Resumo
Abstract
1
Estudante. Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. E-mail: dudagu@hotmail.com
2
Mestre. Estudante de Pós-Graduação. Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul –
UNIJUÍ. E-mail: cassiaengres@hotmail.com
3
Bacharela em Serviço Social. Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. Email: juliana.jd@gmail.com
4
Estudante. Universidade Federal de Santa Maria – UFSM. E-mail: katiele.rodrigues@hotmail.com
1. INTRODUÇÃO
No espaço rural, esta produção industrial adquiriu a forma dos pacotes tecnológicos
da Revolução Verde e, no Brasil, assumiu – marcadamente nos anos 60 e 70 – a
prioridade do subsídio de créditos agrícolas para estimular a grande produção
agrícola, as esferas agroindustriais, as empresas de maquinários e de insumos
industriais para uso agrícola – como tratores, herbicidas e fertilizantes químicos –, a
agricultura de exportação, a produção de processados para a exportação e a
diferenciação do consumo – como de queijos e iogurtes.
I - Não ter, a qualquer título, área maior do que oito hectares [ou 80 mil metros
quadrados em média, dependendo do Estado].
II - Utilizar predominantemente mão de obra da própria família nas atividades
econômicas do seu estabelecimento ou empreendimento.
III - Ter renda familiar predominantemente originada de atividades econômicas
vinculadas ao próprio estabelecimento ou empreendimento.
IV - Dirigir seu estabelecimento ou empreendimento com sua família. (BRASIL,
2006)
A vida no meio rural traz em si elementos que são comuns a todos os habitantes
de determinada região, constituindo-se na identidade daquela população. Esses elementos
são múltiplos podendo ser materiais ou imateriais e remetem ao passo de lutas e conquistas
desta população, como as construções antigas que abrigaram diversas gerações, a música
e a dança presentes nas festas da comunidade e também os elementos que remetem o
trabalho no campo e a produção dos alimentos. Referente aos que se refere ao modo de
produção pode-se destacar que desde início do cultivo da terra, há cerca de 10 mil anos, os
agricultores selecionam as melhores plantas produtivas e adaptadas ao solo e clima e isso é
uma prática constante. E foi assim que surgiram as muitas variedades que existem hoje.
Essas sementes constituem um patrimônio cultural e genético e podem ser divididas em
dois grupos, as industriais e as tradicionais também chamadas de crioulas.
A semente crioula é uma variedade desenvolvida e produzida por agricultores
familiares, assentados da reforma agraria, quilombolas ou indígenas, onde cada
comunidade tem suas características determinadas e reconhecidas. Essas sementes são
preservadas em bancos de sementes protegidas pelos guardiões e são passadas de
geração para geração.
Mantidas à margem do comércio formal, este cenário começou a sofrer
alterações em 2003 quando teve início o Programa de Aquisição Alimentar (PAA) que é o
primeiro programa de compras públicas para aquisição de produtos produzidos por
agricultores enquadrados no Programa Nacional de fortalecimento da Agricultura Familiar
(PRONAF). O PAA deu início ao processo de estímulos institucionais para promover e
incentivar a participação de mulheres e agricultores familiares em maior vulnerabilidade
social. O PAA promove a aquisição de um conjunto diverso de alimentos, permitindo assim
que as famílias produzam uma série de produtos diversificados, contribuindo para o resgate
e o fortalecimento da cultura alimentar, pois muitos alimentos produzidos anteriormente não
tinham destinação comercial, eram restritos ao consumo familiar, mas agora podem ser
comercializados.
Não raro são produtos característicos da produção para o autoconsumo, da
subsistência das famílias, cultivados em pequenas quantidades, em áreas próximas a casa
ou não usadas para os cultivos comerciais principais (SILIPRANDI; CINTRÃO, 2014).
Segundo Siliprandi e Cintrão (2014, p. 119), “há casos em que o PAA cria (ou recria) formas
de escoamento para produtos que estavam à margem dos mercados hegemônicos, que
estavam sendo deixados de ser produzidos por muitas famílias”. Similarmente Mielitz (2014,
p. 67) salienta que “vários produtos anteriormente abandonados da prática alimentar
cotidiana por não serem considerados modernos, principalmente pelos mais jovens, voltam
a ser consumidos”. Assim temos uma diversidade produtiva, alimentar e cultural da
agricultura familiar e o resgate dos produtos, modos de fazer, receitas e de histórias de
pessoas, comunidades e lugares.
O PAA estimula a produção agroecológica e orgânica com um sobrepreço de até
30% aos produtos cultivados e também promove a aquisição de sementes crioulas
permitindo fortalecer os processos sociais de resgate e uso dessa biodiversidade. Estas
medidas também contribuíram para a autonomia das unidades familiares por meio da
promoção de uma matriz produtiva orientada pela redução de insumos externos à
propriedade e pela coprodução com a natureza (PLOEG, 2008). Conforme Moreira et al.
(2010, p. 210), este diferencial no preço visa promover
Segundo dados de Mielitz (2014), são mais de 400 produtos distintos adquiridos
pelo PAA, explicitando a diversidade produtiva e alimentar abarcada. Também têm sido
crescentes os recursos aplicados na aquisição de produtos da sociobiodiversidade e de
sementes crioulas (Porto et al., 2014). E a inclusão e o reconhecimento das sementes
crioulas foram importantes na trajetória do PAA em prol da agroecologia.
E são os agricultores e agricultoras familiares responsáveis pela conservação
desse patrimônio importantíssimo - as sementes crioulas -, pois as cultivam, conservam,
trocam diferentes espécies próprias de suas regiões e por ser também a expressão da
cultura de povos que sempre viveram da terra. Também são eles os Guardiões e as
Guardiãs de sementes crioulas, que preservam o conhecimento que atravessa gerações e
produzem novos saberes sobre o plantio de sementes de cultivares crioulas. E é através da
prática da preservação dessas sementes que vai contribuir para a preservação desse
patrimônio, para o meio ambiente e para a renda dessas famílias produtoras, por não terão
que comprar sementes para plantar.
As sementes crioulas são parte componente do patrimônio cultural rural. Sua
origem está vinculada a seleção dos melhores exemplares de cada espécie, de modo que
as novas plantas resultem de um constante processo de aprimoramento.
Como seu processo de melhoramento é natural e ocorre a longo prazo, as
sementes crioulas possuem menor rendimento em relação às sementes tratadas, porém são
mais resistentes e menos dependentes de insumos. Possuem características regionais e
culturais, e são o resultado do trabalho árduo de pequenos agricultores, que perpassa
gerações para chegar até o plantio. As sementes selecionadas são guardadas, reutilizadas
e compartilhadas através de trocas, o que proporciona a diversidade das mesmas. O
resgate destas sementes visa o aumento da biodiversidade e a valorização da identidade
local e cultural. As sementes crioulas se tornam cada vez mais raras, pois possuem
rendimento menor que as sementes tratadas, não atendendo à demanda de produção
capitalista, o que muitas vezes leva a marginalização do agricultor familiar no que se refere
às políticas públicas.
Os guardiões de sementes desempenham um papel importante na sociedade,
pois se dedicam em preservar o patrimônio cultural das espécies, sendo responsáveis pelo
cultivo, conservação e seleção de diversas espécies de sementes, trabalhando de maneira
equilibrada com o meio ambiente. Neste sentido, os bancos comunitários proporcionam a
autonomia dos agricultores ao possibilitar o armazenamento e a troca das sementes,
através de redes de troca entre diferentes guardiões, através das feiras, garantindo a
circulação de variadas sementes, assim como a troca de conhecimento de agricultores e
agricultoras, pois estas sementes mantém viva a história cultural de inúmeras famílias.
Neste contexto Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) que é uma ação do
governo federal, proporciona o agricultor familiar a vender seus alimentos produzidos a partir
de sementes puras. Neste programa o Estado adquire produtos dos agricultores, e estes
são destinados a quem precisa, como forma de incentivo a agroecologia e a produção
orgânica. O PAA tem como objetivos promover o acesso à alimentação e incentivar a
agricultura familiar. Para o alcance desses dois objetivos, o Programa compra alimentos
produzidos pela agricultura familiar, com dispensa de licitação, e os destina às pessoas em
situação de insegurança alimentar e nutricional e àquelas atendidas pela rede
socioassistencial e pelos equipamentos públicos de alimentação e nutrição. (BRASIL, 2012)
Logo, destaca-se a relevância do programa ao possibilitar o incentivo à
agricultura familiar e a promoção da alimentação saudável da população através do
consumo de alimentos que ofereçam segurança alimentar e nutricional, como no caso dos
alimentos produzidos a partir do uso das sementes crioulas. Além disso, ações como essa
proporcionam o enfrentamento das desigualdades sociais, pois a renda obtida permite ao
agricultor familiar permanecer no campo, reduzindo o êxodo rural.
5. CONCLUSÃO
Diante do que fora exposto neste trabalho é possível concluir que a agricultura
familiar desempenha um importante papel no desenvolvimento do Brasil. Esta constatação
se dá a partir da análise de um breve histórico acerca da agricultura no país e a intervenção
capitalista que acaba por dificultar a expansão da agricultura familiar e a expansão do uso
das sementes crioulas através de entraves legais.
Porém, apesar das dificuldades, tem-se observado nos últimos anos um
considerável avanço através do incentivo estatal por meio de políticas sociais para o
fortalecimento e a consolidação da agricultura familiar, já que esta se constitui também
como uma forma de enfrentamento das desigualdades sociais, ao possibilitar a permanência
das famílias no meio rural através da obtenção de renda derivada da venda dos produtos
produzidos. Outro fator que contribui para a permanência é a existência de incentivo por
meio de programas de aquisição alimentar onde contribuem para o resgate e o
fortalecimento de uma diversidade produtiva, alimentar e cultural da agricultura familiar
aumentando assim sua renda. Além disso, o meio rural deve ser compreendido em
dimensões muito mais amplas do que meramente um modo de vida e produção, este possui
elementos culturais, sociais, históricos que necessitam ser preservados pois carregam
diversos significados para a população ali residente.
REFERÊNCIAS
ALTAFIM, Iara. Reflexões sobre o conceito de agricultura familiar. Brasília. UnB, 2008.
_____. Lei n. 11. 326, de 24 de julho de 2006. Estabelece as diretrizes para a formulação da
Política Nacional da Agricultura Familiar e Empreendimentos Familiares Rurais. Brasília, DF.
Disponível em: < http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei/2006/lei-11326-24-julho-2006-
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______. Lei n. 11.346, de 15 de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança
Alimentar e Nutricional – SISAN com vistas em assegurar o direito humano à alimentação
adequada. Diário Oficial da União, 18 set. 2006. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11346.htm> Acesso em: 07
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CARVALHO, J. M. de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 19 ed. Rio de Janeiro, RJ,
Civilização Brasileira. 2015