Anda di halaman 1dari 68

Almirante

Incrível,
fantástico,
extraordinário!
Outros casos verídicos de terror e assombração
Livraria Francisco Alves Editora, 1989
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

prefácio
No dia 16 de setembro de 1947 Almirante deu início, na rádio Tupi, a uma série de
programa sobre o Bando de Tangará, conjunto a que pertenceu no início de carreira e
contava também com Noel Rosa, João de Barro, Henrique Brito e Álvaro Ribeiro. Foram
quatro programas que marcaram o encerramento da História das orquestras e músicos
do Brasil, através da qual o grande radialista focalizou vida e obra de aproximadamente
150 figuras da música brasileira.
Na abertura da série sobre o Bando de Tangará anunciou pra breve o início dum
programa de assunto inteiramente novo no rádio. Na semana seguinte deu o nome do
novo programa: Incrível, fantástico, extraordinário!, acrescentando, aos ouvintes, que
ouviriam fatos reais fantásticos ocorridos com todos nós, fatos sem explicação imediata ou
racional. Também não cuidaremos de dar explicação, somente contaremos. No terceiro
programa voltou a falar em sua nova criação, advertindo:
— Não vos assusteis, ouvintes. Será um programa em que apresentaremos o
sobrenatural sem tentar explicar coisa alguma e sem propósito de fazer com que acrediteis
ou desacrediteis nos fatos verdadeiramente fantásticos que ocorrem no cotidiano de muita
gente.
No final da série, ao anunciar a estréia da nova atração na semana seguinte, deu mais
explicação:
— (...) Quero oferecer a vós, meus amigos, audição dum programa imaginado ha mais
de seis anos e que só agora poderá ser realizado. Um programa que conta os episódios de
aspecto sobrenatural que ocorrem com freqüência na vida de toda gente. Não há quem
não tenha pra contar um fato estranho, sem explicação, ou com explicação, sucedido com
si mesmo ou alguém de sua família. Aparição, mensagem, coincidência, fenômeno
auditivo, aviso. Enfim, toda manifestação que prova a existência de força que nossa
inteligência não sabe ainda compreender. (...) Será programa de cunho profundamente
verdadeiro. Não cuidaremos de defender tese nem tentar convencer alguém da existência
ou não de poder sobrenatural. Simplesmente exporemos os casos sem propósito
sensacionalista, procurando somente os reconstituir com a mais absoluta exatidão.
Creio que o próprio Almirante, com suas palavras, descreveu o Incrível, fantástico,
extraordinário! melhor que qualquer prefácio. O que talvez não tenha prevista é que o
maior produtor do rádio dava início ao programa de maior êxito de sua carreira. Depois
de produzir quase 40 títulos em várias emissoras (qualquer um deles estava a 1000km
acima, em matéria de qualidade, da média do que era transmitido pela rádio), o radialista,
então com 39 anos de idade, mostrava que estava no auge da vida profissional. O
programa marcou também o fim de sua atividade radiofônica. Almirante estava a caminho
da rádio Tupi, no dia 11 de janeiro de 1958, pra gravar mais um programa da séria,
quando sofreu, em plena avenida Rio Branco, o derrame cerebral que iria o afastar do
rádio e modificar inteiramente sua vida. Dali a diante passou a se dedicar mais a seu
grandioso arquivo, adquirido em 1965 pelo governo do estado da Guanabara, mas que
continuou sendo administrado por ele até o dia de sua morte, no dia 22 de dezembro de
1980.
Almirante, que se chamava, na verdade, Henrique Foreis Domingues, foi um gigante da
comunicação brasileira. Se não há quem se compare a ele no rádio, também não há quem
tenha contribuído mais à história de nossa música popular. Foi excelente cantor, pioneiro,
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

homem que levava as coisas adiante. Ademar Casé, inventor do programa Casé (um marco
na história do rádio), me disse que viajava tranqüilamente porque sabia que seu programa
de 12 horas de duração estava bem entregue. Ficava com Almirante, que cuidava não só
dos programas artísticos, como também da finança, anúncio, parte técnica, de tudo. Era
pessoa em quem eu confiava incondicionalmente, me confessou Ademar Casé.
Este livro demonstra que sua obra continua, desmentindo aquele temos dos primeiros
anunciantes do rádio, que diziam Palavras faladas o vento leva, querendo provar que
seria muito melhor colocar seus anúncios no jornal que no rádio. Este livro está sendo
lançado quase dez anos após a morte de Almirante e muitas edições virão, provando a
eternidade de sua obra. Obra realizada por um autodidata que rompeu barreira, inventou
novas linguagens e nunca será esquecido pelo povo.
Porque Almirante, querido leitor, é um grande brasileiro.
Sérgio Cabral
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

Introdução
Nas palavras do próprio Almirante, eis o significado da série de programas radiofônicos
Incrível, fantástico, extraordinário!, que a partir de 21 de outubro de 1947 até 1958
empolgou milhões de ouvintes:
Boa noite, ouvintes de meu Brasil! Aqui estamos agora, no estúdio da simpática rádio
São Paulo, uma das Emissoras Unidas, pra iniciar uma nova série do Incrível, fantástico,
extraordinário! Devemos, inicialmente, explicação aos que jamais ouviram algum desses
programas no Rio de Janeiro. Esses programas foram imaginados e levados ao ar no
intuito de divulgar alguns dos milhares de fatos estranhos, fenômenos curiosos,
inexplicados, passados com quase toda gente. Na verdade, raríssimos são os que, pelo
menos uma vez na vida, não tenham presenciado algum fato não explicado sem o auxílio
do sobrenatural. Casos de aparição, sonho, aviso, manifestação telepática existem desde
que o mundo é mundo. Grandes organizações se dedicaram a estudar tais fenômenos,
tentando os explicar à luz da ciência mas diariamente novas modalidades se sucedem,
destruindo a conclusão materialista da véspera e tudo recai, novamente, no mais
impenetrável mistério.
O jornal, a revista, o teatro, o cinema, a literatura, etc., de todos os países se ocuparam
de manifestação do além. Por que razão também o rádio não lhes poderia dedicar audição
especializada? Foi o que fizemos, ouvintes, criando o Incrível, fantástico,
extraordinário! Não nos moveu inclinação especial por uma ou outra religião, este ou
aquele dogma, tal ou qual doutrina. Nos mantivemos rigorosamente imparciais até hoje,
acatando com a mesma seriedade os fatos mais extravagantes, quer se apresentando sob
aspecto puramente católico, declaradamente espírita ou rudemente fetichista. Nos basta
que qualquer fato seja incrível, fantástico ou extraordinário pra que o divulguemos.
Este livro se propõe a reviver emoções passadas, sempre pela ótica da narrativa
vibrante de Almirante.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

Orelha
Quase dez anos desde sua morte, em 1980, surgiu a primeira publicação dos trabalhos
que Henrique Foreis Domingues, Almirante, realizou pro rádio brasileiro, inéditos em
livro.
Homem dedicado à pesquisa e à precisão de dado, Almirante se destacou em séries
radiofônicas que tratavam de música brasileira, músicos, orquestras, história da música.
Seus programas marcaram uma geração inteira que aguardava com ansiedade o início da
atividade diária da transmissão radiofônica, as mais importantes trazendo um toque de
Almirante.
Homem arrojado, não se contentava com as fórmulas fáceis pra agradar o público e, em
1947, iniciou um programa totalmente inédito no rádio brasileiro: o Incrível, fantástico,
extraordinário!, que se propunha a relatar todo tipo de experiência inexplicada ocorrida
com pessoas das mais diversas partes do país. Pra isso Almirante se muniu duma equipe
que cuidava verificar (às vezes até mesmo indo ao lugar em que o fenômeno teria
ocorrido) a veracidade do relato. Cartas eram checadas, nomes completos exigidos e
testemunhas solicitadas. Daí o encanto do programa que fazia famílias inteiras se reunirem
em torno do rádio pra ouvir os causos. Pois eram realmente eletrizantes as radiofonizações
de Almirante, que partia de idéias simples, dum tipo de relato que há séculos excita a alma
nacional (os contadores de causo) e utilizava a técnica do rádio pra fazer aqueles
momentos do programa uma experiência única e inebriante.
Pesquisador emérito da música brasileira, das coisas e dos homens da música brasileira,
Almirante produziu e viveu considerável série de programa sobre o tema que foi a paixão
de sua vida. Assim, até certo ponto, chega a ser ironia o fato de que a série Incrível,
fantástico, extraordinário! Tenha sido seu maior sucesso no rádio brasileiro, em sua
época áurea, pré-televisão.
Em 1951 Almirante transferiu ao livro 70 dos casos narrados no rádio. Essa publicação,
da Edições O Cruzeiro, há muito esgotada, justifica a presente edição da Francisco
Alves, com outros contos verdadeiros de terror e assombração. Aqui se procurou mais
trazer à tona o valor histórico do trabalho de Almirante, dada a impossibilidade de recriar
o clima que verdadeiramente envolvia os ouvintes de rádio.
A seleção dos casos seguiu um critério básico: Tentar montar um mostruário do
programa, buscando quase um representante de cada tipo de história contada. A seleção
não se pretende exaustiva. Foram lidos todos os programas da série e, após a seleção, feita
a adaptação do texto (feito originalmente em forma de roteiro radiofônico) à narrativa
literária. Dado o tempo decorrido das cartas endereçadas a Almirante, optamos pela
exclusão do nome completo e endereço dos missivistas e ou personagens das tramas.
[Nesta edição digital, outubro de 2003, excluí os contos contidos na edição de 1951, pois essa edição
está aqui também digitalizada.]
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A doce presença
Terão as aves misteriosa simpatia
por certas pessoas ou serão, às
vezes, portadoras de mensagem
divina?
Este caso foi amplamente divulgado pelo jornal em janeiro de 1951 e teve o
testemunho de milhares de pessoas na capital paulista, conforme asseguram as notícias. O
fato ocorreu exatamente no dia 23 de janeiro e se revestiu de misteriosa circunstância, não
havendo quem pudesse dar explicação plausível.
Em 1928 foi nomeada professora rural do estado de São Paulo uma senhora chamada
Odília. Durante 24 anos ocupou o cargo onde sempre revelou bondade e eficiência. Já
bastante idosa abandonou o magistério público passando a trabalhar em casa, ora como
professora particular, ora como preceptora dou dama de companhia.
Por volta de 1949 Odília, que era solteira, começou a se sentir doente. Era um mal
estranho, indefinível, que não pôde ser identificado por algum dos muitos médicos que
procurou. Seu mal foi progredindo e ela, cada vez mais fraca, começou, a partir de 1 de
janeiro de 1951, a ser alimentada somente com soro e transfusão de sangue. E, afinal, no
domingo, 21 de janeiro, foi internada no instituto Paulista, já em estado desesperador.
Os médicos da instituição ainda tentaram todos os recursos mas foi tudo inútil. Na
manhã de segunda-feira se percebeu que não poderia sobreviver à terrível e ignorada
moléstia. As dores que boa senhora sofria eram tantas e tão fortes que em dado momento
(era grande devota do Divino Espírito Santo) murmurou em derradeira súplica ao objeto
de sua fé:
— Meu Divino Espírito Santo! Me livres desta dor...
Não demorou muito. Com enorme tristeza de sua irmã, que a acompanhava, e doutras
pessoas amigas, a bondosa criatura exalou o último suspiro.
Até então nada de extraordinário. Mas na hora exata em que se deu o desenlace todos
os presentes, sem exceção, notaram o forte perfume de rosa que invadiu o quarto do
hospital...
Apesar da estranheza causada pelo fato ninguém atribuiu excessiva importância.
começou a providência rotineira diante do óbito. Depois o corpo foi transferido ao
necrotério do instituto e ali ficou sendo velado pela irmã da morta e mais três vizinhas
amigas.
Aproximadamente 19h, portanto 12 horas depois da morte de Odília, um fato
inesperado espantou as pessoas presentes: Uma linda pomba branca entrou voando no
recinto vindo não se sabe donde e, sobre o caixão onde repousava o corpo de Odília,
traçou no ar uma grande cruz em duas linhas perfeitamente distintas. Em seguida baixou e
pousou na cabeceira afastando com o bico algumas flores que cobriam o rosto da morta!
Não houve quem não mostrasse surpresa com o fato. E uma das amigas presentes ao
velório se levantou do ponto em que se achava sentada e tentou afastar a pomba da
cabeceira do caixão onde pousara. Mas a pomba, de aspecto tão manso, reagiu lhe dando
fortes bicadas na mão.
A senhora ficou espantada mas renovou seu intento. Novamente a pomba não se
mostrou disposta a sair dali e voltou a dar bicada na mão de quem a tentasse afastar.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

Diante do ocorrido, e vendo a determinação da pomba, ninguém mais pensou em afastar a


ave dali. E ali permaneceu.
Não tardou que corresse no instituto a notícia de que uma pomba velava uma morta.
Dali a notícia ganhou a rua e em pouco tempo uma autêntica romaria invadiu o local. Foi
necessária até a presença da polícia pra conter a multidão. Indiferente a tudo a pombinha,
sem se afastar dali um instante, sem procurar alimento, permaneceu imóvel durante toda a
noite.
No dia seguinte a família pediu a presença do capelão do hospital, padre Frederico, pra
encomendar o corpo. Durante a cerimônia a ave foi afastada facilmente mas logo que tudo
terminou voltou à cabeceira do caixão, seguindo, pousada agora na tampa, até o cemitério
onde se deu o sepultamento na quadra 23, túmulo 271. Grande multidão acompanhou o
féretro, tendo sido necessária a presença da polícia pra manter a ordem.
Na hora do fechamento definitivo do caixão, o povo, em incontido ímpeto, assaltou o
caixão e de lá retirou flores. Mesmo assim a pomba não se afastava de seu posto!
Quando a situação foi controlada e o caixão poderia baixar à sepultura, pomba se
deslocou à lápide e ali permaneceu longo tempo à vista da multidão que observava
fascinada.
Apesar do apelo do capelão de que tudo aquilo não passava de grande coincidência o
povo, se lembrando de que Odília era devota do Espírito Santo e se lembrando também do
apelo que fizera em agonia, e sabendo ser a pomba o símbolo daquela entidade divina... O
povo atribuiu o fato a verdadeiro milagre.
E quem pode assegurar se era?
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

O casamento inacabado
O casamento é a aspiração dos
apaixonados em geral. Poucos
noivos, entretanto, terão sentido
tão grande desejo como o deste
caso.
Na cidade de Bauru, São Paulo, existiam dois jovens cujo casamento estava marcado
prum dia de maio. Na véspera do evento não se falava doutra coisa.
Chegou o grande dia. Na igreja matriz de Bauru tudo era festa: Luz, flor, muita gente.
E a orquestra contratada já tocava lindas músicas. Às 4h da tarde em ponto, conforme
rezava o figurino, o jovem par entrou no templo.
A cerimônia transcorreu normalmente, com toda a pompa do ritual católico. As
alianças, em salva de prata, recobertas de pétala de rosa, foram apresentadas aos noivos.
Ele, com mão trêmula e fria, pôs uma delas no dedo anular da moça. A moça segurava a
aliança pra...
Nesse instante, diante da noiva espantada, do sacerdote atônito e da assistência
boquiaberta, o noivo foi se diluindo no ar, se reduzindo a um vulto indeciso na neblina e
finalmente desapareceu como a névoa tocada pelo vento!
Não é possível descrever o espanto e a sensação do que o fato produziu na assistência e
na cidade inteira. Mais extraordinário ainda foi quando se soube da horrenda notícia: No
afã de chegar à cidade pro casamento o moço sofrera um desastre automobilístico e muito
antes de 4h falecera entre os escombros do carro.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A reação da estátua
Inteiramente acordado, pois fazia
a ronda, o rapaz viu o imenso
vulto de aspecto ameaçador
avançando em sua direção
brandindo uma espada!
Bem que se costuma dizer que as estátuas têm alma. O caso aqui relatado poderá servir
pra mostrar que a afirmação não é despropositada.
O fato ocorreu em 1913 na escola de aprendiz de marinheiro, Recife, Pernambuco.
Naquela escola, como acontece em estabelecimentos do gênero, todos tinham seu número:
Bezerra, que nos escreveu, era o aprendiz 133, Severino era 85 e Carlos 156.
Essa questão dos números vem aqui pra identificar a personagem principal deste
estranho acontecimento. Tratados ali pelo número, os nomes de inúmeros alunos ficavam
completamente desconhecidos dos demais, exceção feita aos amigos mais chegados, que
era o caso dos três acima citados, razão que explica o fato de nosso missivista não poder
indicar a personagem em questão senão pelo número 66.
Na referida escola existia uma grande estátua do falecido almirante Eduardo
Wandenkolk, que fora ministro da marinha no governo do marechal Deodoro da Fonseca.
A respeito do ilustre homem corria na escola uma história que os alunos repetiam de boca
a boca:
— Esse almirante foi severo demais, muito rigoroso, mesmo. No tempo em que era
comandante, quando um marinheiro qualquer cometia uma falta grave, perguntava se o
mesmo preferia levar 25 chibatadas ou uma pisada dele. Uma pisada era um pontapé.
Como o almirante era muito forte dizem que o marinheiro preferia sempre as 25
chibatadas.
Essa era a história que corria na escola e o 66 sabia dela como todos os demais.
Em certa manhã o 66 foi escalado com outros colegas pra limpar a estátua. Subindo ao
pedestal e ficando face a face com o almirante de bronze o 66 começou a pilheriar:
— Então, velhinho, com essa cara, maltratavas os marinheiros. Não é? Pois agora,
tomes! — Estalou sonora bofetada na face de bronze.
— És quem dava pontapé de descadeirar marinheiro. Não era? Então, segures esta
canelada! — Desferiu tremendo pontapé na canela da estátua.
Animado pelo riso dos demais colegas destacados prà faxina, o 66 desafiou:
— Vamos, velho. Faças algo. Quero ver.
Em seguida a estátua foi lavada e brunida com óleo e a faxina terminou.
Naquela mesma noite o 66 caiu de serviço de ronda no alojamento. Às 24h, quando
recebeu o serviço, começou a andar dum lado a outro evitando dormir porque a ordem era
severa. No alojamento havia apenas duas lâmpadas acesas, uma na entrada e outra na
saída. Não estava totalmente escuro, portanto.
Depois de já estar no serviço há algum tempo, sem pensar em coisa alguma, visualizou
perfeitamente um vulto aparecer no princípio do corredor. O jovem parou pra ver quem
era. Era um homem corpulento, pisando forte. O 66 não tardou observar que a pessoa
vestia uniforme de gala da marinha. Não foi difícil reconhecer um almirante que se
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

aproximava. Com indizível espanto, quando o vulto estava a uns três passos, reconheceu a
fisionomia do almirante Wandenkolk, da estátua do pátio!
Cheio de pavor viu o vulto de cara fechada, ameaçadora, fazer menção de
desembainhar a espada como se o fosse agredir. Nesse instante não pôde se conter. Soltou
um grito e caiu desmaiado!
Com o grito todos os alunos acordaram e o fato chegou ao conhecimento do
comandante da escola, que imediatamente ordenou a formação duma guarnição pra passar
em revista todas as dependências do estabelecimento e, como nada de anormal foi
observado, declarou que ninguém se impressionasse porque tudo não passara dum
pesadelo do 66.
Os colegas, é claro, não aceitaram aquela afirmativa por um único e bom motivo: O 66
não estava dormindo naquela hora.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A palavra assumida
Até mesmo depois da morte
certos compromissos assumidos
em vida são respeitados pelas
almas
Este caso se passou com Lídia, que na época tinha 17 anos de idade e morava com seus
pais na fazenda Jupaguá, distante uns 9km da cidade de Manga, Minas Gerais. Todos os
dias Lídia ia até a cidade fazer compra. Tinha lá inúmeros amigos e, entre eles, um dos
mais chegados era Antônio.
No dia 3 de outubro de 1949, segunda-feira, Lídia se encontrou, na cidade, com
Antônio.
— Olá, Antônio. Como vais?
— Salve! Vou bem, graças a Deus!
E ambos seguiram longo tempo em amistosa conversa que terminou com uma
promessa de Antônio.
— Olhes, Lídia. No domingo que vem irei a tua casa...
Não era a primeira vez que Antônio fazia tal promessa. Diversas vezes havia garantido
a visita mas nunca fizera. Por isso Lídia zombou, brincando.
— Qual! Já cansaste de prometer que irás e nunca apareceste. Já estás desacreditado,
Antônio.
— Não! Desta vez juro que irei. Estou falando sério! Podes me esperar que no
domingo, sem falta, irei até lá.
— Tá bom! Só quero ver!
— Juro! Antes nunca jurei mas hoje estou jurando. Portanto, até domingo!
— Até domingo. — Disse Lídia, rindo como quem não acredita.
Naquele dia Lídia terminou a compra na cidade e foi até casa sem tornar a ver o amigo.
No dia seguinte seus pais viajaram e ele não foi à cidade, aonde só retornou na sexta-feira,
7 de outubro. Mas não avistou o companheiro. Naquela mesma tarde um portador foi lhe
dar uma triste notícia: Seu amigo Antônio havia falecido repentinamente naquela manhã.
Imediatamente Lídia rumou à cidade, aonde chegou a tempo de acompanhar o enterro
do bom amigo. Depois voltou a casa abatido, acabrunhado com a morte inesperada de
Antônio, comentando consigo mesmo a última conversa que tivera com ele:
— E ele, coitado, que tinha jurado ir me visitar no domingo.
Pelo que parecia, estava escrito que Antônio nunca lhe faria a prometida visita.
O domingo foi triste pra Lídia. O amigo não lhe saía da lembrança. Na noite Lídia e sua
irmã foram se deitar mais cedo que de costume. A moça dormia num quarto contíguo e
logo ambos adormeceram.
Aproximadamente 10h da noite Lídia acordou com um som que parecia tropel de
cavalo vindo na estrada em direção a sua casa e que parava no terreiro bem diante da
porta. depois dum instante de silêncio, com o tempo exato dum cavaleiro desmontando e
caminhando à soleira, Lídia ouviu as batidas.
Ia se levantar mas percebeu que sua irmã tudo escutara e já se antecipara. Ele ouviu
nitidamente que ela abria a porta e que algo anormal acontecera.
— Quem é? Quem está aí? Quem é? — Perguntava ela em tom de voz que começou
normal e foi se tornando aflito.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

Ninguém estava fora. Nenhum cavalo no terreiro. Ninguém que tivesse saltado ali e
batido na porta teria tempo de se afastar o suficiente e se esconder!
Assombrada, a garota fechou a porta depressa e voltou correndo ao quarto e quis saber
de mais nada. Lídia, na cama, tudo percebia mas, inexplicavelmente, não tomava a
resolução de ir ver o que ocorria. Nesse meio-tempo a batida à porta se repetia.
Tremendo dos pés à cabeça, Lídia se encolheu na cama enquanto ouvia o barulho
característico duma porta se abrindo. Ouviu também passos caminhando em direção a seu
quarto. Percebeu que os passos atravessavam a sala, paravam junto à porta e alguém batia
levemente na porta.
Lídia não pôde se mexer. Mas isso não foi necessário, pois a porta foi se abrindo
lentamente e nela apareceu, com nitidez, o vulto do amigo Antônio, falecido dois dias
antes!
Antônio vestia terno branco e, deixando a porta escancarada, caminhou até os pés da
cama de Lídia e ali, o fitando de modo estranho, disse:
— Eu não disse que viria te visitar hoje?
Lídia ia gaguejar mas não teve tempo, pois repentinamente a porta do quart bateu com
violência a figura do amigo desapareceu aquele instante.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

O vaticínio
É conveniente sempre procurar a
causa real de toda obsessão
Este caso se passou entre 1926 e 1927 na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais. Havia
na companhia de fiação e tecelagem uma operária, Ernestina, conhecida pelo diminutivo
de Titina. Periodicamente Titina era acometida por ataques de epilepsia que a deixavam
inconsciente um tempo que variava de 15 a 20 minutos.
Certa vez o gerente da seção em que a moça trabalhava, senhor Afonso, julgando se
tratar de simulação, num dia em que Titina se viu acometida dum ataque introduziu sob a
unha, com a maior violência, um palito de fósforo.
Apesar do palito ter penetrado na carne, naquele ponto extremamente sensível do
corpo, Titina não revelou o mais leve sinal de dor, permanecendo absolutamente imóvel,
sem contração. Ficou provado assim que não se tratava de fingimento da pobre moça.
Diante daquilo a senhora Júlia, que ainda trabalha na mesma companhia [este caso foi
ao ar em 20 de dezembro de 1949], fechou os olhos, se concentrou e caiu em estado de
transe profetizando com voz diferente de sua habitual:
— A irmã aí precisa se desenvolver. Se não o fizer, este que a persegue acabará a
atirando sob o trem...
Titina continuou no mesmo estado, isto é, tendo os mesmos ataques periódicos,
durante muitos anos. Em 1944 ou 1945 uma horrível notícia chegou ao conhecimento de
seus colegas, que nunca se esqueceram das palavras que Júlia pronunciara tantos anos
antes. Quando atravessava a ferrovia Titina morreu esmagada pelo trem.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A nota voadora
Sem dúvida. Aquilo não foi outra
coisa além dum milagre de nossa
senhora Aparecida.
Certos fatos, por sua aparente simplicidade, podem ter, na concepção dos incrédulos, a
explicação mais prosaica. A verdade, porém, é que não podem ser justificados de modo
tão simplista como alguns teimam em apresentar. É um caso desse tipo que foi relatado
por João Pedro, que era residente na cidade de Lins, São Paulo, onde ocupava o cargo de
tesoureiro municipal.
A história aconteceu com sua prima Maria, que tem dois filhos. As crianças, ele com 4
anos e ela com 11, tinham um mal inexplicado, o qual nenhum médico dava jeito: Não
podiam rir nem chorar sem sofrer vertigem muito forte.
Preocupada com os filhos e não sabendo mais o que fazer pra debelar o mal, Maria, que
era católica fervorosa, fez uma promessa:
— Minha nossa senhora Aparecida, faças com que meus filhos sarem dessas vertigens.
Se eu for atendida, no ano que vem vestirei o menino de anjo e a menina de nossa senhora
e irei com eles acompanhar a procissão em tua homenagem.
Maria era muito pobre. Vivia com enorme dificuldade. Mas seu primo João Pedro e
outros parentes a ajudaram na compra de roupa pra cumprir a promessa. Em 1949, no dia
da procissão de nossa senhora Aparecida, arrumou as crianças e, no instante de sair de
casa, como estivesse um pouco atrasada, mandou chamar um carro de praça pra que
pudesse chegar a tempo.
Horas depois João Pedro estava na casa da prima a esperando. Chegou nervosa,
preocupada e foi logo contando o incidente:
— Que coisa desagradável! Quando saí estava com *** cruzeiros na bolsa. Na hora de
pagar só os * cruzeiros ao motorista lhe dei todo o dinheiro que tinha, por distração.
Acompanhamos a procissão e depois fomos tirar fotografia. Quando fui pagar o fotógrafo
percebi que estava sem dinheiro. Então me lembrei de ter dado tudo o que tinha ao
motorista. O fui procurar e o encontrei, o vigarista, que negou que tivesse recebido o que
eu afirmava. Tenho certeza de que na pressa, no nervosismo, lhe dei todo o dinheiro.
Apesar de toda sua convicção, a conselho do primo, Maria resolveu dar uma revista na
casa pra confirmar se o dinheiro não teria fica ali. Depois de revirar cada canto da casa
concluiu:
— Não ficou aqui, não. Tenho certeza. Me lembro perfeitamente ter visto a nota de *
cruzeiros e a de ** cruzeiros juntas em minha bolsa. Foi aquele motorista desonesto quem
ficou com elas.
Pra Maria, perder *** cruzeiros era coisa desoladora. Mas o que se poderia fazer?
Ficaram ambos conversando sobre o caso e a palestra acabou se desviando a outros
assuntos. Na sala estavam, além dos primos, alguns vizinhos. De repente todos viram que
algo vinha voando feito borboleta, entrando pela janela.
Assombrados, todos ficaram olhando aquele papelucho que apareceu voando de forma
tão estranha. Aquilo veio voando até parar na mão de João Pedro. Era uma nota de ***
cruzeiros (no valor da nota perdida). Mas não era uma simples nota. Não. Quando a
cédula pousou na mão do primo, Maria não pôde conter a exclamação:
— Céus! É minha nota de *** cruzeiros!
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

Diante do espanto de todos, Maria fez a identificação da cédula por um detalhe


inconfundível:
— É minha nota, sim. Vejas se tem uma mancha azul dum lado...
Todos se precipitaram pra olhar a nota. Lá estava a nota de volta a sua verdadeira
dona. Foi, com certeza, mais um milagre de nossa senhora Aparecida que, decerto, assim
castigava o desonesto motorista que não devolveu o que não lhe pertencia.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

O enterro
Durante algum tempo o homem
acompanhou um enterro que
depois soube ser o seu
O caso aqui relatado se passou há mais de 50 anos [carta datando de 1958] com o
senhor Antônio, pai de nosso ouvinte, também Antônio. O caso narrado com a maior
singeleza, na carta, é impressionante como poucos.
Há uns 50 anos nosso missivista morava com sua família num povoado de nome Duarte
Dias, em Pernambuco. Era muito pequeno mas se recorda perfeitamente daquele dia em
que seu pai chegou a casa muito assustado e disse à esposa:
— Francisca, sabes o que vi agorinha mesmo?
— Ué! O que foi?, Antônio.
— Meu próprio enterro!, minha velha.
— Cruz-credo!, homem.
Pálido, com fisionomia transtornada, como se tivesse visto algo extraordinário, Antônio
contou à esposa, diante do filho, a visão que acabara de ter e que mais tarde soube que era
verdadeiramente profética.
— É o que digo, minha velha. Acabei de ver meu próprio enterro!
— Mas como foi isso?, homem.
— Eu estava indo a Gamilheiro quando passei pelo cemitério. Estava justamente
descendo aquele morro pra subir o outro quando avistei um enterro. Era uma rede com
um cadáver. As pessoas que acompanhavam estavam todas de branco. De vez em quando,
no meio daquela gente, alguém gritava:
— Chega!, irmão das almas.
Em certos lugares do interior, quando alguém morria, era costume o aviso ser dado
com esse refrão. Quem ouvisse o grito deveria o repetir e seguir imediatamente a junto do
cadáver. Dessa maneira a notícia duma morte chegava a distância incrível.
E Antônio prosseguiu:
— Curioso em saber quem era o morto cheguei, com o cavalo, perto duma das pessoas
que acompanhavam o enterro e lhe perguntei:
— Quem foi que morreu?
— Foi Antônio Lacerda.
— Antônio Lacerda? Ué! Que coincidência! Nunca soube que havia alguém aqui com o
mesmo nome que o meu.
Estranhei muito a história mas o enterro já seguia adiante e eu tinha ficado no mesmo
lugar, parado, sem ação. Intrigado, resolvi acompanhar o enterro ao cemitério que estava
bem perto. Quando aquela gente toda chegou ao portão da casa das almas, de repente,
tudo sumiu em minha frente. Todos sumiram num segundo e a mais ninguém vi na estrada!
Reparei, então, que o portão do cemitério estava fechado e que ninguém poderia ter
entrado ali. Notei também um silêncio estranho, silêncio de morte! Então não pensei duas
vezes e toquei o cavalo a toda e vim até casa.
— Cruz-credo! Que coisa!
No dia seguinte alguém deu a Antônio uma notícia espantosa que fez luz à aparição da
véspera, fazendo com que sentisse todo o poder sobrenatural da visão.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

— Não sabes do que escapaste ontem, Antônio. Por causa daquela tua questão de terra
um homem estava ontem de tocaia no caminho do Gamilheiro pra te matar.
— Se ele, em vez de parar pra acompanhar o enterro e de voltar a casa, apavorado com
o desaparecimento do mesmo diante do cemitério, tivesse seguido seu destino, teria
morrido no caminho. Por terrível fantasia do além, Antônio Lacerda concluiu que tivera o
privilégio de ver o que poderia ter sido seu futuro.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A mãe dos chorões


Haverá, mesmo, entidade que
preside determinada função e
que acode sempre que invocada?
Tudo se passou lá por 1934 num lugar chamado Cobra, município de Ituaçu, Bahia, a
29km da barra da Estiva. Morava ali o senhor José, conhecido como Zé da Cobra, cuja
esposa, apelidada Dezinha, foi o protagonista.
Na ocasião Dezinha tinha um filho pequeno. Por força duma doença de sua cunhada,
Dezinha resolveu ficar tomando conta da filha pequena dela, da mesma idade de seu
garoto, pra que a parenta pudesse tratar melhor a saúde.
Em certa noite Zé da Cobra não estava em casa. As duas crianças, sem motivo
aparente, não paravam de chorar um só instante. Durante muito tempo a boa Dezinha
pelejou com os dois tentando os acalmar pra pararem de chorar. Mas nem um instante
cessaram o choro. Então, pra que se aquietassem, Dezinha usou a intimidação muito
comum às crianças:
— Dormis! Dormis! Não chorai mais! Vem aí o Bicho-papão!
Seja por qual motivo, as crianças pararam de chorar e Dezinha, depois de as acomodar
em suas caminhas, entrou em seu quarto, se aprontou pra dormir e apagou a luz. Mas,
estranho: Apagou a luz do quart e o aposento continuava iluminado. Não só o quarto,
também toda a sala tinha luz.
— Ué! Será que algum dos meninos já acordou e acendeu a luz?
Imediatamente foi à sala, que era contígua aos quartos, e chamou as crianças. Como
ninguém lhe respondeu resolveu voltar ao quarto, estranhando agora a qualidade da luz
que tudo iluminava: Era diferente da que apagara, pois era azulada, dum tom indefinido.
Estava nessas conjeturas quando voltou ao quarto. Ali, então, ao olhar a porta, seu
espanto não teve limite.
Na porta do quarto estava uma mulher enorme. Tão alta que se curvava pra não
encostar no umbral. Vestia roupa azul lhe caía até os pés e cobria os braços até o pulso.
Num tom de voz fanhoso e lento indagou:
— Sabes quem sou?
Dezinha, sem conseguir desgrudar os olhos do fantasma, nada respondeu.
— Sabes quem sou? Sou a mãe dos meninos chorões. — Insistiu a mulher que depois
disso foi se sentar na sala, junto à porta do quarto onde dormiam as crianças.
Dezinha, em seu pavor, afinal conseguiu dar um enorme grito e correr ao lado das
crianças, que acordaram espantadas.
Como é natural acordaram gritando, fazendo com que todos da casa rumassem ao
quarto das crianças, inclusive um empregado de nome Tarcísio, que acudiu Dezinha
desacordada.
Meia hora depois, quando tudo voltou ao normal, esse mesmo empregado confirmou
ter acordado logo após o primeiro grito de Dezinha e ter visto a casa toda iluminada por
aquela estranha luz azulada.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

O padre sinistro
A salvação de certas almas
penadas fica, às vezes, na
dependência do sacrifício de
inocentes
O caso remonta a 1940. Ana vivia em Caricé, município de Vitório de Santo Antão,
Pernambuco, e ali conheceu Mauro, senhor do engenho Serra Grande e com ele se casou.
Infelizmente durou pouco a felicidade do casal: Seis meses após o enlace, numa tarde
serena, Ana foi arrancada de seu afazer por uma tremenda notícia que lhe foi dada por um
empregado aflito:
— Dona Ana! Dona Ana! Uma tragédia aconteceu. Teu marido acabou de ser
assassinado, no engenho, por um colono.
Foi, realmente, notícia chocante. Mauro fora morto a facada por um desafeto. Em
qualquer circunstância uma notícia dessa causaria profundo impacto. No caso de dona Ana
havia uma agravante: Estava grávida!
Graças a seu ânimo forte dona Ana conseguiu superar o duro golpe. A criança nasceu e
ela continuou morando em Caricé, sabendo encontrar na companhia do filho consolo prà
saudade do esposo desaparecido.
Passaram poucos anos. Numa noite de março tudo na casa era silêncio e dona Ana
dormia num quarto ao lado do filho quando foi acordada por gritos angustiados:
— Mamãe! Mamãe!
Mais que depressa dona Ana correu ao filho e o encontrou sentado na cama olhando a
um canto do quarto.
— O que foi?, meu filho. O que foi?
— Ali, naquele canto...
— Nada vejo ali, meu filho. O que é que vês?
— Um padre!, mamãe. Um padre muito feio. Quer me levar. Mas tem um cão que bota
fogo pela boca e pelos olhos e não deixa ele vir até cá.
— Mas, meu filho. Não estou vendo.
O padre está batendo nos cachorros com uns cordões. Quer que o cão vá embora pra
poder vir me buscar. Não deixes!, mamãe.
Dona Ana procurou por todo meio acalmar o menino mas ele continuou agitadíssimo,
repetindo sempre a mesma história. Só a muito custo, depois que o levou pra deitar na
cama, o menino se aquietou.
Na noite seguinte a mesma cena se repetiu, agora com a presença dos vizinhos, já que
dona Ana estava receosa de ficar sozinha em casa.
— Olhes, o padre ali!, mãe.
— Onde?, meu filho. Ninguém está vendo.
— Ali, mamãe, naquele canto. E o cachorro está ali também, botando fogo pela boca e
pelos olhos.
Dona Ana não insistiu muito, levando o menino à cama, o protegendo com seus braços.
Na manhã seguinte, cheia de apreensão, foi procurar o vigário do lugar, o bondoso
padre Ambrósio e lhe contou o que estava acontecendo. Naquela mesma tarde o padre
visitou a casa de dona Ana, aspergiu água benta em todo canto, rezou várias orações e foi
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

embora deixando a sensação de que nada mais aconteceria ali. Esperança vã! Naquela
mesma noite a coisa se repetiu, mais terrível e aterradora.
— Mamãe, mamãe. Olhes o padre ali!
Ao perceber que os fenômenos iam recomeçar, dona Ana, reunindo toda coragem e
súbita inspiração, resolveu interpelar o fantasma que só o menino via.
— Quem és e o que queres aqui?
Não tardou que uma voz terrível, áspera e amedrontada viesse do canto do quarto.
— Sou o padre que viveu na Paraíba e que morreu há dois anos. Em vida fui desonesto
e cheio de vício. Por isso estou aqui, sempre acompanhado pelo Demônio que quer me
levar ao Inferno. Só hei de escapar se levar sete anjinhos ao Céu. Por isso preciso desse
menino.
Em seu assombro dona Ana pôde reunir coragem pra dizer:
— Vás embora daqui!, padre. Deixes meu filho em paz. Prometo mandar rezar sete
missas em intenção a tua alma.
Sem responder se aceitava o fantasma desapareceu.
No dia seguinte, sem demora, dona Ana começou a cumprir sua promessa e mandou
rezar a primeira missa. Os dias foram passando. Cumpriu o acordo e tudo pareceu voltar à
normalidade.
Entretanto, duas semanas depois, sem que alguém pudesse encontrar uma razão,
misteriosamente o pobre menino morria, levado, decerto, pela alma endemoniada do padre
da Paraíba.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

O morto cumpriu a ameaça


Certas brincadeiras de mau gosto
feitas em vida podem provocar
revide depois da morte
O caso teve lugar em 1893. senhor Miguel era o maior negociante do município de
Serra, dono da fazenda Vimeira, em Espírito Santo. Sozinho, era o maior exportador de
café daquele município. Sua fazenda era constantemente visitada por tropeiros vindos das
divisas de Minas Gerais com Espírito Santo. Foi acompanhando uma daquelas tropas que
ali chegou um rapaz acaboclado e forte chamado José. Quando sua tropa seguiu viagem
José ficou, e como Miguel houvesse comprado vários cavalos e burros necessitados de
serem tratados e domados, o empregou na fazendo com aquela função. Era ótimo
cavaleiro, conhecedor do ofício, boa pessoa e logo se tornou estimado por todos, tendo
logo recebido o apelido de Zé Peão.
Algum tempo depois, já aclimatado na fazenda, Zé Peão caiu doente. A princípio
ninguém deu muita importância ao fato, mas como em vez de melhorar piorasse sempre,
Miguel teve de tomar uma resolução:
— Esse negócio não está bom. Zé Peão está cada vez pior, não tem família e aqui não
tem médico nem recurso pra se tratar. O melhor é ir a Serra. Lá terá onde ser cuidado.
Era, de fato, a única solução. Mas quando ela foi decidida surgiu um impasse: Zé Peão
estava em tal estado de fraqueza que não agüentaria a viagem a cavalo, nem em carro de
boi, devido aos solavancos da estrada. Surgiu, então, a única solução pro caso:
— O recurso é ser levado em rede. É só arranjar quem queira fazer isso.
Zé Peão era muito querido e não faltou quem se oferecesse pra o transportar. Seis
amigos logo se prontificaram. Entre eles Bernardo.
No dia seguinte, bem cedo, se puseram a caminho. Zé Peão na rede pendurada numa
vara foi levado cuidadosamente nos ombros dos amigos que iam revezando. A distância
entre a fazenda e a cidade era duns 15km e, quando os homens já haviam percorrido um
bom pedaço, ao chegarem a um lugar de nome Vilante, resolveram parar pra descansar.
Pousaram o doente cuidadosamente no chão, sob uma árvore, e se sentaram ou foram
beber água dum córrego próximo. Conversaram alegremente e Bernardo, muito
brincalhão, disse aos companheiros:
— Ainda falta um bocado de estrada e Zé Peão pesa pra burro! O melhor era a gente
meter um pau na cabeça desse diabo. Depois enterramos, e pronto! Não escapará desta,
mesmo.
Zé Peão, que tudo ouvira e que compreendeu o tom de pilhéria do amigo, levantou a
cabeça e respondeu:
— Olhes, Bernardo. Se eu morrer, numa noite destas virei te encontrar na estrada.
— Venhas, venhas, que com esta garrucha de dois canos aí mesmo arrancarei os dentes
de tua caveira.
Todos os companheiros riram daqueles ditos chistosos e, como já estivessem
descansados, levantaram cuidadosamente a rede e rumaram ao destino.
Na cidade de Serra não havia hospital e os doentes ficavam sempre na cadeia local. Zé
Peão foi confiado aos cuidados do delegado e os amigos regressaram.
Oito dias depois Miguel deu a triste notícia.
— Pessoal. Zé Peão, coitado, não agüentou e morreu.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

Não houve quem não ficasse penalizado com o desfecho mas a verdade é que não havia
esperança de que se salvasse.
Duas semanas depois, Bernardo, que morava num lugar chamado Minervino, a uns
5km da fazenda, foi, como de costume, à venda fazer compra. Já passava das 10 horas da
noite quando montou seu cavalo e seguiu de volta a casa.
Já quase em sua terra, faltando apenas descer uma pequena ladeira, passar um córrego
e subir uma rampa, Bernardo avistou um cavaleiro que chegava a todo galope. estranhou.
Naquele caminho raramente passava cavaleiro, ainda mais naquela hora e naquela
disparada. Em todo caso pensou que fosse senhor Miguel, vizinho do sítio Duas Brocas,
buscando a parteira prà chegada de mais um filho. De toda sorte mesmo essa hipótese não
se fixou em sua mente e, não se sabe porquê, raciocinou em voz alta:
— Miguel não cavalga assim, nesse galope. Quem cavalgava assim era... Bem, mas ele
não pode ser.
Tudo isso se passou em curtos instantes e não tardou que os dois cavaleiros cruzassem
na altura do córrego. E aí, Bernardo ouviu aquela voz que o cumprimentava:
— Boa noite, Bernardo.
Bernardo estremeceu dos pés à cabeça. Não via o rosto do outro mas reconhecia
perfeitamente aquela voz.
— Me conheces? — O outro perguntou.
— Bernardo reuniu força pra olhar em direção do cavaleiro mas assim que fixou a vista
já não viu cavalo nem cavaleiro. Os dois haviam desaparecido.
Ficou apenas uma imagem, uma sinistra caveira com todos os dentes expostos.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A milhar sinistra
A providencial ajuda da
misteriosa sorte de hoje no jogo
pode ser prenúncio de terrível
desgraça
Eis um caso espantoso, ocorrido em Campos, Rio de Janeiro, em época que,
infelizmente, não poderá ser precisada.
A figura central do episódio era conhecidíssimo na cidade de Campos, Rio de Janeiro,
onde se passou o caso. Doutor Dimas, advogado, estudante de farmácia e proprietário
dum estabelecimento dessa especialidade.
O negócio passava fase difícil, a farmácia estava em declínio e sua banca de advogado
mal dava pra equilibrar a vida particular e comercial. As promissórias e duplicatas da
farmácia iam vencendo sem que Dimas encontrasse meio de solucionar o problema que
tanto o intranqüilizava. Passava horas a fio fazendo cálculo e mais cálculo, procurando
saída a tão difícil situação.
Dia-a-dia a preocupação aumentava. Na noite já não mais pregava o olho, sentado à
escrivaninha, enfileirando cifra, imaginando operação salvadora que nunca chegava a bom
termo, já que sempre falhava por falta do essencial que era o dinheiro.
Em certa noite, hora tardia, quando mais se mostrava deprimido pela difícil situação, a
esposa o aconselhou:
— Dimas, venhas dormir. Não adianta te preocupares agora. Já passa de meia-noite.
Amanhã, com a cabeça fresca, hás de encontrar solução.
De fato, era o melhor a fazer. Por isso abandonou a escrivaninha e foi ao quarto. Mal
apagou a luz e já ia se deitar quando viu nitidamente na parece uma curiosa aparição.
Era um galo! Sim, um enorme galo que o olhava fixamente, de forma estranha, quase
humana. O inesperado da visão fez com que perdesse completamente o sono e, em vez de
se deitar voltou à escrivaninha e recomeçou a fazer cálculo e mais cálculo, escrevendo
número e mais número, somando, subtraindo, dividindo, multiplicando, na louca tentativa
de achar a solução ideal. De repente se apoderou dele uma espécie de sonolência, um
torpor inexplicado que fazia com que os algarismos começassem a dançar no papel. Não
se sabe quanto tempo aquilo durou mas começou a observar que enquanto alguns
números se tornavam imprecisos, como esfumaçados, outros ficavam claros e nítidos.
Eram dois milhares que sobressaíam, nem pareciam traçados por sua letra. Súbito, sem ter
feito movimento, viu que um dos milhares estava riscado, restando apenas o outro, que ia
se destacando mais e mais a ponto de o levar a dizer em voz alta:
— 4751! 4751!
Sua própria voz o fez sair da sonolência e, já em seu raciocínio perfeito, associou o
número à visão que tivera há pouco na parede do quarto.
— 4751! Isso é o galo. Será um palpite da providência?
Finalmente se recolheu ao leito mas sem tirar da cabeça aquela coincidência. No dia
seguinte a imagem do galo e seu número correspondente lhe vinham à cabeça toda hora.
Então, convencido de que estava ali a mão da providência, mandou jogar mil réis no galo.
Na tarde, com espanto e alegria, recebera a notícia de que dera galo naquele milhar e que
receberia cerca de 20 contos de réis.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

Com o dinheiro pagou as promissórias e duplicatas que tanta dor de cabeça lhe traziam,
encomendou novo sortimento pra sua desfalcada farmácia e teve, portanto, sua situação
particular e comercial sensivelmente melhorada. Tão feliz se achou que imaginou
compensar o dissabor que sua esposa e suas duas filhinhas também haviam sofrido naquela
temporada difícil.
— Minha querida, agora podes descansar um pouco. Que tal passar um mês em
Cambuci, na casa de teus pais e levar nossas filhas?
A proposta foi aceita e até lá foram as três, muito felizes.
Um mês depois recebeu um telegrama informando a hora de chegada de sua querida
família, indo aguardar na estação ferroviária de Campos.
Quando o trem entrou na gare Dimas avistou sua esposa numa janela de vagão, com ar
de grande aflição. Nervosa, gritava seu nome:
— Dimas! Dimas! Venhas a cá!
Se dirigiu à janela, recebendo por ela a filha caçula desfalecida.
— Não sei o que aconteceu. Estava muito bem. Quando o trem entrou na estação
sentiu algo e desfaleceu.
Aflito, Dimas tomou a menina nos braços e saiu correndo, desvairado, pensando em a
levar a algum lugar onde a pudesse socorrer. Mal tinha dado alguns passos parou com
aperto no coração. Sentiu a filhinha morrer em seus braços!
Não há palavra pra descrever sua dor. Passados os primeiros momentos de desespero
Dimas tomou as providências necessárias, quase automaticamente. No dia seguinte, na
hora do sepultamento, foi pagar à administração do cemitério o túmulo da filha.
Ao receber do funcionário o documento competente foi tomado dum tremor
compulsivo e caiu em pranto, arrasado pela fatalidade que via ali.
O número do túmulo era 4751.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

O bom médico
Os bons espíritos continuam, em
sua existência no além, a praticar
o bem entre as pessoas da Terra
Em 1939 Aldo era estudante de medicina na cidade de Salvador, Bahia, e morava na
baixada do Sapateiro, bairro pobre do lugar. Estava no sexto ano do curso quando, certa
noite, alguém bateu à porta de seu quarto.
Como não tinha relação de amizade que o pudesse procurar naquela adiantada hora,
estranhou as batidas e, apreensivo, abriu a porta. Viu que era um homem com ar aflito e
logo o reconheceu como seu barbeiro Horácio.
— Doutor, por favor. Salves minha filhinha! Está quase morrendo! Por favor, venhas e
salves minha filha!
O homem parecia estar em situação angustiosa mas Aldo ponderou que não era médico
formado e por isso não poderia tratar da filha do pobre homem. Sugeriu que recorresse a
outro qualquer, o que seria melhor.
— Não, doutor. Por favor! Já és médico... Depois, sou pobre: Não posso pagar... E
tenho muita confiança em ti. Hás de salvar minha filha. Venhas! Por favor!
Diante de pedidos tão insistentes resolveu o acompanhar. Em sua casa, no fundo da
pobre barbearia, examinou a criança de um e meio ano, doente há três semanas, presa a
uma gastrenterite que a consumia aos poucos. Tentou o tratamento clássico.
O mal, porém, resistia.
Mudou a terapêutica, experimentou outros medicamentos e dietas adequadas. Nada!
Os dias passando e a menina piorando. Tomara grande interesse no caso e estava
desalentado. Recorreu aos livros, esgotando sua capacidade de resolver o caso.
Em certa noite, voltando da casa de Horácio, já tarde, estava em total tristeza. Tanto
esforço, tanto remédio, tudo o que se conhecia na época e o mal não cedia. Estava a
doente em seus últimos dias ou horas. Chegou a julgar a medicina uma burla. Estudava
com tanto sacrifício e abnegação e quase no final do curso era incapaz de salvar uma vida.
Naquela noite se sentou na cama depois de apagar a luz do quarto e ficou refletindo
profundamente. De repente ouviu uma voz clara de homem dando a impressão de muito
distante.
— Não te acabrunhes, caro colega.
Surpreso, se levantou da cama e olhou em torno, abriu a porta e olhou através do
corredor. Viu ninguém. Tudo era silêncio na casa de cômodo. A voz continuou:
— Não te assustes. Quem te fala é amigo. Sei porquê sofres mas não te preocupes. A
criança se salvará.
Perguntou aterrorizado:
— Quem és?
A voz explicou:
— Sou um médico que viveu em Recife há muitos anos e que em vida se chamava Silva
Ferreira. A criança se salvará se tiveres fé em Deus e seguires à risca as indicações que te
darei.
Sem dar tempo de anotar as palavras a voz ditou uma receita que, felizmente, foi
memorizada pelo estudante. Após quatro dias a melhora foi surpreendente. Após uma
semana a menina estava completamente curada.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

Só após ver sua paciente com saúde, Aldo foi investigar sobre o doutor Silva Ferreira.
Espantado, descobriu que realmente existira e fora um médico notável.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

O vestido de comunhão
No momento exato em que
morre alguém sua alma é capaz
de se desincumbir de seu último
desejo
Aconteceu em 1940. Naquela época José, uma irmã, Lúcia, de 14 anos, seu pai e sua
madrasta moravam num lugar chamado Cambuí, perto da cidade de Quintana, São Paulo.
Num dia de fevereiro Lúcia começou a sentir inexplicada dor na perna esquerda que fazia
a menina gemer sem parar.
Todo recurso foi tentado pra descobrir o mal: Remédio caseiro, receita de curandeiro e
benzedeira. Tudo. Como nada surtiu efeito a menina foi levada à fazenda Brasília, a 18km
donde a família morava. Ali ao menos havia recurso e ficaria sob cuidado de Alda, sua
irmã mais velha, e do marido dela. O problema maior foi o transporte da doente, cuja dor
era a cada vez maior, não tendo sossego em qualquer posição. Tiveram de a levar numa
rede, carregada cuidadosamente no ombro de amigos que se revezavam, comovidos pela
dor que a fazia gritar e chorar sem descanso. Era de cortar o coração.
Logo que chegaram à fazenda foi chamado o médico do lugar, que a encaminhou mas
não descobriu de que mal se tratava, se limitando a receitar remédio pra aliviar a dor.
Seu irmão José se apressou adquirir o remédio, sendo que depois resolveu permanecer
na fazenda, pois o médico fez sombrio prognóstico.
No dia seguinte se deu na doente uma transformação radical. Lúcia deixou de gemer e
aparentou estar a caminho de recuperação. Tão bem se sentia que logo na manhã fez um
pedido:
— Quero tomar banho.
Seu desejo foi satisfeito mas uma vizinha, Júlia, a vendo daquele modo fez uma
declaração que a todos estarreceu:
— Essa menina não passará das 11 horas!
Diante dessa afirmativa todos acharam melhor que José corresse à casa do pai em
Cambuí e o trouxesse a junto da filha. A pé, por mais depressa que andasse, demoraria ao
menos três horas. Além do mais o caminho era perigoso, com trecho atravessando mata
virgem onde até onça era avistada. Mas José em nada disso pensou. Na mesma hora se
pôs a caminho. Já havia andado uns 200m quando, por sorte, avistou o camião da fazenda
dirigido pelo motorista Antônio com seu ajudante Juca.
José explicou o caso a ambos e se prontificaram a o levar à casa do pai. Uns 10min de
viagem quando na estrada de mata tão cerrada que mais parecia um túnel José avistou a
menina correndo na frente do camião.
Batendo na capota e pedindo ao motorista pra parar, José perguntou:
— Seu Antônio. Conheces aquela menina que atravessou correndo na frente do
camião?
— Ninguém atravessou na frente do camião!
— Atravessou, sim! Vi. Uma menina vestida de branco. Dessas roupas de primeira-
comunhão!
— Ninguém passou, José. Não poderia passar porque ninguém mora aqui. Não tem
casa...
— Mas vi! Estava vestida de primeira-comunhão!
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

— Ainda mais assim. Aqui ninguém faz primeira-comunhão com roupa especial.
Ficou impressionado. Olhou o relógio e viu que marcava exatamente 11h. A viagem
prosseguiu até bem perto de sua casa, sendo que só precisaria seguir num pasto.
Nesse caminho José foi acompanhado todo o tempo por inesperado bando de ave
branquinha pouco menor que pomba, que voava tão perto a ponto de ser alcançado com a
mão. O engraçado era que quando parecia ter pego alguma ela se desfazia no ar.
Chegando a casa não encontrou o pai, tendo de o esperar até o anoitecer. Então
rumaram a fazenda Brasília, onde chegaram já em noite fechada. Ali os aguardava uma
triste cena. Lúcia estava morta.
A cena foi desoladora. Passado o primeiro momento de desabafo José contou sobre as
duas aparições na estrada: A menina e o bando. Então os parentes relataram que tão logo
ele saíra da fazenda sua irmã começara a o chamar, insistindo em o ver. A razão, segundo
Lúcia, é que iria fazer uma grande viagem e antes gostaria de o encontrar. A irmã mais
velha ainda pediu que o marido corresse e o alcançasse mas, justamente no instante em
que o avistava e o poderia chamar apareceu o camião e José pegou a carona.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A verdade no cochilo
No meio duma conversa alegre
uma pessoa pode adormecer
repentinamente e ter espantosa
visão
Manuel era um marinheiro que um dia desembarcou no porto de Paranaguá e lá ficou
trabalhando como catraieiro. Logo fez boa camaradagem com todos os outros pescadores
do lugar. Como falava vários idiomas passou, inclusive, a ensinar aos amigos mais
chegados. Porém, não se sabe por que, passou a beber de tal maneira que muitas vezes
não conseguia ir até casa, dormindo ali mesmo no barco.
Naquela época Wilson, seu amigo mais chegado, fazia serviço de guardião dum
armazém do porto. Em certa noite, ao redor de 22h, vários guardiões estavam ali em
conversa fiada, contando anedota, se distraindo pra passar o tempo, quando Wilson teve
uma espécie de sonho. Era um sonho horrível. Via o amigo Manuel morrer afogado. Via e
ouvia perfeitamente o ex-marinheiro gritando socorro.
Não durou mais que um segundo mas foi o bastante pra que os companheiros
percebessem que algo estranho ocorria. Após o relato um deles, Oscar, disse:
— Isso é impossível. Poderia acontecer a qualquer um, menos a Manuel, que nada
como peixe.
O argumento era bom. A história ficou nisso mesmo mas Wilson ainda estava
apreensivo.
Ao amanhecer, o redor de 6h da manhã, Oscar foi ao porto e de lá voltou correndo pra
contar o seguinte:
— Sabes o que aconteceu? Aquela visão que tiveste ontem na noite foi verdadeira.
Manuel morreu afogado!
Tremendo, Wilson pediu mais detalhe da história. Oscar complementou:
— Tinha bebido muito e dormia na bateira. A maré vazante carregou o barco e o fez
bater com toda força contra a amarra dum navio. A bateira virou e ele morreu afogado.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A casa da clareira
Está cada vez mais provado que
uma pessoa pode ver durante
um sonho cenas duma vida
futura ou passada
É apenas um caso dentre muitos do tipo. Aconteceu com Valdo, que na época tinha 25
anos e ainda era solteiro. Nas férias foi à fazenda do pai. Ali dormia cedo pra acordar
cedo. O sono era sempre bom e tranqüilo.
Em certa noite teve um sonho estranho. Sonhou que estava no meio de mata enorme.
Ia andando e desembocou numa clareira. Ao lado dela viu uma construção antiga, de
faustosa aparência, com uma grande varanda aonde se subia por escada larga e espaçosa.
Estava com sede e resolveu pedir água. Caminhou até a frente do casarão e, como não
visse alguém, bateu palma.
Esperou algum tempo e pensou em subir a escadaria mas desistiu. Já ia se retirando
quando no alto da escada apareceu uma senhora.
Seu traje era antigo, vestia saia de grande roda e que a cobria até os pés. Foi chegando
ao encontro e, à medida que se aproximava, ficava mais assombrado com a semelhança
que a criatura apresentava com antiga fotografia existente na sala de visita da fazenda do
pai. Era o retrato de sua primeira esposa, morta há muitos anos e que não conhecera. A
jovem senhora o recebeu muito bem.
— Boa tarde. Entres, por favor.
Agradeceu dizendo que não queria incomodar, que só havia batido pra pedir um pouco
de água. Ela insistiu:
— Entres, por favor. Venhas conhecer a casa.
Não pôde recusar. E foram casa adentro. Ela, enquanto mostrava sala, quarto, cozinha,
despensa, enfim, todo compartimento do casarão, ia conversando. No meio da conversa
disse:
— Sou a esposa de teu pai!
— O que disseste?
— Sim. Sou a esposa de teu pai!
Perguntou se estaria enganada e argumentou que se fosse verdade ele não teria nascido
e não estaria ali naquele momento.
— Mas é verdade. Sou a esposa de teu pai!
De repente Valdo acordou. Não pôde deixar de contar ao pai o sonho. Fez descrição
minuciosa do casarão e da senhora. Ao acabar o pai estava abalado. O velho senhor
contou:
— Tudo o que viste é a mais pura realidade. A casa conheci muito bem. Foi a primeira
casa que construí. Fiz a clareira em plena mata e ergui a casa ao lado. Minha primeira
mulher ficava sempre me esperando no alto da escadaria.
Valdo ficou curioso em conhecer a edificação.
— É pena, meu filho. A casa não mais existe. Há mais de 50 anos foi destruída por um
incêndio na mata que a queimou todinha!
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A promessa
Depois de morto começou a
aparecer na noite na estrada com
tanta insistência que o fato se
tornou quase corriqueiro
O fato ocorreu há uns 28 anos (este programa data de 1953), quando Gabriel tinha 12
anos de idade. Naquele tempo residia em Picada Escura, município de Candelária. Seu pai
era o chefe da casa, cuja responsabilidade de administrar dividia com o primo João, moço
forte tido como valente, que não conhecia medo e que andava sempre bem armado. Na
vizinhança moravam outros primos, entre eles um conhecido pelo apelido de Sitônio e
outro, Orlando.
Sitônio namorava uma irmã de Orlando e, por questão de família, ficou muito revoltado
por ter de se separar dela. Atribuindo toda a culpa do caso a Orlando os dois passaram de
amigos a inimigos ferrenhos, principalmente depois de terem se encontrado num dia e
passado à via de fato. O ódio entre ambos era tamanho que em certa tarde aconteceu o
que todos previam.
Se encontrando na estrada, após ligeira troca de palavra, puxaram a arma. Orlando,
mais ágil, atirou em primeiro lugar e ali deixou Sitônio sem vida.
Dias depois começou algum rumor sobre possíveis aparições de Sitônio na estrada, ora
a um, ora a outro. Se tornou tão insistente a notícia que o caso chegou a quase se tornar
corriqueiro. Muita gente, entretanto, evitava sair na noite com medo de enfrentar a
apavorante visão.
Em certo dia, no crepúsculo, o primo de Gabriel, João, tinha saído e, ao voltar não
desencilhou o cavalo. Uma das irmãs lhe perguntou por que fazia aquilo.
— É que não dormirei aqui hoje. Irei à casa de Adão...
a moça, prevenida, tentou o demover lembrando as aparições de Sitônio naquele
caminho. Mas João, sem pensar no que dizia, bancou o valentão.
— Se Sitônio não está bem morto que me ataque! Assim acabarei de o matar!
Imediatamente todos ouviram tropel de cavalo se aproximando da casa no lado da
frente. Uma voz bradou de lá:
— Ó de casa!
A voz era conhecida de todos. Era de Sitônio, que em vida tinha o hábito de vir
galopando até bem pertinho da porta da casa pra então gritar:
— Ó de casa!
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A morta
A fazenda que sempre abrigara
todos que pediam pousada teve
naquela noite um gesto
impiedoso de recusar guarida a
uma mendiga em adiantado
estado de gravidez
Há muitos anos, perto do arraial de São Barnabé, na estrada que liga as cidades de
Ipanema e São Manoel do Mutum, Minas Gerais, existia um velho casarão assobradado
onde residia a proprietária duma grande fazenda. Senhora austera e de firme propósito,
fazia sua autoridade valer custasse o que custasse. Poucas pessoas conheciam seu nome
próprio, pois era conhecida pelo apelido de Maria Benta.
Na dependência da fazenda sempre havia um lugarzinho pra abrigar o viandante ou
peregrino que ali batesse pedindo pousada. Naquela ocasião toda a região de São Barnabé
era inabitada e as fazendas ficavam separadas por muitas léguas de mata virgem, tendo
como única via de comunicação um trilho aberto entre as matas onde só se passava a pé
ou a cavalo. Era, portanto, impossível se negar pousada ao viajante que batesse às portas
da fazenda ao cair da noite.
Foi motivo de grande surpresa quando, se motivo aparente, dona Maria Benta tomou
aquela atitude estranha. Em certa noite foi atender uma pobre viandante que lhe falava lá
de baixo, da estrada. Do alto da sacada do casarão dona Maria viu aquela mulher de cor
branca, aparentando 35 anos, roupa remendada, com pequena trouxa no braço esquerdo e
se apoiando num pedaço de pau que lhe servia também contra animal que se aproximasse.
— O que desejas?
— Tô esperando criança pra hoje ou amanhã, minha dona. Queria pedir pra ficar aqui
até a criança nascer. Depois irei logo embora.
A voz aflita da pobre criatura, seu andrajo e a distância caminhada a pé na mata até
chegar àli faziam compreender que se tratava de doente mental, portanto digna de
piedade.
Causando surpresa a todos a fazendeira negou.
— Não! Não pode ficar aqui! Não!
— Mas, minha dona, já é tarde. Me deixes ficar aqui ao menos nesta noite. Daqui não
posso alcançar algum lugar pra dormir. Me deixes ficar, patroa.
— Não! Não podes ficar! Já disse! Vás embora!
Cabisbaixa, com olhos banhados em lágrima, a infeliz gestante se pôs a caminho. Pouco
depois caía a noite, negra como breu, cortada somente pelo gargalhar sinistro das corujas
e pelo pio agourento das aves noturnas.
No dia seguinte, logo cedo, dona Maria Benta foi procurada por um trabalhador que
lhe foi avisar do fúnebre achado: A poucos passos da porteira de saída da fazenda havia
uma mulher morta. A fazendeira seguiu ao local acompanhada dos filhos e empregados. Lá
teve apavorante surpresa. Sobre a grama úmida de orvalho estava o corpo inerte da
mulher que lhe pedira pousada na véspera. Junto a ela estava uma criancinha sugando, sem
resultado, o seio rígido e gelado da mãe morta.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

Apavorada, dona Maria fez transportar à fazenda o corpo da infeliz e levou em seus
braços o recém-nascido. Numa vendinha que havia no terreiro da fazenda dona Maria
adquiriu o funeral da infortunada demente. Feito o caixão o corpo foi levado pelos
colonos ao cemitério de São Barnabé, onde foi sepultado.
Cheios de pavor, os colonos trabalharam pouco naquele dia. Nas conversas evitavam
comentar o evento. Dona Maria Benta, por mais que se esforçasse, deixava transparecer o
imenso remorso que lhe ia na alma.
Só pensava reparar aquela falta de caridade cristã criando como seu próprio filho o
infeliz órfão. Mas, a despeito de todos cuidado e esforço, a criança morreu oito dias
depois.
Na noite do falecimento do bebê dona Maria Benta não conseguiu dormir. O medo e o
remorso se misturavam em sua mente. Mal o dia amanheceu e estava na cozinha dando as
costumeiras ordens. Em seguida foi abrir as janelas da frente da fazenda pra de lá dar
ordem aos trabalhadores. Não sabia o que lhe estava reservado.
Mal a luz do dia se projetou na grande sala, dona Maria Benta, estarrecida de pavor,
viu sobre a mesa um monte de pano preto. Ao se aproximar viu que ali estava reunido
todo o material empregado no caixão em que fora sepultada a infeliz viandante.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A borboleta misteriosa
Alguns espíritos podem aparecer
aos vivos sob a forma de animal
apavorante mas isso não é regra
e a prova está no relato seguinte
Esta história se passou em Ponta Grossa, Paraná, com a mãe duma outrora famosa
radialista paranaense, Maria do Rocio, rainha do acordeão. Maria começou a aprender a
tocar piano com apenas quatro anos de idade em função de verdadeiro fascínio que sua
mãe cultivava pela arte do som. Seus três irmãos do sexo masculino, a despeito de todo
esforço da mãe, não tinham interesse especial nessa arte.
A menina aprendeu com incrível facilidade e em pouco tempo podia ser considerada
excelente pianista. Seu pendor à música ficava evidente no fato da menina tocar, além de
piano, acordeão, violão, cavaquinho, bandolim, cítara e gaita-de-boca. Tinha onze anos
quando dona Maria, sua mãe, resolveu a levar a São Paulo, a apresentando nas rádios
Difusora e Excelsior, onde foi considerada verdadeiro prodígio.
Mas, pra desgosto da menina, em 29 de setembro de 1938 dona Maria sucumbiu vitima
de derrame cerebral. Revoltada a garota resolveu abandonar a carreira musical. Na casa
em que viviam ficaram abandonados todos os instrumentos que haviam sido motivo de
infindável alegria pra dona Maria.
Um ano se passou e um fato inexplicado ocorreu naquela sala onde estavam recolhidos
seus antigos instrumentos. Dona Olímpia, senhora que trabalhava como doméstica no
lugar, entrou na sala e começou a ouvir notas espaçadas ao piano.
Mulher corajosa, apesar de assustada chamou imediatamente o pai da menina pra
também constatar o fenômeno. Quando seu José transpôs a soleira da porta já não era
mais um piano e sim um violão que desprendia nota.
Daí em diante o estranho evento se repetiu inúmeras vezes e com tanta insistência que
os parentes da família concluíram que tudo não passava dum aviso, de tentativa da falecida
em fazer com que a filha compreendesse que deveria concluir o estudo.
Voltou à academia musical e concluiu o curso. No dia do exame final, momentos após a
entrega do diploma, a saudosa órfã escolheu pra executar ao piano a música que mais
emocionava sua falecida mãe: O hino nacional brasileiro. Quando os primeiros acordes
encheram o salão nobre do clube Ponta-grossense, os presentes notaram pasmos súbita
aparição duma enorme borboleta que depois de revolutear sobre a cabeça dos assistentes
foi pousar delicadamente na tampa do piano, ali permanecendo vista por todos, menos
pela pianista.
Pais, irmãos, tios, primos, pessoas da amizade da pequena artista, que assistiam sua
colação de grau, receavam que com a aparição da borboleta a menina fizesse feio, já que
tinha verdadeira aversão ao inseto. Mas tal não se deu e a execução prosseguiu até o final
com brilhantismo incomum.
Uma salva de palma coroou a extraordinária execução da menina e, por razão
incompreensível nenhuma das pessoas presentes, que tão atentamente observavam a
misteriosa borboleta, foi capaz de indicar seu paradeiro assim que a peça terminou.
Ninguém a viu voar nem se dirigir a algum recanto do salão ou alguma janela. A
borboleta desapareceu misteriosamente e despercebida.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A praga da mulher do pescador


Os espíritos nunca ficam
indiferentes às grandes injustiças
dos homens
Este caso se passou com um oficial reformado do exército, homem de absoluta
confiança. Certos detalhes desta história poderão ser confirmados nos jornais rio-
grandenses de 1899, especialmente O eco do sul e O intransigente, e seu epílogo poderá
ser atestado pela população mais antiga do Rio Grande do Sul que até bem pouco
comentava assombrada aquilo que se denominou O caso Pomaré. A história foi
radiofonizada em 10 de janeiro de 1950.
Em junho de 1899 a cidade de Rio Grande foi palco duma das mais violentas tragédias
de que há memória em todo o estado do Rio Grande do Sul, dada a monstruosidade de
que foi revestida e a maneira impressionante como foi castigado pela população
enraivecida seu pretenso autor.
Em certa manhã, num lugar denominado Macega, apareceu morta e barbaramente
seviciada uma linda menina de apenas cinco anos de idade, filha dum oficial bastante
estimado no batalhão de infantaria em que servia.
Como era natural e justo, tal fato abalou profundamente a população. Aquela gente,
não acostumada a crime de natureza tão revoltante, de pacata e ordeira se transformou, de
repente, numa horda de selvagem sedento de vingança em busca do autor de tão horrendo
crime. Em toda fisionomia se via estampado misto de amargura e ódio.
Depois duma série de investigação a autoridade descobriu uma mulata, lavadora do
quartel, detentora de preciosas informações: Afirmava ter visto na véspera do trágico
acontecimento um homem se dirigindo ao armazém com a menina no colo. Esse homem
era João Pomaré.
João Pomaré era um tipo popular na cidade. Quase todos o conheciam. Tinha
nacionalidade francesa e era pescador. Ao que se sabia, gostava muito de criança e
costumava brincar com a menina sempre que passava em sua casa. Diante de tais indícios
era de se acreditar na culpa do pescador e assim a autoridade não teve solução além de o
prender e recolher à cadeia pública pra aguardar o processo regular de julgamento.
O povo, no entanto, não ficara satisfeito apenas com sua prisão. Queriam todos que a
autoridade o deixasse justiçar em praça pública. A gritaria que faziam exigindo a morte
imediata do pescador e a força que empregavam pra invadir o cubículo onde se achava
chorando e protestando inocência era enorme.
Gritava o tempo todo:
— Me tirai daqui! Não matei alguém! Sou inocente! Me tirai daqui!
A guarda da prisão se tornou impotente pra conter aqueles homens enfurecidos que,
como fera, se atiravam sobre a prisão, cuja grade, não resistindo a tanta violência, cedeu e
ofereceu a tão desejada oportunidade de saciarem a sede de vingança que os transformava
em canibal.
O primeiro a enfrentar Pomaré lhe deu dois tiros de revólver, o matando
instantaneamente. Em seguida o cadáver foi arrancado, por grossa corda, da cadeia à rua
onde já o aguardava um muar, que o arrastou pela cidade entre grito de ódio e cantoria
vitoriosa.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A mulher de Pomaré, convencida da inocência do marido, clamava justiça. Certa de que


cometeram um crime ainda maior com o linchamento, recorreu à justiça divina. Se pôs de
joelho, com olhos e mãos ao céu e bradou:
— Ninguém me ouve, Deus do Céu. Isso não pode ficar assim. Se há mesmo Deus e
Deus é justo, que faça cair na cidade uma peste que mate todos os que creram na culpa de
Pomaré e tomaram parte em seu massacre.
Alguns ouviram, indiferentes, a praga da mulher de João Pomaré, outros ficaram
apreensivos. O certo é que pouco depois grassou na cidade de Rio Grande a terrível peste
bubônica que ceifou centenas de vidas, entre as quais a do verdadeiro autor do bárbaro
crime, o próprio soldado-bagageiro do pai da menina. Esse homem, não querendo levar ao
túmulo seu hediondo segredo, confessou, nos estertores da morte, num leito da enfermaria
militar:
— Sim. Fui eu. Matei a menina. João Pomaré não teve culpa. Sou o culpado de tudo.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

Três gotas de sangue


Quando alguém, mesmo
brincando, invocar o Diabo, mais
cedo ou mais tarde será atendido
O protagonista deste caso foi o senhor João Mauro, já falecido, residente em Birigüi,
São Paulo. Era simples carroceiro. A partir de certa época, revoltado por não conseguir
enriquecer, dizia a toda gente:
— Já vi que por trabalho não enriquecerei. Ta aí! Se o Diabo me deixasse rico eu lhe
daria minha alma em paga!
Parentes e amigos lhe diziam que não falasse tanta asneira mas ele zombava de todos
alegando:
— Pois é. Já estou cansado de trabalhar. Pra enriquecer eu daria minha alma até ao
Diabo!
E quando percebia que seus amigos e parentes estavam realmente preocupados com
tanta audácia, insistia:
— Qual nada! Isso não existe! Se existir, como dizem aí: Se aparece pra tanta gente
por que não aparece pra mim também?
Durante muitos dias não deixou de repetir seu desejo, a despeito da censura de todos.
Em certa noite, pela uma da madrugada, estava dormindo quando acordou com fortes
pancadas na janela de seu quarto.
— Quem está aí?
Ninguém respondeu mas novas pancadas foram ouvidas.
— Quem está batendo? Quem está aí? Já disse! Se não responderes atirarei!
Em resposta as pancadas se repetiram mais uma vez e João Mauro, já com o revólver
que tinha embaixo do travesseiro, desfechou três tiros em direção à janela.
Alguém teria sido atingido pelos tiros, pois a seguir foi ouvido um urro tremendo
seguido de verdadeira chuva de murro que fez estremecer a janela.
Nessa altura João não estava mais sozinho como testemunha dos eventos. Sua esposa
também acordara com a barulheira. E ambos apavorados gritaram pedindo socorro ao
vizinho Antônio que, sem demora, soltou e atiçou seu cachorro, verdadeira fera.
O cão chegou impetuoso até perto da janela que dava ao quintal e ali, subitamente,
mudou de atitude, deixando de avançar e latir, passando a grunhir, se escondendo entre as
pernas das pessoas que até ali acudiram. Todos deram uma batida em regra no local e nada
viram de anormal. Mas não houve quem não concordasse com a observação que João fez
então:
— Mas que cheiro horrível de enxofre!
Sendo inútil a busca no quintal, todos se voltaram a perto da janela, com sua lamparina
acesa, pra examinar os rombos feitos pelas três balas.
Atônitos, todos viram três gotas de sangue sobre o cimento.
No dia seguinte foi inútil a tentativa da mulher de João em limpar as manchas de sangue
do chão. Nada resolveu. Nem água, nem sabão, nem mesmo um escovão.
As manchas permaneceram ali por muito, muito tempo.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A operação espiritual
Alguns médicos continuam a
exercer a profissão mesmo
depois de mortos
O fato que aqui será contado há de explicar pra muitos leitores, especialmente os
moradores de Madureira, a origem do nome de certa rua daquele subúrbio, rua Dagmar da
Fonseca, que foi um grande médico, pessoa querida naquele lugar.
A história se passou com dona Elza, que contou com suas próprias palavras o
acontecido:
— Me casei com 14 anos e não fui feliz. Maltratada pelo marido e por minha sogra, caí
numa fraqueza extrema, agravada pelo fato de estar grávida. Minha família tinha um
amigo que era médico da casa de saúde Doutor Pedro Ernesto. Se chamava Dagmar Lima
da Fonseca, auxiliar direto do doutor Pedro Ernesto e logo atendeu ao chamado. graças a
ele fiquei completamente curada. Dagmar era a bondade em pessoa e se tornou um
segundo pai pra mim.
Algum tempo depois, chamado urgentemente a São Paulo pra acudir um sobrinho,
doutor Dagmar se hospedou no hotel Oeste. Era o dia 21 de novembro de 1933 e, por
fatalidade, devido a obra que se fazia no prédio, o teto do quarto em que se alojara
desabou e o pobre médico, por falta de socorro imediato, faleceu se esvaindo em sangue.
Lamentei profundamente sua morte. Mas o destino é o destino. O tempo foi passando
e, há uns três anos (o caso foi ao ar em 16 de setembro de 1952) me surgiu um pequeno
caroço do tamanho dum grão de milho ao lado do umbigo. Fui ao hospital e o médico que
me examinou deu uma notícia que me deixou preocupada: Era um princípio de hérnia
umbilical, sendo urgente extrair.
Eu tinha verdadeiro pavor de operação. Naquela noite, em casa, na cama, não
conseguia dormir. Não pensava noutra coisa. Não sabia qual seria o médico a me operar.
Em nenhum tinha confiança. Com essas idéias na cabeça me lembrei, de repente, do
doutor Dagmar e lamentei a morte do bom homem. Se estivesse vivo! Com que confiança
me entregaria àquela operação!
Com tal pensamento entrei num estado de semi-adormecimento. Não estava dormindo.
Positivamente, não! Mas não estava totalmente acordada. O certo é que vi abrir a porta e
por ela entrava o doutor Dagmar, fato que encarei com a maior naturalidade do mundo.
Vinha com uniforme de cirurgião e trazia sua maleta. Chegou até mim na cabeceira da
cama e disse com a maior naturalidade:
— Aqui estou. Venhas comigo.
Como se aquilo fosse coisa prevista me levantei e me vi, sem transição, numa sala de
operação com uma mesa no centro. Subi, me deitei e só me lembro de que acordei com o
doutor Dagmar debruçado sobre mim com cara alegre, dizendo:
— Pronto. Fiques descansada agora. Adeus.
Nada senti e dormi bem naquela noite. No dia seguinte, recordando aquilo que me
parecera um sonho, passei a mão na barriga e não mais senti o caroço! Procurei bem, e
nada! Esperei alguns dias pensando que, talvez, tudo não passasse de sugestão e depois
voltei ao hospital pra novos exames. O médico que me recomendara a operação ficou
surpreso ao fazer a consulta.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

— O caroço desapareceu completamente. A senhora não tem hérnia. Ou melhor, dá a


impressão de ter sido operada de hérnia.
Só então, ouvindo a palavra autorizada do médico, me convenci de realmente ter sido
operada pelo sempre bondoso doutor Dagmar da Lima Fonseca.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

O rei da voz
Boa noite, ouvintes de meu Brasil. Podeis imaginar perfeitamente o quanto todos nós
de rádio, ainda nos sentimos sob a impressão da irreparável perda que sofremos com o
desaparecimento do grande Francisco Alves (este programa foi ao ar em 30 de setembro
de 1952). Parece, ouvintes, ter havido misteriosa predestinação pra que morresse naquele
dia o famoso cantor. E quero, neste programa em que desfilam os segredos do além,
resumir certos fatos que, após desastre, vieram a ser constatados por seus companheiros.
Todas as semanas, ao finalizar seu programa, Francisco Alves se despedia dizendo:
— Até domingo próximo!
No último programa, porém, sua despedida foi diferente:
— Até o próximo programa, se Deus quiser!
Quando seus companheiros da rádio Nacional procuraram na discoteca alguns discos
seus pra fazer os programas de saudade, na pilha estava em cima, bem visível, como uma
mensagem, sua gravação intitulada Adeus.
Quando Silvino Neto saiu em busca dum florista que fizesse o lindo violão de flor que
foi colocado sobre o caixão de Chico Viola, ninguém quis aceitar a incumbência. Afinal, a
muito custo conseguiu que um deles tomasse pra si o encargo. Quando Silvino foi buscar
a encomenda ficou sabendo que o trabalho fora feito por um garoto de 16 anos de nome
Francisco Alves.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A gratidão do suicida
O vulto entrou em meu quarto e,
depois de agradecer tudo, virou
as costas e saiu pisando forte e
fechando as portas
Em 1947 Laura Silva residia na vila Sertão, município de Passo Fundo, Rio Grande do
Sul. No dia 7 de setembro fez uma visita a seus pais na cidade de Carazinho. Lá foi
procurada dona Virgulina, viúva dum soldado de polícia que morrer e fora sepultado na
vila Sertão, onde servia junto à delegacia local.
A viúva lhe entregou algumas velas e pediu que as acendesse na sepultura do marido.
De boa vontade a jovem se prontificou a atender e, ao voltar a Sertão, pediu à sogra, dona
Ana, que a acompanhasse até o cemitério onde iria cumprir a piedosa missão.
Lá chegando, como não soubesse onde ficava a sepultura do soldado, se dirigiu ao
vigário pra pedir informação. A resposta foi surpreendente.
— Não deves acender vela naquela sepultura porque o soldado ali enterrado suicidou!
Apesar disso Laura insistiu em saber onde ficava a sepultura e a encontrou muito suja e
abandonada. Auxiliada pela sobra Laura fez limpeza completa. As duas rezaram alguns
pai-nossos e começaram a acender as velas prometidas. Apesar do tempo estar calmo,
fazendo até bastante calor, não havia meio de se acender vela, como se um vento muito
forte as apagasse.
Nessa altura se aproximou o vigário que, vendo a inutilidade do esforço das duas
mulheres, disse:
— Não adianta. Se suicidou e a religião católica não permite que se acenda vela em sua
sepultura.
Apesar da estranheza do fato e das singulares palavras do padre, tanto insistiram que
acabaram acendendo as tais velas.
Naquela noite, pelas 20h, estava Laura em casa com a sogra, sozinhas, pois o marido
estava viajando, quando começou a ouvir ruído. A casa estava completamente fechada e
Laura percebeu que a porta da frente foi aberta. Logo em seguida pisadas fortes duma
pessoa com os sapatos ringindo. Os passos se aproximaram da porta de seu quarto e ela
abriu repentinamente. No mesmo instante a vela à luz da qual Laura lia um livro se apagou
e tudo caiu na escuridão. Ficou sem ação, não podia se mexer, falar ou gritar. Apesar do
negrume pôde ver um vulto de homem muito pálido que se aproximou da cama com
fisionomia muito calma, que disse:
— Vim até aqui te agradecer o grande benefício que me fizeste acendendo vela naquele
lugar frio e abandonado, onde eu estava sufocado. Agora, felizmente, já estou livre de
tudo.
Então se virou e se dirigiu novamente à porta do quarto que se fechou a sua passagem.
E foi se afastando, sempre com o passo pesado, até que a porta da rua se abriu e se
fechou, caindo tudo em imenso silêncio.
Só depois dalguns minutos Laura conseguiu força pra correr ao quarto da sogra.
Perguntou se ouvira algo, ao que foi respondido afirmativamente, mas que pensara ter
sido o filho regressando de viagem.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

O apelo da irmã
No meio da noite dona Clara foi
acordada por alguém que a
sacudia no ombro. Era sua irmã
Maria, que morava a dezenas de
quilômetros. Como poderia estar
ali?
O fato se passou no estado de São Paulo, perto de Ribeirão Preto, em 1923. Dona
Clara morava num sítio com sua família, sendo que sua única irmã, Maria, residia a mais
de 200km.
Em certa noite, 2h da madrugada de 15 de abril de 1923, em sono pesado de mulher
cansada da faina diária. De repente foi acordada com firmeza por alguém que a sacudia e
dizia seu nome com insistência.
Finalmente desperta, reconheceu sua irmã que dizia:
— Puxa! Que sono pesado tens!
— Maria! O que vieste fazer aqui em hora desta? O que aconteceu? Estás ficando
louca?
— Não, não estou louca, não. Vim até aqui pedir que vás imediatamente até casa e
tomes conta de meus filhinhos e que os olhes até Luiz, meu marido, tomar novo rumo.
Clara, ainda meio tonta, ouviu aquelas estranhas palavras e pediu explicação.
— Por que isso?, Maria. O que aconteceu? O que foi? Maria! Maria! Onde estás?
De maneira inexplicada Maria desaparecera do quarto.
Dona Clara, como é natural, ficou impressionada. Chamou o marido, acordou a todos
na casa e não sossegou enquanto não tomou o trem que rumava à fazenda onde morava
sua irmã às 6h da manhã seguinte.
Naquele tempo o trajeto de trem entre os dois lugares durava 10h. Portanto, dona
Clara só chegou à casa da irmã no final da tarde. E não mais a encontrou, pois o enterro
saíra havia duas horas.
O fato a deixou muito triste. E mais ainda quando soubera que a irmã falecera às 2h da
manhã daquele dia.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

O violino do além
Freqüentemente as aparições se
identificam reproduzindo
peculiaridade e aptidão
adquiridas na Terra
Dona Maura residia em Sabará, Minas Gerais, no século 19. Seu filho Lúcio,
primogênito e magnífico violinista, fora, em certo dia, ao Rio de Janeiro por volta de
1890. Não havia decorrido muito tempo e dona Maura recebeu a noticia de sua morte
vítima de febre-amarela, que grassava periodicamente na capital.
A quantos passavam em sua cidade, provenientes do Rio, dona Maura procurava colher
informe sobre a morte do filho. Em certo dia um caixeiro viajante que o conhecera deu à
velha senhora certos detalhes estarrecedores que a deixaram em dúvida atroz:
— Foi coisa terrível, dona Maura. A febre-amarela nem dava tempo a que enterrassem
os mortos. Morria gente em todo canto. Lúcio, coitado! Mal tinha acabado de morrer
vieram os homens da higiene e levaram o corpo. Depois soube que atearam fogo.
A partir desse dia dona Maura ficou inconsolável, presa a terrível desespero.
— Meu filho, meu pobre filho! Não está morto! Foi queimado vivo!
No dia 3 de maio estava ela em sua casa, acompanhada doutras pessoas da família,
rezando o terço, voltada ao Cruzeiro todo iluminado no alto do morro visível da janela de
seu quarto, quando começou a ouvir um som que se aproximava mais e mais. O som dum
violino.
— É ele! É meu filho que está de volta!
As demais pessoas, que nada ouviram, se encheram de espanto ante tal declaração e,
mais ainda ao ver a expressão enlevada com que ela fitava algum ponto longínquo.
Somente ela ouvia o som que crescia cada vez mais. Súbito o violino parou enquanto
aquela voz querida, inconfundível, lhe dizia ao ouvido:
— Mamãe, não chores mais. Estou penando por tua causa!
Mais admirados ficaram todos ao ouvir dona Maura exclamar:
— Fiques descansado, Lúcio. Não chorarei mais, nunca mais, meu filho!
E, se voltando aos presentes, que não podiam compreender o que se passava, lhes
contou a cena.
Daí a diante não mais derramou lágrima pelo filho. No ano seguinte, na mesma data, a
velha senhora adoeceu gravemente e, na hora da reza do Cruzeiro, entrou em delírio,
anunciando em voz alta:
— É meu filho. Estou vendo meu filho me chamando até junto dele. Já vou. Que
música bonita, meu filho. Já vou...
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A missa das almas


Na capela abandoada todas as
velas estavam acesas e uma
missa sendo rezada
Em 19 de março de 1948 Fausto foi passear na fazenda dum tio, a 14km da cidade de
Ouro Preto, em companhia de dois amigos, Aldo e Osvaldo. No meio do caminho, a uns
9km, fica a fazenda da Capela, assim chamada devido à capela de São José que fica
próxima.
Era mais ou menos meio-dia quando se aproximaram daquele ponto. Desde a primeira
curva do caminho, donde se avista a pequena ermida, perceberam que estava aberta. Disse
a Aldo:
— Olhai! Hoje há missa na capela. Vamos assistir?
Todos concordaram e se apressaram. O templo fica no meio dum cemitério cercado por
um muro antigo e cuja entrada é um portão de ferro. Até ali se dirigiram. Perto do portão
pararam um instante pra bater a poeira da roupa e sapato, ajeitar a gravata. Só então
rumaram ao portão e ao abrir tiveram a maior surpresa.
O portão estava trancado a cadeado. Mas dentro da capela avistaram a luz acesa, a
cantoria de reza. Se bem que não podiam entender uma só palavra, coisa que só deram
conta mais tarde.
Os rapazes então imaginaram que a entrada fosse pelo fundo, o que nada tinha de
extraordinário. Então, pra se certificarem, Fausto subiu ao muro, que não era alto, e dali
pôde ver que a igreja estava cheia de gente e, coisa curiosa, gente vestida de preto. Na
porta avistou um homem, também de preto, de costas pra ele. Após alguns instantes se
virou em sua direção e só então Fausto percebeu o horror da situação.
—Nossa Senhora!
Pulou o muro e de olhos esbugalhados contou aos amigos o que vira:
— Lá na porta tinha um homem de preto. Quando se virou a mim vi que não tinha
cabeça.
— Isso é assombração! — Disse Osvaldo.
Nesse instante, lá de dentro, uma voz cavernosa gritou:
— Nossa reza não é de gente deste mundo!
Não esperaram mais. Saíram correndo na estrada. Mal percorreram pequeno trecho e,
movidos pela curiosidade, resolveram voltar os olhos à capelinha. E viram, aterrorizados,
que estava completamente fechada.
Mais tarde, contando o caso a moradores da região, souberam a verdade.
— Antigamente tinha, todo ano, uma missa na capela. O dono mandou tirar todos os
santos e nunca mais rezou missa ali. Os visitante, porque os mortos continuam rezando
nesse mesmo dia todos os anos: Dia de São José.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

O camião fantasma
Curiosas formas tomam certos
espíritos pra fazer sentir sua
presença na Terra
O caso se deu na noite de 3 a 4 de maio deste ano (foi radiofonizado em 19 de agosto
de 1952). LPF, que tem como apelido Néo, mora em Bela Vista do Paraíso, Paraná. Tem
um camião com o qual faz carreto, se dedicando também à venda de cereal.
Naquela noite, depois de negociar uma partida de feijão, Néo rumou a Tapiratiba, onde
mora seu pai. Ali chegando contou o que lhe acontecera na viagem, oferecendo como
prova o testemunho de seu ajudante.
— Vinha com o camião vazio, em marcha regular. Álvaro, o ajudante, vinha comigo e
viu tudo também. Lá pelas 23:40h, quando estávamos na imediação de Casa Branca,
notamos que vinha um carro atrás procurando ultrapassar, fazendo sinal com o farol. Me
afastei à direita e deixei passar. Isso, como se sabe, é fato corriqueiro na estrada, por isso
não lhe daríamos importância se não fosse o que aconteceu depois. Se tratava doutro
camião que após tomar nossa dianteira passou a rodar no meio a estrada. Vimos que ia
carregado de latão e a primeira coisa que me chocou foi que apesar do latão ir
chacoalhando não ouvíamos barulho.
Não ouvíamos barulho de latão nem do camião em marcha. Não ouvíramos buzina,
nem outro ruído quando nos ultrapassara. Depois, coisa mais estranha ainda: Apesar de
ser a boléia toda aberta e se poder ver facilmente quem se sentasse no banco da direção
não vimos alguém dirigindo.
Era incrível mas verdadeiro. Álvaro também não conseguia ver alguém na direção. A
menos que o motorista fosse quase um anão. Cheio de curiosidade resolvi aumentar a
velocidade e ver se esclarecia o mistério do silêncio e ausência de motorista. O camião,
iluminado pelos faróis, corria a nossa frente e eu, apesar de ter chegado à velocidade
máxima, não o conseguia alcançar. Sumiu nas curvas da estrada.
Estávamos surpresos mas não tivemos tempo de fazer comentário porque mal
perdemos o camião de vista e percebemos outro carro atrás pedindo passagem fazendo
sinal com farol.
Prevenidos começamos a observar o carro que iria nos ultrapassar. Inicialmente
começamos a ficar arrepiados. O carro avançava sem fazer ruído. Ao emparelhar com o
nosso olhamos bem e ninguém estava sentado na direção. Sem que pudéssemos agir vimos
quando ultrapassou e, como da vez anterior, carregado de latão, sumia a toda velocidade
nas curvas da estrada.
Néo contou ainda apavorado. Tocou o camião a toda e felizmente nada mais aconteceu.
Mas sempre guardou a lembrança daquele veículo fantasma que duas vezes, como um
aviso incompreensível, lhe pediu passagem naquela noite.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A visão da batalha
Eu e meus dois companheiros
vimos, nitidamente, aqueles
soldados em formação de
combate armado e mochila nas
costas
Em 1933 eu era o soldado # 1007 do ... BC, sediado em Campo Grande, Mato
Grosso1. Naquele tempo eram meus companheiros assíduos os soldados 914 e Manoel, um
nortista. Na primeira segunda-feira de agosto daquele ano, dia que toda gente diz que é
azarento, nós três, por motivo não pertinente no caso, saímos do quartel na noite pra fazer
uma caçada. Já estava bem escuro e, munidos de pá, enxadão e precedidos por nossos
cães, saímos a campo. Nosso caminho passava pela velha olaria, donde tinha saído o tijolo
prà construção do quartel. Ali atravessamos o córrego na pinguela.
Pra chegar ao lugar da caça teríamos de atravessar mais de dois córregos. O primeiro
era aquele, da olaria. O segundo era um que tinha uma pequena cachoeira. O terceiro era
o que tinha um bebedouro. Entre o segundo e o terceiro córregos o chapadão estava
queimado há pouco e, graças à luz que começava a sair, tudo estava perfeitamente visível.
Depois duma série de peripécia que nos deixou meio atrapalhados, apanhamos um tatu-
peba e já íamos voltando quando percebemos alguma coisa estranha.
Já há algum tempo rumávamos em direção ao ruído da cachoeira, que era nosso ponto
de referência, e nada de a encontrarmos. Nada poderia ser mais simples do que seguir
naquele imenso silêncio o barulho típico duma cachoeira. Mas já tínhamos caminhado bom
trecho e nada da cachoeira aparecer. E o ruído sempre a mesma distância.
Em dado momento nossa atenção foi chamada à posição que os cães tomaram
subitamente. Haviam parado quietos, com a cauda entre as pernas, encolhidos. Cão,
quando vê caça, nunca fica em tal posição. Ao contrário, sai logo latindo. Mas aqueles
pareciam hipnotizados por algo. Então percorremos o chapadão com os olhos e
compreendemos logo a razão da quietude canina.
Eu e meus dois companheiros vimos nitidamente uma porção de soldado em formação
de combate, de arma na mão e mochila nas costas. Estavam tão visíveis que a princípio
pensamos se tratar dos jagunços dum tal Gato Preto, fazendeiro muito afamado na região.
Mas os soldados, com uma farda de tipo antigo, vinham marchando em forma, como se
obedecessem ao compasso dum tambor. Quando chegaram mais perto entraram em
manobra típica de ataque. Uns se adiantavam enquanto outros ficavam mais atrás, como
de guarda. De repente, dando a impressão de obedecer a uma ordem silenciosa, todos se
deitaram no chão. No mesmo instante desapareceram no ar.
Só então percebemos que estávamos diante de algo sobrenatural. Sentimos um calafrio
que nos percorreu dos pés à cabeça e batemos em retirada. Até os cães, que, pelo visto,
estavam tão desorientados como nós, retrocederam e saíram em disparada.
Logo após chegamos à cachoeira, cujo barulho então nos orientava perfeitamente,
coisa que não se dera antes.
Já no quartel contamos os fatos a outros soldados amigos. Passado algum tempo, ao
entrar numa sala que jamais vira antes, reconheci numa gravura representando a guerra do
1
A partir de 1979, Mato Grosso do Sul
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

Paraguai o lugar onde tivemos a visão assombrosa. Investigando melhor fiquei sabendo
que a gravura fixava um detalhe de tremenda batalha travada em 16 de agosto de 1869 sob
o comando do conde d'Eu e que ficou conhecida como a batalha de Campo Grande. Então
nós três que vimos a aparição ficamos convencidos de que havíamos assistido, por um
mistério qualquer que nenhuma ciência explica, a reprodução visual de cenas da tragédia
que a morte teria estratificado no tempo e no espaço, e que somente aguardavam um
instante especial da receptividade dos mortais pra ser revelada.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

Entrevista fúnebre
Em determinadas circunstâncias
os espíritos voltam a aparecer
nos lugares em que
permaneceram em sua vida
terrena
Em 1919, em Ponta das Pedras, Pará, havia um jovem, Felipe, tido como o mais
boêmio da cidade. Dado a seu gênio alegre e comunicativo, sempre tocando violão e
cantando, tinha inúmeras namoradas cujos nomes não revelava pra não parecer gabola.
A todas tratava de modo igual, sendo por todas muito querido e disputado. Com uma
delas se casou com Maria era prima em primeiro grau da que foi a figura principal do
episódio, em novembro.
Felipe foi convocado ao serviço militar no Rio de Janeiro, na Praia Vermelha. Antes do
embarque se despediu de todas. Foi uma choradeira danada e todas pediram que não
deixasse de escrever. Somente duma delas não se despediu. Almira morava um pouco
distante de Ponta das Pedras, a duas horas de canoa.
Ficou no Rio de Janeiro até maio de 1924, quando deixou a farda. Durante esse tempo
nunca mais se lembrou das garotas da terra natal, estranhando até o fato depois que tudo
aconteceu. Aliás, Almira foi a primeira a ser esquecida. Realmente muito estranho, pois
tinha sido bom demais todas as vezes que, embarcado numa canoa em noite enluarada, ia
cantar diante da casa dela. Mal Almira ouvia os primeiros acordes do violão, corria ao
barranco e ali ficava sob frondosa mangueira, com seu vestido branco, escutando as
modinhas que saíam do violão do namorado.
Em 9 de junho de 1924 Felipe embarcou ao Pará no paquete Macapá e desembarcou no
dia 23 pra no mesmo dia aparecer de surpresa em sua terra natal, onde foi recebido
festivamente.
Na noite, com os festejos joaninos, estava ao lado das pequenas, dançando e sendo
disputado por todas, como antigamente. Assim foram correndo os dias. Numa tarde, na
hora da ave-maria, ocasião em que substituía a corda do violão, lhe veio à mente a
lembrança de Almira. Seu pensamento se encheu de revolta pela própria ingratidão de não
ter se despedido dela nem a ter visitado agora no regresso.
Então, numa sofreguidão inexplicada, tratou de arranjar uma canoa com um amigo e
embarcou na ponte pública, tendo como único companheiro o violão, rumo à casa de
Almira.
O luar estava lindo, a maré bem cheia. Foi remando até avistar a casa da namorada, no
alto do barranco. Então deixou de remar e deixou a canoa a deriva. Pegou o violão e,
como nos velhos tempos, entoou uma canção.
Vê que amenidade
Que serenidade
Tem a noite em meio
Quando em branco enleio
Vem lenir o seio
Dalgum trovador
O luar albente
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

Que do bardo a mente


No silêncio exalta
Chora tua falta
Rutilante estrela
D'eteral candor
À medida que o barco ia vogando pôde ver, toda de branco, como nos outros tempos,
o vulto de Almira, sob a enorme mangueira do barranco.
Ao terminar a canção a canoa já tinha encostado na margem. Saltou, a amarrou numa
estaca e se encaminhou ao monte em que Almira se encontrava. De longe viu que ela tinha
sobre a cabeça um pano branco que cobria também quase todo o rosto. Ao se aproximar
mais um pouco a moça se levantou indiferente, lhe deu as costas e se afastou, sem palavra.
A casa dela ficava a uns 100m dali mas Almira tomou a direção oposta, a direção da
mata, onde se embrenhou sem dar atenção ao jovem que a acompanhava chamando seu
nome. Ele chamava baixinho pra não chamar atenção dos irmãos dela. Lhe veio a idéia de
que ela estaria pretendendo se afastar bastante da casa pra com mais liberdade protestar
contra sua ingratidão, a abandonando sem despedida e depois sem notícia.
Ela caminhou até uma clareira iluminada pelo luar, ali desaparecendo.
Várias vezes gritou o nome dela, suplicando voltar, sem resposta. Acabou desistindo e
voltando até casa. Ali chegando, tomado de estranha aflição, chamou a mãe, que logo
acudiu. Jeitosamente perguntou sobre alguns amigos e conhecidos, até tocar o nome de
Almira.
Com os olhos marejados de lágrima a mãe respondeu:
— Morreu, meu filho. Morreu. A pobre menina apanhou uma febre e três dias depois
morreu.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

Fenômeno de levitação
Os fenômenos de levitação já
foram constatados pelos mais
céticos observadores e sua
variada manifestação desafia a
compreensão dos mortais
Me chamo Jonas e minha esposa Gilda. No dia 9 de julho de 1949, como deviam ser
feitos alguns consertos em nossa casa fomos à Fábrica Nacional de Motor, km27 da
estrada Rio–Petrópolis, onde trabalhava, pra nos hospedarmos até o fim da obra.
Ali chegamos no anoitecer e, muito cansados da trabalheira daquele dia, 9h da noite já
estávamos deitados.
1h da manhã, como é meu hábito, me levantei e fui ao quarto onde dormia minha
filhinha. Pra grande surpresa ela não estava em sua caminha! Imediatamente saí procurar
em toda dependência da casa. Não a encontrando chamei minha mulher e relatei o fato.
Ela, apreensiva, procurou a criança em todo canto, sem achar vestígio. Alarmados com
aquela desaparição inexplicada chamamos em alto brado todos quanto pudessem acudir.
O primeiro a acudir foi o sargento Pedro, comandante do destacamento da fabrica, a
quem contei o que estava acontecendo. Ao sargento vieram se juntar o pessoal do corpo
de bombeiro da fábrica e o pessoal do plantão médico. Também apareceram operários.
Todos imediatamente começaram a procurar a menina.
Eram, aproximadamente, cem pessoas que, munidas de lanterna e outros instrumentos
poderosos de iluminação, se embrenharam na mata que circundava a casa e revolveram
minuciosamente toda moita e saliência do terreno.
A própria fisionomia do local já era de molde a aumentar nossa preocupação: Em volta
da casa existia um denso matagal e o terreno era acidentado, nalguns lugares muito
íngreme, de difícil acesso. Isso fazia com que a busca se tornasse extremamente dura e,
além do mais, feita na escuridão, apesar das lanternas.
Com o correr das horas já entrávamos em desespero, se dissipando a esperança de
encontrar Fanny ainda viva. Mas a busca continuava. Quando nossa aflição estava no
auge, após três e meia horas de busca infrutífera, aconteceu o impossível.
O que estou contando pode parecer impossível, espantoso, miraculoso mas aconteceu.
Mais de duzentas pessoas testemunharam o caso extraordinário que ainda me dá arrepio
no corpo todo à simples lembrança.
A verdade é que minha querida Fanny, 4:30h da manhã de 27 de julho, foi encontrada lá
embaixo, no fundo dum despenhadeiro duns 80m, a mais de 200m da casa! Num ponto de
dificílimo alcance, calmamente sentada, sem arranhão. Tão sossegada como se estivessem
em sua caminha.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

Aterradora coincidência
A vida confirma diariamente a
verdade axiomática da frase
Cada ação tem reação
equivalente
No dia 20 de janeiro de 1906, dia de são Sebastião, uma esquadra constituída pelos
cruzadores Tiradentes, Barroso e Aquidabã (o nau-capitânia), se achava ancorada na baía
de Angra dos Reis.
Se festejava na cidade o santo do dia, são Sebastião, e à procissão, que saiu mias tarde,
deveria comparecer a tripulação daqueles navios. Isso não aconteceu porque o
desembarque não se efetuou por deliberação de última hora do comandante da esquadra. A
procissão demorou a sair esperando os convidados e quando começou precisou se
recolher à igreja com toda pressa por causa duma chuva muito forte. O calor era
abrasador.
No anoitecer do mesmo dia a esquadra se retirou com destino à enseada de Jacuacanga.
No dia seguinte se sabia na cidade que haveria uma festa a bordo do Barroso, navio
repleto de oficial e membro importante dos três vasos de guerra, que ali estudavam a
escolha dum local onde seria construído o arsenal da marinha.
10:40h da noite a cidade de Angra dos Reis foi sacudida por um forte estampido
precedido de enorme clarão.
No dia seguinte se sabia da extensão da desgraça que cobrira de luto nossa marinha de
guerra. Explodira o Aquidabã. E se soube ainda de detalhes pungentes: Devido à falta de
comodidade a bordo do Barroso se passaram daquele navio ao Aquidabã três almirantes.
Foram 200 mortos na catástrofe. Em sete minutos o vaso de guerra submergiu
completamente.
Mas essa tragédia não é a razão deste relato e sim um fato que ocorreu à margem dos
eventos e que logo se tornou conhecido de toda a população.
Dias antes a tripulação da esquadra desembarcara em Angra e, como sempre acontecia,
tais visitas se tornaram motivo de festa na localidade. Eram realizados passeios, bailes e
outros festejos. Dessa vez um grupo de oficial visitou as ruínas do soberbo convento de
Santo Antônio, localizado no alto duma colina, tendo dum lado um pequeno cemitério em
ruína.
Um dos oficiais, um tenente, vendo o estado lastimável da velha necrópole, resolveu
fazer uma pilhéria. Pegou o lápis e na brancura de cal duma catacumba escreveu:
Cemitério pra porcos
E assinou seu nome embaixo.
Com a trágica explosão do Aquidabã os corpos de sua tripulação, quando recolhidos,
alguns mutilados e em adiantado estado de putrefação, foram levados por um rebocador
ao cais de Angra dos Reis, onde, após identificados e encomendados por um frade, eram
conduzidos ao cemitério do Carmo ou ao de Santo Antônio.
A população agrense, assim que ouvia o apito do rebocador na entrada da baía, se
apressava em assistir as já referidas solenidades fúnebres. As pessoas acompanhavam o
cortejo cheirando bolinha de naftalina pra minorar o mau cheiro dos corpos.
O cortejo se dividiu. A maior parte dos corpos seguiu ao cemitério do Carmo e o
restante ao de Santo Antônio.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

Chegados ao campo santo um a um foram sepultados. Até então nenhum dos


acompanhantes fizera reparo nos cadáveres que ali iam ser exumados.
Enfim só restava um sepultamento. Pra ele estava reservada a última sepultura.
Foi com espanto de arrepiar os pêlos do corpo que todos verificaram aquela espantosa
coincidência: O corpo que faltava ser enterrado era o daquele mesmo tenente que dias
antes fizera a inscrição irreverente numa sepultura.
Pois o destino lhe reservara aquela mesma em que antes escrevera e assinara:
Cemitério pra porcos
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A morta agradece as flores


Os mortos, do outro mundo,
podem guiar os vivos na Terra
Quando crianças Mercedes e Maria se tornaram muito amigas no colégio. Terminados
os estudos cada uma foi a seu lado e nunca mais uma teve notícia da outra. Em certo dia
Mercedes, que era muito bonita, conheceu um jovem oficial e acabou ficando noiva. O
rapaz era viúvo. Esse fato nunca preocupou a jovem, que jamais buscou saber maior
detalhe sobre o primeiro casamento do noivo.
Perto do dia de finados o jovem lhe perguntou:
— Gostarias de visitar o túmulo de minha mulher?
— Sim, Marcos.
No dia seguinte estavam a caminho do cemitério. Na porta Mercedes comprou um
lindo buquê de rosa pra enfeitar o túmulo da moça. Ao se encaminhar na direção do noivo
notou uma transformação na fisionomia.
— Quem é aquele rapaz que estava tanto te olhando? — Perguntou o jovem, zangado.
— Rapaz? Não vi.
— Como não viste? Também não tiravas os olhos dele!
— Isso é um absurdo. Vi ninguém. Estava comprando estas rosas. Não tens razão!
— Do jeito que ele estava parado só podia estar olhando pra ti!
— Olhes, Marcos, não admito isso. Ouviste? É uma desconfiança tola, ciúme sem
razão, que não admito. Vou embora!
— Venhas a cá!, Mercedes. Eu não sabia... — Não terminou a frase o nervoso Marcos,
pois Mercedes já se distanciara dali, deixando com ele o buquê comprado.
Em casa, nervosa e cansada, Mercedes tentou ler um romance pra se distrair. Acabou
adormecendo ou entrando num estado de semi-adormecimento, até que, como se estivesse
sendo forçada, olhou a porta. Levou um susto tão grande que deu um grito, horrorizada, e
desmaiou.
Quando voltou a si tinha toda sua família aflita ao redor. Queria contar o que vira mas
nem conseguiu falar. Nessa altura o telefone tocou. Era o noivo. Na esperança de que
aquilo a reanimasse lhe deram a notícia. Trêmula, pálida, abatida, Mercedes atendeu. No
outro lado a voz do noivo lhe pedia perdão em tom suplicante.
— Mercedes, minha querida. Te peço perdão. Fui muito injusto contigo. O interessante
é que, quando cheguei ao cemitério fui me deitar e, imagines!, sonhei com minha falecida
esposa, que me disse: Te cases com Mercedes e serás muito feliz.
Ouvindo as palavras do noivo ela teve outra crise nervosa, sendo preciso que ele fosse
correndo de sua casa prà acalmar. Após muito custo jovem conseguiu falar. E a primeira
coisa que perguntou foi:
— Como se chamava tua mulher?
— É verdade, nunca te disse. Maria. Por quê?
— Agora compreendo tudo. Foi minha amiga de escola. Depois que nos separamos
nunca mais ouvi falar dela. Mas hoje, depois do que aconteceu no cemitério, vim até casa
e dormi. Acordei com uma visão aterradora: Era Maria vestida com seu uniforme colegial
e com o buquê de rosa que eu comprara pra pôr no túmulo de tua mulher nas mãos. Deu
um sorriso como agradecendo e desapareceu.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A despedida do filho
É quase certo que o espírito de
todo aquele que morre, no
instante de deixar o corpo faz
visita a alguém muito querido
Minha avó paterna era senhora de engenho e dona de escravo. No começo do século
estava bastante idosa, alquebrada pelos anos e pela enfermidade, o que a obrigava a
permanecer deitada, mesmo durante o dia. Existia em casa uma mulatinha, filha de
escravos, Maria. Era sua afilhada e servia como copeira. Minha avó, que era tratada por
todos como Iaiá, estava em certo dia passando ligeira madorna em sua rede depois do
almoço, quando Maria entrou no quarto. Entrou pra sair logo, gritando, fazendo enorme
alvoroço, chamando todos os serviçais.
— Corre aqui, pessoal. Corre aqui. Tem um homem ali no quarto de Iaiá. Anda,
depressa, gente!
O alarme causou enorme rebuliço, tendo toda gente afluído logo ao quarto em que
vovó dormia. Com o barulho ela acordou e tratou de saber o que acontecia. Maria
explicou:
— Quando entrei aqui, há pouquinho, tinha um homem aí, debruçado, olhando Iaiá um
tempão enorme.
Minha avó, decidida como era, mandou logo que fizessem busca na casa. E como não
fosse encontrado alguém, Maria quase não escapou dum bom castigo.
— Estás vendo?, Maria. Não tem pessoa estranha em casa. Estás sonhando. Deverias
levar um puxão de orelha pra não assustar todo mundo a toa.
— Juro, Iaiá, que vi um homem aqui no quarto, debruçado à ti, olhando muito.
— Mas não viste que já se procurou em toda parte e nada foi encontrado? Que homem
era esse?
— Sei não, Iaiá. Mas garanto que já vi o retrato dele naquele álbum que ta lá encima da
mesa na sala.
A notícia encheu vovó de surpresa. Mandou buscar o álbum e o folheou pra que a
empregada identificasse o homem.
— Vejas se é um destes.
— Taí. É esse aí!
— É este aqui?
— Sim, Iaiá. É esse mesmo!
— Estás doida, menina!
— Tô não, Iaiá. Era esse, mesmo. Juro que era.
— Mas como pode ser?, criatura! É meu filho Pedro que mora no Rio de Janeiro há
muitos anos. Se está lá como poderia estar aqui?
— Não sei, Iaiá. Mas tenho certeza de que era ele.
— Acabemos com essas bobagens, Maria. És muito mentirosa. Isso é o que é. Se
continuares com essas mentiras levarás uma boa sova. Estar aqui assustando a gente com
bobagem!
O incidente ficou ali. Meia hora depois ninguém mais pensava no caso. Mas no dia
seguinte um telegrama do Rio de Janeiro comunicou a minha avó o falecimento de seu
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

filho Pedro, ocorrido na véspera, justamente naquela hora em que Maria vira seu vulto no
quarto, debruçado sobre a rede, fitando demoradamente sua velha mãe.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A menina que não estava morta


Pra todos aquela criança estava
morta. Porém alguém sabia mais
do que todos ali. Quem?
O episódio seguinte se desenvolveu de modo bastante singular. Aconteceu com dona
Trindade quando contava apenas dois anos de idade e residia com sua família em
Carangola, Minas Gerais.
Em certo dia a pequena foi atacada por um mal fulminante que a imobilizou, sem
respiração, sem ação, com os membros frios e duros, e foi dada como morta.
De nada adiantaram os remédios caseiros aplicados com a maior solicitude. Pra todos a
criancinha tinha morrido. Foi logo armado o velório, tendo o corpo sido colocado sobre
uma mesa na pequena sala da casa dos pais de Trindade, cercado pelas quatro velas
tradicionais.
Era noite. Cerca de 3h da madrugada desabou uma forte chuvarada.
O vento, em grande rajada, respingava o corpo da menina, colocado próximo à janela.
Antes que alguém pudesse tomar qualquer providência entrou na sala um desconhecido
que logo se fez notar pela vestimenta estranha. Estava de preto e tinha o colarinho voltado
pra trás, como se fosse um pastor protestante. Trazia nas mãos um chapéu preto, de aba
larga e, sem dizer quem era e donde vinha, foi logo indagando:
— Quem é a mãe dessa criança?
Apontaram dona Lina, falecida atualmente. O homem, se adiantando um pouco, lhe
disse interrompendo seu choro:
— Tires essa menina da mesa porque não está morta!
Todos se entreolharam espantados. O pai da garota, meio atordoado, procurou explicar
ao desconhecido:
— Essa menina morreu 9h da noite. Já é 3h da madrugada!
— Sim, sim. Mas sei o que digo. Essa menina está viva.
Diante da convicção com que o desconhecido falava, meu avô, sem indagar mais,
retirou a menina da mesa, tirou sua roupa molhada, a embrulhou em cobertor e foi com ela
à beira do fogão. Enquanto meu avô tomava tal providência o homem saiu,
silenciosamente como havia entrado, e ninguém mais soube dele.
A menina, entretanto, não dava sinal de vida e ninguém mais dava importância ao
visitante que até já estava sendo esquecido.
Os minutos foram passando. 3:30h, 4h, 4:15h. Nada indicava que a criança não
estivesse morta.
4:30h. Os que observavam o pai da menina que a mantinha no colo notaram uma
brusca transformação na fisionomia. Um misto de assombro e alegria. Antes que alguém
pudesse se manifestar a menina agitou os bracinhos e se pôs a chorar.
Durante um segundo os presentes não sabiam o que pensar. Se manifestavam alegria
por ver a menina viva ou se... O que todos consideraram com espanto foi o fato de terem
compreendido que aquele desconhecido fora um enviado do Céu. Todos saíram dali em
desabalada carreira, deixando sozinhos na sala os pais da criança com sua ressuscitada.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

O retrato
São mais tristes os casos em que
o ódio perdura até após a morte
Em 1944 morava em Rocha Miranda, Rio de Janeiro, a jovem Elvira. Tinha uma irmã
casada, Leonor, que em conseqüência duma grave enfermidade faleceu.
Indo visitar a filha, moradora na Pavuna, encontrou o cunhado Aldo, viúvo da falecida
irmã. Falando dela, Aldo resolveu oferecer um retrato de Leonor. Aceitando o presente
com alegria, pois não possuía lembrança da irmã, Elvira levou o retrato a casa, onde o
guardou numa caixa de madeira junto com outras fotografias.
Dias depois, recebendo em casa a visita duma vizinha de nome Maria, resolveu lhe
mostrar o retrato ganho. Apanhou a caixa, abriu e tirou de lá o que deveria ser a foto da
irmã. Com um arrepio de pavor Elvira notou que o papel estava em branco!
Não era possível o que via. No entanto não podia haver dúvida: Era aquele o retrato
que o cunhado lhe oferecera. Mas estava completamente em branco!
Elvira revirou ainda assim a caixa mas nada encontrou. Depois de muito pensar no caso
chegou a certeza de que no outro mundo Leonor conservava por ela o mesmo ódio com
que morrera. Por uma questão de família as duas haviam brigado um dia e nunca mais
fizeram a paz.
Lá do outro mundo, coitada!, Leonor devia estar sofrendo pelo fato de não terem as
duas se reconciliado, ao menos no momento de sua morte. E seu ódio é tão forte que nem
quis deixar com a irmã uma lembrança do que fora em vida.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

O urubu aziago
Deve haver algum fundamento à
fama de aziago de certos animais
Na fazenda do Logradouro, distrito de Lagoa dos Matos, Pernambuco, havia um
cidadão, Honório, dono duma regular fazenda de gado. Fora delegado de polícia vários
anos e chegara a ser prefeito de Lagoa dos Matos.
Em certo dia, lá por 1900, estava no alpendre de sua casa junto a um vaqueiro seu
empregado, quando teve uma idéia divertida. No terreiro defronte estavam vários urubus.
Honório propôs a seu funcionário:
— Ô, Costa. Vamos pegar um urubu?
— Urubu? Pra quê?
— Verás. Vás buscar o laço.
O vaqueiro obedeceu. Com o laço apanhou um urubu e o entregou ao fazendeiro, que
apanhou um pequeno chocalho, o amarrou fortemente nas asas da ave e a soltou. A ave
passou a voar estranhamente com o pequeno guizo pendurado.
Honório e Costa riram muito da brincadeira, alheios ao sofrimento que dava ao urubu o
permanente chocalhar nas asas. Em toda parte em que o urubu passava era logo
identificado pelo som característico que fazia com que todo mundo exclamasse:
— Lá vai o urubu de seu Honório.
Passaram os anos e, volta e meia, aqui e ali, a passagem do grande pássaro ficou
marcada pelo som inconfundível daquele chocalho que o tornava conhecido em toda a
redondeza, espalhando a noticia daquele maldoso fazendeiro.
Passou o tempo. Honório passou a sofrer revez na vida. Vendeu parte da propriedade e
foi paulatinamente caindo em decadência. Tudo o que possuía passou a outras mãos.
Chegou a ponto de não ter onde morar, indo residir com a sogra. Enfim, já na miséria,
passou a esmolar na estrada e, pro cúmulo da desgraça e degradação, ficou cego.
Foi encontrado morto na estrada. Quando levantaram o corpo pra levar ao velório
ouviram um som que soou sinistro naquela circunstância. Olharam e viram o urubu do
chocalho fazendo volta a pouca altura. Quando levaram o corpo e o colocaram na sala
todos viram uma cena dantesca:
O urubu pousou na janela, aos pés do cadáver. Ninguém teve coragem de se mexer.
Quando alguém decidiu o enxotar o urubu permaneceu indiferente, só saindo quando o
acuaram quase tocando seu corpo.
Mas não foi muito longe. Pousou numa árvore em frente da janela, ali permanecendo
toda a noite. No dia seguinte, quando saiu o enterro, cena ainda mais espantosa: O urubu,
como teimando em acompanhar a sua última morada aquele que por simples pilhéria se
transformara em seu algoz, seguiu o cortejo até o cemitério, chocalhando lugubremente,
compondo a marcha fúnebre que aterrorizava toda gente que via naquilo a exibição do
poder invencível dalguma força superior.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A ponte sinistra
Os bons espíritos protegem
aqueles que exercem a mesma
profissão que escolheram em
vida
Em 1949 Abílio trabalhava no camião de transporte que fazia as linhas Vitória–Rio de
Janeiro, Vitória–Campos e Vitória–Colatina. Numa noite de setembro voltava duma
viagem a Campos. Vinha o camião carregado de açúcar e trazia como ajudante seu
sobrinho Osvaldo.
Era motorista cuidadoso e vinha devagar, pois nada lhe adiantaria correr, só
descarregaria o camião na manhã seguinte.
Talvez pelo cansaço da viagem, pelo adiantado da hora ou pelo barulho monótono do
ronco do motor, a certa altura começou a sentir um forte sono. Estavam na altura de
Jaboti, um vilarejo a 40km de Vitória, quando avistou uma ponte. Imaginando lavar o
rosto pra afugentar o sono o motorista aumentou a velocidade pra logo chegar até ali.
Aquela ponte era conhecida como a ponte sinistra porque, apesar de ser pequena
sobre um estreito riacho, é causadora de muitos acidentes. Se aproximou cautelosamente,
parou o carro, desligou o motor e chamou seu sobrinho e companheiro de viagem, que
naquela altura já estava dormindo.
— Tô com um sono danado.
— Por que paraste o carro?
— Vou até lá embaixo lavar o rosto e ver se espanto esse sono.
Isso foi o que disse, porque nesse instante um sono pesadíssimo tomou conta do corpo
e os olhos se fecharam sem que pudesse se mexer. Tombou sobre o volante e só depois
dumas quatro horas é que acordou. Teve enorme surpresa.
O camião não estava mais sobre a ponte sinistra e sim a mais de 20km de lá. E o
camião estava justamente como Abílio o tinha deixado: Motor desligado e faróis acesos.
Abílio e todos aqueles a quem relatara o fato só encontraram uma explicação: O
espírito duma das vítimas da ponte sinistras o quis salvar dum possível perigo.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

O castigo
A afronta aos sacramentos da
Igreja provoca tremendo castigo
O caso seguinte está em nosso poder há vários anos mas só agora, após a comprovação
de certos detalhes, é que passamos à narrativa.
Lá pelo ano de 1911 era vigário de São João Evangelista, localidade mineira, um
virtuoso sacerdote, monsenhor Antônio. Em certa vez, ocasião dum retiro espiritual que
fazem os diversos vigários das paróquias duma mesma diocese, ficou assentado que
monsenhor Antônio faria seu retiro no seminário do Serro, onde havia se ordenado. Em tal
circunstância, pra não deixar sua paróquia abandonada, o zeloso sacerdote combinou com
o vigário duma igreja próxima que também se destinaria a Serro pra retiro, só que alguns
dias depois, celebrasse ali a missa e a comunhão do apostolado do Coração de Jesus em
sua passagem. E tudo ficou assentado.
No dia aprazado, a primeira sexta-feira do mês, chegava a Serro o padre amigo de
monsenhor Antônio, com uma triste notícia:
— Meu caro amigo, que tristeza. A igreja estava repleta. Quando eu estava dando a
comunhão reparei numa preta-velha que eu não lembrava ter confessado na véspera.
Como tenho boa memória e me lembrava de não a ter confessado, sabia que ela não estava
em condição de receber a sagrada comunhão. Mas, pra não ser precipitado, perguntei a ela
se havia se confessado e pela resposta achei que a velha estava brincando.
— Ué! Confessei sim, ontem, lá em casa, na cozinha!
Imaginei uma troça e me desviei dela. Achei que se tratava duma débil-mental e não lhe
dei a hóstia. Quando acabei a missa procurei esclarecer o caso e soube que a preta tinha
como patroa uma mulher leviana, conhecida como Sá Tina, dona dum café mal-afamado,
onde se reuniam pessoas desclassificadas. E soube mais. Tal mulher, pra se fazer de
engraçada, tramara uma farsa com a preta-velha, a convencendo a se confessar na cozinha
de sua casa. Se prestou a fazer tal palhaçada um turco que freqüenta o lugar e que fingiu
de padre.
Regressando a São João Evangelista, padre Antônio, na primeira missa que ali rezou,
fez um sermão condenando o comportamento da leviana criatura, pedindo providência por
parte das autoridades. As autoridades locais daquele tempo, entretanto, tinham ligação de
amizade com a mulher e não levaram em conta a acusação do vigário. Contrariado com a
situação, dias depois, em novo sermão, o vigário mostrou toda sua mágoa em não ser
atendido afirmando que se a mulher não fosse afastada do lugar ele deixaria a paróquia.
Todos os fiéis lhe davam plena razão, menos as autoridades que, como da vez anterior,
fizeram ouvidos de mercador a suas queixas. E assim, cheio de tristeza, o vigário Antônio
Pinheiro se retirou a uma fazenda de sua propriedade e depois se transferiu a outra
paróquia.
O fato horripilante que se seguiu foi presenciado por inúmeras pessoas.
Depois da saída de monsenhor Antônio a paróquia ficou abandonada, coisa que
demorou muito tempo. Em certa noite eram aproximadamente 9h, o café de Sá Tina
estava superlotado de freguês barulhento. Em dado momento todos ouviram um grande
barulho vindo do quintal da casa. Eram bufos, estalos de cerca se quebrando, pisadas
fortes dum animal que não se podia identificar. O barulho crescia cada vez mais e
caminhava em direção à porta do fundo. Súbito, a um tranco enorme, a porta cedeu.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

Foi uma gritaria infernal ali dentro. Todos se atropelando querendo fugir, rezando em
voz alta e pedindo socorro a todos os santos celestes. Pela porta arrombada entrou um
animal pavoroso, indescritível, de aspecto totalmente desconhecido, avançando a dentro
da casa, percorrendo todos os cômodos, saindo na mesma velocidade na porta da frente.
Ninguém que viu o bicho o conseguiu identificar. Os depoimentos só coincidiram
quanto à ferocidade e ao aspecto diabólico. Sá Tina e seu filho choraram o resto da noite.
No dia seguinte a notícia se espalhou na cidade e se dizia que o próprio Satanás entrara
pela porta de Sá Tina porque ela estaria excomungada por sua falta de respeito às coisas
sagradas.
O certo é que daquele dia a diante ninguém mais freqüentou aquela casa de pecado e,
um dia, sem que alguém se desse conta, Sá Tina desapareceu da cidade.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A irmã ausente
A menina, de repente se
escondendo atrás da mala, no
quarto, era a irmãzinha menor
que naquele momento estava em
lugar muito distante
Eis aqui um caso que se passou na Bahia, simultaneamente na cidade de Salvador e na
ilha de Itaparica. É uma história muito antiga, pois data de 1914, mas nem por isso deixa
de ser interessante.
Um soldado de polícia, com cinco filhas, ficou gravemente enfermo e foi aconselhado a
passar algum tempo na ilha de Itaparica pra se restabelecer. Mas havia um problema
prático a ser resolvido. Onde deixar as filhas do casal?, já que a esposa precisaria o
acompanhar pra ajudar no tratamento?
Enfim, após muita conversa, ficou resolvido que só levariam aquelas que não pudessem
ficar ao cuidado de pessoas amigas na capital. Com esse intuito foram procurar um bom
vizinho e amigo, doutor Márcio, pra pedir o favor de tomar conta duma das meninas. Mas
Márcio, ao saber da dificuldade do vizinho, insistiu em ficar, não só com uma mas com
três garotas. E assim ficaram Sandra, Laura e Si. A Itaparica seguiram o pai, a mãe e as
filhas Marisa e Maria.
Tudo ia correndo muito bem até o oitavo dia de estada na ilha. Naquela noite, quando
Marisa estava no quarto preparando a cama pra dormir, de repente gritou de susto:
— Mainha!
— O que foi?, minha filha. O que foi?
— Mãe, acabei de ver Si.
— Viste Si? Como?
— Arrumando a cama vi um vulto. Fui olhar e vi Si se escondendo atrás da mala.
— Não pode ser. Ela está em Salvador.
Mas, por via das dúvidas, e pra descansar a filha, revistou o quarto. Com o grito de
Marisa o pai também apareceu. Após procurar na casa toda teve um pressentimento.
— Parece um aviso. Será que aconteceu algo com Si na cidade? Há oito dias não temos
notícia de nossas filhas. É melhor ires amanhã cedo a Salvador visitar o pessoal.
Não se pode descrever a aflição com que a senhora fez a travessia e em terra seguiu até
a casa de doutor Márcio, onde bateu. E não se pode também descrever sua alegria ao ver
que quem atendia era sua própria filha Si, sobre quem recaíam tão funesta dúvida. Sim! Si
estava viva, feliz e gozando perfeita saúde.
Recebida pelo bom doutor Márcio, não pôde esconder a razão principal de sua visita
inesperada.
— Quer dizer que as meninas têm passado bem. Não é?
— Otimamente. São três garotas muito boazinhas. Não nos dão trabalho algum. São
muito obedientes e atendem a tudo que dizemos.
Que peso me tiraste, doutor.
— Mas por quê. Houve algo?
— Felizmente estou vendo que foi nada. Mas que foi coisa esquisita, isso foi!
Diante da curiosidade dele ela contou:
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

— Imagines que ontem na noite Marisa, a mais velha, arrumava sua cama quando viu
Si no quarto. Apareceu de repente e deu um pulo até atrás da mala. Procuramos e nada
vimos. Então ficamos pensando que poderia ser um aviso. Até que tivesse morrido.
Enquanto a mãe contava o caso Márcio arregalava os olhos de espanto. Ao terminar o
relato, sem esconder o assombro, contou o seguinte:
— É incrível. Então foi um caso de telepatia, de transmissão de pensamento, pois
ontem na noite Si se deitou naquele sofá e adormeceu. De repente deu um pulo e acordou
espantada. Perguntei o que houve, se sentia dor, e respondeu que não, que estava
sonhando com Marisa e que quando a irmã chegou perto se assustou e acordou.
— Em que hora foi isso?
— Exatamente 8h.
— Exatamente a hora em que Marisa viu Si em Itaparica.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A noiva agradecida
Após fazer um pedido ao
escoteiro a moça de branco
desapareceu como se diluída no
ar
Este caso se passou há muitos anos na ilha de Paquetá, Rio de Janeiro. Num lindo
sábado de junho Almir tinha 17 anos e fazia parte dum grupo de escoteiro filiado à matriz
de Santana que seguiu à referida ilha a fim de fazer um de seus costumeiros
acampamentos.
Lá chegando os rapazes se localizaram num recanto próximo a uma das praias e ali
armaram as respectivas barracas. Quando se aproximou a hora do silêncio foi feita a escala
pra guarda do acampamento, cabendo a Almir o horário de 0h até 1h da manhã.
Desapertado por seu antecessor, Almir se levantou no momento combinado, vestiu seu
uniforme, tomou o bastão que o colega lhe entregou, colocou um cobertor sobre os
ombros, pois estava deveras frio, e saiu pra sua ronda.
O luar estava muito claro. O escoteiro andou em volta do acampamento durante uns 15
minutos sem que algo de anormal acontecesse. Ao dar um giro, porém, ficou surpreso ao
ver sentada na muralha da praia uma linda moça de vestido branco e longo cabelo negro
solto. Donde quer que viesse pra chegar até ali, forçosamente teria de passar pelo
acampamento. E como foi que não a vira?
— Tenhas a bondade, senhorita. Por onde passaste?
Ela, porém, se limitou a o fitar, sem responder. O rapaz insistiu.
— Desculpes, estou fazendo uma ronda no acampamento e não podes ficar aqui.
Só então a moça falou. Mas em vez de se referir ao que o escoteiro dizia, perguntou:
— Moço, poderias me fazer um grande favor?
— Sim. O quê?
— Sim. Quero que dês um recado a meu noivo Alberto, que mora na praia da
Moreninha.
— Sim. Qual é o recado?
— Digas que eu, Marina, agradeço muito ter cumprido a promessa que me fez e que
desejo muita felicidade em companhia de sua querida esposa.
O recado era meio esquisito. Que negócio era aquele duma noiva mandar o noivo e
respectiva esposa serem muito felizes? Enquanto o rapaz conjeturava sobre a estranheza
do pedido a moça foi ficando transparente até sumir no ar.
Apavorado, correu gritando ao interior do acampamento, acordando todos e contando
a visão que tivera. Ninguém acreditou no que ele disse, zombando com piadas assim:
— Como é? Fantasma? Hem? És um bicho pra ver fantasma?
Mas Almir não se convencia de ter dormido e sonhado, como os colegas o tentavam
convencer. Pra tirar tudo a limpo convidou um dos companheiros mais descrentes.
— Sei que em nada acreditas. Mas queres me ajudar a tirar a prova?
— Fazendo o quê?
— Vamos à praia da Moreninha ver se mora ali alguém chamado Alberto que teve uma
noiva chamada Marina.
— Combinado. Vamos.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

Batendo aqui e ali, encontraram um senhor chamado Alberto. Sem explicar, Almir foi
logo dizendo:
— Seu Alberto. Trago a ti um recado de tua noiva.
— De minha noiva? Deves estar enganado. Não tenho noiva. Sou casado.
— Mas foi ela, a senhorita Marina, quem me mandou até aqui.
Ao ouvir aquele nome o homem ficou interessado.
— Marina! Disseste Marina?
— Sim. Marina!
— Mas já morreu, há muito tempo.
— Foi o que pensei.
Nessa altura não era só Almir que estava estupefato. Também o colega do escoteiro
estava boquiaberto, compreendendo que Almir lhe falara a verdade na véspera.
— Mas foi o que pensaste. Por quê?
— Porque falei com ela na noite passada.
— Falaste com ela?
— Eu fazia ronda em nosso acampamento quando vi uma moça de branco, com cabelo
negro e solto, sentada na muralha da praia. Cheguei perto e te mandou um recado.
— Que recado?
— Mandou dizer a ti que ficou muito agradecida porque cumpriste a promessa e
mandou desejar muita felicidade a ti e tua esposa.
Diante daquelas palavras Alberto passou a contar aos dois escoteiros os fatos que
explicavam a aparição e o recado.
— De fato, Marina foi minha noiva. Era irmã de minha atual esposa. Quando
estávamos noivos Marina descobriu que a irmã gostava de mim e que eu correspondia ao
amor dela. Desesperada suicidou se atirando ao mar daquela praia. Foi tirada viva da água
e me fez jurar que me casaria com sua irmã. E isso eu fiz.
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

A noiva
A força do amor pode vencer o
imprevisto da morte
O impressionante caso seguinte ocorreu em Salinas, Minas Gerais, em 1950.
Rubens era noivo de Helena, considerada a moça mais bonita da cidade. Todos os
planos pro enlace estava prontos, casamento marcado pro dia 15 de agosto. Em 20 de
março, como era seu costume, Rubens saiu de casa 19h com destino à casa de Helena. A
moça morava adiante da praça do Bonfim, onde fica o cemitério da cidade. Lá foi ele.
Passou na frente do cemitério e alcançou a casa da querida noiva. Às 23h, novamente
como de habito, tomou café e se despediu.
— Então, até amanhã, meu amor.
— Até amanhã, querido. Venhas bem cedo.
— Está bem. Boa noite.
Despreocupado, alegre, longe de pensamento sombrio, tocou a sua casa. Tinha vencido
uns 400m, que distavam da casa dela ao cemitério, quando teve uma surpresa chocante.
De lá, da direção da entrada do cemitério, Helena vinha correndo, chorando, com grande
aflição, suplicando:
— Rubens, não me deixes sozinha! Voltes!
Rubens parou estupefato. O que teria acontecido?
Estava mais linda do que nunca num vestido todo branco que na escuridão dava a
impressão duma santa cercada por uma auréola de luz. Estava nervosíssima e mal se
aproximou do noivo foi abraçada.
— Estás gelada!
A acariciando pra a acalmar, deu um beijo na boca.
— Que lábio gelado!
Helena nada dizia. Soluçava baixinho. A julgando doente o noive se apressou.
— Vamos a tua casa. Precisas dum médico e um chá bem quente. Vamos.
Assim dizendo o rapaz lhe deu o braço e rumou à casa dela.
Ia com o pensamento embaralhado. A noiva com aquele vestido, chorando assim
quando momentos antes estava feliz.
Ao se aproximar da casa percebeu um movimento incomum. Todas as luzes acesas.
Perguntou, curioso:
— Ué! Há alguém doente em tua casa?
Ela nada respondeu. Aumentando assim a suspeita do noivo de que algo grave
acontecera ali. Ao se aproximarem da casa ela fez uma proposta que ele aceitou com a
maior naturalidade.
— Meu amor, entres pela frente e entrarei pela porta do lado. Não é bom que alguém
me veja nesta hora contigo na rua.
Logo que viu a moça entrar pela porta lateral ele entrou pela frontal.
Na sala iluminada algumas pessoas da família de Helena comentavam algo em voz
baixa. Mal Rubens entrou e todos se calaram e se voltaram a ele, o fitando de modo
estranho. Certo de que alguém estava doente, sem maior indagação se encaminhou ao
quarto onde dormia Helena. Ao entrar soltou um grito terrível e desmaiou!
Deitada em sua cama, com o mesmo vestido branco que ele vira há pouco, estava
Helena, sua noiva. Estava morta!
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

índice
6 A doce presença
7 O casamento inacabado
9 A reação da estátua
11 A palavra assumida
13 O vaticínio
14 A nota voadora
16 O enterro
18 A mãe dos chorões
19 O padre sinistro
21 O morto cumpriu a ameaça
23 A milhar sinistra
25 O bom médico
27 O vestido de comunhão
29 A verdade no cochilo
30 A casa da clareira
31 A promessa
32 A morta
34 A borboleta misteriosa
35 A praga da mulher do pescador
37 Três gotas de sangue
38 A operação espiritual
40 O rei da voz
41 A gratidão do suicida
42 O apelo da irmã
43 O violino do além
44 A missa das almas
Incrível, fantástico, extraordinário!
Almirante

45 O camião fantasma
46 A visão da batalha
48 Entrevista fúnebre
51 Aterradora coincidência
53 A morta agradece as flores
54 A despedida do filho
56 A menina que não estava morta
57 O retrato
58 O urubu aziago
59 A ponte sinistra
60 O castigo
62 A irmã ausente
64 A noiva agradecida
66 A noiva

Anda mungkin juga menyukai