Introdução
A peculiaridade dos órgãos digestivos dos ruminantes faz necessário
um profundo conhecimento de anatomia e fisiologia dos processos de
digestão destes animais, bem como do tipo de alimentação adequado à cada
espécie.
Partículas maiores geralmente geram proteínas de alta qualidade.
Sua mastigação ocorre em duas etapas.
Possui pré-estômagos: rumem, retículo e omaso. O compartimento
rumem-retículo é o responsável pela fermentação dos alimentos verdes
(volumoso), tendo capacidade de 200 litros. A fermentação do volumoso
ocorre graças a ação de bactérias, protozoários e fungos saprófitas, que além
de favorecerem a digestão do verde, são uma importante fonte de proteína
para o ruminante.
Região abdominal
Com o desenvolvimento do animal ocorrem mudanças na proporção
dos órgãos: Com 1 mês de idade a relação Rumem x Abomaso é 1:2; com 3
meses é de 2:1; e no adulto é de 9:1. Isso ocorre porque o filhote se alimenta
praticamente apenas de leite, sendo este digerido no abomaso. O filhote
possui uma particularidade em seu trato gastrintestinal que é a goteira
esofágica (um sulco que leva o leite direto até o abomaso, sem que este fique
no rumem e sofra fermentação). Conforme vai ingerindo volumoso, necessita
da ruminação e com isso o rumem vai se desenvolvendo.
O rumem se localiza do lado esquerdo, tendo um volume de 150 litros.
Seu limite anterior segue uma linha que vai do 11º espaço intercostal (EIC), na
parte dorsal, até o 7º EIC na parte ventral do abdome.
O retículo fica apoiado na cartilagem xifóide entre o 5º e o 7º EIC,
projetando-se para ambos os lados, sendo mais proeminente no lado
esquerdo.
O omaso se localiza entre o 7º e o 9º EIC no 1/3 médio do lado
direito.
O abomaso fica entre o 7º e o 11º EIC no 1/3 inferior do lado direito.
O fígado está localizado na parte superior do lado direito, entre 11º e
12º EIC, adjacente ao bordo caudal do pulmão.
Técnicas de exame:
Na inspeção abdominal verifica-se a simetria e aumentos de volume. Se
o ventre estiver aumentado pode ser por ascite ou timpanismo.
Na palpação verifica-se a sensibilidade (ruminantes – principalmente
bovinos – possuem limiar da dor alto, sendo mais difícil de detectar a dor), a
forma e a mobilidade de órgãos e zonas, bem como sua superfície
(identificando nodulações) e situação (avaliação do conteúdo visceral - se
cheio, em movimentação, com gases, etc.). A palpação pode ser superficial
(localização dos órgãos) ou profunda (se há tumor, verificar a consistência).
Nos grandes ruminantes pode-se fazer palpação retal.
No rumem examina-se o grau de plenitude: se estiver vazio estará
côncavo; se estiver normal estará tenso; se estiver cheio em excesso estará
protuberante. Na auscultação verifica-se os movimentos ruminais. Podem ser
verificados em dois minutos (de 2 a 3 ruídos ruminais – bolo alimentar se
movimentando) ou em cinco minutos (de 7 a 10 movimentos ruminais).
No retículo pode-se fazer palpação de forma indireta, com bastão de
madeira ou pinçamento de cernelha.
Percussão - pode ser usada para avaliar o conteúdo das vísceras e
pesquisar sensibilidade e para delimitação topográfica destas vísceras.
Sons maciços e submaciços na porção ventral e medial.
Região hepática – som maciço.
Vazio do flanco – sons timpânicos.
Auscultação:
Rumem: creptação constante.
Omaso: creptação discreta.
Abomaso e intestinos: ruídos de borborigma (movimentos peristálticos
– presença de gases e líquidos). É um som constante.
Auscultação + percussão: diagnóstico de deslocamento de abomaso:
“pings” abdominais.
Exames complementares
Suco de rumem: coletado com sonda esofágica (se a sonda chegar ao
rumem já significa que não há obstrução). O suco ruminal é muito
importante, pois é que determina a normalidade e a eficácia da ruminação.
Análise:
Cor – depende da alimentação: feno – verde oliva à verde-
acastanhado; pastagem – verde escuro; silagem ou grãos – castanho-
amarelado.
Odor – característico (adocicado).
Consistência / aspecto – ligeiramente viscoso, podendo apresentar-
se aquoso (indigestão simples; acidose lática rumenal), com espuma
(timpanismo espumoso) ou muito viscoso (excesso de saliva, desidratação).
pH – 5,5 a 7,0. Se o pH estiver muito ácido é provável que esteja
ocorrendo refluxo do abomaso.
Protozoários – devem estar vivos.
Coloração de Gram – para verificar a presença de bactérias (uma
pequena quantidade é o normal).
Sedimentação e flutuação – é um teste para verificar se o suco está
ativo. Deposita-se o suco em um frasco e aguarda-se por alguns minutos. Se
estiver normal, ocorrerá sedimentação rápida das partículas mais finas e
flutuação das mais grosseiras, separando o líquido em 3 fases: sedimento,
líquido e flutuante. Esta separação deve ocorrer em no máximo 10 minutos.
Se estiver inativo (ex: acidose lática rumenal), a flutuação e a sedimentação
serão retardadas.
Azul de metileno – coloca-se 0,1ml de azul de metileno para 20ml
de suco ruminal e aguarda-se por 4 minutos. Se o azul de metileno
desaparecer logo, o suco está normal (ativo). Se não desaparecer ou demorar
muito (mais de 10 minutos), significa que o suco está inativo. As bactérias e os
protozoários do suco é que consomem o azul de metileno.
Dentes – verificar:
Irregularidade no desgaste;
Fraturas ou fissuras: podem ocorrer quando há pedaços de parafuso
ou outro tipo de metal na ração.
Periostite alveolar (piorréia): pouco comum, mas pode ocorrer.
Geralmente é proveniente do açúcar da ração.
Hiperplasia de palato: conhecida como Travagem. O principal
sintoma é o emagrecimento progressivo. As causas podem ser fisiológicas
(troca de dentes) ou patológicas (ingestão de alimentos muito fibrosos – causa
física-mecânica). Neste caso o tratamento pode ser cirúrgico (cautério – com
anestesia). Oferecer ao animal apenas alimentos macios.
Doenças infecciosas
Febre aftosa: zoonose. Causa lesões na boca (aftas) e no espaço
interdigital (costuma atingir animais de cascos fendidos), podendo lesionar
mamas e tetas. Pode ser confundida com estomatite vesicular. É um vírus (na
verdade são quatro tipos de vírus) de fácil controle, pois a vacina é altamente
eficaz, porém não é uma doença controlada no Brasil. Ovinos e caprinos
servem como sentinelas da doença, pois a armazenam e não são vacinados.
Estomatite vesicular: os sinais clínicos são o aparecimento de aftas,
vesículas, bolhas, desprendimento do epitélio, áreas ulceradas em “carne-viva”
na língua e nos lábios, salivação, manqueira (também causa lesões nos cascos),
febre e anorexia. Facilita a transmissão via mucosa oral, pois as vesículas são
ricas nestes vírus.
BVD: imunodeficiência bovina. Retrovírus semelhante ao HIV
humano.
IBR
Candidíase
Indigestão em Ruminantes
Acontece por alguma deficiência no processo digestório. Pode ocorrer
por deficiência de vitamina B (porém é muito difícil) e também por deficiência
motora no rumem.
Importância
Energia, equilíbrio de aminoácidos essenciais e vitaminas.
Classificação
Indigestões Primárias – distúrbios motores:
Reticuloperitonite traumática;
Timpanismo espumoso;
Timpanismo por gás livre;
Reticulite/ruminite;
Indigestão vagal;
Obstrução da cárdia;
Obstrução do orifício reticulomasal.
Fisiologia da Ruminação
Ruminar: É um reflexo iniciado pela estimulação de receptores na mucosa
do retículo – rumem. Ciclo composto por 4 fases:
Regurgitação;
Remastigação;
Reinsalivação;
Redeglutição.
Timpanismo Ruminal
Definição: Presença de gás no rumem (causa dilatação no flanco
esquerdo do abdome). O conteúdo rumenal divide-se em três camadas:
Camada superior - gás.
Camada média - material fibroso (sólido).
Camada inferior - líquido com material em fermentação (libera gás que
devido ao movimento secundário do rumem – crânio-caudal – irá subir, sendo
excretado na eructação).
Etiologia
Timpanismo espumoso - raro nos trópicos:
Ocorre quando o animal ingere leguminosas (ex: alfafa, trevo vermelho,
trevo branco) ou pastagem de trigo (industrializada não causa problemas) que
formam espuma no rumem, impedindo a união das bolhas de ar e a sua
expulsão pelo movimento secundário do rumem. O gás fica preso, não
permitindo a sua estratificação normal.
Timpanismo por gases livres - alimentação:
Causado por dietas que levam à produção excessiva de gases e
concomitantemente ao baixo pH ruminal (excesso de alimentação rica em
concentrados - alimentos que fermentam excessivamente).
Timpanismo por gases livres - eructação:
Causado pela ausência de eructação devido a causas extra-ruminais de
acumulação gasosa (por exemplo: obstrução esofágica, anestesia em animal
sem jejum, imobilização por muito tempo).
Sinais Clínicos
Grau de dilatação variável – pode estar discreto, sendo quase
imperceptível.
Sintoma de cólicas – menos intenso do que no cavalo (que pode até
morrer de dor). O ruminante fica prostado, apático, olha para o flanco,
apresenta respiração ofegante. O rumem com timpanismo pressiona demais as
vísceras, causando dor.
Postura estirada – assume essa postura na intenção de distender o
abdome abrindo espaço para as outras vísceras.
Respiração laboriosa
Respiração com boca aberta – angústia aguda
Membranas mucosas cianóticas – a distensão do rumem comprime
a área do diafragma e do coração.
Colapso – morte em 24h no máximo.
Diagnóstico Diferencial
Prenhez avançada – o timpanismo dilata o abdome muito mais no
lado esquerdo e não em ambos, como na prenhez.
Condições hidrópicas do útero – presença de muco uterino.
DAE e DAE – deslocamento do abomaso à direita e a esquerda.
Síndrome da indigestão vagal – deficiência do nervo vago, levando a
hipofuncionalidade dos pré-estômagos.
Ascite – é mais ventral, o timpanismo tem localização mais dorsal e a
esquerda.
Peritonite difusa – geralmente causada por rompimento do útero ou
de alça intestinal. Também produz gás dentro do abdome (pelas bactérias
anaeróbias), causa distensão do abdome e na ausculta não se identifica o som
das vísceras, apenas som timpânico.
Patologia Clínica
Coleta de suco ruminal – sonda orogástrica (em eqüinos é
nasogástrica).
Se a sonda não passar – existe obstrução.
Se passar, mas não sair gás – provavelmente é timpanismo espumoso.
Se sair gás – timpanismo por gases livres (sairá 60-70% do gás).
Presença ou ausência de espuma – pode definir a etiologia.
pH (6 - 6.8) – dependendo da alimentação.
Fisiopatologia
Processo auto-perpetuante – depois de instalado, não se resolve
sozinho.
Inibição reflexa da motilidade
Receptores de estiramento de baixo limiar – aumentam as contrações
cíclicas dos pré-estômagos e com o tempo perde o estímulo de
contratibilidade.
Estimulação dos receptores de estiramento de elevado limiar – leva a
inibição da motilidade.
Certo grau de estiramento da parede ruminal: As subseqüentes
contrações são impedidas.
Tratamento:
Medicamentos à base de dimeticona e siliconados (blotrol, timpanil,
panzinol, luftal e rumenol).
Drogas que aumentem o peristaltismo, para expulsar o conteúdo que
está gerando o timpanismo: metoclopramida (plasil), fibrostigmine,
pilocarpina. Sua eficiência é lenta. Cuidado com seu uso, pois estimulam o
SNC, podendo excitar o animal.
Ruminotomia e limpeza manual (esvaziar o conteúdo) são processos
cirúrgicos, acompanhados de anestesia. Usados em casos mais graves.
Trocater não funciona neste caso, pois apenas elimina os gases livres, e
neste caso os gases estão presos na espuma.
Ocorrência
Ingestão excessiva e abrupta de alimentos ricos em carboidratos e
proteínas, que sejam prontamente fermentáveis (milho, concentrados).
Fisiopatogenia
Uma alimentação normal, baseada em volumoso (verde), promove um
pH ruminal entre 6 e 7. Aumentando a quantidade de carboidratos e proteínas
da dieta, aumenta a produção de AGV’s, que em quantidades normais são
absorvidos e sofrem gliconeogênese no fígado.
Quanto mais carboidratos e proteínas o ruminante ingerir, maior a
fermentação (formando gases) e mais ácido fica o pH (pela formação de
AGV’s e ácido lático). Ocorre uma modificação na flora ruminal, levando a
proliferação de microrganismos mais adaptados ao novo pH. Com isso ocorre
modificação na fermentação, levando a produção excessiva de gases, aumento
da temperatura, os ácidos levam à transtornos de mucosa (fica espessa,
enegrecida e pode ficar ulcerada) - facilmente identificáveis na necropsia.
Acaba causando acidose sistêmica e o animal tenta compensar
hiperventilando. Causa dilatação das alças intestinais, que aumentam o
peristaltismo.
Obs: os bezerros possuem a goteira esofágica, que leva o leite direto para o
abomaso, evitando sua fermentação no rumem. Se administrar ração ao
bezerro e logo em seguida ocorrer a mamada, o leite acabará ficando retido no
rumem, levando a fermentação excessiva e ao timpanismo.
Sinais Clínicos
Dor.
Prostração e apatia.
Aumento de volume abdominal.
Mucosas desidratadas e cianóticas – grau de desidratação severa.
Processo inflamatório.
Tempo de coagulação aumentado.
Freqüência respiratória (dispnéia) e cardíaca muito aumentadas.
Hipertermia – a troca de calor no ruminante é respiratória e fica
dificultada pela dispnéia.
Patologia Clínica
Análise do liquido ruminal:
Cor: A cor do liquido ruminal varia de acordo com o alimento
oferecido aos animais:
Feno: verde-oliva à verde-acastanhado
Pastagem: verde –escuro
Silagem/grãos: castanho-amarelado
Estase ruminal - leva à decomposição da ingesta: negro-esverdeada
Acidose: verde-leitoso.
Consistência: A consistência característica do liquido ruminal é
ligeiramente viscosa. Caso esteja inativo terá consistência aquosa. Uma
eventual contaminação por saliva durante a coleta aumenta a viscosidade.
Achados de necropsia
Verificar o rumem. Em casos de timpanismo, a mucosa ruminal estará
descolando facilmente da muscular, se encontrará espessada, com sua
coloração enegrecida e ulcerada.
Diagnóstico
Sintomatologia clínica.
Histórico do paciente.
Patologia clínica do líquido ruminal.
Prognóstico
Dependerá do tipo de timpanismo, do quanto o animal ingeriu e da
prontidão do atendimento. Se for por ingestão excessiva de grãos é ruim.
Tratamento
Sonda ou trocater - para aliviar a pressão. Emergencial em casos de
timpanismo por gases livres. Em seguida deve-se higienizar o local e cobrir
com curativo para evitar infecção.
Fluidoterapia
Ruminotomia – indicada em casos mais graves (proceder a retirada do
conteúdo ruminal).
Transfaunação – transfusão de 10 a 15 litros do fluido ruminal – retira-
se de uma vaca sadia e administra-se na outra, via sonda: sua função é
equilibrar a flora que está alterada. Em fazendas muito grandes é comum
manter uma vaca fistulada para a coleta do líquido ruminal e proceder a
transfaunação.
Bicarbonato de sódio a 5% em volume de 5 litros de água morna –
paliativo: resolve momentaneamente, mas não soluciona a causa do problema
(pois o conteúdo ruminal continuará a produzir ácidos).
Hidróxido de magnésio ou hidróxido de alumínio: dose de 1g/kg de
peso vivo diluído em 10 litros de água. São protetores de mucosa, mas não são
muito usados na rotina.
Carvão ativado por via oral na dose de 2g/kg.
Antibióticos – para prevenir a contaminação proveniente do trocater ou
da ruminotomia e também para evitar contaminação secundária, pois o animal
teve alteração de sua flora rumenal e está debilitado.
Antox pó (tiossulfato de sódio + hidróxido de alumínio + acido tânico)
– 100ml diluído em água morna.
Blo Trol (acetil tributil citrato) – 20 a 30 ml/ animal, diluídos em meia
garrafa de água.
Ruminol, Panzinol, Timpanzil.
Metoclopramida, Fibrostigmine, Pilocarpina – aumentam a motilidade
intestinal, esvaziando seu o conteúdo. Com isso proporcionam esvaziamento
do rumem. Podem causar excitação do animal, pois estimulam o SNC, por
isso seu uso não é muito aconselhável.
Reticulite e Ruminite
Lesões inflamatórias do reticulomem (levam a alterações de mucosa)
são eventos comuns como seqüelas de outras moléstias primárias. As causas
mais importantes são RPT (retículo-peritonite-traumática: causada por corpo
estranho) e acidose láctica aguda. Infecções localizadas produzem inflamação
das paredes destes órgãos e dor na porção anterior do abdome. Ambos estes
fatores inibem a motilidade, o apetite e o fluxo aboral do material ingerido.
Obs: O corpo estranho pode não perfurar o retículo, mas apenas lacerar sua
mucosa. Causando reação inflamatória.
Diagnóstico
Muito difícil. Geralmente só se diagnostica na necropsia, identificando
as alterações de mucosa.
Tratamento
Antibiótico e antiinflamatório.
Exame clínico
Percussão dolorosa – feita com martelo de borracha. O animal geme de
dor se houver corpo estranho.
Pega no dorso – puxa-se a pele do dorso do animal e ele reclama de
dor.
Bastão – passa o bastão transversalmente no ventre do animal (uma
pessoa pega de cada lado do bastão) e pressiona-se o tórax e o abdome.
Chegando na região do retículo o animal geme de dor.
Além destes três testes específicos para corpo estranho, há também o
detector de metais e o teste da rampa íngreme, que consiste em colocar o
animal para descer em um local íngreme. Os órgãos irão comprimir o retículo
e o animal irá gemer de dor.
Exame laboratorial
Hemograma (neutropenia com desvio para esquerda).
Raio X – só se fosse de alta penetração, pois normalmente não atinge o
retículo.
Diagnóstico diferencial
Peritonite simples;
Abscessos hepáticos;
Pericardite infecciosa;
Ruptura ou obstrução intestinal;
Deslocamento ou úlcera de abomaso.
Laparotomia
Pode não ser RPT e sim uma torção de alça intestinal, peritonite
simples, deslocamento de abomaso, abscesso hepático (os ruminantes têm
muita propensão a formar abscessos hepáticos, pois os AGV’s formados na
digestão seguem para o fígado – para sofrer gliconeogênese; sobrecarregando-
o em casos de alimentações ricas em carboidratos). Portanto, antes de
proceder a rumenotomia, faz-se uma laparotomia exploratória.
Tentar o acesso à área cardíaca e hepática (em pequenos ruminantes,
pois em grandes é difícil chegar a essas regiões, já que o comprimento do
braço do cirurgião não é suficiente), por fora do rumem. Se não identificar o
problema faz-se rumenotomia para ter acesso ao retículo e retirar seu
conteúdo.
Tratamento
Antibioticoterapia: largo espectro – tetraciclina, gentamicina,
cefalosporina, penicilina – por 7 a 10 dias no mínimo.
Antiinflamatório: AINEs.
Obs: A colocação de um imã (com aplicador que o deposita direto no
esôfago) no retículo diminui a incidência de RPT, mas não resolve o
problema. Os objetos metálicos ingeridos ficam aderidos ao imã, mas
dependendo da posição em que se fixarem, podem perfurar o retículo mesmo
assim. Além disso, nem todo corpo estranho é metálico.
Prognóstico
A RPT tem prognóstico obscuro, pois dependerá da resposta do
animal.
Ocorrência
Não é muito comum. Está relacionado a traumatismo na região
abdominal (flanco) por coices ou chifradas e também pode ocorrer após
cirurgia de laparotomia exploratória, onde pode-se lesar ramificações do nervo
ou causar um processo inflamatório perineal, que leva a compressão dessas
ramificações, impedindo a passagem de impulso.
Fisiopatogenia
Leva a hipofuncionalidade dos pré-estômagos, mais raro à
afuncionalidade, pois como o nervo vago tem muitas ramificações, é difícil
lesionar todas.
1. Falha no transporte omasal – impede o fluxo da ingesta através do
orifício reticulomasol. Ocorre por:
Atonia do orifício reticulorumen associada com timpanismo
crônico recorrente.
Motilidade rumenal normal ou aumentada.
2. Falha no transporte pilórico – impede o fluxo através do piloro e pode
ocorrer continuamente ou intermitente.
Sinais Clínicos
Histórico de timpanismo crônico (freqüente).
Não se alimenta direito.
Histórico de traumatismo.
Pode ser secundário a RPT – laparotomia exploratória.
Hipomotilidade do rumem.
Tratamento
Determinar a causa: freqüentemente é por laparotomia exploratória.
Neste caso, tratar com antiinflamatório, pois geralmente não há rompimento
da fibra e sim uma área inflamada que impede a passagem do impulso.
Administrar terapia específica, de acordo com a causa: Antibióticos,
AINE’s, remoção do corpo estranho ou liberação da obstrução, drenagem do
abscesso.
Aliviar a distensão dos pré-estômagos: normalmente deve ser repetido
(caso tenha timpanismo).
Limitar a ingestão de água e alimentos: administrar somente pequena
quantidade de alimentos palatáveis com alta proporção de fibra.(porque o
processo de passagem do alimento está diminuído).
Transfaunação (para melhorar a flora).
Fístula rumenal se tiver timpanismo crônico.
Deve-se estimular o animal a mastigar, pois a mastigação causa estímulo
vagal.
Massagem rumenal: com o punho ou joelho, pois também causa
estímulo vagal.
Úlceras Abomasais
(Estômago verdadeiro)
Causas
Estresse – liberação de catecolaminas: leva a diminuição da produção
do muco protetor da mucosa.
Pós-parto da vaca leiteira – a produção de leite começa a subir e o pico
de lactação se dá seis semanas após o parto. Ocorre principalmente em
novilhas pela falta de experiência (nível de estresse alto).
Deslocamento de abomaso – ou torção de abomaso. Leva a
desvitalização da mucosa.
Linfoma – transmitido por vírus, causa aumento dos linfonodos (a
região pilórica é rica em linfonodos) levando a obstrução da passagem do
alimento para o intestino, acumulando o bolo alimentar dentro do abomaso
com proliferação de HCl.
Indigestão vagal – leva a acúmulo de alimentos no abomaso e liberação
de HCl.
Transição de alimentação – mudanças no hábito alimentar.
Classificação
Profundidade da penetração;
Grau de hemorragia;
Grau de peritonite.
ÚLCERA TIPO 4:
Perfurada com peritonite difusa.
Choque septicêmico.
Morte.
Diagnóstico
Tipo 1 = difícil (sangue oculto).
Tipo 2 = específico (característica fecal) – presença de sangue nas fezes.
Tipo 3 = confunde-se com RPT.
Tipo 4 = prognóstico péssimo.
Tratamento
Tipo 1 e Tipo 2
Cimetidina: 5 a 15 mg/kg TID (ou ramitidina) – inibidores de H
(impedem a formaçào de HCl).
Caolim pectina: 1l TID
Omeprazol – é mais viável em eqüinos.
Tipo 2:
Transfusão de sangue – casos de anemia grave, quando o hematócrito
está abaixo de 16 ou 18%.
Dieta de boa qualidade e pouca quantidade (evitar alimento fibroso).
Tipo 3:
Prognóstico ruim – pode fazer peritonite difusa: administrar
antibióticos para ajudar o organismo a encapsular e localizar a
peritonite.
Deslocamento de Abomaso
Definição
É o deslocamento da víscera para esquerda ou para direita.
O abomaso não possui fixações (aponeuroses e ligamentos) que o
prendam a outras estruturas, sendo uma víscera bem flexível e livre.
Ocorrência
É mais comum ocorrer o deslocamento em novilhas, principalmente
pós-parto, pois ficam com o abdome muito distendido (por causa da gestação)
e com o parto fica “sobrando” espaço interno, facilitando o deslocamento do
abomaso.
A presença de gás (fermentação) no abomaso também é um fator
predisponente para o deslocamento. Novilhas quando entram em lactação
passam a ser alimentadas com maior quantidade de concentrado. Dessa
forma, estas novilhas passam a ter dois fatores predisponentes: o pós-parto e a
fermentação do concentrado no abomaso.
Para diminuir o risco, o ideal é alimentar cada novilha em seu coxo,
pois se alimentá-las todas juntas, uma irá comer mais do que a outra e
aumentar a probabilidade de deslocamento.
Fisiopatogenia
O abomaso pode se deslocar para direita ou para esquerda. Leva a
aumento de volume para o lado onde se deslocou.
Quando é para a direita é mais grave, pois também sofre torção, o que
não ocorre quando o deslocamento é para esquerda, por haver mais espaço.
Deslocamento para direita: na área de torção a região fica enegrecida,
pois impede o fluxo sangüíneo (o plexo venoso fica interrompido). O animal
entra em alcalose, pois o HCl fica preso no abomaso – é uma das raras causas
de alcalose em ruminantes. Leva a ulceração da mucosa. Casos de
deslocamento de abomaso para a direita devem ser encaminhados para
cirurgia em no máximo 6h, caso contrário entram em septicemia e morte.
Deslocamento para esquerda: é mais tranqüilo e em alguns casos
ocorre remissão espontânea. Mesmo com remissão espontânea, a chance de
recidiva é grande, sendo ideal proceder uma omentopexia (fixando o duodeno
ao omento), impedindo um novo deslocamento. Existem outras técnicas de
fixação, mas são mais demoradas e a eficiência é a mesma.
Sinais clínicos
Desequilíbrio ácido-básico – se for para a direita, o animal entra em
alcalose. Dor abdominal, apatia, anorexia.
Tratamento
Médico e cirúrgico. Antes da cirurgia, o tratamento médico envolve
fluidoterapia e promover o esvaziamento do abomaso com medicamentos (se
for para esquerda).
Obstrução Intestinal
Obstrução intestinal por corpo estranho, em ruminantes, é muito rara.
São mais comuns a torção de alças intestinais e a intussuscepção.
O diagnóstico clínico é muito difícil, sendo mais comum encontrar em
necropsia (pos-mortem).
Leva a distensão do abdome, dor e morte.
Peritonite
Os ruminantes têm grande capacidade de encapsular (concentrar) a
infecção, sendo rara a peritonite generalizada.
Atualmente as técnicas de reprodução (biotecnologia da reprodução –
inseminação, transferência de embrião) podem causar ruptura de reto e de
útero, abrindo portas de contaminação para o peritônio.