Banca Avaliadora:
.......................................................................................................................................
Profª Analice de Oliveira Martins (orientadora)
Doutora em Estudos de Literatura
Centro Federal de Educação Tecnológica/Campos
.......................................................................................................................................
Profª Edinalda Maria Almeida da Silva
Mestra em Comunicação e Cultura
Centro Federal de Educação Tecnológica/Campos
.......................................................................................................................................
Profª Renata Queiroz Soares
Mestra em Cognição e Linguagem
Centro Federal de Educação Tecnológica/Campos
Aos meus amigos e à minha família.
Edward W. Said
RESUMO
INTRODUÇÃO……………………………………………………………………………..10
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 38
10
INTRODUÇÃO
Da-Rin expõe algumas tentativas de definição mais precisas, mas que não
resolvem a questão, como a de que o documentário seria o “tratamento criativo da
realidade” (2006, p.16), definição esta atribuída ao inglês John Grierson.
Nesta questão de conceituação, há quem estabeleça uma oposição entre
documentário e ficção. Também há quem não acredite nesta oposição, como é o
caso do cineasta francês Jean-Luc Godard: “... todos os filmes de ficção tendem ao
documentário, como todos os grandes documentários tendem à ficção (...) E quem
opta a fundo por um encontra necessariamente o outro no fim do caminho”
(GODARD apud DA-RIN, 2006, p. 17).
Bill Nichols, no artigo “Introdução ao documentário”, também se dedica a
explicitar a dificuldade de se definir o que seria um documentário:
2 – REPRESENTAÇÕES DO INTELECTUAL
intelectual), atua como um tradutor, aquele que vai até a realidade, interpela-a, tira
suas conclusões e nos expõe tal realidade, sempre a partir de seu ponto de vista, a
partir de suas interpretações e intenções.
Com isso, é importante salientar que, em cinema, a forma como um filme é
realizado é tão importante quanto o conteúdo, pois um filme é um conjunto de
práticas: roteiro, fotografia, edição, ritmo etc. E é este conjunto de práticas que faz
com que o assunto a ser abordado pela obra tome corpo e chegue ao público da
forma como foi idealizada, assim, (re)afirmando a intencionalidade na confecção de
um material audiovisual, sobretudo os de não-ficção.
Portanto, torna-se inadequado discutir um filme levando em consideração
apenas seu assunto, pois, desta forma, apenas se debate uma pequena parte da
obra. Há quem possa até questionar dizendo que, desta maneira, isso se tornaria
uma discussão acerca das questões técnicas, mas, não, isso seria considerar o filme
como um todo, debatê-lo enquanto um conjunto de práticas.
A estrutura de realização adotada por José Padilha (uma estrutura de certa
forma comum aos filmes documentários) proporciona a construção de uma
representação mediada pelo olhar, apenas, do intelectual.
Diferentemente do que ocorre em O Prisioneiro da Grade de Ferro (auto-
retratos), a estrutura de realização faz com que o filme seja concretizado, em sua
grande parte, pelo objeto, que normalmente teria uma representação construída pela
mediação do ponto de vista do cineasta. O objeto do filme realiza um filme sobre ele
mesmo, realiza uma auto-representação. O documentário de Paulo Sacramento foi
realizado (em sua grande parte), por alguns detentos da Casa de Detenção de São
Paulo (Carandiru) após participarem de algumas oficinas audiovisuais2.
Essa auto-representação, contudo, é realizada em conjunto com o
documentarista, o intelectual. Assim, fazendo do documentário um “gênero coletivo e
interacional” (VERSIANI, 2005, p. 82), pois o documentarista compartilha seu
posicionamento sobre o assunto que procura tratar em seu filme com o objeto do
trabalho.
Neste ponto, a leitura que a pesquisadora Daniela Versiani faz, em sua tese
3
Malinowsk é considerado um dos fundadores da antropologia social, também conhecida como a
escola funcionalista.
4
Obra, em termos de texto etnográfico, considerada modelo de acordo com os tradicionais princípios
da antropologia moderna.
20
Nesta obra, sob este prisma, podemos ouvir as vozes dos detentos a todo
instante. A título de exemplo, podemos observar o desenrolar de uma das
seqüências iniciais do filme em questão, onde um sujeito conhecido com FW MC é o
protagonista.
A seqüência se inicia com ele e seu parceiro de rap – Kric MC – cantando
para outros detentos. Logo em seguida, aparece na tela FW andando com uma
câmera na mão e sua voz em off dizendo que irá mostrar a realidade da prisão e
que o filme é um auto-retrato: “esse é o nosso auto-retrato”.
Esta seqüência é composta por imagens do detento recebendo orientações
para manuseio do equipamento, jogo de futebol no pátio do presídio, lixo sendo
recolhido de fossa etc., até o momento em que FW se recolhe em sua cela e,
olhando através das grades de ferro, observa o pátio vazio ao som de Ave Maria.
Sem precisar recorrer ao depoimento, recurso comumente utilizado em
documentários, FW mostra, por meio de um texto construído por imagens, como é
seu cotidiano, o que ele acha mais representativo. Tanto os aspectos positivos
quanto os negativos estão expressos na seqüência. Ele não precisou depor, mas
ouvimos o que ele quis dizer.
Esta seqüência, o fato de não precisar depor para ouvirmos sua voz, acaba
por configurar uma ruptura com certa tradição do documentário, que é a de pautar-
se em depoimentos que são utilizados no intuito de dar crédito ao que o
documentarista quer dizer com o filme que realizou.
A alternativa a esse recurso tradicional do depoimento pode ser considerada
uma substituição de uma voz de autoridade do intelectual na construção de
representações. Para sustentar esta idéia, pode-se recorrer à discussão feita por
Paulo Roberto Tonani do Patrocínio em sua Dissertação de Mestrado, Entre o morro
e o asfalto: imagens da favela nos discursos culturais brasileiros5, em que,
recorrendo a Foucault, diz que o intelectual deve “ser crítico de suas próprias
condições de trabalho” (BRUNI apud PATROCÍNIO, 2006, p. 82) para que o
5
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Letras do Departamento de Letras
da PUC-Rio. Rio de Janeiro, 10 de março de 2006.
21
6
Projeto financiado pelo Propic, a primeira etapa da pesquisa teve início em fevereiro de 2006 e foi
finalizada em fevereiro de 2007. Após este prazo, foi renovada por mais doze meses, devendo
terminar em fevereiro de 2008.
7
Livro de autoria colaborativa, sobre violência urbana a partir de depoimentos de jovens brasileiros
envolvidos no tráfico de drogas, escrito pelo rapper MV Bill, pelo empresário de rap e hip-hop
23
Celso Athayde e pelo antropólogo Luis Eduardo Soares. Editora Objetiva, 2005.
8
BENTES, Ivana. “Estéticas da violência no Cinema”. In: Revista Semiosfera,
dez.2003.http://www.eco.ufrj.br/semiosfera/anteriores/especial2003/conteudo_ibentes.htm
24
9
BENTES, Ivana. “Estéticas da violência no Cinema”. In: Revista Semiosfera,
dez.2003.http://www.eco.ufrj.br/semiosfera/anteriores/especial2003/conteudo_ibentes.htm
25
exilado, pois tal situação, o exílio, não representa a idéia equivocadamente difundida
de que seria um corte absoluto com o local de origem, muito menos a crença de
uma total integração em seu novo espaço de convívio. Com isso, tal intelectual tem
de viver todo o tempo com a certeza do exílio e com a idéia de não estar
efetivamente tão distante de casa assim, numa espécie de não pertencimento ao
lugar onde se está e nem de onde se veio:
10
Entendendo establishment como grupo sociopolítico que exerce sua autoridade, controle ou
influência, defendendo seus privilégios; ordem estabelecida, sistema.
26
11 O debate refere-se ao papel do intelectual, enquanto mediador portador da voz que fala pelos que
não a têm, levando-se em consideração a ruptura com esta postura realizada no documentário de
Paulo Sacramento.
27
12
Matéria disponível em: http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM734352-7823-
OS+BASTIDORES+DA+TROPA,00.html
28
13 Em entrevista para a revista Bravo, onde, também, Padilha revela que vendeu o roteiro do filme
para Weinsten Company por US$ 1,75 milhão, disponível em:
http://bravonline.abril.com.br/indices/cinema/cinemamateria_265136.shtml?printpage.
14
Essa manobra foi noticiada por jornais, revistas e sites como:
http://insightpublicidade.wordpress.com/2008/02/17/tropa-de-elite-conquista-o-urso-de-ouro-em-
berlim/
29
3 – AUTO-RETRATO DO PRISIONEIRO
15
“Esse conceito que descreve o processo pelo qual nos identificamos com os outros” (WOODWARD
apud SILVA, 2000, p. 18).
16
Subjugado no sentido de que há vetores de força, relações de poder impondo algo.
31
17
Deve-se levar em consideração que uma das maiores acusações imputadas ao filme foi a escolha
do ponto de vista exclusivo do Capitão Nascimento, e que José Padilha e até o ator Wagner
Moura se defenderam veemente dessas críticas.
33
CONSIDERAÇÕES FINAIS
processos simbólicos como na referência aos estudos sobre práticas e papéis dos
jornalistas na Internet, de Jorge Rocha, um cartógrafo do conhecimento.
Outro aspecto importante referente ao intelectual contemporâneo é sobre o
seu papel na sociedade. Observamos que existem posturas nas quais ele pode se
enquadrar (o “profissional” e o “amador”), sendo que a proposta deste trabalho é a
de que o intelectual seja livre para escolher sua postura, mas que sua escolha seja
clara para a sociedade.
Por fim, foi possível verificar, por meio da estrutura de realização documental
experimentada por Paulo Sacramento, os mecanismos que possibilitaram o
processo de construção e afirmação de identidades culturais, a partir da
identificação do “Eu” no “Outro”, e a realização da auto-representação.
REFERÊNCIAS
DANCYGER, Ken. Técnicas de Edição para Cinema e Vídeo: história, teoria prática.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2003.
FILHO, Domício Proença. Estilos de época na literatura. 4ª. Ed. Rio de Janeiro:
Editora Liceu, 1973.
NICHOLS, Bill. A voz do documentário, p. 47-67. In: RAMOS, Fernão Pessoa (org.).
Teoria contemporânea do cinema volume II: documentário e narrativa ficcional.
São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2005.
FILMOGRAFIA