Ator, diretor, poeta e teórico francês Antonin Artaud (1896 – 1948) é o
provocador das propostas do Teatro da Crueldade. Influenciado e ligado aos experimentos e propostas do Dadaísmo e Surrealismo, Artaud, já na década de 1920, expunha suas ideias que irão se concretizar com o lançamento do Manifesto do Teatro da Crueldade, em 1932, em que Artaud materializa e divulga seus pontos de vista teatral.
A ligação estreita de Artaud com o grupo surrealista que se iniciou, em
1924, será rompida pouco mais de dois anos depois, quando os surrealistas se posicionam politicamente favoráveis ao partido comunista francês. A peça “O Jato de Sangue” é o marco dessa separação de sua efetiva participação no grupo surrealista no qual se pode encontrar as nuances que se opõem àquilo que se caracteriza como surrealismo e ao que se entende como proposta Artaudiana.
Assim como no primeiro movimento da peça “O Jato de Sangue”, em que
os dois astros se chocam e provocam um imenso abalo, o modelo Artauniano de teatro provoca uma atmosfera e propõe um teatro onde as imagens físicas golpeiam violentamente, hipnotizando a sensibilidade do espectador que é pego pelo teatro Artauniano como se fosse esse pego por um turbilhão de forças superiores como é definido pelo próprio Artaud.
A rejeição do Teatro da Crueldade não se faz apenas as formas
tradicionais de teatro, mas irão atingir toda a estrutura racional da sociedade ocidental em defesa de um novo teatro com uma nova forma de apreensão do mundo que não seja o da verbalização corriqueira comum nos teatros de outras épocas, algo que se firmasse no campo pré-verbal em relação à psique humana. Abalar as estruturas tidas como certezas absolutas, como as formas de linguagens, em que o teatro ocidental estava inserido provocando uma instabilidade geral deram o direcionamento para o uso do termo Teatro da Crueldade.
Um dos principais pilares que sustentava o teatro tradicional e que foi
combatido pelo Teatro da Crueldade foi a absorção do teatro como forma de entretenimento. Artaud propõe um teatro que venha a despertar as forças inconscientes do espectador, numa real tentativa de libertá-lo do condicionamento imposto pela civilização. Não há separação rígida entre palco e plateia.
O Teatro da Crueldade propõe um teatro físico, baseado na experiência
corpórea dos atores e que buscava uma relação linear com o público numa interação direta entre atores e espectadores, fazendo com que a encenação ocupasse todo o espaço físico, provocando uma nova concepção de espaçocênico com montagem em hospitais, galpões igrejas, salões, prédios abandonados ou onde fosse cabível sua experimentação. O Teatro da Crueldade de Artaud não é visto como uma proposta de desenvolvimento teatral com o objetivo de criação de um teatro com caráter redentor e que terá sua proposta desenvolvida de modo mais eficiente a partir do trabalho do Living Theatre, nos EUA e do Teatre du Soleil, na França, a partir dos anos 60.