Anda di halaman 1dari 18

1

FERNANDA AZEVEDO CHERINI

PROTEÇÃO DE MULHERES E CRIANÇAS CONTRA A VIOLÊNCIA


SEXUAL EM SITUAÇÕES DE DESLOCAMENTO FORÇADO

CURITIBA
2016
2

FERNANDA AZEVEDO CHERINI

PROTEÇÃO DE MULHERES E CRIANÇAS CONTRA A VIOLÊNCIA


SEXUAL EM SITUAÇÕES DE DESLOCAMENTO FORÇADO

Projeto de Pesquisa apresentado ao grupo de


iniciação científica “Mobilidade Humana Internacional
e Direitos Humanos” do Centro Universitário Curitiba.

Orientador: Msc. Thiago Assunção

CURITIBA
2016
3

RESUMO

Em face ao crescente número de pessoas que são forçadas a deslocarem-se de sua


residência, o presente artigo tem como objetivo chamar atenção para as questões
de violência sexual que mulheres e crianças passam em situações de deslocamento
forçado. Buscará também expor a débil proteção possuída por esses grupos, que se
encontram numa situação de dupla vulnerabilidade e não têm suas necessidades
mínimas atendidas. Pretende-se iniciar com um contexto introdutório sobre violência
sexual e deslocamento forçado, para poder comentar de forma um pouco mais
específica como a violência ocorre nessas situações. O foco será dado no sistema
de proteção para as mulheres e crianças que se encontram nessa condição,
mencionando alguns tratados internacionais que oferecem uma garantia geral da
proteção dos seus direitos, bem como a atuação das organizações internacionais
como a ONU, que procuram oferecer melhores condições para essas pessoas.

Palavras-chave: mulheres, crianças, violência sexual, deslocamento forçado.


4

SUMÁRIO

1. Introdução
2. Noções básicas
2.1. O que é a violência sexual
2.2. Os tipos de deslocamento forçado
3. Violência sexual em situações de deslocamento forçado
3.1. Como ocorre
3.2. Consequências da violência sexual
4. Proteções gerais contra a violência sexual
5. O trabalho das organizações internacionais
4.1. Medidas de prevenção e resposta
4.2. A responsabilidade das organizações
6. Conclusão
5

1. INTRODUÇÃO

A violência sexual atinge, principalmente, mulheres e crianças, e se em situações


"comuns" os números já são alarmantes, a condição de deslocamento forçado se
torna um agravante. Sabe-se que a situação dos deslocados é, por si por si só,
extremamente precária e, recentemente, tornou-se amplamente discutida
especialmente na questão dos refugiados. Contudo, a maioria das discussões
acerca desse tema pouco falam a respeito dos grupos que se veem numa condição
de dupla vulnerabilidade. Situações de conflito armado intensificam a violência
sexual e de gênero, e em grande parte dos casos, o agressor vem do próprio círculo
familiar, que tende a se tornar mais violento em ambientes violentos. E, ou pela
cultura local ou pela necessidade de segurança e proteção, as mulheres e crianças
acabam achando que precisam se submeter a essas condições e não denunciam o
agressor, dificultando o trabalho de proteção e prevenção.

Os direitos das mulheres e crianças estão previstos em inúmeros tratados


internacionais, entretanto, pouco se tem feito para, de fato, assegurá-los nas
circunstâncias mais importantes. Não é possível querer fornecer melhores condições
para os deslocados – ou promover soluções duradouras como o ACNUR propõe–,
ignorando o fato de que mais da metade dessa população não tem seus direitos
básicos garantidos. Programas de proteção específicos para mulheres e crianças
nessas situações ainda são pouco efetivos, muitas vezes por falta de recurso e
apoio – social e estatal–, devido à baixa divulgação que o tema possui. Assim,
estudos que tragam uma maior visibilidade ao tema são de extrema importância.

O objetivo da pesquisa é expor parte da realidade dessa vulnerabilidade das


mulheres e crianças em condições de deslocamento forçado, os dispositivos que em
teoria garantem seus direitos e as ações que têm sido realizadas a respeito. Espera-
se gerar um maior debate sobre o tema, bem como propor soluções para melhor
enfrentar o problema da violência sexual nesta questão.
6

2. NOÇÕES GERAIS

2.1. O que é violência sexual

A violência sexual está, na maioria das vezes, atrelada à violência de gênero, a


qual compreende qualquer ato nocivo ou ameaça praticada contra a vontade da
pessoa, que ocorre como efeito da construção social dos papéis desiguais de
gênero. Ela pode ser perpetrada de diferentes modos, como a violência física,
psicológica ou sociocultural. Por mais que a violência de gênero possa acontecer
com qualquer sexo, historicamente, ela afeta, principalmente, o gênero feminino. Na
maioria das culturas, as crenças, instituições sociais, normas e tradição legitimam
essa submissão da mulher em prol do homem, formando o regime extremamente
forte e cristalizado do patriarcado. Isso faz com que, mesmo após séculos de luta
pela igualdade de gênero, ainda haja muito avanço a ser feito e valores obsoletos a
serem quebrados. Assim, a violência sexual entra como uma das formas de
violência de gênero, caracterizada por qualquer prática sexual não consensual,
imposta por meio da violência ou grave ameaça, atingindo ambos os sexos. Apesar
disso, o artigo focará apenas em como esta violência afeta as mulheres e crianças,
considerando que são os grupos de maior risco.

A agressão sexual não é apenas física, ela pode se apresentar também de


outras formas que, apesar de sabermos da existência, são pouco faladas, muitas
vezes até ignoradas, passando longe de ter a proteção adequada. Como a violência
sexual psicológica, que não requer contato físico, mas inclui ameaças, perseguições,
o uso de linguagem abusiva e humilhação pública, entre outros. Ou também a
violência sexual cultural, um exemplo seria as práticas tradicionais de mutilação
genital de meninas, que tem cerca de 200 milhões de vítimas, segundo um estudo
da UNICEF1. Outra questão é a do apedrejamento e linchamento de mulheres, que
são práticas consideradas comuns em alguns locais. De acordo com a ONU


1UNICEF. Female Genital Mutilation/Cutting: A global concern, 2016. – Disponível em:
https://www.unicef.org/media/files/FGMC_2016_brochure_final_UNICEF_SPREAD.pdf

Mulheres2, 1 a cada 3 mulheres são vítimas de violência física ou sexual, afirmando


também que certas situações podem agravar essa condição de vulnerabilidade,
como crises humanitárias.

O agressor é, na maioria das vezes, alguém conhecido da vítima, como parceiro


íntimo, familiares e amigos, ainda segundo a ONU Mulheres, esse é o caso de 2 a
cada 3 mulheres. Nessas condições, estabelece-se uma hierarquia e situação de
dominância, fundada em violências psicológicas como ameaças. Adicionando a
sensação de culpa e humilhação da vítima, mesmo de 40% relataram a alguém o
abuso e menos de 10% foram à polícia. Como pode-se perceber, estes números são
alarmantes e muito preocupantes, mostrando a ineficácia do sistema de proteção
"comum” às mulheres e crianças. Considerando o agravante do deslocamento
forçado, torna-se óbvio a extrema importância da discussão e maior proteção que
essa situação exige.

2.2. Tipos de deslocamento forçado

Migração ou deslocamento forçado é o movimento feito contra a vontade das


pessoas para longe de suas casas, cidades e até mesmo países, desencadeado
muitas vezes por conflitos armados, mas também pode ocorrer por desastres
ambientais. O deslocamento forçado tornou-se uma situação de crise humanitária,
com números jamais vistos, resultando em 65.3 milhões de pessoas no final de 2015
segundo relatório do ACNUR 3, quase 6 milhões a mais que no mesmo período do
ano passado, sendo que cerca de 51% sejam crianças e mais da metade dos
deslocados sejam mulheres. Assim, uma a cada 113 pessoas no mundo encontra-se
na condição de refugiado, deslocado interno ou buscando refúgio. Em 2015, 24
pessoas foram forçadas a se deslocar a cada minuto, sendo o equivalente a quatro
vezes mais pessoas que na década passada. A cada ano, o número de pessoas
bate novos recordes, bem como o número de mortos em decorrência de sua
condição, seja no mar tentando obter refúgio, ou nos desertos tentando evitar

2United Nations Department of Economic and Social Affairs. The World’s Women 2015, Trends and
Statistics, Chapter 6, Violence against Women, 2015. – Disponível em:
http://unstats.un.org/unsd/gender/chapter6/chapter6.html

3ACNUR. Global Trends, Forced Migration in 2015– Disponível em:


http://www.unhcr.org/576408cd7.pdf
8

conflitos armados. Há várias razões para o constante aumento dos deslocamentos,


uma delas é de que os conflitos armados que geram ondas de refugiados parecem
estar longe de acabar, em locais como na Somália e Afeganistão, estão em sua
terceira e quarta década respectivamente. Novos conflitos também continuam a
surgir e perdurar, como na Síria, Sudão do Sul, Iêmen, entre outros inclusive na
América do Sul. E, infelizmente, a taxa com que soluções estão sendo encontradas
vem decrescendo, contrastando com o aumento de pessoas deslocadas.

Refugiados são reconhecidos internacionalmente pela Convenção Relativa ao


Estatuto dos Refugiados de 1951, aprimorada pelo Protocolo Relativo ao Estatuto
dos Refugiados de 1967 como qualquer pessoa que tenha fugido de seu país por
perseguição ou fundado temor de perseguição por raça, religião, nacionalidade,
pertencimento a grupo social ou opinião política. A Declaração de Cartagena de
1984, assinada por alguns países da América, também considera como refugiados

[...] as pessoas que tenham fugido dos seus países porque a sua vida,
segurança ou liberdade tenham sido ameaçadas pela violência
generalizada, a agressão estrangeira, os conflitos internos, a violação
maciça dos direitos humanos ou outras circunstâncias que tenham
perturbado gravemente a ordem pública.

Antes de cruzar a fronteira de seu país de origem e chegar a outro país, a


pessoa não é considerada refugiada, só após transcender a fronteira do país de
destino que poderá gozar das proteções previstas na Convenção de 1951. Uma
dessas proteções é o princípio da não-devolução, a partir do momento que a pessoa
chega no país e solicita o refúgio, ela não pode ser mandada de volta ao seu local
de origem nem ser expulsa. A Convenção prevê que cada caso deve ser analisado,
incluindo uma entrevista pessoal com o solicitante, antes de uma decisão ser
tomada. O número de solicitantes de refúgios é de 3.2 milhões de pessoas segundo
o ACNUR4, e o de refugiados é de 20 milhões.

Apátrida é a pessoa que não possui nacionalidade, ou seja, de acordo com a


Convenção sobre o Estatuto dos Apátridas de 1964, não é considerada nacional de
Estado algum, consequentemente, não há um Estado que garantirá seus direitos
básicos como saúde, educação, emprego, moradia entre outros. Há várias situações


4 ACNUR. Ibid.
9

que podem levar à apatridia, mas isso ocorre principalmente quando um Estado
deixa de existir, ou um Estado é ocupado e não reconhece certas minorias, ou até
mesmo quando a pessoa é banida de seu país de origem. O ACNUR5 estima que
cerca de 10 milhões de pessoas se encontram no estado de apátrida.

Já os deslocados internos formam a maior parcela de todos os casos de


deslocamento forçado, abrangendo cerca de 40.8 milhões de pessoas, atingindo
cerca de 30 mil pessoas por dia. São indivíduos que precisaram fugir de suas casas
como os refugiados, mas não conseguiram buscar auxílio em outro país, tendo que
permanecer sob a proteção de seu país de origem, mesmo que este não tenha
capacidade de fornecê-la, ou seja o motivo da fuga. Os motivos podem ser diversos,
incluindo os mesmos que dos refugiados, como conflito armado e perseguição, mas
também para casos nos quais o refúgio não é previsto, como desastres ambientais e
pobreza. Apesar de ser o maior grupo de deslocamento forçado, essas pessoas são
as que contam com menos proteção, estatal ou internacional, sem tratados ou
convenções que possam auxiliá-los, há apenas o trabalho de algumas organizações
internacionais como o ACNUR, mas que atingem apenas uma pequena parte dessa
população.


5 ACNUR. Ibid.
10

3. A VIOLÊNCIA SEXUAL EM SITUAÇÕES DE DESLOCAMENTO FORÇADO

3.1. Como ocorre

Apesar de todos serem afetados pela violência de alguma forma, são as


mulheres e crianças que se encontram numa desvantagem ainda maior, pobreza,
falta de acesso a educação e emprego as tornam alvos fáceis para variados tipos de
violência. Grande parte dos combatentes são homens, deixando suas mulheres
numa situação desconhecida, tendo passado a vida inteira sob resignação do
marido, de repente, se veem na necessidade de tomar o comando da família e
cuidar de si mesmas, sendo outro fator que adiciona à vulnerabilidade. Os locais de
acolhida a essas pessoas, como campo de refugiados, estão superpovoados,
trabalhando com mais pessoas que podem acolher, são locais em que a violência
sexual pode passar despercebida, representando um perigo para as mulheres e
crianças, invés de ser um local que possa lhe conceder alguma segurança. E a
maioria dos Estados que acolhem refugiados não têm sequer um procedimento
especial para atender as vítimas de violência sexual, quando há algum auxílio, é má
divulgado dificultando o acesso a informação da vítima, somado ao medo,
humilhação dentre outros motivos, raramente as vítimas relatam o abuso. Todos
esses elementos citados acima, contribuem para que mulheres e crianças sejam
vítimas de violência sexual, que como mencionado anteriormente, a violência sexual
pode ocorrer de diversas formas, não estando restrita apenas a agressão física.

As crianças sofrem bastante com a questão do casamento forçado, já


característico de algumas culturas, nas quais as filhas são vendidas a homens mais
velhos, mas que se intensifica em contextos violentos, porque os pais precisam de
dinheiro ou por acharem que é a melhor solução para garantir a segurança da
criança. O casamento forçado também pode gerar casos de gravidez ou aborto
forçado, e o número de infanticídio feminino aumenta drasticamente e meio ao
conflito armado. O tráfico de mulheres e crianças para prostituição forçada, é bem
comum, os pais ou maridos enviam seus filhos e mulheres para tentar conseguir
refúgio sozinhos e depois pedir a restituição familiar, mas muitos desaparecem,
tornando-se vítimas do tráfico. Muitos grupos paramilitares se aproveitam da falta de
11

instrução das crianças e as manipulam a servir militarmente, ou simplesmente


impõem o serviço militar forçado.

A violência doméstica, que já tem números preocupantes em contextos normais,


piora com o conflito armado, muitos homens se sentem impotentes nessas situações
e podem querer "garantir" sua masculinidade expressando-a de forma violenta
contra as mulheres e crianças, caracterizado como abuso de poder. Nenhum Estado
ou organização mantém números e dados sobre a violência sexual em situações de
deslocamento forçado, isso já mostra a falta de ação frente ao problema, bem como
de um devido sistema de proteção. Mas sabe-se que o estupro ocorre amplamente e
de diversas formas. Pode ser usado como arma de guerra, para incitar o medo e
subordinação em certas regiões, também pode ocorrer a exploração do "sexo de
sobrevivência", demandando o ato em troca de proteção, dinheiro ou mantimentos
necessários, sendo perpetrado até mesmo por membros de organizações
internacionais e em campos de refugiados.

3.2. Consequências da violência sexual

As sequelas nas vítimas podem ocorrer em diversas ordens, desde lesões


físicas, transtornos psicológicos de longo termo, e até mesmo à morte, lembrando
que a agressão não precisa ser física para levar a esses resultados. As principais
consequências psicológicas e emocionais incluem estresse pós-traumático,
depressão, ataques de pânico e de ansiedade, raiva e comportamento agressivo,
vergonha, ódio de si mesma, culpa, pensamentos e comportamentos suicidas entre
outras doenças mentais. As consequências físicas podem ser igualmente severas,
abrangendo lesões, estado de choque, doenças sexualmente transmissíveis,
especialmente AIDS, alguma deficiência física, problemas alimentares como
anorexia, insônia severa, vício em drogas e álcool, aborto espontâneo, gravidez
indesejada e outros problemas reprodutivos. Mas é importante lembrar que as
consequências não são apenas para a vítima, mas sim para a sociedade em geral,
como o aumento das desigualdades de gênero e feminização da pobreza. Estes são
decorrentes do estigma social pelo qual a vítima de abuso sexual passa, como
culpabilização da vítima, tanto em nível societal quanto institucional, levando a
rejeição e isolação social.
12

Além disso, com os refugiados representando uma parcela cada vez maior da
população, sua saúde mental é refletida na sociedade, devendo ser do interesse de
todos sua preservação. Se levarmos em conta que o período da infância é o um dos
mais importantes na formação da pessoa, e quando esse período é marcado por
violência e abusos, os riscos de desenvolver problemas mentais duradouros são
altos. Antes de conseguir o refúgio, e até mesmo depois, as crianças e mulheres têm
que lidar com a depressão, estresse pós-traumático e outros problemas mentais,
nos campos de refugiados ou outros locais que quase não oferecem tratamento e
auxílio especial necessários. Tendo em mente a importância desse assunto, ele será
melhor abordado num próximo capítulo.
13

4. PROTEÇÃO GERAL CONTRA A VIOLÊNCIA SEXUAL

De forma muito vaga, pode-se considerar que a Declaração Universal dos


Direitos Humanos de 1948 prevê alguma proteção contra violações sexuais,
mencionando em seu Artigo 5º que “Ninguém será submetido a tortura nem a penas
ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes". E em seguida, no Artigo 7º, a
Declaração garante que as pessoas sejam protegidas por lei contra as violações que
ela prevê.

Todos são iguais perante a lei e, sem distinção, têm direito a igual
proteção da lei. Todos têm direito a proteção igual contra qualquer
discriminação que viole a presente Declaração e contra qualquer
incitamento a tal discriminação.

A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a


Mulher de 1979 vem como uma forma de especificar essa parte da Declaração que
ficou vaga, no entanto, apesar de garantir diversos direitos à mulher, não menciona
a questão da violência sexual de forma direta. Apenas define o que é a
discriminação contra a mulher e afirma que os Estados se comprometem a eliminá-la
em seus Artigos 1º e 2º respectivamente:

Artigo 1º - Para fins da presente Convenção, a expressão


"discriminação contra a mulher" significará toda distinção, exclusão ou
restrição baseada no sexo e que tenha por objeto ou resultado prejudicar ou
anular o reconhecimento, gozo ou exercício pela mulher,
independentemente de seu estado civil, com base na igualdade do homem
e da mulher, dos direitos humanos e liberdades fundamentais nos campos
político, econômico, social, cultural e civil ou em qualquer outro campo.

Artigo 2º - Os Estados-partes condenam a discriminação contra a


mulher em todas as suas formas, concordam em seguir, por todos os meios
apropriados e sem dilações, uma política destinada a eliminar a
discriminação contra a mulher […].

É somente após 1993, com a Segunda Conferência de Direitos Humanos em


Viena, que a violência sexual foi oficialmente reconhecida como uma quebra dos
direitos das mulheres e também de direitos humanos, sua principal contribuição
estando no Artigo 18:
14

Os Direitos do homem das mulheres e das crianças do sexo feminino


constituem uma parte inalienável, integral e indivisível dos direitos humanos
universais. A participação plena e igual das mulheres na vida política, civil,
económica, social e cultural, a nível nacional, regional e internacional, e a
irradicação de todas as formas de discriminação com base no sexo
constituem objetivos prioritários da comunidade internacional.

A violência com base no género da pessoa e todas as formas de


assédio e exploração sexual, incluindo as resultantes de preconceitos
culturais e tráfico internacional, são incompatíveis com a dignidade e o valor
da pessoa humana e devem ser eliminadas. Tal pode ser alcançado através
de medidas de carácter legal e da ação nacional e da cooperação
internacional em áreas tais como o desenvolvimento socioeconômico, a
educação, a maternidade e os cuidados de saúde, e assistência social.

Apesar desses dispositivos preverem que os Estados protejam as mulheres e


crianças e criem leis para isso, e que os Estados tenham ratificado as Convenções,
esses tratados são de soft law, não possuindo valor legal nem sendo passíveis de
punições. O Direito Internacional Humanitário poderia ser o instrumento que traz
caráter obrigatório ao respeito pelo direito das mulheres, contudo, é aplicável
somente em casos de conflito internacional. A maioria dos casos de deslocamento
forçado que decorrem são por conta de guerras civis, não entrando na abrangência
do Direito Internacional Humanitário. Essa questão é extremamente controversa,
pois por um lado é preciso respeitar a soberania dos Estados, mas por outro
permite-se que enormes violações de direitos humanos ocorram, inclusive
genocídios, como o caso de Ruanda.
15

5. O TRABALHO DAS ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

Como já citado, grande parte dos Estados onde as vítimas de deslocamento


forçado se encontram não possuem um sistema geral de proteção ou auxílio, seja
por falta de interesse ou de capacidade financeira. No caso das mulheres e crianças
que precisam de cuidados e atenção especiais, essa falta de proteção torna-se um
problema ainda mais grave. Assim, o "sistema de proteção" depende muito do
trabalho de organizações internacionais, como a UNICEF, ACNUR e demais,
contudo, as organizações também encontram dificuldades. Alguns países não
aceitam a atuação de ONGs em seu território, mas o principal problema ainda é
financeiro, muitas vezes as organizações não conseguem alcançar a meta de
doações, recebendo menos da metade necessária para sua atuação. Não obstante,
o trabalho das organizações internacionais é fundamental e busca abranger o maior
número de pessoas da melhor forma possível, de acordo com suas limitações.

5.1. Medidas de prevenção e resposta

O ACNUR coloca que para prevenir a violação sexual, é preciso entender suas
causas e fatores que contribuem para sua perpetração. Assim, a política utilizada é
de se informar sobre a situação relativa ao abuso sexual em diversas regiões, para
poder adotar medidas realmente eficientes. Buscando trabalhar em conjunto com
organizações e governos locais, as principais medidas do ACNUR são de
transformar as normas socioculturais, a fim de educar e empoderar as mulheres e
crianças. As organizações também procuram envolver não só as mulheres, mas
também os homens, uma vez que compõem a maior parte dos perpetradores, sua
reeducação também é fundamental. As organizações internacionais também focam
em construir laços comunitários e familiares que possam fornecer apoio, assim como
construir instalações com serviços que possam prover informação e educação, a fim
de diminuir o grau de vulnerabilidade dessas pessoas, e incentivar que relatem
qualquer caso de abuso. É somente a partir dos relatos que as ONGs podem
monitorar as violações sexuais e planejar melhores respostas, além disso, elas
procuram certificar-se de que os governos atendam as normais internacionais de
direitos humanos.
16

Quando as vítimas são identificadas, procura-se fornecer auxílio psicológico,


treinando voluntariados para saber como melhor lidar com as vítimas, alguns
campos de refugiados possuem até mesmo profissionais, psicólogos voluntários que
podem ajudar de forma ainda mais adequada. Há também planos para tratar outras
necessidades referentes a saúde das vítimas, como em casos de doenças, lesões,
gravidez ou abortos. Além desse tratamento especial para as vítimas mulheres,
crianças recebem uma atenção diferenciada, respeitando o princípio do melhor
interesse da criança, consultando-as sobre quaisquer decisões e também buscando
remanescentes familiares com dos quais a criança possa contar com a proteção. Já
num projeto mais a longo prazo, o ACNUR tenta trabalhar em planos de estabelecer
um sistema de proteção legal que, como já mostrado, está em falta, esperando que
possa lidar de forma efetiva com os agressores.

5.2. A responsabilidade das organizações

Em se tratando de um grande número de vidas, a ação das organizações


internacionais não pode ser tratada de forma leviana, é uma enorme
responsabilidade a ser levada a sério. Apesar de procurar opinião de especialistas e
consultar profissionais ao desenvolver seus planos de ações, uma questão da
resposta das organizações, especialmente da Organização das Nações Unidas,
deixa a desejar, e é exatamente sobre o assunto que este artigo trata. Em 2015
houve um aumento de 25% nos casos de trabalhadores em missões de paz e em
campos de refugiados abusando sexualmente de mulheres e crianças. O número
pode parecer pequeno, 99 casos conhecidos, mas considerando que essas pessoas
são quem deveriam estar mantendo a segurança dos deslocados, isso se torna em
um problema grave. E, apesar da ONU afirmar que tem uma política de tolerância
zero contra casos de abuso, ela foi fortemente criticada por não punir de fato os
agressores, ou não punir da forma devida. Espera-se que futuramente essa questão
seja tratada apropriadamente, e que reflita os ideais da organização.
17

6. CONCLUSÃO

Após tentar oferecer uma introdução sobre o que é a violência sexual e suas
características principais, e trazer informações sobre os diferentes tipos de
deslocamento forçado, o artigo pôde abordar as diferentes facetas do abuso sexual,
como casamento forçado, tráfico humano, prostituição, entre outros citados.
Buscando trazer também os motivos pelos quais ocorre, assim como a
consequência pela qual as vítimas enfrentam, sejam físicas, psicológicas ou sociais.
Mas o principal ponto era ilustrar que o sistema de proteção, como os tratados
mencionados ou a ação das organizações internacionais está longe de ser
adequado. Os tratados não possuem valor legal e as organizações só têm
capacidade de atingir uma pequena parcela dos afetados pela violência sexual.
Portanto, é imprescindível que o tema seja cada vez mais discutido, a fim de gerar
conscientização nas pessoas, para que possam contribuir, cada um de sua forma,
para que o auxílio às vítimas possa chegar o mais perto do ideal possível.


18

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SAFFIOTI, HELEITH I.B. Contribuições feministas para o estudo da violência de


gênero – 2001.

CARE. Guidance for Gender Based Violence (GBV) Monitoring and Mitigation within
Non-GBV Focused Sectoral Programming – 2014.

UNFPA, Defining gender based violence. Disponível em: <http://www.health-


genderviolence.org/training-programme-for-health-care-providers/facts-on-
gbv/defining-gender-based-violence/21>. Acesso em 20 de março de 2016.

UNFPA, Combating Gender-Based Violence: A Key to Achieving the MDGS – 2005.

Cari Clark, Gender-Based Violence Research Initiatives In Refugee, Internally


Displaced, and Post-Conflict Settings: Lessons Learned – 2003.

WHO, Violence and Disasters – 2005.

Anda mungkin juga menyukai