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diversIDADE

BAURU, AGOSTO DE 2010

Vida sem preconceito


As lutas e os desafios da
terceira idade homossexual

Entrevista com um sociólogo sobre


envelhecimento e relação de gerações p.7
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capa O Idosomídia é um grupo de pes- dagem da mídia sobre o assunto.


A foto da capa foi tirada por Felipe quisa coordenado pelo professor O grupo também mantém um site
Messias, do site Muza (www.muza.com. de jornalismo Pedro Celso Campos, com matérias jornalísticas e artigos
br). Com dois anos recém completados, da Unesp Bauru. Os integrantes são voltados ao tema.
o site foi criado pelo jornalista Valmique estudantes de jornalismo da Unesp Para acessá-lo, o endereço é
Guimarães Júnior e traz notícias diárias interessados em pesquisar e discutir http://www.faac.unesp.br/pesqui-
sobre o universo homossexual. Este o tema da terceira idade e a abor- sa/idosomidia/
ano, o site recebeu o prêmio “Direitos

Editorial
Humanos e Cidadania LGBT de Belo
Horizonte”, promovido pelo Centro de
Luta Pela Livre Orientação Sexual (Cellos-
MG) e pela Coordenação da 13ª Parada
do Orgulho LGBT de Belo Horizonte. A geração do seu avô ceu, na década de 1980 bora qualquer cabeça
tinha a esperança de vi- eram 10 idosos para que nutra alguns neurô-
ver até os 50 anos. A do cada 100 jovens. Quan- nios saiba que a síndro-
seu pai esticou a vida do você ficar velho, por me de Peter Pan abate,
até os 70. A sua velhi- volta de 2040, é prová- dolorosamente, todos
ce provavelmente será vel que seja 172 idosos que acreditam nessa
mais longa, estimada para cada 100 jovens, balela. Os seres huma-
até os 90 anos. Quem algo em torno de 63 mi- nos são vulneráveis ao
sabe os seus netos vi- lhões de pessoas. Sorte tempo, à natureza e às
vam até os 120 anos? Se sua! A maioria dos seus suas crenças.
Publicação realizada pelos alunos de você ainda não pensou contemporâneos será Envelhecer é privi-
jornalismo da Universidade Estadual que envelhecer deve fa- de velhos também. Pro- légio dado apenas aos
zer parte dos seus bons vavelmente, você sofre- que ficaram vivos e su-
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” planos para o futuro, rá de menos preconcei- peraram a cultura da
terá bastante mais tem- to que seu avô sofreu vaidade, da aparência
(UNESP) po para sofrer as conse- no tempo dele. e da virilidade, tolices
quências dessa tolice. Para envelhecer sem ocas próprias das vul-
Se você acha que ser sofrimento, comece por nerabilidades da juven-
velho é um problema, quebrar todos os espe- tude, e se prepararam
Jornalista responsável : Pedro Celso Campos rapidamente você será lhos. Sua barriga tanqui- para enfrentar as vul-
(MTB 186) o protagonista do pro- nho pode durar alguns nerabilidades da matu-
blema. anos a mais, se você se ridade e da velhice: a
Diagramação: Renato Sostena Se tudo correr bem esforçar muito para isso. solidão, o abandono e a
e você não sucumbir às Seu rostinho angelical, fragilidade.
Edição: Mariane Bovoloni loucuras da vida de jo- em breve, vai começar a Alguém, não sei se
vem ou à depressão por hospedar as marcas do vivo ou em livro, me
Repórteres: Ariane Amaro, Bruno Piola, não suportar perdê-las, tempo. Tranqüilize-se. disse que vida é uma
daqui a menos de 40 Para elas também ha- aventura maravilho-
Jéssica Godoy, Ludmylla Rocha, Mariane anos você, inevitavel- verá solução. Cirurgias, sa da qual ninguém
mente, fará parte da po- cosméticos e vitaminas consegue sair vivo.
Bovoloni, Paula Monezzi e Raphael pulação de idosos. Veja prometem o milagre da Acostume-se.
Rodrigues que, quando você nas- juventude eterna, em-
Panorama do Preconceito
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Homossexuais lutam por sua igualdade, mas ainda existe


quem não os aceita Ariane Amaro

Viver fora dos pa- índice de mortes seja xual idoso é um fenô- uma vez que você se vale à pena. Se você
drões sociais pré-esta- maior se associado à meno comum. Vinicius aceita, é mais fácil en- é homossexual, vá em
belecidos não deveria homossexualidade na acrescenta ainda que tender o que os outros frente e não tenha
causar um impasse. No velhice, quando há um se nossa sociedade se pensam sobre você”, medo do que os outros
entanto, após anos de preconceito dobrado. baliza pela liberdade, confessa. vão dizer. A gente não
luta contra o precon- O questionamento a opção sexual deve Lucas Dias Oliveira, está aqui para agradar
ceito, homens e mu- da sexualidade pode ser respeitada, assim de 18 anos, também a ninguém. Precon-
lheres homossexuais adquirir caráter dú- como todas as outras homossexual, nunca ceito existe em todos
enfrentam, diariamen- bio. “A disputa centra- escolhas que o ser hu- parou para pensar no os lugares, com todas
te, conflitos ideológi- -se, fundamentalmen- mano é capaz de fazer. futuro ou com os pre- as raças e com todas
cos que dificultam a te, em seu significado O receio de assumir conceitos que irá en- as religiões, mas para
aceitação da homosse- moral. Assistimos ao a homossexualidade frentar. Porém, desde alcançar a felicidade,
xualidade. embate daqueles que perante familiares e já, deixa um recado à passamos por isso. En-
O preconceito está assinalam o caráter amigos é proveniente sociedade preconcei- tão, vamos abrir a ca-
presente desde os pri- desviante à anormali- desses preconceitos. tuosa. “Gostaria de beça e ver que, hoje,
mórdios da convivência dade ou à inferioridade Em qualquer idade, tal dizer, para todo mun- o mundo é de todos.
em sociedade. “A ideia do homossexual, com fato é de grande impor- do, heterossexual, bis- Vamos deixar cada um
do que é preconceito os outros que procla- tância. Porém, ao atin- sexual, homossexual, ser feliz” conclui.
nos é fornecida pela mam sua normalidade gir uma idade madura, que tudo nessa vida
própria palavra. Seria, e naturalidade, através a realidade Rodrigo França e Lucas Oliveira:
em linhas gerais, uma de um discurso claro torna-se amigos contra o preconceito
ideia ou conceito con- de autoafirmação”, ex- um pou-

Arquivo pessoal
cebido anteriormente plica o sociólogo e pro- co mais
ao real conhecimento fessor Wagner Alonge. complexa,
da situação ou da pes- Se a sociedade acre- quando,
soa. Um julgamento dita viver sob os prin- muitas ve-
antecipado, no jargão cípios da liberdade de zes, o idoso
popular. Isso, em ter- escolha, como se diz, não tem a
mos jurídicos, significa qualquer tipo de pre- quem re-
o julgamento antecipa- conceito possui ca- correr, caso
do de uma situação so- ráter questionável. não seja
mada a certa dose de Exercer livremente sua aceito por
intolerância”, relata o opção sexual é um di- sua família.
advogado e historiador reito inerente ao ser Rodrigo
Vinicius Diniz. humano, independen- França, 17
Essa intolerância faz temente de sua idade. anos, é ho-
do Brasil o país com Na opinião de Vinicius m o s s exu a l
maior número de cri- Diniz, o homossexua- e admite
mes contra lésbicas, lismo é um tabu cujo ter tido re-
gays, bissexuais e tran- preconceito aumenta ceio de as-
sexuais (LGBT). Somen- com anterioridade da sumir sua
te no ano passado, fo- geração. Na terceira opção. “O
ram assassinados 198 idade, é quando se en- mais difícil
homossexuais vítimas contra a grande parte é a acei-
da homofobia. Acredi- dos preconceitos. No tação pró-
ta-se, ainda, que esse entanto, o homosse- pria, pois,
Luta pela diversidade
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Movimentos ativistas LGBT começaram em 1969 e conseguiram muitas vitórias


Bruno Piola

No século XVI, vários de 1969, quando ocor- sexualismo. “O Somos começo da epidemia, gulho LGBT (conheci-
países como Portugal, reu a primeira revolta também organizou a não havia informações da como Parada Gay),
Alemanha e Brasil con- organizada de homos- que ocorre em cidades
sideraram o homosse- sexuais e travestis, no do mundo inteiro. Em

Raphael Rodrigues
xualismo um ato crimi- bar Stonewall Inn, em 2006, a de São Paulo
noso. Essa tendência Nova York. A rebelião foi considerada a maior
continuou até o século contra as constantes Parada Gay do planeta.
XIX, quando tais leis perseguições policiais Para Marcos, o evento
passaram a ser extin- foi considerada tão im- serve tanto para feste-
tas. Nosso país foi um portante que o dia 28 jar quanto para reivin-
dos pioneiros a excluí- de julho foi escolhido dicar direitos e mostrar
-la, com a criação do como o Dia do Orgulho que os homossexuais
primeiro Código Penal, Gay. são pessoas normais e
em 1830. Stonewall foi o pon- iguais a todos.
No século XX, o ato tapé inicial para o mo- Todos esses even-
sexual entre duas pes- vimento homossexual tos não foram em vão:
soas do mesmo sexo nos Estados Unidos e os LGBT conquistaram
já não era considerado no mundo. Sem ele, muitos direitos. Pode-
crime na maior parte poderia não ter ocorri- mos citar, por exem-
do planeta. Até mesmo do, por exemplo, a cria- plo, a lei estadual de
a Organização Mundial ção do grupo Somos São Paulo nº 10.948,
da Saúde (OMS) deixou em 1978, a primeira de 2001, que proíbe a
de considerar o ho- organização ativis- discriminação por cau-
mossexualismo - o sufi- ta LGBT do Brasil. Em sa da orientação sexu-
Marcos Alves é militante dos direitos homossexuais
xo dá a ideia de enfer- meio ao regime militar, há quase 10 anos al; o decreto 55.587,
midade - uma doença os integrantes eram de março deste ano,
psicossocial, em 1985. obrigados a agir na primeira marcha por sobre a doença. Esse criou o Conselho Es-
Mesmo com todos clandestinidade. Seu direitos dos homosse- foi mais um motivo tadual dos Direitos da
esses avanços, o gru- principal meio de ação xuais, em meados dos para o grupo LGBT sair População de Lésbi-
po dos LGBT (Lésbi- era o jornal O Lampião anos 80. Apenas 100 às ruas. “Para nós, a cas, Gays, Bissexuais,
cas, Gays, Bissexuais, da Esquina, que circu- pessoas participaram, AIDS era assustadora. Travestis e Transexuais
Travestis, Transexuais lou entre 1978 e 1981. mas ela iria dar origem Lutávamos por trata- em São Paulo. “O reco-
e Transgêneros) ainda O veículo, inicial- às Paradas Gay”, revela mento, medicamentos, nhecimento previden-
era discriminado e não mente, se preocupou Marcos Alves, 49, ele- que eram caríssimos, e ciário também é uma
aceito pela sociedade. em tirar o homosse- tricitário e militante da contra o rótulo de que conquista importante.
Não havia direitos que xual e outras mino- CUT (Central Única de só homossexuais pega- Hoje, há casos em que
garantissem sua liber- rias da marginalidade. Trabalhadores) de Bau- vam a doença”, explica pessoas comprovam
dade. Em um cenário Já em seus últimos ru. Alves. a relação homoafeti-
como esse, a luta co- números, o objetivo Nos anos 80, o Brasil Mas, às vezes, as ba- va na Justiça e podem
meçaria cedo ou tarde. era abordar assuntos e o restante do mundo talhas podem ser tra- colocar seus parceiros
E esse início teve até mais polêmicos, como sofreram com a disse- vadas com festas. É o como seus beneficiá-
data fixa: 28 de junho masturbação e tran- minação da AIDS. No caso da Parada do Or- rios”, finaliza Alves.
Igualdade e Paz: direitos de todos
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“Eu amo a vida – Diga não a violência” é o tema da parada deste ano
Raphael Rodrigues
Após anos de lutas brigando também pe-
e diante de leis que los direitos de todas
lhes reservam alguns as outras classes ex-
direitos anteriormen- clusas na sociedade.
te negados devido ao Estamos pedindo que
preconceito, os ho- se criem leis para clas-
mossexuais alcança- ses que têm os seus
ram uma nova etapa direitos tolhidos”.
de luta social. Mas Durante a se-
será que a igualdade mana da diversidade
já foi alcançada? estão programadas
Vários direitos fo- as participações da
ram conquistados nos Secretaria da Cultu-
últimos anos. “Houve ra, de Esportes, Edu-
uma evolução, e temos cação, do Bem Estar
um monte de projetos bimento de benefícios Em 2009, a Parada da diversidade de Bauru levou as ruas Social, do Núcleo pela
o tema “Igualdade Só Existe na Diversidade”
tramitando em câma- previdenciários, des- Tolerância da UNESP,
ras municipais, câma- de que se comprove é seu companheiro”, lizará a sua 3ª edição do Conselho Regional
ras estaduais, federal, a existência de uma complementa Alves. entre os dias 23 e 29 de Psicologia, além
senado. A APL122 está relação homoafeti- Mas ainda há aque- de agosto e espera de várias outras ins-
no senado para ser vo- va compartilhada. No les que mantém uma reunir em sua passe- tituições, como con-
tada. Na Conferência mês passado, outra lei visão preconceituo- ata 40 mil pessoas, selhos municipais, as-
dos Direitos Humanos, importante foi apro- sa. Segundo dados unidas em torno da sociações de bairro e
foi feito um artigo so- vada, onde casais do da pesquisa nacional bandeira “Eu amo a ONGs. “Irão acontecer
mente para o homos- mesmo sexo poderão “Diversidade Sexual e vida – Diga não à vio- diversas oficinas, mos-
sexual”, exemplifica declarar o companhei- Homofobia no Brasil. lência”. “Morre mui- tras, apresentação de
Marcos Alves. ro – ou a companhei- Intolerância e respeito ta gente por dia por música, dança e tea-
Entre leis que foram ra - como dependente às diferenças sexuais causa da homofobia. tro, além das mesas
de grande importância do Imposto de Renda. nos espaços público e É uma coisa que não redondas para discutir
está o direito ao rece- “Ali, você prova mais privado”, realizada no dá para ser humano e apresentar ao se-
uma vez que co- ano de 2008 pela Fun- nenhum admitir”, co- nhor Prefeito soluções
munga com dação Perseu Abramo, menta Alves. para a onda de violên-
aquela pessoa. em parceria com Rosa A luta pela paz e cia que está afetando
A partir do mo- Luxemburg Stiftung, pela igualdade não se todos nós” informa a
mento em que o um em cada quatro restringe a somente ABD, por meio de re-
governo está re- brasileiros é homofó- um grupo. Alves pon- lease oficial.
colhendo impos- bico. tua que esta causa é Para a programação
to em cima de Na luta para desfa- de todos aqueles que ou outras informações
Divulgação

uma relação ho- zer essa visão precon- têm seus direitos lesa- sobre a 3ª semana da
moafetiva, você ceituosa foi criada a dos “Nós estamos ali diversidade de Bau-
tem o documen- Semana da Diversida- (na parada da diversi- ru acesse o site www.
to mais impor- de. Em Bauru, a ABD dade) não só brigando baurupeladiversida-
“Morre muita gente por dia por tante para pro- (Associação Bauru pelos direitos dos ho- de.org.br ou ligue (14)
causa da homofobia” var que aquele pela Diversidade) rea- mossexuais, mas sim 8171-1812.
Um envelhecer pintado com outras cores 6

A homossexualidade vivida por quem já tem muito a contar


Ludmylla Rocha
Com a expectativa de variadas formas afligem ao longo dos anos. Essa medida tão bem as intenções de quem
vida cada vez mais alta quem se encaixa nesse Além dos problemas recebida pela comuni- deseja se colocar como
e, em consequência, o grupo, como o diretor fi- sociais, a solidão é um dade homossexual en- dependente, receoso de
aumento no número nanceiro aposentado da dos grandes desafios dos contra ainda resistência. um aumento dos já nu-
de idosos no Brasil e no faculdade de Medicina idosos homossexuais. A José Carlos, por exem- merosos crimes contra a
mundo, a preocupação da UNESP de Botucatu, falta de um cônjuge e de plo, se preocupa com classe.
em atender as vontades José Carlos Rasalim, 61 familiares faz com que as

Ludmylla Rocha
e necessidades desse se- anos. amizades assumam pa-
tor ganha mais força. Se Com uma vida cheia peis ainda mais impor-
ainda não se sabe como de dificuldades e supera- tantes do que acontece
lidar com elas, quando ções, José Carlos critica geralmente, colocando
se fala dos idosos ho- a postura da sociedade em pauta a questão do
mossexuais vê-se com quanto aos homossexu- casamento homossexual
mais clareza o desprepa- ais em geral. Para ele, que daria mais estabili-
ro dos setores públicos o preconceito persiste dade aos envolvidos. A
ou mesmo da sociedade apesar dos avanços con- reivindicação ganha mais
para lidar com o grupo. seguidos. E, na terceira força após a recente
Questões que vão idade, a luta diária se aprovação da declaração
desde a falta de especia- mantém, contando ago- de um parceiro como de-
lização de atendimento ra com a experiência e pendente do imposto de
ao preconceito das mais segurança conquistadas renda. Para José Carlos, o preconceito ainda existe

Sem limites no tempo


Sexo na terceira idade é recomendável, mas ainda é alvo de preconceito
Mariane Bovoloni
Quem nunca ouviu bilidade sexual como a li- da Associação SABER e relações heterossexuais, “Apesar das leis que bus-
uma piada a respeito do bido não se perdem. A di- coordenador do Departa- mas o preconceito que o cam garantir os direitos
sexo praticado pelos ido- ferença está que a pessoa mento de Medicina Sexu- envolve é maior. Para a homossexuais, muitas
sos? Ou, ainda, quem idosa vai praticar menos al do Hospital Mater Dei, psicóloga Luciene, muitas pessoas negam tudo
nunca teve dúvidas se, sexo que os mais jovens. em Belo Horizonte. Se- pessoas não sabem lidar aquilo que é diferente do
conforme os anos avan- No entanto, a intimidade gundo ele, com exceção com a diversidade, sen- que elas consideram ‘nor-
çam, a necessidade ou adquirida ao longo dos de problemas cardíacos tindo rejeição por eles. mal’”, conclui Luciene.
a forma de se fazer sexo anos com o parceiro e a em que a atividade físi-
muda? Segundo a psicó- menor preocupação com ca durante o sexo pode
loga e colunista do site a gravidez tornam o re- prejudicar, não há ne-
Cuidar de Idosos (www. lação mais prazerosa. E, nhuma contra-indicação
cuidardeidosos.com.br) ainda que a mulher idosa com o aumento da idade.
Luciene Corrêa Miranda, não engravide, o uso do Segundo a Organização
muitos acreditam que a preservativo deve conti- Mundial de Saúde (OMS),
Mariane Bovoloni

terceira idade é o fim da nuar, já que é um impor- a sexualidade segura e


vida. “Pensar que essa é tante método de prevenir prazerosa é uma das indi-
uma época marcada por doenças. cadoras da qualidade de
só por doenças não con- Dr. Gerson Lopes é co- vida de uma população.
diz com a realidade”, diz. ordenador do Projeto Se- O sexo entre idosos ho-
Na velhice, tanto a ha- xualidade com Qualidade mossexuais não difere das A camisinha deve ser usada
em todas as idades
7
E n t r e v i s t a

Arquivo pessoal
legiado ao idoso. cepção pelos espaços de que chamo de “gerontofo-
Já as pesquisas mais con- sociabilidade homoeróti- bia” – pelos mais jovens. O
temporâneas procuram cos. Entretanto, isso não se que, aliás, não parece ser
enfocar as formas criativas trata de um fator determi- tão expressivo em relação
e positivas de se vivenciar nante. às mulheres lésbicas mais
o correr de anos. Pude Essa idéia de respeitabili- velhas.
encontrar em minhas pes- dade e cidadania através Por outro lado, há um olhar
quisas a figura do “tiozão”, do consumo acaba excluin- bastante negativo voltado
homens gays a partir dos do de maneira problemá- às gerações mais jovens de
45 anos, com bom poder tica uma parcela bastante gays e lésbicas pelos mais
aquisitivo e que se man- expressiva de homossexu- velhos, com todo um con-
tém com atributos sociais ais. Quanto a pessoas mais junto de caracterizações
valorizados, incorporando pobres, restaria qual cida- morais desqualificadoras
a “juventude como estilo dania e aceitação social? que a eles são relaciona-
de vida”. Talvez seja mais rentável dos, como: escandalosos,
expandir os padrões de polemistas, vulgares, pro-
A situação sócio-econô- compreensão de quem míscuos, garotos excessi-
mica dos idosos gays tam- deve ser respeitado, salva- vamente femininos e me-
bém influencia sua aceita- guardado por legislações e ninas muito masculinas.
ção pela sociedade? proteção de políticas públi- Grande parte da crítica cir-
Carlos Eduardo Henning é nero, classe social, “raça”/ A questão de classe social cas estatais. cunda a idéia de desrespei-
antropólogo, mestre em etnicidade. Assim, é pro- tem relevância não apenas to à “discrição”.
Antropologia Social pela blemático afirmar que as na “aceitação social”, mas A relação entre jovens e Analiso tal crítica a partir
Universidade Federal de formas de envelhecimento também nas formas de vi- idosos gays é mais conflitu- da consideração de que
Santa Catarina e doutoran- homossexual sejam espe- venciar a homofobia em osa do que entre os jovens a entrada na vida social e
do, também em Antropo- cialmente difíceis ou que várias faixas etárias. e idosos heterossexuais? sexual com maior indepen-
logia Social, pela Unicamp. esse envelhecimento se re- A própria homofobia não é Não necessariamente. O dência dos controles pa-
Alguns dos temas de suas suma a um único modelo, experimentada por todos conflito não é algo que está rentais se deu em distintos
pesquisas são as relações positivo ou negativo. Além os homossexuais da mes- presente em toda e qual- contextos sociais, culturais
de gênero e o homoeros- do mais, nada garante que ma forma. Alguns indiví- quer relação geracional. É e históricos para as diferen-
tismo, atuando em temas não existam “envelheci- duos tendem a se manter claro, é possível encontrar tes gerações. O contexto
como adolescência e enve- mentos homossexuais” mais distanciados ou pro- diversos exemplos de rela- atual dos mais jovens esta-
lhecimento. Em entrevista, semelhantes aos “envelhe- tegidos, o que não quer ções geracionais conflituo- ria marcado por um cam-
Henning nos contou sobre cimentos heterossexuais”. dizer que os homossexuais sas tanto em contextos hé- po de possibilidades mais
suas pesquisas acerca da Muito já se discutiu acer- de elites econômicas não tero quanto homossexuais, amplo para a vivência de
homofobia na sociedade e ca das tendências de re- sofram nenhum tipo de mas tais relações não se afetos e sexualidades, fru-
de como interagem os ho- presentações negativas discriminação. Eles, talvez, resumem ao conflito. Exis- to das grandes lutas histó-
mossexuais que viveram quanto às formas de enve- não estejam tão expostos tem vários exemplos em ricas por maior visibilidade
em contextos históricos lhecimento homossexual, a certos tipos de violência que o que se destaca são e direitos sociais dos movi-
tão distintos. partindo da idéia de indi- homofóbica, aquelas ma- relações amistosas e res- mentos LGBT. Esses jovens
víduos “solitários, melan- nifestações de intolerân- peitosas. tendem a ter mais contex-
cólicos, desvalorizados e cia “corriqueiras” contra tos e espaços sociais onde
Você acha que é mais di- indesejados no mercado indivíduos que precisam Em sua pesquisa, muitos se sentem à vontade e se-
fícil para um homossexu- erótico”, aqueles sujeitos, circular a pé pelos espaços dos entrevistados tendiam guros para expressar seus
al aceitar a velhice? no caso dos homens, que públicos das cidades, de- a criticar a outra geração de afetos de maneira pública,
É uma questão interessan- tendem a ser chamados de pendendo de transporte gays, seja mais velha ou mais sem precisar respeitar as
te, mas não posso respon- “tias” ou “bichas-velhas”. coletivo. Quanto aos ho- nova. Você acha que hoje os noções de “discrição” que
dê-la com “sim” ou “não”. Essas representações são mossexuais mais velhos, é jovens gays são diferentes eram parte expressiva de
As formas de envelhecer acionadas a partir de um possível afirmar que uma dos da geração passada? outros contextos restritos
e os modelos de envelhe- imaginário de homosse- maior potencialidade de Nas relações geracionais vivenciados pelos mais
cimento tendem a ser di- xualidade fragilizada e de consumo auxilia a ampliar conflituosas, de um lado, velhos. Não creio, porém,
versos, atravessados por uma supervalorização do o campo de possibilidades há uma desvalorização que haja uma diferença
uma infinidade de marcas contexto familiar, visto sociais, tanto em termos acentuada de homens ho- absoluta entre as distintas
de diferenciação como gê- como suporte social privi- de aceitação quanto de re- mossexuais mais velhos – o gerações de homossexuais.
Homossexualidade nas telas 8

O que antes era visto com receio, hoje é tema frequente e premiado Jéssica Godoy

A temática homos- to hippie, houve após Philadelphia, de

Divulgação
sexual esteve presente uma liberação se- Jonathan Demme, rece-
desde as primeiras gra- xual, assim como ber duas estatuetas.
vações cinematográfi- a liberação senso- Hoje, são produzi-
cas. Um dos primeiros rial do ser huma- dos inúmeros filmes
filmes foi The Gay Bro- no”, afirma. homossexuais e alguns
thers, de 1898 e dirigi- Nessa época, são altamente pre-
do por William Dickson. vários artistas se miados. Um exemplo
No entanto, as cenas destacaram. É o é Brokeback Moutain,
que compunham filmes caso de Wandy dirigido pelo taiwanês
como esse eram muito Warhol. “Um dos Ang Lee, que recebeu
diferentes das cenas de homossexuais oito indicações ao Os-
hoje, em que a homos- que mais se so- car e ganhou três. Ade-
sexualidade é mostrada bressaiu foi Wa- mais, recebeu prêmios
de forma mais realista e rhol, que traba- Cena do filme “Brokeback Mountain”: o cinema incita o debate como BAFTA, Globo de
natural. lhou em várias artes. que visto com receio pe- luta para gravar o filme Ouro e Independent
Segundo Paulo Henri- Ele foi um dos nomes los produtores e finan- sobre a Aids, Meu que- Spirit Awards. Do mes-
que Pereira, do Cineclu- que deu destaque aos ciadores. Esse foi caso do rido companheiro. mo diretor, Banquete
be de Bauru, foi a partir homossexuais na mídia”, dramaturgo e roteirista O olhar dos produto- de Casamento é ou-
da metade do século XX explica Paulo Henrique. Craig Lucas, que recebeu res e financiadores, po- tro filme premiado e
que houve mudanças A partir de então, o ci- inúmeras respostas ne- rém, mudou após filmes de alta qualidade que
maiores. “Com a explo- nema com a temática ho- gativas, tanto de atores com a temática ganha- deixam insustentáveis
são da cultura jovem, o mossexual passou a ter quanto de produtores rem Oscars. Hollywood as restrições ao tema
rock’n roll e o movimen- maior visibilidade, ainda durante os seis anos de repensou sua atitude no passado.

e nas palavras
Ao driblar o preconceito que persiste, obras objetivam resultados mais eficazes
Paula Monezzi

O tema da homos- lo, de Adolfo Caminha, esses romances são im- ni. O livro narra a his- livros, já que eles fun-
sexualidade há tempos onde existem persona- portantes por obrigar tória do movimento cionam como uma luta
está presente na obra de gens homossexuais. o leitor a encarar seus LGBT no Brasil, desde contra a discrimina-
diversos autores. Exem- No passado, essas pu- próprios preconceitos, o surgimento, no final ção. “Escrever livros
plos são livros como O blicações geravam alvo- fazendo-o refletir sobre dos anos 1970, e dos sobre homossexuali-
cortiço, de Aluísio de roço e receio. De acordo a diversidade e comple- primeiros grupos ho- dade é uma maneira
Azevedo, e O bom criou- com Júlio Assis Simões, xidade das experiências mossexuais organiza- de se construir mais
do Departamen- humanas. dos. “O esforço geral tolerância e respeito
Divulgação

to de Antropologia Hoje, no entanto, as é mostrar que a discri- para com a diversida-


da USP, essas duas obras estão ganhan- minação sexual é uma de sexual e a humana
obras associavam a do espaço, tratando forma deplorável de de modo geral”. En-
homossexualidade a de lutas de direitos e produção de desigual- tretanto, salienta que
um tipo de patologia contra o preconceito dade e também como se esses esforços não
congênita, condenan- de maneira mais cla- as pessoas atingidas forem acompanhados
do as personagens a ra, como é o caso de buscam recursos po- de políticas eficazes,
fins trágicos. Apesar Na trilha do arco-íris, líticos para enfren- de educação e de ga-
disso, conseguiam tra- escrito pelo próprio tá-la e combatê-la”, rantia de direitos fun-
duzir uma visão com- Júlio Assis Simões, em explica. damentais às pesso-
preensiva e simpática parceria com a antro- Simões considera as LGBT, não surtirão
desse grupo. Para ele, póloga Regina Facchi- válida a publicação de efeitos favoráveis.

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