1 INTRODUÇÃO
A história da humanidade é dividida por eras que evidenciam conquistas científico-
tecnológicas como a era do fogo, a era das máquinas, a era das tecnologias da informação.
Dessa forma, diante de um destaque de proporções tão significativas na vida do homem, é
preciso conhecer os efeitos que a Ciência e seus aparatos tecnológicos produzem na vida das
pessoas. Nesse prisma, a escola apresenta um papel significativo na educação científica não
devendo ser vista como um sistema mecânico, mas sim como um sistema em construção de
saberes ativos.
É nessa visão que deve ser proposto ao aluno uma educação de excelência para sua
formação, uma vez que, um ensino com essa peculiaridade proporciona o aluno a
oportunidade de identificar, explicar, aplicar, correlacionar o conhecimento científico no seu
dia a dia e assim ser competente na tomada de decisões que afetam situações pessoais, sociais
e globais.
As mudanças percebidas no cenário educacional são decorrentes das profundas
transformações ocorridas ao longo do tempo no Brasil nas estruturas política, social,
econômico e cultural gerando, consequentemente, transformações no mundo do trabalho, nas
relações sociais e econômicas existentes na sociedade. A ampliação do acesso e permanência
dos filhos dos trabalhadores à escola pública não garantiu o acesso à qualidade do ensino. A
escola ainda não assumiu em plenitude o seu papel de conscientização dos alunos em sua luta
pela superação da ideia reducionista que os tratam como simples reflexo das desigualdades
sociais (FREIRE, 2011, p.90).
As influências do positivismo no ensino de ciências construíram uma imagem
salvacionista e detentora de verdade absoluta, atualmente novos pensamentos indicam uma
participação mais ativa do aluno com intuito de favorecer um aprendizado que o apodere para
o exercício de sua cidadania.
Uma tentativa de mudança de paradigma é visto nos documentos oficiais através de
políticas centralizadas e que ainda se constituem de diversos instrumentos de avaliação
externas que deixam claras as reais intenções do governo (KRASILCHICK, 2000, p. 87).
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) foram produzidos para divulgar as ideias
de uma reforma no campo da educação, além de orientar os professores sobre novos rumos
metodológicos, no documento há propostas de contextualizar o conteúdo curricular com o
modo de vida do aluno para que assim o discente possa construir pontes de inter significação
com o aprendizado e também usando da interdisciplinaridade que o estudante percebe que as
disciplinas não são sozinhas elas conversam entre si e os professores compartilham saberes
disciplinares estabelecendo uma rede de informações para uma melhor compreensão do
mundo que vive.
O ensino de Ciências Naturais nos anos iniciais do Ensino Fundamental deve possibilitar
aos alunos mecanismos de pesquisa e busca de informações, registrar e analisar dados. Por
isso é tão importante a articulação com a área de Linguagem, Matemática e as Ciências diante
da diversidade de conhecimentos que leve o aluno a tomar decisões com uma abordagem mais
significativa e contextualizada. (BRASIL, 1997, p.44)
O letramento científico (LC) apresenta função crítica diante da sociedade onde crenças e
valores científicos podem ser questionados e o que se espera é que um cidadão
cientificamente letrado possa dialogar com os conhecimentos científicos, questões sociais e as
novas tecnologias (SANTOS, 2007, p. 476).
Corroborando com os propósitos dessa nova reforma curricular que tende a olhar para a
criança como sujeito ativo na aquisição do conhecimento, está a educação em Ciência,
Tecnologia e Sociedade (CTS). O movimento CTS que surgiu do pós-guerra e da revolução
industrial, como resposta às consequências pelo uso irresponsável dos avanços científicos e
tecnológicos que durante muito tempo esteve a serviço da descoberta da cura de doenças e ao
mesmo tempo compactuando com massacres e genocídios demonstram o quão cauteloso deve
ser o tratamento dado as questões relativas entre as ciências, suas tecnologias e sociedade.
Fazendo analogia a uma doença degenerativa, o papel neutro e salvacionista atribuído a
Ciência e a Tecnologia precisam ser desmistificando das crenças dos cidadãos, e a sociedade,
deve se apropriar da realidade em que vive para exercer seus direitos e deveres em plenitude
de direitos e deveres.
O ensino com enfoque CTS é voltado para assuntos de relevância social no contexto em
que alunos e professores estão inseridos, visa a formação crítica sobre os fenômenos
sociocientíficos, possibilita a libertação de uma visão ingênua e redentora da ciência e forma
cidadãos aptos a tomada de decisões conscientes em diversos contextos da sociedade.
A inclusão das abordagens curriculares sob um viés CTS representa uma possibilidade
dos cidadãos questionarem suas realidades sociais, favorece a formação política. Ao se falar
em avanços tecnológicos e a presença das Tecnologias da Informação (TIC’s) existe grande
parcela da sociedade que ainda está excluída desse acesso, e a problematização destas e de
outras questões e vai de encontro com o movimento social que almeja a transformação das
realidades desiguais (SANTOS, 2008, p. 111).
O processo de conscientização da conduta individual é longo e demanda tempo e esforços
múltiplos, por isso deve ser iniciada ainda na infância para que dessa forma o mundo também
possa ser transformado. A ciência e a tecnologia:
[...] tendem, a fazer os ricos mais ricos e os pobres mais pobres, acentuando a
distribuição desigual da riqueza entre as classes sociais e entre as nações. Apenas
uma pequena parte da humanidade pode pagar o luxo de um telefone celular, um
computador conectado à Internet ou simplesmente viajar em avião. [...] é a mesma
ciência e tecnologia que destrói mais diretamente a vida humana ou da natureza,
como com muitos exemplos conhecidos. As tecnologias de armas permanecem tão
rentáveis quanto em tempos de Guerra Fria. Ciência e tecnologia de hoje são
altamente eficazes; o problema é se os seus objetivos são socialmente valiosos.
(CEREZO, 2009, p. 32) tradução nossa
2.2 A horta
No Brasil, adolescentes passam cerca de cinco horas por dia diante da TV. Sabe-se
que uma exposição de apenas 30 segundos a comerciais de alimentos é capaz de
influenciar a escolha de crianças a determinado produto, o que mostra [...] o papel da
TV, no estabelecimento de hábitos alimentares [...]. Diante da TV, uma criança pode
aprender concepções incorretas sobre o que é um alimento saudável, uma vez que a
maioria dos alimentos veiculados possui elevados teores de gorduras, óleos,
açúcares e sal. (ALMEIDA, et al. 2002, p. 353)
Por isso, é significativo que a escola apresentar situações reais em que a sociedade esteja
inserida, com o propósito de investigar, refletir, decidir sobre os efeitos que seu modo de vida
causa a si próprio e ao seu ambiente, para isso é imprescindível o uso de uma metodologia
que caminhe rumo ao desenvolvimento de uma educação científica crítica e assim consolidar
os objetivos previstos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) n°9.394/96
eu prevê um ensino fundamental de anos onde deverão ser desenvolvidas as capacidades de
leitura, escrita e cálculo, compreensão do mundo social, natural, político, tecnológico e
artístico e ainda, desenvolver habilidades, valores e atitudes. (BRASIL, 1996)
Nessa visão a construção de hortas, nos espaços escolares, vão de encontro aos
pressupostos da LDB, dos PCNs e de uma educação CTS visto que envolve o aluno na
preparação da terra, do cuidado com o vegetal, em uma nova percepção da alimentação,
contextualiza o conteúdo cientifico e podem revelar os benefícios e malefícios do uso
tecnológico no dia a dia das pessoas.
Para melhor compreensão do leitor o próximo item fará destaque a uma análise
referenciada da inter-relação do ensino CTS e suas congruências com o projeto horta,
realizado por um dos autores deste artigo, com base em relatório da época.
O próprio título já é sugestivo para uma interpretação social do plantar e colher. Depois de
conhecer os alunos e suas histórias, seus desejos e anseios, conquistá-los para assumir
responsabilidades e descobrirem qualidades que antes cada um deles não reconhecia foi um
passo do plano à ação. Na primeira etapa do projeto foi realizada uma pesquisa para a
investigação conceitual do que se trata uma horta escolar, bem como a descoberta de
significado de termos pouco usuais tais como decomposição orgânica, pesticidas e outras que
surgiram durante o processo. Serviram de apoio vídeos disponíveis na internet e alguns textos
de revistas.
As propostas de Freire (2011, p. 111) e das abordagens CTS em uma concepção dialógica
de educação convergem para que o professor deixe de depositar conteúdos na cabeça dos
educandos e assuma um papel catalizador no processo de ensino e aprendizagem
(NASCIMENTO &, LINSINGEN, 2006, p.11). Nesse ponto de vista a essa abordagem inicial
feita pelo professor é enriquecedora, pois permite o diálogo com os saberes que o discente
traz e a partir deste são traçadas estratégias metodológicas na busca de uma aprendizagem
problematizadora. O debate sobre a educação tecnológica precisa ser evidenciado de tal
maneira que os cidadãos compreendam as discussões éticas, sociais e ambientais sobre a
natureza social, política e econômica no desenvolvimento da ciência e suas tecnologia.
(PINHEIRO et al, 2007, p.75)
3.2 O terreno
3.3 Desenvolvimento
Foto 2 - Preparação das covas para receber as mudas de alface. (Fonte: arquivo próprio)
Trabalhar uma horta escolar possibilita o contato direto da criança com o objeto do
conhecimento e a função do professor mediador (TEIXEIRA, 2003, p.186). É fundamental
neste processo de estruturação das elaborações mentais da criança proporcionando espaços
para a observação ora livre ora dirigidas, os questionamentos, a percepção de situações-
problemas e a elaboração de hipóteses das crianças. Isso requer o que de mais belo existe no
ser humano: entregar-se ao outro, mesmo sendo tão novo de idade possui uma capacidade
singular de produzir conhecimento.
A discussão nesta etapa do projeto ultrapassaria os limites da definição de conceitos e do
apego ao simples “como fazer” para um território mais amplo de discussão de “o que
devemos fazer”. A ciência se desenvolve através da cooperação e trabalho coletivo, assim
não faz sentido que o ensino de ciências seja destacado de sua natureza como prática social.
(GORDILLO, 2009, p.9)
Conteúdos curriculares importantes podem ser abordados de forma interdisciplinar,
buscando uma contextualização histórica ao estado primitivo do homem, onde ainda não
havia a agricultura e a humanidade retirava dos frutos da terra e caça, passando logo em
seguida à reflexão dos motivos que poderiam ter levado a humanidade a criar a agricultura,
características iniciais do cultivo chegando ao período da revolução industrial quando grandes
máquinas são introduzidas na produção do campo e a burguesia vê a ambição com os avanços
da ciência e dos aparatos tecnológicos e a partir daí, diversas discussões sobre tranformações
sociais, urbanísticas e de mobilidade (HENRIQUES, 2011, p. 5).
Tanto o enfoque CTS quanto o método de investigação temática proposto por Paulo
Freire rompem com o currículo tradicional de ensino, uma vez que a seleção dos conteúdos se
dá a partir de temas sociais (NASCIMENTO & LINSINGEN, 2006, p. 108). Numa
investigação temática para uma educação problematizadora percebem-se etapas que revelam
uma construção interdisciplinar para a ação de cada especialista no momento da atividade,
porém tais fatos não constam no relatório que está em análise.
As possibilidades de abordagem extrapolam o trivial e representam um potencial para
despertar o desejo pela busca do conhecimento dentro de um contexto histórico, geográfico e
que está sendo constituído pelos que ali convivem.
Outro tópico importante que não se nota nos registros é o que tange ao processo de
avaliação dos alunos, esta verificação é uma forma de analisar o trabalho do professor rumo
aos quatro pilares que norteiam a educação do século XXI: aprender a conhecer, aprender a
fazer, aprender a conviver e aprender a ser, nesse sentido, sem um instrumento avaliativo não
se pode analisar os ganhos reais na aprendizagem com o projeto horta na escola.
Ciência e Tecnologia estão a todo tempo apresentando evoluções tecnológicas que de
mãos dadas ao consumismo vem potencializando o comportamento imprudente das pessoas,
não basta alguém saber usar o aparato tecnológico, é preciso ter uma visão em longo prazo
das suas implicações e assim esperar uma tomada de decisão crítica por parte da população.
Isto posto nota-se o grande potencial que a construção coletiva de horta escolar apresenta
em consonância com o viés CTS de ensino, mas devido a um escasso registro, com um olhar
não acadêmico, a atividade não evidencia para ao leitor associação entre ciência, tecnologia e
sociedade. O que se pretende com os estudos CTS é trazer a discussão das implicações
tecnocientíficas para o contexto social, para que a sociedade possa agir democraticamente e
não ficar a mercê das decisões dos tecnocratas, ou daqueles que acreditam na neutralidade da
ciência. (CHRISPINO et al, 2013, p. 459)
Assim, a escola deve estar atenta a formação de seus alunos, deve estar atenta sobre
novas invenções, pois mesmo parecendo não ter relação direta com seu modo de vida,
indiretamente podem causar sérios prejuízos à saúde, a sociedade e ao meio ambiente como
um todo.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL. MEC. Educação integral: texto referência para o debate nacional. - Brasília: Mec,
Secad, 2009.
SOUZA, L.. Análise descritiva do uso da horta escolar como um recurso para a
alfabetização científica. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Caxias do Sul, Programa
de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática, 2015.
Abstract: This article is an excerpt from a professional master's research in Science Teaching
in progress, which will discuss the light of Santos (2007) and Pinheiro (2005, 2007) as a
school garden project can promote scientific literacy with a focus on science, technology and
society. The results obtained with the implementation of a school garden, held in a municipal
school in Duque de Caxias (RJ) allowed the development of this theoretical foundation text.
The discussion presents a referenced analysis of science education in the early years of
elementary school, proposing that school gardens can be used in a number of educational
activities in order to promote the CTS education. science education in the early years of
elementary school is impaired due to the pressure exerted on the external evaluations that
prioritize the areas of language and mathematics. New concepts to prioritize active student
participation in the teaching and learning process and take ownership for the exercise of their
citizenship. In this view, the construction of gardens in school spaces, going against the
premises of the LDB / 96, PCN and STS education, since it involves the participation of
students in all developed steps, contextualizing the scientific content in the critical education
of children.