DIREITO EMPRESARIAL
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
Súmula 581-STJ
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
A recuperação judicial surgiu para substituir a antiga “concordata” e tem por objetivo viabilizar a
superação da situação de crise do devedor, a fim de permitir que a atividade empresária se mantenha e,
com isso, sejam preservados os empregos dos trabalhadores e os interesses dos credores.
A recuperação judicial consiste, portanto, em um processo judicial, no qual será construído e executado
um plano com o objetivo de recuperar a empresa que está em vias de efetivamente ir à falência.
FASES DA RECUPERAÇÃO
De forma resumida, a recuperação judicial possui três fases:
a) postulação: inicia-se com o pedido de recuperação e vai até o despacho de processamento;
b) processamento: vai do despacho de processamento até a decisão concessiva;
c) execução: da decisão concessiva até o encerramento da recuperação judicial.
JUÍZO FALIMENTAR
A Lei nº 11.101/2005, em seu art. 3º, prevê que é competente para deferir a recuperação judicial o juízo
do local do principal estabelecimento do devedor ou da filial de empresa que tenha sede fora do Brasil.
A falência e a recuperação judicial são sempre processadas e julgadas na Justiça estadual.
PLANO DE RECUPERAÇÃO
Em até 60 dias após o despacho de processamento da recuperação judicial, o devedor deverá apresentar
em juízo um plano de recuperação da empresa, sob pena de convolação (conversão) do processo de
recuperação em falência.
Este plano deverá conter:
discriminação pormenorizada dos meios de recuperação a serem empregados (art. 50);
demonstração de sua viabilidade econômica; e
laudo econômico-financeiro e de avaliação dos bens e ativos do devedor, subscrito por profissional
legalmente habilitado ou empresa especializada.
Os credores analisam o plano apresentado, que pode ser aprovado ou não pela assembleia geral de credores.
Se o plano não for aprovado: o juiz decreta a falência (salvo na hipótese do art. 58, § 1º).
Se o plano for aprovado: o juiz homologa a aprovação e concede a recuperação judicial, iniciando-se a
fase de execução. Atenção: no regime atual, o plano de recuperação é aprovado pelos credores e apenas
homologado pelo juiz.
A novação decorrente da recuperação judicial implica a extinção de garantias que haviam sido
prestadas aos credores?
NÃO. A novação prevista no Código Civil extingue sim os acessórios e as garantias da dívida, sempre que
não houver estipulação em contrário (art. 364).
Súmula 581-STJ – Márcio André Lopes Cavalcante | 2
No entanto, na novação prevista no art. 59 da Lei nº 11.101/2005 ocorre justamente o contrário, ou
seja, as garantias são mantidas, sobretudo as garantias reais, as quais só serão suprimidas ou
substituídas “mediante aprovação expressa do credor titular da respectiva garantia”, por ocasião da
alienação do bem gravado (art. 50, § 1º).
Portanto, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas a ele submetidas, as
garantias reais ou fidejussórias, de regra, são preservadas, circunstância que possibilita ao credor
exercer seus direitos contra terceiros garantidores e impõe a manutenção das ações e execuções
aforadas em face de fiadores, avalistas ou coobrigados em geral.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.326.888-RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 8/4/2014 (Info 540).
Exemplo:
A sociedade GW Ltda. emitiu uma nota promissória em favor da empresa X. Gabriel (sócio da GW) figurou
como avalista na nota promissória, ou seja, ele ofereceu uma garantia pessoal de pagamento da dívida.
Ocorre que a sociedade GW Ltda. requereu recuperação judicial e o plano foi aprovado. A empresa X
ajuizou, então, execução de título extrajudicial cobrando de Gabriel o valor da nota promissória vencida.
Gabriel defendeu-se alegando que, como foi aprovado o plano de recuperação judicial, houve novação e a
execução deveria ser extinta.
O STJ não concordou com a tese. Para a Corte, a homologação do plano de recuperação judicial da
devedora principal não implica a extinção de execução de título extrajudicial ajuizada em face de sócio
coobrigado.
Conforme já explicado, muito embora o plano de recuperação judicial opere novação das dívidas
anteriores, as garantias (reais ou fidejussórias), comoregra, são preservadas. Logo, o aval (garantia)
prestado por Gabriel não foi extinto com a aprovação do plano.
Diante disso, o credor poderá exercer seus direitos contra Gabriel (terceiro garantidor), devendo,
portanto, ser mantida a execução proposta contra ele.
O STJ reafirmou esse entendimento em recurso especial repetitivo, fixando a seguinte tese:
A recuperação judicial do devedor principal não impede o prosseguimento das execuções nem induz
suspensão ou extinção de ações ajuizadas contra terceiros devedores solidários ou coobrigados em
geral, por garantia cambial, real ou fidejussória, pois não se lhes aplicam a suspensão prevista nos arts.
6º, caput, e 52, inciso III, ou a novação a que se refere o art. 59, caput, por força do que dispõe o art. 49,
§ 1º, todos da Lei n. 11.101/2005.
(STJ. 2ª Seção. REsp 1333349/SP, Rel. Min.Luis Felipe Salomão, julgado em 26/11/2014)
Na I Jornada de Direito Comercial do CJF⁄STJ já havia sido aprovado enunciado espelhando a posição:
Enunciado 43: A suspensão das ações e execuções previstas no art. 6º da Lei n. 11.101⁄2005 não se
estende aos coobrigados do devedor.