutação, como os primatas que o usam Do que é que depende? começar a fazer coisas verdadeiramente
em tudo o que está a acontecer, com para se balançar pelas árvores. Acima de tudo, a história dos mamíferos incríveis. O meu único receio é que
relativamente pouca compreensão sobre o Ao olhar para os meus dois filhos — a até aos primatas, e dos primatas até estraguemos tudo antes de lá chegarmos.
assunto, mas aberto a especulações. Alice e o Albert, ele tem dois anos e meio e aos humanos é a história do córtex a Porque vai acontecer. Não sei exactamente
Há dois aspectos literalmente fascinantes ela tem quase quatro —, noto que se eles se aperceber-se do seu poder sobre o seu como lá chegar, mas é para aí que devemos
sobre o ser humano que nos separam de sentarem numa mesa ambos querem saber simulador. O córtex apoderou-se de caminhar.
todos os outros cérebros. A capacidade como tudo funciona. Dada a liberdade sistemas bem antigos de que não tinha
para coordenar os nossos modelos significa suficiente, quando os dois começam a controlo antes, e fez um bom trabalho. Realizadora
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Media&Tecnologia
Tecnologia Televisão
É bom ou mau
O que é um associar uma
computador? nova série
a Perdidos?
muitos levam no bolso. Já serve para baixo custo” torna impossível dei- Joana Amaral Cardoso
Karla Pequenino quase tudo: de passar as barreiras xar o aparelho na hora de dormir.
no aeroporto com um bilhete elec- No extremo, a situação cria aqui- É ou não vantajoso associar uma no-
A resposta não é assim tão fácil — em trónico a acordar a horas. Já é (des- lo a que os investigadores chamam va série a Perdidos? O risco está em
menos de dois séculos, os computa- de 2016) o aparelho mais utilizado “tecnostress”: agitação induzida pe- nós, espectadores, ao começar esta
dores passaram de uma palavra que para navegar na Internet e dados lo excesso de informação dada pelos nova aventura, e está também no
define humanos, a pequenas máqui- de 2017 da Delloite mostram que computadores modernos, permanen- próprio modelo televisivo que Lost
nas que se podem levar no bolso. Pa- 78% dos consumidores em países temente ligados. Instabilidade emo- representava e no qual The Crossing
rece ficção científica, mas é história. desenvolvidos olham para o smar- cional e pouca qualidade de sono es- TVSéries vem agora inscrever-se — mas nesta
E a Apple lembra as pessoas que está tphone menos de uma hora depois tão entre as consequências comuns, estreia mistério última década tudo mudou. Risco
longe de acabar. de acordar. Para alguns, é menos. mas deixar a tecnologia não faz sem- da ABC sobre 1: esta série não vem nem bem nem
“Mas o que é um computador?”, Em Dormir com o inimigo, um es- pre parte da solução. Há empresas, refugiados mal cotada dos EUA, onde se estreou
remata a jovem protagonista de um tudo publicado este ano na revista como a holandesa Somnox, a desen- do futuro no canal generalista ABC há duas se-
anúncio da marca ao deslizar os de- científica Computers in Human Beha- volver almofadas especiais, programa- com apenas manas. Os espectadores e os críticos
dos por um tablet quando uma vizi- viour, os autores argumentam que das via smartphone, que copiam o res- 11 episódios estão pouco entusiasmados, mas so-
nha pergunta o que está a fazer com a “prevalência de smartphones a pirar humano para embalar adultos. garantidos e bretudo à espera para ver. Risco 2:
o aparelho no jardim. Nas redes so- Com os aparelhos cada vez mais uma colagem só se sabe que The Crossing, que se
ciais, o debate sobre a pergunta dura próximos, há quem os veja a fazer, conceptual à estreia este domingo no TVSéries às
desde que o anúncio surgiu, no final
de 2017. Antes, a rapariga já tinha tre- Há anos, novamente, parte da definição de
humano. Uma equipa do MIT, lide-
série de 2004.
Quais são os
21h15, terá para já 11 episódios. Risco
3: ao longo do primeiro episódio as
riscos?
pado árvores com o tablet, teclado o
trabalho de casa e enviado fotogra-
fias à mãe. A ideia que a marca ten-
a resposta rada por Canan Dagdeviren, está a
testar a possibilidade de transmitir
energia gerada pelo corpo para pe-
referências ou ecos de séries passadas
são tantos que sabemos demasiado
bem em que viagem estamos a em-
ta passar é que nunca o abandonou
durante o dia inteiro. Para os mais certa era quenos computadores. É algo que vê
a ocorrer nos próximos dez anos. A
barcar. É uma viagem sem garantias.
Numa praia de Port Canaan, no chu-
críticos, a Apple está a ser “pompo-
sa” ao insinuar que as crianças não
vêem um tablet como um compu-
“uma prioridade é gerar energia para pa-
cemakers, mas estes aparelhos tam-
bém devem enviar informação sobre
voso e sombrio estado de Washington,
aparecem 499 pessoas. Só 47 estão
vivas. E falam de coisas que o xerife
tador, mas a história mostra que o
significado de “computador” está a
mulher”. No o corpo, via wifi, aos pequenos com-
putadores que temos no bolso.
(Steve Zahn) e as autoridades federais
(Sandrine Holt) não podem perceber
mudar desde que surgiu.
Desde o final do século XIX que os
humanos dependem de computado-
futuro, pode Independentemente da definição
de “computador”, é cada vez mais
difícil viver sem os avistar: caso con-
porque ainda não aconteceram. Esta
é uma história de refugiados. Refugia-
dos que falam a mesma língua que os
res para fazer cálculos e resolver os
mistérios do universo. Na altura, po-
estar ligado trário, o anúncio da Apple não teria
causado tanta indignação.
seus anfitriões porque, saberemos
logo, são refugiados do futuro. Lá,
rém, a palavra “computador” não vi-
nha com um monitor, processador e
teclado anexado. Era o título dado às
ao coração karla.pequenino@publico.pt
no futuro, há pessoas evoluídas, sem
doenças e com capacidades físicas e
cognitivas desenvolvidas. E planos.
CORTESIA NASA/JPL CAL-TECH
mulheres — pouco lembradas — que Uma década depois, essas séries
processavam dados manualmente e têm uma impressão digital difusa,
mapeavam estrelas para a NASA criar prejudicada pelo que se considerara
novas cartografias do universo. ser o final falhado de Perdidos e pelos
Com o passar dos anos, foram-se sucedâneos menores (Heróis, The Nine,
desenvolvendo máquinas enormes Flashforward), mas também beneficia-
cada vez mais complexas que as da pelo que alguns que fizeram Perdi-
substituíram na função, mas o termo dos tentaram emendar em novas séries
só ganhou fama na década de 1970, — Damon Lindelof em The Leftovers
quando empresas como a Apple, a (HBO), exemplo mais brilhante. Nes-
IBM e a Microsoft desenvolveram a ta equação em que parece obsessivo
ideia de um “computador pessoal” olhar para uma nova série pelo prisma
para ter na secretária. Foi a última, das antecessoras ou dos marcadores
com a missão de pôr um “em cada genéticos também houve Wayward
casa”, que ganhou a batalha e tornou Pines ou Fringe. Mas é a própria série
o Windows o sistema operativo do- que se promove assim, lembrando que
minante, cimentando a ideia daquilo A NASA vem “do canal que lhe deu Perdidos”.
que as pessoas vêem como um com- diz que os Durará a série criada por Dan Dworkin
putador. Mas, décadas mais tarde, a computadores e Jay Battie (The Event, Surface) o tem-
definição volta a mudar. humanos po suficiente para se desenvolver co-
ajudaram mo série de mistério serializada para
Da secretária ao bolso a lançar a além do seu aparente potencial?
Hoje, o aparelho de computação exploração
mais popular é o smartphone, que espacial joana.amaral.cardoso@publico.pt
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Música
LISBO
LISBOA
Oud e jazz entre mestres Fundação Calouste Gulbenkian
Funda
O tunisino Anouar Brahem é um dos maiores executantes de oud Dia 16 de Abril, às 21h.
(alaúde árabe) da actualidade. Tem obra gravada na editora alemã ECM,M, Bilhetes de 25€ a 40€
Bilhet
o que significa que o jazz também paira por aqui. E é na companhia de
três gigantes do jazz que regressa a Portugal para apresentar o álbum
Blue Maqams (2017): o baterista Jack DeJohnette, o pianista Django
Bates e o contrabaixista Dave Holland, com quem retomou finalmente
uma colaboração iniciada 20 anos antes, no aclamado Thimar.
Festival
Dia de ficar
DOCUMENTÁRIO
um dos pilares da tal misteriosa Recreativa 15.13 Lendas do Futuro
organização. Durante a missão, 16.44 Hancock 18.17 Ela É Mesmo...
Bond vai descobrir que Greene está o Máximo 19.59 Telejornal 21.08 Got FOX MOVIES FOX LIFE
a tentar apoderar-se de um dos Talent Portugal 23.02 Um Quente 9.42 Piratas das Caraíbas - O Cofre 13.22 For the People 13.57 All for Love A Máquina Assassina de Hitler
recursos naturais mais importantes Agosto 1.16 Expedição ao Antárctico do Homem Morto 12.05 Homem sem 15.41 Deadly Exchange 17.34 O Chef História, 21h51
do mundo... De Marc Forster. 2.09 Sociedade Recreativa 2.56 Rumo 13.50 Os Profissionais 15.38 (2014) 19.49 Noivo de Aluguer 22.20 Maio de 1945. Com o fim da guerra e
Parlamento 3.43 Televendas Deus Perdoa... Eu Não! 17.26 Um Burlesque 0.39 Serena 2.37 Ossos a rendição nazi o mundo descobriu
Juntos para Sempre Homem sem Medo 19.19 Nevada Smith o horror brutal de um sistema de
TVC1, 21h30 21.15 Piratas das Caraíbas - Nos Confins genocídio. A eliminação de milhões
Esta é a história de Bailey, também RTP2 do Mundo 23.56 Piratas das Caraíbas DISNEY de pessoas foi meticulosamente
conhecido pelo nome de Buddy, 7.00 Euronews 8.00 Espaço Zig Zag - Por Estranhas Marés 2.06 Desperado 15.21 Lab Rats 15.44 A Raven Voltou planeada por um regime, cuja
Tino ou Ellie. Ao longo de múltiplas 12.59 Voz do Cidadão 13.16 Caminhos (1995) 3.45 O Leopardo 16.08 K.C. Agente Secreta 16.31 organização e métodos começavam
reencarnações, a sua alma canina 13.43 70x7 14.14 Nikolaj e Julie 15.00 Mickey Mouse - Edição Especial a ser conhecidos. Neste episódio,
cruzou-se com vários donos. O Desporto 2 17.01 Vamos à Descoberta 16.59 Entrelaçados: A Série 17.22 recorda-se Hjalmar Schacht, figura
primeiro de que se recorda é 17.52 A Mentira da Verdade 18.21 Bob‘s CANAL HOLLYWOOD Acampamento Kikiwaka 17.45 muito esquecida, mas da qual
Ethan, um rapazinho que foi seu Burgers 18.45 A Ilha de Black Mor 20.11 10.20 A Lenda de Bagger Vance 12.25 Melhores Amigas Sempre 18.10 K.C. dependeu a ascensão de Hitler.
companheiro durante anos e com E2 - Escola Superior de Comunicação Milhões 14.05 Escola de Rock 16.00 Agente Secreta 18.33 Lab Rats 18.56 Adaptado do romance The Devil
quem teve uma ligação muito Social 20.35 Madeira Prima 21.03 Jóias A Saga Twilight: Amanhecer - Parte 1 Acampamento Kikiwaka 20.58 Andi Banker, de Jean-François Bouchard,
especial. A separação foi difícil e, para Que Vos Quero? 21.30 Jornal 17.55 Need for Speed: O Filme 20.10 Mack 21.45 K.C. Agente Secreta 22.08 um documentário que traça o
ainda hoje, apesar de ter regressado 2 22.14 O Gerente da Noite 22.59 Snitch - Infiltrado 22.00 Rush - Duelo Mickey Mouse - Edição Especial retrato de uma personagem que,
sob a forma de outros cães e de Curso de Cultura Geral 23.57 Ryuichi de Rivais 0.10 Procurado 2.05 O sem nunca ter feito parte do partido
ter pertencido a donos igualmente Sakamoto: Tocando Orquestra 2014 Exterminador da Noite 3.45 Forte Utah nazi, constituiu um dos seus mais
dedicados, mantém a esperança 1.58 Cinemax 3.04 Afinidades DISCOVERY sólidos pilares.
de o reencontrar. Uma história de 17.20 Chapa e Pintura 18.15 Corridas
AXN
MÚSICA
devoção e amizade com realização Ilegais 20.05 A Febre do Jade 21.00
de Lasse Hallström. SIC 13.26 O Lobo de Wall Street 16.21 A Febre do Ouro 2.15 A Febre do Jade
6.55 Espaço Infantil 8.45 Marco 10.15 Agentes de Reserva 18.19 Ladrões 3.05 Já Estavas Avisado! 4.35 Negócio
Um Quente Agosto Força Ralph (v.p.) 12.15 Vida Selvagem: com Estilo 19.59 Trip de Família 21.55 Fechado 5.00 Caçadores de Leilões Ryuichi Sakamoto: Tocando
RTP1, 23h02 Spy in the Wild 13.00 Primeiro Jornal Agentes Secundários 23.57 Chicago 5.25 Gas Monkey ao Resgate Orquestra
Com produção de George Clooney, 14.10 Fama Show 14.45 I’m Out of Fire 0.47 Isto É o Fim! 2.39 Quântico RTP2, 23h57
Jean Doumanian e Grant Heslov, Office 15.00 Os Guardiões da Galáxia 4.09 Mentes Criminosas 4.54 Agentes O japonês Ryuichi Sakamoto já
uma comédia negra assinada 17.45 007 - Quantum of Solace 19.57 Secundários HISTÓRIA compôs bandas sonoras de filmes,
pelo produtor, argumentista e Jornal da Noite 21.35 DivertidaMente 17.34 O Estripador 18.17 O Universo: música electrónica, uma ópera e
realizador John Wells, a partir 23.00 O Outro Lado do Paraíso 0.40 Enigmas Ancestrais 20.26 Caçadores até toques para telemóvel. Em 2014,
da peça homónima de Tracy Dentro do Labirinto Cinzento 2.25 Os AXN BLACK de Mistérios 21.08 Caçadores de apresentou no Suntory Concert
Letts, vencedora de um Pulitzer. Europeus 2.50 Poderosas 14.32 A Viagem a Itália 16.21 Mistérios 21.51 A Máquina Assassina Hall, em Tóquio, algumas das suas
Em Osage County, no estado Assassinos de Férias 17.50 Jackie de Hitler 0.31 Hitler 1.19 Hitler 2.07 peças mais famosas, com o apoio da
norte-americano de Oklahoma, Brown 20.18 Até à Morte 22.00 Alienígenas 2.49 Alienígenas 3.31 Orquestra Filarmónica de Tóquio.
a história dos Weston durante o TVI Motorista para Todo o Serviço 23.37 Extraterrestres? 4.12 Extraterrestres? Um belíssimo concerto, repleto de
mês mais quente do ano. A família 6.15 Os Batanetes 6.30 Campeões e Caçada Mortal 1.15 Jackie Brown 3.43 4.53 O Preço da História 5.14 O paisagens sonoras quase etéreas.
disfuncional reúne-se devido ao Detectives 8.15 Detective Maravilhas Sobrenatural 4.26 Até à Morte Estripador 5.56 O Estripador
INFANTIL
estranho desaparecimento de 9.00 O Bando dos Quatro 10.00
Beverly Weston, o patriarca. E, à Querido, Mudei a Casa! 11.00 Missa
medida que os dias passam e eles - Belas, Sintra 12.30 Somos Portugal AXN WHITE ODISSEIA
são forçados a uma convivência 13.00 Jornal da Uma 14.00 Somos 14.12 A Guerra dos Botões (2011) 16.06 17.13 Através da Objectiva 17.41 Andi Mack
imposta pelas circunstâncias, tudo Portugal 19.58 Jornal das 8 21.30 Família de Acolhimento 16.51 Psych - Planeta Azul Selvagem 18.30 Cidade Disney, 20h58
se revela: as crises, os ciúmes, os Secret Story 7 - Gala 0.00 Secret Agentes Especiais 18.23 A Teoria do Selvagem: Singapura 19.17 Israel Andi é uma adolescente que está a
ressentimentos e as fragilidades de Story 7 - Pós-Gala 0.45 Secret Story 7 - Big Bang 20.27 Young Sheldon 21.13 A Selvagem 20.04 As Serpentes Mais descobrir quem é, contando com
cada um. Porém, no meio de tantos Ligação à Casa 1.00 Querido, Comprei Teoria do Big Bang 22.00 Detonação Mortíferas 20.48 Através da Objectiva um empurrão da irmã mais velha,
sentimentos, haverá espaço para Uma Casa 1.30 Querido, Mudei a Casa! 0.08 World Trade Center 2.10 Trocadas 21.38 Grande Tubarão Branco 22.31 Bex, quando esta regressa a casa
reencontrar o amor que, apesar 2.30 Anjo Meu 3.00 Olhos de Água à Nascença 2.56 Detonação Resgate na Praia 0.01 Diário Secreto do com uma grande revelação. Ao lado
de tudo, ainda teima em uni-los. Sexo 0.48 Bonecas Sexuais 1.45 Diário de Andi, os seus melhores amigos,
O elenco é de luxo: Meryl Streep, Secreto do Sexo 2.33 Bonecas Sexuais Cyrus e Buffy, que também estão
Sam Shepard, Julia Roberts, Ewan TVC1 FOX 3.36 Resgate na Praia 4.43 Resgate na a tentar perceber quem são e de
McGregor, Chris Cooper, Abigail 10.00 Escritos Secretos 11.50 Cantar! 13.38 Hawai Força Especial 17.05 007: Praia 5.10 Cidade Selvagem: Singapura que forma podem integrar-se no
Breslin, Juliette Lewis e Benedict (v.p.) 13.40 O Fundador 15.40 Lion Casino Royale 19.54 007: Quantum of 5.57 Israel Selvagem mundo. Uma série dirigida a jovens
Cumberbatch. entre os 6 e os 14 anos.
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Dia de sair
18h20 (V.Port./2D); Batalha do Pacífico: A 14h, 17h10, 20h50, 24h; Assim Não Vais Milhões M12. 12h30, 15h, 17h10, 19h15, 21h20, 21h20; Operação Entebbe 13h10; Peter
Jogos
Jogos
4. Pá, Lassar. 5. Iva, Pai, As. 6. Regar, Lotar. 7. Lê, Ovo, Ora. 8.
Exercícios religiosos feitos durante
nove dias. Brisa. 9. Pôr lacre
VERTICAIS: 1. Condir, Anos. 2. Adeus, Épico. 3. Rima, Apitar. Porto Santo
em. Aparelho com que se dirige 8. Apia, Alar. 9. Nitrato, Eis. 10. Oca, Sarampo. 11. Soro, Rarear. 15º 21º
embarcação ou avião. 10. Irisar. Agência. 4. Dual, Orar. 5. Is, Aprovar. 6. Asa, Ver. 7. Épsilon, Tu. 18º
Tapume. 11. Dividir ao meio. Que HORIZONTAIS: 1. Carpir, Tlim. 2. Odiável, Are. 3. Nem,
corre ao longo de. Solução
Funchal
3-3,5m
18º 16º 21º
1-1,5m
Estar bem
Crónica
N
ão era um tema la, expondo-a ao julgamento dos corroborou que a preservação da tendência para falar por cima
controverso. colegas da escola, porventura identidade das crianças em risco delas. E nós, jornalistas, nem
Era só uma re- menos preparados para lidar com é o primeiro grande desafio de sempre nos conseguimos libertar
portagem sobre a diferença. qualquer cobertura jornalística do espartilho tecido pelas nossas
monoparentali- O direito à reserva da intimidade respeitadora dos direitos das rotinas. Falar com crianças exige
dade masculina. da vida privada e familiar está crianças. tempo para ir aos sítios, para
Procurámos ouvir consagrado na Constituição, a Aquela especialista, autora dos quebrar o gelo, para ouvir. Não dá
alguns pais e as suas respectivas Lei de Protecção de Crianças e livros A Construção da Agenda para entrevistá-las por telefone ou
crianças. Ninguém nos pediu que Jovens em Risco reclama respeito Mediática da Infância (Livros por correio electrónico. E há que
Por Ana Cristina omitíssemos identidades, mas, no pela privacidade em caso de risco Horizontes, 2008) e Jornalismo assumir alguns cuidados.
Pereira final da conversa com o segundo
pai, eu e o fotojornalista Paulo
social e a ética jornalística não
ignora esses preceitos. O código diz
e Direitos da Criança - Conflitos e
Oportunidades em Portugal e no
Quando me pedem para falar
sobre este assunto, gosto de
Pimenta nem precisámos de falar que “o jornalista deve respeitar a Brasil (Editora Minerva, Coimbra, lembrar meia dúzia de princípios
um com o outro para perceber que, privacidade dos cidadãos, excepto 2013), apontou outros desafios: propagados por entidades como
naquele caso, teríamos de o fazer. quando estiver em causa o interesse evitar a estigmatização, ultrapassar a Federação Internacional de
Sendo a identificação das fontes público ou a conduta do indivíduo a perspectiva factual, promover a Jornalistas. 1. Não custa o jornalista
regra, para tudo há excepções. contradiga, manifestamente, pluralidade de fontes, privilegiar o colocar-se ao nível da criança. Há
E a cobertura jornalística exige valores e princípios que ponto de vista das crianças, fazer o várias estratégias que o livram de
especial cuidado com crianças. publicamente defende”. enquadramento público-privado, olhar de cima para baixo. Basta
O Código Deontológico do Partilhei esta história em difundir a busca de soluções. arranjar um banco mais pequeno
Jornalista, revisto em 2017, Março, no V Encontro Nacional Não se pode dizer que haja ou curvar-se sobre a mesa. 2. Não
refere que “o jornalista não sobre Maus Tratos, Negligência e um ambiente favorável. As é preciso fazer uma voz afectada.
deve identificar, directa ou Risco na Infância e Adolescência, instituições (as escolas, os centros Ser criança não é ter défice
indirectamente, as vítimas de organizado pela ASAS - Associação de acolhimento, os centros cognitivo. Há que conversar com
crimes sexuais”. E que “não de Solidariedade e Acção Social educativos, as comissões de ela com naturalidade, mostrando
deve identificar, directa ou de Santo Tirso. E logo ali Lídia protecção) tendem a dificultar o um interesse genuíno pelo que
indirectamente, menores, sejam Marôpo, professora adjunta do acesso às crianças. Na ânsia de as ela tem para dizer. 3. Não se deve
fontes, sejam testemunhas de Instituto Politécnico de Setúbal e proteger, negam-lhes o direito a julgar a criança, nem os adultos
factos noticiosos, sejam vítimas ou investigadora integrada no Centro expressar os seus pontos de vista. que fazem parte da vida dela. O
autores de actos que a lei qualifica Interdisciplinar de Ciências Sociais Entre os adultos que concedem melhor é abster-se de comentar,
como crime”. da Universidade Nova de Lisboa, deixá-las falar, há os que têm até por haver muita ambivalência
Há que admitir que a redacção MANUEL ROBERTO
nas histórias de abuso, mau trato,
TENHA
Colecção de 10 volumes. PVP unitário 10,90€. Preço total 109,00€. Periodicidade semanal à Quinta-feira, entre 12 de Abril e 14 de Junho 2018. Stock limitado.
OS GRANDES
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Vol. 1 Tex – A Lenda de Tex
Para os brancos, ele é o infalível Ranger do Texas.
Para os Navajos, é o chefe sábio Águia da Noite.
A completar 70 anos de vida em 2018, Tex é o
personagem mais antigo das tiras de banda desenhada
e um dos mais duradouros em todo o mundo.
Este primeiro volume recolhe quatro histórias a cores
publicadas originalmente na revista Color Tex: O Último
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