Confesso.
que comi
Minha jornada rumo a uma
alimentação vegetariana
CONFESSO QUE COMI
Copyright © 2015 by Samira Menezes
Menezes, Samira
Confesso que comi: minha jornada rumo a uma alimentação vegetariana
Samira Menezes -- São Paulo : Editora Europa, 2015.
ISBN: 978-85-7960-279-5
CDD 613.262
Mia Couto
Para todos os animais
Prefácio
E
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nes da minha vida, lembro que me senti sozinho.
Ninguém na minha família era vegetariano, não
tinha amigos vegetarianos para compartilhar meus
questionamentos, não sabia por onde começar nem
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sos rumo a essa nova jornada que acabara de decidir
trilhar. Meu único ponto de apoio era a minha convic-
ção. A decisão de retirar os animais do meu prato era
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minho. Questionamentos da família e dos amigos, pia-
dinhas infames e mitos e mais mitos, colocando em
xeque a minha nova opção alimentar, eram proferidos
como verdade absoluta.
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me virar sozinho. E deu certo. Deu tão certo que de-
pois de três anos, em agosto de 2006, juntamente com
apoio da Editora Europa, lancei a primeira edição da
Revista dos Vegetarianos. E foi nessa época, nas pri-
meiras edições da revista, que tive a sorte de conhecer
a Samira, umas das jornalistas mais apaixonadas pela
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cadas trabalhando com revista.
Desde as primeiras edições, Samira assumiu o pro-
dução de boa parte das reportagens da Revista dos Ve-
getarianos. Hoje, o sucesso da revista se deve muito
à dedicação e ao talento dela. Nestes quase dez anos,
Samira produziu reportagens brilhantes e entrevistou
autoridades máximas nos diversos assuntos ligados a
saúde, nutrição, direitos animais, sociologia, ativismo
e centenas de vegetarianos e veganos que decidiram
abolir a exploração animal de suas vidas. Ou seja, a
bagagem de informação que ela carrega sobre o tema é
extremamente vasta e cheia de detalhes.
Neste livro, Samira conta como foi sua jornada
rumo ao vegetarianismo e revela todas as informações
que ela registrou nos diversos anos frente à Revista dos
Vegetarianos. Com extremo bom senso e muitas infor-
mações e causos da vida, este livro traz todos os “nu-
trientes” de que você precisa para seguir sua jornada
vegetariana carregado de conhecimento.
Agora, ao virar as próximas páginas deste livro, Sa-
mira estende a mão para guiá-lo com toda a sua graça
e carinho rumo a esta incrível e poderosa jornada que é
o vegetarianismo. Com este livro, você não vai se sentir
sozinho, como eu me senti no começo do meu vegeta-
rianismo. Tenho certeza de que as dicas e informações
aqui contidas irão ajudá-lo a dar seus passos no uni-
verso vegetariano com muito mais segurança, motiva-
ção e consciência.
Marco Clivati
Criador da Revista dos Vegetarianos
Sumário
CAPÍTULO 1
Pare de comer carnes .................................................. 10
CAPÍTULO 2
Busque informação ..................................................... 20
CAPÍTULO 3
Aprenda o básico sobre nutrição ............................... 28
CAPÍTULO 4
Eduque o paladar ....................................................... 50
CAPÍTULO 5
Desenvolva a empatia ................................................. 72
CAPÍTULO 6
Pare de comer ovos e laticínios .................................. 88
CAPÍTULO 7
Vá para a cozinha ....................................................... 98
CAPÍTULO 8
,GHQWLoTXHRQGHHVW·DH[SORUD¾¼RDQLPDO .............. 112
CAPÍTULO 9
Seja diplomático ....................................................... 130
CAPÍTULO 10
Livre-se de preconceitos ........................................... 146
CAPÍTULO 11
Não desanime com as recaídas ................................ 154
CAPÍTULO 12
Cultive o amor .......................................................... 170
CAPÍTULO 1
Pare de comer carnes
E
stou feliz por você. Mesmo sem ter certeza do que
encontrará pelo caminho vegetariano, você enca-
rou suas dúvidas e decidiu pegar esta estrada. Pa-
rabéns. No início, é normal que o caminho pareça meio
nebuloso e com trechos difíceis, mas pode ter certeza de
duas coisas: você tomou uma decisão importante e não
está sozinho. Qualquer que tenha sido a sua motivação
para eliminar as carnes do seu prato, é cada vez maior
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pois os fatos são evidentes. Deixar de consumir produ-
tos de origem animal é uma atitude consciente em re-
lação à própria saúde e talvez seja a única alimentação
possível no futuro, porque é impossível produzir carnes,
leite, ovos e pescados sem provocar sofrimento nos ani-
mais e sem destruir a natureza – meio do qual dependem
também o seu bem-estar e a sua vida.
Mesmo com a expansão no número de vegetaria-
nos, este estilo de vida ainda é visto com estranheza por
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alguns setores da moderna sociedade ocidental, como
muitos médicos, alguns jornalistas, diversos nutricionis-
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os adeptos dos legumes como bichos-papões do mal. De
fato, vegetarianos papam bastante e não apenas as sa-
ladas. As receitas e as combinações possíveis entre ver-
duras, cereais, leguminosas, ervas, frutas e castanhas
são tão variadas e com sabores tão mais interessantes
do que um bife de carne ou um peito de frango, que
será inevitável o enriquecimento do seu paladar. É como
se explodisse um mundo de novos sabores dentro da
sua boca.
No meio da estrada vegetariana, porém, tem uma pe-
dra chamada preconceito. A maior delas é colocada por
especialistas de saúde, que são categóricos ao dizer que
carne é fundamental para ter saúde, confundindo a ca-
beça de quem prefere não consumir animais. Se a carne
fosse realmente necessária para o corpo humano, toda a
comunidade médica, sem exceção, se oporia ao vegeta-
rianismo. O que não acontece na prática nem em países
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nomadas nos Estados Unidos e na Europa, por exem-
plo, veem com bons olhos o vegetarianismo praticado
de forma equilibrada. Outra pedra no caminho são jor-
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mento nas vendas da publicação ou nos cliques do site.
Por causa de reportagens carregadas de preconceitos
e de fórmulas médicas contrárias à alimentação sem car-
nes, durante sua caminhada você vai ter que lidar com
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dos, que usam as informações passadas pela galera do
contra para defender com os dentes seus churrascos se-
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para ir à feira, sempre me impressiono com as pessoas
que me perguntam “o que você come então?” depois de
saberem que sou vegetariana. Como se no mundo da
culinária existisse única e exclusivamente a carne como
alimento. Fico imaginando se essa pessoa já foi à feira
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esteja chovendo e eu, impossibilitada por qualquer ou-
tro motivo, jamais recusarei um convite para ir à feira.
Mesmo que seja só para comer um pastel e beber um
caldo de cana com limão.
É só quando você se torna vegetariano que essa
enorme variedade de vegetais entra naquela espécie de
radar gastronômico que avisa “isso tem cara de gostoso,
mas aquilo não”. Até então, é normal achar que a única
coisa nutritiva de verdade é a carne e que, sem ela, o fu-
turo será de anemia, desnutrição, palidez, desânimo e
impotência sexual. Nada disso vai acontecer com você
se o seu vegetarianismo for praticado de maneira equi-
librada e sensata. Para manter esse equilíbrio, algumas
recomendações devem ser seguidas à risca. Não tro-
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com certeza vai engordar e desregular todo seu meta-
bolismo. Coma feijões (leguminosas), porque eles são a
principal fonte de proteína de um vegetariano. Por ou-
tro lado, não coma soja todos os dias – principalmente
aquele produto conhecido como “carne de soja”, que
nada mais é do que proteína vegetal texturizada (PVT),
um subproduto da soja pouco nutritivo e que atrapa-
lha a absorção de cálcio e de ferro. Não passe horas sem
comer, porque os alimentos de origem vegetal são di-
geridos mais rápido do que aqueles de origem animal.
Por isso, é normal que no início do vegetarianismo você
sinta mais fome. Como saco vazio não para em pé, dá
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e que seu corpo não está enfraquecendo. Pelo contrá-
rio, você está mais disposto e, frequentemente, se sente
em paz consigo mesmo, pois sabe que não está con-
tribuindo para um tipo de violência, aquela cometida
contra os animais para que insaciáveis de plantão con-
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não dê ouvidos à indiferença. O sofrimento dos ani-
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ção por que eles passam todos os dias. Dizer que eles
não sofrem ou que não sentem dor é uma das formas
de especismo – termo que designa a discriminação de
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desse tipo de preconceito que os veganos defendem,
porque quando o especismo deixa de existir entra em
cena um sentimento fundamental na construção de um
mundo melhor: a empatia. Quando você é capaz de se
colocar no lugar de um animal não humano com capa-
cidade de sentir, interagir e reagir ao que acontece ao
seu redor, você entende que ele também tem direito a
uma das premissas mais básicas da vida – a liberdade.
FISIOLOGIA VEGETARIANA
Existe certa confusão em relação a quem é quem no
mundo vegetariano. E muito dessa desinformação foi
criado por gente que se declara vegetariana, mas come
peixe. Até onde sei, peixe não nasce em árvore. Por-
tanto, o vegetariano que só come carne branca não é ve-
getariano. Quem come carne (branca, vermelha ou as
duas) é onívoro – palavra derivada do latim que une os
termos “omnis” e “vorus”, ou seja, “aquele que come
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carnívoro, nem mesmo aquele tiozão adorador de chur-
rasco. É impossível que tios como estes consumam ex-
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consomem nada que tenha sido testado em animal,
como cosméticos, e não usam peças e acessórios feitos
com tecidos de origem animal. Ideologicamente, este é
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VRoD GH DPRU DRV DQLPDLV 0DV SHVVRDOPHQWH FRQVL-
dero o veganismo pleno algo difícil de ser atingido na
prática, porque a exploração animal está embutida em
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Muita coisa é testada em bichos e, muitas vezes, é difí-
cil saber com certeza a origem daquilo que se consome.
Por estes e outros motivos, não me considero vegana.
Por exemplo, tomei e tomo medicamentos de empre-
sas farmacêuticas que fazem testes em animais. Quando
precisei suplementar vitamina D, por não tomar sol su-
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de ovelha – para você ter uma ideia da quantidade de
produtos que tem a exploração animal embutida entre
os ingredientes da composição. Outros motivos por que
ainda não me considero vegana: não dou ração sem car-
nes para minha gata, já comi queijo voluntariamente
mesmo depois de ter me tornado vegetariana estrita e
continuo usando meus antigos sapatos de couro. Aliás,
já ganhei artigos de couro, não fui à loja devolver e con-
tinuo usando até hoje. Estou em processo de evolução.