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SUMÁRIO:

INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 3
1. DIREITOS SOCIAIS E O DIREITO À SAÚDE ....................................................... 4
2. A SAÚDE COMO DIREITO FUNDAMENTAL ....................................................... 6
3. TRAJETÓRIA NORMATIVA DO SERVIÇO DE SAÚDE NO BRASIL .................. 8
4. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – ESTRUTURA, PRINCÍPIOS E DIVISÃO DE
COMPETÊNCIAS JURÍDICAS ................................................................................ 10
5. DIREITO DO CONSUMIDOR CONSTITUCIONAL .............................................. 12
6. TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO ........................................... 14
7. DIREITO DO CONSUMIDOR APLICADO À SAÚDE .......................................... 22
8. CONTRATOS DE SAÚDE À LUZ DO CDC ....................................................... 24
9. A JURISPRUÊNCIA DO STJ SOBRE CONTRATO DE SAÚDE ........................ 26
10. PRÁTICAS ABUSIVAS EM SERVIÇOS DE SAÚDE ....................................... 30
11. RESOLUÇÕES DA AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE (ANS) SOBRE PLANOS
DE SAÚDE ............................................................................................................... 33
12. JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE ........................................................................ 37
13. LEI DOS PLANOS DE SAÚDE (LEI Nº 9.656/1998) ........................................ 39
14. PLANOS DE SAÚDE X DIREITO DO CONSUMIDOR: DESVIO DE
FINALIDADE ........................................................................................................... 43
15. Lei do Acompanhante para os consumidores de plano de saúde .............. 44
16. ALCOLISMO: UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA SOB A PERSPECTIVA
CONSUMERISTA .................................................................................................... 46
17. TRATAMENTO PSICOTERAPICO E COBERTURA OBRIGATÓRIA DAS
DOENÇAS MENTAIS .............................................................................................. 48
18. A RELAÇÃO HOSPITAL-PACIENTE SOB A ÓTICA DA RESPONSABILIDADE
OBJETIVA ............................................................................................................... 51
19. REVISÃO .......................................................................................................... 54
BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................... 56

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INTRODUÇÃO

Este curso de direito aplicado aos serviços de saúde exige uma abordagem
multidisciplinar tendo em vista que o vocábulo direito exigirá um desdobramento a fim
de esclarecer que o Direito é composto de vários “direitos”.

Assim é que este “direito” aplicado aos serviços de saúde envolve então uma
explicação de direito constitucional, de teoria dos direitos fundamentais e direitos
sociais, envolverá também explanação sobre direito do consumidor e direito civil na
parte contratual.

Para além das disciplinas jurídicas mais tradicionais teremos também uma incursão
sobre a matéria específica com a apresentação do direito regulatório que é
desempenhado pela Agência Nacional de Saúde (ANS) sobre a qual teremos também
um tópico explicativo.

Outro tema que será desdobrado é o da trajetória normativa do sistema de saúde no


Brasil que se inicia no começo do século 20 e vai desembocar no chamado Sistema
Único de Saúde (SUS) que é conhecido por ser o maior sistema de saúde público do
mundo.

Dada a sua magnitude, o SUS também será objeto de análise a fim de demonstrar
sua estrutura, princípios jurídicos e competências administrativas e jurídicas como
forma de compreensão de todos os mecanismos legais que permitem a
implementação de todo o serviço de saúde.

Um bloco final será destinado a uma análise prática das consequências jurídicas
sobre o sistema de saúde e a relação com as operadoras privadas, neste sentido a
relação Hospital-Paciente sob a ótica da responsabilidade objetiva; o tratamento
psicoterapico e a cobertura obrigatória das doenças mentais por parte dos planos de
saúde, chegando ao tema da interrelação jurídica entre o direito à saúde, o direito do
consumidor e o alcoolismo visto como problema de saúde pública.

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1. DIREITOS SOCIAIS E O DIREITO À SAÚDE

Os movimentos sociais, reivindicações e lutas que ocorreram ao longo do tempo,


atravessando séculos, foram de suma importância para a criação dos Direitos sociais,
com o intuito de alcançar liberdade, igualdade e dignidade para todos os seres
humanos.

Desta forma, os direitos sociais são nada mais do que direitos fundamentais e
garantias básicas que devem ser compartilhados por cada indivíduo da sociedade,
sem qualquer exceção, devendo ser respeitada toda e qualquer diferença de raça,
orientação sexual, gênero, etnia, religião, classe econômica e etc.

É importante ressaltar que as principais conquistas dos direitos sociais ocorreram nos
séculos XIX e XX, após a ocorrência da Revolução Industrial, bem como está
presente na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948 e no Pacto
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966.
Ambos os diplomas serviram de base para a Constituição Federal do Brasil e também
de vários outros países e, na nossa, tais direitos estão devidamente previstos em seu
artigo 6º:

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação,


o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a
assistência aos desamparados, na forma desta Constituição.

Conforme observamos do artigo acima, existem vários âmbitos de direitos sociais,


contudo, iremos focar no Direito à saúde para desenvolvermos a nossa apostila. Pois
bem, é importante saber que ao falarmos em Direito social à saúde, não devemos ter
em mente, somente a ausência de doenças e sim, juntamente com isso, a proteção
da qualidade de vida de cada indivíduo pertencente à sociedade, levando sempre em
consideração os dizeres constantes no preâmbulo da Constituição da Organização
Mundial de Saúde (OMS), o qual demonstra a amplitude deste conceito: “Saúde é o

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estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de
doença”.

Como bem explicita o conceito trazido pela OMS, trata-se também de um estado de
completo bem-estar social e, por essa razão devemos saber que tal conceito também
envolve o tratamento de moléstias, o fornecimento de medicamentos, medidas de
prevenção, entre outras políticas públicas.

Para a proteção do direito à saúde, a Constituição Federal traz, ainda, contornos


pormenorizados através dos artigos 196 a 200, prevendo princípios e diretrizes que
resguardam a exigência de ações estatais, o que lhe traz a característica de direito
subjetivo público, visto que é um direito de todos advindo de implementações do
Estado para diminuição de risco de doenças e engloba, também, a manutenção para
que seja propiciado o acesso universal, ou seja, devendo ser, de fato, um Direito de
todos.

Sendo um direito de todos, é possível que seja exigido, reclamado e/ou combatido
por meio da via judicial, como por exemplo em situações de negação de
medicamentos, cirurgias, bem como solicitar a abstenção de qualquer ação estatal
que prejudique a saúde individual ou coletiva, como por exemplo, atualmente com a
PL do Veneno – Projeto de Lei nº 6.299, que está gerando um alvoroço social em
razão do possível aumento da utilização de agrotóxicos em nossos alimentos, o que
prejudicará direta e nocivamente a saúde de todos.

Material Complementar: A eficácia dos direitos sociais. Flávia Piovesan e Renato


Stanziola Vieira. Revista beroamericana de Filosofía, Política y Humanidades. Año 8,
Nº 15: Primer semestre de 2007. ISSN 1575-6823
http://www.ebah.pt/content/ABAAABfxcAG/a-eficacia-dos-direitos-sociais-
professora-flavia-piovesan

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2. A SAÚDE COMO DIREITO FUNDAMENTAL

Como bem introduzido no tópico anterior, o direito à saúde é tratado como um direito
social, fudamental, vez que trata-se de uma questão de cidadania, pertencente à
coletividade de uma forma geral, englobando acesso à tratamentos, medicamentos,
boa alimentação, assistência social, moradia digna e trabalho.

Vale relembrar que o direito à saúde, nem sempre foi alvo da proteção estatal, vez
que há muitos anos atrás, a saúde era sinônimo de felicidade, ou até mesmo, ligada
à alma e, somente com na transição do constitucionalismo liberal para o
costitucionalismo social é que a saúde ganhou impostância e proteção, tendo também
como ponto curcial, a segunda guerra mundial, ocorrida entre 1939 a 1945, pois muito
se falava em dignidade da pessoa humana e, tal coisa não poderia existir sem que
fosse permitido amplo acesso à saúde.

Somente na Constituição Federal de 1988 o tema da saúde ganhou relevância, pois


nas anteriores era mencionado de forma secundária, e nessa, dentro do capítulo da
ordem social, existe uma secção inteira sobre o assunto.

A importância do direito fundamental à saúde passou a aumentar com a percepção


de que é imprescindível a relação do homem com o seu meio social e ambiental e,
claro, sem ignorar a importância da saúde individual, aqui deve-se levar em
consideração a abrangência aos campos da política e da legislação, que devem
caminhar juntamente levando em consideração a efetividade desse direito
fundamental.

Hoje em dia, conforme já explicitado anteriormente, não podemos tratar de tal direito
somente naquilo que diz respeito à dimensão curativa da doença, e sim, também, a
promoção da saúde, vigilância da saúde, políticas públicas saudáveis, cidades
saudáveis, englobando as condições de vida e de trabalho de cada um sob o ângulo
social.

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Devemos entender que tais direitos abarcam, ainda, o esclarecimento e educação da
população, higiene, saneamento básico, lazer, campanhas de vacinação, dentre
outras coisas, devendo o Estado formular e executar políticas econômicas e sociais,
além da prestação de serviços públicos de promoção, prevenção e recuperação.

Ainda, devemos entender que como protetor e aplicador deste direito fundamental,
existe o Estado Democrático de Direito, que visa superar desigualdades sociais para
que seja realizada a justiça social, visto que o direito à saúde está englobado ao
direito à vida, dando ao cidadão, o garantismo estatal da dignidade da pessoa
humana.

Material Complementar: Video Aula. Saber Direito. Tema: Histórico e


Desafioshttps://www.youtube.com/watch?v=xl0HLPBdkEI

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3. TRAJETÓRIA NORMATIVA DO SERVIÇO DE SAÚDE NO BRASIL

Conforme citado anteriormente, sabemos que a Constituição de 1988 foi quem trouxe
a saúde como direito fundamental e como dever do Estado assegurar a sua garantia.
Ocorre que, para que possamos entender o panorama geral que culmina com a
instituição de um sistema único de saúde pela constituição de 1988, falaremos um
pouco sobre a trajetória do serviço de saúde no Brasil.

Pois bem, em 1920 foi criado um primeiro modelo de previdência social, que eram as
Caixas de Aposentadoria e Pensão (CAPS), contudo, asseguravam somente
funcionários ferroviários marítimos. Já em 1930 houve a unificação do CAPS em
Institutos de aposentadoria e pensões (IAPS), que asseguravam outras categorias
profissionais, mediante registro na carteira de trabalho.

Assim, o contexto da saúde no Brasil, nesse momento era dividido em dois campos:
saúde pública, sob o comando do Ministério da saúde e direcionada principalmente
às zonas rurais e aos setores mais pobres da população, com atividades de caráter
preventivo x medicina previdenciária, dirigida à saúde individual dos trabalhadores
formais, voltada prioritariamente para as zonas urbanas, estando a cargo dos
institutos de pensão.

Contudo, sob a justificativa de que os IAPS encontravam-se em situação de


insolvência, foi criado o INPS – Instituto Nacional de Previdência Social, que
uniformizou os benefícios dos seus contribuintes, passando a priorizar a contratação
de serviços privados para o atendimento de seus beneficiários, o que impulsionou um
caminho aberto para a corrupção, gerando uma grande crise.

Ocorre que, diante de um cenário mundial que ungia um pensamento amplo em


relação à saúde e de acesso mais universal para todos, o Brasil, por meio do
Ministério da Saúde, ampliou o repasse de verbas para os Estados e passou a
desenvolver novos projetos direcionados ao controle de algumas doenças, como a
tuberculose, hanseníase e câncer e, em 1975, por meio da Lei 6.229, foi instituído o

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Sistema Nacional de Saúde, ponto crucial para a divisão do dos campos de atuação
da saúde pública e da assistência médica previdenciária.

Foram então, a partir dai, criados vários programas, como o Piass – Programa de
Interiorização de Ações de Saúde e Saneamento, cujo objetivo é a expansão da rede
de atenção primária de saúde em municípios do interior, o que também refletia
princípios defendidos em âmbito nacional pela OMS (Organização Mundial de
Saúde).

Em 1977 foi criado o Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência Social


(INAMPS), pela Lei nº 6.439, que instituiu o Sistema Nacional de Previdência e
Assistência Social (Sinpas) e definiu um novo desenho institucional para o sistema
previdenciário, modificando atividades e instituições, pois transferiu parte das funções
até então exercidas pelo Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) para duas
novas instituições. A assistência médica aos segurados foi atribuída ao INAMPS e a
gestão financeira, ao Instituto de Administração Financeira da Previdência e
Assistência Social (IAPAS), permanecendo no INPS apenas a competência para a
concessão de benefícios.

Foram criados também, o Ppreps (Programa de Preparação Estratégica de Pessoal


de Saúde), o CEBES (Centro brasileiro de estudos de saúde), a Abrasco (Associação
brasileira de pós graduação em saúde coletiva), e, esses dois últimos, foram peças-
chaves para a construção de uma área de conhecimento de saúde coletiva.

Em 1986 houve a 8ª conferência nacional de saúde, solicitada pelo Ministro da Saúde,


já direcionada para uma cobertura mais universal dos serviços de saúde e que, entre
os seus principais temas estava o dever do Estado e o direito do cidadão no tocante
à saúde e a reformulação do sistema nacional de saúde e financiamento do setor.
Em razão disso, em 1987 foi criado o SUDS (Sistema unificado e descentralizado de
saúde), que ainda era gerido pelo INAMPS e, em 1988, finalmente foi criado o
Sistema Único de Saúde, juntamente com a redemocratização do País.

Material Complementar: História da Sáude Pública no Brasil – Um Século de Luta


pelo direito à Saúde. https://www.youtube.com/watch?v=SP8FJc7YTa0
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4. SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE – ESTRUTURA, PRINCÍPIOS E DIVISÃO DE
COMPETÊNCIAS JURÍDICAS

Após o breve histórico da saúde no Brasil, chegamos ao ponto de criação do Sistema


único de saúde, cuja gestão fica a cargo do Ministério da Saúde que é quem formula,
monitora, fiscaliza, avalia políticas e ações juntamente com o Conselho Nacional de
Saúde e, dentro de sua estrutura encontram-se: Funasa, ANS, Anvisa, Fiocruz,
Hemobrás, Inca, Into e mais oito hospitais federais.

O Sistema Único de Saúde foi trazido com o advento da Constituição de 1988,


abrangendo desde os procedimentos mais simples, até os mais complexos, o que
antes era somente feito por entidades filantrópicas. Além disso, proporcionou acesso
universal ao sistema público de saúde e com a Lei 8.080/90, aumentou o abrangência
do entendimento de que não se deve somente se precaver de doenças, e sim
promover a qualidade de vida, a redução de desigualdades regionais e
desenvolvimento econômico e social.

Fazem parte da estrutura jurídico-formal do SUS a Secretaria Estadual de Saúde,


Secretaria Municipal de Saúde, Conselhos de Saúde, Comissão Intergestores
Tripartite, Comissão Intergestores Bipartite, Conselho Nacional de Secretário da
Saúde, Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde e Conselhos de
Secretarias Municipais de Saúde.

Em relação aos princípios do SUS, podemos dizer que são 3 basilares, quais sejam:
universalização, equidade e integralidade. Da universalização, entende-se que, como
já demonstrado, o Estado deverá assegurar o direito à saúde a todos os cidadãos
sem qualquer preconceito de origem racial, de gênero, sexo, ocupação ou outras
características pessoais ou sociais.

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No que diz respeito à Equidade, o objetivo é diminuir as desigualdades e deve-se
investir mais no local mais carente e sobre a Integralidade, podemos falar em uma
articulação da saúde com outras políticas públicas, a fim de promover uma atuação
intersetorial entre diferentes áreas que possam de alguma forma repercutir na área
da saúde ou na qualidade de vida de cada ente da sociedade.
Mais uma característica do SUS é a divisão de competências existente, vez que cada
ente possui a sua responsabilidade, vejamos: 1) União – faz a gestão federal através
do Ministério da Saúde e financia a rede pública de saúde. O Ministério é responsável
por formular políticas nacionais, mas não as aplica na prática, pois isso quem fará
serão seus parceiros, Estados, Municípios, ONGS, empresas, fundações, dentre
outras, bem como tem a função de controlar o SUS, fazendo planejamentos,
elaborando normas e etc.

No que diz respeito aos Estados e o Distrito Federal, as Secretarias fazem a gestão
da saúde, aplicando os recursos repassados pela união, seus próprios e os dos
municípios, podendo fazer suas próprias políticas de saúde, visto que planeja e
cordena o SUS em nível estadual, respeitando sempre a normatização federal
imposta.

E, por fim, os Municípios executam as ações e serviços em seu território aplicando os


seus próprios recursos, os repassados pelo Estado e pela União na melhoria de suas
políticas públicas, podendo, ainda, fazer parceria com outros municípios a fim de
garantir o atendimento pleno de sua população. Ajuda ainda no planejamento de
políticas nacionais e estaduais de saúde.

Material Complementar: Dráuzio Varela. Sistema de Saúde no Brasil


https://www.youtube.com/watch?v=brnUrUU81Ow

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5. DIREITO DO CONSUMIDOR CONSTITUCIONAL

Neste tópico iremos aprofundar o tema da constitucionalização do direito do


consumidor, vez que, diante dos tópicos anteriores, trouxemos uma explanação sobre
os direitos sociais, direito à saúde e direito à saúde como um direito fundamental, e
agora, iremos adentrar em uma esfera de viés mais “privado”, e destacar que, em
razão do crescimento, difusão e proteção dos direitos fundamentais, estes passaram
a ser encarados através de uma visão mais social, constitucional.

O direito do consumidor protege e intervém em uma relação que possui uma parte
mais fraca, vulnerável, a qual não pode estar afastada de uma proteção constitucional
que imporá limites e princípios gerais de defesa, o que se observa em seu artigo 5º,
XXXII: “O Estado promoverá, na forma da Lei, a defesa do Consumidor".

Ainda, em seu artigo 170, a Constituição também menciona sobre o direito do


consumidor no capítulo que cuida da Ordem econômica e financeira, pois, mesmo
sabendo que o mercado brasileiro é livre, porém, aquele que explorá-lo, não deverá
fazê-lo de forma selvagem, aleatória, e deverá respeitar as regras levando em
consideração a proteção conferida pela constituição.

Pois bem, já ficou claro que o direito do consumidor é por inúmeras vezes citado na
Constituição Federal, haja vista sua importância social, porém, o que também deve
ficar claro é que a constitucionalização deste direito abarca a incorporação de
mandamentos e princípios constitucionais em sua legislação e aplicação junto à
sociedade.

Desta forma, assim como destacado anteriormente, dentre outros tantos que devem
ser respeitados, aqui trataremos sobre o princípio da dignidade da pessoa humana,
um dos fundamentos da república brasileira e princípio da garantia à segurança e à
vida, que deve contar com qualidade de forma sadia, em função da garantia do meio
ambiente ecologicamente equilibrado e da qual decorre o direito necessário à saúde.

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Em razão disso o legislador infraconstitucional, mais especificamente, no art. 6º,
inciso I, da Lei nº 8.078/90 (Código do Consumidor) optou por colocar como o primeiro
direito básico do consumidor, o direito a vida, vejamos:

Art. 6º. São direitos básicos do consumidor:

I – a proteção da vida, saúde e segurança contra os riscos


provocados por práticas no fornecimento de produtos e serviços
considerados perigosos ou nocivos;

Devemos, enfim, reconhecer que esses princípios refletem


diretamente nas relações de consumo, devendo, portanto,
conforme bem menciona a doutrina e a jurisprudência, serem
respeitados como matéria de ordem constitucional, pública e
social.

Material Complementar: A concepção constitucional do consumidor e sua


relevância. Rodrigo Brum Silva. Com Jur. https://jus.com.br/artigos/12792/a-
concepcao-constitucional-do-consumidor-e-sua-relevancia

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6. TEORIA GERAL DAS RELAÇÕES DE CONSUMO

Estudar a teoria Geral do direito das relações de consumo exige uma abordagem
teórica a fim de esclarecer quais são efetivamente os pontos principais que permitirão
o adequado entendimento basilar, sob a perspectiva jurídica, das relações de
consumo.

Neste sentido, é importante partir dos conceitos bases que estabelecem a relaçã de
consumo, quais sejam: consumidor; fornecedor, produto e serviço. Todos estes
conceitos decorrem do próprio código de defesa do consumidor, conforme excerto
abaixo:

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire


ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade


de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas
relações de consumo.

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou


privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material


ou imaterial.

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de


consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de caráter trabalhista.

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Para além destes conceitos introdutórios existem as questões envolvendo a
responsabilidade civil na legislação consumerista. São quatro as situações de
responsabilidade civil adotadas pelo Código de Defesa do Consumidor:

 Responsabilidade pelo vício do produto (arts. 18 e 19).

Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou


não duráveis respondem solidariamente pelos vícios de
qualidade ou quantidade que os tornem impróprios ou
inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes diminuam
o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade,
com a indicações constantes do recipiente, da embalagem,
rotulagem ou mensagem publicitária, respeitadas as variações
decorrentes de sua natureza, podendo o consumidor exigir a
substituição das partes viciadas.

§ 1° Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta


dias, pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua
escolha:

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie,


em perfeitas condições de uso;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente


atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço.

§ 2° Poderão as partes convencionar a redução ou


ampliação do prazo previsto no parágrafo anterior, não podendo
ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias. Nos
contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser

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convencionada em separado, por meio de manifestação
expressa do consumidor.

§ 3° O consumidor poderá fazer uso imediato das


alternativas do § 1° deste artigo sempre que, em razão da
extensão do vício, a substituição das partes viciadas puder
comprometer a qualidade ou características do produto,
diminuir-lhe o valor ou se tratar de produto essencial.

§ 4° Tendo o consumidor optado pela alternativa do inciso


I do § 1° deste artigo, e não sendo possível a substituição do
bem, poderá haver substituição por outro de espécie, marca ou
modelo diversos, mediante complementação ou restituição de
eventual diferença de preço, sem prejuízo do disposto nos
incisos II e III do § 1° deste artigo.

§ 5° No caso de fornecimento de produtos in natura, será


responsável perante o consumidor o fornecedor imediato,
exceto quando identificado claramente seu produtor.

§ 6° São impróprios ao uso e consumo:

I - os produtos cujos prazos de validade estejam vencidos;

II - os produtos deteriorados, alterados, adulterados,


avariados, falsificados, corrompidos, fraudados, nocivos à vida
ou à saúde, perigosos ou, ainda, aqueles em desacordo com as
normas regulamentares de fabricação, distribuição ou
apresentação;

III - os produtos que, por qualquer motivo, se revelem


inadequados ao fim a que se destinam.

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Art. 19. Os fornecedores respondem solidariamente pelos
vícios de quantidade do produto sempre que, respeitadas as
variações decorrentes de sua natureza, seu conteúdo líquido for
inferior às indicações constantes do recipiente, da embalagem,
rotulagem ou de mensagem publicitária, podendo o consumidor
exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - o abatimento proporcional do preço;

II - complementação do peso ou medida;

III - a substituição do produto por outro da mesma espécie,


marca ou modelo, sem os aludidos vícios;

IV - a restituição imediata da quantia paga,


monetariamente atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas
e danos.

§ 1° Aplica-se a este artigo o disposto no § 4° do artigo


anterior.

§ 2° O fornecedor imediato será responsável quando fizer


a pesagem ou a medição e o instrumento utilizado não estiver
aferido segundo os padrões oficiais.

 Responsabilidade pelo fato do produto (arts. 12 e 13).

Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou


estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da
existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos decorrentes de projeto, fabricação,
construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação
ou acondicionamento de seus produtos, bem como por

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informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização
e riscos.

§ 1° O produto é defeituoso quando não oferece a


segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - sua apresentação;

II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam;

III - a época em que foi colocado em circulação.

§ 2º O produto não é considerado defeituoso pelo fato de


outro de melhor qualidade ter sido colocado no mercado.

§ 3° O fabricante, o construtor, o produtor ou importador só


não será responsabilizado quando provar:

I - que não colocou o produto no mercado;

II - que, embora haja colocado o produto no mercado, o


defeito inexiste;

III - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Art. 13. O comerciante é igualmente responsável, nos


termos do artigo anterior, quando:

I - o fabricante, o construtor, o produtor ou o importador não


puderem ser identificados;

II - o produto for fornecido sem identificação clara do seu


fabricante, produtor, construtor ou importador;
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III - não conservar adequadamente os produtos perecíveis.

Parágrafo único. Aquele que efetivar o pagamento ao


prejudicado poderá exercer o direito de regresso contra os
demais responsáveis, segundo sua participação na causação
do evento danoso.

 Responsabilidade pelo vício do serviço (art. 20).

Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de


qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da
disparidade com as indicações constantes da oferta ou
mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:

I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e


quando cabível;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente


atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço.

§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a


terceiros devidamente capacitados, por conta e risco do
fornecedor.

§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem


inadequados para os fins que razoavelmente deles se esperam,
bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares
de prestabilidade.

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 Responsabilidade pelo fato do serviço (art. 14).

Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente


da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos.

§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a


segurança que o consumidor dele pode esperar, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:

I - o modo de seu fornecimento;

II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se


esperam;

III - a época em que foi fornecido.

§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção


de novas técnicas.

§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado


quando provar:

I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;

II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais


será apurada mediante a verificação de culpa.

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As relações de consumo se constituem, portanto, entre consumidores, fornecedores,
por meio de produtos e serviços. Eventuais defeitos ou danos serão apurados por
meios do sistema estruturado de responsabilidades, conforme exposto acima.

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7. DIREITO DO CONSUMIDOR APLICADO À SAÚDE

Neste tópico, de uma forma geral, trataremos do direito ao consumidor aplicado aos
serviços públicos em geral, e, obviamente, dentro deles se encontra o direito à saúde.

Para essa explanação é imperioso destacar, que o usuário dos serviços públicos pode
ser encarado como um consumidor coletivo, o qual poderá, coletivamente, ingressar
com uma medida para que haja melhoria dos serviços, tanto que, em 2008, o
Supremo Tribunal Federal decidiu que o usuário do serviço público, bem como o
terceiro não usuário podem invocar a responsabilidade objetiva, ou seja, novamente,
fica explícito aqui a questão social do tema, haja vista que uma vez havendo prejuízo
ou dano à alguém, relacionado a um serviço público ofertado pelo Estado, todos os
seus usuários poderão reivindicar e não somente aquele que foi diretamente lesado.

Conforme bem tratado no artigo 29 do Código de Defesa do consumidor, que segue


abaixo existe um aspecto coletivo envolvendo as pessoas expostas às práticas
comerciais e contratuais abusivas:

Art. 29 Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se


aos consumidores todas as pessoas determináveis ou não,
expostas às práticas nele previstas.

Desta forma, aproveitando os ensinamentos do tópico anterior e a questão acima


trazida, que dá um aspecto social ao direito do consumidor, este assume uma posição
transversal, vez que encontra-se entre o direito privado e público, visando proteger
um sujeito de direitos, um consumidor em todas as relações jurídicas frente ao
fornecedor (aqui podendo ser privado ou público).

De acordo com o STJ:

“As normas de proteção e defesa do consumidor têm índole de


ordem pública e interesse social. São, portanto, indisponíveis e
infestáveis, pois resguardam valores básicos e fundamentais da

22
ordem jurídica do Estado Social, daí a impossibilidade de o
consumidor delas abrir mão.” (STJ, Resp. 586, Rel. Min Herman
Benjamim, 2t, DJ 19/03/2010).

Sendo assim, podemos entender que, sendo o direito à saúde, um direito ofertado
pelo Estado, por dever imposto pela Constituição Federal, todo aquele que dele
utilizar ou não poderá lançar mão das normas e diretrizes alocadas no Código de
Defesa do consumidor a fim de fazer prevalecer o seu direito.

23
8. CONTRATOS DE SAÚDE À LUZ DO CDC

Como já mencionado em outros tópicos do presente estudo, sempre que se falar na


aplicação do CDC sobre qualquer relação jurídica estamos a tratar de equilibrar a
relação firmada entre fornecedores e consumidores, onde estes se encontram
hiposuficientes em relação àqueles.

Neste sentido, o próprio Superior Tribunal de Justiça já assentou registro sumular


sobre o tema tendo em vista uma série de litígios que recaiam sobre a aplicação do
CDC aos contratos de saúde, in verbis:

Súmula 608: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos


contratos de plano de saúde, salvo os administrados por
entidades de autogestão.

Não obstante ao posicionamento do STJ, visando ampliar a proteção e segurança


para os contratantes de planos de saúde, o legislativo editou a Lei n. 9.656/98, que,
dentre outras determinações, no art. 35 – C prescreve que planos de saúde tem o
dever de cobrir qualquer necessidade imperiosa e urgente na qual se encontre o
aderente.

“Art. 35 – C – É obrigatória a cobertura do atendimento nos


casos:

I – de emergência, como tal definidos os que implicarem risco


imediato de vida ou de lesões irreparáveis para o paciente,
caracterizada em declaração do médico assistente; ”

A resistência das seguradoras em aplicar tal entendimento ainda permanece pois


mesmo diante da vigência da Lei 9.656/98, se negam a cobrir tratamentos ou outros
serviços sob a alegação que foram expressamente excluídos nos contratos firmados
anteriores à referida Lei, utilizando assim a tese dos “contratos antigos”.

24
Por fim, é importante mencionarmos as incompatibilidades constantes da Lei nº.
9.656/96 em relação ao Código de Defesa do Consumidor, um exemplo é o caso em
que a Lei permite a denúncia unilateral do contrato por inadimplência do consumidor
superior a 60 dias, que o CDC proíbe que a rescisão seja feita unilateralmente sem
informação clara e precisa (III, art 6º). Sendo assim, a Lei que regula os planos de
saúde deve se curvar às normas do Código Consumerista.

Material Complementar: Código do Consumidor e os Contratos de Planos de Saúde.


II Simpósio de Direito do Consumidor - 12/09/2012 - OAB - Londrina - José Ricardo
Alvarez Vianna. https://www.youtube.com/watch?v=G2AwqQgAX58

25
9. A JURISPRUÊNCIA DO STJ SOBRE CONTRATO DE SAÚDE

Abaixo as sumulas mais importantes do STJ sobre o tema da saúde que valem a
atenta leitura:

Súmula 469 (cancelada): Aplica-se o Código de Defesa do


Consumidor aos contratos de plano de saúde.

Súmula 608: Aplica-se o Código de Defesa do Consumidor aos


contratos de plano de saúde, salvo os administrados por
entidades de autogestão.

Súmula 609: A recusa de cobertura securitária, sob a alegação


de doença preexistente, é ilícita se não houve a exigência de
exames médicos prévios à contratação ou a demonstração de
má-fé do segurado.

Para uma abordagem da jurisprudência mais abrangente separamos temas de efetiva


controvérsia e reiteradamente objeto de litígios consumeristas:

Medicamento importado sem registro na Anvisa – RN ANS 387/2015

“A exclusão da assistência farmacêutica para o medicamento


importado sem registro na ANVISA também encontra
fundamento nas normas de controle sanitário. De fato, a
importação de medicamentos e outras drogas, para fins
industriais ou comerciais, sem a prévia e expressa manifestação
favorável do Ministério da Saúde constitui infração de natureza
sanitária (arts. 10, 12 e 66 da Lei no 6.360/1976 e 10, IV, da Lei
no 6.437/1977), não podendo a operadora de plano de saúde
ser obrigada a custeá-los em afronta à lei.

26
Após o ato registral [pela Anvisa], a operadora de plano de
saúde não pode recusar o tratamento com o fármaco indicado
pelo médico assistente. Com efeito, a exclusão da cobertura do
produto farmacológico nacionalizado e indicado pelo médico
assistente, de uso ambulatorial ou hospitalar e sem substituto
eficaz, para o tratamento da enfermidade significa negar a
própria essência do tratamento, desvirtuando a finalidade do
contrato de assistência à saúde (arts. 35-F da Lei no 9.656/1998
e 7o, parágrafo único, e 17 da RN no 387/2015 da ANS).”
(REsp 1.632.752/PR, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 22/08/2017, DJe
29/08/2017)

Fertilização in vitro e inseminação artificial – Art. 7o, I, RN 338/2013 ANS

“A Resolução Normativa 338/2013 da ANS, aplicável à hipótese


concreta, define planejamento familiar como o ‘conjunto de
ações de regulação da fecundidade que garanta direitos de
constituição, limitação ou aumento da prole pela mulher, pelo
homem ou pelo casal’ (art. 7o, I, RN 338/2013 ANS).
Aos consumidores estão assegurados, quanto à atenção em
planejamento familiar, o acesso aos métodos e técnicas para a
concepção e a contracepção, o acompanhamento de
profissional habilitado (v.g. ginecologistas, obstetras,
urologistas), a realização de exames clínicos e laboratoriais, os
atendimentos de urgência e de emergência, inclusive a
utilização de recursos comportamentais, medicamentosos ou
cirúrgicos, reversíveis e irreversíveis em matéria reprodutiva.
A limitação da lei quanto à inseminação artificial (art. 10, III,
LPS) apenas representa uma exceção à regra geral de
atendimento obrigatório em casos que envolvem o
planejamento familiar (art. 35-C, III, LPS). Não há, portanto,
abusividade na cláusula contratual de exclusão de cobertura de

27
inseminação artificial, o que tem respaldo na LPS e na RN
338/2013.”
(REsp 1.590.221/DF, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
TERCEIRA TURMA, julgado em 07/11/2017, DJe 13/11/2017)

Reajuste de faixa etária (REPETITIVO)

“No tocante aos contratos antigos e não adaptados, isto é, aos


seguros e planos de saúde firmados antes da entrada em vigor
da Lei no 9.656/1998, deve-se seguir o que consta no contrato,
respeitadas, quanto à abusividade dos percentuais de aumento,
as normas da legislação consumerista e, quanto à validade
formal da cláusula, as diretrizes da Súmula Normativa no 3/2001
da ANS.
Em se tratando de contrato (novo) firmado ou adaptado entre
2/1/1999 e 31/12/2003, deverão ser cumpridas as regras
constantes na Resolução CONSU no 6/1998, a qual determina
a observância de 7 (sete) faixas etárias e do limite de variação
entre a primeira e a última (o reajuste dos maiores de 70 anos
não poderá ser superior a 6 (seis) vezes o previsto para os
usuários entre 0 e 17 anos), não podendo também a variação
de valor na contraprestação atingir o usuário idoso vinculado ao
plano ou seguro saúde há mais de 10 (dez) anos.
Para os contratos (novos) firmados a partir de 1o/1/2004,
incidem as regras da RN no 63/2003 da ANS.
O reajuste de mensalidade de plano de saúde individual ou
familiar fundado na mudança de faixa etária do beneficiário é
válido desde que (i) haja previsão contratual, (ii) sejam
observadas as normas expedidas pelos órgãos governamentais
reguladores e (iii) não sejam aplicados percentuais
desarrazoados ou aleatórios que, concretamente e sem base
atuarial idônea, onerem excessivamente o consumidor ou
discriminem o idoso.”

28
(REsp 1.568.244/RJ, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS
CUEVA, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 14/12/2016, DJe
19/12/2016).

29
10. PRÁTICAS ABUSIVAS EM SERVIÇOS DE SAÚDE

É importante mencionar que a linha mestra de todo o direito, não poderia ser diferente
no direito do consumidor, é a Dignidade da Pessoa Humana que irradia todo o seu
efeito pelo sistema jurídico como diz Rizatto Nunes:

É ela, a dignidade, o último arcabouço da guarida dos direitos


individuais e o primeiro fundamento de todo o sistema
constitucional. (...) E esse fundamento funciona como princípio
maior para a interpretação de todos os direitos e garantias
conferidos às pessoas no texto constitucional.” (NUNES,
Rizzatto, Curso de Direito do Consumidor, 7ª ed. Revisada e
atualizada, São Paulo: Saraiva, 2012)

Também como já mencionado anteriormente a Política Nacional das Relações de


Consumo tem por objetivo o atendimento das necessidades dos consumidores, o
respeito à sua dignidade, saúde e segurança, a proteção de seus interesses
econômicos, a melhoria da sua qualidade de vida, bem como a transparência e
harmonia das relações de consumo, atendidos os seguintes princípios, art. 4 do CDC
que já no inciso I reconhece a vulnerabilidade do consumidor.

Esta vulnerabilidade do consumidor decorre de dois pontos especiais: vulnerabilidade


técnica e econômica. Explica-se:

quando se fala em meios de produção não se está apenas


referindo aos aspectos técnicos e administrativos para a
fabricação e distribuição de produtos e prestação de serviços
que o fornecedor detém, mas também ao elemento fundamental
da decisão: é o fornecedor que escolhe o que, quando e de que
maneira produzir, de sorte que o consumidor está a mercê
daquilo que é produzido1.

1
NUNES, Rizzatto, Curso de Direito do Consumidor, 7ª ed. Revisada e atualizada, São Paulo: Saraiva, 2012.

30
No que concerne a vulnerabilidade econômica, em regra o consumidor possui poder
econômico inferior ao fornecedor e, por esta razão, poderá inclusive abusar desta
superioridade.

Abaixo seguem as principais práticas abusivas corriqueiras dos fornecedores para


com os consumidores já previstas no art. 39 do CDC, lembrando que o rol é números
apertus:

Art. 39. É vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre


outras práticas abusivas:

I - condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao


fornecimento de outro produto ou serviço, bem como, sem justa
causa, a limites quantitativos;

II - recusar atendimento às demandas dos consumidores, na


exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de
conformidade com os usos e costumes;

III - enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia,


qualquer produto, ou fornecer qualquer serviço;

IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor,


tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição
social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços;

V - exigir do consumidor vantagem manifestamente excessiva;

VI - executar serviços sem a prévia elaboração de orçamento e


autorização expressa do consumidor, ressalvadas as
decorrentes de práticas anteriores entre as partes;
VII - repassar informação depreciativa, referente a ato praticado
pelo consumidor no exercício de seus direitos;
31
VIII - colocar, no mercado de consumo, qualquer produto ou
serviço em desacordo com as normas expedidas pelos órgãos
oficiais competentes ou, se normas específicas não existirem,
pela Associação Brasileira de Normas Técnicas ou outra
entidade credenciada pelo Conselho Nacional de Metrologia,
Normalização e Qualidade Industrial (Conmetro);

IX - recusar a venda de bens ou a prestação de serviços,


diretamente a quem se disponha a adquiri-los mediante pronto
pagamento, ressalvados os casos de intermediação regulados
em leis especiais
X - elevar sem justa causa o preço de produtos ou serviços

XI - Dispositivo incluído pela MPV nº 1.890-67, de 22.10.1999,


transformado em inciso XIII, quando da conversão na Lei nº
9.870, de 23.11.1999
XII - deixar de estipular prazo para o cumprimento de sua
obrigação ou deixar a fixação de seu termo inicial a seu
exclusivo critério.(Incluído pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995)

XIII - aplicar fórmula ou índice de reajuste diverso do legal ou


contratualmente estabelecido. (Incluído pela Lei nº 9.870, de
23.11.1999)

Parágrafo único. Os serviços prestados e os produtos remetidos


ou entregues ao consumidor, na hipótese prevista no inciso III,
equiparam-se às amostras grátis, inexistindo obrigação de
pagamento.

Material Complementar: OS CONTRATOS PRIVADOS DE SAÚDE E O CDC


Daniela Maria Paludo.
https://www.univates.br/media/graduacao/direito/CONTRATOS_PRIVADOS_DE_SA
UDE_E_O_CDC.pdf

32
11. RESOLUÇÕES DA AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE (ANS) SOBRE
PLANOS DE SAÚDE

Primeiramente é importante ressaltar que a origem das Agências Reguladoras, como


instituições que são hoje, ocorreu na Inglaterra através da criação parlamentar em
1834, de uma série de organismos autônomos, com o objetivo de aplicar os textos
legais. Insta observar que nos EUA é que houve a implementação de um modelo
administrativo estatal baseado no modelo de agências reguladoras, mais parecido
com o brasileiro, portanto.

O contexto de formação das agências reguladores é aquele de reforma do aparelho


do Estado brasileiro que se segui no governo Fernando Henrique Cardoso, como
menciona Salvatori e Ventura:

Seguindo uma proposta de reforma do Estado, em 2001, a Lei


federal no9.961 criou a ANS como uma autarquia sob regime
especial, vinculada ao Ministério da Saúde, com atuação em
todo o território nacional, como órgão de regulação,
normatização, controle e fi scalização das atividades que
garantem a assistência suplementar à saúde. Essa mesma lei
conferiu à ANS a fi nalidade institucional de promover a defesa
do inte-resse público na assistência suplementar à saúde,
regulando as operadoras setoriais, inclusive quanto às suas
relações com prestadores e consumidores, contribuindo para o
desenvolvimento das ações de saúde no País2

Importantes informações podem ser encontradas no site da ANS sendo que algumas
delas merecem ser textualmente citadas abaixo::

2
Rachel Torres Salvatori e Carla A. Arena Ventura. A Agência Nacional de Saúde Suplementar - ANS: onze anos
de regulação dos planos de saúde. Revista da UFBA.Salvador, v.19 - n.62, p. 471-487 - Julho/Setembro – 2012, p
477.

33
Missão: Promover a defesa do interesse público na assistência
suplementar à saúde, regular as operadoras setoriais - inclusive
quanto às suas relações com prestadores e consumidores - e
contribuir para o desenvolvimento das ações de saúde no país.

Visão: Ser reconhecida como indutora de eficiência e qualidade


na produção de saúde.

Valores: A ANS tem por valores institucionais a transparência e


ética dos atos, o conhecimento como fundamento da regulação,
o estímulo à inovação para busca de soluções e
sustentabilidade setorial e o foco no compromisso social.

“A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) é a agência


reguladora vinculada ao Ministério da Saúde responsável pelo
setor de planos de saúde no Brasil.

A sede da ANS fica na cidade do Rio de Janeiro, na Avenida


Augusto Severo, n° 84, no bairro da Glória. O atendimento ao
cidadão sobre planos de saúde é feito pela Central de
Atendimento ao Consumidor na internet, pelo Disque-ANS 0800
701 9656 e pelos Núcleos da ANS espalhados pelo país”3.

Antes de adentrarmos ao tema das resoluções normativas da ANS é importante


ressaltar que a tais resoluções possuem força normativa, conforme exposto em
trabalho acadêmico específico da área de direito regulatório:

Certo é que as Agências Reguladoras estão desempenhando


seu papel junto a administração indireta, e não podem ficar
esperando o Poder Legislativa editar leis, por isto os atos

3
Disponíven em: http://www.ans.gov.br/aans/quem-somos

34
normativos, dentro do princípio da legalidade, tem força
normativa à todos integrantes do setor regulado4.

Por fim, as principais resoluções da ANS sobre o tema dos planos de saúde são as
que seguem abaixo:

Norma: Resolução Normativa nº 428


Tema: Plano de saúde - Cobertura
Assunto: Cobertura Assistencial - Rol de Procedimentos
Ementa: Atualiza o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde, que constitui a
referência básica para cobertura assistencial mínima nos planos privados de
assistência à saúde, contratados a partir de 1º de janeiro de 1999; fixa as diretrizes
de atenção à saúde; e revoga as Resoluções Normativas – RN nº 387, de 28 de
outubro de 2015, e RN nº 407, de 3 de junho de 2016.

Norma: Resolução Normativa nº 387


Tema: Plano de saúde - Cobertura
Assunto: Cobertura Assistencial - Rol de Procedimentos
Ementa: Atualiza o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde, que constitui a
referência básica para cobertura assistencial mínima nos planos privados de
assistência à saúde, contratados a partir de 1º de janeiro de 1999; fixa as diretrizes
de atenção à saúde; revoga as Resoluções Normativas – RN nº 338, de 21 de
outubro de 2013, RN nº 349, de 9 de maio de 2014; e da outras providências.

Norma: Resolução Normativa nº 338


Tema: Plano de saúde - Cobertura
Assunto: Cobertura Assistencial - Rol de Procedimentos
Ementa: Atualiza o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde, que constitui a
referência básica para cobertura assistencial mínima nos planos privados de
assistência à saúde, contratados a partir de 1º de janeiro de 1999; fixa as diretrizes
de atenção à saúde; revoga as Resoluções Normativas - RN nº211, de 11 de janeiro

4
JOSÉ VICENTE GODOI JUNIOR AGÊNCIAS REGULADORAS: CARACTERÍSTICAS, ATIVIDADES E FORÇA
NORMATIVA. UNIVERSIDADE DE MARÍLIA – UNIMAR. 2008, p. 80.

35
de 2010, RN nº 262, de 1 de agosto de 2011, RN nº 281, de 19 de dezembro de
2011 e a RN nº 325, de 18 de abril de 2013; e dá outras providências.

Norma: Resolução Normativa nº 259


Tema: Plano de saúde - Cobertura
Assunto: Garantia de Acesso Assistencial (Prazos e Rede)
Ementa: Dispõe sobre a garantia de atendimento dos beneficiários de plano
privado de assistência à saúde e altera a Instrução Normativa – IN nº 23, de 1º de
dezembro de 2009, da Diretoria de Normas e Habilitação dos Produtos – DIPRO.

Norma: Resolução Normativa nº 195


Tema: Plano de saúde - Contratação e Troca de Plano
Assunto: Formas de Contratação ou de Manutenção da Condição de
Beneficiário
Ementa: Dispõe sobre a classificação e características dos planos privados de
assistência à saúde, regulamenta a sua contratação, institui a orientação para
contratação de planos privados de assistência à saúde e dá outras providências.

Norma: Resolução Operacional nº 2.285


Tema: Regimes especiais
Assunto: Portabilidade Extraordinária
Ementa: Dispõe sobre a concessão da portabilidade extraordinária aos
beneficiários da CEDPLAN Saúde Ltda. – ME.

Material Complementar: Vídeo de Apresentação da ANS.


https://www.youtube.com/watch?v=63ChN3D3UM4

36
12. JUDICIALIZAÇÃO DA SAÚDE

Um tema jurídico muito comentado e que possui interrelação com os serviços de


saúde é a chamada judicialização dos serviços de saúde, sendo que para iniciarmos
os estudos sobre este tema vale apresentarmos o conceito e as causas do fenômeno,
que conforme Ribas e Souza Filho:

“A Judicialização quer dizer que questões políticas e sociais não


estão mais sendo decididas somente pelas instâncias políticas
tradicionais – Executivo e Legislativo – mas também pelo Poder
Judiciário.
Inúmeras são as causas desse fenômeno. Algumas revelam
uma tendência mundial, outras são oriundas do sistema
institucional brasileiro.
Barroso aponta três principais causas da judicialização: a
redemocratização do país, a constitucionalização abrangente e
o modelo brasileiro de controle de constitucionalidade”.5

No caso da saúde os números apresentados pelo Conselho Nacional de Justiça são


impressionantes, pois, milhares de brasileiros têm recorrido ao Poder Judiciário a fim
de ter acesso a remédios, consultas, exames, cirurgias. O relatório Justiça em
Números 2017 (ano-base 2016), apontou 1.346.931 menções ao termo saúde. No
ano anterior o índice estava em 854.506 e, no relatório de 2015 (ano-base 2014),
392.921 (ano-base 2014). Para se ter uma ideia da dimensão do problema, de janeiro
a agosto deste ano, o Ministério da Saúde destinou R$ 721 milhões apenas para
atender determinações judiciais relativas à compra de medicamentos. Verifica-se,
portanto, que o fenômeno da judicialização da saúde cresce de forma exponencial.

Os teóricos sobre o tema divergem pois uns dizem que este fenômeno deslegitima a
esfera política que deveria ser responsável pela elaboração e implantação de políticas

5
Giovanna Paola Primor Ribas e Carlos Frederico Marés de Souza Filho. A Judicialização das Políticas Públicas
e o Supremo Tribunal Federal. Direito, Estado e Sociedade n.44 p. 36 a 50 jan/jun 2014. P. 41.

37
públicas, enquanto que os defensores da judicializaçã entendem que, na verdade, o
judiciário está ocupando um espaço vago deixado pela paralisia e ineficiência dos
políticos que não tem correspondido às demandas sociais que já possuem previsão
constitucional (Ex. a universalização da Saúde prevista na constituição)

Material Complementar: A Judicialização da Saúde: Breve Comentários. Sephora


Luyza Marchesini Stival, Filomena Girão. Cadernos IberoAmericanos de Direito
Sanitário.
https://Www.Cadernos.Prodisa.Fiocruz.Br/Index.Php/Cadernos/Article/View/285/388

38
13. LEI DOS PLANOS DE SAÚDE (LEI Nº 9.656/1998)

Como se pode notar pelo ano de publicação da referida lei, ela já possui 20 anos de
vigência e tem sido um diploma legislativo muito utilizado, questionado e com diversas
tentativas de reforma, conforme passa-se a expor.

A lei regula e disciplina especificamente as relações de consumo na saúde


suplementar (privada), com regras sobre cobertura assistencial, abrangência dos
planos, rede credenciada, procedimentos e eventos cobertos e não cobertos,
carências, doenças e lesões preexistentes e cumprimento de cláusulas contratuais.
Além disto, o mesmo diploma legislativo trata das normas de controle de ingresso e
permanência e saída das operadoras (planos de saúde) no mercado, quanto à
solvência e liquidez dessas operadoras preservando a sustentabilidade e
transparência do setor. Insta mencionar que o mercado de saúde privado
(suplementar) é também regulado e fiscalizado pela Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS), vinculada ao Ministério da Saúde.

Os planos de saúde estão divididos, de acordo com a lei, em ambulatorial, hospitalar


com ou sem obstetrícia, odontológico, mistos, ou de referência (considerado
completo). Sendo que, os principais dispositivos da lei dos planos de saúde serão
abordados em aula e estão transcritos abaixo:

Art. 1º Submetem-se às disposições desta Lei as pessoas


jurídicas de direito privado que operam planos de assistência à
saúde, sem prejuízo do cumprimento da legislação específica
que rege a sua atividade, adotando-se, para fins de aplicação
das normas aqui estabelecidas, as seguintes definições:

I - Plano Privado de Assistência à Saúde: prestação continuada


de serviços ou cobertura de custos assistenciais a preço pré ou
pós estabelecido, por prazo indeterminado, com a finalidade de
garantir, sem limite financeiro, a assistência à saúde, pela

39
faculdade de acesso e atendimento por profissionais ou serviços
de saúde, livremente escolhidos, integrantes ou não de rede
credenciada, contratada ou referenciada, visando a assistência
médica, hospitalar e odontológica, a ser paga integral ou
parcialmente às expensas da operadora contratada, mediante
reembolso ou pagamento direto ao prestador, por conta e ordem
do consumidor;

II - Operadora de Plano de Assistência à Saúde: pessoa


jurídica constituída sob a modalidade de sociedade civil ou
comercial, cooperativa, ou entidade de autogestão, que opere
produto, serviço ou contrato de que trata o inciso I deste artigo;
(Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001)

III - Carteira: o conjunto de contratos de cobertura de


custos assistenciais ou de serviços de assistência à saúde em
qualquer das modalidades de que tratam o inciso I e o § 1o deste
artigo, com todos os direitos e obrigações nele contidos.
(Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001)

Art. 8º Para obter a autorização de funcionamento, as


operadoras de planos privados de assistência à saúde devem
satisfazer os seguintes requisitos, independentemente de
outros que venham a ser determinados pela ANS: (Redação
dada pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001)

I - registro nos Conselhos Regionais de Medicina e


Odontologia, conforme o caso, em cumprimento ao disposto no
art. 1° da Lei no 6.839, de 30 de outubro de 1980;

II - descrição pormenorizada dos serviços de saúde


próprios oferecidos e daqueles a serem prestados por terceiros;

40
III - descrição de suas instalações e equipamentos
destinados a prestação de serviços;

IV - especificação dos recursos humanos qualificados e


habilitados, com responsabilidade técnica de acordo com as leis
que regem a matéria;

V - demonstração da capacidade de atendimento em razão


dos serviços a serem prestados;

VI - demonstração da viabilidade econômico-financeira dos


planos privados de assistência à saúde oferecidos, respeitadas
as peculiaridades operacionais de cada uma das respectivas
operadoras;

VII - especificação da área geográfica coberta pelo plano


privado de assistência à saúde.

§ 3o As operadoras privadas de assistência à saúde poderão


voluntariamente requerer autorização para encerramento de
suas atividades, observando os seguintes requisitos,
independentemente de outros que venham a ser determinados
pela ANS: (Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44, de
2001)

a) comprovação da transferência da carteira sem prejuízo


para o consumidor, ou a inexistência de beneficiários sob sua
responsabilidade; (Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-
44, de 2001)

b) garantia da continuidade da prestação de serviços dos


beneficiários internados ou em tratamento; (Incluído pela
Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001)

41
c) comprovação da quitação de suas obrigações com os
prestadores de serviço no âmbito da operação de planos
privados de assistência à saúde; (Incluído pela Medida
Provisória nº 2.177-44, de 2001)

d) informação prévia à ANS, aos beneficiários e aos


prestadores de serviço contratados, credenciados ou
referenciados, na forma e nos prazos a serem definidos pela
ANS. (Incluído pela Medida Provisória nº 2.177-44, de 2001)

Atualmente tramita em Comissão Especial da Câmara dos Deputados acalorado


debate sobre a reforma da Lei dos planos de saúde. Uns doutrinadores dizem que a
refrida reforma representa absoluto retrocesso6 outros são um pouco mais
cautelosos, inclusive elogiando a mudança e dizendo apenas que o trabalho dos
deputados pode representar modernização da lei que não deve deixar o consumidor
vulnerável7.

Material Complementar: Leitura da Lei dos Planos de saúde na íntegra.


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L9656.htm

6
Luciano Correia Bueno Brandão. Proposta que reforma lei de planos de saúde é absoluto retrocesso. Site
Conjur. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2017-out-23/luciano-brandao-proposta-mudancas-planos-
saude-retrocesso Acesso em 16/05/2018.
7
Bruno Miragem. Reforma da lei dos planos de saúde não pode vulnerar consumidor. Site Conjur.
https://www.conjur.com.br/2017-set-13/garantias-consumo-reforma-lei-planos-saude-nao-vulnerar-
consumidor Acesso em 16/05/2018.

42
14. PLANOS DE SAÚDE X DIREITO DO CONSUMIDOR: DESVIO DE
FINALIDADE

A Lei dos planos de saúde foi alterada em 2001 pela medida provisória nº 2.177-44
sendo que esta alteração representa uma vitória dos consumidores uma vez que
ampliou a cobertura de doenças como AIDS, problemas mentais e ainda a própria MP
fixou limites para cobrança de planos calculados por faixa etária.

Apesar do exposto acima, a saúde no Brasil, por ser explorada como negócio por
empresas particulares e vista como mercadoria pela iniciativa privada acaba por gerar
o que implica numa possível visão mercantilista desvirtuando o exercício da medicina
como mera forma de obtenção de lucro e afastando-se de sua função social.

Estes desvios de finalidade que afastam os serviços de saúde da sua finalidade social
é que geral um confronto entre o direito do consumidor e a postura de algumas
empresas que são operadoras de planos de saúde, um exemplo típico desta corrida
pelo lucro e eventual má fé de alguns prestadores de serviços é aquele que surge em
situações de emergência e urgência que pela lei (art. 12, V, C) devem possuir
carência de apenas 24 horas, sendo que após este prazo a operadora deve responder
pelas despesas médico-hospitalares, sem limitação temporal

Além disto, outros dois fatores são reiterados como elementos de desvio de finalidade
dos serviços de saúde. O primeiro está associado com os critérios que permitem que
permitem o aumento anual das mensalidades, e apesar de estar de acordo com a
inflação os critérios não são claros para os ajustes correspondentes o que faz com
que tais planos estejam em desacordo com a realidade brasileira. O segundo está no
fato da lei permitir que os planos de saúde comercializem cada bloco do plano
(ambulatorial, hospitalar com ou sem obstetrícia, odontológico, mistos)
separadamente, pois muitos consumidores se sentem prejudicados, tendo em vista
que para que tenham direito à cobertura completa terão que contratar o pacote inteiro,
ou contratar mais de um.

43
Material Complementar: Conflitos Contrato Plano de Saúde x CDC
https://www.youtube.com/watch?v=NXLZ4Kgatyw
15. Lei do Acompanhante para os consumidores de plano de saúde

A questão do acompanhante para os consumidores de planos de saúde normalmente


vem acompanhada de questões relacionados ao Estatuto do Idoso, mais
precisamente em seu artigo 16, in verbis:

Art. 16. Ao idoso internado ou em observação é assegurado o


direito a acompanhante, devendo o órgão de saúde
proporcionar as condições adequadas para a sua permanência
em tempo integral, segundo o critério médico.

Parágrafo único. Caberá ao profissional de saúde


responsável pelo tratamento conceder autorização para o
acompanhamento do idoso ou, no caso de impossibilidade,
justificá-la por escrito.

A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), através da Resolução Normativa


Resolução Normativa n. 262/11, passou a prever no Rol de Procedimentos e Eventos
em Saúde, a referência básica para uma mínima cobertura obrigatória nos planos
privados de saúde firmados a partir da vigência da Lei n. 9.656/98, constituindo-se
assim a determinação de cobertura das despesas, incluindo alimentação e
acomodação, do acompanhante do idoso (art. 18, VII, alínea “b”).

Havia anteriormente ao regramento acima mencionado uma deficiência na Lei n.


9.656/98, que apenas garantia em seu art. 12, inciso II, alínea “f”, a cobertura de
despesas do acompanhante quando o internado for paciente menor de 18 (dezoito)
anos, apresentando exclusão injustificada do paciente idoso que necessita de
acompanhamento durante a internação hospitalar, nos termos do já mencionados
Estatuto do Idoso.

44
A dúvida que remanesce é, qual é a situação jurídica do idoso que contratou plano
de saúde anterior a lei nº 9.656/98? Para adequada análise jurídica do tema vale a
leitura do material complementar.

Material Complementar: Renata Knackfuss Rodrigues. O Direito à Cobertura das


Despesas com a Alimentação do Acompanhante do Idoso em Contratos de
Assistência à Saúde Firmados antes da vigência da Lei nº 9.656/98. Revista
Eletrônica do Ministério POúblico do Rio Grande do Norte. Disponíovel em:
http://www.mprn.mp.br/revistaeletronicamprn/abrir_artigo.asp?cod=1050

45
16. ALCOLISMO: UMA QUESTÃO DE SAÚDE PÚBLICA SOB A PERSPECTIVA
CONSUMERISTA

O tema do alcoolismo envolve uma análise jurídica crítica e reflexiva para que se
coadune com a interrelação do direito do consumidor com o direito à Saúde. Neste
sentido, o Recurso Especial no 772.723 de 2005 que teve como relator o Ministro
Benedito Gonçalves, como agravante a ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE BEBIDAS –
ABRABE, representada pelo Advogado Hamilton Dias de Souza e outro (S), como
agravado a ASSOCIAÇÃO DE DEFESA E ORIENTAÇÃO DO CIDADÃO – ADOC,
representada pelo advogado Francisco Juraci Bonatto e outro e como interessado a
União, tratou de desenvolver um grande precedente nos seguintes termos:

Processual Civil e Administrativo. Agravo Regimental no


Recurso Especial. Ação Civil Pública. Obrigação de veicular
avisos de que o consumo de bebidas alcoólicas acarreta riscos
e potenciais danos à saúde. Recurso Especiais Interpostos pela
mesma parte. Inaplicabilidade da Tese acerca da Irresignação
Prematuramente Interposta. Princípio da Unirrecorribilidade Dos
Provimentos Judiciais.

O Código de defesa do Consumidor no art 9º e no § 1º do art.12, dispõe que ao


fornecedor cabe o dever de segurança, que implica num fornecimento de produtos e
serviços seguros que não comprometam, inclusive, a saúde do consumidor:

Art. 9° O fornecedor de produtos e serviços potencialmente


nocivos ou perigosos à saúde ou segurança deverá informar, de
maneira ostensiva e adequada, a respeito da sua nocividade ou
periculosidade, sem prejuízo da adoção de outras medidas
cabíveis em cada caso concreto

46
Art. 12 - § 1° O produto é defeituoso quando não oferece a
segurança que dele legitimamente se espera, levando-se em
consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais:
I - sua apresentação;
II - o uso e os riscos que razoavelmente dele se esperam; III - a
época em que foi colocado em circulação.

Em suma o alcoolismo é tratado como um problema de saúde pública, sendo que de


uma forma geral sempre foi atribuída a responsabilidade do uso desta substância
nociva a saúde sobre aquele que chamamos de dependente do álcool, no entanto,
existe uma mentalidade em transformação e este conceito está cada vez mais
ultrapassado.

Material Complementar: Rizzatto Nunes. As bebidas alcoólicas e o consumidor.


http://www.migalhas.com.br/ABCdoCDC/92,MI139057,11049-
As+bebidas+alcoolicas+e+o+consumidor

47
17. TRATAMENTO PSICOTERAPICO E COBERTURA OBRIGATÓRIA DAS
DOENÇAS MENTAIS

A resolução 387 da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), de 2015, que


prevê a obrigatoriedade dos convênios de arcar com apenas 18 atendimentos anuais
está sendo colocada em cheque pela jurisprudência brasileira.

Neste sentido, é abusiva cláusula contratual ou ato de operadora de plano de saúde


que interrompa tratamento psicoterápico por esgotamento do número de sessões
anuais asseguradas pela ANS, foi o que decidiu unanimemente a terceira turma do
STJ, conforme exposto abaixo:

O número de consultas ou sessões anuais fixado pela ANS deve


ser visto apenas como cobertura obrigatória mínima a ser
custeada plenamente pelo plano de saúde. A resolução
normativa 387/15 estabeleceu a cobertura mínima obrigatória
de 18 sessões de psicoterapia por ano de contrato.

O colegiado definiu que o número de sessões que ultrapassar o


mínimo coberto deverá ser custeado em regime de
coparticipação, similar ao existente na internação psiquiátrica, a
ser suportado tanto pela operadora quanto pelo usuário 8.

Nesta aula iremaos analisar o precedente do STJ que debate claramente a


interrelação entre os serviços de saúde prestados por operadoras privadas e o direito
fundamental a saúde, conforme exposto abaixo:

RECURSO ESPECIAL. CIVIL. PLANO DE SAÚDE. NEGATIVA


DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. NÃO OCORRÊNCIA.
TRANSTORNO MENTAL. DEPRESSÃO. TRATAMENTO

8
Site Jurídico Migalhas. Plano de saúde não pode interromper sessões de terapia que ultrapassem limite de
cobertura. http://www.migalhas.com.br/Quentes/17,MI267027,51045-
Plano+de+saude+nao+pode+interromper+sessoes+de+terapia+que

48
PSICOTERÁPICO. LIMITAÇÃO DO NÚMERO DE
CONSULTAS. ABUSIVIDADE. FATOR RESTRITIVO SEVERO.
INTERRUPÇÃO ABRUPTA DE TERAPIA. CDC. INCIDÊNCIA.
PRINCÍPIOS DE ATENÇÃO À SAÚDE MENTAL NA SAÚDE
SUPLEMENTAR. VIOLAÇÃO. ROL DE PROCEDIMENTOS E
EVENTOS EM SAÚDE DA ANS. CUSTEIO INTEGRAL.
QUANTIDADE MÍNIMA. SESSÕES EXCEDENTES.
APLICAÇÃO DE COPARTICIPAÇÃO. INTERNAÇÃO EM
CLÍNICA PSIQUIÁTRICA. ANALOGIA.

1. Cinge-se a controvérsia a saber se é abusiva cláusula


contratual de plano de saúde que limita a cobertura de
tratamento psicoterápico a 12 (doze) sessões anuais.

2. Conforme prevê o art. 35-G da Lei no 9.656/1998, a legislação


consumerista incide subsidiariamente nos planos de saúde,
devendo ambos os instrumentos normativos incidir de forma
harmônica nesses contratos relacionais, sobretudo porque
lidam com bens sensíveis, como a manutenção da vida.
Incidência da Súmula no 469/STJ.

3. Com o advento da Lei no 9.656/1998, as doenças mentais


passaram a ter cobertura obrigatória nos planos de saúde.
Necessidade, ademais, de articulação dos modelos
assistenciais público, privado e suplementar na área da Saúde
Mental, especialmente após a edição da Lei no 10.216/2001, a
qual promoveu a reforma psiquiátrica no Brasil e instituiu os
direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais.

4. Para os distúrbios depressivos, a RN ANS no 338/2013


estabeleceu a cobertura mínima obrigatória de 12 (doze)
sessões de psicoterapia por ano de contrato. Posteriormente, a
RN ANS no 387/2015 majorou o número de consultas anuais
para 18 (dezoito).
49
5. Os tratamentos psicoterápicos são contínuos e de longa
duração. Assim, um número exíguo de sessões anuais não é
capaz de remediar a maioria dos distúrbios mentais. A restrição
severa de cobertura poderá provocar a interrupção da própria
terapia, o que comprometerá o restabelecimento da higidez
mental do usuário, a contrariar não só princípios consumeristas,
mas também os de atenção integral à saúde na Saúde
Suplementar (art. 3o da RN no 338/2013, hoje art. 4o da RN no
387/2015).

6. A jurisprudência deste Tribunal Superior é firme no sentido de


que é o médico ou o profissional habilitado - e não o plano de
saúde - quem estabelece, na busca da cura, a orientação
terapêutica a ser dada ao usuário acometido de doença coberta.

7. Na psicoterapia, é de rigor que o profissional tenha autonomia


para aferir o período de atendimento adequado segundo as
necessidades de cada paciente, de forma que a operadora não
pode limitar o número de sessões recomendadas para o
tratamento integral de determinado transtorno mental, sob pena
de esvaziar e prejudicar sua eficácia.

Material Complementar: Leitura das razões do acórdão Superior Tribunal de Justiça.


Recurso Especial nº 1.679.190. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA
Relator.https://ww2.stj.jus.br/processo/revista/documento/mediado/?componente=A
TC&sequencial=75880734&num_registro=201700865181&data=20171002&tipo=5&
formato=PDF

50
18. A RELAÇÃO HOSPITAL-PACIENTE SOB A ÓTICA DA RESPONSABILIDADE
OBJETIVA

A responsabilidade objetiva, conforme já tratado em tema correspondente sobre


teoria geral da relação de consumo, possui grande relevância no que conserne a
atribuição de eventuais indenizações, dentre outros.

Neste sentido, o Recurso no 1.322.387/RS, julgado pela Quarta Turma do Superior


Tribunal de Justiça (STJ), tendo como relator o Ministro Luís Felipe Salomão, em 20
de agosto de 2013:

RESPONSABILIDADE CIVIL. CIRURGIA E TRANSFUSÃO DE


SANGUE REALIZADA PELO HOSPITAL RECORRENTE EM
1997. VÍRUS HCV (HEPATITE C) DIAGNOSTICADO EM 2004.
CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. AÇÃO
REPARATÓRIA. TESTES COMPROVARAM QUE DOADORES
NÃO ERAM PORTADORES DA DOENÇA. NEXO CAUSAL
INDEMONSTRADO. TEORIA DO DANO DIREITO E IMEDIATO
(INTERRUPÇÃO DO NEXO CAUSAL). IMPROCEDÊNCIA DO
PEDIDO INICIAL.

1. Não há ofensa ao art. 535 do CPC quando o acórdão, de


forma explícita, rechaça todas as teses do recorrente, apenas
chegando a conclusão desfavorável a este. Também inexiste
negativa de prestação jurisdicional quando o Tribunal de origem
aprecia a questão de forma fundamentada, enfrentando todas
as questões fáticas e jurídicas que lhe foram submetidas.

2. Adotadas as cautelas possíveis pelo hospital e não tendo sido


identificada a hepatite C no sangue doado, não é razoável
afirmar que o só fato da existência do fenômeno "janela
imunológica" seria passível de tornar o serviço defeituoso. No

51
limite, a tese subverte todos os fundamentos essenciais da
responsabilidade civil, ensejando condenações por presunções.

3. Não se pode eliminar, aqui, o risco de transfundir sangue


contaminado a um paciente mesmo com a adoção das medidas
adequadas à análise do sangue. Para minimizar essa
possibilidade, adotam-se medidas de triagem do doador, que
não são todas infalíveis, eis que dependentes da veracidade e
precisão das informações por este prestadas. Trata-se, como se
vê, de um risco reduzido, porém não eliminável. Parece correto
sustentar, assim, que aquilo que o consumidor pode
legitimamente esperar não é, infelizmente, que sangue
contaminado jamais seja utilizado em transfusões sanguíneas,
mas sim que todas as medidas necessárias à redução desse
risco ao menor patamar possível sejam tomadas pelas pessoas
ou entidades responsáveis pelo processamento do sangue.
(FERRAZ, Octávio Luiz Motta Ferraz. Responsabilidade civil da
atividade médica no código de defesa do consumidor. Rio de
Janeiro: Elsevier, 2009. p. 156-159)

4. Reconhecendo-se a possibilidade de vários fatores


contribuírem para o resultado, elege-se apenas aquele que se
filia ao dano mediante uma relação de necessariedade, vale
dizer, dentre os vários antecedentes causais, apenas aquele
elevado à categoria de causa necessária do dano dará ensejo
ao dever de indenizar.

5. Mesmo sem negar vigência aos princípios da verossimilhança


das alegações e a hipossuficiência da vítima quanto à inversão
do ônus da prova, não há como deferir qualquer pretensão
indenizatória sem a comprovação, ao curso da instrução, do
nexo de causalidade entre o contágio da doença e a cirurgia
realizada sete anos antes do diagnóstico.

52
6. Não ficou comprovada nos autos a exclusão da possibilidade
de quaisquer outras formas de contágio no decorrer dos quase
sete anos entre a cirurgia pela qual passou o autor (ora
recorrido) e o aparecimento dos sintomas da hepatite C.

7. É evidente que não se exclui a possibilidade de ser


reconhecida a responsabilidade objetiva do hospital em
episódios semelhantes, porém o cabimento de indenização
deve ser analisado casuisticamente e reconhecido, desde que
estabelecido nexo causal baseado em relação de
necessariedade entre a causa e o infortúnio.

8. Recurso especial provido.

A caracterização da responsabilidade civil, depende de três requisitos básicos, a


saber:

a) existência de uma ação, comissiva ou omissiva, qualificada


juridicamente, isto é, que se apresenta como ato ilícito ou lícito,
pois ao lado da culpa como fundamento da responsabilidade
civil há o risco;

b) ocorrência de um dano moral ou patrimonial causado à


vítima;

c) nexo de causalidade entre o dano e a ação, o que constitui o


fato gerador da responsabilidade.

O Código de Defesa do Consumidor, por sua vez, estabelece que “os produtos e
serviços colocados no mercado de consumo não acarretarão riscos à saúde ou
segurança do consumidor” (art. 8°), cabendo aos fornecedores o dever de prestar
informação sobre os mesmos. Quando produto ou serviço não oferecer ao
consumidor a segurança que dele se espera, este será considerado defeituoso (Art.
12, §1o; Art. 14, §1o)

53
19. REVISÃO

Direito a Saúde: Saúde é o estado de completo bem-estar físico, mental e social e


não apenas a ausência de doença.

Direitos Sociais: CF/Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação,


o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a
proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta
Constituição.

Saúde como Direito Fundamental: como protetor e aplicador deste direito


fundamental, existe o Estado Democrático de Direito, que visa superar desigualdades
sociais para que seja realizada a justiça social, visto que o direito à saúde está
englobado ao direito à vida, dando ao cidadão, o garantismo estatal da dignidade da
pessoa humana.

SUS: O Sistema Único de Saúde foi trazido com o advento da Constituição de 1988,
abrangendo desde os procedimentos mais simples, até os mais complexos, o que
antes era somente feito por entidades filantrópicas. Além disso, proporcionou acesso
universal ao sistema público de saúde e com a Lei 8.080/90, aumentou o abrangência
do entendimento de que não se deve somente se precaver de doenças, e sim
promover a qualidade de vida, a redução de desigualdades regionais e
desenvolvimento econômico e social.

Direito do Consumidor Constitucional: O direito do consumidor protege e intervém


em uma relação que possui uma parte mais fraca, vulnerável, a qual não pode estar
afastada de uma proteção constitucional que imporá limites e princípios gerais de
defesa, o que se observa em seu artigo 5º, XXXII: “O Estado promoverá, na forma da
Lei, a defesa do Consumidor".

54
Judicialização da Saúde: A Judicialização quer dizer que questões políticas e
sociais não estão mais sendo decididas somente pelas instâncias políticas
tradicionais – Executivo e Legislativo – mas também pelo Poder Judiciário.
Conceitos Legais na sobre Direito do Consumidor:

Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire


ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade


de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas
relações de consumo.

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou


privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

§ 1° Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material


ou imaterial.

§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de


consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as
decorrentes das relações de caráter trabalhista.

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BIBLIOGRAFIA

GODOI JUNIOR, José Vicente. Agências Reguladoras: Características, Atividades E


Força Normativa. Universidade De Marília – Unimar. 2008

NUNES, Rizzatto, Curso de Direito do Consumidor, 7ª ed. Revisada e atualizada, São


Paulo: Saraiva, 2012.

Rachel Torres Salvatori e Carla A. Arena Ventura. A Agência Nacional de Saúde


Suplementar - ANS: onze anos de regulação dos planos de saúde. Revista da
UFBA.Salvador, v.19 - n.62, p. 471-487 - Julho/Setembro – 2012.

SANTOS, Lenir. Direito da Saúde no Brasil. Campinas Saberes Editora. 2010.

BARROSO, Luis Roberto. Neoconstitucionalismo e constitucionalização do Direito (O


triunfo tardio do direito constitucional no Brasil). Revista de Direito Administrativo da
FGV. Rio de Janeiro. V. 240. 2005.

Direito do consumidor aplicado ao direito à saúde : análise de julgados / Corina Teresa


Costa Rosa Santos, Diego Ferreira Pimentel, Rômulo Ruan Santos da Silva,
organizadores. – Feira de Santana : Universidade Estadual de Feira de Santana,
2017.

KELSEN, H. Teoria pura do direito. São Paulo, Martins Fontes Ed., 1985.

SARLET, Ingo Wolfgang. Algumas considerações em torno do conteúdo, eficácia e


efetividade do direito à saúde na Constituição de 1988. Panóptica, Vitória, ano 1, n.
4, dez. 2006, p. 1-22. Disponível em: <http://www.panoptica.org>. Acesso em:
15/05/2018.

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