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C APÍTULO 2

VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO


DE FILOSOFIA

A partir da concepção do saber fazer, neste capítulo você terá os seguintes


objetivos de aprendizagem:

 Conhecer as variadas formas de ensino dos conteúdos filosóficos.

 Compreender a Educação como ação prática de intervenção social destinada a


fazer ligações concretas como as que levam em consideração a historicidade e a
solidariedade do processo que instaura a humanidade no tempo.

 Identificar a Filosofia como busca e não como saber pronto e acabado.

 Conhecer as formas e critérios de avaliação no ensino da Filosofia.

 Despertar nos estudantes o significado do que é filosofar e o que significa ensinar


Filosofia.

 Aprender formas de aplicar avaliações na disciplina de Filosofia.

 Diferenciar aula de Filosofia de aula filosófica.


Metodologia do Ensino de Filosofia

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Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

CONTEXTUALIZAÇÃO
No primeiro capítulo, relatamos um pouco da história da Filosofia no
Brasil, seus entraves, presença e ausência no currículo, decisões e indecisões
políticas, e a metodologia proposta em todo o período histórico do Ensino
Médio ou Secundário como foi chamado em alguns períodos.

Houve também, a presença do ensino da Filosofia em cursos superiores


de Direito, Medicina, Pedagogia e cursos direcionados ao ensino propriamente
dito de Filosofia, Sociologia e também de Psicologia.

Neste capítulo trataremos um pouco sobre a presença da Filosofia


na estrutura curricular, destacando a sua importância, possibilidades
e métodos de ensino, habilidades e competências. Ainda por meios
históricos, daremos uma maior ênfase a um método que tem sido referência
em educação para o pensar, assim como, será tratado sobre métodos de
avaliação na disciplina de Filosofia desde a Educação Infantil, passando
pelo fundamental, até chegar ao Ensino Médio.

PRESENÇA DA FILOSOFIA NA ESTRUTURA


CURRICULAR
Como vimos no primeiro capítulo, historicamente, o ensino de Filosofia
nunca teve sua presença garantida na estrutura educacional brasileira. Por
consequência, ficou uma lacuna na reflexão, na produção escrita sobre o seu
ensino, na produção de material didático acessível para o seu entendimento e
a sua tradução para a realidade.

Sempre que se discutiu sobre a importância e presença da Filosofia


na educação, estendeu-se como preocupação com o Ensino Médio e a
Universidade, sem contemplar a fase inicial da educação. Por este fato,
houve também, um desencontro entre a teoria e a prática, sendo construída
muitas vezes, uma reflexão filosófica superficial nas universidades sobre
o ensino da Filosofia, preparando poucos profissionais para a discussão
e valorização do ensino e de uma Pedagogia da Filosofia, apresentada
como discussão filosófica.

Posições e decisões de educadores foram necessárias quando se referia


ao o que e como trabalhar a Filosofia em sala de aula. Certas atitudes levaram
ao desinteresse e desestímulo de educandos e educadores. Educadores
expondo seu método de maneira impositiva como se fosse toda a Filosofia ou
ainda pior, como se fosse à única.

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Metodologia do Ensino de Filosofia

A Filosofia, em toda a sua história, mostra-se uma atividade humana que,


na sua essência é educativa. Em essência somos reflexivos, e a atividade
filosófica é natural ao ser humano. Desta forma, o ensino de Filosofia é
condição básica, um fazer pedagógico constante para a formação humana,
situado na história e na sociedade. A essência humana que almejamos passa
pela valorização do sujeito enquanto indivíduo, que possui suas mediações
históricas pela transformação da natureza (trabalho), pela participação social
(grupo comunitário) e pelo desenvolvimento cultural (criatividade), lutando
para que o trabalho não seja degradante, a comunidade não seja opressiva e
a criatividade não seja alienação e massificação.

Formar as novas É por meio de uma educação reflexiva que se pode efetivar uma luta
gerações por meio de assídua contra tais falhas educacionais, entendendo tal ação como prática de
um ensino reflexivo é intervenção social destinada a fazer ligações concretas da nossa vida e auxiliar
inserir os educandos na instauração de forças construtivas e emancipatórias. Estas ligações devem
no mundo do ser as que levam em conta a historicidade e a solidariedade do processo que
trabalho, da cultura, instaura a humanidade no tempo. Formar as novas gerações por meio de um
da participação ensino reflexivo é inserir os educandos no mundo do trabalho, da cultura, da
social através do participação social através do conhecimento, pelo pensar per se (por si mesmo
conhecimento, pelo – emancipação) a partir de uma visão critica, criativa e criteriosa, abandonando
pensar per se.
o formato ingênuo, mecânico e dogmático, até então, dominante na educação.

A abordagem e a postura filosófica proporcionam o processo de produção


do objeto conhecido, processo de construção de conhecimento, não importando
em qual fase escolar o educando encontra-se, o importante é que o educando
perceba o significado de sua existência histórica e de sua presença no mundo.

Faz-se necessário um ensino de Filosofia que não só valorize, mas


que, priorize uma formação filosófica consistente e persistente, um ensino
de Filosofia como postura, atitude de espírito humano diante da existência
histórica, social e cultural, ensino que esteja presente em todos os segmentos
escolares para o desenvolvimento de indivíduos emancipados.

É pela reflexão e pelo conhecimento que o homem pode sonhar e chegar


aos caminhos de sua libertação, estando apto para a intervenção de sua
história e realidade, com o objetivo de garantir respeito e dignidade. Por este
e outros motivos que o conhecimento deve ser competente, criativo, crítico
e criterioso, demonstrando-se um conhecimento alinhavado dentro de uma
reflexão filosófica.

O filósofo almejado dentro do universo educacional, é lançado para uma


dimensão política e pedagógica. O individuo que ao emancipar-se, utiliza o
conhecimento, poderá alcançar uma visão epistêmica e ética da realidade,
pois a reflexão histórica estará ligada ao mundo do indivíduo coletivo, histórico

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Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

e social. Portanto, a Filosofia é considerada paideia, a que forma o indivíduo


para a coletividade humana.

Epistêmica vem de epistemologia que significa estudo crítico dos métodos


empregados nas ciências.

O filósofo deve assumir o papel do educador da cidade. Buscar por um


ensino filosófico é buscar uma coletividade humana, pensando o porquê da
existência. Esta abertura, além de capacitar o indivíduo a desenvolver uma
determinada habilidade; sensibiliza-o para um estilo de reflexão, ampliando-a
e efetivando-a; despertando um modo de pensar, uma maneira de ser e fazer
a subjetividade de cada um.

Desde a colonização, com a chegada dos jesuítas no Brasil, a atividade


filosófica foi marcada por sua atuação singular e de alguns outros pensadores.
Para não divergir de Portugal, as primeiras Faculdades de Filosofia, junto ao
colégio da Bahia (1583) e ao colégio do Rio de Janeiro (1649), adotavam um
currículo tradicionalista medieval.

Nos colégios jesuítas havia os cursos secundários de Letras Humanas e o


de Filosofia (denominado Curso de Artes), a língua oficial do ensino era o latim,
os subsídios eram dos filósofos gregos e romanos que mais se aproximavam da
doutrina da Igreja. Havia também, os escritos dos moralistas Cícero, Quintino e
Sêneca. Os cursos tinham duração de três anos e eram abordados os estudos de
lógica, metafísica, moral, matemática, ciências físicas e naturais. Pelo currículo, no
primeiro ano, Aristóteles e São Tomás de Aquino eram os conteúdos estudados,
nos outros dois, ciências físicas e ciências naturais. O objetivo da Filosofia nesse
período era o de formar homens letrados, eruditos e, acima de tudo católicos.

Aprender Filosofia na escola foi por muito tempo artigo de luxo, privilégio
de alguns senhores ricos e ilustrados ou de alguns filhos de colonos brancos, Aprender Filosofia na
cujos pais chegaram aqui degredados e, aos poucos, tornaram-se classe escola foi por muito
dominante na Colônia. Esta classe reproduzia os hábitos aristocráticos da tempo artigo de luxo,
Europa. O ensino filosófico a eles proporcionado era estritamente livresco, privilégio de alguns
já pronto. Saber reproduzir as ideias da moda era sinal de “intelectualidade senhores ricos e
filosófica”. O saber era erudição livresca, e a Filosofia, um discurso teológico ilustrados ou de
centrado na escolástica aristotélica ensinada pelo pensamento jesuítico. alguns filhos de
colonos brancos.
Houve um clima de renovação humanística e universalista no pensamento
pedagógico durante o processo de emancipação política do Brasil. No ensino
da Filosofia, os conteúdos foram influenciados pelas ideias iluministas da
época, houve uma libertação do ensino e da cultura da “autoridade” e do
aristotelismo medieval. Sua organização seguiu os moldes de aulas régias,
com disciplinas avulsas e isoladas.

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Metodologia do Ensino de Filosofia

No Brasil, houve dezoito reformas e em cada uma delas tivemos uma grade
curricular nova. Foi omitido o ensino da Filosofia da grade curricular em cinco
delas. Assim, entre 1856 e 1926, estava prevista a presença da “Philosophia”
em duas séries, dentro do período da segunda à sétima, de maneira livre. Com
a indefinição programática, e a não obrigatoriedade da presença, a Filosofia
era oferecida como curso livre.

A partir da Revolução de 1930, que acabou com o monopólio do poder


das oligarquias e criou condições para a implantação do capitalismo industrial
no País, houve uma abertura no horizonte cultural. Tivemos, sobretudo,
a expansão do ensino, como resultado das pressões dos segmentos
organizados. A estrutura e a visão pedagógica, no entanto, permaneceram
conservadoras, aristocráticas e elitistas. Esta educação consolidou-se nas
reformas educacionais que estavam por vir – 1932, 1942, 1961, 1971 e 1996 –
sendo que, na última, houve uma abertura para a possibilidade do retorno da
Filosofia ao Ensino Médio.

Como podemos perceber, somente na década de 30 que a Filosofia


disputou e ocupou lugar junto a outras disciplinas nos currículos. Porém, sua
permanência é vulnerável no sistema de ensino brasileiro. Nas décadas de
30 e de 70 surgiram programas oficiais e obrigatórios de Filosofia, o que não
caracteriza o verdadeiro ensino da Filosofia.

Desde as aulas régias aos cursos livres, da sua estruturação como


matéria optativa até o caráter complementar, passaram-se quatro séculos
de educação, e o ensino de Filosofia não obteve seu espaço devido. Vimos
no discurso oficial e legal uma exaltação à sua importância na formação da
criança e do jovem, porém, na prática pedagógica, o ensino de Filosofia ainda
é visto e, muitas vezes, efetivado como um humanismo formalista, retórico,
embasado no gramaticismo e na erudição livresca.

Diante desta realidade, foi percebida a necessidade de que a Filosofia


Como pano de fundo, conquistasse seu espaço dentro da estrutura curricular, muito mais no campo
o ensino de Filosofia político-institucional (por leis) do que somente na consciência educacional
tem até hoje questões de pais e professores. A Filosofia carrega um conteúdo a ser ensinado, a
como: o quê?, discussão gira em torno de qual natureza deve ser esse conteúdo e sobre qual
como?, para quem?, metodologia se deve fundamentar a prática do ensino de Filosofia. Como pano
por quê? e para quê? de fundo, o ensino de Filosofia tem até hoje questões como: o quê?, como?,
Perguntas facilitadoras para quem?, por quê? e para quê? Perguntas facilitadoras como instrumento
como instrumento e e ferramenta da reflexão.
ferramenta da reflexão.
Houveram contradições nas leis e pareceres técnicos do MEC e suas
resoluções referentes ao PCNEM (Parâmetros Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio); bem como, a posição oferecida à Filosofia e à Sociologia, que

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Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

foi organizado em um Projeto de Lei, pois havia uma brecha para sua não
efetivação nos currículos do ensino médio.

[...] Nesta área [de ciências humanas] incluir-se-ão também


os estudos de Filosofia e Sociologia necessários ao exercício
da cidadania, para cumprimento do que manda a letra da lei.
No entanto, é indispensável lembrar que o espírito da LDB
é muito generoso com a constituição da cidadania e não a
confina a nenhuma disciplina específica, como poderia dar a
entender uma interpretação literal a recomendação do inciso
III, do § Iº do artigo 36. (BRASIL. SEMTEC, 1999a, p. 163).

Mesmo não contemplando a grade curricular com a disciplina de Filosofia,


a LDB — lei 9.394/96, no artigo 36, parágrafo Iº, inciso III, diz que:

Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação


serão organizadas de tal forma, que ao final do ensino médio,
o educando demonstre [...] domínio dos conhecimentos de
Filosofia e Sociologia necessários ao exercício da cidadania.
(BRASIL, 1996).

Tal parecer possui um texto vago e paradoxal e coloca a Filosofia como


algo desnecessário, além de dar margem à continuidade do processo de
descaracterização que a disciplina vinha sofrendo nas últimas duas décadas,
ficando a presença da Filosofia no currículo à mercê da subjetividade dos
diretores das escolas.

Outro agravante é que, ao se afirmar que os alunos devem ter noções de


conhecimentos filosóficos, não implica, necessariamente, a presença efetiva
de aulas de Filosofia. Entenda-se aqui, que tais conhecimentos podem (e por
que não “devem”?) ser abordados por outras disciplinas. Não se defende a
interdisciplinaridade, como à primeira vista poderia ser entendido. No próprio
documento, há contradições com relação a isto:

[...] a interdisciplinaridade não dilui as disciplinas, ao


contrário, mantém sua individualidade. Mas integra as
disciplinas a partir da compreensão das múltiplas causas
ou fatores que intervêm sobre a realidade e trabalha
todas as linguagens necessárias para a constituição de
conhecimentos, comunicação e negociação de significados
e registro sistemático de resultados. (BRASIL, SEMTEC,
1999a, p.133-134).

Quando lemos os documentos elaborados pelo MEC percebemos


que o mesmo inspira-se em dicotomias como, por exemplo, o debate entre
as epistemologias de Piaget e Vigotsky, quando confirma que a produção
do conhecimento interdisciplinar se processa pelas bases de informações
específicas, isto é, o educando, conhecendo os conceitos, passa a compreender

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Metodologia do Ensino de Filosofia

uma dada realidade geral. A partir disto, temos que o conhecimento a ser
desenvolvido na escola deve percorrer o caminho oposto ao do conhecimento
espontâneo, próprio do homem.

Atividade de Estudo

1) Qual a relação entre a Filosofia, a natureza reflexiva do ser humano e o


fazer pedagógico?
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2) O que se consegue a partir de uma educação reflexiva?


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3) Que tipo de ensino de Filosofia se faz necessário?


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4) Como era o ensino de Filosofia durante a atuação dos jesuítas?


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5) Em quais reformas curriculares o ensino da Filosofia teve alguma abertura


no Brasil? O que estas reformas significaram efetivamente para o ensino
de Filosofia?
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6) Quais são as implicações, a partir da LDB/96 para o ensino de Filosofia?


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Metodologia do Ensino de Filosofia

IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA NO ENSINO


Tendo em vista a realidade atual em que vivemos, cheia de contradições e
dicotomias gritantes, ainda há necessidade de se falar sobre a importância da
Pensar é necessário, Filosofia no ensino.
mas parece ser mais
‘fácil’ uma posição Dentro de um modelo educacional em que o relacionamento entre
comodista, sem pessoas, saberes, teoria e prática encontram-se petrificados, é um pouco difícil
voz, indiferente e encontrar lugar onde caibam inovações e mudanças paradigmáticas. Pensar
preguiçosa. Os que
é necessário, mas parece ser mais ‘fácil’ uma posição comodista, sem voz,
ousam pensar, agir e
indiferente e preguiçosa. Os que ousam pensar, agir e falar, em um primeiro
falar, em um primeiro
momento até são ouvidos, em um segundo momento são desconsiderados e
momento até são
ouvidos, em um por último, desencorajados. O que se percebe então, com tamanho descaso
segundo momento e desinteresse, é uma desilusão por falta de apoio e credibilidade dentro da
são desconsiderados própria educação.
e por último,
desencorajados. A Filosofia, não só como disciplina curricular, mas como proposta de vida,
sinaliza uma nova postura reflexiva por parte de educadores e educandos.
Com a introdução da Filosofia no Brasil, desde a colonização até nossos
dias, são constatadas situações que vêm solidificando e enraizando nossa
cultura do pensar. Em nossa atualidade, é presente e perceptível uma visão
conteudísta, pragmática e positivista, heranças do iluminismo e positivismo.
Dentro destes modelos educacionais, historicamente, o ensino de Filosofia
nunca teve garantido a sua estabilidade na estrutura da educação brasileira.

A Filosofia em si, em toda a sua história tem se mostrado uma atividade


humana que, em sua essência, é educativa. O filósofo Sócrates com sua
metodologia, a Maiêutica, é um filósofo educador. Platão, com a alegoria
da caverna, sai das sombras enquanto opinião e vai em busca da perfeição
que fica no mundo das ideias, ou seja, vai em busca da luz da razão. E não
fica nisto, mas volta para convencer outras pessoas fazendo de seu método
um ato educativo. Aristóteles, ao exemplo dos mestres Sócrates e Platão,
também demonstra um grande interesse pela educação quando escreve
textos filosóficos a – República, Política e Ética a Nicomaco. O que diferencia
seu método de seu mestre Platão, é que ao contrário do mundo idealista,
Aristóteles aponta para o mundo real.

Maiêutica do grego significa tirar de dentro – parto. O método socrático


“consiste na multiplicação de perguntas, induzindo o interlocutor na descoberta de
suas próprias verdades e na conceituação geral de um objeto”. (HOUAISS, 2009).

Opinião vem do termo grego doxa. Em linhas gerais doxa é um “sistema


ou conjunto de juízos que uma sociedade elabora em um determinado
momento histórico supondo tratar-se de uma verdade óbvia ou evidência

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Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

natural, mas que para a filosofia não passa de crença ingênua, a ser superada
para a obtenção do verdadeiro conhecimento”. (HOUAISS, 2009).

A Filosofia não só proporciona ferramentas para o autoconhecimento, mas


também, estabelece parâmetros de convivência com outrem, que costumamos
chamar de ethos. Este ethos é o que faz respeitar os limites de outrem, pois
através dele sabemos que para tudo há parâmetros, chegando no entanto,
em uma formação de convivência harmoniosa ou não, dependendo somente
da consciência de cada indivíduo de querer seguir as regras estabelecidas
pelo grupo. Esta área da Filosofia é tratada pela ética que abrange também
conhecimentos políticos.

Ethos significa um conjunto de regras, normas e leis que busca harmonizar


a convivência humana.

Ainda dentro da Filosofia encontramos outras áreas de estudo. Dentro


da lógica é instrumentalizada a linguagem, o pensar correto e a busca de
argumentos fortes e verdadeiros. A lógica preocupa-se em dar sustentáculos
para que argumentos em uma fala, por exemplo, não se depare em desarmonia
e contradição.

A estética também pertence a área da Filosofia, estando esta a dispor das


formas de perceber o mundo, sendo elas de interpretações artísticas, dando
ênfase ao belo, ao feio, o gosto, a arte, os estilos e as tendências.

A política também é um ramo de estudo da Filosofia, sendo que para os


gregos, os filósofos eram exatamente aqueles que estavam preocupados com
os problemas e o bem estar da polis.

Assim como as grandes áreas de estudos da Filosofia: Teoria do


Conhecimento, ética, política, lógica e estética, houve outras áreas de
interesses e estudos dentro da Filosofia, que caminharam dentro de seu
contexto que chamaram-se correntes filosóficas. Estas possuem sua
importância dentro do estudo filosófico, pois ajudam a compreender o contexto
histórico de cada momento vivido pela humanidade.

Na disciplina de Temas e Teorias de Filosofia você já estudou sobre este


assunto. Caso não recorde consulte novamente o material.

A Filosofia enquanto amor pelo saber se aplica na busca pela verdade,


embora não a possua. Na aplicação pelas causas primeiras, a Filosofia requer
o olhar socrático, em que o conhecimento será desvelado como que uma
parturição. Nesta visão o homem encontra-se na posição do que não possui
saber e que há sempre algo a ser aprendido.

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Metodologia do Ensino de Filosofia

A expressão parturição deriva de parto que significa tirada de dentro,


nascida, vir à luz, ser desvelada.

Para encontrar o saber filosófico, Sócrates, melhor que ninguém, nos


mostra qual o caminho: o da busca. É na procura que o homem se revela a
si mesmo como homem. Na busca o homem encontra a sua essência, o de
buscador, perguntador, questionador.

Colocando-nos na posição de quem não sabe tudo, concluímos que


necessitamos de outrem que possua conhecimentos para que os nossos se
amplie. Há sempre algo a ser aprendido e a verdade possui esta necessidade
de ser parturida, ela necessita vir à luz, de ser desvelada.

A verdade é o que nos liberta das sombras, segundo o filósofo Platão.


Conclui-se, então, que o alcance da verdade é a conclusão desta busca,
é a resposta para a nossa essência humana. Se não a encontramos, há
uma grande probabilidade de não nos conhecermos enquanto seres e, por
consequência, não nos conhecermos em nossa essência, tornarmo-nos seres
metafísicos, o que nos diferencia de todos os outros animais.

O que torna complexa esta busca pela verdade é a cultura pelo pensar
que encontramos nas classes escolares. Raciocinar é um problema difícil e
complicado, que faz parte de uma grande realidade atual educacional. Muito
além de construir conceitos, ser filósofo é ter amor, sede pelo saber, e procurar
respostas para as muitas perguntas lançadas no mundo, sendo que vivemos
uma realidade complexa, em que a informação e a tecnologia buscam o
domínio desta realidade e o profissional que não se adequar a mesma estará
excluso do mercado de trabalho.

A partir desta realidade, parece mais propício aos jovens apropriarem-


se ao mercado de trabalho. Realizam cursos técnicos ou profissionalizantes
que melhor correspondem ao seu perfil vocacional, tornando-se estes jovens
especialistas de áreas limitadas e restritas.

Pelo que vimos no primeiro capítulo, a educação esteve à deriva de um


pensamento reflexivo durante muito tempo, desde a colonização. Em alguns
momentos, existiu a disciplina de Filosofia, porém, na maioria do tempo
histórico educacional ela esteve ausente da formação.

As aulas de Filosofia são importantes para que os estudantes superem


suas ingenuidades, desmascarem a sua ignorância e enxerguem o mundo a
partir de outro prisma, tomando consciência do que existe a nossa volta, de
sua potencialidade em transformar a realidade, não apenas aceitando o que
nos é imposto.

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Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

Há uma característica forte nos alunos que é a de perguntar: por que Há uma característica
isso?, por que aquilo?, o que irei fazer com isso?. Este é um ótimo momento forte nos alunos que
para aproveitar e fazer uma reflexão filosófica com eles, aproveitando de suas é a de perguntar: por
curiosidades e espantos. Pois, com o passar do tempo, percebemos que esta que isso?, por que
curiosidade vai tornando-se normal, esquecida, apagada e o que lhe causava aquilo?, o que irei
dúvida, assombro e espanto não lhe faz mais sentido em buscar o seu porquê, fazer com isso?. Este
perdendo a oportunidade de buscar o verdadeiro sentido da vida. é um ótimo momento
para aproveitar e fazer
A busca por métodos apropriados para este resgate do ser enquanto uma reflexão filosófica
com eles, aproveitando
ser, ainda é uma incógnita para muitos educadores. Não que não exista bons
de suas curiosidades e
métodos, bons conteúdos ou ainda bons materiais didáticos, o que acontece
espantos.
ainda dentro da realidade do ensino filosófico é que há grande preconceito
no preparar os futuros docentes quanto ao ensino da disciplina para jovens
iniciantes, levando ao fato que os conteúdos práticos, didática e dinâmica
ficam em segundo plano.

A Filosofia é importante no currículo pelo próprio resgate da dignidade


de seres pensantes. É necessário um pensar correto, coerente, crítico e
criterioso, para que com habilidades de raciocínio bem desenvolvidas, possam
ser desenvolvidas outras habilidades em outras áreas de conhecimento.

Atividade de estudo

1) Pesquise em outras bibliografias sobre o que é Teoria do Conhecimento.


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2) ‘Convivência com os outros’, ‘instrumentação da linguagem’, ‘percepção de


mundo’, ‘preocupação com o bem comum’, são questões relacionadas à
que áreas da Filosofia, respectivamente?
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Metodologia do Ensino de Filosofia

3) Cite o nome de algumas correntes filosóficas.


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4) O que é ser filósofo?


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5) Por que as aulas de Filosofia são importantes?


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FILOSOFIA - FILOSOFAR: ENSINAR FILOSOFIA OU


ENSINAR A FILOSOFAR
É perceptível no acompanhamento da história da Filosofia no Brasil o
enfoque das condições e possibilidades do ensino. Sendo que, a questão
de seu ensino, passa a ser vista como um problema filosófico, assim como
político, e não somente, como uma questão pedagógica.

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Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

Esta problemática destaca as análises da atividade filosófica, também A responsabilidade


aviventando o antigo problema da função educativa, agora, sobre a da Filosofia: o
responsabilidade do campo da Filosofia: o da produção e a reprodução dos da produção e a
saberes e práticas. reprodução dos
saberes e práticas.
Aparecem como pano de fundo, dois âmbitos distintos como locais de
produção e reprodução de Filosofia. Em primeira instância, aparece o local em
que se produziria a Filosofia, que no caso são as universidades. A Filosofia,
assim como outro campo de pesquisa, pertence aos cientistas iniciados da
área, restringindo o seu estudo a outros âmbitos sociais. Por outro lado, surge
o local de reprodução de onde aparece ainda, a universidade como produtora
e reprodutora de conhecimento filosófico. Após ela, encontramos outras
instituições de formação de docentes e as escolas.

Esta prática separatista de ambientes de produção e reprodução filosófica


acaba sendo excludente, assegurando que de um lado mais forte e robusto
fiquem os filósofos e pesquisadores da área, e de outro não tão forte, ou
considerado pelo primeiro grupo inexistente, mas que começa a ganhar o
seu espaço, que são os aprendizes de Filosofia, ou seja, os estudantes da
disciplina. Esclarecendo um pouco melhor, há um preconceito escancarado da
parte dos entendidos da área de Filosofia, sendo que estes não aceitam que
crianças, adolescentes e jovens sejam capazes de pensarem por si só. Mesmo
que estes consigam formar argumentos consistentes, os filósofos acadêmicos
não reconhecem a prática como válida dentro do campo filosófico.

Perante esta realidade, destacam-se também três questões problemáticas


relacionadas ao ensinar Filosofia, que são:

• Uma delimitação de um campo teórico e textual: Filosofia propriamente dita.

• Reconhecimento de uma atividade prática: o filosofar.

• A possibilidade da introdução de outros, que não iniciados neste campo teórico


e textual e de introduzi-los nesta prática: o ensinar Filosofia e a filosofar.

Referindo-se ao terceiro item, ensinar Filosofia e a filosofar é o que Ensinar Filosofia e


defendemos como proposta filosófico-pedagógica; e, é o que mais tem a filosofar é o que
assustado os professores de Filosofia, por não terem o conhecimento de onde defendemos como
partirem com seus educandos. Que conteúdos aplicar? Qual a metodologia proposta filosófico-
a ser tomada? O que responder quando chegarem as perguntas: o que é pedagógica.
Filosofia, professor? Para que serve esta disciplina? Qual a ocupação e
utilidade dos filósofos?

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Metodologia do Ensino de Filosofia

Temos certeza de que todo professor com o passar do tempo se habitua


a estas perguntas e formula o seu próprio material didático e sua metodologia,
até por não haver muitas opções conhecidas pelos mesmos, o que acaba
gerando milhares de formas e métodos dentro de uma mesma rede de
ensino. Isto não é muito positivo para a educação, pois, como iremos falar de
interdisciplinaridade, conteúdos que são pares às diversas disciplinas, se não
possuímos uma mesma linguagem dentro de uma única disciplina?

Estamos nos referindo a um fio condutor que organize um norte ao plano


de ensino do educador, que permita ao educando, quando saindo de uma
escola de uma rede educacional e, migrando para outra escola da mesma
rede, tenha a capacidade de dar continuidade aos seus estudos sem prejuízo
algum nas disciplinas estudadas. Este fio condutor é um programa seguido
pelos professores como traços gerais, e os planejamentos fossem criados a
partir deste programa, permitindo aos educadores se adaptarem às regras e
realidade de sua escola.

Qualquer que seja a disciplina, quando perguntado ao professor qual o


seu campo de pesquisa, sem hesitar, qualquer que seja a área, compõe a sua
resposta. Já na disciplina de Filosofia é notável um malabarismo para tentar
chegar a uma resposta precisa e transparente, porém, a impressão é que
sempre fica faltando algo. Não é de se estranhar tal atitude, pois as formas de
apresentar a disciplina de Filosofia são varáveis. Alguns preferem apresentar
de forma particular, outros recorrem às definições dadas por filósofos no
decorrer da história, formando um repertório de definições. Há professores que
preferem destacar as atividades possíveis através dela, tentando justificar a
sua utilidade enquanto disciplina. Não há sombra de dúvida de que a Filosofia
é importante na educação; porém, há uma diferenciação entre, importância e
utilidade, até porque, a utilidade moderna se refere a termos práticos.

A metodologia baseada na transmissão da história da Filosofia e o


pensamento dos filósofos, sem construir algo a partir desta, acaba sendo
ineficiente. O dever da educação é fazer com que o educando seja questionador,
curioso e que procure sanar suas dúvidas, tornando-se um pesquisador
autônomo, dono de suas respostas; mas, que dialogue com seus colegas e
professor, em posição horizontal, sendo um bom ouvinte, para que, junto com
seus companheiros de aprendizagem, possa construir o conhecimento.

Para alcançarmos melhor o enfoque do tema proposto, que é aproximar-


se da Filosofia e do filosofar, precisamos ainda ter presentes outras questões
que nos ajudem a compreender a realidade, ligando-as à Filosofia.

Há uma preocupação entre os professores que seguem o método


tradicionalista de transmissão dos conhecimentos filosóficos de forma eficiente.

52
Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

Para estes é necessário ter o domínio sobre o saber. Lembrando que esta é
uma forma de compreender a Filosofia, não sendo esta a única e nem a mais
válida ou ‘verdadeira’. Outra metodologia é a de questionar a possibilidade
de que no ensino de Filosofia, em qualquer nível, tenha algo próprio ao
filosófico, que possa fazer uma ligação entre o iniciante e o filósofo experiente.
A questão, então, passa a ser: sem importar a quantia de conhecimento,
em que medida poderia ser um pouco filósofo?

Encontramos, então, graus de definições, em se tratando de conhecimento


filosófico, em que um método considera a quantidade de conteúdos conhecidos
e outro a qualidade de construção de conhecimentos. No segundo método,
é permitido que seja possível aprender a filosofar desde a primeira infância,
podendo as crianças em sua aprendizagem posicionar-se com perguntas
filosóficas, e até mesmo tentar respondê-las. Com certeza, encontraríamos um
grau de diferença, ao comparar um estudante iniciante de Filosofia ao filósofo
experiente enquanto especialista. Porém, os questionamentos da criança, não
são menos filosóficos que os questionamentos do especialista.

Esta metodologia requer uma atitude questionadora, crítica, criativa,


radical e de conjunto, que não permita deixar passar nada sem ser percebido,
que problematize o que aos olhos leigos pareça óbvio ou natural. Aliás, nossa
sociedade atual é campeã em transformar problemas sociais em algo muito
normal. O prof. Dr. Roberto Crema chama isto de Normose.

Normose: doença da normalidade. Tudo é normal, o estupro, a morte, a


violência, o tráfico, a prostituição, e nada se questiona, pois é normal.

Diante do aprender filosofar existe a subjetividade, ou seja, os valores e


características próprias de cada um. Esta característica é pessoal e irredutível,
o que faz com que cada um tenha o seu olhar pessoal sobre o mundo, suas
vontades e desejos. Falamos sobre isto para dizer que é possível demonstrar
que outras pessoas amaram a sabedoria, mas não conseguimos ensinar como
amar a sabedoria, justamente por causa da subjetividade. A Filosofia tornar-
se-á objeto da relação amorosa pelo saber na medida em que haja o interesse
do sujeito neste sentido.

Qualquer pessoa pode filosofar o que não garante que qualquer pessoa
queira filosofar. Entra neste momento o papel do professor, de fazer com que o
estudante desperte seu interesse pelo conhecimento filosófico e de demonstrar
aos educandos o porquê do filosofar.

Uma boa explicação é a construção de bons argumentos e com bom


senso. Até mesmo a Bíblia Sagrada, em várias passagens de sua escrita,
menciona o poder do homem sensato. Sensatez faz com que o homem

53
Metodologia do Ensino de Filosofia

construa a sua casa na rocha. Ensinar a filosofar é ensinar a desenvolver o


pensamento, desenvolver bons argumentos a ser um homem sensato, que
constrói seus valores e princípios sólidos na rocha. Então, por que filosofar? A
resposta seria: porque é possível fazê-lo.

Aristóteles afirmara, no século V antes de Cristo, que o homem é um


Filosofar requer uma
animal social, e todos os homens por natureza desejam o saber. Cabe ao
decisão: a de querer
educador, professor de Filosofia, estimular a levar adiante este desafio, fazer
atrever-se a pensar
por si só. despertar este desejo. Filosofar requer uma decisão: a de querer atrever-se a
pensar por si só.

Mais que realizar uma aula de Filosofia, o melhor seria construir uma aula
filosófica, fixada em olhares subjetivos, questionadores e problematizadores
sobre o mundo. A isto chamamos de educação reflexiva, em que há um respeito
pelo pensar do outro, que tão importante quanto falar sobre o assunto é saber
escutar o que o outro pensa e tem a dizer a respeito do assunto. Que a aula
reflexiva não seja local de respostas prontas a perguntas que não contemplam
o interesse dos educandos.

É POSSÍVEL ENSINAR A FILOSOFIA? E, SE


POSSÍVEL, COMO?

É necessário fazer a pergunta: que Filosofia se quer ensinar? Supõe-se,


portanto, uma determinada concepção de Filosofia a ser ensinada. Há várias
afirmações para definir o que é Filosofia na tradição filosófica. Esta nos mostra
que não há uma única resposta possível à questão, e que, ao longo dos
séculos, a filosofia foi concebida de diferentes maneiras, dando origem a várias
tradições. Segundo uma, das muitas tradições que relatam o surgimento da
Filosofia, Pitágoras teria respondido a Léon, tirano de Fliús, quando interrogado
sobre, afinal quem era, Pitágoras afirmou: “Sou um filósofo”. É interessante
notar aí, que o termo filósofo surge antes mesmo da palavra Filosofia, o que
pode reforçar a ideia de alguns pensadores que afirmam não existir Filosofia, e
sim, filósofos. Diferenciando o filósofo do sábio sophos, Pitágoras apresenta-
se de forma humilde e modesta, não se considerando um iluminado, mas sim,
aquele que está em busca do saber, o que tem a consciência de ainda não
o ter encontrado, de não possuí-lo. A Filosofia, então, define-se deste modo,
mais por busca do que pela posse do saber.

Esta primeira concepção destacada consiste, portanto, em ser a Filosofia a


busca e não o saber pronto e acabado; uma atitude indagadora e não a posse
da verdade ou do conhecimento. O buscar nos transforma, faz-nos mudar de

54
Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

atitude em relação ao que sempre fomos. Revela nossas insatisfações e nos


impulsiona a atingir uma nova visão das coisas. O método da busca talvez
seja interminável, mas nela está o que nos torna filósofos.
Partindo da busca e do
conhecimento como
Partindo desta afirmação da busca e do conhecimento como algo não algo não acabado,
acabado, não é possível ensinar Filosofia, mas se pode ensinar a filosofar, no não é possível ensinar
sentido de motivar e impulsionar para busca. Filosofia, mas se pode
ensinar a filosofar.
Certamente o filósofo Sócrates é herdeiro dessa tradição que remontaria
a Pitágoras, sendo que o seu pensamento, tal como o conhecemos pelos
assim chamados “diálogos socráticos” de Platão, reafirma o caráter prático
do filosofar, como mudança de atitude. Filosofar consiste em romper com a
atitude comum, o domínio da opinião e das crenças recebidas, em que através
dos hábitos nos aferramos a uma visão das coisas, por apenas ouvir falar,
que incorporamos muitas vezes sem nos darmos conta disso. É nisso que
consiste o domínio do preconceito, da visão pré-concebida, irrefletida. Este é
o berço da Apologia de Sócrates, segundo o qual “a vida não examinada não
vale a pena ser vivida” (SÓCRATES, apud MARINOFF, 2008, p. 391). Essa
atitude deve dar lugar ao espírito crítico; quando interrogamos nossas crenças
e valores, quando interpelamos o que nos é transmitido como verdadeiro. A
atitude refletida e questionadora é a garantia de que estamos na busca do
saber, no caminho para o qual apontava Pitágoras.

Sócrates nos ensina que o que mais importa é a virtude: Arete. Esta não
pode ser ensinada, porque deve ser descoberta a partir de cada um. O papel
do filósofo é o de despertar em cada um, aquilo que já traz dentro de si, o
ímpeto, a curiosidade, a capacidade que permitirá com que empreenda ele
próprio, essa busca. A Filosofia consiste em um processo de reflexão que
nos leva a buscar as respostas às indagações que encontramos em nossas
experiências próprias.

Arete: A palavra arete (h(a)reth/, h=j) desígna o mérito ou qualidade pelo


qual algo ou alguém se mostra excelente.

Em contraste com esta concepção, temos outra de caráter mais histórico


em que a Filosofia consiste na tradição filosófica, sendo que é esta tradição
que deve ser ensinada. O caminho para o ensino da Filosofia aqui, é a leitura
e interpretação das obras dos filósofos mais importantes e mais influentes, que
contribuíram para a formação da tradição do conhecimento filosófico.

O conhecimento filosófico perpassa o conhecimento da tradição, sendo que


o primeiro não pode ser independente do segundo, pois é através da tradição que
se entra em contato com os problemas filosóficos, e a forma como os filósofos
mais influentes tratam tais problemas. Existe, portanto, um saber a ser adquirido,

55
Metodologia do Ensino de Filosofia

consistindo nas principais teorias e nos grandes sistemas da tradição, desde o


seu surgimento na Grécia Antiga até o pensamento contemporâneo.

A história da Filosofia nos revela, contudo, que ao longo dessa tradição


não houve uma única linha de pensamento que predominou, nem mesmo
um único estilo de fazer Filosofia. Seu desenvolvimento deu-se através de
aproximações em maior ou menor grau com a ciência natural, a matemática,
a arte, a política, a religião e o mito, expressando-se o pensamento filosófico
em diferentes estilos, nos poemas, diálogos, aforismos, tratados, cartas,
autobiografias.

Mesmo com o reconhecimento do valor e a importância da contribuição


à Filosofia dos pensadores que são incluídos na tradição, é difícil identificar
o traço comum entre pensadores do mesmo período, o final da antiguidade,
como por exemplo, entre o piedoso Boécio e o crítico Sexto Empírico. Há
pensadores, que se encontram no limite entre a filosofia e a literatura ou a
retórica, como Cícero, ou entre a Filosofia a ciência, como Euclides. Seria
talvez, inútil tentar encontrar traços comuns entre os filósofos que a tradição
incorporou. Essa tradição se formou de modo menos linear e mais descontinuo
do que quis Hegel em suas lições de História da Filosofia. O que a história
da Filosofia e o exame da tradição filosófica parecem nos ensinar é que, se
primeiro dizíamos que antes de haver Filosofia há filósofos, agora devemos
dizer que não há Filosofia, mas filosofias, ou seja, que a Filosofia é plural.

Não há um critério teórico, independente das próprias doutrinas filosóficas,


que permita escolher entre elas. Desde a antiguidade encontramos várias
doutrinas e concorrentes, que se excluem mutuamente e se proclamam como
a verdadeira Filosofia. O Ceticismo antigo combatendo o dogmatismo, a
academia de Platão, o Liceu de Aristóteles, o Estoicismo, o Epicurismo, etc.
Portanto, já na Filosofia antiga não se encontra uma única Filosofia.

Podemos supor, então, que essas duas concepções, a Filosofia como


busca ou como estudos da tradição filosófica não necessariamente se excluem,
mas podem, ambas, trazerem elementos valiosos para o ensino da Filosofia.

A história da Filosofia pode contribuir para despertar o interesse


por questões filosóficas através do contato com as obras dos grandes
pensadores que primeiro as formularam. Seu modo de tratá-las pode servir
de inspiração e motivação para nossa busca, mesmo que criticamente.
Deve ser vista como contribuição dos grandes filósofos ao introduzirem
questões que, até hoje, nos motivam a pensar, e como indicação dos vários
modos como essas questões foram tratadas. Pode ser vista ainda como
inclusão do intenso debate entre os vários filósofos e as várias correntes
de pensamento, as críticas, rupturas, controvérsias, polêmicas que já se

56
Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

encontram desde o início da Filosofia, como a crítica de Parmênides aos


mobilistas, de Platão aos sofistas e de Aristóteles aos platônicos. A tradição
filosófica é uma história de grandes polêmicas, mais do que da formação
progressiva de um saber ou da constituição de uma doutrina.

Nem todas as questões da tradição permanecem atuais. Por outro lado,


os problemas que levaram Platão, Aristóteles e os estoicos à formulação
de seus conceitos, como a necessidade de um princípio para a ética ou
a necessidade de explicarmos o movimento e a mudança, são problemas
que ainda nos preocupam.

A consideração da historia da Filosofia não nos revela o progresso de um


saber, nem a expansão de um conhecimento. Não é linear, nem cumulativa,
mas, antes, os problemas são recorrentes, incessantemente retomados.
Assim, não são as respostas dos filósofos, mas suas perguntas, que nos
motivam. É através dessas perguntas que encontramos o seu ensinamento,
desde que possamos retomá-las e reformulá-las como nossas. Para que a Não são as respostas
teoria da tradição se torne relevante, para que reviva e tenha seu interesse dos filósofos, mas
despertado, há a necessidade de um leitor interessado, um leitor que torne suas perguntas, que
nos motivam.
suas aquelas questões, retome-as e as leve adiante em um novo contexto.

A história da Filosofia deve ser vista, assim, como história dos conceitos
que inicialmente formulados por filósofos acabaram por ir além do âmbito da
discussão filosófica e se incorporaram à nossa forma de pensar, à nossa visão
de mundo. Deve ser vista também, como a história dos argumentos filosóficos,
ou seja, do modo como os filósofos procuraram justificar uma determinada
concepção, ou defender racionalmente uma determinada posição. Podemos
concluir, assim, que as duas metodologias não se excluem e ainda podem
servir de ponto de partida para o ensino da Filosofia.

a) Para que Ensinar Filosofia?

A questão da possibilidade do ensino da Filosofia supõe agora, uma


nova questão, sobre o objetivo desse ensino. Para que queremos ensinar
Filosofia, para que alguém deve aprender Filosofia?

As escolas de Filosofia na Grécia Antiga distinguiam entre as doutrinas


esotéricas e as exotéricas. Em outras palavras, é o que podemos hoje, chamar
de leigos e iniciados. Os iniciados estavam inclusos no ensinamento esotérico
que era voltado para o público interno das escolas, para aqueles que visavam
a tornar-se filósofos e pertencer à escola, discípulos da doutrina ensinada. Era
necessária uma dedicação maior e mais aprofundamento no estudo de textos
e uma maior preparação na arte de argumentar. Os leigos estavam inseridos

57
Metodologia do Ensino de Filosofia

no ensinamento exotérico. Ao contrário do primeiro, este era voltado para o


grande público. Tinha por objetivo atestar a popularidade da Filosofia na
Grécia. Quando a doutrina tratava de filósofos famosos era grande a procura
por suas lições. Possuía uma linguagem mais acessível, com um estilo mais
retórico, dando ênfase à questões de interesse mais geral.

Embora com finalidades diferentes, ambos igualmente importantes, o


ensinamento esotérico era essencial para o desenvolvimento da Filosofia e
para a formação das futuras gerações de filósofos, mas sem os ensinamentos
exotéricos a Filosofia ficaria restrita, não atingiria o público em geral, não
mostraria sua relevância, não ampliaria sua discussão e até mesmo poderia
deixar de atrair novos discípulos e novas vocações filosóficas.

Comprova-se desta forma que a Filosofia não precisa ser necessariamente


um discurso hermético (fechado), embora o estudo de textos clássicos da
Filosofia pressuponha certamente um conhecimento altamente especializado,
e com frequência a linguagem dos filósofos contenha termos técnicos, com
conceitos que os mesmos formularam e utilizaram. É possível fazer com que a
discussão filosófica seja acessível e que todo aquele que tiver interesse possa
se sentir capaz de filosofar, na medida em que a Filosofia diga respeito às
questões que interessam a todos, desde a ética até as formas de argumentação
e os problemas do conhecimento e da ciência.

As questões dos filósofos não estão necessariamente, distantes das


pessoas comuns, que não possuem qualquer conhecimento filosófico, mas
dizem respeito à preocupações que todos compartilhamos, por exemplo, sobre
que decisão tomar ou como justificar uma crença ou uma escolha.

Hoje, já não falamos mais em doutrinas esotéricas ou exotéricas, mas


podemos distinguir, em linhas gerais, entre o ensino da Filosofia que visa
ao formar o professor ou o pesquisador e o voltado para estudantes ou
profissionais de outras áreas que terão apenas um contato inicial com a
Filosofia. No primeiro caso, o do estudante de Filosofia, há um papel formativo,
levando-o a desenvolver suas próprias reflexões com base no conhecimento
dos filósofos da tradição, de seus textos, de seus argumentos. Este estudante
deve ser capaz sempre de buscar as suas próprias questões, mas sua reflexão
se desenvolverá na medida em que puder aperfeiçoar um método de leitura
dos textos dos filósofos, de interpretar e reconstruir seus argumentos.

Com o intuito de mostrar a relevância e a influência de teorias e de


conceitos filosóficos em nossa tradição, para além das próprias teorias
filosóficas, no segundo caso, a Filosofia tem um papel mais geral em um
sentido cultural, fazendo assim, com que o estudante entenda melhor essa
tradição, sua formação, seus desdobramentos, suas crises. Por fim, pode

58
Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

ter um papel de aprofundamento, para quem atua em outras áreas para as


quais o conhecimento de teorias filosóficas pode trazer uma contribuição
específica. Pode ocorrer, sobretudo, áreas como Filosofia da Ciência, Filosofia
da Arte, Filosofia da Linguagem, Filosofia Política em que a reflexão filosófica
sobre essas determinadas áreas contribui para a discussão metodológica e
epistemológica daqueles que atuam nelas.

Como vimos, a preparação do filósofo, de certa forma, demanda menos,


porque já parte de uma motivação inicial pela Filosofia e o que se requer é que
ele possa desenvolver suas indagações filosóficas por um lado e conhecer os
elementos mais importantes da tradição por outro, e que cada aspecto de sua
formação possa alimentar o outro um ao outro.
O grande desafio para
O grande desafio para o ensino da Filosofia consiste na motivação o ensino da Filosofia
daquele que ainda não possui qualquer conhecimento do pensamento consiste na motivação
daquele que ainda
filosófico, ou sequer sabe para que serve a Filosofia, a desenvolver o
não possui qualquer
interesse por este pensamento a compreender sua relevância e a vir a
conhecimento do
elaborar suas próprias questões.
pensamento filosófico.

Profissionais de outras áreas e estudantes já maduros não terão maiores


dificuldades neste sentido, se o curso for adaptado às suas necessidades e
aos seus interesses. O caso mais especial e que demanda maior atenção e
cuidado do professor é o ensino da Filosofia em níveis iniciais, para estudantes
da Educação Infantil, do Ensino Fundamental e Médio.

Deve-se então, partir da realidade deste estudante, de seu contexto,


de sua experiência de vida, de suas inquietações. É necessária uma maior
sensibilidade aos seus dilemas e interesses. Por isso, há a defesa de
um trabalho com material didático que possua um fio condutor adaptado
à realidade do estudante, como também, à sua faixa etária, que respeite a
formação de sua idade cognitiva.

Os textos dos filósofos da tradição, os conceitos que formularam e os


argumentos que desenvolveram podem fornecer os pontos de partida e os
instrumentos através dos quais essa reflexão se desenvolva, tanto para os que
pretendem dedicar-se a Filosofia, como para os estudantes de outras áreas de
conhecimento.

A reflexão crítica se elabora a partir das questões de cada um, sendo elas
existenciais, profissionais, científicas ou teóricas. Não sendo a reflexão crítica
espontânea, devemos através dos métodos e argumentos que a tradição
filosófica nos legou, de alguma maneira, convertê-la em nossa.

59
Metodologia do Ensino de Filosofia

b) Que Metodologia Utilizar no Ensino da Filosofia?

Quanto à escolha do método a ser adotado, depende da arbitrariedade


de quem o organiza, do contexto em que está situado, dos filósofos que, por
algum motivo se tornaram mais acessíveis a nós e as várias circunstâncias,
pelas quais, entramos em contato. Esta colocação nos remete à outra
questão: como ensinar a Filosofia? De que meios, instrumentos ou materiais
dispomos para isso?

Nosso filosofar se Já que a reflexão crítica não é espontânea, e sim, provocada por contato
tornará possível a com a Filosofia; e, se o nosso objetivo último é chegar em níveis mais ou
partir de uma interação menos elaborados, então, nosso filosofar se tornará possível a partir de uma
direta com os textos interação direta com os textos mais significativos da tradição filosófica. Nesta
mais significativos da concepção o instrumento fundamental deve ser, ao menos de início, a leitura e
tradição filosófica. interpretação dos textos mais relevantes para o interesse do estudante.

A escolha dos textos deve ser feita em função de sua capacidade de


cumprir o papel de introduzir no processo, tanto por seu caráter representativo
da reflexão filosófica, quanto por sua afinidade com os interesses do leitor. O
desenvolvimento da reflexão de cada um se fará pela maneira, mais ou menos
criativa, mais ou menos aprofundada, levando em conta as possibilidades e as
necessidades, pelas quais cada um se apropria do pensamento filosófico.

Os métodos de leitura e interpretação de textos podem ser variáveis, o


importante é que sejam escolhidos em função do papel que podem exercer e
que venham a transformar-se em instrumentos de desenvolvimento da reflexão
de cada um, seja o texto estrutural, hermenêutico, histórico ou analítico.

A leitura reconstrói o argumento que interroga o próprio texto, identifica


suas questões básicas, revela como tece seus argumentos e o avalia
quanto à sua capacidade de nos convencer ou não. Mesmo nos níveis mais
introdutórios, a leitura de textos é indispensável.

No texto “Crítica do Juízo” Kant (1993), define o pensamento crítico de


acordo com os seguintes princípios fundamentais:

• Pensar por si mesmo; a garantia da autonomia do pensamento.

• Pensar do ponto de vista do outro; significando o pensamento alargado,


capaz de ultrapassar os limites do estritamente subjetivo.

• Pensar de forma consistente; o princípio, segundo o autor, da própria razão,


resultando da combinação dos dois primeiros.

60
Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

A capacidade de reflexão, de autoexame, de consciência de limites e


possibilidade de pensar alternativas, é o que caracteriza o pensamento crítico,
evitando o dogmatismo e a crença de que em algum momento podemos ter a
palavra final sobre qualquer questão.

A Filosofia grega nos revela características fundamentais do filosofar:


o debate, a discussão, a polêmica, a argumentação. Presenciamos um
momento desde a modernidade, um período de valorização do pensamento
autoral, principalmente na produção de textos, garantindo o exercício da
criatividade e criação do pensamento próprio. Além disso, isso permite
que este seja visto como provisório, permaneça sempre em aberto para se
autoformular. Para isso, os caminhos da instância do diálogo, do debate e
da crítica são indispensáveis.

Concluímos que a Filosofia não se encerra em si mesma, mas é levada


a se autorreformular com base nos questionamentos que sofre. Portanto, um
aspecto essencial do ensino da Filosofia consiste na interação, no debate
filosófico, no questionamento do pensamento e na necessidade de defendê-lo,
o que leva inevitavelmente à sua reformulação.

A partir desta ideia garantimos a não cristalização dos pensamentos,


pois esta movimentação da atitude filosófica, leitura e discussão dos textos
filosóficos garante que os filósofos convivam conosco e os torna vivos entre
e para nós.

Atividade de Estudo

1) Diferencie o método tradicionalista de ensino de Filosofia e o método


reflexivo de ensino.
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2) Qual é o papel do professor de Filosofia?


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Metodologia do Ensino de Filosofia

3) Como fazer para despertar a motivação dos estudantes iniciantes para a


Filosofia?
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4) Como seria uma educação reflexiva, no contexto do ensino de Filosofia?


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5) Explique e relacione com o ensino de Filosofia a afirmação “A Filosofia é a


busca do saber”.
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A seguir, apresentamos uma reportagem do Jornal Corujinha sobre uma


das experiências de ensino de Filosofia com música. Acompanhe!!!

PRÁTICAS FILOSÓFICAS EXTRA-ACADÊMICAS: MÚSICA E FILOSOFIA

Ao realizar um trabalho em parceira com o Centro de Filosofia Educação


para o Pensar, a Professora Mestre em Educação Musical pela Universidade
do Estado de Santa Catarina, Vanilda Lídia Ferreira de Macedo Godoy, em
entrevista ao Jornal Corujinha, faz um link entre Música e Filosofia.

62
Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

Segundo esta educadora a música é estudada por áreas como a Filosofia,


a psicologia e a antropologia, entre outras que, além de estudarem a música
em si, estudam também a sua influência sobre o ser humano e a sociedade, o
que nos faz perceber a sua ampla importância.

A música pode estar presente transversalmente nas diversas disciplinas,


auxiliando na aprendizagem de conceitos, ilustrando ideias, dinamizando as
aulas, divertindo, ampliando o contato com a arte – estando qualquer pessoa
habilitada para isso. O importante é que a atividade musical não fique limitada
a uma única função. Quando a música é ensinada como disciplina autônoma –
já que possui suas especificidades teóricas e práticas – a sugestão é que atue
um profissional com formação específica (licenciatura em música).

O Centro de Filosofia Educar para o Para o Pensar, dentro de sua proposta


de Sistema de Ensino Reflexivo considera a música como algo amplo. A
música é entendida aqui como algo inerente ao ser humano, é uma disciplina
possuidora de conhecimentos próprios capaz de sensibilizar e humanizar
outras atividades dentro e fora da sala de aula.

Dentro da proposta de inserir a música no ensino de Filosofia, o Centro


de Filosofia Educar para o Para o Pensar produziu material pedagógico
específico, denominado Song book “Cantar é filosofar”, organizado a partir de
um concurso que envolveu professores e alunos em situações de sala de aula.

A professora Vanilda faz o seu relato: “como educadora musical, acredito


que todos são capazes de vivenciar a música nas suas diversas dimensões
(ouvir, tocar, compor...) e que é necessário dar a oportunidade às pessoas
para tal vivência. A escola é, assim, um local privilegiado para a socialização
do acesso à música. A experiência proporcionada pelo Centro de Filosofia
Educação para o Pensar foi muito importante para a valorização da música,
tendo em vista que ainda há muito que se fazer para a presença consistente
da música nas escolas”.

Fonte: Extraído do Jornal Corujinha, Entrevista, n. 62,


Terceiro Trimestre, Florianópolis, 2008. p. 11.

Atividade de Estudo

1) Segundo a Profª Ms. Vanilda, que interesse a música desperta em áreas


como a Filosofia, Psicologia, Antropologia, etc.?
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Metodologia do Ensino de Filosofia

2) É necessário ser habilitado em música para poder trabalhar com seus temas
e conceitos?
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3) Como o Centro de Filosofia Educação para o Pensar compreende a música?


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4) Qual a finalidade do Centro de Filosofia estar abordando a música em sua


prática filosófico-pedagógica?
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5) Quem pode fazer música conforme o pensamento da professora entrevistada?


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ALGUNS SITES COM CONTEÚDOS FILOSÓFICOS


Um dos grandes aliados dos professores de Filosofia, tanto do Ensino
Fundamental quanto do Ensino Médio, é a internet, pois é através dela que
conseguimos obter informações para as aulas e para a formação pessoal e
profissional. Em seguida, apresentamos alguns sites que servem de apoio e
pesquisa na área da Filosofia.

64
Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

• Centro de Filosofia Educação para o Pensar

www.portalser.net

Este portal tem o objetivo de reunir e compartilhar conteúdo digital referente


à Filosofia, notícias e informações, eventos, projetos e sites relacionados.

• A Associação de Professores de Filosofia (APF)

www.filonet.pro.br

É uma associação de professores ligados ao ensino da Filosofia, sediada


em Coimbra e de âmbito nacional, com personalidade jurídica e sem fins
lucrativos. Fundada em Dezembro de 1987, promove iniciativas de caráter
diverso, prestando apoio aos seus sócios através de Encontros de caráter
científico, Ações de Formação e outras realizações.

• Filosofia e Ideias

www.geocities.com/Athens/4539/

Site bastante acessível ao público leigo. Comenta alguns autores pontuais


da História da Filosofia, prestando-lhes justa homenagem.

• Arte de Pensar

www.didacticaeditora.pt/arte_de_pensar/index.html

Revista portuguesa dedicada ao ensino de Filosofia. Com dezenas


de textos, resenhas e artigos temáticos em Filosofia; é boa fonte para
iniciantes e professores. Apresenta na seção Filósofos de Hoje um belo
quadro, praticamente todo composto, pelos maiores pensadores analíticos da
Filosofia Contemporânea. Com responsável quadro de editores da Sociedade
Portuguesa de Filosofia é um local seguro para se encontrar textos filosóficos.

• Sobre Sites

www.sobresites.com/filosofia/revistas.htm

Este site apresenta uma gama bastante completa de informações sobre


vários assuntos e temas de pesquisa na área da Filosofia, tais como: Filósofos,
História da Filosofia, Lógica, Ética, Estética, Epistemologia, Filosofia Política,
Filosofia da Religião, Filosofia da História, Revistas e Jornais.

65
Metodologia do Ensino de Filosofia

• Centro Brasileiro de Filosofia para crianças

www.cbfc.org.br/

O Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças (CBFC) é uma instituição


sem fins lucrativo, de caráter científico e cultual. O CBFC apresenta um novo
paradigma educacional centrado no diálogo em Comunidade de Investigação
e na autonomia.

• Crítica na Rede

www.criticanarede.com/ensino.html

Esta secção não inclui materiais introdutórios, mas antes materiais sobre
o ensino da Filosofia e sobre o ensino em geral. Estes materiais dirigem-se a
professores.

• D.E.F Dicionário escolar de Filosofia

www.defnarede.com/

Esta é a versão online e gratuita do Dicionário Escolar de Filosofia,


publicado em Lisboa em 2003 na Plátano Editora. Este é um dicionário
escolar por ter, sobretudo em conta, os estudantes do ensino secundário
português (alunos entre 15 e 16 anos). Não apenas pela linguagem acessível
e direta, mas também, pela seleção de conteúdos, este dicionário serve aos
adolescentes que estudam Filosofia pela primeira vez.

• Fundação Sidónio Muralha e Instituto de Filosofia e Educação para o


Pensar

www.philosletera.org.br/praticas.htm

O Instituto de Filosofia (IFEP) e a Fundação Sidónio Muralha são


instituições parceiras que atuam na formação continuada de educadores
para trabalhar com Filosofia e Literatura na Educação, especialmente na
Educação Infantil e Ensino Fundamental.

66
Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

AVALIAÇÃO: COMO AVALIAR EM FILOSOFIA?


Avaliar o educando, justa e corretamente, é para o professor uma das
tarefas mais delicadas de sua profissão. Fazer uma avaliação objetiva
parece na maioria das vezes ser impossível, sem que esbarremos em
elementos subjetivos.

A avaliação objetiva depende de alguns critérios:

• Saber que métodos e conteúdos foram escolhidos pelo professor nas


suas aulas.

• Saber o que quer realmente ensinar.

• Saber como está querendo fazer isso – avaliar a avaliação.

Caso sua avaliação leve em consideração a repetição de fórmulas, frases,


datas, fatos, então sua avaliação é automática, porém distante de ser objetiva. A subjetividade da
Isto pode ocorrer em qualquer disciplina e o descuido metodológico pode avaliação pode iniciar
deixar o estudante fadado à não aprendizagem. a partir da escolha
dos conteúdos, das
A subjetividade da avaliação pode iniciar a partir da escolha dos competências e
habilidades a serem
conteúdos, das competências e habilidades a serem trabalhadas ou na
trabalhadas ou na
importância que lhes é atribuída na prática.
importância que lhes é
atribuída na prática.
Exemplificando, o professor de Química até pode pedir ao estudante que
saiba as fórmulas da tabela periódica, caso o objetivo treinar a memória como
competência relevante a desenvolver.

a) Avaliar o Quê?

Antes mesmo de estabelecer quaisquer critérios, escolher as atividades


e os instrumentos de avaliação a utilizar, o professor deve perguntar - O que
deve ser avaliado em Filosofia?

Com esta pergunta, partimos do princípio de que há conteúdos que não


compete ao professor de Filosofia avaliar. Cada disciplina possui conteúdos
próprios, o que compete ao Professor de matemática não é o mesmo que
compete ao professor de Filosofia ou ao professor de português. Portanto,
os conteúdos próprios visam a objetivos diferentes e supõem competências
e habilidades diferentes. Cada disciplina contribui com seus aspectos para
a formação integral do ser humano, o que leva a compreender e justificar a
presença de cada uma das disciplinas presentes na grade curricular.

67
Metodologia do Ensino de Filosofia

Justifica-se que os estudantes aprendam filosofia na medida em que haja


objetivos, conteúdos, competências e habilidades que não sejam alcançadas
em qualquer outra disciplina.

A resposta para a pergunta inicial sobre o que deve ser avaliado em


Filosofia, deve estar baseada nas habilidades e competências básicas. Neste
princípio é necessário distinguir e separar as habilidades e competências
As competências filosóficas das não filosóficas e iniciar pelas mais relevantes. Identificado
e as habilidades tais habilidades e competências, será possível selecionar as atividades e
filosóficas relevantes instrumentos de avaliação. Como destacar o que é mais relevante? Podemos
são as críticas, iniciar por conceitos do tipo ‘o que é a Filosofia?’ mesmo sabendo que as
criteriosas, radicais respostas não são nem um pouco unânimes. A Filosofia é uma atividade antes
e de conjunto que de qualquer coisa crítica e racional, que busca por apoio da intersubjetividade,
visam determinados por isso a exigência de rigor, clareza e inteligibilidade para resolver problemas
conteúdos: os que buscam por respostas apoiadas por argumentos.
problemas, as teorias
e os argumentos
Conclui-se que as competências e as habilidades filosóficas relevantes
filosóficos.
são as críticas, criteriosas, radicais e de conjunto que visam determinados
conteúdos: os problemas, as teorias e os argumentos filosóficos.

Atividade de Estudo

1) O que caracteriza a avaliação objetiva?


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2) O que caracteriza uma avaliação automática?


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3) o que significa perguntar: O que deve ser avaliado em Filosofia?


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68
Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

4) O que leva a compreender e justificar a presença de cada uma das


disciplinas presentes na grade curricular?
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______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________

5) O que justifica que os estudantes aprendam Filosofia?


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6) Como é possível selecionar as atividades e instrumentos de avaliação?


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7) Como destacar o que é mais relevante?


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COMPETÊNCIAS FILOSÓFICAS BÁSICAS


O professor de Filosofia deve conduzir seu trabalho, a fim de que possa
despertar nos estudantes algumas habilidades e competências. Faremos
um relato de algumas competências filosóficas básicas (os problemas, as
teorias filosóficas e os argumentos filosóficos), destacando também, alguns
exemplos de respostas possíveis que se espera de um estudante. A partir
deste instrumento, será possível que o professor construa também, seus
instrumentos de avaliação.

69
Metodologia do Ensino de Filosofia

a) Problemas Filosóficos

Problemas filosóficos são aquelas perguntas e temas em que não há uma


única resposta e que podem gerar opiniões dúbias. Levando em consideração
os problemas, o professor avaliará se o aluno apresenta condições de:

Percebendo o cunho do
problema, por exemplo: ‘o problema
do sentido da vida, o problema
• Saber identificar problemas
da indução, o problema do
filosóficos, assim como
ceticismo’, iremos ao encontro da
as disciplinas filosóficas
área da Filosofia que pertencem
que deles se ocupam.
tais problemas, neste caso a
metafísica, a epistemologia, a
Filosofia da Linguagem...

Por que é importante


sabermos sobre o problema do
• Ser capaz de mostrar por sentido da vida? Justificar...
que razão esses problemas
são importantes. A importância desta
justificação nos traz maior garantia
para nossas convicções.

Há problemas que pertencem


• Saber distinguir problemas
a outras áreas de conhecimento,
filosóficos de problemas
como por exemplo, o problema
não filosóficos e de
da função social da arte, que
pseudoproblemas.
pertence ao campo sociológico.

O problema do sentido da
vida consiste em saber...
• Saber formular problemas
filosóficos.
O problema do mal consiste
em responder tais questões...

70
Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

b) Teorias Filosóficas

Em relação às teorias filosóficas, o professor avaliará se o estudante


propõe condições de:

• Saber qual problema que A teoria platônica procura


a teoria procura resolver. resolver o problema da...

A teoria que está se referindo


• Saber identificar a teoria.
o filme Matrix é platônica.

A teoria é boa ou má? Por


quê? Quais são seus pontos
• Avaliar a teoria, mostrar se
fortes? E seus pontos fracos?
resolve o problema exposto
A partir de que esta teoria
a ela e se levanta novos
pode ser considerada boa?
problemas. Confrontá-
la com problemas
Qual a consistência da teoria?
propostos e compará-la
Ela apresenta novos problemas?
com teorias contrárias.
Qual o grau de dificuldade de
solução destes novos problemas?

c) Argumentos Filosóficos

Trabalhando com argumentos filosóficos, o professor avaliará se o


estudante se dispõe a:

A partir da fala do
• Saber identificar argumentos. professor, são expressos os
seguintes argumentos...

• Saber avaliar os argumentos: Tal argumento é inválido


Sólido? Forte? Válido? Inválido? por apresentar tais falácias...

• Fazer comparações do
Existe uma versão mais
argumento com outros
forte neste argumento que
argumentos sobre o mesmo
encontra-se no pensamento
problema e se pertencem
da escola de Frankfurt...
à tradição filosófica.

• Exigir criatividade, que Outra forma de defender esta


os estudantes proponham teoria seria: um argumento que
novos argumentos. não é habitualmente empregue é...

71
Metodologia do Ensino de Filosofia

COMPETÊNCIAS E HABILIDADES NOS PCNS


De acordo com os PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais, fixados
pela Resolução nº 3/98 da Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional
de Educação, algumas competências e habilidades são indispensáveis para o
nível de Ensino Médio.

Segundo os mesmos parâmetros as ausências destas competências e


habilidades implicam limites à ação do indivíduo, impedindo-o de prosseguir
em seus estudos na área e de se preparar para a vida em sociedade. Estes
aspectos possuem certa importância por apoiarem as escolas e professores
na montagem de seus currículos e proposição de atividades, projetos e
programas de estudo ou disciplinas, através dos quais serão desenvolvidas
As competências pelos estudantes.
permitem que o
estudante seja É necessário tomarmos certos cuidados em aplicarmos algumas
capaz de transpor competências e habilidades para não cairmos no erro da escola tradicional,
o conhecimento
tecnicista, positivista de preparar o educando para o mercado de trabalho e
estudado para
esquecermos de prepará-los para serem pessoas autônomas.
novas situações
caracterizando
que houve então a As competências não eliminam os conteúdos segundo o documento
aprendizagem. dos PCNs, pois é impossível desenvolver tais habilidades no vazio. Tais
habilidades dão um norte como objetivo final para tais conteúdos, servindo
como costumamos chamar de fio condutor. O importante não é a quantidade
de informações e sim, a capacidade de lidar com elas. A capacidade de lidar
permite que o estudante seja capaz de transpor o conhecimento estudado
para novas situações caracterizando que houve então a aprendizagem.

Uma característica forte do aprendizado é a capacidade de fazer analogias


com o conteúdo estudado.

A área de Ciências Humanas e suas Tecnologias estão presentes no


Ensino Médio com o objetivo de constituir competências que permitem ao
educando (BRASIL, 2000, p. 96-97):

• Compreender os elementos cognitivos, afetivos,


sociais e culturais que constituem a identidade própria
e a dos outros.

• Compreender a sociedade, sua gênese e transformação,


e os múltiplos fatores que nela intervêm como produtos
de ação humana; a si mesmo como agente social; e aos
processos sociais como orientadores da dinâmica dos
diferentes grupos de indivíduos.

72
Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

• Compreender o desenvolvimento da sociedade como


processo de ocupação de espaços físicos e as relações da
vida humana com a paisagem, em seus desdobramentos
político-sociais, culturais, econômicos e humanos.

• Compreender a produção e o papel histórico das


instituições sociais, políticas e econômicas, associando-
as as práticas dos diferentes grupos e atores sociais, aos
princípios que regulam a convivência em sociedade, aos
direitos e deveres da cidadania, à justiça e à distribuição
dos benefícios econômicos.

• Traduzir os conhecimentos sobre a pessoa, a sociedade,


a economia, as práticas sócias e culturais em condutas
de indagação, análise, problematização e protagonismo
diante de situações novas, problemas ou questões da
vida pessoal, social, política, econômica e cultural.

• Entender os princípios das tecnologias associadas ao


conhecimento do indivíduo, da sociedade e da cultura,
entre as quais a de planejamento, organização, gestão e
trabalho de equipe, e associa-los aos problemas que se
propõem resolver.

• Entender o impacto das tecnologias associadas


às Ciências Humanas sobre a sua vida pessoal,
os processos de produção, o desenvolvimento do
conhecimento e a vida social.

• Entender a importância das tecnologias contemporâneas


de comunicação e informação para planejamento, gestão,
organização e fortalecimento do trabalho de equipe.

• Aplicar as tecnologias das ciências humanas e sociais


na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes
para a sua vida.

Todas estas competências e habilidades apresentadas devem nortear


as atividades dos professores em seus programas e atividades a serem
desenvolvidos com seus alunos no Ensino Médio.

Atividade de Estudo

1) Segundo os PCNs, o que implica a ausência das habilidades e competências


filosóficas?
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Metodologia do Ensino de Filosofia

2) Por que tais habilidades e competências são importantes na formação do


educando?
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3) Por que se deve tomar cuidado na escolha das habilidades e competências


a serem desenvolvida na disciplina de Filosofia?
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4) Qual a relação entre habilidades/competências e os conteúdos?


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5) destaque três objetivos da área de Ciências Humanas e suas Tecnologias:


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HABILIDADES DE RACIOCÍNIO DENTRO DO


PROGRAMA DE FILOSOFIA PARA CRIANÇA
Lipman discordava da teoria de Piaget, quando este se referia que
as crianças em idade mais tenra não possuem capacidade de abstração e
compreendem somente as atualidades concretas e sensoriais cujos conceitos,
por serem abstratos, pertencem a outro mundo que não o delas. Para ele, a
teoria piagetiana é uma forma de privar o homem em seu desenvolvimento,
subestimando a sua capacidade de perceber o mundo e construir uma
compreensão do que acontece à sua volta.

74
Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

Na teoria de Lipman o ser humano é capaz de desenvolver o raciocínio Na teoria de Lipman


crítico desde a mais tenra idade, tornando-se complexo com o passar do tempo o ser humano é
e as exigências que vão sendo tomadas dentro da comunidade de investigação capaz de desenvolver
(CI). Ao contrário da teoria de Piaget, o raciocínio crítico não surge inatamente, o raciocínio crítico
é um processo que se desenvolve socialmente. O pensar, o conhecimento e o desde a mais tenra
significado são construções sociais que se articulam e tornam-se complexos. idade, tornando-se
complexo com o
Conclui-se então que a abstração não é atividade restrita aos adultos, apesar
passar do tempo.
de apresentar uma graduação diferenciada. Por isso, a criança deve estar em
contato com as elaborações mentais mais complexas, para que estas não
lhes causem estranhamento quando tiverem que lidar com as mesmas mais
adiante de suas vidas.

Para isso é necessário que se apresente o problema e se acompanhe o


seu desenvolvimento. O mais importante não é a solução do problema, até
porque não se pode exigir de uma criança de seis ou sete anos a solução
de problemas complexos. Para orientá-los nesta caminhada é necessário
acompanhamento dos pais e da escola, agora, ignorar que as crianças não
capazes de identificar diante de uma situação as implicações, os motivos ou
as alternativas, é como se dissesse a elas que elas não pensam.

O diálogo é importante e fundamental neste programa educativo, por ser


provocativo, o que nos obriga a ver o problema a partir do outro, o que não O diálogo nos obriga
significa que se tenha que abdicar de suas ideias, pois conhecer o que outros a ver o problema a
pensam alargam nossos horizontes. A partir do diálogo se constrói novos partir do outro.
valores, ele resgata boas razões ou mesmo a evidência da sua fragilidade, já
que neste método não se avalia somente os argumentos apresentados, mas
também, sobre a forma de sua sustentabilidade e validade. Por meio do diálogo
é possível criar novos valores, sem abdicar-se dos valores individuais. Para
Lipman o fundamental não é o consenso ou a concordância em um diálogo,
mas a consciência da existência de outras razões para explicar a realidade.

Outra característica dentro deste método é a construção do significado A criança possui


narrativo, este tem por objetivo ajudar a esclarecer situações que envolvem a necessidade de
construir e identificar
pensamentos, crenças e valores. Assim como outros programas baseados no
o significado que
construtivismo, percebe-se aqui também que a criança possui a necessidade
socialmente é
de construir e identificar o significado que socialmente é configurado, o sentido
configurado.
particular e o significado e papel da narrativa.

A capacidade simbólica da linguagem e suas abstrações, partilhadas


e mediadas na comunidade de investigação geram uma história. O
mecanismo utilizado permite à criança a compreensão do processo,
ajudando-a compreender a experiência vivenciada no grupo e a sua própria
experiência individual.

75
Metodologia do Ensino de Filosofia

As situações que se encontram nas histórias deste programa, têm por


objetivo evidenciar circunstâncias dos personagens aproximando-os do leitor.
O diálogo em torno do que foi lido na história na comunidade de investigação,
ocasiona a busca de significados e a desconstrução, obriga os estudantes a
usarem os procedimentos da razão, chamado aqui, de programa de disposições
mentais e habilidades de raciocínio, para identificar as evidências, construir
hipóteses, verificar compatibilidades. Estas ferramentas são utilizadas para
submeter o mundo a reflexão e a compreensão. Esta atitude ajuda o estudante
escapar da forma dogmática e autoritária que a sociedade impõe, e que por
muitas vezes, a escola reproduz.

O programa quer que o estudante torne-se investigador e que os


professores estejam preocupados que seus educandos aprendam o movimento
do pensamento inerente em suas disciplinas, a dinâmica interna e a produção
das mesmas. O objetivo é transcender a pura mecânica do aprendizado de
conteúdos, o que se quer é que além de aprender o resultante do processo
investigativo, se domine o seu procedimento.

Para alcançar esta atitude de investigador, são necessárias algumas


características básicas:

• A discussão filosófica é cumulativa, supera o tratamento superficial e linear.


Trabalha com a articulação entre os conhecimentos adquiridos, rompe a
sobreposição de informações.

• É participativa: ouvir, falar, refletir, reconsiderar, são elementos fundamentais


para valorizar o que se aprende e aferir o já sabido.

• Não é autoritária e não é doutrinária, pois sua característica se funda no


diálogo.

• Cultiva os valores do raciocínio e investigação e dá significado maior ao


ritual da apreensão sensível.

• Ocasiona que os participantes aprendam uns com os outros, fortalecendo


a ideia de que todo aprendizado é construção coletiva.

• Promove o raciocínio ao invés de meras opiniões, conferindo maior solidez


ao pensamento.

76
Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

Para concretizar os passos destacados, Lipman afirma ser necessário


o professor assegurar em suas aulas o desenvolvimento das seguintes
habilidades:

• Concentrar-se numa questão • Identificar contradições


• Elaborar e responder • Lidar com ambiguidades
perguntas e desafios • Buscar consistência e validade
• Analisar argumentos • Trabalhar com analogias
• Dar razões • Compreender as conexões
• Ponderar sobre a credibilidade entre parte-todo e todo-parte
as fontes de informações • Trabalhar com analogias
• Observar • Construir hipóteses
• Deduzir • Estabelecer relações
• Induzir de causa e efeito
• Emitir juízo de valor • Contextualizar
• Definir • Hierarquizar
• Identificar pressuposições • Classificar
• Decidir por uma ação • Gerar ideias correlatas
• Interagir com outros • Prever consequências
• Concluir • Identificar razões expressas
• Usar a lógica relacional e não expressas

Atividade de Estudo

1) Em que Lipman discordava de Piaget sobre a teoria da aprendizagem na


infância?
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2) Como Lipman conceitua: o pensar, o conhecimento e o significado?


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Metodologia do Ensino de Filosofia

3) Por que o diálogo se faz importante no programa de Lipman?


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4) O que espera do educando e do educador no Programa de Filosofia para


Criança de Mattew Lipman?
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5) Cite cinco habilidades de raciocínio presentes no programa de Lipman:


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HABILIDADES DE RACIOCÍNIO DENTRO DO


PROGRAMA DO CENTRO DE FILOSOFIA EDUCAÇÃO
PARA O PENSAR

Este programa Filosófico-pedagógico busca uma educação emancipatória,


e através da Filosofia, torna-se mais fácil compreender as implicações e o
significado de tal educação. Uma educação reflexiva exige um ensino de
Filosofia que assuma sua tarefa crítica perante a sociedade e a realidade na
qual está inserida.

O Centro de Filosofia Educação para o Pensar junto com a Editora


Sophos formam o S.E.R. – Sistema de Ensino Reflexivo. Esta comunidade
tem como preocupação essencial a formação continuada de todos os
educadores da escola, afinal, Educar para o Pensar é dever de todos.

78
Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

Porém, o profissional que coordenará as atividades e reflexões dentro


deste Programa deverá ter um entendimento mais apurado de toda a
metodologia, do fio condutor dos conteúdos do referencial teórico (desde a
educação infantil até o ensino médio).

A preocupação fundamental do Centro, no tocante à formação dos


educadores desde o seu início, traduz-se numa constante expectativa de abrir
espaços dentro da escola. Sabendo que a Filosofia nunca saiu da escola, ela
deve ocupar seu lugar, destacar-se e, assim, contribuir para uma elevação na
reflexão, análise da realidade e inserção das pessoas em um projeto de uma
sociedade mais justa, livre e fraterna. A busca deste objetivo começa já nos
primeiros anos de escolaridade.

Com base no programa de Filosofia para crianças do professor Matew


Lipman, o Centro de Filosofia Educação para o Pensar, também admite
o conhecimento a partir da comunidade, acrescentou à sigla o conceito de
aprendizagem, o que o diferencia do primeiro programa. Enquanto Lipman se
refere à Comunidade de Investigação, O Centro de Filosofia considera como:
Comunidade de Aprendizagem Investigativa (CAI). A partir desta comunidade
pode ser desempenhado um trabalho da seguinte forma:

• leitura do episódio da novela filosófica;

• levantamento das ideias relevantes (através de perguntas ou outra


modalidade);

• o diálogo filosófico (discussão);

• registro dos pontos principais da aula (atividades para maior entendimento


e ampliação das ideias discutidas);

• avaliação da aula com os alunos e registros.


A Filosofia da
emancipação que se
O Centro de Filosofia Educação para o Pensar, defende um ensino busca com crianças,
filosófico, em que educadores e educandos levem em consideração a adolescentes e
realidade na qual estão inseridos. Por isto, a Filosofia da emancipação que jovens é produzida
se busca com crianças, adolescentes e jovens é produzida por pensadores e por pensadores e
educadores que nutrem os mais elevados senti¬mentos e parâmetros éticos educadores que
para a condição humana. Observe, a seguir, uma representação do S.E.R. e o nutrem os mais
Centro de Filosofia Educação para o Pensar. elevados senti¬mentos
e parâmetros éticos
para a condição
humana.

79
Metodologia do Ensino de Filosofia

Figura 1 – O “guarda-chuva” do S.E.R.


Fonte: Disponível em: <https://sites.google.com/a/portalser.net/portalser-net/
In%C3%ADcio/Sobre-o-SER/guarda_chuva.jpg>. Acesso em: 15 ago. 2009.

Dentro deste Sistema de Ensino Reflexivo, este Programa Filosófico-


pedagógico, defende que o papel da Filosofia nos dias atuais, a partir da
realidade que vivemos, é o de produzir cidadania, consciência histórica,
responsabilidade moral, elevação ética, participação política e sensibilização
estética nas gerações atual e futura, bem como nos educadores e familiares.

No que diz respeito às habilidades de raciocínio o Sistema de Ensino


Reflexivo S.E.R. destaca:

• Desenvolver a capacidade de integração, socialização e interação.


• Conhecer a si mesmo.
• Desenvolver a capacidade de raciocínio.
• Desenvolver a curiosidade e a criatividade.
• Desenvolver a capacidade de investigação e compreensão: aprender a
perceber, reconhecer, definir, distinguir, constatar, enfatizar, explicar.
• Desenvolver a capacidade de comunicação e representação.
• Crescimento pessoal e interpessoal.
• Desenvolver a compreensão ética e política da sua vivência no mundo.
• Desenvolver a capacidade de encontrar sentido na(s) experiência(s).
• Descobrir alternativas.
• Descobrir a imparcialidade.

80
Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

• Descobrir a coerência.
• Descobrir a capacidade de oferecer razões para as crenças.
• Descobrir a globalidade.
• Descobrir situações.
• Descobrir as relações parte-todo.
• Desenvolver a pesquisa, a investigação.
• Desenvolver a observação.
• Respeitar o outro.
• Respeitar as regras estabelecidas.
• Formar com os colegas a Comunidade de Aprendizagem Investigativa.

Para obter mais informações sobre este programa de Filosofia acesse o site:

http://www.portalser.net/

a) Atividade e Instrumentos de Avaliação

É necessária a escolha dos meios que melhor avaliam a aquisição das


competências e habilidades destacadas anteriormente. Para a escolha das
melhores atividades e instrumentos avaliativos, deve-se levar em consideração
alguns aspectos de caráter prático:

• A importância maior deve ser dada as atividades que, de uma forma


mais completa e rigorosa, permita avaliar as habilidades e competências
consideradas pelo educador mais importantes.

• Uma única atividade pode ao mesmo tempo avaliar várias competências e


habilidades. Os critérios de avaliação do desempenho dos estudantes nas
atividades solicitadas devem demonstrar a importância relativa de cada
competência avaliada.

• Pode ser atribuído o mesmo teste em momentos separados para avaliar


habilidades e competências distintas, caso estas tenham diferentes pesos,
como atividades idênticas podem apresentar diferentes pesos na avaliação
final do estudante.

• A avaliação é o reflexo da prática pedagógica adotada. Portanto, a


linguagem escrita da avaliação deve ser a mesma utilizada durante as
aulas pelo professor.

• Na avaliação somativa deve ser levado em consideração que existem


habilidades e competências que só podem ser adquiridas ao final da
unidade, levando em consideração o processo.

81
Metodologia do Ensino de Filosofia

• A proposta enquanto condição é a melhor forma para a avaliação, pois a


pressão impede os estudantes de raciocinarem cuidadosamente, que é o
que importa em Filosofia. Portanto, as avaliações não devem ser longas
e cansativas, permitindo aos estudantes cumprirem com êxito todas as
atividades propostas.

b) Testes Escritos

De acordo com as competências e habilidades filosóficas escolhidas


pelo professor a serem avaliadas, pode ser montada a avaliação, em uma
linguagem clara e mais direta possível. As atividades avaliativas devem
levar em consideração os problemas, as teorias e os argumentos filosóficos
destacados na tabela de competências filosóficas básicas. As perguntas
devem estar contextualizadas a realidade do estudante, não deve aparecer de
forma estranha a eles. Como já foi dito, o estudante deve ter tempo suficiente
para completar a atividade, o importante não é a rapidez no raciocínio e sim, a
sua qualidade. O tempo não está relacionado ao número de perguntas feitas e
sim, a forma das perguntas e as competências e habilidades que elas avaliam.
Uma avaliação com perguntas vagas pode levar muito mais tempo para ser
completada a um teste com perguntas diretas e claras.

Para averiguar se o teste está de bom tamanho, o professor pode realizá-


lo antes de aplicar com os estudantes, tendo por base que deve atribuir ao
aluno o dobro do tempo que utilizou para realizar a avaliação.

c) Ensaios Filosóficos

O que é um ensaio filosófico? É um texto argumentativo no qual se defende


uma posição sobre um determinado problema filosófico. Dentro do ensaio o
autor deve demonstrar que sabe articular clara e corretamente os problemas,
teorias e argumentos em causa. Sempre aparece em forma de resposta a uma
pergunta, que pode ser respondida com um sim ou com um não. O estudante,
ou mesmo o professor deve avaliar criticamente os principais argumentos em
confronto na discussão e tomar partido por uma posição e defendê-la. Não
significa que basta o autor dar a sua própria opinião. Em um ensaio deve-
se avançar nos argumentos e, ao contra-argumentar apresentar resposta
aos argumentos contrários a sua tese de defesa. Caso não tome partido a
nenhuma das partes, deverá se manifestar com argumentos o porquê.

Para principiantes na autoria de ensaios, o fundamental é que seus


escritos não sejam muito longos, permitindo uma maior concentração no que
deve ser essencial.

82
Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

Como foi dito, sobre os títulos dos ensaios, estes devem aparecer em
forma de perguntas como:

• Será que as plantas possuem direitos?

• Será que nossas ações são boas ou más apenas em função das suas
consequências práticas?

• Será que todas as músicas expressam sentimentos?

Os títulos podem ser: ‘Os direitos das plantas’, ‘A música e a expressão de


sentimentos’.

Não obrigam aos estudantes tomarem posição ou a ser críticos e


argumentativos, pelo fato de não haver a provocação filosófica na forma
apresentada no título. O professor de Filosofia ao avaliar um ensaio deve
prestar atenção a alguns aspectos:

• Se os estudantes formulam corretamente o problema em causa.

• Se os argumentos utilizados são bons, fortes e consistentes, se não


cometem falácias e se respondem as principais objeções que costumam
ser colocadas à teoria defendida pelo estudante.

Para orientar o estudante na construção de seu texto, o professor deve


passar outros textos, como conjunto de leitura, bibliografia central, que tratem
sobre o tema.

Atividade de Estudo

1) Cite 3 objetivos do Centro de Filosofia Educação para o Pensar:


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2) Cite cinco habilidades de raciocínio desenvolvidas a partir desta metodologia:


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83
Metodologia do Ensino de Filosofia

3) Como escolher os critérios avaliativos?


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4) Como devem aparecer as perguntas nas avaliações?


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5) O que é um ensaio filosófico?


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6) O que o autor deve deixar evidente em seu ensaio?


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7) Como distinguir um ensaio de outro tipo de texto?


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8) Como desenvolver o assunto em um ensaio?


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84
Capítulo 2 VARIAÇÕES NA METODOLOGIA DE ENSINO DE FILOSOFIA

9) Que aspectos o professor deve focar ao avaliar um ensaio?


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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
A Filosofia possui extrema importância não somente na grade curricular
escolar, assim como é uma proposta de vida em que oportuniza nova postura
reflexiva. A Filosofia ainda é vista como ferramenta, instrumento facilitador em
nossas reflexões, ao oferecer questões como “o quê?”, “como?”, “Pra quem?”,
“por quê?”, e “para quê?”.

Percebemos que buscar por um ensino filosófico é buscar uma coletividade


humana, pensando o porquê da existência. Esta abertura, além de capacitar
o indivíduo a desenvolver uma determinada habilidade, sensibiliza-o para
um estilo de reflexão, ampliando-a e efetivando-a, despertando um modo de
pensar, uma maneira de ser e fazer a subjetividade de cada um.

O indivíduo que ao buscar sua emancipação utiliza o conhecimento poderá


alcançar uma visão crítica e ética da realidade, pois a reflexão histórica estará
ligada ao mundo do indivíduo coletivo, histórico e social. Portanto, a Filosofia
é considerada paideia, a que forma o indivíduo para a coletividade humana.

Encerramos afirmando que é pela reflexão e pelo conhecimento que o


homem pode sonhar e chegar aos caminhos de sua libertação, estando apto
para a intervenção de sua história e realidade, com o objetivo de garantir
respeito e dignidade. Por este e outros motivos que o conhecimento deve ser
competente, criativo, crítico e criterioso, demonstrando-se um conhecimento
alinhavado dentro de uma reflexão filosófica.

85
Metodologia do Ensino de Filosofia

REFERÊNCIAS
BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Parâmetros Curriculares
Nacionais: Ensino Médio. Brasília: MEC, 2000. Disponível em: <http://portal.
mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2008.

______. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes


e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/LEIS/l9394.htm>. Acesso em: 15 set. 2009.

DIÓGENES, Laércio. Vida e doutrina de filósofos ilustres. Trad. Mário da


Gama Cury. Brasília: UnB,1988.

HOUAISS. Dicionário eletrônico Houlaiss da língua portuguesa. São


Paulo: Objetiva Ltda, 2009. CD-ROM.

Kant, I. Crítica da faculdade do juízo. Trad. Valério Rohden e Antônio


Marques. Rio de Janeiro: Forense, 1993.

KOHAN, Walter O. (org). Filosofia caminhos para o seu ensino. Rio de


Janeiro: DP&A, 2004.

MARINOFF, Lou. Pergunte a Platão. 6 ed. Rio de Janeiro: Record, 2008.

SANTOS, Nilson. Filosofia para crianças: investigação e democracia na


escola. São Paulo: Nova Alexandria, 2002.

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