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RAZÕES DE ALGUMAS OPINIÕES DO POVO

I
Passagem continua do pró para o contra.
Mostramos que o homem é vão pela estima que faz das coisas que não são
essenciais. E todas
essas opiniões estão destruídas. Mostramos, em seguida, que todas essas
opiniões são muito sãs e que,
assim, sendo todas essas vaidades muito bem fundadas, o povo não é tão vão
quanto se diz. E, assim,
destruímos a opinião que destruía a do povo.
Mas, é preciso destruir, agora, essa última proposição, e mostrar que continua
sempre a ser
verdadeiro que o povo é vão, embora suas opiniões sejam sãs, porque não
sente a verdade delas onde
ela existe e porque, pondo-a onde não existe, as suas opiniões são sempre
muito falsas e muito malsãs.
II
É verdadeiro dizer que toda a gente vive na ilusão: pois que, embora as
opiniões do povo sejam
sãs, não o são em sua cabeça, pois ele pensa que a verdade existe onde não
existe. A verdade está nas
suas opiniões, mas não ao ponto em que eles imaginam.
III
O povo honra as pessoas de grande nascimento. Os semi-hábeis as
desprezam, dizendo que o
nascimento não é uma vantagem da pessoa, mas do acaso. Os hábeis as
honram, não pelo pensamento
do povo, mas por um pensamento mais elevado. Os devotos, que têm mais
zelo do que ciência, as
desprezam, mau grado essa consideração que as faz honrar entre os hábeis,
porque julgam isso por uma
nova luz que a piedade lhes dá. Mas, os cristãos perfeitos as honram por uma
outra luz superior. Assim
vão as opiniões sucedendo-se do pró ao contra, segundo se tem luz.
IV
O maior dos males são as guerras civis. Elas são certas se se quer
recompensar o mérito, pois
todos diriam que merecem. O mal que temer de um tolo que sucede por direito
de nascimento não é
nem tão grande nem tão certo.
V
Porque se segue a pluralidade? E porque eles têm mais razão? Não, mas mais
força. Porque se
seguem as antigas leia e antigas opiniões? E porque são mais sãs? Não, mas
porque são únicas e nos
tiram a raiz da diversidade.
VI
O império fundado sobre a opinião e a imaginação reina algum tempo, e esse
império é doce e
voluntário: o da força reina sempre. Assim, a opinião é como a rainha do
mundo, mas a força é o seu
tirano.
VII
Como se faz bem em distinguir os homens pelo exterior, e não pelas
qualidades interiores Quem
passará de nós dois? Quem cederá o lugar ao outro? O menos hábil? Mas, eu
sou tão hábil quanto ele.
Será preciso nos batermos por isso. Há quatro lacaios, e eu só tenho um: isso
é visível; basta contar;
sou eu a ceder, e sou um tolo se contesto. Eis-nos em paz por esse meio: o
que é o maior dos bens.
VIII
O costume de ver o rei acompanhado de guardas, de tambores, de oficiais, e
de todas as coisas
que levam o mundo ao respeito e ao terror, faz com que o seu rosto, quando
ele está às vezes sozinho e
sem esses acompanhamentos, imprima em seus súditos o respeito e o terror,
porque não se separa no
pensamento a sua pessoa do seu séquito, que se vê de ordinário juntamente
com ele. E o mundo, que
não sabe que esse efeito tem sua origem nesse costume, acredita que isso
provenha de uma força
natural; daí estas palavras: O caráter da Divindade está impresso no seu rosto,
etc.
A potência dos reis é fundada sobre a razão e sobre a loucura do povo, e bem
mais sobre a
loucura. A maior e mais importante coisa do mundo tem por fundamento a
fraqueza: e esse fundamento
é admiravelmente seguro; pois não há nada mais seguro do que isso, que o
povo será fraco; o que é
fundado sobre a sã razão é bem mal fundado, como a estima da sabedoria.
IX
As coisas do mundo mais desarrazoadas se tornam as mais razoáveis por
causa do
desregramento dos homens. Que há de menos razoável do que escolher para
governar um Estado o
primeiro filho de uma rainha? Não se escolhe, para governar um barco, aquele
dentre os viajantes que
tem melhor casa: seria uma lei ridícula e injusta. Mas, porque o são e o serão
sempre, ela se torna
razoável e justa; pois, quem se escolherá? O mais virtuoso e o mais hábil? Eis-
nos incontinente
embaraçados: cada um pretende ser esse mais virtuoso e esse mais hábil.
Liguemos, pois, essa
qualidade a alguma coisa de incontestável. É o filho mais velho do rei. Isso é
claro, não há discussão. A
razão não pode fazer melhor, pois a guerra civil é o maior dos males.
X
Santo Agostinho viu que se trabalha pelo incerto, no mar, na batalha, etc.; não
viu a regra dos
partidos que demonstra que se deve fazê-lo. Montaigne viu que nos ofendemos
com um espírito
claudicante, e que o costume pode tudo; mas, não viu a razão desse efeito.
Todas essas pessoas viram
os efeitos, mas não viram as causas. São, em relação, aos que descobriram as
causas, como os que só
tiveram olhos em relação aos que têm o espírito. Pois os efeitos são como
sensíveis, e as causas são
visíveis somente ao espírito. E, embora esses efeitos se vejam pelo espírito,
esse espírito é, em relação
ao espírito que vê as causas, como os sentidos corporais em relação ao
espírito.
XI
Como se explica que um coxo não nos irrite, e que um espírito coxo nos irrite?
E que um coxo
reconhece que andamos direito, e um espírito coxo diz que somos nós que
coxeamos; sem isso,
teríamos piedade dele, e não raiva.
Epíteto pergunta, com muito mais força, porque não nos zangamos quando nos
dizem que
somos malucos, e nos zangamos quando nos dizem que raciocinamos mal ou
que escolhemos mal. O
motivo é que estamos certos de não sermos malucos, e de não sermos coxos;
mas, não estamos tão
certos de escolher o verdadeiro. De sorte que, só tendo certeza porque vemos
com toda a evidência,
quando um outro vê com toda a evidência o contrário, Isso nos deixa vacilantes
e nos assombra, e ainda
mais quando mil outros zombam da nossa escolha, pois é preciso preferir as
nossas luzes às de tantos
outros, o que é arriscado e difícil. Nunca há essa contradição nos sentidos em
relação a um coxo.
O respeito consiste nisto: Incomodai-vos. Embora vão em aparência, isso é
muito justo; pois
significa: Eu me incomodaria se tivésseis, necessidade, pois o faço sem que
isso vos sirva: além disso,
o respeito é para distinguir os grandes. Ora, se o respeito consistisse em estar
numa poltrona,
respeitaríamos toda a gente, e, assim não distinguiríamos; mas, sendo
incomodados, distinguimos
muito bem.
XIII
Ser elegante não é muito vão: pois é mostrar que um grande número de
pessoas trabalha para si;
é mostrar, pelos cabelos, que temos um criado grave, um perfumista, etc.; pelo
ornato, o fio, os
passamanes, etc.
Ora, não é uma simples superfície, nem um simples arnês, ter vários braços
(para o próprio
serviço).
Quanto mais braços se têm, mais forte se é. Ser elegante é mostrar a própria
força.
XIV
É admirável: não querem que eu honre um homem vestido de brocado e
acompanhado de sete
ou oito lacaios! Como! ele mandará açoitar-me se eu não o saudar. Esse hábito
é uma força; o mesmo
não acontece com um cavalo bem arreado em relação a um outro.
Montaigne diverte-se por não ver que diferença existe, admirando-se de que se
ache alguma e
perguntando a razão.
XV
O povo tem as opiniões muito sãs: por exemplo, 1o.) escolher o divertimento e
a caça em lugar
da poesia: os semi-sábios zombam e triunfam em mostrar com isso a loucura
do mundo; mas, por uma
razão que não penetram, tem-se razão; 2o.) distinguir os homens por fora,
como pela nobreza ou pela
fortuna: o mundo. triunfa, ainda, em mostrar quanto isso é desarrazoado; mas,
é bem razoável; 3o.)
ofender-se por ter recebido uma bofetada; ou desejar tanto a glória; mas, isso é
muito desejável, por
causa dos bens essenciais que lhe são inerentes; e um homem que recebeu
uma bofetada sem magoar-se
é atormentado por injúrias e necessidades; 4o.) trabalhar pelo incerto; viajar
por mar; passar sobre uma
prancha.
XVI
É uma grande vantagem a qualidade, que, há dezoito ou vinte anos, torna um
homem apto,
conhecido e respeitado, como um outro o poderia ter merecido em cinqüenta
anos: são trinta anos
ganhos sem trabalho.
XVII
Um homem que se põe à janela para ver os passantes, se eu estiver passando,
posso dizer que
ele se pôs à janela para ver-me? Não, pois não pensa em mim em particular.
Mas, quando gostamos de
uma pessoa por causa de sua beleza,, gostamos dela? Não; pois a varíola, que
tirará a beleza sem matar
a pessoa, fará que não gostemos mais; e, quando se gosta de mim por meu
juízo, ou por minha
memória, gosta-se de mim? Não; pois posso perder essas qualidades sem me
perder. Onde está, pois,
esse eu, se não no corpo nem na alma? É como amar o corpo ou a alma, se
não por essas qualidades,
que não são o que faz o eu, de vez que são perecíveis? Com efeito,
amaríamos a substância da alma de
uma pessoa abstratamente, e algumas qualidades que nela existissem? Isso
não é possível, e seria
injusto. Portanto, não amamos nunca a pessoa, mas somente as qualidades
(82).
XIX
As coisas que nos prendem mais, como ocultar o seu pouco bem, isso não é,
muitas vezes,
quase nada; é um nada que a nossa imaginação transforma em montanha. Um
outro esforço de
imaginação no-lo faz descobrir sem dificuldade.
XX
Os que são capazes de inventar são raros; os mais fortes em número só
querem seguir e recusam
a glória aos inventores que a procuram com suas invenções. E, se se obstinam
em querer obtê-la e em
desprezar os que não inventam, os outros lhes darão nomes ridículos, lhes
dariam pauladas. Não nos
escandalizemos, pois, com essa sutileza, ou nos contentemos com nós
mesmos.

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