!
a b
Seja A = uma matriz 2 × 2 real e seja T a transformação (operador) linear de R2
c d
induzida por A
T : R2 → R2 (1)
X 7→ T (X) = AX
Nosso objetivo é escolher P de tal maneira que P −1 AP seja o mais simples possível. Equivalen-
temente queremos escolher uma base B de tal maneira que a transformação linear T seja a mais
simples possível geometricamente.
Dizemos que um número λ é autovalor de A, se existir um vetor v não nulo tal que Av = λv . Ou
seja, se o sistema de duas equações com duas incógnitas (A − λI)v = 0 tiver solução não trivial.
Portanto λ será autovalor de A se e somente se a matriz (A − λI) for não inversível, ou seja se
det(A − λI) = 0, já que se esta matriz tiver inversa, o sistema homogêneo terá apenas solução
trivial. Chamamos de polinômio característico de A
p(λ) = det(A − λI)
1 Autovalores Complexos
1.1 Modelo
1
O polinômio característico de Rθ é dado por
det(Rθ − λI) = λ2 − tr(Rθ )λ + det(Rθ ) = λ2 − 2 cos θ λ + 1
de tal maneira que os autovalores de Rθ (raízes do polinônio característico) são dados por
p
λ = cos θ ± cos2 θ − 1
Ou seja, temos um par de autovalores complexos: λ = cos θ + i sen θ e λ = cos θ − i sen θ (seu
complexo conjugado) .
o que implica que y = −i x e portanto um autovetor (complexo) é dado por w = (1, −i).
1.2 Exemplo
! √
1 −1 1 3 π π
Seja A = . Seus autovalores são λ = ± i = cos ± i sen .
1 0 2 2 3 3
Queremos mostrar que A é semelhante à rotação de π/3, isto é, que existe uma matrix P ,
inversível tal que P −1 AP = Rπ/3 .
2
ou seja o autovetor w é dado por
! √ ! ! √ !
1 3 1 3
x1 +i 2
w= = 2 2 = +i 2
y1 1 1 0
√
Analogamente, para λ = 1
2 −i 2
3
obtemos o autovetor
√ ! ! √ !
1 3 1 3
−i 2
w= 2 2 = −i 2
1 1 0
Ou seja, w = u + iv e w = u − iv com
! √ !
1 3
u= 2 ,v = 2
1 0
vetores não nulos e linearmente independentes de R2 , de tal maneira que a matriz P = (v|u) é
inversível.
!
a b
Seja A = , uma matriz 2 × 2, com entradas reais, tal que seu polinônio característico,
c d
p(λ) = det(A − λI) não tenha raízes reais.
λ = α + iβ , λ = α − iβ
com v
u a − d 2
u
(a + d)
α= β = t + bc 6= 0
2 2
3
reais. Note que uma raiz é o complexo conjugado da outra. Assim, A tem um par de autovalores
complexos λ e λ.
e portanto
Av = αv + βu (3)
Au = −β v + α u
Assumindo (vamos demonstrar este fato mais tarde) que u e v são vetores linearmente indepen-
dentes, eles formam uma base para R2 . Se T é a transformação linear induzida pela matriz
A, dada em (1) e levarmos em conta as equações (3), na base B = {v, u} a transformação T é
representada pela matriz !
α −β
[T ]B
B = =M (4)
β α
ou seja, se P = v u = [I]C B é a matriz de mudança da base B para a base canônica C ,
então A = [T ]C = [I]B [T ]B [I]C = P M P −1 .
C C B B
onde r = α2 + β 2 é um número real positivo e 0 ≤ θ < 2π é denido por cos θ = α/r, sin θ =
p
Teorema 1 Seja A uma matriz 2×2 real, tal que as raízes de seu polinômio característico sejam
complexas, λ = r(cos θ + i sen θ). Então A é semelhante a M = rRθ , onde Rθ é a matriz de
rotação de θ como em (2).
Vamos agora demonstrar que a parte real e a parte imaginária dos autovetores de uma matriz real
são vetores reais linearmente independentes. Tal demonstração na verdade, vale para matrizes
n × n.
Proposição 2 Seja A uma matriz quadrada, n × n, com entradas reais tal seu polinômio car-
acterístico tenha um par de as raízes complexas λ e λ. Então se w = u + iv é um autovetor tal
que A w = λw , u e v são vetores de Rn linearmente independentes.
4
Demonstração:
Aw = λw ⇒ Aw = λw ⇒ Aw = λw ⇒ Aw = λw
λw = Aw = Aw = λ w = λ w ⇒ (λ − λ)w = 0
Como u é real, não pode ser autovetor de A portanto u e v não podem ser linearmente
dependentes.
c.q.d
1.4 Exemplo
!
0 1
Seja A = .
−2 −2
5
O autovetor w = (w1 , w2 ) associado a λ = −1 + i é dado por
! ! !
0 1 w1 w1
= −1 + i
−2 −2 w2 w2
! ! !
1 1 0
e portanto w2 = (−1 + i)w1 . Assim w = = +i
−1 + i −1 1
! !
1 0
Note que o autovetor associado a −1 − i é dado por −i
−1 1
! !
1 0
Temos assim 2 vetores reais u = ev = que são linearmente independentes e
−1 1
portanto constituem uma base B = {v, u} (não ortogonal) do plano R2 .
!
0 1
P =
1 −1
Infelizmente, como a base B não é ortonormal a tranferência destas informações para a base
canônica não é óbvia. Podemos ter uma idéia da geometria desta transformação se considerarmos
o efeito da mudança de base sobre círculos nas coordenadas (x0 , y 0 ) da base √
B . Isto porque, como
nestas coordenadas a transformação linear (a menos do fator multiplicativo 2) é uma rotação de
3π/4, podemos pensar que qualquer vetor roda sobre um círculo de raio igual ao seu comprimento.
Assim consideremos o círculo (x0 )2 +(y 0 )2 = 1 nas coordenadas da base B . Sabemos que a matriz
de transição da base canônica para a base B é P −1 , portanto
! ! !
x 1 1 x
=
y 1 0 y
e temos que
x0 = x + y
y0 = x
2x2 + 2xy + y 2 = 1
A equação acima representa uma elipse rodada com relação ao eixo x das coordenadas originais.
(Verique isto.)
6
2 Autovalores Repetidos
2.1 Modelo
cujo polinômio característico tem λ como raiz dupla (multiplicidade algébrica 2). A equação de
autovetores correspondentes é dada por λx + y = λx e portanto o conjunto dos autovetores, o
autoespaço Wλ , é gerado por wλ = (1, 0).
Note que esta conclusão é óbvia a partir da forma da matriz Sλ , já que a primeira coluna é a
imagem de (1,0) e a segunda a imagem de (0,1).
2.2 Exemplo
!
5 −1
Seja A = . Seu polinônio característico é p(λ) = λ2 − 8λ + 16 que possui como única
1 3
raiz λ = 4.
Os autovetores são dados por 5x − y = 4x e portanto o auto espaço W4 = ger{(1, 1)} tem
dimensão 1. Logo, A não é diagonalizável.
7
Tomando um vetor v = (x, y) qualquer temos
! ! ! ! !
5 −1 x 5x − y x 1
= =4 + (x − y)
1 3 y x + 3y y 1
Portanto concluímos que, como no modelo anterior, a imagem de um vetor qualquer é igual ao
mesmo vetor multiplicado pelo autovalor, somada a um autovetor, isto é
Av = λv + w , w ∈ Wλ .
Tomemos o vetor v = (1, −1) que é ortogonal ao autoespaço gerado por w = (1, 1). Temos que
Av = (−6, 2). Tomemos agora a matriz
!
1 −1
P = (w|v) =
1 1
Exercícios:
Suponhamos que o polinômio característico da matriz A, real e 2 × 2 tenha apenas uma raiz real
λ (de multiplicidade 2). Suponhamos também que a este autovalor esteja associado um único
autovetor, a menos de um fator multiplicativo, isto é que a dimensão autoespaço Wλ seja 1. A
idéia é estudar a ação de A sobre os vetores que não estão no subespaço Wλ .
8
Segue da proposição acima que a transformação linear associada a A é um cisalhamento na
direção dos autovetores, já que a imagem de qualquer vetor v é obtida multiplicando o vetor pelo
autovalor e somando um autovetor, isto é Av = λv + w, com w autovetor.
Portanto nesta base, a transformação linear T , associada à matriz A é representada pela matriz
de cisalhamento Sλ ou seja, se P = (u|v) = [I]C B é a matriz de mudança da base B para a base
canônica C , então A = [T ]C
C = [I]C [T ]B [I]B = P S P −1 .
B B C λ c.q.d.
Denimos u = Av − λv .
1. u 6= 0:
Se u = 0, Av = λv , o que é impossível pois v ∈
/ Wλ .
c.q.d.
9
2.4 Algoritmo
Dada uma matriz A, 2 × 2, com um único autovetor, vamos escolher uma matriz P tal que A
seja semelhante a matriz de cisalhamento. Em outras palavras, vamos escolher uma base B de
R2 tal que a transformação associada seja representada pela matriz de cisalhamento.
2.5 Exemplo
!
5 1
A=
−4 1
Assim !
5 −10
P =
2 1
Exercíos:
10