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DIREITO

INTERNACIONAL
PÚBLICO I

1ª TURMA

DAVID SÁ MACHADO, Coimbra MMXII

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I. O DIREITO DA COMUNIDADE INTERNACIONAL

O curso de d.i. começa com a abordagem da especificidade do DIP tradicional e desenvolve-se tendo em vista os
passos que têm vindo a ser dados no sentido da superação do Modelo de Vestefália – 1648 a 1948, na opinião do
Doutor Machado, data em que é assinada a DUDH - ou 1878 (Congresso de Viena) para alguma doutrina.

SUJEITOS DO D.I.: ESTADOS soberanos, com algumas excepções (v.g. Santa fé, Ordem de Malta), embora, a partir
da segunda metade do séc. XIX tenham surgido as OI’s (organizações internacionais), e no séc. XX o INDIVÍDUO
se tenha assumido como sujeito do d.i, bem como as ONG’s (organizações não-governamentais)

OBJECTO DO D.I.: Relações entre Estados; relações entre Estados e OI’s;

PROCEDIMENTO DO D.I.: normas internacionais, formalmente distintas do dir. interno das respectivas instâncias
normativas. Isto não significa que o d.i. não queira tornar-se dir. interno de todos os Estados, directamente
aplicáveis pelos operadores jurídicos.

NOÇÃO JURÍDICA DE D.I.P.

Não existe uma definição geralmente válida e consensualmente aceite de d.i., havendo mesmo teóricos
proeminentes, como Hobbes, que colocaram em causa a existência de um verdadeiro d.i. Ainda há alguns que
falam numa ética ou moralidade internacional, mas não de d.i. Para a maioria, no entanto, faz todo o sentido a
existência de d.i. enquanto

Conjunto de normas que, num dado momento, disciplinam a comunidade internacional (c.i.) e
regulam as relações que no seu seio se estabelecem entre Estados, OI’s, particulares e outros sujeitos
sui generis, definindo os respectivos direitos e deveres.

CARACTERÍSTICAS:

1) Inexistência de um órgão legislativo ou executivo centralizado – nem a ONU, a despeito da sua importância
pode ser vista como um parlamento mundial, nem os tratados internacionais (t.i.’s) podem ser considerados
equivalentes à lei, já que dependem da negociação, do compromisso e do consentimento.
2) Inexistência de procedimentos normativos claramente definidos – apesar de se tentar colmatar esta lacuna
através de documentos como a CVDT.
3) Inexistência de um sistema de tribunais dotados de jurisdição compulsória análogo aos dos ordenamentos
normativos nacionais, aliado a um sistema de sanções centralizado – o TIJ depende do consentimento dos
Estados, bem como todas as instâncias jurisdicionais internacionais. No entanto, o aumento de tribunais
internacionais e da respectiva casuística, aliado à efectivação das respectivas sentenças têm vindo a conhecer
aperfeiçoamentos significativos que aproximam a efectividade do direito internacional (d.i.) ao direito interno.
4) Inexistência de uma administração de polícia para prevenir e reprimir violações do d.i. – apesar de se
verificarem desenvolvimentos muito significativos, neste domínio, nos últimos anos.

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5) Apesar das suas fragilidades, o d.i. não é inoperante – sem a observância do d.i. as relações internacionais
eram praticamente impossíveis. Isso confere-lhe um grande interesse prático, assistindo-se a um aumento
exponencial do escopo e da frequência da litigância int.
6) A ocorrência de violações de uma norma jurídica não significa a sua invalidade, ineficácia ou falta de vigência,
com também se pode observar no direito interno.

NOÇÃO DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO E DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO

DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO:

Sistema jurídico autónomo, tendo em vista a disciplina jurídica nas relações jurídicas que se desenvolvem no seio
da sociedade internacional, em especial as relações interestaduais.

DIREITO INTERNACIONAL PRIVADO:

Estudo das regras de conflitos emanadas do direito interno pertinentes para resolução de questões jurídicas que
apresentam pontos de contacto com diferentes ordenamentos jurídicos (o.j’s).

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II. HISTÓRIA E FUNDAMENTOS DO DIREITO INTERNACIONAL

1.1 - ANTECEDENTES REMOTOS

A evolução histórica do d.i. é essencialmente o produto da civilização judaico-cristã europeia,


acompanhada de uma forte influência greco-romana

1.2 – IDADE MÉDIA E “RESPUBLICA CHRISTIANA”

A idade média constitui uma imp. fase de desenvolvimento histórico do moderno d.i. ocidental

Antecedentes

A Respublica Christiana foi desenvolvida a partir de uma sucessão de acontecimentos que compreende:

 a conversão do Imperador Constantino ao Cristianismo;


 o Édito de Milão de tolerância religiosa – que declarava que o Império Romano seria neutro em relação ao credo
religioso, acabando oficialmente com toda perseguição sancionada oficialmente, especialmente do Cristianismo.
 a oficialização do Cristianismo como religião do Império Romano;
 a queda do Império Romano do Ocidente e subsequente a avocação de dignidade imperial, por parte do Bispo
de Roma.

Caracterização da RC

A premissa de que se parte consiste na afirmação da autoridade última do Papa nas relações entre monarcas,
esvanecendo a distinção entre o dir. natural e positivo:

1) À medida que o poder papal se consolida, ele começa a auto-compreender-se como Dominus Mundi
(Senhor do Mundo), reclamando o poder de proceder o reconhecimento de reinos e monarcas, de distribuir
terra e o mar e de declarar a guerra justa.
2) As relações entre os reinos cristãos eram mediadas pelo Papa, que decidia a validade dos tratados entre
eles, sancionava espiritualmente a respectiva violação e intervinha na mediação e arbirtragem dos conflitos.

3) O exemplo português é ilustrativo da realidade da R.C. – Em 1142, D. Afonso Henriques presta vassalagem
ao Papa, procurando a independência diante de Afonso VII de Leão. Todavia, só será reconhecida em 1178 pelo
Papa Alexandre III, tratando-se de uma independência limitada, assente na subordinação político-espiritual do
Monarca à Santa Fé.
4) O culminar destas pretensões papais de poder temporal e espiritual ocorre com Bonifácio VIII, o qual
idealizava um sistema em que os Estados católicos constituíssem uma unidade política, ficando todos os
monarcas subordinados ao Papa, contando ainda com o apoio de Tomás de Aquino.
5) Apesar de se pretender edificar uma monarquia mundial de supermacial papal de jure, muitos monarcas
defendiam as prerrogativas dos seus reinos e principados.

O fundamento material das relações entre esses vários reinos consistia:


. na realização de um ideal teológico-confessional (religioso) comum,
. na subordinação ao direito natural,
. na partilha de valores fundamentais de autoridade, hierarquia e tradição.

Era esta a base do “consenso da Cristandade”

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Bases da RC:

1) A R.C. pretendia-se assente na verdade objectiva centralizada e unilateralmente proclamada pelo Papa, e
passível de adjudicação coerciva (através da inquisição sobretudo).
2) A R.C. tinha como base uma sociedade feudal, assente numa ordem natural, divinamente estabelecida.
Contestá-la seria um acto de rebelião e blasfémia. Apesar disso, a autoridade do Papa é frequentemente
contestada, existindo uma profunda tensão entre o Papa e os Imperadores que pretendem reconstruir o
Império Romano.

É nesta conjuntura atribulada que ao longo dos séculos se assistem a importantes desenvolvimentos normativos
e doutrinais que ajudarão na formação do DIP hodierno:

No âmbito do direito do mar - Assume particular relevo a obra Direito do Mar de Rhodes, de origem bizântina. O
dir. consuetudinário desempenha um papel crucial na resolução de conflitos de pretensões no alto mar. A
concepção do mare clausum avançada pelo Tratado de Tordesilhas é decisiva.

No âmbito do direito da guerra – O conceito de guerra justa. A proibição da guerra privada, sendo em regra
necessária a autorização de um monarca.

No âmbito do direito dos tratados – a celebração de múltiplos tratados realizados com o objecto de resolver
disputas territoriais.

No âmbito do direito de legação – o aparecimento das embaixadas permanentes, entre outros.

Em suma, este período histórico teve uma importância decisiva no densenvolvimento do d.i. Foi
largamente graças à sua associação com a cristiandade que o d.i. de base europeia alargou progressivamente a
sua influência à Africa, às Américas, à Ásia e ao Pacífico.

1.3- O TRÂNSITO PARA A MODERNIDADE

1.3.1- O COLAPSO DA R.C. SEC. XVI

A Reforma Protestante – movimento religioso de reforma da Igreja Cristã liderado por homens como Lutero e
Calvino - está na base da queda “desconstrutiva” e “desestruturante” da R.C. pondo em causa a sua unidade
religiosa e recusando os seus fundamentos de autoridade religiosa. Está igualmente na base de graves conflitos
religiosos um pouco por toda a Europa central e do Norte, tendo propiciado a quebra da unidade politico-religiosa
do Cristianismo. Este movimento irá alterar radicalmente o rumo dos desenvolvimentos políticos, jurídicos e
culturais do Ocidente.

1.3.2- A ÉPOCA IBÉRICA E ESCOLA PENINSULAR

Início  Tratado de Tordesilhas (1494)

Termo Paz de Vestefália (1648)

Caracterização  Época marcada pelo declínio político, cultural, militar e económico da Península.

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Enquadramento histórico

1) A derrota da invencível armada do rei Filipe II contra a Grã-Bretanha, em 1588 – numa importante tentativa de
recatolicizar a Europa do Norte e pôr termo às pretensões de independência religiosa e política dos ingleses e
dos Países Baixos – destruiu o domínio espanhol (e português) e a doutrina do Mare Clausum, alicerçadas no
Tratado de Tordesilhas, alterando decisivamente o curso da história.
2) O d.i. passa a ser conformado maioritariamente pelas potências protestantes, em detrimento do papado e das
potências católicas em declínio.
3) Levanta-se o problema do reconhecimento de novos Estados, a propósito das pretensões de independência da
Holanda face à Espanha – tese católica (direitos de intervenção do papa e suas prerrogativas de investidura e
deposição dos monarcas) vs teste protestante (soberania popular, auto determinação dos povos, direito da
resistência contra tiranos).

Escolástica Tardia

Neste contexto, merece uma referência especial a escolástica tardia – último sopro do espírito medieval –
destacando-se Fr. Vitória e Francisco Suárez, autores precursores do desenvolvimento do DIP:

Através das suas concepções e doutrinas, FRANCISCO VITÓRIA – da Escola de Salamanca - dá um importante
contributo para a desconstrução crítica da R.C:

 Rejeita o poder papal universal;


 Sustenta a ideia de uma comunidade global, alicerçada no direito e na razão natural e na procura de uma paz dinâmica,
superando o modelo da R.C. medieval;
 Constrói o conceito de guerra justa bilateral (a guerra entre príncipes e cristãos), que consiste no conceito de guerra
bilateralmente justa quando houver razão de um lado e boa fé do outro.
 Defende o título espanhol sobre terras ultramarinas com base na sua descoberta e não em bulas papais.

Contribuições de FRANCISCO SUÁREZ - professor em Roma, Coimbra e Salamanca - para do d.i.:

 Distinção entre ius gentium externo - respeitante às relações entre Estados - e ius gentium interno - relativo às relações
que se estabelecem entre povos pertencentes a um mesmo estado.
 Legitimação do poder político do Monarca pela transferência do poder do povo (teoria da soberania popular)
 Distinção entre bellum defensivum e bellum aggressivum
 Desenvolvimento do conceito de guerra bilateralmente justa de Francisco Vitória.
 Defesa das prerrogativas papais de reconhecimento e deposição do Rei
 Defesa do tiranicídio de monarcas heréticos depostos pelo Papa
 Defesa de uma argumentação baseada num plano teológico, mais do que jurídico

Estes dois autores foram decisivos, na medida em que abriram temas que iriam frutificar nos séculos
seguintes, desenvolvendo imp. concepções de d.i. e de jusnaturalismo. No entanto, dada a sua vinculação ao
ideal teológico-político da R.C. e à defesa das prerrogativas papais, confere-se ainda um cunho pré-moderno à sua
visão do mundo e do Direito. A verdadeira rotura doutrinal que permitirá o desenvolvimento do moderno d.i. será
operado nas mãos do jurista holandês e teólogo protestante arminiano Hugo Grócio.
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1.3.3- AS GUERRAS RELIGIOSAS E O TRATADO DE VESTEFÁLIA

Enquadramento histórico  Finda a Guerra dos 30 Anos (1618-1648) – Tratado de Paz de Vestefália
(Fernando III e Luís XIV)

Importância do Tratado de Paz de Vestefália:

 Primeira afirmação da tolerância religiosa no plano internacional.


 Importância na evolução histórico-política, constitucional, e jurídico-internacional subsequente.
 Papel de garantia colectiva.
 Está na base do surgimento do DIP, do ponto de vista do d.i.

A sua importância reside fundamentalmente nos cinco pontos seguintes:

1) Afirmação do t.i. como figura central na conformação dos Estados – relevo dos valores da igualdade soberana
e voluntariedade das relações internacionais no d.i.
2) Afirmação dos Estados como domínios políticos e religiosos independentes do poder temporal do Papa e
do Imperador – Estados soberanos – estando na base do surgimento de uma pluralidade de Estados europeus
independentes
3) Introdução do princípio da tolerância religiosa no centro da construção normativa e doutrinal do direito
público nacional e internacional.
4) Procede ao reconhecimento da independência da Holanda e da Confederação Helvética conduzindo à
primazia de um novo princípio de soberania popular e abrindo as portas à doutrina do contracto social.
5) Lançou as bases para a desconfessionalização e secularização da política, do Estado e do direito, nacional e
internacional – afirmação dos princípios da autonomia individual, da democracia, e do Estado de direito.

1.3.4- HUGO GRÓCIO E O JUSNATURALISMO SECULARIZADO

Enquadramento ideológico

Desconfessionalização do direito natural – novo conjunto de princípios racionalmente acessíveis aos


indivíduos em condições reais ou hipotéticas de igual liberdade

Progressiva secularização do direito internacional

Surge o jusnaturalismo racionalista - apontando para um direito válido, mesmo se Deus não existisse:
existem princípios de direito naturais susceptíveis de captação pela razão, válidos mesmo na hipótese de
Deus não existir (impensável para H. G.)

A partir das obras de Albérico Gentili e sobretudo Hugo Grócio

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TEORIA JUSNATURALISTA RACIONAL DE H.GRÓCIO:

1) Sustenta o livre arbítrio individual e a autoridade última da Bíblia, em detrimento da autoridade papal
como mediador previlegiado do direito divino, natural ou positivo.
2) Tenta teorizar d.i. afirmando uma posição de neutralidade entre as facções religiosas em confronto no seu
tempo.
3) Como premissa principal da sua obra, H.G. defende a existência de um direito comum entre as nações,
igualmente válido na guerra e na paz, deduzido da natureza humana e incorporado na própria estrutura moral
do universo.
4) Apoia-se em autores clássicos para demonstrar a universalidade e intemporalidade dos princípios
normativos do d.i., que vinculam o próprio Deus, contestando as decisões e autoridade do Papa.
5) Defende a existência do direito em qualquer domínio das relações internacionais e recusa a invocação da
“razão de Estado” como causa de justificação da observância do d.i.
6) A primazia do dir. natural decorre do carácter de Deus e da propensão humana para a sociedade e para a
org. da vida individual e colectiva de acordo com princípios de moralidade e inteligência.
7) Baseia-se na racionalidade e validade universal dos princípios universais de direito natural para defender,
para a Holanda, o direito de resistência contra tiranos e a sua autodeterminação como povo oprimido.
8) Preconiza um d.i. apoiado na primazia das potências cristãs, católicas e protestantes, embora com
importantes aberturas universalistas.

1.3.5 – A ÉPOCA FRANCESA E O DIREITO INTERNACIONAL

Início e termo  1648 a 1815

Caracterização  época de significativo fortalecimento da França no plano internacional, adquirindo peso


no desenvolvimento do d.i. e consular.

Ideias-chave  Equilibrio de poderes; contrato social, direito natural racional, separação de poderes, t.i’s

Caracterização histórica e ideológica

1) O Tratado de Paz de Paris, que põe fim à guerra dos 7 anos, reafirma o princípio do equilíbrio dos poderes,
mencionado no Tratado de Vestefália, como regulador das rel. entre Estados soberanos absolutistas – França
na lide da Diplomacia.
2) O absolutismo monárquico, que dominava a constituição dos Estados europeus contituía um entrave à
primazia do d.i.. Contudo, nos focos de resistência do d.i. sustentam-se autores como Milton, Locke ou Kant,
que defendiam o direito natural, o contrato social e a separação de poderes – aprofundando as ideias de
H.Grócio de fundamentação do d.i. no direito natural racional. – Absolutismo vs Jusnaturalismo racional

Desenvolvimentos no d.i.

3) No direito do mar, consolida-se a tese do Mare Liberum (H.Grócio), a tese do mar livre.
4) Desenvolvimento do direito dos tratados, apoiado no princípio pacta sunt servanda, na emancipação política
relativamente ao poder papal e no aperfeiçoamento técnico-legislativo.
Época predominantemente grociana; afirmação dos t.i.’s como instrumento primacial na validação da
aquisição de novos territórios, e como instrumento subordinado ao direito natural a quem todas as nações
devem obediência, devendo inclusive justificar denuncias de justa causa.

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5) Desenvolvimento do direito de mercadoria, do qual se destaca o reconhecimento de personalidade jurídica
e do direito de propriedade aos estrangeiros.
6) No direito da guerra, a existência da delegação real do direito de declarar guerra em caso de violação de
direitos territoriais exclusivos.
7) Destaque, entre vários autores, a Vattel, cuja obra “Droit des Gents” ajudou na desconfessionalização,
secularização e racionalização do d.i. - sem nunca entrar em ruptura com o direito natural - mais do que a
H.Grócio, cultivando a defesa da liberdade de consciência individual e de religião, censurando as guerras
santas, contrárias ao d.i – desenvolvimento nos direitos humanos

1.4– O DIREITO INTERNACIONAL CONTEMPORÂNEO

1.4.1- EQUILÍBRIO DE PODERES E “CONCERTO EUROPEU”

Início  1815, aquando da derrota de Napoleão em Waterloo – Congr. de Viena e celebração da St. Aliança.

Termo  1918, Tratado de Versalhes

Enquadramento ideológico  transição do direito natural para o positivismo jurídico até ao fim da 1.ªGM

Ideias-chave  Positivismo, nacionalismo, secularização e expansão do d.i., conferências int.

Caraterização:

1) (Re)crescimento dos valores nacionalistas, como reacção contra o imperialismo revolucionário


universalista de Napoleão.
2) Época fortemente marcada pela Realpolitik e pela tentativa de conseguir um equilíbrio de poderes.
3) Aumento da importância dos t.i.’s nas relações de d.i.
4) Ordem vigente caracterizada pela superioridade económica, tecnológica e militar das potências europeias
e pela sua desconsideração dos outros povos como incultos – tensão entre o expansionismo colonialista
dos povos imperialistas e o direito de autodeterminação.
5) Desenvolvimento, no séc. XIX, dos transportes, comunicações e armar mortíferas como factor de
desenvolvimento do d.i.
6) Confirmação da tolerância religiosa como trave-mestra das relações internacionais – característica
expressiva do Tratado de Vestefália
7) São organizadas as primeiras conferências europeias de d.i. - a propósito das normas relativas aos conflitos
armados; proliferação destas e seu desenvolvimento.
8) Realização das Conferências de Haia, em 1899, e decorrente instituição do Tribunal Permanente de
Arbitragem, em 1907 (até 1917)
9) Progressiva expansão do d.i. através de numerosas conferêcias e convenções, apoioado em concepções
positivistas
10) Primazia do direito positivo sobre o direito natural, considerado vago e controverso, dado o aumento do
recurso aos t.i. e à arbitragem. Darwinismo compromete igualmente o dir. natural.
11) Vontade e relações de poder entre Estados soberanos vistas como única fonte de obrigações
internacionais, sustentando a tese positivista do “Darwinismo Social”

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1.4.2 – O TRATADO DE VERSALHES E A SDN

Início  1918, finda a 1.ª G.G. – celebração do Tratado de Versalhes.

Termo  1939 (Segunda G.M)

Caracterização:

1) Em anexo ao Tratado de Versalhes, criação do Pacto da Sociedade das Nações, uma organização internacional (o.i.)
de relevo central na ordem internacional da época, qual visou a manutenção da paz e a universalidade do d.i.,
procurou proteger as minorias éticas tinha como objectivo codificar e sistematizar o d.i., garantindo-lhe maior
certeza e segurança.
2) No entanto, a SDN falhou rotundamente, tendo servido de base posterior criação das Nações Unidas
3) Criação do Tribunal Permanente de Justiça Internaional (1921), o qual viria a ser substituído, em 1946, pelo TIJ
(Tribunal Internacional de Justiça) - o qual lançou imp. bases de jurisprudência para o d.i. contemporâneo - e
criação da O.I.T. (Org. Internacional do trabalho)
4) Crescente preocupação com os direitos fundamentais dos indivíduos e não somente nas relações entre Estados.
5) Desenvolvimentos imp. do d.i. – aumento das O.I.’s.

1.4.3 – CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS

Enquadramento histórico 24.10.1945, finda a 2.ª G.M. e subsequente criação da ONU

Caracterização:

1) Os princípios fundamentais da Carta da ONU alicerçam a constituição de uma ordem internacional, segundo
alguns.
2) Criação da figura do Conselho de Segurança das Nações Unidas, permanentemente integrado pelas principais
potências mundiais, facto que tem constituído um factor de bloqueio da organização, e de contestação por
Estados que pretendem maior protagonismo internacional. Contudo, procura acomodar os Estados de terceiro
mundo e pós-coloniais, criticando o d.i. clássico.
3) Na criação e configuração da ONU, destaque para o contributo de Hans Kelsen
4) Alargamento material do d.i. desde 1945 – protecção dos trabalhadores e das minorias, afirmação gradual da
primazia do individuo na ordem internacional (DUDH, de 1948 e PIDCP e DESC de 1966).

1.4.4- FUNDAMENTOS MATERIAIS DO D.I. CONTEMPORÂNEO

Enquadramento ideológico  O d.i. adquire fundamentação a partir dos valores do pensamento


contratualista liberal, liberdade, igualdade, consentimento, reciprocidade e imparcialidade.

Kant e a República Mundial- Sociedade de Estados (jusnaturalismo de Grócio) vs República Mundial


(positivismo de Kant)
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Assiste-se à subversão dos valores grocianos de c.i. como sociedade de Estados face aos ideais Katianos de c.i.
concebida como república mundial – os indivíduos são o fim em si mesmos e o d.i., Estados e o.i.’s instrumentos
de promoção e defesa dos direitos humanos.

Esta república é constituída por indivíduos livres e iguais, estabelecendo entre si formas de cooperação alicerçadas
em princípios de justiça de base racional e neo-contratualista.

A ideia kantiana dum reino dos fins, em que os indivíduos são vistos como fins em si mesmos, e o d.i., os Estados
e as O.I’s são concebidos como meramente instrumentais, como meios para promover e defender os direitos
humanos, parece apontar para a afirmação da primazia e universalidade destes direitos na ordem internacional.

Pretende-se a estruturação do d.i. a partir de princípios de justiça racionalmente aceitáveis por todos os Estados
democraticamente legitimados e baseados no valor da dignidade da pessoa humana e no respeito pelos direitos
fundamentais.

1.5- CARACTERÍSTICAS ACTUAIS DO D.I.

1.5.1- O D.I. À LUZ DOS MODELOS DAS RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Caracterização:

1) Surgimento de novos actores institucionais na cena internacional, de natureza intergovernamental


(ONU), supranacional (UE, Mercosul) e não governamental (ONG’s).
2) Afirmação do indivíduo como sujeito d.i.
3) Assinala-se a heterogeneidade dos Estados – tendo em conta as disparidades no plano institucional,
ideológico, cultural, religioso, económico, territorial, demográfico, etc.
4) Caracterização dos desafios que marcam a vida mundial no pós-guerra fria, através de diversos modelos
explicativos das relações internacionais: FIM DA HISTÓRIA (F.Fukoyama); CONFLITO DE CIVILIZAÇÕES
(S.Hungtinton); EQUILÍBRIO DE PODER (H.Kissenger); DESSECULARIZAÇÃO (P. Berger)

1.5.2 – A SOCIEDADE GLOBAL

Caracterização  consolidação de uma “sociedade civil global”, a qual influencia decisivamente o d.i.

Ideias-chave  OI’s; indivíduos, ONG’s

1) Surgem novas O.I.’s na c.i.


2) As pessoas singulares e as pessoas colectivas de direito privado reforçam o seu estatuto jurídico-internacional
3) Surgem organizações supranacionais (EU, Mercosul), institutos públicos internacionais de d.i e d.i e direito
interno, sujeitos especiais de d.i. (territórios internacionalizados, povos não autónomos, grupos beligerantes
etc.)
4) Proliferação das O.I.’s não gov’s. (ONG’s), as quais intensificam o papel do individuo na discussão e resolução
de problemas int., apesar de serem largamente dependentes de autoridades gov. – principal manifestação da
s.c.g.
5) As org. religiosas int. são uma das dimensões mais influentes na ordem internacional – Santa Sé em especial,
entre várias outras. Esta deve ser vista como uma ONG de natureza religiosa, porque essa qualificação é a que
melhor se coaduna com a sua realidade substancial.

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6) Destacam-se as empresas int. – empresas públicas int. e empresas transnacionais (BP, Shell, Nike, Nestle, etc.).
Estas últimas têm sido objecto de preocupação jur.-int.
7) Gradual consideração dos indivíduos como sujeitos autónomos e unidades primárias do d.i.

1.5.3 – EXPANSÃO DO D.I.

1) O aumento da complexidade da c.i. conduz ao alargamento das áreas do d.i.


2) Os t.i.’s de alcance normativo têm subvertido a utilização do costume e tratados bilaterais.
3) O d.i. é hoje um genus generalissimum que compreende os mais variados domínios do d.i
4) A proliferação das org. e tribunais int. para a resolução de litígios int. aumentam indiscutivelmente a
importância normativa e prática do d.i.
5) O d.i. é hoje um instrumento de utilização universal que possibilita a inter-compreensão e cooperação
entre Estados, fornecendo o enquadramento normativo que qualifica as condutas dos Estados como lícitas
ou ilícitas.

III. FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL

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- QUANTO AOS INTERESSES/GRAU DE GENERALIDADE

UNIVERSAIS – ERGA OMNES

PARTICULARES – INTER PARTES

- QUANTO AO GRAU DE OBRIGATORIEDADE

NORMAS IMPERATIVAS – IUS COGENS - inderrogáveis a não ser por outra com a mesma força normativa.
Associadas à protecção dos direitos humanos e interesses fundamentais da c.i. no seu todo

NORMAS DISPOSITIVAS – IUS DISPOSITIVUM – susceptíveis de derrogação e disposição pelos Estados

A - FONTES DO DIREITO INTERNACIONAL

I – ART. 38 º ETJI

II – CONVENÇÕES INTERNACIONAIS

III – COSTUME INTERNACIONAL

IV – PRINCÍPIOS GERAIS DO DIP

V – JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL

VI – DOUTRINA

VII – DECISÕES “EX AEQUO ET BONO” - EQUIDADE

VIII – OUTRAS FONTES DE DIP

I – ART. 38 º ETJI

Contém um elenco tradicional das fontes de d.i. Não pretende conter uma enumeração taxativa das fontes, ou
seja, não é um art. que estabeleça uma hierarquia das fontes, pretendendo apenas avançar com uma sequência
lógica de consideração das diferentes fontes de direito por parte dos juízes chamados a resolver um litígio int.

Método a utilizar pelo juíz na resolução do litígio int.


Quando confrontado com uma disputa int., juiz procura uma norma escrita, num t.i.. Se não for o caso, deve
procurar uma norma não escrita a partir do dir. consuetudinário. Se depois disso continuar sem uma solução,
compete-lhe indagar os princípios de d.i. que lhe permitam construir uma base argumentativa que lhe permita
extrair e justificar uma regra para o caso sub Júdice.

No processo, terá o juiz que se apoiar sempre nas fontes auxiliares de d.i., a saber a jurisprudência e a doutrina,
ficando contudo sempre aberta a possibilidade de decisões por equidade se assim as partes entenderem.

II – CONVENÇÕES INTERNACIONAIS

São a mais importante fonte de d.i.:

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Noção – Acordo escrito através do qual os Estados contratantes se vinculam juridicamente à adopção de uma
determinada conduta ou estabelecem relações particulares entre eles.

Objecto: Tratados, Acordos, Convenções, Cartas, Convénios, Concordatas, Contratos, Compromissos, Pactos,
Protocolos, Estatutos, Actos Gerais, Declarações, Concertos, Modus Vivendi, etc. – ex: Carta da ONU

2.1 – CARACTERÍSTICAS/ CONSIDERAÇÕES

1) Podem celebrar-se acordos int. não escritos – acordos tácitos;


2) Podem criar obrigações jurídicas vinculativas e não vinculativas (morais, políticas) – hard law vs soft law;
3) Podem ser celebradas conv. Int. entre ou por outros sujeitos de d.i. que não os Estados – ONG’s ou
empresas transnacionais.

2.2 – NATUREZA, SENTIDO E INCIDÊNCIA

1) Fonte de obrigações de d.i.: espécie de legislação substitutiva dos Estados, que exprimem a soberania e a
igualdade destes
2) Instrumentos normativos de natureza jurídico-int., assentes no consentimento voluntário de dois ou mais
Estados
3) De importância vital para o alargamento do d.i., nas múltiplas respectivas áreas de incidência –
diplomacia, paz, guerra, definição de fronteiras, etc.
4) A base para a sua vinculatividade assenta no princípio pacta sunt servanda

2.3 – TIPOLOGIA E REGIME JURÍDICO

1) Função

2) Forma

Quanto à 3) Modo de conclusão

4) Objecto

5) Alcance geográfico

6) Partes

1) Tratados Normativos – Função quase const., de lei, lei reforçada, lei de enquadramento. Requerem a
participação de vários Estados e pretendem valer universalmente (sobrepõem-se aos outros Estados).
Podem indicar a formação de um costume geral e vincular os Estados que não a subscrevam. Exemplo da
Carta das Nações Unidas, convenção sobre Genocídio, CVT, convenção sobre o direito de mar, etc.

Tratados “Contrato” – Função de constituição de obrigações mútuas de execução imediata ou continuada,


podendo também indicar a formação de costumes.

Tratados “estatuto organizatório” – Função de criação e organização de uma organização ou instituição int.
Ex: Carta das NU ou o Tratado da NATO

Tratados “declaração solene” – assentam apenas no dano à reputação de Estados como meio de efectivação
(reputational harm).
14
Escritas ou Verbais
2) Convenções
Expressas ou tácitas (próximas com o costume)

3) Tratados solenes

Actos finais de uma conferência


Modo de Conclusão
Acordos em forma simplificada

“Gentlemen’s agreements”

4) Objecto: político, militar, comercial, técnico, administrativo, procedimental, etc.


5) Alcance geográfico: universal, regional, local.
6) Partes: Bilaterais e Multilaterais (que podem ser restritos ou gerais).

2.4 – REGIME JURÍDICO DAS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS

1) Constituem fonte de obrigações mútuas, quer se trate de convenções bilaterais ou multilaterais.

2) Caracterizam-se pelo seu efeito relativo (inter partes), ou seja, não criam obrigações para terceiros Estados,
sem o seu consentimento, expresso ou tácito, no caso de direitos, ou expresso no caso de deveres.

3) Sem prejuízo do disposto em 2), podem as conv. int. criar efeitos universais (erga omnes) e desenvolverem ou
constituírem costumes e princípios de alcance int.

4) Do mesmo modo é possível a existência excepcional de tratados dispositivos susceptíveis de criar um regime
vinculativo de terceiros Estados (v.g. tratados de delimitação de fronteiras).

5) De um modo geral, as conv. Int. estão sujeitas ao costume, aos princípios gerais do direito, e ao d.i. imperativo
(jus cogens)

III – O COSTUME INTERNACIONAL

Noção – Normas não escritas, geralmente entendidas como legitimadas tácita, consensual e historicamente pela
memória e pelo uso. Está na origem das primeiras positivações jur. tanto no d.i. como no dir. interno, e mesmo
nos dias de hoje permanece pujante no d.i., apesar de perder relevo diante dos tratados. Exprime o carácter
descentralizado da c.i., caracterizando-se pela sua existência autónoma.

Alcance Geográfico – Geral, regional e local (por vezes bilateral).

Elementos:

15
Fáctico: prática reiterada, dotada de razoável duração consistência, repetição e generalidade. Não se exige uma
consistência e uma uniformidade absolutas, embora se rejeitem práticas indeterminadas ou contraditórias. Do
mesmo modo, não se exige universalidade, sendo suf. que seja seguida por um conjunto diversificado e
representativo de Estados. Sobre a questão do tempo de formação do costume, o TIJ entendeu que se uma
determinada prática tiver curta duração deve ser, pelo menos, uniforme e de aplicação alargada.

Psicológico: presunção de uma convicção jur. relevante de obrigatoriedade (e admissibilidade), permissividade


(sendo que a mera ausência de protesto pode ser vista como expressão de consentimento) ou a proibição de uma
dada conduta.

Normativo:

3.1- O ELEMENTO NORMATIVO DO COSTUME

Tanto o elemento psicológico como o fáctico parecem pressupor a pré-existência de um elemento


normativo: numa boa parte dos casos, o costume implica a existência de um elemento normativo, de natureza
qualitativa, susceptível de reconhecimento pelos sujeitos de d.i., do qual os restantes elementos são importantes
evidências. Ou seja, para além dos elementos fáctico e psicológico, o costume deve passar no teste da coerência
normativa e da justiça do sistema, enquadrado num conjunto de valores, princípios e regras que estruturam o
ordenamento jurídico int. Este passo pode ser importante no caso em que os restantes elementos se mostrem
dúbios ou controversos no costume.

Importância do elemento normativo:

1) Critério de qualificação do costume – indica os casos em que o costume deve ser abolido e quando o os Estados
o violam.
2) Enforma o costume na medida em que o reforça, sendo que os Estados podem servir-se do elemento normativo
para firmarem o costume.
3) O moderno dir. consuetudinário assenta tendencialmente em afirmações normativas de carácter geral, relegando
para segundo plano a prática constante e uniforme, pelo que hoje o costume pode firmar-se rapidamente se
repousar num consenso normativo alargado.
4) Elemento superior e anterior aos outros tanto mais quanto maior for o teor das questões em causa (v.g.
protecção dos dir. humanos).
5) Importante para evitar a formação de costumes que prejudiquem os Estados mais fracos perante os mais fortes,
no quadro de um dado equilíbrio de poderes.
6) Afirma a existência do costume mesmo quando um dos seus elementos tradicionais se mostre insuficiente.
7) O costume surge cada vez mais apoiada em princípios de justiça, como uma espécie de equidade universável.

Contudo, um costume excessivamente apoiado em princípios normativos pode pecar por um defeito
de legitimidade, por lhe faltar o consentimento dos Estados, na medida em que pode prescindir da sua
prática ou convicção.

3.2 – REGIME JURÍDICO DO COSTUME

O costume encontra-se previsto no art. 38º/1/b) do ETIJ.

16
Estatuto do objector persistente: se um estado comprovar que se opôs de forma persistente ao costume
internacionacional desde a adopção do costume não está obrigado a cumprir o costume. Em suma, quem
pretender afastar a sua aplicação:

 Tem que provar que não aceitou a sua formação desde o início da sua aplicação, devendo ser consistente
ao longo do tempo - expressa ou tácitamente (pelo silêncio)- apesar de nem todas as objecções serem
susceptíveis de impedir a sua formação ou de afastar a sua aplicabilidade.
 Inviabiliza a sua utilização em seu benefício – princípio da regularidade e da não contradição (non venire
contra factum proprium).
 Pode fazê-lo motivado pela alteração superveniente das circunstâncias.

Caracterização:

1) Os Estados mais recentes, estão, em princípio, subordinados os costumes existentes à data da sua independência,
valendo aqui considerações de segurança jurídica e protecção da confiança nas relações int. – carácter
estruturalmente conservador do status quo do costume. Acresce que o novo Estado passa a poder participar na
revisão e criação do d.i. convencional e consuetudinário.
2) A doutrina distingue costume obrigatório e costume não obrigatório. Esta última qualidade diz respeito à questão
do costume dito em retrogressão.
3) Pode a formação de um princípio geral prejudicar um costume, subvertendo-o.
4) Podem dois costumes contraditórios coexistir temporariamente, pelo que a doutrina prevê regras para regular tais
casos, baseadas na oponibilidade, aquiescência ou no título histórico.
5) É válida a celebração de conv. Int. com o objectivo de revogar direito consuetudinário nas relações entre partes.
6) Pode a violação constante de um costume conduzir à sua eliminação, alteração ou substituição.
7) A doutrina distingue ainda costume selvagem de costume sensato.

Costume selvagem – chamado a responder a alterações súbitas das circunstâncias normativamente relevantes,
que nem sempre encontram resposta adequada na via convencional, propende a sublinhar o carácter decisivo do
elemento psicológico,relegando o uso para um plano secundário. Porém, ao valorizar o desenvolvimento rápido
de tendências, altera radicalmente o sentido tradicional do costume, reforçando os seus componentes voluntatista
e quase-contratual, colocando em risco as exigências de precisão, clareza e determinabilidade das normas jur.,
essencias para a garantia da segurança jurídica e da previsibilidade das rel. int.

Costume sensato – de carácter espontâneo e súbito, tende a acentuar a dimensão fáctica do uso relativamente à
dimensão psicológica da convicção da obrigatoriedade.

3.3 – A PROVA DO COSTUME – OBJECTO

Não sendo constituído por normas escritas, a prova do costume int, baseia-se na mobilização de
determinados indícios. Exemplos: actos políticos, diplomáticos, legislativos, administrativos, judiciais e materiais;
declarações políticas, pretensões e contra-pretensões dos Estados, omissões e silêncios dos Estados; arquivos
históricos, jornais, publicações oficiais, memórias, manuais doutrinais.

 O costume pode ainda ser invocado ex officio pelo juiz.


 Nos casos em que tenha sido invocado pelas partes de um conflito int. cabe-lhes o respectivo ónus da
prova.
17
 A prova do costume é um empreendimento árduo e exigente, sendo muito difícil provar o assentimento
de todos os Estados (de um modo geral só se atestam os “indícios” de costume dos Estados mais
representativos)

3.4- AS LIMITAÇÕES DO COSTUME

1) Carácter estruturalmente conservador, incompatível com as necessidades actuais de uma c.i. global.
2) Lentidão, no tempo actual, em afirmar-se.
3) Fonte de direito demasiado indeterminada, quanto à existência e conteúdo.
4) Nem sempre fica claro quando é que o costume cria regras ou princípios, direitos e deveres.
5) Fonte de direito de difícil adequação à complexidade da c.i.
6) Acusado de exprimir as relações de poder prevalecentes, de espelhar uma realidade estática do d.i. e de
nem sempre ser compatível com princípios de justiça.
7) o costume mostra que o costume muda

IV – OS PRINCÍPIOS GERAIS DO DIREITO INTERNACIONAL

4.1 – IMPORTÂNCIA / APLICALIDADE:

1) Relevante na ausência de regras convencionais e consuetudinárias em resolução de litígios int.


2) Permitem a construção de normas e suprem lacunas do ordenamento jurídico.
3) Determinam o alcance e o sentido das normas convencionais e consuetudinárias, interpretando e
integrando-as harmoniosa e coerentemente.

 Subjacente à compreensão dos princípios gerais do direito está uma distinção entre valores,
princípios e regras:

Valores traduzem opções axiolígicas e éticas fundamentais dotadas de um elevadíssimo grau de


abstracção, os quais carecem de densificação ulterior com base em princípios e regras.

Princípios surgem como normas optimizáveis, dotadas de um elevado grau de abstracção e


generalidade, compatível com dif. graus e formas de concretização.

Regras são suficientemente densas e concretas para permitirem a sua aplicação em termos de
“tudo ou nada”.

 Quanto à sua natureza, perfilham-se diferentes posições doutrinais, tantas quanto as várias
teorias do direito.

4.2 – FUNÇÃO DOS PRINCÍPIOS DE DIREITO INTERNACIONAL:

1) Exprimir e densificar normativamente a ordem de valores jurídica ou internacional.


2) Assegurar a coesão do d.i., ou seja, a sua coerência axiológica e normativa.
3) No entender do Doutor J. Machado, os pr. de d.i. contribuiem para diminuir o espaço de manobra do
relativismo fundamental do d.i.
4) Estabelecer os limites do diálogo interpretativo jurídico-int.
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5) Assegurar uma unidade substancial entre o direito interno e o d.i., do ponto de vista de uma
perspectiva monista

V – A JURISPRUDÊNCIA INTERNACIONAL

Noção – Decisões dos tribunais int. Meio auxiliar de determinação da existência e conteúdo de normas de d.i.. Não
é uma verdadeira fonte de d.i., mas sim um meio subsidiário, de importância fundamental.

Alcance – Encontra-se por referência aos principais tipos de decisões das instâncias int., sobretudo as do TIJ, as
quais têm força de caso julgado, efeitos inter partes, e servem de referência para os demais tribunais.

Importância:

1) Indicam a formação do costume ou de princípios gerais de direito.


2) Indispensável para a garantia da coerência jurisprudencial, bem como para a credibilidade do d.i.
3) Promove os valores da justiça, igualdade e segurança jurídica no d.i., encorajando a resolução pacífica
dos litígios entre Estados.

VI – DOUTRINA

Noção – opinião dos cultores do d.i.. Constitui mais um meio auxiliar de determinação de conteúdo, existência e
sentido do d.i. Previsto no art. 38º/1/d) ETIJ.

Importância:

1) Papel de diversificação, densificação, sistematização e investigação no d.i.


2) Papel de interpretação do d.i.
3) A sua importância foi-se perdendo à medida que o dir. natural perdeu peso e os MNE foram integrando
os seus próprios juristas no d.i.
4) Tende a interiorizar preconceitos nacionais, pelo que nem sempre é neutral e isenta
5) Dá conta da existência de divergências entre dif. teorias e opiniões de cultores de d.i.

VII – DECISÕES “EX AEQUO ET BONO” - EQUIDADE

Noção – método a que os tribunais devem lançar mão no caso de a aplicação estreita das normas de d.i. se
mostrarem especialmente inoportunas e inconvenientes, nos casos em que o d.i. fornece uma solução injusta ou,
por qualquer outro motivo, indesejável.

Natureza - combinação casuística de princípios e de normas de justiça, imparcialidade, igualdade, moralidade, boa
fé, proporcionalidade em sentido amplo, segurança jurídica, protecção da confiança, estabilidade, eficácia e
eficiência, interesse público, etc.

Importância:

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1) Integração de lacunas;
2) Adaptação de normas relevantes às particularidades do caso (critério de complementação do direito);
3) Fonte autónoma do d.i., atendendo ao recurso crescente da mesma na litigância int.

VIII – OUTRAS FONTES DE DIP

1) Documentos diplomáticos;
2) Decisoes dos tribunais nacionais sobre questões int.;
3) Actos emanados das OI’s de conteúdo normativo, admin e jurisdicional;
4) Actos unilaterais: actos imputáveis a um sujeito único de d.i. – notificações, protestos, renúncia,
promessa;
5) Soft law – direito não vinculativo, não decisivo, de boa fé.

B - O PROBLEMA DA HIERARQUIA DAS FONTES

1.1 – O PROBLEMA DAS FONTES COMO QUESTÃO DOUTRINAL

A doutrina aponta quer no sentido da existência de uma hierarquia, quer no sentido da sua inexistência.

 No sentido da inexistência, alguma doutrina sustenta que de acordo com o princípio da igualdade
soberana dos Estados, estes e só estes permanecem senhores do d.i.: não existe d.i. para além do
consentimento dos Estados, pelo que não existe nenhum direito subtraído à sua disposição.
 No sentido da sua existência, defende-se a sua necessidade e existência apoiada em expressões como
const. Mundial, primazia da Carta da ONU, etc.

Fundamentação:

A existência ou não de uma hierarquia deve apoiar-se em fundamentos de legitimidade – direito, justiça,
dignidade da pessoa humana – que a c.i. considera acima do consentimento dos Estados, pelo que devem ser
considerados imperativos, mesmo quando sistematicamente violados.

1.2 – ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA HIERARQUIA

O problema encontra sustento nas normas imperativas de d.i., reconduzíveis à expressão JUS COGENS

De facto, o art.53º da CVT afirma a existência de normas imperativas de d.i. geral, às quais se encontram
subordinadas as convenções int. A Carta da ONU também integra jus cogens, na medida em que o art.103º da CVT
afirma a primazia das obrigações deles resultantes de qualquer outro tratado.

Também se pode considerar jus cogens as normas de d.i. cuja violação constitui um crime internacional –
escravatura, pirataria, genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humanidade.

Assim, constituem objecto do jus cogens:

20
1) As normas imperativas do d.i. geral decorrentes do art.53º CVT, às quais se encontram subrdinadas as
convenções int;
2) Carta da ONU;
3) As normas cuja violação constituem crime int.

Origem: a noção de jus cogens muito ficou a dever à II GM e ao Holocausto, tendo sido imediatamente associada
à Convenção de Genebra de 1948 sobre o Genocídio.

Natureza: as normas jus cogens não admitem qualquer desvio unilateral por parte dos Estados, nem sequer
através de tratados int., as mesmas consistem em obrigações erga omnes, embora nem todas as obrigações erga
omnes possam ser consideradas jus cogens.

São normas inderrogáveis, que exprimem a existência de obrigações perante a c.i. globalmente considerada. Só o
jus cogens é considerado direito imperativo de maior dignidade hierárquico-normativa.

Tipologia: normas reconhecidas e aceites pela comunidade de Estados globalmente considerada como dotadas de
força imperativa, susceptível de alteração apenas por uma outra com a mesma natureza.

Relativamente à protecção dos direitos fundamentais na integração de jus cogens, pode dizer-se que
existem três tipos de teses: maximalistas, intermédias e minimalistas, sendo que a tese acolhida pelo autor
é a de que só os direitos humanos, no seu núcleo essencial, se compreendem como jus cogens (tese
intermédia).

Ainda que se aceite a existência de uma hierarquia, a mesma permanece imperfeira. Porém, isso não impede
que se procurem identificar os diferentes graus dessa hierarquia. Na hierarquia temos assim:

1) Os os princípios do jus cogens, que podem incluir direitos fundamentais e princípios gerais do direito;
2) As normas da Carta da ONU, nos termos do art. 103.º referido;
3) Primazia do direito universal sobre o regional ou local - quer se trate de costume int. ou dir. convencional
(nem sempre);
4) Primazia do direito regional sobre o direito bilateral

Princípio fundamental na formatação de uma hierarquia:

. . . Quanto mais alargada for a base de produção ou reconhecimento de uma norma int.;

. . . e quanto mais fundamental for o interesse protegido por essa norma;

Tanto mais elevado deve ser o seu grau de vinculatividade, a menos que razões substantivas ponderosas
apontem em sentido contrário.

C- O DIREITO INTERNACIONAL E O DIREITO INTERNO

21
QUERELA D.I. E DIREITO INTERNO: UMA SÓ REALIDADE OU GRANDEZAS AUTÓNOMAS?

A doutrina distingue o Monismo e o Dualismo. A querela pretende esclarecer o status do dir. nacional perante
um tribunal int. e do d.i. perante um tribunal nacional. Em todo o caso, os práticos preocupam-se sobretudo com
a questão da relação entre normas nacionais e int., relegando para segundo plano a justificação teoréctica.

MONISMO:

1) As posições do monismo procuram um ponto metafísico ou um princípio fundamental que possibilite a unificação
do direito interno e do d.i. num só sistema jurídico.
2) O monismo tem sido tentado a partir de duas orientações:
a) A primeira subordinava todo o direito, interno e d.i., a princípios de dir. natural, deduzidos do dir. divino revelado;
e remonta a autores como F. Vitória, F. Suarez, Vattel ou H. Grócio.
b) A segunda orientação, formalista, combinou elementos jusnaturalistas e contratualistas (v.g. pacta sunt servanda)
e depurou-os de todos os elementos metafísicos, ideológicos e políticos, seguindo os parâmetros positivistas, na
senda de H. Kelsen.
3) De um modo geral, o monismo postula a existência de um único sistema jurídico no qual, por definição, não podem
existir normas incompatíveis, sendo estes problemas resolvidos dentro do sistema.
4) Há três variantes diferentes da doutrina monista: (1)a que assenta na superioridade do direito interno (tese
estadualista, voluntarista, positivista) – d.i. enquanto dir. estadual externo, (2)a que assenta na superioridade do d.i.
(tese da justiça e solidariedade social universal), (3)e a tese que assenta numa linha de monismo sem primado em
termos jurídico-conformais – tese de Hans Kelsen, o qual sustenta que o d.i. e o direito interno recebem a sua validade
de uma norma fundamental comum, segundo a qual os pactos são para se cumprir (pacta sunt servanda), e os Estados
se devem comportar como habitualmente.

DUALISMO:

1) Teses que sugerem a existência de uma distinção estrutural entre o direito interno e int. possivelmente
insusceptíveis de superação.
2) As suas premissas fundamentais adequam-se ao modelo de Vestefália dos Estados soberanos e independentes, cada
um com a sua ordem de valores, embora de natureza positivista e estadualista.
3) O dualismo intensifica-se c/o positivismo estadista (Estado e sua vontade como centro de gravidade do d.i.), pelo que
as normas de direito dependem do consentimento dos Estados.
4) Alguma doutrina germânica defende que o dir. interno tem origem na vontade de um Estado, e o d.i. a de vários. Há,
portanto, dois ordenamentos jurídicos distintos, um interno e outro int., sendo que uma norma pode ser lícita num
o.j. onde já não a é no outro. Cada o. j. teria a sua função: o d.i. regularia relações entre Estados (international
concerns) ao passo que o dir. interno apenas questões envolvendo o Estado e os respectivos cidadãos (domestic
affairs) – estes postulados estadualistas e positivistas conduzem à primazia do dir. interno sobre o d.i.
5) Contudo, alguma doutrina dualista sustenta a superioridade do d.i. relativamente às normas estaduais, ao menos
diante dos tribunais int., por aí tendo-se caminhado para a defesa da superioridade do d.i. relativamente às normas
de todos os outros sujeitos de d.i.
6) O apogeu do dualismo correspondeu ao auge do nacionalismo imperialista das potências europeias.
7) As doutrinas dualistas parecem considerar os Estados como únicos sujeitos de d.i.

AVALIAÇÃO DOUTRINAL MONISMO/DUALISMO:

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1) Não existe propriamente uma visão jurídica correcta da questão, muito dependendo das visões conceptuais de cada
autor e da realidade das soluções do direito positivo de cada Estado.
2) Subjacente à nossa compreensão do d.i. encontram-se premissas normativas de natureza monista, que conduzem a que,
enquanto aquela pretensão não se encontrar totalmente realizada, se dê primazia ao dir. interno ou ao d.i., consoante
aquele que num det. momento estiver mais proximo dos valores liberais modernos e kantianos.
3) A doutrina actual acolhe tendencialmente o monismo, assente na primazia dos valores comuns dos direitos
fundamentais, democracia, subordinação ao direito etc. Assim, os Estados que se afastarem destes princípios não podem
legitimamente reclamar uma igual dignidade perante d.i.
4) Actualmente, o d.i. regula os mais variados aspectos internos dos Estados, tendência relevada pelo processo de
globalização. Isto confere um forte vigor às teorias monistas, por um lado, e favorece àreas do d.i. em que a preocupação
c/os dir. humanos não conseguia prevalecer (v.g. políticas monetárias e do comércio int.; recurso à força)
5) A nossa CRP aponta para uma leitura monista das relações entre direito internacional e direito interno (em sintonia com
a Carta da ONU e DUDH), tal como muitas outras constituições.
6) Contudo, e porque ainda há muitos exemplos de normas de d.i. incompatíveis com direito interno, ainda é cedo falar-se
num só ordenamento jurídico (monismo à escala mundial), pelo que não deve ser esquecida a tese dualista e a sua
realidade na actualidade

A JURISPRUDÊNCIA INT. E O PRIMADO DO DIREITO INTERNO

 A prática jurisprudencial int. tem resolvido problemas de colisão entre normas de d.i. e direito interno
 Sem recurso a qualquer tipo de tese doutrinal dualista ou monista, a jurisprudência procura resolver os litígios
afirmando que um Estado não pode alegar normas do seu direito interno, ou a falta deles para justificar o
incumprimento das normas int. (art.27.ºCVT)
 A primazia do d.i. sobre o direito interno prossegue a sua afirmação na jurisprudência do TPJI garantindo a
sustentabilidade do d.i.
 Dois pontos fundamentais:
 Estas instâncias jurisdicionais int. autocompreendem-se como garantes da observância do d.i., assim se
compreendendo que desconsiderem o direito interno.
 No entanto, não há, tendencialmente, preferência hierarquico-jurídica na aplicação do d.i., pelo que não se
pretende a verificação da validade das normas de direito interno à luz do d.i. Na prática, ou se adopta preferência pelo
direito int. (ressalvando as normas const. essenciais de dir. interno), ou pelo dir. interno.

O PROBLEMA DO D.I E DIREITO INTERNO NO DIREITO CONSITUCIONAL COMPARADO

 Cada Estado resolve o prob. da vinculação int. de acordo c/as suas próprias normas constitucionais
 Não há posições doutrinais absolutas, havendo atitudes cautelosas e não dogmáticas
 Há uma tendencial afirmação do primado do d.i., independentemente das teorias monistas ou dualistas
 A inovação do direito interno não deve prejudicar a c.i. e a cooperação entre Estados.
 Mais do que um problema hierarquico, devem delimitar-se as áreas de competência entre os ordenamentos jurídicos
interno e int.
 A prática aponta p/um primado do d.i, embora o juíz int. não anule a norma de dir. interno contrária ao d.i.

D - O PROBLEMA NA CRP 1976

23
1- PREMISSAS FUNDAMENTAIS

1) o legislador const. deverá adequar as normas const. à protecção e promoção dos interesses e dos objectivos
fundamentais da c.i. no seu todo
2) o legislador ordinário deverá exercer a função legislativa de forma a que não comprometa os compromissos
assumidos int.
3) o direito nacional deve prever a existência de mecanismos de revisão de actos estaduais contrarios ao d.i.
4) o d.i. não pode por em causa dimensões essenciais do EDD e dos dir. fundamentais

O PROB. DAS RELAÇÕES ENTRE D.I. E O DIR. INTERNO DO PONTO DE VISTA DO DIR. CONST. PT. :

PREMISSAS:
1) exigência de regularidade da actuação estadual, nos planos const., político e normativo, e das necessárias
consistência e coerência que devem pautar o comportamento do Estado nos níveis interno e int.
2) Inadmissibilidade da assunção de obrigações internacionais que ponham em causa princípios fundamentais do
direito interno

Destas premissas resulta a obrigação de conformação do dir. interno de acordo com as obrigações assumidas no
plano int., desde que as mesmas não colidam com dimensões essencais dos dir. fundamentais e da
estadualidade de dir. democrático

2 - RECEPÇÃO DO D.I. PELO DIREITO INTERNO

Os ordenamentos internos adoptam técnicas de recepção de d.i. no direito interno, decidindo constitucionalmente
a sua validade, e não em virturde da própria força normativa das normas de d.i. – dependência da aplicação do d.i.na
ordem interna de uma decisão estadual, seja do poder constituinte, seja do político-legislativo.

REMISSÃO - lei interna usa conceito de d.i. ou vice


versa

COMPLEMENTAÇÃO – quando uma conv. int. requerer


TÉCNICAS DE normas de d. interno
ARTICULAÇÃO
DEPENDÊNCIA - existência de norma de dir. interno
dependente de norma de d.i. permissiva

TRANSIÇÃO - normas de d.i. são incorporadas no texto


de acto de dir. interno

A. Sistemas de transformação ou de ordem de execução – norma de d.i. só


vigora depois de reproduzida numa fonte interna expressamente autorizada
– interposição das autoridades nacionais:
24

Incorporação por via da Recepção automática plena – Sistema de


incorporação de normas de d.i. em que estas vigoram na ordem interna
TÉCNICAS
DE
RECEPÇÃO

3 - AMIZADE PARA COM O D.I – ARTS. 7.º E 16.º CRP

1. estabelece os princípios que devem posicionar Portugal no plano das rel. int.
ART 7.º 2. manifesta a sua extroversão e amizade jurídico-internacional- afirmando a continuidade material
entre o d.i. (na sua config. actual) e o dir. interno (em termos monistas, do ponto de vista dos
CRP valores e princípios)
3. reconhece uma tendência no sentido da primazia de d.i rel. ao d. interno

1. Representa uma abertura harmoniosa do dir. interno relativamente ao d.i. – o que contribui para
ART 16.º diminuir a possibilidade de conflito de normas.
2. Observa as const. nacionais apenas como constituições parciais, num contexto normativo
CRP jusinternacional mais alargado

4 - A RECEPÇÃO DO D.I. NO DIR. INTERNO (A,B e C)

1. A Constituição funciona como regra de reconhecimento das normas que vigoram no ord. jur. nacional
2. O art. 8.º CRP é uma ponte entre o d.i. e o direito interno – concepção monista das rel. int.
3. O art. 8.º determina o grau de aplicabilidade do d.i. pelos tribunais portugueses
4. Há uma tendência para o alargamento das funções dos tribunais nacionais em matéria int., verificada pela
recepção automática plena do d.i. pelo dir. interno (art. 8.ºCRP)

25
A - DIREITO INT. GERAL OU COMUM – O ART. 8/1.º CRP

1) No art. 8.º/1 CRP dispõe-se que as normas e os princípios. do d.i geral ou comum fazem parte integrante do
direito português.
2) Deste modo estabelece-se a recepção automática plena do d.i. constituido pelos princípios gerais do direito e
pelo costume universal, bem como das normas convencionais dotadas de relevo constitucional ou quase const.
3) O art. 8.º/1 remete para os tribunais nacionais a função de determinação do conteúdo e do alcance das
normas contantes das fontes em presença
4) As normas convencionais de d.i. de qualidade const. ou quase const também fazem parte do d.i. geral ou
comum

B - CONVENÇÕES INTERNACIONAIS – ART. 8.º/2 CRP

1) O art. 8.º/2 CRP - que dispõe que as normas contantes de conv. int. regularmente ratificadas ou aprovadas
vigoram na ordem interna após a sua publicação oficial e enquanto vincularem internacionalmente o Estado
português - é uma cláusula de recepção automática plena das conv. int. , no direito interno, em termos
claramente monistas (sem prejuízo das convenções não imediatamente aplicáveis carecerem das necessárias
mediações legislativas ou regulamentares)
2) Em sede de aplicação das conv. int. distingue-se entre:

efeito directo - desnecessidade de mediação legislativa e regulamentar

aplicabilidade directa – invocação pelos particulares diante dos poderes públicos

3) O art. 8/2 CRP refere-se não apenas às convenções bilaterais, mas também às convenções multilaterais que,
pelo seu conteúdo, não possam ser reconduzidas à categoria do d.i. geral ou comum, de relevo quase const.
(as conv. que puderem ser consideradas d.i. geral ou comum são recebidas no dir. interno pelo art. 8.º/1 CRP),
bem como ao direito convencional particular.
4) A ratificação, aprovação e publicações referidas no art. 8.º/2 CRP não devem ser consideradas como actos
de transformação de d.i. em direito interno - na medida em que estes manifestam o processo de vinculação
normal internacional do Estado português – devendo antes ser vistas como momentos de treaty making
process
5) A publicação em DR é obrigatória (119/1/b) CRP), processo decorrente do princípio geral da segurança jurídica
e protecção da confiança dos cidadãos (subprincípio ED) – pressuposto da eficácia da convenção no dir. interno
6) Pode um tratado entrar em vigor antes do consentimento de um Estado, temporariamente – art. 25.º CVT
7) Não havendo ainda publicação no DR, a conv. não é oponível a particulares, no âmbito do dir. interno
8) O art. 8.º/2 é inspirado pela concepção da CVT que determina a celebração de tratados e acordos mediante
forma escrita.
9) No entanto, no caso de tratados celebrados com OI’s e sobretudo perante tratados de forma simplificada ou
celebrados oralmente admitidos em d.i., a regra geral de recepção automática plena fica comprometida

C – DIREITO COMUNITÁRIO

1) A questão do direito comunitário é abordada pelo art. 7.º/6 CRP


26
2) O art. 7.º/6 CRP coloca duas questões fundamentais:
i. Incorporação do dir. comunitário no dir. interno: art. 8.º/2CRP, quanto aos tratados institutivos das
comunidades, integrando o dir. comunitário originário, e o art. 8.º/3CRP quanto ao dir. comunitário
Primazia funcionalmente adequada: A subsistência, integridade, e funcionalidade do d.c. exige a sua
primazia sobre o dir. nacional, em nome dos vários princípios de garantia da integridade comunitária

Primazia condicionada: Os Estados membros, entendidos como Estados soberanos dotados de


personalidade jur. int., pretendem a salvaguarda de dimensões essenciais dos dir. humanos e do EDD
constitucionalmente consagrado, bem como da manutenção das suas Constituições nacionais.

Afirmação dinâmica e equilibrada da noção de primazia

ART. funcionalmente adequada e condicionada do d.c., nos termos do

8.º/4 qual o d.c. originário tende a prevalecer sobre o dir. interno, sem

CRP prejuízo da salvaguarda do núcleo essencial dos Estados Membros

5 - O DIREITO INTERNACIONAL NA HIERARQUIA DAS FONTES


27
 O art. 8.º CRP não oferece uma resposta clara quanto ao problema da hierarquia das fontes, nomeadamente na
classificação do d.i., no seu todo ou em parte, relativamente ao seu valor hierárquico
 O modelo piramidal hierarquico-normativo de H. Kelsen (já) não serve para captar a articulação das diferentes
fontes de d.i. e direito interno
 Diferentemente, recorre-se hoje à ideia de uma rede de normas constitucionais, comunitárias e internacionais,
com os necessários protocolos de interconexão, relegando para segundo plano a definição da validade em termos
puramente hierárquico-normativos

5.1 - DIREITO SUPRACONSTITUCIONAL OU MATERIALMENTE CONSTITUCIONAL

Noção/ Objecto - normas de d.i. de natureza convencional, consuetudinária e constantes de princípios jurídicos com valor
superior à própria constituição e limitadores do próprio poder constitucional originário e derivado

Tipologia – normas de jus cogens universais e normas internacionais sobre direitos humanos

1) O jus cogens reconduz-se ao conceito de supranacionalidade autogenerativa, limitativo da soberania dos EM


2) O d.i. comum ou geral, muito dele constituido por normas de jus cogens, deve ser visto, à primeira vista, como direito
supraconstitucional, por força da sua natureza e conteúdo, em apoio do art. 8.º/1 e 16.º/2 CRP
3) Alguns princípios gerais de d.i. prevalecem sobre a CRP, em abstracto
4) Enquanto essas normas não tocarem em dimensões substanciais do Estado português, a primazia do d.i. geral ou comum
e do direito convencional multilateral verificar-se-á enquanto pressuposto para com o funcionamento da c.i
5) A afirmação desta primazia do d.i. geral ou comum não passa pela invalidação da constituição, quer no âmbito do d.i.
como no de direito interno mas sim, respectivamente, pela sua inoponibilidade e inaplicabilidade prática no caso concreto.

5.2 - AS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS COMO DIREITO INFRA-CONSTITUCIONAL

Está em causa um conflito de normas fundamentais, num sentido hieráriquico-normativo ou kelsiano, entre o d.i e direito
interno, que só pode ser resolvido entre os Estados com um esforço de cooperação, harmonização e concordância prática,
ou procurando uma outra solução não jurídica.

1) O art. 3.º CRP contém uma clausula de supermacia, que afirma a força normativa da CRP sobre os demais actos normativos.
2) Por seu lado, o art. 277.º/1 CRP afirma a inconst. das normas que infrinjam os preceitos const., incluindo as próprias
conv. int., entendendo-se assim que estam se encontram subordinadas à CRP
3) Assim, afigura-se lógica a possibilidade de fiscalização das normas de convenção int., preventiva e sucessiva
4) A vinculação int. do Estado pt. tem que se subordinar às disposições materiais e formais da CRP
5) A subordinação do d.i. convencional multilateral e bilateral à CRP encontra-se reafirmada pelos processos de fiscalização
preventiva, sucessiva, concreta e abstracta das normas de d.i.
6) A natureza das normas infra-const. pode vir a revelar-se, numa segunda análise, materialmente const., invertendo a regra
geral da primazia da const. relativamente às conv. int.
7) A primazia da CRP não é absoluta: as situações de inconst. formal ou orgânica são consideradas como simples
irregularidades, desde que a norma de tratado int. não viole uma disposição fundamental (art 27.ºCVTart. 46.º CVT)
8) No caso de um Estado violar uma norma constitucional fundamental através de uma conv. int:

ou. . . foi violado um princípio de jus cogens (universal ou regional)


 e o problema tem solução no d.i., com primazia deste princípio

28
ou. . . a conv. int. deve ver recusada a sua aplicação no direito interno
 e a solução deve ser a renegociação (se o outro Estado concordar) ou deve haver responsabilidade int.,
quando verificados os pressupostos(o que nem sempre é o caso)

5.3 - AS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS COMO DIREITO SUPRA-LEGAL

Trata-se de compreender o lugar ocupado pelas conv. int. no o.j. interno infra-const.

 A CRP afirma a sua superioridade como norma superior do o.j., a par dos actos legislativos e decretos regulamentares,
relativamente às conv. int., quando torna obrigatório recurso para o TC, por parte do MP, sempre que as mesmas vejam
recusadas a sua aplicação com fundamento na sua inconstitucionalidade
 Os actos legislativos, por si só, são inaptos para suspender ou revogar uma conv. int
 Quando a aplicação de uma norma nacional seja recusada com fundamento de inconst. relativamente às conv. int., o MP
é obrigado a recorrer para o TC
 Independentemente da qualificação do vício de violação de uma norma de conv. int., o TC tem competência para
conhecer este tipo de recursos, cabendo ao TC a última palavra sobre a supremacia (ou não) do direiro convencional
sobre a lei ou da aplicação (ou não) da mesma norma no ordenamento jurídico - art. 70.º/1/i LTC
 A CRP aponta para a supermacia das conv. int. relativamente à lei interna, anterior e posterior. Assim o tem entendido
o TC.
 Ou seja, uma lei não pode violar uma conv. int., savo se a mesma lei afirmar princípos fundamentais cont. consagrados,
de jus cogens ou de d.i. geral ou comum, e violados pela conv. int.

IV. SUJEITOS DO DIREITO INTERNACIONAL

I. CONSIDERAÇÕES GERAIS

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A definição de um sujeito com personalidade jurídica int. tem sido construída com base nas noções de titular de
direitos e destinatário de obrigações jurídico-int.

Em geral, as principais expressões da personalidade int. consistem:

1) No dir. de estabelecer relações diplomáticas


2) No dir. de celebrar conv. int.
3) Ser destinatário directo de normas de d.i. e na legitimidade processual int.

Inicialmente, e com base nestes elementos, os Estados eram sujeitos únicos no d.i., passando depois a doutrina a
qualificá-los como sujeitos originários ou primários de d.i., reconduzindo todos os outros sujeitos emergentes à
categoria de sujeitos derivados ou secundários. Esta ortientação, segundo o autor, deve ser reconhecida apenas
com utilidade meramente tendencial.

Entretanto, face à consideração do indivíduo como unidade primária e sujeito por excelência do d.i., as
consequências normativas da orientação tradicional não devem ser realçadas.

Nas últimas décadas tem-se assistido a um aumento exponencial do número de Estados e de outros sujeitos int.,
de natureza intergovernamental, supranacional, não governamental, bem como sujeitos especiais de d.i.

II. O ESTADO

Apesar da superação do modelo de Vestefália, o Estado continua a ser fundamental no actual paradigma do d.i.,
apesar do mesmo surgir cada vez mais compreendido por referência ao d.i., em termos que remetem para o
positivismo jur.

A doutrina do direito público tradicional caracteriza o Estado a partir da Teoria dos três elementos, a saber, o povo,
o território e o governo soberano. Nessa linha, a doutrina qualifica o Estado como pessoa jurídica, com o estatuto
de:

1. corporação territorial
2. suporte institucional de um o.j. (H. Kelsen)
3. detentor do monopólio da coerção legítima

Soberania interna – Apoia-se na titularidade do monopólio da coerção legítima dentro de um território delimitado
e consiste no poder do Estado de disciplinar juridicamente as actividades realizadas dentro do seu território. Este
poder resulta de várias competências territoriais e pessoais do Estado. A soberania estadual exerce igualmente a
competência das competências, entendida como a competência em matéria de definição dos órgãos de soberania
e das regras de reconhecimento das normas do o.j.

Soberania externa – É a expressão da unidade e permanência do Estado na ordem int. Abrange:

1. o direito de exclusão de interferências de outros Estados no território nacional – Pr. não ingerência
2. os poderes participar na formação do d.i., defender os seus interesses int., e defender os interesses da
comunidade internacional (c.i.)

O conceito de Estado surge hoje fortemente relativizado:

1) Os modernos Estados livres, democráticos e de separação de poderes apresentam-se hoje como não unitários:
o conceito tradicional de soberania falhou em agregar as preferências individuais dos cidadãos – teoria da

30
escolha social; o princípio da separação horizontal (funcional, institucional e pessoal) e vertical (pura ou mista,
federal, regional, autárquica, etc.) contribuíram igualmente para a desagregação do Estado
2) O desenvolvimento da sociedade civíl, profundamente heterogénea, criou uma realidade estadual
transfronteiriça, esbatendo o seu poder neste domínio.
3) O desenvolvimento da c.i., a par do jus cogens e do d.i. universal, oponível aos Estados mesmo sem os seus
consentimentos, acompanhado da emergência de novos sujeitos de d.i., dão origem ao surgimento de uma tripla
constituição, de natureza nacional, supranacional, e internacional – ideia de inter-constitucionalidade
4) A despeito da relativização do conceito de Estado, ele continua a ocupar um lugar central no d.i.

2.1 – ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO ESTADO – POVO, TERRITÓRIO, SOBERANIA

2.1.1 – POVO

Representa o substracto pessoal do Estado. Sem povo ñ há Estado, embora o contrário possa ser afirmado.

Noção – Colectividade humana ligada entre si pelo vínculo jurídico da nacionalidade, perspectivada numa óptica
de continuidade intergeracional. O conceito que mais se coaduna com a realidade Estadual reveste uma natureza
jurídico-política.

Importância para o d.i. – Do ponto de vista do d.i., a categoria povo assume o maior relevo, na medida em que se
refere aos titulares e destinatários do exercício da soberania. Apesar do pouco relevo que assumiu no paradigma
clássico de d.i., centrado na fig. dos Estados, actualmente detecta-se uma maior preocupação com o elemento
pessoal do Estado, ou seja, o povo, as minorias e os indivíduos.

Nacionalidade – É o vínculo jurídico que une a pessoa e o Estado. A atribuição do vínculo jur. da nacionalidade é
vista como uma forma de exercício da soberania de um Estado (reserva de soberania estadual)

1) A nacionalidade de um indivíduo obtem-se via da aquisição originária (por combinação de critérios, que variam
consoante o Estado, de jus soli [local de nascimento] e jus sanguinis [ascendência]) ou por aquisição derivada
(naturalização, adopção, matrinónio, etc.).
2) Admite-se igualmente a perda de nacionalidade, por denúncia e substituição.
3) Entre nós, o art. 4.º CRP remete a definição da cidadania para a lei e o d..i.
4) A nacionalidade acompanha o indivíduo mesmo quando se encontra ou reside no estrangeiro (art. 14.ºCRP).
5) Apesar do vínculo da nacionalidade ser tendencialmente exclusivo, admite-se a possibilidade de dupla
nacionalidade em certos Estados.
6) Igualmente possível é a situação de apátrida, correspondente à inexistência de qualquer vínculo de nacionalidade.

Nacionalidade e d.i.
Apesar da reserva de soberania Estadual, a atribuição do vínculo da nacionalidade não é alheia ao d.i., o qual pretende
assegurar a todos uma nacionalidade e um estatuto de não discriminação c/ base na nacionalidade. Existem dois aspectos
essenciais na relação entre o dir. interno e o d.i.:

1. A nacionalidade é um dir. humano fundamental face ao d.i.: referências da DUDH, do PIDCP, e da CEN
(Convenção Europeia sobre a Nacionalidade)
2.1.2
2. O d.i. – TERRITÓRIO
exige a conexão efectiva como condição do reconhecimento do vínculo da nacionalidade no plano int.

31
Noção – Marco físico em que opera o o.j. de um Estado, constituindo o objecto da plenitude e da exclusividade da
soberania. Funciona como pressusposto material do exercício válido, efectivo e exclusivo da soberania. É a
condição da independência e autonomia política e ec. do Estado.

Elementos constitutivos– Superfície terreste (em sentido amplo), mar territorial, espaço aéreo. A fronteira é o seu
limite exterior, sendo que o seu conceito é o que permite claramente separar o Estado moderno das demais
unidades políticas da antiguidade e da época medieval.

SUPERFÍCIE TERRESTRE

Nela se incluem solo, subsolo, e àguas interiores. Só excepcionalmente terá relevância no d.i. (v.g. delimitação de
fronteiras), embora o desenvolvimento do d.i. do ambiente e humanitário sugerir uma inversão nessa tendência.
No plano interno, tem interesse do ponto de vista da delimitação do domínio público (art. 84.º/1 CRP)

MAR TERRITORIAL

A delimitação do mar territorial é feita unilateralmente pelos Estados. Entre nós, a CRP dispõe que a lei define a
extensão e o limite das àguas territoriais, a ZEE (zona económica exclusiva) e os direitos de Portugal aos fundos
marínhos contíguos. No entanto, o d.i. regula a respectiva validade em face de outros Estados, pelo que, na prática,
os Estados devem sujeitar-se nesta matéria ao d.i. O critério do limite do mar territorial geralmente válido é o das
doze milhas marítimas (art. 3.º ss CDM).

Direito de passagem inofensiva – representa uma restrição na soberania dos Estados estabelecida na Convenção
de Montego Bay, a qual consiste no dever internacional de garantia, sem qualquer restrição ou encargos, do
direito de passagem inofensiva, ou pacífica, de navios mercantes, devendo estes notificar a existência de
qualquer perigo para o Estado costeiro. Com efeito, os arts. 17.º ss da CDM regulam a passagem inofensiva pelo
mar territorial, sendo regra geral que os navios de quaquer Estado, costeiro ou sem litoral, gozarão do direito de
passagem inofensiva pelo mar territorial.

ALARGAMENTO DA JURISDIÇÃO ESTADUAL – ZEE, ZC, PC

Embora situadas fora do marco territorial a que se estende o exercício da soberania estadual, a Zona Contígua,
Zona Económica Exclusiva (ZEE), e a Plataforma Continental traduzem-se num alargamento limitado da jurisdição
estadual. Está em causa o cumprimento dos objectivos dos Estados em matéria de segurança e preservação e
exploração dos recursos, sem comprometer o pr. da liberdade de navegação em alto mar.

Zona Contígua – art. 33.º CDM. A ZC deve ser expressa/ reclamada, e pretende prevenir violações às leis e
regulamentos aplicáveis no território estadual globalmente considerado ou no mar territorial.

Plataforma Continental – A mesma inclui o leito do mar e o subsolo marítimo. Interessa ao d.i. sobretudo pelo
seu valor ec. de aproveitamento de recursos naturais, sobretudo minerais. Actualmente, o regime da PC encontra-
se consagrado nos arts. 76.º ss da CDM. Não está excluído o alargamento da PC em viritude do aumento do nível
do mar resultante do aquecimento global.

32
Zona Económica Exclusiva – Espaço sui generis orientado para os recursos naturais. Trata-se de uma zona opcional,
que deve ser expressamente reclamada. É um dos elementos mais significativos do moderno dir. do mar, tendo
sido considerada costume int. antes da entrada em vigor da CDM. Estendendo-se a 200 milhas marítimas desde o
limite do mar territorial, a ZEE caracteriza-se por atribuir ao Estado costeiro um direito exclusivo de
aproveitamento económico. O seu regime jur. está previsto nos arts. 55.º ss da CDM

ESPAÇO AÉREO

A soberania estadual estende-se ao espaço aéreo vertical e horizontal. O espaço aéreo do Estado encontra-se
plenamente abrangido pela sua soberania, correspondente ao seu ar, de acordo com a teoria da aderência
indissolúvel. No domínio do d.i., deve assinalar-se:

1) a proliferação de conv. multilaterias e bilaterais


2) o relevo que aqui cabe para o dir. interno - embora subordinado ao d.i.
3) a existência de uma regra consuetudinária geral que estabelece a necessidade de autorização expressa,
no caso de aviões civis, para o sobrevoo, escalas e embarques ou desembarques de passageiros,
mercadorias e correio
4) a inexistência de um dir. de passagem inofensiva no espaço aéreo nacional, análogo ao que se verifica no
mar territorial
5) a possibilidade de constituição de zonas de segurança, vedadas ao tráfego aéreo

2.1.3 – Aquisição e perda do título jurídico sobre o território

Podemos distinguir entre aquisição de facto e aquisição de direito e entre aquisição originária e derivada de título.

Aquisição de facto – Pode dar-se por ocupação. Entendida como extensão da soberania a uma terra nullius. É também
uma forma de aquisição originária de título. Figura caracterizada pela vontade de agir como soberano (animus
occupandi). Figura semelhante à posse do dir. interno, sem implicar a detenção física. Exemplos: acessão natural,
aluvião, avulsão, anexação, conquista. O d.i. não reconhece hoje qualquer relevo às aquisições de facto via ocupação,
anexação ou conquista.

Aquisição de direito – abrange as fig. da cessão (mediante uma conv. int.), a convenção de compra e venda, a novação
(transformação de ius in territorio alieno num dir. de soberania), e a usucapião. No caso da cessão, da compra e venda
e da usucapião está-se perante formas de aquisição derivada de título.

A perda do título sobre um território pode verificar-se por descolonização, secessão, renúncia e abandono.

2.1.3 – A SOBERANIA

Noção – O seu conceito jurídico-político, desde sempre controverso e difícil de precisar, é caraceterizado normalmente
pelas notas típicas de estadualidade, publicidade, independência, autodeterminação, autonormação, centralização,
hierarquia, jurisdição, indulto, e autoridade coerciva, monetária, tributária, penal e militar. Ligada ao princípio da
efectividade do poder, compreende a titularidade da competência das competências. Manifesta-se pelo exercício das
suas competências próprias (competências territoriais, extraterritoriais, pessoais e relacionais).

33
Soberania Moderna - Geralmente concebido em termos absolutos, a soberania tem sido objecto de crítica de
reconceptualização, superando-se o conceito de soberania tradicional, que caracterizou o modelo de Vestefália.
Diferentemente, afasta-se hoje o entendimento de que os Estados são pessoas morais e realça-se o facto de que são
apenas recursos institucionais ao serviço dos cidadãos

Potencialmente ilimitada no plano interno, a soberania estadual encontra-se, na realidade, subordinada ao d.i. e aos
valores transnacionais de respeito pela dignidade da pessoa humana e pelos seus dir. básicos. Entende-se hoje que o
Estado não pode dispor livremente dos seus próprios cidadãos, devendo este proteger e promover os dir. fundamentais
e o bem estar ec. e social daqueles – Estado ao serviço do indivíduo

Portanto, devemos hoje considerar uma concepção de soberania como responsabilidade, apontando para a
consideração do EDD como valor tranasnacional, apontando para a primazia de uma soberania popular, e não estadual,
de maior valor no d.i. Assim, o pleno reconhecimento jurídico-int. da soberania estadual deve passar pela sua colocação
ao serviço dos valores da democracia, di EDD e dos dir. humanos

Atributos fundamentais:

1) Internamente, consiste na ausência de qualquer dependência orgânica relativa/ a qualquer outra entidade dentro do
respectivo marco territorial – estutura de autoridade terrotorial plena e efectiva – Soberania Interna
2) Externamente, traduz-ne na capacidade de estabelecer relações com outros Estados em condições de igualdade e
simetría de reconhecimento – Soberania Externa
3) Possui a capacidade de estruturar normativamente a vida dentro das suas fronteiras, sem interferência de terceiros
Estados – Princípio da não ingerência

Competência das Competências: expressão por excelência do exercício do dir. de auto-organização. Este dir. exerce-se
através do poder constituinte. Caracterizado pelos princípios da autonomia do exercício das competências, da plenitude das
competências e da exclusividade das competências (em termos tendenciais)

Direito de jurisdição: Uma das marcas da soberania consiste no exercício de poderes de jurisdição: jurisdição prescritiva ou
normativa – poder estadual de disciplinar juridicamente det. matéria – compulsória ou admin.– poder de exigir o
cumprimento de normas por meios admin. e policiais - e adjudicativa ou jurisdicional – poder de levar det. sujeito a tribunal
pela prática de uma infracção. Há cinco princípios que reconhecem os dir. de jurisdição a nível int.: o pr. da terrirorialidade,
o pr. da nacionalidade, o pr. protectivo, o pr. da universalidade e o pr. da personalidade passiva.

Estatuto int. dos Estados – direitos e deveres dos Estados na ordem jur. int.:

Igual dignidade soberana (i.é. independência) – igualdade nas relações entre Estados, princípio da não ingerência (não
interferir nos assuntos de outros Estados), igual dignidade nas rel. int.

Imunidade de jurisdição – imunidade de jurisdição aos Estados e à sua propriedade (par in parem non habet iurisdictionem),
a qual compreende: imunidade processual (um Estado não pode ser submetido à jurisdição interna de outro sem o seu
consentimento) imunidade absoluta, imunidade relativa (impossibilidade de invocar imunidade em determinados casos ,
sempre que os elementos de conexão relevantes se encontrem no território do Estado do foro, v.g. transacções comerciais,
contratos de trabalho. Considerada hoje como dir. consuetudinário int.), imunidade de execução (liberdade de recusar a

34
execução de sentenças proferidas por outros Estados), e outras formas de imunidade especiais, como a imunidade dos Chefes
de Estado e outros titulares de cargos oficiais, no exercício das suas funções. A tendência actual vai no sentido de reduzir a
imunidade dos Estados e não de a ampliar, o que limita a extensão da imunidade a entidades privadas.

2.2 – O REGIME JURÍDICO-INTERNACIONAL DOS ESTADOS

2.2.1 – O surgimento dos Estados

Modos de surgimento: Descolonização (v.g. África, Ásia), processos de secessão (v.g. Croácia, Eslovénia) e de
desmembramento de Estados (v.g. URSS e emergência de Estados como a Russia, Ucrânia, Georgia etc.)

Reconhecimento pelos demais sujeitos: R. dos Estados e R. dos Governos

Reconhecimento dos Estados: O reconhecimento consiste num acto unilateral dos Estados que produz efeitos jur.
na ordem int. O reconhecimento pode ser expresso ou tácito, embora sem sempre as aparências possam ser
consideradas suficientemente concludentes. Quanto valor jurídico do reconhecimento, há duas teses a ter em
consideração: a tese do valor meramente declarativo e a tese do valor constitutivo. A tese da natureza meramente
declarativa do reconhecimento entra em rota de colisão com novas tendências do d.i. Hoje, o reconhecimento dos
Estados e dos Governos deve ser indissociável da estadualidade de dir. democrático e do respeito pelos dir.
fundamentais. Se assim não for, deve adquirir um estatuto de indigência política ou de pária na c.i. (apesar desta
posição não corresponder ainda à prática int.)

Tese do valor meramente declarativo: O reconhecimento limita-se a verificar a existência de um sujeito jur. portador
das respectivas características definitórias. Ele não cria uma nova realidade, apenas certifica a sua pré-existência. Um
Estado existe mesmo que não seja reconhecido pelos demais. É visto como um acto discricionário dos Estados

Tese do valor constitutivo: Segundo esta orientação doutrinal, o reconhecimento determina a existência de um
sujeito jurídico, ou seja, a existência de um Estado depende do seu reconhecimento como tal pelos outros, pelo que se
entende existir um dever jurídico de reconhecer um Estado logo que se verifiquem os pressupostos constitutivos.

Reconhecimento dos Governos: Está em causa o reconhecimento não apenas de um novo governo, mas de todo um
conjunto de órgãos de soberania e seus titulares. Desde o paradigma clássico, que pôs termo às prerrogativas papais
em matéria de reconhecimento de Estados e Governos, que as principais propostas de resolução assentam na
afirmação da tese da legitimidade (defesa da legitimidade dinástica ou democrática) e na tese da efectividade (exercício
efectivo de autoridade e capacidade, ainda que rudimentar, de assunção dos dts. e cumprimentos das obrigações int.).
Numa altura em que se pretende promover, a nível int., valores como o EDD tendo em vista a defesa dos dts. humanos,
a tese da efectividade do reconhecimento apresenta-se desfavorável à democratização int. Finalmente, alguma
doutrina observa uma tendência para o d.i. contemporâneo avaliar por critérios int. os governos e a sua governação.

III. ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

Noção: Associação voluntária de Estados e/ou org. int., ou criação por uma org. int., geralmente criada através de
uma conv. int.

35
Causas de surgimento:

1) Incapacidade dos Estados de lidarem com problemas com que as comunidades humanas se confrontam,
dentro e fora das suas fronteiras, exigindo regulação int.
2) Especialização da cooperação int. de acordo com uma lógica funcional – favorecido pelo desenvolvimento
ec., científica, tecnológica e cultural – na qual os Estados se revelam incapazes de realização de forma
isolada

É nesta conjuntura que surgem, pela necessidade incontornável de se institucionalizar, de forma permanente,
tanto em termos genéricos como especializados, a cooperação int., as OI’s, visando assegurar a governação global,
em domínios tão diversos como os dir. humanos, a gestão dos espaços int., a actividade ec. int., etc

Génese histórica: Começaram a afirmar-se no início do séc. XIX, mas foi no séc. XX, com relevo para o período entre
guerras, e sobretudo para o pós Segunda GM, que se assistiu a uma verdadeira proliferação das OI’s, de alcance
universal e regional, genérico ou específico, o que constitui um dos fenómenos mais significativos do d.i.

Formação: Constituem-se geralmente mediante uma conv. int., a qual passa a ser a constituição da OI, o seu dir.
originário, estabelecendo as suas finalidades, atribuições, competências, organização, composição, procedimentos e
fontes de direito derivado.

Importância para o d.i.:

i. Têm um papel fulcral na reconceptualização do d.i., introduzindo nele novos e relevantes sujeitos de natureza
não estadual
ii. A proliferação das OI’s tem importantes implicações para o d.i., com mais de 1000 OI’s intergovernamentais
actualmente, especializadas nos mais variados probs int., com importantes implicações no ponto de vista da
descentralização da autoridade e da difusão pluralística do poder.
iii. Contribuem decisivamente para o alargamento, intensificação e especialização da cooperação int., na
consequente pacificação das rel. entre Estados e no desenvolvimento e codificação do d.i. nos mais variados
domínios políticos, ec., sociais, culturais, tecnológicos etc., facilitando a respectiva interpretação e aplicação
iv. Contribuem para a edificação de uma “res pública” int., por via da identificação de bens e interesses da c.i.,
oponíveis aos Estados, e da dinamização do diálogo e da deliberação internacional, numa perspectiva de
“autogoverno mundial”
v. Asseguram uma consistência normativa e decisória nos domínios político e jurídico internacionais,
favorecendo a igualdade dos Estados (sendo estes actores principais a despeito do crescimento global de
OI’s)
vi. O dir. das OI’s serve para indicar a existência de normas de dir. consuetudinário int.
vii. Desempenham um papel importante na preparação de conv. multilaterais

Relação com os Estados:

i. Expressão da soberania estadual e da treaty making capacity – criação Estadual


ii. Contribuem diplomaticamente para melhorar as relações entre Estados

36
iii. São dotadas de personalidade jur. int. sem que isso signifique, contudo, que as mesmas gozem dos mesmos dir.
e deveres que os Estados – distintas dos Estados, coexistindo numa relação horizontal de paridade
iv. Deram um incontornável contributo para a reconfiguração, alteração quantitativa e limitação quantitativa das
prerrogativas da soberania estadual tradicional. Na verdade, as OI’s estão cada vez mais envolvidas directamente
na governação global, e os Estados deixaram de ser os “senhores dos tratados”, como tradicionalmente
acontecia, relegando-os para um plano secundário, reduzidos a um direito de “opting out”, nos âmbito dos
processos de aprovação e ratificação
v. Dupla função: forum para os Estados, e actores jurídico-int. distintos destes com capacidade, nalguns casos, de
criar, interpretar e aplicar d.i.
vi. São, em muitos casos, independentes da vontade dos Estados membros individualmente considerados.

Características:

1) Dispõem de personalidade jurídica int., ou seja, são sujeitos de dir. e deveres int – pressuposto de capacidade
jurídica internacional. Assim, as OI’s que possuam pers. jur. dispõem da capacidade de celebrar conv. int., de
estabelecimento de rel. int., de reclamação int. e de exercício de protecção diplomática. Algumas doutrinas
consideram que só os Estados se consideram suj. originários de d.i., já que muitas vezes dependem da sua vontade
expressa para a sua formação.
2) Não dispõem de território nem de população, embora disponham de uma sede e funcionários, tendo como
elementos constitutivos os seus próprios órgãos resultantes do tratado fundador
3) Subordinadas ao d.i., fundamento da sua personalidade jur.
4) Criação autónoma relativamente aos Estados membros, pelo que formam e manifestam (em muitos casos) uma
vontade própria enquanto espaços de deliberação e decisão autónomos, e deram origem a uma ordem jurídica
própria, com órgãos e procedimentos de normação, direcção, execução e jurisdição
5) Dotadas de elevada capacidade funcional e orgânica de reorientação e restruturação face às mudanças na realidade
do d.i.

Classificação:

Quanto ao objecto: finalidades gerais (ONU), finalidades especiais ou sectoriais (sujeitas ao princípio da especialidade),
de natureza política, ec. (FMI, OMC), militar (NATO), cultural (UNESCO), social (OIT, FAO, OMS), técnica (UIT), profissional,
desportiva (COI, UEFA, FIFA, etc.)

Quanto à estrutura jurídica: intergovernamentais (ONU), não governamentais (Cruz vermelha) e supra-nacionais (UE,
Mercosul, União Africana)

Quanto ao âmbito territorial: universais, regionais, locais

Imunidades, privilégios e sedes:

Gozam de imunidades e privilégios funcionais, ou seja, adequados à realização das atrbuições que lhes foram adstritas.
Assim, as imunidades e os privilégios das OI’s estão sujeitas a um princípio de especialidade, resultando normalmente
dos tratados instituidores.

Existe geralmente um regime específico sobre imunidades e privilégios em face do Estado da sede da OI, sendo que
frequentemente vale um pr. geral de imunição de jurisdição, à semelhança das rel. entre Estados. No entanto, os
estatutos de muitas OI’s não concedem imunidade ou não a concedem totalmente.

37
Do ponto de vista do d.i., quando exista imunidade, esta deve limitar-se ao estritamente necessário para o livre
exercício das funções da OI.

Em relação à sede das OI’s, é essencial a existência de um acordo de sede, para que o Estado da sede compatibilize
juridicamente os seus dir. de soberania com as necessidades funcionais da OI (instalações, livre circulação de pessoal,
representantes e membros, grau de aplicação da OI no dir. interno do Estado da sede etc.). Esse acordo deve ser
negociado, interpretado e aplicado de boa fé pelas partes, e deve prever normativamente o seu incumprimento.

3.1 – ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS

Importância: ONU é qualitativamente distinta da generalidade das OI’s. Uma boa parte da doutrina adscreve uma
natureza constitucional à Carta das Nações Unidas. Este importante instrumento normativo int. tem regulado a c.i.
durante várias décadas, estando os seus princípios na base do desenvolvimento do d.i. nos mais diversos domínios (d.i.
dos dir. humanos, dir. do ambiente e dir. dos espaços int.)

Competências: Esta OI tem um papel diferente de fazer aplicar o regime jurídico de um tratado específico. As suas
competências abrangem um conjunto muito vasto de questões, desde ec., sociais, culturais até aos probs. políticos mais
complexos, relacionados com a paz e a guerra.

Em todo o caso, a ONU não pode ser considerada como um governo mundial, não tendo ocorrido qualquer
transferência de soberania dos Estados.

Constituição: Criada por um t.i. celebrado em 1945 em S. Francisco (EUA), entre representantes de 51 países, em subs.
da antiga SDN, colocada como pedra de esquina da org. da c.i., à qual foi conferida uma personalidade jur. adequada à
realização das suas funções. Como instrumentos normativos fundadores devem referir-se a Carta das NU e o ETIJ.

Previlégios e imunidades: Extraterritorialidade da Sede das NU em N. Iorque, bem como o estabelecimento de


imunidades de agentes, funcionários e peritos da ONU. A existência de previlégios e imunidades conduz à resp. int. do
Estado que incorrer na respectiva violação. Existência de um mecanismo de protecção funcional, em boa medida
equivalente da protecção diplomática.

Objectivos: Promoção da paz e segurança int., das rel. amistosas entre Estados, da cooperação e desenvolvimento int.,
protecção dos dir. do Homem e desenvolvimento e codificação do d.i., constituição de um ponto de encontro da c.i.
(espécie de praça pública onde se discutem e se formulam directrizes para a resolução de probs int.), seja pela via da
celebração de conv. multilaterais normativas, seja pelo estabelecimento de OI’s subsidiárias de governação global, seja
pela formulação e articulação de princípios e directrizes de política pública à escala global – art. 1.º CNU

Princípios: Igualdade soberana dos Estados, boa fé nas rel. int., resolução pacífica dos conflitos e não ingerência. Estes
princípios constituem hoje pr. de d.i. geral ou comum, dotados de força erga omnes.

Organização interna: A ONU é constituida pela Assembleia Geral (art. 9.º ss da C. da ONU), o Conselho de Segurança –
órgão de constituição permanente, contituído por 15 membros, 10 não permanentes e 5 permanentes – (art. 23.º ss da
C. da ONU), Secretariado (art. 97.º ss da C. da ONU) e Conselho Económico e Social (art. 55.º ss da C. da ONU)

Duplo Veto – no Conselho de Segurança, um membro permanente opõe-se a que uma questão seja
considerada meramente processual (1º veto); depois, quando o Conselho entra a discutir a questão, opõe-
IV. SUJEITOS ESPECIAIS
se a que sejam tomadasDE DIREITO
quaisquer INTERNACIONAL
providências, ou uma determinada resolução (2º veto).

A subjectividade jurídico-internacional ocorre sempre que um det. sujeito, pessoal ou institucional, é destinatário
de direitos e deveres int. A medida em que isso ocorre varia de sujeito para sujeito, pelo que para além dos Estados
38
e as OI’s, existem igualmente outros sujeitos que gozam de personalidade jurídica int., embora pela doutrina
considerados especiais, sui generis. Também aqui é visível a superação do Modelo de Vestefália, o alargamento
da c.i. e a emergência de uma soc. civil global.

ONG’s

A elas se deve creditar a introdução da preocupação pelos dir. humanos na Carta da ONU. Esta reconhece
expressamente a existência das ONG’s, cujo número excede as 30.000 actualmente. As ONG’s têm contribuido
muito para alterar a natureza e o conteúdo da c.i. e do respectivo ord. jur. e é preponderantemente graças a elas
que hoje falamos em sociedade civil global.

Têm origem no dir. interno, mas caracterizam-se pelo seu alcance int. da sua actividade e pela ausência de escopo
lucrativo. Quando se fala em ONG’pensa-se sobretudo em org. ambientais ou humanitárias como a Federação Int.
da Cruz Vermelha, a Amnistia Int., a Green Peace etc. Do mesmo modo, a expressão ONG surge associada a
organizações de natureza confessional, humanitária, sindical, que se destacam pelo seu activismo em favor dos
dir. humanos, dir. das mulheres e crianças, de trabalhadores e consumidores, da paz, do desarmamento, protecção
do ambiente, etc. No entanto, as mesmas podem desenvolver actividades importantes nos domínios profissional,
técnico, científico, académico, desportivo, etc.

O estatuto jur. int. das ONG’s afirma-se pela sua actividade na org. de conferências int., promoção de iniciativas
normativas de alcance geral, apresentação de propostas de convenção e participação na sua negociação,
integração nas delegações governamentais a conferências int., bem como a sua acreditação, como observadores,
em numerosas OI’s. A doutrina chama a atenção para o facto de que o papel das ONG’s deve ser considerado
quando se trata de indagar a existência e conteúdo de normas consuetudinárias int.

O papel das ONG’s constitui uma realidade incontornável. É frequente encontrar ONG’s na origem de importantes
desenvolvimentos jurídico-int. Em 1986 foi assinada uma convenção sobre o reconhecimento de personalidade
jur. às ONG’s. Mas estas destacam-se igualmente pela monitorização dos regimes políticos, da actividade dos
Estados e da conduta das empresas transnacionais, no controlo do cumprimento de conv. int., dando um
contributo decisivo para a eficácia do d.i. Igualmente importante é o papel que têm desempenhado nos processos
de democratização, na prevenção e resolução pacífica de conflitos.

Porém, as ONG’s são muito dif. entre si, prosseguindo ideais, objectivos e interesses radicalmente diferentes e até
antagónicos. Da mesma forma, não deixam de ser apontados alguns probs. relativos à sua legitimidade,
transparência, conexões int. e ao seu contributo para a diluição da responsabilidade dos Estados e das OI’s. Em
todo o caso, tudo aponta para a necessidade de existência de um enquadramento normativo para as ONG’s,
definindo os respectivos requisitos, direitos e deveres.

POVOS

Há algumas décadas que o d.i. tem reconhecido o estatuto de sujeito de d.i. aos povos, para efeitos de
efectivação do respectivo dir. de autodeterminação. Na verdade, o modelo de Vestefália assenta na afirmação
do dir. de autodeterminação dos povos. Como casos de referência podem-se apontar o reconhecimento do Estado
de Israel (1948), os casos de territórios sujeitos a ocupação militar por potências estrangeiras, e os povos sujeitos
a dominação colonial.

A delicadeza da questão reside no facto de muitas vezes os conflitos em torno da autodeterminação dos povos
resultarem em instabilidade política e violência massiva.

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MOVIMENTOS DE LIBERTAÇÃO E BELIGERANTES

A alguns movimentos de libertação e beligerantes tem sido reconhecido o estatuto de sujeito de d.i., com relevo
para o ponto de vista da sua subordinação ao jus in bellum, da sua capacidade para celebrar conv. int., da sua
subordinação automática a algumas conv. int., e da sua admissão em OI’s, incluindo as próprias Nações Unidas.
Isto tem sucedido, nomeadamente, em situações de guerra civil, de rebeliãoarmada, em de mandato int., de luta
anticolonialista pela independência, de luta contra um Estado ocupante ou de luta pela autodeterminação de um
povo. Neste domínio torna-se particularmente evidente a falta de nitidez entre a linha que separa o estadual do
não estadual. Um caso paradigmático geralmente apontado pela doutrina é o da Organização de Libertação da
Palestina.

BINÓMIO SANTA SÉ/CIDADE DO VATICANO

O problema prende-se com a resposta que tem sido dada à natureza jurídica deste tão controvertido binómio. O
problema tem um relevo especial a propósito da celebração de concordatas entre o Estado e a Santa Sé,
especialmente quando as mesmas pretendem assegurar um estatuto privilegiado para a Igreja Católica no seio
desses Estados, violando princípios constitucionais e internacionais de garantia de uma igual liberdade religiosa a
todos os cidadãos e confissões religiosas. Fundamentalmente, as concordatas celebradas pelos Estados e o
binómio Santa Sé/Cidade do Vaticano, devem obedecer a princípios como o EDD, respeito pela igual liberdade
religiosa de todos os cidadãos e confissões religiosas e da separação das confissões religiosas do Estado,
procurando um equilibrio entre a sua subjectividade int. (materialmente análoga à das ONG’s de natureza
confessional), e a protecção dos dir. de igual liberdade dos indivíduos, das ONG’s e das confissões religiosas, no
d.i. e no dir. interno.

EMPRESAS TRANSNACIONAIS

São uma realidade que surgiu do desenvolvimento das antigas companhias reais para o comércio ultramarino, evoluiu
ao longo do sé. XIX e floresceu no séc. XX pós II Guerra Mundial. Desde então têm contribuido para a estruturação dos
mercados a nível global. São unidades caracterizadas pelas notas do poder ec. e financeiro, unidade de acção
económica, controlo efectivo, carácter pluri-nacional das suas actividades e das suas actividades de partilha de
tecnologias, “know how” e recursos.

Em muitos casos, elas dão contributos para o desenvolvimento de Estados pobres e descapitalizados, na medida em
que introduzem capital, criam postos de trabalho, transferem tecnologias, formam quadros e trabalhadores locais,
estimulam a criação de novas empresas, dinamizam o mercado e têm um efeito multiplicador na economia.

Todavia, é preocupante o facto de algumas destas empresas se apresentarem ligadas a práticas sistemáticas e graves
de violação de dir. humanos jurídico-int. protegidos. Tudo indica que no futuro a tendência irá no sentido do
alargamento da personalidade jurídica das transnacionais, de forma a que as mesmas sejam consideradas destinatárias
de obrigações no plano int. e da vinculação imediata das emp. int. pelos dir. humanos int. estabelecidos, com a
consequente responsabilização civil, e eventualmente criminal, das empresas transnacionais pelas violações dos dir.
humanos em que estejam envolvidas, tendo como base um fundamento retributivo e dissuasório.

V. DIREITO DOS TRATADOS

I. CONSIDERAÇÕES GERAIS

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A celebração de tr. desde sempre constituiu o instrumento por excelência de estabelecimento de laços de paz,
amizade e cooperação entre povos e Estados. Os tratados escritos constituem a fonte de dir. int. menos
controversa e problemática.

1) Particulamente visíveis, no procedimento de vinculação int. dos Estados, são as refrações const. dos princípios
democrático, de EDD, e da separação de poderes. O peso da democracia partidária e do pluralismo da sociedade
civil também influenciaram a celebração de tratados.
2) Nalguns casos a ratificação identifica-se com a aprovação parlamentar. Aliás, a decadência do processo de
ratificação de que se fala hoje refere-se, em muitos casos, ao declínio da intervenção parlamentar. Na verdade,
e tendo em conta a normalidade, frequência e intensidade das relações int., verifica-se actualmente uma
tendência para prescindir da aprovação parlamentar e recorrer a formas simplificadas de aprovação das
convenções int. (assinatura, troca de notas).
3) No entanto, constitui reserva de constituição, devidamente acautelada pelo Estado, o establecimento de regras
que disciplinam a sua vinculação int., as quais reflectem as exigências institucionais do respectivo sistema de gov.
4) Presentemente, os Estados encontram-se intimamente relacionados com a actividades das OI’s. Nos nossos dias,
quase todos os tratados importantes, nos âmbitos regional e universal, são elaborados e aprovados no seio de
OI’s.

II. A VINCULAÇÃO INTERNACIONAL DO ESTADO PORTUGUES NA CRP

As conv. int. constituem o mais importante instrumento de criação de direito internacional. Elas constituem
igualmente verdadeiras fontes de direito interno, regulando matérias até há pouco consideradas do foro
doméstico, materialmente reservadas à soberania do Estado e aos seus orgãos - se bem que haja também
condicionamento de vinculação int. pela parte dos Estados. Compreende-se que assim seja já que o d.i. se
sobrepõe cada vez mais ao direito interno, obrigando os Estados a salvaguardar a plenitude da sua participação
autónoma no processo de vinculação int.

A formação de conv. int. encontra-se regulada. no d.i., pela CVT. A mesma reflete, em boa medida, o direito
consuetudinário. Desta forma, muitas das suas disposições vinculam mesmo os Estados que não a subscrevam ou
ratificam. O d.i. não exclui mesmo a existência de conv. int. não escritas (fora do âmbito de aplicação da CVT),
validando assim outras formas de vinculação int.

2.1- A EXPRESSÃO DO CONSENTIMENTO NACIONAL

A nossa constituição confere aos orgãos de soberania que definem o nosso sistema de gov., o PR, a AR e o Gov.,
um papel de maior importância no exercício do treaty making power, desta forma revelando a importância
democrática no processo de integração do d.i. no direito interno, como um assunto que diz respeito a todos os
cidadãos.

Como ponto de partida deve afirmar-se a sujeição do respectivo procedimento aos mais diversos princípos const.
estruturantes – dir. fundamentais, democracia, EDD, separação de poderes, unidade do Estado, construção
europeia e cooperação int., só para mencionar os mais imp.

Ainda, a CRP utiliza como expressão geral conv. int. como genus generalissimum para denotar os tratados solenes
e os chamados acordos em forma simplificada, sendo que esta distinção tem relevo na configuração das
competências dos ditos orgãos de soberania.

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2.1.1 - O GOVERNO

Ao Governo, com relevo especial para o Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE), compete, mediante
deliberação do Conselho de Ministros:

1) Negociar e ajustar conv. int.


2) Aprovar os acordos int. não reservados à AR, bem como os não submetidos à AR – os quais revestem a forma
de decreto (art. 197/2 CRP)
3) Submeter para aprovação da AR acordos sobre matérias relativamente às quais é competente, se nisso vir
oportunidade e conveniência política

Exige-se, porém, uma deliberação do Conselho de Ministros (corresponsabilização de todo o Governo)

2.1.2 - A ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA

O papel da AR deve ser compreendido nesta matéria à luz do princípio da primazia democrático-parlamentar
e da teoria da essencialidade. À AR compete:

1) Aprovar os tratados
2) Embora a CRP não ofereça uma distinção entre acordos e tratados “pronta a servir”, o que é certo é que avança
com uma reserva material para os últimos, onde se incluem os mais variados domínios (art.161º/i) CRP). Nestes
casos é obrigatória a utilização da figura do tratado.
3) Incumbe à AR aprovar acordos sobre matérias de competência reservada, em termos absolutos e relativos
4) Aprovar acordos que lhe tenham sido submetidos pelo Governo

RESERVA MATERIAL DE TRATADO:

 Nela se incluem domínios como a participação em OI’s, amizade, paz, defesa, rectificação de
fronteiras e assuntos militares – onde nestes casos é obrigatória a utilização da figura do tratado
 Não pretende constituir um elenco taxativo - pelo que um tratado pode surgir formalmente
designado como acordo, devendo atender-se, para efeitos de qualificação, à sua substância e
não à sua designação formal.

2.1.3 - O PRESIDENTE DA REPÚBLICA

O PR, na sua qualidade de chefe de Estado:

1) É o responsável pela representação int. do Estado português


2) Nomeia embaixadores e enviados extraordinários, sob proposta do Governo, e acredita os representantes
diplomáticos estrangeiros

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3) Declara a guerra e faz a paz (art. 135.º CRP)
4) Ratifica os t.i’s devidamente aprovados (art. 135.º/b) CRP)
5) Assina as resoluções da AR e os decretos do Governo
6) Pode requerer a fiscalização preventiva da constitucionalidade de tratados ou acordos

Quanto ao poder de assinatura de acordos em concreto, a doutrina entre nós apresenta-se dividida em duas
teses:

A Tese da obrigatoriedade da assinatura, a qual utiliza argumentos de natureza jurídico-int., afirmando a


redução do procedimento de vinculação int. a um só momento tendo em vista a facilitação e flexibilização da
cooperação int., bem como a necessidade de distinção normativa útil entre acordo e tratado, ratificação e
assinatura (qual é o sentido da distinção entre tratados e acordos?)

A Tese da não obrigatoriedade da assinatura, que utiliza o argumento da conformidade funcional, visando
interpretar normas const. de modo a evitar a subversão da ordem de repartição de competências e funções.
A mesma pretende conservar a integridade dos poderes do PR e salvaguardar a posição relativa dos órgãos de
soberania. De acordo com este argumento, se o PR pode recusar a ratificação de tratados, por maioria de
razão poderá recusar a ratificação de acordos. Esta doutrina arranca da premissa de que o PR é um órgão
autonomo, e não autómato (então o PR pode nomear e demitir o Gov. e dissolver a AR mas já não pode recusar
a assinatura de documentos que lhe são apresentados por estes dois órgãos?).

2.1.4 - O TRIBUNAL CONSTITUCIONAL

As convenções internacionais encontram-se orgânica, procedimental, formal e materialmente subordinadas à CRP,


ao menos à primeira vista, cabendo ao TC:

1) Avaliar a posição das conv. int. na hierarquia das normas jurídicas em termos definitivos, na linha da actual
tendência para uma maior participação do poder judicial no treaty making power (art. 3.º/3 CRP)
2) Proceder à fiscalização preventiva de conv. int., a pedido do PR ao TC relativamente a qualquer norma
constante de t.i que lhe tenha sido submetido para ratificação ou de acordo int. cujo decreto de aprovação
lhe tenha sido sumbetido pelo Gov. para assinatura (art 278.º CRP)
3) No caso de declaração de insconst. de norma constante de tratado ou acordo haverá lugar a veto por inconst.,
devolução à AR ou Gov., conforme os casos, e subsequente reabertura das negociações (art. 279.º/1 CRP)

No caso específico dos tratados, que não dos acordos, admite-se que estes possam vir a ser ratificados se a AR os
vier a confirmar por maioria de dois terços dos deputados presentes, desde que superior à maioria absoluta dos
Deputados em efectividade de funçoes – art.º 279.º CRP. Relativamente a acordos, a decisão positiva de inscont.
tem, à primeira vista, um valor definitivo.

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2.1.5 – REGIÕES AUTÓNOMAS

Deve salientar-se, para começar, a inexistência de “treaty making power” por parte das regiões autónomas. Isto
resulta das mesmas serem pessoas colectivas públicas de natureza territorial, dotadas de autonomia político-
admin., num quadro de unidade do Estado.

No entanto, deve assinalar-se o seu direito de participação na negociação de conv. int. no âmbito do dir. do mar
(art. 227.º/1/s da CRP), bem como de tratados que lhes digam respeito. As regiões autónomas dispõem ainda de
uma voz própria no âmbito da participação inter-regional e na construção europeia.

2.1.6 – O REFERENDO E AS CONVENÇÕES INTERNACIONAIS

A vinculação int. é um assunto de todos os cidadãos, na medida em que se trata de uma obrigação assumida em
nome deles. Saliente-se que o referendo pode versar sobre matérias a decidir por conv. int., mas que no entanto
não pode incidir sobre alterações const.

2.1.8 – DESVINCULAÇÃO INTERNACIONAL DO ESTADO PORTUGUÊS

A questão da desvinculação int. do Estado português não se encontra expressamente tratada na CRP. No entanto,
a mesma deve ser resolvida de acordo com a doutrina dos poderes implícitos e com base no princípio da
conformidade funcional, de modo a não por em causa o sistema const. de repartição de competências e funções,
nem permitir a subversão das regras que discplinam a vinculação int. do Estado.

Não há qualquer apoio const. e doutrinal para os termos da qual o poder de desvinculação do Estado é
materialmente executivo, e por isso, da competência do Governo. Assim, deve entender-se que :

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 A desvinculação unilateral de um tratado ou de um acordo aprovado pela AR deve ser determinada por
resolução da AR, salvo se se estiver perante um acordo que o Gov. tenha submetido à AR para aprovação,
caso em que não parece haver objecções a uma denúncia pelo Gov.
 Tratando-se de acordos aprovados pelo Gov., é a este que cabe decidir, por decreto, da desvinculação do
Estado português. As resoluções e os decretos em causa deverão ser assinados pelo PR (art. 134.º/b) CRP)
 Não há lugar à fiscalização preventiva da const. dos decretos ou resoluções, na medida em que não está em
causa a formação de uma norma.
 A desvinculação do Estado português de uma c.i. deve processar-se de acordo com os termos do art. 54.º
da CVT.
 Da desvinculação não resulta necessáriamente uma desaplicação das respectivas normas da ordem jurídica,
na medida em que as mesmas revistam uma natureza supranacional, nomeadamente por serem jus cogens
internacional, por integrarem supraconstitucionalidade autogenerativa limitadora do poder constituinte
originário e derivado ou ainda por integrarem o direito consuetudinário internacional.

2.2 – TRATADOS E ACORDOS

2.2.1 – DISTINÇÃO TENDENCIAL

A CRP não avança com uma distinção claramente definida entre acordos e tratados. Na verdade, dos dados const.
de que dispomos pensamos poder-se concluir que:

Para além da reserva de tratado expressamente prevista no ar. 161.º/i) da CRP, a forma de tratado deve sempre
utilizar-se sempre que se pretenda a vinculação int. do Estado português em matérias consideradas essenciais
para a comunidade globalmente considerada, de acordo com a teoria da essencialidade, relativamente às quais
haja que estabelecer um regime primário.

Por sua vez, a figura do acordo será utilizada, no caso dos acordos da competência do Gov., quando se trate de
regular matérias não essenciais, ainda que de forma primária e inovadora, ou quando se queira proceder à
regulamentação, isto é, à execucção ou complementação de um tratado previamente celebrado. Por sua vez, a
forma de acordo será utilizada pela AR em matérias essenciais, de competência reservada, quando se pretenda
estabelecer uma discipina secundária, não inovadora, de regulamentação dos tratados

2.2.2 – REGIME CONSTITUCIONAL

Não existem, para além da AR e do Gov., outros órgãos dotados de competência em matéria de tratados, paralela
à que existe entre leis e decretos-leis. Com efeito, em termos const., só a AR pode celebrar tratados
internacionais, apesar das tendências actuais a nível int.

No entanto, o sentido da alteração const. parece ser o de permitir a utilização da forma de acordo em matérias
tradicionalmente pactuadas por forma de tratado solene, fortalecendo a tendência no sentido de minimizar a
distinção material entre tratados e acordos, e favorecendo uma apropriação da forma de acordo pelo executivo
sempre que entender conveniente.

Neste âmbito deve salientar-se o facto tratados e acordos, sejam eles da AR ou do Governo, ambos se encontrarem
sujeitos a fiscalização preventiva a pedido do PR - art. 278.º/1 CRP

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III. O DIREITO INTERNACIONAL DOS TRATADOS

O direito internacional disciplina o procedimento de formação das conv. int., genericamente chamadas de
tratados, na Convenção de Viena do Direito dos Tratados (CVT), de 1969.

3.1 – NEGOCIAÇÃO E AJUSTE DOS TRATADOS

O momento inicial do procedimento de celebração de tratados int. diz respeito à sua negociação. O primeiro passo
prende-se com a representação do Estado, que deve ser concedida de forma expressa, mas também pode ser
tácita (art. 7.º CVT). A negociação encontra-se sujeita a det. pr. gerais de d.i., como o pr. da boa fé, presente em
todas as fases da vida de uma conv. int., desde a sua negociação até à cessação da sua vigência.

Boa Fé – Relacionada com outros pr. jur. int.relevantes, como o da segurança jur. e protecção da confiança,
e o da transparência e lealdade nas rel. entre Estados.

De acordo com a boa fé:

I. os negociadores devem mostrar plena disponibilidade negocial


II. os negociadores estão obrigados pelo princípio non venire contra factum proprium, bem como pelo
dever de não agir de forma a não frustrar o objecto ou fim negocial
III. decorre o o dever de exame das contra-propostas, o dever de fornecer toda a info. eseencial para a
formação de uma vontade esclarecida e o dever de não retardar a assinatura e entrada em vigor

Uma vez terminada a negociação, procede-se à elaboração do projecto de tratado, no qual constam o título, o
preâmbulo, o corpo e a parte final. Uma vez terminada a redacção do tratado, o mesmo deverá ser previamente
autenticado. Através da autentificação, prende-se a certificação solene de que o texto é correcto, autêntico e
definitivo (acto com valor não jurídico, mas sim, em primeira linha, de relevo simbólico e político-diplomático)

3.2 – ADOPÇÃO E MANIFESTAÇÃO DO CONSENTIMENTO

A adopção dos tratados supõe a convergência bilateral de vontades. A mesma pode ser acompanhada da
convergência de formas de obrigação (assinatura/assinatura), ou pode ser feita com divergência de formas de
obrigação (assinatura/ratificação). O regime do consentimento encontra-se previsto nos arts. 9.º ss CVT.

3.3 – AS RESERVAS AOS TRATADOS

Noção: A reserva a uma conv. int. consiste numa declaração unilateral, independentemente do conteúdo ou
forma, feita por um Estado no momento da assinatura, da ratificação, da aceitação, da aprovação ou da adesão,
tendo em vista modificar ou excluir os efeitos jurídicos de determinadas disposições convencionais na sua
aplicação a esse Estado – art. 2.º CVT

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Fundamento: Através das reservas às conv. int., visa-se flexibilizar os mecanismos de cooperação pacífica dos
vários Estados, afastando lógicas do tipo all-or-nothing. Neste sentido, as mesmas contribuem para viabilizar a
cooperação int. e não frustrar os seus objectivos, como à primeira vista poderia parecer. Nalguns casos existe uma
proibição geral de reservas (CDM)

Para ter eficácia, a reserva carece de aprovação e ratificação nos mesmos termos a que se refere (art. 23.º CVT).
A reserva pode ser formulada no momento da assinatura, ou da ratificação (art. 19.º CVT)

Objecto: Em princípio, as reservas incidem sobre os tratados multilaterais, pois só aí verdadeiramente têm sentido.
Relativamente a estes, o princípio por defeito é o da aceitação em bloco podendo prever-se, no entanto, a
aceitação parcial ou o recurso à figura da reserva.

O regime das reservas encontra-se previsto nos arts. 19.º ss da CVT

3.4 – A APLICAÇÃO E CUMPRIMENTO DOS TRATADOS

Aplicação provisória: Normalmente, funda-se em razões de urgência – art. 25.º CVT

Princípio de execução: Os tratados int. devem ser executados de boa fé. Neste domínio, valem os princípios da
não retroactividade do tratado e pacta sunt servanda. Trata-se, em ambos os casos, de pr. gerais de d.i.

Execução e dir. interno: Importa salientar a impossibilidade de serem invocadas normas de dir. interno como
justificação da não execução de um tratado. Assim, um Estado soberano tem sempre as opções de:

1) alterar a respectiva normação interna antes ou depois da celebração da conv. int.


2) abster-se de aprovar normas internas contrárias a uma conv. int.
3) abster-se de celebrar conv. int. que contrariem as suas normas internas, nomeadamente const.

Isto, a menos que tenha sido violado, de forma evidente, um preceito de importância fundamental do seu direito
interno respeitante à conclusão dos tratados (arts. 27.º e 46.º CVT)

3.5 – A VALIDADE DOS TRATADOS

3.5.1 – VALIDADE CONSTITUCIONAL E INTERNACIONAL

As normas const. variam de Estado para Estado, ao passo que o regime jur. int. para as conv. int. tende para a
unificação.

O dir. const. pt. pretende assegurar que a sua vinculação ao d.i. não ocorra à custa das suas dimensões e princípios
essenciais, onde por sua vez o d.i. pretende evitar que uma excessiva preocupação formal com as normas e
procedimentos do dir. interno acabe por inviabilizar, frustrar ou dificultar a cooperação int.

Tanto o dir. interno como o d.i. concedem uma margem razoável para a acomodação das pretensões do outro
ramo do direito em presença. Numa primeira tentativa de evitar conflitos, ambas as jurisdições devem proceder
a uma interpretação harmonizadora do d.i. e do dir. interno.

O juíz, no nosso caso, deve, tanto quanto possível, interpretar o dir. interno em conformidade com o d.i.

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3.5.1.1 – INCONSTITUCIONALIDADE DAS CONVENÇÕES

No caso de desconformidade de uma conv. int. com a CRP, o nosso o.j. responde com a sanção da nulidade. Com
efeito, não se conhece, entre nós, a anulabilidade como sanção para a inconstitucionalidade

Noção

A nulidade é a sanção regra para os vícios resultantes da violação de uma norma const. fundamental substantiva
(v.g. direitos fundamentais) ou organizatória, na medida em que estas normas exprimem o princípio da separação
de poderes e o esquema const. de repartição de competências e funções

Regime jurídico

O respectivo regime consiste na afirmação de insconst. originária, na não produção de efeitos na ordem interna e
na possibilidade de invocação a todo o tempo através dos meios processuais de fiscalização abstrata e concreta
disponíveis para o efeito.

No caso de declaração de inconst. com força obrigatória geral, esta tem uma natureza meramente declarativa e
produz efeitos erga omnes e ex tunc. Nesta hipótese, Portugal considera-se unilateralmente desvinculado da
Convenção, independentemente das consequências que daí possam resultar no plano jurídico-internacional.

No caso de fiscalização concreta da inconstitucionalidade, a invalidade da conv. int. resulta apenas na sua
desaplicação ao caso concreto, continuando o Estado português internacionalmente vinculado.

Ineficácia: É possível ainda falar de ineficácia no direito interno, por falta de publicidade oficial da conv. int. Neste
caso, sem prejuízo da vinculação int. do Estado, a conv, não produz efeitos na ordem jurídica interna.

Sanção da simples irregularidade: Digna de nota é a previsão da sanção da simples irregularidade (277.º/2 da
CRP). Este regime traduz-se na aplicação da conv. int. na ordem jurídica interna, desconsiderando-se a sua
insconstitucionalidade.

Esta hipótese não se aplica aos vícios materias, vícios orgânicos e vícios formais fundamentais

Reconduzem-se a esta categoria os vícios relativos ao procedimento de negociação, ajuste e autentificação,


aprovação, e referenda, com especial relevo para aqueles em que esteja em causa a integridade do sistema de

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governo constitucionalmente estabelecido por referência aos princípios democrático, de Estado de Direito e da
separação e interdependência de poderes, nos planos horizontal e vertical.

3.5.1.2 – O REGIME DA INVALIDADE INTERNACIONAL

3.5.1.2.1 – TIPOS DE VÍCIOS E SUAS ÁREAS DE INCIDÊNCIA

Conjunto standard de operações de controlo destinadas a examinar os elementos de uma conv. int.:

1) Consideração dos elementos orgânicos, procedimentais e formais


2) Análise do conteúdo material, incluindo na análise o fim que a mesma pretende servir

3.5.1.2.1.1 – Vícios orgânicos e formais

Neste âmbito, analisam-se todos os problemas suscitados com os sujeitos que celebram a conv. int. É o caso da
eventual aprovação sem poderes de representação, hipótese que geralmente tem como sanção a ineficácia, salvo
se se verificar a confirmação por parte da autoridade competente (art. 8.º CVT)

Vícios do consentimento - ocorrem quando a vontade dos Estados não se forma de acordo com os parâmetros
normativos int. estabelecidos para a formação e expresão de uma vontade livre e esclarecida – hipóteses de erro,
dolo, coacção ou currupção

Vícios formais em sentido próprio – incluindo os vícios procedimentais e formais em sentido estrito: falta de
autentificação do texto, a falta das nessárias assinaturas, a ocorência de uma ratificação imperfeita ou
inobservância das regras procedimentais ou de votação no âmbito de uma org. ou de uma conferência int.
1
3.7.1.2.1.2 – Vícios materiais

Estes consistem na violação de jus cogens, na violação de obrigações erga omnes e na violação de norma
fundamental de dir. interno

3.5.2.2 – AS SANÇÕES DOS VÍCIOS

As sanções constitucionais são diferentes daquelas impostas pelo d.i: o regime das conv. int. tem uma configuração
dual, de dir. const e int., ao qual correspondem vícios, sanções diferenciados, pelo que a natureza e os efeitos
jurídicos das sanções não coincidem necessáriamente, na medida em que obedecem a pressupostos diferentes.

O texto da CVT não é claro sobre a matéria. Por exemplo, nalguns casos aparentemente reconduzíveis à sanção
de nulidade, a solução do caso concreto pode implicar a simples desaplicação da norma. Acresce que o regime que
corresponde a cada uma dessas figuras – inexistência, nulidade, anulabilidade, ineficácia e irregularidade –
depende consoante as opções normativas internas de cada Estado, que varia consoante o ramo de direito de que
se trate.

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Normalmente os fundamentos da invalidade afectam todo o tratado. Todavia, nalgumas circunstâncias pode
justificar-se a invalidade parcial do mesmo. No caso da corrupção ou do dolo, por exemplo, situação em que
alguma doutrina remete, respectivamente, para a nulidade absoluta e para a nulidade relativa, entende-se que a
parte lesada pode decidir se a invalidação deve ser total ou parcial.

1 Pode dar-se o caso de a ratificação (art. 14º CV) vir a ser feita antes de se dar cumprimento a algumas
formalidades anteriores previstas pela Constituição: estamos, então, perante as chamadas ratificações
3.5.2.2.1 – NULIDADE
imperfeitas, a respeitoABSOLUTA
das quais rege o art. 46º da Convenção de Viena (v.g. PR ratifica antes da AR aprovar)

Noção - A mais grave sanção para os vícios dos t.i’s apresenta algumas notas típicas da nulidade absoluta

Objecto - Uma boa parte da doutrina tende a reservar esta sanção para a corrupção e para a coerção, bem como
a violação de jus cogens.

 A CORRUPÇÃO incide sobre um representante do Estado – exercício de uma influência substâncial e imprópria
sobre aquele na altura da negociação e aprovação de um tratado, tendo em vista a obtenção de um tratamento
favorável.
 A COERÇÃO pode ser dirigida a um representante do Estado ou contra o Estado em si mesmo – no primeiro caso
está-se perante ameaças que versam sobre o representante ou sobre os seus familiares, tendo em vista obter o seu
consentimento em nome do Estado. Na segunda hipótese, está-se perante um tratado concluído com base na
ameaça do uso da força, em violação dos princípios da Carta da ONU, senão mesmo de normas imperativas que
proibem o recurso à força.
Os tratados viciados de nulidade absoluta por coerção (e violação de normas de jus cogens) não podem ser
convalidados pela aquiescência das partes, cabendo ainda um direito de restauração da situação anterior, ou uma
indemnização por danos, para a parte não culpada.
 A nulidade goza de um regime específico no caso de VIOLAÇÃO DE JUS COGENS, dado o seu carácter reforçado e
indisponível. O mesmo consiste na eliminação de todas as consequências produzidas por acto de execução de
tratado contrário ao jus cogens – regime de inexistência – bem como restante disposto no art. 71.º/2 da CVT

3.5.2.2.1 – NULIDADE RELATIVA OU ANULABILIDADE

Noção – Vícios passíveis de convalidação por vontade das partes, expressa ou tácita.

Entende-se que se está perante uma situação de nulidade relativa, ou anulabilidade:

 No caso da VIOLAÇÃO DE NORMA INTERNA DE COMPETÊNCIA, DE RELEVO FUNDAMENTAL, quando o vício


seja objectivamente evidente para qualquer Estado de boa fé. Nesse caso, o Estado cuja norma fundamental foi
violada pode vir requerer a anulação do tratado.
 No caso de ERRO. O erro pode ser unilateral ou bilateral, e não implica automaticamente a invalidade de um
contrato. Para a invocação desta figura é necessário que a mesma incida sobre uma situação existente no momento
da celebração, e que o erro recaia sobre uma base essencial do consentimento e que seja desculpável, isto é,
dificilmente desculpável ou cognoscível. Os erros sobre o teor literal do tratado não afectam a sua validade.

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 No caso de DOLO. O dolo consiste na destruição da confiança entre as partes, através da adopção de uma conduta
fraudulenta de uma parte contratante que recorre a artifícios para induzir a outra em erro – art. 49.º CVT
O dolo manifesta-se numa declaração falsa ou numa representação inexacta da realidade fáctica ou normatica que
serve de base acordo, de forma a causar ma vontade contratual errónea
A ocorrência de dolo não conduz à anulação ipso iure do contrato, mas ela fornece à parte cujo consentimento foi
viciado um fundamento de anulação que a mesma pode utilizar se for essa a sua vontade. Para que haja dolo, este
deve ser caracterizado pela sua essencialidade e excusabilidade, tal como no erro.

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