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ÉTICA E DIREITO – Por ADÃO AVELINO MANUEL
A discussão sobre a questão da Eutanásia, como mecanismo usado pela medicina para
por fim à vida de um doente, mediante concordância sua, ou na sua impossibilidade, a
dos seus familiares.
Não havendo legislação que proteje a clássica médica sobre estas matérias, e no caso
de ocorrência declarada, pode o magistrado eximir-se de julgar alegando inexistência
de regulamentação? A questão da eutanásia precisa ou não precisa sobremodo de
uma regulamentação mais consistente.
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Este ponto de vista da absoluta inviolabilidade da vida humana permaneceu intocável até ao século dezasseis, quando
Thomas More publicou o seu livro designado Utopia.
Thomas More retracta a eutanásia para os que estão desesperadamente doentes como uma das instituições importantes
de uma comunidade ideal imaginária.
Thomas Morus É geralmente considerado como um dos grandes humanistas do Renascimento. A sua
principal obra literária é Utopia.
More foi convocado, excepcionalmente, para fazer o juramento em 17 de Abril de 1534, e, perante
sua recusa, foi preso na Torre de Londres, juntamente com o Cardeal e Bispo de Rochester John
Fisher, tendo ali escrito o "Dialogue of Comfort against Tribulation".
A sua trágica morte - condenado a pena capital por se negar a reconhecer Henrique VIII de Inglaterra como cabeça da
Igreja da Inglaterra, é considerada pela Igreja Católica como modelo de fidelidade à Igreja e à própria consciência, e
representa a luta da liberdade individual contra o poder arbitrário.
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Seguiu-se o médico e filósofo inglês Francis Bacon. O termo eutanásia foi pela primeira vez empregue por Francis Bacon,
que, em 1623, na sua obra Historia vitae et mortis, defendia ser desejável que os médicos desenvolvessem a arte de
ajudar os agonizantes a sair deste mundo, com mais doçura e serenidade.
Francis Bacon, 1°. Visconde de Alban, também referido como Bacon de Verulâmio (Londres, 22 de
Janeiro de 1561 — Londres, 9 de Abril de 1626) foi um político, filósofo, ensaísta inglês, barão de
Verulam (ou Verulamo ou ainda Verulâmio) e visconde de Saint Alban. É considerado como o
fundador da ciência moderna.
Eutanásia significa, etimologicamente, “boa morte”, que deriva da semântica grega “eu” (boa ou
bom) e “thanatos” (morte).
Influenciado pela corrente de pensamento da filosofia experimental dominante na época, Bacon sustentou a tese de que,
nas enfermidades consideradas incuráveis, era absolutamente humano e necessário dar uma boa morte e abolir o
sofrimento dos enfermos.
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Nos séculos seguintes, os filósofos britânicos David Hume, Jeremy Bentham e John Stuart Mill puseram em questão a base
religiosa da moralidade e a proibição absoluta do suicídio, da eutanásia e do infanticídio.
John Stuart Mill (Londres, 20 de Maio de 1806 — Avignon, 8 de Maio de 1873) foi um filósofo e
economista britânico nascido na Inglaterra, e um dos pensadores liberais mais influentes do século
XIX. Foi um defensor do utilitarismo, a teoria ética proposta inicialmente por seu padrinho Jeremy
Bentham. Destacam-se os seus trabalhos nos campos da filosofia política, ética, psicologia, economia
política e lógica, apesar de também ter escrito críticas literárias e até poesias.
O grande filósofo alemão do século dezoito Immanuel Kant, por outro lado, embora acreditasse que as verdades morais
se fundam na razão e não na religião, pensava, não obstante, que "o homem não pode ter poder para dispor da sua
vida".
A eutanásia acompanha a humanidade ao longo da sua existência, sendo possível encontrar diversos registos sobre o
tema, através dos tempos. Na Antiguidade, por exemplo, a sua prática era muito comum.
Em algumas comunidades pré-celtas e celtas, os filhos matavam os seus pais quando estes estivessem muito velhos e
doentes.
Na Índia, os doentes incuráveis eram atirados ao rio, depois de terem boca e narinas tapadas com uma lama ritual.
A história da Índia tem início com o registro em 1990 arqueológico da presença do homo sapiens há cerca de 34 000 anos.
Uma civilização da Idade do Bronze emergiu em época aproximadamente contemporânea às civilizações do Oriente
Médio. Como regra, a história da Índia abrange todo o subcontinente indiano, correspondente aos atuais República da
Índia, Paquistão, Bangladeche, Sri Lanca, Nepal e Butão.
A civilização do Vale do Indo surgiu no século XXXII a.C. e atingiu a maturidade a partir do
século XXV a.C. Seguiu-se-lhe a civilização védica. A origem dos indo-arianos é um ponto
de relativa controvérsia.
Em Esparta tal prática era comum, e em alguns casos, obrigatória, como no caso de recém-nascidos, com alguma
deficiência.
Esparta ou Lacedemónia foi uma proeminente Pólis (cidade-Estado) da Grécia Antiga, situada nas margens do rio Eurotas,
na Lacónia, sudeste do Peloponeso. Ela surgiu como uma entidade política em torno do século X a.C., quando os invasores
dórios subjugaram a população local. Por volta de 650 a.C., a cidade passou a se tornar o poder terrestre militar dominante
na Grécia Antiga.
Ao nascer, todas as crianças eram apresentadas para uma comissão de avaliadores
que decidiam se esta deve ou não continuar a viver. Se não fosse forte, perfeita e
saudável a criança não tinha direito à vida.
Era sacrificada em benefício da sociedade. Se fosse forte e perfeita, sem nenhum
indício de doença, era mantida com a família até aos sete anos idade. A partir daí, o
Estado se apropria dela e garante assistência e educação até os vinte anos, sob
custódia e autoridade de um magistrado responsável pela sua formação física, moral e
cívica.
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Populações rurais sul-americanas, que fossem nómadas por factores ambientais, sacrificavam anciães e enfermos, para
não os expor a ataques de animais.
O Povo Sul americano era dedicado à guerra, os astecas habitaram a região do actual México entre os séculos XIV e XVI.
Fundaram no século XIV a importante cidade de Tenochtitlán (actual Cidade do México), numa área de pântanos, próxima
do lago Texcoco.
Esta camada mais baixa da sociedade era obrigada a exercer um trabalho compulsório
para o imperador, quando este os convocava para trabalhos em obras públicas (canais
de irrigação, estradas, templos, pirâmides).
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Durante o governo do imperador Montezuma II (início do século XVI), o império asteca chegou a ser formado por
aproximadamente 500 cidades, que pagavam altos impostos para o imperador. O império começou a ser destruído em
1519 com as invasões espanholas. Os espanhóis dominaram os astecas e tomaram grande parte dos objectos de ouro
desta civilização. Não satisfeitos, ainda escravizaram os astecas, forçando-os a trabalharem nas minas de ouro e prata da
região.
A sociedade asteca era hierarquizada (dividida em camadas bem definidas) e
comandada por um imperador, chefe do exército.
Esta camada mais baixa da sociedade era obrigada a exercer um trabalho compulsório
para o imperador, quando este os convocava para trabalhos em obras públicas (canais
de irrigação, estradas, templos, pirâmides).
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Os astecas desenvolveram muito as técnicas agrícolas, construindo obras de drenagem e as chinampas (ilhas de cultivo),
onde plantavam e colhiam milho, pimenta, tomate, cacau etc.
As sementes de cacau, por exemplo, eram usadas como moedas por este povo.
A religião era politeísta, pois cultuavam diversos deuses da natureza (deus Sol, Lua,
Trovão, Chuva) e uma deusa representada por uma Serpente Emplumada. A escrita
era representada por desenhos e símbolos.
Desde os tempos da Grécia Antiga, encontramos duas correntes totalmente antagónicas. A primeira, liderada por Sócrates,
Platão, e Epicuro defendiam a ideia de que o sofrimento de uma doença dolorosa seria uma boa justificação para o
suicídio.
Sócrates (Atenas, c. 469 a.C. - Atenas, 399 a.C.). Foi um filósofo ateniense do período clássico da
Grécia Antiga. Creditado como um dos fundadores da filosofia ocidental, é até hoje uma figura
enigmática, conhecida principalmente através dos relatos em obras de escritores que viveram mais
tarde, especialmente dois dos seus alunos, Platão e Xenofonte, bem como pelas peças teatrais do
seu contemporâneo Aristófanes.
Muitos defendem que os diálogos de Platão seriam o relato mais abrangente de Sócrates a ter
perdurado da Antiguidade aos dias de hoje.
Através de sua representação nos diálogos do seu estudante ou professor, Sócrates tornou-se
renomado pela sua contribuição no campo da ética, e é este Sócrates platónico que legou o seu
nome a conceitos como a ironia socrática e o método socrático.
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Platão, defendia a ideia de que o sofrimento de uma doença dolorosa seria uma boa justificação para o suicídio.
Platão (Atenas, 428/427 – Atenas, 348/347 a.C.). Foi um filósofo e matemático do período clássico
da Grécia Antiga, autor de diversos diálogos filosóficos e fundador da Academia em Atenas, a
primeira instituição de educação superior do mundo ocidental.
Juntamente com o seu mentor, Sócrates, e o seu pupilo, Aristóteles, Platão ajudou a construir os
alicerces da filosofia natural, da ciência e da filosofia ocidental. Acredita-se que seu nome
verdadeiro tenha sido Arístocles.
Platão era um racionalista, realista, idealista e dualista e a ele tem sido associadas muitas das ideias
que inspiraram essas filosofias mais tarde.
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Epicuro defendia a ideia de que o sofrimento de uma doença dolorosa seria uma boa justificação para o suicídio.
Epicuro de Samos (Samos – 341 a.C., — 271 ou 270 a.C., Atenas). Foi um filósofo grego do período
helenístico. O seu pensamento foi muito difundido em numerosos centros epicuristas que se
desenvolveram na Jónia, no Egipto e, a partir do século I, em Roma, onde Lucrécio foi o seu maior
divulgador.
Epicuro nasceu na Ilha de Samos, em 341 a.C., mas ainda muito jovem partiu para Téos, na costa da
Ásia Menor. Quando criança estudou com o platonista Pânfilo por quatro anos e era considerado
um dos melhores alunos.
Certa vez, ao ouvir a frase de Hesíodo, "todas as coisas vieram do caos", ele perguntou: e o caos
veio de que? Retornou para a terra natal em 323 a.C.. Sofria de cálculo renal, o que contribuiu para
que tivesse uma vida marcada pela dor.
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Em contrapartida, Aristóteles, Pitágoras e Hipócrates, líderes da segunda corrente, condenavam a eutanásia e o suicídio
assistido.
Aristóteles (Estagira, 384 a.C. — Atenas, 322 a.C.). Foi um filósofo grego, aluno de Platão e professor
de Alexandre, o Grande.
Os seus escritos abrangem diversos assuntos, como a física, a metafísica, as leis da poesia e do
drama, a música, a lógica, a retórica, o governo, a ética, a biologia e a zoologia. Juntamente com
Platão e Sócrates (professor de Platão), Aristóteles é visto como um dos fundadores da filosofia
ocidental.
Em 343 a.C. torna-se tutor de Alexandre da Macedónia, na época com treze anos de idade, que será
o mais célebre conquistador do mundo antigo. Em 335 a.C. Alexandre assume o trono e Aristóteles
volta para Atenas onde funda o Liceu.
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Pitágoras de Samos (Samos, 570 a.C. – Crotona, 495 a.C.). Foi um filósofo e matemático grego
jónico creditado como o fundador do movimento chamado Pitagorismo.
A maioria das informações sobre Pitágoras foram escritas séculos depois que ele viveu, de modo
que, há pouca informação confiável sobre ele.
Ele nasceu na ilha de Samos e viajou o Egipto e Grécia e talvez a Índia, em 520 a.C. voltou a
Samos. Cerca de 530 a.C., se mudou para Crotona, na Magna Grécia.
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Hipócrates ( 460 a.C. em Cós; † 370 a.C. em Tessália) é considerado por muitos uma das figuras
mais importantes da história da Medicina, frequentemente considerado como o "pai da
medicina", apesar de ter desenvolvido tal ciência muito depois de Imhotep, do Egipto antigo.
É referido como uma das grandes figuras entre Sócrates, Aristóteles durante o florescimento
intelectual ateniense. Hipócrates era um asclepíade, isto é, membro de uma família que durante
várias gerações praticara os cuidados em saúde.
Nascido numa ilha grega, os dados sobre a sua vida são incertos ou pouco confiáveis. Parece
certo, contudo, que viajou pela Grécia e que esteve no Oriente Próximo.
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Nas obras hipocráticas há uma série de descrições clínicas pelas quais se pode diagnosticar
doenças como a malária, papeira, pneumonia e tuberculose.
Para o estudioso grego, muitas epidemias relacionavam-se com factores climáticos, raciais,
dietéticos e do meio onde as pessoas viviam. Muitos dos seus comentários nos Aforismos são
ainda hoje válidos.
Os seus escritos sobre anatomia contêm descrições claras tanto sobre os instrumentos de
dissecação quanto sobre os procedimentos práticos.
Hipócrates, em seu famoso juramento, já dizia: ”Eu não darei qualquer droga fatal a
uma pessoa, se me for solicitado, nem sugerirei o uso de qualquer um desse tipo”.
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No Egipto, Cleópatra VII criou uma Academia para estudar formas menos dolorosas de morte.
Cleópatra Thea Filopator (Alexandria, 69 a.C. — 12 de Agosto de 30 a.C.). Foi a última rainha da
dinastia de Ptolomeu, general que governou o Egipto após a conquista daquele país pelo rei
Alexandre III da Macedónia. Era filha de Ptolemeu XII. O nome "Cleópatra" significa "glória do
pai", "Thea" significa "deusa" e "Filopator" "amada por seu pai".
A numeração das rainhas do Egipto varia conforme o historiador. Por exemplo, E. R. Bevan a
numera como Cleópatra VI.
Cleópatra governou com o seu pai Ptolemeu XII, e mais tarde com os seus irmãos Ptolomeu XIII e
XIV, com quem se casou por costume egípcio, mas, no final, ela tornou-se a única governante.
Como faraó, ela consumou uma ligação com Júlio César, que solidificou a sua pegada no trono.
Mais tarde, ela elevou o seu filho com César, Cesário, para co-regente em seu nome.
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Entre as décadas de 20 e 40 do século XX, surgiam inúmeros exemplos de relatos de situações caracterizadas como
eutanásia, pela imprensa, ainda leiga, neste período. Perto de nós, não podemos olvidar, o Programa Nazista de eutanásia,
que consistiu na eliminação das pessoas cuja vida “não merecia ser vivida”, etnias consideradas inferiores, deficientes,
loucos, velhos…
Adolf Hitler (Braunau am Inn, 20 de Abril de 1889 — Berlim, 30 de Abril de 1945). Foi um militar e
político, líder do Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, também conhecido por
Partido Nazi ou Nazista. Hitler se tornou chanceler e, posteriormente, ditador alemão.
Era filho de um funcionário de alfândega de uma pequena cidade fronteiriça da Áustria com a
Alemanha.
Em 1923, tentou realizar um golpe de Estado em Munique junto com outros líderes do Partido
Nazista. O fracasso desse acontecimento levou-o a cadeia, onde escreveu o livro Mein Kampf
(Minha Luta, 1924), autobiografia e programa ideológico para a Alemanha com as suas teses
racistas e anti-semitas
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Em 1985, na Prússia, foi proposto que o Estado deveria prover meios para realizar a eutanásia em pessoas que não a
pudessem solicitar.
O Reino da Prússia foi um reino alemão de 1701 a 1918 e, a partir de 1871, o principal
Estado-membro do Império Alemão, compreendendo quase dois terços da área do
império.
O seu nome originou-se do território do Ducado da Prússia, embora a sua base de poder
tenha sido Marca de Brandemburgo. Foi centrado na região histórica da Prússia.
Ao longo da história, prosseguia-se a discussão sobre o tema, da qual participava nomes como Lutero, Karl Marx e
Schopenhauer.
Ao longo da história, prosseguia-se a discussão sobre o tema, da qual participava nomes como Karl Marx e Schopenhauer.
Nascido na Prússia, ele mais tarde se tornou apátrida e passou grande parte de sua vida
em Londres, no Reino Unido.
A obra de Marx em economia estabeleceu a base para muito do entendimento actual sobre o
trabalho e sua relação com o capital, além do pensamento económico posterior.
Ele publicou vários livros durante sua vida, sendo que O Manifesto Comunista (1848) e O
Capital (1867-1894) são os mais proeminentes.
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Ao longo da história, prosseguia-se a discussão sobre o tema, da qual participava nomes como Schopenhauer.
O seu pensamento sobre o amor é caracterizado por não se encaixar em nenhum dos grandes
sistemas da sua época. A sua obra principal é "O mundo como vontade e representação"
(1819), embora o seu livro "Parerga e Paralipomena" (1851) seja o mais conhecido.
Schopenhauer foi o filósofo que introduziu o pensamento indiano e alguns dos conceitos
budistas na metafísica alemã. Foi fortemente influenciado pela leitura das Upanishads, que
foram traduzidas pela primeira vez para o Latim no início do século XIX.
Schopenhauer acreditava no amor como meta na vida, mas não acreditava que ela tivesse a ver
com a felicidade.
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Já nos povos mais modernos, temos o caso da Holanda e da Bélgica que possuem directrizes para aplicação da eutanásia a
pacientes com morte cerebral ou aos que morrerão de forma iminente, apesar do tratamento.
Ninguém defenderá que existem vidas que não merecem ser vividas, que a dignidade da vida humana termina com a
doença ou com a idade.
Os progressos da medicina aptos a prolongar a vida a doentes terminais ou incuráveis, o respeito pela vontade individual,
os poderosos meios de atenuação da dor, a piedade perante o sofrimento desnecessário e inútil, levam à ponderação e
discussão, da licitude de algumas práticas eutanásicas.
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A Biomedicina é uma ciência que actua no campo de interface entre Biologia e Medicina, voltada para a pesquisa das
doenças humanas, seus factores ambientais e ecoepidemiológicos, com o objectivo de compreender as causas, os efeitos,
os mecanismos e desenvolver e/ou aprimorar os diagnósticos e os tratamentos.
Hoje a biomedicina representa um papel especial no estudo mais aprofundado acerca da existência humana, utilizando a
tecnologia com o objectivo de apurar minuciosamente os aspectos somáticos e psíquicos da vida, empenhando-se na
busca de melhorias da qualidade de vida de todos, sem levar em consideração a sua duração.
A questão da biomedicina e da bioética não é somente jurídica, evolve outras ciências humanas, como a Sociologia,
Biologia, Medicina, Psicologia, Teologia, Direito, Filosofia, a Antropologia e outras.
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O direito e o constitucionalismo moderno não podem olvidar que essa discussão ganha especiais contornos, uma vez que,
ao menos aparentemente, princípios constitucionais se confrontam, sendo extremamente necessária uma análise do
tema, de modo a pacificar a questão, seja favorável ou contra a prática da Eutanásia no direito de cada soberania.
A despeito dessa solução, tal questão, dada a sua magnitude, merece tratamento
legislativo e jurídico próprio.
O que não se pode deixar é que, a legislação específica, continue a regular a matéria
sobre a eutanásia por analogia a conduta do homicídio, situação em que se sabe
serem diferenciados dos elementos subjectivos do crime.
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A constituição angolana considera o direito à vida como um bem absoluto, munus publico, voltado à defesa da dignidade
da pessoa humana. "O direito à vida é o mais fundamental de todos os direitos, já que se constitui em pré-requisito à
existência e exercício de todos os demais direitos".
A disposição da vida, não é passível de modulação pela simples vontade de seu titular. O Estado
garante preserva à vida acima de qualquer outro vector, traduzindo-a como um bem indisponível.
A discussão acerca da possibilidade de disposição da vida por legítima vontade é antiga e eivada
de muitas controvérsias. Existem muitas questões de alta relevância que estão envolvidas, como a
moral, a religião, a dignidade ontológica e axiológica da pessoa humana e o direito, que espelho a
vontade social em determinado momento histórico.
A vida humana sempre encontrou protecção na cultura de todos os povos, por mais primitivas que
fossem. A ordem social de qualquer comunidade lhe dispensa tutela, e nunca permitiu de forma
leviana a indiscriminada prática de homicídios dentro de um grupo.
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O direito à vida é absoluto e oponível erga omnes “para todos”. Hoje, a sociedade moderna é açoitada por acalorada
discussão acerca da mitigação de tal direito, dada às mudanças de valores, que de tempos-em- tempos, ocorrem no seio
social.
O tema merece atenção especial, tendo em conta a importância e a relevância que esta ocupa na
esfera jurídica. A disposição da vida é, antes de tudo, um problema jurídico, não apenas moral,
religioso ou medicinal.
O bem jurídico 'vida humana' pode ser compreendido do ponto de vista estritamente físico-
biológico ou sob uma perspectiva valorativa. Para uma concepção naturalista, a presença da vida é
aferida segundo critérios científicos-naturalísticos (biológicos e fisiológicos).
Por conseguinte, resulta inconcebível, de acordo com tal concepção, a descriminalização do aborto
ou do induzimento, instigação ou auxilio ao suicídio, bem como a legalização de uma ou de todas
as formas de eutanásia.
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Também seria incompatível com o texto constitucional a justificação da morte em legítima defesa ou em estrito
cumprimento do dever legal.
A vida humana, em regra, deve ser protegida sobre qualquer situação, independentemente de qualquer característica
fisiológica ou social da pessoa. Trata-se de um mecanismo próprio de controlo social.
Convém sublinhar, que existem direitos disponíveis e indisponíveis. Os direitos indisponíveis não
estão sob livre disposição do seu titular, sendo considerada como inexistente ou nula a permissão
da sua disposição. O interesse público envolvido não deve permitir que ocorra tal arranjo sobre o
mesmo.
Na actual conjuntura moderna do direito, o homem não pode ser considerado apenas como um simples cidadão, mas sim
como uma pessoa única, singular dentro da sociedade em que vive independentemente de qualquer vínculo jurídico ou
político para com o Estado.
A propósito, merece destaque as lapidares palavras de César Beccaria, "não existe liberdade onde às leis permitem que,
em determinadas circunstâncias, o homem deixe de ser pessoa e se converta em coisa".
Imbuído pelos valores e ideais iluministas, tornou-se reconhecido por contestar a triste condição
em que se encontrava a esfera punitiva de Direito na Europa dos déspotas - sem, contudo,
contestar como um todo a ordem social vigente.
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As suas obras, mais especificamente a intitulada "Dos Delitos e Das Penas", são consideradas as bases do Direito Penal
moderno.
As proposições ali contidas projectaram arquitecturalmente a política e o direito modernos:
Desta forma, Beccaria repensou a lei e as punições com base na análise filosófica, moral e económica da natureza do ser
humano e da ordem social.
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O direito é uma ciência inexacta. A sua evolução é constante e procura atender as aspirações sociais que representam a
vontade popular. O reconhecimento do homem como homem, implica a construção de inúmeras prerrogativas por parte
do Estado, possibilitando uma maior limitação e garantia da pessoa contra eventuais abusos.
Deste modo, forma-se um núcleo de direitos que não se pode mudar; um verdadeiro
deslocamento do direito do plano puramente abstracto para a esfera do indivíduo, equilibrando
a liberdade dos cidadãos e a autoridade do poder estatal.
O direito apresenta-se como um mecanismo favorável à regulamentação das relações sociais, ditadas por normas de
conduta consideradas correctas pela maioria. Na sua essência, o direito representa a regulamentação dos actos do
homem.
A noção de dignidade da pessoa humana está acoplada ao direito, e é indelével à sua essência,
mesmo antes da inexistência da norma expressa nesse sentido.
Desse modo, como advoga o Professor Luiz Regis Prado, o Estado de Direito Democrático e
Social deve consagrar e garantir o primado dos direitos fundamentais, abstendo-se das práticas
a eles lesivas, como também propiciar as condições para que sejam respeitados, inclusive com a
eventual remoção de obstáculos à sua total realização.
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A possibilidade de legalização da prática da Eutanásia traz à tona o confronto aparente entre dois princípios de suma
relevância.
A discussão sobre a Eutanásia deve ser encarada com parcimónia e muita cautela, tendo em vista a relevância do bem
jurídico que se encontra envolvido e que se pretende defender e proteger. Porém, é inarredável discuti-la.
Em muitos países já se encontra legalizada a prática da Eutanásia, fundada na conceituação da “boa morte”, isto é, “morte
com dignidade”, exemplo disso são os denominados países baixos.
Bandeira da França
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Muitos países preferem não discutir o tema, permitindo, mesmo que implicitamente, a denominada ajuda ao suicida
aconteça com cinismo e hipocrisia.
Na Suécia trata-se de delito singelo o auxilio ao suicídio. A Suíça vai mais longe, permite o oferecimento de meios para o
suicida. A Alemanha apenas proíbe a participação directa.
A lista de alguns países aonde a denominada ajuda ao suicida aconteça com cinismo e hipocrisia.
Bandeira da Holanda Bandeira da Suíça Bandeira da Califórnia Bandeira da França Bandeira da Inglaterra Bandeira da Dinamarca
Bandeira da Alemanha Bandeira da Itália Bandeira da Noruega Bandeira da Espanha Bandeira da Suécia Bandeira da Portugal
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A lista de alguns países aonde a denominada ajuda ao suicida aconteça com cinismo e hipocrisia.
Bandeira da Bélgica Bandeira de Oregon Bandeira dos EUA Bandeira do Brasil Bandeira do Japão Bandeira do Uruguai
Bandeira da Colômbia Bandeira da Escócia Bandeira da Zelândia Bandeira do Perú Bandeira de Luxemburgo
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Transcrevemos também aqui, o caso protagonizado pelo Dr. Jack Kevorkian, nos Estados Unidos:
Jack Kevorkian (Pontiac, Michigan, 26 de Maio de 1928 — Detroit, 3 de Junho de 2011). Foi um médico estadunidense.
Kevorkian é mundialmente conhecido pela sua luta para fazer do suicídio assistido um direito de todos.
O médico patologista aposentado que inventou a “máquina do suicídio”, ele deu apoio a mais de 130 doentes terminais
dos Estados Unidos para pôr um fim nas suas vidas com a eutanásia, ganhando o apelido de Dr. Morte.
Jack Kevorkian, o Dr. Morte, morreu em 3 de Junho de 2011 aos 83 anos, na região de Detroit.
Segundo um amigo, a morte foi "tranquila" e ele não sofreu dor. No dia 28 de Outubro de 2011,
sua máquina de suicídio foi a leilão em Nova York por mais de US$ 200 mil.
Ele afirma ter ajudado 130 pacientes a morrer. Recorria primeiramente a garrafões de monóxido
de carbono. O paciente colocava uma máscara de plástico e accionava, ele mesmo, o gás mortal.
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Em seguida, o médico fabricou uma máquina de suicídio, designada como 'mercytron', para enfatizar que à ajuda a morte
se justifica pela piedade. Os pacientes – por exemplo, os acometidos pelo Mal de Alzheimer- só precisam então apoiar-se
num botão para injectar uma dose letal. Várias vezes perseguido pela justiça, o médico foi em todas elas absolvido, em
1990, 1994 e 1996.
Ele permanecia, com efeito, nas fronteiras do suicídio assistido. Em seguida, o médico as
transpôs: em Novembro de 1998, filmou para a CBS a morte de Thomas Youk, um paciente no
qual injectara um produto mortal. Foi condenado há alguns meses e depois a dez anos de prisão.
Nos Estados Unidos, o único dos Estados a aceitar abertamente a prática de Eutanásia é o de
Oregon, a partir de Novembro de 1997. Nos demais Estados, a repulsa pela prática em debate é
fervorosa, considerando-a como verdadeira prática homicida.
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Thomas Youk era portador da síndrome de Lou Gdhrig, uma doença incurável que provoca destruição progressiva do
sistema nervoso e perderia os seus movimentos no decorrer dos meses. A sua debilidade poderia muito agressiva e com
repercussões de grandes propulsões, que ele poderia morrer sufocado com a própria saliva, já que não teria como tossir.
Porém, Thomas Youk mantinha boa parte da sua actividade intelectual, era capaz de falar, sorrir
e assinar o seu próprio nome.
“A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso,
cante, chore, dance, ria e viva intensamente, antes que a cortina se
feche e a peça termine sem aplausos”.
Desconhecido
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Desde os primórdios da humanidade é possível achar registros da prática da Eutanásia, considerada à época como uma
boa morte. Tal entendimento se manteve por muito tempo. Todavia, esse artifício nunca fora imune a críticas. Francis
Bacon, que desde o século XVII argumentava acerca das lacunas existentes na Eutanásia.
Os tempos mudaram. Hoje, a expectativa de vida da população somente cresce, impulsionada pela medicina que
caminha a passos largos.
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As Pessoas que em casos comuns são indiferentes a sorte dos seus semelhantes, passam a ser solidários em momentos de
extremo sofrimento. De facto, é justamente a solidariedade que fomenta em muitas pessoas a prática da eutanásia,
sobretudo, quando não há solução para a doença, entendem que a morte é a melhor solução.
Por isso, qualquer que seja a sociedade não pode deixar de se preocupar com essa questão fundamental, no sentido de se
estabelecer regras e princípios jurídicos claros e específicos que devem delimitar não só o exercício da prática da medicina
legal, bem como, definir o âmbito do que é certo e o que não é sobre o conceito de direito a uma “boa morte” ou “morte
com dignidade”.
A eutanásia pode ser considerada como uma morte rápida e indolor, sobretudo
sedutora para àquele que se encontra em agonia numa cama, vítima de doença sem
cura e que lhe causa infindáveis sofrimentos.
Não é menos verdade, que esta visão ponha em cheque as condutas médicas, o
direito, a moral, a religião e a própria questão da indisponibilidade do direito à vida.
É importante ressaltar, que ainda hoje, existem doenças contra as quais não se pode
fazer nada, por não existirem meios e recursos terapêuticos suficientes e necessários
para acudirem os vários fenómenos presentes na medicina contemporânea.
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Muitas pessoas socorrerem-se à essas insuficiências para defenderem que sempre que existirem doenças incuráveis, cujo
sofrimento trazido aos portadores sejam consideráveis, deve ser ponderada a prática da Eutanásia.
A Eutanásia lato sensu, pode ser considerada como a anulação da vida de um terceiro, a seu pedido, com o especial fim de
retirar-lhe o sofrimento físico ou mental produzida por uma doença ou senilidade, proporcionando-lhe uma morte
aparentemente terapêutica.
A morte se consuma sem qualquer sofrimento à vítima. Ou, nas palavras de Nelson Hungria “morte para abreviar, sem dor
ou sofrimento, a vida de um doente reconhecidamente incurável".
Nélson Hungria Guimarães Hoffbauer (Além Paraíba, 16 de Maio de 1891 — Rio de Janeiro, 26 de
Março de 1969). Foi um dois mais importantes penalistas brasileiros, com diversas obras publicadas
ao longo da vida. Foi desembargador do Tribunal de Justiça do antigo Distrito Federal, delegado de
Polícia e, culminando a sua carreira de jurista, como ministro do Supremo Tribunal Federal entre 1951
e 1961.
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É verdade, que uma morte feita de muito sofrimento é bastante cansativa e angustiante para o doente e para a sua família.
Daí as razões pelas quais muitas pessoas recorrem ao tratamento da Eutanásia.
Nestes casos, o consentimento do doente é conditio sine qua non para a prática da Eutanásia, pois, ao contrário,
qualificar-se-ia como homicídio.
Hoje, alguns dispositivos normativos que indirectamente regulamentam o tema em questão, consideram apenas como
viáveis a admissão da eutanásia na sua modalidade passiva. É importante reforçar, que apenas alguns países, consideram a
eutanásia na sua modalidade passiva como a única que é aceite pelo direito constitucional, merecendo aceitação e
reflexão por parte das autoridades públicas, das constituições médicas e da sociedade civil.
Não se pode, sob qualquer justificativa, exigir que alguém se submeta, contra a sua vontade a
tratamento de grande risco, proporcionando ao doente morrer sem a prorrogação da sua
agonia. Porém, ressalva-se casos específicos que podem ser considerados in concreto.
A Eutanásia sempre é considerada uma tema interessante a discussão, seja pela sua conceituação ou pela sua aplicação
prática.
Contudo, convém salientar, que das três dimensões apresentadas sobre a Eutanásia, somente a terapêutica é aceite como
discutível no fórum das ciências médicas e da bioética, as demais estão fora de cogitação sobretudo nos países ocidentais.
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A ortotanásia é a modalidade em que o doente renuncia ao tratamento da sua doença por meio
da utilização de mecanismos extraordinários e dispendiosos, em que não se garante a produção
de qualquer resultado.
Essa modalidade de eutanásia tem como essencial compromisso promover ao doente em fase
terminal e aos seus familiares o privilégio de enfrentar a morte com dignidade e tranquilidade.
Alguns defendem que nesta dimensão, trabalha-se com a integração entre o conhecimento
científico, a habilidade profissional e a sensibilidade ética.
À rigor, busca-se, acima de qualquer preceito, proporcionar ao doente a morte digna e tranquila que todos merecem,
cercado de afecto dos mais próximos, assim como pelo respeito daqueles que cuidam da sua ínfima sobrevivência
Para os adeptos da ortotanásia a morte não põe termo, mas tão somente marca mais um estágio da vida.
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A distanásia tem como escopo principal promover a prorrogação da vida humana, preservando a
vida até que se finde por completo mesmo sem qualquer esperança e sinal vital. Ao contrário da
ortotanásia em que a qualidade de vida é ponderada, na distanásia a vida deve ser preservada,
mesmo que distante de uma esperada qualidade.
A mistanásia é sinónima da expressão eutanásia social. Consideram os adeptos dessa teoria que
a morte fora do seu tempo nada tem de saudável e feliz, não podendo ser considerada nem
mesmo sem dor. A mistanásia carrega no seu âmago as situações daqueles que nas filas
hospitalares, doentes e deficientes, não conseguem tratamento médico, por motivos políticos,
sociais e económicos.
Enfim, são situações do dia-a-dia a serem combatidas, gerando na sociedade a sensação de impotência diante da sua
própria insensatez. Adopta-se a política do 'salve-se quem puder'. A sociedade tem o direito de ser atendida com
dignidade e eficiência, muitas vezes, vê-se a situação invertida, em que se impera o desrespeito aos direitos da
colectividade, a despeito da elevadíssima carga tributária
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Uma outra situação não menos grave, tem a ver com as cobaias humanas à disposição de práticas
laboratoriais, que favorecem outro tipo de mistanásia activa.
Tudo isso é feito em nome da ciência. Essas experiências não respeitam nem a integridade física
nem o direito à vida. Seres humanos transformados em cobaias descartáveis.
Enfim, a falta de preparo ou descaso do médico no que se refere à saúde do seu paciente, desde que o leve a morte, deve
ser considerado como mistanásia.
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A eutanásia possui uma estreita ligação com a moral e com a ética, essencialmente contraposta aos mais caros valores
religiosos.
Enfim, discute-se num prisma teológico, qual seria o sentido de Deus na vida
humana e, por consequência, qual a autonomia do homem ao decidir o seu
destino?
Com efeito, os valores religiosos, geralmente, têm pouca força como valores para o direito. Entretanto, os valores
religiosos por estarem ligados a moral e a ética, e estes sim ligados ao direito, levantam questões ético-religiosas que não
podem ser, no seu todo, desconsideradas.
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Partindo-se de uma análise ética sabe-se que a morte de alguns pode significar a morte de milhões. É preciso parcimônia
ao tratar do tema, em especial, por lidar com valores caros à sociedade, que certamente envolverão todo o pensamento
cultural.
Logo, reconhece o direito, sob uma análise jurídico-filosófica que antes de tratar da
morte, deve o direito cuidar da vida, bem impostergável, quase que em absoluto.
Enfim, primeiro vem a qualidade de vida, depois deve ser analisada a qualidade da
morte.
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A doutrina cristã prega que o prolongamento da vida é essencial e o homem deve respeitar os preceitos basilares
instituídos:
A pessoa deve ser capaz de decidir por si própria a respeito de quaisquer intervenções médicas. Numa circunstância
infeliz em que o doente perde essa capacidade, um procurador designado deve determinar o que deve ser realizado no
melhor interesse do paciente;
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A pessoa é moralmente obrigada a prolongar a vida com meios médicos somente quando existe uma esperança
razoável de benefício em ajudar a pessoa a buscar os bens espirituais da vida, sem impor um ónus excessivo;
Não existe a obrigação moral de prolongar a vida humana com meios médicos
quando:
Ramon Sampedro (Porto do Son, 5 de Janeiro de 1943 – Boiro, 12 de Janeiro de 1998) foi
um marinheiro e escritor espanhol. Tetraplégico desde os 25 anos, lutou na justiça pelo seu direito de morrer dignamente.
Tendo em vista a sua incapacidade física de suicidar-se, Ramon desejava que os seus amigos e
familiares pudessem o ajudar a morrer sem que cometessem algum delito.
Nasceu em 5 de Janeiro de 1943 no Município de Puerto del Son. Com 18 anos entrou para a
marinha mercante com a intenção de conhecer o mundo. Com 25 anos, sofreu um acidente ao
mergulhar de cabeça na água e bater numa pedra, facto que o deixou tetraplégico e preso à cama
pelo resto da sua vida. Foi o primeiro cidadão espanhol a pedir pela eutanásia (suicídio assistido).
Argumentava que era direito de cada pessoa dispor da sua própria vida e que, no seu caso, estava
impossibilitado de fazê-lo sem auxílio de outras pessoas.
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O seu pedido foi negado pela justiça porque o Código Penal, então vigente, assim não o permitia. A legislação actual,
igualmente, não permite o uso da eutanásia quando estipula:
" Aquele que causar ou cooperar activamente com actos necessários e direitos para a morte
de outro, com pedido expresso, sério e inequívoco deste, no caso de a vítima sofrer de uma
enfermidade grave a qual o conduziria, necessariamente, à morte ou a graves problemas
permanentes e difíceis de suportar, será punido com as penas inferiores a um ou dois graus
ou à prisão de 2 a 5 anos (por mera cooperação) ou prisão de 6 a 10 anos (quando a
cooperação colaborou com a morte)" (tradução livre).
Ramon morreu, em 12 de Janeiro de 1998, por envenenamento com cianeto de potássio, ajudado
pela sua amiga Ramona Maneiro. Ramona foi detida dias depois, não sendo, no entanto, julgada,
em função da falta de provas.
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Sete anos depois, uma vez que o crime havia prescrito, ela admitiu ter facilitado a Ramon o acesso ao veneno e ter feito a
gravação do vídeo em que este proferiu as suas últimas palavras.
Muitas pessoas alegaram ter auxiliado na preparação da morte de Sampedro, sendo inspiradas
pela obra literária "Fonteovejuna", em que vários indivíduos se dizem culpados colectivamente
para, assim, evitar que seja condenada uma única pessoa.
Em 2005, após a expiração do prazo de prescrição, Ramona Maneiro participou de um talk show, e
admitiu que ela tinha adquiridos para Sampedro cianeto de cocktail e uma palha. Ramona afirma
que estava no quarto quando Ramon morreu e alega ter feito tudo por amor.
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Diane Pretty, britânica, Vítima da doença do neurónio motor, uma doença neuro-degenerativa incurável que a paralisava
do pescoço aos pés, Diane viu-se impossibilitada de cometer suicídio e acabar rapidamente com o seu sofrimento e a
perda da dignidade que a sua doença implicava na fase terminal, como desejava.
Diane Pretty estava internada desde 3 de Maio num estabelecimento de cuidados paliativos perto
de Luton, no Norte de Londres.
"Diane sabia que estava sujeita a enormes sofrimentos e temia-os. Nada pude fazer para a
ajudar", lamentou Brian Pretty em comunicado emitido pela Sociedade da Eutanásia Voluntária,
que apoiou o casal na sua batalha judicial. Os médicos "conseguiram estabilizar o seu estado
durante alguns dias, mas ela continuava a sofrer", adiantou Brian Pretty. "Depois, ela entrou em
estado de coma e morreu", acrescentou. "Para Diane é o fim, enfim livre".
O Tribunal Europeu dos Direitos do Homem recusar-lhe o direito a ser assistida na morte pelo seu
Bandeira da Inglaterra marido.
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Diane, de 43 anos, começou a sofrer dificuldades respiratórias há dez dias, três dias depois de ter visto recusado o seu
pedido ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem.
No final de Abril, o estado de saúde de Diane era já descrito como precário, o que na altura levou
os juízes europeus a adoptar um procedimento de urgência e a examinar o pedido no prazo
recorde de quatro meses, naquela que foi a primeira vez que o Tribunal Europeu dos Direitos do
Homem tomou uma decisão num caso de eutanásia.
No Reino Unido a assistência ao suicídio é considerada um crime e punível até 14 anos de prisão.
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A britânica recorreu em Dezembro ao Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, considerando que vários dos seus direitos
estavam a ser violados, nomeadamente o direito à vida e o direito a não ser torturada nem discriminada.
"O direito fundamental à morte não existe", considerou o tribunal que vela pelo respeito dos
direitos humanos nos 44 Estados-membros do Conselho da Europa.
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Vincent Humbert, um jovem bombeiro voluntário de 20 anos teve um grave acidente automobilístico numa estrada
francesa no dia 24 de Setembro de 2000. Ele ficou em coma por nove meses.
Posteriormente, foi constatado que ele havia ficado tetraplégico, cego e surdo. O único
movimento que ainda mantinha era uma leve pressão com o polegar direito. Através destes
movimentos conseguia se comunicar com a sua mãe.
A comunicação, ensinada pelos profissionais de saúde do hospital, era feita com uma pessoa
soletrando o alfabeto e ele pressionava com o polegar quando queria utilizar esta letra.
Desta forma, conseguia soletrar as palavras. Desde que conseguiu se fazer entender, solicitava aos
médicos que praticassem a eutanásia, como forma de terminar com o sofrimento que estava
tendo, pois o mesmo, segundo o seu depoimento, era insuportável.
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Os médicos recusaram-se a realizá-la, pois na França a eutanásia é ilegal. Ele também solicitou a sua mãe que fizesse o
procedimento.
“O meu filho me diz todos os dias: 'Mãe, não consigo mais suportar esse sofrimento. Eu
imploro a você, ajude-me'. O que você faria? Se tiver de ir para a prisão, irei."
Ele fez inúmeras solicitações, inclusive ao próprio presidente francês, através de uma carta, no
sentido de dar uma excepção legal para o seu caso. O argumento é de que o presidente francês
tem a prerrogativa de indultar prisioneiros, simetricamente poderia isentar de culpa quem o
matasse por compaixão.
A frase que encaminhou ao presidente Jacques Chirac, em Dezembro de 2002, foi a seguinte: "A
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lei dá-lhe o direito de indultar, eu peço-lhe o direito de morrer".
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Ele terminou a sua carta com a frase: "O senhor é a minha última chance". A resposta do presidente, após alguns
contactos, inclusive com o próprio Vincent, por telefone, foi negativa e acompanhada de uma recomendação de que o
jovem deveria "retomar o gosto pela vida".
Nesta época foi feita uma pesquisa de opinião na França sobre a questão do suicídio assistido que
resultou em 88% de aprovação pela população, mas não da eutanásia.
Vale destacar que esta solicitação não teria como ser enquadrada como suicídio assistido, mas sim
como eutanásia activa voluntária.
Vincent escreveu um livro, de 188 páginas, intitulado "Peço-vos o direito de morrer" (Je vous
demande le droit de mourir) lançado pela editora Michel Lafon, em 25 de Setembro de 2003.
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"A minha mãe deu-me a vida, espero agora dela que me ofereça a morte. (...) ela fez para mim é
certamente a mais bela prova de amor do mundo“.
Marie Humbert, mãe de Vincent, de 48 anos, foi considerada por todos como sendo uma mãe
admirável, que se dedicou integralmente aos cuidados do filho, tendo inclusive se mudado de
cidade. No final da tarde de quarta-feira, 24 de Setembro de 2003, Marie estava sozinha com o
seu filho no quarto do Centre Hélio-marin de Berck-sur-Mer, na costa norte da França.
Nesta ocasião administrou uma alta dose de barbitúricos através da sonda gástrica. Este
procedimento tinha sido combinado com o seu filho, que não queria estar vivo quando o seu livro
fosse lançado, o que ocorreria no dia seguinte. "Eu nunca verei este livro porque eu morri
em 24 de Setembro de 2000 [...].
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Desde aquele dia, eu não vivo. Me fazem viver. Sou mantido vivo. Para quem, para quê, eu não sei. Tudo o que eu sei é
que sou um morto-vivo, que nunca desejei esta falsa morte“.
A equipa médica do hospital expediu um comunicado, após uma reunião clínica, que havia
decidido suspender todas as medidas terapêuticas activas.
O comunicado era o seguinte; " A equipa médica que acompanhou o paciente por três anos
tomou esta decisão colectiva e difícil, de forma totalmente independente".
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Posteriormente o médico chefe da equipa, Dr. Frederic Chaussoy, assumiu publicamente que foi ele quem desligou o
respirador do paciente.
O médico afirmou que este procedimento não é incomum, mas que habitualmente não é
assumido pelas equipas.
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A mãe foi presa por tentativa de assassinato e posteriormente libertada pelo Ministério Público, que se manifestou no
sentido de que ela seria processada no momento oportuno.
A mãe foi encaminhada para o Centre hospitalier de l'arrondissement de Montreuil (CHAM), onde
ficou internada por 24 horas.
O advogado da família, Hughes Vigier, disse, em uma entrevista a TV LCI, que "Ela fez a coisa mais
terrível que uma mãe pode fazer e ainda assim considera isso uma coisa maravilhosa porque ele
queria tanto fazer isso".
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Jorge León Escudero, há seis anos, quando praticava ginástica em casa, uma queda partiu-lhe o pescoço: para além de não
mexer as pernas e os braços, não respirava pelos seus próprios meios.
"É muito difícil com estas limitações acabar com garantias de não passar por momentos
de angústia, fica na consciência dos que impedem a legalização da eutanásia a carga de
sofrimentos desnecessários",
escreveu com os lábios Jorge León Escudero, através de um mecanismo que colocava na cabeça.
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No seu blogue, utilizava o pseudónimo Lucas S. Foi a última missiva: dois dias depois, quinta-feira 4 de Maio, às oito da
manhã, Jorge León, de 53 anos, foi encontrado morto na cadeira de rodas.
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Brittany Maynard (19 de Novembro de 1984 - 1 de Novembro de 2014). Foi uma americana com câncer cerebral em fase
terminal, na qual decidiu acabar com a sua própria vida "assim que achasse o momento certo para tal". Ela foi uma
defensora na legalização do suicídio assistido.
Em 1 de Janeiro de 2014, ela foi diagnosticada com astrocitoma de nível 2, uma forma de câncer
Bandeira dos EUA cerebral, e teve uma craniotomia parcial e uma ressecção parcial do seu lobo temporal.
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O câncer retornou em Abril de 2014, e seu diagnóstico foi então elevado para o astrocitoma de nível 4, também conhecido
como glioblastoma, com um prognóstico de seis meses de vida.
Ela se mudou da Califórnia para Oregon, de modo a obter direito à Lei da Morte com Dignidade,
de Oregon, afirmando que ela havia decidido que "a morte com dignidade foi a melhor opção
para mim e minha família”.
Ela fez parceria com a Compassio & Choices para criar o Fundo Brittany Maynard, que busca
legalizar o suicídio assistido em estados na qual é actualmente ilegal. Ela também escreveu um
texto para a CNN intitulado "Meu Direito à Morte com Dignidade aos 29".
Em Outubro de 2014, ela afirmou que "não achava ser o momento certo por agora", mas que ela
ainda haveria de acabar com a sua própria vida em algum momento. Maynard planeou acabar
Bandeira dos EUA com a sua vida em 1 de Novembro de 2014, com drogas prescritas pelo seu médico.
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Maynard casou-se com Daniel Esteban "Dan" Diaz em Setembro de 2012. Em Outubro de 2014, ela disse ter preenchido o
último item de sua lista de coisas a fazer antes de morrer, ao visitar o Grand Canyon. Ao lado do seu marido, ela foi
apoiada pela sua mãe, Deborah Ziegler, e pelo seu padrasto, Gary Holmes.
A morte foi relatado em 2 de Novembro de 2014, pela People e várias outras fontes de notícia que
Maynard havia acabado com a sua vida em 1 de Novembro, rodeada pelos seus entes queridos.
Em conformidade com a lei estadual de Oregon a respeito da morte com dignidade, apesar de
Maynard ter acabado com a sua própria vida, tumor cerebral é a causa oficial da morte no seu
obituário.
Maynard escreveu no seu último post do Facebook: "Adeus a todos os meus queridos amigos e
familiares que eu amo.
Bandeira dos EUA
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Hoje é o dia que escolhi para partir com dignidade devido a minha enfermidade terminal; esse horrível câncer cerebral
que tem drenado tanto de mim... mas que teria drenado muito mais.
Quando Maynard faleceu, ela havia ultrapassado o prognóstico de seu médico de Abril de 2014,
na qual alegou que ela teria somente seis meses de vida.
Por esta razão, controvérsias sobre a sua morte e dúvidas surgiram a respeito da confiabilidade
dos médicos com relação ao prognóstico na expectativa de vida de um paciente.
Chantal Sébire, nascido 28 de Janeiro de 1955 e morreu a 19 de Março de 2008 em Plombières-les-Dijon. Foi professora de
francês. Ela foi diagnosticada com um tumor raro, e a cobertura da imprensa sobre o seu sofrimento e a sua morte
reacendeu o debate sobre a eutanásia na França
Desfigurada por um tumor incurável, alojado na região do céu da boca e no seio nasal, Chantal
Sébire, uma cidadã francesa mãe de três filhos menores e com 52 anos de idade, solicitou à
justiça do seu país o direito de praticar eutanásia.
Numa carta ao Presidente Nicolas Sarkozy, Madame Sébire solicita que lhe seja autorizada o
consumo de uma droga letal que acabe definitivamente com o seu sofrimento, conduzindo-a à
morte, enquanto se encontra consciente do seu acto.
Alega a requerente, que a doença de que sofre encontra-se num estado progressivamente
incurável, produzindo dores insuportáveis, e uma desfiguração facial monstruosa, além do
facto do seu organismo ser intolerante a analgésicos, em particular a morfina.
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O pedido de morte assistida levantou mais uma vez em França o debate sobre a eutanásia, tema que não se enquadra na
lei Leonetti de 2005, que trata da actuação médica naquele país, face a doentes terminais.
Esta lei, sendo considerada boa e equilibrada por muitos, a obrigação dos médicos é apenas a
de aliviar a dor do paciente sem autorizar qualquer intervenção que vise pôr fim à sua vida.
Bandeira da França
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Eluana Englaro (Lecco, 25 de Novembro de 1970 — Udine, 9 de Fevereiro de 2009). Foi uma mulher italiana que entrou
em estado vegetativo persistente em 18 de Janeiro de 1992, na sequência de um acidente de carro e, posteriormente, se
tornou o foco de uma batalha judicial entre apoiantes e opositores da eutanásia.
Após o acidente, ela sofreu uma paralisia do pescoço para baixo, o que a impediu não só
a deglutição de alimentos sólidos mas também da saliva, por isso, foi mantida constantemente
virada de lado para evitar a regurgitação e asfixia.
Pouco depois de Eluana ter sido mantida em suporte artificial de vida, o seu pai pediu para
retirar o seu tubo de alimentação permitindo deste modo que ela morresse naturalmente.
As autoridades inicialmente recusaram o seu pedido, mas depois essa decisão foi alterada.
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Janet Adkins, tinha 54 anos e sofria do Mal de Alzheimer. Kevorkian, em Junho de 1990 prestou assistência ao suicídio da
sua primeira paciente, Janet Adkins, de Portland, Oregon.
"Eu decidi tirar minha própria vida. Tomo esta decisão num estado normal da minha mente. Eu
tenho a doença de Alzheimer e não quero deixá-la progredir ainda mais. Eu não escolho
colocar a minha família ou eu mesma na agonia desta terrível doença".
A sua doença não era terminal, mas Janet preferiu pôr termo a sua vida pedindo um
patologista aposentado de Michigan, Jack Kevorkian, a quem ela tinha visto pela primeira vez
na televisão para ajudá-la a morrer.
Christian de Duve (Thames Ditton, 2 de Outubro de 1917 – 4 de Maio de 2013). Foi um bioquímico belga. Foi agraciado
com o Nobel de Fisiologia ou Medicina de 1974, por descobrir a função do lisossoma. Optou por morrer por eutanásia em
4 de Maio de 2013.
O cientista belga Christian de Duve, vencedor do Prémio Nobel de Medicina, morreu no aos 95
anos, por meio da eutanásia, que é legal na Bélgica, realizada por dois médicos diante dos seus
quatro filhos.
Ele sofria de câncer e fibrilação artial. De Duve foi o segundo belga famoso a escolher ser
submetido a este procedimento após a morte em 2008 do escritor Hugo Claus.
A Bélgica foi o segundo país do mundo, após a Holanda, a legalizar a eutanásia, em 2002.
[Christian de Duve é um cytologist e bioquímico inglês. Prémio Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1974]
Bandeira da Bélgica
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Claus sofria de Alzeimer e solicitou para pôr termo a sua vida com o instituto da eutanásia, um
procedimento legal na Bélgica, no Hospital Middelheim, em Antuérpia, em 19 de Março de
2008.
O ministro flamengo da cultura afirmou: “Eu o conhecia bem o suficiente para saber que ele
queria partir com orgulho e dignidade.” O ex-primeiro-ministro belga Guy Verhofstadt disse
que ele imaginou o aparecimento da doença de Alzheimer como uma “tortura inevitável e
insuportável”. “Eu posso viver com o facto de que ele decidiu assim, disse ele, “porque ele nos
deixou como uma grande brilhante estrela, na hora certa, antes que ele tivesse entrado em
colapso num buraco negro estelar”. A sua morte por eutanásia tem recebido críticas da Igreja
Católica.
Bandeira da Bélgica
Em Portugal, Claus tem publicados "O Desgosto da Bélgica" (ASA), "Caça aos Patos" (ASA),
"Rumores" (ASA), "Sexta-feira" (Textual).
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FACULDADE DE DIREITO
ÉTICA E DIREITO – Por ADÃO AVELINO MANUEL
Freud morre de cancro no palato aos 83 anos de idade (passou por trinta e três cirurgias).
Supõe-se que tenha morrido de uma overdose de morfina.
Freud sentia muita dor, e segundo a história contada, ele teria dito ao médico que lhe aplicasse
uma dose excessiva de morfina para terminar com o sofrimento, o que seria eutanásia.
O Câncer de Freud foi tão violento que a carne da garganta se putrificou enquanto ele estava
vivo.
Bandeira da Inglaterra
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ÉTICA E DIREITO – Por ADÃO AVELINO MANUEL
Inmaculada Echevarría, 51 anos, padecia de distrofia muscular progressiva e vivia há dez anos ligada a um ventilador.
Cumprindo com o seu desejo, pediu que lhe fosse retirado o aparelho ventilador que a mantinha viva há dez anos.
Inmaculada Echevarría foi diagnosticada aos 11 anos uma distrofia muscular progressiva, uma
doença que pode levar o paciente ao desconforto respiratório extremo, por falha dos músculos
costeiras e do diafragma, dificuldade que em última instância pode causar a morte do paciente
por asfixia.
Inmaculada, a partir dos 30 anos, ela foi mergulhada num estado de imobilidade quase completa,
só podia mover os dedos das mãos e dos pés. Mas o seu nível de consciência permaneceu em
níveis aceitáveis durante todo o processo da sua doença. Apesar de ter realizado uma
traqueotomia e ter sofrido uma perda significativa da musculatura da língua, do rosto e do
pescoço, ela se comunicava facilmente com as pessoas à sua volta.
Bandeira da Espanha
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ÉTICA E DIREITO – Por ADÃO AVELINO MANUEL
Além da sua capacidade de falar, a sua capacidade intelectual manteve-se intacta até ao fim, como evidenciada pela
actividade intensa desenvolvida pela paciente nos últimos dias da sua vida, especialmente quando se comunicava com os
médicos, os enfermeiros e os amigos, e até mesmo para tomar a decisão pessoal da recepção do pedido sobre os últimos
ritos antes de morrer.
Para o acto específico de desconectar o respirador foi sedada com antecedência para evitar mais
sofrimento. A equipa médica que a assistiu adoptou as medidas necessárias para que "não
sofresse qualquer dor".
Segundo a Delegação Provincial de Saúde da Andaluzia, Echevarria morreu no Hospital San Juan
de Dios, em Granada, depois de ser desligada a unidade de ventilação mecânica que a mantinha
"artificialmente com vida".
Bandeira da Espanha "Não aceito que haja meios (artificiais) que mantenham a minha vida”.
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ÉTICA E DIREITO – Por ADÃO AVELINO MANUEL
Uma vasta gama de tratados internacionais dos direitos humanos, entre eles a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
o Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional dos Direitos Económicos Sociais e Culturais
possuem, como fundamento, a defesa da dignidade humana, elevando a protecção da vida, da dignidade, da liberdade e
da igualdade como direitos inerentes a todo ser humano.
Todos os dias pessoas no seu perfeito estado de consciência mental imploram que lhes seja permitido morrer. Muitas
vezes pedem para que os outros lhes proporcionem a morte.
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ÉTICA E DIREITO – Por ADÃO AVELINO MANUEL
Não se pode olvidar a dramática situação de famílias que mantêm, nas respectivas casas, doentes em estado vegetativo,
acometidos de males degenerativos, que só se encontram vivos porque ligados a aparelhos ou porque alimentados por
sondas.
A Suprema Corte Americana vem se deparando com casos em que tem de decidir se os pacientes
em processo de morte são ou não titulares de um direito, constitucionalmente garantido,
segundo o qual o governo deve permitir que os médicos lhes prescrevam pílulas letais para que
maiores sofrimentos sejam evitados.
A sociedade, os operadores do Direito, os filósofos e os médicos se dividem na argumentação: os que defendem a prática
da eutanásia e do suicídio assistido prendem-se ao argumento de que, na medicina, existem quadros clínicos irreversíveis
em que o paciente, muitas vezes passando por terríveis dores e sofrimentos, almeja a antecipação da morte como forma
de se livrar do padecimento que se esteja a viver.
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Afinal a vida não poderia se transformar em dever de sofrimento... A antecipação da morte não só atenderia aos
interesses do paciente de morrer com dignidade, como daria também efectividade ao princípio da autodeterminação da
pessoa em decidir sobre a sua própria morte.
Os que se opõem à prática da eutanásia e do suicídio assistido sustentam ser dever do estado
preservar, a todo custo, a vida humana, que é o bem jurídico supremo. O poder público estaria
obrigado a fomentar o bem-estar dos cidadãos e a evitar que sejam mortos ou colocados em
situações de risco.
Eventuais direitos do paciente estariam, muitas vezes, subordinados aos interesses do Estado, que obrigaria a adopção de
todas as medidas visando ao prolongamento da vida, até mesmo contra a vontade da pessoa. Argumenta-se que, uma vez
reconhecido o direito de morrer, este poderia alargar-se por searas imprevisíveis, dando ensejos a graves abusos.
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ÉTICA E DIREITO – Por ADÃO AVELINO MANUEL
Sabe-se que a vida é um dos valores inerentes à pessoa humana. A sua origem permanece misteriosa: é da
natureza. Pode-se dizer que há uma associação de elementos que a produzem, ou entender determinadas condições em
que ela se produz. Certo é que, sem a vida, a pessoa humana não existe como tal.
O carácter associativo das pessoas, fazendo com que uns dependam dos outros, por necessidade
várias, tais como pelo aspecto material, espiritual, afectivo e necessidades intelectuais, faz da
vida um valor (isto em qualquer sociedade, tanto naquelas que se julgam mais evoluídas, quanto
nas mais rudimentares).
A partir do momento em que se concebeu a vida como valor, passou-se, costumeiramente a respeitá-la, logicamente com
as nuances a ela atribuídas por cada sociedade e de acordo com as características culturais de cada povo.
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Entretanto, foi somente através dos séculos que o direito à vida passou a ser reconhecido e protegido como valor jurídico.
Antes, o que existia era a origem humana e social deste direito.
Não havia qualquer formalização para garantia do direito à vida, e a sua protecção era feita de
forma reflexa, no sentido de que, quem a desrespeitasse ou atentasse contra ela, era punido.
A discussão que permeia a garantia do direito à vida versa, não raro, em relação à sua qualidade e dignidade, como
construção diária.
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A Vida, não é considerada apenas no seu sentido biológico de incessante auto-actividade funcional, peculiar à matéria
orgânica, mas na sua acepção biográfica mais compreensiva. A sua riqueza significativa é de difícil apreensão porque é algo
dinâmico, que se transforma incessantemente sem perder a sua própria identidade. É mais um processo (processo vital),
que se instaura com a concepção (ou germinação vegetal), transforma-se, progride, mantendo a sua identidade, até que
muda de qualidade, deixando, então, de ser vida para ser morte.
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As novas questões suscitadas nesse limiar de século XXI referentes aos seres humanos são, entre outras:
Discorrer sobre a liberdade não é tarefa fácil, vista ser tema permeável, que admite uma vasta gama de interpretações.
Assim, o emprego do termo sempre reflecte uma teoria específica, sendo certo que a liberdade, incomensurável, exerce,
sem qualquer dúvida, um exaltado fascínio em todos os contextos em que é tratada.
O vocábulo latino líber, do qual deriva a palavra “livre”, teve no princípio o sentido de “pessoa na
qual o espírito da procriação se acha naturalmente activo”, donde a possibilidade de se
chamar líber ao jovem, quando, ao alcançar a sua maturidade sexual, se incorpora como homem
capaz de assumir responsabilidades. Nesse sentido, o homem livre é aquele que não é escravo.
Ser livre é estar disponível para fazer algo por si mesmo. Nesse sentido, a liberdade afigura-se como a possibilidade de
decidir e, ao decidir, autodeterminar-se. Mas a liberdade pressupõe responsabilidades do indivíduo para consigo mesmo e
ante a comunidade.
A liberdade é a faculdade natural de fazer cada um o que deseja, se a violência ou o direito lhe não proíbe. Libertas est
naturalis facultas e jus quod cuique facere libet, nisi si quid vi aut jure prohibetur.
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Encontramos duas formas de actuação da liberdade: “a liberdade natural da existência na marcha da sua temporalização
primordial – a vida em busca de si mesma, construindo-se e a liberdade absoluta do espírito”.
A primeira se desenvolve no campo da natureza, sendo certo que o homem age através de
instintos, emoções e sentimentos.
É graças a este seu modo de ser livre que o espírito pode elaborar ideias, dentre as quais as ideias éticas e nestas a ideia
do Direito, oferecidas às forças impulsivas da existência, juntamente com os valores jurídicos a fim de que se possam
realizar, na liberdade da sua temporalização natural, e segundo as formas oferecidas, as valorações do seu interesse – as
valorações necessárias à construção da vida – sem os riscos precipitados da morte, os riscos do nada.
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ÉTICA E DIREITO – Por ADÃO AVELINO MANUEL
O homem elabora a ideia do Direito através da liberdade absoluta do espírito e as formas normativas ou normadas
conduzem o comportamento do homem.
A título de exemplo, uma determinada norma proíbe o homicídio; outra limita a validade deste mesma norma pelo fato de
que exclui a condenação de um homem que agiu em legítima defesa, e assim por diante.
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ÉTICA E DIREITO – Por ADÃO AVELINO MANUEL
Para Kant a liberdade é o fundamento do direito. A liberdade é o fundamento transcendental, porquanto não pode ser
demonstrada por não se dar na experiência. Somente sob o pressuposto da liberdade é que são possíveis a moral e o
direito.
A moral constitui a legislação interna do homem, na forma de imperativos categóricos, enquanto o direito traduz-se na
legislação externa, reguladora do convívio das liberdades individuais através da coacção. A partir daí, tem-se o conceito de
direito que é, portanto, a liberdade exteriorizada.
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ÉTICA E DIREITO – Por ADÃO AVELINO MANUEL
Para Kant, há um único direito natural: a liberdade. O homem deve sair do estado de natureza com a finalidade de
constituir o estado civil, por ser livre. A liberdade é conditio sine qua non do direito, diversamente da coacção, esta última
é vista como garantia do convívio dos arbítrios, dando eficácia ao direito (conditio per quam).
Ainda segundo Kant, a liberdade é um fim em si mesma, e o direito aparece como meio capaz de
tornar possível o convívio das vontades mediante uma lei universal de liberdade.
O Jusfilósofo Joaquim Carlos Salgado mostra a importância de Kant sobre o fundamento da
liberdade: ter sido o pensador que, pela primeira vez, voltou todo o interesse da sua investigação
filosófica para a questão da liberdade, enquanto exigência racional da possibilidade da eticidade
do homem.
Exactamente por isso permanece a actualidade de Kant: porque ainda não foi possível construir uma sociedade racional ou
livre. As perguntas fundamentais da sua filosofia do direito ainda perduram: ‘como é possível uma sociedade racional’? ou
‘como é possível uma sociedade livre’?
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ÉTICA E DIREITO – Por ADÃO AVELINO MANUEL
Para entender a ética kantiana, é importante compreender que o homem é livre e a liberdade vincula o conteúdo do
direito. Portanto, para Kant, o fim do estado não é a felicidade, mas a liberdade garantida pelo Direito.
A Professora Maria Celeste Cordeiro dos Santos considera o seguinte: “quando kant diz que o fim
(a suprema lex) do estado é a liberdade, entende por tal a liberdade individual, ou, usando uma
contraposição hoje habitual, é a liberdade a frente do estado, é a liberdade no estado”.
O ideal de paz que Kant aspira só será possível o seu alcance mediante a extensão das relações entre estados, mediante
uma constituição legal própria das relações entre os indivíduos. A idealidade da paz kantiana coincide com o ideal da
extensão das relações e o reforço da liberdade civil, isto é, da liberdade que o direito garante, em contraposição à
liberdade brutal e selvagem do estado de natureza.
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ÉTICA E DIREITO – Por ADÃO AVELINO MANUEL
Enquadramento Geral – Direito de morrer com dignidade: a construção da norma a partir da interpretação do sistema
de valores, princípios e regras: a teoria de Ronald Dworkin
Como já foi dito no início deste módulo, não existe qualquer pretensão em apresentar soluções últimas para o julgamento
e decisões sobre a eutanásia. Objectiva-se, sim, trazer à discussão alternativas convincentes que possam servir de alavanca
as referidas decisões, as quais se afiguram tão intrincadas quanto multidisciplinares.
Jürgen Habermas (Düsseldorf, 18 de Junho de 1929) é um filósofo e sociólogo alemão, que participa
da tradição da teoria crítica e do pragmatismo. É membro da Escola de Frankfurt, dedicou sua vida
ao estudo da democracia, especialmente através de suas teorias do agir comunicativo, da política
deliberativa e da esfera pública.
Ele era conhecido pelas suas teorias sobre a racionalidade comunicativa e a esfera pública, sendo
considerado como um dos mais importantes intelectuais contemporâneos.
Associado à Escola de Frankfurt, foi assistente de Theodor Adorno, coopera com este na crítica ao positivismo lógico, em
especial relativamente à influência deste na sociologia. Desenvolve a sua teoria dos interesses cognitivos em sintonia com
o pensamento de Herbert Marcuse, em especial em relação ao interesse emancipatório.
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Enquadramento Geral – Direito de morrer com dignidade: a construção da norma a partir da interpretação do sistema
de valores, princípios e regras: a teoria de Ronald Dworkin
Habermas afirma que Dworkin, por via da Teoria do Direito, oferece opções convincentes para as falhas apresentadas pela
hermenêutica, pelo realismo e também pelo positivismo jurídico, no julgamento de certas questões.
Segundo Habermas, Dworkin chama atenção para o facto de que, nos processos judiciais, três tipos
de questões fatalmente vêm à tona:
Lembra o autor que a maioria dos advogados e juízes não divergem apenas de forma empírica sobre qual lei a ser
aplicada ao caso concreto. Na verdade, há muitas divergências quanto ao fundamento dessa lei, ou seja, do seu sentido.
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Enquadramento Geral – Direito de morrer com dignidade: a construção da norma a partir da interpretação do sistema
de valores, princípios e regras: a teoria de Ronald Dworkin
Assim, a lei não é mero facto, mas sim objecto de interpretação. O direito é conceito interpretativo. Os operadores do
direito divergem sobre qual a sua melhor interpretação e não quanto aos critérios semânticos para o seu uso.
Feitas essas considerações, há que se dizer que Dworkin afirma que as concepções sobre o que seja
o direito sempre procuram responder três questões básicas:
Enquadramento Geral – Direito de morrer com dignidade: a construção da norma a partir da interpretação do sistema
de valores, princípios e regras: a teoria de Ronald Dworkin
Ronald Myles Dworkin (Worcester, Massachusetts, 11 de Dezembro de 1931 – Londres, 14 de Fevereiro de 2013). Foi
um filósofo do Direito norte-americano. As últimas posições académicas por ele ocupadas foram a de professor de Teoria
Geral do Direito na University College London e na New York University School of Law. É conhecido pelas suas
contribuições para a Filosofia do Direito e Filosofia Política. A sua teoria do direito como integridade é uma das principais
visões contemporâneas sobre a natureza do direito.
Dentre as principais ideias apresentadas por Dworkin, estão a atitude interpretativa frente ao
Direito, a interpretação como forma de enxergar a norma sob a sua melhor perspectiva, os
diferentes estágios da interpretação (etapa pré, etapa interpretativa, etapa pós-interpretativa), o
Direito orientado por um ideal político de integridade, e a distinção entre o conceito e as
concepções do Direito.
Enquadramento Geral – Direito de morrer com dignidade: a construção da norma a partir da interpretação do sistema
de valores, princípios e regras: a teoria de Ronald Dworkin
Dworkin, criticando o pragmatismo e o convencionalismo, apresenta uma alternativa - o direito como integridade – o meio
lúcido para a racionalidade da tutela jurisdicional. Ou seja, uma decisão é justa (ou seja, respeita a integridade do direito)
se fornece a resposta correcta (mesmo que esta não se baseie na estrita legalidade) para o caso.
Assim, a tarefa consiste em encontrar uma norma, prima facie, que melhor se adapte, de acordo
com todos os pontos de vista relevantes, à situação prevista, do modo mais completo possível,
afastando-se a compreensão dos princípios como mandatos de optimização.
O direito como integridade pressupõe uma personificação da comunidade ou do Estado. Este deve
ser concebido como agente moral que, da mesma forma que os indivíduos, tem as suas próprias
convicções. Obviamente, Dworkin não faz tal afirmação no sentido metafísico.
O que ele demonstra é que uma comunidade tem os seus princípios que diferem daqueles que são da maioria dos
indivíduos dessa mesma comunidade. A comunidade torna-se assim uma espécie de entidade, distinta dos seres reais que
a compõem.
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Enquadramento Geral – Direito de morrer com dignidade: a construção da norma a partir da interpretação do sistema
de valores, princípios e regras: a teoria de Ronald Dworkin
Mas o que seriam esses princípios e qual seria o conteúdo dos mesmos? O conteúdo desses princípios é a moral que
transcende as diversas morais individuais, por isso trata-se de uma moral objectiva. Daí a concepção de Dworkin do
ordenamento jurídico como sistema aberto de regras e princípios.
Estes últimos têm o poder de impor deveres e criar direitos, devendo ser aplicados
deontologicamente. Entendimento contrário a este, ou seja, o direito visto como sistema fechado de
regras, enfrenta alguns problemas. As regras são aplicadas na base do tudo ou nada. No caso de
conflitos, como resolver qual a regra a ser aplicada?
Para Dworkin, afirma que os direitos indisponíveis manifestam carácter deontológico e têm um peso
maior do que os bens colectivos ou objectivos políticos.
O certo é que, diante deste entendimento, o juiz da comunidade de princípios tem uma tarefa difícil a desempenhar.
Segundo o autor, a decisão deve partir de um caso concreto e, através do processo reconstrutivo, deve atingir um alto grau
de abstração de forma revelar o princípio referente ao caso.
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Enquadramento Geral – Direito de morrer com dignidade: a construção da norma a partir da interpretação do sistema
de valores, princípios e regras: a teoria de Ronald Dworkin
As regras devem ser interpretadas à luz dos princípios. E mais, as regras podem ser afastadas se não atenderem ao
princípio referente à situação. Todo caso é um hard case, único e irrepetível, só havendo uma decisão correcta poderá ser
aplicada.
Veja-se que, na concepção de Dworkiniana, cada decisão é única, e deve ser analisada de acordo
com as regras e com os princípios.
Esta poderia afigurar alternativa plausível para o julgamento de questões relacionadas à eutanásia e
ao direito de morrer?
Veja-se que, na concepção de Dworkiniana, cada decisão é única, e deve ser analisada de acordo
com as regras e com os princípios.
Esta poderia afigurar alternativa plausível para o julgamento de questões relacionadas à eutanásia e ao direito de morrer?
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de valores, princípios e regras: a teoria de Ronald Dworkin
Embora seja quase impossível a existência de “Hercúles”, as regras fechadas sobre o tema não seriam aconselháveis, eis
que poderiam interferir num situações em que o fim da vida fosse o mais aconselhável, de acordo com as provas e
evidências do caso concreto.
Outra crítica à legalização da eutanásia e do suicídio assistido seria a facilidade que as pessoas
teriam de lançar mão deste mecanismo, muitas vezes num estado de pânico, portanto, diante de um
estado de manifesta vulnerabilidade.
Obviamente que não há como esgotar questões dessa natureza num catálogo de regras, como já
disse Dworkin.
Assim sendo, os problemas deverão ser analisados nas suas particularidades, de acordo com a relevância das questões
trazidas à análise e à discussão, aplicando-se o princípio que melhor convenha à cada situação.
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Enquadramento Geral – Direito de morrer com dignidade: a construção da norma a partir da interpretação do sistema
de valores, princípios e regras: a teoria de Ronald Dworkin
A condição humana é requisito único e exclusivo, reitere-se, para a titularidade dos direitos. Isto porque todo ser humano
tem uma dignidade que lhe é inerente, é incondicional, e não depende de qualquer outro critério, senão a sua condição
de ser humano.
O valor da dignidade humana se projecta, assim, por todo o sistema internacional de protecção.
Todos os tratados internacionais, ainda que assumam a roupagem do positivismo jurídico,
incorporam o valor da dignidade humana”.
A evolução tecnológica fez com que a cidadania moderna se deparasse com duas exigências
igualmente legítimas, mas logicamente em conflito:
de um lado, o particularismo das liberdades, preferência e interesses pessoais, pertencente ao campo dos direitos de
cada indivíduo e,
de outro, o universalismo das necessidades e interesses colectivos, pertencente ao campo dos direitos de todos os
indivíduos.
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Enquadramento Geral – Direito de morrer com dignidade: a construção da norma a partir da interpretação do sistema
de valores, princípios e regras: a teoria de Ronald Dworkin
Por sua vez, as duas situações acima mencionadas provocaram o reestudo dos princípios da autonomia da vontade e da
justiça, os quais, equacionados sob o direito, determinam o tipo de sociedade vigente: individualista, por um lado,
colectivista, por outro, sendo certo que toda uma gama de posições intermediárias são possíveis.
É preciso cultivar uma sabedoria que se adapte aos contextos pluralistas sem violação da integridade
da pessoa humana.
O direito necessita entender que tanto a bioética quanto o biodireito representam uma ponte para o
futuro e devem ser vistos como pontes de diálogo multicultural e multidisciplinar para que se possa
recuperar a tradição humanista e o respeito pela dignidade do homem e desfrutar a vida como
conquista, solidária e honrada. Eis mais um dos desafios dos direitos humanos.
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O que devemos perguntar, reflectir e decidir sobre a importância da VIDA e sobre a problemática da Eutanásia
O que devemos perguntar, reflectir e decidir sobre a importância da VIDA e sobre a problemática da Eutanásia
O que devemos perguntar, reflectir e decidir sobre a importância da VIDA e sobre a problemática da Eutanásia
1. Do ponto de vista histórico, como a lei tem encarado o 4. De que forma o suicídio auxiliado por um médico torna-
suicídio? se legal?
2. Do ponto de vista histórico, como a lei tem visto o 5. Como os outros países, além dos Estados Unidos, vêm o
suicídio assistido e o golpe de misericórdia? suicídio auxiliado por um médico?
3. O que a Suprema Corte dos Estados Unidos tem dito
6. E a eutanásia na Holanda?
sobre o suicídio assistido por um médico?
7. A legalização do suicídio assistido o justificaria moralmente?
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O que devemos perguntar, reflectir e decidir sobre a importância da VIDA e sobre a problemática da Eutanásia
1. Como a classe médica vê as diferentes formas de 4. Quais são alguns sinais indicativos de que uma pessoa
eutanásia? pode estar considerando cometer suicídio?
5. Posso continuar confiando no meu médico se ele aceita
2. O suicídio é hereditário?
o suicídio auxiliado por um médico como uma alternativa?
35. O suicídio auxiliado por um médico é a única
3. O que é o triângulo do suicídio? alternativa para o medo da dor, do isolamento, perda de
controlo e colapso financeiro?
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O que devemos perguntar, reflectir e decidir sobre a importância da VIDA e sobre a problemática da Eutanásia