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NOTÍCIAS DO OCO DO MUNDO – CARTAS PARA UMA ANTROPOLÍTICA

DA EDUCAÇÃO

O itinerário intelectual de formação do poeta andarilho Robson Marques é


tomado nesse trabalho como fruto de pesquisas que eu venho desenvolvendo desde a
graduação em Ciências Sociais (UFRN) e na tese de doutorado em Educação (UFRN).
O poeta é guardião do Vale dos dinossauros no município de Sousa desde a década de
1970, século passado, na região do alto sertão paraibano. Partiu-se de quatro topóis
narrativos para se compreender o modo de pensar do Velho do rio, como gosta de ser
chamado: a cidade de Sousa/PB, o Rio do Peixe, o Sítio Jangada e o Vale dos
dinossauros. Esses lugares compuseram a noosfera desse sábio. O método que auxiliou
na leitura do poeta enquanto um fenômeno multidimensional, foi método complexo,
auxiliado pela matriz epistemológica dos saberes da tradição em Maria da Conceição de
Almeida.

Sob as estratégias diversas de pesquisa tomou-se a escrita desse estudo em


primeira pessoa do singular, situando-a como um princípio complexo, em que o
pesquisador não se isenta do seu texto e se engaja politicamente em uma ecologia das
ideias. Procurou-se estabelecer uma compreensão de complementaridade e de distinção
entre saberes científicos e saberes da tradição, assim como percebeu-se o oco do mundo
como um operador do pensamento para entender uma das dimensões do fenômeno
complexo Robson Marques, um guardião de histórias e simultaneamente um andarilho,
um poeta.

As pegadas dos dinossauros e as histórias narradas por Robson Marques, o Velho


do Rio constituem a base de referência desse trabalho que se desdobra na relação entre
Antropologia – Educação. A vida e as ideias de Robson Marques compõem-se na
multiplicidade de um intelectual da tradição (ALMEIDA, 2017). O intelectual para a
autora não se define somente como um intelectual acadêmico, seu significado abrange
todos os homens e mulheres que se destacam nas sociedades tradicionais, entre os
poetas, cordelistas, artistas, que trabalha com as ideias e se posiciona politicamente
pelas ideias contestando as injustiças sociais e cultivando a arte de pensar por prazer.
Além disso, o intelectual da tradição se assemelha ao bricoleur (LÉVI-STRAUSS,
2012) que tem em mãos materiais diversos que estimulam a criatividade. Robson
Marques narra a história das pegadas dos dinossauros no município de Sousa, do alto
sertão paraibano, narrativa mítica herdada de seu avô Anísio Fausto da Silva – um
tropeiro, um viajante. Seu trabalho é uma combinação de pesquisador, especialista em
linguagem simbólica, narrador de histórias, interlocutor do absoluto e viajante do
tempo.

Para a escrita da pesquisa, tomei como método as cartas, escrevi sete cartas que
tinha como base vida e ideias do poeta, e tinha como horizontes temáticos: a politização
do pensamento e a emergência de um intelectual da tradição; a relação entre
espiritualidade, artes e ciência; e a interface educação e antropolítica como antídotos
contra o utilitarismo das ciências. Escolhi uma das poesias trabalhadas pelo Velho do
Rio, nomeada de “Velha carcaça de boi” para expor um método construído por Robson.
Essa poesia possuía quatro estrofes quando foi escrita na década de 1980, depois, nos
anos 2000, ele acrescenta mais duas estrofes, e assume uma atitude crítica e política
frente aos problemas relacionados a seca que vive o sertão da Paraíba.

Foi folheando o livro “O dom da história – uma fábula sobre o que é suficiente”
da psicanalista junguiana Clarissa Pinkola Estés, que encontrei uma chave de leitura
sobre Robson Marques, essa frase-guia se tornou como um operador do meu
pensamento: “A vida de um guardião de histórias é uma combinação de pesquisador,
curandeiro, especialista em linguagem simbólica, narrador de histórias, inspirador,
interlocutor de Deus e viajante do tempo” (ESTÉS, 1998, p. 10).

Robson é um guardião de histórias de um tempo, e essas histórias são contadas


em estilos narrativos diversos, como a poesia, a crônica, o cordel, a leitura arqueológica
das pegadas dos dinossauros, e o significado dos cantos dos pássaros. Ele é percebido
nesse sentido como um fenômeno multidimensional, complexo, em que a história
tornada narrativa o faz um poeta andarilho, um viajante as terras do oco do mundo,
lugares em que a criação faz morada, em que,

Contar histórias a não importa quem, que as escuta como sendo


histórias, que não te conhece, que não espera literatura. Quão bela
seria a vida como andarilho contador de histórias! Alguém diz uma
palavra e contas a história. Nunca pararás, nem de dia, nem de noite,
ficarás cego, perderás o movimento dos membros. Mas restará a boca
a teu serviço, e contarás o que te passa pela cabeça. Não possuirás
nada, apenas um número interminável e sempre crescente de histórias
(CANETTI, 2018, p. 27).

O poeta é um contador de histórias. Ele mergulha a sua vida na cotidianidade


dinâmica e compartilha experiências, ou melhor no dizer de Water Benjamin, em o
Narrador, é o que intercambia histórias. É aquele que observa o imponderável, o que
passa aos olhos dos que buscam uma verdade pronta, acabada. Esse contador guarda
memórias em sua pele, que de tempos em tempos sofrem metamorfoses, requerendo
atualização para não serem esquecidas, silenciadas.

Os principais autores com quem estabeleci interlocução foram: Maria da


Conceição de Almeida, Edgar Morin, Clarissa Pinkola Estés, Francisco Lucas da Silva,
Teresa Vergani, Norval Baitello Jr., Daniel Munduruku, Walter Benjamin, Nucio Ordine,
Karl Marx, Claude Lévi-Strauss e Michel Serres.

Os caminhos tecidos nesse trabalho de pesquisa compuseram o que denomino de


Oco do mundo, como uma expressão que compreendo como eco do Pensamento do Sul
(MORIN, 2010) enquanto reserva antropológica (ALMEIDA, 2017), um lugar de
gestação da Terra-Pátria. O oco do mundo é o operador do pensamento que permite
compreender o poeta andarilho em sua muldimensionalidade, de ora poeta, e ao mesmo
tempo, guardião, narrador, pesquisador, artista, situado num lugar físico e imaginário,
lugar de criatividades, de sabedorias ancestrais, de artistas insubmissos a ordem
capitalista do lucro pelo lucro, do consumir pelo consumir.

A lição de Robson Marques é a de que a Educação para a vida deve levar em


consideração o ensino da condição humana, apostando no imperativo ético: “ESPERAR
NÃO CANSA, CANSA É NÃO ESPERAR NUNCA”.

Palavras-Chave: Complexidade. Guardião de histórias. Robson Marques. Educação.


Saberes da tradição.

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