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CURSO AVANÇADO DE DIREITO BANCÁRIO

Prof. Alberto Bezerra

Capítulo I
1. Direito Bancário
1.1. Conceito
1.1. Definição – É uma disciplina agregada ao direito comercial,
comercial, destinada a
regular as operações bancárias,
bancárias, bem como a atividade daqueles que as
exercem de forma profissional.
profissional. (aguarda
(aguarda comentário palestrante)
palestrante)

>> Nélson Abraão – Direito Bancário – “Para o professor Nélson


Abraão, para melhor compreender o que seja o conceito de
Direito Bancário, faz-se necessário, primeiro, entender o
significado da palavra ‘banco’. Para ele, banco é espécie do
gênero instituição financeira, sendo esta, por definição legal, a
pessoa jurídica pública ou privada que tenha, “como
“como atividade
principal ou acessória a coleta, intermediação ou aplicação de
recursos financeiros próprios ou de terceiros, em moeda
nacional ou estrangeira, e a custódia de valor de propriedade
de terceiros.”(Lei 4.595, de 31-12-64, art. 17). Pelo dispositivo
legal não há qualquer diferença entre banco e instituição
financeira. Contudo o mesmo autor acredita que haja
imprecisões no citado art 17 da lei em referência, onde há
distinção entre a espécie banco do gênero instituição
financeira. Tem o mesmo que é pacífico na doutrina que a
distinção entre banco e instituição financeira ‘se
‘se opera
segundo os fundos de que dispõem esses dois tipos de
organismos,
organismos, e não segundo as operações executadas para fazer
frutificar os fundos. Banco seria, então, a empresa que, com
fundos próprios ou de terceiros, faz da negociação de créditos
sua atividade principal. Somente os bancos podem receber,
então, de forma habitual, fundos do público e utiliza-los por
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conta própria.
própria. Já as instituições financeiras só podem utilizar
seus próprios capitais ou fundos que profissionalmente não
recebem do público sob forma de depósito ou outra.

>> Seria considerado um ramo do Direito Comercial em face do


que preceitua o art. 119 do Código Comercial: “São
considerados banqueiros os comerciantes que têm por
profissão habitual do seu comércio as operações chamadas de
Banco.” Numa visão mais ampla comerciante significa, como de
maior interesse, aquele que exerce a profissão com
habitualidade e com o fito de lucro,
lucro, o que dá o seu traço
característico.

>> Aramy Dornelles da Luz – Negócio Jurídico Bancário – (Pág.


26) “Para este autor o Direito bancário é um ramo do direito
comercial,
comercial, não porque a organização bancária se tenha feito
através de pessoas jurídicas, mas porque a empresa bancária
vive da mercancia.
mercancia. Qual seja, compra e vende créditos, toma e
concede empréstimos.
empréstimos. O direito comercial serve-lhe de base no
tocante aos negócios jurídicos.
jurídicos. São exemplos disto, a compra e
venda, o mútuo, o mandato, o depósito, a comissão, o
escambo(é
escambo(é empregado no sentido de troca ou permuta),
permuta), a
locação, a fiança, o penhor e a hipoteca mercantis, entre outros.

1.2. Operações Bancárias


1.2.1 Definição – É toda e qualquer atividade jurídica a qual

estejam vinculados negócios realizados por um banco e seus clientes,

restando como objeto a finalidade comercial do banqueiro.(


banqueiro.(aguarda

comentário palestrante)
palestrante)

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>> Nélson Abraão – Direito Bancário – (Pág. 44 - 46) “As


“As
atividades negociais realizadas por um banco são chamadas de
operações bancárias.
bancárias. Para Orlando Gomes,
Gomes, somente se a
função é creditícia. No Direito Comercial, presenciamos em seu
art. 119 que a expressão ‘operação bancária’ é simplesmente
chamada de ‘operações chamada banco’.
Para Fran Martins ‘para cumprir as suas finalidades
econômicas, os bancos realizam operações várias que se
diversificam com as especialidades de cada empresa.’
No entender de Sérgio Covello ‘No âmbito bancário, entende-se
por operação bancária a série de atos realizados pelo Banco
para a consecução de sua finalidade econômica.’
Dois, são, portanto, os aspectos da operação bancária:
bancária: o
econômico e o jurídico.
jurídico.
No sentido econômico,
econômico, deve-se considerar como operação
bancária a prestação de serviços, porque redunda em proveito
para o banco e para o cliente. Já no sentido jurídico,
jurídico, a
‘operação bancária’ para assim ser considerada, depende de
um acordo de vontades entre cliente e o banco, razão pela qual
se diz que se insere no campo contratual, conforme, aliás,
prescrição da própria lei: “as
“as operações de Banco serão
decididas e julgadas pelas regras gerais dos contratos
estabelecidos neste código...’(CCom,
código...’(CCom, art. 120)
Das duas expressões, a econômica(operação) e a
jurídica(contrato), a primeira é a mais usual, dado não só seu
caráter dinâmico, como também o fato de os contratos
bancários serem por adesão.

>> Sérgio Carlos Covello – Contratos Bancários – (Pág. 35 – 37)


“Operação, em seu significado próprio, é o ato de operar, de

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agir, conotando a idéia de processo de trabalho ou série


coordenada de atos dirigidos a um determinado escopo e, mais
especificamente, um escopo comercial ou financeiro(cf. Pedro
Nunes, Dicionário de tecnologia jurídica, v. 2)’
No âmbito bancário,
bancário, entende-se por operação a série de atos
realizados pelo Banco para a consecução de sua finalidade
econômica.’ Tais operações são atos de intermediação
profissional do crédito e oferecem dois aspectos fundamentais:
fundamentais:
um, técnico-econômico,
técnico-econômico, e outro, jurídico.
jurídico. O aspecto técnico-
econômico diz respeito principalmente à representação
numérica da relação jurídica que se estabelece entre Banco e
cliente. Na prática bancária, o aspecto técnico-econômica não
raro se sobrepõe ao aspecto jurídico. A própria palavra
operação pertence à economia,
economia, não ao direito. Tanto é verdade
que dificilmente alguém fala que contrata com o banco, e sim
que opera com determinado banco.
banco. Ademais, na estrutura de
um banco, os seus gerentes são chamados de funcionários
operacionais.
operacionais. Todavia, o aspecto jurídico dessas operações é
inegável, pois que elas se baseiam sempre em um
consentimento, ou acordo das partes para regular seu objeto,
dando, assim, origem a vínculo jurídico de que emanam direitos
e obrigações, vale dizer, dão origem a um contrato.
contrato.

1.2.1. Classificação das operações bancárias.

>> Sérgio Carlos Covello – Contratos Bancários – (Pág. 38-40)


“A doutrina tem usado diversos critérios para classificar as
operações de banco. A classificação tradicional e, ao mesmo
tempo, mais acolhida na prática bancária é aquela que divide as
operações de Banco, de conformidade com o crédito, em

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fundamentais(típicas) e acessórias(neutras).
acessórias(neutras). As operações
fundamentais,
fundamentais, ou típicas,
típicas, são as que implicam na intermediação
do crédito,
crédito, função precípua dos Bancos, que, como vimos,
recolhem dinheiro de uns para concedê-los a outros. Estas, por
sua vez, dividem-se em passivas(as
passivas(as que têm por objeto a
procura ou provisão de fundos, sendo assim denominadas por
importarem em ônus e obrigações para o
Banco, que, na relação jurídica, se torna devedor) e ativas ( as
que visam à colocação e ao emprego desses fundos; por meio
dessas operações, o Banco se torna credor do cliente). São
exemplos de operações passivas os depósitos,
depósitos, as conta
correntes,
correntes, os redescontos,
redescontos, enquanto as principais operações
ativas são os empréstimos,
empréstimos, os financiamentos,
financiamentos, as abertura de
crédito,
crédito, os descontos,
descontos, os créditos documentários,
documentários, as
antecipações,
antecipações, etc.
As operações acessórias ou neutras(assim
neutras(assim chamadas por não
implicarem nem a concessão nem o recebimento do crédito)
possuem significação menor para os Bancos, que só as realizam
com o fito de atrair a clientela.
clientela. Definem-se como verdadeiras
prestação de serviços: custódia de valores, caixa de segurança,
cobrança de títulos e outras.

>> Aramy Dornelles da Luz – Negócios Jurídicos Bancários –


(Págs. 33-35) – Os estudiosos costumam classificar essas
operações de duas maneiras: a) Levando em consideração o
sujeito Banco são divididas em ativas e passivas; b) Mas se o
móvel da classificação é o objeto, temos então a distribuição
entre principais e acessórias. A primeira classificação tem sido
muito criticada,
criticada, sob a alegação de que nos negócios jurídicos
bilaterais elas seriam simultaneamente ativas e passivas ao

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mesmo tempo e, mesmo nos unilaterais, pode de repente haver


inversão de pólo, como v. g. nos casos de inadimplemento.
Ambas as classificações são válidas. A primeira é irrecusável e
nenhum argumento produzido contra foi capaz de invalidá-la.
Ela encontra sustentação no universo do Direito Comercial. A
segunda também é válida porque separa dois momentos
históricos da vida dos Bancos. A instituição financeira antiga,
dos primórdios até o século passado, com seus negócios
nucleares e os modernos estabelecimentos de crédito com toda
a sua gama de operações, muitas delas adotadas recentemente
e destinadas mais a atrair clientes, prestando-lhe serviço de
baixo retorno financeiro direto, cujo único interesse é a
aproximação do cliente para com ele realizar alguns outros
bons negócios. Principais são denominadas as operações
nucleares, aquelas que são de índole plenamente financeira e
bancária e constituem negócios típicos dos bancos, como
depósitos e empréstimos.
empréstimos. E acessórias seriam aquelas que
beneficiam mais o cliente,
cliente, como cobrança e pagamentos por
conta de terceiros, cofres de aluguel, transferências, etc.

1.3. Características

>> Nélson Abraão – Direito Bancário – (Pág. 01-02) – A primeira


característica seria a de que o direito bancário é submisso às
normas do Direito Privado e, também, do Direito Público,
Público,
representado pelo Direito Econômico. Em segundo lugar,
lugar, a de
que o Direito Bancário tem por escopo disciplinar que suas
operações façam-se em série, em massa.
massa. Por fim,
fim, a de que o
direito bancário alinha-se por regras extraídas da prática do
comércio internacional,
internacional, refletindo uma tendência que se revela

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no próprio Direito Comercial, graças ao fato de terem as


atividades mercantis transposto fronteiras para se inserirem
hoje num plano universal, por força da facilidade dos meios de
comunicação e transporte.

1.4. Conceito de Banco

1.4. Conceito de Banco – É o estabelecimento comercial, cuja

finalidade precípua é a captação de recursos de terceiros, sobretudo por

meio de recebimento de depósitos, e, em contrapartida, em nome próprio,

empresta-los àqueles que buscam o capital.(


capital.(aguarda
aguarda comentário

palestrante)
palestrante)

>> Nélson Abraão – Direito Bancário – (Pág. 15-18) – Citando J.


X. de Carvalho de Mendonça,
Mendonça, o mesmo definiu banco como
sendo ‘empresas comerciais, cujo objetivo principal consiste na
intromissão entre os que dispõem de capitais e os que precisam
obtê-los, isto é, em receber e concentrar capitais para,
sistematicamente, distribuí-los por meio de operações de

crédito.’ Para Fran Martins, ‘empresas( *** na definição


Martins, seriam ‘empresas(
de DE PLÁCIDO E SILVA, empresa ‘no sentido do Direito Civil e
do Direito Comercial, significa empresa organização econômica,
civil ou comercial, instituída para a exploração de um
determinado ramo de negócio)
negócio) comerciais que têm por
finalidade realizar a mobilização do crédito,
crédito, principalmente
mediante o recebimento, em depósito, de capitais de terceiros,
e o empréstimo de importâncias, em seu próprio nome, aos que
necessitam de capital.’ Na terminologia do moderno Direito

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Comercial, os bancos são empresa(organização harmônica de


capital e trabalho para o exercício de uma atividade econômica
de produção ou de troca de bens ou serviços), e não mero
estabelecimento(complexo de bens, materiais e imateriais, de
que dispõe o empresário para o exercício de sua atividade).
Define, então, banco como sendo a empresa que, com fundos
próprios ou de terceiros, faz negociação de crédito sua
atividade principal.
principal.

>> Sérgio Carlos Covello – Contratos Bancários – (Pág. 15) –


Podemos conceituar banco como empresa que se tem por
escopo principal a intermediação do crédito mediante
operações típicas que envolvem aqueles que dão o dinheiro e
aqueles que o recebem.
No conceito encontram-se três elementos básicos: i) a mediação
ou interposição no crédito; ii) a pluralidade dos atos
interponentes e ; iii) o exercício profissional.
A pluralidade de atos é da essência da atividade bancária: não
basta a intermediação;
intermediação; é preciso que esta atue em certo modo
para caracterizar o comércio do Banco: uma intermediação
isolada não teria sentido como operação bancária,
bancária, porque
empresa bancária pressupõe atividade em massa.
massa. Nesta ordem
de idéias, não seria banqueiro alguém que tomasse por
empréstimo dinheiro de outrem e o colocasse por empréstimo,
ou o aplicasse no desconto de letras, porque nesse caso faltaria
a pluralidade ou multiplicidade de atos. A profissionalidade é
outro traço necessário para caracterizar o Banco,
Banco, pois este é
empresa especializada no comércio de crédito e como tal aufere
lucros das operações realizadas.
realizadas.

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Capítulo II
2. Noções Históricas do Direito Bancário

2.1. Origem da palavra ‘banco’

>> Sérgio Carlos Covello – Contratos Bancários – (Págs. 13-15) –


É de origem controvertida.
controvertida. No entanto a maioria dos autores
sustenta que o vocábulo procede do germânico bank,
bank, através
do italiano banca,
banca, e conota a idéia de suspensão, elevação,
monte. A banca nasceu do hábito de exporem os cambistas o
seu dinheiro em bancos, à vista do público, cita Genésio de
Almeida Moura. Com o prestígio da terminologia italiana na vida
comercial, a forma se espalhou rapidamente pelos países
cultos. O italiano banco, banca, anca, deo o francês banc,
banque; o português banco e assim por diante, bem como o
alemão Bank(die Bank, plural die Banken), significando casa
onde se negocia dinheiro.
dinheiro. Na idade média, banco era
designação que se dava à mesa onde os cambistas expunham
as moedas, objeto de seu comércio. Quando um cambista, ou
banqueiro, não honrava seus compromissos, seus credores,
revoltados, quebravam a mesa, o banco, em sinal de protesto,
provindo daí a palavra bancarrota(banco
bancarrota(banco rotto, de bank rott),
termo que até hoje se usa para exprimir a insolvência ou
falência do devedor.

2.2. Evolução da atividade bancária

>> Nélson Abraão – Direito Bancário – (Pág. 10-12) –


ANTIGUIDADE - Certas práticas bancárias já eram conhecidas na
Antiguidade. Assim é que o empréstimo de dinheiro realizava-se

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com freqüência na Babilônia, Egito e Fenícia, a partir do século


VI a.C. Foi porém no mundo greco-romano que se ‘tornou
conhecida grande parte das operações em uso no banco
moderno, como aceitar depósitos de moeda ou de valores; fazer
empréstimos a juros, garantidos ou a descoberto; interpor-se
nos pagamentos também sobre praças distantes; assumir
obrigações por conta de clientes, etc. embora tais obrigações
não fossem praticadas em série, devido às condições
econômicas de um mundo no qual a poupança decorria dos
investimentos dos proprietários de terras e modesto era o por
industrial, tendo sido os templos dos deuses o verdadeiro berço
das operações bancárias, como o atestam os negócios em
Delos, Delfos e Artêmis.’ Essas atividades foram próprias, na
Grécia, dos ‘trapezistas’ e, em Roma, dos argentarii,
argentarii, que
ganharam fabulosas fortunas e se tornaram árbitros na
circulação do dinheiro, por suas funções de trocadores,
depositários e emprestadores de moeda.

IDADE MÉDIA – Ainda na Itália, foi marcante o papel


desempenhado pelos ‘montes’, encarregados de receber
contribuições compulsórias em favor dos órgãos
públicos(empréstimos forçados), os quais reaplicavam com
juros, fazendo-os frutificar. O mais antigo deles foi o Banco de
Veneza, que, fundado em 1171, funcionou até 1797.
Também na Idade Média foi notória a original atuação dos
templários, que financiavam as Cruzadas e ‘sua célebres cisões
em relação a Felipe, o Belo(rei de França, que, sucedendo a seu
pai, Filipe III, em 1285, com o título de Filipe IV, ficou famoso
por seus atritos com a Igreja) não tiveram outras causas, senão
as de ordem financeira.

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IDADE MODERNA – A descoberta de novas terras pelas


expedições marítimas, e com ela a intensificação do tráfico
mercantil, a multiplicação das feiras, a abundância de metais
preciosos e o aumento do apelo dos Estados ao crédito fizeram
com que se alterasse a função dos bancos, passando de mera
‘cobrança’, pagamento e câmbio para intermediária de crédito,
chegando-se assim ao banco moderno, cuja função essencial é
de tomar crédito dos depositantes os fundos monetários por
esses poupados para distribuí-los a crédito aos seus clientes.
Multiplicou-se o número de bancos na Itália, França e
Alemanha. Com advento da revolução industrial, consolidou-se
o capitalismo liberal, fazendo com que os bancos atingissem a
era de seu pleno desenvolvimento no século XIX, marcado pelo
aparecimento de grande banqueiros e pela extensão de seus
serviços ao nível internacional.

COMÉRCIO BANCÁRIO NO BRASIL – Entre nós, o primeiro banco


foi fundado, ainda na fase colonial, aos 12 de outubro de 1808,
com o nome de Banco do Brasil. Havendo prestado relevantes
serviços ao Governo e propiciado razoáveis dividendos a seus
acionistas, teve a sua liquidação aprovada pela assembléia
geral de 11 de abril de 1835.

Capítulo III
3. O Sistema Financeiro Nacional

>> Nélson Abraão – Direito Bancário – (Pág. 32-42) – Sujeitam-


se os bancos a um regime de controle estatal.
estatal. O sistema
intervencionista em matéria de bancos data de 1921, tendo sido

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implantado pelo Decreto nº 14.728, de 16 de março. Sucedeu-se


o Decreto-Lei nº 7.923, de 02 de fevereiro de 1945, que criou a
Superintendência da Moeda e do Crédito(SUMOC), alterado pelo
Decreto-lei nº 9.140, de 05 de abril de 1946, até chegar-se à
atual Lei nº 4.595, de 31 de dezembro de 1964, que ‘dispõe
sobre a Política e as Instituições Monetárias, Bancárias e
creditícias, cria o Conselho Monetário Nacional’. Transformou a
antiga Superintendência da Moeda e do Crédito em autarquia
federal, sob a denominação de Banco Central do Brasil.

ATRIBUÇÕES DO CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL E DO BANCO


CENTRAL.

a) Conselho Monetário Nacional


É um órgão integrado pelos: ministro do Estado da Fazenda, na
qualidade de presidente, ministro de Estado do Planejamento e
Orçamento e presidente do Banco Central do Brasil. Cabe ao
Conselho Monetário Nacional ‘formular a política da moeda e do
crédito (...) objetivando o progresso econômico e social do
País(art. 2º, da Lei 4.595/64). Ao mesmo órgão é dado outras
competências, as quais previstas no art. 4º da Lei Federal nº
4595/64.
b) Banco Central
O Banco Central do Brasil é uma autarquia federal, com
personalidade jurídica e patrimônio próprios, administrado por
uma diretoria de cinco membros, sendo um presidente,
escolhidos pelo Conselho Monetário Nacional. De um modo
geral, cabe ao Banco Central cumprir as prescrições legais e as
normas expedidas pelo Conselho Monetário Nacional no que diz
respeito à política financeira. Privativamente, compete-lhe

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emitir papel moeda e moeda metálica, nas condições e limites


autorizados pelo Conselho Monetário Nacional; executara o
serviços do meio circulante; determinar o recolhimento de
100% do total dos depósitos à vista e de até 60% de outros
títulos contábeis das instituições financeiras, seja na forma de
subscrição de Letras ou Obrigações do Tesouro Nacional ou
compra de títulos da dívida pública federal, seja através de
recolhimento em espécie, em ambos os casos entregues ao
Banco Central do Brasil, a forma e condições por ele
determinadas, podendo adotar percentagens em função das
regiões geoconômicas, das prioridades que atribuir às
aplicações ou da natureza das instituições financeiras e
determinar percentuais que não serão recolhidos, desde que
tenham sido reaplicados em financiamentos à agricultura, sob
juros favorecidos e outras condições por ele fixadas; receber os
recolhimentos compulsórios dos depósitos à vista das
instituições financeiras(MP nº 32, de 15.01.1989, atual lei nº
7.730, de 31-01-1989)
O relacionamento do Banco Central se dá exclusivamente com
as instituições financeiras, públicas ou privadas, não operando
com o público em geral, salvo com pessoas jurídicas
expressamente autorizadas por lei.
Conseqüência disso, o Banco Central também exerce o controle
de atividades e das operações bancárias como um todo,
prestando informações, regulando entrada e saída do capital, a
presença de instituições financeiras, suscitando metodologia de
calibre preventivo na situação de crise, higienizando o mercado
e sociedades desprovidas do bom funcionamento na
administração de recursos.

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b) Banco do Brasil
A lei que implantou o Sistema Financeiro Nacional introduziu
importantes modificações na estrutura e na atuação do Banco
do Brasil. A função precípua que lhe é cometida é a de agente
financeiro do Tesouro Nacional, competindo-lhe, nesse caráter:
receber, a crédito do Tesouro Nacional, as importâncias
provenientes de arrecadação de tributos ou rendas federais e o
produto das operações de crédito da União por antecipação da
receita orçamentária ou a qualquer outro título....
Cabe-lhe, também, como principal executor dos serviços
bancários de interesse do Governo Federal, inclusive suas
autarquias, receber em depósito, com exclusividade, as
disponibilidades de quaisquer entidades federais,
compreendendo as repartições de todo os ministérios civis e
militares, instituições de previdência e outras autarquias,
comissões, departamentos, entidades em regime especial de
administração e quaisquer pessoas físicas ou jurídicas
responsáveis por adiantamentos, os quais podem entretanto,
ser depositados na Caixa Econômica Federal, nos limites e
condições fixados pelo Conselho Monetário Nacional, dentre
outras atribuições.

Capítulo IV
4. O Contrato Bancário
4.1. Definição

4.1. Definição – A doutrina vem de desdobrar a definição de contrato

bancário, na medida de dois critérios: o critério subjetivo e o objetivo.


objetivo.

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4.1.1. Critério Subjetivo – Leva-se em conta, tão-somente, se em

um dos pólos do contrato figure um banco.

4.1.2. Critério Objetivo – Por este critério, observa-se, ao revés,

não a figura presente do banco, mais sim uma atividade de intermediação de

crédito.
crédito.

4.1.3. Uma visão mais abrangente – Banco(um dos pólos) + ato

de intermediação bancária.
bancária.

>> Aramy Dornelles da Luz – Negócio Jurídicos Bancários –


(Pág. 36-37) – Para definir o que seja um contrato bancário
apelamos para o conceito firmado por Garrigues, segundo o
qual é um negócio jurídico ‘concluído por um Banco no
desenvolvimento de sua atividade profissional e para
consecução de seus próprios fins econômicos.’.
Precisamos, todavia, lembrar que de seus fins econômicos e de
sua atividade profissional consta só o crédito como também os
serviços.
serviços. Não se questiona que o crédito seja a atividade
preponderante, fundamental. Mas também, nessa mesma linha,
é inquestionável a existência numerosa de contratos de
prestação de serviços, onde a impossibilidade de desprezá-los ,
omitindo essa atividade. Não faltará que argumente, com toda
razão, que o negócio jurídico creditício é que é verdadeiramente
a atividade-fim dos Bancos, é o que caracteriza como
instituições financeiras, e não as operações acessórias. Todavia
Banco Múltiplo não pode ser confundido com Banco Comercial.
Conserva em comum apenas o fato de lidar primacialmente com
o crédito em grande escala e de mantê-lo como atividade-fim
por excelência.

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>> Sergio Carlos Covello – Contratos Bancários – (Pág. 45-47) –


As operações bancárias realizam-se mediante contratos,
contratos, que
são o seu esquema jurídico, produzindo direitos e obrigações
para os sujeitos que delas participam. Na doutrina moderna, os
contratos bancários soem ser concebidos sob dois critérios: um
subjetivo e outro, objetivo. De conformidade com o primeiro
critério, entende-se por contrato bancário aquele praticado por
um Banco, de sorte que não se pode falar em contrato dessa
natureza se ao menos um dos contraentes não for Banco ou
banqueiro. No direito pátrio, Orlando Gomes perfilha esse
entendimento: ‘como a expressão contratos bancários
designam-se os negócios jurídicos que têm como uma das
partes uma empresa autorizada a exercer atividade próprias
dos bancos.’ O critério subjetivo, no entanto, não é suficiente
para conceituar o contrato bancário, pois não é só a
participação do Banco na relação jurídica contratual que
detrmina a bancariedade do negócio. Ademais, o Banco, no
desempenho de suas funções, celebra vários contratos que, por
natureza, não são bancários: contrato de locação, de prestação
de serviço de trabalho, de compra e venda. O sujeito Banco,
embora importante, não basta para definir e configurar o
contrato bancário. Em contraposição ao critério subjetivo,
subjetivo, o
critério objetivo põe de lado o sujeito-Banco e encara o contrato
bancário como aquele que tem por objeto uma atividade
creditícia, ou melhor, uma atividade de intermediação do
crédito. Neste linha de raciocínio, Messineo afirma: ‘É bancário
aquele contrato que, ainda que se aperfeiçoe entre
particulares, tenha por função (causa) receber um crédito para
conceder crédito.’
crédito.’

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Na verdade, não é possível tomarmos por base apenas um dos


critérios supra estudados,
estudados, para atingir definição adequada de
contrato bancário. Preferimos adotar uma concepção sincrética
que recorra ao duplo elemento subjetivo(participação do Banco)
e objetivo(intermediação creditícia) para caracteriza o contrato
bancário.
bancário. Destarte, o contrato bancário tem de ser realizado
por um Banco e ter como objeto um ato de intermediação de
crédito.
crédito. Nem todo contrato realizado pelo Banco é bancário,
como, também, nem todo ato de intermediação creditícia
configura contrato de Banco.
Banco.
Com base nessa concepção definimos o contrato bancário como
o acordo entre Banco e cliente para criar, regular ou extinguir
uma relação que tenha por objeto a intermediação de crédito.

4.2. Disciplinamento legal dos contratos bancários


4.2.1. A lei

4.2.2. Os costumes

4.2.3 A doutrina

4.2.4 A jurisprudência

>> Sergio Carlos Covello – Contratos Bancários – (Pág. 59-62) –


A LEI - Como sói de acontecer em todo campo jurídico, a lei é a
forma fundamental de expressão do direito contratual bancário.
No entanto, as legislações bancárias, segundo observa Luiz
Alberto Delfino Cazet, caracterizam-se por sua
fragmentalidade(fazer-se
fragmentalidade(fazer-se em fragmentos; quebrar-se)
quebrar-se) e por
serem muito incompletas. Poucos são os Códigos que contêm
normas especiais sobre os contratos bancários. Nosso

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legislador seguiu pari passu a tradição dos código do comércio


do século XIX, limitando-se apenas a considerar comerciantes
os banqueiros(CCom 119) e a determinar que as operações
bancárias serão decididas e julgadas pelas regras gerais dos
contratos estabelecidos nesse Código, que forem aplicáveis
segundo natureza de cada uma das transações que se
operam(art. 120). Nada mais. Coube a leis extravagantes dispor
sobre os Bancos e suas operações. Com o advento da Lei 4.595,
4.595,
de 31 de dezembro de 1964, que reestruturou a organização
bancária brasileira, tais leis esparsas ficaram revogadas,
passado o novo diploma legal a regrar a vida dos Bancos em
nosso país.
país. Além desse Estatuto existem outras leis que, pelo
entrosamento do seu assunto com os Bancos, são atinentes
também à matéria bancária, como as leis que regulam os títulos
de crédito e a que disciplina o mercado de capitais. As
circulares e resoluções do Banco Central do Brasil elecam-se,
também, no rol das leis bancárias, embora sejam leis apenas no
sentido impróprio, visto que não promanam do Poder
Legislativo.
Legislativo. Todavia, essa normas não oferecem uma
regulamentação(esquema normativa) para os contratos
bancários em si mesmos considerados. Daí recorrer-se ao
direito comercial e ao direito civil para resolução de inúmeros
problemas que surgem da matéria contratual bancária.
Destarte, o Código Comercial, o Código Civil e, por disposição
expressa, o Código do Consumidor(Lei nº 8.078/90, art. 3º, § 2º)
constituem fontes básicas de disciplinação dos contratos em
estudo.
estudo.
OS CONTUMES - Embora o costume seja forma complementar
de expressão do direito, assume grande importância no âmbito
bancário,
bancário, visto que, em nosso ordenamento, poucas são as

18
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normas legislativas que firmam critérios sólidos e pontos fixos a


respeito dos contratos de Banco.
Banco. E, ademais, o direito bancário
é eminentemente consuetudinário(fundado
consuetudinário(fundado nos costumes)
costumes). O
Código Comercial, em seu art. 131, n. 4, estatui que ‘o uso e a
prática observada no comércio nos casos da mesma natureza, e
especialmente o costume do lugar onde o contrato deva ter
execução, prevalecerá qualquer inteligência em contrário que
se pretenda dar às palavras.’ E o Código Civil, em sua lei de
introdução, reza ‘Quando a Lei for omissa, o juiz decidirá o caso
de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de
direito.’ Há, no entanto, regras especiais para que os costumes
sejam revestidos de legitimidade. Devem: a) ser praticados de
maneira uniforme e reiterada pelos Bancos; b) ter duração
relativamente longa, o suficiente para que se evidencie a sua
tácita aceitação pela coletividade; c) guardar conformidade com
os princípios de boa fé e máximas comerciais; d) ser
compatíveis com a legislação vigente.
vigente.

JURISPRUDÊNCIA - A jurisprudência oferece, também, relevante


subsídio para o direito bancário. Os julgados reiterados,
constantes e uniformes dos tribunais dão origem a um
verdadeiro costume judiciário capaz de influenciar, assim, todo
e qualquer ramo do direito, mesmo o bancário.

A DOUTRINA - Tanto quanto o costume, a doutrina representa


importante forma de expressão do direito contratual bancário.
Definida singelamente como a opinião comum dos
jurisconsultos sobre determinada matéria jurídica, a doutrina
presta um grande serviço ao estudo e à interpretação dos
contratos de Banco, haja vista que a natureza jurídica e a

19
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configuração das operações bancárias constituem trabalho dos


doutrinadores, que não só têm ajudado a suprir as lacunas da
lei e do costume, como também contribuído para a formação da
lei e construção da jurisprudência. A doutrina é resultado do
labor sistematizado dos tratadistas, dos escritores que militam
no direito bancário, dos especialistas em Banco que,
interpretando os textos legais e as situações fáticas, emitem
argumentos e juízos sobre a atividade bancária, produzindo a
verdade científica. Entre nós distinguem-se Carvalho de
Mendonça, que no seu Tratado dedicou um volume
exclusivamente aos Bancos, Waldemar Ferreira, com sua
preciosas lições sobre operações bancárias, Pontes de Miranda,
com seu rigorismo científico, Caio Maria da Silva Pereira,
Orlando Gomes e Lauro Muniz Barreto, este com sua
experiência de advogado de Banco, para só citarmos alguns dos
juristas pátrios que se ocupam da matéria.

4.3. Características

4.3.1. Ausência do caráter formal do contrato como regra

>> Aramy Dornelles da Luz – Contratos Bancários – (Pág. 39) –


O contrato bancário não é formal no sentido de exigir que a
forma integre necessariamente a substância do ato.
ato. Todavia, a
escritura pública reveste essencialmente os contratos
constitutivos de garantia hipotecária, não por causa de sua
bancariedade, mas pela realidade imobiliária.
imobiliária. Aliás, a
informalidade crescente dos contratos do mercado financeiro é
uma das características da atualidade,
atualidade, a maior parte dos quais
materializam-se em sumárias fichas gráficas. A informatização e

20
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o uso do telefone têm propiciado movimentações de contas,


aplicações em papéis, compra e venda de cotas de fundos de
renda, compra e venda de ativos reais, dentre outros negócios,
de maneira totalmente informal. A agilidade do mercado
financeiro e o alto grau de concorrência têm produzido essa
inovação.

4.3.2. Sigiloso

>> Sergio Carlos Covello – Contratos Bancários – (Pág. 56-58) –


No trato com seus clientes, o Banco torna-se detentor de
informações confidenciais que, naturalmente, lhe impõem o
dever de descrição.
descrição. Em nosso direito, os contratos bancários,
assim os típicos como os acessórios, revestem-se desse caráter
sigiloso, consoante o art. 38 da Lei nº 4.595/64,
4.595/64, que reza: “As
“As
instituições financeiras conservarão sigilo em sua operações
ativas e passivas e serviços prestados.’
prestados.’ A quebra do sigilo de
que trata esse dispositivo constitui crime e sujeita os
responsáveis à pena de reclusão, de um a quatro anos, sem
prejuízo de outras sanções cabíveis.
cabíveis. A doutrina apóia-se em
várias teorias para explicar o caráter sigiloso dos contratos de
Banco. Uma das mais antigas é a teoria contratual, pela qual o
dever de segredo surge do contrato estipulado entre Banco e se
cliente. Embora não haja disposições expressas concernentes a
essa obrigação nos contratos bancários, tais disposições se
pressupõem, subentendendo-se que, à vista da estrutura da
operação bancária, há um consentimento tácito entre as partes
contratantes acerca do sigilo bancário. Tal teoria é bastante
aceita, visto poder aplicar-se a todos os regimes jurídicos,
mesmo àqueles que não regulamentem de forma específica o
dever de sigilo por parte do Banco. Em reforço desta tese,

21
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argumenta-se que em cada operação bancária estão presentes


os elementos principais do contrato de mandato ou da
negotiorum gestio e, assim, o Banco, como mandatário ou
gestor de negócios, deve aplicar toda diligência possível no
cumprimento do encargo, até quanto à discrição que o próprio
mandante – o cliente - manteria com relação aos negócios
realizados. Outra teoria é a do direito comercial. Segundo este
modo de ver, as operações bancárias são atos de comércio e
desta feita, na interpretação do contrato respectivo, há que
levar em conta os usos e costumes geralmente observados no
comércio, os quais por sua vez impõe o dever do sigilo.
Neste particular, Lauro Muniz Barreto busca a gênese do sigilo
bancário no caráter quase religioso com que eram realizadas as
operações de Banco, na mais remota Antiguidade: ‘Sabe-se ,
também, -- diz o autor – que a atividade bancária nasceu sob o
crisma da religião e que, na Antiguidade, os templos eram não o
local para as cerimônias religiosas como também par a guarda
do dinheiro e da prática das atividades bancárias...
bancárias... Aponta-se o
Templo de Delfos como o grande Banco do período clássico
helênico, recebendo depósitos, praticando mútuo, o câmbio
manual e trajectício, e finalmente um grande número de
operações ainda hoje exercidas pelos Bancos... Praticava aquele
templo grego operações em larga escala e teve sob sua guarda
depósitos de notável valor... Costume,
Costume, portanto, bastante
antigo.
antigo. No direito privado, ressalta-se, ainda, a teoria do ato
ilícito, pela qual a quebra do sigilo pode ocasionar danos para o
cliente, ficando, assim, o Banco obrigado à reparar o prejuízo.
Há, também, teorias do direito penal para explicar o dever de
segredo por parte do Banco. Uma destas, por exemplo, afirma
que a raiz da disciplina jurídica do sigilo bancário deve buscar-

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se na proteção do sigilo profissional em geral, pois o Banco, em


razão de seu ofício, toma conhecimento de segredos, cuja
virtude da lei penal, que considera crime contra o Sistema
Financeiro Nacional a violação do sigilo(Lei nº 7.492/86, art.
18).
18).
Em nossa sistemática jurídica, a quebra de sigilo bancário
enseja não só implicações de ordem civil(v. g. o dever de
reparação de dano), como de ordem administrativa(punição
pelo Banco Central), como, ainda, de ordem penal, visto que o
legislador de 64 a configurou expressamente como crime, no §
7º, do art. 38.
O sigilo bancário, no entanto, não é absoluto.
absoluto. Ele contraria
limites naturais e legais.
legais. No primeiro caso, figuram o direito de
o Banco levar a protesto um título representativo de um
empréstimo, o de acionar judicialmente o cliente em virtude de
uma operação realizada e fornecer dados a respeito da
operação quando o cliente solicite, sem que incorra no crime de
violação de sigilo.
Por seu turno, os limites legais se encontram no próprio art. 38
da Lei nº 4.595.
4.595. Primeiramente, o Banco tem obrigação de
prestar informações e esclarecimentos aos Juízes e tribunais,
porque, neste caso, há um interesse mais importante para
proteger que é o bom funcionamento da justiça. Também as
comissões parlamentares de inquérito no exercício da
competência constitucional e legal de ampla investigação
poderão obter as informações que necessitarem as informações
financeiras, sem que estas incorram no crime de violação.
Ainda, as autoridades fiscais poderão exigir dos Bancos as
informações sobre documentos, livros e registros de contas de
depósito e de outras operações, quando consideradas

23
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indispensáveis pela autoridade competente. Subtende-se que


em todos esse casos o interesse de ordem pública(referente à
Justiça e à economia nacional) está acima de qualquer outro
interesse.

>> Nelson Abrão – Direito Bancário – (Pág. 53-74) – Constitui


consenso que a atividade bancária, como profissão
especializada, surgiu na Grécia. Mas, ainda assim, não
inteiramente desligada dos umbrais dos templos, seus berços:
os de Delfos, Samos e Éfeso foram os principais. Os banqueiros,
além de propiciarem guarda segura aos valores de seus
clientes, redigiam instrumentos negociais e orientavam a
respeito de negócios, graças aos conhecimentos que tinham
dos textos legais.
A moeda teria surgido aos 268 a.c. segundo Tito Lívio, cunhada
que fora no templo Juno, a Conselheira(Moneta). O banqueiro
romano – argentarius – deveria possuir um livro secreto de
‘deve e haver’, o Codex,
Codex, conservado em segredo e só exibível
na Justiça em caso de litígio com o próprio cliente.
Impregnada que fora de profundo misticismo nas suas origens,
a atividade bancária, surgida dentro do próprio templo, deveria
revestir-se de um caráter sagrado. É por isso que se chega a
assemelhar as expressões léxica e ontologicamente: sagrado e
segredo.
Em se tratando de depósitos de fundos provenientes do
estrangeiro, o sigilo bancário passaria a identificar-se com os
do próprio Estado. Nesse particular, aponta-se como paradigma
a atitude tomada pelos banqueiros suíços na contingência da
Segunda Grande Guerra Mundial, que resistiram aos vários
artifícios adotados pelas autoridades do III Reich para

24
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descobrirem os capitais depositados por seus jurisdicionados.


Ao fina da guerra, a mesma atitude foi adotada para com as
autoridades dos países aliados, que pressionavam no sentido
de saber o montante do capital alemão depositado nos bancos
suíços. Só que aí houve revide: os fundos suíços foram
bloqueados em Londres e Nova Iorque e congelado o transporte
de matéria-prima e de inflamáveis para a Confederação
Helvética.
EXTENSÃO E OPONIBILIDADE - Cumpre-, sob esse aspecto,
examinar três elementos : I – os fatos objeto de segredo; II – as
pessoas a ele sujeitas; III – os que dele podem compartilhar.
compartilhar.
I – Os fatos objeto de segredo – Já para o sistema continental
europeu, objeto de segredo são apenas as informações
consideradas de caráter confidencial, tais como: conteúdo do
balanço e movimento da conta corrente, excluindo-se os dados
sobre pagamentos regulares, vencimentos difíceis, protestos,
cheques não pagos; mesmo assim o banco terá que agir com a
necessária discrição, sem quebrar as regras usuais da
profissão. Ainda de acordo com a doutrina suíça, sob o prisma
subjetivo, os fatos que o segredo deve abranger ficam na
dependência da manifestação da vontade do cliente. O Banco é
obrigado a guardar secretos os nomes dos correntistas e as
cifras por eles mantidas em haver, mas a revelação destes
dados sem a identidade do titular não constitui violação de
sigilo.
II – Pessoas sujeitas ao sigilo – Neste particular, tanto o sistema
do sigilo reforçado(Suíça e Líbano) como o continental europeu
são unânimes em admitir que todos os funcionários do banco,
desde o mais categorizado diretor até o mais simples
empregado, estão adstritos a guardar segredo( a matéria se

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encontra bem explicitada no art. 2º da lei libanesa de 3-9-1956


acerca do sigilo bancário)
III – Os que podem compartilhar o segredo – Em princípio, só o
banco por todos os seus dirigentes e funcionários ligados às
operações do cliente e este próprio podem do sigilo
compartilhar.
compartilhar. Deste modo, mesmo os familiares mais íntimos –
pais, filhos e cônjuge – a ele não têm acesso, a menos que
expressamente autorizados pelo cliente ou que fundadas as
razões façam presumir que eles integram sua ‘esfera de
discrição’. É óbvio que os representantes legais(dirigentes de
pessoas jurídicas, tutores, curadores e pais de menores)
compartilham do sigilo. Em se tratando de pessoa de cliente
pessoa jurídica, o sigilo não pode ser oposto a seus
representantes legais e administradores; quanto aos sócios, em
princípio, não têm eles acesso ao segredo bancário; seu direito
de informação é exercido segundo os princípios legais que
regem a disclosure (entre nós, os arts. 19 CCom e 105 das Lei
de Sociedades por Ações)

4.3.3. Contrato de adesão

>> Sergio Carlos Covello – Contratos Bancários – (Pág. 54-55) –


A característica marcante dos contratos bancários é que se
realizam em grande massa.
massa. No desenvolvimento de sua
atividade, os Bancos contraem com grande número de pessoas
uma série infinita de operações idênticas. É dessa
circunstância, por sinal, que resulta o lucro do Banco. Por
exigência prática, a contratação bancária, no decorrer dos
tempos, passou a ser feita por meio de formulário com
cláusulas gerais e uniformes para todos os contratos de igual

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natureza. Assim, as condições contratuais passaram a ser


previamente fixadas pelo Banco, não admitindo
contrapropostas.
Os contratos bancários enquadram-se, desta feita, no rol dos
chamados contratos de adesão,
adesão, pelos quais a participação de
um dos sujeitos se dá pela aceitação in totum das condições
pré-fixadas pela outra parte para constituir o conteúdo
normativo-obrigacional da futura relação concreta. ...Quem
...Quem
contrata com um Banco só tem a possibilidade de aceitar em
bloco as condições impostas ou recusá-las em sua totalidade,
deixando de celebrar o contrato. Digamos: ou adere às
condições, ou não contrata. Não pode, entretanto, modificá-las
ou pretender discuti-las com o Banco. Os Bancos reunidos em
sua associações profissionais elaboram as condições e se
obrigam a respeitá-las nos negócios com seus clientes. De tal
modo que as condições adquiriram caráter inamovível em sumo
grau, pois, ante as eventuais exigências do cliente, o Banco se
tinha às convenções entabuladas com outros Bancos.
Bancos.
No Brasil, como de resto na maioria dos países cultos, a
padronização dos contratos bancários deve-se não só às razões
acima expostas como a intervenção do Estado, por meio do
Banco Central, na vida dos Bancos. Com efeito, as circulares e
resoluções do Banco Central fazem com que as operações
bancárias sejam praticadas com uniformidade, chegando,
muitas vezes, a determinar a própria minuta.

4.3.4. Intervenção estatal

>> Sergio Carlos Covello – Contratos Bancários – (Pág. 55 - 56)


– Todo contrato pressupõe a autonomia e a igualdade das
partes contratantes que, pelos menos em tese, são livres para

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avençar o que lhes aprouver, dentro dos limites da licitude


jurídica.
Todavia, autonomia de vontade é, em inúmeras oportunidades,
apenas teórica, e leva à espoliação do mais fraco pelo mais
forte, do pobre pelo rico.
Para evitar ou, ao menos, diminuir a desigualdade, surge a
intervenção estatal, protegendo e amparando os menos
favorecidos.
favorecidos. É o que se chama dirigismo contratual,
contratual, expressão
que se deve a Josserand para significar que o Estado pode
intervir nos contratos.
contratos. Ora, na contratação bancária, o Banco é
sempre o mais forte,
forte, já por solidez econômica, já pela própria
natureza da atividade que exerce. Deixar o Banco agir
livremente, como se pretendeu sob o liberalismo econômico é o
mesmo que permitir a exploração do mais fraco.
fraco. A simples
leitura dos formulários do contrato bancário revela a existência
de condições leoninas acobertadas pelo manto da legalidade,
como a conhecida cláusula de outorga de procuração do cliente
ao próprio Banco para que este possa emitir cambial a fim de
cobrar dívida de maneira mais rápida e eficaz mediante
execução. Por isso se faz necessária a intervenção do Estado na
contratação bancária, intervenção esta que entre nós se dá por
intermédio do Conselho Monetário Nacional, disciplinando o
crédito num verdadeiro dirigismo contratual.

4.4. Interpretação dos contratos bancários

>> Sergio Carlos Covello – Contratos Bancários – (Pág. 62-65) –


Nem sempre o contrato é realizado de modo que traduza
fielmente essa intenção comum dos contratantes,
contratantes,

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especialmente dos contratos bancários cujas disposições são


prefixadas pelo Banco. Daí a necessidade de indagar o
conteúdo do contrato e o alcance de seus termos.
O legislador brasileiro, ao contrário do legislador de outros
povos, não dedicou senão poucas disposições sobre a
interpretação dos contratos.
contratos. No Código Comercial, art. 130,
consagrou o princípio hermenêutico de que ‘as palavras dos
contratos e convenções mercantis devem inteiramente
entender-se segundo o costume e uso recebido do comércio, e
pelo mesmo modo e sentido por que os negociantes costumam
explicar, posto que entendidas de outra sorte possa significar
coisa diversa.’ Ver artigo 131 Cód. Comercial.
Observa-se que o Código Comercial dá ênfase à boa fé dos
contratantes, à comum intenção das partes, aos costumes e à
conduta dos contratantes posterior ao contrato, conforme os
princípios adotados pela doutrina moderna.
O nosso Código Civil estatui uma regra geral, no seu art. 85:
85:
‘nas declarações de vontade, atender-se-á mais à sua intenção
que ao sentido literal da linguagem.’.
linguagem.’. Isto quer dizer que o
intérprete não deve limitar-se ao sentido literal das palavras,
mas procurar atingir o verdadeiro desiderato dos contratantes.
Por exemplo, o contrato diz ‘mútuo’, quando na verdade as
partes pretenderam contratar um comodato.
Entre nós, a doutrina e a jurisprudência têm campo livre para o
preenchimento da lacuna legislativa.
O Prof. Orlando Gomes, após enfatizar que o juiz não deve
verificar a vontade das partes à luz dos critérios mais usados no
plano da concepção voluntarista do negócio jurídico e sim de
conceitos flexíveis que lhe abram horizonte mais dilatado no
sentido de evitar abusos por parte do estipulante, refere as

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seguintes regras: a) interpretação contra o estipulante; b)


interpretação restritiva das cláusulas que favorecem o
predisponente; c) prevalecimento das cláusulas especiais sobre
as gerais, das manuscritas sobre as impressas; d) interpretação
invariável das cláusulas gerais, sem se atentar para aspectos
particulares de cada caso concreto.
Assim, as cláusulas vexatórias ou de especial gravidade devem
ser consideradas nulas,
nulas, e as de conteúdo duvidoso devem
interpretar-se em favor do aderente, regra hoje em dia
prestigiada pela lei de proteção e defesa do consumidor(art. 51
e 54).
Ademais o Código do Consumidor em seu art. 47 preceitua que
‘As cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira mais
favorável ao consumidor.’

4.5. Contratos bancários à luz do Código de Defesa do Consumidor

i) Tese contrária à aplicação do CDC(vencida


CDC(vencida)) = Art. 2º -

Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou

utiliza produto ou serviço como destinatário final.


final.

ii) Tese favorável à aplicação do CDC(orientação


CDC(orientação que prevalece

atualmente)
atualmente) – “Art. 3º - Fornecedor...

§ 2º - Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de

consumo, mediante remuneração, inclusive as de atividade

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bancária, financeira, de crédito e securitária,


securitária, salvo as

decorrentes das relações trabalhistas.

4.5.1. Particularidades = a) multa contratual(CDC, art.


52, § 1º); b) foro de eleição(CDC, art. 51, IV); c)
cláusulas de restrições(CDC, art. 54, § 4º); d) nulidade
de cláusulas abusivas(CDC, art. 39); e) defesa do
consumidor na cobrança de dívidas(CDC, art. 42); f)
proteção contratual(CDC, art. 46 e segs); g) inversão
do ônus da prova(CDC, art. 6º, VIII); dentre outras
normas.
normas.

============================= +++++++++++++
===============================

4.6. Encargos Contratuais


4.6.1. Breve Noção de Juros –
>> Sílvio de Salvo Venosa – Direito Civil – Vol. II -
(Pág. 157-160 – O conceito de juros não se apresenta
na lei. Juros são a remuneração que o credor pode
exigir do devedor por se privar de uma quantia em
dinheiro. Os juros retribuem o capital
paulatinamente, dependendo do prazo de duração da
obrigação. Representam os chamados frutos civis do
capital e são, portanto, acessórios(art. 60). Os
juros(ou interesses) são, pois, uma obrigação
acessória da dívida principal. Seguem a sorte desta.
Deve ser lembrado que a relação de dependência dos
juros surge quando do nascimento da dívida. Isto
porque, excepcionalmente, após o surgimento da
dívida os juros podem autonomizar. É possível

31
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acontecer que a obrigação de juros destaque-se da


obrigação principal e tenha vida autônoma, mas seu
nascimento é sempre acessório e assim será sua
natureza. Tanto que se presumem pagos, quando na
quitação de capital a eles não se faz ressalva(art.
944; novo 323) . Ordinariamente, os juros são fixados
em porcentagem. É da tradição. Podem, porém, ser
fixados em outra proporção.

>> De Plácido e Silva – Vocabulário Jurídico – (Pág.


469) – Derivado de jus,
jus, juris,
juris, originalmente era
empregado na acepção do direito. Aplicado
notadamente no plural, juros quer exprimir
propriamente os interesses ou lucros que a pessoa
tira da inversão de seus capitais ou dinheiro, ou que
recebe do devedor, como paga ou compensação, pela
demora no pagamento do que lhe é devido. Nesse
sentido, pois, possui significado equivalente a
ganhos,
ganhos, usuras,
usuras, interesses,
interesses, lucros.
lucros. Tecnicamente
dizem-se dos frutos do capital,
capital, representando pelos
proventos ou resultados,
resultados, que rende ou produz.
produz. Os
juros provêm de convenção ou são determinados por
lei. E, assim, se dizem convencionais ou legais.
legais. Na
técnica do Direito, por vezes, os juros integram no
sentido do dano, não para ser tido em seu conceito,
mas para ser parte dele. O dano se constitui, também
pelo prejuízo decorrente da falta de rendimento ou
de frutos produzidos pelos bens ou pelos capitais.
capitais.

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>> Feijó Coimbra – Crédito Bancário – (Pág. 135) – A


atividade do banqueiro é comercial, perseguindo o
lucro. O proveito recolhido de seu empreendimentos
lhe é assegurado pelos juros e as comissões que
cobra, nas operações que realiza, segundo os
serviços que presta(comissões) e os contratos de
concessão de crédito que celebra(JUROS). A diferença
entre juros e comissões é bem marcada pela índole
das operações realizadas pelo banqueiro, opondo-se
a lei a que se cobrem, como comissões, aquilo que a
uma prestação de serviço não corresponda. De fato,
no art. 2º do Decreto 22.626, de 1933, proíbe-se que,
a pretexto de comissões, se exijam juros, em taxas
superiores às que a lei admite, esclarecendo Pontes
de Miranda: ‘O que se veda é a dissimulação dos
juros, que de ordinário se opera por meio da
exigência de prestação ao credor, prévia ou
posterior, a título de serviços prestados, pelo próprio
credor, ou pela empresa, ou empregados ou
advogado.’

4.6.2. Juros moratórios, Juros Compensatórios, Juros


Contratuais e Juros Legais.

i) juros contratuais – representa a remuneração da obrigação

contratada, durante o tempo de vigência do contrato.


contrato. (aguarda
(aguarda

comentário palestrante)
palestrante)

São os juros convencionados a título de remuneração


pelo capital emprestado. No sentido mais amplo é

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entendido como os juros instituídos ou estabelecidos


em um contrato, não somente enquanto vigente a
obrigação, como pelo não cumprimento dela, isto é,
pelo seu retardamento. Dessa forma, os juros
moratórios, em regra legais, podem ser também
convencionados. Assim, o caráter dos juros
convencionais está em virem estipulados em
contrato. E nesse particular, é que se usa expressões
compensatórios e moratórios para distingui-los: os
primeiros, os que se originam naturalmente como
frutos do capital, pela decorrência do contrato; os
segundos, devidos pelo retardamento no
cumprimento da obrigação. Mas, o sentido de juros
convencionais também não exclui a idéia de legais,
legais,
determinada ou instituída por lei. Neste caso, os
juros convencionais devr ser estabelecidos segundo
as regras legais para sua estipulação, pois que a
ninguém é lícito cobrar juros além da taxa legal.
legal.

ii) juros moratórios - É a penalidade pecuniária em face do não

cumprimento da obrigação na data aprazada.

>> Sílvio de Salvo Venosa – Direito Civil – Vol. II -


(Pág. 160) – Pelo art. 1062 do Código Civil de 1916,
os juros de mora foram fixados em 6% ao ano, quer
sejam moratórios, quer sejam compensatórios, sendo
os primeiros devidos independentemente da prova de
prejuízo do credor. Os juros convencionados podem

34
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ser de 12%. O novo Código Civil, em seu art. 406


verificamos que:

‘Quando os juros moratórios não


forem convencionados, ou o forem
sem taxa estipulada, ou quando
provierem de determinação de lei,
serão fixados segundo a taxa que
estiver em vigor para a mora do
pagamento de impostos devidos à
Fazenda Nacional. ‘

>> Romualdo Wílson Cançado – Juros, correção


monetária - (Pág. 62) – 3.1. Enquanto os juros
contratuais representam a contraprestação
remuneratória da obrigação contratada, os juros
compensatórios e os juros moratórios são efeitos da
obrigação. Dispõe o Código Civil, no art. 956 que
‘...responde o devedor pelos prejuízos a que sua
mora der causa...’, sem prejuízo das perdas e
danos(art. 1056), correspondendo essas perdas e
danos, nas obrigações de pagamento em dinheiro,
aos juros de mora e custas, afora a pena
convencional(art. 1061). Os juros moratórios foram
fixados em seis por cento ao ano(art. 1061), quando
não convencionados(art. 1062). Têm o mesmo
percentual os devidos por força de Lei, ou quando as
partes os convencionarem sem taxa estipulada(art.
1063). Os juros de mora são sempre contados,

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mesmo que não se alegue prejuízo(art. 1064), não


havendo distinção matemática entre juros
compensatórios e moratórios, no que diz respeito à
periodicidade de capitalização. 3.2. A chamada Lei
de Usura(Decreto nº 22.626, de 07/04/33), dispondo
“...sobre
“...sobre juros nos contratos...’
contratos...’ vedou a estipulação
de juros superiores ao dobro da taxa legal(art. 1º),
prevalecendo a taxa legal se não ajustados(art. 3º),
proibindo-se “...contar
“...contar juros dos juros”
juros” salvo ‘...a
‘...a
acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em
conta corrente de ano a ano.”
ano.” Admitiu contudo que,
pela mora dos juros contratados, fossem eles
elevados de 1% e não mais(art. 5º). Após a Lei da
Usura, veio a Lei da Reforma Bancária(Lei nº 4.595,
de 31/12/64), determinando que as taxas de juros e
encargos cobrados pelas instituições financeiras
fossem fixadas pelo Conselho Monetário
Nacional(arts. 4º, VI, IX e XVII, c/c arts. 17 e 18 da
referida Lei). Com isso, na prática ficou revogada a
Lei da Usura para as instituições financeiras. Passou
a ser da competência do Conselho Monetário
Nacional qualquer deliberação sobre
contingenciamento ou liberação das taxas de juros
praticadas pelo sistema financeiro nacional, assim
como sobre extensão e amplitude dos encargos
aludidos nos arts. 956 e 1056 do Código Civil. Esses
dispositivos responsabilizam o devedor moros pelos
prejuízos a que sua mora der causa, e o inadimplente
por perdas e danos, sendo tais encargos
habitualmente representados pelos juros

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compensatórios e moratórios. Enquanto isso, os


demais agentes econômicos continuaram restringidos
pela Lei da Usura.

>> Celso Marcelo de Oliveira – Limite Constitucional


dos Juros Bancários –(Pág. 217) – Os juros moratórios
podem ser legais ou convencionais.

>> Romualdo Wílson Cançado – Juros, correção


monetária - (Pág. 66) – 4.10. Em termos
jurisprudenciais, desse conjunto de fatores nasceu a
súmula nº 596/STF, a qual, em face das disposições já
mencionadas da Lei 4.595/64, reconheceu que: ‘As
disposições do Decreto nº 22.626/33 não se aplicam
às taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas
operações realizadas por instituições públicas ou
privadas que integram o sistema financeiro nacional.’

Nessas condições, a Lei de Usura continuou incidindo


onde não deveria incidir, se tivesse sido atendida a
vontade do legislador. Continuou sendo aplicada só
nos contratos celebrados entre os não-destinatários
das restrições contidas na referida lei, perpetuando
um privilégio e uma injustiça, e isso tanto para os
juros contratuais como para os juros compensatórios
e moratórios.

SÚMULA 188 do STJ – “Os juros moratórios, na


repetição de indébito, são devidos a partir do trânsito
em julgado da sentença.”

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“Não é nula a cláusula contratual, em mútuo


bancário, que determina a cobrança de comissão de
permanência em substituição aos encargos
contratuais do período de ´normalidade´, desde que
não cumulada, durante o período de sua incidência,
com a correção monetária, nos termos da Súmula n.
30/STJ. Ainda, segundo a interativa Jurisprudência
desta Corte Superior(AGA 296.516, Rel. Ministra
Nancy Andrigui, DJ de 05-02-2001, REsp 176833/MG,
Rel Min. Aldir Passarinho Júnior, DJ 22/05/2000; REsp
248691/RS, idem, DJ 11/09/2000; REsp 174181/MG,
Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ
15/03/1999; REsp 200252/SP, Rel. Min. Ruy Rosado de
Aguiar, DJ 24/05/1999; REsp 263567, idem, DJ de
07/05/2001, são inacumuláveis a comissão de
permanência, correção monetária e a multa
contratual(esta por disposição da Resolução nº
1.129/86,
1.129/86, do CMN: “II
“II – Além dos encargos previstos
no item anterior – juros de mora e comissão de
permanência -, não será permitida a cobrança de
quaisquer outras quantias pelo atraso no pagamento
dos débitos vencidos. “

iii) juros compensatórios – também denominado pelo

mercado financeiro de comissão de permanência,


permanência, que se

traduz pela faculdade concedida ao banco, de cobrar uma

remuneração pelo capital retido pelo mutuário após o

vencimento da obrigação,
obrigação, tendo como base a taxa

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contratual avençada ou a taxa do dia marcado para o

pagamento(Resolução
pagamento(Resolução nº 1.129 do BACEN e art. 4º, IX da

Lei nº 4.595/64)
4.595/64)

>> Romualdo Wílson Cançado – Juros, correção


monetária - (Pág. 68-70) – É certo que, nas dívidas
de dinheiro, as perdas e danos consistem nos juros
de mora(CC, art. 1061). Isso, porém, não exclui o
dever de manter a rentabilidade convencional a par
da indenização moratória. Ou seja, a incidência dos
juros da mora representa a sanção pelo retardamento
culposo no reembolso da soma mutuada, o que não
impede a exigibilidade, durante o mesmo lapso, da
taxa remuneratória que se ajustou para o mútuo. Do
contrário, ter-se-ia um verdadeiro locuplemento
ilícito, toda vez que a taxa remuneratória fosse maior
que a taxa legal da mora. Todo mutuário se
prevaleceria do descumprimento pontual da
obrigação para continuar a usufruir do capital do
mutuante mediante a taxa de juros inferior à
pactuada negocialmente. Foi justamente por isso que
a praxe bancária criou, em favor da instituições
financeiras, a chamada ‘comissão de permanência’,
que nada mais é do que a manutenção da taxa
convencional de juros, mesmo após o vencimento da
operação de desconto ou de mútuo, tudo sem
prejuízo da sanção específica da mora(juros
moratórios). (...) Daí que os juros moratórios não
sunstituem nem excluem os juros compensatórios. Ao

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contrário, a eles se somam. É, ainda, o magistério de


Pontes de Miranda que coloca as coisas em seus
devidos lugares: ‘... Os juros compensatórios, esses,
são juros que independem da mora e decorrem antes
dela, ou depois dela, sem que a mora os altere.

Os juros compensatórios do mútuo em dinheiro,


portanto, continuam a correr contra o mutuário,
enquanto não cessar seu inadimplemento, pouco
importando que, pelo retardamento, esteja sujeito
também aos juros específicos da mora.
Os juros que ele continuará pagando são os
convencionais,
convencionais, oriundos do contrato, e não os
moratórios,
moratórios, provenientes da infração. E se ele
continua a dever os juros convencionais, isso não se
deve à sua mora, e sim à retenção do capital alheio.
alheio.
Por isso o art. 976 usa da locução juros da dívida.
(...) Por outro lado, o pagamento desse saldo de
capital haverá de incluir não apenas os juros
moratórios, mas também os juros compensatórios
que representam a remuneração do uso do capital
mutuado, pelo devedor, durante o tempo da retenção
indevida da questionada parcela.
(...) Se os juros correntes não devessem ser pagos, o
devedor ficaria, depois de vencida a dívida, em
melhor posição do que estava antes do vencimento, o
que não é compreensível. Desde que há estipulação
de juros, os juros estipulados correm até o efetivo
reembolso.

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A precisão desse conceito presta-se à aplicação


analógica, pois qualquer usuário que esteja se
utilizando remuneradamente do bem alheio(caso, por
exemplo, de aluguel de imóvel ou de veículo), e que
dele continue a usufruir ilicitamente, após vencido o
prazo contratual, sem pagar a remuneração
convencionada(o preço da locação, em ambos os
exemplos), estará em melhor posição do que estava
quando legitimamente se utilizava do mesmo
bem(pois então pagava alugueres) e isso não é
compreensível.
(..) Já fizemos sentir que a obrigação de pagamento
de juros só cessa com a extinção da obrigação
principal, de forma que, vencida a dívida, embora não
exigida, continua o devedor obrigado a pagar os juros
convencionados. Essa sua obrigação não se extingue
com o vencimento da obrigação.

=>=> ENTRETANTO ENCONTRAMOS JULGADOS EM


SENTIDO CONTRÁRIO =
a) O que é comissão: A Lei Federal nº 4.595, de
31.12.64 não criou ‘comissão de permanência’(art.
4º, IX). O Conselho Monetário Nacional podia limitar
juros, descontos, comissões e outras formas de
remuneração de operações e serviços bancários. É
oportuno aqui, pela matéria discutida, examinar-se o
que seja o posto em lei: ‘comissão’.
Não foi criação da lei. Comissão é o pagamento que
sempre se fez ao comissionário(termo melhor que
‘comissário’ como Pontes de Miranda demonstra em

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dados históricos), no contrato de comissão mercantil,


ou civil. Na espécie teríamos contrato de comissão
mercantil porque ao menos o comissionário é
comerciante(comércio bancário) – CCom, art. 165. O
objeto econômico desse contrato pode ser
fundos(art. 180), inclusive quando celebrado com
bancos: por vezes eles recebem dinheiro do cliente
par formação de fundos comuns, ou para compra de
ouro, ou para aplicação em overnight. Trabalha com
bens do comitente e tem então direito a uma
porcentagem – a comissão. (..) O comissionário
recebe bens do cliente(comitente) para negociar em
próprio nome com eles. Tal é o caso de aplicação de
dinheiro em fundo de ações, ou empréstimo
overnight.
b) o que é comissão de permanência? = Diz-se que a
sede legal dela seria a mesma regra do art. 4º, IX da
Lei nº 4.595/64, além do art. 9º dessa mesma lei. (..)
Ora, se a lei não fala em ‘comissão de permanência’,
mas em comissão.
comissão. Somente pode ser, portanto, o
sentido do direito tradicional.
Em nenhum caso se vê na doutrina justificação de
paga ou remuneração por Banco estar à espera do
cliente inadimplente, enquanto não solve o devido
por contrato de mútuo. (..) Cobra-se a chamada
‘comissão de permanência’ porque o banco credor
está esperando que o mutuário devedor lhe pague !
Ora, pelo passar do tempo tem ele a seu favor a
correção monetária plena e juros. Pela
inadimplência(e os cuidados necessários a

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preparação da cobrança judicial), já há a estipulação


de multa. De outro lado – como dito – nada recebeu o
banco do mutuário para fim de alienação, ou outro
tipo de aplicação ou investimento, que justifique o
pagamento de ‘comissão’. Pela permanência do
dinheiro com o cliente, sem paga do título
correspondente, já se estipularam verbas a que
correspondem causas econômicas reais: multa e
juros. Contra inflação já há a correção monetária.
Logo, o que se denominou ‘comissão de permanência’
não tem causa. (..) Já então regra jurídica nova sobre
direito comercial somente a podia editar a União.
Instituição somente por meio de lei(legislar sobre...).

iv) Juros legais - Tem a conotação dos juros que, embora não
fixados contratualmente, podem ser exigidos por força legal.
legal.
(aguarda comentário palestrante)
palestrante)

>> De Plácido e Silva – Vocabulário Jurídico – (Pág.


469) – Em regra, os juros moratórios são legais, pois
que a exigência deles decorre de norma jurídica.
Restritamente, no entanto, é a denominação aplicada
para designar a taxa de juros autorizada por lei.
Assim sendo, em sentido amplo, juros legais
entendem-se os que possam ser exigidos legalmente,
seja a respeito do direito que assiste ao credor para
exigi-los, seja relativamente à taxa, que os deve
determinar.

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4.6.2.1. Prescrição na cobrança dos juros(CC, art. 178, § 10,


III)

>> Celso Marcelo de Oliveira – Limite Constitucional... – (Pág.


292) – As pretensões de juros prescrevem no prazo de cinco
anos, conforme o art. 178, § 10, III do Código Civil ... III – Os
juros, ou quais outras prestações acessórias pagáveis
anualmente, ou em períodos mais curtos.” A não ser que em
virtude do disposto no art. 167 daquele mesmo diploma legal
elas já se encontrem prescritas, pois: ‘Com o principal
prescrevem os direitos acessórios.’(art. 167 do Código Civil).
Neste sentido, temos o art. 1062 do Código Civil brasileiro em
que ‘a taxa de juros moratórios, quando não convencionada(art.
1262), será de seis por cento ao ano.’ Segundo Câmara Legal,
são as seguintes condições para a prescrição qüinqüenal de
juros: ‘a) que a dívida seja proveniente de juros ou de outra
obrigação acessória da principal; b) que seja pagável em
prestações periódicas; c) que o período de cada prestação seja
igual ou inferior a um ano; d) que a prestação esteja vencida.’

4.6.3. Correção Monetária


Definição – É a recomposição do valor, o qual aviltado

pela inflação, traduzindo-se por uma nova expressão monetária, a qual

medida por índices de preços. Nada se acrescenta, pois, mas tão-somente

recebe-se o que é devido, em forma atualizada.

Vejam, também, Lei Federal nº 6.205, de 29.04.75 e nº 6.899, de

08.04.81(débitos judicias)

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>> Celso Marcelo de Oliveira – Limite Constitucional... – (Pág.


198) – A correção monetária é um instituto que visa a preservar
o valor do dinheiro. Este mecanismo opera através da
incidência do índice de desvalorização sobre o montante
anterior, de maneira sucessiva, mantendo-se desta forma, o
poder aquisitivo da moeda. Será sobre o montante atualizado
pelo índice de correção monetária como uma norma de ordem
pública incidente e que o Ministro Ruy Rosado de Aguiar
delimita, tendo em substituição do indexador financeiro da taxa
referencial pelo INPC.
Seguindo conceituação adotada pelo Ministro Moreira Alves do
Supremo Tribunal Federal, a correção monetária ‘é um número
índice que traduz, o mais aproximadamente possível, a perda
do valor de troca da moeda, mediante a comparação, entre os
extremos de determinado período, da variação do preço de
certo bens(mercadorias, serviços, salários, etc) para revisão do
pagamento das obrigações que deverá ser feita na medida
dessa variação. (...)
Chegamos à percepção literal de que o reajuste periódico em
que se elementiza a correção monetária(no plano das normas
constitucionais permanentes) é instrumento de preservação do
valor real de um determinado bem... Esse valor real a preservar
é sinônimo de poder de compra ou ‘poder aquisitivo’, tal como
visto na redação do inciso IV do art. 7º da Constituição Federal,
atinente ao instituto do salário mínimo. E se se coloca assim na
tela da Constituição a imagem de poder aquisitivo a resguardar,
é porque a expressão fianceira do bem juridiciamente protegido
passa a experimentar, com o tempo, uma deteriorização ou
perda de substância, por efeito, obviamente, do fato econômico
genérico a que se dá o nome de inflação. De fato, a ocorrência

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da inflação é coisa que se faz sentir, ao menos no cotidiano


brasileiro, pela desvalorização da moeda. E com tal
desvalorização, os credores das prestações obrigacionais em
dinheiro(são o alvo deste escrito) já não podem adquirir o que
antes adquiriam. O valor nominal, ou valor impresso da moeda
já corresponde ao originário valor real que ela possuía, e para a
eliminação desse descompasso(defasagem) entre um valor
nominal que se mantém inalterado e um valor real que se
deprecia (...) é que tem específica prestimosidade a correção
monetária. Nota-se que a correção monetária se caracteriza,
operacionalmente, pela citada aptidão para manter um
equilíbrio econômico-financeiro entre sujeitos jurídicos. E falar
de equilíbrio econômico-financeiro entre partes jurídicas é,
simplesmente, manter as respectivas pretensões ou os
respectivos interesses do estado em que primitivamente se
encontravam.’
3.3. LEGISLAÇAO APLICÁVEL – Foi a Lei nº 4.357/64 que
introduziu o mecanismo da correção monetária, criando a
Obrigação Reajustável do Tesouro Nacional – ORTN, com a
incumbência de manter o valor monetário das dívidas fiscais e
previdenciárias para que o devedor não retardasse,
propositadamente, o pagamento de suas dívidas, com a
intenção de vê-las consumidas pela infração. A partir da Lei
4.357/64, o ordenamento jurídico abarcou vários dispositivos
legais que se dispunham a tratar da correção monetária de
valores de diversas naturezas, 31 entre eles a Lei nº 5.670/71,
que dispôs sobre o cálculo da correção monetária, e a Lei nº
6.423/77, que estabelecia base para correção monetária.

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4.6.3.1. Não possibilidade de cumulação de correção


monetária e comissão de permanência(Súmula 30 do STJ)

“A COMISSÃO DE PERMANENCIA E A CORREÇÃO MONETARIA


SÃO INACUMULAVEIS”

“O acórdão, na apelação, reconheceu a aplicação da multa


contratual, estabelecida no pacto adjeto, mas não admitiu a
cobrança de comissão de permanência, juntamente coma
correção monetária, ainda que também pactuada, sob o
fundamento de que são inacumuláveis, por destinadas à mesma
atualização dos valores mutuados.
Tenho que as instituições financeiras são livres dos limites da
velha Lei de Usura, que, segundo Súmula 596 do Supremo
Tribunal Federal se acha revogada, pela superveniência da Lei
4.595, de 31 de dezembro de 1964, restando ao Conselho
Monetário Nacional, por delegação da mesma lei,
lei, fixar as taxas
de juros máximas incidentes nas operações, tendo em vista a
necessidade de manter o equilíbrio entre os figurantes.
No caso em exame, cobrando-se dívida representada por nota
promissória, tenho que as taxas de juros fixadas pelo Conselho
Monetário Nacional incidem, cumulativamente, com a correção
monetária da 6.599, de 08 de abril de 1981, por que têm
fundamento diversos, remuneratória, a primeira, e
atualizatória, a segunda.
Apresenta-se, deste modo, a meu sentir, como irrelevante de
que na taxa de juros fixada pelo Conselho Monetário Nacional
estaria embutida correção monetária,
monetária, ...
Sustenta o relator a acumulabilidade da comissão de
permanência, que entende de ‘caráter remuneratório do capital

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mutuado, com a correção monetária, que apenas expressa em


números atuais o mesmo valor contratado. ‘
Todavia, não menos certo que com freqüência os
estabelecimentos creditícios, no cálculo da comissão de
permanência já incluem as variações das ORTNs, OTNs, ou
qualquer dos sucessivos índices indexadores vinculados à
espiral inflacionária; e, em assim procedendo, incluem a
correção monetária na própria comissão de permanência. Em
tais condições, cumular a comissão de permanência e a
correção monetária será propiciar uma dupla atualização da
moeda, uma bis in idem inadmissível e sem causa. Portanto,
não admissível a cumulação da correção monetária com a
comissão de permanência, quando está já inclua parcela
compensatória da desvalorização da moeda, como soe a
acontecer. O ônus de comprovar, caso a caso, que é possível a
cumulação, deve recair sobre o estabelecimento credor, que
tem à mãos os elementos contábeis e a própria experiência
para efetivar os respectivos cálculos, e assim demonstrar a não
ocorrência do condenado bis in idem.
idem.
‘A criação da chamada ‘comissão de permanência’, cobrada
pelas instituições financeiras em suas operações ativas,
antecede ao surgimento da correção monetária que se pode
denminar de correção processual,....’ Com efeito, a Lei nº 6.899
é de 08.04.81, e a ‘comissão de permanência’ é de 28.01.66,
disciplinada que foi na Resolução nº 15 do Conselho Monetário
Nacional.
Nacional.
Dispunha aquela resolução, ordenamento maior do sistema
financeiro ao qual estão subordinadas as circulares e outros
expedientes menores expedidos pelo Banco Central do Brasil,
Brasil,
em seu inciso XIV, o seguinte:

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“Aos títulos descontados ou caucionados e aos em


cobrança simples liquidados após o vencimento é
permitido aos bancos cobrar do sacado, ou de quem o
substituir, ‘comissão de permanência’, calculada
sobre os dias de atraso e nas mesmas bases
proporcionais de juros e comissões cobrados ao
cedente na operação primitiva. ‘

Posteriormente, a Resolução nº 27, de 28/02/66, extendeu


aquela faculdade às cooperativas ou seções de crédito de
cooperativas mistas(inciso VII)
É esta a primeira fase da existência da comissão da dita
comissão,...
Com a entrada em vigor da lei que instituiu a correção
monetária processual,
processual, a estabelecer sua incidência sobre
qualquer débito resultante de decisão judicial, e diante do
silêncio do Conselho Monetário, passou a ocorrer o seguinte: a)
se o título era pago no banco, antes da execução, o devedor
pagaria o principal e a ‘comissão de permanência’, de acordo
com a Resolução 15/66; b) se o título fosse pago em juízo, o
banqueiro exigiria o principal, a ‘comissão de permanência, a
correção monetária processual e ainda, os juros legais.
Uma segunda fase registro coma relação à normatividade da
‘comissão de permanência’. Reporto-me à Resolução nº 1.129,
de 15/03/86,
15/03/86, pós ‘Plano Cruzado’. Em seu art. 1º lê-se:

‘I – Facultar aos bancos comerciais, bancos de


desenvolvimento, bancos de investimento, caixas
econômicas, cooperativas de crédito, sociedade de

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crédito, financiamento e investimento e sociedades


de arrendamento mercantil cobrar de seus devedores
por dia de atraso no pagamento ou na liquidação de
seu débitos, além de juros de mora na forma da

legislação em vigor, ‘comissão de


permanência’ que será calculada as mesmas taxas
pactuadas no contrato original ou à taxa de mercado
do dia do pagamento.’

As resoluções posteriores a versar sobre o assunto são as


seguintes:
Res. 1.276, de 20/03/97; Res. 1.284, de 20/03/87; Res. 1.340, de
15/06/87; Res. 1.572 de 18/01/89

CONTRATOS BANCÁRIOS. TAXA PREFIXADA, EM QUE


ENGLOBADOS JUROS E CORREÇÃO MONETÁRIA. CONTRATOS DE
CURTO PRAZO. CAPITALIZAÇÃO MENSAL DE JUROS.

Previstos encargos a taxa prefixada, onde englobados os


juros reais e a inflação esperada,
esperada, não há como reduzi-los
mediante o cotejo de norma constitucional ou
infraconstitucional relativa a limitação dos juros. O componente
de risco que encerra a prefixação dos encargos impede a
conclusão de que previsto juros excessivos, desde que, em
tempos de desordenada inflação, a flutuação de índices de
reposição do poder aquisitivo da moeda podem influir na
alteração dos juros propriamente ditos, embutidos encargos,
para mais ou para menos. Impossibilidade, ainda, de
decomposição dessas rubricas, a vista da diversidade de
indexadores existentes, com índices diferenciados. A

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impossibilidade da separação do que corresponderia aos juros


reais obsta, na prática, o impedimento a capitalização já que a
correção monetária, certamente o componente de maior peso
na taxa pactuada, não prescinde dessa prática, exigindo, ao
revés, a incidência dos índices próprios sempre que o capital já
corrigido. Capitalização, ainda, inexistente, desde que, firmados
os contratos a curto prazo, inferior a dois meses, os juros
incluídos tinham lugar, face ao vencimento do prazo da
obrigação, não se havendo como mantê-los em destaque para
fins de cálculo do contrato representativo de renegociação. (AP
195139670 – 19/10/95 – 6ª Câm Cível – TJ RS – Rel Marcelo
Bandeira Pereira).

4.64. Multa contratual

Também resulta da impontualidade no cumprimento da


obrigação. Difere-se, entretanto, da multa compensatória,
compensatória, posto que esta é
uma multa que é aplicada pelo descumprimento total da obrigação,
obrigação, e aquela
é aplicada em face também do descumprimento da obrigação, mas o pacto
ainda é considerado como útil ao credor,
credor, e ainda prevalece.

Arnaldo Rizzardo – Contratos de Crédito Bancário – (pág. 372) –


Encerra o art. 8º do Dc. 22.626: ‘
“As multas ou cláusulas penais, quando
convencionadas, reputam-se estabelecidas para
atender a despesas judiciais e honorários de
advogados, e não poderão ser exigidas quando não
for intentada ação judicial para cobrança da
respectiva obrigação.”

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Duas questões merecem exame: a possibilidade de acumulação


de multa com honorários;
honorários; e a exigibilidade da multa se não
intentada ação judicial.
judicial.
Quanto à acumulação de multa e honorários, o entendimento é
bastante unânime em permiti-la, embora, até certa época
assentava-se que, estipulada aquela, no contrato de mútuo ou
financiamento, incabível a condenação ao pagamento de verba
advocatícia. A finalidade da multa era satisfazer tal obrigação e
as despesas judiciais.
A inteligência pretoriana é esta: “Multa
“Multa contratual e honorários
advocatícios. É admissível a acumulação, em relação aos
contratos celebrados na vigência do Código de Processo Civil de
1973, porque seu art. 20 e respectivos parágrafos revogam o
art. 8º do Dec. 22.626/33´
22.626/33´
Yussef Said Cahali destaca que a multa é simplesmente
contratual, com caráter meramente moratório, sem prejuízo da
condenação do vencido em honorários advocatícios. Considera
tacitamente derrogado o art. 8º do Dec. 22.626 pelo art. 20 do
vigente estatuto processual civil. O STF segue idêntica
orientação, consubstanciada na Súmula 616. Os julgados
envolvem estabelecimentos de crédito e entidades que operam
pelo Sistema Financeiro Nacional. A multa considera-se uma
simples cláusula penal nos contratos de mútuo.
Outro aspecto controvertido é o referente à exigibilidade da
multa se não ajuizada a cobrança da dívida, em vista da
segunda parte do já mencionado art. 8º. Na forma deste
dispositivo, não caberia a imposição de honorários de advogado
nas atividades extrajudiciais, o que é inadmissível, pois a
remuneração não se restringe às causas ingressas em juízo.
Mais que isto, porém, pela própria inserção dentro do Código

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Civil, impõe-se concluir pelo cabimento da exigência. Está a


cláusula penal capitulada entre as modalidades das obrigações,
gerando a respectiva obrigação na hipótese do inadimplemento
de outra.

4.6.5. Usura
Definição – É a celebração excessiva dos juros, vindo a ultrapassar o

limite máximo da taxa legal(


legal(Lei da Usura – Dec 22.626, de 07.04.33, art. 1º e

CC, art. 1062) – Súmula 596/STF)


596/STF)

De Plácido e Silva – Vocabulário Jurídico – (Pág. 846) –


Usura. No conceito atual, usura não significa
simplesmente o interesse devido pelo uso de alguma
coisa. É o interesse excessivo,
excessivo, isto é, a estipulação
exagerada de um juro,
juro, que ultrapasse ao máximo da taxa
legal, ou a estipulação de lucro excessivo,
excessivo, ou excedente
do lucro normal e razoável. Desse modo, a usura, que
constitui crime contra a economia popular, não somente
toma o aspecto de usura de interesse,
interesse, ou usura
pecuniária,
pecuniária, como o de usura real,
real, ou usura de lucro.
lucro. A
usura pecuniária configura-se pela cobrança excessiva de
juros, ou de juros que ultrapassem ao máximo facultado
por lei. A usura real é a estipulação contratual de
vantagem,
vantagem, que ultrapasse determinado valor da prestação
feita, ou prometida.
Desse modo, a estipulação contratual que, em prejuízo da
outra parte, estabeleça vantagens leoninas,
leoninas, ou lucros
excessivos somente a uns,
uns, configura-se em usura real,
real, ou
usura de lucros.
lucros.

53
CURSO AVANÇADO DE DIREITO BANCÁRIO
Prof. Alberto Bezerra

Celso Marcelo de Oliveira – Limite Constitucional dos ... –


(Pág. 243-245) – Com relação à questão há que se
desconsiderar o disposto na Súmula 596 do STF,
continuando em vigor a Lei de Usura, cuja aplicação às
instituições financeiras sempre foi reconhecida na
doutrina e na jurisprudência com base na observação de
que a questão referente à percepção de juros sobre juros
não foi objeto de disposição da Lei de Reforma Bancária,
submetendo-se assim essas entidades, quanto à disciplina
da capitalização, às disposições do Decreto nº 22.626/33,
mesmo antes da Carta de 1988, ressalvada, apenas, a
possibilidade da forma capitalizada de juros, quando
permitida sua incidência expressamente por meio de
legislação específica que afaste a aplicação da Lei de
Usura.
No entanto, a Lei nº 4.595/64, no inciso IX do artigo 4º,
atribuiu ao CMN a competência para ‘limitar, sempre que
necessário as taxas de juros, descontos, comissões e
qualquer outra forma de remuneração de operações e
serviços bancários.
A jurisprudência é unânime no sentido de estar em vigor a
Lei de Usura e a revogação expressa da Súmula 596 pela
Promulgação da Constituição Federal de 1988.
Importante também o entendimento esposado pelo
eminente Des. Jorge Luís Dall’ Agnol, cujo excerto se
impõe reproduzir: ‘Limitação dos juros de 12% para todos
os empréstimos. O Constituinte de 1988, sensível à idéia
de que os juros não podem asfixiar a iniciativa honesta,
viu por bem limita-los a 12% ao ano. Esta regra, encerrada

54
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no art. 192, § 3º, da Constituição Federal, envolveu


polêmica a respeito da auto-aplicabilidade até que o
Supremo Tribunal Federal por ocasião da Adin nº 04 que a
norma era de eficácia contida,
contida, logo, dependia de lei
complementar. Aquele julgamento vinculou as demais
instâncias inferiores(art. 102, § 2º, da Constituição
Federal).
Federal). Sob esse fundamento, corretas estão as
alegações.
O inc. IX do art. 4º da Lei de Reforma Bancária concede
poderes ao Conselho Monetário Nacional para limitar a
taxa de juros a ser praticada no mercado financeiro.
Acontece que o verbo limitar deste diploma passou a ser
lido como se fosse liberar,
liberar, o que é inadmissível. A
interpretação correta é de que limitar significa ordenar
obediência a um limite da Lei previsto na Lei de Usura: 1%
ao mês.
Também não cabe o argumento de que estaria livre do
limite da Lei de Usura por força da Súmula 596 do
Supremo Tribunal Federal.
Como se vê em julgamentos desta Corte, tal Súmula não
pode ter aplicação, segundo seus fundamentos. Estes
julgados dizem equivocada a Súmula 596 do Supremo
Tribunal Federal porque feriu o princípio da isonomia ao
reconhecer o odioso privilégio em favor dos detentores da
moeda nacional ao estabelecer, sem uma relevante razão,
diferenças entre pessoas. Outros argumentam que a
Súmula encontra-se desatualizada.
desatualizada. Nesse sentido as
palavras do Juiz Márcio Puggina: ‘Por ambas as
motivações, chega-se à mesma conclusão: inaplicabilidade
da súmula nº 596 do STF.

55
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Romualdo Wilson Cançado – Juros – Correção Monetários.. –


(Pág. 63) – 4.1. Após a Lei de Usura, veio a Lei de Reforma
Bancária( Lei nº 4.595, de 31/12/64), determinando que as
taxas de juros e encargos cobrados pelas instituições
financeiras fossem fixados pelo Conselho Monetário
Nacional(arts. 4º, VI, IX e XVII, c/c arts. 17 e 18 da referida
Lei). Com isso, na prática ficou revogada a Lei de Usura
para as instituições financeiras. Passou a ser da
competência do Conselho Monetário Nacional qualquer
deliberação sobre contingenciamento ou liberação das
taxas de juros praticadas pelo sistema financeiro, assim
como sobre a extensão e amplitude dos encargos aludidos
nos arts. 956 e 1056 do Código Civil. Esses dispositivos
responsabilizam o devedor moroso pelos prejuízos a que
sua mora der causa, e o inadimplemento por perdas e
danos, sendo tais encargos habitualmente representados
pelos juros compensatórios e moratórios. Enquanto isso,
os demais agentes econômicos continuam restringidos
pela Lei de Usura.
SÚMULA 596 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL == “As
“As
disposições do Dec. 22.626/33 não se aplicam às taxas de
juros e aos outros encargos cobrados nas operações
realizadas por instituições públicas ou privadas que
integram o Sistema Financeiro Nacional.”
Nacional.”

Arnaldo Rizzardo – Contratos de Crédito Bancário – (Pág.


374-376) – Depreende-se que duas as espécies de
estipulações proibidas e nulas, consoante tipo de contrato:

56
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a) Nos contratos civis de mútuo, são usuárias as taxas de


juros superiores àquelas legalmente permitidas, ou seja,
as taxas que extrapolam o disposto nos artigos 1.262 e
1062 do CC, em combinação com o art. 1º do Decreto nº
22.626, de 1933. Admitindo-se a fixação de juros no
mútuo, a sua convenção limitar-se-á ao dobro da
legalmente prevista.
b) Nos negócios jurídicos não disciplinados pela legislação
comercial e de defesa do consumidor, consideram-se
usuários os lucros e vantagens patrimoniais excessivos,
sempre quando uma das partes tem posição inferior à
outra. Embora aparentemente vaga a previsão, tem
enorme aplicação nas múltiplas relações e atividades de
natureza econômica, que não se enquadram numa relação
tipicamente comercial e não se encontram abrangidas pelo
Código de Defesa do Consumidor. Apontam-se como
exemplos os contratos de prestação de serviços, de
factoring ou de compra venda de títulos de crédito, de
promessa de compra e venda, e inclusive locação, podendo
incluir-se todas aquelas relações não claramente
tipificadas como de consumo, que gravitam numa zona de
controvérsia sobre a aplicação ou não do Código de Defesa
do Consumidor.
Vide MEDIDA PROVISÓRIA 1.965-12 de 02/03/2000.
02/03/2000.

4.6.6. Anatocismo

É a cobrança de juros sobre juros já incluídos no

capital, ou seja, agregar os juros ao valor original do débito, continuando a

57
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cobrá-los sobre novos montantes da dívida, dívida esta que já incluem juros

anteriores. Opõem-se aos juros simples.

De Plácido e Silva – Vocabulário Jurídico – (Pág. 62) – ANATOCISMO – É


vocábulo que nos vem do latim anatocismus,
anatocismus, de origem grega, significando
usura,
usura, prêmio composto ou capitalizado.
capitalizado. Desse modo, vem siginificar a
contagem ou cobrança de juros sobre juros.
A cobrança de juros sobre acumulados não é admitida, desde que,
resultante de contrato, não existe estipulação que a permita. Quer dizer isso
que a capitalização de juros, isto é, a incorporação dos juros vencidos ao
capital e a cobrança de juros sobre o capital assim capitalizado, somente
tem apoio legal quando há estipulação que a autorize.
Desde que não haja estipulação, os juros não se capitalizam e, em
conseqüência, não renderão para o credor juros contados sobre eles,
mesmo vencidos e escriturados na conta do devedor.
Quando se trata, porém, de juros contados em conta corrente, o próprio
direito comercial(art. 253) permite a acumulação de juros vencidos aos
saldos liquidados de ano em ano, e, em tal caso, se permite a contagem
posterior, dos juros sobre os saldos então apurados.
O próprio Cód. Civil brasileiro, em seu art. 1.262, permitiu a capitalização.
Havendo convenção, embora o código fale em capitalização anual, a
contagem de juros sobre os juros acumulados pode ser admitida
semestralmente.

Celso Marcelo de Oliveira – Limite Constitucional .... (Pág. 252) – A Súmula


nº 121 do STF que veda a contagem de juros sobre os juros em períodos
inferiores a um ano, que é aplicada às instituições financeiras. Exemplo
dessa orientação é o Acórdão da 4ª Turma do STJ no RESp nº 1.285-GO,
julgado recentemente, de que foi relator o eminente Ministro Sávio de
Figueiredo, cuja ementa reza que: ‘A capitalização de juros(juros sobre
juros) é vedada em nosso direito, mesmo quando expressamente

58
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convencionada, não tendo sido revogada a regra do art. 4º do Dec. nº


22.626/33 pela Lei nº 4.595/64. O anatocismo, repudiado pelo verbete 121 da
Súmula do STF não guarda relação com o enunciado nº 596 da mesma
súmula.
Destarte, a visão do Magistrado José Wilson Gonçalves, realmente a lei
veda a sua prática, ao impedir a contagem de juros dos juros, mesmo em se
tratando de instituição financeira, pois a previsão do art. 4º, do Dec. nº
22.626, de 07/04/33 – Lei da Usura, é extensiva aos bancos, visto que não foi
revogada pela Lei nº 4595/64. A capitalização de juros somente é possível
em caso de expressa previsão legal. Uma hipótese permitida, de juros dos
juros, estipulada no próprio art. 4º supra, segunda parte: ‘esta proibição não
compreende a acumulação de juros vencidos aos saldos líquidos em conta
corrente de ano a ano.’
Também autoriza a lei a capitalização de juros no caso de títulos de crédito
à exportação(Lei nº 6.313, de 16/12/75,
16/12/75, comercial(Lei nº 6.840, de 03/11/80)
03/11/80),
industrial(Dec. Lei nº 413, de 09/01/69)
09/01/69) e rural(Dec. Lei 167, de 14/02/67).
14/02/67).

SÚMULA 93 DO STJ = ‘A legislação sobre cédulas de crédito rural, comercial


e industrial admite o pacto de capitalização de juros.’

>> Feijó Coimbra – Crédito Bancário – (Pág. 135) – Entre os


Romanos, a Lei das Doze Tábuas, na Tábula Tércia, nº 02,
prescrevia: .. ‘na tradução abonada por Sílvio Meira temos: Se
alguém coloca o seu dinheiro a juros superiores a um por cento
ao ano, que seja condenado a devolver o quádruplo.’

4.6.7. Limitação constitucional dos juros

59
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Constituição Federal

‘Art. 192 – (...)

§ 3º - As taxas de juros reais,


reais, nelas incluídas comissões e

quais outras remunerações direta ou indiretamente

referidas à concessão de crédito, não poderão ser

superiores a doze por cento ao ano; a cobrança acima

deste limite será conceituada como crime de usura,


usura,

punido, em todas as suas modalidades, nos termos que a

lei determinar.’(Legislação
determinar.’(Legislação infraconstitucional – Decreto

nº 22.626/33 – Lei da Usura ** Lei nº 1.521/51 – Crimes

contra a economia popular ** Lei nº 8.078/90 – art. 52, §

1º - Código de Defesa do Consumidor)

Celso Marcelo de Oliveira – Limite Constitucional.... (Pág. 313) –


A limitação de juros é tema principal de nossa obra e desde o
início defendemos a tese de aplicabilidade imediata do disposto
no art. 192, parágrafo 3º da Constituição Federal que limita os
juros no percentual de doze por cento ao ano.
Não se deve olvidar, contudo, que o Supremo Tribunal Federal,
por maioria de votos, ao julgar a ação direta de
inconstitucionalidade nº 4-7/600(Adin nº 04), assentou em 1988
a inaplicabilidade da norma regulamentadora, do art. 192, § 3º
da Constituição Federal.
Deveras, a ordem de que os juros reais não podem ser
superiores a 12% ao ano torna claro demais que ela não
depende de legislação outra qualquer(infraconstitucional) para
ser aplicada, exatamente porque o legislador constituinte a

60
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impregnou de normatividade suficiente para derramar sua


incidência sobre as realidades tangíveis.
tangíveis.
A mais moderna e escorreita doutrina brasileira oferece a
seguinte divisão das normas constitucionais, quanto à eficácia e
aplicabilidade: a) normas de eficácia plena e aplicabilidade
direta, imediata e integral; b) normas de eficácia contida e
aplicabilidade direta e imediata, mas possivelmente não
integral; c) normas de eficácia limitada, que se divide em
declaratórios de princípios institutivos ou organizativos e em
declaratórios de princípio programático.
(...) O segundo grupo(eficácia contida) também se constitui de
normas que incidem imediatamente e produzem(ou podem
produzir) todos os efeitos queridos, mas prevêem meios e
conceitos que permitem sua eficácia contida em certos limites,
das certas circunstâncias.
Juros reais não carecem de definição em lei complementar,
porque todos sabem do que se trata e porque a Carta Maior já
regulou sua cobrança.

J. FRANKLIN ALVES FELIPE – Contratos Bancários em Juízo –


(Pág. 26) – Há contudo, acórdãos, em caso de cédula de crédito
industrial,
industrial, que, ausência de fixação no contrato pelo Conselho
Monetário Nacional, deferiram juros de 12% ao ano. Vejamos:

“O Decreto-Lei nº 413/69, art. 5º, posterior à Lei nº


4.595/64 e específico para cédulas de crédito
industrial, confere ao Conselho Monetário Nacional o
dever de fixar os juros a serem praticados. Ante a
eventual omissão desse órgão governamental, incide
a limitação de 12% ao ano prevista na Lei de

61
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Usura(Dec. Nº 22.626/33), não alcançando a cédula


de crédito industrial o entendimento jurisprudencial
consolidado na Súmula 596-STF. Recurso Especial
conhecido parcialmente e, nessa parte,
provido.”(Recurso Especial nº 71.604-MG, Rel. Min.
Carlos Alberto M. Direito, DJU de 16/03/1998)

Dispõe o art. 5º, caput, do Decreto-Lei nº 413:

“As importâncias fornecidas pelo financiador


vencerão juros e poderão sofrer correção monetária
às taxas e aos índices que o Conselho Monetário
Nacional fixar, calculados sobre os saldos devedores
de conta vinculada à operação e serão exigíveis em
30 de junho, 31 de dezembro, no vencimento, na
liquidação da cédula ou, também, em outras datas
convencionadas no título ou admitidas pelo referido
Conselho.”

4.6.8. Taxa Referencial(TR)

Celso Mello de Oliveira – Limite Constitucional.... (Pág. 201) – A


taxa referencial não pode ser considerada indexador monetário,
conforme decisão do Supremo Tribunal Federal. Foi diante
desse entendimento que o Supremo Tribunal Federal, em
julgmento da ADIN 493-0/DF, em 25/06/92, assim proclamou;
‘não constitui índice que reflita a variação do poder aquisitivo
da moeda.’

62
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O Sr. Ministro Celso de Mello, ao proferir o seu voto nesse


julgamento, salientou: ‘da qualificação jurídica da Taxa
Referencial, como indexador do mercado financeiro de títulos e
valores mobiliários – que se identifica, desse modo, como
padrão referencial que expressa a taxa média ponderada do
custo da captação da moeda por instituição financeira para
efeito de sua aplicação, e que não constitui, por isso mesmo,
índice que exprima a variação do poder aquisitivo da moeda
deriva a conseqüência necessária de que a TR não é índice de
determinação do valor de troca de moeda.
Não sendo incide neutro, de mera atualização monetária, não
poderá a taxa referencial ser utilizada como índice vetor de
reajustes dos saldos dos valores de contratos.
Finalmente, a respeito da impossibilidade jurídica da utilização
da taxa referencial como indexador financeiro sob o pretexto de
corrigir monetariamente o valor do saldo devedor configura
atitude afrontosa ao princípio da transparência que deve
nortear toda relação de consumo, expressamente no art. 4º do
Código de Defesa do Consumidor, bem como ao direito à
informação adequada, clara e precisa do conteúdo do contrato,
consagrado no art. 6º, III.

IV - TR COMO ÍNDICE DE
‘ATUALIZAÇÃO’.

IV.01. De outro compasso, a Embargante


declina o entendimento de que a TR reflete a idéia de Juros
Compensatórios. Tal fato, argumentam, com base no texto da
Lei Federal nº 8.177/91, redunda em excesso de execução.

IV.02. Discrepamos deste entendimento,


também fundamentado no próprio texto da Lei trazido à baila.

63
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IV.03. Indistintamente temos que as Leis,


salvo Indistintamente exceções, trazem consigo dubiedades
extremas em suas conclusões. Para não variar, a Lei 8.177/91,
ora em discussão, trouxe dispositivos cuja interpretação
merece rigorosa atenção.

IV.04. Referida Lei, impende destacar,


empresta à TR a aparente idéia de dar a mesma denominação a
dois instrumentos diversos: remuneração e atualização.

IV.05. Impõe-se indagar, de primeiro plano,


da interpretação razoável que unifique os significados na Lei
8.177/91, e distancie de pretensas análises conflitantes.

IV.06. Neste diapasão, mister que


evidenciemos a redação de determinados artigos da Lei em
tela, os quais, nesta ocasião, tratam a TR como remuneração,
advertindo, de outra sorte, que as expressões em negrito são
de nossa alçada. Vejamos:

“Art. 7º - Os saldos dos cruzados novos


transferidos ao Banco Central do
Brasil, na forma da Lei nº 8024, de 12
de abril de 1990, serão remunerados, a
partir...”

“Art. 8º - O art. 5º da Lei nº 7862, de


30 de outubro de 1989, passa a vigorar
com a seguinte redação: ‘Art. 5º - O
Banco Central do Brasil e as
instituições financeiras a que se
refere o § 2º deste artigo recolherão
ao Tesouro Nacional, no último dia útil
de cada decêndio, remuneração incidente
sobre os saldos...”

“Art. 11 - É Admitida a utilização da


Taxa Referencial -TR como base de
remuneração de contratos somente...”

“Art. 12 - Em cada período de


rendimento, os depósitos de poupanças
serão remunerados;
I - como remuneração básica, por taxa
correspondente à acumulação das
TRD,...”
II - ...

64
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§ 1º - A remuneração será calculada


sobre o menor saldo apresentado em cada
período de rendimento.

“Art. 14 - O Conselho Monetário


Nacional poderá instituir e disciplinar
novas modalidades de caderneta de
poupança, observada periodicidade de
crédito de rendimento igual ou superior
a trinta dias e remuneração básica pela
TRD.”

“Art. 17 - A partir de fevereiro de


1991, os saldos das contas do Fundo de
Garantia por Tempo de Serviço - FGTS
passam a ser remunerados pela taxa
aplicável...”
Parágrafo único - As taxas de juros
previstas na legislação em vigor do
FGTS são mantidas e consideradas como
adicionais à remuneração prevista neste
artigo.”

“Art. 19 - Os contratos celebrados a


partir de 1º de fevereiro de 1991,
relativo a operações realizadas por
empresas construtoras e incorporadoras
com adquirentes de imóveis residenciais
e comerciais, poderão manter cláusula
de remuneração pela taxa básica...”

IV.07. Todos estes artigos delineados,


divulgam que a TR funciona como objeto de remuneração de
créditos, com natureza de juros.

IV.08. Agora, de outra sorte, ratificando


nossa tese expositada em linhas inaugurais, este mesmo
Diploma Legal projeta utilização da TR, desta feita como índice
de atualização,
atualização, destacando, outrossim, que atualizar em nada
repercute como acréscimo.

IV.09. Reproduzimos, a propósito, as


considerações legais, pertinente a este aspecto:

“Art 6º - Para atualização de


obrigações com cláusula de correção
monetária...”

65
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§ único - Para atualização,


atualização, no mês de
fevereiro de 1991, dos contratos
referentes ao BTN, a unidade de
conta...”

“Art. 15 - Para os contratos já


existentes, contendo cláusula expressa
de utilização da Unidade-Padrão de
Capital - UPC como fator de
atualização,
atualização, esta passa a ser
atualizada mediante a aplicação do
índice de remuneração básica dos
depósitos de poupança com data de
aniversário no dia primeiro.”

“Art. 16 - O disposto no artigo


anterior aplica-se à atualização da
UPC a ser realizada em 1º de abril de
1991.”

“Art. 20 - O Resultado apurado pela


aplicação do critério de cálculo de
atualização das operações de que trata
o artigo 18, lastreadas com recursos de
Depósitos de Poupança e da atualização
desses depósitos, na forma...”

“Art. 21 - Os saldos dos contratos de


financiamento celebrados até o dia 31
de janeiro de 1991, realizados com
recursos dos depósitos de poupança
rural, serão atualizados, no mês de
fevereiro de 1991, por índice composto:

§ único - A partir do mês de março de


1991, os saldos dos contratos
mencionados neste artigo serão
atualizados pela remuneração básica
aplicada aos depósitos...”

“Art. 26 - As operações de crédito


rural contratadas junto às instituições
financeiras, com recursos oriundos de
depósitos à vista e com cláusula de
atualização pelo índice de preços ao
consumidor - IPC, passam a ser
atualizados pela TR, observado o
disposto no art. 6º desta Lei.”

IV.10. Inarredável, pois, o entendimento que


a Lei trouxe consigo duplo significado às TR’s: ora como taxas

66
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de juros remuneratórios, e, outras vezes, como índices de


atualização.

IV.11. Se fossemos atender o entendimento


da Autora, com certeza a Lei traria abrigo de que a TR seria um
duplo instrumento, muito embora com uma só denominação, o
que não é o caso, lógico.

IV.12. Sem qualquer hesitação, devemos


seguir à interpretação sistemática da Lei, a qual faculta
conciliar os dois diferentes conjuntos de dispositivos,
eliminando a contradição aparente.

IV.13. Os únicos fundamentos de distinção


efetiva da Lei 8177/91, levando-se em consideração que ora
identifica a TR como remuneração, e, ora como atualização, são,
nitidamente, de natureza e finalidade meramente tributária. A
União, pois, pretende tributar, como meras rendas, os valores
resultantes das TR’s, quando as chama ‘remuneração’, e
pretende, de outra parte, quando as chama ‘atualizações’,
tratá-las pelos métodos com que tributa atos de correção
monetária.

IV.14. Um outro aspecto relevante, dado a


prevalecer a TR como fator de atualização, é o que preceitua o
art. 11 da Lei 8177/91. Vejamos, in litteris:

“Art. 11 - É admitida a utilização da


Taxa Referencial - TR como base de
remuneração dos contratos somente
quando tenham prazo ou período de
repactuação igual ou superior a três
meses.”(destacamos)

IV.15. Verificamos neste artigo, claramente,


em arremate, uma faculdade à utilização da TR. Estabelecida,
assim, como simples faculdade(É admitida...), nada opõe-se à
fixação de juros adicionais, seja por Lei, seja por disciplina
contratual entre as partes. O erro aparente que repousa no
texto da Lei, portanto, não deve prevalecer. A TR, em verdade,
tem validade inatacável como índice de ‘atualização’, não, ao
revés, como taxa de juros.

IV.16. Ainda que não fosse este o


entendimento, ad argumentandum tantum, a Embargante não

67
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evidencia qual seria, na ótica desta, o indexador correto para


atualizar o débito.

IV.17. Em verdade, a todo débito judicial


deve ser aplicado correção monetária, restando saber qual o
índice e indexador corretos, pois que:

“A correção monetária é extensiva a todos


os débito resultantes de decisão
judicial(RSTJ 31/318)”

“Consoante reiteradamente afirmado pela


Corte, não constituindo um ‘plus’ mas
mera atualização da moeda aviltada pela
inflação, a correção monetária se impõe
como imperativo econômico, jurídico e
ético, para coibir o enriquecimento sem
causa.(RSTJ 23/307, 38/125, STJ-RT
673/178)”

“A sistemática da correção monetária dos


débitos resultantes de decisão judicial -
positivada pela Lei nº 6.899, de 08.4.81
- constitui vero princípio jurídico,
aplicável a relações jurídicas de todas
as espécies e de todos os ramos do
direito(STJ-1ª Turma, REsp 20.924-2-SP,
rel. Min. Demócrito Reinaldo, j.
20.5.92)”

ADI-493/DF
Ação Direta de Inconstitucionalidade - STF
Relator Min. Moreira Alves – Publ DJ 04/09/92 – Julgamento
25/06/92 – Trib Pleno

EMENTA
Ação direta de inconstitucionalidade – Se a lei alcançar os
efeitos futuros de contratos celebrados anteriormente a ela,
sera essa lei retroativa(retroatividade mínima) porque vai

68
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interferir na causa, que e um ato ou fato ocorrido no passado. –


O disposto no art. 5º, XXXVI, da Constituição Federal se aplica a
toda e qualquer lei infraconstitucional, sem qualquer distinção
entre lei de direito público e lei de direito privado, ou entre lei
de ordem pública e lei dispositiva. Precedente do S.T.F. –
Ocorrência, no caso, de violação de direito adquirido. A Taxa
Referencial (TR) não é índice de correção monetária, pois,
refletindo as variações do custo primário da captação dos
depósitos a prazo fixo, não constitui índice que reflita a
variação do poder aquisitivo da moeda.
moeda. Por isso, não há
necessidade de se examinar a questão de saber se as normas
que alteram índice de correção monetária se aplicam
imediatamente, alcançando, pois, as prestações futuras de
contratos celebrados no passado, sem violarem o disposto no
art. 5º, XXXVI, da Carta Magna. – Também ofendem o ato
jurídico perfeito os dispositivos impugnados que alteram o
critério de reajuste das prestações nos contratos já celebrados
pelo sistema de Plano de Equivalência Salarial por Categoria
Profissional(PES/CP). Ação direta de inconstitucionalidade
julgada procedente, para declarar a inconstitucionalidade dos
artigos 18, ‘caput’ e parágrafos 1 e 4; 20; 21 e parágrafo único;
23 e parágrafos; e 24 e parágrafos, todos da Lei nº 8.177, de 01
de maio de 1991. (VOTAÇÃO POR MAIORIA).

STF - RE-175678 / MG
Recurso Extraordinário
Relator Min. Carlos Velloso
Julgamento 29/11/94 – Segunda Turma.

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EMENTA
CONSTITUCIONAL – CORREÇÃO MONETÁRIA. UTILIZAÇÃO DA TR
COMO ÍNDICE DE INDEXAÇÃO.
I – O Supremo Tribunal Federal, no julgamento das Adins 493,
Relator o Sr. Ministro Moreira Alves, 768, Relator Min. Sr. Marco
Aurélio e 959-DF, Relator o Sr. Min. Sidney Sanches, não excluiu
do universo jurídico a taxa referencial, TR, vale dizer, não
decidiu no sentido de que a TR não pode ser utilizada como
índice de indexação.
indexação. O que o Supremo Tribunal Federal decidiu,
nas referidas ADins, é que a TR não pode ser imposta como
índice de indexação em substituição a índices estipulados em
contratos firmados anteriormente a Lei nº 8.177, de 01/03/91.
Essa imposição violaria os princípios constitucionais do ato
jurídico perfeito e do direito adquirido. CF, art. 5º, XXXVI. II – No
caso, não há falar em contrato em que ficaria ajustado um certo
índice de indexação e que estivesse esse índice sendo
substituído pela TR. E dizer, não há nenhum contrato a impedir
a aplicação da TR. III – R.E. não conhecido. (VOTAÇÃO
UNÂNIME).

4.7. Contratos Bancários em moeda estrangeira

Lutero de Paiva Pereira – Contratos Bancários em Moeda


Estrangeira – (Pág. 36) – Com a entrada em vigor em 11/11/69
do Dec. Lei nº 857/69, diploma legal vigente até os dias atuais,
crivou-se de NULOS os contratos, os títulos e quaisquer outros
documentos, e não mais somente as estipulações, como
anteriormente havia tratado o Dec. 23.501/33, quando dos

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mesmos constasse vinculação de pagamento em ouro ou moeda


estrangeira.
O art. 1º do Dec. 857/69 dispõe, in verbis:

“Art. 1º - São nulos de pleno direito os


contratos, títulos e quaisquer outros
documentos, bem como obrigações que,
exeqüíveis no Brasil, estipulem pagamento em
ouro, em moeda estrangeira, ou, por alguma
forma, restrinjam ou recusem, nos seus efeitos,
o curso legal do cruzeiro.
Porém o art. 2º do mesmo Dec. Lei bº 867/69 acolheu cinco
exceções das quais a estipulação de pagamento em moeda
estrangeira nenhuma mácula traz ao contrato, ao título ou ao
documento.
Diz o texto legal em pauta, in verbis:
“Art. 2º - Não se aplicam as disposições do
artigo anterior:
i – às obrigações de importação e exportação de
mercadorias;
ii – aos contratos de financiamento ou de
prestação de garantias, relativos a exportação
de bens de produção nacional, vendidos a
crédito para o exterior;
iii – aos contratos de compra e venda de câmbio
em geral;
iv – aos empréstimos e quaisquer outras
obrigações cujo credor ou devedor seja pessoa
residente ou domiciliada no exterior, exceto

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contratos de locação de imóveis situados no


território nacional;
v – aos contratos que tenham por objeto a
cessão, transferência, delegação, assunção ou
modificação das obrigações referidas no item
anterior, ainda que ambas as partes
contratantes sejam pessoas residentes ou
domiciliadas no país.’

Assim, sob a disciplina lançada com a entrada em vigor do Dec.


Lei 867/69, os contratos em moeda estrangeira validamente
constituídos não poderão ser outros senão exclusivamente
aqueles que se encaixem nas exceções acolhidas por seu
indigitado art. 2º.
Mais recentemente, já em plena vigência do conhecido Plano de
Estabilização Econômica – Plano Real -, cujo início legal busca
sustento na Lei 8.880, de 27/05/94, diploma legal que Instituiu a
Unidade Real de Valor(URV), ficou assegurada por seu art. 6º a
NULIDADE de qualquer estipulação prevendo a incidência da
variação cambial.
cambial.
São estes os termos do sobredito dispositivo da Lei 8.880/94, in
verbis:

“Art. 6º - É nula de pleno direito a contratação


de reajustes vinculados à variação cambial,
cambial,
exceto quando expressamente autorizado por lei
federal, e nos contratos de arrendamento
mercantil celebrados entre pessoas residentes e
domiciliadas no País, com base em captação de
recursos provenientes do exterior.”

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4.8. As garantias nos contratos bancários

Sérgio Carlos Covello – Contratos Bancários – (Pág. 277-278) –


Na luta contra o risco o Banco toma todas as precauções
necessárias no sentido de garantir o cumprimento da obrigação
assumida pelo cliente. Antes de aprovar um crédito, o
banqueiro leva em conta não só a situação própria do cliente,
como, também, a natureza da operação solicitada e as
condições atuais da economia. Destarte a apreciação do risco
determina a exigência de garantias que se tornaram praxe na
contratação bancária.
‘Não seria justo ver nesta preocupação – Diz Garruigues – uma
atividade opressora ou persecutória do Banco frente aos
clientes, porque o dinheiro que os Bancos dão a crédito é o
mesmo que eles receberem a crédito e que, portanto, as
garantias que adotam nas operações ativas asseguram o bom
fim das operações passivas. Em última instância, o Banco, ao se
garantir da devolução dos créditos que concede, está
automaticamente assegurando aos seus depositantes a
restituição de seus capitais.
Os meios de garantias de que o banco pode lançar mão são de
duas naturezas: gerais e especiais.
especiais. As primeiras fundam-se na
boa qualidade do cliente,criando
cliente,criando confiança em que ele solverá o
seu débito, como, também, na natureza da operação, na sua
finalidade, no seu montante, etc. Têm sobretudo caráter moral,
pois que evidenciam a idoneidade moral, financeira e
econômica do solicitante do crédito.

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A primeira coisa que o Banco faz antes de conceder o crédito é


promover a coleta de informações, o ‘levantamento cadastral’,
para usarmos expressão fluente, que nada mais é do que
análise objetiva do cliente com o propósito de verificar se este
inspira ou não confiança. As fontes de informações podem ser:
a) o próprio cliente; b) os seus fornecedores; c) as agências de
informações; d) os próprios bancos; e) os cartórios de protesto.
Feito o levantamento cadastral, o Banco procederá à análise do
crédito solicitado, levando em conta os seguintes aspectos:
a) Fim a que se destina; b) prazo de duração do crédito; c)
montante do crédito.
Garantias Especiais - Nem sempre, no entanto, os Bancos se
contentam com as garantias gerais oferecidas pelo cliente. As
crises econômicas, as oscilações dos preços, a instabilidade da
moeda, a inflação e a própria queda dos padrões de moralidade
nos negócios fazem com que os bancos exijam garantias
especiais, de ordem jurídica, para lastrear o contrato bancário.
É, assim, comum – para não dizer imperioso – os Bancos
buscarem a intervenção de um terceiro que subscreva o
contrato solidariamente com o devedor, ou então uma garantia
real que vincule um bem ao contrato para assegurar a fiel
satisfação da obrigação assumida pelo cliente. A garantia real
desfruta de tanta importância na contratação bancária que
Hamel é levado a dizer que o crédito real é a regra do
bancqueiro, pois este só se sente plenamente seguro quando
tem a sua disposição um penhor ou uma hipoteca sob bens de
seu devedor ou de um terceiro interveniente.
Garantias pessoais – As garantias pessoais ou fidejussórias
dividem-se tradicionalmente em fiança e aval, às quais se
acresce, hoje em dia, a figura do seguro de crédito.

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Garantias reais – As garantias reais que mais comumente


acompanham o contrato bancário são hipoteca, o penhor, a
caução de títulos, o warrant e o conhecimento de depósito e a
alienação fiduciária.

Sílvio de Salvo Venosa – Vol V – Pág. 20 – A idéia básica é que o


direito pessoal une dois ou mais sujeitos, enquanto os direitos
reais traduzem relação entre uma coisa ou conjunto de coisas, e
um ou mais sujeitos, pessoas naturais ou jurídicas. O exemplo
perfeito de direito pessoal é a obrigação, e o exemplo perfeito e
acabado de direito real é a propriedade.
Diferenças mais marcantes entre os direitos reais e os direitos
pessoais:
a) o direito real é exercido e recai diretamente sobre a coisa,
sobre um objeto basicamente corpóreo, embora não se afaste a
noção de realidade sobre bens imateriais, enquanto o direito
obrigacional tem como objeto relações humanas.
b) questão fundamental, muito debatida pela doutrina mais
antiga, diz respeito ao número limitado de direitos reais. Os
direitos reais não são numerosos, são finitos, porque, em
síntese, são finitos os bens disponíveis e apropriáveis pelo
homem. A regra enunciada é que os direitos reais inserem-se
em numerus clausus,
clausus, isto é, somente podem ser considerados
direitos reais, mormente em nosso ordenamento, aqueles assim
considerados pela lei. Por outro lado, os direitos obrigacionais
são em número limitado, porque as facetas do relacionamento
pessoal são finitas. Os direitos pessoais apresentam-se,
destarte, como número indeterminado.

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Capítulo V
5. Operações Bancárias
5.1. Definição
5.2. Classificação
5.3. Características
Capítulo VI
6. Agiotagem

Seria o comércio ou especulação fundada em empréstimos a


juros excessivos.
Celso Marcelo de Oliveira – Limite Constitucional... – (Pág. 246) –
É agiota e viola a lei todo aquele que empresta dinheiro e cobra
renda acima de 12% ao ano, se não for integrante do Sistema
Financeiro Nacional. Ensina o mestre Aurélio Buarque de
Holanda: agiota significa usuário, interesseiro. O mestre Rui
Stoco nos ensina: ‘a usura pecuniária, no direito penal
brasileiro, é a cobrança, exigência ou percepção de um
exorbitante prêmio em dinheiro, em juros, comissões,
descontos percentuais ou ágio de câmbio, como
contraprestação do mútuo e de sua prorrogação, ou de permuta
de moeda nacional por moeda estrangeira, ou o simples
empréstimo sob penhor de institutos oficiais.
Destacamos os enunciados do antigo Tribunal de Alçada do Rio
Grande do Sul a respeito da prática de agiotagem:
a) Decisão do Magistrado Márcio de Oliveira Puggina em AC ....
‘Agiotagem. A prática de atividade reservada às instituições
financeiras autorizadas é ilícito civil(arts. 17 e 18 da Lei 4.595)
e penal(art. 44, § 7º, do mesmo diploma legal). A obrigação
derivada deste tipo de atividade é ilícita, sendo insuscetível de
cobrança judicial. ‘

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b) Decisão do magistrado Arnaldo Rizzardo em AC ....:


‘Empréstimo de dinheiro por pessoa física. Reiteração da
atividade de mútuo, vedada por lei, visto que adstrita às
instituições financeiras autorizadas(arts. 17 e 18 da Lei 4.595,
de 1964, o que torna a obrigação derivada deste tipo de
atividade ilícita, e impede a cobrança judicial. Evidenciada a
cobrança de juros onzenários se o mutuante retira dinheiro de
aplicação bancárias e embute nos encargos cobrados mais os
juros de 12% ao ano, pis, só na poupança, os juros equivalem a
meio por cento ao mês. Aplicação dos arts. 1062 do Código Civil
e 1º do Decreto nº 22.626, de 1933.’
Capítulo VII
7. Contrato de Conta Corrente
7.1. Definição
5.1. Definição – É um contrato celebrado entre um banco e um
cliente(correntista), onde o primeiro se obriga a acatar valores recebidos
deste ou de terceiros, sendo a instituição instada, por força do pacto, a
acatar ordens para pagamentos do cliente, até o limite dos valores ali
depositados.

Nélson Abrão – Direito Bancário – (Pág. 167) – Portanto, em vez


de procedrem a um acerto a cada operação negocial, os
empresários lançam o crédito e o débito dela decorrentes em
forma contábil, verificando-se o saldo no encerramento, que
pode ocorrer no prazo convencionado ou no fixado ou no fixado
em lei.
É, pois, um contrato pelo qual dois empresários resolvem lançar
sobre representação contábil os créditos dos valores em que
presta ao outro, em decorrência dos atos negociais, no seu
todo, ou em parte, sejam eles bens ou serviços, verificando-se o

77
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saldo no encerramento convencional, ou legal, o qual, só a


partir daí, se torna exigível.
Daí resulta que: a) se as partes não convencionarem colocar
todas as operações de conteúdo econômico que praticam entre
si em uma conta, podem levar certos valores, oriundos das
operações, particulares, a contas separadas; b) as partes
podem estipular um prazo de duração do contrato, ou então
que ele finde após abranger operações predeterminadas; c) é
lícito convencionar oo limite máximo de obrigações que uma
das partes assume perante à outra, mas não que uma opere
com vantagem em relação a outra, porque, então, ‘não surgiria
a conta corrente’; d) na vigência da outra, nenhuma das partes
pode considerar-se credora da outra.
Finalmente, no contrato as partes podem convencionar os juros
a incidir durante a fluência da conta e sobre o saldo a ser
apurado no encerramento.

Sérgio Carlos Covello – Contratos bancários – (pág. 97) – Na


prática bancária, a expressão conta corrente designa, em
sentido amplo, o registro contábil, em partidas de débito e
crédito, das operações realizadas pelo Banco com seus clientes
ou terceiros,e, em sentido específico restrito, a própria relação
contratual do Banco com o cliente, resultante de cláusula ou
pacto.
Interessa-nos, obviamente, a última acepção por dar nome ao
mais corriqueiro contrato de Banco.
Escrevendo sobre a matéria, Fiorentino dá o seguinte conceito:
‘E o contrato pelo qual o Banco se obriga a cumprir todos os
encargos e operações que os limites contratuais, ou de uso, lhe
forem solicitadas pelo cliente.’

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Por outras palavras, Molle diz: ‘E o contrato em virtude do qual


o Banco contra a prestação de fundos necessários, assume o
serviço de caixa do cliente, obrigando-se a cumprir, no
interesse deste último, pagamentos e cobranças por caixa ou
por giro dentro do marco de sua obrigação.
Para nós, a conta corrente bancária é o contrato em virtude do
qual o Banco se obriga a receber os valores que lhe são
remetidos pelo cliente(correntista) ou por terceiros, bem como
a cumprir ordens de pagamento do cliente até o limite de
dinheiro nela depositado ou do crédito que se haja estipulado.
Como se observa, o conteúdo do contrato de conta corrente
resume-se na obrigação contraída pelo Banco de realizar uma
série de negócios por conta do cliente, desenvolvendo um
verdadeiro serviço de caixa: honrar ordens de pagamento que o
cliente lhe transmite por meio de cheques, pagar letras de
câmbio, faturas, conta de luz, de água e esgoto, de telefone,
bem como arrecadar fundos do cliente ou de terceiros.
Por meio da conta corrente, o Banco regula contabilmente as
entradas e saídas de dinheiro, de tal sorte que propicia ao
correntista um controle exato de seu numerário. Por embasar-
se em esquema contábil, a conta corrente reflete em partidas
de débito e crédito os ingressos que o cliente(ou terceiro)
realize e os saques que efetue.

Arnaldo Rizzardo – Contratos de Crédito Bancário – (Pág. 69) –


Há de se destacar, inicialmente, dois significados da conta
corrente.
O primeiro equivale aos registros de débito e crédito que o
banco faz nas contas correntes dos clientes, referentes aos
depósitos e retiradas.

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A locução conta corrente envolve, segundo Eduardo de Menezes


Filho, ‘referência a um registro de importâncias pecuniárias
percebidas e despendidas por alguém e com o qual se constata
a todo momento o líquido restante de um negócio ou de alguns
negócios reunidos.
Este o de conta corrente de que trata Orlando Gomes: ‘A conta
corrente bancária é o contrato pelo qual intercorrem relações
continuadas de débito de crédito entre banco e cliente. Obriga-
se o banco a inscrever em partida de débito e crédito os valores
monetários retirados ou remetidos ao cliente. Crédito do banco
e débito do cliente poderiam ser liquidados à medida que se
constituíssem, cumprindo o devedor a obrigação de saldar a
dívida, mas, pelo mecanismo da conta corrente, estipula-se a
liquidação por diferença, mediante compensação de direito
contrapostos. Permite-se, desse modo, que o cliente, no curso
do contrato, aumente ou reduza o montante da dívida. As
remessas são anotadas na conta, tornando-se inexigíveis até
ser a mesma fechada. Por outras palavras, os valores inscritos
na conta corrente perdem sua exigibilidade autônoma. O banco
somente pode reclamar o saldo da conta no seu vencimento.
Tanto são autônomas as relações de crédito que os juros,
embora computados periodicamente, se calculam de cada
partida, ‘aumentando ou diminuindo’, conforme o cliente retire
ou deposite qualquer importância.
A seguir, procura dizer a distinção entre este tipo de conta
corrente e a contábil: ‘Não se confunda o contrato de conta
corrente com a conta de ‘deve’ e ‘haver’, especialmente usada
entre banqueiro e cliente, comitente e comissionário, sociedade
e sócio, para demonstrar o movimento das entradas e saídas de
dinheiro, das operações de abertura de crédito simples ou de

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depósito irregular, mero registro de operações singulares entre


dois comerciantes, tais quais foram realizadas, compreendendo
juros e outros elementos acessórios, como câmbios, comissões,
etc. e destinada a indicar qualquer momento o estado em que
se acha um deles relativamente ao outro. Existe, aí, uma
expressão de contabilidade, sem construção jurídica, e,
portanto, despida de qualquer outro efeito além do assinalado.

7.2. Características
a) Bilateral; b) Consensual; c) execução continuada; d) oneroso
Sérgio Carlos Covello – Contratos Bancários – (Pág. 106) - a)
Bilateral – É bilateral, porque envolve obrigações para ambas as
partes, Banco e cliente. O Banco tem como obrigação prestar
serviço de caixa e, muitas vezes, pagar interesses ao cliente,
bem como registrar os ingressos e egressos de numerário,
enquanto, por sua vez, o cliente assume a obrigação não só de
pagar comissões,
comissões, e reembolsar despesas(v. g., talonário de
cheques, telefonemas, despesas postais, etc) e observar certas
normas quanto uso adequando do cheque,
cheque, como também
obrigação de alimentar a conta com depósitos pecuniários se
quiser que o banco honre ordens de pagamento.
pagamento.
b) Consensual – O contrato de conta corrente é consensual,
porque se aperfeiçoa com a só vontade das partes, ao contrário
do depósito bancário que só se concretiza com a tradição do
dinheiro. Na prática, o cliente, no ato da contratação, faz
ingresso, mas tão-só em razão de alimentar a conta para que o
Banco possa atender às ordens de pagamento. A contratação é
feita mesmo antes do cliente entregar numerário ao Banco. É o
que ocorre, por exemplo, quando certas empresas ou
associações e mesmo órgãos públicos convencionam com o

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Banco e o contrato de conta corrente com fim de promover a


arrecadação de tributos e mensalidades, ratifas: o cliente de
regra, não entrega soma alguma ao Banco, pois a conta será
alimentada com a própria cobrança que a instituição bancária
se propõe a realizar.

c) Execução Continuada - Diz-se de execução continuada,


porque as obrigações das partes não se cumprem em um só ato,
de uma só vez, mas por meio de prestações periódicas ou
sucessivas que se prolongam no tempo. Por este contrato, o
Banco se obriga a cumprir sucessivas ordens de pagamento e
de cobrança, não se extinguindo, portanto, a relação contratual
com a execução de um só ato.

d) Oneroso – É oneroso, porque o Banco costuma abonar juros


sobre o montante consignado em conta, com especial vantagem
para o cliente. Mas ainda que não se abonem juros, a
onerosidade do contrato subsiste, porque a vantagem do
cliente está justamente no serviço de caixa que o Banco lhe
presta.

7.3. Espécies
a) conta corrente com provisão; b) conta corrente a descoberto;
c) conta unipessoal; d) conta corrente conjunta; e) conta
conjunta fragmentária; f) conta conjunta solidária

A conta corrente bancária pode obedecer às modalidades


quanto à provisão e quanto à titularidade.
titularidade. No primeiro caso,
temos dois tipos de conta: com provisão de fundos e a
descoberto.
descoberto. No segundo caso, temos a conta corrente

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unipessoal,
unipessoal, a conjunta simples,
simples, a fragmentária e a conjunta
solidária.
solidária.

a) conta corrente com provisão – Esta modalidade tem como


antecedente um depósito. O cliente, ao subscrever o contrato,
faz um depósito em dinheiro, continuando a alimentar a conta,
durante a vigência da relação jurídica. A falta de provisão, no
caso, acarreta ou pode acarretar a extinção do contrato.
É o tipo comum de conta corrente bancária.

b) Conta corrente a descoberto - A conta corrente a descoberto


tem como pressuposto um contrato de abertura de crédito pelo
qual o Banco se obriga a pôr à disposição do correntista uma
determinada soma em dinheiro, tal como ocorre coma conta de
cheque especial ou, melhor dizendo, cheque garantido. O
cliente pode, sem fazem nenhuma entrada em dinheiro, realizar
quantos saques deseje até o montante do crédito que lhe foi
concedido. O dinheiro que ele usa, portanto, é o dinheiro do
próprio Banco.
Na vigência do contrato, pode ocorrer que a conta com provisão
se torne a descoberto e vice-versa. Exemplo da primeira
hipótese: o cliente mantém regularmente saldo em sua conta,
mas, em determinado momento, emite um cheque cujo valor
ultrapassa a sua provisão e o Banco, em atenção à probidade do
cliente, efetua o pagamento, concedendo-lhe, assim, um
crédito. Na segunda hipótese, o cliente tem uma conta a
descoberto, mas expirado o prazo, alimenta-a com depósitos
sucessivos a fim de continuar valendo-se do serviço de caixa.

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c) conta unipessoal - Esta espécie da conta não oferece


dificuldades visto que seu titular é uma única pessoa. Assim,
somente poderá ser movimentada pelo titular ou por seu
procurador devidamente constituído.

d) Conta corrente conjunta – Também chamada de “conta


corrente simples “ e “conta corrente tipo ‘e
‘e’” é aquela que
possui mais de um titular e cuja representação fica subordinada
a condições previamente pactuadas, sendo de notar que, na
ausência de estipulação, a conta somente poderá ser
movimentada por todos os titulares em conjunto.

e) Conta conjunta fragmentária – Por esta modalidade, dois ou


mais indivíduos abrem a conta no Banco, reservando-se cada
qual o direito de sacar isoladamente até um determinado limite.
O que exceder a esse limite – ou cota – só pode ser levantado
mediante ordem ou cheque firmado por todos os titulares.
A conta fragmentária é rara, em nossas usanças bancárias, pela
pouca vantagem que propicia. Reveste-se, no entanto, de
utilidade para, no caso de morte de um dos correntistas,
determinar-se a conta que pertence ao espólio.

f) Conta conjunta solidária - Conta corrente conjunta solidária –


conhecida nos meios bancários como conta conjunta “e/ou
“e/ou”
” – e
mais propriamente denominada de conta conjunta indistinta é a
conta aberta em nome de duas ou mais pessoas, podendo cada
uma delas, por si só, sem intervenção de outras titulares,
exercitar a totalidade dos direito emanados da relação
contratual com o Banco.

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Tem este tipo de conta uma característica especial que é a


solidariedade disciplinada nos arts. 896 a 915 do Código Civil.
Tal solidariedade tanto é ativa como passiva.
Em virtude da solidariedade passiva, o Banco tem o direito de
exigir e receber de um ou alguns dos correntistas solidários,
parcial ou totalmente, a dívida comum, v. g., comissões pelos
serviços prestados a qualquer dos titulares, o saldo devedor da
conta, etc. É o art. 904 do Código Civil que outorga ao credor a
faculdade de escolher qualquer dos devedores solidários para
exigir a prestação devida: ‘O credor tem o direito de exigir e
receber de uns ou de alguns devedores, parcial ou totalmente,
a dívida comum. ‘
A conta corrente conjunta solidária, portanto, implica que
qualquer dos titulares está legitimado para emitir ordens de
pagamento, fazer requisições de talonários, aprovar extratos,
etc. podendo mesmo retirar total ou parcialmente os fundos
disponíveis que constituem a base econômica do contrato. Em
síntese, cada titular pode livremente fazer funcionar a conta
com sua assinatura apenas.
No caso de embargo judicial e de quebra de um dos titulares,
toda a conta fica bloqueada, pois o Banco não tem condições de
saber que parte do capital depositado cabe a cada titular, visto
que a conta é indistinta.
A morte de um dos titulares não extingue a relação contratual;
contratual;
os correntistas sobreviventes continuam a manter a conta,
conservando todos os direitos inerentes e se desejarem retirar
todos os fundos, sem nenhum impedimento. Não assiste ao
herdeiro do correntista falecido o direito de sucedê-lo na co-
titularidade da conta.

85
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Se por ocasião da morte de um dos correntistas solidários a


conta apresenta saldo devedor, pode o Banco cobrar,
indistintamente, o que lhe é devido ao correntista supérstite ou
aos herdeiros do defunto.
E de se indagar, se a emissão de cheque sem provisão de
fundos por um dos titulares da conta solidária faz estender a
responsabilidade a todos os outros titulares. De nossa parte,
entendemos que não, pois o fato de o cheque corresponder a
uma conta bancária solidária não produz efeito de converter
todos os titulares em devedores solidários da cártula. Em
recente julgado, o 1º Tribunal de Alçada Civil acolheu esse
entendimento: ‘A solidariedade que decorre da abertura de
conta conjunta bancária é ativa, isto é, cada um dos titulares
está autorizado a movimentar livremente a conta fazendo
retiradas parciais ou levantamento integral do
depósito(Whashington de Barros Monteiro, Curso de Direito
Civil; direito das obrigações, 1, pt, v. 4, p. 180; Caio Mário da
Silva Pereira, Instituições de Direito Civil, v. 3, p. 350; Pontes
de Miranda, Tratado de Direito Privado, v. 22, p. 324).
‘Isto não significa, porém, que haja solidariedade passiva entre
os co-titulares da conta conjunta, em relação aos cheques
emitidos e porventura não resgatados por insufiência de fundos
ou contraordem ao Banco sacado. Nesses casos, responde pelo
não-pagamento somente o correntista que subscreveu o cheque
ou deu a contraordem, sem vincular o outro participante da
conta conjunta.

7.4. Extinção do contrato

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a) Resolução unilateral do contrato; b) Por mau uso do cheque;


c) retirada total dos fundos disponíveis; d) falência do
correntista; e) falta de movimentação; f) morte do correntista
Néson Abrão – Direito Bancário – A exemplo do que ocorre na
conta corrente ordinária, na bancária dá-se o encerramento no
prazo convencionado, ou no termo legal, para apurar-se o
saldo. Quanto à extinção, isto é, a ruptura do liame contratual,
além de pelos mesmos motivos da conta ordinária, a bancária
se extingue pelo uso indevido do cheque(emissão sem
suficiente provisão), nos termos da Circular nº 559, do Banco
Central, de 29 de julho de 1980.
A respeito, o Bacen, no seu poder disciplinar, procura
estabelecer por meio de padrão criterioso o mecanismo de
extinção na tipologia do cheque desprovido de fundos, cuja
tessitura significa proteção ao crédito e um tempo durante o
qual o cliente não poderá abrir contas, medida que tem
conotação moralizadora e de soerguer a estrutura repousando
no mercado, em face da liquidez.

Sérgio Carlos Covello – Contratos Bancários – (Pág. 115) – A


conta corrente bancária se extingue pelas seguintes causas:
a) Resolução unilateral do contrato – Em vista de sr um contrato
intuitu personae, e de não possuir termo final prefixado, a
conta corrente bancária faculta a qualquer das partes o direito
de extingui-la unilateralmente, a qualquer momento ou
mediante prévio aviso, caso esta condição tenha sido avençada

b) Por mau uso do cheque – A Circular nº 162, de 26 de agosto


de 1971, do Banco Central, determinava o encerramento da
conta corrente quando o seu titular fizesse uso indevido do

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cheque. Tal uso se caracteriza pela segunda apresentação do


cheque, feita após o mínimo de dois dias úteis da primeira
apresentação, sem que a conta tenha sido suprida de fundos
suficientes.
Hoje em dia, a matéria acha-se disciplinada pela Resolução nº
1.631, de 24 de agosto de 1989, do Banco Central, que prevê o
Cadastramento de Emitentes de Cheques sem fundos no qual
deve ser incluído o nome daqueles correntistas que façam mau
uso do cheque. O art. 4º dessa Resolução deixa a critério do
Banco ‘a abertura, manutenção ou encerramento de conta de
depósitos à vista cujo titular figure ou tenha figurado no
Cadastro de Emitentes de Cheques sem Fundos(CCF),
observando-se as disposições do art. 3º, podendo o Banco
Central do Brasil determinar o seu encerramento.’
A principal obrigação do correntista é, com efeito, manter
numerário suficiente em sua conta para que o Banco acolha as
ordens de pagamento que lhe são dirigidas.

c) retirada total dos fundos disponíveis – É o encerramento


prático da conta pelo cliente e, diga-se, o mais típico e usual.
Uma vez que o correntista retire os fundos disponíveis, a conta
fica sem possibilidade de ser movimentada e, portanto, extinta
relação jurídica entre as partes, salvo pacto em contrário.

d) falência do correntista – A falência põe termo à relação


contratual entre o cliente e o Banco, porque com a decretação
da falência os bens do correntista(entre os quais as somas
depositadas em Banco) já não mais lhe pertencem, mas à
massa, ficando à disposição do juízo processante de falência.

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e) falta de movimentação – A inatividade da conta também põe


fim ao contrato. Nos termos da Lei nº 370, de 03 de janeiro de
1937(regulamentada pelo Dec. nº 1.508, de 17-03-38), os
depósitos em dinheiro ou em valores em poder dos Bancos que
não forem reclamados dentro de trinta anos, a contar da última
movimentação, são considerados abandonados, podendo e
devendo os Bancos recolhê-los ao Tesouro Nacional.

f) morte do correntista – O falecimento do titular implica o


encerramento automático da conta. O saldo disponível somente
poderá ser retirado mediante alvará judicial, visto que, coma
morte do correntista, o saldo passou a integrar o espólio até
que ser realize a partilha.

Arnaldo Rizzardo – Contratos de Crédito Bancário – (Pág. 79) – A


conta corrente constitui uma avenca firmada instuito personae.
Não há obrigação do banco abrir a conta, nem para continuar
indefinidamente a relação firmada.
De modo geral os contratos são por tempo indeterminado.
Ao banco assiste o direito de interromper ou extinguir a
qualquer momento a conta corrente, sem a necessidade de um
ato de denúncia que estabeleça um prazo para o encerramento.
Na prática, tal atitude é suscetível de ocorrer em casos de
conduta comprometedora do cliente, como mau uso do cheque,
a sua falência ou insolvência civil, a falta de movimentação
durante um determinado prazo regulado por instruções do
Banco Central, a morte do correntista, a retirada total dos
valores disponíveis sem realização de novos depósitos, etc.

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No caso de morte, o saldo disponível é retirável unicamente


mediante apresentação de alvará judicial, a menos que se trate
de conta conjunta solidária.

Capítulo VIII
8. Depósito Bancário
8.1. Definição
É o contrato pelo qual o cliente(correntista) transfere a propriedade do que
se depositou ao banco, ficando este na obrigação de restituir a importância
na mesma quantidade e espécie, nas condições avençadas.

Sérgio Carlos Covello – Contratos Bancários – (Pág. 68) – As


atividades mais típicas do comércio bancário são, sem dúvida, o
depósito e a conta corrente,
corrente, pelas quais os Bancos recolhem a
maior parte do capital necessário ao desempenho de sua função
econômica.
O depósito bancário,
bancário, objeto desse capítulo, encontra na
doutrina várias definições.
Giacomo Molle assim o preceitua: ‘O depósito bancário é um
contrato sui generis, pelo qual é normativa a intervenção do
banco e se caracteriza pela obrigação deste último de estar à
disposição do depositante para restituir, nos termos
convencionados, a soma em dinheiro a ele confiada e da qual
adquiriu a propriedade. ‘

Mossineo preleciona: ‘É o contrato em virtude do qual o Banco


pode srvir-se do dinheiro que recebe da clientela, mas o poder
de uso é somente conseqüência do fato de o mesmo converter-

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se em proprietário do dinheiro com o a obrigação de restituir o


tantundem. ‘

Riper define-o como ‘contrato pelo qual uma pessoa entrega


certa soma em dinheiro a um banqueiro que se obriga a
restituí-la quando solicitado. ‘
Desse conceito depreende-se que: 1º) o depósito bancário tem
sempre por objeto uma soma em dinheiro; 2º) o Banco assume
a obrigação de devolver a importância monetária na mesma
quantidade e qualidade; 3º) ao Banco assiste o direito de usar o
dinheiro depositado como bem lhe aprouver, sem a necessidade
de consulta ao depositante; 4º) constitui negócio de crédito,
pois o cliente transfere a propriedade da soma pecuniária ao
Banc, para receber, mais tarde, o tantundem; 5º) o contrato de
depósito bancário pressupõe sempre como depositário um
estabelecimento bancário de crédito autorizado(Banco, Casa
Bancária, Caixa Econômica, etc).
Como claramente se vê, a expressão ‘depósito bancário’ é
imprópria para essa figura contratual, uma vez que o instituto
em exame nada tgem que ver com o depósito comum(CC, art.
1265) que se reveste de aspectos nitidamente diferentes. No
entanto, tão arraigada está a expressão na prática bancária, e
mesmo na lei, na doutrina e na jurisprudência, que se forna
inútil qualquer tentativa de substituí-la por outra que melhor
caracterize o contrato.

Arnaldo Rizzardo – Contratos de Crédito Bancário – (Pág. 28) –


Não se trata o depósito bancário de uma operação ativa dos
bancos, ou de uma concessão de crédito. Enquadra-se entre as
operações passivas, porquanto representa um ônus, uma

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obrigação para a instituição financeira, que deverá restituir os


bens depositados quando a parte depositante manifestar-se a
vontade neste sentido.
Conceituando no campo do Direito Civil,
Civil, define-se o contrato
segundo o qual uma pessoa confia a outra a guarda de objeto
móvel, obrigando-se a segunda à restituição, quando
reclamado. Na síntese de Clóvis Beviláqua, é o contrato pelo
qual ‘uma pessoa recebe um objeto móvel alheio, com a
obrigação de guardá-lo e restituí-lo em seguida. ‘
A pessoa que entrega a coisa para guardar denomina-se
depositante;
depositante; quem a recebe e incumbe-se de restituí-la, chama-
se depositário.
depositário. E a palavra depósito expressa não apenas o
contrato propriamente dito, mas igualmente a própria coisa
depositada, ou o objeto do contrato.
Presta-se o depósito bancário a confusões com a conta
corrente, designada popularmente para expressar custódia de
dinheiro pelo banco, que fará lançamentos mediante anotações
constantes e sucessivas. Acontece, no entanto, que depósito
envolve custódia, guarda, proteção, enquanto conta corrente
nada mais representa que os lançamentos de todas as
movimentações, ou o extrato das movimentações, desde as
retiradas até as novas entradas, ordens de pagamentos,
transferências, etc. Através desta, executa o banco o mero
papel de registrador de lançamentos, recebendo dinheiro ou
pagando dentro das disponibilidades da conta. Cuida-se de uma
atividade secundária, que se insere dentro de outra relação
jurídica negocial. Considera-se uma cláusula de um outro
contrato, pela qual se representam graficamente as operações
de registros efetuadas pela instituição onde há um segundo
contrato. Os registros ou anotações se inserem em um contrato

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de depósito, ou em um contrato de abertura de crédito, ou em


um de cobrança, ou de desconto bancário, ou de empréstimos,
dentre outras espécies, para que se tenha um levantamento de
todos os lances e movimentos, e assim resulte numa prestação
de conta da vida do contrato considerado principal.
Já no contrato de depósito, geralmente denominado de abertura
de conta de depósito ou de depósito em conta corrente,
corrente,
compromete-se a instituição financeira a acolher depósitos,
retiradas e débitos autorizados pelo cliente ou depositante,
sendo que os valores depositados em dinheiro estarão
imediatamente disponíveis para a retirada na própria agência
que celebrou o contrato, ou na rede de agências autorizadas.
Mas, se efetuados os depósitos em agências diferentes daquela
da retirada, os saques se darão após a devida conferência de
que correspondem os saldos existentes. E quando procedidos
também em agência distinta daquela do depósito, os saques
mediante cheques estão disponíveis após um prazo necessário
para o registro de seu lançamento naquela agência.
Relativamente aos depósitos por meio de cheques, a
disponibilidade não será imediata, dependendo sempre do
prazo necessário para a compensação.
2.4. – Natureza do depósito bancário
Profunda as discussões quanto à natureza do contrato de
depósito bancário.
bancário. Deve-se, primeiramente, levar em conta que
o dinheiro depositado num banco é coisa fungível, com o
inerente compromisso de restituir o valor equivalente, ou de
restituir a coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade,
segundo conceituação do depósito irregular. É evidente que não
se desenvolvem as mesmas cédulas entregues, ou as idênticas
moedas que foram depositadas. Restituem-se outras cédulas ou

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moedas de igual valor e curso admitido no País. Deve-se


considerar, também, embora as teorias existentes procurando
considerar o depósito bancário como um mútuo,
mútuo, ou como
transferência da propriedade do dinheiro, que a finalidade
inegável situa-se na entrega de um objeto móvel, ou de coisas
móveis, para a guarda pelo depositário durante certo tempo,
efetuando-se a restituição final.
Observa Aramy Dornelles da Luz, em excelente livro que
envolve a matéria, os fundamentos que levam a ver o mútuo ou
uma transferência de propriedade do depósito: ‘O fato de o
dinheiro ser coisa fungível e consumível e o seu depósito
propiciar ao depositário uso e consumo – justamente por ser
depositário um banqueiro e coincidentemente ser a coisa
depositada sua mercadoria --- induziu juristas a enxergar no
depósito bancário um verdadeiro mútuo.
mútuo. ‘
Logo adiante: ‘Pontes de Miranda assinala que o ‘dinheiro, feito
no banco, faz o banco adquirir a propriedade do que se
depositou’. O fundamento dessa concepção encontra-se no art.
1280 do Código Civil, atrelador do depósito irregular à
disciplina do mútuo, o qual tem no preceito do art. 1257, que é
específico, a definição do efeito transferência do domínio.
Acentua-se o caráter de transferência de propriedade porque,
na exposição do mesmo autor, ‘se há um contrato de conta
corrente vinculado ao depósito, o lançamento, na coluna
‘haver’, do valor depositado apaga sua identidade, entra no
jogo de compensação com créditos e débitos e não subsiste
mais que uma só massa patrimonial que tem a representá-la o
saldo disponível. Perde, por esta forma, sua característica de
coisa autônoma, individuada, para se transformar num entidade
abstrata chamada crédito. Desaparece o depósito, dele se

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originando o crédito. Nessa desfiguração ou configuração nova


é que se pode considerar que o valor depositado passa à
propriedade do depositário e, isso mesmo, é preciso aprofundar
a compreensão de como se dá esta aquisição. ‘
No entanto, se subsiste a obrigação de restituir, de devolver,
devolver, a
posse e a disponibilidade que se têm com a entrega do dinheiro
são alieno júris. Opera-se a transferência da posse direta, mas
não a transferência do domínio direto. Sendo inerente ao
depósito a obrigação de restituir, é porque não se adquire o
domínio sobre o bem depositado.
depositado.
E mais: em vista de a qualquer momento tornar-se suscetível o
pedido de resgate, o uso concedido ou implicitamente
autorizado é precário, desvestido da plena disponibilidade.
2.5. O tratamento jurídico dado ao depósito bancário
Apesar de não se desfigurar a natureza do depósito, o
tratamento que se deve dar envolve a aplicação de regras do
mútuo e da transferência.
Observa-se do art. 1266 da Lei Civil como se efetua a
restituição: ‘O depositário é obrigado a ter a guarda e
conservação da coisa depositada o cuidado e diligência que
costuma com o que lhe pertence, bem como a restituí-la, com
todos os frutos e acrescidos, quando lhe exija o depositante. ‘
Ressalta a obrigação de restituir com todos os frutos e
acrescidos.
acrescidos.
Já o art. 1280 acrescenta a incidência das regras estabelecidas
para o mútuo, envolvendo o depósito de coisas fungíveis: ‘o
depósito de coisas fungíveis, em que o depositário se obrigue a
restituir objetos do mesmo gênero, qualidade e quantidade,
regular-se-á pelo disposto acerca do mútuo(arts. 1256 e 1264)’

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Portanto, incidem no depósito, as normas quanto à


remuneração prevista no mútuo, que é a possibilidade de se
exigirem juros. Tem importância especialmente o art. 1256, com
esta redação: ‘O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O
mutuário é obrigado a restituir ao mutuante o que dele recebeu
em coisas do mesmo gênero, qualidade e quantidade. ‘
É que, embora as linhas inconfundíveis de se contratar com o
banco a custódia, na verdade, há regras aplicáveis de outros
institutos.
institutos.
No plano fático, sabe-se que a instituição financeira sabe-se
que a instituição financeira aplica o dinheiro, o qual constitui a
matéria-prima de sua atividade. Todos os ingressos no banco
formam o montante que, calculado numa média periódica de
tempo, servem para estabelecer o quantitativo das aplicações a
serem realizadas. O dinheiro depositado não permanece inerte,
parado, ou guardado em compartimento ou cofre. É investido,
aplicado, emprestado, trazendo retorno ou o acréscimo dos
juros cobrados. Quanto maiores as movimentações, maior o
lastro do banco para investir ou emprestar dinheiro, e, assim,
realizar seus negócios característicos. O banco, ao receber
importância, incorpora-a ao volume de depósitos disponíveis,
dele se apossando como se fosse seu próprio dinheiro, a qual
entra nas disponibilidades dos investimentos ou aplicações que
realiza.
Esta realidade fática. Os depósitos trazem resultados ou
rendimentos aos bancos. Se assim ocorre, e em vista
especialmente dos arts. 1256 e 1266, a rigor é de exigir-se a
restituição com juros.
Como, no entanto, a instituição realiza a atividade de captação
e aplicação dando e exigindo remuneração, há de se considerar

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os frutos e acrescidos na forma dos rendimentos que paga.


Jamais se justifica a tese de que deveria manter em
disponibilidade contínua o valor, eis que possível a
exigibilidade a qualquer momento.
momento. É que, segundo as técnicas
de previsão das aplicações, fundam-se estas na do montante
disponível para as concessões de crédito. Neste monte incluem-
se todos os ingressos, não se destacando unicamente aqueles
originados de aplicações feitas por clientes.
Existe o argumento de que nem todo o dinheiro arrecadado vem
a ser usado pelas instituições para as atividades próprias. Parte
dos recursos ficam em reserva para garantir a satisfação de
obrigações e saldar compromissos. Ou destina-se para atender
os saques ou levantamentos pelos próprios depositantes.
Mas, leva-se em conta a estrutura e o funcionamento da
atividade, ou o fato de que o dinheiro gira constantemente. Os
compromissos de hoje são saldados, em grande parte, com os
valores hoje ou ontem depositados ou aplicados.
Embora, pois, o direito em se reclamar os valores com o
rendimentos, e mantendo-se menos a integridade da força
aquisitiva, tem maior aplicação a exigência da restituição com
rendimentos quando os depósitos são longos e em montantes
altos.

Nelson Abrão – Direito Bancário – (Pág. 88) – Controvertem os


autores acerca da natureza jurídica do depósito bancário,
alinhando, pelo menos, três teorias: a do depósito irregular, a
do mútuo e a do contrato inominado original ou sui generis.
Depósito irregular não se trata,
trata, porquanto nele o elemento
essencial é a guarda da coisa fungível(CC, art. 1280), e, no
bancário, o propósito do depositante não é tanto a custódia do

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dinheiro, mas o de estabelecer uma relação creditícia com o


banco, donde haver interesse deste, na qualidade de
depositário.
E a diferenciação com o mútuo se estabelece,
estabelece, porquanto neste
a fixação de prazo em favor do mutuário é essencial, enquanto
no depósito bancário o depositante pode sacar total e
imediatamente(salvo nas modalidades pré-aviso e a prazo fixo),
‘sendo o uso, que do dinheiro depositado pode fazer o banco,
puramente conexo à transferência de propriedade do próprio
dinheiro. ‘ Ademais, no mútuo o interesse é do mutuário e, no
depósito bancário, do depositante.
Entretanto, como veremos adiante, essa controvérsia acerca da
natureza jurídica do depósito pecuniário é puramente
acadêmica: ‘Esta
‘Esta controvérsia nada apresenta de interesse
prático:
prático: os usos bancários precisaram o conteúdo do contrato
não é útil prosseguir no debate. Ademais, pode frisar-se que a
análise do contrato em um depósito se aproxima da psicologia
das partes e do espírito do serviço de caixa: o cliente se
desonera da guarda dos fundos e o banco sustenta a caixa do
cliente.”
Repelidas as teses do depósito irregular e do mútuo,
mútuo,
convergem os autores a do contrato inominado original ou sui
generis.
‘Como já assinalamos alhures, o que caracteriza o depósito
bancário e o distingue claramente do depósito irregular e do
mútuo é a intervenção do banco, na qualidade de depositário.
É a própria natureza da relação que solicita a intervenção do
banco. O depósito bancário, com efeito, para que possa
alcançar o feito conexo com a possibilidade e uso do dinheiro
de parte do banco, de conceder crédito, pressupõe um sujeito

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organizado em empresa, tem o caráter da operação de massa,


cuja disciplina, como dissemos, é denominada pelo conceito de
que cada uma dessas é ligada a uma série infinita de outras. ‘

8.2. Classificação
a) objetivo econômico(à vista, a prazo e de poupança); b)
quanto à forma(simples ou de movimento); c) quanto à
titularidade(individual ou conjunto = simples e solidário)

Nélson Abrão – Direito Bancário – (pág. 94) – Podemos


classificar as várias modalidades de depósito bancário
conforme o objetivo “econômico”,
“econômico”, a forma e a titularidade.
titularidade.
I – Quanto ao objetivo,
objetivo, ou seja, o escopo econômico visado pelo
depositante, o depósito pode ser à vista,
vista, a prazo e de
poupança.
poupança.
Depósito a vista é aquele que fica à disposição do depositante
para ser sacado a qualquer momento.
momento.
Depósito a prazo é o suscetível de retirada só depois de
decorrido um certo termo prefixado no contrato(a prazo fixo) ou
estabelecido posteriormente pelo depositante em uma
notificação ao banco(aviso prévio), que, conforme o item 10 da
Resolução nº 15, do Banco Central, de 28 de janeiro de 1966, é
de 30 a 120 dias. Nas duas formas de depósito a prazo, o
depositante tem direito a juros, e à correção monetária no de
prazo fixo, levando-se em conta a certeza que o banco tem
acerca do lapso de que pode dispor das quantias para as suas
aplicações.
Os depósitos a prazo fixo são feitos contra simples recibo ou
emissão de certificado de depósito bancário(art. 30 da Lei nº
4.728, de 14/07/1965), título de crédito equiparado à nota

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promissória(art. 30, § 5º), negociável, transferível por endosso(§


2º).
O depósito de poupança é um sistema de captação de recursos
populares,
populares, incentivado pelo Governo, com a finalidade de
possibilitar o financiamento de bens móveis de uso durável ou
de imóveis. A esse tipo de depósito se creditam, a cada 30 dias,
juros e correção monetária, computada esta de acordo com a
variação do valor da Taxa Referencial(TR).
Referencial(TR).
Os depósitos de poupança também são beneficiados por
dedução no imposto de renda.
II – Quanto à forma,
forma, pode o depósito ser: simples ou de
movimento.
movimento. O simples, atualmente superado pela realidade
econômica, é aquele em que é única a operação de ingresso e
retirada e apenas se coaduna com o depósito a prazo fixo.
O depósito de movimento é o que permite um fluxo contínuo de
ingressos e retiradas, pelo que se diz que o cliente movimenta a
conta, daí o seu nome. As retiradas são feitas por ordem de
pagamento ou cheques.
III – Quanto à titularidade,
titularidade, levando-se em consideração a pessoa
do titular, o depósito pode ser: individual e conjunto.
conjunto. Depósito
conjunto é aquele constituído a benefício de várias pessoas,
podendo ser simples e solidário.
solidário.
Simples é aquele em que o beneficiário pode retirar sozinho
apenas o correspondente à sua quota, sendo que o total do
depósito só pode ser levantado por todos os titulares. Mais
usual, porém, é o depósito conjunto solidário,
solidário, em que cada
titular pode, sozinho, fazer retiradas, tendo o direito de exigir
do banco a importância total, e esse, a entregando, se libera
em relação a todos.

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Interessante examinar alguns efeitos jurídicos do depósito


conjunto solidário: ‘Essa forma de co-titularidade é
naturalmente preferida àquela simples, porque confere a cada
titular um direito que não é limitado em seu exercício pelo igual
direito dos outros, e que sobrevive à morte ou à superveniente
incapacidade de agir de um dos co-beneficiários. Qualquer que
seja a natureza da obrigação solidária ativa, é certo que a
morte de um dos co-credores não faz desaparecer a
solidariedade(do lado ativo) em relação aos co-credores
supérstites como dos herdeiros, tomados unilateralmente. De
fato, apenas quando os herdeiros ajam singularmente, o crédito
solidário se divide em partes iguais entre esses herdeiros.
No caso de penhora de parte do credor de um dos titulares de
um depósito desta natureza, a medida atinge não a inteira
soma do depósito, mas apenas a quota atribuível a seu
devedor, porque a solidariedade do lado ativo, que vem a se
constituir entre os vários beneficiários do depósito, não dá
lugar a um único crédito, de que sejam contemporaneamente
titulares os mesmos beneficiários, mas a uma série de relações
obrigatórias claramente distintas. Ora, o credor de um dos
beneficiários, pela conexão que vem a estabelecer-se entre o
seu direito e aquele dos outros beneficiários, não pode referir-
se a facultas exigendi atribuível a seu devedor, para pretender
alcançar junto ao banco o inteiro importe de prestação devida a
todos os co-beneficiários solidários: mas pode atingir apenas a
quota atribuível a seu devedor.”

8.3. Conteúdo e forma


Sérgio Carlos Covello – Contratos Bancários – (Pág. 83) – 7.
Conteúdo do Contrato – O contrato de depósito bancário tem

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como elementos caracterizadores a entrega do dinheiro, a


aquisição, pelo Banco, do dinheiro depositado e a obrigação da
restituição.
O Banco fica obrigado a restituir a soma depositada no prazo e
nas condições convencionadas.
O contrato, pois, gera obrigações apenas para o Banco. O
cliente depositante nada se obriga. Nos depósitos a prazo, a
espera de seu vencimento pelo depositante não é, em si
mesma, uma obrigação, segundo ensina Luiz Alberto Delfino
Cazet. Na prática bancária, ainda que o depósito se subordine a
termo, o cliente pode solicitar a restituição a qualquer
momento, e os Bancos costumam efetua-la, deixando,
obviamente, de abonar juros avençados.
Nos depósitos em conta corrente, o Banco fica obrigado a
prestar, em certo sentido, um serviço de caixa, visto que se
compromete a aceitar cheques que o cliente emite.
8. Forma – O contrato de depósito bancário celebra-se por
escrito. Sua formalização dá-se quer pelo recibo, quer pelo
Certificado de Depósito Bancário, pela caderneta de poupança,
ou simplesmente por mero comprovante autenticado pelo caixa.
A prova do contrato é feita por todos os meios permitidos por
lei, especialmente pelo comprovante de depósito expedido pelo
Banco.

8.4. Capacidade contratual


a) Menor não antecipado; b) falido; c) analfabeto; d) cegos

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Sérgio Carlos Covello – Contratos Bancários – (Pág. 86) – Como


todo contrato, o depósito bancário pressupõe a capacidade das
partes.
partes.
O depositário, conforme sói a ocorrer com todos os contratos
bancários, tem sempre de ser uma instituição financeira(Banco,
Casa Bancária, Caixa Econômica, etc) devidamente autorizada a
receber numerário(Lei nº 4.595, de 31/12/64).
Em se tratando de depósito de poupança, não basta ao
depositário a condição de banco; é mister autorização
específica para o recolhimento de fundos da economia popular,
segundo normas próprias.
O depositante tanto pode ser pessoa física como pessoa
jurídica, não se admitindo depósitos em nome de ‘programas’,
‘campanhas’, ‘movimentos’, sem personalidade jurídica,
embora, na prática, tais depósitos sejam bastante
disseminados. Os estatutos das pessoas jurídicas devem estar
devidamente registrados para que a sociedade possa efetuar e
movimentar depósitos.
Em se tratando de pessoa física,
física, devem ser observadas as
regras gerais atinentes às condições de capacidade prevista no
Código Civil e complementadas pelas normas comerciais.
a) Menor não antecipado - O depósito em nome de menores
oferece azo a várias indagações de ordem jurídica, porque cada
dia que passa, a operação se familiariza entre os escolares e
entre os menores que trabalham, não raro impúberes e não
emancipados.
O menor impúbere, isto é, menor de 16 anos, é, à luz de nosso
direito, absolutamente incapaz e tem de ser representado por
seus pais em todos os atos da vida civil. Assim, os depósitos
constituídos em seu nome só podem ser movimentados por

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seus genitores ou responsáveis. A propósito, aconselha Gilberto


Nóbrega que a própria conta de depósito deve ser aberta de
maneira que clara a situação: “F..., menor imp’;ubere

Capítulo IX
9. Contrato de mútuo(Empréstimo Bancário)
9.1. Conceito
É um contrato unilateral,
unilateral, onde se dá a entrega de coisa fungível a outrem,
onde este se obriga a restituir, com os acréscimos remuneratórios, em data
previamente aprazada, coisa do mesmo gênero.

Arnaldo Rizzardo – Contratos de Crédito Bancário – (Pág. 36) - Dentre as


múltiplas operações atinentes à atividade bancária, destaca-se o
empréstimo bancário. Iguala-se o empréstimo bancário praticamente ao
mútuo comum, regrada pelo Código Civil.
Civil. Há mútuo sempre que alguém
entrega a outrem uma certa quantidade de coisas, para que a consuma,
comprometendo-se este a devolver, na forma e no prazo avençados, não as
próprias coisas recebidas, mas as coisas ou bens equivalentes em
quantidade, qualidade e gêenero.
Em outros termos, no mútuo o que se restitui não é o que se deu e sim o
que corresponde ao que se deu. É o que encontramos no art. 1256 do CC:
“O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obrigado a
restituir ao mutuante o que dele recebeu e coisa do mesmo gênero,
qualidade e quantidade.”
O empréstimo bancário constitui um mútuo, com a especialidade de ser
concedido por uma entidade creditícia submetida à disciplina da Lei nº
4.595, de 31.12.1964.
31.12.1964. Basicamente, vem a ser um contrato que expressa o
fornecimento de crédito aos interesses.

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É o empréstimo bancário um dos contratos mais antigos. É, ainda, a


operação bancária que mais sobressai e corriqueira, e que precedeu as
outras forma de operações.

Fábio Ulhoa Coelho – Curso de Direito Comercial – (pág. 119) – O mútuo


bancário é o mais importante contrato relacionado às operações ativas dos
bancos. Nestas, como definitivo, ao oferecerem recursos às unidades de
dispêndio deficitárias, assumem os bancos a posição de credor.
credor. Como, em
geral, banco e cliente entabulam, no decorrer de suas relações, uma série
de negócios conjugados ou sobrepostos, tornam-se credor e devedor um
do outro. Assim, somente cabe adotar o critério aqui referido,
considerando-se a posição ativa ou passiva do banco no tocante à
obrigação principal.
principal. Dessa forma, por exemplo, na abertura de crédito, o
banco credor, na hipótese de o cliente utilizar-se dos recursos
disponibilizados, mas tem o dever de pôr à disposição o dinheiro no valor
do crédito contratado.
O mútuo bancário é o contrato pelo qual o banco empresta certa quantia de
dinheiro ao cliente, que se obriga a restituí-la, com os acréscimos
remuneratórios, no prazo contratado. A matriz dessa figura contratual,
evidentemente, é o mútuo civil, empréstimo de coisa fungível(CC, art. 1.256).
1.256).
Ganha, no entanto, o contrato alguns contornos próprios quando o
mutuante é instituição financeira. A particularidade do mútuo bancário,
bancário,
relativamente ao civil, diz respeito aos juros.
juros. Desde a era pré-cristã, o custo
do crédito(juros) preocupa a organização da economia. Já no Antigo
Testamento, encontra-se referência ao tema(Deuteronômio, 23:19-20) ´não
emprestarás com usura a teu irmão nem dinheiro, nem grão, nem outra
coisa qualquer, mas somente ao estrangeiro. Ao teu irmão, porém,
emprestarás aquilo de que ele precisar sem juro, para que o Senhor teu
Deus te abençoe em todas as tuas obras na terra em que entrarás para
possuir”).

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A diferença entre o mútuo civil e o bancário não é, assim, pertinente à


natureza do contrato ou aos direitos e deveres que as partes titularizaram.
Diz respeito exclusivamente ao regime de juros: limitados a 12% ao ano no
mútuo civil e não limitados no bancário. Quanto aos demais aspectos, as
duas espécies de mútuo submetem-se às mesmas regras.
O mutuário assume, no mútuo bancário, as seguintes obrigações: a)
restituir o valor emprestado no prazo; b) pagar juros, encargos, comissões
e demais taxas constantes do instrumento de contrato, bem como correção
monetária, se prevista; c) proceder amortizações do valor emprestado, se
assim acordado entre as partes. A seu turno, feita a entrega do dinheiro e
constituído o contrato, o banco não assume nenhuma obrigação perante o
cliente. Assim sendo, o contrato de mútuo bancário é unilateral,
unilateral, já que um
dos contratantes – o mutuáro – tem obrigações.
As operações ativas de banco apresentam-se, de modo direto ou indireto,
como mútuo, e cabe, ao finalizar este item, breve referência a duas das
muitas e sempre renovadas espécies de operação bancária ligadas a esse
gênero contratual: o financiamento e a abertura de crédito.
crédito.
Defino financiamento como sendo o mútuo bancário em que o mutuário tem
a obrigação de conferir ao dinheiro emprestado uma determinada finalidade.
Por exemplo, investir no desenvolvimento de atividade
econômica(industrial, comercial, exportação, rural, etc) ou adquirir casa
própria. O mutuário, no financiamento, não é inteiramente livre para destinar
os recursos tomados, sujeitando-se aos balizamentos da operação. Em
decorrência, o banco por vezes tem o direito contratual de proceder a
vistorias que confirmem o emprego adequado do dinheiro ou de entregar o
valor emprestado diretamente a terceiros(p. ex.: a incorporadora do imóvel
adquirido com financiamento).
No contrato de abertura de crédito,
crédito, por fim, o banco põe certa quantia de
dinheiro à disposição do cliente, que pode ou não utilizar esses recursos.
recursos.
Quando o cliente é consumidor, esse contrato costuma-se chamar CHEQUE
ESPECIAL.
ESPECIAL. Se empresário, CONTA GARANTIDA.
GARANTIDA. Em geral, o cliente

106
CURSO AVANÇADO DE DIREITO BANCÁRIO
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somente paga juros e encargos se e quando lança mão do crédito aberto em


seu favor. Distingue a doutrina duas modalidades de contrato de abertura
de crédito.
crédito. De um lado, a SIMPLES, em que o cliente, uma vez utilizado o
crédito, não tem a faculdade de reduzir o montante do devido antes de
determinado prazo, garantido-se ao banco remuneração mínima; e, de
outro, a abertura em conta corrente, mais comum, em que o cliente pode,
mediante entradas, reduzir o débito nos prazos que considerar
oportunos(Gomes, 1959:398).

Sergio Carlos Covello – Contratos Bancários – (Pág. 151) – a principal


operação ativa dos bancos é, sem dúvida, o EMPRÉSTIMO,
EMPRÉSTIMO, que juntamente
com o DEPÓSITO – forma o binômio que tipifica a atividade intermediadora
da empresa bancária.
Ambas as espécies de empréstimo são consagradas pela dinâmica
bancária. Contudo, a figura do mútuo é mais comum, em virtude do Banco
emprestar dinheiro, de maneira habitual e profissional, obtendo dessa
operação grande parte de seu lucro e juros e comissões.
Na prática bancária, a coisa emprestada pode ser DINHEIRO,
DINHEIRO, TÍTULO-
VALOR ou FIRMA DO BANCO,
BANCO, dando origem, assim, às mais variegadas
formas contratuais, como adiante veremos.

DE PLÁCIDO E SILVA – Vocabulário Jurídico – (Pág. 545) – Quando o mútuo


é feito a comerciante e destinado a uso comercial, diz-se mercantil.
mercantil.
E se diz FENERÁTICO,
FENERÁTICO, quando se trata de empréstimo de dinheiro a juros.
O mútuo FENERATÍCIO pode ser garantido por anticrese, hipoteca ou
penhor, que serão, então, contratos acessórios dele.

Sílvio de Salvo Venosa – DIREITO CIVIL – Contratos em Espécie – (Pág. 231)


– Examinado o comodato, quanto ao mútuo, podemos afirmar que sua
estrutura não se altera como contrato de empréstimo. Uma vez que seu
objeto é constituído de coisas fungíveis, seu regime jurídico exige

107
CURSO AVANÇADO DE DIREITO BANCÁRIO
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variações. Sob tal prisma, diz-se que o mútuo é empréstimo de consumo,


consumo,
em paralelo ao comodato, empréstimo para uso.
uso.
Em razão do objeto desse empréstimo, o mutuante transfere o domínio da
coisa emprestada ao mutuário(art. 1257; novo, art. 587). Destarte, tornando-
se o tomado proprietário da coisa mutuada, pode dar-lhe o destino que lhe
aprouver. Findo o empréstimo, devolverá em coisas do mesmo gênero,
qualidade e quantidade. Assim, ao contrário do que sucede no comodato, o
mutuário há de ser necessariamente o dono da coisa entregue, doutro modo
não poderia transferir o domínio.
EMPRÉSTIMO DE DINHEIRO. JUROS.
O mútuo que estabelece pagamento de juros é denominado FENERATÍCIO,
FENERATÍCIO,
porque em Roma se rotulava de foenus esse negócio. A estipulação de
juros depende de expressa convenção no Código de 1916, conforme o art.
1.262. No sistema do Novo Código,
Código, como vimos, os juros presumem-se
devidos se o mútuo tiver destinação para finalidade econômica. Os juros
podem referir-se a empréstimo de dinheiro ou de outras coisas fungíveis. A
segunda parte do artigo de 1916 requer maior digressão, pois estabelece
que esses juros podem fixar-se abaixo ou acima da taxa legal do art. 1062,
com ou sem capitalização. Como apontamos, o limite legal dos juros no
novo sistema é o estabelecido no art. 406 do novo Código.
Código. O novel estatuto
assume, portanto, uma nova perspectiva econômica nessa matéria, de
acordo as mais recentes leis econômico.

NELSON ABRÃO – Direito Bancário – (Pág. 84)


38. VEDAÇÕES LEGAIS AO MÚTUO BANCÁRIO - A fim de evitar
favorecimento de pessoas ligadas, por vínculo de parentesco ou
econômico, às instituições financeiras, proíbe a lei o mútuo ou qualquer
modalidade de concessão de crédito em seu prol. Assim, não podem ela dar
em mútuo:
“i – a seus diretores e membros dos conselhos consultivo ou
administrativo, fiscais e semelhantes, bem como aos respectivos cônjuges;

108
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ii – aos parentes, até segundo grau, das pessoas a que se refere o inciso
anterior;
iii – às pessoas físicas ou jurídicas que participem de seu capital, com mais
de 10%, salvo autorização ....”(Art. 34 da Lei nº 4.595/64)

Compreende-se perfeitamente a circunstância transplantada para a


realidade, no visualizar atividades incompatíveis com o exercício das
operações bancárias, podendo configurar delitos contra o sistema e o
enquadramento na legislação do colarinho branco, razão pela qual no
mútuo bancário são indispensáveis a mantença da moralidade e o
distanciamento no trato da moeda, sob pena de incidirem diretores e
responsáveis em sanções e punições, sem prejuízo da culpabilidade a ser
comprovada.

9.2. Características
Sérgio Carlos Covello - Contratos Bancários – (Pág. 154) –
a) COMERCIAL – A primeira indagação que se faz a respeito do
presente negócio jurídico é esta: o empréstimo bancário é
comercial ou civil?
Como se sabe tanto o Código Comercial como o Civil tratam do
empréstimo, cada qual dedicando-lhe nove artigos(CCom, 247
a 255, e CC, arts. 1256 a 1264).
Hamel ensina que a índole civil ou comercial do contrato se
determina pela pessoa daquele que toma emprestado. E
Rodiere e Rives-Lange doutrinam que feito a pessoa não
comerciante,
comerciante, o contrato de empréstimo bancário tem natureza
mista. Comercial para o Banco dador do crédito; civil para o
tomador.
No direito pátrio, há uma regra parecida, que se estampa no
art. 247 do Código Comercial “O
“O mútuo é empréstimo mercantil,

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quando a coisa emprestada pode ser considerada gênero


comercial e pelo menos o mutuário é comerciante.
comerciante. “
Na lição de Carvalho de Mendonça, “ o ato é comercial e sujeito
às disposições do Código Comercial desde que se dá a
intervenção unilateral de comerciante. O ato passado entre o
comerciante e o não-comerciante, assumindo o colorido
comercial pelo fato da intervenção do primeiro, permanece
disciplinado, para ambos, pela legislação comercial. O nosso
direito estabeleceu o princípio da integridade do ato de
comércio, repudiando a inexplicável e injustificável anomalia de
o mesmo ato ser comercial para uma e civil para outra parte,
ato bifronte, ato anfíbio(Tratado, 1910, v. 1)
Assim, os empréstimos feitos pelo Banco serão sempre
comerciais, ainda que o mutuário não seja comerciante, da a
comercialidade das operações bancárias,
bancárias, visto que conceder
empréstimos constitui atividade habitual do comércio de
Bancos.
Bancos.

b) UNILATERAL - Quanto aos efeitos, o empréstimo é unilateral,


visto que, uma vez aperfeiçoado o contrato, produz obrigações
apenas para o prestatário. O Banco, uma vez prestado o
dinheiro(ou qualquer outro bem), nenhuma obrigação assume.
O prestário, sim. /este obriga-se a devolver o tantundem
prestado(no mesmo gênero, quantidade e qualidade), mais os
juros e comissões avençados. O mutuante nada se obriga
porque já cumpriu sua prestação.

c) ONEROSO - O empréstimo bancário é, em princípio, oneroso,


oneroso,
pois a gratuidade, existente no mútuo civil,
civil, não ocorre na

110
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esfera comercial – e especialmente no ramo bancário – onde o


móvel é o lucro.
Cazet, a propósito do direito uruguaio, perlustra: ‘ a gratuidade
do empréstimo bancário não concorda em absoluto com a
realidade. Todas as leis que se referem, ainda que seja
incidentalmente, a esta operação sempre mencionam
expressamente os interesses compensatórios....
compensatórios.... concluindo,
podemos dizer, considerando não nos equivocarmos, que, em
todos os casos, o empréstimo bancário pode caracterizar-se
juridicamente como um contrato oneroso.
Se por hipótese cerebrina, o banco concede empréstimo a título
gratuito, o negócio entra no rol dos contratos civis.
civis.

9.3. forma
Sergio Carlos Covello - Contratos Bancários – (Pág. 162) –
Embora não seja contrato celene, o empréstimo bancário
realiza-se sempre sob forma escrita,
escrita, quer mediante
instrumento público, quer por instrumento particular. Em regra,
prevalece esta última forma contratual, pois os Bancos só
recorrerem ao instrumento público quando empréstimo vem
acompanhado de garantias reais, especialmente hipoteca.
Além do instrumento de contrato, com a estipulação dos juros,
das comissões, do prazo e das garantias, o empréstimo
pecuniário envolve, quase sempre, um título cambiário.
Digamos com mais precisão que os mútuos bancários se
incorporam ou se materializam em título cambiário, como, a
nota promissória. Razão dessa prática é a executoriedade e
facilidade acionária do título. Como observa Orlando Gomes, ´os
títulos de crédito desempenham na economia importante

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função por serem meios práticos e prontos de realização do


direito do credor, além de serem facilmente alienáveis,
documentando o crédito e provando integralmente a existência
do direito que neles se incorpora.”. Acrescente-se que o título
de crédito traz ínsita a idéia de garantia e, conseqüentemente,
de segurança para o Banco, pois dele participam
intervenientes-avalistas, que vêm assegurar o pagamento da
dívida.

Capítulo X
10. Contrato de Abertura de Crédito
10.1. Conceito
É um contrato pelo qual o banco obriga-se a dispor, em favor do cliente,
certa quantia monetária previamente delimitada, e por um prazo definido,
quantia esta que poderá ser utilizada mediante saque único ou repetido,
incumbindo-se ao cliente a devolver a quantia utilizada, acrescida dos juros
previamente pactuados, quando do vencimento contratual.

Sergio Carlos Covello - Contratos Bancários – (Pág. 181) – Entre


os contratos bancários, a ABERTURA DE CRÉDITO distingue-se
não só pelas vantagens que oferece como pela complexidade de
sua natureza jurídica. ,
Na prática bancária, a expressão “ABRIR
“ABRIR CRÉDITO”
CRÉDITO” tornou-se
sinônima de “CONCEDER
“CONCEDER CRÉDITO”
CRÉDITO” . é muito comum dizer que o
Banco “abre um crédito ao cliente” toda vez que se obriga a
cumprir uma determinada operação que implique concessão de
crédito, v. g., quando o Banco assume a obrigação de aceitar
um desconto, de antecipar um valor de um crédito ou de
financiar um empreendimento. Todavia, consoante bem observa

112
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Giacomo Molle, no sentido técnico stricto sensu, só existe


realmente abertura de crédito quando o Banco se obriga a pôr à
disposição do cliente, ou de terceiros, certa soma de dinheiro
que poderá usada conforme conveniência deste último: “.....”
No direito pátrio, como sói acontecer com a quase-totalidade
dos contratos bancários, inexiste o conceito legal de abertura
de crédito. A doutrina, no entanto, supre a lacuna da lei,
oferecendo-nos várias definições.
Caio Mário da Silva Pereira diz-nos que ´abertura de crédito é o
contrato pelo qual o banco se obriga a pôr à disposição do
cliente soma dentro de um dado limite quantitativo, e por um
certo prazo, acatando-lhe os saques ou acolhendo ordens.”
Orlando Gomes define-a como: “contrato por via do qual se
obriga um Banco a colocar à disposição do cliente determinada
soma para ser utilizada mediante saque único ou repetido. “,
acrescentando que a prestação do Banco pode, ‘ consistir,
também, em aceite, fiança ou aval.’
O emérito Pontes de Miranda, acompanhando o pensamento do
ilustre comercialista pátrio, ressalta que ´a abertura de crédito
pode ser feita por Banco ou outro estabelecimento comercial,
ou por entidade de direito público ou de direito privado ou por
pessoa física. A abertura de crédito bancário é espécie”
espécie”
A espécie,
espécie, todavia, tornou-se a prática mais comum no
comércio moderno, porque os Bancos, como potência
econômica de liquidez certa, têm muito mais condições de
avençar as abertura de crédito, propiciando ao público uma
operação altamente útil, motivo pelo qual algumas legislações,
como a italiana, incluírem-na entre os contratos bancários.
De nossa parte, preferimos defini-la como: contrato pelo qual o
Banco(creditador) se obriga a colocar à disposição do cliente ou

113
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de terceiro(creditado) certa importância pecuniária, facultando-


lhe a utilização dessa soma, no todo ou em parte, quer por meio
de saque, de aceite, de aval ou de fiança, até o montante
convencionado.
convencionado.

NELSON ABRÃO - Direito Bancário – (Pág. 122) – 62. Natureza


Jurídica – Das assemelhações que se faz da abertura de crédito
aos vários contratos típicos, sem dúvida a que oferece maior
analogia é o mútuo, não se confundindo, entretanto, por ele,
por possuir sua essência própria:
própria:
´De outro parte, se se quisesse admitir em nosso
ordenamento a figura do mútuo consensual, a esta
não poderia jamais reportar-se a abertura de crédito,
porque diversa é a causa em um e em outro negócio;
enquanto que na abertura de crédito a falta de
utilização da soma creditada não tem significado de
inadimplemento contratual, o mesmo não se pode
dizer se o mutuário omitisse de fazer próprias as
somas mutuadas, porque o contrato faltaria à sua
função.”
Também não tem procedência a doutrina do
mútuo seguindo de depósito porquanto: ´Esta
construção que, proposta anteriormente por alguns
autores, no século passado por Bonelli havia definido
´artificiosa´ , se choca contra a noção de contrato que
dá o art. 1842, o qual considera a abertura de crédito
um contrato único e não um contrato complexo,
resultante da combinação de diversos negócios
unitariamente considerados com base em única causa
e finalidade objetiva. Ademais, isso colide com o

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disposto no art. 1844, o qual, no caso em que a


garantia se torna insuficiente ao valor diminuído da
garantia; como se choca contra o disposto no art.
1845 pelo qual a rescisão da parte do banco, do
contrato, suspende imediatamente a utilização do
crédito: normas todas essas que pressupõem que a
soma creditada permaneça, enquanto não seja
utilizada, de propriedade do banco e não passe ao
creditado etc.
Na realidade, a essência da abertura de crédito
repousa no fato de o banco manter a soma à
disposição do creditado, que poderá dela utilizar, ou
não. Trata-se, pois, de contrato sui generis:
generis: ´Para
estabelecer qual seja a natureza jurídica da abertura
de crédito, isto é, sua essência, é preciso ir à
definição da outra prte uma sma de dinheiro por um
dado período de tempo ou por tempo indeterminado.
´ Como se põe em relevo, falta em tal definição
qualquer ligação entre o colocar à disposição a soma
e a utilização da mesma.”

10.2. Modalidades

NELSON ABRÃO - Direito Bancário – (Pág. 126) – A abertura de


crédito pode ser qualificada levando em conta dois critérios:
critérios: o
da movimentação contábil e o da garantia.
garantia. Sob o primeiro
aspecto,
aspecto, ele pode ser simples ou em conta corrente.
corrente.
I – Na simples,
simples, o creditado se limita a retirar as importâncias à
sua disposição, em uma ou várias vezes, sem, contudo, fazer

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qualquer cobertura ou reposição:


reposição: ´Na abertura de crédito
simples, o creditado tem a faculdade de retirar fundos até o
limite concedido. O creditador não é obrigado a receber
reembolso total ou reembolsos parciais antes do vencimento do
contrato. “
“Na abertura simples,
simples, tem o creditado direito a utilizar o
crédito sem possibilidade de reduzir parcialmente, com
entradas, o montante da dívida. “
Na abertura de crédito em conta corrente,
corrente, a par das retiradas
que faz, pode o creditado efetuar reposições, de molde a
restabelecer a disponibilidade em seu favor: “a abertura de
crédito é em conta corrente quando o creditado pode utilizar
várias vezes o crédito e, com sucessivas reposições, repristinar
a disponibilidade. “
“Mas, se abertura de crédito é acompanhada de conta corrente,
o creditado goza da faculdade de efetuar entradas parciais,
quer em espécie, quer em títulos comerciais circulantes, como
de letras de cãmbio, notas promissórias, cheques, etc.,
endossando-os ao banco creditador, sendo definitivamente
apurados quando cobrados, e pode, na vigência do contrato,
reclamar novos adiantamentos até o valor do crédito aberto.
Terá ao mesmo tempo conseguido o serviço de caixa e
diminuído o encargo de juros, se dispuser de valores para levar
a seu crédito. “
“Na abertura de crédito conjugada á conta corrente, o
creditado tem o direito de efetuar reembolso, utilizando
novamente o crédito reintegrado.”

II – Quanto à garantia,
garantia, a abertura de crédito pode ser: a
descoberto e garantida.
garantida.

116
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Na abertura de crédito a descoberto, por caixa ou em branco, o


banco se louva exclusivamente na confiança que o creditado lhe
inspira.
inspira. “Neste caso, a base do negócio é a confiança entendida
como ponderada valoração da situação objetiva e subjetiva do
creditado, enquanto o banco confia nas suas solvabilidade e
correção, sendo a única garantia, em concurso com os outros
credores, o seu patrimônio. O crédito a descoberto é concedido
normalmente a comerciantes que vendem sob fatura, cujo preço
é realizado em dia, ou a industriais que têm necessidade de
capitais, para aquisição das matérias-primas e a manipulação
de produtos.
É verdade que, freqüentemente, o banco exige promissórias
para a recuperação ou desmobilização de seu eventual crédito;
mas, como bem assinalou Giacomo Molle, elas não representam
nenhuma ulterior garantia àquela pessoal do próprio creditado,
único signatário dos títulos, porém permitem ao banco
viabilizar a recuperação das somas entregues ou desmobilizar o
seu crédito.
Abertura de crédito garantida é aquela acompanhada de
garantias reais(hipoteca, penhor) ou fidejussória(aval, fiança).
As garantias podem ser oferecidas tanto pelo próprio creditado,
como por terceiro a favor dele, podendo ser isoladas ou
cumulativas.
(...)
O Superior Tribunal de Justiça, analisando o assunto, teve a
oportunidade de ferir um ponto de suma finalidade prática, da
maneira contida na dicção da ementa oficial disposta:

“A doutrina firmou-se no sentido de que a autonomia


do título de crédito não se abala pelo fato de estar

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preso a contrato. Assim, não se teria inexecutável a


cambial ao argumento de que esta esteja presa a
contrato de abertura de crédito, eis que também o
entendimento pretoriano realça a sua autonomia e
executoriedade, ostentando sua eficácia material que
regula quanto a sua constituição e formalidades
extrínsecas”(3ª T., REsp 77.115-PE, Rel. Min.
Waldemar Zveiter, RT, 739:227-8)”

10.3. Prorrogação e extinção do contrato

Sergio Carlos Covello – Contratos Bancários – (pág. 201)


EXTINÇÃO DO CONTRATO
O contrato de abertura de crédito extingue-se por várias
maneiras:
a) PELO TERMO – Com o advento do termo prefixado no
contrato, a relação jurídica entre as partes se desfaz, e o saldo
passa a ser exigível caso o creditado tenha utilizado o crédito,
pois a faculdade que o creditado adquire por força do contrato
consiste em socorrer-se do numerário do Banco dentro dos
limites ajustados, e um desses limites é o tempo.
tempo. Se, por
hipótese cerebrina, não se avençou o prazo, deve-se observar a
regra geral no sentido de poder a abertura ser denunciada pelo
Banco ou renunciada pelo próprio creditado, a qualquer
momento.
b) FALÊNCIA OU INSOLVÊNCIA DO CREDITADO – A falência ou
insolvência do creditado põe fim à abertura de crédito, em vista
de um motivo muito óbvio: esta modalidade de contrato é
intuitu personae e, pois, mudada a situação do creditado, como

118
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no caso da falência ou de insolvência, cessará a relação


contratual. Por outro lado, o falido ou insolvente não tem
sequer motivos válidos para continuar a utilizar o crédito aberto
em seu favor, já que ele não terá condições de honrar o
compromisso, uma vez que fica destituído da administração de
seus bens. Altera-se, assim, o estado do creditado, e o Banco
fica desobrigado de conceder-lhe o crédito.

c) INCAPACIDADE DO CREDITADO - É outra forma de extinção da


relação contratual entre Banco e cliente, aliás comum a outros
contratos. Paulo de Lacerda ensina que o contrato só perdura,
diante da incapacidade da parte, se os seus representantes
legais convierem, mediante as cautelas devidas, na continuação
do exercício do contrato, o que, é bem verdade, vai depender da
concordância do Banco.

d) A MORTE DO CREDITADO – Salvo convenção em contrário,


contrário, a
morte do creditado põe fim à relação contratual, dada a
natureza personalíssima da abertura de crédito.

Capítulo XI
11. Desconto Bancário
11.1. Definição
É o contrato onde o banco antecipa certa quantia ao cliente, resultado de
um título de crédito não vencido de terceiro, deduzindo-se,
antecipadamente,
antecipadamente, os juros contratados e demais despesas operacionais.

Bomfim Viana – Desconto Bancário – (Pág. 45) – A discrepância


funcional entre os aspectos técnicos e econômicos revela-se

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mais profunda na definição do objeto do desconto. A estrutura


técnica demonstra sua neutralidade instrumental e o econômico
comprova seu poder de determinar o elemento finalístico do
negócio.
As funções creditícia e monetária dos bancos comerciais
habilitam-nos ao exercício de uma complexa gama de operações
econômicas. Os clientes apresentam-lhes títulos diversos, com
a finalidade de obter adiantamento ou segurança dos valores
imobilizados.
Os documentos cambiários e cambiariformes surgem nas mais
variadas vestes jurídicas: letra de câmbio, nota promissória,
duplicata mercantil e de serviço, cédula rurais e industriais,
notas promissórias rurais, títulos representativos de
mercadoria, warrants, etc.
A técnica bancária classifica-se em bancáveis e não-bancáveis.
não-bancáveis.
Os primeiros seriam aqueles que satisfazem as exigências do
Banco Central para efeito de redesconto. Os segundos
caracterizam-se por não satisfazerem tais exigências.
Os requisitos dos bancáveis compreendem a origem e natureza,
o número de assinaturas, o prazo de vencimento, o lugar de
pagamento, a entidade da soma cambial. Elementos técnico-
econômicos de que se utilizam as Autoridades Monetárias na
execução da política seletiva de crédito.
O índice de assinaturas tem estreita ligação com o grau de
solvabilidade do documento. Quanto mais coobrigados
existirem, maior será a segurança de resgate que o documento
oferecerá.
Os títulos com as cláusulas “não a ordem” ou “sem despesa”,
vencimento à vista ou a certo termo da vista, não são
recomendáveis a desconto. A boa técnica bancária pune-os com

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o desfavor, em face das restrições impostas ao exercício dos


direitos do portador.
O lugar de pagamento é crucial em virtude da facilidade ou
dificuldade de apresentação a aceite e pagamento são
recusados os documentos que tiverem lugar de pagamento. Os
documentos que tiverem lugar de pagamento fora da área de
jurisdição do banco em geral são recusados.
A discriminação do prazo de vencimento repousa no fato de que
a operação é de curto prazo. Em alguns casos alcançará um
ano. O ajuste de prazo maior propiciaria a imobilização
financeira prejudicial aos índices de liquidez.
As singularidades do negócio emprestam importância decisiva
ao valor do documento descontado. A boa técnica indica que
não deverá atingir valor muito pequeno ou elevado.
O acolhimento de títulos de valor módico dificultará a realização
da operação. O dispêndio com mão-de-obra especializada e os
custos financeiros torna-la-ão onerosa. O inverso ocorrerá com
as operações de grande valor.
Os custos financeiros relativos serão menores. Os riscos se
agravarão. O princípio do fracionamento do risco impedirá a
concentração exagerada de responsabilidade em número
reduzido de clientes.
A experiência aconselha que os documentos descontados
devam ter maior número de sginarários. O grau de
solvabilidade depende disso. A prática demonstra que se torna
dispendiosa a busca de informações completas e atualizadas
sobre cada um.
Os bancos concedem o crédito louvados no conceito, tradição e
solvabilidade do cliente-descontário. Interessado direto na
manutenção do seu crédito, terá o máximo empenho em

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assegurar seu resgaste normal. Essa a razão de se admitir o


acolhimento de documentos não aceitos.
A existência de pluralidade de obrigados terá importância
decisiva em situações anormais. A eventual falência ou
concordata do cliente-descontatário. A falência ou concordata
de um ou mais coobrigados.
Na sua origem os documentos cambiários e cambiariformes
classificam-se em comerciais e financeiros.
financeiros. Os últimos
subdividem-se em espécies distintas, cujo denominador comum
reside nos seus requisitos formais.
Os comerciais advém de negócios mercantis.
mercantis. Representarão ou
incorporarão crédito oriundos de transações realizadas. Em
termos mais precisos, regulamentarão transações anteriores
concluídas.
Os autores destacam a dupla segurança de sua solvabilidade. A
garantia da existência do negócio concluído e a possibilidade de
sua satisfatória. A perspectiva de resgate normal do título no
vencimento.
De outra espécie classificam-se os documentos financeiros.
Denunciam origens diversas e instrumentalizam o escopo único
de obtenção de crédito. No gênero documento financeiro
incluem-se os isolados e os de grupo.
Os financeiros não são legítimos efeitos comerciais. Nascem
com a finalidade de possibilitar a obtenção de crédito, mediante
realização de operações impropriamente denominadas
desconto. Qualificam-se autênticos empréstimos cambiários ou
antecipações.
A emissão de nota promissória em favor de banco de
investimento alterará a natureza da operação. Economicamente

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será um financiamento. O documento cambiário desempenhará


a função de garantia do negócio concluído.
A letra de câmbio acompanhada dos documentos comprova sua
nítida origem comercial. As vendas internacionais atingem
grandes valores, expressos em moeda nacional ou estrangeira.

NÉLSON ABRÃO – Direito Bancário – (Pág. 110) – Parte tal


conceituação do pressuposto de que todo e qualquer crédito
possa ser cedido em troca do adiantamento pecuniário que o
banco faz ao cliente. A prática bancária revela, contudo, que o
desconto é feito contra títulos de crédito, representando soma
líquida e certa, portanto de fácil recuperação pelo Banco:
“segundo a prática bancária usual, o portador de um efeito de
comércio(títulos que representem obrigações comerciais
vencíveis a curto prazo) o endossa a título de propriedade a seu
banqueiro, que lhe entrega imediatamente o montante nominal
sob reserva de recebimento no vencimento. Em teoria, senão na
prática, a operação de desconto pode ter um outro objeto que
não o efeito de comércio(bônus do Tesouro, cupões, por
exemplo) ou simples crédito. Deixaremos de lado estas
hipóteses excepcionais para tratarmos do desconto dos efeitos
de comércio.
“Qualquer crédito em dinheiro, contando que ainda não
vencido, pode ser objeto de desconto, na prática, porém não é
assim.
assim. O Banco, pela própria organização de seus serviços, e
pela necessidade de premunir-se contra o perigo de que o
devedor cedido não satisfaça o débito no vencimento,
normalmente não desconta senão os assim chamados créditos
cartulares,
cartulares, aqueles incorporados a um documento, cuja posse
atribui, de maneira exclusiva, o direito de crédito, no sentido de

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que somente quem tem a posso do documento pode fazer o


direito de crédito. Na realidade, de todos os créditos que
possam ser objeto de desconto, só aqueles resultantes de
efeitos cambiários dão verdadeiramente matéria à atividade
bancária.
Com a implementação dos meios magnéticos, o
aperfeiçoamento da cibernética e o campo de serventia da
informática, passa-se à fase de emissão de títulos que não se
corporificam nos documentos cartulares, a exemplo da
conceituação ditada por Vivante e retomada por Tullio Ascarelli.
De fato, o trabalho se concentra na imediata feitura da ordem
magnética, que transfere ao banco, na qualidade de
cessionário, a possibilidade de cobrança, ficando o
descontatário creditado na sua conta corrente da importância
que emblematicamente desenvolve o negócio empresarial.
Paralelamente se delineia a faturização, que tem conotação
própria e dimana uma especificidade ímpar, na venda de
produção, de modo antecipado, quando o faturizador libera a
favor do faturizado, feitos os descontos da operação, a
importância correspondente, sem deslembrar eventual risco
que poderá suscitar perante a falta de adimplemento do
sacado.
No pomo de discussão, portanto, o desconto bancário apresenta
semelhanças com outras operações que identificam a forma
singular pela qual a instituição financeira catalisa recurso
destinado à atividade empresarial, tanto na sua produção como
na venda, antecipando aquilo que fora alienado pro solvendo.
solvendo.
´O banco antecipa ao credor importância de um título de crédito
de soma líquida e vencimento breve, recebendo em
transferência e deduzindo do valor nominal os juros pelo espaço

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de tempo intercorrente desde a data da antecipação até à data


do vencimento.´
´Uma outra operação ativa nos bancos é o desconto bancário,
contrato pelo qual uma pessoa recebe do banco determinada
importância, para isso transferindo ao mesmo um título de
crédito de terceiro.´
Do exposto, podemos concluir que, num sentido estrito, que é
aquele seguido pela prática bancária, o desconto é o contrato
pelo qual o banco, com prévia dedução do juro, comissão e
despesas, antecipa ao cliente a importância representada por
um título de crédito, não vencido, contra terceiro, mediante
endosso do próprio título.
O termos “desconto” tem, pois, um duplo sentido:
sentido: designa a
operação bancária(contrato
bancária(contrato no plano jurídico), bem como a
dedução feita sobre o valor representado pelo título.
título.

Arnaldo Rizzardo – CONTRATOS DE CRÉDITO BANCÁRIO – (Pág.


84) – De modo geral, todos os créditos podem ser objeto de
desconto, desde que estejam incorporados em documentos
classificados como títulos de crédito. São títulos de crédito os
documentos necessários para exercer o direito que eles
representam, destacando-se a nota promissória, a letra de
câmbio, a duplicata, o cheque, os certificados de depósito a
prazo fixo, os warrants, as debêntures, as lestras do tesouro e
mesmo os títulos cambiais não aceitos.
Quanto aos cheques, por conterem ordem de pagamento à vista
é possível admitir-se o desconto, desde que sejam
apresentados no prazo de lei.
O Prof. Cearense Bonfim Viana, em obra específica sobre o
assunto, relaciona ...

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11.2. Características
a) CONTRATO REAL – Conforme a maioria dos autores. Realiza-
se com a efetiva entrega do dinheiro ao descontatário.
descontatário. Assim
pensa Giacomo Molle, para quem o consentimento dos
contraentes não é suficiente para dar vida ao contrato, se não
acompanha a consignação do valor adiantado por conta dos
títulos. Segundo J. X. Carvalho de Mendonça, o desconto é uma
variedade do mútuo, completando-se desde que a soma
descontada seja entregue ao descontatário, lançado o crédito
na conta corrente. Efetua-se a passagem da soma do
descontador para a conta do descontatário, eis que fica à plena
disposição deste último.
Autores há que defendem a consensualidade, como Bonfim
Viana, por ser a transferência mero expediente prático.
DE PLÁCIDO E SILVA – Vocabulário Jurídico – (pág. 675) – REAL –
Do latim regalis (real) de rex (rei), é o vocabulário empregado,
na linguagem jurídica, em referência aos atos ou fatos jurídicos
para exprimir os que são efetivos,
efetivos, materiais,
materiais, positivos,
positivos,
presentes.
presentes. Uma entrega real ou uma tradição real, assim, é a
que se cumpre materialmente,
materialmente, positivamente.
positivamente. Desse modo,
opõe-se, em sentido, à significação do simbólico ou negativo.
negativo.

b) ONEROSO – pois cada um dos contraentes obtém do outro um


evidente benefício patrimonial.
patrimonial. Conforme explana Luiz Alberto
Delfino Cazet, o descontatário consegue a disponibilidade
imediata de certa quantidade de dinheiro, enquanto o
descontante receberá o pagamento correspondente ao tempo
que falta para o vencimento, além de outras taxas. No mesmo
sentido Nelson Abrão: ´a onerosidade do desconto reside em

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que redunda ele em proveito econômico para ambas as partes:


para o cliente, em possuir a disponibilidade de quantias
correspondentes a créditos ainda não vencidos; para o banco, a
percepção de juros e comissões”.

DE PLÁCIDO E SILVA – Vocabulário Jurídico – (pág. 573) –


ONEROSO - Do latim onerosus, de ônus, geralmente qualifica
tudo que está sujeito a ônus ou encargo. É a qualidade ou
condição de estar onerado ou ter ônus.
Exprime, também, o que sobrecarrega ou vem agravar encargos
ou ônus existentes. É gravoso ou excessivo.
ONEROSO – Na técnica dos contratos, em oposição ao que é
gratuito exprime o que se faz com reciprocidade ou se regula
por prestações e contraprestações. Todos os contratos
comerciais são onerosos. Os civis tanto se mostram onerosos,
como se podem apresentar na condição de gratuitos, tal como a
doação.

c) BILATERAL – No sentido de ambos os estipulantes devem


suportar obrigações. Ao banco compete concretizar
efetivamente o desconto dos títulos, conforme se
comprometeu, bem como apresentar em cobrança, no momento
aprazado, os títulos de crédito em seu poder. Ao cliente cabe
satisfazer o preço da operação, com os interesses ajustados e o
reembolso dos gastos exigidos. Cumpre-lhe, outrossim, a
restituição ao descontante do importe dos títulos desatendidos
pelos devedores principais.

11.3. Meio processual para sua cobrança

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ARNALDO RIZZARDO – Contratos de Crédito Bancário – (Pág. 88)


– O desconto tem como elementos essenciais o adiantamento de
certo valor ao cliente e a transferência de títulos cambiários ou
cambiaformes ao banco.
Não satisfazendo o devedor a cifra representada no documento,
ao descontante assiste promover a execução junto do valor
junto ao descontatário.
descontatário.
Para dirigir-se contra o descontatário, é necessário o anterior
protesto do título.
título. Tal ato é elemento imprescindível para
comprovar a inadimplência do devedor cedido.
cedido. Sem esta
providência, terá o banco dificuldades em comprovar a mora do
devedor cedido. E o protesto impõe-se na falta ou recusa de
aceite, e na mora no pagamento, a menos que fique
consignado, no contrato, cláusula dispensando tal ato.
ato. Sem a
medida, fica impossibilitado o direito de regresso, pois não
provada a mora do devedor.
Quanto às duplicatas, o prazo para levar o título a protesto é de
30 dias, na forma do art. 13, § 4º, da Lei nº 5.474, de
18/07/1968: ´o portador que não tirar o protesto da duplicata,
em forma regular e dentro do prazo de 30 (trinta) dias, contado
da data de seu vencimento, perderá o direito de regresso
contra os endossantes e respectivos avalistas”. A
jurisprudência tem exigido o protesto para efeito de regresso.
De modo que a inadimplência conduz ao direito de uma ação
patrocinada pelo descontante, a cambiária, fundada no
documento descontado.
descontado.
O banco ingressará em juízo contra o descontatário e os demais
coobrigados. Ou em regresso contra os últimos, se, acionado o
devedor, não conseguiu receber o valor constante do título. Ao

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propor a demanda, promoverá a restituição do título, o que fará


junto com a petição inicial.
inicial.
Existe, também, uma segunda ação, através da qual o
descontante tentará receber a devolução do montante
adiantado, o que se fará por meio do rito comum , por faltarem
os requisitos para o processo de execução.
execução.
Há, igualmente, a possibilidade de uma terceira ação,
ação, dirigida
contra o garante ou fidejussor, ao qual se reserva o direito de
regresso contra o descontatário.
Mas conforme expressa Sérgo Carlos Covello, não está o
descontante obrigado a ajuizar a cobrança contra o aceitante e
coobrigados. Cabe-lhe devolver o título ao descontatário e
exigir-lhe a restituição do dinheiro entregue.

NELSON ABRAO – Direito Bancário – (Pág. 117) – Operando-se o


desconto, geralmente, mediante a cessão de títulos cambiários
ou cambiaformes(na prática bancária brasileira, ele se faz mais
freqüentemente sobre duplicatas) , conseqüentemente o banco
se torna endossatário, legitima-se pelo protesto, cuja disciplina
vem dada pelo diploma normativo nº 9..492, de 10 de setembro
de 1997, ao exercício da ação cambial,
cambial, que é mais conveniente
na espécie, por estar dotada de caráter de execução, contra o
devedor cedido, o cedente e qualquer outro coobrigado, para a
formatação da relação dos devedores solidários inadimplentes.
Além da ação cambial, forrada no título,
título, fazem os autores
menção à ação nascida do contrato de desconto ou causal.
causal.
Tratar-se-ia de ação de direito comum e dirigida somente
contra o descontatário e destituída do rito executivo.
executivo. Destarte
teria lugar apenas no caso de prescrição da ação cambial,
invalidade da obrigação cambial do devedor principal ou

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nulidade do título. Tem, pois, como se vê, maior amplitude que


a ação de locupletamento ilícito,
ilícito, exercitável em conseqüência
da prescrição da ação cambiária.
Interessante se faz mencionar que o contrato e a obrigação
cartular têm relativa interdependência, sem óbice no que diz
respeito à possibilidade de firmar a executoriedade isolada,
dado o contexto da operação bancária.
Uma coisa é a obrigação que tem lastro na situação específica
gerada a partir da garantia fornecida, outra é o fundamento
que se assenta o contrato, que, se estiver dotado dos requisitos
de forma e de fundo, suscitará a via comum e não o caminho da
execução.

SERGIO CARLOS COVELLO - Contratos Bancários – (Pág. 253) –


Para o Banco, o contrato de desconto dá margem a dois tipos
de ação:
ação: A ação causal e a ação nascida do crédito descontado,
ou melhor dizendo, do documento representativo desse crédito.
crédito.
Ação causal,
causal, ou ex causa,
causa, é aquela fundada na relação
contratual entre descontatário e Banco. O pressuposto da ação
causal é o não-pagamento pelo terceiro devedor do crédito, no
vencimento deste. É necessário que o Banco proteste o título,
caso se trate de desconto cambiáro, para poder valer-se da
ação causal, pois o protesto é a maior prova de que o Banco
diligenciou no sentido de receber o crédito e que o devedor
cambiário não o saldou.
O objeto da ação causal é a restituição da soma correspondente
ao crédito transferido ao Banco. Esta ação tem como único
destinatário o descontatário e se rege pelo direito comum.
comum.
Trata-se de ação que independe da ação que nasce do crédito. É

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autônoma, razão pela qual sobrevive mesmo após a prescrição


desta última ou, ainda, à nulidade do crédito descontado.
A ação derivada do documento representativo do crédito,
crédito,
objeto do desconto, tanto pode ser cambiária como ordinária,
ordinária,
conforme se trate de crédito incorporado a um título ou não.
Se o documento consiste em título de crédito, o Banco tem
contra os coobrigados

11.5. Extinção do contrato


SERGIO CARLOS COVELLO - Contratos Bancários – (Pág. 253) – A
extinção do contrato de desconto dá-se pelo pagamento do
quantum devido ao Banco, Istoé, a importância que este
antecipou ao cliente sobre um crédito a vender.
Se é o terceiro devedor que paga ao Banco,
Banco, o contrato se
extingue, porque tal pagamento desobriga o descontatário,
pondo fim à relação contratual que unia entre o Banco.
Se o terceiro devedor não paga na data do vencimento, verifica-
se a condição pela qual se torna atual a obrigação do
descontatário de suportar a dívida. Nesta hipótese, se o
descontatário paga, resolve, também, o contrato.
Se o terceiro devedor se declara falido,
falido, o contrato não se
extingue,
extingue, pois o Banco tem o direito de reclamar o pagamento
ao descontatário. O Banco é obrigado a apresentar o
documento representativo do crédito, mas não é obrigado a
promover as ações contra o terceiro devedor.
Na hipótese de o descontatário quedar falido,
falido, dá-se a
antecipação do vencimento da obrigação de restitir, ficando,
porém facultado ao Banco o direito de acionar o terceiro
devedor.

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Com a morte do descontatário, a obrigação se transmite aos


herdeiros.
herdeiros.

BOMFIM VIANA - Desconto Bancário – (pág. 147) – A extinção do


contrato é contingência da vida negocial. Os direitos e
obrigações nascem, modificam-se e extinguem-se em
conseqüências de causas jurídicas variadas.
variadas.
Examinar-se-ão as extinções ordinária( I ) e extraordinária ( II )
com seus reflexos nos títulos descontados.
EXTINÇÃO ORDINÁRIA
O desconto é uma operação de crédito, instrumentalizada o
intento da anrtecipação de um valor monetário e possibilita a
fruição de um crédito antes de seu vencimento. A restituição da
soma antecipada fica sujeita à condição suspensiva de
inadimplência do devedor cedido. O resgate do
sacado/aceitante extinguirá o contrato e a obrigação do
descontatário.
O descontatário recebeu a antecipação do seu crédito. O banco
se pagou da concessão do crédito com a prévia dedução de sua
remuneração e demais encargos(vide custos financeiros).
O aceitante adimpliu a obrigação contraída no plano cambiário.
Pressupõe a existência de provisão. Se inexistir, terá pretensão
extracambiária de ressarcimento contra o sacador.
O pagamento do devedor cedido não transforma a transferência
pro solvendo do título pro soluto.
soluto. A obrigação do descontatário
é principal em termos contratuais e subsidiária no plano
cambiário.
Há evidente confusão entre transferência da propriedade
documental e a natureza pro solvendo da função econômica do
título cambial no negócio de desconto.

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A transferência de propriedade do documento(endosso) é


definitiva. A vontade das partes é de aliena-lo. A condição
suspensiva prende-se à função negocial desempenhada por ele
como instrumento de crédito.
O devedor cedido solve a obrigação em nome próprio. A
singularidade do negócio bancário emerge em toda sua
evidência. O pagamento extinguirá a obrigação contratual
(principal) e cambiária (indireta) do descontatário.
A condição suspensiva de ambas obrigações desaparece do
mundo jurídico. Essa a razão técnico-jurídica da liberação
obrigacional. Inadmissível a esdrúxula tese da transmutação da
cessão pro solvendo em pro soluto.
soluto.

EXTINÇÃO EXTRAORDINÁRIA
A vida negocial está sujeita às áleas inerentes a toda atividade
humana. A atividade bancária é sensível aos riscos. Os bancos
procuram minimiza-los(vide Risco Bancário).
A operação de desconto é descontituível em virtude da extinção
do contrato. As causas serão as mais diversas e classificam-se
em diretas e indiretas.
indiretas.
Entre as causas diretas incluem-se os vícios que afetam sua
validade e eficácia e são decorrentes do desatendimento de
pressupostos ou requisitos. As conseqüências jurídicas desses
vícios variam de caso a caso.
Os pressupostos relacionam-se ao sujeito, ao objeto e à posição
do sujeito em relação ao objeto. Apuram-se os vícios oriundos
da incapacidade relativa ou absoluta, da violação de regra geral
proibitiva, etc.

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Os requisitos prendem-se à declaração da vontade estará


contaminada de vícios psíquicos (erro, dolo, coação) e
sociais(fraude contra credores e simulação fraudulenta).
Os contratos sujeitar-se-ão aos efeitos da nulidade,
anulabilidade e ineficácia. Os dois primeiros regulados segundo
as regras do direito civil e o último de acordo com as regras do
Direito Falimentar.
Efeitos diretos sobre o contrato surgem na falência do
descontatário. O síndico julga do interesse da massa “resolve-
lo”(resili-lo). Ou o descontatário realizou o negócio após a
declaração de sua falência.
Examinem-se os efeitos indiretos.
indiretos. O título foi sacado depois da
falência do sacador. A boa-fé dos sucessivos portadores não os
protegerá. A regra falimentar é princípio de ordem pública(DL
nº 7661, § 1º, art. 40).
Haverá nítida prevalência do interesse coletivo sobre o privado.
A regra do Direito falimentar exclui a aplicação da cambiária.
Comprovada a inexistência cambial, o descontante promove a
resilição contratual e pleiteia a rstituição de soma antecipada.
A inexistência do crédito cambiário desconstituirá o contrato.
Inexeqüível sua convolação em empréstimo. O descontante
resili-lo-á e terá a pretensão de restituibilidade da soma
descontada.
O elenco de situações enunciadas autoriza-nos a formular dois
princípios gerais. A extinção contratual extraordinária não
ocasionará o vencimento cambial antecipado. A inexistência ou
a nulidade do crédito cambiário terá efeitos contratuais
descontitutivos.

11.6. Redesconto

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ARNALDO RIZARDO - Contratos de Crédito Bancário – (pág. 93) –


A operação de redesconto equivale ao desconto entre bancos.
Um banco, que possui determinado número de títulos recebidos
em operações de desconto, os apresenta em um segundo
banco, onde lhe são creditados os valores, aceitando os títulos
para reembolsar-se das quantias adiantadas.
Nélson Abrão fornece o conceito exato: ´O redesconto é a
operação pala qual o banco, não desejando aguardar o
vencimento do título sobre o qual operou o desconto, para
encaixar o seu montante, por sua vez, desconta-o junto a outro
banco, recuperando o próprio capital. “
Resumindo: trata o redesconto de um desconto que se
superpõe a outro precedente – o banco que fora cessionário de
um crédito de seu cliente torna-se cedente do mesmo crédito
em benefício de outro banco.
Em geral, as operações de redesconto envolvem uma relação
entre o banco que concedeu o desconto e um banco oficial, ou
de economia mista. Esta forma de adiantar o recebimento do
valor creditado retrata a política econômica e bancária do
governo, que autoriza certos bancos a atuarem no redesconto,
especialmente em setores onde é necessário o apoio
econômico para atentar a produção.

NÉSON ABRÃO – Direito Bancário – (Pág. 118) – O redesconto é a


operação pela qual o banco, não desejando aguardar o
vencimento do título o qual operou o desconto, para encaixar o
seu montante, por sua vez, desconta-o junto a outro banco,
recuperando o próprio capital. Tem a mesma natureza que o
desconto, sendo realizável apenas entre bancos, razão pela
qual os juros e comissões são menores, dada a melhor garantia

135
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que oferece o descontador redescontário. Por força do


dispositivo legal expresso (Lei 4.595/64), art. 10, IV), compete
privativamente ao Banco Central realizar operações de
redesconto.
redesconto.
O redesconto representa a possibilidade do banco se
desvencilhar do título que possui na sua carteira sem esperar o
respectivo vencimento, valendo-se doutra instituição para
efeito de liberar o numerário.
Típica operação interbancária que pode situar a circunstância
envolvendo banco particular e outro oficial ou de economia
mista, mas é preciso dimencionar o horizonte no intuito de
sublinhar a necessidade do exame de fundo da atividade, posto
que, se desenvolvida com o intuito desviado e contrário à
finalidade legal, responde o administrador pelo prejuízo
causado à instituição financeira.
Conquanto seja uma operação bastante conhecida e antiga, o
redesconto permite uma confusão que merece maior análise, no
sentido de aparar arestas e frutificar o consenso em torno do
denominador comum, haja vista a respectiva classificação.
De fato, o redesconto pode ser denominado seletivo, e de modo
distinto conceituado de liquidez ou assistência, conforme a
operação e a inerente modalidade que o disciplina.
As operações de redesconto obedecem ao trato normativo do
Banco Central e delas não se aproveitam as instituições
financeiras em estado de iliquidez ou sujeitas ao procedimento
de saneamento, posto que contam com patrimônio líquido
negativo e não fazem jus à categoria específica de negociação.
Concernente aos redesconto de assistência financeira ou
igualmente conhecido por redesconto de liquidez, a
regulamentação tem respaldo no diploma normativo nº

136
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4.595;64, Resolução nº 2.308/96 e Circulares 2.712/96, 2.727/96


e 2.869/99, do BACEN.
BACEN.
Normal, forçoso destacar, que as instituições financeiras que
utilizam o sistema de redesconto de liquidez ou assistência
mantêm um contrato com o Banco Central de crédito rotativo,
que implica a tipificação como devedora, sendo por prazo
indeterminado, havendo uma taxa de juros que é fixada.
Diretamente, as taxas de juros fundam-se na média dos ajustes
dos financiamentos com fomento na avaliação feita pelo
SELIC(Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) com a
definição do COPOM(Comitê de Política Econômica).
As instituições financeiras em crise que não operam o
redesconto comum ficam adstritas ao programa de estímulo à
reestruturação e fortalecimento do sistema financeiro
nacional(PROER), tendo como diretriz as taxas de juros, que se
comportam bem superiores à previsão regular operacional.

SERGIO CARLOS COVELLO - Contratos Bancários – (Pág. 254) –


Na terminologia bancária, o redesconto ( de re = novo +
desconto = desconto que se repete) é a operação pela qual o
Banco, que é cessionário dos títulos descontados, desconta-os
por sua vez, junto a outro Banco, recebendo os valores
correspondentes em antecipado. Daí Cazet afirmar que a
operação de desconto não é outra coisa que um desconto entre
Bancos.
Trata-se de operação passiva do ponto de vista do primeiro
Banco(o que descontou o crédito de seu cliente) e ativa sob o
ângulo do segundo que redesconta esse crédito apresentado
pelo Banco.

137
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Assim , o redesconto pode ser definido como desconto em


sentido passivo de um crédito adquirido por um anterior
desconto em sentido ativo.
Por evidente, este contrato não oferece nenhuma diferença
jurídica do desconto. Desconto e redesconto são contratos de
regulação jurídica idêntica. A sua finalidade econômica é
mobilizar os créditos que os Bancos concedem por meio dos
descontos e regular a liquidez do mercado monetário em geral,
razão por que, em regra, só se permite redescontar em
determinados Bancos públicos.
públicos. Nossa Lei de Reforma Bancária
prevê, em seu art. 10, que compete privativamente ao Banco
Central do Brasil realizar operações de redesconto e
empréstimo a instituições financeiras bancárias.
bancárias.

Capítulo XII
12. Antecipação bancária
12.1. Conceito
É uma operação bancária, a qual muito aproximada do desconto e do
empréstimo, onde o Banco antecipa ao cliente recursos para que este
utilize-o em um empreendimento,
empreendimento, proporcional ao valor de um bem,
bem, que é
concedido pelo cliente, com uma garantia uma ao pagamento da obrigação
firmada.

SÉRGIO CARLOS COVELLO - Contrato Bancários – (pág. 259) – A


palavra antecipação, do verbo latino antecipare(adiantar),
comporta vários significados jurídicos.
Em primeira acepção,
acepção, conota a idéia de tudo que se executa
antes de atingido o seu vencimento ou o momento em que
deveria ser executado, quer seja o pagamento de um débito(CC,

138
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art. 954, 762, 1092 e 1261), que a execução de um ato(CC, art.


1.171).
No segundo significado,
significado, pode traduzir a idéia de princípio de
pagamento, v. g., as arras previstas no art. 1094 do Código
Civil, que constituem a entrega preventiva de uma soma
pecunária a título de cautela ou sinal para o ressarcimento de
danos, no caso de eventual descumprimento de uma avenca
qualquer.
Também significa a entrega de certa soma que uma pessoa faz
a outra com a condição de que tal será compensada até a
concorrência de um crédito a favor do recebedor.
Conota, ainda,
ainda, a idéia de fornecimento de numerário por conta
de um empréstimo ou qualquer outra operação.
Antecipação, também, é o núcleo da operação de desconto,
desconto,
visto que o descontador nessa figura paga ao descontatáro,
antes do vencimento do crédito, uma determinada soma.
“Há, na verdade, uma t~eneu distinção entre
antecipação(gênero) e financiamento(espécie). No primeiro
caso, o adiantador de fundos não se interessa em saber o
destino dos capitais que lhe são solicitados. De posse do
dinheiro, o antecipado pode dar-lhe o uso que lhe convier. No
financiamento, o capitalista verifica qual o escopo do solicitador
do crédito e lhe concede fundos para determinado fim,
assumindo muitas vezes a fiscalização do emprego de tais
fundos pelo tomador. O financiamento, pois, traz, em si, a idéia
de custeio de certo empreendimento.
Molle define-a: “ A antecipação bancária importa na dação ao
antecipado de uma soma proporcional ao valor de determinadas
coisas(mercadorias ou títulos) dadas em garantia.

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Messineo diz: “A palavra antecipação adquire o sentido especial


que designa essencialmente uma operação de crédito,
garantida por uma cobertura; mais concretamente: a concessão
– que uma pessoa(antecipante, facilitador) faz ‘a
outra(antecipado) – de uma quantidade proporcional ao valor de
uma coisa, pelo segundo constituída em garantia.”
Entre nós, Fran Martins expende este conceito: “antecipações
são operações bancárias bastante aproximadas do desconto e
dos empréstimos,
empréstimos, mas que se caracterizam pelo fato de alguém
receber do banco determinada importância, dando garantia real
para o pagamento da importância adiantada.
adiantada. Essa garantia
pode consistir em mercadorias ou títulos representativos das
mesmas,
mesmas, tais como conhecimentos de depósitos, warrants ou
conhecimento de transporte. Podem, igualmente, consistir em
títulos de crédito cotados e Bolsas. “
Em nosso entender, antecipação é o contrato de crédito real
pelo qual o Banco (antecipante) concede ao cliente(antecipado)
certa soma pecuniária proporcional ao valor de uma coisa que,
ao mesmo tempo, é dada pelo cliente, em penhor,
penhor, ao Banco a
fim de garantir a obrigação.
A característica essencial deste contrato é o vínculo entre
negócio de crédito e negócio de garantia,
garantia, que implica uma
relação de proporcionalidade entre o valor da coisa empenhada
e o montante da importância pecuniária posta à disposição do
cliente.
Como se depreende, o contrato muito se aproxima do
empréstimo pignoratício e do desconto.
desconto. Todavia, conforme
ressalta Pontes de Miranda, o que lhe dá autonomia é que nele,
o penhor em vez de meramente acessório,
acessório, como ocorre no
empréstimo, é elemento essencial do negócio jurídico,
jurídico, havendo

140
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assim garantia intrínseca. Do desconto se distancia, porque o


título entregue em garantia se torna propriedade do Banco.
Banco.

12.2. Modalidades
NELSON ABRÃO – Direito Bancário – (Pág. 104) –
MODALIDADES
As formas de antecipações bancária estão em função dos objetos sobre os
quais recaem as garantias.
garantias. Assim, pode incidir: I – sobre mercadorias; II –
sobre títulos de crédito em geral; III – sobre títulos representativos de
mercadorias; IV – sobre direitos.
direitos.
I – ANTECIPAÇÃO SOBRE MERCADORIAS – Não é forma mais usada,
pelos óbvios inconvenientes que oferece com o ônus de guarda
e onservação, que refoge à atividade específica dos bancos,
que, por isso, teriam que confia-las a terceiros especializados,
aumentando, assim, os custos da operação. Quando ocorre,
porém, recai sobre mercadorias que tenham um preço
facilmente apurável, por serem cotadas em Bolsa. Refere-se a
doutrina à possibilidade de serem oferecidas coisas fungíveis,
com o poder do banco delas dispor livremente, constituindo o
chamado penhor irregular; reconhece-se que não é, porém,
freqüente na prática.
O contrato descreverá minuciosamente as mercadorias dadas
em garantia, suas condições e especificidades e, se possível,
conterá um perfil acerca do valor de mercado, ademais o
crédito concedido, o prazo de reembolso, juros, comissões e
formas de pagamento, nada impedindo sua renegociação e o
realinhamento das cláusulas originais pactuadas.
pactuadas.

II – ANTECIPAÇÃO SOBRE TÍTULOS DE CRÉDITO EM GERAL – Trata-se,


evidentemente, de títulos de fácil negociabilidade, como os
valores mobiliários, isto é, representativos de direitos de sócios

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ou de emprestadores de longo prazo, chamados de em massa


ou em série, facilmente negociáveis em Bolsa, como as ações e
debêntures das sociedades anônimas, títulos da dívida pública,
etc. É claro que o prazo de vencimento dos títulos dados em
garantia deve ser superior àquele para o reembolso da
antecipação.
No contrato celebrado entre as partes, além das cláusulas
usuais relativas a todas as modalidades de antecipação, deverá
constar a individualização dos títulos dados em garantia e seus
respectivos valores.
Fácil entender a vantagem que os títulos oferecem para os
bancos em relação à garantia consistente em mercadorias: sua
guarda e conservação, bem como eventual alienação, se
coadunam muito mais com a atividade profissional das
instituições financeiras.

III – ANTECIPAÇÃO SOBRE TÍTULOS REPRESENTATIVOS DAS


MERCADORIAS – Formalmente, esse tipo de garantia não difere
daquele representado pela própria mercadoria, porquanto esta,
depois de armazenada, ou entregue ao transportador, passa a
ser representada pelo título, sobre o qual recai o penhor,
produzindo efeitos em relação à própria coisa:
“Na categoria das mercadorias é compreendida aquela dos
títulos representativos das mercadorias, porque o penhor sobre
esses é, como resulta é do art. 2.786, penhor não dos títulos de
crédito, mas da coisa representada. Títulos representativos são
aqueles que, emitidos por transportadores ou depositários
públicos em relação a mercadorias a eles confiadas para o
transporte ou guarda, atribuem a seus possuidores o direito à
entrega das mercadorias neles especificadas, a posse dos

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mesmos e o poder de delas dispor mediante a transferência do


título.”

Os títulos representativos de mercadorias mais freqüentemente


oferecidos em garantia à antecipação bancária são os chamados
´armazeneiros´, isto é, sobre mercadorias levadas aos
armazéns-gerais: warrant e conhecimento de depósito. Pode
também o conhecimento de transporte marítimo, cujo tempo
útil de representatividade da mercadoria é suficiente, servir de
objeto de penhor na antecipação bancária.

IV – ANTECIPAÇÃO SOBRE DIREITOS – Trata-se, agora, de garantia,


não mais representada por mercadorias ou título, mas sobre
créditos líquidos e certos do cliente, tais como o direito à
devolução do imposto de renda e a cessão dos créditos
relativos aos contratos de financiamento imobiliários(Lei nº
4.864, de 29/11/1965). É claro que este tipo de antecipação
recebe em contrapartida mais do que uma garantia: trata-se de
um verdadeiro pagamento sujeito a termo, pelo que
consideramos esse tipo de operação mais semelhante ao
desconto bancário.

12.3. Características Jurídicas

SERGIO CARLOS COVELLO – Contratos Bancários – (pág. 265) - A


antecipação bancária obedece à seguinte categoria jurídica:

a) CONTRATO REAL - É contrato real, porque só se forma pela dação de


certa soma ao antecipado, mediante prévia constituição por este último de
penhor de mercadorias ou de títulos.
títulos. A traditio é tão essencial ao contrato

143
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que muitos autores, como Molle, não admitem que a operação possa ser
regulada em conta corrente: “A operação que na prática toma o nome de
antecipação em conta corrente, e como tal prevista pelas Normas Bancárias
Uniformes, não é mais que uma abertura de crédito, garantida por títulos ou
por mercadorias, à qual se aplicam algumas regras próprias da antecipação
bancária. “

b) CONTRATO BILATERAL – É bilateral porque implica obrigações para


ambas as partes, Banco e cliente. Ao contrário do empréstimo, que só
produz obrigações para o cliente, a antecipação impõe ao Banco o dever de
restituir in idem corpus a coisa dada e, garantia, o que quer dizer que deve
exercer a custódia sobre ela, respondendo pelas obrigações de depositário,
que se resumem em ter na guarda a conservação da coisa depositada o
cuidado e diligência que costuma ter com o que lhe pertence, bem como a
restituí-la com todos os frutos e acrescidos(CC, art. 1.266).

c) ONEROSO – É oneroso,
oneroso, porque pelo contrato ambas as partes se
beneficiam.
beneficiam. O cliente se beneficia com o dinheiro que lhe é emprestado, e o
Banco se beneficia com os juros e comissões que o cliente lhe paga.

12.4. Obrigações das partes

NELSON ABRÃO – Direito Bancário – (Pág. 106) –

a) OBRIGAÇÃO DO BANCO – A principal obrigação do banco consiste e


entregar ao cliente a quantia em antecipação, proporcional ao valor das
mercadorias ou títulos dados em garantia.
garantia. Em relação a estes, deve zelar
pela sua guarda e conservação até o momento de sua devolução ao cliente:

“Tratando-se de títulos de crédito, a custódia devida pelo banco


implica que este tem a obrigação( e o direito) de receber juros,

144
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dividendos e outras prestações periódicas produzidas pelo


título.”
b) OBRIGAÇÕES DO DEVEDOR – Ao devedor, cliente ou antecipado,
cumpre, preliminarmente, entregar os bens objetos da garantia. Na vigência
do contrato, cumprir-lhe-á, eventualmente, complementar a garantia, se os
bens inicialmente ofertados diminuírem de valor. Expirado o prazo do
contrato, incumbe-lhe restituir ao banco o principal, juros, comissões e
despesas com a custódia das coisas ofertadas em penhor, inclusive as do
seguro.
Bastante relevante realçar que, na sua especificidade, a coisa poderá
permanecer na posse direta do devedor, numa modalidade de constituto
possessório, ou depósito impróprio, haja vista a necessidade imperativa de
operacionalizar sua atividade com aquele patrimônio, sem óbice à
conservação, manutenção e guarda condizentes com a natureza contratual.
Concretamente, o credor não interessado em onerar mais o devedor com
ele consente no predicado de viabilizar a mantença do penhor em mãos do
obrigado, na consecução de hauri meios imprescindíveis ao próprio
negócio e lucratividade compatível com a remuneração tendente a pagar as
importâncias devidas.

12.5. Extinção do contrato

NELSON ABRÃO – Direito Bancário – (Pág. 107) – Em matéria de


antecipação bancária, o prazo se presume convencionado em favor do
cliente devedor(CC, art. 126), interessado que está em desembaraçar de
ônus, o quanto antes, o bens ofertados em penhor. Por isso, não precisa ele
aguardar o advento o termo originariamente convencionado para pagar o
que deve, podendo efetua antes. Extingue-se o contrato, também, pelo
perecimento ou diminuição do valor da coisa, em reposição, em tempo
oportuno, pelo devedor. A falta de pagamento de juros, comissões e
despesas, quando convencionados para terem lugar durante a vigência do

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contrato, e a falência do devedor(Lei de Falências, ar. 25) provocam,


igualmente, a extinção prematura do contrato, o mesmo ocorrendo com a
sujeição do banco a liquidação extrajudicial ou falência. Pela inexistência de
previsão legal expressa e por ser a antecipação contrato de natureza real, a
morte do devedor não lhe provoca a extinção.
extinção.

SERGIO CARLO COVELLO - Contratos Bancários – (Pág. 271) –


As principais causas de extinção da antecipação bancária, além
do advento do termo, são as seguintes:
a) POR VONTADE DO ANTECIPADO -

Capítulo XIII
13. Caixa de Segurança
13.1. Conceito
13.2. Características
13.3. Responsabilidade contratual
13.4. Abertura compulsória do caixa
13.5. Extinção do contrato
Capítulo XIV
14. Cartões de Crédito
14.1. Conceito
CARTÃO DE CRÉDITO –

Nélson Abrão – Direito Bancário – (Pág. 150) – O sistema de cartão de


crédito compreende o emissor, o titular do cartão de crédito ou aderente e o
fornecedor.
O emissor, geralmente uma instituição financeira lato senso, ou banco, é
intermediário entre o titular do cartão e o fornecedor de bens e serviços,
possibilitando a aquisição destes por aquele. O emissor, em troca de um
determinado percentual, se compromete a efetuar os pagamentos pelo
titular do cartão.

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O titular, beneficiário ou aderente é aquele habilitado pelo emissor a utilizar


do cartão para suas aquisições de bens ou serviços. Sendo individualizada
essa habilitação, torna-se inviável a emissão em nome de pessoa jurídica, a
não ser que esta designe uma pessoa física para utilizar-se do cartão, o que,
evidentemente, faz desaparecer o interesse na emissão em tais moldes.
Ademais, o uso do cartão de crédito veio ao encontro de necessidades
eminentemente pessoais do titular: ‘O titular deve usar o cartão apenas para
suas necessidades pessoais e dos membros de sua família.’
Terceiro integrante do sistema de cartão de crédito é o fornecedor ou o
vendedor de bens ou serviços., ‘que se obriga a não recusar, honrar o
cartão de crédito e a conceder o mesmo preço ao portador do cartão. Entre
o fornecedor e o titular do cartão desenrola-se uma operação comum de
compra de venda ou prestação de serviços, com a diferença apenas de que
a remuneração não é feita diretamente pelo adquirente, mas pelo emissor
do cartão, que mantém um contrato com o fornecedor, nesse sentido. O
adquirente, por sua vez, deve pagar ao emissor, e não ao fornecedor, pelo
que ele não é considerado devedor deste, não podendo opor ao banco
eventuais exceções que tenha contra o vendedor.
Mecanismo.
Mecanismo.
Para obtenção do cartão de crédito, o pretendente formula um pedido
escrito ao emissor, no qual transcreve uma série de informações de caráter
pessoal e patrimonial, vindo, no verso da fórmula impressa, as cláusulas
contratuais que deverão vigorar entre as partes.
Constituindo-se o sistema de cartão de crédito num feixe de contratos,
cumpre examinar as diversas relações jurídicas entre as partes:
I – Entre o banco emissor e o titular – O emissor se obriga a pagar as
despesas feitas pelo titular com o uso do cartão, até um certo limite, ficando
com direito de ser reembolsado por esse. Daí decorrem duas
conseqüências: a) o portador não pode se opor a que o emissor pague ao
fornecedor; b) ele não pode se recusar a reembolsar o emissor alegando as
exceções que teria contra o fornecedor.

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Não é da essência do mecanismo do cartão de crédito que o emissor pague


as despesas do portador, além do convencionado, entendendo-se que tal
atitude configura um mandato. Pelo encargo de pagar as despesas
efetuadas pelo titular, o emissor tem direito de receber deste uma
retribuição anual.
Pode também o emissor obrigar-se a abrir um crédito ao titular do cartão,
ou seja, em vez de pagar-lhe as despesas, fornece-lhe dinheiro em espécie,
o que proporciona certa comodidade, principalmente quando se tratar de
suprimentos em outras cidades ou agências que não a sua. ‘Trata-se de um
crédito resolving,
resolving, que não ultrapassa geralmente o triplo dos ganhos
mensais, e é reembolsável por frações mensais iguais, no mínimo, a dez por
cento do débito em aberto.
I – Entre o emissor e o fornecedor – O emissor assina um contrato com o
fornecedor, pelo qual se obriga a pagar as despesas efetuadas pelo
portador, até um certo montante, independentemente de falta de provisão,
insolvência ou oposição do titular do cartão. Como o uso deste só pode ser
feito perante um rol de fornecedor selecionados, incumbe ao emissor
indicá-los aos futuros compradores. Esse contrato entre o emissor e o
fornecedor tem uma duração determinada, sendo, entretanto, admissível a
renovação por recondução tácita. Cede seu crédito ao emissor, que o
recebe do portado do cartão. Pelos serviços prestados pelo emissor, tais
como indicação de fregueses e pagamento dos débitos do titular do cartão,
o fornecedor lhe paga uma comissão. Cumpre ao fornecedor verificar a
validade e autenticidade do cartão.
I – Entre o titular do cartão e o fornecedor – Vinculam-se eles por um
contrato normal de compra e venda ou de prestação de serviços,
modificado, no que tange ao pagamento, pelo uso do cartão. Vimos que o
fornecedor cede o crédito que tem para com o portador do cartão ao
emissor, em troca de promessa que este lhe faz de pagar os débitos
daquele. Trata-se, pois de uma cessão condicionada, pelo que entendemos
assistir razão a quem sustenta que ‘se por qualquer razão o emissor se

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recusa a pagar ao fornecedor, este poderá agir diretamente contra o titular


do cartão para se fazer pagar.

Espécies – Os cartões de crédito são de credenciamento ou de bom


pagador e verdadeiros ou stricto sensu.
sensu. Estes, por sua vez, se dividem em
não bancários e bancários. Os bancários podem ser: de pagamento e de
crédito real.
I – Os de credenciamento não são propriamente cartões de crédito, na
acepção que tem hoje o instituto, de vez que habilitam seu titular a
aquisições a prazo apenas em determinada empresa, que é a própria
emissora.
II – Os cartões de crédito verdadeiros ou stricto sensu credenciam seu
portador à compra de bens e serviços numa pluralidade de empresas
filiadas aos sistema.
Os cartões de crédito não bancários são os emitidos por organizações
outras que não os bancos(Diners Club, etc), mas que não deixam de ser
financeiras, porquanto fazem do crédito sua negociação principal.
principal.

Gerson Luiz Carlos Branco – O sistema contratual.... – (pág – 70) – 1.3. A


regulamentação do cartão de crédito
Introduzido no Brasil pelo Diner’s Club, hoje existem várias empresas do
ramo, quase todas ligadas a conglomerados financeiros do setor bancário,
sem que haja uma regulamentação específica sobre essa atividade, que
alterou significativamente o perfil do cartão de crédito.
Porém no que tange ao crédito e a outros aspectos circunvizinhos, existem
algumas normas, circulares e portarias do Banco Central e do Conselho
Monetário Nacional que lhe referem, sem porém estabelecer deveres,
responsabilidades, e muito menos uma caracterização geral e conceituação.
São regras que disciplinam as atividades das instituições financeiras na
concessão de crédito, e não propriamente cartão de crédito, como, por
exemplo, o Ato Declaratório Normativo nº 43, de 29 de dezembro de 1995, da

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Secretaria da Receita Federal sobre incidência de imposto sobre operações


financeiras
‘Em caráter normativo, às Superintendências Regionais
da Receita Federal e as demais interessados que, nos
termos do Regulamento do IOF, aprovado pela Resolução
nº 1.301, de 06 de abril de 1987, do Conselho Monetário
Nacional:
i – as operações de financiamento destinadas à cobertura
de saldos devedores de créditos concedidos a titulares
de contas de depósitos a vista, bem como de saldos
devedores vencidos mediante utilização de cartão de
crédito, nos termos autorizados na Carta-Circular nº
2.581, de 21 de junho de 1995, do Banco Central do Brasil,
são operações de crédito novas e, como tal, são
tributáveis: ...”

14.2. Amplitude obrigacional


14.3. Espécies
14.4. Natureza jurídica
14.5. Extinção
Capítulo XV
15. Leasing Bancário
15.1. Conceito e natureza jurídica
15.2. Características
15.3. Conteúdo e forma do contrato
15.4. Encargos contratuais no leasing
15.5. Rescisão do contrato: causas e efeitos
15.6. Aspectos jurídico-processuais do leasing
Capítulo XVI

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16. Alienação Fiduciária em Garantia


16.1. Conceituação
16.2. Sujeitos do contrato
16.3. Forma e conteúdo do contrato
16.4. Responsabilidades dos contratantes
16.5. Registro do contrato
16.6. Aspectos processuais
16.7. Extinção do contrato
Capítulo XVII
17. Operações Bancárias e os Meios Eletrônicos
17.1. A internet e os reflexos nas contratações bancárias
17.2. Outros meios eletrônicos

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