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Paul Johnson, do alto dos seus 90 anos, é um grande intelectual britânico. Basta pensar no
seu extraordinário Tempos Modernos, leitura obrigatória para quem estiver interessado em
compreender as raízes culturais do nosso tempo. Seus textos são um convite à reflexão.
Dono de uma cultura fabulosa e de uma sinceridade cortante, Johnson não sucumbe aos
clichês politicamente corretos. Em sua fascinante trilogia Os Heróis, Paul Johnson vai ao
cerne da crise mundial.
“Os heróis”, diz Johnson, “inspiram, motivam (...). Eles nos ajudam a distinguir o certo do
errado e a compreender os méritos morais da nossa causa.” E ao citar os heróis do
Ocidente destaca, na Igreja Católica, o papa São João Paulo II. De fato, Karol Wojtyla
assumiu uma Igreja Católica dilacerada pela turbulência provocada por equivocadas
interpretações do Concílio Vaticano II. Curtido na contradição de sua sofrida Polônia, era
um especialista na luta contra as ambiguidades. Coube-lhe a histórica missão de separar o
joio do trigo e a difícil, mas bem-sucedida tarefa de aplicar a autêntica renovação
propugnada pelo Concílio Vaticano II.
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segredo. Um segredo em voz alta: estas crises mundiais são crises de santos. Deus quer
um punhado de homens ‘seus’ em cada atividade humana. Depois... ‘pax Christi in regno
Christi’ – a paz de Cristo no reino de Cristo”.
Certezas que entusiasmam multidões, mas provocam descargas de bílis nos que vivem de
mal com a vida. Recordo-me de um episódio exemplar. Há anos, o falecido Christopher
Hitchens, então editor do Canal 4 da televisão britânica, num programa sensacionalista e
de ranço panfletário, investiu contra Madre Teresa de Calcutá. O perfil da religiosa,
provavelmente escrito num pub londrino, entre um scotch e outro, era uma impressionante
combinação de ódio represado, marketing de escândalo e temor agressivo.
Outro jornalista, o francês Dominique Lapierre, em Muito Além do Amor , uma grande
reportagem sobre o drama da aids, mostrou a verdadeira face da santa albanesa. De
passagem por Nova York, leu uma notícia de impacto: “Madre Teresa de Calcutá inaugura,
em pleno coração de Manhattan, um lar para acolher as vítimas da aids”. Seu feeling de
repórter sugeria uma grande pauta. E seu profissionalismo impunha o elementar dever de
garimpar o terreno.
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