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Ricardo Abramovay DE CAMPONESES A AGRICULTORES Paradigmas do Capitalismo Agrdrio em Questia Tese de doutoramento apresentada ao Departamento ae Ciéncias Sociais do Instituto de Filaso¢ia e Ciéncias Rumanas da Universidace tadual de Campinas e wens Este exemplar corresponde a redacio final da tese aefendida © aprovada pela tomissdo sulgadora em 13/29/90 Orientagora: Profa. Ura, Naria de Nazareth Baudel Wanderley). Campinas, 1998 FENTRAL Para minha mae lt ru intraducse A@estrutura social da agricultura nos paises capitalistas avangades tem sido pouquissimo estudada entre nis, deixande A sombra um fato decisivo: é fundamentaimente sobre a base de unidades familiares de produgdo que se constituiu a imensa prosperidade ~ pletérica mesmo ~ auc marca a producio de alimentos e fibras nas nagées mais desenvolvidas. Esta afirmacio costuma despertar desconfianga © mesmo ceticismo. 4final, num mundo onde a concentracdo econémica impera em praticamente todos os setores, como € possivel que a agricultura forme exce¢So? Ne fFato, quando se fala em produgSo familiar, @ imagem aque vem imediatamente ac espirito ¢ ade um empreendimento de dimensfes reduzidas, trabalhando com técnicas retativamente precdrias ¢ atrasadas. Evidentemente, nfo ¢ disso que se trata aqui. A natures fundamantalmente empresarial dos mais importantes estabelecimentes agricoias nos paises centrais, sua capacidade de inavacko técnica e@ de resposta aos apelos de mercado est#o fora de diivida. G que é paradoxal ~ © tem merecida pouca atengSo ~ @ justamente o cardter #amiliar n&o sé da propriedade, mas da direcfo, da organizagdio € da execugo do trabalho nestas empresas @ portanto as raztes pelas quais @ agricultura capitalista contemporanea dos paises centrais se desenvolveu neste quadro social. Este desconhecimenta no é grave apenas sob o Anguio de uma geografia soraria mundial. Tampouco cle se deve, é clara, a dificuldades no acesso a informacées enpiricas a respeita. Na verdade so razdes de natureza tedrica que explicam o obscurecimento em que foram colocadas, sobretudo entre nés, as particularidades sociais da agricultura no capitalismo avancado: 0 paradiama a partir do qual se estuda o desenvolvinento do capitalismo na agricultura, cuja matriz si0 os trabalhos cldssicus de Lénin (4899/4969) e Kautsky (1899/1970), como veremos no capitulo 1, vew-se mostrando cada vez menos capaz de dar conta de fendmenos contemporaneos decisivos. Por um Jado, a associace entre desenvolvimento capitalista e@ ampiiagdo do trabalho assalariade, t&o cara ao trabalho de Lénin, encontra pouco respaldo empfrico. Por outro fado, a idéia da necessdria interioridade econSmica da agricultura familiar, fundamental no livro de Kautsky, tampouco é confirmada pele que se observa nos paises avangados. No paradigma dos cldssicas marxistas nfo hd lugar sequer para que se coioque a questao, hoje decisiva, das razies pelas quais a agricultura familiar tem sido, nestas nagSes, a principal ferma social do Progresso técnico no campo. iv Um outro obstdcule teérico para a compreensXo da realidade agraria contemporanea no capitalismo central estd nas ambiguidades com que a nog&o de unidade familiar de producio tem sido tratada. Convém insistir neste ponto, pois a assaciag&o entre este tipo de estabelecimento “small farm”, “pequena produgio”, “produc&o de baixa renda’, “agricultura camponesa”, entre outros, ¢ recorrente e impede que se perceba a dupla ¢ fundamental especificidade da agricultura familiar tal como se desenvolveu, sobretudo apés a ila Guerra Mundial, nos paises capitalistas avangados: por um lado, seu dinamismo econdmico, sua capacidade de tnovacdo técnica, suas formas sociais indditas com relagdo ao passado de que algumas veres se origina, mas com o qual mantém lacas cada vez mais ténues. Por outro lado ~ © este & um aspecto um fendmeno tao decisive - a agricultura familiar generatizado nos paises capitalistas avancados que nfo pode ser explicada pela heranga histérica camponesa, de fato, em alguns casos existente: na verdade, o Estado foi dcterminante na moldagem da atual estrutura social do capitalismo agrdrio das nac#es centrais. € claro que esta intervengie sé foi possivel pela exist@ocia de uma estruturs Produtiva pulverizada, diferentemente de que ocorrix em outros setores econdmicos. Mas coube as politicas agricolas garantir esta atomizagio na oferta, imprimir estabilidade aos precos, de mangira a manter a renda do setor num patamar cada vez mais institucionalmente definite e no minimo suficiente para assegurar produgdo abundante. Seria um equiveco, entretanto, imaginar que estas pol/ticas resultam fundamentalmente da pressio e dos interesses dos préprios agricultores. Na verdade, elas foram a condicso para que a aoricultura desempenhasse Ui DAP et fundamental no erdprio desenvolvimento do mundo capitalista: o de permitir que o peso da alimentagio na estrutura de consumo dos assalariados fosse cada vez menor € portanto que os orgamentas domést icos pudessem consagrar-se crescentemente & aquisig#o de bens durdveis, uma das hases da prépria expans&o que conheceu 9 capitalismo entre o final da Segunda Guerra Mundiai e@ © inicio dos anos 4970. No se trata aqui - & importante desde o inicio deixar claro este ponto ao qual voltarenos com frequéacia ~ de qualquer tipo de “funcionalidade estruturai da pequena producéo”, idgia que norteou grande quantidade de trabalhos sobre a aricuitura familiar ma @mérica Latina sobretudo nos anos 4970. Primeiramente pelo fate de n&o ser absolutamente “pequena’ a agricuitura A qual nos referimos. Neste sentido as nogdes, tao caras ao althusserianisme, de articulacdo ae modos de produgio, de recriacSo do veiho pelo nove, do atraso explicada pelo progresso, sio inadequadas. Tanto mais que - este 6 o segundo ponto ~ a agricuitura familiar do capitalismo central ¢ antes de tuso uma criatura do préprio Estado que moldou inteiramente sua feig¢fo atual: interferéncia mas estruturas agrdrias, ma politica de precos, determinagia estrita da renda agricola e até do vi vit protesso de inovagie técnica, a agricultura contemporanea vive o paradoxo de um setor atomizade, onde entretanto o peso do Estado ¢ determinante. Néo que a concorréncia tenha sido abolida: ela opera, entretanto, num quadro de permanente organizag&o publica dos mercados. Uma agriculture familiar, altamente integrada ao mercado, capaz de incerporar os principais avangos téenicos 2 de responder & paliticas governamentais n&o pode ser nem de longe caracterizada como campanesa, Us quatro primeiros capitulos que compéem a arte I deste trabalho procuram langar 05 elementos conceituais que permitem uma diterenca substancial entre este. agricultores aos quais até aoui nos referimos © os camponeses. Apesar da base familiar comum, intransponivel a distancia social entre um suinocuitor da Comunidade EconSmica Kurapéia, cuya renda depende em ultima andlise dos acordos estabelecidos em #ruxelas @ uma familia rural na india cuja reproaueXo social apdia-se em lagos ae dependéncia comunitaria © cuja ligacko com o mercado mistura-se com um ConJunto de relagiies ce pessoa a pessoa. € ivel uma disting&o gogceitual entre estas duas formas pos fundamentais de prosug&o famitiar ? A resposta esta questo na primeira parte do trabalho afirmativa, nas condiciona-se a que se husque ralz da diferenga fundamentalmente no ambiente social, econfmico e cultural nalidade da que caracteriza cada uma delas, @ prépria rac erganizagio familiar So depende - & 9 que se vera ~ da famiiia em si mesma, mas ao contraria, da capacidade que esta tem de se adaptar e montar um comportamente adequado ao meio social ¢ econdmico em que se desenvoive. Embora recorra a exemplos de pesquisa de campo cas quais participet, as conciusies desta primeira parte nfo se baselam num estudo de caso. @ tentativa foi sobretuco examinar como diferentes correntes ¢2 pensamento e vertentes de especializac3o protissional encaram © camponés. # Possivel responder & questio “a que ¢ camponés” ? Us dois primeiros capitulos dio conta do debate existente no inicio do século entre os cldssicos marxistas da questao agraria por um lado e Alexander Chayanov, por outeo, a respeito. Sab o Angulo marxista oO cCamponés sé pode ser detiniso peia tragédia de seu destino social: efe sera tatatmente extinto pela prépria din@mica ca diferenciacdo entee as produtores

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