Pesquisas
em
Educação:
a
produção
do
Núcleo
de
Etnografia
em
Educação
(NetEDU)
Carmen
Lúcia
de
Mattos
Luís
Paulo
Cruz
Borges
Paula
Almeida
de
Castro
Tatiana
Bezerra
Fagundes
(Organizadores)
2015
Comitê
Científico
Dra.
CARMEN
LUCIA
GUIMARÃES
DE
MATTOS
(UERJ)
Dr.
JAMIL
AHMAD
(UNIV.
PAQUISTÃO)
Dr.
LUIZ
ANTONIO
GOMES
SENNA
(UERJ)
Dra.
PAULA
ALMEIDA
DE
CASTRO
(UEPB)
Dra.
PRISCILA
ANDRADE
M.
RODRIGUES
(UFRJ)
Dr.
SAMUEL
LUÍS
VELÁSQUEZ
CASTELLANOS
(UFMA)
Dra.
SANDRA
CORDEIRO
DE
MELO
(UFRJ)
Dra.
SANDRA
MACIEL
DE
ALMEIDA
(UERJ)
Dra.
VALENTINA
GRION
(UNIV.
PÁDOVA)
Dra.
WALCÉA
BARRETO
ALVES
(UFF)
Sumário
Prefácio
Valentina
Grion
-‐
Università
di
Padova,
Italia
O
NetEDU
e
as
pesquisas
em
Educação
Carmen
Lúcia
de
Mattos
Luís
Paulo
Cruz
Borges
Paula
Almeida
de
Castro
Tatiana
Bezerra
Fagundes
(Organizadores)
Parte
I
–
Conceitos,
teorias
e
abordagens
1.
A
cadeia
fônica
saussuriana
e
a
compreensão
de
escritas
possíveis
na
contemporaneidade
Tatiana
Bezerra
Fagundes
Luiz
Antonio
Gomes
Senna
2.
Pobreza
e
educação:
uma
análise
conceitual.
Antonia
Valbênia
Aurélio
Rosa
3.
Reflexões
e
perspectivas
sobre
a
educação
de
jovens
e
adultos
no
Brasil
Beatriz
Calazans
Dounis
4.
Um
olhar
acadêmico
das
cotas
no
ensino
universitário
como
forma
de
ação
afirmativa
no
Brasil
Maythe
de
Bríbean
San
Martin
Pulici
5.
Adolescentes
em
Conflito
com
a
Lei:
relato
histórico
sobre
institucionalização
e
escolarização
Aline
Menezes
de
Barros
6.
A
abordagem
de
pesquisa
etnográfica
nos
estudos
sobre
educação
Sandra
Cordeiro
de
Melo
Parte
II
–
Aspectos
metodológicos
7.
Entrevista
como
instrumento
de
pesquisa
nos
estudos
sobre
o
fracasso
escolar
Carmen
Lúcia
Guimarães
de
Mattos
Paula
Almeida
de
Castro
8.
O
orientador
educacional
como
pesquisador
participante:
quando
o
campo
de
pesquisa
torna-‐
se
local
de
trabalho.
Edson
S.
Gomes
9.
Um
estudo
etnográfico
sobre
as
ordenações
e
relações
de
gênero
no
ensino
fundamental:
analisando
conselhos
de
classe
Daiane
de
Macedo
Costa
Carmen
Lúcia
Guimarães
de
Mattos
10.
Relevância
do
“objeto”
nos
estudos
sobre
tecnologia
digital
e
pesquisa
etnográfica:
análise
de
conteúdo
Thainá
Pereira
Barros
Carmen
Lucia
Guimarães
de
Mattos
11.
Diálogo
entre
escola
e
universidade:
um
estudo
sobre
a
pesquisa
em
colaboração
Flávia
Mesquita
Bernardo
da
Silva
Riselda
Maria
França
de
Oliveira
Parte
III
–
Vozes
da
pesquisa
12.
Espaços,
tempos,
sujeitos:
uma
análise
etnográfica
dos
saberes
produzidos
em
sala
de
aula
Paula
Almeida
de
Castro
Carmen
Lúcia
Guimarães
de
Mattos
13.
As
crenças
e
as
atitudes
no
ato
de
ler
e
sua
influência
na
formação
leitora
de
alunos(as)
e
professores(as)
no
Maranhão.
Samuel
Luís
Velásquez
Castellanos
14.
Escola,
representações
sociais
e
representação
do
eu:
investigando
o
cotidiano
Walcéa
Barreto
Alves
15.
Repetência:
um
estudo
etnográfico.
Suziane
de
Santana
Vasconcellos
16.
A
situação
educacional
das
mulheres
privadas
de
liberdade:
contingencia
e
ruptura
com
a
escola
Sandra
Maciel
de
Almeida
17.
A
escola
como
ambiente
de
(re)
produção
do
conhecimento:
olhares
e
vozes
discentes
do
curso
de
Pedagogia
da
UERJ
Nathália
Masson
Bastos
Luís
Paulo
Cruz
Borges
18.
Computador
e
educação:
percepção
e
experiências
de
alunos(as)
do
curso
de
Pedagogia
da
UERJ
Juliana
Linhares
Sobre
os
autores
O
NETEDU
E
AS
PESQUISAS
EM
EDUCAÇÃO
Carmen
Lúcia
de
Mattos
Luís
Paulo
Cruz
Borges
Paula
Almeida
de
Castro
Tatiana
Bezerra
Fagundes
(Organizadores)
A
consolidação
das
pesquisas
em
Educação,
com
suas
diferentes
abordagens
e
metodologias,
tem
sido
acompanhada
por
um
intenso
e
profícuo
processo
de
formação
de
novos
pesquisadores
no
campo.
Os
incentivos
a
esta
formação,
começados
na
graduação
com
as
diferentes
modalidades
de
bolsas
(monitoria,
iniciação
cientifica,
iniciação
à
docência,
estágio
interno
complementar,
inovação
tecnológica
etc.)
e
continuados
na
pós-‐graduação
nos
programas
de
formação
de
mestres
e
doutores,
resultam
numa
quantidade
significativa
de
pesquisas
que
trazem
contribuições
inovadoras
e
relevantes
para
os
debates
que
envolvem
os
princípios,
os
fins
e
os
meandros
do
processo
educacional.
Dentre
essas
pesquisas,
destacam-‐se
aquelas
cujos
objetivos
estão
em
trazer
para
o
contexto
acadêmico
e
de
formação
de
professores
e
pesquisadores
perspectivas,
representações,
impressões
e
reflexões
dos
sujeitos
escolares
sobre
sua
própria
escolarização,
sobretudo,
os
que
têm
sido
vítimas
de
variados
processos
de
exclusão/inclusão.
Com
isto,
estas
pesquisas
buscam
contribuir
para
ampliar
as
possibilidades
de
desenvolvimento
de
uma
prática
educativa
que
seja
coerente
com
as
necessidades
dos
alunos/as
e
seus
professores/as
em
sala
de
aula
e
fora
dela.
A
ideia
da
formação
do
grupo
que
dá
origem
ao
Núcleo
de
Etnografia
em
Educação
–
NetEDU
remete
ao
final
da
década
de
1980
quando,
sob
a
orientação
do
professor
Paulo
Freire,
a
professora
Carmen
de
Mattos
desenvolveu
estudos
sobre
a
identidade
de
alunos
e
alunas
da
zona
rural
no
interior
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro
(MATTOS,
1984).
A
partir
de
tais
estudos,
de
contatos
desenvolvidos
após
o
doutorado
nos
Estados
Unidos,
e
dos
cursos
ministrados
em
Universidades
do
Brasil
e
do
Exterior
sobre
Etnografia
e
Educação
observou-‐se
o
interesse
de
alunos/as
e
pesquisadores/as
sobre
o
tema.
A
implementação
do
NetEDU,
então,
ocorreu
no
ano
de
2004
sediado
pelo
ProPEd
–
Programa
de
Pós-‐graduação
em
Educação
da
Universidade
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro
UERJ.
Portanto,
é
importante
que
se
estabeleça
um
espaço-‐tempo
que
assegure
a
pesquisadores/as
e
alunos/as
um
acesso
mais
fácil
e
uma
oportunidade
de
intercâmbio
no
que
diz
respeito
a
discussão
de
tais
estudos.
O
NetEDU
–
tem
como
principal
objetivo
ser
um
centro
de
estudos
e
projetos
etnográficos
em
Educação.
Dessa
forma,
pretende-‐se
que
o
núcleo
resgate,
reúna,
sistematize
e
divulgue
pesquisas
que
utilizam
a
abordagem
etnográfica
de
investigação
em
suas
diversas
dimensões
teórico-‐epistemológico-‐metodológica
como:
observação
participante,
entrevistas,
narrativas,
observação
da
ação
cotidiana,
histórias
de
vida,
e
outras.
Estamos
comprometidos
com
o
conceito
de
etnografia
educacional
sob
a
perspectiva
“bottom
up”
(MATTOS,
1992),
levando-‐se
em
consideração
as
demandas
que
emanam
da
base
para
o
topo,
na
dimensão
de
baixo
para
cima.
Por
meio
de
recursos
etnográficos
estuda-‐se
os
problemas
socioeducacionais
contemporâneos
a
partir
do
ponto
de
vista
de
pessoas
comuns
e
de
grupos
sociais
pouco
ou
não
usualmente
pesquisados.
O
NetEDU
tem,
ainda
como
objetivo
apoiar
e
incentivar
pesquisas
de
natureza
etnográfica
na
área
educacional;
divulgar
as
pesquisas
em
andamento
promovendo
o
intercâmbio
desses
estudos
e
dos
resultados
das
investigações;
sistematizar
e
catalogar
pesquisas
realizadas
sob
a
ótica
da
etnografia
educacional
por
pesquisadores
no
país
e
no
exterior,
dando
ênfase
ao
período
a
partir
dos
anos
2000;
promover,
incentivar
e
publicar
trabalhos
dos
grupos
de
pesquisa
associados.
Em
que
pesem
os
esforços
na
tentativa
de
fomentar
uma
educação
pública
que
alcance
os
sujeitos
em
seu
processo
de
formação,
os
resultados
das
pesquisas
realizadas
pelo
NetEdu
têm
apontado
para
a
manutenção
da
exclusão
em
diferentes
matizes.
Exclusão
relacionada
às
políticas
públicas
compensatórias
para
superação
do
fracasso
escolar
e
correção
da
defasagem
idade-‐série;
às
relações
estabelecidas
na
escola,
muitas
vezes,
invisíveis
aos
seus
atores;
exclusão
como
alienação
do
direito
a
uma
educação
com
condições
mínimas
para
ocorrer.
A
partir
desses
resultados,
um
conjunto
de
textos
derivados
dos
estudos
de
pesquisadores
vinculados
ao
Grupo
de
Pesquisa
Etnografia
e
Exclusão
em
Educação
(GRPq,
2002)
foi
compilado
para
compor
o
presente
livro,
“Pesquisa
em
Educação:
a
produção
do
Núcleo
de
Etnografia
em
Educação
(NetEDU)”.
Seu
principal
objetivo
é
problematizar
relações,
perspectivas,
políticas
e
práticas
intraescolares
e
extraescolares
que
concorrem
para
permanência
de
um
“estado
de
exclusão”
que
tem
sido
parte
da
trajetória
de
muitos
sujeitos
no
país.
Com
esta
obra,
esperamos
contribuir
para
provocar
uma
atitude
reflexiva
crítica
por
parte
das
diferentes
instâncias
envolvidas
na
educação
com
vistas
a
auxiliar
na
promoção
de
políticas
e
práticas,
democráticas,
cidadãs
e
diversas
no
e
para
o
contexto
escolar.
Os
textos
compilados
para
fazer
parte
desta
obra
são
originários
de
pesquisas
associadas
ao
NetEDU
ao
longo
de
sua
existência.
Eles
trazem
em
seu
corpo
dados,
resultados
e
reflexões
que
parecem
pertinentes
para
se
compreender
os
fatores
externos
e
internos
que
acarretam
a
manutenção
da
exclusão.
Alunos
de
graduação
e
pós-‐graduação
envolvidos
com
a
área
educacional
e
que
pretendem
atuar
nela.
Professores
e
pesquisadores
dos
mais
diferentes
níveis
de
atuação
do
ensino
e
interessados
nas
pesquisas
qualitativas
de
abordagem
etnográfica.
Gestores
escolares
e
dos
sistemas
educacionais.
Neste
contexto,
este
livro
foi
pensado
em
um
formato
virtual,
eBook,
com
três
temas
centrais:
o
primeiro
voltado
para
definições
de
conceitos,
discussões
teóricas
e
abordagens
em
pesquisa
e
ensino-‐aprendizagem.
O
segundo
abrange
aspectos
metodológicos
em
pesquisas
qualitativas.
Por
fim,
o
terceiro,
e
último
bloco
temático,
trata
da
inclusão
das
vozes
dos
participantes
como
sujeitos
da
pesquisa.
Assim,
esperamos
que
este
livro
possa
contribuir
para
ampliar
o
acervo
do
campo
educacional,
em
especial
dos
processos
de
ensino
e
aprendizagem
de
alunos
e
alunas
da
Educação
Básica.
Foreword
Valentina
Grion
University
of
Padua
(IT)
In
times
in
which
research
seems
to
be
one
of
the
most
effective
tools
for
innovation
and
the
prosperity
of
nations,
and
therefore
a
necessary
means
for
the
welfare
of
citizens
and
of
the
entire
society
(European
Commission,
2014;
Momery,
2004),
the
training
and
formation
of
young
scholars
starting
to
undertake
careers
in
research
represents
a
central
aim
of
education
policies,
especially
of
formation
organisms,
such
as
Universities
and
Doctoral
schools
and
post-‐doc
envinroments
(Åkerlind,
2005;
Levine,
2007;
Young,
2001).
This
is
one
of
the
main
purposes
of
the
NetEDU
–
Nucleo
de
Etnografia
em
Educação
-‐,
founded
and
coordinated
by
Carmen
De
Mattos
and
which
the
authors
of
this
book
are
part
of.
NetEDU
represents
for
the
educational
area
of
Universidade
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro
(UERJ),
not
only
a
precious
development
space
for
qualitative
research
in
education
and
in
particular
with
regard
to
ethonographic
research.
It
is
also
a
space
where
professors,
researchers,
intenrational
academics
find
opportunities
and
initiatives
aimed
at
discussing
and
sharing
materials,
articles
and
research
projects.
In
addition
it
represents
a
fertile
terrain
for
the
formation
of
young
scholars
towards
research.
The
laboratory
is
a
place
where
students
can
take
part
in
meetings
and
collaborative
research
projects
from
the
start
of
their
University
years,
initially
with
secondary
roles
and
then
gradually
taking
on
roles
with
greater
levels
of
autonomy
and
centrality,
while
carrying
out
independent
studies
with
the
support
and/or
under
the
supervision
of
senior
researchers.
Besides
the
usual
physical
meetings
spaces,
used
by
students
and
by
the
staff
of
Programa
de
Pós-‐Graduação
em
Educação
(ProPEd),
which
NetEDU
is
part
of,
the
laboratory
is
structured
as
a
virtual
space
within
a
website.
Here,
research
materials
are
shared
and
available,
in
particular
with
regard
to
ethnographic
work,
in
order
to
stimulate
the
sharing
and
exchange
of
knowledge,
of
research
results
and
of
reflections
developed
both
at
a
national
and
international
level.
The
products
of
this
lively
“research
laboratory”-‐
which
was
founded
in
2004
and
which
since
then
offers
weekly
meetings
besides
seminars
and
both
national
and
international
conferences-‐
make
up
the
scheleton
of
this
monograph.
More
specifically,
this
work
is
made
up
of
a
series
of
contributions
by
researchers
with
different
levels
of
experience,
some
who
have
only
just
started
to
enter
the
field
and
others
who
are
considered
experts.
These
contributions
have
been
designed
and
planned
according
to
two
main
aims,
which
in
education
research
are
considered
strongly
intertwined
and
necessary
one
for
the
other.
The
first
aim
is
related
to
scientific
research:
the
idea
of
providing
a
systematic
picture
of
a
set
of
investigations
carried
out
during
the
years
of
NedEDU,
with
the
double
aim
of
preserving
the
memory
of
the
development
of
ethnographic
research
within
the
laboratory
and
of
reflecting
on
this
kind
of
path,
with
a
particular
view
towards
those
who
are
just
starting
to
do
ethnographic
research.
The
second
aim
relates
to
teaching
and
learning
practices:
it
aims
at
contributing
towards
the
formation
of
future
and
current
teachers,
by
means
of
a
thorough
investigation
of
themes
which
are
particularly
important
in
the
context
of
Brazilian
schools,
such
as
those
of
inclusion/exclusion,
of
gender
differences,
of
violence,
of
failure
and
of
school
dropout
rates.
Besides
these
themes
there
are
also
other
topics
which
are
at
the
centre
of
interest
in
international
research,
such
as
the
positioning
of
children
within
the
research
processes
which
investigate
children
(i.e.
Cook-‐Sather,
2014;
Fine
et
al.,
2007;
Grion,
2015;
Groundwather-‐Smit.
Dockett,
Bottrell,
2015)
and
the
role
of
technologies
as
engines
of
innovation-‐
or
as
a
way
of
preserving
a
traditional
education
model?-‐
in
education
contexts
(Cecchinato,
Aimi,
Papa,
2014;
Grion,
De
Mattos,
2013;
Morgado,
Manjón,
Gütl,
2015).
However,
what
I
believe
is
the
greatest
potential
of
NetEDU,
and
of
this
monograph,
is
the
ability
of
keeping
the
ties
between
objects
and
research
methods
in
education
research
and
the
needs
and
problems
of
these
contexts
of
everyday
life
alive,
in
particular
with
regard
to
Brazilian
schooling.
In
line
with
Young
(2001,
p.
3)
according
to
whom
in
the
field
of
education
research
it
is
the
broad
context
«in
which
we
conduct
education
inquiry
presents
its
own
demands»,
the
authors
offer
not
only
a
reflection
on
“what”,
“how”
and
“with
who”
ethnographic
research
should
be
carried
out,
accompanied
by
ample
methodological
suggestions.
They
also
discuss
which
kinds
of
knowledge
ethnographic
research
should
be
oriented
towards
in
this
specific
and
particular
context,
so
that
it
can
take
the
form
of
a
meaningful
investigation.
As
a
matter
of
fact,
education
is
a
research
area
which
provides
results
which
affect
our
everyday
lives,
society
and
our
policies.
In
this
sense,
institutions
which
deal
with
the
formation
of
researchers
in
the
field
of
education
studies
have
the
duty
to
prepare
beginners
towards
forms
of
research
aimed
at
improving
education
and
educational
opportunities
in
real
and
concrete
life
contexts.
This
seems
to
be
the
final
aim
of
the
monograph
edited
by
Carmen
De
Mattos,
Luís
Paulo
Borges,
Paula
de
Castro
and
Tatiana
Fagundes:
to
develop
research
and
formation
towards
research
in
order
to
achieve
improvements
in
both
social
and
school
life,
in
particular
with
regard
to
“the
last
ones
of
society”,
the
“oprimido”
(Freire,
1970)
in
Brazil,
thanks
to
their
participation
in
the
pursuit
of
such
improvements.
References
Åkerlind
G.S.
(2005).
Postdoctoral
researchers:
roles,
functions
and
career
prospects.
Higher
Education
Research
&
Development,
24,1,
p.21-‐40.
Cecchinato
G.,
Aimi
B.,
Papa
R.
(2014).
Flipped
classroom:
intervento
in
un
liceo
della
provincia
di
Parma,
Qwerty,
9,
2,
p.
15-‐29.
Commissione
Europea
(2014).
Le
politiche
dell’Unione
europea:
Ricerca
e
innovazione,
Lussemburgo:
Unione
Europea.
Cook-‐Sather
A.
(2014).
The
trajectory
of
student
voice
in
educational
research.
New
Zealand
Journal
of
Educational
Studies,
49,
2,
131-‐148.
Fine
M.,
Torre
M.
E.,
Burns
A.,
and
Payne,
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30,
5,
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3-‐5.
Parte
I
–
Conceitos,
Teorias
e
Abordagens
A
CADEIA
FÔNICA
SAUSSURIANA
E
A
COMPREENSÃO
DE
ESCRITAS
POSSÍVEIS
NA
CONTEMPORANEIDADE
Tatiana
Bezerra
Fagundes
Luiz
Antonio
Gomes
Senna
Nos
últimos
tempos,
diria
que
desde
o
momento
em
que
a
escola
se
abriu
para
atender
a
maioria
da
população
alijada
do
direito
de
frequentá-‐la,
tem-‐se
observado
uma
série
de
dificuldades
na
tentativa
de
levar
determinados
sujeitos
sociais
a
utilizar
a
leitura
e
a
escrita
conforme
a
norma
padrão
impõe.
Nos
casos
em
que
a
barreira
da
leitura
é
superada,
percebe-‐se
um
obstáculo
considerável
para
fazer
a
escrita
ceder
a
norma.
Isso
parece
estar
acontecendo
porque,
na
realidade,
a
suposição
de
que
há
um
entidade
chamada
escrita,
tomada
quase
como
algo
natural,
concernente
aos
cidadãos
que
a
compartilham
em
uma
sociedade
letrada,
é
posta
imediatamente
em
questão
quando
o
que
se
tem
visto
são
escritas
que
tem
fluído
de
acordo
com
as
convicções
dos
usuários
a
seu
respeito.
Considerar
essas
escritas
como
algo
possível,
no
entanto,
ainda
é
algo
incomum
no
âmbito
acadêmico
e
social,
mais
incomum
ainda
nos
espaços
destinados
a
ensinar
a
escrita
normativa
(SENNA,
2007a).
As
escritas
têm
sido,
no
mais
das
vezes,
tomadas
como
erro,
como
algo
antinatural,
reveladora
de
algum
equívoco
por
parte
daqueles
que
a
manifestam.
Nesse
sentido,
o
que
se
tem
acompanhado
é
uma
flagrante
desconsideração
de
qualquer
tipo
de
registro
escrito
que
se
afaste
da
norma.
Neste
trabalho,
por
outro
lado,
questiona-‐se
se
haveria
nessas
escritas
alguma
motivação
a
partir
da
qual
se
pudesse
compreendê-‐las
em
outros
termos.
Nos
estudos
de
Saussure,
um
dos
maiores
defensores
do
estudo
da
língua
a
partir
do
lugar
legítimo
de
sua
manifestação,
a
fala,
parece
que
encontramos
indícios
de
que
as
escritas
que
se
tem
observado
nos
dias
atuais
são
legítimas.
Encontrar
legitimidade
em
escritas
a
partir
de
Saussure,
parece,
no
mínimo,
contraditório,
mas,
como
se
tentará
demonstrar
ao
longo
do
texto,
assim
como
não
é
contraditória
sua
distinção
entre
língua
e
fala,
mutabilidade
e
imutabilidade
da
língua,
não
parece
haver
contradição
entre
os
estudos
saussurianos
e
as
possibilidades
de
sustentação
através
deles
das
escritas
manifestas
atualmente.
Este
trabalho
busca,
portanto,
compreender
a
natureza
das
escritas
que
tem
se
percebido
na
contemporaneidade,
à
luz
do
Curso
de
Linguística
Geral
de
Saussure
(2012).
Para
isso,
no
primeiro
momento,
apresenta
os
princípios
considerados
fundamentais
para
se
entender
os
elementos
presentes
na
obra
de
Saussure,
que
versam
sobre
a
definição
da
língua
como
objeto
de
estudo
e,
a
partir
desta,
a
defesa
da
Linguística
como
ciência
que
tem
prerrogativa
sobre
os
estudos
da
língua.
Aprofunda-‐se,
em
seguida,
a
discussão
sobre
a
língua
e
os
elementos
que
a
constituem
para
se
chegar
ao
signo
linguístico
e
sua
existência
dual,
onde
significado
e
significante
se
fundem
para
formar
uma
só
entidade
de
ordem
psíquica
que
dá
o
sentido
para
a
língua
em
si.
Esta
unidade,
no
entanto,
em
Saussure,
é
mais
um
conceito
sendo
definido
do
que
propriamente
uma
ideia
fechada,
como
se
pode
supor.
A
partir
dela
é
que
se
consegue
discutir,
no
último
tópico,
a
cadeia
fônica
saussuriana
e
as
escritas
possíveis,
através
do
entendimento
que
se
deriva
de
sua
construção.
Antes
disso,
porém,
apresenta-‐se,
ainda,
de
modo
sucinto,
a
percepção
de
Saussure
a
respeito
da
escrita
e
desenvolve-‐se
as
argumentações
que
tornam
possível
a
exposição
que
encerra
o
trabalho.
Dos
princípios
de
Saussure
e
da
construção
do
objeto
de
estudo
da
linguística
Saussure,
em
seu
Curso
de
Linguística
Geral,
teve
como
principal
objetivo
construir
e
estabelecer
a
Linguística
como
ciência
com
prerrogativa
sobre
os
estudos
da
linguagem
(p.34)
buscando,
assim,
diferenciá-‐la
de
outras
ciências
que
também
faziam
algum
uso
da
linguagem
em
seus
estudos,
como
a
Etnografia,
a
Pré-‐História,
a
Sociologia,
entre
outras
(p.
38).
Para
que
pudesse
fazê-‐lo,
preocupou-‐se
com
dois
aspectos,
tomados
por
ele
como
fundamentais
na
construção
de
uma
área
de
conhecimento
científico:
a
determinação
da
natureza
de
seu
objeto
de
estudo
e,
a
partir
deste,
um
método
que
fosse
capaz
de
estudar
este
objeto.
Suas
considerações
iniciais,
consistem
em
delimitar
a
matéria
de
interesse
da
Linguística,
que
diz
respeito
a
todas
as
manifestações
da
linguagem
humana,
em
todas
as
suas
formas
de
expressão,
nos
diferentes
momentos
históricos
por
que
passou
a
humanidade
(p.37).
A
partir
dessa
delimitação,
Saussure,
num
claro
esforço
de
reflexão
e
crítica,
buscando
manter
a
coerência
interna
e
externa
da
teoria
que
começava
a
delinear,
passa
a
construir
o
objeto
de
estudo
da
Linguística,
qual
seja,
a
língua.
Esta
é,
segundo
ele,
o
principal
sistema
de
signos
que
exprime
ideias
(2012,
p.47;
p.108)
As
principais
características
da
língua
podem
ser
assim
delineadas:
o
fato
de
ser
constituída
por
um
sistema
que
evolui
na
massa
social
e
no
tempo,
composta
por
signos
linguísticos
que
possuem
uma
natureza
dual,
localizado
no
ponto
em
que
uma
imagem
acústica
associa-‐se
a
um
conceito;
sua
exterioridade
em
relação
ao
indivíduo,
que
não
pode
criá-‐la
ou
modificá-‐la
num
ato
particular;
sua
natureza
homogênea,
isto
é,
ela
só
existe
na
união
do
sentido
com
a
imagem
acústica
onde
ambas
as
partes
são
igualmente
psíquicas.
A
língua
é,
finalmente,
um
objeto
concreto,
fato
que
permite,
portanto,
a
realização
de
estudos
a
seu
respeito
(p.46).
Trata-‐se
de
um
tesouro
depositado
pela
prática
da
fala
por
todos
os
indivíduos
pertencentes
à
mesma
comunidade,
um
sistema
gramatical
que
existe
virtualmente
em
cada
cérebro
ou,
mais
exatamente,
nos
cérebros
de
um
conjunto
de
indivíduos,
pois
a
língua
não
está
completa
em
nenhum,
e
só
na
massa
ela
existe
de
modo
completo
(p.45).
Não
se
deve
confundir,
no
entanto,
língua
e
fala.
Embora
estejam
intimamente
relacionadas
–
para
que
a
fala
seja
inteligível
é
fundamental
a
língua
e,
para
que
a
língua
se
estabeleça,
não
se
pode
prescindir
da
fala,
que
é
produto
e
instrumento
dela
–
elas
são,
para
Saussure,
absolutamente
distintas.
A
língua
existe
na
coletividade,
sendo
igualmente
partícipe
do
cérebro
de
cada
indivíduo
de
uma
comunidade,
podendo
ser
representada
pela
seguinte
fórmula:
1
+
1
+
1
+
1
.
.
.
=
I
(padrão
coletivo).
A
fala,
por
sua
vez,
depende
da
vontade
do
falante
e
suas
manifestações,
entre
outras
coisas,
são
individuais
e
momentâneas.
Sob
a
seguinte
fórmula
Saussure
representa
a
fala
(1
+
1’
+
1’’+
1’’’
...)
(2012,
pp.51-‐52).
Esta
distinção
é
importante
nos
estudos
saussurianos
porque,
a
partir
dela,
o
autor
define
a
língua
como
o
objeto
próprio
dos
estudos
da
Linguística
e
lança
a
possibilidade
de
existir
uma
Linguística
paralela
que
se
dedicasse
aos
estudos
da
fala,
isto
é,
a
Linguística
da
Fala,
que
teria
como
objeto
a
fala
em
si
considerando-‐a
como
a
soma
do
que
as
pessoas
dizem
e
compreendem
(p.52).
Uma
vez
tendo
definido
o
objeto
de
estudo
da
Linguística,
fato
que
já
a
colocaria
no
campo
de
estudos
científicos,
Saussure
tratou
de
delinear
o
método
de
estudos
que
possibilitasse
sua
compreensão.
Tornou-‐se
necessário,
então,
levantar
algumas
hipóteses
sobre
princípios
que
dessem
conta
de,
minimamente,
explicar
a
natureza
do
signo
linguístico,
unidade
primordial
na
construção
da
língua,
bem
como
seu
caráter
imutável,
que
não
exclui
sua
imanente
mutabilidade.
O
signo
linguístico,
nos
estudos
saussurianos,
como
se
afirmou
acima,
é
uma
entidade
psíquica
de
duas
faces,
que
se
estabelece
na
união
de
um
conceito
(significado)
com
uma
imagem
acústica
(significante).
Esta
imagem
acústica,
é
importante
que
se
ressalte,
não
é
o
som
material
puramente
físico.
Trata-‐se,
antes,
da
representação
desse
som
na
psique
humana,
ou,
nas
palavras
de
Saussure
“a
impressão
psíquica
desse
som”(p.106).
Segundo
o
exemplo
dado
pelo
autor,
esse
caráter
psíquico
da
imagem
acústica,
doravante
chamada
de
significante,
pode
ser
percebido
no
simples
exercício
de
recitação
mental
de
um
poema,
ou
pelo
fato
de
podermos
falar
conosco,
sem
que
para
isso
seja
necessário
mover
lábios
e
língua.
A
união
do
significante
com
o
significado,
por
sua
vez,
é
arbitrária
e,
além
disso,
o
significante
possui
um
caráter
linear,
isto
é,
contínuo.
Sobre
a
arbitrariedade
do
signo,
Saussure
explica:
“a
ideia
de
mar
não
está
ligada
por
relação
alguma
interior
à
sequencia
de
sons
m-‐a-‐r
que
lhe
serve
de
significante”
(p.108).
Tal
significante
poderia
ser
substituído,
arbitrariamente,
por
quaisquer
outras
sequencias.
Isso
não
quer
dizer,
no
entanto,
que
o
significado
dependa
da
livre
escolha
do
falante,
pois,
como
enfatiza
Saussure,
ele
faz
parte
de
um
grupo
linguístico
no
âmbito
do
qual
é
partícipe,
quer
dizer,
apenas,
que
o
significante
“não
tem
nenhum
laço
natural
com
a
realidade”
(p.109).
Em
vez
de
mar
poder-‐se-‐ia
dizer
verde.
A
linearidade
do
significante
reside
no
fato
de
que
ele
se
desenvolve
com
características
que
toma
do
tempo,
representando
uma
extensão
que
é
mensurável
em
uma
única
dimensão:
a
linha.
“[...]
os
significantes
acústicos
dispõem
apenas
da
linha
do
tempo;
seus
elementos
se
apresentam
um
após
o
outro;
formam
uma
cadeia”
(110).
A
arbitrariedade
do
signo
e
a
linearidade
do
significante,
são
dois
princípios
saussurianos
que
regem
o
signo
linguístico
e
a
partir
dos
quais
se
derivou
o
entendimento
sobre
sua
natureza
mutável
e
imutável.
Para
Saussure,
a
imutabilidade
do
signo
pode
ser
descrita
a
partir
de
quatro
pontos.
O
primeiro
ponto
é
que
a
própria
arbitrariedade
do
signo
assegura
a
língua
sua
imutabilidade,
uma
vez
que
não
há
possiblidade
de
a
massa
social
discuti-‐la,
pois,
para
que
algo
seja
posto
em
xeque,
faz-‐se
necessário
a
existência
de
uma
norma
razoável,
mais
ou
menos
definida.
No
caso
da
língua,
a
norma
é
não
ter
norma,
no
sentido
de
que
não
há
razão
para
se
utilizar
a
sequencia
b-‐o-‐i
para
designar
o
tipo
de
animal
a
que
chamamos
boi.
É
a
arbitrariedade
do
signo
que
leva
a
essa
construção.
O
segundo
ponto
destacado
por
Saussure
é
a
necessidade
de
inumeráveis
signos
para
constituição
de
uma
língua
que,
de
modo
distinto
da
escrita,
não
são
compostos,
como
no
caso
da
escrita
conhecida
como
fonética,
por
uma
variação
de
20
a
40
letras
que
podem
ser
substituídas
por
outras.
O
terceiro
ponto
sustenta
que
a
língua,
como
sistema
complexo,
só
pode
ser
compreendida
mediante
um
processo
de
reflexão
que
não
faz
parte
do
interesse
dos
seus
usuários
comuns.
Estes
a
usam
cotidianamente,
sem
que
para
isso
haja
necessidade
de
refletir
sobre
ela.
A
língua
é
manejada
e
difundida
por
toda
a
gente
e
não
se
pode,
a
despeito
dessa
gente,
revolucioná-‐la.
Esse
é
o
quarto
ponto
destacado
por
Saussure,
a
impossibilidade
de
haver
uma
revolução
linguística.
Contrária
a
outras
instituições
sociais,
não
se
pode
supor
a
língua
como
um
sistema
cujas
prescrições
seguem
um
código,
como,
por
exemplo,
nos
ritos
de
determinadas
religiões
ou
nos
sinais
marítimos
que
podem
ocupar
certo
número
de
indivíduos
por
um
tempo
e
ser
modificado
por
eles.
A
língua
sofre
a
todo
o
momento
a
influência
de
todos,
ela
“forma
um
todo
com
a
vida
da
massa
social
e
esta,
sendo
naturalmente
inerte,
aparece
antes
de
tudo
como
fator
de
conservação”
(p.114).
A
língua,
portanto,
não
se
transforma
de
maneira
geral
e
repentina.
É
nessa
argumentação
que
se
apoia
a
ideia
de
que
a
língua
não
é
passível
de
uma
revolução,
nisso
reside
seu
caráter
imutável.
Todavia,
não
significa,
por
outro
lado,
que
ao
longo
do
tempo
não
vá
existir
mudanças
na
língua.
“O
tempo,
que
assegura
a
continuidade
da
língua,
tem
um
outro
efeito,
em
aparência
contraditório
com
o
primeiro:
o
de
alterar
mais
ou
menos
rapidamente
os
signos
linguísticos”(p.115).
A
alteração
do
signo
leva
sempre
a
um
deslocamento
da
relação
entre
o
significante
e
o
significado
(p.116,
grifo
do
autor).
Saussure
dá
um
exemplo,
entre
outros:
o
latim
necãre,
que
significa
“matar”,
resultou
na
palavra
francesa
noyer
que
quer
dizer
“afogar”.
Percebe-‐se
aí
uma
modificação
tanto
no
significado
(conceito)
quanto
no
significante
(imagem
acústica),
onde
é
possível
verificar
que
o
vínculo
entre
significante
e
significado
alargou-‐se
e
que
houve
um
deslocamento
na
relação
entre
ambos.
Dos
aspectos
imutáveis
e
mutáveis
da
língua,
resulta
sua
evolução
na
massa
e
no
tempo:
[...]
situada,
simultaneamente,
na
massa
social
e
no
tempo,
ninguém
lhe
pode
alterar
nada
e,
de
outro
modo,
a
arbitrariedade
de
seus
signos
implica,
teoricamente,
a
liberdade
de
estabelecer
não
importa
que
relação
entre
a
matéria
fônica
e
as
ideias
(p.116).
Nesta
citação
encontra-‐se
a
observação
necessária
para
se
compreender
que
a
Linguística,
para
entender
seu
objeto
de
estudo,
a
língua,
deve
considerar,
portanto,
seu
aspecto
sincrônico
e
diacrônico
e
não
apenas
um
ou
outro,
embora
cada
um
desses
aspectos
devam
ser
observados
por
uma
ótica
diferente1.
Eis
o
método
de
estudo
da
língua
defendido
por
Saussure.
A
Linguística
sincrônica
deve
se
dedicar
as
relações
psicológicas
e
lógicas
que
unem
termos
coexistentes
e
que
formam
sistemas
comuns
a
consciência
coletiva.
A
Linguística
diacrônica,
por
outro
lado,
deve
se
ocupar
das
relações
que
unem
termos
sucessivos
imperceptíveis
a
uma
mesma
consciência
coletiva
e
que
se
substituem
uns
aos
outros
(p.142).
A
observação
desses
fenômenos
se
dá
quando
um
fato
da
fala
transforma-‐se
em
um
fato
da
língua
que
só
passa
a
existir
a
partir
do
momento
em
que
a
comunidade
de
falantes
os
acolhe
(p.141).
Um
fato
de
fala
pode
ser
compreendido
quando
um
grupo
de
indivíduos
acolhe
determinado
modo
de
falar
uma
palavra,
expressão,
de
maneira
diferente
daquela
que
comumente
é
utilizada
pelos
falantes
de
determinada
comunidade,
sem
que
isso
provoque
alteração
na
forma
como
todos
os
indivíduos
dentro
dessa
mesma
comunidade
se
comunicam.
Todavia,
a
partir
do
momento
em
que
o
fato
de
fala
é
frequentemente
repetido
e
aceito
pela
comunidade
de
falantes
em
sua
coletividade,
torna-‐se
um
fato
da
língua
e
isso
é
o
que
interessa
aos
estudos
linguísticos.
Um
exemplo
de
fato
da
fala
que
tornou-‐se
fato
da
língua
no
Brasil
é
a
expressão
vossa
mercê,
um
pronome
de
tratamento
real
em
Portugal
que,
aqui
se
fez
vossamecê,
vossancê,
vosmicê
e,
finalmente,
você
de
uso
corrente
no
país,
que
se
transformou
em
algumas
regiões
para
adquirir
a
forma
ocê
e,
mais
atualmente,
cê
cujo
significado
assemelha-‐se
a
tu,
já
em
desuso.
1
A
dimensão
diacrônica
é
o
tipo
de
estudo
que
leva
em
consideração
as
transformações
ocorridas
nos
objetos
ao
longo
de
sua
história
no
tempo,
buscando-‐se,
deste
modo,
analisar
as
dinâmicas
que
provocam
mudanças
no
sistema;
opõe-‐se
a
sincronia
que
estuda
o
sistema
dentro
de
um
só
recorte
no
tempo,
estaticamente,
sem
se
preocupar
com
sua
perspectiva
evolutiva.
Saussure,
no
entanto,
buscava
compreender,
considerando
a
dimensão
diacrônica
da
língua,
como
ele
se
encontrava
em
determinado
momento
na
sincronia.
Em
Saussure,
a
sincronicidade
não
exclui
a
mutabilidade
(SENNA,
1994).
Esta
observação
sobre
os
fatos
supracitados,
revelam
que
o
lugar,
por
excelência,
de
manifestação
da
língua
é,
pois,
a
fala,
ou,
como
diz
Saussure,
a
massa
de
falantes.
A
partir
da
massa,
a
língua
constitui-‐se
com
seu
signo
arbitrário,
cujos
significantes
formam
uma
cadeia
sonora,
ou,
dito
de
outra
maneira,
se
estabelecem
num
continuum.
Este
continuum
interessa
particularmente
a
este
trabalho,
porque
permite
compreender,
a
partir
de
Saussure,
o
custo
de
delimitação
da
fronteira
de
palavras
que
tem
feito
parte
do
que
temos
vivenciado
nos
espaços
de
comunicação,
sobretudo
escrito.
Para
melhor
compreender
este
custo,
é
importante
tentar
aprofundar
um
pouco
mais
a
percepção
de
Saussure
a
respeito
da
relação
entre
significado
e
significante
no
signo
linguístico,
pois,
nesta
relação
encontra-‐se
indícios
da
motivação
de
construções
escritas
que,
no
contexto
norma
padrão,
são
tomadas
como
desvios.
A
cadeia
fônica
contínua
e
a
unidade
linguística
saussuriana:
uma
observação
A
Linguística
é
a
ciência
que
se
ocupa
dos
signos
que
compõem
uma
língua
e
de
suas
relações.
O
signo,
entidade
linguística,
como
o
designa
Saussure
(p.148),
só
existe
na
relação
que
se
estabelece
entre
significante
e
significado.
Fora
dessa
relação,
não
há
signo
linguístico
(p.147).
Para
compreendê-‐lo,
todavia,
assumir
a
relação
simbiótica
entre
significado
e
significante
não
é
suficiente,
faz-‐se
necessário
ir
além
e,
segundo
os
estudos
saussurianos,
delimitar
a
entidade
linguística.
“A
entidade
linguística
não
está
completamente
determinada
enquanto
não
está
completamente
delimitada,
separada
de
tudo
o
que
a
rodeia
na
cadeia
fônica”
(p.148,
grifo
no
Curso).
São
estas
entidades
que,
uma
vez
delimitadas,
correspondem
as
unidades
de
estudo
da
linguística.
Esta
delimitação,
no
entanto,
não
diz
respeito
aos
limites
de
sílabas
ou
de
palavras
na
cadeia
fônica.
Diferentemente
de
objetos
como
signos
visuais
que
podem
coexistir
sem
que
se
confundam
entre
si
e
sem
que
haja
nenhuma
operação
do
espírito,
não
se
pode
discriminar
a
unidade
linguística
a
priori
(p.148).
A
delimitação
do
signo
linguístico
é
muito
mais
complexa,
porque
se
dá
no
âmbito
da
cadeia
fônica,
que
não
possui
partes
significativas
em
si,
ela
é,
na
realidade,
“uma
tira
contínua,
na
qual
o
ouvido
não
percebe
nenhuma
divisão
suficiente
e
precisa,
para
isso,
cumpre
apelar
para
as
significações”(p.148)
A
língua,
portanto,
“[...]
não
se
apresenta
como
um
conjunto
de
signos
delimitados
de
antemão,
dos
quais
bastasse
estudar
as
significações
e
a
disposição;
é
uma
massa
indistinta
na
qual
só
a
atenção
e
o
hábito
nos
podem
fazer
encontrar
os
elementos
particulares.
A
unidade
não
tem
nenhum
caráter
fônico
especial,
e
a
única
definição
que
se
pode
dar
a
ela
é
a
seguinte:
uma
porção
de
sonoridade
que,
com
exclusão
do
que
precede
e
do
que
se
segue
na
cadeia
falada,
é
significante
de
um
certo
conceito”
(p.148)
Esta
constatação
de
Saussure
se
coloca
em
harmonia
com
o
que
é
possível
observar
no
processo
de
significação
que
é
feito
por
diferentes
sujeitos
falantes
de
uma
mesma
língua
e
o
que
isso
provoca
em
termos
dos
estados
de
escrita2
que
estes
sujeitos
apresentam
(LOPES,
2010),
bem
como
a
possibilidade
de
desenvolver
uma
compreensão
mais
ampla
a
respeito
do
porquê
isso
acontece.
Embora
Saussure
admita
que
a
delimitação
das
unidades
é
um
problema
tão
delicado
a
ponto
de
ele
mesmo
questionar
se
elas
existem
(p.152),
fato
é
que,
na
cadeia
falada
e
também
escrita,
é
possível
observar
uma
porção
de
sonoridade
significante
de
um
certo
conceito.
Esta
porção,
no
entanto,
parece
possuir,
dentro
de
um
mesmo
grupo
linguístico,
configurações
diversas
que
dão
ao
conceito
de
língua
saussuriano,
talvez,
uma
complexidade
ainda
maior
do
que
aquela
que
ele
pôde
alcançar
em
seu
Curso.
Contudo,
as
pistas
iniciais
que
Saussure
apontou
para
o
entendimento
da
construção
das
unidades
concretas,
são,
de
fato,
um
elemento
que
tem
um
potencial
de
contribuição
para
o
entendimento
dos
processos
de
escrita
como
discutiremos
no
próximo
tópico.
Cumpre
ressaltar
que,
para
além
da
delimitação
do
objeto
de
estudo
da
linguística
e
do
método
de
estudo
que
deveria
ser
empregado
em
sua
compreensão,
fato
que
conferiu
a
Linguística
o
status
de
ciência,
com
objeto
e
método
próprio,
Saussure
abriu
a
possibilidade
de
que
os
estudos
da
língua
deixassem
o
campo
puramente
comparativo,
onde
o
que
se
buscava
eram
relações
genealógicas
entre
as
várias
línguas,
encaradas
como
um
somatório
de
elementos
isolados
a
partir
das
quais
se
buscava
uma
origem
comum,
e
se
dedicassem
a
compreensão
da
língua
em
si.
Esta
que
só
acontece
a
partir
da
massa
de
falantes.
2
Estados
de
escrita,
em
Lopes
(2010),
são
compreendidos
como
o
estado
em
que
a
escrita
de
determinado
sujeito
social
se
apresenta
a
partir
do
uso
do
código
alfabético.
Não
se
trata,
nesse
caso,
de
hipóteses
de
escrita
que,
teoricamente,
partiriam
de
X
para
se
chegar
a
XY,
mas
de
modos
de
escrita
que
se
denvolvem
na
intenção
comunicativa
dos
sujeitos,
de
acordo
com
sua
perpeção,
enraizada
na
fala,
a
respeito
dela.
O
predomínio
da
escrita:
o
que
pensa
Saussure
a
seu
respeito
e
outros
aspectos
que
a
envolvem
atualmente
A
escrita,
desde
a
perspectiva
de
Saussure,
não
tem
condições
de
significar
a
língua
e,
paradoxalmente,
tenta
impor-‐lhe
normas
de
funcionamento
mediante
tentativa
de
dominar
e
aprisionar
a
fala.
Segundo
ele
“A
língua
tem,
pois,
uma
tradição
oral
independente
da
escrita
e
bem
diversamente
fixa;
todavia,
o
prestígio
da
forma
escrita
nos
impede
de
vê-‐lo”
(p.59).
Este
prestígio
da
escrita
tem
se
sobreposto
à
fala
e
às
tentativas
de
compreendê-‐la
de
acordo
com
os
modos
como
seus
usuários
a
utilizam.
Tal
fato
pode
ser
verificado
ainda
nos
dias
atuais,
que
exigem
que
a
fala
acompanhe
a
normatividade
da
escrita
em
determinadas
situações.
Saussure
destacou,
na
época
de
seu
curso,
a
predominância
de
estudos
no
campo
da
Linguística
que
insistiam
em
eleger
a
escrita
como
objeto,
devido
a
sua
natureza
imóvel,
o
que
os
impediam
de
compreender
a
língua
em
si
(p.59).
O
subjugamento
da
fala,
não
ocorreu
somente
no
período
em
que
Saussure
apresentou
seus
estudos
e
no
tempo
que
o
antecedeu,
ele
continua
não
só
perceptível,
mas
causando
toda
sorte
de
pressuposições
a
respeito
da
oralidade.
Se
as
teorias
formuladas
nos
tempos
saussurianos
faziam
ascender
a
escrita
em
detrimento
da
fala,
no
campo
da
Linguística,
os
estudos
pós-‐saussurianos
elegeram
a
língua
com
o
mesmo
fim.
Todavia,
esta
língua,
foi
tendo
seu
entendimento
alargado
por
convicções
para
além
da
originalidade
percebida
em
Saussure
para
ser
assumida
como
língua
para
si.
Daí
que,
em
vez
de
a
massa
de
falantes
ser
levada
em
conta
como
locus
de
manifestação
inerente
à
língua,
deu-‐se
que
a
fala
foi
relegada
a
um
segundo
plano
porque,
a
partir
da
“língua”
seria
possível
derivar
verdades
mais
objetivas
e
menos
provisórias.
Conforme
Senna
(2002):
El
aprecio
por
la
langue
o
otros
conceptos
que
reporten
a
una
idealización
de
la
lengua
y
su
estructura
contribuirían
para
aseverar
la
hegemonía
de
la
verdad
científica,
negando
la
existencia
de
otros
modelos
mentales
de
control
de
la
gramática
propios
de
las
culturas
orales.
Jamás
se
discutió,
por
ejemplo,
si
las
categorías
gramaticales
dichas
universales
–
en
su
mayoría
oriundas
de
la
tradición
clásica
–
tendrían
otros
contrapuntos
o
otras
formas
de
control
no
semejantes
a
los
de
la
cultura
científico
cartesiana.
(p.
414)
Da
predominância
da
escrita,
da
língua
para
si
e
do
apreço
pelas
categorias
gramaticais
tomadas
como
universais,
regulando
o
uso
da
língua,
que,
em
grande
medida,
passaram
a
ser
derivadas
da
escrita
após
a
perda
do
domínio
grego
e
da
tentativa
de
resgatar
uma
fala
clássica
mediante
estudo
da
escrita
(SENNA,
2002,
p.413)
deriva
a
ideia
corrente
de
que
possa
existir
uma
fala
correta,
isto
é,
uma
fala
semelhante
à
escrita
com
todas
as
suas
imposições.
Por
conseguinte,
existiriam
falas
erradas,
ou
seja,
falas
que
se
afastam
da
escrita.
Esta
percepção
a
respeito
da
escrita
e
da
fala
provoca
o
que
comumente
se
conhece
como
preconceito
linguístico
cujas
manifestações
se
apresentam
em
diferentes
contextos
no
campo
sociocultural
(BAGNO,
2013).
Saussure
chama
a
atenção
para
o
predomínio,
ou
prestígio
em
suas
palavras,
da
escrita
e
explica
que
este
prestígio
ocorre
porque
a
imagem
das
palavras
impressiona,
pois
apresenta
um
objeto
permanente
e
sólido
para
constituir
a
unidade
da
língua
através
dos
tempos,
mas,
em
contrapartida,
cria
“uma
unidade
puramente
factícia”
(p.59).
As
impressões
visuais,
continua
ele,
são
mais
nítidas
e
duradouras
que
as
acústicas
e
a
imagem
gráfica
acaba
por
se
impor
ao
som.
Some-‐se
a
isso
o
fato
de
que
a
língua
literária
aumenta
a
importância
da
escrita
porque
possui
toda
uma
regulamentação
que
a
submete
ao
uso
rigoroso
da
ortografia
(p.59).
A
cadeia
fônica
saussuriana
e
a
construção
de
escritas
possíveis
Embora
saibamos
que
fala
e
escrita
possuem
diferentes
naturezas
e
motivações,
sabemos
também
que
a
escrita,
nos
dias
atuais,
tem
se
apresentado
segundo
as
convicções
que
os
usuários,
alheios
as
suas
regras,
tem
construído
a
seu
respeito
a
partir
da
aproximação
com
a
cultura
escrita
(SENNA,
2007b;
LOPES,
2010),
sobretudo
via
espaço
escolar.
Em
Saussure,
observa-‐se
o
destaque
à
existência
da
língua
em
si,
produto
social
depositado
no
cérebro
de
cada
um
(p.57)
e
da
língua
falada,
manifestação
legítima
da
língua.
A
escrita
é,
por
outro
lado,
apenas
uma
representação
da
língua
e
a
ela
não
se
deve
dar
nenhuma
prerrogativa
nos
estudos
linguísticos.
Há,
no
entanto,
um
elemento
nas
considerações
de
Saussure
a
respeito
da
cadeia
fônica
que
nos
permite
compreender,
na
contemporaneidade,
determinados
tipos
de
escritas,
e
isso
nos
interessa.
Nesse
caso,
admite-‐se
nesse
trabalho
que
não
se
trata
de
uma
escrita
única
e
imutável
alvo
das
críticas
saussurianas.
Trata-‐se,
isso
sim,
de
escritas
que
tem
emergido
porque
tentam
representar
a
língua
falada
a
despeito
de
normatizações
e
regras
ortográficas.
São
escritas
que
colocam
em
evidência
no
âmbito
das
discussões
teórico-‐
práticas
a
coerência
da
ideia
saussuriana
de
cadeia
fônica.
Neste
trabalho
não
se
pretende
aprofundar
alguma
definição
das
unidades
saussurianas
via
cadeia
fônica,
apenas
sugerir
que,
no
âmbito
dessa
cadeia,
as
unidades
não
são
fixas,
elas
parecem
flutuar
e
o
limite
da
unidade
parece,
por
sua
vez,
ser
estabelecido
por
essa
flutuação.
Tal
flutuação
permite
que
o
signo
linguístico
seja
delimitado
na
cadeia
fônica
em
diferentes
momentos
sem
que
haja
comprometimento
do
seu
significado
no
âmbito
da
fala
e,
na
escrita,
cria
diferentes
possibilidades
de
construção
cuja
motivação
é
possível
verificar.
Na
escrita,
há
que
se
ressaltar
algum
comprometimento
na
compreensão
do
que
se
quer
comunicar
em
alguns
casos,
talvez
muito
mais
pela
normatização
que
temos
em
nossa
mente
a
seu
respeito
do
que
propriamente
por
um
impedimento
causado
por
algum
desvio
de
comunicação.
Grosso
modo,
pode-‐se
dizer
que
o
corte
na
cadeia
do
significante
é
feito
segundo
a
percepção
que
cada
indivíduo
deriva
da
fala,
mas
que
não
compromete
a
percepção
do
signo
linguístico
dentro
do
grupo
linguístico
do
qual
faz
parte.
Esta
consideração
pode
ser
percebida
a
partir
de
diferentes
contextos
e,
nesse
estudo,
elegeu-‐se
alguns
casos.
Um
jovem
formado
no
Ensino
Médio,
mas
cuja
experiência
de
mundo
fora
marcada
por
uma
cultura
que
privilegia
a
oralidade
como
princípio
de
ensinamento
e
credibilidade,
passou
pela
escola
para
adquirir
o
diploma
e
um
trabalho
sem
se
interessar
pelo
aprendizado
da
escrita
normativa
padrão,
tirando
da
escola,
apenas,
aquilo
que
julgou
necessário
para
o
alcance
de
seus
objetivos
profissionais.
Trabalha
em
um
local
no
qual
designa
seu
superior
como
“o
senhor”.
Ao
se
referir
ao
“senhor”
durante
muito
tempo,
nada
de
oblíquo
apareceu
na
comunicação
entre
ambos.
Contudo,
a
necessidade
que
eles
tiveram
de
escrever
um
para
o
outro,
revelou
a
seguinte
construção
da
parte
do
jovem
“ossenhor”,
em
todos
os
momentos
em
que
a
comunicação
se
estabelecia
por
via
da
escrita.
Esta
construção,
no
entanto,
assim
como
na
fala,
não
comprometeu
a
comunicação
escrita
entre
“ossenhor”
e
o
jovem.
Ela
pode
ser
indicativa
de
que,
a
flutuação
da
unidade
saussuriana,
aliada
à
cadeia
fônica,
permitiu
tal
construção,
sem
prejuízo
do
significado
e
sem
prejuízo,
sobretudo,
da
comunicação
entre
ambos.
É
para
isso
que
nos
serve
a
língua,
para
nos
fazer
comunicar.
Continua
a
não
haver,
portanto,
nada
de
oblíquo
na
escrita
do
jovem
que
possa
desacreditá-‐lo
ou
ser
indício
de
que
há
um
problema
de
comunicação
de
sua
parte.
Pode-‐se
dizer,
por
outro
lado,
que
esta
escrita
não
se
enquadra
na
norma
padrão,
mas,
nem
por
isso,
deixa
de
ser
escrita
comunicativa3.
Semelhante
coisa
pode
ser
percebida
através
da
leitura
dos
poemas
de
um
proeminente
poeta
nordestino.
Antônio
Gonçalves
da
Silva,
mais
conhecido
como
Patativa
do
Assaré,
foi
um
poeta
sertanejo,
nascido
no
sul
do
Ceará,
em
Assaré.
Durante
sua
vida
publicou
algumas
obras
de
reconhecida
importância
para
a
literatura
e
para
os
estudos
da
língua
dentro
e
fora
do
Brasil,
entre
elas
o
livro
de
poesia
“Cante
lá
que
eu
Canto
Cá”
organizado
pelo
Centro
de
Documentação,
Estudos
e
Pesquisas
(Cendep).
Nele,
respeitou-‐se
a
escrita
de
Patativa,
sem
que
houvesse
uma
intervenção
ortográfica
que
pudesse
comprometer
a
originalidade
da
obra.
A
partir
do
livro
supracitado,
elencou-‐se
duas
estrofes
de
diferentes
poesias
que
são
representativas
do
que
se
está
sustentando
nesse
trabalho:
o
enunciado
de
Saussure
sobre
a
cadeia
de
significante
de
um
certo
conceito.
Na
primeira
poesia,
“Mãe
Preta”,
Patativa
conta
em
versos
sua
relação
com
uma
senhora,
desde
a
mais
tenra
infância,
que
o
cuidava
e
a
quem
muito
queria.
Em
uma
das
estrofes
dessa
poesia,
relatando
os
momentos
de
doença
que
antecederam
a
morte
de
Mãe
Preta,
Patativa
escreve:
Quando
ela
pra
mim
oiava,
Como
quem
sente
desgosto,
A
minha
mão
apertava
E
o
pranto
banhava
o
rosto.
Divido
este
sofrimento,
Naquele
seu
aposento,
No
quarto
onde
ela
vivia,
Me
improibiro
de
entrá,
Promode
não
magoá
As
dô
que
a
pobe
sintia.
A
segunda
poesia
“Maria
de
todo
jeito”
é
uma
das
quais
Patativa
descreve
a
situação
de
um
sertanejo
que
sonhava
em
se
casar
com
uma
mulher
de
nome
Maria,
pois
acreditava
que
esta
seria
santa
como
o
nome
evocava.
Uma
vez
casado,
no
entanto,
percebeu
que
sua
Maria
queria
apenas
ser
servida
e
não
gostava
do
marido,
nem
atendia
a
nenhum
de
seus
pedidos.
Na
última
estrofe
da
poesia,
ele
escreve:
E
hoje,
só,
no
meu
caminho,
Vou
pensando
no
ditado:
3
Este
relato
foi
feito
a
mim
durante
conversa
informal
este
ano
pelo
“senhor”
que
conhece
meu
interesse
na
construção
de
formas
de
escritas
que
se
apresentam
em
desarmonia
com
a
norma
padrão,
mas
que,
por
outro
lado,
cumprem
seu
papel
em
comunicar.
É
mió
vivê
sozinho
Do
que
malacompanhado
–
Foi
esta
a
maió
lição
Passada
inriba
do
chão.
Não
fiz
meu
prano
direito,
E
agora
conheço
bem
Que
este
mundo
veio
tem
Maria
de
todo
jeito
Patativa
do
Assaré
permaneceu
na
escola,
onde
entrou
com
doze
anos
de
idade,
por
apenas
alguns
meses,
a
partir
dos
quais
derivou
o
entendimento
da
escrita
que
se
apresenta
em
sua
poesia.
Entre
as
diversas
singularidades
que
podem
ser
encontradas
na
escrita
de
Patativa,
aquela
que
nos
interessa
para
efeito
desse
trabalho
são
as
aglutinações
reveladas
em
algumas
palavras.
Nas
duas
estrofes
apresentadas,
percebemos
as
seguintes
palavras
“improibiro,”
“promode”,
“malacompanhado”,
“inriba”.
As
quatros
palavras
destacadas
são
representativas
do
fato
de
que
o
enunciado
não
é
composto
por
limites
definidos
a
priori.
Na
realidade,
os
limites
entre
as
palavras
são
uma
invenção
da
escrita
e
nada
há
de
natural
nisso,
como
observou
Saussure.
Se
se
quer
considerar
algo
como
“natural”,
consideremos
as
escritas
que
os
sujeitos
vão
construindo
a
partir
do
contato
com
o
código
alfabético
adaptando-‐o
ao
modo
como
sua
língua
é
falada.
O
continuum
da
cadeia
fônica
e
o
corte
do
significante
pode
ser
representado
de
outro
modo:
nas
situações
cuja
colocação
de
limites
produzam
outro
signo.
Uma
parlenda
bastante
conhecida
por
crianças
de
diferentes
gerações,
qual
seja,
“Hoje
é
Domingo”,
é
elucidativa
desse
caso:
Hoje
é
domingo
Pede
cachimbo
o
cachimbo
é
de
barro
Bate
no
jarro
o
jarro
é
fino
Bate
no
sino
O
sino
é
de
ouro
Bate
no
Touro
O
touro
é
valente
Bate
na
gente
A
gente
é
fraco
Cai
no
buraco
O
buraco
é
fundo
Acabou-‐se
o
mundo
Em
sua
primeira
estrofe,
onde
está
escrito
“Hoje
é
domingo,
pede
cachimbo”
existe
a
delimitação
das
palavras
de
acordo
com
as
regras
ortográficas
da
escrita.
No
entanto,
sem
conhecer
e
poder
ler
a
letra
da
parlenda,
a
divisão
mais
comum,
constatada
desde
a
infância
até
entre
adultos
que
não
tiveram
contado
com
a
leitura
da
mesma
é:
Hoje
é
domingo,
pé
de
cachimbo.
Neste
enunciado,
a
cadeia
fônica
foi
delimitada
numa
sequencia
outra.
O
próprio
significado
do
enunciado
caracteriza
um
outro
contexto,
isto
é,
outras
unidades
significativas
que
evocam
outro
signo
linguístico.
É
importante
enfatizar,
no
caso
da
parlenda,
que
não
há,
como
nos
casos
elucidados
anteriormente,
uma
aglutinação
de
palavras
que
não
comprometem
o
significado
a
despeito
do
delimitação
feita
no
significante
–
o
que
se
está
considerando
aqui
como
a
possibilidade
de
haver
uma
flutuação
das
unidades
linguísticas.
Na
parlenda,
há,
de
fato,
um
signo
linguístico
que
foi
identificado
pelos
usuário
da
língua
e
não
estava
pressuposto
quando
de
sua
elaboração.
Todavia,
uma
vez
sendo
lida,
percebe-‐se
a
intenção
de
seus
enunciados.
Por
outro
lado,
a
partir
dela,
foi
possível
verificar,
mais
uma
vez,
que
os
limites
postos
na
cadeia
fônica
não
são
fixos
a
priori,
e,
ainda,
que
eles
dependem
do
contexto
para
sua
interpretação.
A
parlenda
destacada,
as
palavras
dos
versos
de
Patativa
do
Assaré
e
a
escrita
do
jovem
exemplificada
no
primeiro
caso
desse
estudo,
nos
mostram
a
dimensão
complexa
que
envolve
o
uso
da
língua
e
ajudam
na
compreensão
do
último
exemplo
trazido
para
este
trabalho.
Esses
fatos
assumem
uma
importância
ímpar
quando
se
pensa
em
contextos
que
tem
como
principal
objetivo
ensinar
a
representação
escrita
da
língua
de
acordo
com
a
norma
padrão
e
que
parecem
não
estar
levando
em
consideração
as
possibilidades
de
construção
de
escritas
cuja
motivação
deriva
da
possibilidade
de
estas
estarem
marcadas
pela
tentativa
de
aproximar
a
língua
da
escrita.
Chegamos
ao
último
exemplo
deste
trabalho,
à
sala
de
aula
da
Educação
Básica,
lugar
de
profundo
estranhamento
dos
professores,
que
em
seu
que-‐fazer
docente
tem
se
deparado
com
um
número
considerável
de
alunos
que
apresentam
estados
de
escritas
cada
vez
mais
alheios
a
norma
padrão.
Estes,
no
entanto,
parecem
ter
alguma
possibilidade
de
compreensão
a
partir
da
cadeia
fônica
saussuriana.
Considerando-‐se
que,
esses
alunos,
tentam
aproximar
sua
escrita
da
língua
e
que
esta,
por
sua
vez,
no
âmbito
da
fala,
não
possui
limites
pré-‐estabelecidos
entre
suas
unidades
significativas,
suas
escritas
podem
revelar
algum
sentido.
As
escritas
abaixo,
são
representativas
dessa
tentativa
de
aproximação,
mas
que,
se
forem
consideradas
apenas
do
ponto
de
vista
da
escrita
normativa
padrão,
deixam
de
ser
percebidas
em
suas
peculiaridades
para
serem
apenas
consideradas
em
seus
“erros”.
Por
outro
lado,
se
fazemos
essa
leitura
a
partir
dos
indicativos
teóricos
de
Saussure,
percebemos,
não
só
sua
motivação,
mas
a
coerência
dessas
escritas.
Assim
vejamos.
Camilo,
aluno
do
terceiro
ano
do
ensino
fundamental,
com
idade
de
13
anos
completos,
foi
solicitado
em
minha
sala
de
aula
a
escrever
um
convite
para
que
um
amigo
comparecesse
à
sua
festa
de
aniversário.
Ele
então
inicia
o
convite,
após
ter
colocado
o
nome
do
convidado,
da
seguinte
maneira:
“Vaiceleão
a
mia
Festa.
Numero
241
pode
vim
que
i
qu
ze”4.
Nessa
frase
de
Camilo,
a
partir
da
qual
se
pode
derivar
inúmeras
análises
do
ponto
de
vista
fonêmico,
de
representação
mental
e
até
mesmo
escrito
e
ortográfico,
é
possível
verificar
a
construção
de
uma
escrita
que
remete
diretamente
ao
modo
como
convidamos
uma
pessoa
num
bate-‐papo
informal.
Apesar
de
vaiceleão,
sendo
lido
fora
do
contexto,
pareça
meramente
um
amontoado
de
letras
a
partir
das
quais
poder-‐se-‐ia
derivar,
talvez,
as
unidades
vai
ce
leão
–
Vai
ser
leão
(?)
–
sem
nenhuma
lógica
entre
si,
dentro
do
contexto
no
qual
foi
escrito,
vaiceleão,
remete
a
expressão
“Vai
ser
legal”.
Esta
foi
a
intenção
do
aluno
ao
escrever
a
frase:
dizer
que
a
festa
seria
legal.
A
continuidade
da
frase
de
Camilo
é
compreensível
e
o
outro
destaque
que
se
dá
a
ela
são
suas
últimas
palavras
“que
i
qu
ze”,
que
significam,
quem
quiser.
Vaiceleão
e
que
i
qu
ze
são
construções
expressivas
para
exemplificar
o
que
Saussure
apontou,
a
respeito
da
cadeia
fônica
e,
sobretudo,
o
fato
de
que
os
significados
de
um
significante
vão
sendo
compreendidos
à
medida
que
o
hábito
nos
permite
encontrar
seus
elementos
particulares.
Dentro
do
contexto
no
qual
foi
escrito
o
convite,
a
representação
escrita
do
aluno
pode
ser
compreendida,
desde
que
haja
uma
intenção
nesse
sentido.
Analisadas
por
este
prisma,
as
escritas
que
tem
se
apresentado
em
sala
de
aula
por
alunos
de
diferentes
faixas
etárias,
tiram
dela
o
ranço
de
uma
escrita
errada,
porque,
do
ponto
de
vista
dos
estudos
da
língua
saussuriana,
elas
tem
razão
de
ser,
tem
sentido
e
4
Camilo
é
um
nome
fictício,
mas
trata-‐se
de
um
aluno
meu.
O
caso
relatado
é
representativo
de
outros
tantos
comuns
às
salas
de
aula
por
que
tenho
passado,
com
alunos
de
uma
faixa
etária
que
tem
variado
dos
6
aos
14
anos.
motivação.
Isso
não
significa,
por
outro
lado,
que
devamos
abandonar
a
escrita
normativa
que
permitiu,
inclusive,
a
publicação
do
curso
de
Saussure,
e
que
esta
não
deva
ser
ensinada,
mas
que
devemos
começar
a
olhar
atentamente
para
as
escritas
que
nossos
alunos
tem
apresentando
e,
a
partir
dela,
fazer
as
intervenções
necessárias
para
que
ela
possa
se
aproximar
da
escrita
padrão.
Além
disso,
do
ponto
de
vista
dos
estudos
linguísticos,
talvez
possamos
encarar
essas
escritas
como
novos
fatos
que
estão
emergindo
e
se
abrir
para
as
possibilidades
de
construção
de
escritas
que
não
podem
mais
ser
desconsideradas
em
nome
de
uma
escrita
única,
tida,
subliminarmente,
como
natural.
A
leitura
em
Saussure
sobre
esse
assunto
nos
trouxe
até
aqui
e,
a
partir
dela,
talvez
se
possa
avançar
na
tentativa
de
compreender,
em
que
medida,
as
escritas
que
tentam
representar
a
língua
podem
vir
a
transformar
um
fato
de
fala,
ou,
no
contexto
que
estamos
desenvolvendo,
um
“fato
de
escrita”,
em
um
fato
de
língua.
Referências
ASSARÉ,
Patativa.
Cante
lá
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eu
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filosofia
de
um
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o
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34a
Ed.
São
Paulo:
Cultrix,
2013.
POBREZA
E
EDUCAÇÃO:
UMA
ANÁLISE
CONCEITUAL
A
relação
entre
escola,
pobreza
e
políticas
públicas
como
desafios
para
uma
educação
voltada
para
o
processo
de
ensino-‐aprendizagem
de
alunos
e
alunas
em
risco
social,
e
ainda,
de
que
forma
o
conceito
de
exclusão
social
contribui
na
compreensão
das
desigualdades
sociais
e
nas
relações
do
cotidiano
escolar
são
objetos
de
estudo
deste
trabalho.
Esse
estudo
foi
do
tipo
bibliográfico,
ao
refletir
sobre
as
questões
da
contemporaneidade,
Castel
(2008)
discute
exclusão
social
em
função
do
aumento
das
desigualdades
e
na
mudança
do
perfil
da
pobreza,
Paugam
(2003)
apresenta
a
nova
pobreza
a
partir
da
precarização
dos
vínculos
com
o
mundo
do
trabalho,
associada
à
dimensão
histórica
e
nas
trajetórias
de
vida.
O
presente
artigo
é
parte
dos
resultados
da
pesquisa
Gênero
e
Pobreza:
Práticas,
Políticas
e
Teorias
Educacionais
-‐
Imagens
de
escolas5,
Pesquisa
do
Programa
Prociência,
desenvolvida
pelo
Grupo
de
pesquisa
Etnografia
e
Exclusão
de
2008
a
2010
no
Núcleo
de
Etnografia
em
Educação
(NEtEDU),
da
Faculdade
de
Educação
da
Universidade
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro
(FE/UERJ),
Programa
de
Pós-‐Graduação
em
Educação
(ProPEd).
Tecemos
algumas
considerações
em
que
à
pobreza
e
exclusão
social
não
aparece
apenas
representadas
por
números,
para
além
da
dimensão
econômica,
aparece
também,
nas
dimensões
sociais
e
culturais
da
vida
humana.
Na
educação,
as
análises
apontam
para
a
exclusão
educacional
de
alunos
e
alunas
de
contextos
sociais
desfavorecidos,
acredita-‐se
ser
a
escola
o
espaço
para
a
superação
das
desigualdades
sociais
em
que
vivem.
5
Pesquisa Financiada pelo PROGRAMA PROCIENCIA, FAPERJ/UERJ, 2009-2012.
econômico
capitalista
que
acentua
as
desigualdades
sociais,
tendo
como
característica
a
degradação
cotidiana
dos
direitos
à
cidadania.
Duas
questões
são
importantes
nesse
estudo:
compreender
o
conceito
de
pobreza
relacionada
às
desigualdades
sociais
e
como
se
articulam
no
contexto
da
escola.
A
escolarização
contribui
na
vida
social
dos
sujeitos
e,
alguns
processos
excludentes
são
muitas
vezes
determinados
pelo
acesso
e
tempo
de
permanência
dos
mesmos
no
sistema
educacional.
A
trajetória
irregular
ou
interrompida
de
alunos
e
alunas
muitas
vezes
passa
a
figurar
dados
e
índices
de
desemprego,
violência
e
pobreza.
Contudo,
o
acesso
à
escola
é
condição
necessária
para
todos,
mas
não
apenas
para
a
superação
das
desigualdades
sociais.
Percebe-‐se
que
o
deslocamento
do
processo
de
exclusão
não
se
dá
com
antes,
principalmente
na
questão
de
acesso
à
escola,
mas
também
dentro
dela,
por
meio
das
instituições
de
educação
formal
e
através
do
próprio
processo
de
ensino
e
aprendizagem
que
ocorre
no
espaço
escolar.
Observa-‐se
então
que
em
suas
reflexões,
Castel
(2008)
sustenta
dois
eixos
principais
de
análise
da
exclusão:
a
integração
dos
sujeitos
ao
mundo
do
trabalho
e
as
relações
sócio-‐familiares.
A
exclusão
ocorre
em
função
das
relações
de
trabalho,
quando
são
percebidas
como
um
mecanismo
de
inserção
social,
e
sua
falta
provoca
mudanças
no
processo
produtivo
e
na
dinâmica
da
sociedade
capitalista
que
alteram
as
relações
do
homem
com
o
meio.
As
mudanças
intervêm
nas
várias
esferas
da
vida
social
e
na
economia.
O
fenômeno
mais
importante
é
a
globalização
dos
mercados
ou
a
mundialização
da
economia,
onde
a
competitividade
afeta
a
produção
e
a
organização
do
trabalho,
surgindo
assim,
novas
profissões
e
novos
conhecimentos,
tendo
como
consequência
a
diminuição
de
empregos.
O
trabalho
muitas
vezes
precário,
ou
o
desemprego
coloca
o
sujeito
em
situação
de
vulnerabilidade,
ou
seja,
vivendo
em
situações
instáveis
e
na
área
de
exclusão,
sendo
“impossível
traçar
fronteiras
nítidas
entre
as
zonas”
(CASTEL,
2008,
p.
27),
para
o
autor,
as
áreas
da
vida
social
não
são
rígidas,
podendo
ser
transferidos
de
uma
área
para
outra.
São
pessoas
que
não
conseguem
manter
as
necessidades
básicas,
como
exemplo,
a
moradia,
educação
e
alimentação;
ou
ainda,
que
vai
perder
o
emprego,
integrado
em
um
trabalho
irregular,
e
que,
desta
forma,
vai
ficar
vulnerável
nesta
zona.
No
entanto,
mais
do
que
identificar
em
quais
dessas
áreas
se
enquadram
os
sujeitos,
é
compreender
os
processos
que
levam
a
essa
instabilidade.
O
excluído
na
maioria
dos
casos
é
de
fato
um
desfiliado
cuja
trajetória
consiste
em
rupturas
e
instabilidades
em
relação
a
estados
anteriores.
Considerando
área
de
exclusão
ou
zona
de
desfiliação,
a
exclusão
traduz
uma
degradação
relacionada
a
um
posicionamento
anterior,
assim,
é
situação
vulnerável
de
quem
vive
nas
zonas
de
desfiliação.
Quando
desempregado,
ocasiona-‐se
a
perda
de
proteção,
iniciando
assim,
um
comprometimento,
o
que
leva
a
viver
em
uma
zona
diferente,
a
zona
de
desfiliação
ou
de
exclusão.
Como
reverso
a
esta
situação
de
excluído
entende-‐se
que
através
da
conquista
do
emprego
pode-‐se
considerar
integrado,
pois
o
salário
muitas
vezes
consegue
manter
as
necessidades
básicas.
Castel
(2008)
acrescenta
ainda
a
ideia
de
que
parte
dos
sujeitos
classificados
como
excluídos
encontra-‐se
nas
faixas
de
vulnerabilidades,
permanecendo
ainda
em
risco
de
exclusão.
E
que
é
na
zona
de
vulnerabilidade
que
considera
as
características
que
configuram
essa
zona
como
tal.
São
estas
características
conferem
o
significado
e
a
gravidade
da
questão
social.
São
pessoas
que
vivem
em
condições
impróprias
de
moradia,
que
sobrevivem
de
um
trabalho
precário,
que
não
conseguem
pagar
as
despesas
domésticas;
ou,
ainda,
que
estão
integrados
ao
mundo
do
trabalho
em
condições
temporárias,
e
que
desta
forma,
são
vulneráveis.
Os
chamados
excluídos
povoam
as
zonas
mais
periféricas,
caracterizadas
pela
perda
do
trabalho
e
isolamento
social.
Sobre
o
papel
das
políticas
de
inserção
social,
como
as
políticas
de
assistências,
Castel
(2008,
p.31)
afirma
que
“ações
de
inserção
são,
consideradas
essencialmente,
operações
de
reposição
para
preparar
dias
melhores”,
assim,
são
pensadas
como
estratégias
limitadas
no
tempo,
a
fim
de
ajudar
as
pessoas
num
determinado
momento
de
crise,
mas
que
são
findáveis.
Algumas
políticas
tem
sido
presente
no
cotidiano
de
muitas
famílias
associadas
à
classe
menos
favorecida
da
sociedade,
no
caso
do
Brasil,
como
exemplo
de
ação
de
reparação
de
assistência
governamental,
pode-‐se
citar
os
programas
de
transferência
de
renda,
atribuídos
aos
pobres.
Essa
situação
de
pobreza,
não
está
associada
somente
a
baixa
renda
das
famílias,
mas,
as
condições
de
moradia,
a
fome,
a
miséria,
portanto,
a
privação
de
direitos,
através
de
uma
relação
de
assistência
entre
eles
e
a
sociedade
em
que
vivem.
Tendo
em
vista
que
a
exclusão
é
um
construto
sociocultural,
Castel
(2008)
discute
a
necessidade
de
se
estabelecer
mais
rigor
ao
uso
do
termo
exclusão.
Diante
da
heterogeneidade
de
práticas
de
usos
e
significados,
o
autor
estabelece
algumas
modalidades
para
sua
utilização.
Neste
sentido
pode-‐se
exemplificar
quem
são
os
diversos
excluídos:
na
primeira
modalidade,
estão
os
casos
de
condenação
à
morte,
a
expulsão
e
o
genocídio;
na
segunda
a
existência
de
espaços
fechados
e
isolados
na
comunidade
no
seio
mesmo
da
comunidade,
são
as
prisões
para
os
criminosos
e
guetos;
na
terceira
modalidade
não
são
confinadas
as
minorias
por
imposição
econômica
e
ou
raciais,
mas
privadas
de
direitos
e
da
participação
de
atividades
socais.
Por
fim,
visto
essas
modalidades
tão
diversas,
percebe-‐se
claramente
que
a
exclusão
apresenta
traços
comuns,
impõe
uma
condição
específica,
sobre
regras,
aparelhos
especializados
e
se
completa
por
meio
de
rituais.
Observa-‐se
que
as
pessoas
que
não
conseguem
a
inserção
com
relação
ao
trabalho,
à
moradia,
à
cultura
e
à
educação,
sofrem
o
que
é
considerada
uma
forma
de
discriminação
negativa,
portanto,
ameaçadas
de
exclusão.
O
autor
faz
críticas
as
políticas
de
discriminação
positiva,
que
muitas
vezes
estigmatiza
as
populações
nela
envolvidas,
como
uma
tentativa
de
compensar
as
desvantagens
sofridas
por
algumas
categorias
sociais.
Paugam
(2003)
discute
a
perspectiva
da
exclusão
social
fundamentada
em
uma
pesquisa
realizada
na
França,
final
do
século
XX,
no
estudo
é
identificado
fator
histórico
e
econômico
que
contribuem
para
a
condição
de
marginalizados.
Os
sujeitos
entrevistados
tinham
alguma
relação
com
os
serviços
de
assistência
social.
Quanto
à
identidade
dos
sujeitos,
dos
quinze
entrevistados,
ele
focou
em
sete
pessoas
que
foram
separadas
dos
pais
biológicos
quando
criança
em
função
de
alguns
fatores,
tais
como:
meio
social
desfavorecido,
ruptura
familiar
e
violência
doméstica.
Trata-‐se,
portanto,
de
compreender
as
condições
das
pessoas
que
vivem
em
situação
de
pobreza
e
que
de
alguma
forma
apresentam
dependência
em
relação
aos
serviços
sociais.
Ao
refletir
sobre
as
questões
sociais
contemporâneas,
Paugam
(2003)
apresenta
uma
abordagem
em
seus
estudos
sobre
a
temática
chamada
nova
pobreza
e
exclusão
social.
Para
o
autor,
nova
pobreza
corresponde
a
um
status
social
específico,
inferior
e
desvalorizado,
que
marca
a
identidade
de
todos
os
que
vivem
essa
experiência.
Muitas
vezes,
é
consequência
direta
ou
indireta
de
um
passado
familiar,
transmitida
de
geração
em
geração,
de
uma
identidade
aviltante
e
dificuldade
de
inserção
social,
assim
marginalizados.
Por
marginalidade,
entende-‐se
que
com
a
ruptura
dos
vínculos
sociais,
as
pessoas
que
dispõe
de
renda,
não
recebem
ou
jamais
receberam
indenizações
de
direitos
trabalhistas
por
desemprego,
não
são
assistidos,
sobrevivem
de
ajuda
beneficente
e
a
maioria
são
sujeitos
desacreditados
em
função
do
percurso
de
suas
vidas
e
acúmulos
de
fracassos.
Destacam-‐se
ainda,
alguns
fatores
históricos
e
econômicos,
pois,
algumas
dessas
pessoas
não
só
conheceram
a
situação
de
fracasso
desde
sua
infância,
como
também,
enfrentam
dificuldades
de
necessidades
básicas.
No
espaço
escolar
existe
uma
possibilidade
de
análise
das
relações
sociais
a
partir
de
seus
agrupamentos
aleatórios
de
alunas
e
alunos;
na
escola
os
educandos
não
são
agrupados
em
sala
de
aula
por
afinidades,
nem
por
interesse
comum
ou
gênero.
Esse
espaço
é
configurado
pela
diferença,
muitas
vezes
a
sensação
de
não
pertencimento
ocasiona
aos
sujeitos,
nesta
situação,
um
sentimento
de
isolamento
social.
Uma
das
contribuições
desse
estudo
é
que
no
caso
da
educação
formal,
de
alguma
maneira
os
grupos
integrados
não
veem
ou
não
querem
ver
o
que
acontece
nos
espaços
escolares.
Embora
a
questão
do
acesso
escolar
seja
um
discurso
de
inclusão
das
minorias,
os
rótulos
são
distribuídos
entre
alunas
e
alunos,
que
muitas
vezes
não
alcançam
os
objetivos
nesse
espaço,
e
recriem
outros
espaços,
como
forma
de
pertencimento.
No
entanto,
negar
a
desigualdade,
ou
deixar
de
olhar
para
ela
para
não
ser
afetado
pelos
problemas,
não
parecem
ser
soluções
para
o
problema
da
exclusão.
Essa
variável
da
exclusão
tem,
como
consequência,
a
perda
ou
enfraquecimento
dos
laços
sociais,
uma
vez
que,
a
escola
tem
um
papel
fundamental
na
relação
dos
sujeitos
e
sociedade.
As
análises
apontam
para
a
exclusão
educacional
de
alunos
e
alunas
de
contextos
sociais
desfavorecidos,
acreditamos
ser
a
escola
o
espaço
para
a
superação
das
desigualdades
sociais
em
que
vivem.
Referências
CASTEL,
R.
As
armadilhas
da
Exclusão.
In:
WANDERLEY,
M.B.;
BÓGUS,
L.;
YAZBEK,
M.C.
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Desigualdade
e
a
questão
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2.
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2008.
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Nº
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YUNES,
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ALBUQUERQUE,
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entre
as
Crenças
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Psicologia:
Reflexão
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20
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444-‐
453,
2007.
MATTOS,
Carmen
Lúcia
Guimarães
de
Mattos;
FONTOURA,
H.
A
(ORGS).
Etnografia
e
Educação.
Rio
de
Janeiro:
EdUERJ,
2009.
MATTOS,
Carmen
Lúcia
Guimarães;
CASTRO
Paula
Almeida
de;
Fracasso
Escolar
no
Brasil:
Gênero
e
Pobreza.
Janeiro,
RJ,
2010,
185f.
Relatório
Final
de
Pesquisa.
Processo,
400531/2008-‐9
/
ED
032008
HUM/SOC/AP-‐EDITAL
MCT/CNPQ
03/2008.
MATTOS,
Carmen
Lúcia
Guimarães;
CASTRO
Paula
Almeida
de;
Fracasso
Escolar:
Gênero
e
Pobreza.
Rio
de
Janeiro,
RJ,
2010,
82f.
Relatório
Final
de
Pesquisa.
Processo,
479594/2008-‐2
Edital
MCT/CNPq
14/2008
Universal
-‐
Faixa
A.
MATTOS,
Carmen
Lúcia
Guimarães;
CASTRO
Paula
Almeida
de;
ALMEIDA,
Sandra
Maciel
de
Gênero
e
Pobreza:
a
Situação
Educacional
dos
Filhos
e
Filhas
de
Mulheres
Presas
e
dos
Filhos
e
Filhas
de
Jovens
Infratoras
no
Estado
do
Rio
de
Janeiro.
Rio
de
Janeiro,
RJ,
2011,
49f.
Relatório
Final
de
Pesquisa.
Processo,
402781/2008-‐2/
Edital
MCT/CNPq/SPMPR/
MDA
nº
57/2008.
MONTALLI,
Lilia
e
TAVARES,
Marcelo.
Família,
pobreza
e
acesso
a
programas
de
transferência
de
renda
nas
regiões
metropolitanas
brasileira.
Revista
Bras.
Est.
Pop.,
São
Paulo
em
Perspectiva,
v.25,
n.2,
p.
211-‐231,
jul./dez.
2008.
PAUGAM,
Serge.
A
Desqualificação
social:
ensaio
sobre
a
nova
pobreza.
Trads.
Camila
Giorgetti,
Tereza
Lourenço;
pref.
e
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Maura
Pardini
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Veras.
–
São
Paulo:
Educ/Cortez,
2003.
SALMÓN,
Elizabeth
G.
Luta
contra
a
pobreza
e
seu
alentador
encontro
com
os
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humanos.
Revista
Internacional
de
Direitos
Humanos.
Número
7,
ano
4,
2007,
p.
153-‐
167.
SPOSATI,
Aldaísa.
Exclusão
social
abaixo
da
linha
do
equador.
Exposição
apresentada
no
SEMINÁRIO
DE
EXCLUSÃO
SOCIAL,
realizado
na
PUC/SP.
São
Paulo,
1998.
STROMQUIST,
Nelly
P.
A
desigualdade
como
meio
de
vida:
educação
e
classe
social
na
América
Latina.
R.
bras.
Est.
Pedag.
Brasília,
v.
85,
n.
209/210/211,
p.
11-‐28,
jan/dez.
2004.
REFLEXÕES
E
PERSPECTIVAS
SOBRE
A
EDUCAÇÃO
DE
JOVENS
E
ADULTOS
NO
BRASIL
Beatriz
Calazans
Dounis
Apesar
das
garantias
governamentais
de
acesso
a
educação
para
todos
os
indivíduos,
muitos
brasileiros
foram,
pelos
mais
diversos
motivos,
excluídos
da
escola.
Para
recuperar
o
tempo
que
foi
perdido,
jovens
e
adultos
recorrem
a
Educação
de
Jovens
e
Adultos
(EJA),
buscando
uma
reinserção
na
escola
e
novas
oportunidades
tanto
no
mercado
de
trabalho
quanto
em
diversas
outras
áreas
de
sua
vida.
Os
alunos
de
EJA
já
atuam
de
alguma
forma
na
sociedade,
mesmo
com
reduzida
ou
nenhuma
escolaridade,
encontrando-‐se
em
defasagem
idade-‐série
devido
a
inúmeros
fatores
sociais,
econômicos,
políticos,
culturais,
familiares
e
individuais.
Estes
alunos
muitas
vezes
trabalham
em
atividades
consideradas
como
subempregos,
atividades
informais,
ou
ainda
ocupam
posições
mal-‐remuneradas
em
seus
respectivos
trabalhos.
Possuindo
características
próprias,
o
perfil
do
aluno
de
EJA
ainda
é
desconhecido
e
ignorado
por
muitos,
sendo
que
este
aluno
geralmente
pertence
às
classes
menos
favorecidas
e
sofreu
na
maioria
das
vezes,
com
inúmeras
repetências
durante
a
sua
vida
escolar.
O
alunado
de
EJA
é
composto
de
estudantes
que
foram
remanejados
do
Ensino
Regular,
devido
a
dificuldades
de
aprendizagem
ou
indisciplina,
e
também
por
jovens
e
adultos
que
tendo
deixado
a
sala
de
aula
no
passado,
procuram-‐na
novamente
em
um
novo
momento
de
suas
vidas,
delegando
a
escola
o
papel
de
instrumento
transformador
de
suas
realidades
Mas
as
deficiências
relativas
ao
ensino
noturno
ainda
são
muitas,
dificultando
o
pleno
sucesso
na
aprendizagem
destes
educandos.
Para
que
o
aluno
da
EJA
possa
exercer
plenamente
sua
cidadania,
contribuindo
para
o
desenvolvimento
do
país,
é
preciso
que
este
segmento
educacional
seja
valorizado
por
todos
e
que
suas
práticas
de
ensino
e
aprendizagem
sejam
constantemente
revistas,
oportunizando
novas
perspectivas
que
ofereçam
ao
aluno
de
EJA
reais
oportunidades
de
vida.
A
Educação
de
Jovens
e
Adultos
Muitos
alunos,
que
saíram
precocemente
de
suas
escolas,
jamais
retornam
para
as
salas
de
aula,
alimentando
tristes
estatísticas
referentes
à
violência,
criminalidade,
desemprego,
fome
e
falta
de
perspectivas.
Outros
destes
alunos
retornam
para
os
bancos
escolares
com
uma
grande
defasagem
de
idade
e
série.
A
procura
pela
EJA
por
parte
de
alunos
de
todas
as
idades,
e
especialmente
pela
população
jovem,
está
ligada
também
às
crises
gerais
pelas
quais
o
sistema
escolar
tem
passado.
A
interrrupção
dos
estudos
e
a
consequente
ânsia
em
retomá-‐los,
que
movimenta
a
procura
por
este
segmento
revela
que
a
escola
é
um
referencial
importante
para
estes
alunos,
que
confiam
a
ela,
o
papel
de
instrumento
transformador
em
suas
vidas.
Os
jovens
e
os
adultos
já
se
encontram
atuando
na
sociedade
de
alguma
forma,
mesmo
com
reduzida
escolarização
ou
com
total
ausência
de
educação
formal.
Não
é
possível
ignorar
ou
minimizar
a
presença
desta
clientela
no
âmbito
educacional,
mas
é
necessário
que
haja
um
olhar
atento
sobre
as
perspectivas
e
características
dessa
modalidade
de
ensino.
As
constantes
reprovações,
a
falta
de
oportunidades
de
emprego,
a
necessidade
de
uma
inserção
precoce
em
subempregos,
as
faltas
de
opções
de
escolha
na
vida,
os
encontros
e
desencontros
existentes,
e
outras
diferentes
questões
socioeconômicas
determinam
a
interrupção
dos
estudos
formais
de
muitos
indivíduos.
Alguns
alunos
são
jovens
ainda,
mas
migraram
para
a
EJA
devido
às
reprovações,
que
fazem
com
que
estes
estejam
fora
da
faixa
etária
considerada
padrão
para
as
respectivas
séries
do
Ensino
Regular.
No
retorno
ao
ambiente
escolar,
o
aluno
desta
clientela
se
depara
com
uma
série
de
novas
dificuldades
e
desafios
para
o
prosseguimento
de
seus
estudos.
A
escola
noturna,
muitas
vezes
relegada
a
um
segundo
plano
em
termos
educacionais,
não
tem
oferecido
uma
motivação
autêntica
que
venha
a
influenciar
na
relação
do
aluno
com
o
seu
processo
de
aprendizagem.
Existe
uma
carência
de
estratégias
e
materiais
específicos
para
este
segmento,
pois
os
projetos
e
livros
parecem
ter
sido
apenas
“resumidos”
ou
reaproveitados
para
os
alunos
do
noturno.
Ao
analisarmos
determinadas
bibliografias
destinadas
aos
alunos
de
EJA,
encontramos
um
caráter
reducionista
de
conteúdos,
ou
a
mera
transposição
de
temas
infantis
constantes
nos
livros
destinados
ao
Ensino
Regular
para
temas
considerados
mais
adultos.
Os
alunos
de
EJA
dentro
da
realidade
do
Distrito
Federal,
por
exemplo,
podem
ser
divididos
entre
aqueles
que
procuram
uma
escola
próxima
ao
seu
trabalho,
geralmente
na
região
do
Plano
Piloto
(centro
da
cidade,
onde
residem
pessoas
com
um
melhor
poder
aquisitivo)
ou
em
uma
escola
que
fique
perto
de
sua
residência
(
cidades-‐satélites,
agora
denominadas
de
regiões
administrativas,
que
localizam-‐se
na
periferia).
“Na
medida
em
que
a
sociedade
se
vai
desenvolvendo,
a
necessidade
da
educação
de
adultos
se
torna
mais
imperiosa.”
(PINTO,
1997,
p.81).
Ou
seja,
em
uma
sociedade
realmente
disposta
a
rever
seus
rumos
e
a
realinhar
seus
projetos
sociais,
é
preciso
que
haja
uma
constante
preocupação
com
este
segmento
educacional,
pois
os
jovens
e
adultos
que
procuram
a
EJA
são
cidadãos
que
não
podem
ficar
a
margem
de
uma
participação
mais
efetiva
na
sociedade.
Além
das
questões
referentes
ao
abandono
dos
estudos
já
citadas,
existem
causas
deste
fenômeno
que
estão
diretamente
relacionadas
com
a
própria
dinâmica
da
escola.
De
acordo
com
dados
do
Centro
de
Estudos
e
Pesquisas
em
Educação,
Cultura
e
Ação
Comunitária
(Cenpec),
muitas
pesquisas
realizadas
nesta
área
apontam
a
baixa
qualidade
do
ensino
e
a
inadequação
da
escola
aos
jovens
de
camadas
populares
que
a
freqüentam
majoritariamente.
Entre
os
fatores
que
levam
a
este
panorama,
estão
o
desconhecimento
em
relação
ao
público
alvo,
e
as
condições
de
trabalho
as
quais
os
professores
estão
submetidos,
que
os
impedem
de
prosseguir
com
o
aprimoramento
profissional.
Assim
sendo,
“
o
ensino
público
brasileiro
ainda
não
garante
aos
seus
alunos
as
condições
necessárias
e
suficientes
para
o
desenvolvimento
de
uma
relação
pessoal
significativa
com
o
saber,
tão
relevante
para
o
êxito
da
aprendizagem”
(CHARLOT,
2001,
p.33).
A
escola,
mesmo
na
atualidade,
ainda
mantém
práticas
que
não
condizem
mais
com
o
momento
atual
que
a
humanidade
vivencia.
Os
alunos
ainda
são
levados
a
decorar
conceitos,
textos,
ideias,
fórmulas
e
princípios;
a
arrumação
física
das
salas
de
aula
não
modificou-‐se
com
o
tempo,
e
os
professores
continuam
agindo
como
agiram
os
seus
próprios
professores,
repetindo
velhos
dogmas
e
velhas
práticas.
Todo
este
panorama
contribui
para
que
a
aula
seja
considerada
como
uma
obrigação
desagradável
e
alheia
a
todos
os
interesses
naturais
do
ser
humano.
Embora
esta
falta
de
identidade
empurre
milhares
de
jovens
para
fora
dos
portões
escolares,
há
uma
persistente
pressão
social
a
respeito
da
escolaridade.
È
fácil
perceber
que
existe
discriminação
em
todos
os
níveis
da
sociedade
com
as
crianças
que
se
encontram
fora
da
escola,
e
a
realidade
mostra
que
os
jovens
e
adultos
não-‐qualificados
ficam
a
margem
de
boas
posições
no
mercado
de
trabalho,
que
a
cada
dia
torna-‐se
mais
exigente.
A
escola
apresenta-‐se,
pois,
como
uma
mola
propulsora
dos
ideais
contemporâneos,
em
uma
era
onde
a
acumulação
de
saberes
e
de
dinheiro
é
extremamente
valorizada.
Quando
os
alunos
evadidos
retornam
para
a
sala
de
aula,
meses
ou
anos
mais
tarde,
geralmente
encontram-‐se
desgastados,
desmotivados
e
sem
esperança.
Segundo
Brunel
(2004,
p.
21):
“Os
professores
de
EJA
se
deparam
diariamente
com
jovens
que
possuem
um
histórico
de
repetência,
e
abandono
da
escola,
desmotivados
com
a
instituição
e
com
eles
próprios.”
Por
meio
da
fala
de
alguns
profissionais
que
atuam
na
EJA,
Caporalini
(1991,p.107)
expõe
a
situação
marginalizada
que
muitas
vezes
estes
alunos
sofrem:
Os
alunos
são
muito
fracos,
desinteressados,
distraídos,
grau
de
inteligência
baixo,
QI
inferior...
Parece
que
nem
ouvem
direito
[...]
O
aluno
do
noturno,
que
por
suas
peculiaridades,
não
é
capaz
de
receber
a
mensagem
da
forma
como
o
professor
foi
ensinado
a
organizar
e
transmitir,
é
pois,
o
inverso
do
aluno
desejado,
do
aluno
bom.”
(CAPORALINI,
1991,
p.108).
Quando
não
existe
um
preparo
especifico
para
o
professor
que
trabalha
com
a
EJA,
muitas
vezes
a
postura
do
educador
acaba
contribuindo
para
que
o
quadro
de
evasão
e
fracasso
entre
os
alunos
permaneça.
Torna-‐se
urgente
uma
reestruturação
na
dinâmica
de
ensino
para
este
aluno,
que
proporcione
uma
educação
ampla
e
plena,
desprovida
de
atitudes
e
ações
tradicionalistas
e
preconceituosas.
O
professor
que
atua
no
segmento
de
EJA
precisa
possuir
e
desenvolver
habilidades
que
o
tornem
mais
sensível
as
necessidades
e
especificidades
do
público
com
o
qual
trabalha.
É
necessário
conhecer
as
principais
características
do
seu
alunado,
levando
em
conta
as
diferenças
de
idade
existentes
na
sala
de
aula,
os
principais
anseios
e
temores
destes
alunos,
e
ter
a
capacidade
de
perceber
o
que
estes
alunos
pensam
a
respeito
de
si
mesmos
e
do
mundo
que
os
rodeia,
provocando
novas
concepções
e
reflexões
que
possam
levar
este
individuo
a
acreditar
em
si
e
no
outro.
Também
é
essencial
que
o
educador
deste
segmento
desenvolva
em
suas
aulas
elementos
motivadores
para
seus
alunos,
observando
os
interesses
que
estes
alunos
possuem.
Devido
ao
fato
de
que
grande
parte
destes
alunos
enfrentou
um
dia
de
trabalho
ou
muitas
atividades
antes
de
chegar
a
sala
de
aula,
é
preciso
que
a
aula
da
qual
ele
vai
participar
lhe
gere
interesse,
pois
o
desgaste
ao
qual
foi
submetido
pode
contribuir
para
que
não
haja
uma
motivação
natural
pelas
aulas.
Segundo
Brunel
(2004,
p.
36)
“Considerando
a
perspectiva
temporal
do
jovem
e
do
adolescente,
o
momento
atual
tornou-‐se
menos
previsível,
tudo
dependerá
da
escolha
de
cada
um.”
Em
um
passado
não
muito
distante,
era
fácil
prever
como
seria
o
futuro
imediato,
pois
as
opções
eram
mais
limitadas.
Na
dinâmica
do
mundo
atual,
torna-‐se
impossível
visualizar
situações
futuras
com
precisão,
pois
a
modernidade
caracteriza-‐se
como
uma
época
de
profundas
incertezas
em
todos
os
aspectos.
Esta
situação
remete
o
jovem
a
diversas
preocupações
com
o
seu
futuro,
sendo
que
já
não
há
como
precisar
e
nem
garantir
o
sucesso
de
determinadas
escolhas
profissionais.
É
necessário,
pois,
capacitar
o
aluno
para
enfrentar
este
caminho
que
aponta
para
diferentes
probabilidades,
onde
o
desenvolvimento
de
um
espírito
crítico
e
criativo
é
essencial.
O
aluno
que
não
é
considerado
mais
jovem,
mas
sim
um
adulto,
e
que
se
encontra
na
EJA,
requer
também
considerações
a
respeito
de
sua
escolaridade.
Pinto
critica
a
visão
de
que
o
aluno
adulto
é
um
aluno
que
“estacionou”
culturalmente:
A
concepção
ingênua
do
processo
de
educação
de
adultos
deriva
do
que
se
pode
chamar
de
uma
visão
regressiva.
Considera
o
adulto
analfabeto
ou
semiescolarizado
como
uma
criança
que
cessou
de
desenvolver-‐se
culturalmente.
Por
isso,
procura
aplicar
-‐lhe
os
mesmos
métodos
de
ensino
e
até
utiliza
as
mesmas
cartilhas
que
servem
para
a
infância.
Supõe
que
a
educação
de
adultos
consiste
na
retomada
do
crescimento
mental,
considerando
o
adulto,
um
atrasado
(1997,
p.87).
Esta
visão
considera
que
o
aluno
adulto
nada
sabe,
não
valorizando
a
sua
bagagem,
a
sua
experiência
de
vida.
O
aluno
adulto
já
traz
consigo
uma
gama
de
conhecimentos,
formais
ou
informais,
que
adquiriu
ao
longo
de
sua
vida.
Ele
é
na
verdade,
um
cidadão,
o
sujeito
de
seu
próprio
destino.
Cabe
à
escola
potencializar
o
que
o
individuo
já
traz
consigo,
respeitando
o
seu
conhecimento
e
a
sua
maneira
de
ver
o
mundo.
A
educação
é
um
processo
continuo
para
o
ser
humano,
ela
não
começa
e
acaba
de
acordo
com
a
seriação
imposta
pela
escola,
ela
inicia-‐se
a
partir
do
contato
do
individuo
com
o
meio
que
o
cerca,
e
jamais
termina.
“Os
seres
humanos
necessitam
aprender
continuamente
e
o
fazem
dentro
e
fora
da
escola.”
(DELVAL,
2001,
p.07).
Para
que
se
obtenha
sucesso
no
processo
de
ensino
e
aprendizagem
na
EJA,
é
preciso
manter
uma
perspectiva
inovadora
e
reflexiva
em
relação
a
este
segmento
considerando
as
suas
peculiaridades
e
os
objetivos
maiores
a
serem
atingidos
com
o
ensino.
De
acordo
com
Caporalini
(1991,
p.41):
“O
aluno
da
escola
noturna
busca
numa
sala
de
aula
um
pouco
mais
de
educação,
uma
educação
de
boa
qualidade
e
que
atenda
aos
seus
interesses.”
Para
isto,
os
esforços
de
todos
os
envolvidos
nos
processos
de
aprendizagem
devem
ser
somados,
para
que
este
aluno
desenvolva
plenamente
as
suas
potencialidades
na
escola
e
seja
capaz
de
continuar
crescendo
fora
dela.
BRUNEL,
Carmen.
Jovens
Cada
Vez
Mais
Jovens
na
Educação
de
Jovens
e
Adultos.
Porto
Alegre:
Mediação,
2004.
CAPORALINI,
Maria
Bernardete
Santa
Cecília.
A
Transmissão
do
Conhecimento
e
o
Ensino
Noturno.
São
Paulo:
Papirus,
1991.
CHARLOT,
Bernard.
Os
Jovens
e
o
Saber.
Tradução
de
Fátima
Murad.
Porto
Alegre:
Artmed,
2001.
DELVAL,
Juan.
Aprender
na
Vida
e
Aprender
na
Escola.
Porto
Alegre:
Artmed,
2001.
PINTO,
Álvaro
Vieira.
Sete
Lições
Sobre
Educação
de
Adultos.
São
Paulo:
Cortez,
1997
UM
OLHAR
ACADÊMICO
DAS
COTAS
NO
ENSINO
UNIVERSITÁRIO
COMO
FORMA
DE
AÇÃO
AFIRMATIVA
NO
BRASIL
Maythe
de
Bríbean
San
Martin
Pulici
As
ações
afirmativas
(AA)
são
instrumentos
de
aplicação
da
justiça
social.
Sejam
feitas
pelo
Estado
ou
por
instituições
da
sociedade
civil
(como
ONG’s,
associações,
empresas
e
demais
instituições
não
governamentais,
por
exemplo),
as
AAs
se
aplicam
como
uma
forma
de
discriminação
positiva,
na
medida
em
que
põem
em
situação
de
favorecimento
aqueles
grupos
naturalmente
discriminados,
pois
trata-‐se
de
reparar
direitos
negados
aos
indivíduos
de
forma
preventiva,
na
medida
em
que
as
ações
são,
geralmente,
destinadas
a
todo
o
grupo
discriminado
ou
potencialmente
discriminado.
Convém
ainda
ressaltar
que,
para
justificar
a
prática
de
uma
AA,
não
é
preciso
que
haja
dano,
mas
tão
somente
a
possibilidade
do
dano,
advinda
da
própria
condição
dos
grupos
envolvidos.
Atualmente
fala-‐se
em
conceito
moderno
e
conceito
antigo
de
AA.
Guimarães
(1999)
traz
o
entendimento
de
que
no
sentido
antigo,
as
AAs
teriam
caráter
tão
somente
repressivo,
pois
se
destinavam
apenas
a
corrigir
discriminações
passadas.
Já
no
sentido
moderno,
admite-‐se
a
eficácia
preventiva
da
AA,
que
busca
proteger
grupos
potencialmente
discrimináveis;
a
AA
objetiva
não
reparar
um
dano,
mas
evitá-‐lo.
É
certo
que
o
tema
vem
se
tornando
cada
vez
mais
central
e,
consequentemente,
o
conceito
de
AA
vem
se
aprimorando
ao
longo
dos
anos.
No
entanto,
o
cerne
da
questão
para
se
dar
um
caráter
imparcial
à
utilização
do
termo,
adota-‐se
a
AA
como
política
redistributiva,
seja
como
um
método
de
prevenção,
seja
como
um
método
de
reparação,
mas
dissociada
de
conceitos
periféricos.
A
Ação
Afirmativa
e
as
cotas
universitárias
No
contexto
educacional,
os
defensores
do
sistema
de
cotas
consideram-‐no
como
um
meio
de
reparação
a
um
dano
sofrido,
uma
maneira
de
compensar
grupos
historicamente
marginalizados,
que
se
encontram
distantes,
de
alguma
forma,
da
possibilidade
de
disputar
por
uma
vaga
na
universidade.
Ronald
Dworkin,
em
1977,
defende
as
políticas
de
cotas.
Segundo
ele,
a
própria
realidade
das
lutas
contra
o
preconceito
e
diminuição
social
e
racial
se
encarregou
de
mostrar
a
eficiência
desse
sistema.
Ele
(1985)
critica,
em
Uma
Questão
de
Princípios,
a
decisão
da
Suprema
Corte
americana,
na
década
de
70,
no
caso
Bakke,
quando
um
estudante
branco
foi
reprovado
para
o
curso
de
medicina
da
Universidade
da
Califórnia
após
instituição
de
um
programa
de
AA
em
que
negros
passaram
a
precisar
de
nota
menor
para
admissão.
Para
ele,
ao
inadmitir
a
legalidade
do
sistema
de
cotas
adotado,
a
Suprema
Corte
não
analisou
a
fundo
a
questão
principal,
limitando-‐se
ao
caso
concreto
apresentado,
ao
invés
de
discutir
o
tema
da
discriminação
negativa,
inclusive
fixando
os
parâmetros
necessários
para
que
fosse
atendida
a
legalidade
das
medidas.
Mas,
para
que
o
estudo
sobre
Ação
Afirmativa
em
Educação
seja
realizado,
é
preciso
inicialmente
dissociar
o
conceito
de
AA
do
conceito
de
cotas,
ou
reserva
de
vagas
no
ensino
universitário.
AA
é
um
conceito
genérico
que
denota
um
fazer,
seja
do
Estado,
seja
de
um
particular,
objetivando
corrigir
desigualdades.
Já
o
sistema
de
cotas
foi
um
mecanismo
criado
para
aplicar
uma
medida
de
AA.
Isto
é,
cotas
são
um
tipo
de
AA,
não
seu
significado.
O
presente
trabalho
tentou
analisar
a
Ação
Afirmativa
na
Educação,
através
de
um
estudo
teórico-‐conceitual
sobre
teses
e
dissertações
publicadas
no
período
de
1987
e
2010
no
Brasil,
cujo
tema
de
estudo
se
concentrasse
em
Ações
Afirmativas
na
área
da
Educação.
Para
tanto,
fez-‐se
a
interface
entre
as
obras
publicadas
por
instituições
acadêmicas,
em
que
foi
possível
identificar
problemas
e
soluções
comuns,
pontos
de
divergência
como
base
para
o
aparecimento
de
novas
questões
a
serem
estudadas,
métodos
e
meios
de
pesquisa
comumente
utilizados,
além
de
observar
novas
aplicações
para
as
ações
afirmativas
na
sociedade
contemporânea
no
Brasil
no
que
diz
respeito
à
Educação.
Procurou-‐se
conexões
teóricas
entre
diferentes
estudiosos
do
tema,
tendo
como
preocupação
principal
estudar
essas
interconexões
e
explorar
as
principais
teorias,
métodos
de
estudo
e
resultados
de
pesquisas
sobre
AA
em
Educação,
sem
deixar
de
lado
a
busca
pelos
fundamentos
teórico-‐epistemológicos
evidenciados
nos
textos,
de
modo
a
identificar
ideologias,
problemas,
questões
e
pressupostos
conceituais.
A
abordagem
metodológica
desenvolvida
foi
pautada
no
tipo
de
pesquisa
qualitativa
de
natureza
bibliográfica
a
partir
de
teses
e
dissertações
digitalizadas
disponibilizadas
pelo
portal
da
CAPES.
O
método
de
análise
foi
indutivo,
utilizando
como
recursos
para
a
análise
de
conteúdo
a
realização
de
mapas
conceituais
sobre
AA
e
o
software
Atlas.ti.
Os
resultados
foram
pautados
em
categorias
teórico-‐epistemológicas
com
o
tema
–
Ação
Afirmativa.
Foram
encontradas,
portanto,
206
teses
e
dissertações
pertinentes
ao
tema
AA.
Após
leitura
dos
títulos
e
resumos,
estes
textos,
emergiram
as
seguintes
categorias
teórico-‐conceituais:
Cotas
(educação),
Negros,
Ações
Afirmativas
Genericamente
Tratadas,
Mulheres,
Índios,
Homossexuais,
Deficientes
e
Idosos.
A
figura
1
a
seguir
demonstra,
numérica
e
percentualmente,
a
divisão
dos
206
textos
pré-‐selecionados,
por
categoria.
Figura
1
-‐
Representação
das
Categorias
dentre
os
206
textos
previamente
selecionados
CATEGORIA
QUANTIDADE
REPRESENTAÇÃO
Cotas
98
47,7%
Negros
52
25,3%
AA
Genericamente
Tratadas
22
10,8%
Deficientes
13
6,3%
Mulheres
11
5,4%
Índios
3
1,4%
Idosos
1
0,49%
Homossexuais
1
0,49%
Excluídas*
4
1,95%
Total
206
100%
Fonte:
O
autor,
2012
Como
é
possível
notar
na
figura
1,
é
evidente
a
relevância
da
categoria
cotas
dentre
os
textos
acadêmicos
sobre
Ação
Afirmativa,
já
que
corresponde
a
quase
metade
do
total
de
textos
selecionados.
A
análise
desta
figura
indicou
ainda
ser
possível
tomar
estes
documentos
como
um
conjunto
definido
de
dados
que
permite
um
estudo
de
natureza
teórico
conceitual,
permitindo
visualizar
o
conteúdo
em
sua
totalidade
e
ao
mesmo
tempo
em
sua
particularidade,
isto
é,
do
geral
para
o
particular,
voltando-‐se
ao
geral
(Mattos,
2011).
Após
a
seleção
das
categorias
teórico
conceituais
procedeu-‐se
à
análise
epistemológica
dos
textos
que
pautavam
sobre
cotas
de
forma
detalhada
e
crítica,
utilizando
mapas
conceituais.
Tentou-‐se
através
deste
estudo
trazer
à
luz
os
pressupostos
teóricos
conceituais,
epistemológicos
e
metodológicos
utilizados
pelos
autores
como:
teorias,
ideias
que
orientaram
esses
estudos,
foco
dos
trabalhos,
dentre
outros.
Os
mapas
conceituais
foram,
portanto,
formulados
na
tentativa
de
responder
as
seguintes
questões:
1)
Qual
o
foco
da
pesquisa;
2)
Qual
a
metodologia
utilizada;
3)
Qual
a
abordagem
teórica;
4)
Quais
foram
os
autores
mais
citados;
5)
Qual
a
população
atingida
pela
ação
afirmativa
em
estudo;
6)
Como
a
ação
afirmativa
é
tratada
no
trabalho;
e
por
fim,
7)
O
posicionamento
teórico
epistemológico
e
ideológico
dos
pesquisadores
sobre
o
tema.
Ao
responder
estas
perguntas,
os
mapas
representaram
o
conjunto
de
conceitos
construídos
neste
trabalho
e
sua
pertinência
ao
tema
AA.
Dentre
as
206
teses
e
dissertações
que
têm
em
seu
título
ou
resumo
o
termo
“ação
afirmativa”,
47,57%,
ou
seja
98
textos,
têm
por
objetivo
tratar
de
cotas,
sejam
elas
para
grupos
étnicos
ou
carentes.
Curioso
notar
ainda
que
dos
98
trabalhos,
89,
portanto
90,8%
dos
textos
alocados
na
categoria
Cotas,
tangem
o
ensino
universitário,
seja
para
negros,
índios
ou
carentes.
Subentende-‐se,
portanto,
que
dentre
a
categoria
Cotas
prevalecem
os
estudos
sobre
cotas
universitárias
e,
ainda
mais
especificamente,
cotas
universitárias
para
negros.
Destes
98
textos,
18
foram
analisados
por
meio
de
mapas
conceituais
sem
preocupação
quantitativa,
já
que
este
estudo
é
qualitativo
de
natureza
indutiva.
Da
leitura
dos
mapas
conceituais
foi
possível
inferir
a
ideia
central
de
cada
texto,
o
contexto
em
que
foi
produzido,
seu
foco
e
o
posicionamento
do
autor
sobre
o
tema.
Com
esta
análise
detalhada
dos
textos
completos
possibilitou-‐se
visualizar
um
panorama
dos
estudos
acadêmicos
sobre
AA
em
Educação,
demonstrando
prós
e
contras
sobre
elas,
bem
como
foi
possível
identificar
ligações
entre
os
termos
associados
como
negros,
cotas,
deficientes,
mulheres
e
outros
grupos
que,
muitas
vezes,
se
interligam.
Ainda
emergiram,
após
a
leitura
dos
18
textos
completos
que
foram
selecionados
para
este
estudo,
subcategorias,
apresentadas
na
figura
2
a
seguir.
Figura
2
-‐
Subcategorias
dos
18
textos
completos
analisados
CATEGORIA
REFERÊNCIAS
SUBCATEGORIAS
COTAS
Almeida(2003)
Negros
+
Carentes
Duarte(2010)
Negros
Estácia(2009)
Carentes
Franco(2006)
Carentes
Freitas(2006)
Negros
+
Carentes
Gonçalves(2006)
Negros
Gontijo(2008)
Carentes
Moehlecke(2004)
Negros
Hazin(2010)
Negros
Lima(2007)
Negros
Marques(2010)
Negros
Muniz(2009)
Negros
Nascimento(2010)
Negros
+
Carentes
+
Indígenas
Handerson(2010)
Negros
Jacomini(2007)
Indígenas
Linhares(2006)
Carentes
Mendes(2007)
Negros
Zylberstajn(2010)
Carentes
Fonte:
O
autor,
2012
Com
base
na
figura
2
acima,
pode-‐se
afirmar
que
75%
(9
textos)
dos
autores
se
colocam
a
favor
das
cotas,
enquanto
25%
(3
textos)
apresentam
pareceres
imparciais
sobre
o
tema.
É
relevante
ressaltar
que
dos
12
textos
da
subcategoria
negros
analisados,
nenhum
se
declarou
contra
a
aplicação
desta
forma
de
ação
afirmativa.
O
mesmo
não
acontece
com
restante
das
subcategorias,
como
por
exemplo
cotas
para
carentes.
Neste
grupo,
nota-‐se
a
existência
de
autores
a
favor,
autores
contra
e
aqueles
de
opinião
imparcial
sobre
o
tema,
o
que
demonstra
uma
tendência
quase
que
natural
a
favor
das
cotas
para
negros
como
AA,
principalmente
nas
universidades,
o
que
se
comprova
pela
figura
3
abaixo:
Figura
3
-‐
Posicionamento
dos
autores
dos
textos
analisados
SUB-‐CATEGORIAS
TOTAL
A
FAVOR
CONTRA
NEM
A
FAVOR,
NEM
CONTRA
NEGROS
12
9
0
3
INDÍGENAS
1
1
0
-‐
CARENTES
5
2
1
2
TOTAL
18
12
1
5
Fonte:
O
autor,
2012
Estas
subcategorias
apresentadas
na
figura
3
acima
foram
minuciosamente
exploradas
nas
análises
dos
textos,
a
seguir,
bem
como
pelos
mapas
conceituais
constantes
no
apêndice
1.
Análises
dos
textos
Os
autores
dos
textos
completos
analisados
compartilham,
em
sua
maioria,
de
opiniões
a
respeito
do
tema,
já
que
a
maioria
se
mostra
a
favor
da
reserva
de
vagas
para
o
ensino
superior,
como
se
pode
notar
na
figura
7
acima,
bem
como
da
população
focada
em
seus
estudos,
em
que
a
grande
maioria
é
negra.
Alguns
textos
também
mostraram
evidência
da
intervenção
da
mídia
no
que
diz
respeito
à
divulgação
do
tema.
Não
se
trata
aqui
da
opinião
pública
gerada
por
este
debate
midiático,
mas
sim
de
sua
influência
e
contribuição
para
as
produções
acadêmicas
sobre
o
tema
AA
(FRY,
2007).
Neste
sentido,
foram
identificados
três
trabalhos,
dentre
os
18
textos
completos
analisados,
identificados
na
categoria
Cotas,
que
se
enquadram
neste
contexto.
Moehlecke
(2004)
concentra
seu
foco
na
percepção
pública
quanto
às
ações
afirmativas
em
forma
de
cotas
nas
universidades,
principalmente
nas
reservas
de
vagas
para
negros.
Partindo
da
premissa
de
que
o
ambiente
universitário
é
residência
da
meritocracia
liberal,
ele
observa
a
opinião
pública
a
respeito
do
tema,
confrontando
posicionamentos
acadêmicos
de
brasileiros
e
americanos
no
que
diz
respeito
a
este
debate,
e
reforça
o
estudo
com
uso
de
pesquisa
de
campo
qualitativa,
em
que
realiza
entrevistas
com
alunos
do
3º
ano
da
Universidade
de
São
Paulo
–
USP.
Através
de
questionário,
buscou
principalmente,
“encontrar
quais
eram
as
variáveis
a
influenciar
as
diferentes
posições
existentes
acerca
de
políticas
voltadas
para
a
igualdade
racial
e
para
o
acesso
ao
ensino
superior.”
(Moehlecke,
2004,
p.27).
O
texto
contextualiza
a
democratização
do
acesso
ao
ensino
desde
a
década
de
60,
confronta
discursos
universalistas
e
comunitaristas,
aprofunda
os
estudos
sobre
o
debate
midiático
acerca
da
ação
afirmativa
no
país,
e
expõe
a
experiência
de
ação
afirmativa
nos
Estados
Unidos,
principalmente
no
que
diz
respeito
ao
desenvolvimento
do
acesso
ao
ensino
superior,
trazendo
à
luz
o
estudo
do
caso
da
Universidade
da
Califórnia
em
Berkeley.
Apresenta
contextualização
sobre
raça,
cor
e
discriminação
racial,
tanto
no
contexto
global
como
no
contexto
brasileiro,
bem
como
da
meritocracia
e
da
aristocracia
brasileira,
para,
por
fim,
apresentar
a
reserva
de
vagas
como
uma
forma
de
ação
afirmativa
capaz
não
de
resolver
todos
os
debates
em
seu
texto
apresentados,
porém
movimentar
as
políticas,
as
pessoas
e
as
instituições
em
direção
a
uma
realidade
cuja
igualdade
não
será
fator
tão
distante.
Já
Franco
(2006)
convida
para
uma
reflexão
sobre
questões
paradoxais
a
respeito
da
política
de
cotas
no
Brasil,
no
que
diz
respeito
à
percepção,
ao
entendimento
extraído
dos
debates
midiáticos
impressos
publicados
nos
anos
de
2004
e
2005
nos
principais
jornais
e
revistas
do
país.
Para
tanto,
investiga
conceitos
como
futuro
e
liberdade,
tempo
e
justiça,
na
contextualização
do
pensamento
paradoxal
contemporâneo,
cuja
variedade
de
intensidade,
de
modulação
e
de
sentido
levou
a
autora
a
tratar
o
tema
como
‘espectros
na
mídia’.
Gonçalves
(2006),
ainda
no
contexto
midiático,
investiga
o
debate
público
da
adoção
de
políticas
de
ação
afirmativa
na
educação
brasileira
para
afrodescendentes,
principalmente
no
que
diz
respeito
à
reserva
de
vagas
nas
universidades
brasileiras.
Discute
modelos
de
universidades
no
mundo
contemporâneo
e
a
relação
entre
o
ensino
básico,
a
inclusão
das
classes
menos
favorecidas
e
a
demanda
pelo
acesso
ao
ensino
superior.
Posteriormente,
faz
análise
crítica
de
notícias
midiáticas
sobre
a
questão
das
ações
afirmativas
nos
principais
jornais
brasileiros,
julgando-‐as
como
ainda
muito
acanhadas
e
inexpressivas
mediante
a
importância
do
tema.
Partindo
do
pressuposto
de
que
políticas
universais
neoliberalistas
somente
perpetuam
as
desigualdades,
afirmando
ser
este
o
caso
do
Brasil,
a
autora
deixa
clara
sua
opinião
de
que
é
necessário
que
haja
confronto
das
mais
diversas
opiniões
com
vontade
e
coragem
política
para
que
mudanças
significativas
aconteçam.
Por
fim,
sugere
“que
o
Estado
saia
do
seu
berço
esplêndido,
da
sua
sumária
comodidade,
e
combata
de
uma
forma
afirmativa
a
exclusão
racial
e
social
dos
afro-‐brasileiros.”
(Gonçalves,
2006,
p.100),
lembrando
que
a
Constituição
Federal
de
1988
apresenta
o
Estado
brasileiro
como
agente
regulador
dos
problemas
da
exclusão
de
grupos
menos
favorecidos,
porém
só
reservou
tais
direitos
às
mulheres
e
deficientes
físicos,
mas
ainda
não
aos
negros,
que
compõem
a
maioria
dos
pobres
do
país.
Mais
afastada
do
debate
público
na
mídia,
Almeida
(2003)
tem
sua
pesquisa
pautada
no
cenário
do
ano
letivo
de
2002
do
curso
de
Serviço
Social
da
PUC
–
Rio,
em
que
98%
dos
alunos
matriculados
eram
afrodescendentes
ou
oriundos
de
pré-‐
vestibulares
comunitários.
A
autora
realiza
estudo
de
caso
focada
na
diversidade
cultural
destes
alunos.
Para
tanto,
versa
sobre
as
Ações
Afirmativas,
questiona
sua
origem
norte-‐americana
e
sua
aplicabilidade
para
os
negros
no
Brasil,
bem
como
suas
perspectivas.
A
partir
daí,
dá
início
à
pesquisa
qualitativa,
por
meio
de
entrevistas
pessoais
semiestruturadas
com
professores
e
alunos
deste
ano
letivo,
obtendo
assim
a
percepção
real
de
cada
um,
tanto
individualmente,
a
respeito
do
tema
estudado,
como
coletivamente,
no
que
diz
respeito
à
relação
interpessoal
existente
entre
estes
atores
dentro
do
contexto
analisado.
Salvo
exceções,
apresenta
consenso
entre
as
opiniões
dos
alunos
e
corpo
docente
sobre
o
enriquecimento
cultural
do
ambiente
universitário
devido
ao
multiculturalismo
que
vem
habitando
as
salas
de
aula
nos
últimos
tempos,
democratizando
a
universidade
e
expressando
de
modo
mais
evidente
a
realidade
brasileira,
inclusive
suas
dificuldades,
desafios
e
preconceitos.
Dá
apoio
às
Ações
Afirmativas
focadas
na
inserção
de
grupos
sociais
culturalmente
discriminados
às
universidades
brasileiras.
A
autora
demonstra
sua
opinião
a
favor
das
ações
afirmativas
em
forma
de
cotas
universitárias,
considerando-‐as,
como
uma
forma
de
combate
à
desigualdade.
Vale
ressaltar
a
importância
dada
por
Almeida
em
seu
trabalho
sobre
AA
à
percepção
de
cada
entrevistado
quanto
ao
conceito
de
ser
negro,
notada
mais
claramente
ainda
na
dissertação
de
Muniz
(2009),
que
ao
redigir
seu
texto,
parte
de
duas
principais
premissas;
1)
“a
noção
de
raça
foi
ressignificada
positivamente
para
atender
às
reivindicações
do
povo
negro”
(Muniz,
2009,
p.
XI),
e
2)
“é
impossível
dissociar
as
políticas
públicas
das
políticas
de
identidades.”
(Muniz,
2009,
p.
XI).
O
texto
é
dominado
pela
constante
interrogação
sobre
a
condição
humana,
e
considera
a
‘essencialização’
da
identidade
negra
como
um
trunfo
linguístico
e
político,
imprescindível
para
a
aquisição
de
direitos
historicamente
negados.
Traz
ainda
análise
documental
pautada
no
estudo
de
resoluções
das
universidades
UNEB,
UFBA,
UERJ
e
UNB,
em
que
se
buscou
identificar
como
cada
uma
dessas
instituições
de
ensino
superior
que
utilizam
as
cotas
em
seus
cursos
trata
o
“ser
negro”
no
que
diz
respeito
ao
ingresso
por
meio
de
reserva
de
vagas
para
negros.
A
autora
demonstra
que
há,
ainda,
uma
grande
dificuldade
para
definir,
delimitar
as
possibilidades
de
existências
negras
no
Brasil,
e
julga
este
fenômeno
como
advindo
da
necessidade
de
revisão
do
conceito
de
raça,
que
tem
mudado
constantemente
nos
últimos
tempos,
e
levanta
também
a
questão
da
branquitude,
abrindo
precedente
para
novos
estudos
a
respeito,
concluindo
sobre
o
déficit
deste
tipo
de
estudo
no
universo
acadêmico.
Já
Lima
(2007),
segue
com
raciocínio
paralelo
quanto
à
abordagem
da
percepção
do
ser
negro,
e
utiliza-‐se
da
premissa
de
que
uma
das
formas
mais
aceitas
de
classificação
de
identidade
étnico-‐racial
para
participação
de
sistemas
de
cotas
é
a
autodeclaração.
Para
nortear
as
entrevistas,
utiliza-‐se
de
duas
perspectivas
que
lhe
permitiram
analisar
as
respostas
dos
participantes:
“Atribuição
de
uma
identidade
objetiva
para
o
auto
reconhecimento”
(Lima,
2007
p.
99)
e
“Identidade
subjetivamente
apropriada
por
uma
identificação
a
partir
dos
outros”
(Lima,
2007
p.
106),
em
que
pôde
verificar
as
percepções
do
ser
negro
a
partir
das
“ideias
de
raça
e
racismo
que
perpassam
o
discurso
dos
estudantes
autodeclarados
negros
beneficiados
pelo
PROUNI.”,
chegando
então
à
conclusão
de
que,
sob
uma
ou
outra
perspectiva,
a
percepção
da
maioria
prevaleceu
na
inferioridade
da
raça.
Quanto
às
ações
afirmativas,
o
autor
compila
a
opinião
dos
participantes:
são
unanimemente
a
favor
das
cotas
e
não
estariam
estudando
por
falta
de
recurso
se
não
fossem
elas,
e
apresenta
a
sua,
de
que
as
AAs
devem
sim
existir,
no
que
diz
respeito
ao
acesso
às
universidades
para
afrodescendentes,
mesmo
tendo
sido
construída
neste
“grande
campo
de
encontro
e
desencontros
identitários
em
busca
de
sentidos”.
Outros
autores,
como
Duarte
(2010),
Estácia
(2009),
Linhares
(2006),
Freitas
(2006),
Marques
(2010)
e
Nascimento
(2010)
seguem
na
mesma
linha
conceitual
quanto
às
AAs
sob
a
forma
de
reserva
de
vagas
nas
universidades,
tomando-‐as
como
método
de
combate
à
desigualdade
ou,
em
menor
evidência,
justiça
redistributiva
e/ou
de
reparação
de
desigualdades
sociais.
Duarte
(2010)
considera
a
implementação
de
políticas
de
ação
afirmativa
voltadas
para
o
acesso
à
educação,
especialmente
de
ensino
superior,
como
forma
de
minimizar
os
níveis
de
desigualdade
étnico-‐raciais.
Utiliza
de
exemplo
próprio,
enquanto
professora
negra,
para
ilustrar
o
trabalho
e
apoiar
a
necessidade
de
estudos
voltados
ao
tema.
Conclui,
por
meio
de
pesquisa
de
campo
qualitativa
(estudo
do
caso
IFPA
e
vasta
revisão
bibliográfica)
quão
importante
vem
se
mostrando
as
políticas
de
AA
para
o
acesso
à
universidade,
e
abre
discussão
sobre
necessidade
de
novas
formas
de
AA
para
incentivo
à
permanência
dos
estudantes
negros
e,
em
menor
ênfase,
pobres,
carentes
e
indígenas,
no
ensino
superior
brasileiro.
Já
Estácia
(2009)
define
seu
problema
de
pesquisa
como
entender
a
trajetória
dos
beneficiados
do
ProUni
até
e
durante
a
universidade
partindo,
para
tanto,
da
hipótese
de
que
os
mesmos
tinham
dificuldades
diversas
com
relação
ao
ingresso
e
permanência
no
ensino
superior.
Para
dar
continuidade
à
pesquisa,
entrevistou
14
alunos
bolsistas
do
Programa
(de
diversos
cursos)
e
quatro
não
bolsistas,
no
intuito
de
observar
e
analisar
a
desigualdade
social
dentro
do
contexto
universitário
ali
vivenciado
e
sua
redução
com
base
nas
políticas
de
inclusão
social
realizadas
pelo
projeto
foco
do
estudo,
o
ProUni
de
Passo
Fundo,
em
Minas
Gerais.
Linhares
(2006)
tem
como
objetivo
principal
de
sua
pesquisa
analisar
a
implantação
do
sistema
de
cotas
como
política
pública
voltada
à
concretização
das
ações
afirmativas
no
ensino
superior
brasileiro,
partindo
do
principio
de
que
o
ambiente
universitário
é,
comprovadamente,
preenchido
por
uma
grande
maioria
branca,
e
que
a
situação
do
negro
no
Brasil,
assim
como
em
outros
países
que
também
passaram
por
sistema
escravagista,
é
de
inferioridade
social,
econômica
e
cultural.
Para
tanto,
faz
investigação
aprofundada
sobre
as
AAs,
e
seguidamente,
sobre
as
AAs
sob
a
forma
de
cotas,
sejam
étnicas,
socioeconômicas,
religiosas,
raciais
ou
de
gênero.
Analisa
ainda
os
aspectos
históricos
e
políticos
da
implantação
do
sistema
de
cotas
no
mundo
e
verifica
os
critérios
para
adoção
deste
sistema
no
Brasil,
trazendo
à
baila
os
estudos
de
casos
de
três
universidades
no
país,
enquanto
Freitas
(2006)
avalia
o
Programa
Brasil
Afroatitude
implantado
em
2005
pelo
Programa
Nacional
de
DST
e
Aids,
que
consiste
na
concessão
de
cinquenta
bolsas
de
estudo,
durante
um
ano,
para
alunos
negros
cotistas
que
desenvolvam
estudos
associados
aos
temas
Aids
e
Racismo
em
universidades
públicas
que
adotam
o
sistema
de
cotas,
especificamente
na
Universidade
de
Brasília.
Faz
análise
descritiva
da
teoria
do
programa
e
realiza
entrevistas
com
professores,
alunos
e
gestores.
O
estudo
conclui
que
o
programa
contribuiu
para
a
permanência
do
aluno
bolsista,
para
a
sua
inserção
em
atividades
de
ensino
e
para
seu
envolvimento
com
os
temas
Aids
e
racismo.
A
autora
sugere
que
o
texto
possa
servir
como
um
modelo
de
avaliação
do
programa,
também
implantado
em
outras
universidades
do
país.
Marques
(2010)
parte
do
pressuposto
de
que,
“embora
o
ProUni
seja
uma
política
focalizada,
elaborada
no
contexto
neoliberal,
pode
representar
uma
estratégia
de
acesso
e
permanência
para
jovens
negros
na
educação
superior”
(Marques,
2010,
s/n).
Tenta
verificar
por
meio
de
estudo
de
caso
e
revisão
bibliográfica
se
o
ProUni
pode
ser
considerado
como
uma
conquista
dos
Movimentos
Sociais
Negros.
Realiza
um
confronto
teórico
a
respeito
das
contradições
sobre
as
ações
afirmativas,
o
sistema
de
cotas
e
o
ProUni.
Fortalece
o
estudo
com
a
aplicação
de
questionário
socioeconômico
e
entrevistas
semi-‐estruturadas
com
acadêmicos
negros
de
duas
faculdades
do
Mato
Grosso
do
Sul
e
conclui,
quanto
aos
problemas
relacionados
ao
acesso
dos
jovens
negros
ao
ensino
superior,
que
“[...]
certamente
não
serão
solucionados
por
intermédio
do
ProUni
e
pelas
políticas
focalizadas;
poderão,
contudo,
ser
gradativamente
extintos
[...]”
(Marques,
2010,
s/n)
e
Nascimento
(2010)
relaciona
o
conceito
de
ação
afirmativa
e
o
processo
de
universalização
de
direitos.
Trata
as
políticas
de
cotas
e
outras
políticas
de
acesso
e
permanência
para
pobres,
negros
e
indígenas
como
frutos
concretos
mais
notórios
deste
debate,
considerando
ainda
os
Cursos
Pré-‐Vestibulares
Populares
como
base
social
de
fundamentação
de
novas
políticas
de
ação
afirmativa.
Complementa
o
texto
com
vasta
revisão
bibliográfica
a
respeito
do
racismo,
desigualdades
e
ações
afirmativas
no
Brasil,
sempre
correlacionando
as
temáticas
teóricas
com
o
Movimento
dos
Cursos
Pré-‐Vestibulares
Populares.
Em
relação
aos
indígenas,
Jacomini
(2007)
Com
base
na
Lei
Estadual
nº.
13.134,
de
18
de
abril
de
2001
e
da
Lei
nº.
14.995
de
09/01/2006,
que,
em
complementação,
obriga
as
universidades
paranaenses
a
oferecer
6
(seis)
vagas
para
indígenas
por
ano,
a
autora
estuda,
neste
trabalho,
as
políticas
para
a
educação
superior
a
partir
dos
anos
1990
e
suas
consequentes
políticas
de
ação
afirmativa,
bem
como
a
educação
superior
para
as
populações
indígenas
e,
mais
especificamente,
a
inserção
dos
guarani
e
kaingang
no
ensino
superior
paranaense.
A
autora
apresenta,
ainda,
as
dificuldades
que
estes
alunos
enfrentaram,
as
demandas
que
esses
novos
alunos
trouxeram
para
a
universidade
e
a
percepção
e
discussões
a
respeito
do
tema
dentre
os
alunos
não
indígenas,
no
contexto
do
ensino
superior
brasileiro.
Trata
ainda
essa
forma
de
ação
afirmativa
como
uma
política
inovadora
e
positiva,
que
vem
a
cada
dia
sendo
problematizada,
à
medida
que
traz
desafios
para
todas
as
instâncias
a
ela
relacionadas.
Gontijo
(2008)
e
Zylberstajn
(2010)
mudam
o
padrão
de
concordância
dos
autores
acima
citados,
questionando
a
efetividade
das
ações
afirmativas
representadas
por
reserva
de
vagas
nas
universidades,
no
que
se
refere
à
relação
custo
versus
esforço
dos
pré-‐vestibulandos
futuramente
detentores
de
vagas
pelo
sistema
de
cotas.
A
primeira
estuda
as
consequências
que
a
introdução
das
cotas
para
o
ensino
superior
pode
ter
no
esforço
de
estudantes
em
idade
pré-‐vestibular
e
mensura
os
prós
e
contras
das
ações
afirmativas
com
relação
ao
aprendizado
escolar
dos
alunos
pelo
sistema
de
cotas.
Para
tanto,
faz
revisão
bibliográfica
e
demonstração
hipotética
minuciosa
de
cor
versus
habilidade,
trazendo
à
prática
simulações
por
meio
da
utilização
da
teoria
dos
jogos,
com
ênfase
nas
variáveis
custo
e
esforço,
enquanto
Zylberstajn
(2010),
parte
da
mesma
premissa
e
apresenta,
em
seu
trabalho,
um
modelo
teórico
que
explicita
condições
para
que
as
duas
situações
(aumento
ou
diminuição
do
esforço)
ocorram,
mostrando
ainda
que
as
consequências
das
cotas
podem
ser
heterogêneas,
dependendo
das
características
dos
indivíduos
afetados.
Tanto
um
quanto
outro
conclui,
cada
um
a
seu
modo,
que
a
implementação
do
sistema
de
cotas
pode
tanto
incentivar
os
alunos
mais
esforçados
a
alcançar
melhor
desempenho,
como
também
manter
os
alunos
menos
esforçados
em
uma
posição
de
conforto,
deixando
assim
estes
de
aprimorar
suas
habilidades
ou
mesmo
adquirir
novas.
Ambos
demonstram
preocupação
com
o
comprometimento
do
acumulo
(ou
a
falta
dele)
de
capital
humano,
enquanto
Gontijo
(2008)
sugere
em
seu
texto
que
novas
pesquisas
acadêmicas
sobre
este
tema
pontual
sejam
realizadas.
O
debate
acadêmico
a
respeito
das
cotas
universitárias
abre
também
espaço
à
seara
jurídica.
Mendes
(2007)
se
dispõe
a
promover
o
debate
sobre
as
cotas
raciais
nas
universidades
a
partir
de
estudo
de
pressupostos
teóricos
e
da
avaliação
do
período
inicial
da
implementação
de
políticas
de
ações
afirmativas
em
universidades
públicas
estaduais
e
federais,
reivindicando
seu
caráter
emancipatório,
promotor
dos
direitos
de
cidadania
e
democratizante
do
espaço
universitário,
apresentando
como
justificativa
a
esse
“convite”
o
fato
de
que
existe
um
quadro
de
exclusão
dos
afrodescendentes
no
cenário
social
brasileiro
e,
por
conta
disso,
devemos
buscar
estratégias
e
políticas
públicas
de
combate
à
discriminação
racial.
Por
sua
vez,
Hazin
(2010)
enfatiza
as
discussões,
conflitos
e
problemáticas
que
passaram
a
envolver
o
tema,
seja
na
mídia,
nas
arenas
universitárias
ou
políticas,
mas
se
concentra
na
seara
jurídica,
pois
nela
residem
os
maiores
debates
a
respeito
da
legitimidade
do
instituto
das
cotas
em
face
do
princípio
constitucional
de
isonomia.
Neste
contexto,
a
autora
segue
descrevendo
a
noção
contemporânea
de
Ação
Afirmativa,
apresentando
algumas
de
suas
definições,
princípios
e
objetivos
mais
consagrados
na
academia
e
na
mídia
nos
tempos
atuais,
estuda
a
noção
de
igualdade
jurídica
no
Direito
e
discorre
sobre
Projetos
de
Lei
a
respeito
do
tema,
analisando
inclusive
as
interpretações
de
juristas
brasileiros
quanto
ao
princípio
constitucional
de
igualdade.
Traz
à
luz
debates
jurídicos
a
respeito
das
cotas
raciais
nas
universidades,
apresentando
argumentações
favoráveis
e
desfavoráveis
acerca
do
tema
e,
por
fim,
expõe
os
principais
aspectos
do
debate
travado
entre
os
grupos
Universalista
e
Particularista
acerca
da
política
de
cotas
raciais
no
Brasil,
que
compõem
o
estudo
de
caso
apresentado
pelo
trabalho.
Conclui,
então,
a
autora,
que
apesar
da
contradição
argumentativa
dos
dois
grupos,
ambos
compartilham
de
um
mesmo
objetivo:
“reduzir
o
racismo
existente
no
bojo
da
sociedade
brasileira”
(Hazin,
2010,
p.
125)
Portanto,
faz-‐se
necessário
um
posicionamento
definitivo
do
STF
para
que
uma
efetiva
política
de
cotas
raciais
no
Brasil
possa
ser
finalmente
implantada.
Sob
a
perspectiva
da
Filosofia
do
Direito,
Handerson
(2010)
traça
um
paralelo
entre
os
conceitos
de
política
pública,
política
social
e
ação
afirmativa
apresentando
discussões
a
respeito
da
construção
racial
dentro
deste
contexto.
Traz
este
debate
à
realidade
universitária,
sob
forma
de
pesquisa
de
campo,
na
intenção
de
obter
a
percepção
dos
universitários
afro-‐brasileiros
e
brancos
da
UFPel
em
relação
às
políticas
de
ações
afirmativas.
Conclui,
portanto,
que
as
ações
afirmativas
voltadas
à
reparação
do
prejuízo
histórico
do
negro
no
Brasil,
no
que
diz
respeito
à
oportunidade
de
ingresso
à
universidade,
são
necessárias
e
devem,
sim,
ser
implementadas.
Considerações
Finais
A
fim
de
obter
os
resultados
mensurados
nesta
pesquisa,
foram
analisadas
18
das
98
dissertações
apresentadas
pelo
sistema
Atlas.ti
após
pesquisa
de
todas
as
monografias
cadastradas
no
CAPES
que
contemplassem
em
seu
título
ou
resumo
o
tema
ação
afirmativa,
cuja
subcategoria
fosse
Cotas.
As
dissertações
foram
estudadas
e
seu
conteúdo
foi
transmudado
para
mapas
conceituais.
O
estudo
dos
textos
objetivou
extrair
o
foco
de
cada
tese,
a
abordagem
teórica
e
a
metodologia
adotadas,
a
posição
dos
autores
em
relação
aos
temas
e
a
população
atingida.
Essa
análise
se
mostrou
necessária
para
inferir
que
o
estudo
acadêmico
sobre
ação
afirmativa
em
educação
é
bastante
relevante
e
amplo,
pois
engloba
trabalhos
de
estudiosos
prós
e
contras
o
sistema
de
cotas,
além
daqueles
que
não
emitem
sua
opinião
sobre
o
tema,
limitando-‐se
a
analisá-‐lo,
tão
somente.
Ainda,
foi
possível
observar
que
grande
parte
dos
estudos
sobre
ação
afirmativa
é
focada
na
oferta
de
cotas
em
universidades
públicas
para
a
população
negra.
Observa-‐se
que
a
concentração
de
teses
focadas
nestes
grupos
de
beneficiários
se
justifica
pela
intensa
ação
midiática
voltada
para
a
esta
população
e
para
a
questão
das
cotas
(raciais
ou
sociais)
em
universidades
públicas.
Mais
especificamente
quanto
à
população
negra,
o
recorrente
interesse
em
estudar
o
tema
se
dá
também
pela
necessidade
de
levantamento
do
debate
sobre
discriminação
e
reparação
cultural,
bastante
reivindicado
pelos
negros,
mas
ainda
não
compreendido
ou
sequer
estudado
profundamente
pela
sociedade
brasileira.
Exemplo
disso
são
os
inúmeros
artigos
encontrados
na
internet,
em
fóruns
acadêmicos
de
debate
e
mesmo
em
jornais
e
revistas.
Ainda,
foi
possível
observar
que
a
grande
maioria
dos
estudos
publicados
surgiu
de
estudos
de
casos
concretos,
o
que
também
sofre
interferência
do
meio,
pois
o
resultado
depende
da
forma
como
a
ação
afirmativa
é
implantada
para
que
se
chegue
ao
resultado
final
do
trabalho.
Por
outro
lado,
os
estudos
de
caso
demonstram
uma
face
mais
realista
do
objeto
de
estudo,
o
que
dá
credibilidade
ao
trabalho,
já
que
se
trata
de
uma
hipótese
testada
e
comprovada.
Quanto
à
população
objeto
de
estudo,
foi
possível
observar
que,
do
total
de
textos
previamente
selecionados,
66,6%
focam
a
análise
na
população
negra.
Cabe
frisar
que,
para
fins
desse
estudo,
foram
considerados
negros
aqueles
assim
tratados,
bem
como
aqueles
chamados
pretos,
ou
pretos
e
pardos,
ou
comunidade
afro-‐brasileira
ou
comunidade
afrodescendente.
Estes
dados
confirmam
a
hipótese
de
que
a
comunidade
negra
é
grande
responsável
pela
propagação
das
ações
afirmativas
no
Brasil,
já
que
a
maioria
das
ações
existentes
é
voltada
para
este
público.
Ainda,
a
comunidade
acadêmica
vem
acompanhando
essa
demanda,
já
que
a
grande
maioria
da
produção
acadêmica
existente
é
focada
nesse
determinado
grupo.
Com
relação
ao
posicionamento
dos
autores
dos
textos
analisados
neste
estudo,
66,6%
dos
estudiosos
assumem
posicionamento
em
favor
das
cotas,
enquanto
que
5,5%
é
contra
e
27,7%
não
assume
posição
nem
contra
nem
a
favor.
A
análise
deste
dado
permite
observar,
no
âmbito
acadêmico,
a
discussão
tão
intensa
que
envolve
o
tema
das
ações
afirmativas
em
forma
de
cotas.
Nota-‐se
que
a
discussão
não
é
apenas
social,
política
ou
midiática;
a
produção
acadêmica
vem
contribuindo
para
o
debate
público,
oferecendo
diversos
posicionamentos
e
argumentos
sobre
o
tema,
enriquecendo
o
conteúdo
histórico
e
teórico,
servindo
inclusive
de
base
para
as
discussões
sociais.
Aqueles
que
entendem
as
cotas
como
medidas
positivas
e
necessárias
avaliam
que
elas
são
medidas
de
inclusão
social,
métodos
de
diminuição
da
desigualdade
social
e
ainda
se
prestam
como
políticas
de
reconhecimento
das
populações
beneficiadas,
bem
como
forma
de
reparação
de
dano
causado
historicamente.
Mas
observa-‐se
também
que
até
mesmo
entre
aqueles
que
defendem
as
cotas,
novos
modelos
já
são
propostos.
Já
com
relação
àqueles
que
se
posicionam
contra
as
cotas,
o
maior
ponto
de
confronto
se
apoia
na
ideia
de
que
não
existe
justificativa
plausível
para
aparentemente
ferir
o
princípio
da
igualdade,
tratando
pessoas
com
privilégios
em
detrimento
de
outras.
Alguns
chegam
a
definir
este
tipo
de
ação
afirmativa
como
forma
de
afirmação
do
preconceito
já
existente.
É
evidente,
portanto,
que
existe
discussão
acalorada
acerca
da
aplicação
ou
não
das
cotas
e
de
suas
justificativas.
No
entanto,
esse
dado
deixa
claro
que
a
grande
divergência
de
fato
se
dá
com
relação
à
aceitação
ou
não
da
população
negra
ou
carente
como
beneficiária
deste
tipo
de
ação
afirmativa.
Para
os
defensores
desta
aplicação,
as
cotas
raciais
seriam
formas
de
reparar
o
racismo,
enquanto
para
os
que
são
contra,
serviriam
para,
principalmente,
fomentar
o
racismo.
Observamos
que
os
conceitos
periféricos
acerca
do
tema
são
os
que
mais
geram
dissenso
nas
cadeiras
acadêmicas,
já
que,
em
sua
grande
maioria,
a
aceitação
ou
não
de
conceitos
ou
mesmo
a
identificação
ou
não
com
determinada
questão
social
é
que
influi
diretamente
no
debate
sobre
as
cotas
como
uma
forma
de
ação
afirmativa.
Isto
pode
ser
observado
inclusive
na
análise
das
dissertações
dos
acadêmicos
que
se
posicionam
contra
as
ações
afirmativas,
nas
quais
se
identifica
que,
em
muitos
casos,
a
negativa
não
se
dá
para
a
ação
afirmativa
em
si,
mas
para
a
aceitação
do
fato
social
que
se
pretende
reparar
por
meio
dela.
No
entanto,
em
sua
grande
maioria,
a
produção
acadêmica
se
mostra
a
favor
das
cotas
como
medidas
de
justiça
distributiva
e
discriminação
positiva,
tendo-‐as,
portanto,
como
método
de
inclusão
social
plenamente
aceitável
e
necessário.
Referências
ALMEIDA,
Mônica
Andréa
Oliveira.
Políticas
de
ação
afirmativa
e
ensino
superior:
a
experiência
do
curso
de
graduação
em
Serviço
Social
da
PUC-‐Rio.
2003.
Dissertação
(Mestrado
em
Educação)-‐PUC-‐RJ,
Pontifícia
Universidade
Católica
do
Rio
de
Janeiro,
Rio
de
Janeiro,
2003
CASTEL,
R.
A
Discriminação
Negativa.
Cidadãos
ou
Autóctones?
Editora
Vozes.
2008.
DUARTE,
Sônia
Regina
Silva.
O
Perfil
Étnico-‐Racial
dos
(as)
Ingressantes
de
2009
do
Instituto
Federal
de
Educação,
Ciência
e
Tecnologia
do
Pará:
uma
Contribuição
para
a
Análise,
Proposição
e
Implementação
de
Medidas
de
Ações
Afirmativas.
2010.
Dissertação
(Mestrado
em
Educação)-‐UNB,
Universidade
de
Brasília,
Brasília,
2010.
DWORKIN,
R.
A
virtude
soberana.
Teoria
e
prática
da
igualdade.
São
Paulo:
Martins
Fontes,
2005.
______.
Uma
questão
de
princípios.
São
Paulo:
Martins
Fontes,
2001.
ESTACIA,
Maria
Aparecida
Tagliari.
Alunos
do
ProUni
da
Universidade
de
Passo
Fundo:
trajetórias,
percepções/sentimentos
e
aproveitamento
acadêmico.
2009.
233f.
Tese
(Doutorado
em
Educação)-‐UFRGS,
Universidade
Federal
do
Rio
Grande
do
Sul,
Porto
Alegre,
2009.
FRANCO,
Monique
Mendes.
Espectros
na
Mídia:
Políticas
Afirmativas
ou
Políticas
da
Piedade?
O
Sofrimento
do
Outro
no
Contexto
do
"Último
Homem".
2006.
286f.
Tese
(Doutorado
em
Comunicação)-‐UFRJ,
Universidade
Federal
do
Rio
de
Janeiro,
Rio
de
Janeiro,
2006.
FREITAS,
Karen
Bruck
de.
O
programa
Brasil
afroatitude:
Estudos
de
Avaliação
na
Universidade
de
Brasília.
2006.
Dissertação
(Mestrado
em
Saúde
Pública)-‐Fundação
Oswaldo
Cruz,
São
Paulo,
2006.
GONÇALVES,
Rosana
Garcia.
Política
de
Ação
Afirmativa
para
Afro-‐Brasileiros
e
o
Debate
das
Cotas
nas
Universidades.
2006.
Dissertação
(Mestrado
em
Educação,
Administração
e
Comunicação)-‐
USM,
Universidade
São
Marcos,
São
Paulo,
2006.
GONTIJO,
Marina
Fontes.
Uma
aplicação
da
teoria
dos
jogos
no
mercado
do
vestibular
brasileiro.
2008.
Dissertação
(Mestrado
em
Economia)-‐USP,
Universidade
de
São
Paulo,
São
Paulo,
2008.
GUIMARÃES,
A.
S.
A.
Racismo
e
antirracismo
no
Brasil.
São
Paulo:
Editora
34,
1999.
______.
Classes,
Raças
e
Democracia.
São
Paulo:
Editora
34,
2002.
______.
Ações
afirmativas
para
população
negra
nas
universidades
brasileiras.
In:
Santos
RE.
et
al.
(org.)
Ações
afirmativas:
políticas
públicas
contra
as
desigualdades
raciais.
Rio
de
janeiro:
DP&A,
2003.
HANDERSON,
Joseph.
As
Ações
Afirmativas
Raciais
Na
Universidade
Pública
Como
Uma
Política
Social:
Percepções
De
Estudantes
Afro-‐Brasileiros
E
Brancos
E
Propostas
Alternativas.
2010.
Dissertação
(Mestrado
em
Política
Social)-‐Universidade
Católica
de
Pelotas,
Pelotas,
2010.
HAZIN,
Mussa
Hissa.
Entre
a
unidade
e
a
igualdade
racial:
considerações
sobre
o
problema
de
utilização
da
“raça”
como
critério
de
discrímen
no
Direito
brasileiro.
2010.
Dissertação
(Mestrado
em
Direito)-‐UFPE,
Universidade
Federal
de
Pernambuco,
Recife,
2010.
HERINGER,
R.
Ação
afirmativa,
estratégias
pós-‐Durban.
Rio
de
Janeiro:
Observatório
da
Cidadania
–
Relatório,
2002.
______.
Enfim
o
debate
sobre
ação
afirmativa.
In:
Revista
Proposta
FASE,
Abril/2003.
JACOMINI,
Maria
Simone.
Política
de
ação
afirmativa:
a
insercção
dos
indígenas
nas
universidades
públicas
paranaenses.
2007.
Dissertação
(Mestrado
em
Educação)-‐
UEM,
Universidade
Estadual
de
Maringá,
Maringá,
2007.
LIMA,
Francisco
José
Sousa.
Identidade
Étnico-‐Racial
No
Contexto
Das
Políticas
De
Ação
Afirmativa.
2007.
Dissertação
(Mestrado
em
Teologia)-‐EST,
Escola
Superior
de
Teologia,
2007.
LINHARES,
Milton.
A
implantação
do
sistema
de
cotas
nas
Universidades
Públicas
Brasileiras.
2006.Dissertação
(Mestrado
em
Educação)-‐UNICID,
Universidade
Cidade
de
São
Paulo,
São
Paulo,
2006.
MARQUES,
Eugênia
Portela
de
Siqueira.
O
Programa
Universidade
para
Todos
e
a
inserção
de
negros
na
educação
superior
:
a
experiência
de
duas
Instituições
de
Educação
Superior
de
Mato
Grosso
do
Sul
-‐
2005
-‐
2008.
2010.
249f.
Tese
(Doutorado
em
Educação)-‐UFSCAR,
Universidade
Federal
de
São
Carlos,
São
Carlos,
2010.
MATTOS,
C.
L.
G.,
CASTRO,
P.
A.
Etnografia
e
Educação:
conceitos
e
usos.
Campina
Grande,
EDUEPB,
2011.
MENDES,
Rosana
Maria
do
Nascimento.
"Nem
Tudo
Para
os
Brancos,
Nem
Tudo
Para
os
Negros".
Ação
Afirmativa
no
Ensino
Superior
e
os
Direitos
de
Cidadania
no
Brasil.
2007.
Dissertação
(Mestrado
em
Serviço
Social)-‐
UFRJ,
Universidade
Federal
do
Rio
de
Janeiro,
Rio
de
Janeiro,
2007.
MOEHLECKE,
Sabrina.
Fronteiras
da
Igualdade
no
Ensino
Superior:
Excelência
&
Justiça
Racial.
2004.
181f.
Tese
(Doutorado
em
Educação)-‐USP,
Universidade
de
São
Paulo,
São
Paulo,
2004.
MUNIZ,
Kassandra
da
Silva.
Linguagem
e
Identificação:
Uma
Contribuição
Para
o
Debate
Sobre
Ações
Afirmativas
Para
Negros
no
Brasil.
2009.
250f.
Tese
(Doutorado
em
Linguística)-‐UNICAMP,
Universidade
Estadual
de
Campinas,
2009.
NASCIMENTO,
Alexandre
do.
Do
Direito
à
Universidade
à
Universalização
de
Direitos
–
O
Movimento
dos
Cursos
Pré-‐Vestibulares
Populares
e
as
Políticas
de
Ação
Afirmativa.
2010.
199f.
Tese
(Doutorado
em
Serviço
Social)
–
UFRJ,
Universidade
Federal
do
Rio
de
Janeiro,
Rio
de
Janeiro,
2010.
ZYLBERSTAJN,
Eduardo.
Cotas
nas
universidades
e
aprendizado
escolar.
Modelo
teórico
e
evidências
empíricas.
2010.
Dissertação
(Mestrado
em
Economia)-‐FGV-‐SP,
Faculdade
Getúlio
Vargas,
São
Paulo,
2010.
ADOLESCENTES
EM
CONFLITO
COM
A
LEI:
RELATO
HISTÓRICO
SOBRE
INSTITUCIONALIZAÇÃO
E
ESCOLARIZAÇÃO
Aline
Menezes
de
Barros
A
história
dos
adolescentes
no
Brasil
permite
recapitular
a
desigualdade
social,
em
uma
de
suas
formas
mais
brutais,
uma
vez
que
legitimada
pelo
poder
público
e
pela
sociedade.
Em
nosso
país,
a
origem
familiar
e
socioeconômica
interfere,
até
os
nossos
dias,
diretamente,
na
maneira
como
é
concebida
a
adolescência
e
também
no
tratamento
jurídico
a
ela
destinado.
Ao
analisar
o
percurso
histórico
da
adolescência
no
Brasil,
identificaram-‐se
políticas
públicas
legitimadoras
da
exclusão
social,
entendida
aqui
como
inclusão
precária
na
sociedade
(MARTINS,
1997).
Esse
modo
de
inclusão
as
avessas
reserva
a
institucionalização,
ou
seja,
a
permanência
prolongada
em
instituições
de
acolhimento
e/ou
socioeducativas
para
muitos
adolescentes,
especialmente
os
pobres,
inseridos
em
um
contexto
global
de
criminalização
da
miséria
(WACQUANT,
2011).
Nesse
artigo,
buscou-‐se
pontuar
parte
dessa
história
-‐
a
institucionalização
e
a
escolarização
de
adolescentes
em
conflito
com
a
lei,
utilizadas
como
ferramentas
de
controle
social.
O
adolescente
não
era
considerado
genericamente
de
forma
universal,
pois
inexistia
uma
legislação
para
o
conjunto
da
população
nessa
faixa
etária.
Logo,
também
não
existiam
políticas
públicas
universais
que
garantissem
a
todos
direitos
e
deveres.
Existia,
porém,
de
forma
bem
delimitada,
uma
lei
somente
para
os
considerados
em
situação
irregular.
Percebe-‐se
profundas
variações
na
concepção,
implementação
e
execução
dos
ordenamentos
jurídicos
brasileiros.
O
grave
problema
da
condição
socioeconômica
como
fator
determinante
para
a
exclusão
jamais
foi
tratado
como
proposta
política
séria
que
resolvesse
a
essência
do
problema,
possibilitando
maior
distribuição
de
renda
e
acesso
à
educação
e
saúde
com
qualidade
(RIZZINI;
PILOTTI,
2011),
porém,
as
intervenções
realizadas
pelo
Estado
concentravam-‐se
apenas
no
nível
da
aparência,
sendo
utilizadas
para
manter
a
segregação
de
classes
e
as
diferenças
sociais.
Para
Mendéz
(2013)
o
direito
baseado
na
Doutrina
da
Situação
Irregular,
ou
seja,
em
um
modelo
jurídico
destinado
exclusivamente
para
o
segmento
da
população
com
baixo
poder
econômico,
constituía-‐
se
como
eficiente
instrumento
de
controle
social,
especialmente
pela
criminalização
da
pobreza.
Na
análise
realizada
por
Camara
(2010)
sob
a
década
de
1920
é
possível
identificar
a
adolescência
como
uma
construção
sócio
histórica,
que
se
expressou
pela
construção
de
dois
tipos
ambivalentes.
De
um
lado,
idealizada,
feliz
e
perfeita,
representada
pelas
famílias
com
alto
poder
financeiro,
e
de
outro,
carente,
desvalida
e
infratora,
representada
pelos
órfãos,
abandonados,
vadios
e
ociosos,
oriundos
das
camadas
populares.
Posição
compartilhada
por
Rizzini,
Irene
(2011)
quando
faz
menção
a
classificação
dos
adolescentes
de
acordo
com
a
origem
familiar
e
a
“herança”
social.
Segundo
a
autora
os
bem
nascidos,
podiam
gozar
dessa
fase
da
vida,
enquanto
os
demais
estavam
destinados
ao
aparato
jurídico-‐assistencial
destinado
a
educá-‐los
ou
corrigi-‐los,
ora
por
meio
da
institucionalização
e
da
disciplina,
ora
por
meio
da
oferta
da
educação
instrumental,
com
conteúdos
curriculares
mínimos,
focada
exclusivamente
no
mercado
de
trabalho.
Em
muitos
estados
a
representação
social
da
adolescência
perigosa
ocorreu
concomitantemente
com
os
avanços
no
processo
de
reforma
urbanística
e
o
desenvolvimento
de
práticas
higienistas,
como
na
cidade
do
Rio
de
Janeiro,
capital
do
país
a
época.
Intensificando
ações
de
repressão,
policiamento
e
violência.
Diante
desse
cenário
de
reforma
urbana,
tornou-‐se
central
a
questão
da
segurança
pública
e
do
controle
da
população
pobre,
inclusive,
em
alguns
casos,
para
que
esta
não
retornasse
aos
antigos
locais
de
moradias,
considerados
a
partir
de
então,
irregulares.
A
partir
dessa
problemática
e
da
sensação
de
insegurança
se
intensificou
o
controle
e
a
disciplina
das
camadas
pobres,
investindo-‐se
cada
vez
mais
em
dispositivos
de
intervenção
e
confinamento.
As
pessoas
que
vagavam
nas
ruas
eram
consideradas
futuros
criminosos
e,
portanto,
possíveis
“clientes”
das
penitenciárias
e
instituições
correcionais.
Fato
que
obrigava
as
instituições
caritativas,
e
posteriormente
filantrópicas,
a
oferecerem
“tratamento”
adequado
aos
pobres
que
os
ameaçavam.
Soma-‐se
a
esta
instabilidade
social
a
questão
étnica,
sobretudo
pela
herança
dos
longos
anos
de
escravidão,
os
pobres
e
negros
constituíam-‐se
vítimas
em
potencial
desse
sistema.
Aos
recém-‐libertos
não
foram
dadas
escolas,
terras
e
empregos.
A
libertação
dos
escravos
ocorreu
totalmente
desconectada
da
situação
real
vivenciada
por
essa
população,
sendo
que,
muitos
homens
“livres”
escolheram,
devido
à
falta
de
opção,
ficar
com
seus
senhores
para
evitar
a
morte,
pela
fome.
A
adolescência
indesejada,
em
suas
múltiplas
facetas,
composta
prioritariamente
de
negros
e
pobres,
constituiu-‐se
como
grupo
indesejado,
sendo
categorizada
pelo
termo
“menor”,
carregado
de
estigma
e
de
preconceito.
Para
Rizzini
e
Pilotti
(2011)
parcelas
expressivas
da
população
infanto-‐juvenil,
com
faixa
etária
entre
zero
e
17
anos,
pertenciam
a
famílias
pobres
ou
miseráveis,
contabilizando
cerca
de
30
milhões
de
“abandonados”
ou
“marginalizados”,
o
que
segundo
os
autores,
contradiz
a
falácia
da
proporção
minoritária
dessa
população,
evidenciando
que
os
adolescentes
considerados
ideias,
oriundo
das
famílias
com
alto
poder
aquisitivo,
representavam
a
minoria
da
população
nessa
faixa
etária.
Ao
longo
de
308
anos
de
exploração
de
Portugal,
de
1500
a
1808,
permaneceu-‐se
ignorando
o
adolescente
como
categoria
genérica,
e
ao
contrário,
o
classificando
em
categorias
específicas:
“pobres,
negros,
expostos,
desvalidos,
infratores”,
entre
outras.
Em
relação
ao
campo
jurídico
no
Brasil,
evidenciamos
que
em
16
de
dezembro
de
1830,
foi
promulgado
o
Código
Criminal
do
Império
(BRASIL,
1830),
o
que
segundo
Rizzini,
Irene
(2011)
pode
ser
considerado
um
avanço,
uma
vez
que
até
então
vigoraram
as
Ordenações
do
Reino
de
Portugal,
cujas
medidas
punitivas
foram
abolidas
por
serem
consideradas
bárbaras.
O
Código
Criminal
do
Império
(BRASIL,
1830)
atestava
no
Art.10º
que
os
adolescentes
(descritos
no
texto
oficial
como
menores)
com
menos
de
14
anos
não
seriam
julgados
criminosos,
inaugurando
a
imputabilidade
penal,
ou
seja,
a
incapacidade
do
adolescente
de
responder
por
seus
atos,
de
ação
ou
omissão,
na
data
do
fato.
Porém,
no
Art.13,
do
mesmo
Código,
existia
a
exceção
da
regra,
justificando
a
punição
dos
adolescentes
com
menos
de
14
anos,
nos
casos
em
que
se
comprovasse
o
discernimento
do
fato,
ou
seja,
a
capacidade
de
distinguir
entre
o
certo
e
o
errado.
Inaugurou-‐se
assim
uma
concepção
jurídica
fundamentada
na
discricionariedade,
através
da
análise
biopsicológica
era
possível
diagnosticar
adolescentes
que
segundo
os
critérios
da
época,
ameaçavam
a
ordem
social,
e
por
isso,
deveriam
ser
internados
por
longos
anos,
a
critério
do
judiciário.
Nessas
situações
os
acusados
eram
recolhidos
as
Casas
de
Correção,
unidades
de
internação
responsáveis
por
combater
a
prática
dos
delitos
e
promover
a
“regeneração”
dos
adolescentes,
através
da
institucionalização
pelo
tempo
indicado
pelo
juiz,
não
podendo
ultrapassar
a
idade
de
17
anos.
Importante
destacar
que
essa
legislação
era
amplamente
utilizada,
enquanto
a
Lei
de
15
de
outubro
de
1927,
que
determinava
a
criação
de
escolas
em
todas
as
cidades,
vilas
e
lugares
populosos
do
Império
era,
ao
contrário,
constantemente
ignorada
(BRASIL,
1927).
O
novo
Código
Penal
(BRASIL,
1890),
não
apresentou
amadurecimento
em
relação
aos
adolescentes,
abaixando
a
idade
penal.
A
lei
estabeleceu
no
Art.
27,
que
em
hipótese
nenhuma
haveria
punição
para
as
crianças
abaixo
de
nove
anos.
Em
relação
à
faixa
etária
entre
dez
e
14
anos,
expressou
que
poderia
haver
punição,
desde
que
se
comprovasse
o
discernimento
do
fato.
Nesses
casos,
segundo
o
Art.
30,
os
culpados
seriam
então
levados
para
estabelecimentos
industriais,
podendo
ficar
da
idade
da
apreensão
até
os
17
anos.
Para
Faleiros,
V.
(2011),
a
medida
possuía
relação
com
a
crescente
necessidade
de
mão-‐de-‐obra,
pois
a
estratégia
de
encaminhar
o
adolescente
pobre
para
o
trabalho
articulava
o
econômico
com
o
político,
contribuindo
para
a
naturalização
da
desigualdade
social.
Segundo
o
autor,
apesar
de
existir
leis
que
impedissem
a
execução
de
determinados
trabalhos,
ignoravam-‐se
a
legislação
e
encaminhavam-‐se
adolescentes
para
o
trabalho
subalterno
e
precoce.
Pois,
a
mão-‐de-‐obra
adolescente
foi
utilizada
de
forma
abundante
na
indústria
e
o
salário
representava
um
complemento
para
as
famílias
operárias.
Em
1903
foi
criada
a
Colônia
Dois
Rios,
em
Angra
dos
Reis,
com
o
objetivo
primordial
de
separar
crianças,
adolescentes
e
adultos.
Porém,
segundo
Santos
(2009)
a
Colônia
foi
duramente
criticada
pelos
reformadores
da
época,
por
recolher
todo
tipo
de
população
indigente
da
cidade
do
Rio
de
Janeiro,
atendendo
adolescentes
em
ala
separada,
sem
oferecer
qualquer
tipo
de
formação
profissional
ou
escolar.
Em
1920
realizou-‐se
o
primeiro
Congresso
Brasileiro
de
Proteção
à
infância
e
em
1921
foi
promulgada
a
Lei
Orçamentária
Federal,
Nº
4242
que
autorizou
o
governo
a
organizar
um
serviço
de
proteção
e
assistência
ao
“menor”
abandonado
e
delinquente,
conforme
termos
oficiais
da
época
(BRASIL,
1921).
Sendo
inaugurado
em
1923
o
Juizado
Privativo
de
Menores
da
Capital
Federal,
constituindo-‐se
assim
a
primeira
instituição
estatal
voltada
para
a
assistência
aos
adolescentes
abandonados
física
e
moralmente,
transferindo
para
o
Juizado,
a
responsabilidade
que
até
então
era
da
polícia,
de
julgar
e
penalizar.
De
acordo
com
Rizzini,
Irma
(2011)
desde
a
criação
da
chefia
de
polícia
no
século
XIX
até
a
instalação
dos
juizados
de
menores
a
partir
da
década
de
1920,
coube
a
instituição
policial
a
apreensão
de
adolescentes
nas
ruas.
Camara
(2010)
analisando
os
procedimentos
realizados
pela
polícia,
afirma
que
as
apreensões
se
davam
geralmente
pelos
mesmos
motivos:
“vagava
pela
rua
em
completa
ociosidade,
não
tem
profissão
nem
arte
ou
fortuna
própria,
vive
de
pequenos
furtos”
(BULCÃO,
1992
apud
CAMARA,
2010,
p.56)
o
que
demonstra
que
certos
sujeitos
constituíam-‐se
alvos
em
potencial
desse
sistema.
Através
do
Decreto
Nº
17943A,
de
12
de
outubro
de
1927,
foi
promulgado
o
primeiro
Código
de
Menores
(BRASIL,
1927),
conhecido
também
por
Código
Mello
Mattos,
inspirado
no
trabalho
do
jurista
José
Cândido
de
Albuquerque
Mello
Mattos,
um
dos
idealizadores
do
Código
de
Menores,
tendo
atuado
na
área
até
1934
quando
faleceu.
Esse
grupo
de
adolescentes
recebeu
como
prêmio
em
comemoração
ao
Dia
das
Crianças,
a
promulgação
do
primeiro
Código
de
Menores,
legislação
que
vigorou
até
1979,
quando
foi
substituída
pelo
segundo
Código
de
Menores,
promulgado
pela
Lei
Nº
6697,
de
10
de
outubro
de
1979
(BRASIL,
1979),
que
consagrou
a
noção
do
“menor
em
situação
irregular”,
encarando
a
problemática
da
adolescência
marginalizada
como
“patologia
social”
(RIZZINI;
PILOTTI,
2011).
A
utilização
do
termo
“menor
em
situação
irregular”
e
sua
descrição
evidenciam
a
questão
social
como
fator
preponderante
para
a
classificação
e
aplicação
das
medidas
jurídicas
cabíveis
aos
adolescentes
pobres.
Isentando
desta
legislação
a
população
com
alto
poder
socioeconômico,
que
segundo
Arantes
(2011),
era
regida
por
outra
legislação,
o
Código
Civil
(BRASIL,
1916).
Durante
os
anos
nos
quais
vigoraram
ambos
os
Códigos
(BRASIL,
1927;
1979)
predominou
a
Doutrina
da
Situação
Irregular.
Segundo
essa
concepção
eram
recolhidos
e
institucionalizados
os
adolescentes
considerados:
“abandonados,
doentes,
carentes,
infratores”,
e
outros
mais,
que
ameaçassem
a
ordem
e
a
dinâmica
da
reforma
urbana.
Historicamente,
segundo
Camara
(2010),
a
ação
educativa
destinada
a
esses
adolescentes
era
constituída
com
ênfase
no
caráter
moralizante,
higiênico
e
disciplinar.
Obviamente
devemos
ter
em
mente
que
a
maioria
das
pessoas
abaixo
dos
18
anos
que
estavam
nas
ruas
era
analfabeta.
Nesse
período
era
comum
a
prisão
de
adolescentes
ociosos
ou
envolvidos
em
ocupações
ocasionais,
que
estivem
circulando
nas
ruas,
independente
do
cometimento
de
infração
penal,
sendo
encarcerados
muitas
vezes
por
não
possuírem
domicílio
fixo.
Aos
adolescentes
perigosos
restava
a
inclusão
no
novo
modelo
de
sociedade,
através
da
sua
exclusão
dos
espaços
urbanos
públicos
e
da
posterior
inclusão
e
incorporação
nas
instituições
de
privação
de
liberdade,
que
gradativamente
passaram
a
incorporar
o
discurso
de
salvação
da
adolescência
por
meio
da
escolarização
e
do
trabalho.
A
educação
escolar
foi
amplamente
utilizada
como
elemento
de
ordem
social,
possibilitando
junto
com
as
leis
repressoras
o
controle
e
o
disciplinamento
da
população
por
ela
atendida
(CAMARA,
2010).
Ilustrativa
nesse
sentido
é
a
frase
do
ministro
Lêoncio
de
Carvalho,
no
Decreto
Nº
7247,
de
19
de
abril
de
1879
(BRASIL,
1879),
que
expressava
a
preocupação
com
a
obrigatoriedade
do
ensino
instrumental,
como
um
meio
de
redução
do
dinheiro
investido
na
área
da
segurança
pública
e
não
na
perspectiva
do
direito
humano
(MOACYR,
1936
apud
PATTO,
2007).
Acompanhando
a
tendência
da
sociedade,
de
educar
e
disciplinar
os
pobres
as
instituições
de
“recolhimento”
e
“tratamento”
de
adolescentes,
denominadas
à
época
de
Casas
de
Correção
e
de
Preservação,
surgiram
como
meios
de
transformação
dos
adolescentes.
Dessa
forma,
eram
responsáveis
pelos
processos
de
escolarização
e
profissionalização
e
buscavam
através
desses
sustentáculos,
resgatar
a
adolescência
do
suposto
erro.
Sobre
essa
temática,
Patto
(2007),
nos
faz
pensar
na
concepção
que
rompe
os
anos
e
que
se
fundamenta
na
máxima:
“Escolas
cheias,
cadeias
vazias”,
contextualizando
o
porquê
da
escola
ter
assumido
o
papel
social
de
educar,
evitando
assim,
a
futura
punição.
De
acordo
com
a
autora,
explicita
ou
implicitamente,
uma
das
funções
da
escola
tem
sido
a
de
prevenir
a
criminalidade,
o
que,
de
certa
maneira,
impossibilita
a
verdadeira
função
social
da
mesma,
que
é
garantir
o
direito
de
todos
ao
conhecimento
e
ao
saber.
De
acordo
com
a
autora,
a
escola
apresenta
como
uma
de
suas
funções
a
manutenção
da
ordem
social
e
dos
privilégios
da
classe
dominante
desde
o
século
XVIII.
Ao
educar
para
disciplina
e
também
para
impedir
atos
de
rebeldia
o
estado
não
garantia
somente
o
direito
de
cada
indivíduo,
mas
prioritariamente,
a
segurança
do
próprio
Estado.
Patto
(2007)
aponta
que
esse
modelo
educativo
era
dualizado,
tendo
o
corte
de
classes
como
fator
determinante
para
o
tipo
de
educação
recebido.
Os
filhos
dos
ricos
eram
destinados
aos
liceus,
que
preparavam,
especialmente
para
a
entrada
na
universidade,
para
as
carreiras
liberais
e
para
os
postos
de
comando.
Por
outro
lado,
para
a
população
com
baixo
poder
econômico,
era
reservada
a
oferta
reduzida
de
rudimentos
de
leitura
e
escrita,
alguma
habilidade
manual
e
muita
doutrinação
moral
e
religiosa,
possibilitando
ao
Estado
a
segurança
advinda
da
educação
que
prepara
o
povo
para
a
docilidade
e
para
o
trabalho
não
reflexivo.
Sobre
a
atuação
da
escola
na
redução
da
criminalidade,
Patto
(2007)
nos
alerta
que
a
instituição
não
dá
conta
dessa
dimensão
salvadora,
uma
vez
que,
o
ensino
da
moral
e
dos
bons
costumes,
não
muda
a
realidade
objetiva
desses
adolescentes
e
a
entrega
de
um
certificado,
não
lhes
garante
uma
oportunidade
real,
por
conta
do
desemprego
estrutural
vivenciado
na
sociedade
globalizada.
Fundadas
nessa
crença,
as
instituições
de
internação
de
adolescentes
investiram
na
escolarização
e
no
trabalho,
como
meios
de
uma
possível
“recuperação”
da
adolescência,
em
seu
modelo
idealizado.
A
maior
parte
das
instituições
presentes,
durante
o
período
em
que
vigorou
a
Doutrina
da
Situação
Irregular,
destinadas
a
acolher
adolescentes,
dispunha
de
alguma
modalidade
de
ensino,
seja
o
profissionalizante,
prático,
manual
ou
escolar.
Porém,
Arantes
(2011),
nos
chama
a
atenção
para
a
má
qualidade
do
ensino
ofertado,
que
na
realidade
visava
apenas
à
manutenção
da
ordem
social.
Consideramos
que
o
modelo
de
assistência
realizado,
assim
como
o
ideal
da
salvação
pela
escolarização
e
pelo
trabalho
fracassou,
pois
como
apontado
por
Teixeira
(2013),
esteve
atrelado
a
uma
educação
que
seguiu
como
proposta
a
prática
de
conduzir
adolescentes,
em
uma
relação
de
domínio
e
de
obediência,
a
fim
de
mantê-‐los
em
total
dependência
do
aparato
institucional
e
em
suas
condições
sociais
–
de
adolescentes
à
margem
da
sociedade,
reservando-‐lhes
um
modelo
de
formação
elementar,
básico,
marcado
pelos
preconceitos
sociais,
étnicos
e
de
gênero,
que
não
garantiam
a
estes
sujeitos
a
real
inserção
no
mundo
do
trabalho,
mas
ao
contrário,
os
mantinha
em
suas
posições
socioeconômicas.
Nesse
sentido,
Teixeira
(2013),
destaca
que
a
educação,
especialmente
nas
vertentes
da
escolarização
e
da
profissionalização,
foi
defendida
pela
FEBEM
como
principal
meio
de
reinserção
social
dos
adolescentes,
no
entanto
tal
objetivo
não
chegou
a
ser
concretizado.
A
educação
que
não
potencializa
a
emancipação
do
sujeito,
mas
ao
contrário
o
mantém
na
mesma
posição
de
subordinação
é
definida
por
Baudrillard
(1991);
Rummert
(2008),
como
uma
educação
simulacro,
pois
aparentemente
democrática
é
utilizada
na
verdade
como
forma
de
manutenção
da
posição
de
subordinação
da
vítima.
Se
a
escola
extramuros
amplia
sua
função
social,
colaborando
também
na
função
de
prevenir
a
violência
e
a
prática
de
atos
infracionais,
essa
exigência
torna-‐se
mais
relevante
e
extremamente
acentuada
quando
a
escola
se
localiza
em
uma
instituição
socioeducativa.
Do
exposto
neste
capítulo,
percebe-‐se
que
é
possível
dividir
a
história
do
atendimento
aos
adolescentes
em
três
etapas
(MENDÉZ,
2000),
são
elas:
1)
de
caráter
penal
indiferenciado;
2)
de
Caráter
tutelar
e
3)
de
caráter
juvenil
ou
socioeducativo.
A
primeira
etapa
situa-‐se
entre
o
século
XIX
até
a
primeira
década
do
século
XX,
demarcando
o
surgimento
dos
primeiros
códigos
penais
e
suas
ações
meramente
retributivas,
sem
qualquer
diferenciação
entre
os
usuários
do
sistema
prisional.
A
concepção
predominante
no
segundo
período
se
origina
nos
Estados
Unidos,
no
período
equivalente
a
primeira
década
do
século
XX,
influenciando
a
legislação
da
Argentina
e
dos
demais
países
da
América
Latina,
respondendo
aos
anseios
da
população,
principalmente
por
conta
da
promiscuidade
e
da
violência
ocorridas
nos
cárceres.
Para
Saraiva
(2013)
esse
modelo
se
caracterizou
por
resultar
em
uma
grande
quantidade
de
adolescentes
em
privação
de
liberdade,
que
em
sentido
estrito
não
haviam
cometido
nenhum
tipo
de
delito,
mas
que
apenas
se
tratavam
de
sujeitos
em
condições
de
vulnerabilidade
social
(CASTEL,
2007).
A
terceira
e
atual
etapa,
inaugurou-‐se
com
os
preparativos
para
a
Convenção
das
Nações
Unidas
de
Direitos
da
Criança,
ocorrida
em
1989,
na
qual
se
apresentou
a
concepção
de
processo
de
responsabilização
juvenil.
Cabe
mencionar
que
em
relação
a
esta
fase,
o
Brasil
se
destacou
pelo
seu
pioneirismo,
principalmente
pela
promulgação
dos
Artigos
204
e
227
da
Constituição
Federal
(BRASIL,
1988)
e
do
ECA
(BRASIL,
1990).
A
Carta
Magna
inaugura
uma
nova
fase
no
direito
para
adolescentes,
determinando
o
rompimento
com
a
Doutrina
da
Situação
Irregular
e
instalando
a
Doutrina
da
Proteção
Integral,
que
em
primeiro
lugar
iguala
todos
os
adolescentes,
considerando-‐os
suas
especificidades,
e
em
segundo,
reconhecendo
estes
indivíduos
como
sujeitos
de
direitos.
Essa
mudança,
como
apontado
anteriormente,
caracteriza
a
terceira
fase,
ou
seja,
a
de
caráter
juvenil
(MENDÉZ,
2000).
Importante
ressaltar
que
a
inimputabilidade
penal
do
adolescente,
cláusula
pétrea,
instituída
no
Art.
228
da
Constituição
Federal,
significa
fundamentalmente
a
insubmissão
do
adolescente
por
seus
atos
às
penalizações
previstas
na
legislação
penal,
o
que
não
o
isenta
de
responsabilização
e
sancionamento,
como
afirmado
anteriormente
por
Saraiva
(2013),
mas
o
responsabiliza
em
um
sistema
especial
que
fundamenta-‐se
em
preceitos
educativos
e
socializadores.
Obviamente
que
entre
o
Paradigma
da
Situação
Irregular,
que
considerava
o
adolescente
como
objeto,
e
assim,
realizava
as
intervenções
jurídicas
na
perspectiva
do
tratamento
e
o
Paradigma
da
Proteção
Integral,
que
pauta-‐se
na
concepção
do
adolescente
como
sujeito
em
desenvolvimento
e
titular
de
direitos,
esbarrou-‐se
e
ainda
esbarra-‐se
no
que
Mendéz
(2013)
denominou
de
Paradigma
da
Ambiguidade,
caracterizado
pelos
que
rejeitam
por
completo
a
concepção
da
Situação
Irregular,
mas
não
conseguem
acompanhar
as
transformações
reais
resultantes
da
aplicação
consequente
da
Proteção
Integral.
Costa
(2006a)
ao
tratar
do
Paradigma
da
Ambiguidade
assinala
que
este
caracteriza
a
tendência
de
modificar
apenas
o
universo
semântico,
com
novas
leis
e
termos,
mas
sem
que
essas
mudanças
representem
uma
execução
diferenciada
da
medida
socioeducativa.
Essa
postura
é
definida
pelo
autor
como
neocínica,
pois
no
discurso
dizem
ser
favoráveis
ao
novo
ordenamento
jurídico,
mas,
“no
andamento
efetivo
dos
acontecimentos,
abrem
as
portas
ao
retorno
das
práticas
e
mentalidades
características
da
Doutrina
da
Situação
Irregular”
(COSTA,
2006a,
p.28),
por
não
acreditarem
nas
legislações
específicas
para
os
adolescentes.
O
Estatuto
da
Criança
e
do
Adolescente
-‐
(ECA)
foi
promulgado,
através
da
Lei
Nº
8069,
de
13
de
julho
de
1990,
fruto
de
um
amplo
movimento
social,
envolveu
diversos
setores
e
ratificou
o
movimento
de
democratização
do
país,
iniciado
com
a
promulgação
da
Constituição
Federal.
O
ECA
(BRASIL,
1990)
revogou
os
Códigos
de
Menores
(BRASIL,
1927;
1979)
e
buscou
atender
aos
ditames
da
CF
(BRASIL,
1988)
e
das
legislações
internacionais,
tais
como:
as
Regras
Mínimas
das
Nações
Unidas
para
a
Administração
da
Justiça
da
Infância
e
da
Juventude
-‐
(Regras
de
Beijing),
em
1985
e
a
Convenção
Internacional
dos
Direitos
das
Crianças
-‐
(CIDC),
em
1989.
Nesses
documentos
internacionais
o
Brasil
se
comprometeu
a
rever
o
modo
como
tratava
a
adolescência,
e
necessariamente
sua
concepção
sócio-‐jurídica.
Dessa
forma,
a
nova
lei
retifica
e
assegura
a
proteção
integral
a
todos
os
adolescentes,
fortalecendo
os
mecanismos
de
participação
popular,
pautados
no
conceito
de
democracia
participativa,
como
os
Conselhos
Tutelares
e
os
Conselhos
de
Direitos.
Avançou-‐se
em
relação
às
legislações
anteriores
que
tratavam
as
crianças
e
os
adolescentes
como
meros
objetos.
O
Estatuto
evidencia
os
direitos
de
adolescentes,
afirmando,
conforme
o
SINASE
(BRASIL,
2006,
p.15),
que:
“a
necessidade
de
especial
respeito
à
condição
de
pessoa
em
desenvolvimento,
o
valor
prospectivo
da
infância
e
adolescência
como
portadoras
de
continuidade
do
seu
povo
e
o
reconhecimento
da
sua
situação
de
vulnerabilidade”.
As
novas
legislações
garantem,
ao
menos
formalmente,
medidas
socioeducativas
pautadas
na
dimensão
ético-‐pedagógica.
Apesar
de
ser
uma
sanção
decorrente
de
um
processo
judicial,
tem
como
objetivo,
segundo
o
SINASE
(BRASIL,
2012),
Art.1º,
§2º:
I
-‐
a
responsabilização
do
adolescente
quanto
às
consequências
lesivas
do
ato
infracional,
sempre
que
possível
incentivando
a
sua
reparação;
II
-‐
a
integração
social
do
adolescente
e
a
garantia
de
seus
direitos
individuais
e
sociais,
por
meio
do
cumprimento
de
seu
plano
individual
de
atendimento;
e
III
-‐
a
desaprovação
da
conduta
infracional,
efetivando
as
disposições
da
sentença
como
parâmetro
máximo
de
privação
de
liberdade
ou
restrição
de
direitos,
observados
os
limites
previstos
em
lei
(BRASIL,
2012).
Dessa
forma,
o
ECA
(BRASIL,
1990)
estabelece
que
as
medidas
socioeducativas
devem
ser
aplicadas
somente
aos
adolescentes
que
cometeram
atos
infracionais,
não
de
forma
punitiva
e/ou
retribuitiva,
mas
ao
contrário,
pautadas
em
características
eminentemente
pedagógicas
que
permitam
a
responsabilização
do
adolescente
diante
do
ato
ilícito,
e
principalmente,
o
desenvolvimento
físico,
psíquico
e
social,
tendo
em
vista
à
eliminação
da
prática
de
atos
infracionais
e
à
construção
de
um
projeto
de
vida
pautado
na
legalidade.
Essa
orientação
permeia
todas
as
medidas
socioeducativas,
listadas
no
Art.
112
do
ECA
(
BRASIL,
1990).
Dessa
forma,
propõe-‐se
que
a
experiência
da
internação,
apesar
de
provocada
por
uma
sanção
do
judiciário,
em
resposta
a
um
ato
infracional,
constitua-‐se
em
uma
experiência
prioritariamente
educativa.
Infelizmente,
muitas
unidades,
ao
não
executarem
a
dimensão
educativa
das
medidas,
pois,
pautadas
ainda
na
lógica
da
punição,
delegam
tal
responsabilidade,
exclusivamente
ou
prioritariamente,
à
unidade
escolar.
Ao
delegar
a
escola
o
papel
de
educar
no
sistema
socioeducativo,
amplia-‐se
sua
função,
que
deve
ser
prioritariamente,
a
de
escolarizar,
garantindo
o
acesso
dos
alunos
aos
conhecimentos
curriculares.
Essa
transferência
equivocada
de
responsabilidades
faz
com
que
a
unidade
socioeducativa
fortaleça-‐se
no
papel
disciplinar
e
punitivo,
pois
a
escola
passa
a
ser
a
representação
da
educação
no
sistema
socioeducativo.
Importante
ressaltar
que
embora
a
escolarização
seja
um
relevante
direito
ao
adolescente,
ela
não
é
único,
nem
tampouco
o
mais
importante,
dentre
os
diretos
que
devem
ser
garantidos
no
espaço-‐tempo
da
medida
socioeducativa,
como
profissionalização,
acesso
à
cultura,
assistência
social,
entre
outros.
Além
das
quatro
paredes
da
sala
de
aula,
existe
educação.
Conforme
Brandão
(2007,
p.9)
“a
escola
não
é
o
único
local
onde
ela
[a
educação]
acontece
e
talvez
nem
seja
o
melhor”.
Para
Costa
(2006
c)
a
Socioeducação
é
constituída
pela
educação
escolar,
profissional,
atividades
artístico-‐
culturais,
práticas
esportivas,
assistência
religiosa
e
todas
as
atividades
associadas
ao
propósito
de
desenvolver
no
adolescente
seu
potencial
(COSTA,
2006).
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A
ABORDAGEM
DE
PESQUISA
ETNOGRÁFICA
NOS
ESTUDOS
SOBRE
EDUCAÇÃO
Sandra
Cordeiro
de
Melo
Universidade
Federal
do
Rio
de
Janeiro
Este
capítulo
apresenta
a
construção
metodológica
da
pesquisa
intitulada
Inclusão
em
Educação:
um
estudo
sobre
as
percepções
de
professores
da
rede
Estadual
de
Ensino
Fundamental
do
Rio
de
Janeiro6,
sobre
práticas
pedagógicas
de
inclusão,
finalizada
em
2010
e
realizada
por
meio
de
uma
parceria
entre
a
Universidade
Federal
do
Rio
de
Janeiro
e
a
Secretaria
Estadual
de
Educação.
Tem
por
objetivo
descrever
as
etapas
de
coleta
e
análise
dos
dados,
tendo
por
referencial
teórico-‐metodológico
a
abordagem
de
pesquisa
etnográfica.
A
questão
colocada
foi:
Como
se
apresenta
o
processo
ensino-‐aprendizagem
quando,
em
uma
sala
de
aula
regular,
está
incluída
uma
criança
com
Transtorno
do
Espectro
Autista7.
Buscamos
saber
como
se
caracteriza
este
processo
de
inclusão
educacional?
Partimos
do
pressuposto
de
que,
ao
aprofundarmos
os
estudos
sobre
os
processos
de
ensino
e
aprendizagem
do
aluno
com
Transtorno
do
Espectro
Autista,
facilitaríamos
o
processo
de
ensino
e
aprendizagem
dos
demais
alunos.
Este
capítulo
enfoca
a
construção
metodológica
da
pesquisa,
para
tanto,
não
aborda
a
nosologia
do
Transtorno.
A
coleta
de
dados
foi
realizada
ao
longo
do
ano
letivo
de
2008,
em
uma
escola
estadual
no
município
do
Rio
de
Janeiro.
A
sala
de
aula
pesquisada
foi
a
de
terceiro
ano
do
ensino
fundamental
regular
composta
de
25
alunos.
Dentre
estes,
um
com
Transtorno
do
Espectro
Autista.
Esta
era
uma
sala
de
aula
bastante
heterogênea
em
idade.
Lá
estavam,
meninos
e
meninas
de
9
até
15
anos
que
estudavam
em
período
integral.
Durante
o
turno
da
manhã,
prevalecia
as
aulas
de
português
e
matemática,
e
no
6
Este capítulo se baseia na tese de doutorado da autora, orientada pela Professora Doutora Mônica Pereira dos
Santos, defendida em 2010, no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal do Rio de
Janeiro.
7
O autismo é um transtorno de desenvolvimento que geralmente aparece nos três primeiros anos de vida e
compromete as habilidades de comunicação e interação social. De acordo com o Manual Diagnóstico e
Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V, 2013), o autismo, assim como a Síndrome de Asperger foi
incorporado a um novo termo médico, chamado de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Com essa nova
definição, a Síndrome de Asperger passa a ser considerada, portanto, uma forma mais branda de autismo. Dessa
forma, os pacientes são diagnosticados apenas em graus de comprometimento. O Transtorno do Espectro Autista
é definido pela presença de “Déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos
contextos, atualmente ou por história prévia”, de acordo com o DSM-V.
turno
da
tarde
as
demais
disciplinas.
Como
a
pesquisa
de
campo
foi
realizada
no
turno
da
manhã,
tivemos
mais
acesso
as
aulas
daquelas
disciplinas.
Buscou-‐se
acompanhar,
semanalmente,
as
estratégias
pedagógicas
utilizadas
no
processo
ensino-‐aprendizagem,
tendo
como
foco
a
interação
professor-‐aluno.
Nesta
etapa,
todo
o
registro
foi
feito
em
caderno
de
campo,
realizado
pela
equipe
de
três
pesquisadoras,
oferecendo
a
cada
visita,
três
olhares
distintos.
Aspectos
teórico-‐metodológicos
da
abordagem
de
pesquisa
etnográfica
O
presente
estudo
está
fundamentado
no
paradigma
qualitativo
de
pesquisa
(PATTON,
1986
apud
ALVES-‐MAZZOTTI;
GEWANDSZNAJDER),
no
qual:
a
principal
característica
das
pesquisas
qualitativas
é
o
fato
de
que
estas
seguem
a
tradição
“compreensiva”
ou
interpretativa.
Isto
significa
que
estas
pesquisas
partem
do
pressuposto
de
que
as
pessoas
agem
em
função
de
suas
crenças,
percepções,
sentimentos
e
valores,
e
que
seu
comportamento
tem
sempre
um
sentido,
um
significado
que
não
se
dá
a
conhecer
de
modo
imediato,
precisando
ser
desvelado
(ALVES-‐
MAZZOTTI;
GEWANDSZNAJDER,
1998,
p.
131).
Compartilha
das
características
essenciais
aos
estudos
qualitativos:
a
visão
holística,
a
abordagem
indutiva
e
a
investigação
naturalística
(PATTON,
1986
apud
ALVES-‐MAZZOTTI;
GEWANDSZNAJDER):
A
visão
holística
parte
do
princípio
de
que
a
compreensão
do
significado
de
um
comportamento
ou
evento
só
é
possível
em
função
da
compreensão
das
inter-‐relações
que
emergem
de
um
dado
contexto.
A
abordagem
indutiva
pode
ser
definida
como
aquela
em
que
o
pesquisador
parte
de
observações
mais
livres,
deixando
que
dimensões
e
categorias
de
interesse
emerjam
progressivamente
durante
os
processos
de
coleta
e
análise
dos
dados.
Finalmente,
a
investigação
naturalística
é
aquela
em
que
a
intervenção
do
pesquisador
no
contexto
observado
é
reduzida
ao
mínimo
(ALVES-‐MAZZOTTI
&
GEWANDSZNAJDER,
1998,
p.
131).
No
panorama
das
pesquisas
qualitativas,
o
Construtivismo
Social
e
a
Teoria
Crítica
representam
paradigmas
que
neste
estudo
serão
acomodados.
O
Construtivismo
Social
enfatiza
a
intencionalidade
dos
atos
humanos
e
o
“mundo
vivido”
pelos
sujeitos,
privilegiando
as
percepções
dos
atores.
Considera
que
a
adoção
de
teorias
a
priori
na
pesquisa
turva
a
visão
do
observador.
Segundo
Guba
(19858
apud
ALVES-‐MAZZOTTI
e
GEWANDSZNAJDER),
“o
pesquisador
construtivista
quer
iniciar
suas
transações
com
os
8
Guba, E. , Lincoln, Y. S. Naturalistic Inquiry. Beverly Hills: Sage Publications, 1985.
respondentes
do
modo
mais
neutro
possível”
(1998,
p.
41).
Guba
(1990
apud
ALVES-‐
MAZZOTTI
e
GEWANDSZNAJDER)
afirma
que:
os
pressupostos
básicos
do
construtivismo
social
são:
Ontologia
relativista,
ou
seja,
as
realidades
existem
sob
a
forma
de
múltiplas
construções
mentais,
locais
e
específicas,
fundadas
na
experiência
social
de
quem
as
formula;
Epistemologia
subjetivista,
ou
seja,
os
resultados
são
sempre
criados
pela
interação
pesquisador-‐pesquisado;
Metodologia
hermenêutico-‐dialética,
ou
seja,
as
construções
individuais
são
provocadas
e
refinadas
através
da
hermenêutica
e
confrontadas
dialeticamente,
com
o
objetivo
de
gerar
uma
ou
mais
construções
sobre
as
quais
haja
um
significativo
consenso
entre
os
respondentes
(ALVES-‐
MAZZOTTI
&
GEWANDSZNAJDER,
1998,
p.
134).
A
teoria
crítica
enfatiza
a
análise
rigorosa
da
argumentação
e
do
método.
Prioriza
as
regras
e
os
padrões
da
metodologia
científica,
historicamente
construídos
e
vinculados
a
valores
sociais
e
a
relações
políticas
específicas.
Enfatiza
ainda
o
papel
da
ciência
na
transformação
social.
Segundo
Carspecken
e
Apple
(1992,
p.
509
apud
ALVES-‐
MAZZOTTI;
GEWANDSZNAJDER):
a
educação
tem
sido
uma
importante
arena
na
qual
a
dominância
é
reproduzida
e
contestada,
na
qual
a
hegemonia
é
parcialmente
formada
e
parcialmente
quebrada
na
criação
do
senso
comum
de
um
povo.
Assim,
pensar
seriamente
sobre
educação,
como
sobre
cultura
em
geral,
é
pensar
também
seriamente
sobre
poder,
sobre
os
mecanismos
através
dos
quais
certos
grupos
impõem
suas
visões,
crenças
e
práticas
(ALVES-‐
MAZZOTTI
&
GEWANDSZNAJDER,
1998,
p.
139).
A abordagem de Pesquisa Etnográfica nos auxilia na descrição dos particulares da ação
observada. Entendendo que as unidades fundamentais de análise deste método de pesquisa são
os conjuntos de relações e os processos pelos quais a ação acontece, esta pesquisa busca
investigar o processo pedagógico que visa o desenvolvimento educacional dos alunos com
necessidades educacionais especiais em situação de inclusão.
Seja qual for o nível de organização social considerado, a unidade de análise é uma
situação interacional que geralmente se dá numa relação dialética. Isto acontece em uma
sequência de eventos que ocorrem em um cenário histórico específico, no nosso caso, o
ambiente escolar. Neste contexto, nenhum evento ou situação interativa é considerado como
uma entidade separada, isto é, fora da situação e do contexto histórico de sua ocorrência num
tempo, num espaço e numa esfera social específica.
O
principal
método
de
coleta
de
dados,
em
etnografia,
é
a
observação
participante.
A
natureza
da
observação
participante
é
indicada
pelo
termo
mesmo,
pois
o
método
envolve
participação
ativa
com
aqueles
que
são
observados.
Swartz
e
Swartz,
concebem
a
observação
participante
não
só
como
um
instrumento
de
captação
de
dados,
mas
também
como
um
instrumento
de
modificação
do
meio
pesquisado,
ou
seja,
de
mudança
social
(HAGUETTE,
2010,
p.64).
O
pesquisador
está
consciente
de
que
o
que
está
sendo
visto
é
a
execução
de
um
entre
vários
conjuntos
de
possibilidades
humanamente
disponíveis
para
organizar
a
interação
social
que
está
sendo
observada.
Goffman,
citando
uma
frase
de
William
James
(1869)
afirmando
ter
sido
este
o
responsável
por
uma
guinada
fenomenológica
subversiva,
pergunta:
“Em
que
circunstâncias
pensamos
que
as
coisas
são
reais?”
(GOFFMAN,
2012,
p.24).
Assim,
a
observação
etnográfica
é
inerentemente
crítica,
mas
não
dá
como
dada
nenhuma
realidade
costumeira.
Segundo
Powdermaker
(1966),
em
sua
monografia
clássica
sobre
o
trabalho
de
campo
etnográfico,
o
observador
participante
tenta
continuamente
ser,
simultaneamente,
um
estranho
e
um
familiar
no
ambiente
de
campo.
A
observação
participante
ocorre
através
da
presença
em
primeiro
lugar
em
cenas
imediatas
das
vidas
diárias
dos
membros
do
grupo
social
que
está
sendo
estudado.
Isto
coloca
a
situação
social
no
centro
do
trabalho
do
observador
participante.
Idealmente,
o
pesquisador
tenta
variar
os
tipos
de
participação
e
maximizar
tanto
a
escala
de
situações
monitoradas
quanto
a
frequência
de
situações
monitoradas
em
vários
pontos
ao
longo
da
escala.
Através
da
observação
repetida
de
um
tipo
particular
de
evento,
o
pesquisador
pode
dar
atenção
seletivamente
a
diferentes
aspectos
do
evento,
desenvolvendo,
assim,
com
o
tempo,
uma
compreensão
cumulativa
de
todo
o
evento,
o
que
não
seria
possível
em
uma
única
observação.
Durante
a
observação
ou
imediatamente
após,
o
observador
escreve
narrativamente
notas
descritivas
sobre
o
comportamento
verbal
e
não
verbal
dos
participantes
nos
eventos
observados.
O
segundo
método
principal
de
coleta
de
dados
em
etnografia
é
a
entrevista.
Esta
fornece
evidências
das
perspectivas
dos
participantes
bem
como
evidências
com
relação
aos
eventos
que
o
pesquisador
não
foi
capaz
de
observar
em
primeira
mão.
Frequentemente
no
trabalho
de
campo
etnográfico
a
entrevista
é
feita
informalmente.
Quando
um
evento
está
acontecendo
o
pesquisador
poderá
fazer
algumas
perguntas
sobre
as
ações
que
estão
ocorrendo,
ou
poderá
fazê-‐las
ao
final.
Um
dos
propósitos
principais
da
entrevista
é
fornecer
evidências
referentes
aos
pontos
de
vista
dos
participantes
que
estão
sendo
estudados.
As
evidências
das
entrevistas
podem
confirmar
as
inferências
sobre
os
pontos
de
vista
dos
participantes
que
foram
feitas
pelo
pesquisador
com
base
na
observação
participante.
Esta
comparação
de
evidências
através
de
fontes
de
dados
diferentes
é
chamada
triangulação.
Ela
fornece
uma
verificação
de
validade
e
é
uma
das
razões
principais
porque
a
pesquisa
etnográfica
emprega
métodos
múltiplos
de
coleta
de
dados.
Gráfico: Foto:
Diego
Educador
Marcos
Psicóloga
Camilo
Pedro Pesquisador
Mariana
Luciana
Câmera
Pesquisadora
A
produção
de
um
gráfico
da
sala
de
aula
como
o
apresentado
acima,
favorece
o
registro
do
posicionamento
dos
corpos
em
interação,
facilitando
a
compreensão
e
o
reconhecimento
dos
sujeitos
no
espaço,
sendo
um
recurso
complementar
ao
da
imagem
fotográfica
ou
em
movimento,
pois
contém
informações
como
nomes,
idade,
localização
e
demais
informações
pertinentes,
inclusive
sobre
elementos
que
porventura
não
estejam
na
fotografia,
mas
sejam
igualmente
importantes
ao
contexto
da
pesquisa.
A
fotografia
acima
exemplifica
uma
sala
de
aula
na
qual
alunos
com
diferentes
necessidades
especiais
permanentes
ou
temporárias
interagem
entre
si
em
uma
determinada
tarefa
com
o
auxílio
dos
professores.
A
relação
face
a
face
e
o
envolvimento
dos
atores
na
tarefa
parecem
evidentes
por
meio
da
utilização
do
recurso
gráfico.
Os
diversos
recursos
de
pesquisa,
como
os
citados
acima,
servem
de
suporte
para
que
o
pesquisador
tenha
uma
rica
base
de
dados,
e
favorece
o
exercício
do
olhar
reflexivo.
Neste
exercício,
o
pesquisador
estabelece
um
diálogo
constantemente
com
o
campo
e,
mais
especificamente,
com
os
sujeitos
pesquisados.
Neste
diálogo,
o
pesquisador
considera
a
subjetividade
da
sua
presença
no
campo,
nos
aspectos
relativos
à
não
neutralidade,
ao
seu
posicionamento
teórico-‐prático-‐ideológico,
assim
como
considera
a
subjetividade
dos
sujeitos
pesquisados,
seus
posicionamentos
teórico-‐
prático-‐ideológicos,
a
cultura
do
lugar,
os
saberes
legitimados
e
não
legitimados,
as
relações
interpessoais,
as
interações
estabelecidas
entre
os
participantes
do
evento.
Buscamos
com
esta
abordagem
estabelecer
um
diálogo
sobre
o
exercício
do
estranhamento
do
espaço
da
escola,
mais
especificamente
a
sala
de
aula,
que
nos
é
tão
familiar.
Trabalhar
sobre
a
perspectiva
da
construção
de
significados
em
colaboração
com
os
sujeitos
participantes
da
pesquisa
é
uma
possibilidade
inovadora
na
microetnografia
de
sala
de
aula.
Acreditamos
que
todos
os
integrantes
do
evento
podem
exercitar,
por
meio
da
dialogicidade,
a
reflexividade
das
suas
práticas
cotidianas,
legitimando
os
saberes
de
todos
os
envolvidos
nesse
processo:
alunos,
pesquisadores,
professores,
staff
escolar,
pais.
O
processo
de
análise
de
conteúdo
Utilizamos a abordagem de análise de conteúdo Bardin (1977) para analisar os dados
coletados, uma vez que adotamos uma abordagem interpretativa dos mesmos. Para a autora, a
análise de conteúdo é aquela que pode ser entendida como "um conjunto de técnicas de
análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de
descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitam a
inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas)
destas mensagens" (p.42). Para ela, a análise de conteúdo acende a possibilidade, muitas
vezes, sem excluir a informação estatística, de descobrir ideologias, tendências e outras
categorias que caracterizam os fenômenos sociais que se analisam e, ao contrário da análise
apenas do conteúdo manifesto, o método utilizado é dinâmico, estrutural e histórico.
Entendemos
que
a
Análise
de
Conteúdo
é
um
instrumento
de
pesquisa
empregado
para
ressaltar
a
existência
de
palavras,
frases
e
expressões
dentro
de
um
texto
ou
conjunto
de
textos,
de
acordo
com
seu
objetivo
de
pesquisa.
Esse
procedimento
de
análise
organiza-‐se
em
torno
de
categorias.
A
categorização
permite
reunir
grande
número
de
informações,
esquematizando
e
correlacionando
classes
de
acontecimentos
para
organizá-‐los;
dessa
forma,
representa
“transformar”
dados
brutos
em
dados
ordenados.
Essa
técnica
permite
uma
abordagem
quantitativa
no
sentido
de,
após
o
agrupamento
do
material
em
diferentes
categorias,
construir
uma
tabela
de
frequências
dos
enunciados
assim
classificados.
As
respostas
obtidas
pelo
pesquisador
determinaram
a
escolha
das
unidades
de
classificação,
e
fornece
a
matéria
prima
para
a
Análise
de
Conteúdo:
a
categorização
e
organização
dos
diversos
enunciados
ou
unidades
de
classificação,
sejam
essas
de
numeração
ou
de
sentido.
Essas
categorias
podem
ser
pré
ou
pós-‐definidas.
Nesta
pesquisa,
as
categorias
foram
pós-‐definidas
à
medida
que
entrávamos
em
contato
com
os
registros
de
campo,
e
posteriormente
relacionadas
com
a
perspectiva
teórica
de
Booth
e
Ainscow
(2002),
Santos
(2007),
Santos
e
Paulino
(2008),
Santos,
Fonseca
e
Melo
(2009),
sendo
elas:
Culturas,
Políticas
e
Práticas.
Bardin
enfatiza
que
Não
existe
o
pronto
a
vestir
em
análise
do
conteúdo,
mas
somente
algumas
regras
de
base.
(...)
a
técnica
de
análise
de
conteúdo
adequada
ao
domínio
e
ao
objetivo
pretendido,
tem
que
ser
reinventada
a
cada
momento,
exceto
para
usos
simples
e
generalizados.
(2000,
p.31).
Seguindo
esta
abordagem
metodológica,
apresentamos
a
seguir
os
quadros
referentes
ao
levantamento
das
categorias
de
análise.
Os códigos de análise
100
80
60
40
20
0
Série 1
Os
códigos
levantados
foram
conceitualizados
e
exemplificados
para
se
transformarem
em
categorias
de
análise.
Tais
categorias
receberam
especificações
que
denominamos
Unidades
de
Sentido.
Estas
unidades,
dão
o
tom
das
categorias
pois
demonstram
o
sentido
de
cada
uma
delas.
Quadro
49:
Categorias,
Unidades
de
Sentido,
Conceito
e
Exemplos.
Categorias
Unidades
de
Sentido
Conceito
Exemplos
1.
1. Verbal
Um(a)
aluno(a)
responde
_
Carta,
substantivo
o
quê?
Atividade
verbalmente
às
perguntas
da
_
Comum!
Uma
aluna
respondeu
(399-‐400).
Pedagógica
professora.
2. No
quadro
Um(a)
aluno(a)
vai
ao
quadro
para
A
professora
pede
a
E.
para
escrever
“carro”
resolver
os
exercícios.
no
quadro.
E.
escreve
certo.
Pede
a
B.
que
diga
se
o
que
E.
escreveu
estava
certo.
_Não!
Diz
B.
(258-‐260).
3. Escrita
Um(a)
aluno(a)
desenvolve
a
Professora:
Vocês
vão
escrever
cada
tarefa
por
escrito
parágrafo
em
uma
folha
e
fazer
um
desenho
relacionado
ao
que
está
escrito
no
parágrafo
(4561-‐4562).
4. Mental
Um(a)
aluno(a)
resolve
a
tarefa
A
professora
pede
para
V.
soletrar
a
palavra
mentalmente.
“barco”.
_
b...
a...r...c...o...
(281-‐282).
5. Atividade
São
atividades
que
visam
“passar”
A
professora
pediu
que
enquanto
estivesse
de
espera
o
tempo
até
que
o
grupo
maior
de
fora,
os
alunos
que
restavam
na
sala
fossem
9
Os
exemplos
contidos
neste
quadro
constam
no
Bloco
de
Anexos
–
Registro
de
Campo,
da
pesquisa:
MELO,
S.
C.
Inclusão
em
Educação:
um
estudo
sobre
as
percepções
de
professores
da
rede
Estadual
de
Ensino
Fundamental
do
Rio
de
Janeiro,
sobre
práticas
pedagógicas
de
inclusão.
Tese
de
Doutorado.
Rio
de
Janeiro,
RJ.
Brasil:
UFRJ;
jan.
2010.
alunos
retorne
de
uma
atividade
ao
quadro
e
escrevessem
os
exemplos
de
extra-‐classe.
substantivos
próprio
e
comum
(197-‐199).
_
Enquanto
eles
estiverem
no
coral
eu
não
posso
dar
matéria
(870).
2.
6. Competiçã A
professora
propõe
uma
-‐ Ela
(a
professora)
faz
uma
competição
Estratégia
o
competição
entre
meninos
e
entre
meninos
e
meninas
sobre
quem
Pedagógica
meninas.
acerta
mais
palavras
(657).
7. Economia
A
professora
dá
a
nota
aos
alunos
A
professora
chama
E.
e
R.
para
irem
ao
de
pontos
baseada
nos
pontos
que
cada
um
quadro
e
resolverem
contas
de
somar.
recebeu
nas
competições
entre
38+54
e
55+33.
Na
lateral
direita
do
quadro
meninos
e
meninas.
ela
coloca
duas
colunas:
Meninos
e
Meninas
onde
marca
os
pontos
de
cada
grupo
(788-‐
791)
8. Elogios
A
professora
elogia
os
alunos
como
A
professora
continuou
a
falar
e
elogiou
a
estratégia
de
motivação.
turma
dizendo
que
eles
melhoraram
muito
desde
fevereiro
até
agora
(3596-‐3597).
9. Palmas
Palmas
como
estratégia
de
Ele
precisa
de
palmas
para
passar
para
motivação
outra
fase.
(929)
10. Questões
Todas
as
vezes
em
que
a
-‐
Página
163.
Teresa
aproveita
o
número
da
abertas
para
o
professora
propõe
questões
página
do
livro
para
fazer
perguntas
de
grupo
de
alunos
abertas
ao
grupo
de
alunos.
matemática:
“Qual
a
unidade?
”
“Qual
a
dezena?
”
“Qual
a
centena?
”
(2373-‐2374).
11. Trabalho
Trabalho
em
grupo
como
O
grupo
B
(L.)
fez
uma
ilustração
sobre
a
em
grupo
estratégia
pedagógica.
história
(3736-‐3737).
12. Leis
gerais
Políticas
da
professora.
Quem
pede
eu
não
dou!
Senta!
(900)
13. Trabalho
O
trabalho
em
duplas
como
Ele
tá
aprendendo
muito
com
você!
(927).
em
duplas
estratégia
pedagógica.
14. Exemplos
Todas
as
vezes
em
que
a
E
então,
deu
um
exemplo,
falando
de
um
pessoais
professora
se
utiliza
de
exemplos
cachorro
que
teve
quando
criança.
Disse
que
pessoais.
o
exemplo
dela
era
um
caso
verídico,
mas
que
eles
teriam
que
inventar,
pois
seria
uma
história
feita
em
grupo
(4020-‐4022).
15. Troca
de
Todas
as
vezes
em
que
a
Professora:
Senta
todo
mundo,
acabou
a
lugar
professora
propõe
que
os
alunos
fofoca!
Troca
E.
de
lugar
com
R.
(1354-‐
troquem
de
lugar.
1355).
3.
16. Explicação
Todas
as
vezes
em
que
a
Um
dos
alunos
estava
devendo
dinheiro
ao
Lição
de
Moral
sobre
o
desenv.
professora
aborda
temas
morais.
seu
colega.
A
professora
tirou
dinheiro
da
Moral
própria
carteira
e
pagou
ao
aluno
que
havia
emprestado.
Avisou
ao
aluno
devedor
(A.):
Agora
a
sua
dívida
é
comigo!
(160-‐162).
17. Apologia
Todas
as
vezes
em
que
a
Filho
meu,
se
não
andar
bem
na
escola,
lá
ao
comportamento
professora
solicita
aos
alunos
o
fora
não
tem
direito
a
nada!
(2123)
adequado
bom
comportamento.
4.
18. Uso
do
Todas
as
vezes
em
que
a
Precisamos
ter
disciplina,
sermos
Regras
uniforme
professora
cobra
aos
alunos
o
uso
organizados.
Antes
de
dormir
temos
que
Institucionais
do
uniforme.
escovar
os
dentes,
arrumar
a
mochila,
tomar
banho
de
manhã
e
deixar
o
uniforme
preparado
desde
a
noite
anterior
(3489-‐
3491).
19. É
proibido
Quando
existe
uma
proibição.
A
professora
iniciou
um
discurso
sobre
as
regras
da
sala
de
aula:
Não
quero
palavras
obscenas,
namorico,
guardem
o
boné!
(397-‐398)
20. É
Todas
as
vezes
em
que
a
A
professora
havia
ameaçado
L.
de
aconselhável
professora
orienta
os
alunos
a
encaminhá-‐la
a
direção
caso
ela
não
pedirem
desculpas.
pedisse
desculpas
a
E.
L.
não
pediu
até
que
a
professora
abriu
a
porta
da
sala
para
levá-‐la
para
fora.
Neste
momento
L.
falou
baixinho:
_
Desculpa
(828-‐831).
21. Coerção
Todas
as
vezes
em
que
um
_
E.,
mais
uma
sua
e
você
vai
para
a
tia
comportamento
é
punido.
C.
(Diretora)!
Vocês
sabem
que
a
tia
C.
manda
pro
Conselho
Tutelar?!
Ameaça
a
professora
(905-‐906).
5.
22. O
aluno
Todas
as
vezes
em
que
o
aluno
é
O
grupo
B
estava
conseguindo
fazer
o
Exclusão
não
participa
da
impedido
de
participar.
trabalho,
apesar
de
às
vezes
deixar
P.
e
B.
atividade
excluídos.
A
professora
falava
que
os
dois
deveriam
participar,
e
que
deveriam
pedir
a
opinião
deles
(4044-‐4043).
23. Nenhum
Todas
as
vezes
em
que
o
aluno
é
São
9:45
e
os
alunos
não
mexeram
no
material
sobre
a
impedido
de
usar
material.
material
da
mochila,
as
mesas
continuam
carteira
durante
a
vazias
e
a
tarefa
é
feita
mental,
verbalmente
aula
e
no
quadro
(817-‐819).
6.
24. Livros
Todas
as
vezes
em
que
um
livro
é
A
professora
vai
ao
fundo
da
sala,
pega
Material
Coletivo
didáticos
compartilhado.
alguns
livros
didáticos
de
matemática.
L.
se
levanta
e
pede
para
distribuir
(898-‐899).
25. Lápis
de
Todas
as
vezes
em
que
um
lápis
é
É
o
lápis,
tá
sem
lápis.
Ele
se
levanta
e
busca
escrever
compartilhado.
na
mesa
da
professora
(922-‐923).
26. Lápis
de
Todas
as
vezes
em
que
um
lápis
de
-‐
Você
tem
que
fazer
alguma
coisa,
não
vai
cor
cor
é
compartilhado.
fica
à
toa.
-‐
Mas
tia
eu
não
posso
desenhar?
-‐
Só
se
você
ficar
do
lado
do
P.
porque
não
tem
muito
lápis
de
cor.
Ele
aceita
e
vai
sentar
ao
lado
de
P.
para
desenhar
(1063-‐1066).
27. Giz
de
cera
Todas
as
vezes
em
que
um
giz
de
Vocês
vão
pintar.
A
professora
distribui
cera
é
compartilhado.
folha
mimeografada
com
o
motivo
da
páscoa
–
um
coelho
–
e
os
dizeres:
Feliz
Páscoa!
Distribui
também,
aleatoriamente,
lápis
de
cor
e
giz
de
cera.
Poucos
para
cada
mesa
de
alunos
(870-‐873).
28. Folhas
Todas
as
vezes
em
que
folhas
são
Após
distribuir
as
folhas
aos
alunos,
a
avulsas
compartilhadas.
professora
dá
início
ao
ditado
(208).
7.
29. Comprome Todas
as
vezes
em
que
há
algum
Promete
com
sua
mãe
tomando
um
tiro
de
Cultura
Social
timento
tipo
de
comprometimento
entre
os
metralhadora?
(1105-‐1106)
alunos
ou
entre
os
alunos
e
a
professora.
30. Modelage Todas
as
vezes
em
que
há
Ô,
tia,
olha
como
o
J.
tá
igual
bandido!
m
identificação
com
personagens
da
(1237)
cultura
social
do
grupo.
31. Localizaçã Todas
as
vezes
em
que
o
grupo
se
É
a
casa
da
maconha!
(1538)
o
orienta
por
pessoas
ou
coisas
da
sua
cultura.
32. Identificaç Todas
as
vezes
em
que
o
grupo
Olha
o
cheiro
de
crack,
olha
o
cheiro
da
ão
identifica
pessoas
ou
coisas
da
sua
maconha!
(1554)
cultura.
33. Paródias
Todas
as
vezes
em
que
o
grupo
Menina
serra
elétrica
[parodiando
o
trecho
traz
elementos
da
sua
cultura
para
do
texto,
menina
serelepe]
para
onde
você
a
escola.
vai?
Vou
pra
casa
da
minha
vó
cortar
a
cabeça
dela.
E
o
que
você
vai
fazer?
Fritar
na
frigideira
Menina
serra
elétrica
[parodiando
o
trecho
do
texto,
menina
serelepe]
para
onde
você
vai?
Vou
pra
casa
da
minha
vó
cortar
a
cabeça
dela.
E
o
que
você
vai
fazer?
Fritar
na
frigideira
(1476-‐1478).
8.
34. Conversas
Todas
as
vezes
em
que
a
A
professora
conversa
com
E.
sobre
o
seu
Relação
professor-‐ professora
estabeleceu
conversas
comportamento
no
coral
(889-‐890)
aluno
com
os
alunos.
35. Broncas
Todas
as
vezes
em
que
a
Olha
aqui
J.,
dentro
da
minha
sala
você
tem
professora
brigou
com
os
alunos.
que
fazer
o
que
eu
digo,
não
o
que
você
quer!
(321-‐322).
36. Bate-‐boca
Todas
as
vezes
em
que
a
Os
alunos
respondem
à
professora
e
ela
professora
e
aluno
(s)
discutiram.
responde
de
novo.
Eles
se
trocam,
batem
boca
(1272).
37. Afeto
Todas
as
vezes
em
alunos
e
A
professora
se
aproxima
bastante
de
V.
e
professora
manifestaram
ele
aproveita
e
lhe
dá
um
beijo
(1276-‐1277).
comportamentos
de
afeto.
9.
38. Explicaçõe Quando
a
professora
explica
os
A
professora
está
explicando
a
matéria
–
Conteúdo
s
conteúdos
pedagógicos.
Alfabeto.
Pedagógico
23
letras,
18
consoantes
e
5
vogais
(1619-‐
1620).
10. Acúmulo
39. Cuidado
Quando
a
professora
demonstra
A
professora
sai
da
sala
para
levá-‐lo
ao
de
funções
com
os
alunos
cuidado
aos
alunos.
banheiro
e
a
turma
fica
sozinha
(813).
40. Cuidado
Quando
a
professora
demonstra
A
escola
está
sem
faxineiros,
a
professora
com
a
escola
cuidado
com
a
escola/sala
de
aula.
que
limpa
a
sala
quando
chega
à
escola
(2002-‐2003)
11.
41. O
Quando
professora
ou
alunos
Olha
os
modos!
Mulher
não
pode
andar
com
Cultura
de
Gênero
comportamento
emitem
opinião
sobre
o
as
pernas
abertas
desse
jeito!
(1938-‐1939).
feminino
comportamento
feminino.
12.
42. Gestos
Quando
o
aluno
faz
gestos
não
O
aluno
fez
diversos
sinais
apontando
para
Gestos
não
difusos
convencionais
para
se
comunicar
vários
lugares
da
sala,
mas
a
professora
não
convencionais
–
mas
não
consegue
se
fazer
estava
conseguindo
entender
(4466-‐4467).
sem
sucesso
entender.
13.
43. Gestos
Quando
o
aluno
faz
gestos
não
-‐
Vinícius
levanta
e
passa
a
mão
no
cabelo.
Gestos
não
orientados
convencionais
para
se
comunicar
e
Teresa
pergunta
se
ele
cortou,
ele
diz
que
convencionais
–
consegue
se
fazer
entender.
sim
(2012-‐2013).
com
sucesso
14.
44. Atividades
Atividades
que
se
repetem
Ao
entrar
em
sala
de
aula,
a
professora
deu
Rotina
que
se
repetem
diariamente
bom
dia
aos
alunos
e
conversou
com
eles,
diariamente
dando-‐lhes
conselhos
(2281-‐2283).
15.
45. Histórias
Quando
professora
ou
alunos
-‐
A
professora
explica
o
motivo
de
seu
Relatos
familiares
pessoais
relatam
histórias
pessoais.
atraso
e
fala
sobre
o
problema
de
saúde
de
seu
pai
(1739).
Neste
movimento
de
análise,
reunimos
às
categorias
as
três
dimensões
propostas
por
Booth
e
Ainscow
(2012):
culturas,
políticas
e
práticas.
Tais
autores
sinalizam
para
a
necessidade
de
ampliar
o
foco
das
análises
dos
fatos
e
eventos
cotidianos,
fundamentados,
na
maioria
das
vezes,
nas
experiências
e
perspectivas
de
quem
analisa,
e
propõem
as
dimensões.
Para
tanto,
todo
e
qualquer
evento
que
for
submetido
à
análise
a
partir
das
três
dimensões
teriam
mais
chances
de
serem
investigados
de
forma
mais
ampla,
pois
seriam
considerados:
os
valores
em
jogo
(as
culturas),
as
regras
e
planejamentos
(as
políticas)
e
o
que
efetivamente
foi
realizado
(as
práticas).
Quadro
5:
Categorias
e
Dimensões
DIMENSÕES
CATEGORIAS
SUB-‐CATEGORIAS
UNIDADES
DE
SENTIDO
Culturas
Lição
de
Moral
Cultura
Social,
Cultura
de
Explicação
sobre
o
Gênero,
Acúmulo
de
funções,
desenvolvimento
moral;
Relatos
familiares
Apologia
ao
comportamento
adequado;
Comprometimento;
Modelagem;
Localização;
Identificação;
Paródia;
Comportamento
feminino;
Cuidado
com
os
alunos;
cuidado
com
a
escola;
Histórias
pessoais.
A
associação
das
dimensões
às
categorias
possibilitou
o
reconhecimento
de
que,
no
cenário
pesquisado,
a
sala
de
aula,
o
que
mais
se
observou
foram
as
práticas.
O
fazer
em
sala
de
aula
foi
relacionado
aos
conteúdos
pedagógicos.
As
atividades
verbais,
mentais,
escritas
ou
com
idas
ao
quadro,
além
das
atividades
de
espera
representaram
as
práticas
dos
alunos.
Como
política
da
sala
de
aula
pesquisada,
observou-‐se
aquelas
relacionadas
às
estratégias
pedagógicas.
Neste
aspecto,
as
estratégias
utilizadas
foram:
competição
entre
alunos
(meninos
X
meninas);
o
uso
do
material
coletivo
como
política
da
escola,
tudo
era
comum;
e
uma
relação
entre
professora
e
alunos
baseada
no
afeto
e
na
proximidade.
Com
relação
às
culturas,
observou-‐se
que
nesta
sala
de
aula
muito
se
abordou
sobre
a
cultura
social
do
grupo
de
alunos
e
professora,
e
os
papéis
masculinos
e
femininos.
Outro
fator
interessante
foi
o
de
que,
os
valores
inerentes
ao
papel
social
do
professor
no
contexto
brasileiro
de
baixos
salários,
refletem
na
atuação
deste
na
sala
de
aula,
acumulando
funções
que
realizam
em
casa.
Nesta
sala
de
aula,
a
professora,
além
de
atuar
como
docente,
varria
e
limpava
a
sala
diariamente.
Além
disso
oferecia
cuidados
de
higiene
pessoal
aos
alunos
com
deficiência.
Ainda
com
relação
às
culturas,
a
sala
de
aula
pesquisada
se
orientou
a
partir
de
regras
institucionais
como
a
obrigação
do
uso
do
uniforme,
a
proibição
do
“namorico”,
o
estímulo
aos
acordos
(pedidos
de
desculpas).
Duas
categorias
foram
relacionadas
à
dimensão
das
culturas,
mas
estão
diretamente
associadas
ao
comportamento
de
interação
do
aluno
com
Transtorno
Autista,
que
foram
os
gestos
não
convencionais.
Esta
denominação
se
deu
por
causa
de
tais
gestos
não
serem
orientados
a
partir
da
Linguagem
Brasileira
de
Sinais.
Considerações
Finais
Este
capítulo
apresentou
a
construção
metodológica
da
pesquisa
intitulada
Inclusão
em
Educação:
um
estudo
sobre
as
percepções
de
professores
da
rede
Estadual
de
Ensino
Fundamental
do
Rio
de
Janeiro,
sobre
práticas
pedagógicas
de
inclusão,
e
teve
por
objetivo
descrever
as
etapas
de
coleta
e
análise
dos
dados,
tendo
por
referencial
teórico-‐metodológico
a
abordagem
de
pesquisa
etnográfica.
Apresentou
o
processo
de
análise
de
conteúdo
a
partir
de
instrumentos
como
registros
de
campo
e
observações
participante.
Os
resultados
da
análise
exposta
–
as
categorias
e
unidades
de
sentidos
levantadas,
demonstram
a
construção
de
conhecimento,
neste
caso,
na
área
da
Educação,
e
orientam
para
o
aprofundamento
necessário
às
discussões
de
pesquisa.
Para
fins
deste
capítulo,
somente
o
processo
de
análise
foi
apresentado,
deixando
ao
leitor,
a
tarefa
de
aprofundá-‐los.
Referências
ALVES-‐MAZZOTTI,
A.
J.
&
GEWANDSZNAJDER,
F.
O
método
nas
Ciências
Sociais:
pesquisa
quantitativa
e
qualitativa.
2
ed.
São
Paulo:
Thomson.
2004.
ANDRÉ,
M.
Etnografia
da
prática
escolar.
Campinas:
Ed.
Papirus,1995.
BARDIN,
Laurence.
Análise
de
conteúdo.
Lisboa:
Edições
70,
1977.
BARDIN,
L.
Análise
de
Conteúdo.
Tradução
de
Luís
Antero
Reto
e
Augusto
Pinheiro.
Lisboa:
Edições
70,
2000.
BOOTH,
T.
&
AINSCOW,
M.
Index
para
Inclusão:
desenvolvendo
a
aprendizagem
e
a
participação
na
escola.
Tradução:
Mônica
Pereira
dos
Santos,
PHD.
Produzido
pelo
Laboratório
de
Pesquisa,
Estudos
e
Apoio
à
Participação
e
à
Diversidade
em
Educação
(LaPEADE).
Reimpressão:
dez,
2002.
BAUER,
M.
W.,
GASKELL,
G.
(Orgs).
Pesquisa
qualitativa
com
texto,
imagem
e
som:
um
manual
prático.
12ª
ed.
Petrópolis,
RJ:
Vozes,
2014.
COX,
M.
I.
P.
et
al
(orgs.).
Cenas
de
sala
de
aula.
Campinas:
Mercado
de
letras,
2001.
ERICKSON,
F.
Ethnographic
microanalysis
of
interaction.
In
LECOMPTE,
M.
D.
et
al.
(orgs.).
The
handbook
of
qualitative
research
in
education.
New
York:
Academic
Press
Inc.,
1992.
GOFFMAN,
E.
Os
quadros
da
experiência
social:
uma
perspectiva
de
análise.
Petrópolis,
RJ:
Vozes,
2012.
HAGUETTE,
T.
M.
F.
Metodologia
qualitativas
na
sociologia.
12ª
ed.
Petrópolis,
RJ:
Vozes,
2010.
MATTOS,
C.
L.
G.
Análises
etnográficas
das
imagens
sobre
a
realidade
do
aluno
no
enfrentamento
das
dificuldades
e
desigualdades
na
sala
de
aula.
In
BARBOSA,
O.I.
et
al.
Pesquisa
em
Educação:
métodos,
temas
e
linguagens.
Rio
de
Janeiro,
DP&A,
2005,
p.
103-‐
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MATTOS,
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FONTOURA,
H.
A.
Etnografia
e
Educação:
Relatos
de
Pesquisa.
Rio
de
janeiro:
EDUERJ,
2009.
MELO,
S.
C.
Inclusão
em
Educação:
um
estudo
sobre
as
percepções
de
professores
da
rede
Estadual
de
Ensino
Fundamental
do
Rio
de
Janeiro,
sobre
práticas
pedagógicas
de
inclusão.
Tese
de
Doutorado.
Rio
de
Janeiro,
RJ.
Brasil:
UFRJ;
jan.
2010.
SANTOS,
M.
P.
Culturas,
Políticas
e
Práticas
de
Inclusão
em
Universidades.
UFRJ,
2007.
SANTOS,
M.
P.;
PAULINO,
M.
Inclusão
em
Educação:
culturas,
políticas
e
práticas.
São
Paulo:
Cortez,
2006.
SANTOS,
M.
P.;
FONSECA,
M.;
MELO,
S.
Inclusão
em
Educação:
diferentes
interfaces.
Curitiba:
CRV,
2009.
SPRADLEY,
J.
P.
Participant
Observation.
New
York:
Holt,
Rinehart
and
Winston,
1980.
Parte
II
–
Aspectos
Metodológicos
A
ENTREVISTA
NOS
ESTUDOS
SOBRE
O
FRACASSO
ESCOLAR:
SILENCIANDO
AS
VOZ
DOS
ALUNOS
E
FALANDO
SOBRE
ELES
Carmen
Lúcia
Guimarães
de
Mattos
Paula
Almeida
de
Castro
Introdução
10
Esse
texto
divide-‐se
em
duas
partes.
A
primeira
é
conceitual
onde
se
apresenta
considerações
sobre
o
uso
da
entrevista
na
pesquisa
qualitativa.
A
segunda
é
analítica,
faz
um
exame
metodológico-‐epistemológico
de
seiscentos
e
oitenta
e
três
(683)
textos
sobre
o
fracasso
escolar
com
o
objetivo
de
identificar
o
uso
ou
não
de
entrevistas
como
instrumento
de
pesquisa
e
de
que
forma
os
alunos
e
alunas,
sujeitos
do
fracasso
foram
acessados.
A
hipótese
construída
para
esta
investigação
derivou
do
fato
que,
muitas
vezes
em
pesquisas
da
área
da
Educação
pesquisadores
utilizam
a
entrevista
como
recurso
e
associam
este
uso
à
etnografia.
Assim,
somente
a
partir
desse
critério
classificam
seus
trabalhos
como
etnográficos.
Esta
hipótese
foi
evidenciada
nas
pesquisas
sobre
o
fracasso
escolar
realizadas
em
escolas
e/ou
que
falam
sobre
escolas
e
que
possibilitariam
o
acesso
ao
aluno
através
de
observações
de
sala
de
aula,
vídeos,
focus
group,
estudo
de
caso,
dentre
outros
instrumentos
de
pesquisa
qualitativa
e
que
estes
seriam
facilitados
ou
ampliados
pelo
uso
da
entrevista
como
instrumento.
10
Este
texto
é
parte
dos
resultados
da
pesquisa
intitulada:
Fracasso
Escolar:
Gênero
e
Pobreza
(2008-‐
2010),
financiada
pelo
CNPQ,
processo,
400531/2008-‐9,
foi
apresentado
em
versão
inicial
no
British
Educacional
Research
Association
Annual
conference
of
BERA
(2008)
e
no
IV
Seminário
Internacional
de
Pesquisa
e
Estudos
Qualitativos
(SIPEQ)
em
2010.
Considerações
sobre
o
uso
da
entrevista
na
pesquisa
qualitativa
Por
que
entrevistar?
Como
resposta
a
este
questionamento
compreende-‐se
que
a
entrevista
ocorre
por
existir
o
interesse
do
entrevistador
nas
histórias
que
o
entrevistado
pode
contar.
Esta
é
a
forma
mais
simples
de
se
definir
o
uso
de
entrevistas
em
pesquisas.
Alguém
está
interessado
em
conhecer
o
outro
e
fazer
sentido
das
experiências
deste
outro.
Neste
sentido,
entrevistar
ocorre
como
uma
possibilidade
e/ou
oportunidade
para
aprofundar
e
ampliar
dados
de
pesquisa
coletados
por
outros
tipos
de
instrumentos.
Esse
aprofundamento
se
dá
pela
necessidade
em
entender
os
participantes
através
de
seu
discurso
sobre
um
determinado
tema
de
pesquisa.
Na
descrição
de
uma
entrevista
a
ótica
e
o
conteúdo
da
fala
do
entrevistado
devem
ser
considerados
como
principais
fontes
de
dados.
Deste
modo,
o
entrevistador
talvez
possa
descrever
as
percepções,
representações,
conceitos,
valores,
dentre
outros,
de
modo
mais
coerente
e
claro
a
partir
do
que
o
entrevistado
significa
com
a
sua
fala.
Ao
narrar
sobre
sua
história
de
vida
uma
pessoa
tende
a
selecionar
detalhes
para
mostrar
ao
entrevistador
como
ele
faz
sentido
de
algo
que
julga
ser
importante
para
o
desenvolvimento
da
pesquisa
deste.
O/a
entrevistado/a
tem
consciência
de
que
o/a
entrevistador/ra
precisa
compreender
alguma
coisa
sobre
esta
história
de
vida.
O
entrevistador
tem
consciência
de
que
a
parte
da
história
que
está
sendo
revelada
pode
não
refletir
o
momento
que
está
sendo
vivido
por
ambos
–
entrevistador
e
entrevistado
–,
mas
que
é
necessário
fazer
sentido
daquele
momento.
De
modo
que
a
história
trazida
à
tona
pelo
entrevistado
precisa
ser
respeitada
e
seu
significado
preservado
em
termos
da
contextualização
evocada
por
ele/ela
que
pode
tanto
ser
posterior
quanto
anterior
ao
fato
narrado.
A
contextualização
evocada
pelo
entrevistado
é
uma
parte
do
todo
da
consciência
maior
que
ele/ela
pretende
comunicar
sobre
o
tema
abordado
(VYGOSTSKY,
1979).
É,
pois
através
dessa
contextualização
dos
fatos
apresentados
que
o
tema
ganha
significado
na
história
a
ser
contada.
Há
que
se
destacar
que
cada
palavra
do
entrevistado
é
utilizada
para
significar
o
contexto
do
qual
tem
consciência
através
da
ação
ou
evento
lembrado
durante
a
entrevista
e
que
é
importante
para
ele
naquele
momento
(SEIDMAN,
1998,
p.2).
A
lembrança
de
fatos
e
eventos
é
proporcionada
através
de
canais
de
comunicação
consigo
mesmo,
cadeias
de
ideias
interconectadas.
Portanto,
pode-‐se
inferir
que
entrevista-‐se
alguém
para
se
ter
acesso
ao
conteúdo
das
informações
que
uma
pessoa
tem
sobre
um
determinado
tema
ligado
à
memória
e
lembranças.
Para
os
que
se
interessam
pela
entrevista
como
ferramenta
de
pesquisa,
um
dos
argumentos
para
seu
uso
está
na
natureza
dos
conteúdos
de
fatos,
eventos,
ideias
e
conceitos
que
as
lembranças
do
entrevistado
podem
evocar.
Para
Goffman
(2011)
estas
instâncias
reveladoras,
durante
uma
entrevista,
são
subjetivas
e
surgem
em
forma
de
quadros,
frames
e
enquadres
como
em
uma
cena
de
filme
em
câmera
lenta.
Os
quadros
em
frames
(fotos)
são
visualizados
pelo
entrevistado,
passo
a
passo
e
é
assim
passado
para
o
entrevistador
de
modo
a
explicar
detalhes
dos
fatos,
auxiliando
ambos
–
entrevistador
e
entrevistado
–
a
tornarem-‐se
reflexivos
e
ativos
na
forma
de
conduzir
a
entrevista.
Quadro
I-‐
Analise
de
dados
ESPAÇO
Você
pode
Como
o
De
que
Como
o
De
que
Que
De
que
De
que
Que
lugares
se
descrever
espaço
é
modo
o
espaço
é
modo
o
mudanças
modo
o
modo
o
associam
aos
com
organizado
espaço
é
organizado
espaço
é
ocorreram
espaço
é
espaço
se
sentimentos?
detalhes
pelos
organizado
pelas
organizado
com
o
usado
pelos
relaciona
todos
os
objetos?
pelas
ações?
atividades?
pelos
tempo?
atores?
com
os
lugares?
eventos?
objetivos?
OBJETO
Onde
os
Você
pode
De
que
De
que
De
que
Como
os
De
que
Como
são
os
Quais
são
todos
objetos
descrever
modo
os
modo
os
modo
os
objetos
são
modo
os
objetos
os
modos
de
estão
em
objetos
são
objetos
são
objetos
são
usados
nos
objetos
são
usados
para
evocar
localizados?
detalhes
usados
nos
utilizados
usados
nos
diferentes
usados
atingir
os
sentimentos
todos
os
atos?
nas
eventos?
tempos?
pelos
objetivos?
através
dos
objetos?
atividades?
atores?
objetos?
ATO
Como
os
Como
as
Você
pode
Como
as
Como
as
Como
os
De
que
De
que
Quais
são
todos
atos
ações
são
descrever
ações
fazem
ações
fazem
atos
variam
modo
é
a
modo
as
os
casos
que
os
ocorrem?
incorporada em
parte
das
parte
dos
ao
longo
do
performanc ações
são
atos
são
ligados
s
no
uso
dos
detalhes
atividades?
eventos?
tempo?
e
dos
atores
relacionadas
aos
objetivos?
objetos?
todas
as
em
relação
aos
ações?
as
suas
objetivos?
ações?
ATIVIDAD Quais
são
De
que
De
que
Você
pode
De
que
Como
as
De
que
De
que
Como
as
E
todos
os
modo
as
modo
as
descrever
modo
as
atividades
modo
as
modo
as
atividades
lugares
em
atividades
atividades
em
atividades
variam
nos
atividades
atividades
envolvem
os
que
as
são
são
detalhes
fazem
parte
diferentes
envolvem
os
envolvem
os
sentimentos?
atividades
incorporada incorporada todas
as
dos
tempos?
atores?
objetivos?
ocorrem?
s
aos
s
aos
atos?
atividades?
eventos?
objetos?
EVENTO
Quais
são
De
que
De
que
De
que
Você
pode
Como
os
Como
os
Como
os
Como
os
todos
os
modo
os
modo
os
modo
os
descrever
eventos
eventos
eventos
eventos
lugares
eventos
são
eventos
eventos
são
em
ocor-‐rem
ao
envolvem
estão
envolvem
onde
os
incorporado incorporam
incorporado detalhes
longo
do
vários
relacionado sentimentos?
eventos
s
aos
os
atos?
s
pelas
todos
os
tempo?
atores?
s
aos
ocorrem?
objetos?
atividades?
eventos
Existe
objetivos?
alguma
seqüência?
TEMPO
Quando
os
De
que
Como
os
Como
as
Como
os
Você
pode
Quando
Como
os
Como
os
períodos
de
modo
o
atos
atividades
eventos
se
descrever
todos
os
objetivos
se
sentimentos
tempo
tempo
afeta
encaixam
no
encaixam
acomodam
em
atores
se
relacionam
são
evocados
ocorrem?
os
período
de
dentro
de
no
período
detalhes
encontram
com
os
nos
diferentes
objetivos?
tempo?
um
período
de
tempo?
todos
os
num
único
períodos
de
períodos
de
de
tempo?
tempos?
estágio
de
tempo?
tempo?
tempo?
ATOR
Onde
os
De
que
De
que
De
que
Como
os
Como
os
Você
pode
Quais
atores
Que
atores
modo
todos
modo
todos
modo
os
atores
se
atores
descrever
estão
sentimentos
colocam-‐se
os
atores
os
atores
atores
se
envolvem
mudam
no
em
conectados
são
a
si
usam
os
usam
as
envolvem
nos
decorrer
do
detalhes
com
quais
experimentado
mesmos?
objetivos?
ações?
nas
eventos?
tempo
ou
todos
os
objetivos?
s
pelos
atores?
atividades?
em
tempos
atores?
diferentes?
OBJETIVO
Onde
os
De
que
De
que
Quais
Quais
são
Quais
Como
os
Você
pode
Quais
são
todos
objetivos
modo
os
modo
os
atividades
todos
os
objetivos
vários
descrever
os
modos
de
os
são
objetivos
objetivos
buscam
os
modos
em
são
objetivos
em
objetivos
buscados
e
estão
envolvem
as
objetivos?
que
os
organizados
afetam
os
detalhes
evocarem
atingidos?
envolvidos
ações?
Ou
estão
eventos
são
em
relação
vários
todos
os
sentimentos?
com
os
ligadas
a
ligados
aos
ao
tempo?
atores?
objetivos?
objetos?
eles?
objetivos?
SENTIMEN
Quando
os
Quais
De
que
De
que
De
que
Como
Como
os
Como
os
Você
pode
vários
sentimentos
modo
os
modo
os
modo
os
sentimentos
sentimentos
sentimentos
descrever
em
TO
estados
de
levam
ao
sentimentos
sentimentos
sentimentos
se
envolvem
os
influenciam
detalhes
todos
sentimentos
uso
de
quais
afetam
os
afetam
as
afetam
os
relacionam
atores?
os
os
ocorrem?
objetos?
atos?
atividades?
eventos?
com
os
objetivos?
sentimentos?
vários
períodos
de
tempo?
Fonte:
Spradley
(1980,
p.
82
e
83)
Neste
segmento
do
texto
foram
apresentados
considerações
sobre
o
uso
da
entrevista
em
pesquisa
qualitativa
com
ênfase
na
entrevista
etnográfica.
Buscou-‐se
explorar
conceitos
e
formas
de
se
pensar
a
entrevista
como
um
instrumento
importante
de
pesquisa
que
exige
o
cuidado
em
sua
definição
assim
como
no
seu
preparo
enquanto
técnica
para
a
valorizar
o
contexto
a
ser
pesquisado
e
principalmente
a
voz
do
informante-‐sujeito
da
pesquisa.
A
seguir
apresentar-‐se-‐á
o
estudo
analítico
desenvolvido
a
partir
de
textos
que
versam
sobre
o
fracasso
escolar
presente
na
literatura
sobre
educação
e
parte
do
banco
de
dados
realizado
para
a
pesquisa
de
Mattos;
Castro
(2010)
com
a
intensão
de
verificar
o
uso
ou
não
da
entrevista
e
após
essa
verificação
saber
de
que
modo
esta
foi
utilizada
e
quem
foi
o
principal
informante,
assim
como
as
implicações
sobre
essas
escolhas
tanto
do
informante
quanto
do
tipo
de
entrevista.
Analise
metodológico-‐epistemológica
dos
textos
sobre
o
fracasso
escolar
Nesta
sessão
será
realizada
uma
análise
metodológico-‐epistemológica
em
textos
sobre
o
fracasso
escolar11.
O
acesso
a
este
corpus
de
dados
foi
a
partir
da
palavra-‐chave:
fracasso
escolar,
e
a
busca
se
deu
em
artigos
científicos
da
área
da
Educação
em
jornais
e
revistas
científicas
de
origem
nacional
assim
como
em
teses
e
dissertações
que
universidades
brasileira
no
período
entre
1987
a
2007.
Uma
busca
inicial
em
seiscentos
e
oitenta
e
três
(683)
textos
sobre
o
fracasso
escolar
indicou
que
cento
e
quarenta
e
nove
(149)
mencionavam
a
entrevista
como
instrumento
de
pesquisa
e
deste
foram
destacados
noventa
e
nove
que
99
que
falaram
dos
alunos
como
objeto/sujeito
de
suas
pesquisas.
Esses
textos
foram
analisados
através
de
mapas
conceituais
em
acordo
com
as
perguntas
elencadas
no
Quadro
II.
Quadro
II.
Modelo
do
mapa
conceitual
utilizado
Fonte:
Mattos
e
Castro,
2010
As
etapas
de
análise
desenvolvidas
foram:
Catalogação
dos
683
textos
sobre
fracasso
escolar
utilizando
o
software
EndNote12;
Análise
destes
textos
utilizando
o
software
Atlas.ti
tendo
como
categorias
de
análise
as
palavras
-‐
entrevista,
conversas,
11
A lista completa com os 683 textos está disponíveis em anexo ao relatório da pesquisa “Fracasso Escolar:
Gênero e Pobreza (2008-2010)” por Mattos e Castro, 2010.
12
Os software EndNote é uma ferramentas digital que permitem a criação de banco de dados bibliográfico e o
Atlas.ti é um software de análise de conteúdo.
pesquisa,
questões,
procedimentos
e
instrumentos;
Análise
das
categorias
encontradas
pela
maior
frequência
de
palavras
que
emergiram
do
Atlas.ti;
Construção
do
mapa
conceitual
dos
149
textos
com
o
objetivo
de
responder
as
questões
propostas;
Seleção
dos
textos
que
utilizaram
entrevista
como
instrumento
de
pesquisa,
na
qual
99
textos
foram
destacados;
Classificação
destes
textos
quanto
a
sua
natureza
teórica,
empírica
e
outros
tipos;
Classificação
dos
textos
selecionados
quanto
ao
uso
que
fizeram
da
entrevista,
os
dados
que
emergiram
desta
análise
foram:
usou
entrevista
para
estudar
o
tema
metodologicamente;
usou
dados
e
outras
entrevistas
para
realizar
entrevistas
no
estudo
relatado,
usou
entrevista
para
falar
dela
a
partir
de
outros
estudos
que
usaram
entrevistas
como
instrumento;
Classificação
quanto
aos
tipos
de
entrevistas
utilizadas
a
partir
de
termos
identificados
no
discurso
do
autor:
1)
entrevista
aberta,
não
estruturada,
etnográficas;
2)
entrevista
estruturada;
3)
entrevista
semiestruturadas
e/ou
semiabertas
e
4)
outros
tipos
de
entrevistas:
do
tipo
entrevista
clínica
e
/ou
anamnese;
combinada
com
questionário;
combinada
com
observação;
combinada
com
desenho;
do
tipo
focus
group;
combinada
com
relatório;
do
tipo
devolutiva
e;
por
fim,
quais
textos
declaram
utilizar
entrevistas
como
instrumento
sem
explicar
o
tipo
ou
uso
que
fizeram
das
mesmas.
Destacaram-‐se,
dentre
os
diversos
tipos
de
entrevistas
mencionados
nos
estudos
analisados
a
entrevista
estruturada,
a
entrevista
aberta
e
a
entrevista
semiestruturada
que
serão
exploradas
a
seguir.
Entrevistas
estruturada,
aberta,
semiestruturada
e
outros
tipos
No
primeiro
tipo
mencionado
a
entrevista
estruturada
é
entendida
aqui
como
aquela
que
inclui
perguntas
programadas
e/ou
formuladas
previamente
que
não
serão
alteradas
durante
o
curso
da
investigação.
Geralmente,
segue
um
roteiro
fechado
de
questões
ou
um
guia.
Oposta
a
esta,
encontra-‐se
o
segundo
tipo,
a
entrevista
aberta
que
se
caracteriza
por
uma
conversa.
Pois
não
segue
formalmente
um
guia
e/ou
roteiro
previamente
elaborado.
Este
tipo
é
também
comparado
a
um
bate-‐papo,
uma
conversa
informal,
um
diálogo
aberto
entre
o
entrevistador
e
o
entrevistado
sobre
o
tema
em
estudo.
De
acordo
com
Gomes
(2004,
p.5)
a
entrevista
aberta
é
aquela
que
oferece
um
conteúdo
privilegiado
para
a
análise
realizada
pelo
autor
e
cada
entrevista
deve
ser
tomada
em
sua
totalidade.
Para
isso
o
discurso
escrito
precisa
ser
o
mais
fiel
possível
ao
discurso
falado.
Porém,
a
busca
da
forma
e
sentido
do
conteúdo
desse
discurso
depende
de
quem
os
interpreta,
as
entrevistas
etnográficas
são
as
que
mais
de
enquadram
neste
tipo.
O
terceiro
tipo
de
entrevista
é
a
semiestruturada
na
qual
tende-‐se
a
misturar
ambas
as
características
dos
tipos
de
entrevistas
descritas
anteriormente.
Neste
tipo
de
entrevista
existe
ampla
liberdade
do
pesquisador,
ela
é
flexível
e
permite
perguntas
e/ou
as
intervenções
para
elucidar
um
caso
particular
do
roteiro
previsto.
Neste
tipo
de
entrevista
pode
existir
um
guia
e/ou
um
roteiro,
mas
este
é
utilizado
sem
o
rigor
da
entrevista
estruturada,
podendo
sofrer
alterações
no
decorrer
da
entrevista.
Para
Triviños
(1987
apud
SILVA,
2005,
p.146)
a
entrevista
do
tipo
semiestruturada
é
aquela
em
que
o
informante
segue
espontaneamente
uma
linha
de
seu
pensamento
e
pode
participar
na
elaboração
do
conteúdo
da
entrevista.
Este
conteúdo
envolve
não
somente
a
teoria
que
advêm
do
repertório
dos
entrevistados,
mas
também,
da
ação
de
entrevistar,
sendo,
muitas
vezes,
um
complemento
às
informações
já
obtidas
pelo
entrevistador
sobre
o
tema
de
seu
estudo
no
campo
de
pesquisa.
Discussão
dos
Resultados
Os
dados
resultantes
das
análises
realizadas
para
o
relato
deste
segmento
do
texto
foram
reunidos
de
duas
formas.
A
primeira
em
forma
de
uma
tabela 13
com
a
identificação
do
texto
pesquisado
e
do
tipo
de
entrevista
encontrado.
Nela
foram
destacados
itens
considerados
importantes
para
a
análise
da
entrevista
como
metodologia,
deles
constam
–
identificação
do
texto
estudado
e
descrição
do
mesmo
sobre
a
entrevista
Na
segunda
forma
de
análise
explora
o
tipo
de
entrevista
identificado
no
texto
pela
frequência
de
cada
tipo
elaborado.
Veja
no
Quadro
III
o
gráfico
contendo
os
dados
numéricos
e
a
tipologia
de
entrevista.
13
Veja em anexo I ao final do texto a tabela I com os noventa e nove (99) textos.
QUADRO III Tipos de entrevistas nos 99 textos analisados
Semi-‐estruturada 23
Estruturada 26
ESTRUTURADA
44.
(BARREIRO,
2006)
Quando
a
diferença
e
motivo
de
tensão:
um
estudo
de
currículos
praticados
Pesquisa
qualitativa.
Utiliza
em
classes
iniciais
do
ensino
entrevista
como
instrumento
de
coleta
de
fundamental.
Uma
vez
dados.
“conversas”
informais
em
meio
ou
selecionada
a
escola,
cuja
ao
final
das
aulas
observadas.
Entrevistas
contextualização
e
formais
com
três
professoras,
cujas
aulas
caracterização.
Adotou,
para
foram
também
objeto
de
observação
(p.
desenvolver
a
investigação,
os
90)
procurou
elaborar
um
roteiro
de
seguintes
procedimentos
entrevista
(p.91).
metodológicos:
observação
de
reuniões
pedagógicas
de
centros
de
estudos
e
planejamentos.
Observação
de
situações
de
aula.
45.
(COHEN,
2004)
Uma
questão
entre
psicanálise
e
educação:
sobre
a
etiologia
do
fracasso
A
entrevista
foi
o
principal
escolar.
instrumento
usado
na
coleta
de
dados,
o
material
recolhido
veio
de
três
obedecendo
a
um
roteiro
pré-‐
fontes:
estabelecido,
cujo
objetivo
era
detectar
o
1-‐
de
entrevistas
semi-‐diretivas
que
havia
ocorrido
durante
a
execução
do
com
diretores
de
escola,
projeto
político-‐pedagógico,
no
que
professores
das
turmas
de
concerne
à
relação
professor-‐aluno
e
a
aceleração
de
aprendizagem
e
outros
fatores
que
poderiam
estar
alguns
alunos
que
desejaram
interferindo
no
processo
ensino-‐
participar
da
pesquisa;
aprendizagem
dos
alunos
(p.132)
esse
2-‐
dos
dados
levantados
nas
atas
material
foi
complementado
com
dos
conselhos
de
classe
(COC),
depoimentos
aleatórios,
colhidos
em
nas
atas
dos
conselhos
de
classe
entrevistas
espontâneas
com
alunos
de
extraordinários
(COCEX)
e
nas
algumas
escolas
visitadas.
fichas
de
avaliação
dos
professores;
3-‐
de
alguns
materiais
didáticos
utilizados
no
projeto.
46.
(COSTA,
2006)
Bolsa-‐escola
e
Dissertação
de
mestrado,
pesquisa
inclusão
educacional
em
empírica
e
estudo
de
caso.
“inclui
a
Jaboticabal
(SP).
pesquisa
empírica,
utilizando
a
técnica
de
entrevista,
seguindo
um
roteiro
de
questões
que
procuraram
contemplar
os
objetivos
acima
delineados.”
47.
(DIÓRIO,
2004)
Ascensão
escolar
e
profissionalização
de
bons
alunos
de
baixa
renda:
avaliação
Os
dados
finais
da
pesquisa
foram
de
um
programa
brasileiro.
coletados
por
intermédio
de
entrevistas
Pesquisa
experimental.
Os
dados
telefônicas
com
os
próprios
participantes
iniciais
(histórico
escolar,
de
da
pesquisa
ou
com
seus
parentes
diretos.
renda
e
informações
pessoais)
do
grupo
controle
foram
conseguidos
nas
escolas
públicas
e,
os
finais,
por
intermédio
de
entrevistas
telefônicas
com
os
próprios
participantes
da
pesquisa
ou
com
seus
parentes
diretos.
Os
dados
foram
digitados
no
programa
Statistical
Package
For
The
Social
Sciences
(SPSS)
para
viabilizar
as
comparações
através
dos
testes
não
paramétricos.
Comparação
de
duas
proporções.
e
qui-‐
quadrado
para
uma
única
amostra.
O
nível
de
significância
adotado
foi
de
5%
(p<0,05).
48.
(IBGE,
2005)
Síntese
dos
indicadores
sociais.
Ano
de
coleta:
2004.
Pesquisa
Utiliza
entrevista
como
instrumento
quantitativa.
de
coleta
de
dados.
Pessoas
que
têm
a
unidade
domiciliar
(domicílio
particular
ou
unidade
de
habitação
em
domicílio
coletivo)
como
local
de
residência
habitual
e
estão
presentes
na
data
da
entrevista,
ou
ausentes,
temporariamente,
por
período
não
superior
a
12
meses
em
relação
àquela
data.
49.
(INEP,
2005)
Relatório
de
gestão
Os
dados
para
esta
pesquisa
foram
2004
/
Início
da
coleta
de
dados
coletados
através
de
entrevistas
e
sobre
em
25/10/2004
e
término
em
esses
dados
afirma-‐se
que:
“Com
esta
dezembro
2004.
Pesquisa
publicação,
o
IBGE
dá
continuidade
à
quantitativa
cujo
objetivo
foi
produção
e
sistematização
de
relevantes
conhecer
melhor
a
realidade
da
estatísticas
sociais
e
demográficas,
sociedade
brasileira.
Sob
a
atualizadas
e
desagregadas
para
as
coordenação
do
INEP
a
pesquisa
Unidades
da
Federação
e
regiões
coletou
dados
nacionais
da
metropolitanas,
de
modo
a
subsidiar
as
educação
na
reforma
agrária.
políticas
sociais
específicas
e
ampliar
o
acesso
da
sociedade
civil
às
informações
estatísticas
oficiais.”
Modelos
para
professores
e
diretores
de
questionários
e
roteiros
de
entrevistas.
50.
(INEP,
2006)
Relatório
de
Utiliza
entrevista
como
instrumento
de
gestão.
Ano
da
coleta:
2005.
coleta
de
dados.
Questionários
e
roteiros
Pesquisa
quantitativa.
de
entrevista
desenvolvidos
com
alunos
Realização
de
testes
de
língua
concluintes
do
processo
de
alfabetização
portuguesa
e
matemática.
avaliados.
3.000
professores
pesquisados.
(p.40).
Modelos
para
professores
e
diretores
de
questionários
e
roteiros
de
entrevistas
(p.165)
51.
(IBGE,
2004)
Pesquisa
nacional
Grupos
focais
/
entrevistas
e
por
Amostra
de
Domicílios
2004.
questionários
Rio
de
Janeiro:
IBGE,
2004.
/
2004
“a
segunda
etapa
do
estudo
consistiu
em
entrevistas
com
dez
mil
pais
ou
responsáveis,
em
todos
os
estados
brasileiros,
durante
os
meses
de
janeiro
e
fevereiro
de
2005.
52.
(IBGE,
2006)
O
mercado
trabalho
segundo
a
cor
ou
raça
-‐
pesquisa
mensal
de
emprego.
Os
dados
do
IBGE
são
obtidos
O
objetivo
principal
foi
realizar
através
de
entrevista,
e
sobre
este
estudo
uma
análise
comparativa
da
relatou-‐se
que:
“o
perfil
descrito
neste
situação
socioeconômica
da
estudo
foi
baseado
nos
dados
de
população
de
pretos
e
pardos
setembro
de
2006
e,
para
captar
possíveis
com
a
população
branca.
mudanças
nesta
estrutura,
foram
feitas
algumas
comparações
com
os
meses
de
setembro
dos
anos
anteriores.”
53.
(LADEIA,
2002)
O
Fracasso
Entrevistas
com
roteiros
previamente
Escolar
na
5ª
Série
Noturna
na
elaborados,
com
questões
abertas,
Visão
de
Alunos,
Pais
e
excetuando-‐se
o
caso
dos
pais,
que
Educadores.
Ano
da
coleta
de
continham
questões
do
tipo
“alternativa-‐
dados:
1998/2001.
fixa”.
Os
dados
foram
coletados
por
meio
Pesquisa
qualitativa
de
de
entrevista
que,
segundo
Lüdke
&
doutoramento
teve
como
André
(1986),
é
um
dos
principais
tipos
objetivo
estudar
os
fatores
que,
de
instrumento
empregado
em
estudos
na
visão
de
alunos,
pais
e
qualitativos.
Nas
entrevistas
realizadas
educadores,
influem
no
com
os
diferentes
segmentos
foram
desempenho
ou
produzem
o
utilizados
roteiros
previamente
fracasso
de
alunos
da
5ª
série
elaborados,
sobretudo
com
questões
noturna
de
uma
escola
pública
abertas,
excetuando-‐se
o
caso
dos
pais.
da
rede
de
ensino
do
estado
de
São
paulo.
54.
(MAGALHÃES,
2002)
Após
um
mapeamento
dos
comitês
da
Enfrentando
a
pobreza,
Ação
da
Cidadania,
realizado
entre
reconstruindo
vínculos
sociais:
dezembro
de
1995
e
fevereiro
de
1996,
as
lições
da
Ação
da
Cidadania
foram
escolhidos
comitês
para
a
contra
a
Fome,
a
Miséria
e
pela
realização
de
entrevistas
com
o
Vida
/
A
pesquisa
teve
como
voluntariado.
objetivo
explorar
algumas
Ao
todo,
foram
sistematizadas
25
questões
relevantes
em
torno
do
entrevistas,
envolvendo
39
depoimentos,
debate
sobre
a
miséria,
a
colhidos
individualmente
ou
em
exclusão
e
o
processo
de
pequenos
grupos.
O
roteiro
das
construção
de
novos
perfis
de
entrevistas
serviu
de
ponto
de
partida
intervenção
pública
e
para
apreensão
das
diferentes
dinâmicas
participação
cívica,
suscitadas
de
trabalho
e
participação.
A
flexibilidade
ao
longo
da
pesquisa
realizada
foi
exercitada
ao
máximo,
com
vistas
a
junto
aos
“Comitês
da
Ação
da
garantir
espaço
para
que
os
voluntários
Cidadania”
no
Rio
de
Janeiro,
falassem
também
de
questões
não
entre
1996
e
1997.
previstas,
em
salas
cedidas
por
ONGs,
creches
comunitárias,
igrejas,
agências
bancárias,
escolas
e
associações
de
moradores
(p.128).
55.
(MALTA,
1998)
Estado
Análise
documental
e
entrevistas.
nutricional
e
variáveis
sócio-‐ “as
informações
sócio-‐econômicas
foram
econômicas
na
repetência
obtidas
através
da
ficha
de
matrícula,
escolar:
um
estudo
prospectivo
preenchida
pela
escola
no
ato
da
em
crianças
da
primeira
série
matrícula.
A
confiabilidade
destas
em
Belo
Horizonte,
Brasil.
informações
foi
verificada
por
entrevistas
Pesquisa
quantitativa
realizada
com
responsáveis
pelas
crianças,
em
quatro
escolas
municipais,
selecionados
por
meio
de
uma
amostra
onde
já
estava
implantado
o
aleatória
simples
(n
=
154)
das
crianças
programa
de
saúde
escolar,
da
elegíveis
para
o
estudo”.
secretaria
municipal
de
saúde.
A
pesquisa
procurou
verificar
a
existência
de
associação
entre
Não
explica
o
tipo
de
entrevista,
repetência
escolar,
medidas
apenas
menciona
sua
realização
durante
antropométricas
e
variáveis
o
trabalho:
“a
confiabilidade
destas
sócio-‐econômicas
em
crianças
informações
foi
verificada
por
entrevistas
da
primeira
série
do
primeiro
com
responsáveis
pelas
crianças,
grau,
determinando
qual
a
selecionados
por
meio
de
uma
amostra
capacidade
destas
variáveis
na
aleatória
simples
(n
=
154)
das
crianças
predição
da
repetência.
elegíveis
para
o
estudo”.
Os
resultados
apontam
que
por
meio
de
informações
existentes
na
ficha
de
matrícula
é
possível
identificar
características
dos
escolares
e
das
suas
famílias
que
possam
prever
a
repetência
na
escola.
Nas
crianças
estudadas
em
Belo
Horizonte,
verificou-‐se
que
a
menor
escolaridade
da
mãe
está
fortemente
associada
à
repetência
escolar.
56.
(MARTINI,1999)
Atribuições
de
causalidade,
crenças
gerais
e
orientações
motivacionais
de
Para
a
coleta
de
dados
utilizou-‐se
crianças
brasileiras.
Ano
de
uma
entrevista
estruturada
composta
de
coleta:
1999.
questões
abertas
sobre
atribuições
de
Investigar
as
atribuições
de
causalidade,
crenças
gerais
e
orientações
causalidade
para
sucesso
e
motivacionais.
fracasso
escolar,
as
crenças
gerais,
e
as
orientações
motivacionais
de
alunos
de
3ª
e
5ª
séries
do
ensino
fundamental.
57.
(MAURÍCIO,
2004)
Literatura
e
Entrevistas,
gravadas
ou
anotadas,
representações
da
escola
realizadas
por
ocasião
da
matrícula
pública
de
horário
integral.
Ano
(entre
dezembro
de
1998
e
fevereiro
de
de
coleta:
2001.
Pesquisa
de
1999),
foram
a
fonte
para
a
formulação
campo
sobre
representações
de
questionário
e
modelo
para
a
coleta
de
sociais,
busca
fazer
um
associação
de
idéias.
Foram
colhidos
44
confronto
entre
o
que
se
depoimentos
de
pais
de
alunos
de
escola
depreende
da
literatura
de
horário
integral,
de
quatro
produzida
entre
1983
e
2001
professores
e
de
seis
diretores,
em
seis
sobre
a
escola
pública
de
escolas
visitadas.
horário
integral
e
a
representação
social
que
usuários
e
trabalhadores
construíram
a
respeito
dela.
58.
(MAZZON,
2004)
Avaliação
de
A
pesquisa
de
dados
primários
abrangeu
eficiência
de
um
programa
de
a
realização
de
2.403
entrevistas
em
81
educação
no
Brasil.
In:
IX
municípios
impactados
pelo
projeto
de
Congreso
Internacional
del
educação
até
o
ano
de
2002.
O
primeiro
CLAD
sobre
la
Reforma
del
passo
consistiu
no
sorteio
das
escolas.
O
Estado
y
de
la
Administraon
critério
utilizado
foi
o
PPS
–
Probability
Publica.
Espana.
Empregou-‐se
o
Proportional
to
Size,
ou
seja,
a
chance
de
método
de
pesquisa
descritiva
uma
escola
ser
selecionada
é
tipo
survey,
cujo
pressuposto
proporcional
ao
número
de
alunos
fundamental
relaciona-‐se
com
a
matriculados.
O
diretor
dessa
escola
foi
quantificação
dos
resultados
e
a
então
selecionado
para
ser
entrevistado.
possibilidade
deles
poderem
ser
Contudo,
representantes
de
quatro
generalizados,
ou
seja,
serem
outros
públicos
também
foram
representativos
das
populações
entrevistados:
alunos,
pais
de
alunos,
estudadas,
satisfazendo
assim
o
professores
e
membros
do
princípio
de
validade
externa
da
colegiado/Associação
de
Pais
e
Mestres
pesquisa.
da
escola.
Para
este
público,
foi
também
utilizada
técnica
amostral
de
natureza
probabilística
para
a
seleção
da
amostra:
foi
feita
a
geração
aleatória
de
um
conjunto
de
duas
letras,
que
permitia
ao
pesquisador
identificar
a
pessoa
cujo
nome
mais
se
aproximava
da
letra
sorteada
(professores
e
membros
do
colegiado).
Para
alunos,
foi
feito
o
sorteio
inicial
do
turno,
série
e
classe,
para
então
serem
geradas
as
duas
letras
para
seleção
de
dois
alunos
e
de
dois
outros
alunos
para
entrevistar
os
seus
respectivos
pais.
59.
(MEC/
INEP,
2004)
Relatório
de
Nos
programas
relatados
que
continham
gestão
2003.
Apresentar
as
entrevistas,
todas
possuíam
roteiro
principais
ações
das
diversas
pronto.
diretorias
e
de
uma
unidade
do
instituto
nacional
de
estudos
e
pesquisas
educacionais
Anísio
Teixeira.
60.
MEC,
1999)
O
perfil
da
escola
Texto
do
MEC
que
utiliza
resultados
de
brasileira:
um
estudo
a
partir
outras
pesquisas.
Cita
uma
pesquisa
dos
dados
do
SAEB
97.
Gatti,
realizada
por
Sposito
onde
se
utilizou
Sposito
e
Neubauer
da
Silva
entrevista.
(1994),
estudando
professores
ativos
do
ensino
fundamental
da
rede
pública,
em
três
diferentes
regiões
do
país
(Maranhão,
Minas
Gerais
e
São
Paulo),
também
obtêm
resultados
consistentes
com
a
hipótese
de
descapitalização
cultural
formulada
por
Lelis.
(p.15)
61.
(NÓBREGA,
1999)
Escola
Entrevistas
e
pesquisa
documental.
As
padrão:
autonomia
e
gestão
entrevistas
foram
utilizadas
com
o
democrática.
objetivo
de
“reconhecer
e
compreender
as
Ano
da
pesquisa:
1993-‐
1999
dificuldades
em
nível
local
enfrentadas
O
objetivo
do
texto
é
por
delegado,
supervisão
e,
sobretudo
“acompanhar
o
processo
de
diretores
de
escola
quando
da
implantação
do
programa
de
implantação
do
programa
de
reforma
e
reforma
do
ensino
no
estado
de
nesse
contexto,
como
trabalharam
a
São
Paulo
-‐1991
p.27”.
questão
da
autonomia.
p.32.
Optou-‐se
por
um
trabalho
de
entrevistas
30,
com
os
novos
sujeitos
incorporados
ao
processo
de
execução
política
em
nível
local.
Três
dimensões
foram
definidas
para
a
elaboração
do
roteiro
para
o
trabalho
de
entrevistas:
−
conceitual:
avaliação
do
momento
em
que
ocorreram
os
primeiros
contatos
com
o
programa;
−
institucional
/
governamental:
as
condições
de
implantação
das
primeiras
medidas;
−
políticas:
o
impacto
das
primeiras
implantações
e
uma
avaliação
do
período
estudado.
P.34
62.
NUNES,
2005)
Exercer
a
As
entrevistas
possuíam
roteiro
e
eram
autonomia:
um
desafio
para
a
feitas
pessoalmente,
de
forma
oral
e
gestão
da
escola
pública
registradas
manualmente
Ano
da
pesquisa:
2004.
Para
elaborar
as
entrevistas,
parti
das
Os
objetivos
do
texto
são
questões
que
deram
origem
ao
projeto
de
analisar
a
gestão
na
escola
na
pesquisa
e,
assim,
procurei
elaborar
um
busca
de
compreender
como
os
roteiro
de
entrevista
a
diretora,
sujeitos
exercem
a
autonomia
na
supervisora
e
alguns
professores
(p.78)
elaboração
e
execução
do
Projeto
Político
Pedagógico.”P.1.
63.
(MEC,
2005)
Pesquisa
Nacional
Afirma
que:
“a
segunda
etapa
do
estudo
Qualidade
da
Educação:
a
Escola
consistiu
em
entrevistas
com
dez
mil
pais
Pública
na
Opinião
dos
Pais
-‐
ou
responsáveis,
em
todos
os
estados
Resumo
Técnico
Executivo
brasileiros,
durante
os
meses
de
janeiro
e
Ano
da
pesquisa:
2005
fevereiro
de
2005.
Foram
entrevistadas,
O
objetivo
do
texto
é
“oferecer
pelo
menos,
370
famílias
em
cada
estado”.
uma
referência
para
que
cada
Modelos
para
professores
e
diretores
de
cidadão
possa
proceder
a
sua
questionários
e
roteiros
de
entrevistas
auto
avaliação
ao
fim
da
elaborados”.
p.
165
educação
básica
e
se
constituir
modalidade
alternativa
ou
complementar
aos
exames
de
acesso
aos
cursos
pós-‐médios,
ao
ensino
superior
e
aos
diferentes
setores
do
mercado
de
trabalho,
além
de
criar
uma
referência
nacional
para
os
egressos
de
qualquer
das
modalidades
do
ensino
médio.”
64.
(PAIM,
2003)
As
novas
faces
da
Entrevistas
com
roteiros
previamente
desigualdade
no
cotidiano
definidos.
“nos
roteiros,
além
dos
dados
escolar.
Ano
da
pesquisa:
2003.
contextuais,
investimos
em
possibilidades
Objetivo
do
texto
é
“Investigar
as
de
compreensão
das
leituras
múltiplas
desigualdades
existentes
no
que
os
sujeitos
do
cotidiano
escolar
cotidiano
escolar,
a
partir
da
faziam
de
si
e
dos
outros”
(p.
37).
comparação
das
performances
escolares
dos
respectivos
juízos
docentes
de
dois
grupos
de
alunos
de
uma
escola
municipal
situada
na
zona
sul
do
Rio
de
Janeiro”
(p.
07).
65.
(PEREIRA,
2005)
Práticas
de
Durante
o
acompanhamento
das
aulas
Reforço
e
Recuperação
em
muitos
materiais
e
documentos
foram
Escola
Fundamental
Estadual
de
surgindo
o
que
acarretou
a
necessidade
Ciclo
II
em
São
Paulo.
Ano
da
de
desenvolver
recursos
para
melhor
pesquisa:
2003-‐2004.
Objetivo
acompanhar
a
pesquisa.
Assim
foram
de
Contribuir
para
a
sendo
elaborados
um
caderno
de
campo
compreensão
do
modo
pelo
qual
para
o
registro
do
acompanhamento
das
as
políticas
públicas
se
efetivam
aulas,
depois
de
um
roteiro
de
entrevista
dentro
da
escola.
que
pudesse
elucidar
o
que
o
professor
entendia
sobre
o
projeto
de
reforço
e
recuperação
no
sentido
de
chegar
a
prática
do
professor
e
os
conceitos
apresentados
por
este
sobre
o
projeto
(p.
29).
Afirma
possuir
roteiro
nas
entrevistas
(p.29).
Foram
realizadas
entrevistas
com
supervisores
de
ensino
e
professores
para
detectar
as
escolas
mais
apropriadas
ao
projeto.
Já
na
escola
foram
entrevistados
diretores,
coordenadores
pedagógicos
e
professores,
e
especificamente
os
professores
que
atuavam
nos
projetos
de
reforço
e
recuperação
(p.28).
66.
(PEREIRA,
2006)
A
“ciranda
das
Utiliza
entrevista
estruturada
por
um
vagas”
em
uma
escola
pública
de
roteiro
como
instrumento
de
coleta
de
Campinas
–
SP.
Ano
da
pesquisa:
dados.
Explica
que:
“esta
foi
utilizada
para
2003,
com
o
objetivo
de
analisar
que
pudesse
elucidar
o
que
o
professor
a
procurar
por
vagas
em
Escolas
entendia
sobre
o
projeto
de
reforço
e
Públicas
e
seus
impactos
no
recuperação
no
sentido
de
chegar
a
cotidiano
da
unidade
escolar
e
prática
do
professor
e
os
conceitos
na
organização
da
rede
pública
apresentados
por
este
sobre
o
projeto”
(p.
de
ensino.
29).
67.
(SILVA,
2002)
Jovens
de
um
As
entrevistas
foram
tomadas
como
rural
brasileiro:
socialização,
forma
de
depoimentos.
Observações
de
educação
e
assistência.
Ano
da
campo
e
depoimentos.
pesquisa:
2000.
Com
o
objetivo
de
investigar
as
iniciativas
governamentais,
por
meio
de
projetos
educacionais
que
visem
a
minimizar
problemas
como
o
analfabetismo
e
a
evasão
escolar,
acabam
muito
mais
por
corroborar
a
falta
de
perspectivas
destes
jovens.
Sobretudo,
porque
oferecem
uma
aprendizagem
escolar
que
não
lhes
possibilita
concorrer
com
igualdade,
tanto
nos
estudos
(ensino
universitário,
por
exemplo)
como
no
campo
profissional
(p.105).
68.
(SORJ,
2005)
Exclusão
Digital:
Foram
realizadas
entrevistas,
survey
e
problemas
conceituais,
grupo
focal.
“O
survey
foi
executado
em
evidências
empíricas
e
políticas
duas
etapas
no
segundo
semestre
de
públicas.
Ano
da
pesquisa:
2003.
2003,
cada
uma
das
quais
com
1.500
Com
o
objetivo
de
compreender
entrevistas,
o
que
representa
um
universo
a
dinâmica
de
inclusão
e
de
cerca
de
1,2
milhão
de
pessoas.
A
exclusão
digital
nos
setores
mais
pesquisa
foi
complementada
com
pobres
da
população.
reuniões
de
oito
grupos
focais,
com
amostras
de
várias
faixas
etárias
e
de
gênero”
(p.101).
69.
(TAVARES,
et
al.,
2001)
“Um
questionário
anônimo,
auto-‐aplicado
Prevalência
do
uso
de
drogas
e
em
sala
de
aula,
foi
respondido
por
uma
desempenho
escolar
entre
amostra
proporcional
de
estudantes
com
adolescentes.
Ano
da
pesquisa:
idade
entre
10
e
19
anos,
matriculados
no
1998
com
o
objetivo
de
“avaliar
primeiro
grau
(a
partir
da
5a
série)
e
no
a
prevalência
do
uso
de
drogas
segundo
grau,
em
todas
as
escolas
entre
adolescentes
de
escolas
públicas
e
particulares
na
zona
urbana
do
com
segundo
grau”
(p.150).
município
que
tinham
segundo
grau.
Foram
entrevistados
2.410
estudantes
e
o
índice
de
perdas
foi
de
8%”
(p.1).
OUTROS
TIPOS
Entrevistas
que
apresentam
combinação
de
vários
instrumentos:
questionários
(3),
dados
estatísticos
(1),
desenhos
(2),
histórias
(1),
fotos
(1),
observações
(2),
relatórios
(1),
matrícula
(2),
entrevista
clínica
(2),
devolutiva
(1),
focus-‐group
(2),
não
explica
o
tipo
de
entrevista
(14)
e
outras
pesquisas
(6).
70.
(ANTUNES,
PERES
et
al.,
2002)
Outros.
Focus
group
Diferenças
na
prevenção
da
AIDS
A
pesquisa
utiliza
entrevista,
entre
homens
e
mulheres
jovens
questionário
e
oficinas
como
de
escolas
públicas
em
São
Paulo,
instrumentos
de
coleta
de
dados.
As
SP.
Pesquisa
qualitativa
entrevistas
foram
utilizadas
no
contexto
desenvolvida
tendo
como
de
oficinas
em
grupos
pequenos
e
uso
de
sujeitos
estudantes
sorteados
de
questionários.
Após
o
sorteio
dos
jovens
cada
escola
pesquisada
entre
18
que
iriam
participar
da
pesquisa
“foi
e
25
anos
de
idade
do
curso
utilizado
desenho
experimental
com
noturno
de
primeiro
e
segundo
grupo
controle
e
grupo
de
intervenção,
graus
da
rede
estadual
de
com
uma
medida
pré-‐intervenção
e
duas
educação.
Foram
aplicados
medidas
pós-‐intervenção
baseadas
no
questionários,
com
questões
modelo
de
redução
de
risco
em
AIDS”
fechadas,
foi
respondido
pelos
(p.90).
próprios
entrevistados
em
um
O
questionário,
com
questões
fechadas,
tempo
médio
de
50
minutos.
foi
respondido
pelos
próprios
“Estudar
as
práticas
sexuais
de
entrevistados
em
um
tempo
médio
de
50
risco
para
a
infecção
pelo
HIV
de
minutos.
Foram
aplicadas
oficinas
de
estudantes
adultos
jovens
(18
a
“sexo
mais
seguro”
entre
a
aplicação
dos
25
anos)
de
escolas
públicas
questionários
noturnas
e
avaliar
as
diferenças
de
gênero
e
o
impacto
de
um
programa
de
prevenção
de
AIDS”
(p.88).
71.
(KOFF,
2005)
Cotidiano
escolar
Outros.
Focus
group.
e
cultura(s):
dialogando
com
os
Entrevistas
individuais
e
coletivas:
resultados
de
uma
pesquisa.
/
quinze
entrevistas
individuais
com
Ano
de
coleta:
2005.
profissionais
de
educação
(integrantes
da
Teve
como
objetivo
contribuir
direção,
coordenadores/as
e
para
o
debate
e
oferecer
professores/as)
e
vinte
e
cinco
com
elementos
para
que
as
práticas
alunos/as.
Quatro
encontros
com
os/as
pedagógicas
possam
ser
estudantes
(uma
espécie
de
entrevistas
repensadas
e/ou
reinventadas,
coletivas),
onde
eles/as
puderam
discutir
incorporando,
de
maneira
temas
relevantes
para
o
estudo.
crítica,
a
questão
das
diferenças
culturais.
Pesquisa
qualitativa
de
cunho
etnográfico,
220
horas
de
observação,
ao
longo
de
um
semestre,
em
diferentes
espaços
da
escola,
incluindo
o
trabalho
em
salas
de
aula
de
três
professores
(de
filosofia,
língua
portuguesa
e
química)
e
de
uma
professora
de
história.
72.
(BETINI,
2004)
Uma
escola
em
Outros
com
relatório.
Entrevistas
e
Betel:
relações,
práticas,
alunos,
análise
documental.
Foram
analisados
famílias
e
professoras
-‐
1997
a
relatórios
e
fichas
dos
alunos
da
autora
do
2000.
Estudo
da
história
de
uma
artigo
que
também
era
professora
da
escola
de
ensino
fundamental
escola.
As
entrevistas
feitas
pelas
(1ª
à
4ª
série),
registrando
o
professoras
com
os
pais
dos
alunos
com
o
trabalho
desenvolvido
por
suas
objetivo
de
aproximação
da
professora
professoras
em
função
da
junto
aos
alunos
e
suas
famílias.
Foram
educação
voltada
às
classes
feitas
entrevistas
com
as
professoras
de
populares
(p.14).
sala
de
aula.
As
professoras
tiveram
acesso
ao
coletado
nas
entrevistas
em
reuniões
semanais.
P.17
73.
(CARRANO
e
FÁVERO,
2005)
Juventude,
Escolarização
e
poder
local
-‐
Relatório
da
1ª
fase
da
Pesquisa
qualitativa,
com
utilização
pesquisa:
Políticas
Públicas
de
de
questionários,
entrevistas
e
dados
do
Juventude
e
de
Educação
de
IBGE.
“Os
dados
foram
coletados
com
Jovens
Adultos
na
Região
base
em
um
questionário
comum
a
todos
Metropolitana
do
Rio
de
Janeiro.
os
estados,
durante
2003
e
2004.
Esses
/
Ano
da
coleta:
2005
/
Apoio:
dados
foram
posteriormente
tratados
por
CNPQ
e
FAPERJ.
meio
do
programa
Access
com
interface
Estudo
sobre
as
“ações
Delphi
ou
SQL.
As
informações
foram
desenvolvidas
pelo
executivo
obtidas
diretamente
nos
organismos
municipal
em
forma
de
políticas
públicos,
pelo
trabalho
de
campo
de
públicas
para
os
jovens,
inclusive
bolsistas
de
iniciação
científica,
através
de
nos
aspectos
referentes
à
entrevistas
com
dirigentes
e
gestores
escolarização
sem
desconsiderar
responsáveis
pela
rede
local.
Quando
a
importância
do
campo
realizadas
com
os
principais
gestores,
esportivo
para
a
juventude
visaram
colher
informações
em
maior
percebe-‐se
que
essas
ações
profundidade
e
identificar
concepções
dificilmente
alcançam
sobre
o
campo
referido
e
não
apenas
abrangência
e
transversalidade
fazer
um
inventário
das
políticas.”
P.5
no
trato
com
o
campo
da
juventude
e,
em
geral,
apresentam-‐se
como
instrumentos
de
socialização
precária
por
se
situarem
como
ações
de
prevenção
a
fatores
de
risco
tais
como
a
violência
e
o
uso
de
drogas”
(p.5-‐17).
“A
experiência
docente
de
parte
significativa
dos
coordenadores
não
é
garantia
de
que
os
mesmos
possuam
suficientes
requisitos
teórico-‐práticos
para
a
gestão
de
políticas
públicas
de
juventude”
(p.20).
74.
(CARVALHO,
2001)
Estatísticas
Outros.
Pesquisa
qualitativa.
A
professora
de
desempenho
escolar:
o
lado
concedeu
duas
entrevistas
gravadas,
avesso.
Pesquisa
qualitativa.
As
realizadas
na
escola,
que
somaram
duas
turmas
de
quarta
série
foram
horas
e
meia
de
duração;
e
quatro
de
seus
selecionadas
por
serem
as
alunos
participaram
de
uma
atividade
que
únicas
que
exigiam
das
envolveu
desenhos
e
entrevistas.
professoras,
ao
final
do
ano,
decidir
sobre
a
promoção
ou
retenção
dos
alunos,
devido
à
adoção
do
sistema
de
ciclos
de
quatro
anos,
na
rede
municipal
em
questão
(p.235).
75.
(CRUZ,
1997)
Representação
de
Outros.
Foram
realizadas
entrevistas
e
Escola
e
Trajetória
Escolar
/
Ano
observações
de
sala
de
aula.
“foram
de
coleta:
1997.
realizadas
entrevistas
e
aplicadas
Examinar
o
trajeto
da
adaptações
de
dois
procedimentos:
representação
de
escola
num
desenhos-‐histórias
e
histórias
para
grupo
de
crianças
pobres
ao
completar.”
“observações
em
sala
de
aula
longo
do
seu
primeiro
ano
de
e
entrevistas
com
professoras
revelaram
escolaridade
em
escola
pública.
incompetência
pedagógica
e
atitudes
negativas
em
relação
à
criança
pobre
e
sua
família”
(p.1).
76.
(DAMIANI,
2006)
Discurso
Outros.
Estudo
de
caso.
A
investigação
pedagógico
e
fracasso
escolar.
dos
processos
intra-‐escolares
associados
ao
fracasso
ocorreu
através
de
entrevistas
–
com
10
professoras
(de
primeira
a
quarta
série)
de
cada
escola,
direção
e
famílias
dos
estudantes
–
e
através
de
observações
–
realizadas
nas
salas
de
aula
de
todos
as
professores
de
primeira
à
quarta
série
e
durante
todas
as
outras
atividades
escolares.
77.
(FRELLER;
et
al.,
2001)
Uma
apresentação
como
forma
de
Orientação
à
queixa
escolar.
Ano
triagem,
e
entrevistas
devolutivas.
Após
o
de
coleta:
2001.
Pesquisa
de
contato
com
a
criança,
os
pais
e
a
escola,
abordagem
psicológica,
análise
realizando
uma
triagem,
fez-‐se
novo
do
trabalho
de
atendimento
a
contato
com
intenção
de
aprofundar
as
crianças
e
adolescentes
com
informações,
e
contato
com
profissionais
queixas
escolares.
“grande
parte
envolvidos
no
caso.
Depois,
realizou-‐se
das
crianças
que
procuram
uma
entrevista
devolutiva
“se
possível,
atendimento
psicológico
são
com
todos
os
sujeitos
envolvidos
(juntos
encaminhadas
pela
escola
ou
em
separado,
conforme
o
caso),
porque
apresentam
dificuldades
retomando
as
principais
questões
no
seu
processo
de
trabalhadas,
assinalando
o
que
foi
escolarização.”
(...)
“as
possível
pensar
e
vivenciar.
dificuldades
enfrentadas
pelas
crianças
na
escola
são
fenômenos
produzidos
por
uma
rede
de
relações
que
inclui
a
escola,
a
família
e
a
própria
criança,
em
um
contexto
socioeconômico
que
engendra
uma
política
educacional
específica.
Desta
forma,
todos
os
segmentos
devem
ser
incluídos
no
processo
de
atendimento,
apresentando
sua
versão
sobre
o
problema,
refletindo,
contextualizando
e
buscando
soluções
diversas
para
cada
caso”
(p.130).
78.
(FRELLER,
C.C.,
1999)
Pensando
Outros.
“A
partir
de
observações
de
cenas
com
Winnicott
sobre
alguns
escolares
e
de
entrevistas
com
aspectos
relevantes
ao
processo
professores
notamos
um
crescente
de
ensino
e
aprendizagem.
Ano
processo
de
"coisificação"
do
professor
e
da
pesquisa:
1999
com
o
do
aluno”
(p.1).
objetivo
de
investigar
as
abordagens
que
procuram
as
causas
do
fracasso
escolar
da
criança
pobre
nas
Suas
relações
familiares.
79.
(LIMA,
et
al.,
2005)
Descrição
Outros.
Utiliza
entrevista
clínica
como
dos
indicadores
sociais
em
instrumento
de
coleta
de
dados,
mas
não
adolescentes
portadores
de
explica
o
tipo
de
entrevista
realizada,
febre
reumática.
Ano
de
coleta:
explica
que:
“a
partir
de
um
corte
2003-‐2004.
Pesquisa
transversal,
foram
entrevistados
120
quantitativa
que
tem
como
pacientes
portadores
de
febre
reumática
objetivo
conhecer
a
realidade
em
acompanhamento
no
ambulatório
de
socioeconômica
em
que
vivem
adolescentes
do
serviço
de
cardiologia
os
adolescentes
portadores
de
pediátrica.”
febre
reumática
em
tratamento
Questionário
realizado
com
o
objetivo
de
no
instituto
nacional
de
coletar
e
analisar
dados
como
nível
de
cardiologia
laranjeiras.
escolaridade.
Segundo
o
estudo
os
jovens,
na
sua
maioria,
são
excluídos
da
participação
no
mercado
de
trabalho
em
função
do
tratamento
prolongado,
também
não
conseguem
ter
uma
participação
efetiva
na
escola.
O
absenteísmo
favorece
repetências,
por
vezes
consecutivas,
estimulando-‐os,
em
alguns
casos,
à
evasão
escolar.
80.
(PASTURA,
2005)
Desempenho
Os
questionários
serviram
como
triagem
Escolar
e
Transtorno
do
Déficit
para
alunos
e
professores.
Também
foi
de
Atenção
e
Hiperatividade.
aplicado
um
questionário
sócio-‐
Ano
da
pesquisa:
2003.
econômico.
O
texto
apresenta
como
objetivo
Todos
os
pais
e/ou
responsáveis
de
“estudar
o
desempenho
escolar
alunos
considerados
suspeitos
de
serem
de
alunos
portadores
de
portadores
de
TDAH
através
do
SNAP-‐IV
transtorno
do
déficit
de
atenção
foram
chamados
para
entrevista
clínica,
e
hiperatividade”
(p.25).
na
qual
aplicou-‐se
questionário
semi-‐
estruturado
contemplando
os
critérios
da
DSM-‐IV
para
TDAH
e
suas
co-‐morbidades.
O
questionário
utilizado
foi
o
Children's
interview
for
psychiatric
syndromes:
parent
version
(WELLER
e
cols.
1999),
conhecido
como
p-‐chips.
Durante
a
entrevista
médica,
procurou-‐se
enfatizar
aspectos
importantes
do
diagnóstico
como:
comprometimento
funciona
l
relevante,
presença
de
sintomas
em
mais
de
uma
ambiente
e
exclusão
de
outras
patologias
neurológicas
ou
psiquiátricas
que
explicassem
melhor
a
sintomatologia
do
aluno
(p.32
e
33).
81.
(OLIVEIRA;
et
al.,
2002)
Outros.
Questionários,
evocações
livres
e
Representações
sociais
e
fatores
entrevistas.
“Foram
entrevistados
778
de
risco
para
o
trabalho
infantil
adolescentes,
entre
11
e
18
anos,
e
do
adolescente:
uma
trabalhadores
e
não
trabalhadores.
Para
a
aproximação
possível.
análise
dos
fatores
de
risco
utilizou-‐se
o
Ano
da
pesquisa:
1998-‐1999.
teste
de
associação
pelo
χ2,
seguido
de
O
objetivo
do
texto
é
analisar
as
análise
de
regressão
logística
múltipla.
O
conseqüências
do
trabalho
do
estudo
das
representações
sociais
foi
adolescente
para
a
efetuado
com
análise
do
núcleo
central
e
escolarização.
de
similitude,
através
dos
programas
Evoc,
Simi
e
Avril”
(p.
177).
82.
(SANTOS,
2003)
A
internet
na
Outros.
Afirma
que
foi
feita
uma
leitura
escola
fundamental:
sondagem
qualitativa
de
dados
quantitativos
de
modos
de
uso
por
(p.308),
e
tomando
como
parâmetro
os
professores.
Ano
da
pesquisa:
resultados
dos
questionários
aplicados,
2003.
Com
o
objetivo
de
foram
selecionados
8
professores
para
investigar
o
uso
que
os
serem
entrevistados
(p.309
e
310).
professores
estão
fazendo
da
Utiliza
questionários,
entrevistas
e
internet
em
sala
de
aula.
observação
direta.
Inserida
no
ambiente
escolar,
a
internet
é
proposta
como
base
para
uma
nova
linguagem
para
a
aquisição
e
construção
de
conhecimentos
e
como
uma
nova
e
revolucionária
ferramenta
para
o
trabalho
docente,
na
medida
em
que
vivemos
em
uma
sociedade
em
rede,
numa
ampla
teia
de
relações
sociais
na
qual
cresce,
cada
vez
mais,
a
exigência
de
diálogo,
interatividade,
intervenção,
participação
e
colaboração
(Oliveira,
2003,
p.
305).
83.
(SAWAYA,
2006)
Desnutrição
e
Outros.
Fala
das
entrevistas
feitas
para
baixo
rendimento
escolar:
elaboração
dos
diagnósticos
das
crianças,
contribuições
críticas.
Ano
da
com
inadequação
de
argumentos
e
pesquisa:
2006
com
o
objetivo
perguntas
humilhantes.
Fala
também
de
de
trazer
algumas
contribuições
outra
opção
adotada
pela
autora
e
seu
da
psicologia
às
reflexões
sobre
grupo
quanto
a
formação
de
educadores:
desnutrição
e
baixo
rendimento
“As
técnicas
de
entrevista
e
observação
escolar,
a
partir
da
análise
de
tradicionais,
como
os
testes,
as
certas
afirmações
acerca
das
anamneses
e
as
entrevistas
fechadas,
são
causas
e
conseqüências
da
substituídas
por
orientações
trazidas
dos
desnutrição
para
o
estudos
antropológicos,
o
que
em
desenvolvimento
infantil
e
a
psicologia
escolar
tem
sido
feito
a
partir
escolarização
das
crianças
de
de
trabalhos
como
os
de
Ezpeleta
&
classes
populares.
Rockwell
(1989),
dentre
outros”
(p.142).
84.
(SILVA
e
FLEITH,
2005)
Outros.
Durante
a
análise
documental
foi
Desempenho
escolar
e
analisada
a
ficha
de
anamneses,
que
autoconceito
de
alunos
contém
dados
relativos
à
história
de
vida
atendidos
em
serviços
da
criança,
relatada
pelos
pais
e/ou
psicopedagógicos
Ano
da
responsáveis
no
momento
da
primeira
pesquisa:
2001
com
o
objetivo
entrevista
realizada
pela
equipe
de
de
Investigar
o
desempenho
atendimento.
escolar
e
autoconceito
de
crianças
com
queixa
escolar.
85.
(SILVA
JÚNIOR,
2007)
Saberes
e
Foram
realizadas
entrevistas
orais
com
práticas
de
ensino
de
História
professores
de
História
e
gestores,
por
em
escolas
rurais
(um
estudo
no
meio
de
questões
desencadeadoras,
município
de
Araguari
MG,
estimulando
o
exercício
de
memória
Brasil).
Ano
da
pesquisa:
2005.
(BOSI,
2006)
dos
colaboradores
sobre
Com
o
objetivo
de
estudar
a
seus
saberes
e
suas
práticas
(p.22
e
26).
formação,
os
saberes
e
as
práticas
pedagógicas
de
professores
de
História
na
Educação
Básica
em
escolas
do
meio
rural
do
Município
de
Araguari-‐MG,
Brasil.
Não
explicam
o
tipo
de
entrevista
86.
(SIRINO
e
CUNHA,
2002)
Não
explica
entrevista.
Foram
realizadas
Repensando
o
fracasso
escolar:
entrevistas
com
mães
e
professoras
como
reflexões
a
partir
do
discurso
do
instrumento
de
coleta
de
dados.
O
tipo
de
aluno.
Com
o
objetivo
de
estudar
entrevista
não
foi
mencionado.
o
fracasso
escolar
baseado
no
discurso
do
aluno.
87.
(CAVALIERE
e
COELHO,
2003)
Não
explica
entrevista.
Os
diretores
Para
onde
caminham
os
CIEPs?
entrevistados
reconhecem
a
importância
Uma
análise
após
15
anos.
Não
e
necessidade
das
escolas
de
tempo
define
o
tipo
de
pesquisa
integral,
bem
como
o
papel
educativo
dos
utilizada.
cieps,
principalmente
quando
as
atividades
contempladas
no
cotidiano
escolar
fazem
parte
de
um
planejamento
político-‐pedagógico
anterior
(p.172).
88.
(CHECHIA
E
ANDRADE,
2002)
Não
explica
entrevista.
Pesquisa
Representação
dos
pais
sobre
a
documental
e
realização
de
entrevistas.
A
escola
e
o
desempenho
escolar
análise
do
conteúdo
das
entrevistas
está
dos
filhos.
A
análise
de
dados
sendo
realizada
dentro
do
método
de
está
sendo
apresentada
análise
temática
descritiva
de
conteúdo,
parcialmente,
consiste
em
50%
desenvolvida
por
Bardin
(1977).
Para
dos
dados
disponíveis.
Os
pais
ampliar
a
análise
foi
utilizada
também
a
estão
divididos
da
seguinte
proposta
da
análise
hermenêutica-‐
forma:
8
pais
de
alunos
com
dialética,
desenvolvida
por
Minayo
sucesso
e
oito
pais
de
alunos
(1998).
com
insucesso,
sendo
subdivididos
em
dois
pais
por
série.
89.
(D’AFFONSECA,
2005)
Não
explica
entrevista.
Muitos
jovens
Prevenindo
fracasso
escolar:
entrevistados
disseram
que
os
pais
não
comparando
o
autoconceito
e
deveriam
ficar
tão
ocupados
e
desempenho
acadêmico
de
preocupados
com
outras
coisas,
porque,
filhos
de
mães
que
trabalham
assim,
poderiam
prestar
mais
atenção
a
fora
e
donas
de
casa.
seus
trabalhos
de
escola.
Dissertação
de
mestrado.
Pesquisa
quantitativa
e
qualitativa.
90.
(DICKEL,
2001)
As
crianças
e
Não
explica
entrevista.
Utiliza
entrevista
suas
experiências:
o
mundo
como
instrumento
de
coleta
de
dados.
invadindo
a
escola.
Pesquisa
Os
nomes
de
crianças
e
professoras
foram
colaborativa
e
pesquisa-‐ação.
alterados.
Os
registros,
mantidos
integralmente.
Dos
trechos
de
entrevistas,
foram
suprimidos
vícios
de
linguagem
e
expressões
fáticas.
A
flexão
incorreta,
conforme
os
padrões
da
norma
culta,
da
segunda
pessoa
dos
verbos
foram
mantidos
uma
vez
que
se
trata
de
uma
marca
dialetal
do
sul
do
país.
(nota,
p.5)
91.
(LOUREIRO,
1999)
Violência:
Não
explica
o
tipo
de
entrevista,
apenas
paradoxos,
perplexidades
e
menciona
trechos
das
entrevistas
que
reflexos
no
cotidiano
escolar.
fazem
sentido
das
questões
pesquisadas
Ano
de
coleta:
1999.
A
pesquisa
sobre
violência
que
acontece
no
interior
busca
descobrir
elementos
que
das
escolas.
Entrevistas
com
alunos
e
constituem
o
fenômeno
da
professores.
violência
e
assim
busca
tornar
visível
sua
natureza
para
poder
reconhecê-‐la
no
momento
de
lidar
com
ela
na
escola.
Pesquisa
realizada
em
escola
pública.
92.
(NERI;
CARVALHO,
2002)
Não
explica
o
tipo
de
entrevista
utilizada,
Seletividade
e
medidas
de
apenas
menciona
sua
realização
durante
qualidade
da
educação
brasileira
o
trabalho:
“Sexo
-‐
é
variável
indicadora
1995-‐2001
–
FGV.
Ano
da
para
o
sexo
masculino,
recebe
valor
1
pesquisa:
1995-‐2001.
quando
o
entrevistado
pertence
a
esse
O
objetivo
do
texto
é
“fazer
uma
grupo,
caso
contrário
recebe
valor
0”
avaliação
direta
dos
impactos
de
(p.110).
problemas
de
seletividade
e
decorrentes
efeitos-‐composição
sobre
a
mensuração
da
qualidade
média
do
ensino”
(p.1).
93.
(OKANO,
C.
B.;
et
al.,
2004)
Não
explica
entrevista.
“os
instrumentos
Crianças
com
dificuldades
utilizados
foram:
matrizes
progressivas
escolares
atendidas
em
coloridas
–
raven
infantil
-‐
escala
especial
programa
de
suporte
e
escala
infantil
piers-‐harris
de
psicopedagógico
na
escola:
autoconceito”
(p.121).
avaliação
do
autoconceito.
Ano
da
pesquisa:
1998.
O
objetivo
do
texto
é
“Avaliar
o
autoconceito
de
40
crianças
de
ambos
os
sexos,
na
faixa
etária
de
7
a
10
anos,
alunos
de
1ª
e
2ª
série
de
uma
escola
da
rede
pública
do
município
de
Uberaba-‐MG,
com
nível
intelectual
pelo
menos
médio
inferior,
divididas
em
dois
grupos:
o
G1
reuniu
20
crianças
com
dificuldades
de
aprendizagem
escolar
que
freqüentam,
além
do
ensino
regular,
um
programa
complementar
denominado
Ensino
Alternativo
e
o
G2,
por
sua
vez,
foi
composto
por
20
crianças
sem
dificuldades
escolares
freqüentando
o
ensino
regular
com
bom
rendimento”
(p.121).
94.
(OLIVEIRA,
E.
L.
D.;
et
al.,
2006).
Não
explica
o
tipo
de
entrevista
utilizado.
Transições
dos
jovens
para
o
Sobre
a
pesquisa:
“no
caso
da
entrada
no
mercado
de
trabalho,
primeiro
mercado
de
trabalho,
levou-‐se
em
conta
a
filho
e
saída
da
escola:
o
caso
menor
idade
relatada
pelos
indivíduos
brasileiro.
Ano
da
pesquisa:
que
tinham
entre
20
e
49
anos
na
época
1996-‐1997.
O
texto
apresenta
da
entrevista.
Para
a
saída
da
escola,
a
como
objetivo
investigar
“o
menor
idade
declarada
pelos
indivíduos
relacionamento
entre
as
idades
que
tinham
entre
20
e
49
anos
na
época
em
que
ocorrem
as
transições
de
da
entrevista
marcou
o
início
da
saída
da
escola,
entrada
no
contagem
desse
evento.
E,
para
o
mercado
de
trabalho
e
formação
nascimento
do
primeiro
filho,
da
família”
(p.109).
considerou-‐se
a
menor
idade
mencionada
pelas
mulheres
que
tinham
entre
20
e
49
anos
na
época
da
entrevista”
(p.113).
95.
(PAIXÃO,
2005)
Significado
da
Não
explica
o
tipo
de
entrevista
utilizada.
Escolarização
para
um
Grupo
de
Sobre
as
pessoas
entrevistadas:
“Foram
Catadoras
de
um
Lixão.
Ano
da
entrevistadas
dez
mulheres,
a
maior
parte
pesquisa:
2005.
O
objetivo
do
negras,
entre
18
e
49
anos”
(p.143).
texto
é
analisar
os
significados
da
escolarização
para
um
grupo
de
catadoras
de
lixo.
96.
(QUEIROZ,
2002)
Um
estudo
Não
explica
o
tipo
de
entrevista
utilizado.
sobre
a
evasão
escolar:
para
se
Sobre
os
sujeitos
pesquisados
diz:
“além
pensar
na
inclusão
escolar.
Ano
dos
alunos,
seus
pais/responsáveis
e
da
pesquisa:
2000.
Tinha
o
professores
foram
entrevistados,
assim
objetivo
de
compreender
o
como
o
diretor,
o
coordenador
pensamento
da
escola,
da
família
pedagógico
e
o
vigilante
da
escola”
(p.
6
e
e
da
criança
a
respeito
do
7).
fracasso
escolar,
além
dos
alunos,
seus
pais/responsáveis
e
professores
foram
entrevistados,
assim
como
o
diretor,
o
coordenador
pedagógico
e
o
vigilante
da
escola
(p.6).
97.
(SILVA,
1999)
A
saúde
escolar
Não
explica
entrevista.
Sobre
a
escolha
em
Campo
Grande/MS:
Seu
dos
entrevistados
e
do
local
das
discurso,
suas
promessas.
Ano
entrevistas
afirma
que:
as
pessoas
que
da
pesquisa:
1999.
Com
o
me
informariam
sobre
as
questões
de
objetivo
de
analisar
o
discurso
saúde,
no
enfoque
que
me
interessava
da
saúde
escolar
na
cidade
investigar,
estavam
na
escola,
onde,
pesquisada,
Campo
Grande/MS,
portanto,
me
caberia
entrevistá-‐las
identificando
suas
promessas
e
(p.21).
os
resultados
alcançados.
98.
(SILVA
e
CARVALHO,
2002)
Não
explica
entrevista.
Menciona
que:
“a
Violência
e
ética
docente
no
partir
deste
trabalho,
realizamos
espaço
escolar
(Patrocínio,
MG,
entrevistas
com
mais
quatro
Escolas
da
2001-‐2002).
Ano
da
pesquisa:
Rede
Pública
do
município
de
Patrocínio.
2001-‐2002.
Com
o
objetivo
de
As
diretoras
entrevistadas
apontaram
a
Focalizar
a
dimensão
da
ética
violência
como
fator
presente
no
docente,
configurando-‐a
de
cotidiano
escolar,
apresentando-‐se
como
acordo
com
a
realidade
escolar,
obstáculo
para
a
convivência,
para
tentarmos
compreender
a
aprendizagem,
e
para
a
formação
integral
situação
de
violência,
imperante
do
aluno,
como
também
para
toda
a
no
universo
educacional,
e
como
prática
escolar
e
educativa.
Tais
esta
realidade
pode
intervir
no
entrevistas
foram
realizadas
durante
a
desempenho
e
formação
do
execução
do
estágio”
(p.1).
aluno.
99.
(SILVA,
et
al.,
2001)
Políticas
Não
explica
entrevista.
Foram
para
Enfrentamento
do
Fracasso
entrevistados
12
professores
de
quatro
Escolar:
Uma
Análise
da
escolas
municipais.
Na
definição
das
Proposta
Escola
Plural
de
Belo
escolas
investigadas
na
pesquisa
de
Horizonte.
Ano
da
pesquisa
campo,
foi
adotado
como
critério
básico
o
2001
com
o
objetivo
de
seu
grau
de
resistência
e
de
assimilação
investigar
e
discutir
como
a
em
relação
às
diretrizes
da
secretaria
questão
do
fracasso
escolar
é
municipal
de
educação
de
Belo
abordada
e
enfrentada
pela
Horizonte,
dentro
da
proposta
escola
proposta
Escola
Plural,
plural,
sendo
duas
escolas
consideradas
implantada
na
rede
municipal
de
resistentes
e
outras
duas
escolas
ensino
de
Belo
Horizonte
desde
consideradas
como
as
que
assimilaram
1994.
tal
proposta
(p.1).
O
ORIENTADOR
EDUCACIONAL
COMO
PESQUISADOR
PARTICIPANTE:
QUANDO
O
CAMPO
DE
PESQUISA
TORNA-‐SE
LOCAL
DE
TRABALHO.
Edson
S.
Gomes
Antes
de
introduzir
o
assunto
tratado
neste
ensaio,
é
necessário
justificar
a
forma
como
ele
encontra-‐se
escrito.
O
ponto
de
partida
para
a
reflexão
sobre
pesquisa
em
educação
foi
o
duplo
papel,
assumido
por
mim,
de
orientador
educacional
na
rede
municipal
de
educação
de
Itaguaí
e
pesquisador
devidamente
matriculado
no
Programa
de
Pós-‐Graduação
em
Ciências
Sociais
pela
Universidade
Federal
Rural
do
Rio
de
Janeiro.
Logo,
além
da
discussão
conceitual,
este
ensaio
pode
ser
lido
também
como
um
relato
de
experiência
de
alguém
que
teve
que
superar
na
prática
as
dificuldades
de
uma
pesquisa
de
campo
que
se
tornou
também
meu
local
de
trabalho.
Das
inquietações
consequentes
deste
duplo
pertencimento
surgiu
a
inspiração
e
a
motivação
para
elaborar
este
ensaio
que
integra,
então,
o
primeiro
capítulo
da
dissertação
intitulada
“O
processo
de
formação
de
alunos
desviantes:
uma
análise
das
interações
sociais
dentro
da
estrutura
e
funcionamento
da
escola”.
Para
ser
mais
específico,
este
ensaio
discute
as
perdas
e
os
ganhos
de
se
envolver
com
o
campo
da
pesquisa.
Evento
fácil
de
acontecer,
especialmente
em
pesquisas
em
educação
que
exigem
a
presença
na
escola.
Para
tanto,
parte-‐se
das
dificuldades
ocasionadas
pelo
meu
próprio
campo
de
pesquisa
em
que
tive
que
ser
ao
mesmo
tempo
orientador
educacional
e
pesquisador.
Em
março
de
2012
deu-‐se
início
ao
trabalho
de
investigação
sobre
classificação
de
alunos
desviantes
partindo
da
estrutura
e
do
funcionamento
da
Escola
Municipal
do
Porto14
e
às
atividades
referentes
à
Orientação
Educacional.
Como
docente,
a
pesquisa
estava
inerente
a
minha
prática
de
educador.
No
entanto,
uma
questão,
mais
geral,
me
inquietava:
como
desenvolver
uma
pesquisa
em
educação,
que
se
dispõe
ao
título
de
científica,
quando
se
está
imerso
no
ambiente
a
ser
pesquisado?
Este
ensaio
traz,
portanto,
em
forma
de
um
relato
de
um
orientador
educacional
que
também
é
pesquisador,
algumas
sugestões
para
superar
algumas
das
dificuldades
geradas
por
este
duplo
pertencimento
ao
campo.
Traz
também
um
debate
sobre
o
enquadramento
metodológico
para
tal
posicionamento
passando
pelas
definições
de
14
Escola municipal localizada em Itaguaí que oferece Educação Infantil (04 e 05 anos), Ensino Fundamental e
Educação de Jovens e Adultos. O codinome foi criado para preservar a identidade da escola pesquisada.
“pesquisa
ação”
e
“observação
participante”,
tal
como
Malinowski
(1978),
até
chegar
numa
descrição
mais
próxima
do
que
de
fato
me
aconteceu:
uma
“pesquisa
participante”.
Descoberta
de
um
novo
problema:
ser
pesquisador
ou
ser
orientador
educacional?
A
primeira
questão
a
ser
superada,
diz
respeito
à
neutralidade
da
pesquisa
em
educação.
Como
nos
leva
a
pensar
Elias
e
Scopsons
(2000),
a
crença
de
uma
certeza
impessoal
não
passa
de
um
sonho
distante
e
já
há
muito
posto
como
um
mito.
Sempre
se
parte
de
um
ponto
de
vista
e
que
inevitavelmente
influencia
toda
a
pesquisa,
inclusive
seus
resultados,
principalmente
quando
está
se
destina
à
Educação.
É,
portanto,
tarefa
do
pesquisador,
expor
que
ponto
de
vista
é
este.
De
onde
se
fala
e
o
porquê
se
fala
podem
fornecer
aos
leitores
informações
importantes
que
possibilitam
uma
visão
mais
clara
do
que
consistiu
o
trabalho.
É
comum
em
textos
acadêmicos
tentar
suprimir
certos
detalhes
em
busca
de
se
atingir
uma
impessoalidade.
Essa
postura,
no
entanto,
pode
prejudicar
mais
do
que
ajudar.
Primeiro
por
criar,
no
texto,
uma
falsa
ideia
de
neutralidade.
E
segundo,
porque
essa
postura
acaba,
por
vezes,
possibilitando
algumas
generalizações
que,
na
verdade,
não
podem
ser
estendidas
para
além
do
universo
pesquisado.
Muitas
vezes,
a
falta
de
detalhes
leva
a
essas
inferências.
A
pesquisa
em
educação,
por
mais
que
proponha
a
ser
impessoal,
é
feita
por
uma
pessoa
que
pensa
dentro
do
contexto
no
qual
ela
está
inserida.
A
própria
escolha
do
tema
reflete
as
peculiaridades,
limitações
e
a
bagagem
que
o
pesquisador
carrega
como
história
de
vida.
Quando
se
deixa
bem
claro
que
posicionamento
é
esse
e
quais
foram
as
condições
da
pesquisa,
torna-‐se
claro
também
quais
resultados
do
trabalho
podem
ser
genéricos
e
quais
não
podem
ser.
Torna-‐se
necessário
que
se
tenha
sinceridade
ao
tratar
do
campo
e
da
pesquisa
em
educação.
Sua
presença
ou
não
no
trabalho
incide
diretamente
sobre
a
capacidade
de
interpretação
daqueles
que
farão
sua
leitura,
pois
possibilitará
ao
leitor
uma
visão
mais
próxima
do
posicionamento
do
pesquisador
diante
do
seu
trabalho.
Logo,
a
transparência,
por
mais
arriscada
que
seja,
precisa
ser
mantida.
Durante
a
realização
do
meu
campo
de
pesquisa
tive
que
ser
ao
mesmo
tempo
orientador
educacional
e
pesquisador.
Ambos
os
posicionamentos
implicaram
obrigações
distintas
e
muitas
vezes
conflitantes.
Ao
orientador,
o
desígnio
de
auxiliar
alunos
com
dificuldades
na
aprendizagem
e
“indisciplinados”,
encaminhá-‐los
a
especialistas
quando
necessário,
acompanhar
seus
dramas
familiares,
sua
frequência
escolar,
intermediar
conflitos
entre
professores
e
alunos,
desenvolver
e
aplicar
projetos,
disseminar
valores,
organizar
e
presidir
reuniões
etc.
Ao
pesquisador,
por
sua
vez,
outros
objetivos:
basicamente,
compreender
os
possíveis
processos
pelo
quais
surgem
na
escola
alunos
desviantes.
De
maneira
prática:
organizar
o
caderno
de
campo,
dar
cabo
da
leitura
referente
à
pesquisa;
estabelecer
diretrizes
metodológicas
eficazes;
entrevistar
alunos,
professores,
pais
e
demais
funcionários;
observar
o
cotidiano
escolar;
atentar-‐se
à
ética;
escrever,
raciocinar,
montar
esquemas
lógicos;
ler
documentos
antigos,
artigos;
fazer
visitas
a
famílias,
andar
pelo
bairro,
ouvir,
perguntar
etc.
Nessas
condições,
ignorar
meu
pertencimento
ao
campo
tal
como
se
deu,
ou
seja,
como
pesquisador
e
também
um
Orientador
educacional,
seria
o
mesmo
que
condená-‐la
ao
fracasso.
Por
vezes
busquei
a
neutralidade
até
perceber
que
deveria
aceitar
meu
envolvimento
e
fazer
dele
também
um
objeto
a
ser
pesquisado
e
observado.
No
início,
cobrava-‐me
distância
e
era
fácil
de
conseguir,
pois
já
possuía
um
projeto
de
pesquisa
antes
mesmo
de
começar
a
trabalhar
na
escola.
No
entanto
à
medida
que
fui
me
envolvendo
com
a
função
de
Orientador
educacional,
os
papeis
foram
se
misturando
de
tal
forma
que
passei
a
temer
pelo
futuro
da
pesquisa.
Logo
pensei:
não
se
pode
ser
ao
mesmo
tempo
orientador
e
pesquisador.
Para
que
um
exista,
o
outro
precisa
ser
suprimido.
O
início
No
dia
primeiro
de
março
de
2012
iniciava
meu
trabalho
de
campo
e
o
exercício
da
minha
função
de
orientador
educacional
na
Escola
Municipal
do
Porto.
Depois
de
um
percurso
longo
de
estudos,
provas,
filas
e
exames
médicos
distribuídos
entre
os
dois
processos
seletivos
que
me
submetia
ao
final
de
2011
e
meados
de
2012,
o
resultado:
havia
sido
aprovado
tanto
no
concurso
público
para
o
cargo
de
Orientador
educacional
na
cidade
de
Itaguaí
-‐
RJ
quanto
no
Programa
de
pós-‐graduação
em
Ciências
Sociais
da
UFRRJ.
No
dia
5
de
março
apresentava-‐me
à
Escola
Municipal
do
Porto
não
só
como
Orientador,
mas
também
como
pesquisador
decidido
a
fazer
do
meu
local
de
trabalho
meu
principal
objeto
de
pesquisa.
A
escola,
um
mundo
ainda
desconhecido,
desvelou-‐se
aos
poucos
para
os
dois
papeis
de
um
único
sujeito
que
adentrava
seus
portões;
ao
pesquisador
(iniciante)
e
o
orientador
(inexperiente).
Ambos
os
papeis
não
se
misturavam
e
de
certo
modo,
um
anulava
o
outro.
Tinha-‐
se
uma
ideia
de
como
se
fazer
uma
pesquisa
e
de
como
se
deve
trabalhar
um
orientador
educacional.
Era
preciso,
no
entanto,
descobrir,
como
isso
se
daria
na
prática.
No
momento
em
que
se
pensava
como
um
pesquisador
negava-‐se
a
presença
do
orientador.
O
inverso
também
acontecia:
quando
se
pensava
como
orientador,
negava-‐se
as
responsabilidades
oriundas
da
pesquisa.
Em
outras
palavras,
os
dois
personagens
alternavam-‐se
no
mesmo
espaço
criando
uma
situação
insustentável.
O
que
sobressaiu
foi,
portanto,
a
euforia.
No
primeiro
dia
de
trabalho
efetivo
na
Escola
do
Porto
ela
foi
tão
grande
que
praticamente
não
existia
espaço
para
o
orientador
educacional
e
muito
menos
para
um
pesquisador
metodologicamente
orientado.
O
que
apresentava
com
maior
ênfase
era
o
observador
compulsivo:
frases
proferidas,
os
gesto
das
pessoas,
os
cartazes
fixados
à
parede,
etc.
era
tudo
minuciosamente
observado.
Nada
passava
despercebido.
Como
um
turista,
fotografava
os
murais
espalhados
pela
escola
e
inquiria
a
todos;
desde
o
vigia
até
a
diretora
da
escola.
Nesse
dia,
somente
o
entusiasta
caminhou
pelos
corredores
da
Escola
do
Porto
e
de
tal
modo
que
poderiam
pensar
que
ele
buscava
coletar
todos
os
dados
para
finalizar
sua
tese
logo
no
primeiro
dia
de
campo.
Com
o
passar
dos
dias,
o
campo
logo
se
converteu
em
trabalho
efetivo.
Papéis
e
mais
papéis
foram
sendo
apresentados
cotidianamente.
Dados
e
nomes
para
decorar,
fichas
para
preencher,
projetos
para
elaborar,
enfim,
o
trabalho
burocrático
que
a
instituição
aos
poucos
foi
delegando
a
mim,
fizeram
com
que
gradativamente
a
euforia
diminuísse.
À
medida
que
fui
adquirindo
segurança
na
função
que
exercia,
a
demanda
da
instituição
por
meus
serviços
enquanto
orientador
educacional
tornou-‐se
mais
acentuada.
Gradativamente
o
pesquisador
começou
a
desaparecer
do
campo.
Seus
dias
na
escola
ficaram
restritos
há
poucos
minutos
sentado
na
sala
do
Orientador
registrando
alguns
acontecimentos
marcantes
no
cotidiano
escolar.
Quanto
mais
próximo
me
tornava
dos
professores
e
alunos,
maior
era
a
demanda
por
meus
serviços
e
maior
eram
as
dificuldades
em
negar
os
pedidos.
A
quantidade
de
“incêndios”
que
precisavam
ser
instantaneamente
apagados
consumia
grande
parte
dos
esforços
mentais
que
eu
fazia.
A
tendência
era
que
o
pesquisador
desaparecesse
efetivamente
do
campo,
no
entanto,
isso
não
chegou
a
acontecer.
Essa
supressão
do
pesquisador
no
campo
ocasionado
pelo
excesso
de
trabalho
que
se
apresentava
a
mim
ocasionou,
ao
contrário
do
que
se
poderia
imaginar,
uma
junção
forçosa
entre
a
figura
do
pesquisador
e
do
orientador
educacional.
O
trabalho
tal
como
acontecia
na
instituição
contava
com
intervenções
feitas
pelo
Orientador
envolvendo
professores,
alunos
e
responsáveis.
Dentro
da
sua
sala
entravam
reclamações,
elogios,
conflitos
e
casos
de
violência
envolvendo
todos
os
integrantes
da
comunidade
escolar.
Por
exemplo:
pais
e
alunos
queixavam-‐se
do
funcionamento
da
escola;
professores
traziam
descrições
detalhadas
de
comportamentos
dos
alunos;
funcionários
antigos
portavam
histórias
impressionantes
e
as
compartilhavam;
enfim,
a
sala
e
a
profissão
do
Orientador
que
os
recebia
desenharam-‐se,
mais
do
que
qualquer
outra
função
e
local
na
Escola
Municipal
do
Porto,
como
um
observatório
privilegiado
sobre
o
funcionamento
da
instituição.
Diante
do
risco
eminente
da
supressão
do
pesquisador
a
solução
encontrada
foi
fazer
do
trabalho
do
orientador
o
ponto
de
partida
para
coleta
de
dados.
Ambos,
portanto,
foram
impelidos
a
juntarem-‐se.
Esse
acontecimento
permitiu
uma
ruptura
numa
cisão
que
antes
parecia
inevitável.
Por
volta
do
5º
mês
tive
a
percepção
de
que
o
pesquisador
e
o
orientador
não
precisavam
mais
alternar
seus
papéis
como
antes.
Um
não
precisava
necessariamente
anular
o
espaço
ou
invadir
o
espaço
do
outro.
Ambos
poderiam
trabalhar
concomitantemente
agregando
um
ao
outro,
coexistido.
Aos
poucos,
as
intervenções
do
orientador
passaram
a
revelar
questões
relacionadas
ao
funcionamento
e
estrutura
social
da
escola.
Do
mesmo
modo,
os
dados
da
pesquisa
também
começaram
a
auxiliar
o
orientador
em
sua
função.
Cabe,
no
entanto,
tratar
com
mais
profundidade
a
junção
que
se
deu
entre
a
figura
do
orientador
educacional
e
do
Pesquisador.
Tal
feito
trouxe
ganhos
e
viabilizou
o
prosseguimento
da
pesquisa.
Contudo,
além
dos
benefícios
que
serão
adiante
pontuados,
trouxe
também
algumas
desvantagens.
Inevitáveis,
de
fato,
mas
contornáveis.
Contexto
da
pesquisa:
privilégios.
Como
se
pôde
perceber,
o
cenário
no
qual
foi
desenvolvida
esta
investigação
não
foi
premeditado.
Seria
inviável
ter
um
projeto
de
pesquisa
aprovado
num
processo
seletivo
de
mestrado
se
uma
das
condições
para
sua
execução
fosse
um
cargo
público
numa
escola
que,
por
sua
vez,
não
se
tinha.
No
cotidiano,
entretanto,
ter
o
local
de
trabalho
em
comum
com
o
campo
de
pesquisa
se
demonstrou
uma
pré-‐condição
para
sua
execução
da
pesquisa
tal
como
ela
se
deu.
Do
contrário,
não
seria
possível
ser
desenvolvida
da
maneira
como
foi.
Sabe-‐se
que
poucos
pesquisadores
nas
Ciências
Sociais
têm
a
oportunidade
de
fazer
de
um
trabalho
assalariado
seu
campo
de
pesquisa.
Na
educação
isso
é
mais
comum,
no
entanto
ainda
é
um
privilégio
de
poucos.
Essa
foi,
apesar
de
não
ser
a
única,
a
primeira
vantagem
em
ter
um
campo
de
pesquisa
também
convertido
em
local
de
trabalho.
Num
nível
pessoal
isso
trouxe
uma
comodidade
e
um
conforto
relativamente
agradável,
principalmente
no
que
se
diz
respeito
à
conquista
da
independência
financeira
mediante
o
emprego.
Obviamente,
a
escolha
da
Escola
Municipal
do
Porto
como
campo
de
pesquisa
não
se
deu
de
maneira
premeditada.
Além
de
não
conhecer
absolutamente
nada
da
cidade
de
Itaguaí
antes
de
iniciar
a
pesquisa,
não
tinha
noção
da
localidade
ou
da
estrutura
das
escolas
municipais
que
existiam
lá.
Das
poucas
opções
que
me
foram
oferecidas,
a
Escola
Municipal
do
Porto
era
a
única
que
eu
poderia
chegar
sem
ter
que
andar.
Para
chegar
até
ela,
bastaria
apenas
um
ônibus
e
um
transporte
alternativo
-‐
uma
Kombi
-‐
que
tinham
um
ponto
em
comum.
No
entanto,
mesmo
a
escola
não
sendo
escolhida
por
suas
características,
afeiçoei-‐me
a
ela
de
tal
forma
que
sequer
me
interessei
em
buscar
saber
se
outra
escola
da
rede
municipal
poderia
fornecer
melhores
condições
de
pesquisa.
Apesar
das
dificuldades
inerentes
ao
processo
de
adaptação,
a
Escola
Municipal
do
Porto
foi
receptiva
e
calorosa.
A
comunidade
circundante
é
presente
é
receptiva.
Sua
simplicidade
a
faz
semelhante
à
cidade
onde
residia
junto
aos
meus
pais
no
interior
de
Minas
Gerais.
Fui
levado
a
pensar
que
não
poderia
investigar
um
local
melhor.
Bem
instalada
e
recém
construída,
a
escola
reflete
uma
tendência
da
educação
pública
no
Brasil.
Paredes
bem
pintadas,
sala
de
informática
com
internet,
jogos
e
artigos
esportivos,
material
didático
diverso
e
disponível
para
professores
e
alunos,
recursos
multimídia
de
ponta
como
lousa
e
mesa
interativa,
notebooks
para
professores
e
alunos
do
9º
ano,
Datashow
e
máquinas
fotocopiadoras,
sala
de
digitação
para
projetos,
aparelhagem
de
som,
identificador
eletrônico
para
alunos
e
funcionários,
quadra
coberta,
refeição
completa,
biblioteca
com
TV
e
DVD,
vestiário
e
salas
climatizadas.
De
fato,
nem
toda
essa
estrutura
funciona
como
deveria.
Faltam
tonéis
de
tintas
para
as
máquinas
fotocopiadoras,
nem
todos
os
professores
receberam
ou
fazem
usos
dos
notebooks,
os
refrigeradores
de
ar
não
funcionam
nas
salas
de
aula
assim
como
o
identificador
eletrônico
também
não
e
há
falta
de
pinceis
para
os
professores
(aliás,
essa
que
foi
uma
das
queixas
dos
professores
no
ano
de
2012).
São
diversos
os
contratempos,
mas
eles
não
são
suficientes
para
que
se
ignorem
as
boas
condições
estruturais
de
que
dispõe
a
Escola
Municipal
do
Porto.
Sua
configuração
permite
não
igualá-‐la
a
todas
as
escolas,
mas
reflete
um
movimento
gradativo
no
país
de
aumento
dos
recursos
destinados
à
educação.
Se
essas
não
são
as
condições
de
que
dispõe
a
maioria
das
escolas
no
Brasil,
a
tendência
é
que
venham
a
ser.
Tratando
especificamente
da
pesquisa,
pode-‐se
dizer
que
a
Escola
Municipal
do
Porto
está
próxima
de
um
tipo
ideal
de
estrutura
escolar
formado
conforme
os
padrões
sugeridos
pelos
países
desenvolvidos:
tecnologia
a
favor
da
educação.
No
entanto,
estar
dentro
dela
como
pesquisador
e
também
como
orientador,
favoreceu
olhares
que
externamente
não
seriam
possíveis.
A
junção
entre
os
dois
papéis
possibilitou
ao
pesquisador
um
ponto
de
observação
privilegiado
dentro
da
escola.
Além
do
acesso
aos
pais
dos
alunos
e
aos
próprios
alunos,
foi
possível
também
ter
acesso
aos
professores
e
demais
funcionários
da
instituição
sem
dificuldades.
Estabeleceu-‐se
uma
relação
de
confiança
mútua
com
muitos
deles
que,
por
sua
vez,
possibilitou
a
coleta
de
relatos
comprometedores
para
a
instituição
e
consequentemente
para
a
posição
social
que
ocupavam
dentro
dela.
Muitas
entrevistas
foram
concedidas
consensualmente
sem
que
para
isso
tivessem
que
ser
enfrentadas
as
barreiras
que
muitas
vezes
a
escola
impõe
aos
pesquisadores
por
medo
de
expor
suas
falhas.
Algumas
informações,
não
foram
coletadas
nesse
mesmo
clima
de
cordialidade.
Principalmente
quando
se
ansiava
acesso
a
documentos
envolvendo
conflitos
entre
alunos
e
a
escola.
Esses
distintos
papéis
coexistindo
no
mesmo
local
possibilitou
um
saída
eficaz
para
esse
impasse.
Todas
as
vezes
que
foi
preciso
que
o
pesquisador
se
impusesse
como
tal
ele
pôde
apoiar-‐se
na
figura
do
orientador.
Devido
ao
orientador,
o
pesquisador
teve
que
ser
aturado
na
escola
sem
que
muita
coisa
pudesse
ser
feita
para
impedir
que
ele
desenvolvesse
seu
trabalho.
Por
exemplo:
quando
tive
que
pedir
permissão
à
diretora
para
ter
acesso
aos
registros
contidos
no
Livro
de
Ocorrência
da
instituição
dos
últimos
24
anos,
obtive
resposta
negativa.
Diante
do
seu
posicionamento,
tive
que
impor-‐me
como
orientador
para
justificar
meu
acesso
aos
documentos
escolares.
Impossibilitada
de
continuar
negando
meu
acesso
aos
documentos
escolares,
fui
então
autorizado
desde
que
preservado
o
código
de
ética
da
profissão
–
que
por
sua
vez,
não
se
distingue
muito
do
código
de
ética
da
pesquisa
científica.
Essa
posição
era
tomada
somente
nos
momentos
oportunos.
Muitas
vezes
o
pesquisador
passava
despercebido
por
todos
na
instituição.
Esta
foi,
aliás,
uma
das
vantagens
provenientes
do
posicionamento
duplo.
O
risco
do
pesquisador
se
tornar
um
estranho
questionador
e,
portanto,
um
incômodo
aos
olhos
da
comunidade
escolar
foi
quase
reduzido
a
zero.
A
imagem
que
eu
transmitia
não
era
a
de
alguém
que
estava
disposto
a
denunciar
a
incompetência
da
escola,
mas
sim
de
alguém
que
se
preocupava
em
trazer
melhorias
para
seu
funcionamento.
Visto
assim
pela
comunidade,
a
qualidade
dos
dados
encontrados
se
acentuou.
Criaram-‐se
vínculos
que
facilitaram
a
troca
de
informações.
Como
passei
a
conhecer
melhor
meus
informantes
e
um
pouco
da
história
de
vida
de
cada
um,
tornou-‐se
possível
fazer
uma
leitura
minuciosa
dos
dados
que
os
mesmos
me
forneciam.
Por
muitos
momentos
a
presença
do
pesquisador
tornou-‐se
imperceptível
e,
diante
da
escola,
somente
o
orientador
se
fez
presente.
Diversas
informações
que
chegariam
somente
a
ele
chegavam
também
ao
pesquisador
que
as
registrava
preservando
sempre
o
anonimato
dos
informantes.
As
pessoas
sabiam
da
presença
do
pesquisador
na
escola,
mas
não
o
percebiam
na
maior
parte
do
tempo.
Somente
a
Direção,
diante
das
solicitações
de
permissão
que
eram
feitas
hora
ou
outra,
tinha
contato
maior
com
a
figura
do
pesquisador.
Aos
demais,
a
imagem
do
orientador
se
fazia
forte
diante
do
trabalho
cotidiano
que
eu
procurava
fazer
efetivamente
e
com
seriedade.
Essa
posição
demonstrou-‐se
um
truque
metodológico
eficaz
que
possibilitou
driblar
as
resistências
da
escola
que
se
formam
diante
de
um
corpo
estranho 15 .
Estratégias
podem
ser
encontradas
na
literatura.
Goffman
(1999),
por
exemplo,
infiltrou-‐se
no
campo
de
pesquisa.
Seu
trabalho
resultou
no
livro
publicado
pela
primeira
vez
em
1961
intitulado
Asylums
–
Essays
on
the
social
situation
of
mental
patients
and
others
inmates
(em
português:
Manicômios,
Prisões
e
Conventos).
O
autor
iniciou
junto
com
sua
pesquisa
um
trabalho
junto
a
um
hospital
psiquiátrico
lidando
diretamente
com
os
pacientes.
Ninguém
sabia
que
era
um
intelectual.
De
modo
semelhante
também
pode
ser
citada
a
pesquisa
de
Footh
Whyte
(2005).
Durante
a
execução
do
seu
trabalho
intitulado
Sociedade
de
Esquina,
ele
compôs
parte
da
Gangue
15
De
fato,
esses
truques
existem
e
um
deles
é
se
infiltrar
no
campo
como
um
nativo.
de
Doc,
seu
principal
informante
e
amigo
que
o
levou
a
conhecer
o
modo
como
se
organizava
a
“desorganizada”
periferia
ítalo-‐americana
da
cidade
de
Boston.
Local,
aliás,
onde
passou
a
residir
como
morador
no
período
de
sua
pesquisa.
Esse
envolvimento
efetivo
também
se
verificou
na
presente
pesquisa.
Apesar
de
estar
envolvido
com
o
meu
campo
de
modo
diferente,
também
faço
parte
dele,
mesmo
sendo
representante
do
Estado
com
autoridade
constituída
para
“orientar”
pais,
alunos
e
professores.
Foi
justamente
isso
que
possibilitou
uma
volumosa
massa
de
dados
e
entrevistas.
Nem
sempre
uma
pesquisa
desse
feitio
é
vista
com
“bons
olhos”.
Em
concepções
mais
positivistas
pressupõe-‐se
certo
afastamento
do
pesquisador
em
relação
ao
objeto
de
pesquisa.
Tende-‐se
a
considerar
uma
desvantagem
para
quem
executa
o
trabalho
o
envolvimento
como
objeto
pesquisado.
Uma
vez
observada
tal
inclusão,
maior
se
tornariam
as
chances
dos
resultados
serem
corrompidos
por
emoções
e
posicionamentos,
ou
seja,
maiores
seriam
as
chances
do
trabalho
tornar-‐se
algo
enviesado.
Reconhece-‐se
que
tal
afirmação
não
está
de
todo
errada.
Numa
pesquisa
como
a
que
se
propôs
a
fazer
deve-‐se
ter
o
cuidado
de
redobrar
a
atenção.
No
entanto,
para
muitos,
se
há
o
risco
do
fracasso,
melhor
evitar
o
caminho.
A
imparcialidade
e
a
neutralidade
do
pesquisador
são,
portanto,
os
caminhos
mais
eficazes
para
evitá-‐los.
No
entanto,
como
brinca
Gilberto
Velho
(2004),
não
se
pode
pesquisar
pessoas
como
se
fossem
formigas.
O
objeto
se
impõe
ao
sujeito
sim
e
este
deve,
por
sua
vez,
procurar
a
melhor
forma
de
retratá-‐lo
(MINAYO,
2010).
O
rigor
metodológico
é
necessário,
mas
o
mesmo
tempo
não
suprime,
nas
ciências
em
geral,
o
envolvimento
do
pesquisador
com
o
objeto
pesquisado.
Ajuda
sim
a
diminuir,
dar
certa
objetividade
ao
trabalho.
Na
prática,
o
contato
direto
e
o
envolvimento
com
os
problemas
cotidianos
enfrentados
por
pais,
alunos
e
professores
me
possibilitou
perceber
a
relevância
da
minha
pesquisa
e
ao
mesmo
tempo
redefinir
um
problema
concreto
a
ser
investigado.
De
qualquer
modo,
mesmo
que
ali
estivesse
apenas
como
pesquisador
e
não
como
orientador
educacional
comprometido
também
com
meu
trabalho,
não
poderia
negar
a
influência
da
minha
formação
pedagógica
progressista
sobre
a
elaboração
do
problema
e
a
interpretação
dos
dados.
Da
mesma
forma,
não
poderia
negar
a
influência
da
minha
origem
enquanto
filho
de
costureira
e
militar
aposentado
(e
divorciados),
vindo
do
interior
de
Minas
Gerais,
sobre
as
minhas
impressões
e
a
maneira
como
me
relaciono
com
os
sujeitos
que
compõem
meu
campo
de
pesquisa.
Tentar
buscar
a
imparcialidade
e
a
neutralidade,
acreditando
ser
esse
o
melhor
caminho,
esforçando-‐me
para
afastar-‐me
do
objeto
de
pesquisa,
seria
um
esforço
vão.
Seria
apenas
um
desejo,
um
papel
assumido
e
talvez
até
convincente,
porém,
irreal.
Essa
aparente
desvantagem
oferece
um
gancho
para
se
discutir
um
ponto
importante:
o
enquadramento
metodológico
da
pesquisa.
Pelas
questões
postas
acima,
pode-‐se
pensar
que
se
trata
de
um
arcabouço
inédito
e
de
que
há,
portanto,
dificuldades
em
encontrar
trabalhos
que
subsidiem
metodologicamente
essa
pesquisa.
Ou
mais:
que
as
definições
de
métodos
mais
conhecidas
se
aproximam
do
posicionamento
adotado,
mas
não
dão
descrições
que
satisfaçam
as
peculiaridades
da
pesquisa.
Ambas
afirmativas
não
são
totalmente
verdadeiras.
Discussão
metodológica.
Ao
se
falar
de
pesquisa-‐ação,
acerta-‐se.
De
fato,
ela
não
oferece
realmente
descrições
suficientes
para
que
a
presente
pesquisa
seja
considerada
como
tal.
Metodologicamente
pressupõe
os
seguintes
passos:
identificação
de
um
problema,
planejamento
de
uma
solução,
sua
implementação
seguida
do
seu
monitoramento
e
a
avaliação
de
sua
eficácia
(TRIPP,
2005).
Essa
modalidade
de
pesquisa
surgiu
com
objetivo
de
integrar
grupos
sociais
dotados
de
comportamentos
fora
da
norma,
a
uma
lógica
dominante
visando
evitar
o
conflito
permanente
(SÁ,
1984).
Entretanto
há
bases
para
que
se
questione
não
o
grupo
desviante,
mas
aqueles
que
estipulam
as
normas
(BECKER,
2008).
Nessa
linha
há
a
tentativa
de
superar
a
distância
entre
pesquisador
e
o
objeto
da
pesquisa
assim
como
o
anseio
em
solucionar
questões
específicas
de
determinados
grupos
sociais.
O
envolvimento
do
pesquisador,
para
os
adeptos
dessa
modalidade
de
pesquisa,
é
uma
precondição
para
que
ela
aconteça
como
tal.
Outro
possível
enquadramento
que
oferece
semelhança
diz
respeito
à
observação
participante
que
tem
como
grande
representante
o
antropólogo
Malinowski
(1978).
Nela,
encontra-‐se
uma
inversão
das
características
encontradas
na
pesquisa-‐ação.
Há
o
cuidado
em
se
descrever
o
funcionamento
da
instituição,
pretensão
também
necessária
a
quem
se
dispõe
a
investigar
temas
como
comportamento
desviantes
na
educação,
porém
para
tanto
pressupõe
um
distanciamento
obrigatório
entre
o
pesquisador
e
o
objeto
pesquisado.
Metodologicamente
o
pesquisador
compartilharia
do
mesmo
espaço
dos
observados,
porém
sua
participação
deve-‐se
restringir
à
observação
e,
portanto,
intervenções
não
são
bem
vindas.
Como
afirma
o
autor:
A
concepção
desta
fase
na
Antropologia
é
ético-‐metodológica,
na
medida
em
que
se
recomenda
como
não-‐próprio
do
método
científico
a
ação
transformadora,
pois
o
pesquisador
deve
apreender
os
fatos
tal
qual
se
manifestam.
Essa
postura
ético-‐metodológica
funda-‐se
na
reafirmação
da
imparcialidade
e
objetividade
do
pesquisador
(MALINOWAKI,
1978,
p.
29).
Tal
tarefa
exige
a
presença
do
investigador
junto
aos
pesquisados
observando
e
registrando
os
acontecimentos
pertinentes
para
caracterizar
a
cultura
e
compreender
o
funcionamento
de
sua
organização
social.
O
mesmo
anseio
está
presente
também
na
presente
pesquisa,
porém
o
envolvimento
do
investigador
não
pode
se
dar
de
modo
imparcial
ou
neutro
como
preconiza
o
autor.
Claramente,
há
uma
motivação
social
que
permeia
toda
a
pesquisa
que,
por
sua
vez,
não
desqualifica
a
qualidade
dos
dados
encontrados.
A
discrepância
entre
o
que
Malinowski
propõe
e
os
caminhos
adotados
pelo
presente
trabalho
encontra-‐se
na
dupla
função
concomitantemente
assumida
de
orientador,
que
é
o
braço
do
Estado
naquela
escola,
e
do
pesquisador.
Isso
pressupõe,
na
visão
do
autor,
um
envolvimento
com
o
objeto
pesquisado
maior
do
que
o
necessário.
Isso,
portanto,
poderia
prejudicar
a
imparcialidade
e
a
objetividade
do
investigador.
A
premissa
defendida
por
Malinowski
é
que
não
é
possível
fazer
ciência
quando
há
envolvimento
efetivo
com
o
objeto
pesquisado.
Axioma
esse
refutado
e
questionado
por
aqueles
que
são
adeptos
da
pesquisa-‐ação
e
também
de
outro
modelo
de
investigação,
dessa
vez,
bem
próximo
ao
posicionamento
adotado
por
pesquisas
em
que
o
campo
de
pesquisa
converte-‐se
também
em
campo
de
trabalho:
a
pesquisa
participante.
A
pesquisa
participante
ou
participativa
incorpora
a
crítica
às
concepções
positivistas
predominantes,
algumas
técnicas
da
pesquisa-‐ação
e
observação
participante,
de
modo
a
destruir
a
separação
entre
sujeito
e
objeto
de
pesquisa.
Na
sua
versão
mais
radical
transforma-‐se,
enquanto
concepção
teórica,
em
autoconhecimento
(SÁ,
1984,
p.
24).
Esse
modelo
de
investigação
é
o
que
mais
se
aproxima
não
só
da
maneira
como
essa
pesquisa
aconteceu,
mas
da
concepção
progressista
que
fez
parte
da
minha
formação.
Ela
pressupõe
a
ação,
mas
sem
fazer
dela
um
objeto
de
pesquisa
como
acontece
na
pesquisa-‐ação,
ou
seja,
não
há
a
necessidade
de
monitorar
ou
avaliar
uma
ação
proposta.
Apesar
da
pesquisa
participante
se
basear
na
busca
da
compreensão
de
problemas
relativamente
imediatos,
a
ação
efetiva
para
solucioná-‐los
acontece
somente
depois
da
pesquisa
finalizada.
Sua
função
é
dar
subsídios
para
viabilizar
mudanças
no
campo
prático
através
da
intervenção
da
comunidade
envolvida.
Isso
não
significa,
portanto,
que
seu
objetivo
seja
a
transformação
social.
Diferentemente,
seu
objetivo
primeiro
consiste
em
favorecer
instrumentos
que
permitam
conhecer
a
realidade
para,
em
seguida,
tentar
transformá-‐la.
Quando
surge
em
cena,
por
exemplo,
a
personagem
real
do
“aluno
que
não
quer
nada”
desvela-‐se,
frente
ao
pesquisador
e
ao
orientador,
uma
tipificação
que
a
escola,
enquanto
instituição
cria,
porém,
não
comporta.
Logo,
o
anseio
de
compreender
as
leis
e
regularidades
que
regem
a
vida
na
escola
inclui
também
o
anseio
de
tornar
a
escola
um
lugar
acessível
a
alunos
que
se
encontram
à
margem
do
processo
de
ensino-‐
aprendizagem.
A
ação
é
inerente
à
pesquisa
e,
no
entanto,
ela
não
chega
a
fazer
parte
dos
seus
objetivos
diretos.
Ou
seja,
por
mais
que
o
desejo
de
mudança
motive
que
se
pesquise
determinado
assunto,
um
problema
imediato,
e
não
outro,
a
mudança
na
realidade
investigada
não
se
torna
uma
precondição
para
o
andamento
da
pesquisa
e
muito
menos
seu
objetivo.
Para
o
pesquisador,
interessa
entender
o
processo
pelo
qual
esse
aluno
é
formado
no
ambiente
escolar,
enquanto
que
para
o
orientador
interessa
fazer
uso
das
contribuições
da
pesquisa
para
tentar
convertê-‐las
em
construções
práticas
que
promovam
mudanças
efetivas
na
realidade
da
qual
ele
faz
parte.
Por
fim,
na
pesquisa
participante,
há
também
espaço
para
a
dualidade
dos
papéis.
Ou
seja,
considerando
que
intelectuais
estão
envolvidos
com
um
emaranhado
de
relações
sociais,
ligados
a
um
grupo
social
e
a
um
determinado
modo
de
produção.
Estão
conectados
ao
mundo
do
trabalho
e
possuem
um
engajamento
político.
Isso
não
significa,
portanto,
render-‐se
aos
ímpetos
das
emoções,
mas
sim
na
interpenetração
entre
ciências,
filosofia
a
ação
política.
Compreender
para
mudar.
Pode
ser
assim
resumido
o
posicionamento
metodológico
do
pesquisador
em
educação
no
campo
que
se
converte
no
espaço
escolar.
Superando
as
perdas
da
pesquisa
participante
Até
agora
foi
pontuado
as
vantagens
de
se
desenvolver
uma
pesquisa
em
que
o
pesquisador
participa
de
modo
efetivo
no
campo.
Tentou-‐se
também,
situar
esse
trabalho
numa
definição
que
explicasse
seu
posicionamento
metodológico.
Até
o
momento,
no
entanto,
não
se
dedicou
tempo
para
assinalar
as
perdas
de
um
posicionamento
tal
como
ele
se
configurou.
Longe
de
estar
expresso
na
falta
de
imparcialidade
e
neutralidade,
pode-‐se
citar
algumas
condições
que
representam
dificuldades
significativas.
A
primeira
delas
é
expressa
na
redução
real
e
gradativa
do
tempo
destinado
à
pesquisa
no
campo
considerando
que
algumas
obrigações
que
a
profissão
de
orientador
educacional
impõe
acabam
tornando-‐se
repetitivas
e,
portanto,
pouco
vantajosas
para
a
investigação.
O
trabalho
do
Orientador
não
é
composto
apenas
por
atendimentos
a
pais,
alunos
e
professores.
Faz
parte
também
do
seu
trabalho
elaborar
projetos
de
intervenções
pedagógicas
que
demandam
muito
tempo
e
esforço
diante
de
assuntos
muito
peculiares:
tanto
para
serem
pensados
quanto
para
serem
executados.
Alguns
trabalhos
fornecem
informações
relevantes,
mas
que
depois
de
certo
tempo
tornam-‐se
repetitivos
e
rotineiros.
Enquadram-‐se
nessa
descrição
o
acompanhamento
da
frequência
dos
alunos,
a
preparação
de
reuniões
com
pais
e
professores,
organização
e
acompanhamento
de
turmas
em
passeios,
resolução
de
conflitos
entre
alunos,
etc.
O
trabalho
do
Orientador
possui
certas
obrigações
que
consomem
energia
e
tempo
do
pesquisador.
De
fato,
a
junção
entre
os
dois
papéis
amenizam
esse
problema
tornando
mais
próximos
os
informantes
e
mais
claro
o
funcionamento
efetivo
da
escola,
porém
não
o
soluciona
por
completo.
Com
o
passar
do
tempo
as
atividades
da
orientação
acabam
assumindo
certa
regularidade
que,
consequentemente,
oferecem
poucas
novidades
para
a
pesquisa.
Outra
perda
efetiva,
e
de
maior
relevância,
está
ligada
a
renúncia
compulsória
de
autonomia
do
pesquisador.
Unir
o
orientador
ao
pesquisador
retira
um
pouco
da
sua
autonomia.
Uma
vez
feita
essa
junção,
abica-‐se
a
sua
mobilidade
dentro
do
ambiente
escolar.
Ele
não
pode
estar
sempre
aonde
ele
deseja
estar
ou
aonde
a
pesquisa
o
impele
a
ir.
Pelo
contrário,
seu
campo
de
ação
fica
limitado
aos
espaços
que
percorre
o
Orientador.
Ele
que
está
sempre
onde
ele
é
solicitado
a
estar.
Isso
torna
o
pesquisador
uma
figura
conduzida
pelo
cotidiano
vivido
pelo
orientador,
portanto,
de
alguma
forma
subjugada
a
ele.
No
período
em
que
o
pesquisador
permanece
na
escola,
seu
olhar
é
restrito
ao
campo
de
visão
do
orientador.
O
que
pode
ser
percebido
aos
olhos
do
pesquisador
é
aquilo
que
aparece
aos
olhos
do
orientador
que,
por
sua
vez,
está
preocupado
também
em
exercer
sua
função.
Por
sorte,
o
pesquisador
existe
em
período
integral
e
não
somente
no
momento
em
que
está
na
escola.
Assim
sendo,
os
dados
que
são
coletados
no
campo
não
são
consideradas
verdades
por
si
mesmos,
mas
são
submetidos
à
análise
fora
da
escola
como
qualquer
outro
dado.
A
percepção
do
pesquisador
dentro
do
campo
de
visão
do
orientador
não
retrata
a
realidade
da
escola,
mas
fornece
elementos
para
que
ela
seja
compreendida
como
tal.
Juntamente
com
outros
dados
–
por
exemplo,
os
coletados
no
livro
de
ocorrência
–
pode-‐se
dispor
de
um
volume
de
informações
suficientemente
válidas
para
se
elaborar
um
retrato
do
funcionamento
e
da
estrutura
social
da
escola.
Gilberto
Velho
(2004)
faz
uma
reflexão
interessante.
O
autor
pontua
que
não
só
a
complexidade
e
a
diferenciação
sociológicas
devem
compor
o
campo
de
pesquisa,
mas
também
a
multidimensionalidade
do
mundo
real,
expressa
em
diferentes
níveis
e
dotados
de
distintos
significados.
Os
processos
de
construção
de
identidades
se
dão
mediante
o
pertencimento
a
vários
grupos,
redes
e
círculos
sociais.
Eles
por
sua
vez,
podem
ser
convertidos
em
um
fenômeno
básico
a
ser
investigado
e
compreendido
na
sociedade
moderno-‐contemporânea.
Ao
mesmo
tempo,
é
esse
multipertencimento
que
permite
ao
cientista
social
pesquisar
sua
própria
sociedade
mesmo
quando
ele
possui
algum
tipo
de
envolvimento.
O
fato
de
não
ser
englobado
por
nenhum
grupo
exclusivo
“permite
o
movimento
de
estranhamento
crítico
diante
do
próximo"
(VELHO,
2004,
p.
18).
Gilberto
Velho
convida
a
pensar
o
múltiplo
pertencimento
do
pesquisador
como
elemento
que
permite,
ao
mesmo
tempo,
que
se
entre
em
contato
com
o
campo
pesquisado
e
também
se
distancie
dele.
A
sociedade
moderna,
como
aponta
Simmel
(2006)
impele
o
homem
para
que
o
mesmo
assuma
diferentes
papeis
em
diferentes
contextos.
O
problema
está
no
desejo
humano
de
ser
total.
Devido
a
essa
característica,
tendemos
a
ver
na
parte
o
todo.
Não
nos
satisfazemos
quando
não
nos
sentimos
totais
e
por
isso
lutamos
para
sermos
um,
mesmo
quando
estamos
fragmentados
e
os
diferentes
papéis
que
assumimos
entram
em
contradição.
Como
observou
Paulo
Freire
(1996)
o
desejo
e
a
luta
pela
coerência
é
o
principal
desafio
do
homem
moderno.
Numa
pesquisa,
apesar
do
pesquisador,
enquanto
pessoa,
também
buscar
se
encontrar,
seu
múltiplo
pertencimento
corrobora
para
que
o
campo
se
converta
num
laboratório
de
experiências.
Enquanto
se
está
dentro
dele
se
é
levado
pela
aleatoriedade
da
vida
cotidiana,
os
fatos
se
apresentam
e
logo
em
seguida
se
esvaem
sem
deixar
rastros.
Nele,
o
pesquisador
que
se
engaja
segue
pistas
e
objetivos
orientados,
no
entanto,
nem
sempre
sua
ação
é
racionalmente
premeditada.
O
único
norte
real,
por
mais
que
se
faça
um
projeto
de
pesquisa
bem
estruturado,
é
o
problema
de
pesquisa,
que
por
sua
vez,
como
observou
Becker
(2011),
também
é
fornecido
pelo
campo.
Todas
essas
informações
devem
ser
analisadas
não
durante
o
campo,
pois
ali
não
se
é
apenas
pesquisador,
mas
pode-‐se
ser
também
amigo,
rival,
filho,
funcionário,
patrão,
etc.
A
diversidade
de
pertencimentos
dentro
de
um
único
local
é
evidente.
Entre
o
positivismo
neutro
e
o
engajamento
completo
há
várias
nuances
possíveis
que
precisam
ser
tratadas
e
problematizadas.
Todas
elas,
portanto,
perpassam
por
uma
questão
elementar:
o
juízo
de
valor.
O
pesquisador
não
está
imune
ao
desejo
de
torna-‐se
um
e
de
estender
para
todos
os
papeis
que
assume
suas
peculiaridades,
valores
e
sonhos.
Isso,
certamente
joga
sobre
o
pesquisador
participante
um
peso
de
vigilância
constante
que
muitas
vezes
não
é
suportado
pelo
pesquisador
iniciante.
Não
há
um
modo
certo
de
se
lidar
com
isso.
Por
mais
que
se
tenham
truques
metodológicos
listados
nos
manuais,
somente
a
experiência
fornece
um
olhar
para
se
atentar
onde
a
pessoa
do
pesquisador
está
falando
mais
do
que
os
dados.
É
nesse
item
que
se
desponta
uma
figura-‐chave
e
que,
na
maior
parte
das
vezes,
é
suprimido
de
teses
e
dissertações:
o
professor
orientador
da
pesquisa.
A
relação
entre
pesquisador
iniciante
e
o
orientador,
agora
não
o
educacional,
viabiliza
uma
ferramenta
fundamental
para
manter,
de
modo
sensato,
certo
distanciamento
entre
o
objeto
pesquisado
sem
que
para
tanto
se
perca
o
engajamento
no
campo.
Um
segundo
olhar
que
tem
por
função,
além
de
acompanhar
a
formação
do
pesquisador,
filtrar
os
exageros.
Esse
orientador,
não
possui
a
mesma
vivência
que
o
pesquisador
que
está,
por
conseguinte,
ligado
ao
campo
que
observa.
Do
mesmo
modo,
não
possui
a
mesma
história
de
vida
e
goza
de
condições
e
conhecimento
que
dificilmente
coincidirá
com
o
pesquisador
iniciante.
O
diálogo
entre
ambos
favorece
a
percepção
clara
de
como
os
múltiplos
pertencimentos
incidem
sobre
os
resultados.
A
intersecção
entre
os
diferentes
olhares,
ou
seja,
os
pontos
de
comum
acordo
entre
ambos
são,
provavelmente,
mais
concisos
do
que
os
posicionamentos
defendidos
individualmente.
Não
que
isso
seja
uma
regra.
Nem
toda
posição
divergente
será
negativa
ou
prolixa.
No
entanto,
a
troca
entre
pesquisador
o
orientador
da
pesquisa
é
um
instrumento
de
suma
relevância
para
que
se
evitem
julgamentos
de
valores
provindos
do
pesquisador
que,
além
de
engajado
é
também
iniciante.
O
que
se
preconiza,
no
entanto,
é
uma
relação
dialógica
entre
ambos
que
não
submete
um
saber
ao
outro,
mas
também
não
ignora
as
diferenças
do
capital
cultural.
Continuemos,
portanto
nosso
percurso.
A
primeira
parte
do
caminho
já
foi
transposta.
Uma
visita
ao
pesquisador
que
também
se
coloca
como
orientador
demonstrando
as
vantagens
e
as
desvantagens
de
tal
posicionamento.
O
próximo
passo,
no
entanto,
é
adentrar
a
escola
buscando
levar
o
leitor
a
imaginar
o
espaço
escolar
o
mais
próximo
possível
de
como
ele
é
pensado
e
planejado,
de
sua
estrutura
física
e
social.
Considerações
Finais
Longe
de
se
tentar
esgotar
todo
o
assunto,
este
ensaio
é
apenas
uma
retomada
de
uma
reflexão
que
não
é
nova,
mas
que
precisa
ser
trazida
a
tona.
A
pesquisa
feita
por
quem
trabalha
diretamente
em
escolas
traz
dificuldades
a
serem
superadas,
no
entanto,
entre
as
perdas
e
os
ganhos,
é
evidente
a
supremacia
das
vantagens
sobre
as
desvantagens.
A
escola
se
apresenta
sem
máscaras
e
escancara
suas
brechas
para
o
pesquisador
que
compartilha
dos
seus
dramas
cotidianos.
A
riqueza
do
campo
é
tamanha,
que
em
determinados
momentos
é
preciso
fechar-‐se
para
novas
informações
e
colocar-‐se
a
escrever
e
organizar
o
que
já
se
coletou.
Em
outras
palavras,
é
preciso
parar
de
buscar
dados.
Claro,
nem
todo
problema
em
pesquisa
em
educação
exige
uma
relação
tão
densa
entre
pesquisador
e
a
escola.
No
entanto,
investigações
que
se
propõe
a
ser
mais
qualitativas
que
quantitativas
são
beneficiadas
quando
feitas
por
um
funcionário
da
própria
instituição.
Cuidados
precisam
ser
tomados
para
que
não
se
perca
de
vista
a
objetividade
que
uma
pesquisa
científica
exige.
Por
isso,
práticas
que
se
dispõem
ao
serviço
e
a
pesquisas
precisam
ser
compartilhadas
e
debatidas.
A
troca
entre
pesquisadores
se
mostrou
fundamental
para
o
desenvolvimento
da
pesquisa:
uma
forma
de
escape
e
proteção
diante
da
imersão
total
que
a
escola
produz
naqueles
que
estão
cotidianamente
envolvidos
com
seus
problemas
e
que,
por
sua
vez,
pode
dificultar
a
execução
da
pesquisa.
Apesar
de
ainda
raras,
a
junção
entre
pesquisador
e
orientador
educacional
é
um
diferencial
que
contribuiu
para
o
trabalho
tanto
de
um
quanto
de
outro.
A
pesquisa
participante
é
uma
ferramenta
valiosa
para
se
entender
diversos
dos
problemas
enfrentados
por
nossas
escolas
contemporâneas.
Entretanto,
há
dificuldades
ainda
para
se
vincular
determinadas
carreiras
oferecidas
pela
escola
à
academia.
É
preciso
viabilizar
a
pesquisa
em
educação
feita
também
por
educadores.
O
que
se
passou
comigo,
foi
um
caso
atípico
de
se
lograr
êxito
em
provas
distintas
e
que,
coincidentemente,
encaixaram-‐se
com
uma
luva.
Pesquisar
em
educação
não
é
um
desafio
apenas
a
ser
encarado
pela
academia,
mas
também
por
pessoas
que
vivem
e
atuam
na
educação
dentro
da
escola.
De
fato,
pesquisadores
podem
estar
concomitantemente
em
uma
universidade
e
em
uma
instituição
escolar
pública
fundamental
e
fazendo
uma
pesquisa
de
qualidade.
Pesquisar
nestas
condições
mostrou-‐se
promissor,
principalmente
para
compreender
a
estrutura
e
o
funcionamento
de
uma
escola
pública
municipal.
É
pertinente
repensar
as
possibilidades
de
se
ampliar
as
probabilidades
para
que
pesquisas
sejam
desenvolvidas
por
pessoas
que
estão
dentro
do
ambiente
escolar.
-‐
O
desviante
foi
definido
pelo
campo
e
não
por
mim!
-‐
Questão
para
se
trabalhar
buscando
um
conciliação:
a
dimensão
micro
e
macro.
-‐
Questão
para
se
trabalhar
buscando
uma
conciliação:
Os
papeis
não
podem
estar
unidos
o
tempo
todo.
Diferenciar
objeto
e
sujeito.
Para
o
pesquisador
o
orientador
ajuda,
pois
começa-‐se
a
fazer
perguntas
de
dentro.
E
enquanto
orientador
o
pesquisador
ajuda,
pois
ajuda
a
ver
os
problemas
de
fora.
-‐
A
pesquisa-‐ação
também
está
implícita
no
trabalho
do
orientador.
-‐
A
questão
do
desviante.
Quem
são
os
desviantes.
-‐
Juízo
de
Valor.
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BECKER,
Howard
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sociologia
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Tradução:
Maria
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QUITÃO,
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Pesquisa-‐ação:
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VELHO,
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Gastaldo
(org.),Erving
Goffman,
desbravador
do
cotidiano,
Porto
Alegre:
Tomo
Editorial,
2004.
_____.
O
observador
Participante.
In:
William
Foote
WHYTE.
Sociedade
de
esquina:
a
estrutura
social
de
uma
área
urbana
pobre
e
degradada.
Tradução
de
Maria
Lucia
de
Oliveira.
Rio
de
Janeiro,
Jorge
Zahar,
2005.
WHYTE,
William
Foote.
Sociedade
de
esquina:
a
estrutura
social
de
uma
área
urbana
pobre
e
degradada.
Tradução
de
Maria
Lucia
de
Oliveira.
Rio
de
Janeiro,
Jorge
Zahar,
2005.
UM
ESTUDO
ETNOGRÁFICO
SOBRE
AS
ORDENAÇÕES
E
RELAÇÕES
DE
GÊNERO
NO
ENSINO
FUNDAMENTAL:
ANALISANDO
CONSELHOS
DE
CLASSE
Daiane
de
Macedo
Costa
Carmen
Lúcia
Guimarães
de
Mattos
O
presente
trabalho
teve
como
objetivo
estudar
as
avaliações
ocorridas
em
conselhos
de
classe,
focalizando
as
análises
das
ordens
e
relações
de
gênero.
Essas
questões
são
referentes
a
estudos
de
pesquisadores
(CONNEL,
1995;
CARVALHO,
2004;
2001;
BRITO,
2006)
que
demonstram
que
há
certa
diferença
no
cotidiano
escolar
de
meninos
e
meninas,
onde
eles
são
caracterizados
como
mais
agitados,
inquietos,
desatentos,
e
as
meninas
como
meigas,
obedientes,
estudiosas
(BRITO,
2006).
A
partir
dessa
premissa,
procurou-‐se
observar
se
nos
conselhos
de
classe
essas
diferenças
se
mantêm
ou
não;
buscou-‐se
também
entender
como
essas
diferenças
poderiam
estar
interferindo
na
avaliação
de
alunos
e
alunas.
As
primeiras
leis
no
Brasil
sobre
o
Conselho
de
Classe
O
Conselho
de
Classe,
de
acordo
com
Rocha
(1984)
teve
início
em
1945
na
França
juntamente
com
algumas
classes
experimentais.
Essas
classes
experimentais
apresentaram
diversas
inovações
que
poderiam
acrescentar
no
ensino
brasileiro.
Entretanto
o
Conselho
de
Classe
foi
a
maior
delas,
pois
se
mostrava
uma
atividade
educativa
ainda
não
difundida
no
Brasil
(ROCHA,
1984,
p.18).
Essa
dinâmica
foi
observada
por
dez
educadoras
brasileiras
que
estagiavam
em
Sèvres
no
ano
de
1958.
De
acordo
com
Santos
(2007),
devido
a
essa
experiência
de
estágio
em
Sèvres
as
educadoras
trouxeram
para
o
Brasil
no
ano
de
1959,
mais
precisamente
para
o
Rio
de
Janeiro,
a
ideia
do
Conselho
de
Classe.
O
Colégio
de
Aplicação
da
Universidade
Federal
do
Rio
de
Janeiro
(CAp–UFRJ)
foi
o
primeiro
a
implantar
o
Conselho
de
classe
no
seu
cotidiano
escolar.
Nesse
mesmo
ano,
em
1959,
ocorria
uma
reforma
no
ensino
francês
e
com
ela
foram
criados
três
tipos
de
conselhos:
no
âmbito
da
turma,
no
âmbito
da
instituição
e
em
um
nível
mais
amplo,
os
conselhos
de
orientação.
Esses
conselhos
serviam
para
direcionar
o
acesso
dos
alunos
ao
ensino
que
a
escola
julgava
mais
apropriado,
ou
seja,
servia
para
orientar
ao
ensino
técnico
ou
ao
clássico.
O
objetivo
era
perceber
como
eram
os
alunos,
para
assim
oferecer
a
eles
um
ensino
que
pudesse
atender
aos
seus
gostos,
aptidões
e
individualidades
(DALBEN,
2004,
p.
22).
O
documento
do
Instituto
de
Investigação
de
Documentação
em
Educação,
da
França,
relata
sobre
essa
reforma.
“Uma
reforma
com
o
objetivo
declarado
de
democratizar
o
ensino
que
almejava
organizar
um
sistema
escolar
fundado
na
observação
sistemática
e
contínua
dos
alunos
com
vistas
a
oferecer
a
cada
um
o
ensino
que
corresponda
a
seus
gostos
e
aptidões.”
(Institut
de
Recherche
et
Documentation
Pédagogiques
–
INRD,
1971,
p.31
apud
ROCHA,
1984,
p.
19).
Já
no
Brasil,
na
década
de
1970,
com
a
lei
5.692/71
o
país
sofre
uma
reforma
educacional.
Essa
lei
tinha
“como
um
de
seus
propósitos
fundamentais
a
transformação
do
estudante
em
um
indivíduo
treinável,
instrumentalizado
nos
valores
do
capital,
na
competição
e
na
racionalidade
deste.”
(DALBEN,
2004,
p.
24).
Nesse
contexto,
os
conselhos
de
classe
teriam
um
papel
fundamental,
pois
eles
conteriam
o
mesmo
objetivo
dos
conselhos
da
França
durante
a
reforma
de
1959,
orientar
o
aluno
para
o
ensino
técnico
ou
o
ensino
propedêutico.
Para
Dalben
(1995),
a
lei
5.692/71
não
definiu
os
conselhos
de
classe
de
maneira
clara
e
objetiva,
porém
permitiu
que
os
Conselhos
Estaduais
pudessem
organizar
o
funcionamento
dos
seus
sistemas.
Dessa
maneira,
os
Conselhos
estaduais
passaram
a
elaborar
pareceres
e
resoluções
afim
de
realizar
a
formalização
de
um
espaço
coletivo
nos
moldes
do
conselho
de
classe,
mas
os
regimentos
das
próprias
escolas
é
que
orientavam
o
funcionamento
destes
(SANTOS,
2006,
p.
20).
Foi
nessa
conjuntura
que
o
conselho
de
classe
foi
instituído
oficialmente
nas
escolas
de
1º
grau16,
no
dia
19
de
fevereiro
de
1973,
pelo
Parecer
1.367
do
Conselho
Estadual
de
Educação
(CASTRO,
2006).
E
com
esse
parecer,
as
escolas
de
2º
grau
foram
levadas
a
adotar
o
mesmo
modelo
das
escolas
de
1º
grau,
com
isso
em
1974
pela
portaria
“E”
SED
nº39,
de
11
de
novembro
de
1974
eles
têm
o
seu
funcionamento
regulado
(ETZIONI,
1974).
Porém
algumas
escolas
de
2º
grau
preferiram
regular
os
seus
conselhos
pelas
“Normas
para
um
Conselho
de
Classe”,
que
foi
emitida
em
1976
pela
Coordenação
de
Ensino
do
2º
grau.
Dessa
forma,
essa
instância
volta
a
figurar
os
documentos
oficiais
em
1996,
na
Lei
de
Diretrizes
e
Bases
da
Educação
Nacional
–
LDB
(nº
9.394/
1996)
a
fim
de
definir
melhor
a
organização
e
o
funcionamento
dessa
instância
no
âmbito
escolar.
A
lei
afirma
que
o
conselho
de
classe
deve
ser
um
espaço
que
auxilie
na
promoção
da
gestão
democrática
do
ensino
público.
O
artigo
14
estabelece
essa
proposta:
Dessa
maneira,
pode
ser
interpretado
que
o
conselho
de
classe
se
constitui
como
um
espaço
de
avaliação
do
aluno,
assim
como
um
espaço
que
promove
e
instiga
a
reflexão
da
prática
do
professor
(DALBEN,
2004).
Entretanto,
esse
ambiente
é
também
um
espaço
de
discussão
livre
entre
colegas
de
profissão
com
a
finalidade
de
buscar
soluções
para
os
problemas
encontrados
no
âmbito
escolar
(MATTOS,
2005,
p.
217).
Conselho
de
classe
e
conselho
de
escola
Os
conselhos
de
classe
costumam
ser
confundidos
com
os
conselhos
de
escola
ou
colegiados
de
escola
–
como
se
chama
em
algumas
instituições.
De
acordo
com
o
artigo
17
Conselho Escola-Comunidade.
31
da
Resolução
nº
1.074/2010
da
SME/RJ,
a
função
do
Conselho
Escola-‐Comunidade
–
CEC
é...
“(...)
que
sete
professores
mencionaram
que,
a
cada
semestre,
é
registrada,
em
ficha,
a
disciplina
em
que
o
aluno
ficou
sem
média,
bem
como
as
causas
dessa
ocorrência.
Essas
informações
são
utilizadas
não
só
para
comunicar
aos
pais
o
rendimento
do
aluno,
suas
dificuldades,
como
também
para
deles
solicitar
providências.
Mesmo
não
se
prevendo
uma
interação
ativa
dos
pais
com
o
projeto
de
trabalho
em
desenvolvimento
na
escola,
talvez
esse
seja
um
dos
poucos
momentos
que
são
chamados
para
falar
sobre
ensino-‐aprendizagem.”
(SOUSA,
1998,
p.
49).
Ou
seja,
o
papel
dos
pais
vai
além
da
função
de
tomar
providências
depois
da
avaliação
concluída
pelos
professores,
a
participação
deles
deve
ocorrer
desde
o
planejamento
dos
trabalhos
e
funcionamento
dos
mesmos
até
a
aferição
da
aprendizagem.
A
orquestração
De
acordo
com
Guerra
(2006),
o
conselho
de
classe
é
um
espaço
para
todos
os
participantes
avaliarem
os
alunos
de
forma
colaborativa.
Sendo
assim,
é
importante
que
os
participantes
verbalizem
suas
experiências,
concordâncias,
discordâncias,
exponham
seus
pensamentos
e
reflitam
em
conjunto
sobre
todo
o
processo
de
ensino-‐
aprendizagem.
Essas
múltiplas
reflexões
no
conselho
de
classe
quando
não
consideram
esta
colaboração
pode
ser
entendida
como
uma
orquestração
entre
pares.
Ângela
Dalben
(2004)
chama
essa
análise
superficial
de
“fotografia
da
turma”.
Em
uma
pesquisa
realizada
por
ela
em
1992
ela
observou
um
processo
avaliativo
vazio,
frágil
e
vazio
de
interação,
de
diálogos
e
de
conteúdos.
O
que
acontecia
nesse
conselho
de
classe
é
que
o
professor
apresentava
seus
resultados,
as
notas
dos
seus
alunos
e
concluía
seu
ponto
de
vista
sem
deixar
espaço
para
uma
interlocução,
para
debate
ou
uma
reflexividade
crítica
(NÓVOA,
1995)
da
sua
própria
prática
e
do
processo
de
interação
pedagógica
(MATTOS,
2005).
Assim,
o
trabalho
de
orquestração
se
caracterizaria
como
se
fosse
mesmo
uma
foto
tirada
da
turma
que
está
sendo
debatida
no
momento.
No
trabalho
de
Sousa
(1998),
ela
pôde
verificar,
nas
entrevistas
realizadas,
que
os
professores
vêem
a
necessidade
dessa
orquestração,
de
saber
se
o
aluno
esta
mal
na
outra
matéria
para
que
fique
comprovada
a
dificuldade
do
aluno
–
e
não
representa
a
do
professor.
“Parece
importante,
para
o
professor,
saber
que
o
aluno
que
‘não
vai
bem
em
sua
área’
esta
‘mal
com
todos
os
professores’,
o
que
significa
que
o
aluno
deve
ser
ruim
mesmo,
e
o
baixo
rendimento
não
é
certamente
problema
do
professor
ou
‘com
ele’.
A
tendência
é
situar
o
fracasso
entre
dois
polos:
o
aluno
e
o
professor.”
(p.
51).
De
acordo
com
esses
trabalhos,
pode-‐se
verificar
a
existência
de
uma
escola
que
dá
ênfase
a
meritocracia
com
características
pouco
democráticas,
mesmo
que
estes
princípios
estejam
presentes
em
documentos
legais.
Quando
o
conselho
de
classe
realiza
esse
tipo
de
orquestração
entre
eles,
percebendo
ou
não,
acabam
por
impor
a
“ideologia
meritocrática”
sobre
seus
alunos
e
alunas.
Dessa
forma,
de
acordo
com
Dubet
(2003),
a
escola
inculca
a
ideia
de
que
todos
são
iguais,
de
que
todos
têm
as
mesmas
condições,
ou
seja,
todos
recebem
a
mesma
aula,
o
mesmo
conteúdo,
o
mesmo
material
didático
e
que,
se
fracassam
ou
obtêm
sucesso,
foi
justamente
por
mérito
deles
mesmos,
portanto,
cada
um
é
responsável
pelo
seu
próprio
desempenho
(DUBET,
2003).
Queiroz
(2002)
também
se
refere
a
essa
questão
quando
diz
que,
no
Brasil,
a
criança
“pode”
receber
a
culpa
–
a
responsabilidade
–
pelo
seu
próprio
fracasso
(escolar).
Dubet
(2003)
alerta
para
o
fato
de
que
é
importante
descobrir
quem
é
o
excluído
assim
como
“os
processos
e
os
efeitos
dessa
exclusão
sobre
os
atores”
(p.
40).
Desse
modo,
entende-‐se
que
o
conselho
de
classe
tanto
pode
realizar
um
trabalho
de
promotor
da
meritocracia,
da
ideologia
neoliberal,
quanto
promover
a
democracia
ou
realizar
um
trabalho
que
auxilie
o
estudante
na
sua
formação
educacional,
crítica
e
reflexiva,
formando-‐o
para
ser
um
cidadão
participativo
da
sociedade.
Quando
promove
alunos
a
partir
de
preceitos
neoliberais,
esse
aluno
e
essa
aluna
preparam-‐se
para
serem
subordinados
e
viverem
à
mercê
das
classes
sociais
economicamente
mais
favorecidas
da
sociedade
(WARDE,
1983).
Metodologia
Etnográfica
A
etnografia
é
um
método
de
pesquisa
qualitativa,
frequentemente
utilizado
pelos
antropólogos
para
coletar
dados
de
determinada
cultura
de
maneira
descritiva
(ERICKSON,
1993).
Esse
método
de
pesquisa
ganhou
força,
pois
foca
no
objeto
de
estudo,
que
envolve
a
dinâmica
das
relações
interpessoais
(GEERTZ,
1989).
Essa
metodologia
foi
escolhida
tanto
para
a
coleta
de
dados
quanto
para
a
análise
dos
mesmos.
Para
a
coleta
de
dados
os
instrumentos
utilizados
foram
a
observação
participante,
que
é
a
inserção
do
pesquisador
dentro
do
campo
adotando
uma
abordagem
qualitativa
de
interação
e
partilha
do
cotidiano
com
os
sujeitos
(QUEIROZ
et.
al.
2007),
com
o
reforço
dos
cadernos
de
campo
e
os
instrumentos
tecnológicos,
como
a
câmera
de
vídeo,
o
gravador
de
áudio
e
a
máquina
fotográfica.
De
acordo
com
Mattos
(2008)
esses
aparatos
permitem
que
os
olhares
dos
pesquisadores
estejam
mais
atentos
e
ampliados,
pois
as
lentes
das
câmeras
permitem
que
seja
visto
aquilo
que
esta
atrás
do
visível.
(MATTOS,
2008,
p.
2).
Já
para
a
análise
foi
utilizada
a
microanálise
de
dados
que
Como
parte
das
análises
resultantes
da
observação
dos
conselhos,
foi
possível
notar
que
o
grupo
dos
meninos
era
citado
mais
vezes
que
o
grupo
das
meninas.
Com
este
dado
analisou-‐se
minuciosamente
cada
caso,
esta
análise
foi
voltada
para
a
questão
de
gênero
e
suas
implicações
sobre
a
avaliação
dos
alunos.
Assim,
a
todo
momento
em
que
um
participante
do
conselho
se
referia
a
um
aluno
ou
aluna,
mesmo
que
não
citando
seu
nome,
esse
evento
era
destacado
para
análise.
Após
o
destaque
desses
eventos,
foi
criada
uma
tabela
com
nomes
de
meninos
e
de
meninas
e
ao
lado
o
tipo
de
avaliação
recebida
por
eles,
como
pode
ser
visto
no
exemplo
a
seguir,
referente
a
uma
ilustração
das
tabelas
destacadas
para
sexo.
Depois
de
criadas
essas
tabelas
por
sexo,
verificou-‐se
que
foram
citadas
409
crianças
(249
meninos
e
160
meninas),
procurou-‐se
identificar
o
tipo
de
apreciação/
avaliação
que
cada
aluno
recebeu.
Assim,
cada
tabela
foi
subdivida
em
três
partes:
apreciações
negativas,
apreciações
positivas
e
negativas;
e
apreciações
positivas.
Isso
foi
realizado
para
que
pudesse
ser
avaliada
as
diferenças
de
apreciações
entre
os
dois
grupos.
Observou-‐se
que
um
grupo
era
mais
citado
que
o
outro
em
condição
de
diferenciações
específicas.
Posteriormente,
tentou-‐se
identificar
qual
era
o
tema
em
que
determinado
aluno
ou
aluna
recebia
apreciações
negativas,
positivas
ou
negativas
e
positivas,
foram
ampliadas
as
citações
das
falas
das
professoras,
diretoras
e
demais
membros
da
escola.
Isso
pode
ser
visto
com
um
dos
exemplos
de
cada
tabela
realizada.
Conselho
de
Classe
e
o
Gênero
Através
das
análises
realizadas
na
revisitação
do
material
em
vídeos
de
Conselhos
de
Classe
foi
possível
estabelecer
análises
das
relações
e
ordenações
de
gênero
a
partir
do
resultado
de
estudos
envolvendo
o
fracasso
escolar.
De
acordo
com
Mattos
(2009),
o
fracasso
escolar
no
Brasil
vem
sendo
estudado
há
mais
de
quatro
décadas,
levantando
as
mais
variadas
explicações
para
o
fenômeno.
De
acordo
com
Mattos
(2009,
p.
11)
“essas
investigações
buscaram
explicações
para
esse
fenômeno,
apontando
justificativas
como
–
as
dificuldades
dos
alunos,
situação
socioeconômica
e
cultural
das
famílias,
falta
de
instrumental
técnico
e
teórico
das
escolas,
mudanças
frequentes
no
sistema
escolar,
ambiente
social
violento
e
pobre,
processo
pedagógico
inadequado
à
cultura
do
aluno
(...)”.
Os
estudos
sobre
gênero
no
Brasil
foram
consolidados
no
final
dos
anos
1970,
simultaneamente
ao
fortalecimento
do
movimento
feminista
no
Brasil,
que
lutava
por
igualdade
de
direito
ao
estudo
(FARAH,
2004).
Entretanto,
os
estudos
sobre
gênero
relacionados
à
educação,
as
políticas
públicas
e
outros
temas
que
envolvem
a
escola,
ainda
foram
pouco
explorados.
De
acordo
com
Bragança
e
Mattos
(2009),
é
possível
estudar
essas
temáticas,
pois
para
entender
as
atribuições
sociais
que
são
dadas
aos
homens
e
as
mulheres
são
utilizadas
as
diferenças
sexuais
mais
evidentes.
Isso
significa
dizer
que
o
tratamento
dado
às
diferenças
de
comportamento
e
desenvolvimento
dos
alunos
podem
ser
explicados
pelo
conceito
de
gênero.
Pautando-‐se
na
explicação
de
Bragança
e
Mattos
(2009)
esta
pesquisa
teve
com
ponto
inicial
o
conceito
de
gênero
nas
avaliações
dos
alunos
durante
as
reuniões
dos
Conselhos
de
Classe.
A
análise
do
material
consistiu
em
observar
as
diferenças
de
gênero
apresentadas
nessas
reuniões.
A
cada
conselho
de
classe
visto
e
lido
(por
meio
das
transcrições),
foram
ressaltados
os
momentos
em
que
meninos
e
meninas
eram
mencionados,
através
de
apreciação/avaliação
que
o/a
aluno/a
recebia.
Dessa
forma,
como
foi
mencionado
anteriormente,
409
alunos,
entre
meninos
e
meninas
foram
mencionados
nos
quatro
conselhos.
Desse
total,
uma
diferença
significativa
foi
evidenciada
entre
meninos
e
meninas,
pois
foram
mencionados
249
meninos,
correspondendo
a
61%
do
total.
Enquanto
as
meninas
foram
citadas
160
vezes,
alcançando
39%
do
total.
Com
esses
primeiros
resultados
já
é
possível
situar
a
diferença
aferida
aos
meninos
em
relação
às
meninas,
isto
é,
eles
são
alvo
principal
das
interações
e
falas
dos
participantes
do
conselho.
Podemos
verificar
sinteticamente
esses
dados
nos
gráficos
abaixo,
quadro
I,
II
e
III.
A
diferença
de
gênero
pode
ser
verificada
tanto
nos
resultados
das
avaliações
pelos
Conselhos
de
Classe
quanto
pelos
resultados
de
dados
oficiais
do
IBGE
(2008),
que
demonstram
que
as
mulheres
têm
uma
vantagem
sobre
os
homens
quanto
ao
desempenho
educacional,
conforme
apresentado
nas
tabelas
I
e
II
(Apêndice
11
e
12).
Podemos
ver
que
as
meninas
que
são
inteligentes,
caprichosas,
meigas,
calmas,
submissas
são
pouco
lembradas
e
procuradas
devido
a
esse
jeito
sossegado.
De
acordo
com
Walkerdine
(1995),
os
meninos
agitados,
barulhentos,
levados,
indisciplinados,
dispersivos,
teriam
seu
desempenho
escolar
prejudicado
pelo
seu
comportamento
indisciplinado
e
seriam
assim
mais
notados
–
mesmo
que
negativamente.
Isso
foi
constatado
nas
apreciações/avaliações
de
meninos
e
meninas
nos
conselhos
de
classe;
como
foi
mencionado
aqui,
os
meninos
foram
mais
citados
pelas
características
negativas.
Por
esses
gráficos
percebe-‐se
que,
a
maioria
das
apreciações
negativas,
para
os
meninos
não
derivam
de
características
da
aprendizagem
do
aluno.
Entre
ele,
esse
aspecto
ficou
em
4o
posição,
onde
ficaram
o
comportando,
as
faltas
e
“conceito”
(significando
nota
obtida
nas
provas)
em
1o,
2o
e
3o,
lugares,
respectivamente.
O
comportamento
mencionado
esta
relacionado
à
indisciplina,
a
obediência
à
professora
e
à
não
transgressão
das
regras
estabelecidas
para
o
funcionamento
da
sala
de
aula
e
da
escola
em
geral.
Isso
é
evidente
em
algumas
falas
de
participantes
dos
conselhos
de
classe
de
2004.
Em
um
primeiro
momento
a
coordenadora
e
uma
professora
comentam
sobre
o
caso
de
um
menino,
o
Neilson,
que
é
o
pior
em
comportamento,
pois
quando
todos
estão
concentrados
ele
não
esta.
Em
outro
momento
duas
professoras
comentam
sobre
dois
alunos,
a
Ana
e
o
Paulo.
Essa
professora
fala
dos
maus
hábitos
dos
dois,
e
um
desses
era
o
hábito
de
comer
na
sala
de
aula.
A
outra
professora
concorda
sobre
o
comportamento
dos
dois
e
faz
o
seu
próprio
comentário,
afirmando
que
os
viu
na
rua
no
horário
de
aula.
Por
fim,
a
primeira
professora
conclui
as
suas
primeiras
conclusões
sobre
os
alunos
assegurando
que
quando
os
dois
estão
em
sala
não
querem
fazer
nada,
trazem
brinquedos,
juntam
com
outro
menino
que
não
tem
comportamento
e
assim
aos
seus
olhos
se
concretiza
uma
situação
de
caos
em
sala.
(Escola
Municipal
José
Azevedo
da
Silva,
2004,
Dia
22/07/2004).
Nas
falas
dos
professores
o
aluno
Neilson
é
considerado
como
“chato”,
por
atrapalhar
os
outros
alunos
com
o
seu
comportamento
indisciplinado.
Esse
aluno
procura
chamar
a
atenção
das
professoras
e
da
turma
saindo
do
lugar,
mexendo
com
os
outros
alunos,
não
fazendo
as
tarefas.
Nessas
falas
os
alunos
Ana
e
Paulo
são
vistos
como
pelos
seus
hábitos
diferentes
dos
outros
alunos,
não
seguem
as
normas
de
horário
de
entrada
e
saída,
por
faltarem
mais
do
que
permitido,
e
não
se
comportarem
na
sala
da
aula
de
modo
disciplinado.
O
que
essas
falas
têm
em
comum
é
que
as
características
de
transgressão
às
normas
de
sala
de
aula,
de
não
aceitação
da
rotina
escolar
foram
marcantes
para
as
professoras
que
mencionaram
o
fato
no
conselho
de
classe
antes
da
avaliação
da
aprendizagem
desses
alunos.
A
fala
dessas
professora
demonstram
que
outras
características
se
sobrepõem
a
aprendizagem
dos
alunos
no
momento
da
avaliação
nos
Conselhos
de
Classe
como
foi
mencionado
no
caso
acima
de
comer
na
sala
de
aula,
chegar
atrasado,
misturar
calçado
com
alimentos,
ou
seja,
toda
uma
série
de
questionamentos
são
feitos
antes
de
chegar
à
produção
escolar
do
aluno.
Por
sua
vez,
as
meninas,
por
apresentarem
um
comportamento
mais
próximo
do
“modelo
de
aluno”
esperado
pela
escola
–
mesmo
que
apresentem
passividade
diante
das
tarefas
propostas,
elas
transgridem
menos
as
normas
da
escola,
recebem
avaliações
centradas
no
conceito,
na
aprendizagem,
no
comportamento
e
nas
faltas
pela
ordem
de
menções
pelas
professoras.
Elas
são
menos
consideradas
nas
apreciações
do
que
dos
meninos.
Pode-‐se
verificar,
que
as
ponderações
atribuídas
às
meninas
são,
na
sua
grande
maioria,
fechadas,
sem
muito
conflito.
Isso
pode
ser
verificado
nas
falas
dos
Conselhos
de
Classe
de
1993
e
2004.
Em
uma
das
falas
uma
das
professoras
vai
citando
os
nomes
de
meninas
e
em
seguida
uma
palavra
referente
ao
conceito
que
ela
recebeu,
exemplo
se
foi
“B”
era
bola.
Já
no
de
2006
a
análise
das
meninas
continuava
simples,
porém
os
conceitos
não
seriam
mais
letras
e
sim
siglas
“MB”
de
Muito
Bom,
“B”
de
bom,
“S”
de
suficiente
e
“I”
de
insuficiente.
Em
outras
situações
as
avaliações
das
meninas
se
restringiam
a
pequenas
frases
precedidas
de
seus
nomes:
“leu
bem”,
“sabem
demais”,
“não
sabem
nada”,
“boa
aluna,
só
faltava
direcionar”,
“tem
letra
bonita”,
“ela
sempre
foi
boa
aluna”
Entre
os
temas
mencionados
nas
falas
das
professoras
sobre
seus
alunos
e
alunas
confirma-‐se
a
explicação
de
que
o
fracasso
escolar
é
maior
entre
alunos
do
sexo
masculino
porque
as
meninas
seriam
mais
aptas
à
escola,
que
é
tradicionalmente
feminina
(CARVALHO,
2003).
Isso
foi
observado
quando
meninos
e
meninas,
são
mencionados
em
comportamento,
disciplinados
ou
não,
esses
comentários
evidenciam
posições
diferentes
entre
os
sexos.
Essa
também
é
uma
hipótese
francesa
chamada
“ofício
de
aluno”,
adotada
por
Perrenoud
(2002,
p.21).
No
Brasil
ela
também
é
utilizada
por
Silva
et.
al.
(199)
que
afirma
que
as
crianças
entram
na
escola
já
com
uma
representação
do
professor
e
aluno,
do
homem
e
da
mulher,
pois
vivenciam
isso
em
seu
cotidiano.
Ele
afirma
que
essa
representação
destaca
a
diferença
entre
alunos
e
alunas.
Um
exemplo
significativo
dessa
questão
é
que
um
pai
prefere
muito
mais
que
seu
filho
interprete
um
papel
de
valentão
e
conseqüentemente
leve
notas
razoáveis
para
casa,
do
que
leve
notas
boas
e
seja
considerado
um
marica
por
causa
de
seu
bom
comportamento.
(SILVA
et
al.,
1999,
p.222).
Portanto,
o
fato
de
serem
avaliados
com
notas
mais
baixas
reprovações,
dentre
outras
características
negativas
não
sugere
que
eles
sejam
“os
piores”
ao
contrário,
talvez
por
isso
mesmo
eles
sejam
“melhores”
que
as
meninas,
que
agem
passivamente
em
relação
ao
“tipo”
de
aula
quer
recebem
de
modo
a
obter
“boas”
menções.
Considerações Finais
Cabe
ressaltar
as
avaliações
produzidas
sobre
os
alunos
nos
Conselhos
de
Classe
revelaram
a
marca
das
diferenças
de
gênero
relacionadas
ao
fracasso
escolar.
De
um
modo
geral,
os
meninos
foram
avaliados
como
faltosos,
difíceis,
problemáticos,
até
mesmo
chatos.
Enquanto
que
para
as
meninas
é
reservada
uma
certa
tolerância
quanto
às
dificuldades
que
elas
apresentam
em
função
do
comportamento
meigo
e
calmo.
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DO
“OBJETO”
NOS
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TECNOLOGIA
DIGITAL
E
PESQUISA
ETNOGRÁFICA:
ANÁLISE
DE
CONTEÚDO
Thainá
Pereira
Barros
Carmen
Lucia
Guimarães
de
Mattos
No
Brasil,
jornais,
revistas,
artigos
científicos
entre
outros
veículos
de
informação
e
comunicação
na
atualidade,
veiculam
constantemente
matérias
relativas
ao
uso
das
tecnologias
digitais
em
sala
de
aula.
Entretanto,
estes
pouco
apresentam
as
formas
como
essas
tecnologias
digitais
são
utilizadas.
Quando
muito
causam
a
impressão
de
que
pelo
fato
de
existirem
computadores
e
televisões
nas
escolas
o
acesso
a
essas
tecnologias
estão
ocorrendo
de
forma
a
garantir
melhores
condições
de
ensino/aprendizagem
nessas
escolas.
Além
de
existirem
problemas
técnicos,
estruturais
e
organizacionais
nas
escolas
brasileiras.
Os
exemplos
vão
da
falta
de
manutenção
de
aparelhos
digitais
até
a
falta
ou
baixa
conexão
da
rede
de
internet.
A
esses
problemas
somam-‐se
a
realidade
dos
profissionais
que
atuam
nessas
escolas
e
que
são
responsáveis
pelo
suporte
aos/as
alunos/as
aprender
quanto
ao
uso
das
tecnologias.
O
que
se
pode
afirmar,
empiricamente
é
que
os
alunos/as
tem
pouco
acesso
às
tecnologias
digitais
que
favoreçam
a
sua
escolarização.
Quando
muito,
utilizam
essas
tecnologias
de
forma
lúdica,
muitas
vezes,
fora
da
escola.
Estes
quando
provocados
pela
escola
a
utilizarem
seus
aparelhos
digitais
(celulares,
TVs,
tablets,
computadores,
dentre
outros),
muitos
vezes
o
fazem
como
o
faziam
dos
livros,
dicionários
e
enciclopédias,
com
a
mesma
forma
de
ensinar
apenas
se
utilizando
de
outros
instrumentos,
sem
que
seja
incentivado
o
interesse
na
descoberta,
na
inovação
ou
na
aprendizagem
de
novos
conteúdos
escolares
que
favoreçam
sua
aprendizagem
(MATTOS,
2015).
Este
texto
tem
o
objetivo
de
a
partir
dos
pressupostos
anteriores,
entender
como
os
trabalhos
científicos
produzidos
no
âmbito
da
área
da
Educação,
tem
contribuído
com
indicadores
sobre
os
modos
pelos
quais
as
tecnologias
digitais
vem
sendo
estudadas
e
de
que
modo
estas
avançaram
no
sentido
de
auxiliar
as
escolas,
seus
alunos
e
professores
a
caminharem
de
maneira
produtiva
para
a
melhoria
do
processo
de
ensino/aprendizagem
com
o
uso
dessas
tecnologias.
Metodologia
Esse
texto
tem
como
bases
principais
as
pesquisas
desenvolvidas
pelos
autores:
Mattos,
(2011,
2013,
2014,
2015),
Mattos;
Castro
(2010),
Setzer
(1994),
Andre
(2005),
Netto
(1975),
Santos
(2013),
Stumpf;
Gonçalves;
Pereira;
Gonçalves
(2011)
e
Schwarzelmuller
(2005)
.
Neste
apresenta-‐se,
parte
dos
resultados
da
pesquisa
intitulada:
Tecnologia
Digital
e
Pesquisa
Etnográfica
(MATTOS,
2012-‐2015).
Particularmente
o
foco
é
a
análise
da
categoria
objeto,
levantada
dentre
outras
categorias
resultado
desta
pesquisa
(MATTOS,
2015).
A
pesquisa
utilizou
duas
abordagens
de
investigação:
bibliográfica
e
etnográfica.
Entretanto,
somente
parte
do
segmento
bibliográfico
será
apresentado
neste
texto.
Para
o
desenvolvimento
deste
estudo
bibliográfico,
2.300
(dois
mil
e
trezentos)
textos
da
área
da
Educação
que
tangenciavam
os
temas:
Tecnologia
Digital
e
Pesquisa
Etnográfica
foram
acessados.
O
período
coberto
pelo
estudo
foi
entre
2004
e
2014
e
os
artigos
originários
de
pesquisa
científicas
que
encontravam-‐se
disponíveis
pela
internet.
Destes,
foram
selecionados
285
(duzentos
e
oitenta
e
cinco)
textos,
185
(cento
e
oitenta
e
cinco)
se
referiam
a
Tecnologia
e
Educação
e
100
(cem)
a
Pesquisa
Etnográfica.
Essa
seleção
passou
por
dois
processos
de
análise:
o
primeiro
manual
através
de
mapas
conceituais
pelo
grupo
de
pesquisa
(alunos
de
graduação,
pós
graduação,
membros
da
pesquisa
Etnografia
e
Exclusão
em
educação
e
do
Núcleo
de
Etnografia
em
Educação
(NetEdu)),
(GRPSQ,
2004).
Toda
a
equipe
foi
envolvida
nesse
processo
e
as
discussões
sobre
os
resultados
se
deram
durante
o
seminário
semanal
de
pesquisa
na
UERJ;
o
segundo
processo
de
análise
utilizou
dois
softwares
–
um
para
construção
de
base
de
dados
(EndNote)
e
o
outro
para
análises
de
conteúdo
(Atlas.ti).
Esses
dois
recursos
digitais
são
de
uso
recorrente
nos
trabalhos
de
pesquisa
do
grupo
(MATTOS;
CASTRO,
2010)
Após
esses
dois
processos
de
análises
procedeu-‐se
uma
mais
detalhada
que
considerasse
o
imbricamento
e
a
comparação
entre
os
dois
grupos
temáticos
Tecnologia
Digital
e
Pesquisa
Etnográfica,
seis
subgrupos
idênticos
nomeiam
as
categorias
principais
derivadas
deste
procedimento,
são
eles:
Educação,
Tipo
de
Estudo,
Sujeitos,
Objetivos,
Objetos,
Tecnologia.
Em
cada
uma
dessas
categorias
levantou-‐se
ainda
as
subcategorias
temáticas
a
elas
agregadas.
Chegou-‐se
assim
ao
seguinte
quadro:
Quadro
1:
CATEGORIAS
E
SUBCATEGORIAS
DE
ANÁLISE
CATEGORIAS
TECNOLOGIA
DIGITAL
PESQUISA
ETNOGRÁFICA
Educação
Educação;
Ensino/Aprendizagem;
Educação;
Escola;
Ensino-‐Aprendizagem
;Sala
de
Escola;
Avaliação;
aula
Sala
de
Aula;
Didática/Currículo
Tipo
de
Estudo
Inovação;
Ação;
Métodos;
Pesquisa
qualitativa;
Etnografia;
Pesquisa
de
Campo;
Qualitativos;
Processo;
Entrevista;
Pesquisa
ação
;Estudo
de
caso
Desenvolvimento;
Problema;
História
de
vida
Ferramenta;
Trabalho;
Análise;
Projeto;
Colaboração;
Conceito;
Teoria;
Produto
Sujeitos
Aluno;
Sociedade/Comunidade;
Professores;
Participantes;
Autores;
Aluno;
Pessoa
Participante/Sujeito;
Professor;
Autor/Pesquisador
Objetivos
Significado;
Crítica
;Representação
Interação;
Processo;
Trabalho;
Questões;
Sentido;
Teoria
Objetos
Letramento/Alfabetização;
Cultura;
Vida;
Contexto;
Politicas;
Linguagem;
Valores;
Poder/Politica;
Ciência;
Valores
Fracasso;
Conceito;
Cotidiano
Tecnologia
Tecnologia;
Digital;
Computador;
Tecnologia;
Inovação;
Produção
;Tecnologia
Digital;
Internet;
Software;
Mídia;
TV;
Internet
Filme/vídeo;
Videogame;
Interface;
Celular;
Fotografia
Revista/Jornal;
Rádio;
Música
Fonte:
Relatório
Final
da
Pesquisa
Tecnologia
Digital
e
Pesquisa
Etnográfica
(MATTOS,
2015)
Do
quadro
acima
a
linha
em
destaque
será
objeto
de
análise
e
discussão
neste
texto.
Nas
três
colunas
verifica-‐se
que
os
temas
maiores
que
determinam
dos
estudos
empreendidos
também
comandam
os
objetos
por
eles
estudados.
É
importante
notar
que
de
acordo
com
Mattos
(2015)
os
selecionados
para
análise
atendem
os
critérios
de
pertinência
aos
dois
temas
principais.
De
modo
comparativo
essas
categorias
e
suas
derivações
secundárias
deram
origem
aos
resultados
e
discussões
que
se
apresentam
no
relatório
final,
discutiremos
a
categoria
“Objeto”
nesse
texto,
que
nos
ajudará
a
entender
de
que
forma
as
tecnologias
digitais
estão
sendo
utilizadas
na
educação
e
de
que
forma
a
pesquisa
etnográfica
influi
nesse
meio.
Para
tal,
considerou
inicialmente
as
inferências
registradas
neste
documento
e
aprofundou-‐se
nesse
tema
–
Objeto
de
investigação
nas
pesquisas
que
estudam
tecnologia
digital
e
pesquisa
etnográfica
–
e
procedeu-‐se
a
ampliação
desse
tema
retornando-‐se
a
alguns
dos
artigos
que
lhes
deram
origem.
Quando
separados
para
comparação,
sob
a
égide
da
categoria
“Objetos”,
no
âmbito
da
categoria
tecnologias
digitais
temos,
por
exemplo
as
subcategorias
“letramento/alfabetização”,
como
as
mais
frequentes
entre
as
demais
apresentadas
no
Quadro
1,
o
que
pode
ser
uma
evidência
da
preocupação
dos
pesquisadores
estudados
com
os
processos
de
inclusão/exclusão
digital
na
sociedade
brasileira.
De
acordo
com
o
Comitê
Gestor
da
Internet
(CGI.br)
em
2012,
49%
da
população
brasileira
com
10
anos
ou
mais
era
usuária
de
Internet,
enquanto
45%
nunca
usaram
a
rede,
neste
ano
24,3
milhões
de
residências
já
possuíam
acesso
a
internet.
Enquanto
no
mesmo
ano,
15%
dos
domicílios
em
área
rural
e
51%
dos
domicílios
em
área
urbana
possuíam
computadores.
A
proporção
de
domicílios
com
telefone
celular
era
de
72%
na
área
rural
e
de
90%
na
área
urbana.
Em
2014
os
dados
do
CGI.br
evidenciam
que
existe
mais
de
um
telefone
celular
por
habitante
no
país.
Entretanto,
a
maioria
desses
equipamentos
são
antigos
e
não
permitem
o
uso
da
internet.
Os
altos
custos
das
redes
domésticas
e
a
baixa
velocidade
oferecidas
também
contribuem
para
diminuir
o
acesso
à
internet
(CGI.BR,
2012).
Essas
são
algumas
das
interpretações
possíveis
para
os
dados
que
se
apresentam
nas
análises
para
esta
subcategoria
(Idem).
O
fato
de
aparecerem
como
categorias
secundárias:
“Cultura”,
“Política”,
“Ciência”
e
“Valores”,
nos
permite
inferir
que
as
pesquisas
na
área
de
Educação
se
interessam
pouco,
ou
nada,
pelo
caráter
técnico
das
tecnologias
e
preferem
discuti-‐las
no
âmbito
das
políticas
sociais,
dentre
outros
tópicos,
a
discuti-‐las
de
modo
a
entender
o
seu
funcionamento
e
utilização
nas
escolas.
Como
vemos
a
seguir
(Tabela
1-‐
Figura
1)
a
frequência
das
subcategorias
que
parecem
nas
análises
nas
duas
colunas
apresentadas
por
Mattos
(2015)
em
seu
relatório
verifica-‐se
ser
quase
que
impossível
uma
comparação
entre
elas:
Relatório
Final
da
Pesquisa
Tecnologia
Digital
e
Pesquisa
Etnográfica
(MATTOS,
2015,
p.
24)
Fonte:
Relatório
Final
da
Pesquisa
Tecnologia
Digital
e
Pesquisa
Etnográfica
(MATTOS,
2015,
p.18)
Setzer
(2002)
afirma
que
a
tecnologia
deve
ser
inserida
na
educação
quando
o
estudante
já
possui
capacidade
para
resolver
teoremas,
ele
compara
esta
capacidade
ao
sistema
de
um
computador,
por
exemplo.
Ele
explica
que
a
utilização
das
tecnologias
na
fase
“errada”
não
alcançariam
o
resultado
almejado,
esta
inserção
contrariaria
a
natureza
da
própria
criança,
atrapalhando
o
seu
desenvolvimento.
Contudo,
ele
afirma
ser
importante
que
o
aluno
seja
ensinado
sobre
a
estrutura
e
o
funcionamento
das
máquinas
até
o
final
do
ensino
médio,
para
que
as
tecnologias
sejam
usadas
criticamente.
O
autor
ainda
aponta
para
o
uso
de
televisões,
esta
além
de
induzir
a
sonolência,
grava
em
seu
subconsciente
o
que
é
transmitido
sem
que
este
seja
filtrado
pelo
consciente.
De
acordo
com
o
mesmo,
o
uso
dos
computadores
na
educação
infantil
e
fundamental
é
de
‘‘instrução
programada
automatizada”,
pois
o
tipo
de
raciocínio
que
é
estimulado
é
baseado
na
memorização,
não
dando
margem
a
criatividade.
Os
chamados
Ambientes
Virtuais
de
Aprendizagem
(AVA)
são
utilizados
com
o
intuito
de
atender
as
demandas
acadêmicas
relacionadas
à
internet,
como
um
espaço
para
que
ocorra
o
processo
de
ensino
e
aprendizagem
(STUMPF,
at.
al.,
2011).
O
autor
mostra
e
discute
a
relação
entre
a
educação
a
distância
e
os
livros
digitais,
ele
afirma
que
o
mais
utilizado
nos
AVA
são
os
arquivos
em
formato
Portable
Document
Format
(PDF).
Ele
ainda
aponta
que
os
livros
digitais
e
os
AVA
são
recursos
que
devem
ser
pensados
como
possibilidades
de
interação
com
o
usuário,
a
fim
de
desenvolver
uma
leitura
mais
eficiente
e
prazerosa,
além
de
proporcionar
uma
conexão
do
leitor
com
a
obra.
De
acordo
com
o
autor,
esses
recursos
podem
contribuir
para
uma
educação
pautada
nas
novas
tecnologias,
entretanto,
estas
citadas
em
seu
texto
ainda
são
poucos
utilizadas
na
educação
a
distância.
No
texto
de
Schwarzelmüller
(2005)
aponta
que
as
tecnologias,
na
maioria
das
vezes
são
ensinadas
hoje
em
dia
pensando
na
inserção
do
indivíduo
no
mercado
de
trabalho.
Ela
acredita
que
as
Tecnologias
de
Informação
e
Comunicação
(TIC),
são
a
resposta
para
uma
democratização
e
universalização
das
tecnologias
na
sociedade
atual,
diminuindo
assim,
a
exclusão.
Os
artigos
analisados
sobre
Pesquisa
Etnográfica
apontam
que
estas
são
escassas
no
âmbito
da
área
de
Educação,
apontam
ainda
que,
em
sua
maior
parte,
são
de
caráter
históricos
e
ou
filosóficos.
Esses
estudos,
muitas
vezes,
desconsideram
em
suas
bases
as
pesquisas
pré-‐existentes
(NETTO,
1975).
O
autor
aponta
a
importância
dessas
pesquisas
para
as
políticas
educacionais.
Através
delas
é
possível
descobrir
os
problemas
existentes,
acompanhar
as
inovações
e
avaliar
os
resultados
de
projetos
implantados.
De
acordo
com
o
autor,
quando
as
pesquisas
forem
mais
valorizadas
na
educação,
a
sua
realização
será
mais
fácil
e
menos
burocrática.
Neste
sentido,
André
(2005)
afirma
em
seus
estudos
que
para
garantir
a
qualidade
das
pesquisas
em
educação
é
necessário
que
sejam
promovidos
debates
nas
universidades,
agências
de
fomento,
revistas,
escolas
e
na
internet,
para
que
se
chegue
a
uma
concepção
do
que
seria
uma
"boa"
e
do
que
seria
uma
"má"
pesquisa.
A
autora
mostra
ainda
que
os
estudos
a
partir
dos
anos
de
1980
se
preocupam
com
o
cotidiano
escolar,
com
o
currículo,
as
interações
sociais,
etc.
Entretanto,
de
acordo
com
ela,
os
docentes
tem
menos
tempo
para
produzir
as
pesquisas
devido
as
demandas
de
aula,
reuniões
e
pareceres
que
envolve
a
vida
acadêmica
de
pesquisadores
no
Brasil.
Santos
e
Santana
(2013)
apontam
em
seus
textos
que
uma
as
principais
causas
da
evasão
e
da
reprovação
escolar
são
as
políticas
educacionais
e
os
sistemas
de
ensino.
Diz
ainda
que
as
tarefas
escolares,
de
um
modo
geral,
são
pouco
motivadoras
e
incentivadoras
para
o
aluno.
Reforçando
a
ideia
de
que
as
medidas
implantadas
pelo
governo
são
paliativas
e
continuam
levando
inúmeros
alunos
a
repetência.
O
aluno
repetente
é,
de
modo
geral,
descriminado
e
desacreditado
pelo
sistema
o
que
leva
a
culpa-‐lo
pelo
seu
próprio
fracasso.
De
acordo
com
os
artigos
pesquisados
a
tecnologia
deve
ser
inserida
na
educação
numa
determinada
fase,
ao
qual
nela
o
aluno
poderá
utilizá-‐las
de
forma
produtiva
e
inovadora,
dando
margem
à
criatividade.
Algumas
dessas
tecnologias
se
incluídas
em
programas
de
ensinos
a
distância
podem
se
fazer
úteis
no
processo
de
ensino
e
aprendizagem,
ajudando
o
estudante
a
ter
uma
educação
diferenciada
e
interativa,
podendo
até
o
ajudar
a
desenvolver
prazer
ao
ler
e
estudar.
Contudo,
as
tecnologias
hoje
em
dia
são
ensinadas
pensando
no
indivíduo
no
mercado
de
trabalho
(SCHWARZELMÜLLER,
2005)
CONCLUSÃO
A
Pesquisa
Etnográfica
é
uma
abordagem
metodológica
importante
nas
pesquisas
em
educação
ela
buscar
a
escuta
sensível
das
vozes
dos
sujeitos
da
pesquisa,
quando
essa
é
possível
de
ser
feita.
Com
ela
busca-‐se
ainda
a
não
interferência
da
visão
do
pesquisador
sobre
o
objeto
a
ser
pesquisado,
o
que
é
também
uma
tarefa
difícil.
Como
este
texto
aponta,
as
pesquisas
buscam
com
os
seus
objetos
a
especificidade
do
fenômeno
que
desejam
investigar,
mas
ao
se
colocar
em
paralelo
pesquisas
que
tangenciam
os
dois
temas:
Tecnologias
Digitais
e
Pesquisa
Etnográfica
verifica-‐se
que
o
encontro
dos
entre
esses
dois
temas
mediados
pelos
objetos
que
propõem
investigar
parece
impossível
até
o
momento,
o
que
implica
dizer
que
a
pesquisa
etnográfica
ainda
não
utiliza
das
tecnologias
digitais
para
entender
os
seus
objetos
e
ainda
que
os
estudos
em
tecnologias
digitais
consideram
pouco
ou,
quase
que
não
consideram,
essa
abordagem
como
uma
abordagem
de
pesquisa
e
de
estudo.
O
distanciamento
entre
esses
dois
campos
de
conhecimento
ao
nosso
ver
se
deve
por
alguns
aspectos
em
particular.
Como
por
exemplo,
na
pesquisa
etnográfica
:
a
pouca
importância
dada
pela
área
da
educação
aos
estudos
etnográficos
(ERICKSON,
2004);
a
dificuldade
que
essa
abordagem
apresenta
na
sua
execução
(MATTOS,
2011);
a
demanda
da
produtividade
em
pesquisa
que
exige
rapidez
e
quantidade,
dentre
outros
aspectos
s
que
implicam
uma
pesquisa
etnográfica.
Os
exemplos
que
tangenciam
às
tecnologias
digitais
são,
dentre
muitos:
a
dificuldade
e
falta
de
habilidade
de
pesquisadores
da
área
em
lidarem
com
tecnologias
digitais;
a
ideia
de
que
a
pesquisa
etnográfica
se
dá
numa
interação
face
a
face
e
que
esta
não
pode
ser
virtual;
A
desterritorialidade
característica
dos
ambientes
digitais.
Por
tudo
isso
pode-‐se
concluir
que,
investimentos
e
esforços
de
pesquisadores
tornam
necessários
para
que
em
pesquisa
etnográfica
se
incluam
elementos
da
tecnologia
digital,
não
somente
enquanto
objeto
mas
também
como
instrumento
de
pesquisa.
Deste
modo
os
estudos
etnográficos
devem
considerar
o
ambiente
digital,
seja
este
virtual
ou
presencial,
como
objeto,
assim
como
as
ferramentas
digitais
como
instrumentos.
No
mesmo
caminho,
em
estudos
sobre
tecnologias
digitais,
devido
as
suas
características
desterritorializadas
e
virtuais,
a
etnografia
pode
ser
um
dos
elementos
de
legitimação
dos
conhecimentos
produzidos
neste
campo
na
medida
em
que
oferece
como
um
dos
elementos
as
análise
sobre
o
tempo
e
espaço
de
forma
diferenciada
(CASTRO,
2008
)
o
tempo
kairós
predomina,
assim
com
a
virtualidade,
sendo
uma
versão
de
representação
do
sujeito
investigado
pode
ser
considerada,
não
como
realidade,
mas
como
parte
do
todo
que
ela
representa
e
ambiente
de
rede.
REFERÊNCIAS
ANDRÉ,
M.
Pesquisa
em
educação:
questões
de
teoria
e
de
método.
Educação
e
Tecnologia,
Belo
Horizonte,
v.10,
n.1,
p.29-‐35,
jan./jun.
2005.
CASTRO,
P.
A.
Tempo:
chronos
ou
kairós?
Uma
análise
etnográfica
dos
saberes
produzidos
em
sala
de
aula.
In
II
COLÓQUIO
PRÁTICAS
DE
ENSINO
E
FORMAÇÃO
DE
PROFESSORES
-‐
PRÁTICAS
EM
FORMAÇÃO:
TECENDO
EXPERIÊNCIAS
E
SABERES.
São
Gonçalo
-‐
Rio
de
Janeiro
2008
1
1-‐12.
São
Gonçalo:
Nupec
/
Finep.
2008.
MATTOS,
C.
L.
G
de;
Digital
Technologies
and
Critical
Ethnography
in
Education:
A
subjective
Account.
Conferência.
Faculty
of
Education,
University
of
British
Columbia,
BC,
Canada.
2014.
MATTOS,
C.
L.
G.
de;
CASTRO,
P.
A.
de.
Entrevista
como
instrumento
de
pesquisa
nos
estudos
sobre
fracasso
escolar.
In:
IV
SEMINÁRIO
INTERNACIONAL
DE
PESQUISA
E
ESTUDOS
QUALITATIVOS.
PESQUISA
QUALITATIVA:
RIGOR
EM
QUESTÃO,
2010,
Rio
Claro.
IV
Seminário
Internacional
de
Pesquisa
e
Estudos
Qualitativos.
2010
MATTOS,
C.
L.
G.
de.
Digital
Technology
and
Ethnographic
Research.
QWERTY,
8,
2
(2013)
17-‐31
ISSN
2240-‐2950.
Padova,
Italy.
2013.
MATTOS,
C.
L.
G.de.
Estudos
etnográficos
da
educação:
uma
revisão
de
tendências
no
Brasil.
In:
MATTOS,
C.
L.G
de;
CASTRO,
P.
A.
de
(org.)
Etnografia
e
educação:
conceitos
e
usos.
Campina
Grande:
EDUEPB,
2011.
P.
25-‐45.
MATTOS,
Carmen
Lúcia
Guimarães
de.
Tecnologia
Digital
e
Pesquisa
Etnográfica.
Relatório
Final
de
Pesquisa
do
Prociência
2012-‐-‐-‐2015.
Rio
de
Janeiro,
RJ,
ABRIL.
2015
NETTO,
A.
R.
Estímulos
à
pesquisa
educacional.
Cadernos
de
Pesquisa.
Fundação
Carlos
Chagas.
(1975)
SANTOS,
J.
A.;
SANT’ANA,
R.B.
Significações
da
reprovação
escolar
por
alunos
adolescentes
de
escola
pública.
Educação.
Santa
Maria.
2013.
SCHWARZELMÜLLER,
Anna
F.
Inclusão
Digital:
uma
abordagem
alternativa.
In:
VI
ENCONTRO
NACIONAL
DE
CIÊNCIA
DA
INFORMAÇÃO,
2005,
Salvador.
Anais
do
VI
CINFORM.
2005.
SETZER,
V.W.
Computadores
na
educação:
por
quê,
quando
e
como
(1994)
Meios
Eletrônicos
e
Educação:
uma
visão
alternativa,
2a.
ed.
São
Paulo:
Ed.
Escrituras,
pp.
85-‐134,
2002.
STUMPF,
A.;
GONÇALVES,
B.S.;
PEREIRA,
A.
T.
C.;
GONÇALVES,
M.
M.
O
livro
digital
em
ambientes
virtuais
de
aprendizagem:
utilização
da
hipermídia
como
novas
possibilidades
de
leitura.
In:
CONGRESSO
NACIONAL
DE
AMBIENTE
HIPERMÍDIA
PARA
APRENDIZAGEM,
Pelotas.
RS.
Brasil.
2011.
DIÁLOGO
ENTRE
ESCOLA
E
UNIVERSIDADE:
UM
ESTUDO
SOBRE
A
PESQUISA
COLABORAÇÃO
Flávia
Mesquita
Bernardo
da
Silva
Riselda
Maria
França
de
Oliveira
Este
artigo
surge
a
partir
dos
estudos
no
Núcleo
de
Etnografia
em
Educação
(NetEDU),
pontualmente,
do
trabalho
desenvolvido
na
pesquisa
de
abordagem
etnográfica
intitulada
“Gênero
e
Pobreza:
práticas,
políticas
e
teorias
e
tecnologias
educacionais
-‐
imagens
de
escolas”,
projeto
financiado
pela
FAPERJ
através
do
programa
de
apoio
a
melhoria
das
escolas
públicas
do
Rio
de
Janeiro.
A
pesquisa
foi
desenvolvida
na
Escola
Estadual
em
Nova
Iguaçu
e
teve
como
objetivo
pesquisar
as
estruturas
de
gênero
e
as
desigualdades
sociais
(pobreza)
nas
teorias
educacionais,
políticas
e
práticas
pedagógicas
de
alunos,
alunas
e
professores.
Dessa
forma,
a
pesquisa
teve
a
preocupação
de
privilegiar
a
perspectiva
dos
sujeitos,
levando
em
consideração
suas
reflexões
e
significados
atribuídos
às
suas
práticas,
valorizando
a
voz
do
aluno
e
permitindo
que
estes
sujeitos
participassem
ativamente
de
todo
o
processo
da
pesquisa.
Assim,
nos
questionamos
qual
a
importância
do
diálogo
construído
entre
a
universidade
e
a
escola
para
os
autores
que
já
estudaram
sobre
isto?
O
objetivo
deste
artigo,
então,
se
constrói
pelo
desejo
de
compreender
as
interfaces
do
diálogo
entre
escola
e
universidade.
Diante
destas
indagações,
optou-‐se
por
uma
abordagem
metodológica
em
que
foi
realizado
um
estudo
de
caso
e
instrumentos
metodológicos
como
entrevista
semiestruturada,
observações
de
campo,
acompanhamento
do
aluno
no
grupo
de
pesquisa,
dentre
outras
fontes
de
dados
coletados
e
armazenados
pelo
NetEDU.
Tomamos
o
trabalho
de
Lüdke
et
all
(2005,
2012),
autora
que
estuda
a
aproximação
da
universidade
e
a
escola
básica
pela
pesquisa
de
mestrado,
que
nos
faz
pensar
nos
limites
e
nas
possibilidades
da
relação
entre
universidade
e
escola.
Também,
os
escritos
de
Rodrigues
(2008),
“Anatomia
e
Fisiologia
de
um
estágio”,
traz
a
perspectiva
da
relação
universidade
e
escola
básica
pela
via
do
estágio.
O
trabalho
de
Borges
(2011),
também,
discute
esta
relação
pelo
viés
da
formação
de
professores
no
curso
Normal
e
na
licenciatura
em
pedagogia,
trazendo
contribuições
para
estudar
a
importância
dessa
relação
e
as
vias
diferentes
pelas
quais
ela
pode
acontecer.
A
universidade
e
a
Educação
Básica
18
No dia 7 de abril de 2011, um rapaz de 23 anos chamado W. M. O. invadiu a Escola Municipal Tasso da
Silveira, armado com dois revolveres disparando contra alunos, matando 12 deles. O ocorrido foi noticiado em
mídias digitais, televisivas, auditivas, jornalísticas, sendo considerado um grande massacre na zona oeste do Rio
de Janeiro. O rapaz se suicidou após ser interceptado por policiais. Informações sobre o caso disponíveis
livremente na internet.
Participação
dos
alunos,
professora
e
diretora
adjunta
em
eventos
acadêmicos
A
Reunião
Anual
da
Sociedade
Brasileira
para
o
Progresso
da
Ciência
(SBPC)
acontece
desde
1984,
onde
participam
representantes
de
sociedades
científicas,
autoridades
e
gestores
do
sistema
nacional
de
ciência
e
tecnologia.
Consiste
em
um
importante
fórum
de
discussão
dos
avanços
da
ciência
nas
diversas
áreas
do
conhecimento
e
também
para
debater
sobre
as
políticas
públicas
para
a
ciência
e
a
tecnologia.
Geralmente
a
programação
é
composta
por
conferencias,
simpósios,
mesas
redondas,
encontros,
sessões
especiais,
minicursos
e
sessões
de
pôsteres,
além
de
ocorrer
eventos
paralelos,
como
a
SBPC
jovem,
a
ExpoT&C
e
a
SBPC
Cultural.
A
cada
ano
a
Reunião
acontece
em
um
estado
brasileiro,
sempre
em
uma
universidade
pública19.
No
ano
de
2013,
o
evento
aconteceu
entre
os
dias
21
e
26
de
julho,
no
Campus
da
Universidade
Federal
de
Pernambuco
(UFPE),
em
Recife,
PE.
Os
alunos
da
Escola
Estadual
Soares
foram
convidados
pela
equipe
NetEdu
a
participarem
do
evento,
a
fim
de
divulgar
parte
dos
resultados
da
pesquisa
que
foi
desenvolvida
na
escola
na
companhia
e
participação
desses
alunos.
Assim,
os
alunos,
juntamente
com
as
bolsistas
de
graduação
da
equipe
NetEDU
e
alunos
do
mestrado
e
doutorado,
produziram
trabalhos
divulgando
a
pesquisa
e
o
envolvimento
dos
alunos
na
mesma.
No
mesmo
ano,
os
alunos
que
receberam
bolsas
de
iniciação
cientifica
júnior
participaram
da
24ª
Edição
da
UERJ
SEM
MUROS,
um
evento
de
grande
magnitude
na
instituição
e
no
meio
acadêmico
que
ocorre
anualmente
na
universidade
com
o
objetivo
de
reunir
toda
a
Universidade
para
apresentar
à
sociedade
a
produção
acadêmica
realizada
nas
diversas
áreas
do
conhecimento.
O
evento
envolve
o
ensino,
pesquisa,
extensão
e
cultura.
O
evento
aconteceu
entre
os
dias
23
a
27
de
setembro
de
2013,
ocasião
em
que
os
alunos
também
foram
convidados
a
apresentarem
a
peça
teatral
“´Tá
na
Rede”
assim
como
um
pôster
sobre
a
organização
e
produção
da
peça
teatral
em
conjunto
com
a
escola
e
a
universidade,
relatando
a
integração
existente
entre
o
núcleo
de
etnografia
e
a
escola.
20
Artigo originalmente publicado na Revista Teias no ano de 2009, mas revisto e ampliado para esta publicação.
Ver: CASTRO, P. A. MATTOS, C. L. G. de; Espaços, tempos, sujeitos: uma análise etnográfica dos saberes
produzidos em sala de aula. Revista Teias (UERJ. Online), v. 10, p. 1-11, 2009.
21
A passagem de um nível para outro pode ocorrer em qualquer período do ano, todos avançam continuamente, independente
do estágio de conhecimentos que consigam alcançar ao longo do curso e, assim, concluirão a escolarização obrigatória. Daí o
termo promoção automática. Afirmam, ainda, que os debates no Brasil acerca da adoção da promoção automática datam dos
anos 50 (BARRETO; SOUSA, 2004, p.15-18; BARRETO; MITRULIS, 2001, p.108-110).
Surgem,
nesse
momento,
os
questionamentos
referentes
a
“como”
ensinar,
avaliar,
além
do
tempo
necessário
para
que
o
ensino
e
a
aprendizagem
se
efetivem
entre
professores
e
alunos.
Portanto,
o
tempo
estaria
para
além
de
dialogicamente
comunicar
como
aprende
a
quem
é
destinado
o
ensinar
e,
como
ensinar
para
fazer
aprender.
As
Classes
de
Progressão
tornaram-‐se
objeto
privilegiado
no
que
pesem
os
tantos
problemas
vivenciados
pelas
propostas
de
mudança
pensadas
para
a
escola
brasileira
em
termos
de
democratização
do
ensino
e
superação
das
desigualdades
escolares.
A
análise
do
cotidiano
dessas
classes
de
Progressão,
que
pela
denominação
aludem
ao
caminhar,
ao
desenvolver
dos
alunos/as,
evidencia
na
prática
uma
estagnação
para
aqueles
que
não
acompanharam
o
ritmo.
No
caso
específico
dos
alunos
que
não
alcançaram
os
conteúdos
da
alfabetização,
o
destino
encontrado
foi
o
encaminhamento
para
um
atendimento
paralelo,
diferenciado,
que
possibilitasse
a
progressão
do
aluno
nas
demais
etapas
da
escolarização
básica.
Ao
contrário
da
proposta,
o
tempo
para
progredir
gerou
um
processo
mesmo
de
exclusão
no
interior
dos
ciclos.
Decorrente
de
tais
questionamentos
sobre
o
cenário
escolar,
configurado
pelo
sistema
de
ciclos,
foi
analisado
neste
estudo
como
a
escola
esteve
e
permanece
norteada
pelo
tempo
que,
dependendo
dos
objetivos
dos
sujeitos,
não
privilegia
os
espaços
e,
mesmo,
os
tempos
de/para
aprender.
Para
o
entendimento
dessa
realidade,
delineou-‐se
um
estudo
etnográfico
pautado
no
aporte
teórico-‐metodológico
de
Erickson
(1982)
e
Mattos
(1995;
2001).
O
trabalho
etnográfico,
por
sua
característica
de
aproximar
o
campo
e
o
pesquisador,
possibilita
conhecer
a
realidade
estudada,
além
das
explicações
dos
próprios
sujeitos
investigados,
conferindo
fidedignidade
e
confiabilidade
aos
dados.
Acrescentou-‐se
a
microetnografia
ou
a
microanálise
de
vídeo
como
um
recurso
facilitador
no
processo
de
identificação
das
particularidades
do
contexto
estudado,
bem
como
dos
pontos
de
transição
entre
os
eventos,
permitindo
definir
o
tempo,
a
sequência
–
início,
foco
principal
da
ação
e
conclusão
–
envolvendo
os
aspectos
da
organização
do
evento.
Em
síntese,
Mattos;
Castro
(2004)
concluem
que
o
uso
do
vídeo
pode
ampliar
as
lentes
de
visualização
e
significação
dos
fenômenos
ocorridos
na
interação
entre
os
sujeitos
e,
desse
modo,
analisar
em
detalhes
a
organização
do
tempo
e
do
espaço
escolar.
Este
estudo
concretizou-‐se
pela
experiência
em
duas
unidades
escolares
públicas
(Centro
Integrado
de
Educação
Pública
–
CIEP)
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro.
O
primeiro22
estudo
resultou
nos
dados
sobre
a
sala
de
aula,
a
escola,
organizada
em
ciclos,
turma
que
recebia
alunos
da
chamada
“Progressão”.
Para
o
segundo23
estudo,
elegeram-‐se
duas
Classes
de
Progressão.
Para
o
entendimento
de
tais
questões
realizou-‐se
um
estudo
etnográfico
envolvendo
observações
participantes,
entrevistas
e
análise
de
documentos
na
escola,
uma
vez
por
semana,
nos
espaços
de
sala
de
aula
e
bimestralmente
nos
Conselhos
de
Classe,
durante
um
ano
letivo.
Os
registros
do
trabalho
de
campo
feitos
em
áudio
e
vídeo
foram
transcritos
e
codificados
para
a
análise
de
dados.
A
fonte
primária
de
dados
foram
os
alunos
de
ambas
as
turmas
e
a
fonte
secundária,
os
professores
e
gestores
da
escola.
Houve
oportunidade
nesses
espaços
de
conhecer
de
que
modo
o
processo
de
ensino
e
aprendizagem
contemplava
a
diversidade
de
sujeitos
presentes
nas
salas
de
aula.
Cotidiano
esse
pautado
no
conteúdo
pedagógico
e
na
interação
entre
os
alunos
e
entre
estes
e
as
respectivas
professoras.
Em
outro
momento,
foram
acompanhadas
as
reuniões
dos
Conselhos
de
Classe,
nas
quais
foi
possível
compreender
a
relação
entre
os
espaços
de
sala
de
aula
envolvendo
os
alunos,
e
o
espaço
do
Conselho
de
Classe
com
as
decisões
tomadas
para
a
efetivação
de
processos
que,
de
modo
geral,
ocasionavam
processos
de
exclusão,
mas
que
supostamente
deveriam
estar
voltadas
para
uma
experiência
de
inclusão
ou
reinclusão
no
nível
subsequente.
Neste
trabalho
explorou-‐se
a
dimensão
temporal
destacada
das
análises
produzidas
no
estudo
a
partir
das
análises
do
espaço
escolar
e,
em
destaque,
a
relação
entre
a
professora
e
os
alunos
em
sala
de
aula.
Durante
a
pesquisa
de
campo
em
uma
escola
pública
do
estado
do
Rio
de
Janeiro
foram
observadas
uma
sala
de
aula
e
as
reuniões
dos
Conselhos
de
Classe
durante
um
ano
letivo.
O
tempo
descrito
nas
categorias24
encontradas
evidenciou-‐se
em
ambas
as
escolas,
tanto
nos
Conselhos
de
Classe
quanto
na
sala
de
aula.
22
CASTRO, P.A. Controlar para quê? Uma análise etnográfica da interação entre professor e aluno na sala de aula.
UERJ/ProPEd/FAPERJ/2006.
23
MATTOS, C.L.G. Imagens Etnográficas da Inclusão Escolar: o fracasso escolar na perspectiva do aluno. Programa
Procientista UERJ/SR2, 2005-2008.
24
As categorias emergiram indutivamente das interações em sala de aula e nos Conselhos de Classe recursivamente, num
processo de ir e vir procurando fazer sentido do que era aparente nas imagens de vídeos e nas transcrições. Estas foram
descritas de acordo com o seu padrão de recorrência, a tipicalidade dos fatos ou fenômenos, eventos, ações e falas na sala de
aula, sendo elas: corpo, tarefa, agressão, espaço, barulho, tempo, problemas de aprendizagem e familiares, faltas,
medicalização, violência, estigma, nota e Conselho Tutelar.
As
categorias
encontradas
se
articulam
no
entendimento
das
situações
observadas
em
que
a
noção
de
controle
restringia
ou
restringe
o
exercício
da
função
pedagógica
do
professor.
Entre
as
categorias
elencadas,
a
partir
das
análises
realizadas
nas
interações
em
sala
de
aula
e
nos
Conselhos
de
Classe,
encontra-‐se
aquela
relacionada
à
percepção
que
as
professoras,
a
coordenadora
e
a
direção
têm
sobre
os
alunos.
É
comum
se
encontrar
nos
Conselhos
de
Classe
o
que
Mattos
(2005)
define
como
orquestração:
A
orquestração
caracteriza-‐se
por
expressões
articuladas,
de
forma
interpolada,
em
conjunto
pelo
grupo,
constituindo-‐se
numa
decisão
final
sobre
o
sucesso
ou
fracasso
do
aluno
ou
da
aluna
(MATTOS,
2005,
p.
215).
Assim,
a
percepção
de
um
professor
a
respeito
de
determinado
aluno
é
acatada
pelos
demais,
em
um
processo
que
leva
à
estigmatização
e
à
iminente
exclusão
escolar
do
mesmo.
No
mesmo
sentido,
o
tempo
se
apresenta
como
um
fator
de
delimitação
e/ou
ordenação
do
tempo
agindo
sobre
os
atores
escolares
quando
da
verificação
dos
resultados,
que
oscilam
entre
o
sucesso
e
o
fracasso.
Nas
análises
realizadas
neste
trabalho,
o
tempo
surgiu
como
delimitação
do
tempo
gasto
para
a
realização
das
tarefas
pedagógicas
e
para
a
satisfação
das
necessidades
fisiológicas,
sendo
articulado
com
os
demais
fatores
relacionados
ao
fracasso
escolar.
O
tempo
gasto
para
a
realização
da
tarefa
foi
percebido
neste
estudo
como
tendo
sido
utilizado
para
medir
a
capacidade
do
aluno
no
cumprimento
da
tarefa,
inviabilizando
o
seu
tempo
de
aprender,
o
qual
difere
de
um
indivíduo
para
o
outro.
Outro
tempo
controlado
foi
o
de
ir
ao
banheiro
e/ou
beber
água.
O
aluno
ao
solicitar
à
professora
a
ida
ao
banheiro,
recebia
uma
resposta
negativa.
A
solução
encontrada
nos
Conselhos
de
Classe
para
as
idas
ao
banheiro
foi
a
de
marcar
no
relógio
e
vigiar
na
porta
da
sala
de
aula
o
tempo
gasto
pelos
alunos
para
irem
ao
banheiro
e
retornarem
à
sala
de
aula.
Diante
disso,
qual
tempo
privilegiar
para
valorizar
o
pleno
desenvolvimento
escolar?
Essa
questão
envolve
também
a
crescente
demanda
pela
inclusão
escolar,
de
modo
a
privilegiar
os
diferenciados
processos
do
aprender
em
sala
de
aula.
O
espaço
físico
de
sala
de
aula
está
permeado
pelas
relações
de
poder
e
essa
ocupação
e
circulação
se
efetivam
pela
conotação
e
importância
ao
tempo
de
ensinar
e
aprender.
Saberes
e
sujeitos
escolares:
chronos
ou
kairós?
Nada
se
faz
sem
desejo.
Impor
o
que
quer
que
seja
ao
sujeito,
se
disso
não
manifestar
desejo,
é
expor-‐se
à
recusa
ou
provocar
a
rejeição
(MEIRIEU,
1998).
É
a
partir
desse
delineamento
que
se
explorou,
neste
estudo,
a
dimensão
tempo
e
espaço
que
envolve
a
produção
dos
saberes
entre
professores
e
alunos.
As
explicações
partem
da
própria
etimologia
da
palavra
tempo,
na
qual
a
noção
aparece
dividida
entre
tempo
oportuno
e
cronológico.
A
discussão
sobre
a
temporalidade
é
extensa,
envolvendo
inúmeros
questionamentos,
além
de
orientar
as
respostas
do
homem
sobre
os
fenômenos
que
envolvem
a
sucessão
dos
dias,
horas
e
anos.
Entretanto,
destaca-‐se
neste
estudo
o
tempo
como
uma
delimitação
temporal
para
as
atividades
escolares,
e
como
este
é
administrado
em
função
das
necessidades
dos
sujeitos.
O
interesse
pelo
tempo
data
de
épocas
remotas
com
diferentes
explicações
nas
áreas
do
conhecimento:
Física,
Educação,
Sociologia,
Antropologia,
Psicologia,
dentre
outras.
As
horas
do
relógio,
os
dias
e
as
noites,
o
calendário,
são
formas
de
orientação
criadas
para
auxiliar
na
localização
temporal.
Giddens
(2005)
afirma
que,
nas
sociedades
modernas,
o
zoneamento
das
atividades
é
fortemente
influenciado
pelo
tempo
do
relógio.
Ele
cita
os
monastérios
do
século
XIV
como
tendo
sido
as
primeiras
organizações
que
esquematizavam
as
atividades
de
maneira
precisa
ao
longo
dos
dias
e
das
semanas.
Em
seu
ensaio
sobre
o
tempo,
Elias
(1998)
assinala
que
até
a
época
de
Galileu
(1564-‐1642),
[...]
o
que
chamamos
‘tempo’,
ou
mesmo
o
que
chamamos
‘natureza’,
centrava-‐
se
acima
de
tudo
nas
comunidades
humanas.
O
tempo
servia
aos
homens,
essencialmente,
como
meio
de
orientação
no
universo
social
e
como
modo
de
regulação
de
sua
coexistência
(ELIAS,
1998,
p.8).
O
planejamento
das
atividades
de
acordo
com
as
horas,
para
Giddens
(2005),
é
fundamental
para
o
“zoneamento”
das
atividades
nas
instituições.
O
horário
de
início,
os
intervalos
e
o
fim
dessas
atividades
são
previamente
estabelecidos
para
o
cumprimento
das
mesmas
por
todos.
Em
tais
condições,
a
vida
humana
se
torna,
como
afirma
Machado
(2004),
“um
grande
complexo
eterno-‐temporal
–
em
momentos
definidos
ou
não,
o
chronos
cede
lugar
ao
kairós”
(p.173).
Essa
estrutura
‘espaço-‐tempo’
é
acomodada
nas
instituições
escolares
fazendo
com
que
professores
e
alunos
tenham
horários
delimitados
para
o
cumprimento
da
carga
horária.
Os
que
se
atrasam,
seja
professor
ou
aluno,
são
prontamente
advertidos
e
orientados
quanto
ao
horário
estabelecido
para
eles.
Desse
modo,
vão
se
configurando
as
regras
e
normas
que
regem
o
cotidiano
escolar.
A
preocupação
com
o
controle
do
tempo
pela
delimitação
e
aproveitamento
do
mesmo
está
presente
na
totalidade
das
atividades
desenvolvidas
na
escola.
Percebe-‐se
que
a
forma
de
entendimento
do
tempo
inicia-‐se
com
a
cronologia
distribuída
no
calendário
acadêmico,
passando
por
adaptações
de
acordo
com
as
necessidades
diárias
de
controle
dos
alunos
e
alunas.
Neste
sentido,
pode-‐se
destacar
a
dimensão
individual
para
o
entendimento
e
a
incorporação
das
atividades
distribuídas
na
escola
e
na
sala
de
aula.
Acredita-‐se
que
cada
aluno
tem
o
seu
“tempo”
de
aprendizagem
e
este
não
está
diretamente
relacionado
ao
planejamento
escolar.
Erickson
(1982)
explica,
igualmente,
que
o
sequenciamento
da
estrutura
das
atividades
orienta-‐se
pelo
tempo
de
‘agora’
e
o
‘momento
seguinte’,
o
tempo
estratégico
em
contraste
com
o
tempo
do
relógio.
Ele
acrescenta
que
os
gregos
antigos
distinguiam
o
tempo
estratégico
do
tempo
do
relógio.
O
primeiro
era
chamado
kairós:
o
tempo
certo,
o
tempo
apropriado.
Este
é
o
tempo
da
história
humana,
estações
e
clima.
O
último
tipo
de
tempo
era
chamado
chronos:
o
tempo
da
duração
literal,
mecanicamente
mensurável.
(ERICKSON,
1982,
p.10
tradução
das
autoras).
Considera-‐se,
neste
trabalho,
que
no
âmbito
escolar
coexistem
as
duas
dimensões
de
organização
do
tempo:
tempo
cronológico
(chronos)
e
tempo
oportuno
(kairós).
A
distinção
entre
o
tempo
cronológico
estabelecido
pelo
calendário
escolar
e
o
tempo
de
aprendizagem
de
cada
aluno
se
fez
necessário
no
intuito
de
evidenciar
as
práticas
escolares
voltadas
apenas
para
o
cumprimento
do
currículo
estabelecido.
Assim,
chronos
e
kairós
são
dimensões
temporais
que
regem
o
cotidiano
escolar.
Denominou-‐se
chronos
o
tempo
cronológico
pelo
qual
a
professora
controla
as
tarefas
em
sala
de
aula
e
a
movimentação
dos
alunos,
e
kairós
o
tempo
imbricado
no
processo
de
ensino-‐aprendizagem
que
é
diferenciado
para
cada
aluno.
Na
sala
de
aula
estudada,
observou-‐se
que
a
professora
distribuía
a
tarefa
enquanto
os
alunos,
em
suas
carteiras,
copiavam
para
o
caderno
e,
posteriormente,
iniciavam
a
execução.
Ocorre
que,
após
distribuir
a
tarefa,
alguns
alunos
não
permaneciam
atentos
ao
que
estava
sendo
proposto
pela
professora.
Ela
denotou
impaciência,
passando
a
questionar
o
tempo
gasto
por
eles
na
realização
de
qualquer
tarefa,
apontando
o
grau
de
dificuldade
das
mesmas.
Sheila25:
Pedro
você
ainda
não
acabou...Pedro
você
já
acabou?
Pedro:
Mas
eu
não
faço
rápido
tia?
Mas
eu
to
fazendo
tia.
Sheila:
Mas
está
batendo
muito
papo.
O
entendimento
sobre
a
tarefa26
pedagógica
na
sala
de
aula
observada
auxiliou
no
entendimento
desse
tempo
que
rege
a
sala
de
aula.
A
tarefa
proposta,
não
fazendo
sentido
para
o
aluno,
passa
a
ser
mascarada
por
eles
frente
à
constante
cobrança
da
professora
para
a
realização
da
mesma.
Essa
fala
“eu
faço
rápido”
denota
a
entrada
do
aluno
no
jogo
do
tempo
cronológico,
suplantando
o
tempo
para
a
aquisição
do
conhecimento
específico
para
cada
um.
Como
seria
possível
conjugar
nos
processos
educacionais
o
chronos
e
kairós
para
a
valorização
da
aprendizagem
dos
alunos?
No
período
de
observação
de
sala
de
aula,
percebeu-‐se
que,
sistematicamente,
a
tarefa
se
iniciava
com
a
exposição
no
quadro
do
que
deveria
ser
copiado
pelos
alunos
e
depois
resolvido
por
eles.
Durante
a
cópia
do
exercício
do
quadro,
eles
conversavam
entre
si
e
andavam
pela
sala.
A
professora
ao
notar
a
dispersão,
ameaçava
apagar
o
quadro.
Os
alunos
em
coro
diziam
que
“ainda
não
copiei”
e
retornavam
para
a
atividade
em
suas
carteiras.
Encerrada
a
cópia
do
quadro,
os
alunos
se
dispersavam
novamente
em
vez
de
iniciarem
a
resolução
dos
exercícios
propostos.
Tadeu:
“Tia,
vou
ter
que
copiar
esse
todo
aí?”
Sheila:
Claro,
é
o
texto
de
hoje!
Tadeu:
sim,
não,
sim,
não.
Laura:
Oh
tia,
não
apaga
não
que
eu
comecei
agora,
hein!
Sheila:
Roger
cadê
seu
trabalho?
Roger:
não
fiz...
poxa
eu
comecei
agora.
Percebe-‐se
que
o
tempo
para
as
tarefas
foi
utilizado
pela
professora
como
uma
forma
de
controle,
usando
a
ameaça.
Ela,
ao
perceber
que
os
alunos
não
estavam
copiando,
alertava-‐os,
afirmando
que
apagaria
o
quadro.
Assim,
o
controle
da
tarefa
era
25
Os nomes foram alterados visando ao preceito ético de preservar o anonimato dos participantes da pesquisa.
26
A
construção
da
palavra
tarefa
vem
do
árabe
tareha
significando
trabalho
que
há
de
se
concluir
num
certo
tempo.
Por
essa
definição
percebe-‐se
a
transmissão
da
ideia
de
que
a
tarefa
do
aluno
é
um
trabalho
que
exige
o
seu
cumprimento
num
período
estipulado,
no
caso,
pelo
professor.
obtido,
uma
vez
que
a
professora
também
possuía
tarefas
a
serem
cumpridas.
Ela
controlava
a
turma
pela
tarefa
e
controlava
a
tarefa
dela
mesma
para
cumprir
sua
obrigação.
Isto
se
dava
porque
a
professora,
inserida
num
sistema
socioeducativo
no
qual
é
necessário
o
cumprimento
de
um
currículo
mínimo
pré-‐estabelecido
e
imposto,
distribuía
as
tarefas
em
sala
de
aula
sem
considerar
a
aprendizagem
real
do
aluno.
Dessa
forma,
percebe-‐se
que
a
professora
acreditava
estar
desempenhando
seu
papel
enquanto
profissional
que
possui
deveres
estabelecidos
a
serem
cumpridos
em
detrimento
do
binômio
ensinar-‐aprender.
Esse
ciclo
ocorreu
durante
todo
o
período
de
observação,
evidenciando
a
invalidação
do
tempo
de
aprendizagem
de
cada
aluno
em
função
do
tempo
cronológico.
As
atividades
permaneciam
sem
correção
e,
consequentemente,
os
alunos
que
permaneciam
de
acordo
com
as
exigências
da
professora,
ou
seja,
sentados
e
copiando,
não
recebiam
o
retorno
do
que
aprenderem
ou
mesmo
o
sentido
de
assim
permanecerem
em
sala
de
aula.
Os
alunos
e
alunas,
por
sua
vez,
acreditam
que
a
tarefa
é
um
dever
deles
em
sala
de
aula,
não
perpassando
por
um
entendimento
maior
quanto
à
sua
utilidade.
Estes
entendiam
a
tarefa
como
uma
atividade
enfadonha
que,
sendo
cumprida
o
mais
rápido
possível
ou
não
cumprida,
liberava-‐os
para
a
realização
de
atividades
mais
agradáveis,
longe
das
exigências
da
sala
de
aula.
No
decorrer
das
atividades
em
sala
de
aula
e
das
interações
entre
os
alunos
e
a
professora,
surgiam
os
pedidos
para
satisfazer
as
necessidades
fisiológicas27,
modo
pelo
qual
o
tempo
cronológico
era
soberano
regendo
as
atividades
da
professora
e
dos
alunos.
As
solicitações
para
ir
ao
banheiro
e
beber
água
eram
as
mais
frequentes.
Edgar:
oh
professora,
posso
ir
no
banheiro?
Sheila:
Você
veio
pra
cá
foi
pra
estudar,
não
foi,
então
vamos
estudar.
No
evento
destacado
acima
entre
a
interação
da
professora
Sheila
com
o
aluno
Edgar,
foi
possível
observar
a
anulação
da
necessidade
fisiológica
do
aluno,
justificando
que
este
veio
para
a
escolar
para
estudar.
27
A pirâmide de Maslow classificou as necessidades de forma hierárquica da seguinte forma: na base as fisiológicas
(básicas), seguidas das de segurança, amor/relacionamento, estima e no topo a realização pessoal.
Ocorre
que
a
professora,
no
cumprimento
das
determinações
estabelecidas
no
Conselho
de
Classe,
somente
permite
a
saída
de
um
aluno
de
cada
vez
e
controla
o
tempo
que
ele
leva
para
utilizar
o
banheiro
ou
beber
água
e
retornar
para
a
sala
de
aula.
A
sugestão
feita
por
uma
professora
na
reunião
foi
a
de
estabelecer
horários
para
a
ida
ao
banheiro.
Esses
horários
ocorriam
duas
vezes
no
período
de
aula,
no
início
e
no
final,
desconsiderando-‐se
que
as
necessidades
fisiológicas
não
funcionam
ao
mesmo
tempo
em
todos
os
alunos.
Amélia:
A
minha
turma
é
assim,
quando
dá
9:30
vão
dois
meninos
e
duas
meninas
ao
banheiro,
olho
na
porta,
controlo
o
tempo,
não
sobe.
Depois
eles
vão
ao
banheiro
de
novo
11:30,
mesma
coisa,
olho,
controlo,
eles
não
sobem.
Há
duas
semanas
atrás
o
banheiro
das
meninas
estava
interditado...
(Conselho
de
Classe)
Se,
por
um
lado,
tal
medida
parece
ir
contra
as
necessidades
dos
seres
humanos,
por
outro,
a
escola
é
o
espaço
de
socialização
que
privilegia
o
estabelecimento
de
regras.
Os
alunos
passam
a
ter
contato
com
novas
regras
de
socialização
pautadas
na
forma
como
a
escola
organiza
suas
funções
burocráticas
e
administrativas,
ou
seja,
horários
de
entrada,
saída,
merenda,
recreação
e
conteúdos
pedagógicos.
O
estabelecimento
de
regras
na
escola
se
deu
a
partir
de
uma
situação
que
foi
considerada
problemática
pela
direção
da
escola
e
pelos
professores.
As
regras
foram
criadas
durante
uma
reunião
de
Conselho
de
Classe,
levando
em
consideração
a
necessidade
de
controle
e
bem-‐estar
escolar
definido
pelos
docentes.
Se
o
aluno
permanecer
fora
da
sala
de
aula
por
muito
tempo
causará
transtornos
ao
ambiente
escolar,
então
tal
tempo
passaria
a
ser
delimitado
e
controlado.
Isso
significa
que
as
regras
são
criadas
por
uma
realidade
que
se
torna
problemática,
sobretudo,
na
perspectiva
dos
professores.
A
real
problemática
nessas
saídas
da
sala
de
aula
consistia
no
fato
de
que
o
aluno
não
ia
somente
ao
banheiro,
ele
também
andava
pelos
corredores,
em
alguns
casos
chamando
alunos
de
outras
turmas
para
conversar.
Dessa
forma,
tornou-‐se
necessária
a
implementação
do
controle
do
tempo
de
saída
e
retorno
para
a
sala
e
da
movimentação
pelos
corredores.
Essa
medida
que
pareceu,
num
primeiro
momento,
uma
forma
de
rigidez
quanto
às
necessidades
fisiológicas
que
nem
sempre
ocorrem
no
horário
determinado
pela
professora,
num
segundo
momento
foi
percebida
como
sendo
uma
forma
de
controlar
o
espaço
escolar.
Entende-‐se
que
as
saídas
da
sala
de
aula
para
o
atendimento
das
necessidades
fisiológicas
deveriam
ser
organizadas
de
maneira
menos
rígida,
permitindo
a
saída
dos
alunos
de
modo
a
não
comprometer
o
funcionamento
das
demais
turmas
da
escola.
As
adaptações
organizacionais,
acompanhadas
de
um
posicionamento
junto
aos
alunos,
identificando
as
condições
que
melhor
se
adaptam
ao
funcionamento
da
escola
como
um
todo,
poderiam
ser
pensadas
levando
em
conta
o
menor
prejuízo
para
ambos.
Nesse
sentido,
acrescenta-‐se
a
indagação
feita
por
Elias
(1998)
para
melhor
compreender
as
regras
sobre
a
utilização
dos
demais
espaços
da
escola,
como
o
banheiro.
Elias
argumenta:
[...]
que
os
relógios
sejam
instrumentos
construídos
e
utilizados
pelos
homens
em
função
das
exigências
de
sua
vida
comunitária,
é
fácil
de
entender.
Mas,
que
o
tempo
tenha
igualmente
um
caráter
instrumental
é
algo
que
não
se
entende
com
facilidade
(ELIAS,
1998,
p.9).
Ainda
que
o
controle
do
tempo
apresente
uma
sociedade
aprisionada
num
tempo
cronológico,
é
importante
dimensionar
o
tempo-‐espaço
na
trajetória
escolar
de
modo
a
valorizar
essas
duas
instâncias.
O
tempo
que
os
alunos
levam,
por
exemplo,
para
se
encaminharem
para
a
sala
de
aula
após
a
utilização
do
refeitório
é,
em
dada
medida,
importante
para
o
início
da
compreensão
da
necessidade
de
cumprir
horários.
De
certa
forma,
o
controle
das
atividades
pelo
tempo
prepara
o
aluno
para
a
inserção
na
sociedade
cronológica.
O
tempo
kairós
foi
desconsiderado
na
escola
em
sua
funcionalidade,
tendo
em
vista
a
suplantação
do
tempo
oportuno
do
aluno
pela
cronologia
do
calendário
acadêmico.
Inclui-‐se
nessa
discussão
o
planejamento
pedagógico
orientado
pela
rotina
escolar
com
caráter
de
organização
do
tempo
e
espaço
do
processo
de
ensino-‐
aprendizagem.
A
rotina
é
então
considerada
“o
elemento
estruturante
do
cotidiano,
norteia,
orienta
e
organiza
o
dia-‐a-‐dia.”
(PROENÇA,
1998).
A
relação
entre
o
tempo
e
o
espaço
é
explicada
por
Foucault
(1987),
aludindo
as
formas
de
organização
das
mesas
e
cadeiras
enfileiradas,
gerenciando
os
corpos
dos
alunos
em
seu
tempo-‐espaço
em
sala
de
aula.
Isso
ainda
remete
para
a
preocupação
da
escola
em
manter
o
aluno
sentado,
ocupado,
não
cedendo
espaço
para
a
ociosidade.
Para
determinar
o
controle
das
atividades,
Foucault
destaca
cinco
pontos:
i)
o
horário;
ii)
a
elaboração
temporal
do
ato;
iii)
donde
o
corpo
e
o
gesto
postos
em
correlação;
iv)
a
articulação
corpo-‐objeto
e
v)
a
utilização
exaustiva.
Foucault
explica
que
(i)
o
horário
foi
rapidamente
difundido
nas
instituições
escolares
e
hospitalares
onde
havia
o
pressuposto
do
estabelecimento
de
regras
e
censuras.
O
segundo
ponto
(ii)
implica
o
controle
dos
gestos
e
dos
movimentos,
uma
espécie
de
cadência,
exemplificado
pela
marcha
das
tropas
(p.129).
Pela
correlação
entre
corpo
e
gestos
(iii),
Foucault
ressalta
que
“no
bom
emprego
do
corpo,
que
permite
um
bom
emprego
do
tempo,
nada
deve
ficar
ocioso
ou
inútil”
(p.130)
e,
cita
a
boa
caligrafia
que
pressupõe
uma
‘ginástica’
abrangendo
o
corpo
inteiro.
Da
articulação
entre
corpo-‐objeto
(iv)
decorre
a
ordenação
entre
corpo
e
objeto,
constituindo
uma
engrenagem,
onde
é
fixada
uma
“ordem
canônica
em
que
cada
uma
dessas
correlações
ocupa
um
lugar
determinado
[...]
constituindo
um
complexo
corpo-‐arma,
corpo-‐
instrumento,
corpo-‐máquina”
(p.130).
No
último
ponto
(v),
o
autor
destaca
a
passagem
de
um
princípio
da
não
ociosidade
para
a
disciplina,
intensificando
o
uso
do
tempo,
onde
fosse
obtido
um
“ponto
ideal
em
que
o
máximo
de
rapidez
encontra
o
máximo
de
eficiência.
(p.131).
Percebe-‐se,
neste
estudo,
que
o
tempo
passível
de
controle
por
parte
dos
professores
é
aquele
que
pode
ser
mensurado:
o
tempo
de
cópia
da
tarefa,
o
tempo
de
entrada
e
saída
da
sala
de
aula,
a
hora
da
merenda,
o
horário
de
ir
ao
banheiro
e
beber
água.
O
tempo
de
aprendizagem,
por
exemplo,
não
permite
medidas
exatas
em
função
do
seu
caráter
subjetivo
e,
portanto,
não
passa
pela
noção
de
controle.
Tempo
é
chronos
e
kairós.
É
chronos
como
tempo
horizontal
e
kairós
como
tempo
transversal,
que
atravessa
a
temporalidade
cotidiana
e
usual,
dando-‐lhe
especial
significação.
(NOVAES,
1994).
Significação
essa,
que
na
escola
estudada,
foi
dada
apenas
em
função
do
zoneamento
das
atividades
por
chronos
em
detrimento
do
kairós.
Mesmo
que
o
tempo
oportuno,
de
aprender,
não
seja
passível
de
ser
objetivamente
controlado,
ele
é
por
vezes
submetido
aos
parâmetros
de
uma
rotina
estruturante
no
cotidiano
escolar.
Ainda
se
pode
acrescentar
a
possibilidade
de
esse
tempo
ser
comparado
à
indisciplina,
considerada
uma
insubordinação
às
normas
escolares.
A
discussão
dos
professores
que
convencionou
ser
importante
permanecer
em
sala
de
aula
e
não
circular
pelos
corredores
foi
unilateral,
no
sentido
de
não
pensar
em
soluções
para
o
engajamento
dos
alunos
nas
atividades
em
sala
de
aula.
Nesse
sentido,
urge
pensar
em
alternativas
para
a
prática
de
sala
de
aula
para
mais
do
que
manter
alunos
e
alunas
sentados
e
copiando.
Alude-‐se
ao
professor
como
pesquisador
e
observador
da
própria
prática
onde
estejam
privilegiados
os
aspectos
didáticos
e
pedagógicos
da
construção
dos
saberes
em
sala
de
aula.
Ainda
que,
ao
longo
de
décadas,
registrou-‐se
um
conjunto
de
propostas
educacionais
diferenciadas
para
a
escola,
observa-‐se
que
o
imperativo
é
o
formato
estanque
e
fragmentado
no
qual
a
organização
e
o
trabalho
escolar
permanecem
orientados
pela
lógica
linear.
Como
afirma
Freitas,
[...]
os
tempos
e
espaços
da
escola
são,
portanto,
contraditórios
e
tensos
–
como
tensa
e
contraditória
é
a
própria
sociedade
que
a
cerca.
Há
uma
permanente
disputa
em
tais
espaços
que
reflete
as
diferentes
concepções
de
educação,
as
diferentes
finalidades
educativas
atribuídas.
(FREITAS,
2004,
p.1).
É
nesse
campo
de
tensões,
no
qual
se
encontra
a
escola
pública,
que
a
pesquisa
etnográfica
oportuniza
a
discussão
entre
a
prática
pedagógica,
a
teoria
e
a
pesquisa,
ampliando
as
possibilidades
de
repensar
a
sala
de
aula
e
a
relação
professor-‐aluno
como
central
na
produção
de
conhecimentos.
O
olhar
etnográfico,
a
partir
das
imagens
de
vídeo,
permite
que
o
tempo
de
sala
de
aula
seja
revisitado,
fazendo
conhecer
as
nuances
das
trajetórias
escolares.
Desse
modo,
tanto
o
pesquisador
quanto
o
professor
dialogicamente
interpretam
os
eventos
de
sala
de
aula,
ampliando
as
possibilidades
de
atuação
no
sentido
de
uma
pedagogia
sensível
aos
valores
sociais
e
culturais,
além
de
uma
escola
democrática.
Considerações
finais
Na
sala
de
aula
estudada,
o
controle
do
espaço
escolar
pelo
tempo
surgiu
como
uma
espécie
de
pano
de
fundo
para
percebemos
que
era
mais
importante
para
a
professora
cumprir
as
exigências
do
currículo
mínimo
estabelecido
do
que
criar
um
espaço
de
aprendizagem
na
sala
de
aula.
A
professora,
no
cumprimento
de
suas
atribuições,
impõe
ao
aluno
o
seu
tempo
de
execução
das
tarefas
propostas,
desconsiderando
a
individualidade
do
processo
de
ensino-‐aprendizagem.
A
professora
também
possui
suas
tarefas
e
quanto
mais
rápido
elas
forem
realizadas
ela
também
poderá
estar
livre
para
atividades
menos
exaustivas
do
que
a
gestão
da
sala
de
aula.
Durante
as
visitas
de
observação,
percebeu-‐se
que
o
tempo
de
ensinar
e
aprender
no
espaço
escolar
era
orientado
pela
professora
no
sentido
de
reduzir
o
sentido
da
tarefa
apenas
para
a
cópia.
Os
alunos
e
alunas
ao
terminarem
ou
não
a
cópia
da
tarefa
do
quadro
não
recebiam
o
feedback
pelo
seu
trabalho,
e
a
professora
não
demonstrava
se
incomodar
em
fornecer-‐lhes
a
correção.
É
importante
que
o
aluno
conheça
o
que
é
considerado
acerto
e
erro
em
relação
ao
que
está
sendo
estudado.
Assim,
estar
presente
na
sala
de
aula
sem
que
seja
criado
um
espaço
de
aprendizagem
implica
somente
a
presença
física,
na
qual
o
aluno
não
vê
sentido
na
tarefa
pedagógica.
Em
outro
momento,
problematizou-‐se
sobre
o
tempo
controlado
para
as
necessidades
fisiológicas.
A
solicitação
dos
alunos
para
saírem
da
sala
e
irem
ao
banheiro
era
inicialmente
negada
pela
professora,
sob
a
alegação
de
que
eles
não
retornariam
para
a
sala
e
ficariam
passeando
pelos
corredores
da
escola,
consequentemente,
importunando
os
alunos
de
outras
salas.
A
solução
encontrada
nos
Conselhos
de
Classe
foi
a
de
delimitar
no
relógio
o
tempo
gasto
entre
a
saída
de
sala
e
o
retorno
à
mesma.
Entende-‐se
que
é
necessário
compreender
os
tempos
de
ensinar
e
aprender
como
uma
possibilidade
de
transformação
do
espaço
escolar,
privilegiando
os
saberes
e
as
práticas
de/entre
alunos
e
professores.
Da
mesma
forma,
o
sujeito
do
conhecimento
é
singular
na
construção
dos
processos
diários
de
aprender,
cabendo
a
escola
garantir
pelo
princípio
da
inclusão
ligado
à
integração
social
a
compreensão
e
a
ressignificação
do
sentido
da
educação
como
um
caminho
para
a
superação
das
desigualdades.
Por
conseguinte,
urge
compreender
as
práticas
e
os
atores
nos
espaços
escolares
que
levam,
muitas
vezes,
à
exclusão
pela
impossibilidade
de
serem
compreendidos
em
suas
diferenças,
permanecendo
o
controle
dos
tempos
escolares
para
que
alunos
e
alunas
sejam
mantidos
de
acordo
com
as
normas
instituídas
para
educar
pelo
controle.
Referências
ARAÚJO,
L.P.;
MAURÍCIO,
L.V.
A
proposta
da
progressão
continuada
na
visão
de
professores
da
rede
municipal
do
Rio
de
Janeiro
em
exercício
no
projeto.
In:
Anais
do
XIII
ENCONTRO
NACIONAL
DE
DIDÁTICA
E
PRÁTICA
DE
ENSINO,
Abril,
2006,
Recife,
PE.
BARRETO,
E.S.S.;
SOUSA,
S.Z.
Ciclos:
Estudos
sobre
as
políticas
implementadas
no
Brasil.
In:
Anais
da
27º
REUNIÃO
ANUAL
DA
ANPED,
Novembro,
2004,
Caxambu,
MG.
BARRETO,
E.S.S.;
MITRULIS,
E.
Trajetória
e
desafios
dos
ciclos
escolares
no
País.
Estudos
Avançados,
São
Paulo,
v.15,
n.42,
maio/ago,
p.
103-‐140,
2001.
CASTRO,
P.A.
Controlar
para
quê?
Uma
análise
etnográfica
do
controle
na
interação
entre
professor
e
aluno
na
sala
de
aula.
[Dissertação
de
mestrado].
Universidade
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro,
Rio
de
Janeiro,
2006.
ELIAS,
N.
Sobre
o
tempo.
Rio
de
Janeiro:
Jorge
Zahar,
1998.
ERICKSON,
F.
Classroom
discourse
as
improvisation:
relationships
between
academic
task
structure
and
social
participation
structure
lessons.
In:
WILKINSON,
L.C.
Communicatting
in
the
classroom.
New
York:
Academic
Press,
1982.
FOUCAULT,
M.
Vigiar
e
Punir:
história
da
violência
nas
prisões.
Petrópolis:
Vozes,
1987.
GIDDENS,
A.
Sociologia.
Porto
Alegre:
Artmed,
2005.
MACHADO,
J.C.B.
“...
E
pôs
a
eternidade
no
coração
do
homem”
(Eclesiastes
3:11)
In:
SENNA,
L.A.
Letramento
–
princípios
e
processos.
Curitiba:
IBPEX,
2007.
MATTOS,
C.L.G.
A
abordagem
etnográfica
na
investigação
científica.
Espaço
(INES).
Rio
de
Janeiro,
n.16,
Jul/Dez.,
p.53-‐58,
2001.
MATTOS,
C.L.G.
Imagens
etnográficas
da
inclusão
escolar:
o
fracasso
escolar
na
perspectiva
do
aluno.
Programa
Procientista
2005-‐2008.
Relatório
de
Pesquisa.
Rio
de
Janeiro:
UERJ/SR2,
2008.
MATTOS,
C.L.G.
Etnografia
crítica
de
sala
de
aula.
Revista
Brasileira
de
Estudos
Pedagógicos.
Brasília,
v.
76,
n.182-‐183,
p.
98-‐116,
1995.
MATTOS,
Carmen
L.
Guimarães
de,
CASTRO,
Paula
Almeida
de.
Uma
análise
etnográfica
das
dificuldades
educacionais
de
alunos
e
alunas
e
do
(des)
controle
de
professores
e
professoras:
c
mais
d
o
que
dá?
Anales
del
I
Congreso
Internacional
Educación,
Lenguaje
Y
Sociedade,
Santa
Rosa/General
Pico
–
La
Pampa/Argentina,
Jul/2004.
MATTOS,
C.L.G.
O
conselho
de
classe
e
a
construção
do
fracasso
escolar.
Educação
e
Pesquisa,
São
Paulo,
v.31,
n.2,
p.
215-‐228,
2005.
MEIRIEU,
P.
Aprender
...
sim,
mas
como?
7a.
ed.
Porto
Alegre:
Artmed,
1998.
NOVAES,
A.
(org.)
Tempo
e
história.
São
Paulo:
Companhia
das
Letras,
Secretaria
Municipal
de
Cultura,
1994.
PERRENOUD,
P.
O
oficio
do
aluno
e
sentido
do
trabalho
escolar.
Porto
Alegre:
Artmed,
1995.
PROENÇA,
M.A.R.
Rotina:
âncora
de
meu
cotidiano.
In:
FREIRE,
M
(org.).
Rotina:
construção
do
tempo
na
relação
pedagógica.
São
Paulo:
Espaço
Pedagógico,
1998.
SENNA,
L.A.
Formação
docente
e
educação.
Cadernos
de
Pesquisa,
São
Paulo,
v.38,
n.133,
p.195-‐220,
2008.
SENNA,
L.A.
Letramento
–
princípios
e
processos.
Curitiba:
IBPEX,
2007.
AS
CRENÇAS
E
AS
ATITUDES
NO
ATO
DE
LER
E
SUA
INFLUENCIA
NA
FORMAÇÃO
LEITORA
DE
ALUNOS(AS)
E
PROFESSORES(AS)
NO
MARANHÃO
Samuel
Luis
Velásquez
Castellanos
Na
atualidade
o
aparecimento
do
computador
nos
possibilita
diferentes
leituras
de
um
mesmo
texto
deslocado
de
sua
materialidade,
por
diferentes
públicos
e
por
meio
de
variadas
formas
de
comunicação
estabelecida
em
lugares
distintos,
propiciando-‐nos
significar
diferentes
significações
a
um
mesmo
significante
textual.
O
texto
eletrônico;
inevitavelmente
lido
de
outra
maneira,
nos
liberta
para
novas
práticas
e
novas
formas
de
apropriação
do
escrito
e,
novas
posturas
leitoras,
desaparecendo
as
gestualidades
regularmente
expostas
e
as
sensações
do
leitor,
associadas
ao
manuseio
do
suporte
cultural.
Assistindo
ao
mesmo
tempo,
“[...]
a
mudança
na
técnica
de
produção
e
reprodução
dos
textos
no
suporte
da
escrita
e
na
maneira
de
ler”
(BELO,
2002,
p.
29).
Por
outro
lado,
em
oposição
ao
determinismo
tecnológico,
nos
apropriamos
das
palavras
de
Chartier
(1994)
ao
reafirmarmos
que
as
técnicas,
não
existem
para
além
do
que
os
seus
produtores
e
utilizadores
fazem
delas.
Práticas
e
técnicas
sociais
e
culturalmente
construídas
por
produtores,
produtos
e
consumidores
culturais;
que
embora,
cada
suporte,
estrutura
de
transmissão
e
recepção
da
escrita
afete
profundamente
os
possíveis
usos
e
interpretações
do
texto
lido;
este,
sem
materialidade
e
sem
localização
em
sua
representação
eletrônica,
“[...]
pode
atingir
qualquer
leitor
dotado
do
material
necessário
para
recebê-‐
lo”(CHARTIER,
1994,
p.
104).
No
que
diz
respeito
à
produção
do
livro,
Sousa
(2002,
p.
1),
comenta
que:
Se
no
inicio
de
séculos
[depois
da
Revolução
de
Gutemberg]
se
publicavam
cerca
de
10.000
livros
por
ano,
hoje
temos
milhões
de
documentos
científicos
e
técnicos
publicados
no
mesmo
período
de
tempo.
[...]
em
1750,
duplicou-‐se
pela
primeira
vez
o
conhecimento
da
humanidade
desde
os
tempos
de
Cristo.
Em
1900
repetiu-‐se
o
fenômeno.
A
seguir
operou-‐se
em
1950.
Hoje
o
conhecimento
humano
passa
para
o
dobro
de
5
em
5
anos.
Calcula-‐se
que
no
ano
2020
essa
duplicação
ocorrerá
cada
75
dias.
Caberia
nos
perguntar
se
agora,
com
estas
mudanças
de
novos
comportamentos
e
apropriações,
mudanças
tecnológicas
e
o
acelerado
crescimento
na
produção
e
circulação
do
livro,
as
escolas
estão
atualmente
preparadas
para
estimular
a
leitura
a
partir
das
novas
posturas
a
serem
tomadas
frente
à
hipertextualidade
materializada
nos
novos
suportes
culturais?
Sabermos
se
os
professores
conseguem
ter
uma
visão
holística
da
crise,
que
existe
com
respeito
à
formação
leitora
e
às
praticas
culturais
de
apropriação?
Indagarmos
se
a
escola
terá
condições
de
apresentar
um
currículo
que
tenha
todos
os
elementos
complexos
e
heterogêneos
que
representem
as
necessidades
reais
dos
seus
alunos
como
indivíduos
e,
como
produtores
e
produtos
da
cultura?
Questionarmos
se
os
conteúdos
e
as
metodologias
aplicadas
no
ensino
e
aprendizagem
da
leitura,
estarão
centrados
nos
interesses
de
todos
os
discentes
e
em
sintonia
com
as
novas
tecnologias
da
educação?.
Neste
trabalho
analisam-‐se
os
fatores
que
influenciam
nas
diversas
apropriações
das
materialidades
culturais,
analisando,
descrevendo
e
avaliando
o
ensino
aprendizagem
da
leitura
e
o
comportamento
leitor
dos(as)
professores(as),
como
leitores(as)
e,
como
formadores
(as)
de
leitores(as),
através
das
noções,
concepções
e
reflexões
dos
diferentes
teóricos
em
foco.
Trata-‐se
de
expor
a
situação
em
que
o
Maranhão
se
encontra
no
que
respeita
às
práticas
leitoras,
à
aliteratura,
ao
livro
didático,
às
formas
de
ler
e
às
apropriações
do
sentido
dos
textos.
Concluindo-‐se
com
a
importância
que
as
crenças
têm;
seja
por
parte
do
aluno,
seja
por
parte
do
professor,
para
a
formação
leitora
e
para
a
atitude
frente
à
leitura,
no
ato
de
ler,
analisando
e
interpretando
estas
múltiplas
determinações
inseridas
no
processo
de
apropriação
da
leitura
e
no
ambiente
do
leitor
A
leitura,
os
leitores
e
os
livros
no
Brasil
de
hoje
No
Brasil
especificamente,
o
sistema
educacional
é
amplamente
contrastante,
caracterizando-‐se
pelo
aumento
do
fracasso
escolar
produzido
pela
exclusão
social,
segundo
Candau
(2002),
existem
índices
que
nos
mostram
as
desvantagens
que
os
negros
e
pardos
estão
com
relação
aos
brancos.
Dados
do
PNUD28
de
1996
demonstram
que
a
população
branca
estuda
em
media
5,9
anos
diferenciando-‐se
dos
negros
e
pardos
em
3,3
anos,
apesar
da
sua
presença
na
população
brasileira
ser
demograficamente
expressiva
44,2%
(4,9%
de
pretos
e
de
39,3%
de
pardos),
caracterizados
por
constituírem
a
minoria,
no
que
diz
respeito,
às
relações
de
poder
e
do
exercício
cidadão,
marginalizada
social,
cultural
ou
etnicamente
com
tendências
ao
fracasso
no
sistema
educativo;
portanto
sem
perspectiva
de
futuro.
Com
53,9
milhões
de
pobres,
o
equivalente
a
31,7%
da
população,
o
Brasil
aparece
em
penúltimo
lugar
em
28
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento.
termos
de
distribuição
de
renda
numa
lista
de
130
países29.
Apesar
de
que
o
Brasil
de
acordo
com
os
dados
do
CERLAC 30 ,
tenha
produzido
em
1996,
348
milhões
de
livros,
ocupando
o
oitavo
lugar
em
produção,
−
volume
próximo
ao
alcançado
pela
produção
francesa
(413
milhões)
e
superior
a
países
desenvolvidos
como
a
Itália
−
e,
que
seja
responsável
por
53%
da
produção
latino
americana
(BATISTA,
1999);
nos
resultados
obtidos
no
Programa
de
Avaliação
Internacional
comparada
-‐
PISA31
2004,
que
analisa
o
desempenho
dos
alunos
de
15
anos
de
idade,
o
Brasil
continuo
nas
últimas
posições,
lendo-‐se
em
media
2.4
livros
por
ano,
cifras
muito
baixa
se
comparada
com
o
consumo
per
capita
francês,
sete
livro
no
mesmo
período.
Em
2002,
a
população
de
15
anos
e
mais
tinha
apenas
6,5
séries
completas,
não
concluindo
a
8a
série
do
ensino
fundamental
obrigatório,
não
passando
de
3,6
nas
zonas
rurais,
motivando
este
quadro
a
uma
profissionalização
precária,
“[...]
num
país
de
práticas
leitoras
tão
precárias
e
de
um
sistema
literário
rarefeito”
(ZILBERMAN;
LAJOLO,
1996,
p.
91).
O
SAEB32,
em
2004
revelara
que
cerca
da
metade
dos
alunos
que
chegavam
à
4a
série
tinha
grandes
dificuldades
em
leitura.
Numa
escala
de
125
a
375,
os
alunos
das
escolas
estaduais
atingiram
a
média
de
170;
os
das
escolas
municipais
161
e
os
das
particulares
215,
revelando
como
tônica
geral
‘a
deficiência’
no
ensino,
tanto
nas
escolas
públicas,
como
nas
particulares.
Se
nos
referimos
particularmente
a
São
Luís
do
Maranhão33,
a
realidade
é
mais
alarmante.
Em
primeiro
lugar,
por
pertencer
ao
Norte
e
Nordeste
do
país,
tradicionalmente
descriminado
e
excluído
na
sua
generalidade
pelo
Sul
e
o
Centro
Oeste
e;
em
segundo,
por
estar
ainda
no
século
XXI,
comandado
pelas
oligarquias
enraizadas
no
poder
por
mais
de
40
anos.
Contemplando
o
índice
de
desenvolvimento
humano
(IDH)34
do
Brasil
que
é
de
0,766,
o
Maranhão
tem
o
pior
índice
de
desenvolvimento
humano
do
país,
0,636
para
0,656
no
Piauí,
Estado
vizinho.
Segundo
o
IBGE,
27
municípios
com
menor
renda
per
29
Estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), divulgado pelo ministro do planejamento,
Paulo Bernardo, 2006.
30
Centro Regional para o fomento do livro em América Latina e o Caribe.
31
Verificar informações no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio
Teixeira – INEP.
32
Sistema de Avaliação da Educação Básica.
33
Artigo ‘Carta capital’ publicado na revista Seu Pais, 2005.
34
Índice de Desenvolvimento Humano, medido numa escala de (0 a 1), quanto mais próximo de 1, melhor será
a vida da população.
capita
são
Maranhenses.
Das
cem
cidades
brasileiras
com
menor
renda,
83
estão
localizadas
neste
Estado,
que
apresentam
a
menor
média
de
escolaridade;
3,6
anos,
para
6,4
anos
da
média
nacional.
A
taxa
de
analfabetismo
atinge
22%
da
população
com
mais
de
10
anos
de
idade.
No
fim
de
2002,
apenas
58,
dos
217
municípios
ofereciam
ensino
médio.
Nos
resultados
do
Exame
Nacional
do
Ensino
Médio
–
Enem,
os
participantes
no
2006
obtiveram
médias
de
desempenho
iguais
a
36,90
na
parte
objetiva
da
prova
e
52,08
na
redação,
numa
escala
que
vai
de
0
a
100,
obtendo
os
piores
índices35.
Resultados
que
ao
apontar
um
Maranhão,
culturalmente
considerado
um
dos
Estados
de
maior
conservação
da
tradição,
avaliado
pela
UNESCO,
quando
da
candidatura
de
sua
capital
São
Luís,
como
Patrimônio
da
Humanidade,
pela
sua
estrutura
arquitetônica,
suas
riquezas
naturais
e
preservação
de
seus
costumes,
crenças,
festejos,
ritmos
e
danças
que
caracterizam
o
Brasil
colonial;
também
denunciam
seus
problemas
educacionais,
onde
o
nível
cultural
deste
povo
do
nordeste,
sua
integração
no
processo
de
alfabetização,
a
continuidade
dos
estudos
de
suas
crianças,
jovens
e
adultos,
o
desenvolvimento
humano
e
o
direito
à
educação
presente
na
Constituição
Federal,
estão
em
ampla
desvantagem
em
relação
ao
resto
do
país.
As
configurações
atuais
sobre
as
práticas
leitoras,
na
perspectiva
escolar
Não
precisamos
queimar
livros
para
matar
a
nossa
civilização;
precisamos
apenas
não
lê-‐los
por
uma
geração
(PETER
J.
L.
FISCHER,
2003).
A
reflexão
sobre
as
concepções,
avaliações
e
critérios
sobre
as
práticas
leitoras,
a
formação
do
leitor
e
as
apropriações
das
materialidades
culturais
dos(as)
professores(as)
em
foco,
partindo
das
suas
narrativas,
em
diferentes
períodos
políticos,
econômicos
e
educacionais,
nos
vem
dando,
um
aval
para
podermos
desvelar,
interpretar
e
compreender,
se
os
mesmos
têm
manifestado
novas
posturas
estratégicas
e
procedimentos
inovadores
que
auxiliem
na
(re)significação
dos
protocolos
de
leitura
(CHARTIER,
2003)
e
das
diferentes
materialidades
de
suporte.
Reflexão
que
ao
visar
os
diferentes
modelos
educativos
em
que
estes(as)
professores(as)
têm
sido
sujeitos
atuantes,
seja
na
sua
formação
intelectual,
seja
na
profissional,
nos
ajudará
a
entender
a
natureza
dos
novos
procedimentos
adotados
nas
situações
de
leitura
(GOULEMOT,
1996),
na
escolha
dos
textos
e
nas
estratégias
adotadas
no
comportamento
leitor.
35
Verificar o site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira – INEP.
Sabermos
se
desde
o
campo
de
ação,
eles
se
têm
esforçado
por
refletir,
criar
e
recriar,
conhecendo
a
realidade
em
que
têm
estado
inseridos,
compartilhando
e
compreendendo
o
cotidiano
dos
seus
alunos;
novas
práticas,
estratégias
de
ação
e
ambientes
favoráveis
que
resultem
inovadores
no
processo
de
ensino
e
aprendizagem
da
leitura
e,
na
manipulação,
interação
e
convívio
com
estes
objetos
culturais.
Práticas
concebidas,
reformuladas
e
extraídas
da
sua
criatividade,
da
sua
experiência
educativa
e
de
sua
interação
com
a
cultura
local
de
sua
sala
de
aula.
Cultura
escolar
que
se
faz
específica
por
seus
contornos,
particularidades
e
conotações.
Novas
estratégias
e
procedimentos,
que
dependem
mais
da
visão
de
mundo
(GOFFMAN,
1985)
e
da
sua
imaginação
com
respeito
a
seu
campo
atuante
como
professores(as)
leitores(as)
e
como
formadores(as)
de
leitores,
que
dos
próprios
artefatos
tecnológicos
em
si.
“O
limite
da
inovação
é,
apenas,
o
limite
da
imaginação,
e
a
capacidade
de
transgressão
e
de
romper
com
a
rotina
as
qualidades
mínimas
requeridas
pelo
ato
de
inovar”
(FINO,
2003,
p.
3).
Mudanças
na
rotina
do
processo
de
ensino
e
aprendizagem
da
leitura,
na
formação
leitora
e
na
concepção
e
crenças
no
ato
de
ler
dos
sujeitos
envolvidos,
que
tenham
possibilitado
a
estes(as)
professores(as),
criar
e
transgredir
os
modelos
já
pré-‐estabelecidos,
sedimentados,
regulados
e
aprovados.
O
questionarmos
o
por
que
algumas
pessoas
leem
e
outras
que
sabem
ler
preferem
não
fazê-‐lo?
O
por
que
algumas
pessoas
usam
a
leituras
como
fonte
de
informação
e
prazer
para
toda
a
vida
e
outras
após
completarem
sua
educação
formal,
raramente
o
fazem?
O
refletirmos
sobre
o
que
as
escolas
e
os(as)
professores(as)
têm
feito
para
promover
uma
leitura
prazerosa
e
não
obrigatória?
Quais
mecanismos
têm
criado
para
trabalhar
sobre
novas
visões
do
ensino
e
aprendizagem
da
leitura,
a
partir
de
práticas
inovadoras
e,
não
unicamente,
do
treinamento
tradicional
de
habilidades
pragmáticas,
baseadas
nas
atitudes
cognitivas,
visando
a
resolução
de
problemas
nos
exames
classificatórios?.
Estas
seriam
umas
das
tantas
perguntas
que
nós
pesquisadores
nos
fazemos.
Questionamentos
que
nos
orientem
na
procura
paralela
de
alguns
vestígios
ou
respostas
em
práticas
anteriores,
de
professores(as)
antigos(as)
e
em
contextos
diferentes
que
de
alguma
forma
na
comparabilidade
destas
histórias
de
vidas
como
leitores
e
como
formadores
de
leitores,
considerando
as
suas
individualidades
e
as
variações
históricas
de
suas
formações,
nos
ressaltem
a
disparidade
das
suas
“utensilagens
mentais”
(CHARTIER,
2003),
esclarecendo-‐nos
e
nos
contestando,
o
porque
desta
realidade.
Se
para
Cramer
e
Castle
(2001),
a
aliteratura,
pode
ser
atualmente
um
problema
maior
que
o
analfabetismo,
parecendo
cada
vez
mais
evidente,
que
os
principais
impedimentos
à
alfabetização
não
são
de
natureza
cognitiva,
podendo-‐se
traduzir
esta,
“[...]
na
falta
de
hábito
da
leitura,
especialmente
em
leitores
capazes
que
preferem
não
ler”
(CRAMER;
CASTLE,
2001,
p.14);
leitores(as)
que
não
apresentam
dificuldades
para
aprender,
mas
não
o
desejam.
Para
Kline
(2001)
existe
um
falso
analfabetismo
irreversível,
se
analisados
a
quantidade
de
papel
com
mensagens
impressos36
destinados
às
lixeiras.
Na
realidade,
para
este
autor,
o
que
está
mudando,
é
o
que
se
está
lendo
e
o
por
que
se
está
lendo.
Por
outro
lado,
a
não
preocupação
dos(as)
professores(as)
com
as
crenças
do(a)
aluno(a),
as
atitudes,
os
motivadores
externos
e
o
estado
emocional
como
fatores
que
influenciam
a
intenção
de
ler
e
os
comportamentos
causalmente
ligados
com
o
ambiente
do
leitor
ou
com
sua
estrutura
social,
faz
da
prática
leitora,
uma
atividade
decodificadora,
mecânica
e
não
significativa37
(McKENNA,
2001).
Se
o
inovar
sobre
as
práticas
tradicionais
do
ato
de
ler,
para
alguns
autores,
se
baseia
em
focalizar
não
só
os
aspectos
cognitivos;
mas
em
considerar
os
aspectos
afetivos
e
que
estes
sejam
tratados
de
forma
organizada,
visando
o
cultivo
do
amor
pela
leitura
(CRAMER;
CASTLE,
2001);
para
outros,
o
optar
por
ler
é
muito
mais
importante
que
o
gostar
de
ler
(KLINE,
2001),
constituindo-‐se
esta
uma
escolha
circunstancial,
onde
o
quê
lê?,
por
que
lê?
e,
o
como
alguém
lê?,
é
muito
mais
importante
do
que
se
lê
ou
quando
lê,
já
que
o
amor
pela
leitura,
“[...]
não
é
a
única
área
na
esfera
afetiva,
nem
explica
a
maioria
de
nossas
razões
cotidianas
para
ler”
(KLINE,
2001,
p.
25).
O
dominar
o
papel
da
atitude38
como
agente
causal
no
ato
da
leitura
ou
no
período
que
a
pessoa
aprende;
o
relacioná-‐lo
com
o
papel
proposto
pelas
normas
subjetivas
ou
as
crenças
e
expectativas
mantidas
por
pessoas
significativas
no
ambiente
do
leitor;
e
por
último,
o
acréscimo
da
intenção
de
ler
e
da
importância
dos
fatores
internos
e
externos
nessa
intenção;
não
são
suficientes
para
justificar
muitos
36
Em detrimento dos profetas do nirvana eletrônico que continuam a ver uma sociedade sem papel
(KLINE, 2001).
37
Olhar os modelos expostos por Mathewwson (1994), Ruddell-Speaker (1985), Fishbein e Ajzen
(1975,1980, 1989), revisão de Liska (1984) expondo as formas de aquisição de atitude de leitura
(McKENNA, 2001).
38
Predisposição condicionada a responder de uma maneira consistentemente favorável ou desfavorável
com relação a um determinado objeto (McKENNA,2001).
comportamentos,
em
especial,
aqueles
que
necessitam
de
habilidades
e
de
interações
sociais
segundo
o
pensamento
liskaniano39.
Afetando
desta
forma,
a
‘atitude’
diretamente;
isto
é,
o
comportamento
sem
ser
medido
pelas
intenções.
Por
outro
lado
se
na
visão
de
Mckenna
(2001),
a
intenção
de
ler
do
aluno
se
dá
por
suas
crenças
e
pelas
expectativas
do
professor,
e
o
conhecimento
da
expectativa
deste
último,
penetra
no
conjunto
de
crenças
normativas
do
aluno,
estas
crenças40
que
estão
casualmente
relacionadas
com
o
desenvolvimento
da
atitude,
se
faz
necessário
e
importante,
entendê-‐las,
influenciá-‐las
e
modificá-‐las
(MCKENNA,
2001),
encorajando
o
aprendiz
a
desenvolver
a
autoconfiança,
sua
independência
e
uma
disposição
para
aprender.
Conhecer
as
crenças
proeminentes
de
um
aluno
a
partir
da
sua
classificação
sobre
as
varias
afirmações
com
respeito
à
leitura
ou
deduzindo
finalizações
de
seus
comentários
abertos
sobre
o
tema
em
questão,
seria
uma
prática
inovadora
que
mais
que
interpretar
os
conceitos
e
as
atitudes
do
docente
num
contexto
determinado,
ajudariam
ao
professor
a
transformar
essas
crenças:
enfraquecendo-‐as
ou
eliminando-‐
as,
introduzindo
novas
crenças
em
relação
ao
ato
praticado
de
leitura
ou,
mudando
a
forma
como
o
estudante
avalia
os
atributos
desta
prática,
onde
de
fato,
é
“[...]
o
conjunto
de
análise
da
realidade,
sobre
a
qual
se
pretende
agir,
e
a
visão
da
realidade
que
se
pretende
criar,
o
detonador
de
mudanças”
(FINO,
2003,
p.3),
residindo
esta
inovação,
não
nos
artefatos
tecnológicos,
mas
fora
deles.
Mudanças
que
para
ser
concretizadas,
o
professor
deve
ter
presente
os
fatores
que
afetam
o
desenvolvimento
da
atitude
de
leitura,
refletindo
sobre
o
papel
que
estas
crenças
do
leitor
exercem
sobre
o
ato
de
ler
e
seus
resultados;
sobre
o
próprio
ato
de
leitura
e;
sobre
as
expectativas
sociais
dos
outros
e
a
motivação
para
ajustar-‐se
a
elas,
sejam
em
situações
de
aprendizado
cooperativo,
sejam
em
programas
de
envolvimento
parental
ou
de
tutelagem,
redesenhando
o
contexto
em
que
a
tecnologia
será
utilizada
a
partir
de
sua
experiência
e
criatividade.
“A
influência
da
cultura,
da
família,
do
grupo
de
iguais
e
de
outros
fatores
ambientais,
leva
a
crenças
sobre
o
quanto
a
leitura
é
valorizada
pelas
pessoas”
(McKENNA,
2001,
p.
44).
39
Pensamento expresso no modelo de Liska (1984), que (re)significa as formas de aquisições das
atitudes de leitura. (MCKENNA, 2001)
40
Descritivas –observação pessoal direta–, deduzíveis –conclusões lógicas– e, informativas –
adquiridas de fontes externas–, (FISHBEIN e AJZEN 1989 apud McKENNA, 2001).
As
competências
dos
professores,
as
considerações
afetivas
e
suas
atitudes
em
relação
aos
alunos
são
os
fatores
mais
importantes
que
influenciam
o
desenvolvimento
de
sua
formação
leitora,
independentemente
do
que
as
crianças
trazem
de
casa,
devendo
elas,
“[...]
experimentar
o
sucesso,
especialmente
quando
estão
aprendendo
a
ler”
(DWYER,
J;
DWYER,
E.,
2001,
p.83).
Leitura,
que
ao
mesmo
tempo
em
que
é
observadora,
é
participante,
denunciando
uma
diferença
quando
as
atividades
são
realizadas
pelo
próprio
interesse
dos
discentes41
ou
realizada
devido
a
recompensas
externas42
(NELL,
2001),
no
local
da
sociabilidade
do
ato
de
ler
(SILVA,
2000).
Para
Sousa
(2004,
p.159)
o
professor
que
se
define
por
inovar
sua
prática
é
levado:
A
sair
do
espaço
particular
que
a
autonomia
lhe
dá,
a
romper
o
status
que
ela
consegue
distanciar-‐se
do
objetivo
presente,
aqui
e
agora,
e
assumir
uma
atitude
crítica
projetando-‐se
sempre
no
futuro.
É
capaz
de
fazer
a
avaliação
do
meio
social
onde
se
integra
sem
ter
medo
das
reações
dos
que
a
envolvem.
Considera-‐se
uma
pessoa
criativa,
com
projetos,
com
imaginação...
concebe-‐se
participando
na
transformação
progressiva
do
seu
meio,
não
criticando
apenas
por
criticar,
porque
a
sua
crítica
é
sempre
acompanhada
de
capacidade
de
mudança.
Professores
que
quando
forçados
a
ter
que
escolher
entre
o
encontro
da
leitura
afetiva
e
estruturar
os
aspectos
da
alfabetização;
isto
é,
escolher
entre
o
promover
atitudes
positivas
e
enfatizar
o
desenvolvimento
das
habilidades;
estas
últimas,
se
fazem
quase
sempre
as
mais
importantes.
Na
realidade,
são
as
atitudes
em
relação
à
alfabetização
que
deveriam
ser,
o
outro
do
planejamento
e
das
atividades
do
ensino
e
aprendizagem
da
leitura
como
estratégia
de
mudança
e
de
criatividade,
tendo
como
resultado
“[...]
um
ambiente
onde
os
alunos
se
entregaram
aos
seus
trabalhos
com
um
grau
de
motivação
intrínseca
muito
elevado,
a
ponto
de
dispensar
qualquer
tipo
de
apelo
ou
de
encorajamento”
(FINO,
2001,
p.9).
Mudanças
na
prática
pedagógica
do
professor
como
facilitador,
tendo
expectativas
positivas
sobre
o
potencial
do
docente,
como
também,
mudanças
no
comportamento
do
aluno
frente
à
materialidade
impressa
e
a
sua
apropriação
ou
reapropriação
(CHARTIER,
2003).
“Se
ensinarmos
uma
criança
a
ler,
mas
se
não
desenvolvemos
o
gosto
dela
pela
leitura,
todo
nosso
ensino
é
em
vão.
Teremos
produzido
uma
nação
de
‘alfabetizados
analfabetos’,
aqueles
que
sabem
ler
mas
não
leem”
(HUCK,
1973,
p.
203
apud
HEATHINGTON,
2001,
p.221),
ou
produzidos
aqueles
que
sabendo
ler,
não
sabem
por
quê,
quando
41
Atividades paratélicas
42
Atividades télicas.
ler,
ou
o
que
ler.
Conclusão
Acreditamos,
a
partir
de
todos
estes
argumentos,
que
os
professores
devam
considerar
as
vidas
de
seus
alunos
e
começarem
a
entender
o
por
quê
alguns
deles,
não
podem
responder
no
mesmo
ritmo
de
outros.
Tratarem
de
mudar
a
visão
sedimentada
que
eles
têm
sobre
o
conceito
de
leitor
relutante
ou
reticente,
e
substituí-‐la
por
leitor
desmotivado,
compreendendo
que
discentes
fracassados
na
leitura,
não
necessitam
de
ser
culpados,
e
sem
de
ser
ajudados,
a
terem
sucesso
no
ato
de
ler.
Refletirem,
que
se
estes
alunos
não
têm
conseguido
aprender,
foi
porque
eles,
como
professores
e
formadores
de
leitores,
não
têm
cumprido
o
seu
papel
e
não
os
têm
ensinado.
Seguindo
constantemente
padrões
inúteis
nas
suas
práticas
e
tendo
ignorado
totalmente
as
suas
necessidades,
já
que
um
dia,
estes
não-‐leitores,
estiveram
dispostos
e
acreditaram
que
poderiam
ler,
alunos
que
“[...]
sempre
quiseram
ler,
ainda
querem,
simplesmente
se
pudessem
fazê-‐lo”
(SCHULTZ,
201.
p.
246).
Uma
mudança
de
critérios,
ações
e
reflexões
dos(as)
professores(as)
leitores(as)
e
formadores(as)
de
leitores(as),
uma
mudança
nas
práticas
e
nos
procedimentos
adotados
na
sala
de
aula
no
ato
de
ler,
seria
parafraseando
Elias(
1994),
dar
um
golpe
de
mestre
no
tabuleiro
societal
e
cultural
destes
discentes
e,
nas
situações
de
leitura
que
os
mesmos
se
encontram.
Tendo
como
resposta,
um
contra
golpe
que
vire
o
jogo,
transformando,
sejam
leitores
relutantes
ou
desmotivados,
sejam
os
não-‐leitores
ou
os
aliterados;
em
leitores
para
toda
a
vida.
Os
professores
paralelamente
às
análises
das
crenças
dos
alunos
de
sua
sala
de
aula,
devem
examinar
num
processo
continuum
suas
próprias
crenças
sobre
o
ensino
da
alfabetização.
Crenças
vindas
de
muitos
eventos
e
de
muitas
fontes
passadas:
o
como
foram
ensinados
na
escola
enquanto
crianças;
como
foram
educados
para
ensinar
por
seus
professores
no
magistério;
como
foram
treinados
por
seus
professores
monitores
e
o
como
aprenderam
a
ensinar
por
sua
própria
conta.
Crenças
derivadas
de
suas
experiências
e
de
suas
vivências
no
plano
educativo,
refletidas
nos
comportamentos
e
formando
a
base
do
papel
que
eles
desempenharão
no
incentivo
das
atitudes
em
relação
à
alfabetização.
Crenças
sobre
práticas
inovadoras
no
ensino
e
aprendizagem
da
leitura
e
na
formação
leitora
dos
alunos
que
serão
concebidas
e
significadas,
não
pela
tecnologia
imposta,
mas
pela
experiência
pedagógica
e
o
desejo
de
transgressão
do
professor
ao
criar
novos
ambientes
e
novas
estratégias
que
valorizem
o
conhecimento
anterior
dos
seus
alunos,
que
respondam
a
suas
necessidades
e
propiciem
novas
alternativas
de
compreensão
e
entendimento.
Crenças
negociadas
e
contestadas,
num
spannungsgleichgewicht43,
nas
situações
de
leitura
com
os
atores
envolvidos
no
ato
de
ler,
expressadas
e
materializadas
na
práxis
educativa.
Lugar
onde
nós
nos
tornamos
aprendizes
literários
“[...]
descobrindo
como
tomar
nossas
próprias
decisões
enquanto
observamos
atentamente
os
comportamentos
de
leitura
e
escrita
do
professor”
(CASTLE,
2001,
p.
167).
Afirmação
que
contribui
para
a
configuração
atual
das
práticas
leitoras
no
cotidiano
escolar.
REFERÊNCIAS
BATISTA,
Antonio
Augusto
Gómez.
Um
objeto
variável
e
instável:
textos,
impressos
e
livros
didáticos.
In:
Leitura,
história
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São
Paulo:
Fapesp,
1999.
BELO,
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História
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Belo
Horizonte:
Autêntica,
2002.
CANDAU,
Vera
Maria.
Sociedade,
Educação
e
Cultura(s).
Editora
Vozes:
Petrópolis,
2002.
CASTLE,
Marrietta.
Ajudando
as
crianças
na
escolha
de
livros.
In:
Incentivando
o
amor
pela
leitura.
Porto
Alegre:
Artmend,
2001.
cap.
10.
CHARTIER,
Roger.
A
ordem
dos
livros:
leitores,
autores
e
bibliotecas
na
Europa
entre
os
séculos
XVI
e
XVIII.
Brasília:
Universidade
de
Brasília,
1994.
________.
Formas
e
sentido.
Cultura
escrita:
entre
distinção
apropriação.
São
Paulo:
Mercado
de
Letras
(ALB),
2003.
CRAMER,
Eugene
H.;
CASTLE,
Marrietta.
Desenvolvendo
leitores
para
toda
a
vida.
In:
Incentivando
o
amor
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leitura.
Porto
Alegre:
Artmend,
2001.
Introdução.
DWYER,
Edward
J;
DEYER,
Evelyn,
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Como
as
attitudes
do
professor
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o
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da
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In:
Incentivando
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Artmend,
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Cap.
5,
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ELIAS,
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FINO,
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“Escola
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Pena:
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Actas
do
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2001.
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Equilíbrio de tensões, conforme Elias (1994).
FINO,
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O
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formação
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da
Madeira.
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A
Formação
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Professores
à
Luz
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Actas
do
XII
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Universidade
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GOFFMAN,
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A
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GOULEMOT,
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In:
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Artmend,
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KLEIN,
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McKENNA,
Michael
C.
Em
direção
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um
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Incentivando
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Artmend,
2001.
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NELL,
Victor.
O
apetite
insaciável.
In:
Incentivando
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amor
pela
leitura.
Porto
Alegre:
Artmend,
2001.
cap.
14.
SCHULTZ,
Irene.
Escrevendo
histórias
para
leitores
desmotivados...por
que
é
necessário?.
In:
Incentivando
o
amor
pela
leitura.
Porto
Alegre:
Artmed,
2001.
Cap.
16.
p.
243-‐253.
SILVA,
Tomas
Tadeu
da
(org).
Identidade
e
diferença:
a
perspectiva
dos
estudos
culturais.
Rio
de
Janeiro:
Vozes,
2000.
SOUSA,
Jesus
Maria.
Trabalhar
com
cenários
do
futuro.
In:
O
particular
e
o
global
no
virar
do
milênio:
cruzar
saberes
em
educação.
Lisboa:
Edições
Colobri/Sociedade
Portuguesa
de
Ciências
da
Educação,
2002.
p.
699
–706.
SOUSA,
J.
M..
Educação:
textos
de
intervenção.
Funchal:
Editora
Liberal,
2004.
ZILBERMAN,
Regina;
LAJOLO,
Marisa.
A
formação
da
leitura
no
Brasil.
São
Paulo:
Ática,
1996.
ESCOLA,
REPRESENTAÇÕES
SOCIAIS
E
REPRESENTAÇÃO
DO
EU:
INVESTIGANDO
O
COTIDIANO
Walcéa
Barreto
Alves
Esta
pesquisa
busca
compreender
como
as
representações
sociais
que
os
alunos
têm
sobre
a
escola
permeiam
a
construção
da
sua
autoimagem.
O
objetivo
principal
consiste
em
averiguar
de
que
forma
estas
representações
interferem
na
construção
subjetiva
da
identidade
do
aluno
enquanto
tal
e
que
consequências
estas
podem
trazer
para
o
processo
de
ensino-‐aprendizagem.
O
referencial
teórico
que
norteia
a
investigação
é
a
teoria
das
representações
sociais,
de
Serge
Moscovici,
trazendo
a
compreensão
de
que
estas
representações
são
produto
do
diálogo
constante
entre
o
individual
e
o
coletivo.
No
percurso
dos
estudos
sobre
a
escola
e
sobre
o
“sujeito
aprendiz”
–
o
aluno
-‐
a
teoria
das
representações
sociais,
de
Serge
Moscovici,
se
apresentou
como
um
caminho
instigante
para
embasar
a
investigação
do
que
pretendemos
analisar
a
respeito
do
encontro
–
e
por
que
não,
também
desencontros
-‐
entre
o
individual
e
o
social
na
dinâmica
do
processo
educativo.
Mais
especificamente
neste
estudo,
intento
relacionar,
como
as
representações
sociais
da
escola
podem
ir
ao
encontro
da
constituição
do
indivíduo
em
seu
papel
de
aluno.
Para
tanto,
buscamos
apoio
também
em
Erving
Goffman
para
delinearmos
o
conceito
de
“representação
do
eu”,
que
pretendemos
desenvolver
neste
trabalho.
Como
metodologia,
a
abordagem
etnográfica
é
o
nosso
referencial
de
prática
de
pesquisa,
que
norteia
a
investigação
no
sentido
de
poder
captar
do
cotidiano
da
escola
as
vivências,
interações
e
os
significados
que
emergem
das
redes
de
relações
que
constituem
a
dinâmica
da
sala
de
aula.
O
levantamento
de
dados
recorre
à
utilização
de
ferramentas
da
pesquisa
de
abordagem
etnográfica,
tais
como
a
observação
participante,
anotações
de
campo,
realização
de
questionários
e
entrevistas,
procurando-‐se,
nas
respostas
dos
sujeitos,
as
suas
representações.
As
análises
orientam-‐se
pelas
dimensões
das
representações
sociais,
a
atitude,
a
informação
e
o
campo
de
representação,
empregando-‐se
a
metodologia
de
análise
de
conteúdo,
fundamentada
em
Bardin
(2006).
As
representações
sociais
Em
seu
todo,
a
dinâmica
das
relações
é
uma
dinâmica
de
familiarização,
onde
os
objetos,
pessoas
se
acontecimentos
são
percebidos
e
compreendidos
em
relação
a
prévios
encontros
e
paradigmas.
Com
resultado
disso,
a
memória
prevalece
sobre
a
dedução,
o
passado
sobre
o
presente,
a
resposta
sobre
o
estímulo
e
aas
imagens
sobre
a
“realidade”(...)
essa
consciência
é
usada
também
como
um
critério
para
avaliar
o
que
é
incomum,
anormal
e
assim
por
diante.
Ou,
em
outras
palavras,
o
que
é
não-‐familiar
(2003,
p.55).
Esta
dinâmica
das
relações
pode
ser
entendida
como
uma
espécie
de
“tradução”
de
algo
que
não
é
comum
ao
conhecimento
de
um
determinado
grupo.
Este
movimento
implicaria
numa
certa
estratégia
de
sobrevivência
frente
ao
que
é
novo,
visto
que
conformando-‐o
ao
que
já
é
conhecido,
torna
a
convivência
e
a
compreensão
mais
aceitáveis
e
“suportáveis”.
Todo
este
processo
se
voltaria
para
o
estabelecimento
de
um
equilíbrio
frente
a
algo
que
vem
de
fora,
algo
diferente,
que
provoca
desarmonia
e
instabilidade
nos
esquemas
conceituais
que
o
grupo
já
possui.
Encontramos
referência
bem
próxima
e
análoga
à
teoria
de
Piaget
sobre
a
construção
do
conhecimento
quando
ele
cita
a
necessidade
do
organismo
em
assimilar
e
acomodar
novos
conhecimentos
a
fim
de
restabelecer
o
equilíbrio
que
foi
desestabilizado
diante
do
novo
conhecimento
adquirido
pelo
indivíduo.
Da
mesma
forma,
“as
representações
sociais
constituem
campos
de
saber
em
movimento
que,
por
meio
de
processo
de
comunicação,
empregam
a
ancoragem
e
a
objetificação
para
tornar
o
não-‐familiar
familiar”
(JOVCHELOVITCH,
2008,
p.108).
Os
dois
processos
geradores
das
representações
sociais,
a
ancoragem
e
a
objetivação,
são
similares
aos
processos
de
assimilação
e
acomodação
descritos
na
Epistemologia
Genética
formulada
por
Piaget.
Moscovici,
no
entanto,
aprofunda
e
particulariza
os
conceitos
através
de
uma
aplicabilidade
psicossocial
no
entendimento
da
formação
das
representações
sociais.
Destaca
que
“o
primeiro
mecanismo
tenta
ancorar
ideias
estranhas,
reduzi-‐las
a
categorias
e
a
imagens
comuns,
colocá-‐las
em
um
contexto
familiar”
(2003,
p.60),
enquanto
que
“o
objetivo
do
segundo
mecanismo
é
objetivá-‐los,
isto
é,
transformar
algo
abstrato
em
algo
quase
concreto,
transferir
o
que
está
na
mente
em
algo
que
exista
no
mundo
físico”
(idem,
p.61).
O
autor
coloca
que
o
processo
de
classificar,
nomear
determinada
coisa
que
pareça
estranha
à
primeira
vista,
o
que
consiste
na
ancoragem,
permite
que
ela
entre
em
um
campo
de
aproximação
e
de
aceitação
dentro
de
algo
que
já
pode
ser
reconhecido
com
base
em
uma
referência
anterior.
“Ao
nomear
algo,
nós
o
libertamos
de
um
anonimato
perturbador,
para
dotá-‐lo
de
uma
genealogia
e
para
incluí-‐lo
em
um
complexo
de
palavras
específicas,
para
localizá-‐lo,
de
fato
na
matriz
de
identidade
de
nossa
cultura.”
(idem,
p.66).
Ela
opera
no
sentido
do
pensamento
conceitual,
ligando,
referenciando
os
novos
conhecimentos
num
sistema
pré-‐existente
(Sá,
2007).
A
ancoragem
dá
sentido
ao
objeto,
aproxima-‐o
daquilo
que
já
se
conhece.
A
ancoragem,
desta
forma,
consiste
num
movimento
de
se
trazer
o
que
não
se
conhece
para
o
universo
conhecido.
A
objetivação,
segundo
Moscovici,
consiste
em
“reproduzir
um
conceito
em
uma
imagem”
(2003,
p.71-‐72).
Ela
dá
forma
à
representação,
tornando-‐a
parte
da
realidade
existente,
simboliza
figurativamente
o
conceito,
dando-‐lhe
concretude,
tornando-‐o
como
que
palpável.
Ela
está
relacionada
à
atividade
perceptiva
no
processo
de
formação
da
representação
social
(Sá,
2007).
A
objetivação
tem
uma
construção
seletiva.
Tem
certa
propriedade
de
“cortar
e
colar”,
num
processo
de
esquematização.
Esse
movimento
reconfigura
as
características
e
cria
uma
nova
representação,
transforma
um
objeto
solto,
disperso,
em
algo
único,
em
objeto
específico.
E
a
partir
daí
se
naturaliza
o
objeto.
Estes
dois
processos
caracterizam
a
formação
das
representações
sociais.
Ambos
fazem
parte
do
pensamento
natural,
diferente
do
pensamento
científico,
que
tem
outros
cânones
e
objetivos.
Moscovici
(2003)
coloca
que
a
concentração
de
seus
estudos
é
na
emergência
das
representações
sociais,
por
considerar
ser
o
processo
de
transformação
o
momento
ideal
para
que
os
fenômenos
sejam
percebidos
com
mais
clareza.
A
TRS
considera
os
conhecimentos
em
sua
especificidade,
sem
delegar
julgamento
de
valor
a
estes.
Não
considera
um
tipo
de
conhecimento
como
superior
ao
outro,
mas
destaca
cada
um
em
sua
essência
e
na
escala
de
importância
que
representa
àquele
meio
social.
Daí
a
ruptura
de
Moscovici
tanto
com
Piaget
quanto
com
Durkheim
–
ambos
partem
de
uma
concepção
evolucionista
do
pensamento
–
para
o
primeiro,
as
estruturas
do
pensamento
infantil
eram
inferiores
ao
pensamento
adulto,
tendo
o
organismo
que
alcançar
a
maturidade
evolutiva
a
fim
de
alcançar
o
pensamento
lógico,
que
seria
o
mais
completo
e
“ideal”;
para
o
segundo,
o
pensamento
primitivo
seria
uma
forma
mais
elementar
do
“pensamento
civilizado”.
O
que
se
preconizava
nestes
teóricos
era
a
substituição
de
um
pensamento
mais
elementar
por
um
pensamento
mais
elaborado.
Inspirado
por
Lévy-‐Bruhl,
Moscovici
se
opõe
a
este
tipo
de
entendimento,
defendendo
a
coexistência
de
diversas
formas
de
pensar,
baseado
na
compreensão
da
existência
de
diversos
tipos
de
racionalidade,
regidas
cada
qual
por
suas
peculiaridades.
Assim,
entende
Sendo
assim,
muito
mais
que
um
simples
reflexo
da
realidade
vivenciada
pelos
indivíduos,
as
RS
fazem
parte
do
processo
ativo
de
construção
de
identidade
do
grupo,
tendo
papel
fundamental
na
coesão
dos
indivíduos
pertencentes
àquele
meio
social,
assim
como
na
condução
e
prescrição
de
comportamentos,
ações,
julgamentos
e
formação
de
identidade
grupal.
As
representações
têm
também
por
função
situar
os
indivíduos
e
os
grupos
no
campo
social
[permitindo]
a
elaboração
de
uma
identidade
social
e
pessoal
gratificante,
ou
seja,
compatível
com
sistemas
de
normas
e
de
valores
social
e
historicamente
determinados.
(...)
A
referência
às
representações
como
definindo
a
identidade
de
um
grupo
vai
por
outro
lado
desempenhar
um
papel
importante
no
controle
social
exercido
pela
coletividade
sobre
cada
um
de
seus
membros,
em
particular
nos
processos
de
socialização
(ABRIC
apud
BASSANI,
2007).
Pode-‐se
afirmar
que
o
posicionamento
de
Moscovici
dentro
desta
discussão
está
bem
delimitado
no
conceito
de
polifasia
cognitiva,
que
ele
mesmo
formulou
e
que
aqui,
foi
referenciado
por
Jovchelovitch
(2008):
“A
polifasia
cognitiva
refere-‐se,
pois
a
um
estado
em
que
diferentes
tipos
de
saber,
possuindo
diferentes
racionalidades,
vivem
lado
a
lado
no
mesmo
indivíduo
ou
coletivo”
(p.125).
Tal
definição
pontua
a
variabilidade
de
sistemas
de
saber,
tornando
relevante
e
indispensável
o
entendimento
da
diversidade
como
pressuposto
inerente
à
necessidade
de
compreender
as
diferentes
formas
que
o
conhecimento
assume
e
as
racionalidades
diversas
que
lhe
sustentam.
A
teoria
das
representações
sociais,
(...)
toma,
como
ponto
de
partida,
a
diversidade
dos
indivíduos,
atitudes
e
fenômenos,
em
toda
sua
estranheza
e
imprevisibilidade.
Seu
objetivo
é
descobrir
como
os
indivíduos
e
grupos
podem
construir
um
mundo
estável,
previsível,
a
partir
de
tal
diversidade
(MOSCOVICI,
2003,
p.79).
Partindo
do
princípio
de
que
“todo
conhecimento
é
ao
mesmo
tempo
simbólico
e
social”
(JOVCHELOVITCH,
2008,
p.88),
podemos
compreender
que
a
diversidade
é
intrínseca
ao
processo
de
construção
de
saberes,
visto
que
o
simbólico
é
sempre
composto
por
vários
sujeitos
que
compõem
este
simbólico,
a
nível
individual,
e
que
o
social
tanto
permeia
quanto
é
permeado
por
este
fluxo
de
representações.
No
que
tange
ao
desenvolvimento
da
teoria
e
ao
movimento
atual
de
quebra
de
paradigma
da
hegemonia
da
racionalidade
científica,
a
constatação
da
diversidade
como
elemento
basal
da
sociedade
contemporânea
e
a
abertura
do
diálogo
entre
as
diversas
racionalidades
possibilitarão
a
produção
e
valorização
dos
saberes
em
contexto,
ampliando
os
horizontes
de
uma
nova
concepção
de
ciência.
O
reconhecimento
da
diversidade
nas
lógicas
contidas
em
visões
de
mundo
e
da
coexistência
de
diferentes
racionalidades
no
mesmo
grupo
de
pessoas
não
apenas
elimina
muitos
dos
efeitos
deformadores
das
construções
cêntricas,
mas
também
contribui
para
ampliar
a
sabedoria
da
razão,
para
a
produção
de
uma
razão
que,
em
vez
de
negar,
é
capaz
de
comunicar-‐se
com
suas
próprias
diferenças
(JOVCHELOVITCH,
2008,
p.
126).
No
meu
entender,
este
trabalho
serve
como
uma
espécie
e
manual
que
descreve
detalhadamente
uma
perspectiva
sociológica
a
partir
da
qual
é
possível
estudar
a
vida
social,
principalmente
aquela
que
é
organizada
dentro
dos
limites
físicos
de
um
prédio
ou
de
uma
fábrica
(p.9).
A
escola
precisa
ser
vista
como
outro
espaço.
Talvez
precise
ouvir
do
outro
qual
é
o
seu
lugar;
talvez
precise
dar
voz
à
diferença
para
que
ela
própria
diga
qual
é
a
sua
temporalidade
e
sua
espacialidade.
Deve
dar
o
direito
à
narração,
possibilitando
uma
interlocução
que
possibilite
um
entendimento
e
entrecruzamento
de
linguagens.
Procedimentos
metodológicos
A
pesquisa
do
cotidiano
escolar
e
dos
processos
educacionais
tem
a
peculiaridade
de
se
realizar
meio
a
uma
dinâmica
intensa
de
interações
e
construção
de
significados.
Considera-‐se,
nesta
conjuntura,
ser
essencial
uma
investigação
imbuída
da
contextualização
da
realidade
vivenciada
pelos
sujeitos
do
processo
educativo.
É
de
extrema
importância
a
inserção
da
pesquisa
no
dia
a
dia
da
escola,
para
que
os
significados
que
dele
emergem
possam
ser
vivenciados
também
no
processo
de
pesquisa
e
entendidos
à
luz
do
contexto
macro
e
micro
social
do
qual
a
escola
faz
parte.
Na
perspectiva
de
estudar
o
cotidiano
escolar
a
partir
da
ótica
dos
próprios
integrantes
deste
contexto,
utilizamos
como
referencial
metodológico
a
investigação
de
base
qualitativa
e
de
cunho
etnográfico.
Buscamos,
através
desta
metodologia,
enfatizar
“os
aspectos
subjetivos
do
comportamento
humano
e
preconiza
que
é
preciso
penetrar
no
universo
conceitual
dos
sujeitos
para
poder
entender
como
e
que
tipo
de
sentido
eles
dão
aos
acontecimentos
e
às
interações
sociais
que
ocorrem
em
sua
vida
diária.”
(ANDRÉ,
1995,
p.18).
Consideramos
como
importantes
fontes
de
coleta
de
dados
a
observação
participante,
a
descrição
densa
dos
fatos
observados
e
entrevistas
semiestruturadas,
que
são
instrumentos
que
constituem
a
abordagem
etnográfica
de
investigação.
A
proposta
da
etnografia
é
que
o
pesquisador
atue
como
um
observador
perspicaz
e
atento
aos
acontecimentos,
interações
e
significações
do
locus
de
estudo.
Daí
entendermos
como
uma
proposta
de
investigação
propícia
às
questões
de
pesquisa.
Diante
do
impacto
que
as
representações
sociais
têm
sobre
o
comportamento
dos
sujeitos
que
compõe
determinada
realidade
e
diante
da
dinâmica
do
cotidiano
escolar,
a
abordagem
etnográfica
se
apresenta
como
instrumento
para
“desvelar
os
encontros
e
desencontros
que
permeiam
o
dia-‐a-‐dia
da
prática
escolar,
descrever
as
ações
e
representações
dos
seus
atores
sociais,
reconstruir
sua
linguagem,
suas
formas
de
comunicação
e
os
significados
que
são
criados
e
recriados
no
cotidiano
do
seu
fazer
pedagógico”
(ANDRÉ,
1995,
p.41).
O
locus
da
pesquisa
é
uma
escola
da
rede
municipal
na
periferia
da
cidade
do
Rio
de
Janeiro.
Os
sujeitos
da
pesquisa
são
alunos
com
idade
entre
14
e
17
anos,
matriculados
no
9º
ano
do
ensino
fundamental.
A
entrada
no
campo
de
pesquisa
se
deu
no
segundo
semestre
de
2008.
Neste
período
foi
iniciada
a
observação
de
sala
de
aula.
Para
captar
as
representações
sociais
dos
alunos
sobre
a
escola,
foram
aplicados
questionários
de
Evocação
Livre
de
Palavras.
Ao
todo,
foram
aplicados
69
questionários.
Os
dados
obtidos
serão
processados
pelo
software
EVOC,
que
permite
a
visualização
do
quadro
de
quatro
casas,
que
reflete
a
estrutura
da
representação
social
do
termo
indutor
destacando
a
forma
como
os
indivíduos
representam,
no
caso
desta
pesquisa,
a
palavra
escola.
Considerações
finais
A
possibilidade
de
observar
e
acompanhar
o
cotidiano
dos
alunos
permitiu
uma
visão
da
dinâmica
da
escola
e
da
sala
de
aula,
as
relações
de
poder
envolvidas
no
processo
de
ensino-‐aprendizagem,
o
papel
representativo
de
cada
professor
colaborador,
da
direção
da
escola
e
dos
demais
colaboradores.
Desta
forma,
além
de
poder
ver
os
alunos,
em
geral
e
alguns
em
destaque
no
contexto
da
sala
de
aula,
pôde-‐se
entender
um
pouco
mais
da
dinâmica
da
instituição
como
um
todo
e
como
esta
interferia
em
cada
sala
de
aula.
A
abordagem
etnográfica,
assim,
permite
uma
visão
do
campo
das
representações,
do
texto
e
do
contexto
dos
indivíduos,
do
meio
em
que
estão
inseridos.
As
respostas
colhidas
através
do
questionário
de
evocação
livre
permitiram,
ainda
que
de
forma
bem
incipiente,
uma
visualização
das
concepções
que
os
alunos
têm
sobre
a
escola.
Em
continuidade
à
pesquisa
serão
realizadas
entrevistas
etnográficas
a
fim
de
aprofundarmos
os
dados
coletados
durante
a
observação
participante
e
nos
questionários
de
evocação
livre
e
explicitarmos
o
campo
representacional
que
envolve
os
atores
sociais
integrantes
da
pesquisa.
A
análise
dos
dados
será
realizada
através
do
método
indutivo
e
ferramentas
de
análise
de
discurso,
baseados
na
teoria
de
Laurence
Bardin.
Empregaremos
o
uso
de
vinhetas
etnográficas
a
partir
das
descrições
e
interpretações
dos
dados
de
campo,
acompanhadas
de
material
de
ligação
e
interpretação
consubstanciadas
ou
não
por
elementos
teóricos,
no
intuito
de
ilustrar
os
resultados
da
pesquisa.
Referências
ALVES,
Walcéa
Barreto.
A
Reflexividade
na
Pesquisa
Etnográfica.
Dissertação
de
Mestrado.
Programa
de
Pós-‐Graduação
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Uma
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311X1993000300017&script=sci_arttext&tlng>
Acesso
em
agosto
de
2009.
REPETÊNCIA:
UM
ESTUDO
DE
CASO
ETNOGRÁFICO
Suziane
de
Santana
Vasconcellos
Este
texto
foi
elaborado
a
partir
de
um
estudo
de
abordagem
etnográfica
que
foi
realizado
em
uma
1ª
série
(2º
ano)
do
Ensino
Fundamental
de
uma
escola
pública
do
estado
do
Rio
de
Janeiro
com
o
intuito
de
discutir
o
fenômeno
da
repetência
a
partir
da
perspectiva
dos
sujeitos
da
pesquisa,
docentes
e
alunos(as)
de
uma
classe
de
repetentes,
criada
exclusivamente
no
ano
de
2008
para
atender
esses
alunos(as)
que
passaram
pela
experiência
da
repetência,
entre
uma
a
cinco
vezes.
A
repetência
pode
ser
compreendida
a
partir
de
vários
pontos,
uma
vez
que
é
fenômeno
de
difícil
análise.
Portanto,
buscamos
primeiramente
compreender
esse
fenômeno
a
partir
de
estudos
acadêmicos
já
realizados
para
em
seguida
abordarmos
o
estudo
de
cunho
etnográfico
que
realizamos.
Tanto
na
literatura
acadêmica
quanto
no
‘senso
comum’,
este
conceito
é
expresso
por
um
conjunto
de
duplas
de
palavras
opostas;
reprovação
&
aprovação;
frequência
&
evasão;
promoção
&
repetência.
Entretanto,
seu
significado
no
âmbito
do
sistema
escolar,
está
relacionado
a
pelo
menos
dois
processos,
que
estabelecem
uma
relação
tempo
e
espaço
dentro
da
escola:
o
primeiro,
é
de
continuidade,
pois
durante
o
período
letivo,
alunos
são
aprovados,
reprovados,
frequentam
ou
não;
e
o
segundo
é
de
transição
entre
períodos
escolares,
momento
em
que
os
alunos
são
promovidos
para
a
série
seguinte,
repetem
e
cursam
a
mesma
série
no
ano
seguinte
ou
evadem-‐se
por
absenteísmo
(ALVES;
ORTIGÃO;
FRANCO,
2007,
p.
163).
Para
entender
a
importância
de
um
estudo
sobre
a
repetência
é
necessário
mostrar
alguns
dos
dados
nacionais,
reveladores
da
dificuldade
do
sistema
educacional
em
combater
a
repetência
escolar.
Análises
do
IBGE
(BRASIL,
2009)
mostram
que
a
taxa
brasileira
de
repetentes
para
o
último
ano
do
Ensino
Fundamental
é
de
78,0%,
e
que
este
número
se
concentra
na
população
urbana
e
rural
mais
pobre
do
País
(LA
CONCLUSIÓN,
2004
apud
IBGE,
2009,
p.43).
O
documento
oficial
explica
que
os
padrões
na
relação
entre
o
acesso,
a
progressão
e
a
conclusão
nesse
nível
de
ensino
são
assimétricos.
Explica
ainda
que
altas
taxas
de
repetência
escolar
no
país
são
comuns
para
os
países
latinos,
pois,
em
2006,
a
taxa
de
retenção
na
última
série
do
Ensino
Fundamental
era
de
98.0%,
para
Cuba
e
Venezuela,
e
de
80,0%,
para
Equador
e
Bolívia.
O
documento
também
serve
como
um
indicador
que
permite
estimar
quantos
alunos,
de
um
determinado
grupo,
iniciam
a
primeira
série
do
Fundamental
e
alçam
à
última
série,
assim
como
serve
88
para
avaliar
o
número
de
anos
que
os
alunos
despendem
para
concluírem
este
nível
de
ensino
(BRASIL,
2009).
No
entanto,
a
comparação
entre
alguns
países
revela
que
a
situação
do
Brasil
pode
ser
considerada
confortável,
se
comparada
às
taxas
desses
países,
tal
como
pode
ser
observado
no
gráfico
2.10,
apresentado
no
documento
(idem,
p.
430).
De
outra
feita,
dados
da
UNESCO
(2010),
combinando
repetência
e
evasão
escolar
na
America
Latina,
revelam
que
uma
vez
considerado
outro
corte
estatístico,
a
taxa
para
o
Brasil
fica
em
torno
de
24%,
seguido
da
Guatemala,
com
14,9%,
e
do
Peru,
com
10,2%.
A
argentina
apresenta
5,9%
de
reprovação
e
de
evasão,
as
menores
taxas
ficaram
para
Bolívia
e
Chile,
com
2,4%
e
Cuba,
com
1,9%.
Concluindo,
o
Brasil
lidera
o
ranking
da
repetência
e
da
evasão
escolar.
Estes
dados
apontam
ainda
a
existência
de
um
grande
número
de
alunos
fora
da
escola,
o
que
representa
cerca
de
2,4%
da
população
nessa
faixa
etária,
ou
seja,
algo
em
torno
de
680
mil
alunos
não
têm
acesso
à
escola.
Outro
indicador
para
medir
a
repetência
escolar
foi
criado
recentemente
pelo
sistema
educacional
brasileiro,
é
o
Índice
do
Desenvolvimento
da
Educação
Básica
(IDEB).
Criado
em
2005,
esta
avaliação
nacional
aponta
resultados
desalentadores
para
o
sistema
do
ensino
nacional.
Embora
tenham
se
expandido
nos
anos
noventa,
as
políticas
educacionais
compensatórias
e
assistencialistas,
tais
como:
a
promoção
automática,
a
progressão
continuada,
a
aceleração
da
aprendizagem,
o
sistema
de
ciclos
e
a
bolsa
família,
os
índices
do
IDEB
(quadro
II)
indicam
a
inoperância,
em
curto
prazo,
destas
políticas.
Vale
lembrar
que
procuramos,
ao
longo
deste
estudo,
compreender
a
repetência
em
sua
complexidade,
caracterizada,
dentre
outros
fatores,
por
revelar
instância
das
interrelações
entre
alunos,
escolas
e
famílias
(ORTIGÃO
e
ALVES,
2005).
Um
dos
pressupostos
é
o
de
que
a
reprovação
afeta
a
autoestima
e
a
motivação
do
aluno,
contribuindo
para
que
o
mesmo
se
sinta
incapaz
de
atender
às
exigências
da
escola.
Embora
esses
dados
sejam
reveladores
da
natureza
da
repetência,
nas
interações
de
sala
de
aula,
em
particular,
e
nas
interações
entre
os
alunos
e
a
escola,
os
alunos
e
suas
famílias
e
entre
as
famílias
e
a
escola,
pesquisas
anteriores
exploraram
o
tema
e
podem
contribuir
para
o
entendimento
do
mesmo.
Estudos
desenvolvidos
por
Ribeiro
(1991)
e
Patto
(1999)
são
marcos
teóricos
importantes
que
servem
de
ponto
de
partida
para
essas
análises.
Eles
tratam
da
repetência
e
do
fracasso
escolar,
permanecendo
como
referências
obrigatórias
para
os
estudos
sobre
repetência.
Entretanto,
nos
trabalhos
de
Pazello
(et
al,
2005)
e
Klein
(et
al,
2009)
é
que
podemos
encontrar
indicadores
sobre
os
sujeitos
da
repetência,
além
de
suas
percepções
sobre
a
forma
como
é
construída.
Ribeiro
(1991),
em
seus
estudos
sobre
a
repetência,
no
início
dos
anos
noventa,
revela
que
é
a
repetência,
e
não
a
evasão,
a
vilã
do
fracasso
escolar,
nos
anos
iniciais
do
Ensino
Fundamental.
O
autor
afirma
que
a
prática
da
repetência
está
inserida
na
pedagogia
educacional.
O
autor
investigou
ainda
a
distorção
idade/série,
atribuindo
à
repetência
o
peso
de
ser
uma
das
causas
deste
processo.
Na
época,
o
estudo
de
Ribeiro
(idem)
indicou
que,
na
primeira
série
do
Ensino
Fundamental,
a
repetência
era
mais
grave
e
preocupante,
do
que
nas
demais
séries
deste
nível
de
ensino.
Ele
afirmou
que
a
possibilidade
de
um
‘aluno
novo’
ser
aprovado
na
primeira
série
é
quase
o
dobro
daquele
que
já
sofreu
reprovação,
o
que
significou
dizer
que
a
repetência
levava
à
repetência,
melhor
dizendo,
quando
um
aluno
é
reprovado,
ele
aumenta
sua
probabilidade
de
novas
reprovações.
Outra
pesquisa
realizada
por
Patto
(1990),
nos
anos
noventa,
partiu
do
pressuposto
teórico
da
determinação
histórico-‐social.
Esta
pesquisa
utilizou
dados
de
observações
e
entrevistas
com
alunos
repetentes,
de
uma
escola
pública
da
periferia
da
cidade
de
São
Paulo,
bem
como
entrevistas
com
suas
famílias.
Neste
estudo
a
autora
explica
que
o
fracasso
escolar
está
historicamente
estruturado
nas
ações
dos
participantes
envolvidos
na
escola.
A
pesquisa
de
Ribeiro
(1991)
e
a
pesquisa
de
Patto
(1990)
sustentam
as
explicações
para
o
fracasso
escolar
em
pesquisas
atuais.
Assim,
para
entender
o
fracasso
escolar
é
preciso
entender
a
repetência.
As
explicações
e
definições
de
Pzello
et
al
(2005)
trazem
uma
contribuição,
nesse
caso,
repetentes
são
aqueles
que
cursam
uma
mesma
série,
após
terem
sido
reprovados
por
avaliação
ou
por
frequência.
Para
Klein
(et
al,
2009)
a
repetência
e
a
frequência,
na
mesma
série
do
ano
anterior,
seja
por
qualquer
motivo,
são
os
elementos
que
definem
se
um
aluno
é
repente.
Relacionar
a
repetência
à
avaliação
e
à
frequência
é
uma
definição
limitada
sobre
o
tema.
De
acordo
com
Klein
e
Fontive
existem
outros
motivos
que
podem
levar
à
reprovação
do
aluno,
como
os
já
apontados
por
Patto.
Entre
esses
motivos
destacamos
o
fato
de
que
a
repetência
e
a
multirreprovação
geram
a
distorção
idade-‐série.
Esta
pode
ser
definida
como
o
distanciamento
entre
a
idade
entendida
como
adequada
para
cada
série,
nas
diferentes
formas
de
organização
do
processo
de
escolarização.
O
MEC
considera
dois
anos
ou
mais,
como
uma
medida
para
a
distorção
idade-‐série
no
Brasil.
Esta
questão
tem
sido
acompanhada
pelo
Sistema
de
Avaliação
da
Educação
Básica
(SAEB)
que
tem
como
objetivo
sistematizar
informações
que
permitam
avaliar
a
evolução
da
qualidade
da
educação,
desde
os
anos
noventa,
informações
que
vem
sendo
utilizadas
principalmente
pelo
Ministério
da
Educação
e
pelas
secretarias
estaduais
e
municipais
de
educação,
na
definição
de
ações
voltadas
para
a
melhoria
dos
índices
da
escola
básica
problema.
O
sistema
de
avaliação
da
educação
básica
também
aponta
para
a
definição
e
direcionamento
de
recursos
técnicos
e
financeiros
às
áreas
consideradas
prioritárias,
visando
à
redução
das
desigualdades
educacionais.
O
SAEB,
criado
pela
Portaria
n.º
931,
de
21
de
março
de
2005,
é
composto
por
dois
processos:
a
Avaliação
Nacional
da
Educação
Básica
(ANEB)
e
a
Avaliação
Nacional
do
Rendimento
Escolar
(ANRESC).
Da
mesma
forma,
os
pesquisadores
discutem
que
a
reprovação
deriva
de
diversos
fatores,
tais
como:
a
renda
familiar,
a
quantidade
de
alunos
em
sala
de
aula,
o
nível
educacional
da
família,
a
baixa
autoestima
e
as
desigualdades
socioeducacionais
(GOUVEIA,
2000;
CRAHAY,
2006,
2007;
ORTIGÃO
e
ALVES,
2005).
Além
disso,
Mattos
(1992)
afirma
haver
diversas
nuances
da
repetência
e
que
estas
contribuem
para
o
crescimento
do
fracasso
escolar.
Pesquisando
repetentes
(com
um
histórico
de
cinco
anos
ou
mais),
a
autora
concluiu
que
a
repetência
pode
estar
relacionada
à
desorganização
da
escola,
à
fraca
formação
de
professores
para
lidar
com
os
alunos,
ao
desinteresse
de
alguns
alunos
sobre
as
atividades
escolares.
Ela
afirma
que
o
fracasso
escolar
pode
levar
à
morte
de
jovens,
pois
entre
quarenta
e
nove
(49)
jovens
participantes
de
sua
pesquisa,
dezenove
(19)
foram
assassinados,
antes
de
completarem
vinte
(20)
anos
(2007).
Outras
explicações
sobre
a
decisão
pela
repetência
estão
relacionadas
à
tradição
meritocrática
da
escola,
que
atribui
ao
próprio
aluno,
à
responsabilidade
pelo
seu
desempenho.
Desta
forma,
a
baixa
e
/ou
insuficiente
qualificação
do
aluno,
ou
seja,
o
não
domínio
do
conteúdo
estabelecido
para
a
série
cursada,
é
atribuído,
por
exemplo,
à
sua
capacidade
intelectual,
obtendo
ou
não
um
desempenho
adequado.
E
a
falta
de
conhecimento
passa
a
ser
um
objeto
individual
de
cada
aluno.
Neste
caso,
a
estratégia
é
de
“culpar
a
vítima”
(RYAN,
1971;
DUBET,
2003).
Com
isso,
a
“cultura
da
repetência”
(EARP,
2006)
está
presente
sistematicamente
no
sistema
escolar,
lembrando
que
quase
sempre
ela
não
oferece
opções
aos
repetentes
para
a
superação
de
suas
dificuldades.
A
reprovação
afeta
o
processo
de
escolarização
e
é
vista
no
plano
econômico
como
um
fato
difícil
de
ser
resolvido.
Barros;
Mendonça
(1998)
afirmam
que
o
custo
por
aluno
reprovado,
tanto
para
a
família
quanto
para
o
sistema
público,
funciona
como
um
bloqueio
à
escola
de
qualidade.
Góis
(2003,
p.01)
afirma
que
a
repetência,
não
só
prejudica
o
aluno,
como
também
gera
um
alto
custo
para
o
governo,
pois
se
o
aluno
leva
dez
anos,
ao
invés
de
nove,
para
concluir
o
Ensino
Fundamental,
“o
poder
público
terá
de
investir
25%
a
mais
nesse
aluno,
para
que
ele
consiga
atingir
o
nível
de
ensino
desejado”.
Os
custos
da
reprovação
no
Brasil
podem
ser
observados
em
um
levantamento,
com
base
nos
dados
do
Ministério
da
Educação
(MEC),
calculado
a
partir
das
estatísticas
mais
recentes,
do
Instituto
Nacional
de
Estudos
e
Pesquisas
Educacionais
Anísio
Teixeira
(Inep).
Com
base
nesses
dados
é
possível
afirmar
que
o
Brasil
pagou,
ou
ainda
paga,
dez
bilhões
e
seiscentos
milhões
de
reais
pela
reprovação,
pois
os
investimentos,
por
aluno,
na
educação
básica,
ficaram
em
torno
de
mil
e
quinhentos
reais
(R$
1,5
mil)
por
aluno.
Considerando
o
fato
de
que
mais
de
sete
(07)
milhões
de
alunos
sofreram
reprovação,
no
ano
de
2005,
o
país
precisou
repetir
o
gasto
feito
com
eles
(R$
10,6
bilhões)
no
ano
seguinte.
Deste
modo,
Góis
(2005)
afirma
que
o
governo
gasta
muitos
recursos
para
fazer
à
mesma
coisa.
Contudo,
o
foco
da
repetência,
nesta
dissertação,
não
é
o
econômico,
e
sim
o
educacional,
uma
vez
que
a
repetência
é
um
problema
que
permanece
sem
solução
na
educação
nacional.
A
repetência
pode
ser
considerada
positiva
para
a
aprendizagem
do
aluno,
pois
de
acordo
com
Mazzotti
(2003)
podemos
pensar
nela
como
parte
do
processo
pedagógico,
nesse
caso,
uma
característica
do
sistema
escolar
brasileiro.
Neste
sentido
o
autor
afirma
que
a
reprovação
tem
a
função
de
suprir
deficiências,
atuando
como
uma
nova
oportunidade
para
o
aluno
fixar
conceitos
não
aprendidos.
Apontando,
assim,
os
fatores
positivos
da
reprovação.
Segundo
Alexander
(1999),
a
repetência
pode
ser
positiva,
caso
seja
aplicada
corretamente,
visando
determinados
alunos
como,
por
exemplo,
os
alunos
que
apresentam
dificuldades
específicas
de
aprendizado,
com
habilidade
e
maturidade
emocional
inadequadas
à
sua
idade
cronológica.
De
acordo
com
o
autor,
esses
alunos
podem
ser
favorecidos
por
um
tempo
adicional
de
aprendizado
proporcionado
pela
reprovação.
Barros;
Mendonça
(1998)
afirmam
que:
o
aprendizado
de
um
aluno
com
nível
de
conhecimento
muito
inferior
à
medida
da
sua
turma
seria
dificultado
e,
portanto,
a
reprovação
e
a
subsequente
repetência
iriam
favorecer
melhor
adequação
do
conhecimento
deste
aluno
ao
do
grupo
ao
qual
pertence,
possibilitando
o
seu
melhor
desempenho
(BARROS;
MENDONÇA,
1998,
p.11).
Neste
sentido,
o
pertencimento
a
um
determinado
grupo
“mais
homogêneo”
serve
como
justificativa
para
a
reprovação.
Deste
modo,
Barreto;
Sousa
(2004)
também
falam
que
a
reprovação
é
aprovada
pela
maioria
dos
professores,
para
garantir
a
aprendizagem
do
aluno,
neste
caso
a
reprovação
serviria
de
motivação
para
aprender.
A
repetência
tem
como
objetivo,
neste
caso,
de
“diferenciar
os
alunos
que
sabem
dos
que
não
sabem”
(BARRETO;
SOUSA,
2004,
p.
16).
Outro
fator
positivo
apontado
para
a
repetência
é
que
ela
pode
contribuir
para
disciplinar
os
alunos
para
fazer
com
que
eles
realizem
as
tarefas
escolares.
Como
afirmam
Barreto;
Sousa
(2004):
a
não
reprovação
é
acusada
de:
provocar
a
desqualificação
do
ensino
e
da
aprendizagem,
sucatear
a
escola,
desvalorizar
o
trabalho
do
professor,
tirar
a
sua
motivação
para
ensinar
e
a
do
aluno
para
estudar
e
realizar
as
tarefas
escolares,
provocando
maior
indisciplina.
Como
consequência,
denuncia-‐se
estar,
a
escola,
diplomando
analfabetos,
e
os
governos,
divulgando
as
taxas
de
aprovação
como
evidência
de
melhoria
de
qualidade
de
ensino,
sendo
que
estes
têm
como
alvo
a
economia
de
recursos,
que
decorreria
da
extinção
da
reprovação
(BARRETO;
SOUSA,
p.16).
A
partir
da
fala
dos
autores
é
possível
perceber
que
eles
veem
de
forma
crítica
a
reprovação,
denunciando
aspectos
políticos
e
econômicos,
alvos
das
políticas
educacionais
que
já
mencionamos.
A
reprovação
tem
pontos
negativos
e
estes
prevalecem
sobre
os
positivos,
que
visam,
por
exemplo,
correlacionar
repetência
com
a
baixa
autoestima
e
aos
estigmas
atribuídos
ao
aluno.
A
baixa
autoestima
e
os
estigmas
são
apontados
ainda
por
Erick
From,
(1992)
e
Goffman
(1993),
como
fatores
que
contribuem
para
o
fracasso
escolar.
A
baixa
autoestima
pode
influenciar
o
risco
de
repetência,
quando
alunos
que
gostam
de
determinada
matéria
são
comparados
com
outros
que
não
gostam,
mas
estão
em
risco
de
serem
reprovados
(ORTIGÃO;
ALVES,
2005).
Barros;
Mendonça
(1998)
analisam
o
aumento
da
possibilidade
de
repetência,
vista
como
um
indício
de
que
a
cada
nova
reprovação,
o
ambiente
daqueles
chamados
“alunos
repetentes”
ficaria
ainda
mais
restrito,
modificando
as
relações
deste
aluno
dentro
e
fora
da
escola,
modificando
o
clima
escolar
para
o
repetente.
Como
demonstramos
uma
vez
estabelecido
um
ciclo
vicioso
de
repetência,
ele
pode
resultar
no
fracasso
escolar.
Crahay
(2006)
observa
que
nos
anos
que
se
seguem
à
repetência,
as
dificuldades
vão
sendo
aprofundadas,
assim
como
desempenho
desse
aluno,
que
geralmente
não
apresenta
melhoras
expressivas
capazes
de
confirmar
a
positividade
da
repetência.
Neste
sentido,
Freitas
(2007)
explica
que
a
repetência
é
um
antigo
problema
que
leva
à
exclusão,
agora
unida
a
outras
tantas,
mais
recentes,
desenvolvidas
pelo
sistema
educacional.
Além
disso,
o
autor
afirma
que
a
reprovação,
como
parte
da
exclusão
escolar,
possui
novas
formas
que
estão
sendo
implementadas
nos
sistemas
escolares
e
sobre
estas
não
se
tem
muito
controle
e
conhecimento.
Sendo
assim,
“as
novas
formas
de
exclusão
atuam
agora
por
dentro
da
Escola
Fundamental.
Adiam
a
eliminação
do
aluno
e
internalizam
o
processo
de
exclusão”
(FREITAS,
2007,
p.973).
É
uma
exclusão
pela
inclusão
que
exclui,
isto
é,
o
aluno
é
incluído
no
sistema,
mas
na
aprendizagem
é
reprovado,
sendo
assim
excluído
do
processo
educacional
que
promove
a
inclusão,
ou
ainda,
uma
inclusão
numérica.
A
repetência
pode
ser
causada
por
diferentes
fatores
e
observada
por
diferentes
ângulos
e
em
nossa
pesquisa
percebermos
que
fatores
como
absenteísmo,
violência,
exclusão
dentre
outros
poderiam
contribuir
para
o
processo
que
leva
a
repetência.
A
exclusão
da
classe
de
repetentes
Em
2008
pela
primeira
vez
na
escola
João
Pedro
IX
44
foi
criada
uma
turma
para
atender
apenas
os
alunos
repetentes
da
1ª
série
do
ensino
fundamental.
Essa
turma
era
composta
por
15
alunos
e
06
alunas
e
de
acordo
com
a
diretora
da
escola
a
turma
foi
criada
para
os
alunos
e
alunas
que
tivessem
o
mesmo
nível
de
aprendizagem
e
tinha
como
objetivo
auxiliar
o
desempenho
destes
alunos.
Entretanto,
para
outros
docentes
essa
turma
não
poderia
alcançar
o
objetivo
esperado
uma
vez
que
os
alunos
eram
vistos
como
repetentes
com
sérias
dificuldades
de
aprendizagem.
Neste
sentido,
a
supervisora
da
escola
revela
que
ficou
chocada
a
obter
a
informação
de
que
foi
criada
uma
turma
com
esse
perfil:
“Eu
cheguei
aqui,
eu
fui
informada
que
a
turma
era
formada
de
alunos
repetentes
com
sérias
dificuldades
no
aprendizado,
tanto
na
leitura,
como
na
escrita.
Então
pra
mim
foi
choque,
né?
E
saber
que
a
professora
que
pegou
a
turma,
é
uma
professora
inexperiente
no
sentido
de
que
ela
nunca
havia
pego
uma
turma
nesse,
nesse
nível,
realmente
é
assustador,
né?
Tanto
para
ela,
como
pra
mim,
como
pra
qualquer
pessoa.”
(Supervisora
Márcia-‐
durante
entrevista)
A
supervisora
ficou
apreensiva
uma
vez
que
ela
entendeu
que
a
turma
era
problemática
e
por
isso
diferente
das
demais
turmas.
Em
entrevista
ela
afirma
que
auxiliou
durante
um
período
a
professora
Maria,
professora
responsável
pela
turma
de
repetentes,
pois
ela
era
responsável
por
“uma
turma
problemática”
que
os
outros
professores
não
eram.
Outros
docentes
também
apontavam
a
turma
de
repetentes
como
um
“problema”
para
escola.
Durante
o
conselho
de
classe
a
professora
Janaina
define
que
“os
alunos
44
Nome fictício para preservar o nome da escola e de todos os sujeitos participantes da pesquisa.
repetentes
são
desinteressados
e
bagunceiros”.
E
para
a
professora
Clarisse
os
alunos
repetentes
da
1ª
série
eram
“desestimulados,
então
eles
fazem
da
aula
um
“auê”.
–
Já
que
eu
não
sei
nada,
eu
vou
atrapalhar
a
aula.
É
uma
forma
deles
chamarem
a
atenção
da
gente.”
A
professora
Maria
fala
do
problema
da
turma
de
repetentes
e
revela
que
em
nenhum
momento
foi
esclarecido
para
professora
Maria
que
se
tratava
de
uma
turma
de
repetentes
da
1ª
série.
A
professora
Maria
ainda
afirma
que:
“Quando
me
entregaram
essa
turma,
me
falaram
assim:
Maria,
o
problema
dessa
turma
é
o
comportamento.
Então
está
ótimo,
se
é
só
comportamento,
está
ótimo.
Mas
não
era
só
o
comportamento.
Era
o
aprendizado
deles,
era
o
conteúdo
deles.
Eles
não
tinham
base
nenhuma.
E
não
era
uma
turma
de
alfabetização,
ou
que
é
só
o
nível
dois.
Eram
mesclados:
tinha
um
pouquinho
de
alfabetização
inicio,
um
pouquinho
de
meio,
e
um
pouquinho
de
final
de
alfabetização.
Então
eu
tinha
que
trabalhar
com
três
planejamentos.
...
Então
esse
ano
foi
bastante
complicado,
foi
bastante
estressante,
corrido”.
Portanto,
é
possível
perceber
que
já
existia
um
pré-‐conceito
sobre
a
turma
de
repetentes,
onde
os
alunos
e
alunas
eram
considerados
problemas,
com
isso,
muitos
deles
eram
estigmatizados
e
excluídos
pelos
docentes
da
escola
e
pelos
próprios
alunos.
Neste
sentido,
duas
alunas
afirmam,
durante
entrevista,
que
tiveram
dificuldade
para
se
relacionarem
com
os
colegas
da
turma
de
repetentes.
Raquel,
aluna
multi
-‐
repetente,
revela
sua
dificuldade
com
os
demais
colegas
de
sala
e
explica
que
faltava
as
aulas,
pois
“não
gostava
de
vir
pra
escola
não...
não
gostava
não,
era
muito
ruim...
porque
os
garotos
estavam
querendo
me
bater,
e
minha
mãe
não
mandava
eu
vir
pra
escola.”
A
aluna
também
afirmou
não
gostar
de
alguns
alunos
da
classe,
pois
eles
viviam
a
perseguindo.
Segundo
a
professora
Maria
esta
aluna
apresentou
um
grande
índice
de
faltas
e
dificuldades
de
aprendizagem
principalmente
na
escrita
ao
longo
do
ano.
Flávia,
aluna
repetente,
revela
durante
entrevista
que
preferia
ficar
na
turma
antiga,
pois
tinha
amigas
e
enquanto
nessa
ela
não
falava
com
ninguém
por
que
ninguém
queria
conversar
com
ela.
Ela
também
afirma
que
não
gosta
dos
colegas
de
classe
porque
todos
batiam
nela
e
ninguém
deixava
ela
brincar
-‐
“Porque
quando
eles
estão
brincando
eu
quero
brincar
e
eles
não
deixam”
(Flávia
em
entrevista).
Esta
aluna
passou
o
ano
letivo
de
2008
isolada
dos
demais
alunos
e
de
acordo
com
a
professora
Maria,
Flávia
apresentou
dificuldade
de
aprendizagem
na
leitura
e
na
escrita.
A
fala
das
alunas
contribuiu
para
percebermos
o
incomodo
das
mesmas
em
permanecer
na
classe
de
repetentes,
uma
vez
que
elas
eram
perseguidas
e
excluídas
pelos
demais
alunos.
Durante
a
nossa
pesquisa
não
foi
possível
perceber
qual
o
real
propósito
na
formação
da
turma
de
repetentes,
visto
que,
a
mesma
tinha
o
objetivo,
de
acordo
com
a
diretora,
de
reunir
os
alunos
com
o
mesmo
nível
de
aprendizagem,
entretanto,
percebeu-‐se
pela
fala
de
alguns
docentes
que
a
classe
de
repetentes
era
uma
classe
com
alunos
que
apresentavam
diferentes
níveis
de
aprendizagem
e
com
diferentes
distorções
idade-‐série.
Além
disso,
a
formação
desta
classe
proporcionou
um
pré-‐conceito
por
parte
dos
docentes
e
dos
próprios
alunos.
A
turma
de
repetentes
não
permaneceu
nos
anos
decorrentes,
e
não
foi
esclarecido
o
motivo
da
desistência
na
continuação
da
turma.
Portanto,
podemos
concluir
que
a
criação
da
classe
de
repetentes
pode
ter
contribuído
para
o
surgimento
de
conflitos,
tais
como:
o
estigma
e
a
exclusão
escolar,
fatores
estes
que,
como
vimos
anteriormente,
podem
contribuir
para
o
processo
que
leva
a
repetência
e
sucessivamente
para
o
fracasso
escolar.
A
partir
do
estudo
da
classe
de
repetentes
levantamos
algumas
possibilidades
relacionadas
à
repetência
com
o
intuito
de
discuti-‐la
e
consequentemente
contribuir
para
pesquisas
que
busquem
compreender
este
fenômeno.
Referência
ALVES,
F.;
ORTIGÃO,
I.
A
Repetência
escolar
e
os
diferentes
tipos
de
capital:
um
estudo
a
partir
dos
dados
do
SAEB
-‐
2001.
28ª
REUNIÃO
ANUAL
DA
ANPED.
Caxambu,
MG,
2005.
ANGELUCCI,
C.
B.;
et
al.
O
estado
da
arte
da
pesquisa
sobre
o
fracasso
escolar
(1991-‐
2002):
um
estudo
introdutório.
Educação
e
Pesquisa,
jan/abr,
vol,
30,
n.1,
p.51-‐72,
ISSN
1517-‐9702,
2004.
BARROS,
R.
P.;
MENDONÇA,
R.
Consequências
da
repetência
sobre
o
desempenho
educacional.
Projeto
de
educação
básica
para
o
Nordeste.
Ministério
da
educação
e
do
desporto.
Brasília,
1998
CARVALHO,
M.
P.
de.
Estatísticas
de
desempenho
escolar:
o
lado
avesso.
Educação
&
sociedade,
ano
XXII,
nº
77,
2001
CRAHAY,
M.
É
possível
tirar
conclusões
sobre
os
efeitos
da
repetência?
Cadernos
de
Pesquisa,
v.
36,
n.127,
jan/abr.
2006.
Cadernos
de
Pesquisa,
v.
36.
n.127,
p.223-‐246,
jan/abr.
2006.
CRAHAY,
M.
Qual
pedagogia
para
os
alunos
em
dificuldade
escolar?.
Cadernos
de
pesquisa,
V.37,
n.
130,
p.181-‐208,
jan./abr.
2007.
FREITAS,
L.C.
de,
Eliminação
adiada:
o
caso
das
classes
populares
no
interior
da
escola
e
a
ocultação
da
(má)
qualidade
do
ensino.
Educ.
Soc.,
Campinas,
vol.
28,
n.
100
-‐
Especial,
p.
965-‐987,
out.
2007
FREITAS,
Luiz
Carlos
de.
CICLO
OU
SÉRIES?
O
que
muda
quando
se
altera
a
forma
de
organizar
os
tempos-‐espaços
da
escola?
27ª
ANPED,
2004.
GARSCHAGEN,
S.
O
Dilema
da
repetência
e
da
Evasão.
Desafios.
Brasília.
Outubro,
2007.
GOUVÊA,
G.F.
P.
Um
Salto
para
o
presente:
a
educação
básica
no
Brasil.
São
Paulo
em
Perspectiva,
14(1),
2000.
LUZ,
S.
L.,
O
impacto
da
repetência
na
Proficiência
escolar:
uma
análise
longitudinal
do
desempenho
de
repetentes
em
2002-‐2003.
UFMG/Cedeplar.
Belo
Horizonte,
MG,
2008.
MARTINI,
M.
L.
DEL
PRETTE,
Z.
A.
P.
Atribuições
de
causalidade
para
o
sucesso
e
o
fracasso
escolar
dos
seus
alunos
por
professoras
do
ensino
fundamental.
Interação
em
Psicologia,
6(2),
2002.
MATTOS,
C.
L.
G.
de.
Projeto
de
pesquisa
Gênero
e
pobreza:
práticas,
políticas
e
teorias
educacionais
–
imagens
da
escola.
NetEDU/Proped.
Rio
de
Janeiro.
RJ.
Abril,
2009.
MAZZOTTI,
A.
J.
A.
“Fracasso
escolar”:
representações
de
professores
e
de
alunos
repetentes.
GT:
Psicologia
da
educação.
Nº
20.
UNESA,
S/D.
OLIVEIRA,
T.
F.
M.
de.
Fracasso
escolar:
“cultura
do
ideal”
e
“cultura
do
amoldamento”.
GT:
Ensino
Fundamental,
nº
13,
S/D.
PATTO,
M.
H.
S.
A
produção
do
fracasso
escolar:
histórias
de
submissão
e
rebeldia.
São
Paulo:
Casa
do
Psicólogo.
2000.
PATTO,
M.
H.
S.
Introdução
à
psicologia
escolar.
São
Paulo:
Casa
do
Psicólogo.
1997.
PAZELLO,
E.T.;
FERNANDES,
R.;
FELICIO,
F.
Incorporando
o
atraso
escolar
e
as
características
sócio-‐demográficas
nas
taxas
de
transição
educacional:
um
modelo
de
fluxo
escolar.
ANPEC
.Artigo
publicado
NO
XXXIII
ENCONTRO
NACIONAL
DE
ECONOMIA,
2005.
RIBEIRO,
S.
C.
A
pedagogia
da
repetência.
Estudos
Avançados
12(5),
1991.
SENNA,
L.
A.
G.
Letramento
Princípios
e
Processos.
IBPEX
–
Rio
de
Janeiro,
2007.
TORRES,
R.
M.,
“Repetência
Escolar:
Falha
do
Aluno
ou
Falha
do
Sistema?”
in
Álvaro
Marchesi,
Hernández
Gil
et
al.,
Fracasso
Escolar-‐
Uma
Perspectiva
Multicultural,
Artmed
Editora,
Porto
Alegre,
Brasil,
2004.
A
SITUAÇÃO
EDUCACIONAL
DAS
MULHERES
PRIVADAS
DE
LIBERDADE:
CONTINGENCIA
E
RUPTURA
COM
A
ESCOLA
Sandra
Maciel
de
Almeida
Este
artigo
é
parte
dos
resultados
de
pesquisa
de
doutorado
intitulada
Educação
de
mulheres
e
jovens
privadas
de
liberdade:
um
estudo
de
abordagem
etnográfica
(ALMEIDA,
2013)
que
investigou
a
situação
educacional
das
jovens
e
mulheres
privadas
de
liberdade
em
instituições
prisionais
e
de
internação
para
o
cumprimento
de
medidas
socioeducacionais
no
estado
do
Rio
de
Janeiro
e
em
Brasília.
Dentre
os
temas
decorrentes
das
análises
dos
dados
da
pesquisa,
foi
recorrente
a
percepção
de
que
o
encarceramento
expõe
jovens
e
mulheres
a
situações
de
vulnerabilidade 45
e
violação
dos
direitos
humanos,
que
são
indicadores
de
desigualdades
vivenciadas
nos
sistemas
carcerários
e
de
internação
para
o
cumprimento
de
medidas
socioeducacionais.
Neste
artigo
apresentam-‐se
os
resultados
referentes
a
situação
de
vulnerabilidade
vivenciada
pelas
jovens,
mulheres
nas
instituições
de
privação
de
liberdade
e
a
percepção
que
mulheres
e
jovens
têm
da
educação,
dentro
e
fora
dos
espaços
de
privação.
É
importante
ressaltar
que
esses
temas
se
entrelaçam
nos
relatos
das
participantes,
de
modo
interdependente,
evidenciando
um
emaranhado
de
desigualdades
e
dificuldades
na
vida
das
participantes.
O
tema
educação
foi
recorrente
durante
as
entrevistas
e
análise
dos
dados,
seja
a
educação
formal,
oferecida
pela
escola
regular,
ou
não
formal,
oferecida
por
meio
de
cursos
de
formação
profissional,
arte,
informática,
ou
qualquer
outro
realizado
nos
espaços
de
privação.
Essas
atividades
eram
percebidas
pelas
jovens
e
mulheres
como
uma
das
formas
de
reinserção
social,
além
do
trabalho.
A
educação
e
o
trabalho
são
apontados
como
meios
que
favorecem
a
reinserção
social.
Sobre
a
escola
na
prisão,
a
equipe
de
pesquisa
foi
informada
que,
embora
a
frequência
à
escola
gere
“tempo
de
remição
da
pena”,
o
trabalho
é
considerado
pelas
mulheres
como
mais
atrativo
por
render
maior
tempo
de
remição
e,
em
alguns
casos,
dinheiro.
No
caso
das
jovens
infratoras,
a
escola
é
obrigatória
na
instituição.
A
45
As
vulnerabilidades
fazem
com
que
não
se
possa
viver
com
um
mínimo
considerável
de
dignidade
humana.
Quando
se
tem
acesso
aos
serviços
sociais
básicos,
raramente
seus
direitos
são
respeitados,
impossibilitando
que
o
sujeito
possa
exercer
sua
condição
de
cidadão
de
fato.
certificação
é
considerada
pelas
jovens
como
uma
forma
de
reinserção
social.
Elas
acreditam
que
as
certificações
podem
favorecer
e/ou
facilitar
o
acesso
delas
ao
mercado
de
trabalho.
As
situações
de
vulnerabilidade
e
contingência,
vivenciadas
dentro
e
fora
dos
espaços
de
privação
de
liberdade,
são
descritas
como
fatores
que
afastam
jovens
e
mulheres
da
escola.
Dentre
os
motivos
apontados
por
elas
para
terem
abandonado
a
escola
estão:
os
filhos
e
a
família;
ter
entrado
na
“vida
do
crime”
–
como
elas
explicam
–;
o
uso
de
drogas;
a
necessidade
de
trabalhar;
problemas
vivenciados
na
escola,
como
brigas
com
colegas,
professores
e
múltiplas
reprovações.
No
que
se
referem
aos
motivos
para
não
frequentarem
a
escola
na
prisão,
destacaram:
a
falta
de
estímulo
e/ou
desejo;
estar
grávida
e/ou
ter
tido
o
filho
na
prisão;
angústia
e
depressão
decorrentes
da
situação
de
privação;
e
necessidade
de
trabalhar
para
reduzir
o
tempo
de
condenação.
A
partir
dessas
considerações,
este
artigo
pautou-‐se
nos
seguintes
questionamentos:
(1)
Como
os
estudos
e
pesquisas
têm
apresentado
a
educação
de
jovens
e
mulheres
em
espaços
de
privação
de
liberdade?
(2)
Qual
a
natureza
das
percepções
das
mulheres
em
espaços
de
privação
de
liberdade
sobre
seu
percurso
educacional?
A
partir
desses
questionamentos
aborda-‐se
a
situação
educacional
de
jovens
e
mulheres
em
privação
de
liberdade.
Estudos
e
pesquisas
que
tratam
da
educação
de
jovens
e
mulheres
privadas
de
liberdade
e
os
relatos
das
jovens
e
mulheres
sobre
seu
percurso
educacional.
Acredita-‐se
que
a
reflexão
sobre
essa
temática
poderá
contribuir
para
a
promoção
de
melhorias
educacionais
nesses
espaços,
especialmente,
por
serem
informações
acessadas
a
partir
das
percepções
das
jovens
e
mulheres
em
privação
de
liberdade.
A
abordagem
etnográfica
crítica
de
pesquisa
A
abordagem
etnográfica
crítica
e
o
sociointeracionismo
(MATTOS;
CASTRO,
2011)
serviram
como
bases
metodológico-‐epistemológicas
para
a
realização
da
pesquisa,
a
partir
dessas
bases
toma-‐se
como
foco
principal
dessa
pesquisa
um
grupo
específico
–
as
jovens
e
mulheres
em
privação
de
liberdade.
Neste
sentido,
a
análise
realizada
permitiu
a
compreensão
desta
cultura
como
um
todo
e,
ao
mesmo
tempo,
como
uma
cultura
singular,
visto
que
o
encarceramento
consiste
em
uma
situação
particular
e
temporal
de
um
grupo
de
pessoas
excluídas
da
sociedade
por
força
da
Lei.
Para
a
realização
de
uma
pesquisa
com
tais
características
esses
princípios
foram
atendidos
dentro
das
limitações
impostas
pelo
ambiente
de
pesquisa,
cujo
acesso
e
permanência
foram
complexos
e,
de
certo
modo,
cercados
de
cuidados
por
parte
dos
pesquisadores
quanto,
por
exemplo,
à
segurança
da
equipe
e
dos
dados
coletados.
A
preocupação
com
os
dados
coletados
se
deu
por
serem
estes
de
natureza
sigilosa,
pessoal
e
sensíveis,
com
indicativos
de
um
descompasso
entre
o
que
é
idealizado
como
direitos
aos
seres
humanos
e
a
realidade
vivenciada
pelas
jovens
e
mulheres
em
privação
de
liberdade.
Para
a
realização
do
estudo
foram
selecionadas
jovens
e
mulheres
em
privação
de
liberdade
como
sujeitos
primários.
Os
nomes
das
instituições
e
dos
sujeitos
foram
modificados
mantendo
o
compromisso
ético
da
pesquisa
de
preservar
a
identidade
dos
participantes.
O
loci
de
estudo
foram
três
instituições
sendo
duas
penitenciárias
femininas
no
Rio
de
Janeiro,
que
chamaremos
neste
artigo
de
Penitenciária
que
acolhe
as
mulheres
presas
com
filhos
recém-‐nascidos;
a
Penitenciária
Feminina
do
Rio
de
Janeiro,
unidade
de
regime
fechado
no
Rio
de
Janeiro;
a
Penitenciária
Feminina
de
Brasília,
unidade
de
regime
fechado
em
Brasília
e
uma
instituição
para
cumprimento
de
medida
socioeducativa
de
internação,
que
chamaremos
Getúlio
Vargas
(GV).
Como
instrumento
de
pesquisa
utilizou-‐se
a
entrevista
etnográfica
(MATTOS,
2011)
para
a
obtenção
dos
dados
com
duração
de
tempo
variando
entre
40
minutos
e
2
horas
registradas
em
áudio
e
vídeo
e,
posteriormente,
transcritas.
As
oitenta
entrevistas
realizadas
permitiram
que
as
jovens
e
mulheres
relatassem
suas
percepções
e
apreensões
quanto
às
suas
vidas,
de
modo
claro
e
pertinente
para
os
objetivos
da
pesquisa.
Complementar
a
pesquisa
de
campo
foram
analisadas
leis
e
documentos
de
registro
educacional,
incluindo
a
vida
escolar,
os
resultados
semestrais
de
aproveitamento,
a
infração
cometida,
o
número
de
reincidências
e
a
vida
familiar.
Para
realizar
a
análise
dos
dados,
optou-‐se
pelo
método
indutivo
e
os
procedimentos
contínuos
e
progressivos.
As
questões
foram
sendo
reformuladas
a
partir
das
análises
realizadas
e
dos
resultados
obtidos,
de
modo
a
garantir
não
somente
a
objetividade,
como
também
para
tentar
conservar
a
subjetividade
tanto
dos
participantes
quanto
de
cada
membro
da
equipe
de
pesquisa,
em
especial
dos
pesquisadores
que
realizaram
as
entrevistas
etnográficas.
A
cada
semana
de
visita
ao
campo,
os
dados
foram
colocados
em
uma
dimensão
crítica
para
fins
de
reformulação
e
compreensão.
As
entrevistas
foram
assistidas
em
reuniões
coletivas
com
a
equipe
e
redimensionadas
de
acordo
com
as
questões
e
objetivos
da
pesquisa.
Assim,
foram
sendo
ajustados
os
mecanismos
de
questionamento
para
que
o
foco
do
trabalho
fosse
aprimorado
com
o
decorrer
das
entrevistas
e
das
visitas.
A
situação
educacional
em
privação
de
liberdade:
estudos
e
pesquisas
A
verificação
de
produção
acadêmica
relacionada
ao
tema
-‐
Educação
em
Privação
de
Liberdade
-‐
realizou-‐se
por
meio
de
busca
em
bases
de
dados
online
e
em
bibliotecas
para
compor
uma
análise
bibliográfica
sobre
como
tem
sido
tratada
a
educação
de
jovens
e
mulheres.
Essa
busca
sobre
o
tema
educação
de
mulheres
presas
originou
um
total
de
sete
artigos
acadêmicos
e
oito
teses
e
dissertações
sobre
esta
temática.
Por
este
motivo
essa
busca
foi
ampliada
para
as
categorias:
educação
prisional;
prisão;
gênero;
maternidade
no
cárcere;
prisão
de
mulheres
e
jovens
infratores.
Foram
encontrados
um
total
de
74
artigos
científicos
e
61
teses
e
dissertações
sobre
esses
temas,
que
foram
organizados
nas
seguintes
categorias:
• 74
artigos
científicos
organizados
nas
categorias:
educação
de
mulheres
presas
(sete
artigos);
educação
prisional
(21
artigos);
gravidez
no
cárcere
(cinco
artigos
encontrados);
prisão
de
mulheres
(31
artigos)
e
jovens
infratores
(dez
artigos
encontrados).
• 61
teses
e
dissertações
de
mestrado
organizados
nas
categorias:
educação
de
mulheres
presas
(oito
teses
e
dissertações);
educação
prisional
(15);
jovens
infratores
(13);
mulheres
presas
(19)
e
prisão
(seis).
Especificamente
sobre
educação
de
mulheres
presas
essa
busca
resultou
na
seguinte
distribuição
entre
teses,
dissertações
e
artigos
científicos:
cinco
dissertações
de
mestrado
(BRAUNSTEIN,
2007;
DA
SILVA,
2006;
GRACIANO,
2005;
MANZATO,
2007;
OLIVEIRA,
2008)
e
duas
teses
de
doutorado
(GRACIANO,
2010;
NONATO,
2010).
Esses
números
denotam
a
atualidade
do
tema
no
campo
da
educação.
Dos
artigos
científicos,
sete
discutem
a
temática
sobre
educação
de
mulheres
privadas
de
liberdade
(GRACIANO;
SCHILLING,
2008;
ANJOS,
2006;
CUNHA,
2010;
GOMES,
2011;
OLIVEIRA,
NONATO,
STAUDT,
2009;
DA
SILVA,
2009a;
DA
SILVA,
2009b;
TAVARES,
BÁRBARA,
CARVALHO,
2008).
Destaca-‐se
sobre
essa
análise
bibliográfica
que,
as
teses,
as
dissertações
e
os
artigos
encontrados
são
relativos
a
estudos
dos
últimos
sete
anos.
Não
foram
encontrados
trabalhos
anteriores
ao
ano
de
2005.
Como
afirma
Graciano
e
Schilling
(2008),
a
produção
acadêmica
sobre
educação
prisional
é
bastante
recente,
o
que
denota
a
invisibilidade
desse
tipo
de
educação.
Conforme
observado
em
pesquisa
bibliográfica,
o
tema
não
foi
objeto
de
estudo
nas
pesquisas
acadêmicas
referentes
à
educação
de
jovens
e
adultos
nas
décadas
de
1970,
1980
e
1990.
Apenas
a
partir
de
2000
foram
identificadas
algumas
poucas
teses
e
dissertações
de
mestrado
(BOLETIM
EBULIÇÃO,
2006).
Entre
as
obras
pesquisadas,
verifica-‐se
que
o
marco
referencial
é
a
possibilidade
de
instrumentalização
da
educação
para
a
ressocialização,
ou
reeducação
ou
reinserção
social
(p.
112).
No
que
se
refere
a
essa
modalidade
de
educação,
Braunstein
(2007),
em
sua
pesquisa
de
mestrado
sobre
a
trajetória
e
práxis
em
uma
unidade
prisional
destinada
à
prisão
de
mulheres,
destaca,
dentre
outros
aspectos,
a
importância
de
dar
visibilidade
a
essa
temática
no
âmbito
das
políticas
públicas,
da
criação
de
uma
execução
penal
especial
para
a
mulher
privada
de
liberdade,
assim
como
a
importância
da
aplicação
de
penas
alternativas.
O
autor
afirma
que
se
deparou
em
sua
pesquisa
com
a
dificuldade
de
encontrar
bibliografia
referente
ao
tema,
o
que
“indica
ainda
persistir
certa
invisibilidade
da
questão
do
encarceramento
de
mulheres
no
conjunto
da
produção
acadêmica
e
científica”
(BRAUNSTEIN,
2007,
p.
16).
Sobre
a
criação
de
políticas
públicas
de
educação
para
o
público
de
jovens
e
adultos,
Graciano
e
Schilling
(2008)
afirmam
que,
desde
a
década
de
1940
até
o
ano
de
2005,
nenhuma
ação
pública
realizada
pelo
governo
federal,
para
este
público
específico,
chegou
à
prisão
por
meio
do
Ministério
da
Educação.
A
falta
de
orientação
do
governo
federal
colabora
para
a
falta
de
controle
externo
das
atividades
realizadas
nos
estados,
o
que
“contribui
de
maneira
decisiva
para
as
arbitrariedades
praticadas
nos
Estados”
(p.
115).
A
ausência
de
ações
reforça
a
invisibilidade
da
educação
nos
espaços
prisionais,
sobretudo
de
jovens
e
mulheres.
A
dissertação
de
Tavares
(2011)
investigou
a
produção,
circulação
e
recepção
de
um
jornal
produzido
por
mulheres
privadas
de
liberdade
no
Rio
de
Janeiro.
Dentre
os
resultados
da
pesquisa,
e
que
alerta
para
a
invisibilidade
da
educação
nos
espaços
de
privação,
está
o
fato
de
que
o
tema
educação
não
era
comum
nos
textos
do
jornal.
O
que,
de
acordo
com
a
autora,
demonstra
o
quanto
a
temática
ainda
está
distante
da
vida
dessas
mulheres.
Segundo
Tavares
(2011,
p.
116),
muitos
fatores
afastam
as
mulheres
da
escola
da
prisão.
Dentre
eles,
destaca
que
“às
vezes,
preferem
apenas
o
trabalho,
por
este
oferecer
maior
tempo
de
remissão
e
por
haver
algumas
complicações
burocráticas
quanto
ao
aliar
remissão
por
estudo
e
por
trabalho”
(p.116).
Graciano
(2005)
investigou
a
efetivação
do
direito
à
educação
escolar
a
partir
da
noção
contemporânea
de
direitos
humanos
em
sua
dissertação
de
mestrado.
A
autora
realizou
entrevistas
com
mulheres
que
frequentavam
a
escola
em
uma
penitenciária
feminina
em
São
Paulo.
A
autora
relata
uma
série
de
impedimentos
para
o
cumprimento
da
obrigação
de
oferta
de
educação
escolar
nas
prisões
por
parte
do
Estado,
como
a
falta
de
incentivo
para
as
mulheres
frequentarem
a
escola,
o
que,
segundo
a
autora,
torna
difícil
acreditar
que
a
escola
na
prisão
tenha
sido
construída
para
ser
frequentada
e
valorizada
pela
população
carcerária
(p.
135).
Ainda
segundo
a
autora:
A
especificidade
da
condição
das
pessoas
encarceradas
deve
ser
considerada
na
formulação
dos
projetos
político-‐pedagógicos,
levando
em
conta
suas
necessidades
e
anseios
conjunturais
e
futuros.
No
entanto,
não
pode
justificar
a
ausência
de
material
didático,
indefinição
e
falta
de
controle
sobre
a
carga
horária;
oscilação
constante
quanto
à
definição
dos
educadores;
precariedade
no
processo
de
certificação,
entre
outros
aspectos
(GRACIANO,
2005,
p.
136).
Ainda
que
a
escola
na
prisão
necessite
de
investimentos,
de
recursos
materiais,
de
profissionais
especializados,
os
pesquisadores
Graciano
(2005,
2010),
Oliveira
(2008),
Nonato
(2010),
Braunstein
(2007),
Tavares
(2011)
e
Da
Silva
(2006)
são
unânimes
em
afirmar
que
a
escola
é
um
importante
espaço
de
mudança
da
realidade
dessas
mulheres.
Como
afirma
Graciano
(2005):
Expostas
a
uma
situação
limite,
as
mulheres
que
frequentam
a
escola
na
prisão
são
levadas
a
atos-‐limite
(...),
de
transformarem
a
possibilidade
da
educação
numa
fonte
de
resistência
da
sua
condição
humana
ou,
como
forma
de
preservar
sua
dignidade
humana,
conforme
determina
a
noção
contemporânea
dos
direitos
humanos
(GRACIANO,
2005,
p.
133).
Nonato
(2010),
em
sua
tese
de
doutorado
–
sobre
a
oferta
de
educação
superior
em
uma
penitenciária
feminina
em
Porto
Alegre
–
destaca
que
o
processo
de
formação
das
mulheres
no
contexto
do
cárcere
contribui
de
forma
significativa
tanto
para
as
mulheres
presas,
quanto
para
uma
“maior
humanização
dos
funcionários
envolvidos
na
experiência
educativa”
(p.
08).
A
autora
(2010,
p.
196)
destaca
que
a
inserção
das
mulheres
privadas
de
liberdade
no
ensino
superior
colabora
para
a
problematização
e
o
posicionamento
dessas
em
suas
vidas,
no
entanto,
“essa
mudança
que
ocorre
num
dimensão
pessoal
não
é
suficiente
para
mudar
a
realidade
social
encontrada
no
cárcere”
(p.
196).
A
falta
de
investimento
em
políticas
públicas
de
educação,
apresentadas
no
estudo
de
Nonato
(2010)
abre
espaço
para
a
oferta
de
atividades
educativas
pela
sociedade
civil
e
voluntários
no
interior
das
instituições
de
privação,
objeto
de
estudo
de
Graciano
(2010)
que
investigou,
em
sua
tese
de
doutorado,
as
parcerias
entre
o
Estado
e
sociedade
civil
nas
prisões
de
São
Paulo.
Graciano
(2010)
alerta
para
a
necessidade
de
que
sejam
criados
critérios
claros
para
o
destino
de
recursos
públicos
para
a
efetivação
de
convênios
do
Estado
com
organizações
da
sociedade
civil.
Segundo
a
autora,
diante
da
fragilidade
da
oferta,
muitas
das
práticas
de
educação
não
formal,
incluindo
os
cursos
profissionalizantes,
são
marcados
pela
precariedade
e
pelo
improviso.
(GRACIANO,
2010,
p.
226).
A
fragilidade
da
ação
do
Estado
em
gerir
essas
práticas
fragiliza
as
ações
por
sua
“descontinuidade,
uma
vez
que
são
mantidas
com
recursos
pontuais”
(GRACIANO,
2010,
p.
228).
A
participação
da
sociedade
civil
nas
instituições
de
privação
de
liberdade
também
foi
um
dos
resultados
da
pesquisa
de
Tavares
(2011).
Segundo
a
autora,
um
dos
fatores
revelados
nos
escritos
do
jornal
é
a
forte
presença
de
professores
voluntários
e
da
sociedade
civil
na
oferta
de
atividades
educativas
nas
prisões.
O
que,
ressalta
a
autora,
“não
se
constituem
como
uma
política
de
Estado
que
pensa
o
processo
formativo
das
internas
em
sua
amplitude”
(p.
114).
Como
destacam
Oliveira,
Nonato
e
Staudt
(2009),
a
urgência
de
criação
de
políticas
públicas
passa
necessariamente
pela
oferta
de
educação,
sem
a
qual
é
difícil
enfrentar
os
processos
excludentes
que
são
comuns
nos
espaços
de
privação
de
liberdade.
Para
as
autoras,
essa
proposta,
no
entanto,
não
tem
apelo
social,
devido
especialmente
ao
aumento
da
criminalidade.
A
sociedade,
de
um
modo
geral,
reage
de
forma
negativa
a
boas
políticas
públicas
de
reintegração
social.
Entendem
que
a
falta
de
boas
políticas
de
reintegração
é
uma
forma
de
fazer
com
que
esses
sujeitos
sofram
pelo
mau
que
cometeram
a
sociedade.
“Esquecem,
no
entanto,
que
a
criminalidade
é
um
fato
social,
e
carrega
consigo
inúmeras
causas,
nem
sempre
de
ordem
pessoal”
(OLIVEIRA,
NONATO,
STAUDT,
2009,
p.208).
Ainda
segundo
as
autoras
(OLIVEIRA,
NONATO,
STAUDT,
2009),
o
investimento
em
políticas
públicas
de
inclusão
para
a
população
privada
de
liberdade
é
um
aporte
para
uma
nova
maneira
de
contribuir
para
o
atendimento
“a
grupos
minoritários
e
estigmatizados
como
o
feminino
que,
em
função
dos
papéis
que
ocupa,
acaba
se
deparando
com
o
mundo
do
crime
do
qual
até
então
vinha
se
mantendo
distante”
(p.
207).
A
análise
bibliográfica
sobre
o
tema,
apresentado
neste
artigo,
revela
que
a
invisibilidade
da
situação
das
mulheres
privadas
de
liberdade
está
presente
no
investimento
em
políticas
públicas
para
esse
grupo
específico
da
população,
mas
também
na
própria
produção
acadêmica
sobre
a
temática.
Reverter
o
quadro
de
exclusão
socioeducacional
apresentado
nesses
estudos
é
uma
tarefa
que
carece
não
só
de
investimento
público,
mas
da
necessidade
de
conhecer
e
revelar
a
perspectiva
das
jovens
e
mulheres
privadas
de
liberdade
sobre
o
que
elas
entendem
e
desejam
sobre
a
escola.
Acredita-‐se
que
dessa
forma
será
possível
confrontar
os
resultados
dos
estudos,
a
proposição
de
políticas
públicas
de
educação
e
a
atuação
da
sociedade
civil
com
as
reais
necessidades
das
jovens
e
mulheres
privadas
de
liberdade.
No
subitem
que
se
segue,
apresenta-‐se
os
resultados
das
análises
sobre
o
percurso
educacional
das
mulheres
privadas
de
liberdade
no
formato
de
vinhetas
etnográficas,
apresentando
os
relatos
das
jovens
e
mulheres
sobre
seus
percursos
educacionais
a
partir
da
fala
das
próprias
mulheres
entrevistadas
neste
estudo.
As
categorias
temáticas
suscitadas
a
partir
da
análise
de
dados
das
entrevistas
aparecem
imbricadas
nas
falas
das
participantes.
É
possível
perceber
que
uma
mesma
categoria
estará
presente
na
fala
de
diversas
entrevistadas,
assim
como
uma
única
entrevistada
levanta
diferentes
categorias
que
são
relevantes
para
a
compreensão
do
objeto
de
estudo
da
pesquisa.
O
percurso
educacional
de
jovens
e
mulheres
privadas
de
liberdade:
uma
história
de
interdições
O
percurso
educacional
das
jovens
e
mulheres
entrevistadas
neste
estudo
é
marcado
por
interdições.
O
uso
de
drogas,
a
exclusão
escolar
e
a
gravidez
na
adolescência
são
motivos
apresentados
pelas
mulheres
e
jovens
privadas
de
liberdade
para
a
saída
da
escola,
tendo,
em
sua
maioria,
ocorrido
no
início
da
adolescência.
Fatores
como
a
gravidez
precoce,
a
evasão
escolar
e
a
falta
de
orientação
por
parte
da
escola
e
da
família
devem
ser
entendidos
de
forma
associada,
pois
um
elemento
não
está
dissociado
do
outro
nos
relatos
sobre
o
percurso
educacional
das
adolescentes.
A
escola
é
um
espaço
importante
de
interações,
agente
de
transformação,
mas
também
pode
ser
considerado
um
locus
propiciador
de
condições
que
podem
possibilitar
muitos
encontros,
não
só
com
o
conhecimento.
Schenker;
Minayo
(2005,
p.
710)
destacam
vários
aspectos
que
afastam
os
jovens
da
escola,
entre
eles
o
uso
abusivo
de
drogas.
Para
as
autoras,
“a
escola
é
o
espaço
privilegiado
dos
encontros
e
interações
entre
jovens.
No
entanto,
mesmo
no
âmbito
educacional,
existem
fatores
específicos
que
predispõem
os
adolescentes
ao
uso
de
drogas,
como
por
exemplo,
a
falta
de
motivação
para
os
estudos,
o
absenteísmo
e
o
mau
desempenho
escolar”.
O
caso
de
Patrícia
é
um
retrato
de
como
esses
elementos
estão
associados
à
vida
das
jovens.
Com
17
anos
de
idade
–
cumprindo
medida
socioeducativa
de
internação
–
está
cursando
o
1o
ano
do
Ensino
Médio.
Grávida
antes
de
ser
presa,
na
época
da
entrevista
(agosto
de
2010)
tinha
acabado
de
ter
o
bebê,
que
ficou
morando
com
ela
na
instituição.
Patrícia
estava
internada
há
2
meses
e
10
dias
na
instituição
socioeducativa,
onde
fez
o
curso
de
manicure,
teatro,
fotografia
e
bordado.
Relata
que
quando
terminar
o
Ensino
Médio
pretende
fazer
faculdade
de
direito.
A
história
de
Patrícia
confunde-‐se
com
a
de
outras
jovens
que
abandonam
a
escola
por
motivos
diversos,
dentre
eles
a
gravidez
e
o
uso
de
drogas.
Entrevistadora:
Você
já
ficou
reprovada
alguma
vez?
Patrícia:
Já.
Porque
eu
parei
de
estudar
tem
dois
anos.
Em
um
ano
eu
só
fui
até
a
metade
da
escola,
que
é
a
metade
do
ano.
Depois
eu
não
fui
mais.
Entrevistadora:
Que
série
você
estava?
Patrícia:
No
primeiro.
Entrevistadora:
E
por
que
você
quis
sair?
Patrícia:
Porque
assim
eu
comecei
a
usar
droga,
aí
desanimei.
Engravidei
também
desanimei
de
ir
pra
escola.
Entrevistadora:–
Ah,
então
você
acabou
de
sair
da
escola.
Patrícia
–
É.
Entrevistadora:–
Tem
quanto
tempo
isso?
Patrícia
–
Um
ano
e
meio,
porque
quando
eu
comecei
a
usar
droga,
eu
parei,
aí
depois
eu
peguei
e
engravidei
(Fragmento
da
entrevista
realizada
na
GV
com
Patrícia
em
agosto
de
2010).
Patrícia
relata
que
houve
por
parte
da
escola
um
empenho
para
que
retornasse.
No
entanto,
além
do
uso
de
drogas,
a
participante
destaca
a
falta
de
motivação
para
frequentar
a
escola.
Entrevistadora:
E
quando
você
saiu,
os
professores,
alguém
foi
te
procurar?
Patrícia:
O
diretor.
Ele
foi
lá
em
casa
atrás
de
mim
perguntar
por
que
eu
não
estava
indo
mais
pra
escola.
Aí
a
minha
mãe
falou
que
eu
não
tava
querendo
ir.
Quanto
mais
assim,
porque
eu
falava
com
ela
que
ia
pra
escola
e
não
ia.
Aí,
a
minha
mãe
me
deu
um
esporro.
Ela
pensou
que
eu
estava
indo
pra
escola.
Entrevistadora:
Aí
você
falou
o
que?
Patrícia:
Ah
mãe
não
quero
mais
estudar
não,
muito
chato.
Ela
mandava
eu
ir
pra
escola,
eu
não
ia.
Continuei
não
indo.
Entrevistadora:
E
por
que
era
muito
chato?
Patrícia:
Ah,
porque
eu
enjoei
de
escola,
ficar
ouvindo
o
professor
falando,
copiando
dever
é
chato.
E
agora
eu
quero
voltar
a
estudar
para
acabar
os
meus
estudos,
arrumar
um
emprego
(Fragmento
da
entrevista
realizada
na
GV
com
Patrícia
em
agosto
de
2010).
Schenker
e
Minayo
(2005,
p.
710)
destacam
que
o
uso
de
drogas
deve
ser
entendido
em
correlação
com
outros
elementos,
como,
por
exemplo,
a
falta
de
motivação
para
estudar.
Questionada
sobre
o
que
poderia
ser
diferente
na
escola
para
que
a
escola
não
fosse
“chata”,
a
participante
responde:
Patrícia:
Sei
lá.
Não
adianta
né?
Porque
escola
tudo
tem
professor,
tudo
tem
que
explicar,
tudo
tem
que
aturar
(Fragmento
da
entrevista
realizada
na
GV
com
Patrícia
em
agosto
de
2010).
Patrícia
reconhece
a
importância
da
escola
como
um
espaço
que
possibilitaria
a
ela
uma
integração
social
de
outra
ordem
por
vias
da
escolarização
e
do
emprego.
Por
outro
lado,
a
mesma
percebe
uma
impossibilidade
de
a
escola
se
modificar
para
dar
conta
de
suas
demandas
enquanto
sujeito
da
aprendizagem,
isto
é,
ela
permanecerá
sendo
“chata”.
Patrícia
não
vislumbra
a
possibilidade
de
mudanças
na
escola,
como
ela
diz
“escola
tudo
tem
professor,
tudo
tem
que
aturar”.
Os
elementos
professor
e
explicar
são
vistos
como
imutáveis
na
dinâmica
que
envolve
o
espaço
escolar,
ao
qual
ela
não
gostaria
de
ter
que
se
adaptar,
mas
entende
que
para
poder
conseguir
um
emprego
e
cursar
a
faculdade
de
direito
tem
que
se
submeter
ao
modelo
escolar
vigente.
A
fala
de
Patrícia
é
bastante
significativa
sobre
qual
o
sentido
da
escola
para
as
participantes
e
explica,
assim
como
as
demais
participantes,
que
a
escola
é
um
espaço
importante,
mas
que
elas
não
querem
estudar.
Quando
a
falta
de
interesse
em
frequentar
a
escola
junta-‐se
a
outros
fatores
como
o
uso
de
drogas,
a
gravidez
e
as
comunidades
de
convivência
(SCHENKER
e
MINAYO,
2005),
podem
produzir
uma
zona
de
vulnerabilidade
(CASTEL,
2007),
provocando
a
evasão
escolar.
Este
é
o
caso
de
Daiane,
25
anos
de
idade
–
presa
em
uma
penitenciária
feminina
no
Rio
de
Janeiro.
Daiane
estava
no
2º
ano
do
Ensino
Médio
quando
foi
presa,
há
quatro
anos.
Na
época
da
entrevista
(agosto
de
2010)
faltavam
sete
meses
para
sair
da
prisão.
O
relato
de
Daiane
demonstra
que
a
falta
de
orientação
por
parte
da
direção
da
escola
em
que
estudou
fora
da
prisão
fez
com
que
ela
ficasse
reprovada
por
falta
quando
ficou
grávida.
Oliveira
(1998,
p.
4)
afirma
que
o
impacto
da
gravidez
na
adolescência
é
maior
entre
as
jovens
pobres,
que
quase
nunca
conseguem
completar
a
educação
básica
após
o
nascimento
do
filho.
Para
a
autora,
a
necessidade
de
trabalhar,
a
falta
de
creches
para
deixar
a
criança,
“o
constrangimento
e
a
pressão
de
diretores,
professores,
colegas
e
pais
de
colegas
estão
entre
os
fatores
que
determinam
a
saída
da
escola
antes
do
nascimento
do
filho”
(OLIVEIRA,
1998).
A
falta
de
orientação
foi
um
dos
fatores
que
levou
Daiane
a
abandonar
a
escolar
após
o
nascimento
de
seu
filho,
como
é
possível
identificar
no
relato
abaixo:
Entrevistadora:
você
já
foi
reprovada
alguma
vez?
Daiane:
só
fui
reprovada
no
ano
que
eu
engravidei,
que
aí,
fui
reprovada
por
falta
Entrevistadora:
mas
você
quando
engravida
você
tem
direito
a
ter
licença
maternidade,
você
não
pediu?
Daiane:
eu
era
muito
novinha,
estudava
em
colégio
público…
nem
sabia,
eu
engravidei
assim,
quase
na
metade
do
ano,
aí
também
aquela
coisa
toda
da
gravidez,
eu
já
estudava
à
noite,
perdi
o
interesse
pela
escola,
aquela
coisa
toda,
aí,
fui
reprovada
por
falta.
Entrevistadora:
aí
você
já
perdeu
um
ano,
já
podia
ter
terminado,
então?
Daiane:
pois
é,
perdi
um
ano
porque
estava
grávida,
depois
fiquei
um
ano
inteiro
sem
estudar,
depois
quando
comecei
a
estudar,
já
comecei
a
fazer
o
supletivo
a
noite,
porque
durante
o
dia
eu
trabalhava
(Fragmento
da
entrevista
realizada
na
Penitenciária
Feminina
do
RJ
com
Daiane
em
agosto
de
2010).
A
necessidade
de
trabalhar
durante
o
dia
é
apontada,
ainda,
como
um
fator
que
dificultou
a
permanência
na
escola.
No
entanto,
Daiane
conseguiu
estudar
até
o
2º
ano
do
Ensino
Médio
em
uma
escola
pública
estadual,
até
quando
foi
presa.
O
processo
de
escolarização
é,
então,
rompido
com
a
prisão,
embora
tanto
a
escola
de
fora
da
prisão,
quanto
a
escola
da
prisão
estivessem
vinculadas
ao
mesmo
sistema
público
de
ensino.
A
comunicação
entre
as
escolas
não
conta
com
a
interlocução
da
Secretaria
de
Educação,
órgão
que
tem
como
missão
assegurar
e
garantir
o
acesso,
permanência
e
sucesso
dos
alunos
dentro
de
sala
de
aula46.
Entrevistadora:
Você
chegou
a
frequentar
a
escola
aqui?
Daiane:
Cheguei
a
frequentar
um
pouco
aqui
e
na
outra
unidade
também.
Entrevistadora:
Porque
pra
você
falta
pouquíssimo
pra
terminar
o
Ensino
Médio.
Daiane:
Falta
e
foi
interrompido
pela
prisão.
Quando
eu
fui
presa
eu
tava
estudando.
Eu
fui
presa
no
final
do
ano,
eu
já
ia
terminar,
eu
fui
presa
em
outubro.
Entrevistadora:
E
você
não
tinha
nota
pra
ser
aprovada?
Daiane:
Ter
até
tinha,
mas
aí
eu
não
fiz
as
últimas
provas,
então
não
tinha
como
a
escola
justificar
que
eu
ia
passar,
porque
eu
tava
presa.
Não
teria.
Entrevistadora:
Se
você
tivesse
chegado
aqui
e
terminado,
né?
Daiane:
Não,
porque
não
tinha
como,
porque
na
época
a
gente
primeiro
vai
pra
delegacia,
depois
chega
aqui.
Na
delegacia
a
gente
não
tem
acesso
a
escola.
46
Dado
disponível
na
página
da
Secretaria
de
Estado
de
Educação
do
Rio
de
Janeiro
Considerações
finais
Descrever
a
perspectiva
das
jovens
e
mulheres
sobre
a
educação
em
espaços
de
privação
de
liberdade
e
como
são
construídas
as
vulnerabilidades
socioeducacionais
enfrentadas
por
elas
nesses
espaços
foram
as
principais
questões
que
orientaram
este
estudo.
Esse
conhecimento
partiu
da
escuta
atenta
das
falas
dessas
jovens
e
mulheres
nas
entrevistas
realizadas
durante
o
trabalho
de
campo,
fato
que
gerou
a
necessidade
de
aprofundamento
do
campo
teórico
que
trata
dos
temas
relativos
ao
espaço
de
privação
de
liberdade
e
aos
sujeitos
que
permeiam
esses
espaços.
Esses
temas
versaram
sobre
a
exclusão
e
os
processos
que
levam
à
desigualdade,
à
vulnerabilidade
e
à
marginalização
que
resultam
da
dialética
entre
as
instituições
e
suas
interações
com
os
sujeitos
sociais.
Neste
sentido,
concorda-‐se
as
palavras
de
Martins
(1997)
quando
ele
afirma
que,
ao
estudar
os
processos
que
levam
a
exclusão
é
necessário
perceber
o
movimento
que
impele
os
sujeitos
para
fora
da
vida
social,
“para
fora
de
suas
‘melhores’
e
mais
‘justas’
e
‘corretas’
relações
sociais,
privando-‐as
dos
direitos
que
dão
sentido
a
essas
relações.”
(p.
16).
A
negação
desses
direitos
mantém
essas
mulheres
e
jovens
em
uma
situação
de
vulnerabilidade
e
desestabilização,
que
pode
fazer
com
que
permaneçam
instaladas
na
marginalização
social.
A
desestabilização
implica
em
uma
série
de
rupturas
que
empurram
esses
sujeitos
para
fora
dos
circuitos
das
interações
sociais
e
que
podem
ser
representadas
pela
marginalidade
profunda.
Sobre
esta
situação
é
necessário
pontuar
que
o
universo
das
jovens
e
mulheres
privadas
de
liberdade
caracteriza-‐se
pela
ruptura
de
vínculos
familiares,
pelo
abandono
e
pelo
afastamento
de
atividades
educacionais,
sobretudo
do
ambiente
escolar.
O
discurso
sobre
a
escola
nas
entrevistas
foi
marcado
pela
contradição.
Ainda
que
a
educação
nas
instituições
pesquisadas
seja
vista
como
um
importante
espaço
de
reinserção
social,
em
linhas
gerais,
elas
afirmam
que
a
escola
não
atende
às
suas
necessidades
educacionais.
Identificou-‐se,
neste
estudo,
que
para
atender
as
demandas
desses
sujeitos
é
preciso
reconhecer
as
jovens
e
mulheres
em
privação
de
liberdade
como
interlocutoras
dos
processos
de
criação
e
revisão
de
políticas
públicas
mais
sensíveis
a
este
público.
Neste
sentido,
este
trabalho
propôs-‐se
a
ouvi-‐las
considerando
a
legitimidade
de
suas
falas
sobre
a
realidade
em
que
vivem
e
seu
percurso
educacional.
Concorda-‐se
com
Julião
(2009),
ao
afirmar
que
se
deve
investir
“na
criação
de
uma
escola
para
os
sistemas
de
privação
de
liberdade
com
uma
política
de
educação
que
privilegie,
sob
qualquer
custo,
a
busca
pela
formação
de
um
cidadão
consciente
da
sua
realidade
social”
(p.
425).
Nesta
pesquisa,
buscou-‐se
ir
além,
ao
adotar-‐se
a
visão
e
a
perspectiva
das
jovens
e
mulheres
como
informantes
primárias
na
busca
por
orientar
políticas
por
uma
escola
que
atenda
as
suas
necessidades.
Acredita-‐se
que,
assim,
elas
possam
superar
a
realidade
vivenciada
na
instituição,
orientando
suas
vidas
de
forma
crítica,
autônoma
e
emancipatória.
Neste
sentido,
a
educação
pode
representar
“um
fio
invisível”
que
liga
jovens
e
mulheres
às
suas
vidas
fora
do
ambiente
de
privação.
O
distanciamento
entre
os
sujeitos
para
os
quais
se
propõem
as
políticas
públicas
no
Brasil
e
os
que
são
atendidos
efetivamente
por
elas
demarca
limites
impostos
pelas
desigualdades
sociais
e
educacionais,
especialmente
para
a
população
mais
pobre.
No
caso
das
jovens
e
mulheres
em
privação
de
liberdade,
pode-‐se
afirmar,
que
esse
distanciamento
é
acentuado
pela
intolerância
das
instituições,
sejam
elas
a
própria
família,
a
prisão,
a
escola,
os
hospitais,
dentre
outras.
A
essas
instituições
faltam
informações
para
desvelar
a
singularidade
dos
sujeitos,
no
intrincado
processo
de
descoberta
e
respeito
ao
outro.
Neste
aspecto,
a
ação
dialógica
proposta
por
Freire
(1992),
que
parte
do
diálogo
e
colaboração
entre
os
sujeitos,
é
uma
alternativa
para
a
elaboração
de
políticas
de
inclusão
que
atendam
de
forma
mais
legítima
e
menos
alienante,
a
realidade
das
jovens
e
mulheres
privadas
de
liberdade.
Neste
estudo
defende-‐se
que
qualquer
política
pública
de
inclusão
social
deve
ser
feita
com
o
sujeito
marginalizado,
precisando
ser
pensada
e
executada
a
partir
da
percepção
dos
próprios
sujeitos
sobre
a
situação
de
exclusão.
Não
se
promove
mudança
social
de
fora
para
dentro,
imposta
pelos
estatutos
institucionais.
A
opção
por
ouvir
essas
jovens
e
mulheres
neste
estudo
partiu
do
pressuposto
de
que
a
estas
mulheres
tem
sido
continuamente
negado
o
direito
à
palavra
e,
acompanhando
esse
pressuposto,
um
princípio
sobre
o
qual
se
desenrolou
todo
este
trabalho:
não
se
faz
pesquisa,
nem
política
pública,
nem
educação,
sem
o
sujeito
para
a
qual
estas
ações
se
dirijam.
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OLHARES
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VOZES
DISCENTES
DO
CURSO
DE
PEDAGOGIA
DA
UERJ
Nathália Masson Bastos
Luís Paulo Cruz Borges
Este texto trabalha a temática da exclusão social e educacional de alunos das classes
menos favorecidas socialmente e economicamente e abordará a questão da influência da
bagagem cultural desses alunos, ou seja, todo o conhecimento que a pessoa adquiriu durante
as relações e experiências no seu contexto social, em suas trajetórias escolares e se isso
ocasiona uma desvantagem educacional, além de cultural, podendo acarretar o fracasso
escolar. É sabido que a escola e a sociedade dão preferência para a cultura e os conhecimentos
que encaram como relevantes para ela e como consequência ocorre a dominância dessa
cultura sobre todas as outras existentes.
Bourdieu (2002) alerta que a escola e a sociedade são reflexos uma da outra e devido a
isso a exclusão ocorrida dentro da escola é reproduzida na exclusão social e cultural na
sociedade. Percebe-se isso ao entendermos que os conhecimentos elegidos pela escola para
serem ensinados são os conhecimentos julgados necessários para se viver na sociedade. Essa
questão foi retirada de um dos temas abordados na monografia de Bastos (2014), elaborada e
desenvolvida entre os trabalhos do Núcleo de Etnografia e Educação - NetEDU. Foi
considerada relevante, pois apesar de existirem vários estudos e textos sobre a temática em
questão, bagagem cultural, ainda há muitas lacunas a serem preenchidas.
O presente trabalho justifica-se por entender que a sociedade muda de tempos em
tempos seus conceitos, os valores, as ideias, ou seja, não é algo estático, porém, a escola não
está conseguindo acompanhar o ritmo da sociedade em relação a aceitação da pluralidade de
culturas. Por isso esse assunto é importante, tanto para os pesquisadores, quanto para os
alunos e professores, é preciso respeitar as diferentes formas de pensar, de cultura e valores e
entendê-las como possuidoras legítimas de conhecimento. Para este trabalho foram usados os
autores Charlot (2002, 2003, 2009), Bourdieu (1989, 1996, 2001), Borges (2008, 2009),
Mattos (2007, 2009), Duarte (2004) e Leontiev (2004).
Metodologia
Para realizar este trabalho foi utilizada pesquisa bibliográfica com análises de artigos,
textos e livros com uso de análise por mapas conceituais, além de entrevistas
semiestruturadas. De acordo com Mattos et al (2009, p. 6) “As análises dos mapas são feitas
de forma qualitativa, permitindo assim uma relação de significados e significante a sua
construção. Os mapas representam de forma clara o conjunto de conceitos construídos em
uma produção de conhecimento.”
Durante a pesquisa foi percebido que esse tema envolve temáticas relacionadas à
exclusão social/ educacional; inclusão educacional; cultura do aluno frente à cultura da escola.
A partir desta percepção, surgiram termos e temas que se repetiram e, através do método de
comparação, chegou-se ao tema bagagem cultural de Bourdieu (2001), foco deste trabalho.
Diante disso, buscou-se entender o que seria bagagem cultural, como ela é vista na escola,
como essa visão da mesma interfere na aprendizagem e na trajetória escolar do aluno e, por
fim, o que pode e o que tem sido feito para melhorar a situação. O seguinte quadro demonstra
a partir das análises, a justificativa de se estudar essas temáticas recorrentes assim como a
relação delas com o objeto deste trabalho:
BAGAGEM CULTURAL
Exclusão Social Ocorre um impasse se devemos ou não tratar todos iguais,
assim como a democracia prevê e como muitas pessoas
querem. Mas se tratarmos todos iguais, isso poderia ser visto
como indiferença às desigualdades existentes na sociedade,
tanto culturalmente, socialmente quanto politicamente e
diante desta situação, poderia ter um aumento do abismo
entre os dominantes e dominados.
Exclusão Educacional Há um questionamento se o que a escola realmente avalia é
a cultura e a linguagem, ou seja, a escola ensina o que não
avalia perpetuando a reprodução social, mas por ser
implícito é considerado um fato natural associar o “bom
aluno” com o aluno que é inteligente quando na verdade não
é apenas inteligente, mas possuidor da cultura culta e
predominante tanto na sociedade quanto na escola.
Inclusão Educacional A escola é um local específico distante da experiência
cotidiana dos alunos. Não se ensina o que pode aprender na
comunidade, mas deve ser “vinculada à comunidade”
tornando-se “nossa escola” e não “deles”, dos dominantes.
Esse universalismo e especificidade só têm valor se servir
para esclarecer o mundo da criança e ampliá-lo. É difícil,
pois nos dias atuais se preza mais passar no vestibular do
que a compreensão da vida.
Cultura do aluno x A bagagem cultural pode influenciar no processo
cultura da escola educacional dos alunos se partir do pressuposto de que a
escola ensina apenas uma cultura, apenas uma forma de
conhecimento e aqueles que não o possuem estão em certa
desvantagem culturalmente e por consequência terão uma
desvantagem na hora do ensino-aprendizagem.
Fonte: Bastos (2014)
Foram usados autores como Bourdieu (1989, 1996, 2001), Charlot (2002, 2003, 2009),
Mattos (2007, 2009), Borges (2008, 2009) Duarte (2004) e Leontiev (1978) e suas ideias
serão dialogadas com Bastos (2014). Duarte (2004), baseando-se na ideia de Leontiev (1978)
aborda a questão da cultura acreditando que ela ocorre por meio do processo de apropriação,
ou seja, são reproduzidas no indivíduo “as aptidões e funções humanas historicamente
formadas” (DUARTE, 2004 p. 169). Pode-se entender que é através do processo de
apropriação que ocorre a construção da identidade enquanto sujeito ativo e crítico.
Relacionado a esse processo está a objetivação “pois não há apropriação da cultura se não
tiver ocorrido a objetivação do ser humano nos produtos culturais de sua atividade social”
(LEONTIEV, 1978, p. 272). Entende-se que esses processos se dão pela interação entre os
seres humanos, através da experiência social e uma aprendizagem significativa, onde o sujeito
irá conseguir relacionar o conhecimento que ele está aprendendo com o conhecimento que ele
já possui, conseguindo assim enxergar uma conexão e estabelecer um sentido. Percebe-se
então diante das palavras de Leontiev (1978) que a formação enquanto sujeito é um processo
educativo, podendo ocorrer de forma direta ou não, intencional ou não, porém, esse
aprendizado ocorre por meio de atividades práticas ou explanações orais.
Trazendo para a educação, tais processos são voltados para a formação dos sujeitos e
estes podem ocorrer de forma consciente ou alienada, educativo e intencional onde o aluno é
levado a se apropriar dos conhecimentos que a escola quer transmitir.
Outra temática abordada por Duarte (2004) é em relação à alienação existente na
sociedade capitalista e que acaba se reproduzindo na escola. Ocorre a alienação porque a
escola e a sociedade querem produzir coletivamente um patrimônio, este cultural e intelectual
em todas as pessoas. Porém, algumas não conseguem ou não tem acesso a esse patrimônio,
ocasionando a não apropriação dos conhecimentos produzindo então as desigualdades sociais,
económicas e culturais.
Borges (2008) contribui ao estudo com sua concepção sobre a existência de uma
educação compensatória, que pode ser entendida como o conjunto de medidas políticas e
pedagógicas que visam compensar as deficiências, no caso intelectuais e escolares das
crianças das classes cultural, social e economicamente desprestigiadas, a fim de que elas
tenham oportunidade de ascensão social, para aqueles alunos que possuem tanto deficit
cultural, quanto social e político. Porém o que ocorre é a exclusão da criança que não
consegue se adaptar ao modelo da escola e ela por sua vez não se enquadra e não aceita a
criança como sujeito da aprendizagem e possuidor de conhecimento tão legítimo quanto ao
que ela quer transmitir. De acordo com Borges (2008, p. 3) “Neste sentido o aluno é visto
como um indivíduo a-histórico e despossuído de qualquer identidade cultural.” Como afirma
o autor, a “teoria da carência cultural” confirma que a cultura influencia diretamente o
desenvolvimento social, psicológico do indivíduo afetando assim seu processo de
aprendizagem.
Mattos (2009) também aborda a questão das teorias sobre o fracasso escolar que
surgiram ao longo das décadas finais do século XX, e indica a teoria da Culpa da Vítima e da
Cultura da Pobreza, como possíveis ideias utilizadas pela escola que culpabilizam os alunos
das camadas menos favorecidas da sociedade por seu fracasso escolar. A autora defende que a
escola deveria servir como um espaço para a construção do conhecimento, socialização e de
comunicação que ocorrem por meio da interação. Mattos (2009, p. 3) acredita que “este tipo
de interação se dá quando o professor se aproxima do aluno a fim de melhor compreender
seus conhecimentos, para que os mesmos possam ser utilizados como ferramentas para
desenvolver atividades que auxiliem a aprendizagem do aluno e consequentemente possibilite
a inclusão deste aluno.” Porém, o que ocorre é que o professor não está levando em
consideração o que o aluno tem a oferecer, então “o professor se distancia do aluno com
dificuldade de aprendizagem, mostrando mais interesse em cumprir o planejamento escolar do
que auxiliar o aluno com um diferente ritmo de aprendizagem resultando, muitas vezes, na
exclusão do aluno com dificuldade de aprendizagem” (MATTOS, 2009, p. 3).
Teorias sobre o fracasso escolar existem, e são várias, entretanto, compartilhando da
ideia do Leontiev (1978), acredito que atribuir aos fatores biológicos (herança genética,
processos neurofisiológicos, hormônios etc.) as diferenças sociais, culturais e educacionais
seja um equívoco. Não nascemos pré-dispostos a algum conhecimento, mas a apropriação que
temos sobre tal campo de atividade, conhecimento é que possibilita que tenhamos cada vez
mais apropriação. É sabido que o fator que mais influencia no fracasso escolar é a
condição social do aluno. Com base nessa premissa, Bourdieu (2001) salienta que as crianças
dessas classes sociais desfavorecidas de capital cultural, este entendido como as redes de
relações interpessoais que cada um constrói nos ambientes do seu contexto social, com os
benefícios ou malefícios, possuem menos oportunidades de apresentar êxito escolar tendo que
se esforçar em dobro para conseguir tal feito.
Para esses alunos, de acordo com Bourdieu (2001), a escola “tende a ser considerada
cada vez mais, tanto pelas famílias quanto pelos próprios alunos, como um engodo, fonte de
uma imensa decepção coletiva: essa espécie de terra prometida, semelhante ao horizonte, que
recua na medida em que se avança em sua direção (BOURDIEU, 2001, p. 221)”. Diante da
visão que os alunos possuem da escola, Charlot (2002) afirma que:
“O
aluno
de
bairro
popular
não
está
esperando
uma
pedagogia
ativa,
ele
está
esperando
uma
pedagogia
segura,
que
lhe
possibilite
passar
para
a
próxima
série.
O
ideal
do
aluno
é
preencher
com
cruzes
o
que
é
verdadeiro
ou
o
que
é
falso.
Nesse
procedimento,
há
uma
chance
sobre
duas
de
encontrar
a
resposta.
Esse
é
o
ideal
do
aluno.
Mas,
evidentemente,
isso
é
contrário
à
formação.
O
aluno
está
reclamando
uma
pedagogia
sem
risco.
E,
muitas
vezes,
o
professor
está
tentando
fazer
uma
pedagogia
sem
riscos
também.
Mas,
uma
pedagogia
sem
risco
é
uma
pedagogia
sem
formação,
pela
qual
não
se
aprende
nada.”
(CHARLOT,
2002,
p.
29.)
Charlot (2002) declara que como o aluno não é motivado e nem mobilizado na escola
para a busca, para o aprimoramento do conhecimento, este conhecimento que não condiz com
sua realidade, o aluno acaba desistindo da escola, pois seu habitus, um conjunto de
disposições psíquicas, duráveis e transponíveis, que foram estruturadas socialmente e
funcionam como princípios de estruturação das práticas e das representações não são levados
em consideração diante os saberes que a escola denomina como a verdade absoluta. Para
tentar reverter essa situação, é preciso compreender como o indivíduo age e o porquê dele agir
dessa forma, como funciona o pensamento dele. É preciso então, analisar o habitus dos alunos
e para que se possa analisar o habitus é preciso analisar as condições que ele foi construído, o
contexto social na qual o indivíduo está inserido.
Pode-se perceber que “o que acontece na escola depende fundamentalmente do capital
cultural e do habitus dos alunos. Quem tem as disposições psíquicas e o capital cultural
requeridos pela escola se torna um aluno bem-sucedido; quem não os tem fracassa.”
(CHARLOT. 2002, p. 90). Assim como Charlot (2002), esse trabalho se interessa pelo
processo de relação com o saber dos alunos e alunas das classes populares.
Resultados e discussões
É sabido que a escola é vista como libertadora, onde o mestre se posiciona ao lado de
seus aprendizes para que juntos possam organizar as atividades desenvolvidas nas classes,
todas baseadas no debate de temáticas sócio-políticas, inerentes ao contexto vivenciado por
eles, porém ela mascara a conservação social e legitima as desigualdades sociais fazendo
valer o pensamento da importância da herança cultural, conhecimento que nossos pais ou
ancestrais deixaram ou ensinaram a nós e a concepção do dom natural dos indivíduos. Ou
seja, o que ocorre é que a escola correlaciona a ideia do aluno ser inteligente com a herança
cultural que ele possui fazendo parecer perante os outros alunos que não possuem essa
herança, que quem possui a herança tem um dom natural para ser inteligente e bom aluno.
Com base nas palavras de Bourdieu (1975) ocorre a reprodução de saberes na escola
porque há um desprezo da expressão cultural das classes menos favorecidas, chamada
também de classe dominada, pela cultura dominante. Ou seja, o sistema escolar cumpre uma
função de legitimação para promover a “ordem social” existente nas relações de força entre as
classes, onde uma se impõe sobre a outra.
A situação que ocorre dentro da escola é que o professor deposita seus valores morais,
pessoais e sociais ao ensinar sem levar em conta qualquer indício de pertencimento social de
seus alunos diante o conteúdo ensinado equivocando-se ao acreditar que há cumplicidade
prévia, e da mesma forma, sobre o assunto entre todos os alunos na sala de aula. Não se
preocupa dentre outras coisas com o manejo da linguagem e nas avaliações oral/escrita onde
se comprovam a existência de um privilégio cultural, visto que a escola dá preferência a
certos conteúdos, formas de falar e agir. Correlacionando a esse pensamento sobre a escola,
cito Charlot (2009), ao afirmar que o ponto importante nessa relação escolar é a mobilização
de ambas as partes, ou seja, o aluno precisa entender o sentido da escola e de estudar e o
professor ensinar na mesma lógica que os alunos entendam. Para ele, o problema não é a
escola e sim o sentido, a atividade e o prazer que não estão tendo tanta importância quanto o
fato de estar presente na escola ser suficiente.
Somos todos diferentes, pertencemos a universos sociais e culturais diferentes, mas
não é por causa disso que a sociedade e a escola devem “inculcar” nos alunos que há um
conhecimento, há uma educação, ou melhor, um futuro predestinado a cada um. Todo mundo
possui uma cultura, uma linguagem, um capital informacional e todos merecem uma educação
de qualidade onde não restrinja os sujeitos ao fracasso escolar e social, onde todos nós
tenhamos um sentimento de pertencimento dentro ou fora da escola, onde nosso
conhecimento, nossa bagagem cultural tenha tanto valor quanto qualquer outra. Deve-se
entender que não devemos tratar todos iguais senão chegaremos a um impasse visto que isso
só justificaria a indiferença diante às desigualdades sociais, do ensino e do que é exigido.
Considerações finais
A escola é conhecida por ser um ambiente de construção de conhecimento, onde todos
têm acesso e oportunidade para essa aprendizagem, porém essa ideia apenas mascara o que
acontece na realidade. O que ocorre é que apenas o acesso à escola não garante a igualdade de
oportunidades de acesso ao conhecimento dentro dela. Um método de ensino, uma forma de
ensinar pode ser eficaz para um aluno e para outro não.
O que ocorre na tentativa de democratização do ensino, ou seja, uma educação que
visa a emancipação, uma educação pública cujo sentido seja a justiça social, multicultural,
autônoma, inclusiva e crítica com o objetivo de construção de identidades.
É preciso evidenciar que há muito mais o que se levar em conta, não podendo apenas
analisar a criança dentro da escola, mas é preciso ser levado em conta o que há por trás de
todo o comportamento dela no ambiente escolar, ou seja, seu contexto social. Como se
percebe, há muitos problemas, muitas vertentes a serem analisadas, vários fatores que
influenciam o processo ensino-aprendizado, vários culpados apontados e muita soluções
sendo propostas, mas pouca coisa realmente sendo feita. Algumas lacunas ainda devem ser
discutidas por todos nós, professores, alunos, pesquisadores, por exemplo, quais seriam as
soluções efetivas para melhorar a qualidade e o acesso a educação? Elas existem? Devemos
tentar mudar o nosso modo de viver em sociedade primeiro ou a mudança começa na escola?
A educação deve despertar no sujeito a crítica, a autonomia intelectual e política, a fim
desse sujeito criar uma consciência do por que ele está ali e seu papel na sociedade. A escola
deve ir além no ato de ensinar o conhecimento científico, deve construir uma formação
humana possível. Portanto, um possível direcionamento para uma inclusão escolar, ou seja,
onde todos se sentem pertencidos no ambiente escolar, onde todos tenham uma aprendizagem
significativa pode estar na interação entre professor/aluno e no modo como o professor se
relaciona com o aluno, buscando compreendê-lo e observando melhor o seu comportamento,
na tentativa de explorar melhor o conhecimento que o aluno já possui, sem rotulá-lo ou
excluí-lo.
Referências
BASTOS, N. M. Olhares sobre a escola: um estudo exploratório a partir das vozes de alunos
do Curso de Pedagogia da UERJ. Trabalho de conclusão de curso (Graduação em Pedagogia)
– Universidade do Estado do Rio de Janeiro. 2014.
BORGES, L. P. C.; CASTRO, P. A.; MATTOS, C. L. G. . Formação Docente - A produção
do Fracasso Escolar: contribuições dos estudos etnográficos em educação. In: IV Simpósio
Pedagógico e Pesquisas em Educação, 2009, Resende. IV Simpósio Pedagógico e Pesquisas
em Educação, 2009. v. 4. p. 1-11.
BOURDIEU, P. Você disse “popular”? Revista Brasileira de Educação, n.1, p.16-26, 1996.
________. Carmen Lúcia Guimarães de. A pesquisa etnográfica sobre o Fracasso Escolar no
Brasil nas últimas décadas. Texto apresentado em Conferência proferida na Faculdade de
Educação da Universidade de Cambridge, UK, 2007.
COMPUTADOR
E
EDUCAÇÃO:
PERCEPÇÃO
E
EXPERIÊNCIAS
DE
ALUNOS(AS)
DE
PEDAGOGIA
Juliana
Linhares
de
Oliveira
A
sociedade
tem
enfrentado
uma
avalanche
tecnológica,
pois
em
períodos
curtos
de
tempo
são
desenvolvidas
novas
tecnologias
que
substituem
as
antigas
e
modificam
as
condições
de
trabalho,
de
ensino-‐aprendizagem
e
relações
sociais.
Segundo
Pierre
Lévy
(1999)
as
tecnologias
não
determinam
a
sociedade,
mas
possibilitam
diferentes
formas
de
usos
que
geram
novas
organizações
e
forma
de
vida,
que
vão
acontecer
de
acordo
com
o
interesse
daqueles
que
possuem
o
recurso
tecnológico
e
dominam
a
técnica.
A
partir
dessas
mudanças
a
escola
passa
a
ter
como
desafio
acompanhar
as
transformações
sociais.
Para
Junqueira
(2012,
p.291),
“Essas
mudanças
foram
tão
contundentes
que
gestores
e
educadores
viram
no
potencial
das
TIC47
um
instrumento
poderoso
para
reformar,
alterar,
melhorar
a
educação
escolar.”.
As
instituições
privadas,
assim
como
o
governo,
vêm
investindo
em
novas
tecnologias
e
programas
educacionais,
no
entanto,
é
importante
questionar
como
têm
sido
utilizadas.
Deste
modo
é
imprescindível
que
se
desenvolvam
pesquisas
que
objetivem
investigar
o
uso
das
tecnologias
digitais
no
âmbito
escolar.
O
estudo
de
Gomes
(2002)
informa
as
diferentes
formas
da
entrada
do
computador
na
escola,
essa
variação
acontece
de
acordo
com
as
propostas
e
interesses
que
são
distintos
entre
o
setor
público
e
privado.
Na
escola
pública
o
computador
chega
por
intermédio
das
políticas
públicas
criadas
pelo
Ministério
da
Educação,
já
nas
escolas
particulares
os
computadores
são
empregados
como
marketing,
como
meio
de
promover
a
escola
ou
por
cobrança
dos
pais.
Compreende-‐se
que
o
crescimento
das
políticas
de
inclusão
digital
nas
escolas
vem
acontecendo
por
considerar
o
computador
como
uma
nova
alternativa
de
ensino-‐
aprendizagem
e
democratizar
o
acesso,
principalmente
para
os
sujeitos
da
classe
menos
favorecida,
que
se
encontram
excluídos
desse
universo
digital.
Mattos
(2003)
diz
que
quem
não
está
inserido
na
nova
ordem
digital
corre
o
risco
de
ficar
à
margem,
excluído
não
só
do
mercado
de
trabalho,
mas
também
de
participar
de
um
mundo
novo,
virtual.
47
Tecnologias de informação e comunicação.
Dessa
forma,
o
presente
trabalho
tem
como
objeto
de
estudo
o
computador
no
campo
da
educação,
busca-‐se
apresentar
e
discutir
sobre
as
situações
de
uso
dessa
ferramenta
no
cotidiano
escolar
através
das
vozes
de
alunos.
Os
dados
a
serem
apresentados
fazem
parte
da
pesquisa
monográfica
desenvolvida
no
curso
de
graduação
em
Pedagogia
da
UERJ,
que
foi
realizado
com
base
nos
relatos
de
experiências
do
uso
do
computador
na
escola,
durante
a
trajetória
da
educação
básica,
por
alunos
e
alunas
do
curso
de
Pedagogia.
As
situações
apresentado
pelos
alunos(as)
fazem
parte
do
espaço
educacional
público
e
privado.
A
primeira
discussão
do
artigo
é
a
respeito
da
metodologia
que
possibilitou
o
desenvolvimento
da
pesquisa,
apresentando
os
sujeitos,
o
lócus,
os
instrumentos
para
a
coleta
de
dados
e
o
processo
de
análise.
No
segundo
momento
destacasse
os
resultados
obtidos,
explicitando
as
categorias
que
foram
encontradas
através
das
falas
dos
alunos.
E
por
fim,
as
considerações
finais.
Está
pesquisa
se
destaca
como
relevante
por
trazer
a
compreensão
de
futuros
educadores
sobre
o
contexto
atual
da
educação
diante
dos
novos
desafios
colocados
pela
sociedade
digital.
Metodologia
O
objeto
do
presente
estudo
é
o
computador
na
educação,
a
partir
deste
pretendeu-‐
se
investigar
o
uso
do
computador
na
escola,
por
alunos,
através
das
vozes
de
alunos(as)
do
curso
de
Pedagogia.
O
objetivo
é
descrever
e
refletir
a
visão
dos
alunos(as)
acerca
do
computador
no
espaço
escolar
confrontando
e/ou
relacionando
com
a
prática
vivenciada
na
escola,
respondendo
as
seguintes
questões:
Como
se
deu
o
acesso
e
uso
de
computadores
na
educação
básica
pelos
sujeitos
da
pesquisa?
Os
sujeitos
da
pesquisa
foram
estudantes
de
graduação
do
curso
de
Pedagogia
de
uma
universidade
pública,
localizada
no
estado
do
Rio
de
Janeiro.
Os
alunos
e
alunas
foram
convidados
a
participarem
da
pesquisa
como
voluntários.
Buscou-‐se
inicialmente
ter
conhecimento
sobre
o
perfil
dos
sujeitos
da
pesquisa,
como
forma
de
conhecer
aquele
que
fala,
compreendendo
a
realidade
do
público
que
possibilitou
o
desenvolvimento
deste
trabalho.
Participaram
desta
pesquisa
42
alunos(as),
sendo
três
homens
e
39
mulheres,
este
dado
mostra
a
realidade
do
perfil
de
estudantes
do
curso
de
Pedagogia,
onde
as
mulheres
são
a
maioria.
Além
disso,
observou-‐se
que
grande
parte
284
Eduardo50:
O
que
eu
sei
de
computador
aprendi
em
casa
sozinho
e
as
dúvidas
tiravam
com
o
meu
pai
e
irmão.
Íris:
Na
realidade
muito
pouco
ou
nada,
pois
a
hora
da
“aula
de
computação”
era
muito
superficial
e
pouco
lembro
do
que
foi
passado,
lembro
de
explicações
voltadas
para
o
Print.
A
minha
base
de
computação
se
deve
a
curso
específico
e
minha
prática
quase
que
diária
depois
que
ganhei
meu
primeiro
computador,
quando
já
estava
no
fundamental.
Laura:
Na
verdade
não
me
ajudou
em
nada,
o
que
me
auxiliou
para
ter,
pelo
menos,
conhecimentos
básicos
de
computador
foi
meu
pai
ter
me
colocado
em
um
curso
de
informática
e
minha
mãe
ter
comprado
um
computador
em
casa.
Esse
dado
indica
que
a
escola
tem
que
repensar
sobre
a
forma
como
o
computador
está
sendo
utilizado,
questionando
a
didática
e
o
currículo,
pois
como
mostra
Marinho
(2006)
a
escola
e
o
currículo
não
tem
conseguido
acompanhar
as
mudanças
sociais
para
atender
os
novos
educandos
que
compõem
esse
espaço,
apresentando
uma
práxis
pedagógica
e
um
cenário
educacional
que
atenda
a
contemporaneidade.
Rocha
(2008)
coloca
que
se
deve
reformular
o
currículo,
construir
novas
metodologias
e
repensar
o
significado
de
aprendizagem.
O
computador
para
alguns
alunos
fizeram
parte
do
contexto
escolar,
no
entanto
não
foram
utilizados.
A
Ângela
compreende
que
o
computador
no
espaço
educacional
funcionava
como
um
cumprimento
de
protocolo,
pois
não
era
usado
pelos
professores
e
nem
pelos
alunos.
O
que
mostra
a
precária
do
processo
de
inclusão.
Fátima:
Apenas
para
“enfeitar”
o
ambiente.
Ângela:
Que
a
escola
não
fazia
questão
de
ensinar
tal
matéria,
os
computadores
só
estavam
lá
para
cumprir
um
protocolo.
Laura:
[...]
pois
para
mim
a
escola
só
tinha
o
computador
como
fachada.
Isso
faz
pensar
que
os
computadores
existem
no
espaço
educacional
para
dizer
que
a
escola
vem
se
modernizando,
estando
a
par
das
mudanças
sociais
ocasionadas
pelas
tecnologias
de
informação
e
comunicação.
Gomes
(2002)
afirma
que
a
inserção
do
computador
no
ambiente
escolar
não
é
capaz
de
garantir
situações
inovadoras
de
aprendizagem.
As
ferramenta
devem
ser
articuladas
as
proposta
de
ensino,
oportunizando
uma
nova
dinâmica
no
modo
de
ensinar
e
aprender,
mas
para
isso
é
preciso
inicialmente
reconhecer
que
o
computador
pode
contribuir
para
a
elaboração
de
uma
nova
prática
pedagógica
se
articulado
a
idéias
inovadoras.
Porém,
as
falas
dos
50
Por razões éticas os nomes citados são fictícios.
287
alunos(as)
expõem
que
isso
não
acontece,
a
escola
ainda
demonstra
resistência
no
uso
do
computador
e
com
isso
o
negligencia.
Mônica:
Porque
a
escola
veria
o
uso
do
computador
desnecessário
para
o
ensino
e
aprendizagem
dos
alunos.
Fátima:
Acredito
que
a
escola
não
via
que
por
meio
do
uso
do
computador,
seria
possível
ensinar.
Rebeca:
Talvez
a
escola
não
desse
tanta
importância
ao
uso
do
computador.
Marisa:
A
meu
ver,
poderia
ser
por
vários
motivos.
Um
deles
pode
ser
pelo
descaso
da
escola
ou
pela
falta
de
profissionais.
O
impasse
citado
deve
acontecer
pelas
diferentes
experiências
que
os
sujeitos
que
constituem
a
escola
possuem
acerca
do
computador,
Prensky
(2001)
apresenta
dois
públicos:
os
nativos
digitais,
aqueles
que
dominam
a
linguagem
digital
dos
computadores,
vídeos
games
e
internet;
e
os
imigrantes
digitais,
que
são
aqueles
que
não
tiveram
contato
desde
cedo
com
as
tecnologias
citadas
anteriormente
e
buscam
inserir-‐se
na
nova
ordem
tecnológica.
O
debate
atual
sobre
tecnologia
já
não
mas
mesmo
assim
não
conseguem
apresentar
o
mesmo
comportamento
e
habilidades
que
os
nativos.
Número
de
computadores
insuficientes
e
falta
de
manutenção
Repensar
a
quantidade
de
computadores
instalados
na
escola
e
o
número
de
discentes
que
esta
atende
foi
sinalizado
como
algo
indispensável,
pois
o
número
insuficiente
deste
recurso
pode
ser
uma
barreira
para
o
uso
e
a
falta
de
manutenção
pode
ser
uma
agravante.
Observem
os
seguintes
relatos:
Laís:
Talvez
por
não
haver
recursos
para
a
manutenção
dos
computadores
[...].
Priscila:
Talvez
porque
não
haveria
recursos
para
manter
ou
profissionais
para
articular.
Eduardo:
Imagina
uma
sala
com
10
computadores
para
30
alunos,
sendo
que
somente
2
funcionavam.
Como
fazer?
Tinha
disciplina
de
informática,
o
que
mais
se
usava
era
o
quadro
e
caderno.
Elizabeth:
Estudei
em
escolas
que
não
tinham
computadores
suficientes
para
os
alunos
[...].
Partindo
do
questionamento
feito
pelo
aluno
Eduardo,
diante
da
realidade
citada
pelo
mesmo
e
por
outros
alunos,
“Como
fazer?”.
É
inviável
colocar
em
prática
uma
proposta
de
trabalho
sem
infraestrutura,
o
que
prejudica
a
principal
proposta
de
inserção
do
computador
na
escola
que
é
propiciar
o
acesso
a
esse
instrumento.
Outros
estudos,
como
de
Peres
et
al.
(2001),
mostra
que
essa
realidade
se
faz
presente
também
288
no
campo
universitário,
o
que
faz
pensar
que
é
uma
problemática
que
está
para
além
da
escola.
A
escola,
por
conta
da
gestão,
impossibilitava
o
acesso.
As
falas
levantam
o
dever
em
refletir
sobre
esses
problemas
e
estruturar
propostas
de
mudanças.
Adélia:
Isso
não
era
legal,
pois
às
vezes
precisávamos
fazer
trabalho
e
não
era
permitido
acessar
os
computadores,
apenas
com
hora
marcada
(o
que
era
impossível
fazer).
Marina:
A
escola
de
ensino
médio
possuía
um
laboratório,
entretanto
nos
quatro
anos
de
formação
apenas
uma
professora
levou
a
turma
uma
única
vez.
A
logística
de
organização
não
era
eficiente
os
horários
não
contemplavam,
os
professores
pediam
trabalhos
que
precisavam
de
recursos
da
informática,
mas
não
nos
ofereciam
o
material
que
a
escola
possuía.
Rafael:
Bem,
na
maioria
das
vezes,
a
“sala
dos
computadores”
ficava
trancada,
impossibilitando
dessa
forma
o
ingresso
dos
professores
e
alunos,
Isso
acontecia
porque
a
responsável
pela
chave
só
estava
na
escola
em
alguns
dias
da
semana.
Por
incrível
que
possa
parecer,
sempre
que
precisamos
usar
os
computadores
a
“dona
da
chave”
não
estava.
Esse
dado
vai
ao
encontro
da
pesquisa
de
Evangelista
(2008),
que
se
deparou
com
a
situação
do
laboratório
de
informática
estar
sempre
fechado,
e
isso
ocorreria
por
vários
motivos.
Uma
aluna
informou
o
que
poderia
provocar
essa
ação.
Joice:
Porque
tinha
um
certo
medo
dos
alunos
estragarem
o
computador.
Esse
ato
impossibilita
a
democratização
do
acesso,
dessa
forma
o
objetivo
em
superar
a
exclusão
digital
fica
estagnado.
Apesar
dos
problemas
e
dificuldades
para
se
ter
acesso
e
usar
o
computador
no
âmbito
escolar
é
importante
apontar
a
necessidade
dos
alunos(as)
do
curso
de
Pedagogia,
futuros
educadores,
em
se
apropriarem
dessa
ferramenta
no
seu
percurso
de
formação
universitária
e
pensar
sobre
o
uso
desse
recurso
no
contexto
de
ensino-‐aprendizagem,
estabelecendo
uma
relação
da
teoria
com
a
prática.
Para
Mattos:
Os
alunos
e
alunas
dos
cursos
de
Pedagogia
podem
e
devem
fazer
uso
da
tecnologia
como
um
aparato
cultural
a
ser
inserido
no
contexto
do
ensino/
aprendizagem
para
aumentar
as
chances
daqueles
que
somente
através
da
escola
têm
acesso
a
esses
bens
culturais.
Ao
mesmo
tempo
precisam,
reflexivamente,
se
permitirem
experimentar
novos
caminhos,
inventar
novos
processos
que
oportunizem
alunos
e
alunas
menos
privilegiados,
academicamente,
a
tomarem
maior
proveito
das
tecnologias
para
melhorarem
sua
aprendizagem
(MATTOS,
2013,
p.223).
As
palavras
de
Mattos
(2013)
relacionadas
aos
resultados
da
pesquisa
faz
pensar
na
necessidade
dos
futuros
educadores
se
apropriarem
dos
recursos
tecnológicos
e
traçar
289
novas
alternativas
de
ensino
como
forma
de
superar
as
dificuldades
que
estão
presentes
no
cotidiano
escolar
e
sua
própria
limitação,
evitando
reproduzir
as
situações
que
impossibilitam
uma
prática
significativa.
Finalizo
a
colocação
dos
resultados
obtidos
com
a
fala
do
aluno
Rafael,
que
expressa
o
seu
ponto
de
vista,
mencionando
o
que
realmente
deve
ser
pensado
para
a
utilização
do
computador
na
escola:
Rafael:
A
questão
a
se
pensar
de
fato,
não
é
a
inserção
de
computadores,
mas
o
uso
que
se
faz
deles.
O
docente
pode
utilizar
os
computadores
de
diversas
maneiras.
Para
uma
educação
bancaria,
onde
se
deposita
conhecimento
e
avalia
o
rendimento,
bem
como
para
formar
pessoas
críticas
e
reflexivas,
conscientes
socialmente
e
incluídas,
nessa
Era
Digital
de
maneira
plena,
não
apenas
como
usuária
do
computador,
porque
não
realizará
mudança
alguma
na
educação.
O
agente
da
mudança
é
o
ser
humano.
A
este
respeito
cabe
ao
professor
mudar
suas
concepções
educacionais
e
utilizar
o
computador
como
uma
ferramenta
transformadora,
não
mantedora.
Rafael
é
capaz
de
perceber
aquilo
que
indivíduos
inseridos
no
espaço
escolar
como,
gestores,
professores
não
percebem.
A
não
utilização
dos
recursos
tecnológicos
que
são
investidos
e
direcionados
a
escola
se
mostra
como
uma
problemática
que
precisa
ser
enfrentada.
Considerações
É
fato
que
os
computadores
estão
presentes
nas
escolas,
e
para
aquelas
que
ainda
não
possuem
deve-‐se
cobrar
ao
governo
a
aquisição
dessa
ferramenta,
mas
a
questão
que
este
trabalho
mostrou
foi
as
contradições
e
paradoxo
existentes
na
inserção
das
tecnologias
digitais,
no
caso
deste
estudo
o
computador.
Por
isso,
não
basta
apenas
inseri-‐los
nas
escolas,
é
imprescindível
discutir
seus
usos
e
contribuições
à
educação
com
aqueles
que
compõem
o
corpo
escolar.
O
discurso
de
melhoria
e
inovação
que
é
proferido
na
construção
dos
projetos
que
colocam
como
meta
o
acesso
às
tecnologias
digitais
e
fomenta
as
mudanças
dos
paradigmas
educacionais,
segundo
as
palavras
dos
alunos,
não
atingem
o
objetivo.
Em
concordância
ao
estudo
de
Velloso
(2014)
o
que
se
vê
em
relação
às
tecnologias
na
educação
é
antigos
discursos
otimistas,
ressignificado
em
novas
propostas
que
estão
imersas
de
mesmices,
que
se
propõem
a
gerar
uma
inovação
no
ensino.
É
importante
que
a
escola
analise
os
projetos
e
avalie
com
frequência
a
forma
como
fazem
uso
dos
computadores,
buscando
superar
os
desafios
existentes.
Como
pode
ser
290
Os
autores
Aline
Menezes
de
Barros
Possui
graduação
em
Pedagogia
pela
Universidade
Federal
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro
-‐
UNIRIO.
Mestre
em
Educação
pelo
Programa
de
Pós-‐graduação
da
Universidade
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro
(ProPEd/UERJ).
Pesquisadora
participante
do
Núcleo
de
Etnografia
em
Educação
da
Universidade
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro
-‐
NetEDU/UERJ
desde
2013.
Desenvolve
pesquisa
nas
áreas
de
Educação
de
pessoas
privadas
de
Liberdade,
Tecnologia
e
Educação
e
Pesquisa
Etnográfica.
Atuou
como
professora
substituta
na
disciplina
Tecnologia
e
Educação
-‐
UERJ.
Antonia
Valbenia
Aurélio
Rosa
Graduada
em
Pedagogia
(FAEC/UECE).
Especialista
em
Gestão
Escolar
(UECE).
Mestre
em
Educação
e
Doutoranda
em
Educação
pelo
Programa
de
Pós-‐graduação
da
Universidade
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro
(ProPEd/UERJ).
Pesquisadora
Associada
do
Núcleo
de
Etnografia
em
Educação.
Desenvolve
estudos
com
as
temáticas
de
educação,
pobreza,
exclusão
e
políticas
públicas.
Beatriz
Calazans
Dounis
Possui
Graduação
em
História
pelo
Centro
de
Ensino
Unificado
de
Brasília
(1993).
Mestrado
em
Teologia
e
Doutorado
em
Ciências
da
Educação
-‐
Área
de
Inovação
Pedagógica
pela
Universidade
da
Madeira
(2012).
Atualmente
é
professora
de
Historia
do
Centro
de
Internação
de
Adolescentes
Granja
das
Oliveiras,
professora
de
Metodologia
Científica
do
Instituto
Betel
Brasileiro
Faculdade
de
Teologia.
Tem
experiência
na
área
de
História,
e
Educação/Pedagogia,
atuando
principalmente
com
as
seguintes
temáticas:
Educação,
Cultura,
EJA,
Escola
e
Fracasso
Escolar.
Carmen
Lúcia
Guimarães
de
Mattos
Possui
graduação
em
Pedagogia
pela
Faculdade
de
Filosofia
Santa
Doroteia
(1976),
mestrado
em
Interdisciplinary
Studies
in
Human
Development
na
University
of
Pennsylvania
(1987)
e
doutorado
em
Education
Culture
And
Society
na
University
of
Pennsylvania
(1992).
É
professora
associada
da
Universidade
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro,
atuando
na
Faculdade
de
Educação
e
no
Programa
de
Pós-‐Graduação
em
Educação
(ProPEd).
Também
é
PROCIENTISTA
da
FAPERJ/UERJ.
Coordena
o
Núcleo
de
Etnografia
em
Educação
(NetEDU)
e
o
grupo
de
pesquisa
Etnografia
e
Exclusão.
Participa
de
diversas
parcerias
internacionais:
Universidade
da
Pensilvânia,
Universidade
de
Sydney,
Universidade
de
Cambridge,
Universidade
de
Pádua,
Universidade
de
Northampton
e
a
Universidade
de
Pretória.
Ao
longo
dos
anos
vem
disponibilizando
o
material
de
pesquisas,
por
meio
de
livros,
relatórios
de
pesquisa
e
artigos
científicos,
de
natureza
etnográfica
na
área
educacional
visando
estimular
o
intercâmbio
de
conhecimentos
e
socializar
os
resultados
de
pesquisas
e
reflexões
elaboradas
no
Brasil
e
no
exterior
a
partir
de
estudos
de
natureza
etnográfica.
Tem
experiência
na
área
de
Educação,
com
ênfase
em
Etnografia
na
Educação,
atuando
principalmente
nos
seguintes
temas:
fracasso
escolar,
etnografia,
justiça
social,
tecnologia
em
educação
e
gênero.
294
Daiane
de
Macedo
Costa
Possui
graduação
em
Pedagogia
pela
Universidade
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro
(UERJ).
Mestre
em
Educação
pelo
Programa
de
Pós-‐graduação
da
Universidade
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro
(ProPEd/UERJ),
atuando
principalmente
nos
seguintes
temas:
educação,
gênero,
conselho
de
classe,
fracasso
escolar
e
etnografia.
Edson
Soares
Gomes
Mestre
em
Ciências
Sociais
pela
Universidade
Federal
Rural
do
Rio
do
Rio
de
Janeiro
(UFRRJ).
Licenciatura
Plena
em
Pedagogia
(2010)
pela
Universidade
Estadual
de
Montes
Claros
(UNIMONTES).
Atuou
durante
6
meses
como
educador
na
unidade
do
Centro
de
Assistência
Socioeducativo
ao
Adolescente
(CASA)
em
Paracatu
-‐
MG
com
adolescentes
em
condição
de
liberdade
assistida.
Trabalhou
como
orientador
Educacional
no
Município
de
Itaguaí
-‐
RJ
por
três
anos
(entre
2012
e
2014).
Atualmente
trabalha
como
Pedagogo
chefe
da
Sessão
de
Articulação
Pedagógica
do
Centro
Federal
de
Educação
Tecnológica
Celso
Suckow
da
Fonseca
(CEFET
-‐
RJ),
campus
Itaguaí.
Possui
experiência
em
temas
relacionados
ao
ensino
e
aprendizagem
de
crianças
e
adolescentes
em
situação
de
vulnerabilidade
social.
Flávia
Mesquita
Bernardo
da
Silva
Possui
graduação
em
Pedagogia
pela
Universidade
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro
(UERJ),
onde
foi
bolsista
pelo
Núcleo
de
Etnografia
em
Educação
(NetEDU).
Juliana
Linhares
de
Oliveira
Mestranda
em
Educação
pelo
Programa
de
Pós-‐graduação
da
Universidade
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro
(ProPEd/UERJ).
Tem
experiência
na
área
de
Educação,
atuando
principalmente
nos
seguintes
temas:
ensino-‐aprendizagem,
etnografia,
exclusão
e
tecnologia.
Realizou
o
curso
de
formação
de
professores
no
Instituto
de
Educação
Sarah
Kubitschek,
obtendo
o
título
de
professora
da
Educação
Infantil
e
das
séries
iniciais
do
Ensino
Fundamental.
Concluiu
o
curso
de
Pedagogia
em
2013
na
Universidade
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro.
Participa
do
NetEDU
(Núcleo
de
Etnografia
em
Educação)
e
do
LED
(Laboratório
de
Etnografia
e
Educação),
coordenado
pela
Prof.ª
Dra.
Carmen
L.
G.
de
Mattos,
desde
o
primeiro
semestre
de
2011.
Realiza
produções
e
publicações
de
trabalhos
que
tratam
como
tema
central
a
Educação
e
outros
temas
pertinentes
como:
gênero,
violência,
pobreza,
inclusão,
exclusão,
tecnologias
da
educação
e
etnografia
em
âmbito
nacional
e
internacional.
O
tempo
de
inserção
no
grupo
de
pesquisa
demonstra
importância
na
formação
profissional
e
na
produção
acadêmica.
Luiz
Antonio
Gomes
Senna
Doutor
em
Linguística
Aplicada
(PUC-‐Rio:
1994),
atua
como
Professor
Associado
da
Universidade
do
Estado
do
Rio
de
Janeiro
(UERJ),
onde
é
membro
permanente
do
Programa
de
Pós-‐Graduação
em
Educação
(www.proped.pro.br).
Professor
titular
de
língua
portuguesa
e
literatura
brasileira
do
Colégio
Federal
Brigadeiro
Newton
Braga.
Pesquisador
bolsista
da
FAPERJ,
no
programa
Cientistas
do
Nosso
Estado.
Além
de
docente
e
orientador
na
graduação,
mestrado
e
doutorado,
desenvolve
pesquisas
de
base
teórico-‐conceitual
no
campo
formal
do
letramento
e
da
representação
da
escrita
alfabética,
com
ênfase
no
estudo
de
sistemas
e
categorias
metafóricas,
modos
do
295