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Não é só sedução

Stephanie Laurens

Bastion Club 06
Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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O último refúgio e defesa contra as casamenteiras da alta sociedade

Membros:

() Christian Allardyce – marquês de Dearne

2º Anthony Blake – visconde de Torrington — (Alícia Carrington

Pevensey)

5º Jocelyn Hubert Deverell – visconde de Paignton — (Phoebe Mary

Malleson)

3º Charles St. Austell – conde de Lostwithiel — (lady Penelope Jane

Marissa Selborne)

() Gervase Aubrey Simon Tregarth – sexto conde de Crowhurst

4º Jack Warnefleet – barão Warnefleet de Minchinbury — (lady Clarice

Altwood)

1º Tristan Wemyss – conde de Trentham — (Leonora Carlin)

Dalziel – (Royce) – ex-comandante de todos no exército – membro

oficial do clube

Observação:

A numeração diz respeito à ordem de seus casamentos.

Jack Hendon — lorde Hendon — membro não oficial do Clube Bastion e

amigo de Anthony Blake (Kit)

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Capítulo 1

Princípios de Julho de 1816

Castelo de Crowhurst, Cornualha

— Como diabos destruíram o moinho? — Gervase Tregarth, sexto conde de

Crowhurst, passeava nervoso em frente à lareira, no elegante salão do castelo de

Crowhurst. A exasperação de um homem empurrado até os limites da frustração

estava em seu rosto, seu tom e cada passada de suas longas pernas. — E tenho

que pensar que elas também estavam atrás de tudo o mais? — As valas quebradas,

as embarcações arruinadas, a confusão com os grãos, a inexplicável vibração dos

sinos da igreja à meia noite?

Virou-se e dirigiu o olhar claramente interrogativo a sua madrasta, Sybil, com

os duros olhos cor de avelã.

A mulher, sentada no divã com um xale de seda sobre os ombros, olhou-o por

sua vez com expressão vazia, como se não compreendesse tudo o que Gervase

queria dizer, ainda que ele soubesse que não era assim. Na realidade, Sybil

pensava como poderia responder-lhe, porque sabia que ele estava a ponto de

perder a paciência e preferia evitá-lo.

Gervase apertou mais ainda os olhos.

— Foram elas, não? Claro que foram elas.

Sua voz se tornara um grunhido; os últimos meses de inúteis viagens a

Londres para ser chamado de volta à Cornualha ao fim de poucos dias para

solucionar alguma inexplicável calamidade, passaram por sua mente crispando

ainda mais seus nervos.

— Que demônios acreditam que estão fazendo?

Não gritou, mas a força que havia atrás de suas palavras bastaria para fazer

soçobrar uma mulher mais forte que Sybil. Gervase respirou forte e tentou reprimir

a fúria que brotava em seu interior. Com ―elas‖ se referia as suas três meias-irmãs,

as filhas de Sybil, que, nos últimos tempos, se converteram em sua cruz.

Belinda, Annabel e Jane puxaram ao pai, assim como Gervase, razão pela qual

Sybil, a dócil e afável Sybil ruiva e delicada, era totalmente incapaz de controlá-las.

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As três eram mais inteligentes, astutas e agudas do que ela e também mais

enérgicas, atrevidas e extrovertidas, em definitivo, mais seguras de si mesmas.

Gervase, por sua parte, tinha um caráter similar ao das três jovens, pelo que

sempre foram muito unidos.

Como todas adoravam seu único irmão mais velho, ele se acostumara que

estivessem sempre ao seu lado, ou ao menos que agissem seguindo uma lógica

própria dos Tregarth que ele podia compreender.

Porém, nos últimos seis meses passaram de adoráveis, ainda que travessas

jovens descaradas e buliçosas as quais queria tanto, a umas harpias inspiradas pelo

demônio, cujo principal objetivo na vida era deixá-lo louco.

Sua última pergunta fora retórica. Se ele não podia compreender o que

empurrara suas queridas irmãs a perpetrar aqueles seis meses de tumulto, não

acreditava que Sybil pudesse fazê-lo.

Mas, para sua surpresa, a doce mulher abaixou os olhos e brincou com as

franjas de seu xale.

— Na realidade... — alongou a palavra e o olhou, — creio que é pelo que

aconteceu com as jovens Hardesty.

— As jovens Hardesty? — Gervase parou e franziu o rosto, enquanto se

esforçava para lembrar-se delas. — AS Hardesty de Helston Grange?

Sybil concordou.

— Robert Hardesty, lorde Hardesty agora que seu pai faleceu, foi a Londres em

setembro e regressou com uma esposa.

A recordação que Gervase tinha de Robert Hardesty era a de um imaturo

jovem, mas essa imagem datava de doze anos atrás.

—Robert deve ter... Quantos? Vinte e cinco anos?

— Vinte e seis, acredito.

— Um pouco jovem para o casamento, talvez. Ainda assim, suponho, tem que

dar uma posição a suas irmãs, uma esposa parece uma incorporação razoável a seu

lugar. — O futuro de suas próprias irmãs era uma das muitas razões pelas quais ele

mesmo se sentia obrigado a casar-se.

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Gervase tentou recordar-se das jovens Hardesty, mas sem resultado. — Suas

irmãs são mais ou menos da idade de Belinda, não?

— Um ou dois anos mais, dezoito e dezessete. Todos pensavam que Melissa e

Katherine seriam apresentadas à sociedade na temporada passada e que Robert ao

casar-se... Bem, todos imaginavam que a nova lady Hardesty, uma jovem viúva de

Londres da qual se diz que é uma beleza, tomaria conta delas.

Pelo seu tom, ficou claro que as expectativas gerais não se cumpriram.

— O que aconteceu?

— Robert trouxe sua dama para casa justamente antes do Natal. — Seus

rosados e delicados lábios esboçaram um gesto de severa desaprovação. — Em

janeiro, com a neve ainda bloqueando os caminhos, Robert enviou Melissa e

Katherine para visitar sua tia em York. Ao que parece, sua nova esposa desejava

dispor de tempo para adaptar-se a sua nova vida, sem a distração de ter que

ocupar-se das jovens. Agora, já estamos em julho e as jovens continuam em York.

Entretanto, lady Hardesty passou a temporada em Londres e regressou a Helston

Grange faz uma semana, acompanhada de um grupo de amigos londrinenses.

Entendi que ela disse a Robert que não seria prudente as jovens regressarem a

casa com tantos cavalheiros da cidade alojados sob seu teto.

Gervase continuou de pé diante da lareira, olhando fixamente Sybil, enquanto

procurava a conexão implícita. Ao fim, piscou.

— Devo entender... — Levantou a cabeça e cravou as vistas além de onde se

encontrava sua madrasta, enquanto tentava ver a história dos Hardesty pela

perspectiva de suas irmãs. — Não pode ser que estejam equiparando-me a Robert

Hardesty.

Seu tom deixava claro que lhe parecia inconcebível. Voltou a olhar para Sybil,

cujos olhos se abriram muito.

— Bem, claro que sim, querido. Os paralelismos são bastante óbvios.

Ele sentiu que lhe endureciam as faces.

— Não. Não são. — Fez uma pausa e grunhiu. — Deus Santo! Não podem

imaginar a sério que...

Interrompeu-se e olhou para a porta quando esta se abriu para entrar suas

meias-irmãs. Mandara-as chamar, no mesmo instante em que entrara furioso, no

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vestíbulo principal, depois que Gregson, o xerife local, fora ao seu encontro no

pátio central do castelo com a notícia de que viram as três jovens afastando-se às

escondidas do moinho pouco depois da meia noite.

Posteriormente, descobrira-se que este já não funcionava e, apesar dos

esforços do molineiro, continuava estragado.

---

Após a série de estranhos incidentes que assolaram a propriedade durante os

últimos seis meses, Gervase e Gregson estabeleceram uma vigilância secreta.

Porém, as últimas pessoas que esperavam prender com as mãos na massa

eram as três jovens que entravam nesse momento na sala.

Belinda, a maior, encabeçava a comitiva. Com dezesseis anos, já era mais alta

que Sybil e prometia fazer os cavalheiros voltarem às cabeças ao passar, com

aqueles brilhantes cabelos castanhos claros e suas longas pernas. Mas, a julgar

pela expressão de seu rosto em forma de coração, também era evidente que daria

muito trabalho a qualquer homem. Uma desafiante determinação escorria por todos

seus poros e brilhava em seus olhos cor de avelã.

Quando se deteve atrás do divã, em frente à Gervase, ergueu a cabeça e

respondeu ao seu duro olhar com a teimosia tão característica dos Tregarth.

Annabel, de pele mais clara, cabelos quase ruivos e olhos azuis, colocou-se

junto à irmã. Só um ano mais jovem que a irmã e só com dois centímetros a

menos, enquanto Belinda começara a usar um coque alto, Annabel se conformava

em deixar seus longos cabelos encaracolados caindo sobre os ombros como um

romântico véu.

Quando Gervase a olhou nos olhos, viu neles a mesma obstinada decisão que

impelia Belinda.

Cada vez mais receoso, dirigiu sua atenção a terceira e mais jovem das três

irmãs e olhou seu doce e delicado rosto, ainda de menina. Jane tinha apenas dez

anos e sempre sentira devoção por ele. Usava os cabelos, de um castanho mais

escuro que o das outras, mais parecidos aos de Gervase, presos em duas elegantes

tranças, que caíam a ambos os lados de seu pequeno rosto e tinha os olhos do

mesmo tom azul que os de Sybil.

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Ao contemplar aquele olhar normalmente inocente, se sentiu um pouco

perplexo, porque encontrou nela uma imperturbável determinação, mais acentuada

ainda pelo gesto de seu queixo erguido.

Confuso, olhou as outras duas, procurando manter-se imperturbável.

Que demônio as tinha mudado? Por quê... Por que tinham perdido a fé nele?

De repente, percebeu que pisava num terreno que não era tão firme como

pensava. Teria que ir com cuidado. Por onde começar? Deixou que o silêncio se

prolongasse, porém enquanto Sybil se movia nervosa, suas filhas pareciam feitas

de um material mais duro e se limitaram a esperar que falasse, com os olhos fixos

nele.

— Gregson acaba de me informar que as viu saindo do moinho à noite, depois

de sabotá-lo. Agora continua sem funcionar e John Milner corre o risco de perder o

pouco que lhe resta.

Devo admitir que me custa acreditar que puderam ser tão inconseqüentes para

causar deliberadamente a ele, e a todos aqueles que dependem do moinho, tantos

problemas desnecessários sem uma boa razão. Assim, assumo que devem ter um

excelente motivo para fazer o que fizeram; e espero que me contem para que eu

possa explicá-lo aos outros habitantes da zona.

Belinda ergueu um pouco mais a cabeça.

—Temos um excelente motivo para o problema do moinho e todos os demais.

— Estudou brevemente seus olhos, confirmando que entendera o significado de

―todos os demais‖. — Claro — continuou, — pode ser que não deseje fazê-lo em

público. Tínhamos que fazer você regressar de Londres e mantê-lo aqui, ainda que

esse último ainda não o conseguimos.

— Ocorreu-nos que podíamos fazê-lo ficar, intrigado pelo mistério dos sinos —

interveio Annabel, — mas se limitou a tirar as cordas, assim, tivemos que inventar

algo mais.

— Mas nenhuma das outras coisas o segurou aqui. — Jane o olhou

severamente, como o culpando. — Você se limitava a vir para casa, arrumar o

assunto e voltar para Londres.

Tudo parecia culpa de Gervase.

Começou a sentir-se um pouco desorientado.

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— Por que queriam que eu ficasse em casa?

Belinda se mexeu e apertou os lábios.

Ele pode ver que não só estava procurando as palavras, mas o modo de

explicá-lo.

As outras duas a observavam com deferência. Finalmente, a jovem o olhou nos

olhos.

— Pedimos diretamente que não fosse. Cada vez era uma de nós que lhe pedia,

mas você sempre se limitava a sorrir e insistia que tinha que regressar a cidade.

Suspeitávamos que... Bem, não, todos por aqui sabiam que ia lá procurar uma

esposa. Nós não queríamos que fizesse isso, mas não podíamos dizê-lo, não é

verdade? Não teria nos escutado, isso era óbvio. Assim procuramos algum outro

modo de te deter.

Gervase olhou-a fixamente.

— Não querem que encontre uma esposa?

— Não queremos que encontre uma esposa em Londres. — Belinda arrematou

a afirmação com um decidido aceno de cabeça, repetido pelas outras duas, uma

depois da outra.

Assim, a suposição de Sybil estava correta. Apertou os lábios enquanto

batalhava para não perder a pouca paciência que lhe restava após seis meses de

caos, para não falar das contínuas idas e vindas à cidade.

— Sybil acaba de falar-me da situação com as Hardesty. — Conseguiu manter

um tom tranqüilo, não tão cortante como poderia ter sido. Continuava querendo-as

muito, ainda que convertidas temporariamente em umas lunáticas. — Não podem

acreditar que eu me casaria com uma dama a quem permitiria mandá-las para

longe.

Sim podiam. Sim acreditavam, mas não o disseram em voz alta. Não fazia

falta; a verdade estava clara em seus olhos, em suas expressões.

Gervase se sentiu insultado e não soube como defender-se. A simples idéia de

que necessitasse fazê-lo já o irritou o suficiente.

— Sou mais velho, mais sensato e tenho muito mais experiência que Robert

Hardesty. Que ele tenha se casado imprudentemente não é motivo para imaginar

que eu vá fazer o mesmo.

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O olhar de Belinda foi o mais desdenhoso e compassivo que podia ser o olhar

de uma irmã pequena e as outras a imitaram de um modo inquietante.

— Os cavalheiros — afirmou Belinda — sempre acreditam que sabem o que

fazem no referente às damas, mas não é assim. Acreditam que estão no comando,

ainda que estejam cegos. Qualquer dama digna desse nome sabe que poderá

dominar a sua vontade um cavalheiro, uma vez que o tenha preso. Assim, se uma

atraente dama de Londres te persuadir e decidir como lady Hardesty, que não

deseja carregar umas jovens como nós, onde vamos ficar nós três?

— Vivendo em North Riding com a tia avó Agatha — contestou Annabel.

— Assim estava claro que devíamos tomar umas medidas — concluiu Jane. E

olhando Gervase com os olhos apertados, acrescentou: — Medidas drásticas, se

necessário.

Antes que ele pudesse pensar em uma resposta, Belinda continuou:

— E não adianta nada você falar sobre sua idade para demonstrar sabedoria

sobre esse assunto. Passou os últimos doze anos, afastado da sociedade. Não é

questão de ter oxidado suas destrezas nesse aspecto, a questão é que nunca as

desenvolveu.

— Não é como se tivesse passado esses anos em Londres — esclareceu

Annabel, — observando e aprendendo a escolher uma esposa.

— Este é um campo de batalha no qual não tem nenhuma experiência —

declarou Jane com seu tom mais sério. — Nesta situação você é vulnerável.

Não havia dúvida que repetia argumentos que tinham discutido longo tempo e

entendido, nada mais pensado.

Gervase se horrorizou. Tentar assimilar o inesperado e peculiarmente feminino

ponto de vista de suas irmãs estava fazendo que sua cabeça girasse.

Levantou uma mão.

— Espere um momento. Vamos enfrentar isso de um modo lógico. — Olhou

para Sybil que, a julgar por sua expressão atenta, se via que, por muito que

deplorasse as ações de suas filhas, não estava substancialmente em desacordo com

suas idéias. Não encontraria ajuda nela, assim, respirou fundo e afirmou: — Estão

preocupadas porque, assim como Robert Hardesty, eu poderia ser vítima de alguma

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elegante dama londrinense que talvez tivesse a mania e conseguisse me convencer

a mandá-las viver com a tia avó Agatha.

As três jovens assentiram.

— E para evitar essa circunstância, se garantiram que eu não passe tempo na

capital e, desse modo, não possa conhecer uma dama assim.

De novo três assentimentos de cabeça.

— Porém vocês sabem que preciso uma esposa? Compreendem que tenho que

casar-me? — Em particular, para garantir o título das propriedades, em vista de ser

o último varão Tregarth.

— Isso é evidente — contestou Belinda. — Fora tudo o mais, você sozinho

nunca conseguirá cumprir de um modo adequado com as obrigações sociais e

mamãe só pode te ajudar no momento, mas uma vez que nos casemos, viverá

conosco, assim, deveria procurar uma esposa o quanto antes possível, para

aprender todo o necessário.

— Além do mais — interveio Annabel, — se escolher a dama adequada como

condessa, será muito mais fácil para nós fazermos nossas apresentações na

sociedade como é o certo. Agora temos título e a pobre mamãe passará mal se

tiver que organizar sozinha nossas apresentações.

—E, claro, — continuou a pequena Jane com uma voz mais aguda que as

outras duas, — está o fato que precisa conceber um herdeiro ou, do contrário

quando morrer, a propriedade ser... — Deteve-se e franziu o rosto.

— Reverterá — ajudou-a Gervase.

A menina agradeceu com um sério assentimento de cabeça.

— Reverterá para esse asqueroso, gordo e dissoluto réprobo príncipe regente.

— Olhou ao seu irmão nos olhos. — E ninguém deseja isso.

Ele ficou olhando-a e depois olhou as outras duas. Era evidente que não

necessitava explicar-lhes as circunstâncias de sua vida familiar ou social.

— Se compreendem tudo isso, devem entender também que para encontrar,

tal como disse Annabel, a dama adequada para ser minha condessa, necessito ir a

Londres...

Ele interrompeu-se quando as três negaram com a cabeça veementemente.

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Não foi só o gesto que o calou, mas a expressão de seus olhos apertados, como

apertados estavam os lábios e levantados os queixos.

— Não — disse Belinda. — Nada de damas londrinenses. Agora que

compreende nossa postura, deve entender que não permitiremos que vá sozinho,

sem pensar em nada nem ninguém para procurar uma esposa em Londres.

— Se o fizer vão te prender — profetizou Annabel.

— Alguma harpia de Londres lhe cravará suas garras e nós não estaremos lá

para afugentá-la. — Disse Jane.

Gervase a olhou nos olhos com a esperança de descobrir que estava brincando

ou, no mínimo, detectar algum indício que exagerava; algum sinal que

compreendia que ele não tinha nenhuma necessidade de sua proteção, sobretudo

nesse tema. Em troca, a única coisa que viu foi uma determinação obstinada e

firme.

Bastou um olhar às outras duas jovens para confirmar que elas também

consideravam as palavras de sua irmã como a simples constatação de um fato.

Parou, fitando-as. Sentia-se como se tivesse se colocado numa situação que já

não reconhecia. Não podia crer que estivesse mantendo essa conversa. Uma parte

de sua mente lhe dizia que devia estar sonhando.

— Mas... — parecia que não lhe restava mais nada além de perguntar o óbvio

— se não posso ir a Londres e procurar uma esposa lá, onde imaginam que

encontrarei uma esposa adequada?

Isso lhe valeu uma tripla olhada que sugeria estar sendo obtuso a propósito.

— Tem que procurar por aqui, claro — respondeu Belinda.

— Nas proximidades e nas povoações próximas — esclareceu Annabel.

— Para que possa trazê-la para casa, ensinar-lhe o caminho do castelo e

apresentar-nos — acrescentou Jane. Antes de casar-se com ela.

De repente compreendeu, ou melhor, assimilou finalmente, o que seu intelecto

deduzira.

— Querem submeter minha escolha a exame?

As três piscaram e Sybil também.

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— É claro que sim! — Exclamou Belinda.

A expressão dele se tornou pétrea.

— Não.

---

Esse deveria ter sido o final da discussão. Não devia ter dito nenhuma palavra

mais e devia ter saído com passo decidido da sala. Se tivesse percebido, pelo que

sucedeu que nos últimos dez anos suas irmãs tinham crescido e se tornaram muito

parecidas a ele, até o ponto de Gervase não ter nada a fazer contra as três juntas.

De fato, argumentando, podiam dar mil voltas a um professor de filosofia.

O peculiar talento que Gervase havia desenvolvido em seus mais de dez anos

como ―agente encoberto‖, trabalhando principalmente em solo estrangeiro,

entrando e saindo dos portos da França durante os últimos tempos de guerra, era

sua capacidade de persuasão. Não se tratava de encanto, não o fazia mediante um

sorriso nem com sua lábia. Era mais uma questão de ser capaz de mudar os

argumentos, de ter o tipo de mente que sabe ver as possibilidades e estabelecer

conexões plausíveis de tal modo que pareçam lógicas e diretas, inclusive quando

não estão relacionadas em absoluto.

Era um expert em persuasão, na arte de formular a sugestão razoável.

Claro, nesse campo, cada arrazoado que faziam suas irmãs o jogava por terra

dos três flancos diferentes e ao mesmo tempo. Sabia onde se encontrava, sabia

que o terreno racional que pisava era sólido. Assim, por muito que se esforçasse,

parecia-lhe que não poderia defender sua posição.

Obrigaram-no a retroceder, passo a passo, por uma resvaladiça ladeira que, de

repente, percebeu que o levava direto a uma abjeta rendição.

— Chega! — Passou a mão pelos cabelos, reprimindo o impulso de arrancá-los.

Ignorou suas prementes perguntas pensadas para fazer com que se deslisasse

ainda mais costa abaixo e as obrigou a regressar ao único ponto central. — Apesar

de tudo, como não há nenhuma dama perto que possa ser adequada, devo

regressar a Londres para escolher.

— Não — afirmou Belinda.

— Não sem nós — declarou Annabel beligerante.

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— Se tentar regressar sozinho à Londres, — advertiu Jane, — nos obrigará a

fazer algo terrível para te atrair de volta.

Gervase estudou os olhos das três, que brilhavam com uma determinação

equiparável a sua. Não iriam ceder.

Porém, tratava-se de sua vida. Sua esposa. E estava cansado da crescente

frustração que lhe provocava não ser capaz de começar sua busca. E tudo, afinal

por culpa de suas irmãs.

Seu gênio, já posto a prova além do suportável, escapou de seu controle.

— Muito bem — afirmou.

As três jovens se ergueram. Nunca o tinham visto perder os estribos, mas

conheciam-no o suficiente para perceber a mudança.

Com tom frio, firme e sem nenhuma inflexão, anunciou:

— Como estão convencidas que aqui existe uma dama adequada e que se for

daqui, não deverá ser uma ameaça real para vocês, faremos um trato. Não voltarei

a Londres durante os próximos três meses, não até que comecem os

acontecimentos sociais prévios do começo da temporada, em setembro.

Mas juro pelo que há de mais sagrado que a partir desse momento me casarei

com a primeira dama adequada que conhecer, adequada pela idade, berço e

posição, temperamento, compatibilidade e beleza. Em troca, vocês três terão que

aceitá-la resignadamente. — Susteve-lhes os olhares com os seus olhos duros

como pedra. — E não tornarão a influir em minhas decisões, ou em minha vida, de

nenhum modo.

Fez uma pausa antes de continuar:

— Este é o trato. Aceitam?

As jovens não responderam imediatamente. Contemplaram-no em silêncio e

Belinda perguntou:

— E se não conhecer uma dama adequada nos próximos três meses?

Gervase sorriu, mas foi um sorriso glacial.

— Então, em setembro, retornarei a Londres e terei que procurar lá.

Não desejavam arriscar-se; a cautela que viu em seus olhos o indicou.

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Gervase aproveitou sua vantagem.

— Se têm tanta certeza que existe uma dama adequada me esperando na

zona, deveriam estar dispostas a deixar que cruze o meu caminho. Deveriam

aceitar o meu trato.

As três se olharam, consultando-se sem palavras, depois se voltaram para ele

de novo. Belinda falou:

— Se promete por sua honra que vai procurar a sério e que cortejará a

qualquer dama adequada, então... — hesitou, olhou uma última vez para suas

irmãs, olhou para ele e assentiu: — Sim, aceitamos o trato.

— Bem. — Não quis seguir falando e muito menos ouvindo nenhuma palavra

mais sobre sua incapacidade para escolher uma esposa. Olhou para Sybil, uma

muda observadora durante toda a conversa, e lhe fez um leve gesto com a cabeça.

— Se me desculparem...

Outra frase retórica. Contemplou uma última vez o rosto de suas irmãs, virou-

se e se dirigiu à porta.

Tinha que sair dali, ir a algum lugar onde pudesse caminhar para liberar a

tensão acumulada, a inevitável conseqüência por conter a fúria.

Quando chegou à porta do salão, sua manifesta cólera já se refletia em seus

movimentos. Abriu a porta bruscamente, saiu ao corredor e quase se chocou contra

Sitwell, seu mordomo, que, todo profissional, retrocedeu rapidamente para evitar o

choque.

Gervase suspirou, fechou a porta e ergueu as sobrancelhas com gesto

interrogativo.

— A senhorita Gascoigne veio e solicita vê-lo, milorde.

A honorável senhorita Madeline Gascoigne. Teria que engolir seu enfado.

— Onde está?

— No vestíbulo principal, milorde. Disse que o assunto é rápido e que não quer

aborrecer lady Sybil. Gervase assentiu enquanto agradecia a Deus essas pequenas

clemências.

— Não é necessário me acompanhar.

Avançou pelo corredor deixando Sitwell para trás.

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O acordo com suas irmãs não o preocupava, porque estava certo que não havia

nenhuma dama adequada nos arredores. Procurara por ali antes de aceitar que

precisava ir a Londres. A idéia que ele tivesse escolhido voluntariamente submeter-

se ao mercado matrimonial londrinense era absurda; mas era sua única opção. Isso

significava que adiara sua procura por uma esposa até que a alta sociedade

regressasse à capital no final de setembro; mas devido a não ter a mínima intenção

de passar pelo atroz suplicio de assistir as incontáveis reuniões de vários dias que

costumavam acontecer no verão e que eram o cotovelo da caça estival das mães

casamenteiras, fora o caso de todos os modos.

Assim, o acordo com suas irmãs não o fizera renunciar a nada do que tinha

renunciado nos próximos três meses. Claro, o que o enfurecera era o fato de ter

feito um trato.

Na realidade, todo esse assunto de sua esposa, ou mais concretamente da falta

de uma, se convertera num assunto delicado, uma confusão mental que lhe doía

cada vez que pensava nele. Muito mais quando falava dele.

Ao virar uma esquina do corredor, viu a mulher que o aguardava junto à mesa

redonda do centro do grande vestíbulo principal do castelo. Fez uma careta para si.

Sem dúvida, Madeline fora ali para perguntar sobre o moinho.

A filha do antigo visconde Gascoigne, única descendente de seu primeiro

casamento, era a meia-irmã mais velha do atual visconde, Harold, conhecido por

todos como Harry, um rapaz muito jovem, de quinze anos. Os Gaiscogne possuíam

as terras de Treleaver Park, situadas em Black Head, o cabo oriental da mesma

Bahia na qual o castelo se erigia sobre o cabo ocidental.

Os Gascoigne residiam ali quase o mesmo tempo que os Tregarth.

As duas famílias eram as principais proprietárias de terras da zona. Como,

segundo os términos do testamento de seu falecido pai, Madeline era a principal

tutora de seus três irmãos, incluindo Harry; era de fato a cabeça da família dos

Gaiscogne e como tal administrava as propriedades e tomava todas as decisões

necessárias.

Fora preparada por seu pai para cumprir esse dever e desempenhava esse

papel, inclusive antes da morte lenta do visconde, há oito anos, pelo que as

pessoas do lugar se acostumaram a tratá-la como a representante de seu irmão.

De fato, por seu modo exemplar de dirigir os negócios e por sua dedicação ao difícil

papel de tutora, ganhara o respeito de todos na península e proximidades.

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Gervase se aproximou. Quando ouviu seus passos, Madeline se voltou e um

amável sorriso lhe iluminou o rosto. Devido aos seus anos no estrangeiro, não a

conhecia muito bem, mas como ele nascera na mansão Tregarth, nos arredores de

Falmouth, não muito longe dali, e durante sua infância passara muitos meses

visitando seu tio e primos no castelo, sabia da existência da jovem quase toda sua

vida.

Depois de herdar inesperadamente o título de conde, três anos atrás, e desde

que se retirara do serviço ativo no ano anterior; e tomado pessoalmente as rédeas

das propriedades, Gervase tratara quase sempre com Madeline, ainda que, como

ambos estavam muito ocupados, a maior parte das vezes a comunicação se dava

por carta. Era muito mais alta que a média feminina, só uns poucos centímetros

mais baixa que Gervase. Como sempre que cavalgava pelo condado, estava vestida

com cores escuras, e seu vestuário desse dia era um prático marrom. Segurava na

mão, um chapéu de aba larga destinado a proteger sua pálida pele do sol, mas

também para ajudar a dominar seus volumosos cabelos.

Estavam bem presos em um coque sobre a cabeça, mas algumas mechas de

cabelos finos e abundantes escapavam e formavam um halo acobreado ao redor de

seu rosto, parecido ao de uma madona russa.

Os cabelos eram os únicos elementos de seu aspecto que escapavam ao seu

controle, porque tudo o mais estava deliberada e severamente contido, muito

formal.

Quando Gervase se aproximou, ela lhe estendeu uma mão enluvada, que ele

apertou.

— Madeline.

A jovem retirou a mão e respondeu ao seu assentimento de cabeça.

— Gervase. — Sua expressão ficou perturbada. — Antes que diga algo, estou

aqui para desculpar-me.

Ele piscou e franziu o rosto.

— Pensei que tivesse vindo pelo moinho.

O sorriso de Madeline se tornou mais amplo.

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— Não, ainda que já saiba do seu problema. Parece estranho que suas irmãs

estejam implicadas. Descobriu porque o fizeram? Ou, como costuma acontecer com

meus irmãos, foi uma questão de ―nesse momento parecia uma boa idéia‖?

Gervase conseguiu esboçar um sorriso constrangido.

— Algo assim. Porém porque veio para se desculpar?

— Depois do moinho, compreenderá rapidamente. Temo que a última idéia

interessante de meus três diabólicos irmãos tem sido o de por o seu touro entre

suas ovelhas. Peço-lhe, não me pergunte por que, pois sua lógica me escapa. Já os

fiz se desculparem com o seu pastor e os supervisionei quando voltaram a capturar

o touro e o levaram de volta ao seu lugar. Não parece ter sofrido nenhum dano,

ainda que sua produção de leite poderá ser um pouco afetada pela agitação.

Fez uma pausa, enquanto mantinha o rosto franzido sobre seus olhos verdes

cinzas.

— Suponho que deveria temer algo assim, mas voltei a casa para passar o

verão e tinha a esperança que tivessem deixado para trás estas travessuras de

colegiais.

Gervase ergueu as sobrancelhas e a seguiu quando ela se dirigiu devagar para

a porta principal.

— Harry tem quinze anos, não? Logo deixará de se comportar assim, mas

quando o fizer, certamente desejará que não o tivesse feito. Nessa época, uma

pequena alteração de nossa produção de leite não se notará e se isso é o pior que

ele e os outros dois irmãos podem fazer, todos nos consideraremos afortunados.

— Humm... Tenha cuidado com o que deseja. — Madeline enrugou o nariz. —

Pode ser que tenha razão.

Pararam na sombra da varanda dianteira. Ela o olhou.

— Quando espera que o moinho esteja consertado?

Conversaram vários minutos sobre esse assunto e o da próxima colheita, das

minas de estanho nas quais ambas as famílias tinham interesses e sobre as últimas

notícias de negócios locais.

Como todos os cavalheiros da zona, Gervase aprendera a respeitar e confiar

nas opiniões de Madeline, já que dispunha de mais informações que qualquer um

deles.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Não havia nenhum comerciante, mineiro, jornaleiro ou granjeiro local que não

falasse de bom gosto com a senhorita Gaiscogne sobre seu negócio. Com a mesma

confiança como se fosse sua esposa. Portanto, Madeline tinha conhecimento

profundo de qualquer coisa que sucedesse na península de Lizard e nos distritos

contíguos, um conhecimento que nenhum homem podia esperar.

A jovem lançou um olhar sobre a posição do sol.

— Devo ir-me. — Olhou-o nos olhos. — Obrigada por sua compreensão sobre o

touro.

— Se lhe ajudar pode dizer a seus irmãos que não me fizeram nenhuma graça.

E logo sairei para o moinho.

Com um sorriso, Madeline lhe estendeu a mão. Gervase a apertou e desceu a

escada com ela até o pátio dianteiro, onde seu cavalo, um alto e poderoso castanho

que poucas mulheres poderiam esperar controlar, aguardava alerta e preparado

para começar a correr.

A jovem colocou o chapéu e alongou o braço para o pomo da sela. Gervase

segurou a brida do cavalo e observou sem pestanejar como ela colocava a bota no

estribo e montava sobre o largo lombo do animal. Sempre cavalgava com uma

perna a cada lado e por isso usava calças sob as saias. Em vista dos quilômetros

que percorria todos os dias para cuidar pelos interesses de seus irmãos, nem

sequer a distinta viúva mais conservadora seria de fato, digna de menção.

Madeline segurou as rédeas e com um sorriso e um rápido gesto de despedida,

fez o cavalo retroceder, deu meia volta e saiu do pátio a trote.

Gervase a observou afastar-se consciente que os iguais a ela no distrito eram

outros varões proprietários. Em suas reuniões, nunca a tratavam como a uma

mulher, como a alguém de um status diferente ao deles, ainda que tão pouco como

a um homem; ninguém se atreveria, por exemplo, a dar-lhe uma palmada nos

ombros nem a oferecer-lhe conhaque. Ocupava uma posição única, porque em

muitos aspectos era única.

Pensou em suas irmãs e desejou que pudesse contagiá-las com um pouco

desse caráter único de Madeline.

Regressou ao castelo e voltou a pensar em seu enfado... Só para descobrir que

já não tinha problema em controlá-lo. Já não necessitava conter-se. Sentia-se

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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calmo, de novo sob controle, seguro e capaz de afrontar qualquer coisa que se

interpusesse em seu caminho.

Sua conversa com Madeline Gascoigne — curta, sensata e razoável — o tinha

serenado. Porque suas irmãs não podiam ser como ela? Ou era uma dessas coisas

que devia ter cuidado em desejar?

Continuava pensando sobre o assunto quando chegou ao salão. Belinda,

Annabel e Jane se voltaram da janela, o que o levou a pensar que estiveram

observando os dois.

Sybil, sentada no divã, olhava suas filhas, que sem dúvida iam transmitindo-lhe

tudo.

Antes que pudesse franzir-lhes o cenho, as quatro o contemplaram com uma

expressão idêntica, ansiosa e expectante.

Devolveu-lhes a olhada.

— O que foi?

Todas continuaram com os olhos fixos nele.

— Pensávamos que talvez a convidasse a entrar — comentou Belinda.

— A Madeline? Por quê?

O modo como elas o olharam sugeria que estavam perguntando-se onde

deixara o cérebro. Pelo visto não reagia espontaneamente e Belinda se dignou

ajudá-lo.

— Madeline não é uma dama adequada?

Ficou atônito, incapaz de pensar uma resposta. Nenhuma ao menos que

desejasse dar. Suspeitava que as maldições não as escandalizavam, pelo que

deixou que o semblante se endurecesse e que sua máscara mais impenetrável o

cobrisse.

— Tenho que ir cuidar do moinho. Falarei com vocês mais tarde.

E sem dizer mais nada, deu meia volta e saiu.

Nessa noite, Gervase entrou na biblioteca, que por sua vez também era seu

estúdio, e foi direto para a licoreira.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Enquanto se servia de conhaque, recordou os últimos acontecimentos do dia.

Quando chegou ao moinho, encontrou o frustrado molineiro a ponto de

começar a laboriosa tarefa de desmontar o mecanismo para ver porque ―aquela

maldita coisa‖ não se movia. Gervase pediu-lhe que esperasse e saiu fora, onde a

enorme roda permanecia imóvel em seu estreito arroio. Suas irmãs não entendiam

nada de engrenagens e eixos; não havia nenhuma prova que tivessem entrado no

moinho. Qualquer coisa que fizeram para inutilizar o mecanismo deveria ser algo

simples e engenhoso, e algo que três meninas, duas delas de uma altura e força

medianas pudessem fazer fisicamente.

A água borbulhava, cobrindo a parte inferior da roda. Após observá-la com

atenção, Gervase pediu ao molineiro e a seus filhos que lhe dessem uma ajuda;

conseguiram girar a roda o suficiente para ver os ocos onde deveria ter três pás e

agora havia uma âncora, sem dúvida subtraída do embarcadouro do castelo, que

prendia a roda de modo que o arroio não pudesse movê-la.

Sem as três pás, a água fluía livremente através do oco sem levar força para

girar a grande roda.

John Milner ficou olhando os ocos e a âncora e soltou algumas maldições.

Encontraram as pás escondidas entre os arbustos. Em questão de minutos, tiraram

a âncora e colocaram as pás em seus lugares e o moinho voltou a funcionar.

Uma vez solucionada a última travessura de suas irmãs, Gervase regressou ao

castelo e se fechou na biblioteca até a hora do jantar.

Participou apenas na conversa da mesa; os poucos comentários foram gerais,

sobre assuntos locais e pessoas do lugar. Claro, ninguém mencionou Madeline

Gascoigne.

Quando as jovens se levantaram e, junto com Sybil, se retiraram para o salão,

Gervase as observou saindo e se dirigiu para a biblioteca. Pegou o copo e se

acomodou em uma poltrona fofa e suspirou. Bebeu, recostou a cabeça nas costas

da poltrona e fechou os olhos.

Apesar de seu cuidadoso silêncio, suas irmãs ficaram observando-o durante o

jantar como falcões, como exigentes criaturas. Ele lhes fizera uma promessa e

esperavam que a cumprisse.

E, claro, o faria.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Abriu os olhos, voltou a beber de seu copo e se fixou de novo no assunto que

não deixara palpitar por sua mente, seu principal e contínuo problema: como

encontrar uma esposa.

Quando se retirou do serviço ativo, nos finais do ano anterior, tinha vaga idéia

de que, devido à paz que havia se restabelecido, seria era livre para converter-se

realmente no conde de Crowhurst e conseguir uma esposa teria que ser seu

seguinte passo.

Considerou uma boa idéia, quando um grupo de colegas; outros seis homens

que passaram os últimos dez anos ou mais, trabalhando atrás das linhas inimigas,

sob as ordens de um indivíduo que só conheciam como Dalziel, para proteger-se

das casamenteiras matronas da alta sociedade decidiram unir-se e criar um clube

privado.

---

O clube Bastion demonstrara ser de grande utilidade na hora de procurar

esposas adequadas para a maioria deles. Até tal ponto que só restavam dois dos

sete membros originais solteiros: Christian Allardyce, marquês de Dearne, e ele

mesmo.

Gervase percebera que Christian possuía algum motivo secreto que o freava;

algum motivo pelo qual, apesar de ser o que mais tempo passava nos salões de

baile e o que mais se sentia à vontade nesse ambiente, parecia incapaz de mostrar

interesse por alguma dama, nem sequer passageiro. Ali havia alguma história,

alguma razão pela qual Christian se mantinha longe e, portanto, solteiro.

Ele, claro, não tinha nenhuma desculpa. Desejava casar-se, encontrar a dama

adequada e fazê-la sua esposa. Assim como suas irmãs enumeraram, havia

múltiplas razões pelas quais deveria fazê-lo, entre as quais estavam elas mesmas e

seu futuro.

Gervase decidira começar a procura de sua mulher em fevereiro, mas

passaram-se quase seis meses e ainda não conseguira nada.

O fracasso o irritava. O seu era um caráter que crescia ante o fracasso e era

incapaz de aceitar a derrota.

Recebera a nota sobre o problema com o moinho justamente depois de chegar

a Paignton Hall, em Devon, para assistir as bodas de um dos membros de seu

pequeno grupo, Deverell, e sua futura esposa Phoebe. Assim, depois do evento, em

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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lugar de ficar uma semana em Londres com a esperança que entre as famílias da

alta sociedade pudesse conhecer alguém, teve que regressar a casa.

Essas contínuas frustrações, ainda que fossem coisas totalmente fora de seu

controle, exacerbavam sua natural impaciência e lhe davam uma irracional

sensação que seu tempo ia se acabando e não conseguiria encontrar uma esposa.

Devido ao que agora descobrira ser pelas maquinações de suas irmãs, não

passara mais que uns poucos dias seguidos em Londres desde que começara a

temporada; mas isso em lugar de fazer que seu fracasso em busca de uma esposa

fosse mais fácil de aceitar, saber que não tivera tempo de dedicar-se a isso só

intensificava sua insatisfação.

Seis meses e não chegara a nenhuma parte. Nem sequer conseguira

desenvolver nenhuma habilidade relevante no assunto, tal como Annabel o definira.

E tampouco chegaria a nenhuma parte nos próximos três meses.

Acabou sua bebida e se obrigou a enfrentar o fato, a aceitá-lo, a deixá-lo de

lado e fixar-se no assunto que tinha entre as mãos, algo sobre o que se podia fazer

a respeito: a honrada senhorita Madeline Gascoigne.

Fizera um trato com suas irmãs, claro, mas deixara uma via de escape. Havia

deixado cair entre o ―temperamento‖ e a ―beleza‖. Os outros critérios que

enumerara eram uns que os demais — suas irmãs, por exemplo, — poderiam julgar

por si mesmos, mas a ―compatibilidade‖ era um fato que só ele poderia determinar.

Ainda que fosse muito previdente, Madeline cumpria em troca todos os demais

requisitos.

Calculava que teria uns vinte e nove anos; seu pai morrera há oito anos e, pelo

que Gervase sabia, ela tinha vinte e um anos naquele momento. Um pouco mais

talvez e, sem dúvida, a jovem poderia se considerar uma verdadeira solteirona,

mas como ele tinha trinta e quatro, sua idade não era algo que fossem recriminar.

De fato, preferia uma esposa com mais idade que uma muito jovem; uma que

tivesse lidado mais com a vida. Deus sabia como ele o fizera pelo que era

sumamente improvável que uma dama demasiado jovem despertasse seu interesse

e muito menos o mantivesse.

Por outro lado, como filha do falecido visconde Gascoigne, não restava dúvida

que Madeline possuía bom berço e status apropriados para converter-se em

condessa; nesse aspecto não havia nenhum obstáculo.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Mesmo que não pusera a fortuna como condição, ela estava de posse de uma,

já que herdara uma soma considerável de seus parentes maternos e os Gascoigne

também eram ricos, pelo que teria um bom dote.

Quanto ao caráter, não podia imaginar nenhuma mulher mais competente,

mais calma e capaz, que não se deixava levar por histerismos. De fato, não lhe

ocorria nenhuma circunstância que pudesse fazer Madeline perder os nervos, não

depois de algumas das proezas que protagonizara a criação de seus irmãos.

A última coisa estipulada por Gervase fora ―beleza‖. Franziu o rosto ao

considerar esse ponto. Mesmo tendo excelente memória visual, sobretudo para

pessoas, no referente à Madeline...

Sabia que era bonita e atraente mais que encantadora, mas, além disso, era

difícil decidir como descrever seu aspecto; como reagir diante dela como mulher,

porque nunca pensara na jovem como tal.

Nos anos passados tratando com Madeline como substituta de um homem,

como a cabeça da família, de fato dos Gascoigne, tinham adormecido seus sentidos

a respeito. Claro, suspeitava que passasse em qualquer prova de ―beleza‖. O que

deixava a ―compatibilidade‖ como o único critério pelo qual poderia descartá-la.

Prometera por sua honra cortejar a qualquer dama adequada e as jovens

esperariam vê-lo fazer exatamente isso. Assim, o faria. Passaria algum tempo com

Madeline, o suficiente para estabelecer porque eles dois não eram compatíveis, o

suficiente para fazer que sua recusa fosse crível.

Seria fácil fixar tudo para que pudessem passar um tempo juntos. Agora que

Gervase se instalara no castelo durante o verão, havia uma série de assuntos nos

quais os caminhos de Madeline e Gervase se cruzariam ou podia fazer com que se

cruzassem.

Sentiu que o conhaque abria caminho em seu corpo, relaxando e aquecendo-o.

Seus seguintes passos não pareciam demasiados aborrecidos. Nem

problemáticos. Passaria algum tempo com Madeline Gascoigne e tudo iria bem.

Ou tão bem como poderiam ir às coisas até que pudesse regressar a Londres e

procurar uma esposa.

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Capítulo 2

Madeline avançava a meio galope para o oeste, pelo caminho que percorria

acima dos penhascos que rodeavam a Bahia, quando viu Gervase cavalgando para

ela. Afastou de sua mente a lista de todas as coisas que esperava solucionar nesse

dia, sorriu e deu graças ao destino, porque não dispunha do tempo que necessitava

se fosse obrigada a procurar seu vizinho.

Ele ainda estava longe, mas o lugar, de um intenso verde, estava desprovido

de árvores ou de qualquer outro obstáculo para a vista. Quando o vislumbrou, o

reconheceu; havia poucos homens na zona com o seu porte, suas largas costas e

aquele corpo esbelto que parecia tão à vontade no lombo de um cavalo, sobretudo

com o vasto céu sobre ele e o mar golpeando contra a costa lá embaixo. Usava os

cabelos, de uma cor castanha escura, descobertos, como sempre, e os tufos

cortados com elegância, se ondulavam por causa da brisa. Enquanto se

aproximava, Madeline refletiu sobre o estranho que era um cabelo que parecia tão

suave não fazer nada para amenizar os austeros e aristocráticos traços de seu

rosto. Seus perspicazes olhos sob as grossas sobrancelhas, o nariz patrício e a

mandíbula quadrada, tudo contribuía para dar-lhe aquela aura de força e poder que

habitualmente o envolvia.

Encontraram-se a meio caminho, entre suas terras e o castelo. Os dois

reduziram o passo puxando as rédeas, com o que os cavalos brincaram e

empinaram. Madeline dominou o seu, Artur, e saudou Gervase com um educado

gesto de cabeça.

— Olá, precisamente o homem que procurava.

Ele ergueu as sobrancelhas e a olhou com seus formosos olhos cor de avelã

clara, mais âmbar que verde. Por um instante, Madeline sentiu que a estava

estudando, mas então lhe perguntou: — Há algum problema?

Ela sorriu.

— Nada a ver com meus irmãos, graças aos céus, mas recebi uma nota do

senhor Ridley pedindo-me que vá vê-lo. Quer falar comigo sobre as minas locais,

mas reconheço que não estou em dia com nenhum progresso recente. Pensei que

talvez você tivesse ouvido algo que pudesse informar-lhe.

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A expressão de Gervase sempre era difícil de interpretar. Seus traços raras

vezes denotavam algo, pelos quais tentar adivinhar seus pensamentos. Sem

dúvida, nesse caso, sua inexpressividade lhe sugeriu que não sabia mais que ela. E

no instante ele o confirmou.

— Não ouvi nada ultimamente. Na realidade, desde algum tempo. Tudo vai

bem pelo que sei.

Madeline assentiu.

— Isso foi o que eu entendi. — Levantou as rédeas. — Não obstante, irei à casa

de Gerald, para ver o que o preocupa.

— Eu te acompanho.

Quando Gervase a rodeou fazendo seu enorme cavalo cinza dar a volta, ela o

olhou.

— Perfeito! Porém, não se dirigia a alguma parte?

Ele levantou a cabeça, olhou-a nos olhos e de novo Madeline sentiu que a

contemplava com mais intensidade que a habitual.

— Só cavalgava, não tinha nenhum rumo em mente.

— Nesse caso... — Com um sorriso, cravou os saltos nos costados de Artur e o

corpulento animal se pôs em marcha.

Em questão de poucos passos, o cavalo de Gervase se colocou à altura.

Madeline olhou-o risonha e Gervase lhe devolveu o sorriso. Após essa troca, ambos

fixaram sua atenção no caminho.

Não era sempre que tinha oportunidade de cavalgar relaxadamente com

companhia. Quando o fazia com seus irmãos ou com seu ancião administrador,

uma parte de sua mente tinha que estar sempre alerta para identificar qualquer

buraco de coelho ou trincheira oculta e provavelmente letal.

Era um inesperado prazer montar com o vento a favor, sem nada que

empanasse o simples prazer de sentir a emoção da velocidade, o ar fresco no rosto

e os regulares golpes dos cascos de Artur nesse momento estranhamente

compartilhado.

Um olhar de soslaio para Gervase lhe confirmou que ele também estava

aproveitando do passeio tanto como ela. Nenhum dos dois se conteve, só deixaram

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que seus cavalos — ambos altos, poderosos e fortes — cavalgassem livremente,

usando as rédeas só para guiá-los quando abandonaram o caminho paralelo aos

penhascos e se adentraram em terra firme.

Dirigiram-se então para o norte de Kuggar Village através das colinas açoitadas

pelo vento, deixando a aldeia de Gwendreath a sua direita e seguindo pelas

montanhas Goonhilly até o povoado de Cury.

Enquanto cavalgavam sob o limpo céu de verão, com as cotovias voando alto

por cima de suas cabeças, a única coisa que perturbava a serenidade de Madeline

eram os ocasionais olhares, penetrantes e intensos, que Gervase lhe dirigia.

Sempre que se virava para ele o encontrava olhando para frente, relaxado e

sem nenhum rastro em seu inescrutável rosto de que a estivera observando, mas

ela podia sentir esses olhares agudos e escrutinadores.

Realmente Gervase a olhava com mais atenção, a estudava. Claro, por muito

que se esforçasse, não podia imaginar por que. Havia se olhado no espelho do

vestíbulo antes de sair de casa e não vira nada estranho em seu aspecto. Seus

cabelos, supunha, deviam estar fazendo o possível para escapar de seu

confinamento, mas isso não era novidade.

A mansão Ridley se encontrava justamente depois de Cury. Reduziram o passo

e entraram no pátio pavimentado da velha casa de pedra.

Ao ouvir os cavalos, Gerald, o senhor Ridley, saiu para saudá-los. Apoiava-se

pesadamente em seu bastão. Superava de longe os sessenta anos e tinha uma

espessa mata de cabelos brancos. Apesar de ter começado a encurvar-se, seus

olhos azuis continuavam sendo perspicazes e sua mente estava em plena forma.

Com um sorriso em seu enrugado rosto, avançou para eles quando desmontaram.

— Madeline, querida, sabia que poderia contar com você. — Apertou-lhe a mão

e voltou-se para Gervase. — E vejo que trouxe com você o filho pródigo.

Ele sorriu, entregou as rédeas ao rapaz de quadra que chegara a toda pressa e

com presteza apertou a mão que Gerald lhe estendia.

— Madeline comentou seu interesse e, senti curiosidade como ela por saber o

que acontece.

Gerald lhes indicou que o seguissem. Guiou-os até o salão principal, lhes

ofereceu assento e se acomodou na poltrona perto do fogo.

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— Teria pedido que viesse também, mas acreditei que estivesse em Londres.

O sorriso de Gervase foi superficial.

— E lá estava, mas esse último assunto com o moinho me obrigou a regressar.

Passarei o verão aqui.

Madeline viu que Gerald estava a ponto de perguntar pelo moinho e as

travessuras de suas irmãs, mas finalmente o ancião pensou melhor e decidiu

concentrar-se no assunto que os havia levado até ali.

— Bem, no referente ao porque perguntei se havia notícias recentes sobre as

minas, lhes digo que há um cavalheiro de Londres fazendo ofertas para arrendar

explorações minerais na zona.

Gervase franziu o cenho.

— Um cavalheiro de Londres?

Certamente era desconcertante, porque as explorações das minas de estanho

da zona geralmente eram propriedade das pessoas do lugar. As famílias como os

Crowhurst e os donos de Treleaver Park, além de outros proprietários locais como o

senhor Ridley, converteram em uma tradição a absorção de qualquer exploração

que pudesse ser posta a venda.

Era uma comunidade pequena e consideravam prudente manter o controle da

extensa mina de estanho na zona em mãos das pessoas dali.

Além do mais, as ganâncias que as minas proporcionavam eram um bom

colchão frente às vicissitudes da fortuna a que as atividades granjeiras eram tão

vulneráveis.

Gerald assentiu.

— Ao que parece sim, mas é seu representante quem está fazendo as visitas.

Um refinado jovem, não de alto berço, mas educado, que sabe qual é seu lugar.

Veio aqui anteontem. Não estou certo onde se hospeda e não me disse o nome de

quem o manda. Só perguntou muito educadamente se estaria interessado em

desfazer-me de alguma das explorações que possuo. Disse-lhe que não, mas então

comecei a pensar. —Gerald cravou os olhos em Gervase. — Talvez esse cavalheiro

de Londres saiba mais do que eu, e há alguma razão para que pudesse querer

vender. — Olhou a seguir para Madeline. — Por isso lhe perguntei se ouviu algum

rumor... Sobre uma queda, ou uma saturação ou...

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Ela negou com a cabeça. Nos olhos de Gervase viu o mesmo desconcerto.

— Não ouvi nada — disse. — De fato, o pouco que soube ultimamente é que

tudo está como sempre, com uma perspectiva melhor, em todo caso.

Gervase assentiu.

— Isso é o que eu também tenho entendido e no último mês falei com meus

representantes em Londres e não me comentaram nada sobre nenhum cambio

relevante.

Gerald franziu o cenho.

— Pergunto-me o que haverá por trás disso então. Geralmente não

despertamos interesse fora dessa zona.

— Não, na verdade. — Gervase olhou Madeline. — Porém agora que nos

informou do assunto, poderemos manter-nos alerta e comunicar qualquer coisa que

descobrirmos.

Ela assentiu e se levantou.

— Claro. — Gervase e Gerald se levantaram também. Madeline colocou as

luvas e se dirigiu para a porta. — Tenho que ir-me, Gerald. Mas não se preocupe;

eu o informarei se me inteirar de qualquer coisa importante.

Na entrada principal, Gervase se despediu de seu vizinho e se aproximou de

Madeline, que aguardava o rapaz de quadra trazer os cavalos.

Gerald lhes deu adeus da porta com um gesto da mão.

Gervase viu que Madeline franzia o cenho. Finalmente, sem olhá-lo, disse:

— Creio que me vouentrar em contato com Crupper em Londres e lhe

perguntar o que sabe. Além do mais, há umas tantas pessoas na zona que

poderiam ter notícias.

O rapaz se aproximou com suas montarias.

Gervase pegou a brida do cavalo dela.

— Eu também perguntarei ao meu representante em Londres e tenho alguns

amigos que possuem explorações de estanho em outras zonas mineiras. É possível

que tenham se inteirado de algo que nós não sabemos.

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Madeline montou e pegou as rédeas.

Gervase subiu ao lombo de Crusader enquanto ela arrumava as saias.

Depois o olhou.

— Informarei você se souber de algo.

Gervase a olhou por sua vez.

— Digo-lhe o mesmo.

Então a jovem sorriu, um gesto que iluminou seu rosto e transformou aqueles

traços serenos parecidos aos de uma madona em algo glorioso; não viu como ele

piscava surpreso quando fez girar seu cavalo.

— Faço uma carreira até os penhascos.

---

Uma hora depois, Gervase regressou a casa — em algum momento dos últimos

três anos, o castelo de Crowhurst se convertera com efeito em sua casa — e

procurou refúgio na biblioteca que lhe fazia às vezes de estúdio. Acomodou-se em

sua poltrona favorita e deixou que seus olhos percorressem a sala. Era um espaço

masculino, reconfortante e desprovido de toques florais, todo em sólidas madeiras

escuras muito brilhantes, couro em tons marrom e verde escuro e painéis de

mogno nas paredes, que pareciam acolher em suas sombras a em estivesse em sua

sala.

Era um lugar relaxante no qual podia meditar sobre seus progressos, ou, nesse

caso, na falta deles.

Pensou que conhecer algo mais de Madeline seria uma simples questão de

passar um pouco de tempo em sua companhia.

Lamentavelmente, às três horas em que estiveram cavalgando pelas colinas,

lhe haviam feito ver porque ele e os demais homens da localidade, como ele e o

próprio Gerald Ridley, não a viam como uma mulher. A jovem usava em todos os

momentos uma máscara — não, melhor dizendo, uma couraça — que se interpunha

entre ela e os demais.

E, ainda que a observasse, e o fizera com muita atenção, não havia sido capaz

de vislumbrar a mulher que havia atrás dessa couraça. A única coisa que viu foi

uma dama concentrada nos negócios; nos negócios de seu irmão, para ser preciso.

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O certo era que a velocidade a que haviam cavalgado tornou impossível manter

uma conversação. Claro, Gervase estava acostumado a analisar pessoas sem

dificuldade. Inclusive no caso de quem se escondia atrás de uma máscara ou véu

social. Mas com Madeline não o conseguiu; parecia um cínico giro do destino que a

única mulher a qual desejava conhecer fosse a única a quem nem sequer podia

avaliar com facilidade.

Claro, o considerou um desafio e se conhecia o suficiente para compreender

sua reação. Nesse caso além do mais, como realmente necessitava conhecê-la, seu

instinto coincidia com sua razão, pelo que, sem dúvida encontraria o modo de

atravessar essa couraça.

Também se sentiu um tanto desconcertado ao descobrir que seu aspecto, que

previamente tinha qualificado de atraente, agora que a observara bem estava mais

na linha de sedutor.

Ainda que fosse difícil julgar a figura de uma mulher oculta sob um traje de

montar folgado e de corte masculino; sobretudo, com umas calças que lhe

alargavam as cadeiras, viu o suficiente para sentir uma firme curiosidade e estava

ansioso por poder avaliar seus atributos com mais atenção, quando a encontrasse

com um vestuário mais formal.

Sentiu curiosidade e estava um pouco intrigado. Preferia as mulheres altas,

mas, além disso, Madeline possuía certa vitalidade — uma aberta, honesta e franca

apreciação da vida — que a tornava atraente de um modo surpreendentemente

visceral.

Viu-a desfrutar de seu passeio e se sentiu mais perto dela por isso, como se

esse fugaz momento fosse uma ilícita felicidade compartilhada. A recordação o

prendeu durante alguns minutos e quando sua mente regressou ao presente,

descobriu que um sorriso lhe curvava os lábios. Apagou-o e se concentrou em seu

objetivo: como chegar a conhecer a honrada senhorita Madeline Gascoigne; a

mulher, não a tutora de seus irmãos.

Passara muito tempo, mais de uma década, desde a última vez que cortejara

uma dama, mas supôs que recuperaria a prática sem problemas, que seria algo

parecido a montar a cavalo. O relógio do beiral da lareira foi marcando o passar do

tempo enquanto ele avaliava diversas estratégias, até que uma chamada a porta

anunciou a Sitwell. No momento certo.

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— O almoço está pronto, milorde. Vai se reunir com as damas no salão ou

prefere que lhe traga uma bandeja aqui?

— Obrigado, Sitwell. Almoçarei com elas. — Levantou-se e se dirigiu para a

porta.

Tinha chegado à hora de se exercitarem como anfitriões.

Se suas irmãs e Sybil estavam tão decididas a que pusesse os olhos em

Madeline Gascoigne, podiam colaborar e ser de utilidade.

---

Mais tarde, nesse mesmo dia, Madeline estava em seu escritório, em Treleaver

Park, revisando as contas mais recentes da granja familiar, quando Milsom, seu

mordomo, apareceu na porta aberta com uma bandeja de prata.

— Uma carta de lady Sybil, senhorita.

Ela lhe indicou que entrasse com um sorriso. Milsom era um dos poucos que se

empenhava em chamá-la de ―senhorita‖ em lugar de ―senhora‖. Presumivelmente

porque a conhecia desde que havia nascido; sua avançada idade de vinte e oito

anos ainda não valia para ele o apelativo normalmente usado para as solteironas a

cargo de uma casa.

Seus irmãos faziam apostas sobre quantos anos mais Madeline teria que

completar antes que Milsom mudasse de parecer. Em privado, ela estava de acordo

com o menor, Benjamin: nunca. O mordomo preferiria morrer antes de deixar de

mostrar-lhe a diferença que lhe outorgava.

Aproximou a bandeja e ela pegou a nota de Sybil. Ergueu as sobrancelhas ao

notar que continha um cartão. Rompeu o lacre, desdobrou a missiva e leu a

elegante escrita, primeiro da folha e depois do cartão.

Deixou o convite sobre a mesa, hesitou e finalmente perguntou:

— Meus irmãos já regressaram?

— Eu os vi cavalgando para o estábulo, senhorita. Penso que estão na cozinha.

— Eu também. — Seus lábios se suavizaram em um sorriso que lhe foi

devolvido por Milsom. — Sem dúvida estão guardando forças para conversarmos.

Peça-lhes que venham ver-me, por favor. Podem trazer seus biscoitos se quiserem.

— Já vejo senhorita. Imediatamente.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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O mordomo lhe fez uma reverência e se retirou.

Madeline releu o cartão, deixou-o de lado e voltou aos seus números.

Estava fechando o livro de contas quando um alvoroço no corredor a advertiu

que seus irmãos se aproximavam.

Harry entrou primeiro no escritório, com os brilhantes cabelos castanhos

alvoroçados pelo vento e um sorriso trapaceiro que lhe iluminava o rosto. Nos seus

quinze anos, se encontrava as portas da idade adulta, entretanto ainda suspenso

entre as delícias da infância e as responsabilidades que o aguardavam como

visconde Gascoigne.

Edmond o seguiu. Era um ano mais jovem que Harry e sua sombra em tudo.

Um pouquinho mais tranqüilo, mais sério talvez, mas o temperamento dos

Gascoigne — uma vontade indomável e um coração valoroso ainda que às vezes

temerário; — refletia-se em seu modo de caminhar e sua segurança quando, junto

com Harry, sorriu a Madeline e sentaram-se quando ela lhes indicou com um gesto

que o fizessem nas cadeiras em frente à grande escrivaninha.

O último a entrar foi Benjamin, Ben, com dez anos, o menor da família e o

preferido de todos. Madeline tinha um lugar especial para ele em seu coração, não

porque o quisesse mais que aos outros dois irmãos, mas porque era um bebê de

poucas semanas, quando Abigail, sua mãe, e madrasta de Madeline, morreu em

conseqüência de uma febre que lhe veio após o parto.

Com um tenso sorriso — e a boca cheia de bolinhos de manteiga, — Ben se

empoleirou a uma cadeira de costa reta e se jogou para trás com os pés

pendurados.

Tentando não demonstrar demasiado que os adorava, Madeline aguardou que

acabassem de comer, pois sabia muito bem que não devia tentar competir com a

comida pela atenção dos meninos em pleno crescimento. Enquanto esperava, seus

olhos pousaram neles, nos três rostos radiantes de felicidade pela pura sorte de

estar vivos e, como sempre, sentiu um esmagador sentimento de satisfação,

porque havia feito o que tinha que fazer e o conseguira com êxito. Eles eram a obra

de sua vida.

Tinha apenas dezenove anos quando Abigail morreu deixando bem ao seu

cuidado, junto com Harry, um menino perdido de cinco anos, e Edmond, um

confuso pequeno de quatro anos. Harry e Edmond, ao menos, tinham um ao outro,

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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e a seu pai. Claro, Ben, durante praticamente toda sua vida, só conhecera ela como

figura materna e paterna.

Seu pai e Madeline eram muito unidos. Ela fora o primogênito que nunca teve.

Consciente de sua enfermidade e com Harry, seu herdeiro, tão jovem, seu pai a

formara para ser a intermediária, uma espécie de regente de fato. Ensinara-lhe

tudo o que necessitava saber para cuidar da propriedade e lhe encarregou de

transmitir esses conhecimentos a Harry.

Após adoecer só alguns meses depois da morte de Abigail, seu pai não havia

definhado como muitas pessoas diziam, mas tinha lutado e se agarrou a vida

durante quase dois anos; o tempo suficiente para que Madeline completasse vinte e

um anos e adquirisse o status legal, respaldado pelo testamento e o advogado da

família lhe permitisse converter-se em tutora das crianças. Não fora uma

coincidência que seu pai morrera uma semana depois de seu vigésimo primeiro

aniversário.

Seu advogado, o senhor Worthington era o outro tutor, mas respeitava os

últimos desejos de seu cliente ao pé da letra e se limitava a aprovar qualquer

solicitação ou instrução de Madeline. Esta sentia um grande afeto pelo homem, que

havia tratado o tempo suficiente com o temperamento dos Gascoigne para saber

que a única pessoa capaz de brigar com seus irmãos era outro Gascoigne, ou seja,

ela.

Compreendia aos três meninos e estes compreendiam a Madeline. O vínculo

que os unia era muito mais forte que um mero afeto de sangue.

Todos seriam como seu pai e ela mesma, altos, fortes e vitais, também seguros

de si mesmos, donos de sua vida e com uma tendência a sinceridade que, em

algumas ocasiões, escandalizava aos demais.

Madeline dedicou os últimos dez anos a que fossem como eram, a que nada

reduzisse suas possibilidades; a que tivessem todas as oportunidades para serem

os homens que deveriam ser e as melhores pessoas que pudessem ser.

O que via diante de seus olhos lhe agradava e tranqüilizava. Nunca questionava

conscientemente a decisão tomada há tanto tempo, uma decisão que talvez o

destino lhe tivesse imposto. Claro, nunca duvidara que ser a tutora dos meninos

era o caminho correto. E se às vezes, no silêncio da noite, quando estava sozinha

em seu quarto, se perguntava como as coisas poderiam ser de outro modo,

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descartava a pergunta como irrelevante. Tomara uma decisão e acertara. Tinha a

prova sentada diante dela, lambendo-se as migalhas dos dedos.

— O touro de Crowhurst. — Suas palavras puseram os três meninos em alerta

no instante.

Com expressão imperturbável, observou como resistiam ao impulso de

olharem-se entre si. Em lugar disso, cravaram os olhos inquisidores nela.

— Ontem falei com o conde — continuou — e tentei suavizar as coisas. Não

obstante, me pediu que os informasse que não viu nenhuma graça.

Fez com que as últimas palavras soassem sinistras. Harry abriu a boca, mas

Madeline levantou uma mão para silenciar os comentários.

— Seja como for, terão a oportunidade de desculpar-se em pessoa. Ou ao

menos Harry a terá.

— Eu terei? — O menino parecia atônito.

Ela levantou o cartão branco de Sybil.

— Isto é um convite para jantar no castelo de Crowhurst esta noite. Tia Muriel

— olhou para Harry, — você e eu.

Muriel, a irmã mais velha de seu pai, que era viúva, fora viver com eles após a

morte do visconde. Com a mesma forte constituição de todos os Gascoigne, ainda

agora, já anciã, estava cheia de vida.

Apesar de usar a idade como desculpa para evitar qualquer reunião social a

qual não desejasse assistir, Madeline não necessitou perguntar-lhe para saber se

iria ao jantar dessa noite. Ainda que tivesse muito carinho aos seus sobrinhos,

adorava as meninas e considerava as filhas de Sybil como suas próprias sobrinhas.

Tal como a mulher dizia sempre a Madeline, com um divertido olhar de

compreensão, em vista dela se negar a dar-lhe uma boda da qual ocupar-se, tinha

que encontrar prazer onde pudesse.

Harry franziu o cenho.

— Tenho que...?

— Pelo que lady Sybil disse, comemora com um jantar, a volta do conde, de

Londres para casa. Como ele vai ficar aqui e passar o verão, suspeito que os outros

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proprietários locais também estarão presentes. — Olhou para seu irmão nos olhos.

— Assim, como visconde Gascoigne, deveria assistir.

Harry enrugou o nariz e soltou um exagerado suspiro.

— Sabia que teria que começar a assistir a esse tipo de acontecimentos.

Madeline sentiu um grande alívio.

— Só tem quinze anos, mas é melhor que comece a aprender pouco a pouco.

Enquanto os mais velhos estão dispostos a desculpar qualquer desatino seu.

Ele lhe dedicou um sorriso torto.

— Certo.

— Espero que Belinda também esteja lá, assim terá alguém de sua idade com

quem conversar.

Esperava que Edmond e Bem, se não o próprio Harry, fizessem algum

comentário desdenhoso sobre as meninas; em troca, os três trocaram um rápido

olhar.

Edmond deu uma cotovelada em Harry.

— Poderá perguntar-lhe como bloquearam o moinho.

— E pelas luzes no cabo. — Ben se inclinou para frente. — Se é que foram elas

também.

— O conde conseguiu consertar o moinho? — perguntou Edmond.

Reprimindo seu desgosto, Madeline assentiu.

— Parece que sim. John Milner me disse que já estava tudo bem.

Pensou que a convivência entre seus irmãos e as irmãs de Gervase poderia ser

uma influência positiva para eles, que, com freqüência, se comportavam como

bárbaros, mas já não estava tão certa disso.

Até o incidente do moinho e os indícios que Belinda, Annabel e Jane estavam

por trás de outros estranhos acontecimentos, sempre havia pensado que as irmãs

de Gervase eram jovens sensatas e prudentes.

Voltou a perguntar-se o que as levara a adotar esse estranho comportamento.

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— Isso é tudo? — perguntou Harry.

Quando Madeline assentiu, levantou-se. — Porque se assim for, nos retiramos

para a biblioteca.

Consciente que esperavam que deveria se surpreender procurou mostrar-se

desconsertada, ainda que não lhe custasse muito fazê-lo.

— A biblioteca?

Tanto Edmond como Ben, que se levantaram de um salto, lhe dedicaram um

sorriso de despedida e se dirigiram para a porta. Harry, como o irmão maior, lhes

permitiu que saíssem primeiro, dando-lhes empurrões, antes de voltar-se para

Madeline e sorrir também.

— Não se preocupe, não faremos nada tão infantil como voltar a mudar o touro

do conde. Descobrimos algo muito mais divertido.

Antes que pudesse perguntar do que se tratava, seu irmão desapareceu.

Ouviu as vozes dos três no corredor, enquanto seus passos se perdiam nele.

Depois a porta da biblioteca se fechou e o silêncio voltou.

O que seria aquilo muito mais divertido? Poderia perguntar-lhes e exigir que

respondessem, mas... Se quisesse que Harry aprendesse a assumir

responsabilidades, essa atitude seria contraproducente,

O comentário de Gervase de que logo deixaria de fazer essas travessuras de

criança ecoou em sua mente. Em geral, até o momento, criar Harry não pusera

demasiado à prova o seu gênio. Claro, sabia e podia intuir que os anos vindouros

seriam mais complicados.

Apesar de seus esforços para ocupar o lugar de seu pai, ela não era um

homem. Um varão. Era uma Gascoigne, mas tinha consciência — e isso a

inquietava — de que havia certos interesses que os homens de sua classe

desenvolviam que as damas não compartilhavam nem necessariamente

compreendiam.

Que fosse capaz ou não de guiar seu irmão ao longo dos próximos cinco anos

era uma questão sem resolver. O que poderia fazer, o que jurava que faria era todo

o possível para animá-lo a assumir as cargas da idade adulta e seu título; a aceitar

as restrições que isso traria a sua liberdade, talvez a ver sua posição como um

desafio.

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A reação do jovem diante do convite de Sybil fora alentadora a respeito.

Madeline pensou que devia concordar e agradecer a mulher por isso.

Entretanto, porque a biblioteca?

Bufou para si e pensou se devia sussurrar em alguns ouvidos para que se os

proprietários dos tais ouvidos suspeitassem que seus irmãos tramassem qualquer

coisa diferente, ficaria agradeceria se a avisassem.

Seria absurdo esperar transformá-los em anjos da noite para o dia.

---

O jantar no castelo de Crowhurst foi uma reunião relativamente tranqüila.

Melhor dizendo, assim deveria ter sido; e parecia ser para os demais, inclusive

para Harry. No caso de Madeline, desde o momento em que subiu a escada do

castelo e seguiu Muriel ao vestíbulo principal, se descobriu sutil, curiosamente e de

um modo totalmente inexplicável fora de lugar.

A sensação — como se o mundo tivesse se inclinado, como se seu eixo tivesse

mudado de repente. — Surgiu no instante em que se aproximou de Sybil, que

esperava para saudá-las junto às portas duplas que levavam ao salão.

— Muriel! Bem vinda. — As mulheres se apertaram as mãos e se beijaram no

rosto. Sybil era muito mais jovem, mas tinha muito carinho pela anciã. — Entre.

Quando se voltou para Madeline, os olhos de Sybil se iluminaram.

— Madeline, estou encantada que pode vir avisando-a tão em cima da hora. —

Pegou-lhe a mão e a apertou entre as suas. — Só convidamos nosso círculo

habitual, para anunciar que Gervase voltou para casa para passar o verão, por

assim dizê-lo. — Segurou-lhe a mão além da conta, enquanto a olhava nos olhos e

lhe apertou os dedos. — Naturalmente, as meninas e eu estamos muito contentes

em tê-la aqui.

A ênfase sugeria que ela deveria interpretar algo mais que o óbvio no

comentário. Desconcertada, sorriu e retirou a mão.

— Claro. Sua presença deve ser um consolo. — Omitiu qualquer menção a

necessidade que Gervase solucionasse estranhas dificuldades como a do moinho e

retrocedeu para permitir que Harry saudasse a anfitriã.

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Sybil o recebeu com seu habitual sorriso amável e doce, salientando assim o

modo tão pouco habitual como a tinha tratado, um modo que sugeria algo, mas o

que era Madeline não tinha nem idéia.

Conhecia a segunda esposa do pai de Gervase fazia anos, mas não se

relacionava muito com ela até três anos atrás, quando ele herdou o título e Sybil e

suas filhas se instalaram no castelo.

Enquanto Gervase passava no estrangeiro a maior parte do tempo, sua

madrasta ficara cuidando de tudo e, portanto, se reunia com Madeline

regularmente, no mínimo, uma vez por semana. Era ela quem a mulher procurava

em busca de ajuda como outra dama adulta da pequena comunidade e, de sua

mesma posição.

Davam-se bem, pelo que a Madeline não surpreendeu ser saudada com

carinho. O que não esperava era aquela recepção tão carregada de significado.

Enquanto entrava no salão, com Harry a seu lado, pensou que podia ter

entendido mal. Ou isso, ou estava acontecendo algo com Gervase e sua família que

ela não sabia.

Apenas acabou de cruzar o umbral da elegante e ampla sala, quando Belinda

apareceu ao seu lado.

— Está aqui! — A jovem sorriu de orelha a orelha, claramente encantada. —

Estamos muito felizes que pode vir...

Madeline a olhou com curiosidade.

— Isso mesmo disse sua mãe.

— Bem, sim! Aposto que sim. — A exuberância de Belinda não se atenuou nem

um pouco. — Se não se importar, levarei Harry para apresentá-lo aos demais.

Gervase está ali.

E se descobriu quase empurrada naquela direção. Seguramente instruíram a

Belinda para que facilitasse as coisas para Harry. Considerando que devido à

superioridade de seus dezesseis anos, a jovem seria capaz de manejar seu irmão, e

estava certa que sim, deixou que o fizesse.

Por sua parte, ela não necessitava ajuda naquela conhecida companhia. Sorriu

para lady Porthleven, que era o centro de atenção no divã, e para a senhora

Entwhistle, ao seu lado, enquanto avançava pelo salão.

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Então viu Gervase.

Estava de pé diante da lareira de mármore, conversando com a senhora

Juliard. Como se pressentisse sua chegada, ele se virou. Quando seus olhos se

encontraram com os dela, Gervase parou de falar. E Madeline foi incapaz de

respirar.

Não foi seu aspecto que a deixou sem ar, já o vira em situações como estas

antes, nas quais sua altura e a largura de seus ombros, junto com seu vestuário

dessa noite, uma jaqueta de cor marrom, de corte soberbo, o convertiam no branco

de todos os olhares femininos.

A sutil arrogância e a autoridade menos sutil, presentes em todos seus

movimentos, desde o descarado gesto de uma mão até o modo com que virava a

cabeça, a força e o poder implícitos em sua pose, nenhuma dessas coisas era

responsável pelos seus pulmões ficarem sem ar.

Tampouco seu rosto, cujos traços, inclusive nessa companhia, eram

assombrosos em sua cinzelada dureza, com uma agressiva nitidez que o delatava

como descendente dos senhores da guerra.

Não, Madeline se encontrara antes com todas essas facetas suas e nunca a

afetaram. Tampouco o faziam agora, pelo menos não por si mesmas.

Foi à expressão de seus olhos, o modo como a olhou que deixou seus nervos

tensos e à flor da pele.

Antes que pudesse respirar, que pudesse sequer pensar, ele se voltou para a

senhora Juliard, se desculpou e atravessou o salão para saudá-la ou, tal como os

sentidos de Madeline lhe disseram, para exigir sua saudação.

Parou diante dela, com os olhos fixos nos seus, lhe estendeu a mão e esperou

com calma até que, recuperando a marcha forçada e a compostura, Madeline

recordou que devia estender-lhe a sua. Os dedos dele se fecharam com força ao

redor dos dela, que tremeu com algo mais que nervosa.

Pela primeira vez em sua vida compreendeu o que era ficar sem palavras.

Conseguiu saudá-lo com um assentimento de cabeça.

— Gervase.

Ele sorriu levemente e inclinou a cabeça.

— Madeline.

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Cometeu então o erro de olhá-lo nos olhos em busca de alguma pista; do

porque a observava como um falcão observando sua presa, como um gato

observaria a um pássaro, e se descobriu presa, inesperadamente perdida naquela

cativante profundidade cor âmbar matizada de verde.

Um suave calor se estendeu sob a pele e passou por sua mente toda classe de

loucas idéias. Teve que fazer um titânico exercício de vontade para apagá-las, para

recuperar o controle sobre seu caprichoso cérebro e trazê-lo de volta a realidade.

— Eu... — Interrompeu-se e olhou ao seu redor, fixando-se nos outros

convidados. Pigarreou. — Parece que reuniu a elite local.

— Exato. Após nosso encontro com o senhor Ridley esta manhã, pensei que

seria prudente dar a conhecer de um modo mais amplo minha presença no castelo

durante o verão.

Soltou sua mão e se virou levemente, de forma que o grupo de cavalheiros que

estava junto às janelas ficasse na linha de visão de ambos.

— Mesmo não tendo oportunidade de averiguar se alguém mais foi interrogado

sobre suas explorações minerais.

Madeline aproveitou a oportunidade e se agarrou ao assunto, tal como Gervase

sabia que faria.

— Pois este parece o momento perfeito para fazê-lo.

Sorrindo levemente, ele avançou ao seu lado em direção aos outros

cavalheiros. Ao planejar o sarau, Gervase recordara esse hábito da jovem. Antes de

jantar, costumava conversar com os cavalheiros presentes que, como nessa

ocasião, acolhiam-na entre eles sem piscar, movendo-se agora para deixar lugar

aos dois.

Após as habituais saudações, Madeline perguntou:

— Alguém andou se interessando por suas explorações minerais ultimamente?

Gervase permaneceu ao seu lado, mostrando interesse pelo assunto, mas

deixando-a levar a iniciativa. Lorde Moreston e lorde Porthleven ouviram falar do

jovem que fazia perguntas a respeito, mas ainda não haviam recebido tal visita.

A conversa em seguida se desviou para os campos e as colheitas, quando o

senhor Caterham perguntou a Madeline quais eram suas previsões para esse ano.

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Enquanto respondia, Gervase a observou e aprendeu, não só sobre colheitas,

mas sobre ela.

A jovem detectara quase no instante seu interesse por ela, mas por alguma

razão que ele não compreendia, não reagiu como normalmente faziam as damas.

Não era engraçado que tivesse percebido logo, sobretudo, porque a coisa

provavelmente não passaria daí. Aquela mulher o intrigava o suficiente para

desejar descobrir mais sobre ela, ainda que uma vez que o tivesse feito...

Claro, a reação diante da sua atenção o intrigara ainda mais. Viu sua

curiosidade, identificou-a corretamente e logo a descartou. Como se houvesse

decidido que não era possível, que a mera idéia seria uma estupidez.

Inclusive confusa como estava, Gervase viu o suficiente de sua perplexa

surpresa para saber que, apesar de não ser essa sua intenção, tinha afetado-a

atravessando a couraça o bastante para Madeline perceber que, como homem,

tinha algum interesse por ela.

Mas a seguir havia respirado e, ao que parece, deixou de lado a idéia.

Enquanto ela explicava aos cavalheiros ali reunidos — todos mais velhos que

Madeline ou ele — as últimas profecias do velho Edam, um ancião cujos

prognósticos sobre o tempo se consideravam sagrados na península, Gervase

deixou que seu olhar descesse com muito cuidado ao seu rosto.

Talvez o fato de descartar seu interesse se baseasse na idéia de que nenhum

cavalheiro de sua classe poderia sentir-se atraído por uma dama que usava um

vestido que era, no mínimo de três temporadas anteriores. Gervase não era um

expert no assunto, mas sabia o suficiente sobre tendências femininas para perceber

que seu vestuário não estava na moda.

Claro que enquanto as mulheres certamente considerariam esses assuntos

relevantes, os homens raras vezes o faziam. O corpo que estava sob o vestido era

muito mais importante e no caso de Madeline, não havia nada ruim nele. De fato,

agora que sua figura não estava envolta em metros de sarja, mas elegantemente

afundada em seda cor de ameixa, Gervase se sentiu gratamente atraído.

Ele estava certo: Madeline era sedutora. Voluptuosa, ainda que, devido a sua

altura, não fosse gorda. Os seios, com a parte superior dos mesmos decorosamente

coberta por um fino lenço de seda, eram a definição mesma da tentação,

exuberantes, mas não demasiado. As linhas dos ombros, a nuca e os braços eram

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regiamente elegantes, os quadris gratamente arredondados, enquanto a longitude

das pernas, ocultas sob as saias do vestido, faria arder à imaginação de qualquer

homem. Ainda que nenhum homem dos arredores a visse como mulher. A exceção

dele, agora.

Distraíra-a com o assunto das explorações minerais porque isso formava parte

de seu plano. Essa noite tinha intenção de observar e aprender e, se pudesse

descobrir algum ponto fraco em sua couraça, porque até que não fosse capaz de

minar, tirar ou, de algum modo passar através dela, não poderia dizer se eram

incompatíveis.

Precisava de uma razão, com a qual pudesse por a mão no coração e jurar que

era real, mas para isso teria que conhecer a mulher oculta.

Quando Sitwell anunciou que o jantar estava servido, Gervase sorriu e lhe

ofereceu o braço.

— Creio que esta noite nos emparelharam.

Madeline ergue os olhos para ele, antes de inclinar a cabeça e apoiar a mão em

seu braço.

— Em frente, então.

Ele obedeceu enquanto ocultava um feroz sorriso.

A conversação na mesa foi geral e animada. Lady Porthleven estava sentada a

sua esquerda, com o senhor Catertham ao seu lado, em frente tinha o senhor

Juliard e a direita a Madeline.

Os cinco trocaram histórias; Gervase contribuiu comentando os últimos

escândalos de Londres. No resto do tempo ouviu e observou.

Sem dúvida, a única coisa que descobriu foi que, como Madeline desfrutava de

um status único entre os homens da nobreza local, também ocupava uma posição

especial aos olhos das damas.

As solteironas não se lhes concedia tal respeito e muito menos essa

consideração nos círculos femininos, nem eram tão claramente livres, nem se lhes

reconhecia essa liberdade em respeito às habituais restrições sociais.

Em troca, naquele caso, era igual. Para onde se levasse a conversação, não

detectou o menor resquício de desaprovação por parte de lady Porthleven — uma

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velha purista como as demais — nem tão pouco das outras mulheres com respeito

à Madeline.

Quando o jantar terminou, as damas se retiraram e deixaram os cavalheiros

para que tomassem sua bebida. Resignado, Gervase decidiu interpretar o papel de

amável anfitrião, enquanto esperava reencontrar-se com Madeline e continuar sua

campanha.

Por azar, quando os cavalheiros foram também ao salão, descobriu que ela

tomara medidas para frustrar seus planos, de um modo deliberado ou sem

perceber, disso não tinha certeza.

Sentara-se no divã entre a senhora Juliard e a senhora Caterham, onde parecia

ter criado raízes. A menos que ele fizesse um gesto muito revelador, demasiado

autoritário, não poderia movê-la dali.

Com o rabo do olho, Madeline observou como Gervase se aproximava e tentou

de novo, dizer-se que só estava imaginando, que eram invenções suas e realmente

não estava interessado nela.

Ninguém mais parecia ter-se dado conta, mas por muito que se repreendesse e

se desse todo tipo de argumentos racionais, a nível instintivo não podia negar o

que via.

O que tramava aquele condenado homem?

Lembrava-a que parecia um tigre rondando sua presa; havia algo em suas

passadas longas e silenciosas que por força a fazia pensar em um felino em

observação.

Rondava, aparecendo uma e outra vez pela periferia de seu pequeno círculo,

mas não tentou intrometer-se nas conversas, basicamente femininas, enquanto

Sybil servia chá e iam se passando as xícaras.

Não. Gervase estava esperando o momento oportuno; ela sabia que o estava

esperando e não tinha nem idéia do que planejava e muito menos de qual seria o

melhor modo de evitá-lo.

Estava acostumada a dominar todos os aspectos de sua vida. Sem dúvida,

fosse como fosse, nem em seus mais loucos sonhos pensaria que pudesse dominá-

lo. Havia alguns seres que escapavam ao seu controle; não muitos, mas Gervase

era um deles, do qual estava claro que devia proteger-se, ainda que não pudesse

imaginar que maluca idéia tinha desenvolvido em seu cérebro.

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Havia passado muito, muito tempo desde a última vez em que um homem a

olhara como uma mulher, que se atrevera a fazê-lo desse modo tão calculista,

avaliador, tão intrinsecamente masculino. Como se estivesse considerando... Mas

não podia ser. Então, porque o fazia, demônios? Para deixá-la irritada?

Enquanto sorria escutando o relato da senhora Juliard sobre as proezas de seu

filho menor, Robert, Madeline reconheceu em seu íntimo que se pudesse

convencer-se que Gervase estava se comportando assim só para deixá-la nervosa;

se sentiria muito melhor, mas sabia ser improvável que estivesse impulsionado a

agir desse modo. Esse frívolo capricho masculino, da classe de capricho que não

tinha nenhuma finalidade real. Ele não era desse tipo de homens. E isso era

precisamente o que a estava afetando de tal forma que temia perder os nervos.

Gervase tinha algum objetivo em mente e esse objetivo dizia respeito a ela.

Não a ela como Madeline Gascoigne que havia criado ao longo dos anos, mas a

real, a solteirona de quase vinte e nove anos que estava sob a superfície.

Acabou sua xícara de chá e pensou uma vez mais, que estava deixando-se

levar pela imaginação.

— Bem! — A senhora Juliard deixou sua xícara de lado. — Foi um sarau

maravilhoso, mas já é hora de voltar para casa. — Levantou-se sorridente.

Madeline e a senhora Caterham seguiram seu exemplo justo quando a senhora

Entwhistle, de meia idade, gordinha, doce, mas bem nervosa, se aproximou.

— Madeline, querida, é preciso que convoquemos uma reunião do comitê do

festival. Ficamos sem tempo e temos que tomar decisões com urgência.

Ela lhe sorriu tranqüilizadora.

— Sim, claro. — Ergueu os olhos para o rosto de Gervase quando ele se deteve

perto da senhora Entwhistle, com a qual estivera conversando durante os últimos

minutos.

Seus olhos âmbar se encontraram com os de Madeline.

— Sugeri que, como este será o primeiro festival de verão que passo em casa

como conde, o comitê poderia reunir-se aqui. — Olhou à senhora Caterham e a

senhora Juliard, também membros do comitê, e com um leve sorriso as convidou,

as enganou a respaldar seu plano. — Gostaria muito de estar presente para saber

mais coisas sobre o festival e o que supõe. O que lhes parece se nos encontramos

amanhã à tarde?

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As damas assentiram encantadas.

Poucos homens aceitavam de boa vontade ir a essas sessões organizadas.

Não houve nada que Madeline pudesse fazer fora sorrir e mostrar-se de acordo.

E, na realidade, se iria vê-lo, não lhe desgostava a idéia que a reunião tivesse lugar

ali em vez de em sua casa, que era a alternativa mais provável.

A senhora Entwhistle, a responsável de organizar o festival, se afastou para

informar aos outros membros do comitê quando todos se levantaram e se

prepararam para partir.

Gervase não se moveu; não havia razão pela qual deveria fazê-lo.

Não obstante, seguiu de perto a Madeline quando ela foi despedir-se dos

assistentes, que começaram a sair ao vestíbulo principal.

Pela primeira vez em sua vida, que ela pudesse recordar, tinha consciência de

um homem; os pelos se eriçaram, os nervos se crisparam diante de sua

proximidade. Mas foi o estremecimento assombrosamente intenso que lhe desceu

pela espinha dorsal quando sua palma lhe tocou a parte posterior da cintura ao

acompanhá-la até a porta do salão que a fez perder a paciência. O gesto foi

puramente social, um gesto de cortesia próprio de um cavalheiro. Mas sem dúvida,

Madeline sabia que fora deliberado.

Parou junto à mesa central do vestíbulo, deixou que os demais convidados

avançassem e se voltou para ele, com os olhos apertados.

— O que está fazendo?

Por seu tom, seus irmãos compreendiam que estava desgostosa.

Gervase em troca estudou seus olhos e sua imperturbável expressão se relaxou

de um modo que ela não soube definir. As duras linhas dos lábios se suavizaram

sem chegar a esboçar um sorriso.

— Tento conhecê-la melhor, muito melhor do que conheço.

Seu tom de voz tinha baixado, se tornara mais profundo, e isso, combinado

com a expressão daqueles olhos cor âmbar, fazia impossível interpretar

erradamente o que queria dizer, o seu ―conhecê-la melhor‖ significava.

Madeline sentiu que os pulmões se fechavam, mas ignorou a sensação e

apertou mais os olhos.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Por quê?

Gervase ergueu as sobrancelhas.

— Por quê? — Madeline percebeu, viu no seu olhar, uma resposta fácil, algo do

estilo de para divertir-me, mas então suas pálpebras desceram e umas longas

pestanas ocultaram fugazmente seus olhos antes de tornar a elevar-se e suster-lhe

de novo o olhar.

— Porque quero.

E essa, ela decidiu, foi uma resposta muito mais preocupante que qualquer

alegre ocorrência. Estudou brevemente seus olhos, confirmou que continuavam tão

duros e determinados como sempre; olhou a porta, vendo que a maioria dos

convidados já estava fora, na varanda, que Harry a esperava com Belinda e Muriel

também estava perto.

Olhou para Gervase.

— Temo que você esteja condenado a decepção. Não tenho nenhum interesse

em preliminares.

Ele tornou a erguer as sobrancelhas, mas dessa vez mais devagar.

— Sério? Nesse caso... Terei de ver se posso fazê-la mudar de opinião.

Madeline não podia apertar mais os olhos. Apertou os lábios com força para

conter as palavras que encheram sua boca. Conhecia muito bem aos homens para

saber que ele interpretaria inevitavelmente como um desafio. Retrocedeu em troca

com gélida dignidade, inclinou a cabeça e se dispôs a sair, mas não conseguiu

resistir a dizer a última palavra.

— Logo se cansará de golpear a cabeça contra esse muro.

Reuniu-se a Harry e Muriel, despediu-se de Sybil na varanda e, aliviada que

Gervase ficasse junto a sua madrasta, permitindo que fosse Harry a acompanhar

Muriel até a carruagem, Madeline os seguiu.

Quando se fechou a porta da carruagem e o cocheiro agitou as rédeas, ela se

relaxou, recostando-se no assento, e percebeu que era sua primeira inspiração livre

em horas.

Enquanto a carruagem percorria devagar os caminhos locais, Harry lhes contou

sobre as conversas que tivera. Era evidente que gostara do sarau, mais do que

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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esperava. Sua tagarelice e os comentários de Muriel permitiram a Madeline refletir

sobre o sarau concentrando-se em Gervase e o que agora suspeitava que fossem

suas maquinações.

“Por quê?” “Porque quero”.

Havia verdade sob suas palavras; ouvira-as com clareza. Em lugar de

responder com algum comentário frívolo, dera-lhe deliberadamente uma pitada de

verdade para impressioná-la, para arrancar-lhe uma resposta, alguma reação, para

empurrá-la a participar de seu jogo.

Mas entrar nesse jogo em particular com ele, com o tipo de homem que era,

seria... Como jogar uma sensual partida de xadrez. Gervase movendo-se aqui, logo

ali, manobrando para prendê-la, ela defendendo-se, porque como poderia sair em

ataque sem dar-lhe precisamente o que desejava negar-lhe? Um enigma,

sobretudo quando seu caráter a predispunha mais para a ação que para a estóica

defesa.

Mas, a pergunta mais importante continuava sem resposta: qual era seu

objetivo final, o prêmio, o que procurava? Refletiu sobre isso durante vários

minutos enquanto se balançava na cômoda obscuridade, até que uma pergunta

mais pertinente surgiu em sua mente: porque estava se permitindo ser arrastada a

isso? Era uma bobagem, uma inútil perda de tempo, energia e esforço, e ela não

podia desperdiçar nada disso. Não obstante, em vista de quem e o que era ele,

teria alguma opção?

Quando as árvores de Treleaver Park pairaram ao seu redor, dando-lhes as

boas vindas ao lugar, suspirou para si, deixou de lado essa pergunta e enfrentou o

que havia sob a superfície.

Reconheceu o motivo que havia porque passara todo o trajeto de volta a casa

pensando nas maquinações de Gervase Tregarth.

Sob tudo aquilo estava seu pecado inconfessável, o único elemento de seu

caráter capaz de tentá-la a levar a cabo os temerários atos próprios de sua família:

a curiosidade.

A margem de tudo o mais, Gervase Tregarth conseguiu despertar essa besta

dormente. E isso, Madeline sabia que poderia ser sumamente perigoso.

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Capítulo 3

Na tarde seguinte, Gervase saudou o comitê do festival — o senhor e a senhora

Juliard, a senhora Caterham, o senhor Ridley, a senhora Entwhistle e Madeline — e

os fez passar ao salão do castelo.

Sybil estava sentada também ali, claramente satisfeita que ele estivesse

implicado em assuntos locais e, ainda que não soubesse dizer se a dócil dama

percebera quais eram seus motivos, estava convencido que Madeline sim.

Foi à última a chegar e o saudou com uma distante cortesia que já foi uma

advertência em si mesma. Quando, ao guiá-la ao interior do salão, se deteve ao

seu lado excessivamente próximo, lhe lançou um olhar com os olhos apertados e

avançou com ar régio, para as cadeiras de respaldo reto e livres; que estavam em

frente ao divã. Escolheu a que ficava junto a Clement Juliard. Quando se sentou,

Gervase ocupou a que estava ao seu lado e trocou um afável sorriso com o senhor

Ridley, que tomou assento ao seu lado.

— Muito bem! — A senhora Entwhistle pigarreou. — Devemos discutir os

detalhes do nosso festival de verão. Em primeiro lugar, temos que confirmar a

data. Suponho que seguiremos com a tradição e será dentro de dois sábados.

Alguém vê algum inconveniente nisso?

Fizeram-se numerosos comentários, mas ninguém se opôs a proposta.

— De acordo, então. — A senhora Entwhistle confirmou esse ponto em sua

lista. — Será esse sábado.

Gervase se recostou em seu assento e escutou como sob a liderança da afável

dama, o grupo continuava considerando os diversos aspectos da celebração em si,

os postos, os espetáculos, a exibição de produtos e mercadorias locais.

Suas observações lhe revelaram uma faceta da gorducha e pequena matrona

que Gervase não tinha visto até o momento: a senhora Entwhistle era

surpreendentemente competente, ainda que ele tivesse consciência que a dama

sentada ao seu lado o era inclusive mais. Em qualquer ponto polêmico, era a

Madeline a quem a mulher apelava e suas opiniões eram aceitas por todos.

A senhora Entwhistle dirigia o espetáculo, mas Madeline era a última

autoridade.

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Sentada junto a Gervase, esta deu graças em silêncio por ter delegado o papel

de organizadora do festival à senhora Entwhistle há alguns anos, pois não tinha

certeza se poderia dedicar-se o suficiente para desempenhar essa tarefa de um

modo adequado, não com aquele homem ao seu lado.

Sobretudo não quando, como de vez em quando fazia, ele se inclinava para

ela, demasiado perto, e com sua voz baixa e profunda, em excesso íntima, lhe fazia

uma pergunta sobre isto ou aquilo.

Apesar de sua decidida determinação de não permitir que a afetasse, a distraia

de um modo contra o que, ao parecer, não tinha uma defesa real. Ele e a falta de

concentração que lhe ocasionava eram uma doença.

Por azar, ambos eram iguais e fascinantes.

Sua curiosidade havia levantado a cabeça e farejava o vento, um progresso

nada reconfortante. Na viagem a cavalo até o castelo, Madeline tentara aplacar sua

inquietação dizendo-se que imaginara todo o acontecido na noite anterior. Quando

isso não funcionou, tentou convencer-se que ele esteve brincando simplesmente,

que sua atenção já se tinha desviado como acostumava acontecer tão

freqüentemente com a atenção dos cavalheiros.

Mas quando eles encontraram-se no vestíbulo principal do castelo, a expressão

dos olhos de Gervase fez desvanecerem-se essas falsas ilusões.

Sua atenção para ela tinha se tornado inclusive mais intensa, ainda que em

vista da companhia, ele a dissimulava. Com seu modo de agir afável e seguro,

tinha cuidado bem para que nenhum outro vislumbrasse suas verdadeiras

intenções.

Essa descoberta fez com que um sutil estremecimento a percorresse. O fato de

que fosse cuidadoso sugeria que aquilo que tivesse em mente, estava tornando

esse jogo seu muito sério.

Saber que Gervase Tregarth estava tão concentrado nela, em saber dela, não

da dama e sim da mulher, não era um pensamento que acalmava e muito menos

que aplacasse sua crescente curiosidade.

Inclinou-se mais perto de novo e lhe perguntou em voz baixa:

— Há alguma competição como tiro com arco e... Colher maçãs com a boca?

Esse tipo de atividades que atraem aos jovens?

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Olhou-a nos olhos e, a essa distância tão curta, o âmbar mosqueado de verde

provocava uma fascinação perigosa.

Madeline piscou e desviou os olhos para a senhora Entwhistle.

— Não, não há... Mas tem razão. Deveríamos organizar competições para

manter os jovens de mais idade entretidos.

Fez a sugestão em voz alta e atribuiu o mérito da idéia a ele.

A senhora Entwhistle acrescentou de imediato tiro com arco e o jogo das maçãs

a sua lista de atividades.

Quando o olhou inquisitivamente, Gervase aceitou organizar os eventos. O

senhor Ridley se ofereceu a perguntar a seus rapazes de quadra que outras

competições gostariam de ver e lhe pediria que as organizassem.

A conversação se desviou então para os concursos de artesanato, produtos e

arte. Madeline deixou que a conversa continuasse afastada dela, enquanto um

possível perigo tomava forma em sua mente. Esperou até que discutissem todos os

pontos da lista da senhora Entwhistle e disse:

— Há algo sobre o qual não falamos: o lugar da celebração.

Todos a olharam, a surpresa em seus rostos logo foi substituída por um leve

embaraço, já que todos perceberam que era certo que ela seria a anfitriã do festival

em Treleaver Park, tal como o fizera nos últimos quatro anos.

Madeline percorreu o grupo com o olhar e esboçou um sorriso tranqüilizador.

— Como sabem o festival tem sido celebrado em Treleaver Park desde que o

falecido conde ficou doente, mas a verdadeira sede do festival está aqui, no

castelo. Suas raízes, que são antigas e profundas em nosso passado coletivo, estão

em Crowhurst, não em Treleaver Park. — Olhou para Gervase. — Agora que o

castelo volta a ter um conde, talvez seja hora do festejo regressar ao seu

verdadeiro lugar.

A maioria assentiu e todos olharam para ele na expectativa. Seu lento e afável

sorriso apareceu em seus lábios. Gervase inclinou a cabeça diante de todos eles e

pousou finalmente o olhar em Madeline.

— Obrigado, estou certo que falo em nome de Sybil e de minhas irmãs, além

do nosso pessoal, ao dizer que ficaremos encantados que o festival volte a ser

celebrado no castelo.

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Ouviram-se murmúrios de aprovação e apreço ao seu redor. O fato da festa ter

lugar em Crowhurst asseguraria uma aceitação ainda maior, porque muitas pessoas

no distrito sentiam curiosidade pela mais recente aquisição do castelo: o conde.

Madeline sorriu. Se fosse celebrado em Traveleaver Park, isso daria uma

excelente desculpa para Gervase ir lá continuamente pegar-lhe as saias e deixá-la

nervosa.

Satisfeita de si mesma, olhou-o nos olhos, só para ver... Diversão escondida

naquelas ferozes profundidades cor âmbar?

Ele sabia por que lhe tinha devolvido tão gentilmente a honra de ser a sede do

festival, mas tinha visto alguma vantagem.

“Maldição”!

Conseguiu pronunciar a palavra em voz baixa e que não se refletisse nada em

seu semblante, mas sua mente corria a toda velocidade. Em vão. Teria que esperar

e ver o que faria Gervase, como tiraria partido do primeiro movimento ofensivo que

ela realizara.

Sybil pediu que se servisse o chá e Madeline deixou de lado suas reflexões,

porque era demasiado perigoso com ele tão próximo; se concentrou, pois em evitá-

las ao homem e suas atenções durante o resto da reunião, até que pudesse fugir.

Descobriu logo como Gervase iria tirar partido de sua ação no dia seguinte. A

primeira hora da tarde, Milsom chamou a porta de seu escritório para anunciar a

sua senhoria, o conde de Crowhurst.

Surpreendida, Madeline ficou olhando-o fixamente quando entrou. Após dirigir-

lhe um único olhar, ele o desviou em seguida para a sala e observou a quantidade

de estantes cheias de livros de contabilidade; o enorme mapa da propriedade na

parede, a lâmpada de bronze colocada para clarear a brilhante superfície da

enorme escrivaninha e assim poder trabalhar nos documentos e nas contas durante

a noite.

Quando a porta se fechou atrás de Milsom, o olhar de Gervase se afastou do

livro de contas aberto diante dela para fixar-se no seu rosto.

— Então é aqui que se esconde.

―Onde esconde seu verdadeiro eu‖. A insinuação ficou clara por seu tom e por

seu perspicaz olhar.

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Madeline respondeu a essa desconcertante observação com um sorriso brando.

— Boa tarde, milorde. A que devo o prazer desta visita? — Indicou-lhe que se

sentasse na poltrona em frente à escrivaninha.

Gervase lhe deu um sorriso bastante sincero e se sentou.

— Minha presença deve-se a sua sugestão para mudar o festival para o castelo,

claro. — Recostou-se e a olhou nos olhos. — Vim para saber qual é sua opinião

sobre os detalhes.

Madeline manteve o sorriso distante.

— Penso que não sei nada sobre a celebração do festival no castelo. Minha

experiência abarca os quatro anos em que foi organizado em Treleaver Park.

— Claro. Sem dúvida, como sem dúvida você sabe que muitos dos membros do

pessoal do castelo se retiraram quando meu tio faleceu. O serviço atual tem pouca

idéia da logística que implica. Temo que sem um guia eles não estejam em absoluto

preparados.

— Ah. — Olhou-o nos olhos e não viu saída. Ela os havia sobrecarregado com a

responsabilidade do festejo, pelo que era justo que fosse ela a explicar-lhes como

deveriam organizá-lo. — Entendo. O que necessita saber?

— Mesmo que a senhora Entwhistle me proporcione uma lista detalhada dos

tipos de espetáculos e atividades que se realizarão, não será muito específica

quanto aos números. Quantos postos, tendas e cercados teremos que montar para

as diversas atividades? Quantas para a exibição de produtos e para os vendedores

ambulantes e os comerciantes de fora?

Madeline levantou a mão.

— Um momento. — Levantou-se e se dirigiu a um armário próximo. Abriu a

porta, rebuscou entre os numerosos papéis de seu interior e quando encontrou o

pacote que procurava, pegou-o, tentou, mas a pilha de meio metro de altura

começou a inclinar-se.

— Oh! — Madeline tentou segurá-la e teria fracassado se Gervase não

aparecesse de repente. Roçou-lhe o ombro com o seu quando esticou os braços e

com suas grandes mãos primeiro equilibrou a pilha e logo afastou os papéis que

ficavam em cima dos que ela conseguira pegar.

— Tire-o agora.

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Madeline obedeceu e retrocedeu em seguida, enquanto tentava acalmar seu

acelerado coração, pensando se poderia convencer-se que fora o sobressalto e não

sua proximidade o que estava fazendo com que seu pulso se acelerasse. Isso fez

que sua curiosidade não se despertasse, mas brincasse ávida.

Madeline a reprimiu com decisão e voltou à escrivaninha com o máximo decoro

possível. Sentou-se e lhe agradeceu em silêncio sua ajuda com um gesto de

cabeça, quando Gervase fechou o armário e voltou a sentar-se na poltrona.

— O número de postos e demais deveria constar aqui. — Desamarrou um laço

que amarrava o pacote e folheou os papéis. — Sim. — Pegou um, olhou e o

estendeu. — As praças que proporcionamos no ano passado.

Ele pegou a folha, se recostou em sua poltrona e a estudou. E pensou em

Madeline.

Estava demasiado arraigada como ―tutora de seus irmãos‖ naquela sala.

Nem sequer o roçar, por muito involuntário que fosse, havia minado

seriamente seu controle sobre sua condenada couraça. Por um momento havia se

rachado, mas se recompôs no instante.

Umas elegantes cifras enchiam a página que tinha na mão.

Como poderia tirá-la dali?

— Que zonas estão contempladas no total? Qual é o espaço requerido em

metros quadrados?

Ergueu a vista e rezou por ela, igual à maioria das mulheres, não tivera

demasiada habilidade para calcular com precisão esse tipo de coisas. A expressão

perplexa de seu rosto e o franzimento do cenho que se seguiu lhe confirmaram

que, sob a couraça, nisso era totalmente como as outras. — Na verdade é que não

saberia lhe dar uma cifra — reconheceu.

Gervase a olhou nos olhos com inocência.

— Talvez pudesse mostrar-me a zona que destinou no ano passado. —

Levantou a lista. — Junto com isto, deve proporcionar-me suficiente informação

com a qual eu possa trabalhar.

Madeline se mostrou receosa e o olhou nos olhos, mas Gervase se assegurou

que não pudesse ver nem rastro de sua intenção neles. Finalmente, ela apertou os

lábios e se levantou.

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— Muito bem.

Guiou-o para fora do escritório, absurdamente consciente que ele caminhava

ao seu lado. Fora dessa nova e irritante percepção, havia poucos homens que

pudessem fazê-la se sentir... Se não pequena, no mínimo, fisicamente inferior.

Gervase Tregarth podia fazê-la sentir-se vulnerável de um modo que poucos

podiam. E o fazia.

Nesse único ponto, seu instinto e seu intelecto estavam totalmente de acordo:

aquele homem era perigoso para ela. Em particular para ela. Fora de tudo o mais,

porque podia fazer que o sentisse.

Por azar, seu instinto e seu intelecto reagiram de um modo completamente

distinto diante dessa conclusão.

Reprimiu bruscamente sua crescente curiosidade e avançou pelo corredor para

a porta do jardim. Gervase se adiantou e lhe passou o braço por cima do ombro

para segurar a porta, fazendo seus nervos se crisparem. Quando entrou no jardim

e avançou pela trilha entre as rosas, ele tornou a alcançá-la e acompanhou seu

passo sem problemas nas longas passadas um tanto masculinas dela.

Madeline recordou que Gervase estivera no estrangeiro durante os últimos

festivais no mínimo e assinalou a frente com a mão.

— Celebramos o festival mais para lá dos jardins, perto dos penhascos. Desse

modo, as pessoas podiam chegar tanto pelos caminhos deles como atravessando a

propriedade.

Ele assentiu, enquanto examinava devagar o terreno que percorriam. Quanto

mais se afastavam da casa, mais sentia a crescente tensão em Madeline. Não

importava quanto se esforçasse por ocultá-lo, ele a afetava, ainda que estivesse

razoavelmente seguro que ela considerava esse efeito mais como um azar e

percebia que estavam sozinhos.

— No ano passado dezesseis comerciantes locais instalaram postos, mais treze

vendedores ambulantes. Não temos de fornecer-lhes as tendas porque eles trazem

as suas, mas temos de reservar-lhes os espaços específicos e marcar cada um

deles com o nome do vendedor, ou se derramará sangue pelos melhores lugares.

— Terá que dar-me alguma indicação de quem tem prioridade.

O caminho pelo qual avançavam continuava além dos jardins para o interior do

frondoso bosque. Mesmo que acima os penhascos e as colinas, estavam em grande

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medida, desprovidas de árvores, havia pontos como aquele onde os antigos

bosques ainda dominavam.

Madeline tremeu um pouco quando foi envolvida pelas sombras e Gervase

olhou ao seu redor.

— Tinha esquecido a densidade com que cresciam as arvores aqui.

— Só um pequeno trecho nesta direção. — Assinalou para diante com a mão

onde havia um claro.

O caminho conduzia até ele. A luz do sol vespertino banhava o vasto gramado

quando saíram debaixo das árvores.

Madeline estendeu os dois braços para abarcar todo o claro.

— No ano passado necessitamos todo este espaço e, além do mais, tivemos

que colocar alguns postos e tendas junto às árvores.

Gervase se deteve no centro da extensão do terreno e rodou devagar enquanto

calculava.

— Creio... — Olhou a Madeline. — Com sorte, poderíamos conseguir uma área

similar entre a porta do pátio dianteiro e as muralhas.

Ela inclinou a cabeça, pensou e assentiu:

— Sim, isso deveria ser o suficiente.

Hesitou com os olhos fixos nele. A qualquer momento sugeriria que

regressassem a casa. Gervase olhou de novo ao seu redor, logo assinalou outro

caminho que se afastava mais da mansão.

— Os penhascos ficam por ali?

Madeline assentiu.

— Muitos assistentes vieram por eles.

— Humm. — Começou a avançar nessa direção, escutando com atenção. Após

uma leve hesitação, ouviu que ela o seguia. — Com certeza teremos que abrir

algumas das antigas portas. Normalmente só temos aberta a principal, mas com

tanta afluência de público, o arco da entrada do pátio dianteiro pode ficar

demasiado abarrotado.

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— Sim, deve fazê-lo. — Disse Madeline quando Gervase reduziu o ritmo o

suficiente para que ela o alcançasse e pudesse caminhar ao seu lado, — necessitará

colocar homens corpulentos, vigiando cada entrada. — fez uma careta e o olhou. —

Depois do primeiro ano, nós percebemos que muitas entradas também significavam

muitas saídas e, ainda que a maioria dos assistentes respeite as leis, o festival é

muito conhecido e atrai a um pequeno grupo de...

— Caçadores furtivos, mendigos e malandros?

Ela sorriu fugazmente.

— Ladrões e assaltantes em sua maioria.

Descobrimos que o melhor modo de dissuadi-los era ter homens de guarda e

visíveis em cada entrada. Isso bastou para afugentá-los.

Gervase assentiu.

— Nós o faremos.

Chegaram ao limite das árvores; uma ampla expansão de grama verde em

cima dos penhascos se abriu diante deles, com o mar como um manto de ardósia

azul estendendo-se até o horizonte. Na costa, uma leve brisa elevava e lançava as

pequenas cristas brancas e brincalhonas sobre as ondas.

Gervase reduziu o ritmo caminhando sem pressa, mas não parou. Madeline o

seguiu; relutante talvez, mas, como ele, sentiu-se atraída pela vista, pela

incomparável sensação de estar na borda do precipício e sentir o puro e primitivo

poder das falésias chicoteadas pelo vento, o mar sempre revolto e o céu, enorme e

incrivelmente amplo, passando a toda velocidade por cima de suas cabeças.

Era uma magia elementar a qual respondia qualquer homem da Cornualha. E

também qualquer mulher.

Pararam e contemplaram a paisagem, a pura e incrível beleza, dura, inóspita.

E, claro sempre tão viva. À sua esquerda se elevava Black Head, uma escura massa

de terra que marcava o final da ampla Bahia. À sua direita, longe, quase diante

deles, se erigia o castelo por cima da costa ocidental, ao acesso dos invasores,

como fora feito durante séculos. De fato, até o meio do ano anterior se mantinha

uma guarda das torres.

Espontânea, inesperadamente, Gervase sentiu uma reação visceral que o

afetou até o mais profundo. Um reconhecimento. Aquela era a primeira vez desde

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que regressara a Inglaterra que estava nos penhascos desse modo. E, pela primeira

vez, sentiu realmente que voltara para casa.

Sabia que Madeline estava ao seu lado, mas não a olhou, limitou-se a ficar

imóvel e contemplar as ondas, a deixar que a sensação do lugar, o lugar de seus

antepassados, o reclamasse.

Ela o olhou, encontrava-se a sua direita, no lado do castelo. Quando se voltou

ela o viu com as ameias e as torres ao fundo. Um cenário adequado.

Havia se surpreendido por sua absorção, mas sabia o que o tinha preso, podia

entendê-lo. De fato, ela mesma corria ali frequentemente, onde os penhascos, o

vento, o mar e o céu se encontravam e se uniam.

Estava no sangue tanto dele como no dela. Madeline se esquecera disso,

porque não todas as almas estavam em harmonia com a magia, com a selvagem

canção dos elementos. Seguiu a direção de seu olhar e nesse momento se sentiu

feliz simplesmente de estar ali e saber. E, de maneira inesperada, compartilhar

esse conhecimento.

Ao fim, Gervase reagiu e se voltou para ela. Seus olhos contemplaram os dela

e Madeline percebeu a conexão mútua, mas não sabia como falar dela.

— É poderosa. — Abarcou todo o entorno com as mãos. — A essência da

natureza selvagem.

Gervase esboçou um sorriso e voltou a contemplar a paisagem.

— Sim, é.

E vivia neles dois.

Madeline sentiu o empuxe da brisa e levou as mãos aos cabelos só para

comprovar que tinha fora um autêntico desastre. Soltou um grunhido desgostoso

que fez com que ele se voltasse de novo para ela.

— Será melhor que regressemos.

Gervase sorriu, mas deu meia volta para segui-la quando se dirigiu para o

caminho.

— Digo que tem que haver algo. Parece lógico — ouviram alguém dizendo de

repente.

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Detiveram-se e voltaram para a borda do precipício. A brisa vinha do mar e

subia pela parede de rocha, transportando com ela vozes, vozes familiares.

— Teremos que procurar mais longe.

— Mas há muitas cavernas.

O último comentário o fez uma voz aguda e suave.

Madeline franziu o cenho e fez um gesto para dar a volta, mas Gervase a pegou

pelo braço e a deteve. Quando o olhou, lhe fez um gesto de negação com a cabeça.

— Não quer assustá-los.

Madeline tornou a olhar para a borda dos penhascos e mordeu o lábio.

Gervase falara em voz baixa e quando lhe soltou o braço, deixou que se

afastasse dali para que seus irmãos, os quais subiam pelo estreito e perigoso

caminho, não os vissem até que estivessem a salvo no alto do mesmo.

Primeiro apareceu uma cabeça, logo uma segunda e finalmente uma terceira;

Harry encerrava a comitiva.

Madeline soltou um pequeno suspiro de alívio. Quando ele retirou a mão com a

qual a segurava, avançou.

— Oh! — Edmond foi o primeiro a vê-la. A culpa, e ela era prática em detectá-

la, sobrevoou o rosto do menino, mas, então viu Gervase e se animou. — Olá. —

Fez uma educada reverência.

Bem, que quase havia dado um salto ao vê-la, fez eco com sua saudação.

Harry, mais controlado, inclinou a cabeça e saudou:

— Bom dia.

Gervase respondeu a saudação dos três com um amável sorriso.

— Buscavam algo. — perguntou, antes que o fizesse Madeline.

Os meninos mais jovens olharam para Harry. — Ah... Ninhos de pássaros —

respondeu este.

Gervase ergueu as sobrancelhas. Não acreditou mais que Madeline.

— A estas alturas do ano é um pouco tarde.

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— Bem, sim — interveio Edmond, — mas acabamos de regressar da escola e

pensamos que valia a pena tentar.

Três rostos angelicais lhe sorriram e dirigiram seus olhos para Madeline.

Gervase também a olhou. Sua expressão era severa, mas... Mesmo sabendo

que eles mentiam, estava reprimindo sua reação.

— É hora do chá — disse Ben então. — Íamos voltar a casa em busca de bolos.

Com os lábios apertados, sua irmã assentiu e se afastou indicando-lhes que

passassem.

— Já podem andar então.

Os meninos obedeceram com uma reveladora celeridade.

Madeline os observou e suspirou.

— Estão tramando algo. Eu sei.

Gervase se colocou ao seu lado quando começou a caminhar mais devagar pelo

caminho.

— Claro. — Dirigiu-lhe um perspicaz olhar. — Provavelmente você os

compreenda melhor que eu.

Ele fez uma careta.

— Muito provavelmente. — Ao fim de um momento, acrescentou: — Não os

tem posto em evidência.

Atravessaram o claro e Gervase pensou que não ia responder-lhe, quando

disse:

— Se há algo que aprendi com os anos é que nunca devo forçar uma confissão

ou uma explicação. Contarão a verdade por vontade própria... Ou se não, o que

seja que me digam não valerá nada.

Uma grande verdade. Ele inclinou a cabeça.

Enquanto eles seguiam os meninos de volta a casa, teve a forte suspeita de

saber o que estavam tramando e não tinha nada a ver com pássaros.

Falara um pouco com Harry no castelo, duas noites anteriores. O garoto

recordara-lhe seu primo Christopher, que fora morto por tuberculose, de repente,

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deixando-o como herdeiro de seu tio. Gervase tinha alguns anos mais que ele, mas

Christopher também fora um garoto daquela costa, tão aventureiro como seu

primo. Sem dúvida, sob a superfície, havia nele uma discreta seriedade, como se

sempre soubesse que em algum momento a responsabilidade do título de conde

recairia sobre seus ombros.

Gervase vira a mesma combinação de traços em Harry, o espírito aventureiro

acompanhado de sua aceitação do destino. Não podia ver o menino guiando seus

irmãos para uma empresa verdadeiramente perigosa. Não obstante, às vezes o

perigo chegava disfarçado.

Quando chegaram a casa, segurou a porta para Madeline e a seguiu para

dentro.

Ela o guiou até o vestíbulo principal e se voltou para estender-lhe a mão.

— Se tiver alguma pergunta mais sobre o festival, estarei encantada de

responder-lhe da melhor forma que puder.

Gervase fechou os dedos ao redor de sua mão em lugar de apertá-la, como ela

esperava e sorriu.

— Eu o terei em conta. — Em voz mais baixa, acrescentou: — Suspeito que

seus irmãos estejam procurando as cavernas dos contrabandistas.

Madeline apertou os lábios.

— Eu também acredito nisso.

— Se quiser... Ainda tenho excelentes contatos com os bandos locais. Posso

mencionar-lhes seu interesse. É improvável que sofram algum mal se os locais

souberem que podem topar com eles.

Os bandos de contrabandistas locais eram um setor de atividade masculina no

qual Madeline nunca seria aceita; nunca saberia quem estava implicado e muito

menos a convidariam a unir-se a eles, como se convidava a todos os homens da

localidade, sobretudo aos das casas importantes.

Apertou os olhos enquanto estudava os de Gervase.

— Passou-se muito tempo desde quando navegou com alguns deles.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Em uma saída? Mais de uma década. — Hesitou e logo reconheceu: — Mas

tenho outros motivos mais recentes para ter mantido o contato. Conheço todos os

líderes deste trecho da costa e todos falarão comigo e me escutarão.

Observou como ela ligava os cabos e chegava a uma reveladora resposta. Ao

longo dos anos nos quais estivera fora ―lutando contra Bonaparte‖, Gervase

aparecia de vez em quando, quando seu pai e Christopher faleceram, e mais tarde

seu tio, e logo, de novo para instalar Sybil e suas irmãs no castelo e colocar seus

representantes e administradores a serviço das propriedades.

Madeline arregalou os olhos e seus lábios formaram uma muda exclamação.

Quando tornou a olhar para seu rosto, hesitou um momento, mas finalmente

assentiu:

— Se não os molestar... Gostaria que não houvesse nada que temer a respeito.

— Olhou-o nos olhos e fez uma careta. — Ainda que preferisse que não se

jogassem em proezas desse tipo, sei que seria como tentar deter as ondas.

— Já se vê. — Não lhe soltara a mão. Agora a levantou, cobriu-a delicadamente

com a outra palma e levando seus delgados dedos aos lábios, os beijou levemente.

Madeline abriu muito os olhos e conteve a respiração. Um leve rubor tingiu seu

rosto.

Gervase sorriu com mais intensidade e apertou-lhe levemente os dedos antes

de soltá-los.

— Informarei você se descobrir algo de concreto sobre os meninos.

Com uma inclinação de cabeça, voltou-se e saiu pela porta principal,

totalmente satisfeito e consciente que a tinha deixado paralisada no vestíbulo e que

o esteve fitando até desaparecer de suas vistas.

Já tarde, nessa mesma noite, Madeline sentou-se em frente do toucador para

escovar os cabelos. Seus cabelos desprendiam reflexos de cobre vermelho a luz das

velas, mas ela não os via porque tinha os olhos perdidos. Estava revisando

mentalmente os acontecimentos do dia, como acostumava acontecer nessas horas.

Por trás dela, sua donzela, Ada, sacudiu o vestido que usara e logo se dirigiu ao

armário para pendurá-lo.

Madeline fixou seu olhar na mulher através do espelho quando regressou.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Ada, por favor, diga ao resto do pessoal que se souber de qualquer coisa que

relacione os meninos com os bandos de contrabandistas, devem informar-me

através de você ou de Milsom.

Ada estava com ela desde antes do nascimento dos meninos e era da zona.

— Bem, estão nessa idade. O senhor Harry e o senhor Edmond ao menos, e

não restam dúvidas que o senhor Ben é capaz de enrolar os outros para que o

levem com eles.

Madeline fez uma careta.

— Essa é uma atividade na qual gostaria que Harry e Edmond não fossem tão

bons irmãos e não tivessem o detalhe de incluir Ben.

— Ah, já, mas não se pode ter tudo. — E com esse estóico comentário, Ada

recolheu a roupa interior de Madeline junto com suas botas. — levarei isto para

baixo. Deseja algo mais esta noite?

— Não, obrigada. Boa noite.

A mulher murmurou seu costumeiro ―Que durma bem‖ e saiu.

Madeline ficou sentada diante do espelho, enquanto passava a escova devagar

pelos abundantes cabelos, revivendo o resto do dia. Até que se voltasse para sair

do vestíbulo principal, acreditava ter manejado muito bem a Gervase e sua visita.

Era certo que houvera aqueles momentos nos despenhadeiros, mas não

acreditava que ele houvesse planejado mais do que ela o tinha feito. Simplesmente

acontecera porque eles eram quem eram. Nada tão especial ou surpreendente, na

realidade.

Se o pensasse bem, o sentimento de conexão compartilhado era inclusive

previsível.

Mas, então ele deduziu o que seus irmãos pretendiam e se ofereceu para

ajudar. De um modo correto, que ela poderia aceitar. Não soltara uma reprimenda,

nem havia feito sugestões pomposas sobre como cuidar deles.

Ao aceitar sua oferta de informá-la sabia que estava dando outro motivo para

visitá-la e vê-la em particular. Claro, mais perturbador que isso era o fato que

nunca antes permitira que ninguém se envolvesse em nada referente aos seus

irmãos e suas vidas. Mas nesta ocasião, tinha forçado a regra, se não é que a

tivesse quebrado porque Gervase lhe oferecera algo que ela necessitava.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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E a respeito de seus irmãos, havia poucas coisas que não estivesse disposta a

fazer para mantê-los a salvo. Ou ao menos mais a salvo.

E...

Voltou a concentrar-se em seus pensamentos e fez uma careta. A honestidade

a obrigava a reconhecer, ainda que fosse a contragosto, que por muito que

estranhasse, confiava em Gervase, ao menos no assunto dos meninos.

Franziu o rosto e escovou os cabelos com mais força, depois deixou a escova

de lado e fez um improvisado coque.

Influíra muito nela esse momento nos penhascos? O mais provável é que fora o

fato de ver como seus irmãos, normalmente bastante distantes a respeito de

cavalheiros reagiram diante de Gervase. Mostraram-se curiosos, intrigados... De

forma muito similar a dela.

Talvez se devesse a seu recente reconhecimento de que Harry necessitava, e

Edmond logo também, de um varão adulto que fosse se não um mentor

reconhecido, pelo menos um padrão a ser seguido. E Gervase Tregarth era um bom

exemplo.

Assim, aceitou sua ajuda e então ele sorriu, pegou sua mão e beijou-lhe os

dedos.

Madeline sentiu essa leve carícia no mais profundo de seu ser.

Outros cavalheiros lhe beijaram as mãos e ela não sentira absolutamente nada.

Era um gesto de cortesia, um com o qual talvez alguns pretendessem transmitir

mais, porém nunca antes se sentira afetada.

Sem dúvida, quando os lábios de Gervase tocaram sua pele...

Olhou-se no espelho com essas sensações vivas em sua mente... Até que a luz

da vela piscou e a fez voltar à realidade.

Apagou a vela e deitou-se dizendo a si mesma que seria muito melhor se

tirasse aquele homem e todos os seus atos da cabeça.

Dois dias mais tarde, assistiu ao chá da tarde que era celebrado todos os

meses no vicariato. Situado na Rua Minor, junto ao caminho que saia da igreja, a

casa cheia de recantos se elevava sobre um extenso terreno e, no verão, o chá era

servido no prado traseiro.

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Muriel disse que se sentia muito cansada para ir, mas sabia que sua tia tinha

pouco interesse nesse círculo social mais amplo.

Madeline caminhou vigilante entre os outros convidados, todos os rostos

conhecidos, mas no final, quando percebeu que Gervase não estava, se sentiu

aliviada e se lançou a habitual ronda de conversas com os outros proprietários e

damas do distrito.

O dia estava quente e agradável e ela tomou chá, conversou e se obrigou a

concentrar-se no último relato de lady Porthleven sobre seu neto.

— Albert é uma verdadeira jóia — entusiasmou-se a dama. — Um menino dos

mais inteligentes!

Madeline descobriu que sua mente divagava. Tentou obrigar-se a prestar

atenção, enquanto reconhecia para si mesma que aquilo, sua habitual vida social,

era na realidade bastante entediante.

Desculpando-se com uma palavra murmurada e um sorriso, se afastou do

círculo de lady Porthleven. Estudou a multidão e decidiu unir-se ao senhor Ridley,

mas quando deu um passo nessa direção, sentiu de repente que seus nervos

reagiram.

Ao olhar, descobriu Gervase exatamente onde havia pensado que estaria, ao

seu lado, junto ao seu ombro. Seu olhar pousou em seus lábios, que viu curvar-se

enquanto notava o olhar no rosto.

Após ficar sem respiração de novo, inspirou decidida e lhe susteve o olhar.

— Boa tarde, milorde. Não estava certa se o veríamos por aqui.

Ele susteve o olhar por um instante. Depois, tal como, olhou ao seu redor.

— Talvez não seja meu ambiente habitual, mas como fixei minha residência

aqui, pensei que seria melhor ampliar meus conhecimentos locais. — Olhou-a. —

Em troca de meu reconhecimento do terreno em seu nome e a respeito de seus

irmãos, esperava que pudesse ajudar-me neste campo. — Assinalou com a cabeça

a um casal que conversava com o senhor Caterham. — por exemplo, quem são

eles?

— Os Jeffreys — informou-lhe Madeline. — São quase recém chegados.

Compraram a velha granja Swanston, em Trenance.

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— Ah. — Quando a pegou pelo cotovelo e a fez andar, Madeline lançou-lhe um

agudo olhar, mas cedeu em mover-se. Gervase sorriu. — Se ficarmos quietos, a

senhora Henderson virá a toda pressa e me prenderá.

Ela ocultou um fugaz sorriso atrás da xícara de chá.

— Está claro que se recorda dela.

— Não nasceu maior fofoqueira. — Gervase refletiu e acrescentou: — Ao

menos, não neste lado de Basingstoke.

Madeline lançou-lhe um olhar divertido.

— Há piores em Londres?

— Oh, sim. As de Londres aspiram ser o paradigma da fofoca.

— Recorda-se da senhora Henderson; há algumas pessoas mais as quais não

quer encontrar?

— Ah, mas são como eu as recordo? Por exemplo... — Enquanto seguiam

andando, dirigiu sua atenção a um homem corpulento, de meia idade, que se

encontrava junto a uma dama anciã de expressão perspicaz, sentada em uma

poltrona, com um bastão plantado diante dela. — George continua sendo o títere de

antes?

— O controle de sua mãe sobre ele não faz mais que aumentar com os anos e

também as doenças das quais a dama gosta de se considerar vitima.

— Parece ter uma saúde de ferro.

— Já se vê. A opinião geral é que provavelmente enterrará o seu filho. —

Madeline fez uma pausa e agregou: — Ainda que pense quase com total segurança,

que se reunirá com ele logo, porque sem George não teria a ninguém a quem

aborrecer, acossar e perseguir e esse parece ser seu único propósito na vida.

— Diria ―pobre George‖, mas se a memória não me falha, sempre foi uma

pessoa que se limitou a deixar-se levar e ceder.

Madeline assentiu.

— Não tem força de vontade. E, claro, sua mãe nunca lhe permitiu casar-se.

— E o que há de escândalos locais? Os Caterham continuam juntos pelo que

vejo.

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— Sim, isso passou ao esquecimento, como era provável que acontecesse.

Agora parecem calmos. — Madeline olhou mais longe. — Os Juliard estão tão

unidos como sempre e todos os outros continuam iguais. Oh, exceto pela grande

sensação do casamento de Robert Hardesty.

— Ouvi falar desse.

Ao ouvir a dureza no seu tom, Madeline o olhou com intensidade, mas Gervase

manteve sua expressão ambígua.

— Como é essa nova lady Hardesty?

— A verdade é que não posso dizê-lo. Eu a conheci muito pouco. O que explica

quem o fez, é muito elogioso, mas prefiro conhecer a dama antes de julgá-la. Não

vemos por aqui a muitas pessoas do ambiente londrinense, na falta de uma melhor

designação, assim seu comportamento poderia não ser mais do que o é

considerado normal na capital.

Gervase olhou ao seu redor enquanto reconhecia a sensatez de suas palavras.

— Já tenho muito sobre nossos vizinhos. Agora me fale de assuntos locais em

geral. Estou ao corrente da mineração, o que há da pesca? Como foram as últimas

temporadas?

Enquanto a guiava pelo longo prado, Gervase perguntava, Madeline respondia

e ele a escutava.

Recolhera miudezas de outros, de seus representantes, dos rapazes de quadra,

mas a versão dela era mais exaustiva, mais centrada, mais o que ele necessitava.

Os pontos de vista de ambos costumavam ser muito parecidos. Ela era a

responsável pelo viscondado Gascoigne de fato e ele era o conde de Crowhurst e

esse entendimento que experimentaram nos penhascos também se manifestava em

seu modo de tratar com o mundo: direto, sensato e sério.

Madeline era ajuizada, racional, competente e observadora. Nesses traços se

parecia muito a ele. Confiava em sua visão das coisas mais que na de qualquer

outro, o suficiente para agir segundo sua informação. O certo era que ela estava

infinitamente melhor conectada que ele a esse mundo ao qual Gervase havia

regressado. Não eram somente os anos que passara longe o que o separava das

pessoas do lugar, mas também seu caráter mais reservado e calado.

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Enquanto andavam, aproximaram-se uns e outros, com os quais trocaram

saudações e pequenas informações, estas últimas sempre dirigidas a Madeline, a

pessoa conhecida por todos e na qual não só confiavam, mas na companhia de

quem pareciam sentir-se cômodos.

Seus anos como espião ensinaram Gervase a valorizar esse dom de fazer com

que as pessoas se sentissem à vontade.

Sem dúvida, não era algo que possuía, não era o tipo de homem no qual as

pessoas confiariam em seguida.

Reconhecia o valor de Madeline nisso, talvez mais claramente que ela.

Enfim, chegaram ao muro baixo de pedras do extremo do prado do vicariato.

Pararam e olharam para o lado este, além dos penhascos, ao céu e ao mar.

Após um momento, Madeline disse em voz baixa, olhando-o:

— Conseguiu descobrir algo dos meus irmãos?

Gervase sentiu seu olhar, mas não o devolveu. Passara o último dia e meio

informando aos contrabandistas locais que voltara ao castelo e animando-os a que

o pusessem ao corrente dos mais recentes acontecimentos.

— Os três bandos conhecem os meninos. Eles sabem quem são eles. Como já

sabe, sair com os contrabandistas é praticamente um rito de iniciação nesta zona.

Os meninos estarão a salvo ou, ao menos, o mais salvo possível. Após uns minutos,

cravou nele seus olhos.

— Se meus irmãos já conhecem os bandos de contrabandistas locais, o que

estão procurando nas cavernas?

Gervase apertou os lábios. Hesitou e finalmente disse:

— Creio que procuram provas de saqueadores de barcos.

Madeline abriu muito os olhos.

Ele continuou:

— Perguntei e me disseram que não houve nenhuma atividade desse tipo há

meses. Isso quer dizer que os meninos não encontraram nada, nenhum esconderijo

nem provavelmente nada mais.

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Os contrabandistas descumpriam as leis da aduana, mas a maioria dos

habitantes do lugar não os denunciava.

Os saqueadores em troca eram assassinos a sangue frio. Junto com o resto da

comunidade, os contrabandistas os consideravam como um mal intolerável.

— Ninguém sabe quem são os saqueadores. O segredo é seu santo e sinal,

como bem sabe. É improvável que seus irmãos tiveram algum contato com eles,

assim como é improvável que irão tê-lo algum dia. Pode ser que encontrem um

bote oculto nas cavernas próximas a Lizard ou a Manacle Point, mas fora isso...

Madeline estudou seus olhos; nesse dia os dela estavam de um verde claro, cor

do mar, pensou Gervase, sérios e transparentes. Viu-a inspirar antes de perguntar-

lhe:

— Acredita que correm perigo?

Ele sentiu o peso da pergunta, a importância que tinha para ela. Levou um

momento para consultar seu sistema de alarme e detectar possíveis problemas.

Nunca se equivocava e essa era a razão de que seguisse com vida.

— Não creio.

Madeline o olhou com intensidade nos olhos, até que soltou o ar. Contemplou

de novo a vista e fez uma careta.

— Poderia proibir-los de investigar e procurar as cavernas, mas seria uma

perda de tempo e energia.

Gervase não se aborreceu em assentir, ainda que sentisse o impulso de tentar,

se não livrá-la ao menos reduzir um pouco a carga que levava sobre os ombros

com seus irmãos. Contemplou o mar à distância.

— Pensei que poderia convidá-los a sair para navegar ou pescar. — Olhou-a. —

Se eles quiserem fazê-lo, você aprovaria?

Madeline piscou. Com os olhos muito abertos, estudou sua expressão e franziu

o cenho.

— Claro. Porque não haveria de fazê-lo?

— Pelo meu passado. — Fez uma pausa antes de acrescentar: — Por meus

anos como espião. Os meninos se mostrarão interessados... Eles farão perguntas.

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Não disse mais, porque, como ela era muito perspicaz, estava totalmente certo

que entendia o que queria dizer.

Nem todos consideravam a vida de espião um assunto adequado para uma

conversa educada. Tocou no assunto porque não sabia como Madeline se sentia a

respeito.

Quando o olhou fixamente, ainda com o rosto franzido, Gervase pensou, com

um mau pressentimento, se havia descoberto a incompatibilidade que procurava.

Se ela considerasse que seu passado não fosse honrado, seria improvável

considerar qualquer proposta que lhe fizesse e era inclusive menos provável que ele

lhe fizesse alguma.

Madeline continuou franzindo o cenho.

Não podia crer que Gervase pensasse que ela poria objeções ao seu passado,

que não consideraria seu serviço ao país, o modo como o levara a cabo, louvável;

que era o tipo de mulher idiota que não o consideraria assim.

Deixou que sua expressão e seu tom refletissem uma irritada exasperação.

— Sentiria-me aliviada ao saber que os meninos estão com você e claro que

farão perguntas; e você pode, com minha benção e inclusive com meu apoio, dizer-

lhes tudo o que considerar oportuno, tudo o que se sentir cômodo contando-lhes.

Advirto-o que perguntarão tudo uma vez que comecem.

Suas palavras deixaram claro o fato que não só confiava nele, mas lhe confiava

seus irmãos. Não havia nem um só cavalheiro no qual confiasse tanto. A descoberta

foi um pouco surpreendente para ela, e irritante para ele, também. De todos os

homens, tinha que ser ele, e precisamente nesse momento, quando por alguma

incompreensível razão, havia decidido ser uma espinha que Madeline levava

cravada.

Ainda que nesse dia estivesse se comportando.

Ele assentiu.

— Então eu o proporei. — Olhou para o prado e lhe ofereceu o braço. — Vamos

regressar.

Ela apoiou-se nele.

Enquanto a guiava pela suave descida, Madeline pensou nesse momento junto

ao muro de pedra, enquanto Gervase esperava sua reação.

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Nesse instante, percebeu uma vulnerabilidade nele, um homem do qual não

havia imaginado que teria nenhum ponto fraco. Sem dúvida importava-lhe o que

ela pensava a respeito dele e seu trabalho.

O certo é que o admirava, tanto como homem como pelo que havia feito com

sua vida. Por sua parte, podia distrair aos seus irmãos com relatos de seu passado

e sua única resposta seria a gratidão.

Uniram-se aos outros convidados.

Alguns já tinham saído, mas outros acabavam de chegar.

Gervase se manteve ao seu lado. Contrariada e de má vontade, Madeline teve

que admitir que se sentia à vontade com ele ali. Seus ocasionais comentários

particulares, coloridos por sua visão parecida com a de seus vizinhos, animaram-lhe

à tarde. As conversas previsíveis já não lhe pareciam tão aborrecidas.

— Perdoe-me, você é a senhorita Gascoigne?

Virou-se e viu um cavalheiro ao seu lado, um que não vira antes.

Vestia-se bem, demasiado bem para ser do lugar, com uma jaqueta de

excelente qualidade, e um elegante jaleco de listras. Com seu ar de refinamento

urbano, quase certo que vinha da cidade. Não obstante, se estava no vicariato...

Madeline ergueu as sobrancelhas, convidando-o a continuar.

O homem sorriu.

— Sou o senhor Courtland, senhorita Gascoigne. — Inclinou-se. — Não nos

apresentaram, mas nestas circunstâncias espero que desculpe minha impertinência

ao abordá-la.

Era um homem agradável. Madeline lhe sorriu em resposta sem saber ainda

porque estava ali.

— Vim com um grupo de convidados de lady Hardesty. — Com um gesto de

cabeça, assinalou a uns cavalheiros vestidos de modo parecido e umas damas

elegantemente vestidas do outro lado do prado. — Estávamos aborrecidos, assim

pensamos em vir para conhecer a outros habitantes da localidade.

Havia um elemento subjacente em seu comentário que a Madeline não

agradou; sendo uma mulher do lugar, ele dera por certo que ela poderia entretê-lo.

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Sem deixar de sorrir, lhe ofereceu a mão. — Com efeito, sou a senhorita

Gascoigne. — Omitiu o habitual ―de Treleaver Park‖. — E este é lorde Crowhurst, —

afastou-se um pouco e, com a outra mão, assinalou a ameaçadora presença de

Gervase ao seu lado. Sabia que a atenção dele estava aguçada desde que

Courtland começara a falar — do castelo de Crowhurst.

Ainda sorrindo afavelmente, mas com um brilho avaliador, inclusive desafiante

nos olhos, Courtland lhe estendeu a mão.

— Milorde.

Gervase a apertou e assentiu.

— Courtland.

Madeline olhou-o com o rabo do olho. Seus lábios estavam relaxados e sua

expressão não era ameaçadora, mas o olhar em seus olhos âmbar não parecia

alentador.

Olhou então a Courtland; sua expressão sugeria que estava começando a ter

reservas sobre a prudência de ter se aproximado dela. Quando retirou a mão da de

Gervase, contemplou alternativamente a uma e outro.

Finalmente ergueu as sobrancelhas e se dirigiu a ele:

— Fica muito tempo em Cornualha, milorde?

A resposta de Gervase foi fria.

— Nos últimos anos não, mas isso vai mudar.

— Sério? — O outro homem olhou ao seu redor. — Diria que não há grande

coisa interessante por aqui.

— Você se surpreenderia. — Gervase olhou a Madeline. — Nós que crescemos

aqui sentimos um apreço profundo pelo que a região contém.

Madeline captou seu olhar. Estava insinuando que ela era uma dessas coisas, e

mais, uma que o atraiu o suficiente para induzi-lo a ficar em Cornualha? Seus olhos

começaram a apertar-se.

Gervase se voltou para Courtalnd.

— Terá que desculpar-nos. A senhorita Gascoigne já se dispunha a sair. —

Ofereceu-lhe o braço. — Vamos. Cavalgarei com você até o caminho.

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Madeline esforçou-se por não fulminá-lo com o olhar. Ainda que se encontrasse

diante de um dilema, porque se por uma parte não desejava animar Gervase, nem

permitir-lhe acreditar que aprovava em absoluto um comportamento tão

arrogantemente protetor, por outra parte, seu instinto já havia decidido que não

desejava perder tempo com Courtland.

Finalmente transigiu, ainda que olhasse para Gervase com dureza enquanto lhe

apoiava a mão no braço, antes de voltar-se para o outro homem com um sorriso

displicente.

— Espero que aproveite sua estadia no distrito, senhor.

Courtland se inclinou.

— Foi um prazer conhecê-la senhorita Gascoigne. — Ergueu-se e sorriu,

olhando-a nos olhos. — Sem dúvida voltaremos a nos encontrar.

Ela não respondeu e se limitou a esperar enquanto os dois cavalheiros

trocavam uma breve despedida e, a seguir, permitiu que Gervase a guiasse para

casa. Detiveram-se pelo caminho para agradecer a anfitriã, a irmã do vigário, a

senhorita Maple, e continuaram.

Madeline olhou o grupo de Londres quando passou por seu lado. Riam e

brincavam em voz demasiado alta e não se entrosava de todo no ambiente do

encontro.

— Tenho curiosidade por lady Hardesty, — murmurou, — mas não o suficiente

para aborrecer-me em relacionar-me com todos eles.

— Sabe qual é? — Perguntou Gervase.

Ela negou com a cabeça.

— Ela tem os cabelos escuros, isso é a única coisa que sei. — Havia três damas

de cabelos escuros no grupo.

Uma vez que estiveram bastante perto dos convidados, Madeline se voltou para

Gervase com a intenção de deixar claro que desaprovara sua atitude tão protetora,

mas o descobriu olhando algo com os olhos apertados. Seguiu seu olhar até três

cavalheiros de aspecto dissoluto, que pertenciam ao grupo de lady Hardesty.

O trio estava de pé a um lado, olhando abertamente a qualquer que usasse

saias. Nesse momento se voltaram para ela e seus olhares se encontraram com os

de Gervase. Por um instante, se produziu por cima de sua cabeça um intercâmbio

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essencialmente masculino. E, de imediato, os cavalheiros se moveram nervosos e

afastaram os olhos. Madeline calibrou suas alternativas.

Sabia o quanto teimoso seu pai ficava na hora de protegê-la. Inclusive Harry,

de vez em quando, mostrava sintomas dessa particular doença masculina. Ainda

que, claro, tanto seu pai como Harry tinham algum direito a ele, coisa com a qual

Gervase não contava.

Por outro lado, tinha consciência do inútil que seria discutir com um homem

preso de delírio protetor. O fato de Gervase não ter nenhum direito de comportar-

se assim, não parecia que fosse fazer com que se mostrasse mais receptivo ao seu

protesto. Muito possivelmente menos, porque saberia que estava equivocado e,

portanto, discutiria ainda mais.

Do ponto de vista de Madeline, serviria pouco tocar no assunto se a única coisa

que iria conseguir seria que Gervase protestasse e se mantivesse em sua teimosia.

Certamente lhe ficaria melhor fingir que seu irritante comportamento lhe

parecia tão ridículo que não merecia sequer sua atenção.

Gostou da idéia e estava sorrindo para si mesma quando chegaram ao estreito

caminho que atravessava o maciço de arbustos até o estábulo. A trilha era estreita,

pelo que ele ficou atrás para ceder-lhe o passo.

Madeline avançou com a cabeça alta, com gesto desafiante, mas quando a mão

de Gervase lhe roçou brevemente a parte posterior das costas, engoliu um arquejo,

ao mesmo tempo em que as sensações a inundaram, incendiando sua pele e

estirando seus nervos.

Tropeçou... Umas fortes mãos a agarraram pela cintura e a seguraram,

atraindo-a contra um grande corpo masculino duro e quente. Ficou sem respiração

e quase lhe dobraram os joelhos. Sentiu-se corada e nervosa. Às suas costas podia

sentir a musculosa solidez dele, colado a toda longitude do seu corpo.

O ar ficou bloqueado em sua garganta.

Com os olhos muito abertos, observou-o por cima do ombro e se encontrou

com aquele olhar de cor âmbar próximo, muito próximo; aquele olhar que via

demasiado.

Os olhos de Gervase estudaram os seus antes de percorrer-lhe o rosto

devagar... Demorando-se em seus lábios.

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O tempo parou. Prolongou-se.

Madeline notou que seus lábios palpitavam. Quando lhes chegaram os sons de

outros convidados aproximando-se, Gervase olhou para trás e suas mãos a

apertaram brevemente, o suficiente para que percebesse sua férrea força urgindo-a

a continuar.

Madeline moveu os pés, primeiro um e depois o outro e Gervase afastou as

mãos. Quando chegou ao final do estreito caminho e saiu a campo aberto,

conseguira dominar seus traidores sentidos o suficiente para recuperar o arquejar.

Não havia nada que pudesse dizer e nenhum comentário que desejava fazer. A

reação inicial dele não foi mais que uma cortesia, o gesto de um acompanhante que

a segurava para que não caísse.

Fora sua própria reação que precipitou o resto. A simples idéia de ser tão

suscetível ao contato de um homem fez sua mente se acelerar.

Quando olhou por cima do ombro, viu que Gervase examinava a zona ao redor

dos cavalos e das carruagens com a mesma expressão de quando havia olhado o

desagradável trio. Ameaçador, protetor... Possessivo.

Madeline piscou, olhou-o um último instante e tornou a voltar-se.

Protestar dizendo-lhe que não tinha nenhum direito a comportar-se assim,

suspeitava que já não fosse sequer uma possibilidade. Estava total e absolutamente

metida em uma bagunça muito mais grave do que pensava.

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Capítulo 4

Duas noites mais tarde, Madeline seguia Muriel ao salão de lady Porthleven.

Graças a um exercício de vontade, manteve o olhar fixo no rosto de sua anfitriã

enquanto Muriel saudava a mulher.

Teve dois dias para recuperar a calma. Quando deixaram o vicariato, Gervase

cavalgou com ela até que chegaram ao caminho principal. Ali, Madeline girou com

destreza, lhe fez um floreado com o chicote em sinal de despedida e saiu em um

bom ritmo sem olhar para trás.

Nas horas prévias à festa, consciente de que nessa noite o encontraria cara a

cara, esforçou-se para relembrar como era sua relação antes, como se

relacionavam, como se dirigiam um ao outro. Pelo que ela podia recordar, sempre o

tratara como aos outros cavalheiros locais.

Essa noite havia percorrido sua lista para a batalha, decidida a fazer que sua

relação voltasse a ser como antes, muito longe do nível cada vez mais pessoal e

íntimo que estavam alcançando.

— Madeline. — Lady Porthleven apertou-lhe a mão com carinho. Os olhos

bojudos da mulher se abriram exageradamente quando se fixou no vestido que

usava. — É uma cor maravilhosa, querida. — Levou o monóculo ao olho e examinou

a rica seda cor de bronze. — Ficou muito bem com seus cabelos e com a cor da

pele. Deveria usá-lo mais vezes.

Madeline sorriu.

— Obrigada, senhora. — Inclinou a cabeça e se adiantou para deixar o passo

aos Entwhistle.

A senhora Entwhistle esticou a mão e deu-lhe umas palmadinhas no braço.

— Precioso vestido, Madeline querida.

Ela recebeu o cumprimento com um sorriso confiante e a cabeça alta e entrou

na sala. Agradecia os cumprimentos. Raras vezes prestava muita atenção aos seus

vestidos, para que? Mas parecia que não havia esquecido como brilhar quando o

desejava.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Ainda sorrindo e segura de si mesma, aproximou-se do grupo dos cavalheiros

de mais idade ao qual estava acostumada a unir-se antes do jantar. Como sempre,

encontravam-se diante das portas de vidro, nessa noite, abertas ao terraço e a

temperada e agradável noite.

Em nenhum momento olhou ao seu redor. Não iria comprovar se Gervase

estava presente, porque para ela só era um cavalheiro mais.

De pé junto à porta e conversando com a senhora Juliard, Gervase viu Madeline

passar. Piscou, tornou a olhar e teve que se esforçar para não ficar olhando-a

fixamente nem voltar-se para seguir seu avanço quando atravessou a sala.

De costas para a porta, a senhora Juliard não vira aquela aparição de uma

deusa guerreira.

— Sem dúvida necessitaremos de uma tenda para a exposição de bordados.

— Tomarei nota disso quando chegar a casa. — Gervase se agarrou a sua

expressão educadamente interessada, ainda que o impulso de seguir Madeline

fosse quase palpável. — Se me desculpar devo falar com Ridley sobre as

competições que está organizando.

— Claro. — A senhora Juliard deu-lhe umas palmadinhas no braço. — É tão

maravilhoso que o festival volte a ser celebrado no castelo este ano. Será muito

emocionante, garanto.

Gervase sorriu, inclinou-se e se afastou.

Não gostou do brilho dos olhos da senhora Juliard. Enquanto avançou devagar

pela sala para o senhor Ridley, junto ao qual se encontrava Madeline, pensou que

deveria perguntar a Sybil se havia uma filha ou sobrinha da qual deveria ter

conhecimento, para poder evitá-la.

Tomou seu tempo enquanto refletia sobre o claramente evidente: Madeline

tinha passado ao ataque. Ele esperava algo, alguma reação, mas não tinha idéia de

qual tática usaria. Inclusive agora, com a evidência diante dele, deixando

estupefatos seus sentidos, era demasiado prudente para fiar-se nas aparências.

Era evidente que ela tinha tomado alguma decisão, ainda que não soubesse

qual era.

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Fosse o que fosse ele tinha seus próprios planos para o sarau. Após aqueles

reveladores momentos junto ao maciço de arbustos no vicariato, descobrir o que os

fazia incompatíveis já não era seu pensamento dominante.

— Madeline. — Ele deteve-se ao seu lado quando os demais homens se

moveram para dar-lhe lugar.

Ela estava falando animadamente com Ridley e, quando se voltou para ele,

Gervase pegou sua mão sem esperar que ela a oferecesse. Susteve-lhe os delgados

dedos enquanto saudava ao resto do círculo com um gesto de cabeça.

Ambos perceberam a tensão que a agarrou enquanto esperava, perguntando-

se se atreveria...

Finalmente, Gervase voltou a olhá-la nos olhos e sorriu. Por um instante

considerou fazer o que ela temia e levar sua mão aos lábios, mas em lugar disso

apertou-lhe levemente os dedos e a soltou.

Madeline inspirou, com os olhos fixos nos seus, sorriu um pouco tensa e

inclinou a cabeça, saudando.

— Gervase. Gerald estava explicando que seus meninos sugeriram organizar

um jogo de ferradura.

— Sério? — Olhou a Ridley.

— Precisaremos de uma zona marcada e um ferro, claro, mas deve ser fácil

montar.

— Há um espaço junto ao arco do estábulo que pode ser bom — respondeu

Gervase. — Pedirei aos rapazes de quadra que o marquem.

Voltou-se então para Madeline, que olhava do outro lado do círculo de

cavalheiros.

— O senhor Juliard desejava perguntar pela busca ao tesouro.

Juliard pigarreou.

— Ouvi falar sobre uma busca ao tesouro para os meninos menores. Eu poderia

ajudar com isso.

— Creio que Sybil e minhas irmãs se encarregam de organizá-lo. — Respondeu

Gervase. — Estou certo que estarão encantadas de contar com sua ajuda.

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E assim continuaram. Cada vez que olhava a Madeline, ela dirigia a conversa, e

sua atenção, em outra direção. Trataram uma grande quantidade de assuntos,

desde aspectos do festival até as colheitas e as minas, inclusive falaram do tempo.

No princípio ele se divertiu, mas à medida que passavam os minutos, sentiu

que começava a surgir a frustração.

Madeline o percebeu — como, nem ela mesma o sabia, — mas esteve certa que

Gervase estava captando sua mensagem.

Animada, se cingiu a seu plano.

— Cavalheiros. Cavalheiros! — Aproximou-se lady Porthleven. — O jantar está

servido.

Crowhurst acompanhe Madeline ao salão. E Gerald, vem comigo. Senhor

Juliard, poderia acompanhar a senhora Canterbury? E...

Madeline não escutou os outros emparelhamentos para a mesa, porque o

primeiro lhe bloqueara a mente.

O que havia acontecido à lady Porthleven...?

Lançou um severo olhar a Gervase, que respondeu sorrindo com intensidade.

— Não foi coisa minha, mas parece que o destino está ao meu favor.

Falara em voz baixa, só para ela, o grave ronronar de sua voz deslizou-se por

sua pele, ainda que Madeline se esforçasse para reprimir o estremecimento.

— Vamos? — Com os olhos fixos nos seus, ele lhe ofereceu o braço.

Ela recordou-se de seu objetivo, seu determinado propósito e lhe sorriu com a

mesma intensidade.

— Obrigada, milorde. — Colocou a mão sobre seu braço, permitindo que a

guiasse atrás da comitiva que entrava no salão.

— Queria perguntar-lhe — começou Gervase — se tem algum interesse em

particular no festival: bordado, ponto... Acessórios para os cavalos, talvez?

O último a surpreendeu e a fez rir.

— Não. Normalmente estou tão envolvida na organização que apenas tenho

tempo de pensar nas atividades.

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— Que lástima. Ao menos, este ano terá tempo para passear e aproveitar.

Madeline ergueu as sobrancelhas.

— Suponho que sim.

Esse pensamento a distraiu, enquanto ele a guiava até seu lugar à mesa e

ocupava a cadeira junto a ela.

O assunto da conversa era geral quando o jantar se iniciou, mas pouco a pouco

foi ficando mais específico quando os comensais começaram a falar com seus

acompanhantes mais próximos, esforçando-se por entreterem-se uns aos outros.

Madeline deveria sentir-se aliviada quando viu que Gervase dividia seu tempo

equitativamente entre ela e lady Moreston, sentada ao seu outro lado. Em troca,

contemplou sua afabilidade com receio. As listras do tigre estavam ali, ocultas

talvez sob a elegante jaqueta negra, dissimuladas pelo lenço atado com precisão e

a camisa marfim, mas não as havia perdido.

Sem dúvida, cada vez que se voltava para ela, parecia totalmente conforme em

acatar a linha que Madeline havia traçado e em tratar com ela segundo sua relação

social prévia.

Talvez tivesse percebido que a imprudência de sua iniciativa, do inútil que

aquela luta para fazê-la mudar de opinião sobre ter alguma preliminar com ele?

Esse pensamento lhe deu o que pensar. A seguinte vez que Madeline se voltou

após falar com o senhor Hennessy, Gervase também estava voltando em sua

direção.

— Queria agradecê-lo — disse-lhe em voz baixa — por levar ontem os meninos

para navegar.

Os lábios de Gervase se curvaram e Madeline viu que o sorriso se refletia em

seus olhos.

— Posso dizer sinceramente que foi um prazer para mim. Fazia anos que não

saia a navegar e o certo é que já não posso contar com meus rapazes de quadra

com tanta facilidade para que se unam a mim. Assim ter seus irmãos como

tripulantes foi à solução perfeita.

Ela sorriu.

— A eles também pareceu um dia mais que perfeito. Claro, agora não fazem

mais que perturbar-me para que lhes compre um barco.

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— Não será necessário. Quando Harry e Edmond forem um pouco maiores,

poderão pegar uma embarcação do castelo. Uma das menores, para que não se

sintam muito tentados a ir longe demais. — Olhou-a e encolheu os ombros. — De

outro modo, as barcas ficarão no embarcadouro. Ninguém as utilizará, porque as

meninas não sairão nunca para navegar.

Madeline ergueu as sobrancelhas, hesitou e inclinou a cabeça, assentindo.

— Essa perspectiva os reterá pelo momento.

Gervase se recostou em sua cadeira, pegou o copo de vinho e bebeu.

Ela se voltou para ele e se descobriu presa pelos seus olhos. Por um longo

segundo, contemplou fixamente aqueles ferozes olhos de tigre, inspirou e afastou

os seus — não sem esforço, — fixando-os ao outro lado da mesa.

— Eu...

— Temos que falar.

Sob a mesa, Gervase pegou a mão que Madeline tinha no colo e, quando ela

deu um respiro e seus longos dedos se curvaram, ele os apertou para que não

pudesse soltar-se.

Madeline sentiu que os pulmões se comprimiam.

Olhou-o nos olhos.

— Já estamos falando. — Agarrou-se a sua máscara, a sua personagem social.

Gervase sorriu e a luz que apareceu em seus olhos foi algo com a qual ela

nunca havia esperado encontrar-se. Não em uma mesa lotada de pessoas. Fora da

vista dos outros, os dedos dele acariciaram os seus, uma carícia relaxante que sem

dúvida não a relaxou em absoluto.

— Não sobre o que necessito falar com você.

Madeline ergueu as sobrancelhas.

— Oh? E de que se trata?

Seu sorriso se alargou.

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— Tenho sérias dúvidas de que deseja que lhe responda, não aqui nem agora.

Não em público. — Deixou passar um momento e logo acrescentou: — Claro, se

insiste... Nada mais longe de minha intenção que contrariar a uma dama.

Descartou qualquer tentativa de fingir incredulidade, porque a ameaça presente

em suas palavras era prova suficiente de sua maligna intenção. A salvação lhe

chegou de uma fonte inesperada. Lady Porthleven se levantou.

— Vamos senhoras. Deixemos os cavalheiros com suas reflexões.

As cadeiras soaram ao arrastarem-se e Madeline aproveitou a oportunidade

para inclinar-se para ele e murmurar:

— Não temos nada para conversar, milorde, nada que não possa ser dito em

público. — Retorceu os dedos e Gervase os soltou. Olhando-o nos olhos, Madeline

acrescentou: — Não há nada de caráter privado entre nós.

Deu-lhe as costas e se levantou. Ele também o fez e lhe retirou a cadeira. Ela

se voltou para a porta e avançou até encontrar-se com a dura palma que ele havia

levantado para segurá-la. Na realidade o havia feito para reanimá-la e conseguiu.

Seu contato ardente através das capas de seda lhe incendiou a pele. Madeline

ficou paralisada e o ar lhe bloqueou a garganta.

Gervase se inclinou mais e lhe murmurou ao ouvido:

— Creio que descobrirá que está enganada.

Ela respirou bruscamente e decidiu que não tentaria ter a última palavra.

Levantou a cabeça, esboçou um sorriso e se uniu as demais damas que

abandonaram a sala.

---

Os cavalheiros demoraram em reunir-se com elas no salão, circunstância que

Madeline agradeceu com fervor. Passou um tempo afirmando que estava protegida

de qualquer maquinação ou manobra que seu Nêmesis pudesse usar.

Quando Gervase regressou ao salão, encontrou-a entrincheirada entre a

senhora Juliard e a senhora Entwhistle em um dos sofás. Não necessitou mais que

um instante para apreciar sua estratégia. Estava ficando sem tempo. Não só os

cavalheiros haviam se demorado com o porto, recordando e repassando anedotas,

mas uma tormenta se aproximava. Notara a mudança no ar muito antes de ver as

nuvens, cada vez mais densas, mais além das janelas.

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Até o momento tinha se limitado a permitir que Madeline jogasse suas cartas,

mas só havia um lugar em Porthleven Abbey onde, durante uma reunião como

aquela, pudesse falar com ela a sós.

Necessitava tê-la para ele só antes que estalasse a tormenta.

Esperou junto à porta e aguardou a que os demais cavalheiros se tivessem

unido aos diversos grupos que havia no salão, atravessou a sala até parar diante de

Madeline.

Com um afável sorriso para a senhora Juliard e a senhora Entwhistle, inclinou-

se e pegou a mão dela ante que, surpresa, Madeline tivesse a oportunidade de

afastá-la.

— Se nos desculparem senhoras, há um assunto importante sobre o qual devo

falar com a senhorita.

Incorporou-se e soltou sua mão. Seu sorriso mudou quando seus olhos se

encontraram com os dela.

— É sobre o assunto que mencionei antes.

Madeline seguia praticamente de boca aberta, mas então, seus olhos muito

abertos estudaram os dele e viram neles sua determinação. Não estava marcando

nenhum farol.

— Ah... — Permitiu-lhe que se levantasse.

— Eu... Talvez...

Gervase entrelaçou seu braço com o dele, saudou educadamente com a cabeça

as outras duas damas e a guiou pela sala.

Madeline foi com ele, mas...

— Isto é ridículo!

Gervase deteve-se diante das portas de vidro. Ela se voltou para ele quando

lhe soltou o braço. — Não vamos manter nenhuma conversação... E desde logo não

aí!

Gervase a pegou pela mão e a olhou nos olhos ao mesmo tempo em que

alongava a outra mão para a maçaneta.

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— Em parte tem razão. — Abriu a porta e a fez sair rapidamente, ignorando o

sufocado chiado de surpresa que lhe escapou.

Deixou a porta aberta, apoiou uma mão em suas costas e, com apenas uma

leve pressão, a fez avançar pelo terraço.

Estavam quase no final do mesmo, fora da vista de qualquer dos presentes no

salão, quando Gervase se deteve e baixou a mão.

Madeline deu meia volta para olhá-lo, tinha todo o aspecto da deusa guerreira,

com seus olhos escurecidos lançando chispas.

— O que estamos fazendo aqui, exatamente?

Usou um tom que tinha certeza apaziguaria a qualquer homem que houvesse

conhecido. Cravou um fulminante olhar ao seu atormentador, só para descobrir que

nem seu tom nem sua atitude pareciam ter nenhum efeito sobre ele.

Pior ainda, ele estava olhando seus cabelos.

Sua eterna cruz. Sem dúvida, havia começado a escapar do coque na parte

posterior da cabeça.

Mas então, os olhos de Gervase se moveram; a lua iluminava o suficiente

através das nuvens para que pudesse distinguir como seu olhar lhe percorria o

rosto devagar, descendo e demorando-se em seus lábios e logo, ao final,

regressava para encontrar seus olhos.

— Estamos aqui — sua voz se tornara mais baixa, mais profunda — para

enfrentar o que se deve enfrentar.

Seu olhar âmbar se manteve firme.

Seu tom não era contundente, tampouco transmitia nenhum indício de

suavidade, de insegurança.

Isso lhe fez recordar, de novo, que era um desses raros homens aos quais ela

não podia dominar, o que a deixava com menos armas para recorrer. A fúria e a

obstinação pareciam sua maior esperança. Ergueu a cabeça e recorreu a seu mais

pétreo olhar.

— Não tenho nem idéia sobre o que te infectou o cérebro para falar comigo em

particular, mas permita-me que deixe uma coisa muito clara. Eu não vejo...

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— Precisamente. — Não havia nada, nem o mínimo indício de suavidade em

seu rosto tampouco. — A isso me refiro.

Madeline piscou. Gervase continuou:

— Não estou vendo nada e você tampouco. — Aproximou-se um passo mais. —

E você segue sem fazê-lo.

Encheu seu campo de visão.

Aquela era uma faceta dele que Madeline não havia visto antes, só a havia

percebido. Havia conseguido reprimir sua curiosidade, ou isso o pensava, mas

agora esta se despertava, tirava, pressionava para olhar.

Apertou os olhos.

— O que se supõe que tenho que ver? — Levantou as mãos com as palmas

para cima. — O que há para ver?

Seu olhar âmbar não titubeou.

— Ver, não. — Devagar, seus olhos desceram até seus lábios. — Descobrir.

Seu tom voltara a se abaixar até uma nota inclusive mais profunda e surda.

Madeline sentiu que os lábios lhe palpitavam, pode notar seu próprio alento neles e

supôs que teria que perguntar.

— O que? Para descobrir o que?

Desejara, esperava que suas palavras soassem desdenhosas, brincalhonas. Em

troca, surgiram manchadas pela confusão e aquela maldita curiosidade.

Os céus foram os que lhe responderam. Um profundo estrondo retumbou

através da noite, seguido por um agudo chiado quando um relâmpago dividiu o

céu. A primeira faísca foi seguida por outras, que brilharam atrás das nuvens, em

uma demonstração de energia elementar.

A luz iluminou o rosto de Gervase, cada ângulo, cada duro plano. Ofereceu-lhe

uma advertência quando o viu aproximar-se ainda mais. Ele levantou então suas

grandes mãos e tomou seu rosto entre elas para aproximá-lo do seu.

— Isto. — A palavra lhe atravessou a mente, escura e tentadora.

Madeline era tão alta que não teve que inclinar-se demasiado para que seus

lábios flutuassem sobre os dela.

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Ela inspirou, contendo o ar, enquanto todos os seus músculos se enrijeciam e

tremiam.

Gervase abriu as pálpebras e a prendeu com o olhar.

— Não resista. — Era uma advertência. — Não tente escapar. — Fechou os

olhos quando eliminou o último centímetro de distancia. — Não tente fingir que não

deseja sabê-lo.

A última palavra foi uma sedução, um sussurro que acariciou seus lábios, uma

promessa que ele cumpriu no instante.

Os lábios de Gervase cobriram os seus, não com uma leve carícia, mas com um

beijo em toda regra, um que Madeline esperou por toda sua vida. Ou isso parecia,

porque uma parte de si mesma se agarrou a ele, se deleitou no mesmo.

O resto de seu ser, estupefato, foi arrancado daquele mundo e lançado a outro.

Antes de perceber estava devolvendo o beijo. Aproximou-se dele no mesmo

instante em que as mãos de Gervase se afastaram de seu rosto e a buscava. De

repente se viu em seus braços, colada ao seu corpo. Seus lábios eram duros,

exigentes; Madeline abriu os seus, não para apaziguar; mas para saber, para

descobrir, para ver o que não havia imaginado que pudesse ser.

As sensações surgiam dele e de seu próprio interior. Não era só fogo, mas uma

verdadeira chama, uma calidez tão elementar, tão potencialmente poderosa, tão

tangível como os pesados músculos do torso de Gervase sob suas mãos.

Deixou-se cair sobre ele, não porque se sentisse fraca e indefesa, mas porque

queria fazê-lo. E o calor dos dois surgiu e fluiu ao seu redor.

Gervase lhe percorreu o lábio inferior com a língua antes de deslizá-la em sua

boca; quando lhe acariciou a sua, Madeline estremeceu. Agarrou-se mais ainda a

ele, cerrou os punhos para agarrar-se a sua jaqueta quando o aceitou e Gervase a

ela.

A força a embriagou, para ela mais potente que qualquer droga, uma que

poucos poderiam dar-lhe. Madeline sentiu-se outra enquanto a rodeava com seus

braços e a beijava como se para ele não só fosse uma droga, mas um alento de

vida.

Gervase inclinou a cabeça e aprofundou o beijo e o desejo surgiu com força.

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Elementar, poderoso, puro. O dele e o dela. Alimentaram-se mutuamente,

aumentaram rápido, elevando cada vez mais a cada segundo, estendendo-se fora

de controle. Até que rugiu e os atravessou faminto, ganancioso, insaciável.

Gervase havia deixado de pensar. No instante em que ela cedeu a seu abraço,

quando seus braços se fecharam ao redor daquela mulher e ela lhe ofereceu sua

boca, transpassou algum umbral para um mundo governado só pelo desejo que ele

reconhecera.

O calor era familiar, mas a cada contato se via intensificado, cada resplendor

era mais brilhante, cada aspecto mais intenso, profundo; mais amplo e mais tenso;

infinitamente mais atraente e mais aditivo.

Tinha que ter mais e tudo o que pedia Madeline lhe dava, se entregava.

Seus lábios eram seus, sua boca, seu corpo maleável e exuberante lhe enchia

os braços.

Buuuuuuuummm!

Os dois deram um salto e se colaram um ao outro quando seus sentidos

regressaram ao mundo que os rodeava. Um raio caiu do céu e uma potente

explosão de vento percorreu o terraço, arrancando folhas das árvores próximas.

— Madeline? Gervase? Estão aí fora? — lorde Porthleven saiu e escrutou o

terraço.

Gervase inspirou profundamente, sentindo que sua desenfreada cabeça se

acalmava. As sombras os ocultavam.

— Estamos aqui... Olhando a tormenta.

— Ah — Lorde Pothleven assentiu e contemplou o céu. Um espetáculo, certo?

Mas será melhor entrarem, a chuva se aproxima.

Madeline retrocedera e se afastara de seus braços. Gervase colocou-lhe uma

mão sob o cotovelo, voltou-se e caminhou ao seu lado, sem pressa, de volta ao

salão.

Os outros convidados estavam colados às janelas, observando também aquele

espetáculo da natureza.

Madeline parou diante da porta de vidro.

Gervase contemplou o céu ao seu lado e olhou-a.

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— É... Fascinante. Selvagem e excitante.

Madeline olhou-o nos olhos.

— E perigoso.

Disse isso, deu meia volta e entrou.

Gervase a seguiu, bastante seguro de que, igual a ele, não estava falando da

tormenta.

---

Na manhã seguinte, Gervase sentou-se em sua poltrona de couro atrás da

escrivaninha da biblioteca. Recostou-se nela, levantou as pernas e as cruzou na

altura dos joelhos, com o salto de uma bota apoiado na beirada da mesa, antes de

submergir-se nos últimos informes que seu representante em Londres lhe enviara.

Passaram-se apenas dez minutos quando a porta se abriu.

— A senhorita Gascoigne, milorde.

Surpreendido, ergueu os olhos e viu como Sitwell retrocedia para deixar que

Madeline entrasse.

Ela avançou decidida, com passadas firmes, zangada. Nada tão delicado como

o simples fato de caminhar.

— Obrigada, Stiwell. — Com um cortante assentimento de cabeça, despediu o

mordomo.

O homem inclinou-se, lançando-lhe um inquisitivo olhar, mas Gervase lhe

indicou com a cabeça que podia se retirar.

Madeline deteve-se no meio da sala, enquanto desabotoava com certa

selvageria as suas luvas, para tirá-las. Usava um vestido de viagem, no traje de

montar; devia ter conduzido ela mesma a carruagem. Tinha que ter saído —

Gervase consultou o relógio do beiral da lareira — justo depois do desjejum.

Baixou os pés da mesa e se levantou.

— Talvez pudéssemos ir ao salão...

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— Não. — Madeline lançou-lhe um desgostoso olhar. Seus olhos estavam da

cor de um turbulento mar. O recalcitrante botão cedeu afinal e pode tirar as luvas.

Depois olhou ao seu redor. — Esta é sua guarida, certo?

Gervase respondeu perplexo:

— Por assim dizê-lo.

— Bem, então será improvável que nos interrompam. Não desejo manter uma

conversa educada com Sybil e suas irmãs. Esse não é o propósito de minha visita.

Colocou as luvas nos bolsos e começou a andar nervosa diante da escrivaninha,

afastando com uma patada, a saia quando dava meia volta. Pelo que podia ver de

seu rosto, este expressava uma atitude decidida e inflexível.

— Talvez deva sentar-se e comunicar-me qual é o propósito de sua visita.

Deteve-se, fitou-o e à poltrona que lhe assinalara com a cabeça.

— Prefiro ficar de pé.

Gervase suspirou para si e ficou também de pé atrás da mesa, enquanto a

observava voltar a andar para um lado e outro.

Madeline o fitou e franziu o cenho.

— Oh, por Deus santo, sente-se — assinalou-lhe a poltrona. — Limite-se a

sentar-se e escutar. Desta vez sou eu quem tem que dizer-lhe algo em particular e

tenho toda a intenção de fazê-lo.

Ele voltou a acomodar-se na poltrona.

— Falar. — Quando ela lançou-lhe um olhar confuso, explicou-se: — À noite

disse que teríamos que falar de algo em particular... E o fizemos.

Madeline piscou e finalmente assentiu.

— Já se vê. É precisamente por isso que estou aqui. — Deu meia volta e

continuou andando. — O que falamos à noite é algo que não vamos voltar a falar

nunca mais.

Gervase se perguntou como reagiria; agora já sabia. A energia surgia dela em

grandes ondas com cada passo que dava. Seus dedos, agora livres das luvas, se

cruzavam e se retorciam; se agarravam convulsivamente. Se a isso se unisse as

ferozes passadas, os sinais eram impossíveis de confundir. Estava nervosa, não

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aborrecida. Um detalhe revelador, que lhe permitiu considerar sua afirmação com

algo parecido a uma leve indiferença.

— Por quê? — manteve o tom firme, puramente intrigado.

Ainda que não necessitasse perguntar, porque era isso o que ela iria lhe dizer.

— Consideremos como chegamos a esse ponto, os acontecimentos que deram

lugar ao que aconteceu à noite no terraço de lady Pothleven.

— Eu te beijei e você me beijou. E nós dois desfrutamos.

— Já se vê. — Deteve-se como se duvidasse se devia modificar esse

reconhecimento, mas finalmente tomou uma grande inspiração e continuou

andando, com o olhar fixo na trama do tapete diante de seus pés. — De todo

modo, se olharmos para trás, e corrija-me se estiver equivocada, isto começou

quando enfiou na cabeça essa disparatada ocorrência sua de que necessitava

conhecer-me melhor. Depois quando te informei que não tinha nenhum interesse

em preliminares, decidiu que convencer-me do contrário seria uma boa idéia e de

um modo ou de outro isso nos levou até ao da noite. — Lançou-lhe um olhar que

quase o fulminou. — É correto?

Por um momento, Gervase pensou se deveria revelar-lhe o ato inicial, a parte

que ela ignorava e a razão pela qual decidira que necessitava conhecê-la melhor.

— A cronologia dos fatos é muito precisa.

— Exato. — Sentiu-se ainda mais nervosa, mas o ocultou bem. Ele só pode

perceber pelas suas mãos. — Pelo que não há nenhuma razão após o que sucedeu

no terraço de lady Porthleven além de seu capricho.

Gervase abriu a boca, mas ela o silenciou erguendo uma mão, apesar de não o

olhar.

— Não, escute-me. É a única coisa que tem a fazer. Contra o valor de seu

capricho se levantam estes fatos. Um — sublinhou o ponto levantando um dedo,

sem deixar de andar: — sou a tutora de Harry, sua substituta, e o seguirei sendo

durante mais de seis anos. Dois: você é o conde de Crowhurst e, como tal, nós dois

temos que trabalhar juntos em muitos assuntos, no mínimo, semanalmente. Três:

nós, você e eu, somos os principais proprietários do distrito e, como tal, ocupamos

a posição de líderes da comunidade.

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Deteve-se ao final em seu caminho sobre o tapete e se voltou para ele com os

olhos apertados e a cabeça alta.

— Não tenho interesse algum em por em perigo nenhuma dessas funções para

satisfazer seus caprichos.

Parou só para tomar fôlego e continuar:

— E antes que diga algo, permita-me recordar-lhe que passo longe dos vinte e

oito anos. Antes que pense em sugerir, ainda que seja indiretamente, que

preliminares entre nós poderiam resultar em algo mais; deixe que lhe diga que sei

muito bem que não me imagina, nem neste mundo nem em outro, como sua

esposa.

Lançou-lhe um intenso olhar e viu que sua expressão, até o momento

imperturbável, afinal havia mudado.

Agora era dura... Não, pétrea. Tinha os olhos apertados e os lábios

entreabertos, mas voltou a interrompê-lo sem que ele pudesse dizer nada.

— Por exemplo, sei perfeitamente que seu capricho de conhecer-me melhor

não é impulsionado por um sincero interesse em mim como mulher. Conhece-me

há anos, assim, porque agora? Porque não há nenhuma outra dama na zona agora

mesmo. Ao menos não há nenhuma de seu agrado e, portanto, está aborrecido,

senão enfastiado. ―Mas eu estava por aqui, daí seu capricho‖. Como nós dois

sabemos sou demasiado velha para que me considere adequada para desempenhar

o papel de condessa. Não tenho nenhum dos ares, graças e aspirações que se

consideram adequados para esse título e não é provável que os desenvolva, como

todos no distrito, inclusive você sabe!

Apenas se deteve para respirar.

— Fora isso, meu temperamento e atitudes são totalmente incompatíveis com o

fato de ser sua esposa. — Assinalou-o com um dedo quando passou junto à mesa.

— Somos demasiado parecidos para podermos nos encaixar na vida diária, ainda

que você tenha intenção disso, suponho.

Parou e se voltou para ele.

— O que me leva ao meu arrazoado final. Em vista de não estar pensando no

casamento e não sentir nenhum verdadeiro interesse por mim, não necessita fingir

que, de repente, esteja sobrevindo um esmagador impulso de converter-me em sua

amante. — Olhou-o nos olhos. — Resumindo, como não tem nenhum motivo mais

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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além de satisfazer um capricho passageiro, deveria parar e desistir deste absurdo

assédio ao qual me submete.

Gervase ficou olhando-a. Seu impulso inicial foi protestar, ainda que decidir

qual absurdo ponto atacar primeiro lhe tomaria tempo. Enquanto lhe sustinha o

olhar, contemplava aqueles turbulentos mares de vertiginosas emoções e escutava

de novo sua voz enquanto mencionava suas virtudes ou a falta delas em sua

maioria. Chegou à conclusão que discutir não lhe serviria para nada.

Madeline acreditava no que dissera. Por completo, sem lugar a dúvidas. Suas

palavras tinham sido ensaiadas, mas estavam plenas de convicção.

Realmente não acreditava que ele pudesse considerá-la, e muito menos

desejá-la como esposa. E quanto ao desejo, tão pouco acreditava que pudesse

inspirá-lo, ao menos a ele. Mas ela feriu seu ego de muitos modos e no mínimo um

deles não estava disposto a perdoar.

Praticamente o acusou de jogar com suas emoções, de aproveitar-se de seus

sentimentos mais delicados para divertir-se. Não gostou nada em absoluto disso.

Ainda assim, como diabos iria manejá-la sem deixar-se absorver por completo no

processo?

Madeline respondeu ao seu olhar com os olhos duros e soprou o ar, cruzou os

braços com ímpeto, abaixou os seios muito formosos, circunstância que fazia que

fosse inclusive mais difícil manter os olhos fixos nos dela e muito menos pensar.

Ela franziu os lábios. Durante meio minuto, inclusive deu umas batidas no chão

com os pés. Finalmente, soltou um suspiro de frustração e perguntou:

— E então?

— Então o que? — Não lhe perguntara nada, portanto não havia nenhuma

resposta. Ainda não.

Seu olhar indicava que suspeitava que estivesse sendo obtuso de propósito.

— Concorda em deixar de me perseguir e, em lugar disso me tratará como

fazia antes?

Gervase lhe susteve o olhar um momento e se recostou em sua poltrona.

— Não.

Os olhos de Madeline se arregalaram. A deusa guerreira voltava.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— O que significa esse ―não‖?

Se ele não tivesse tanta experiência em batalhas, sem dúvida teria se

acovardado e batido em apressada retirada. Em troca a observou e logo afirmou

sem alterar-se:

— Aquecerá muito bem minha cama.

— O que? — Ficou olhando-o atônita. Qualquer dúvida que Gervase tivesse

sobre sua cegueira a respeito de seus próprios atrativos foi eliminada pela

estupefata expressão de seus olhos. De imediato, ergueu-se e uma fria dignidade a

envolveu como um manto. — Basta. — disse-lhe. — Sabe que não me deseja...

— Madeline. — Esperou até que o olhasse nos olhos. — O que acredita que foi

aquele beijo?

Ela piscou e franziu o cenho.

— Eu... Não tenho a mínima idéia. Porque não me diz você?

— Aquele beijo foi para ver se éramos ou não compatíveis. — Susteve-lhe o

olhar. — No caso de que não esteja segura de como interpretar o resultado, deixe

que lhe diga que nós o somos.

Madeline apertou os olhos.

— Compatíveis com respeito a que?

Gervase ergueu as sobrancelhas, agora quem estava sendo deliberadamente

obtusa?

— Deixando fora o assunto casamento...

— Por favor, não insulte a minha inteligência mencionando-o.

Ele olhou sua mão levantada, sua expressão desdenhosa e relembrou suas

palavras e seu tom. Não importava o que lhe dissera, não importava a força de

seus argumentos, Madeline não iria acreditar que era o casamento o que tinha em

mente.

Ainda que o fosse, Gervase já não tinha a mínima dúvida a respeito, não desde

que a seguira ao terraço de lady Porthleven.

Mas sua incredulidade, ainda mais, sua incapacidade para acreditá-lo, lhe

deixava sem alternativas.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Muito bem, deixando isso de lado, depois da noite, tenho um objetivo

completamente sensato, racional, lógico e prudente em mente com respeito a você.

— E qual é?

— Quero você e a terei em minha cama.

A única mulher que se deitaria em sua cama, a que tinha no piso de cima, em

seus aposentos de conde, seria sua condessa.

Madeline ficou olhando-o durante um longo tempo.

— Isso é sensato, racional, lógico e prudente?

— Para mim é. — Manteve a expressão afável, mas fechada; o mesmo poderia

ser usado para discutir sobre a rotação das culturas.

Ela o estudou e tomou uma profunda inspiração. Como voltava a ter os braços

cruzados sob os seios, ressaltando-os isso colocou à prova a determinação de

Gervase.

Madeline deixou escapar todo o ar com um explosivo:

— Lorde Crowhurst...

Ele pôs os olhos em branco, o que fez com que ela o fulminasse com o olhar.

— Oh, muito bem! — Ela levantou então os braços, incrementando a pressão

sobre o controle dele. — Gervase, então! Deve entender que esta estupidez, este

ridículo cortejo seu comigo, não vai levar a nenhuma parte. A única coisa que

conseguirá será fazer que perca os estribos e, como meus irmãos lhe dirão, não vai

querer que isso aconteça.

Gervase não estava tão certo; em seu papel de deusa guerreira, ficava

inegavelmente excitante. Claro, Madeline não acreditava que fosse em absoluto

atraente, assim que dizê-lo não o levaria a nenhuma parte.

Estudou-a enquanto voltava a andar nervosa pela sala. Se tivesse se sentido

insultada por sua inclinação por ela, estaria aborrecida. Se não lhe tivesse

interessado verdadeiramente, algo que ele não acreditava depois do beijo da última

noite, teria se mostrado indiferente, sua habitual segurança e calma não teriam se

mostrado tão alteradas.

Em troca, ali estava, fazendo um sulco no carpete e tentando convencê-lo que

deixasse de cortejá-la...

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Por quê? Sorriu para si mesmo. Havia se encontrado com a pergunta certa.

Com a pergunta mais pertinente.

Levou um momento para avaliar a situação e logo perguntou com

tranqüilidade:

— E se eu tiver êxito?

Madeline parou e ficou olhando-o. Apesar de poder ver claramente seus olhos,

não seria capaz de decifrar seus pensamentos mesmo que fosse ávida neles.

Finalmente, engolindo a saliva, ela disse:

— Essa não é a questão. — Seu tom era baixo, mas levantou a cabeça e

continuou com mais ímpeto: — A questão é porque queria tê-lo e já sabemos a

resposta.

Gervase lhe susteve o olhar.

— Segundo sua opinião, por um capricho. O que, por definição, se traduziria

eficazmente com um ―Porque não‖? Assim o tenhamos em conta. Aqui estou, como

você tão bem o descreveu, falto de companhia feminina. E aqui está você, quase

com vinte e nove anos, solteira e sem compromisso e esperando seguir assim

durante os próximos seis anos no mínimo. Procedemos dos mesmos círculos.

Nenhum dos dois conhece algum impedimento social a qualquer relação que

queiramos permitir-nos.

Fez uma pausa e continuou:

— Disse que te quero em minha cama e o único obstáculo para conseguir isso é

seu consentimento. A única pessoa a qual tenho que convencer para que diga sim é

você. E tenho intenção de fazê-lo.

— Mas não conseguirá!

— Por quê?

Madeline soltou um gemido exasperado e levantou as mãos como se fosse

passá-las pelos cabelos, mas se deteve no último momento e as agitou.

— Porque na realidade não me deseja. Não se sente verdadeiramente atraído

por mim!

Ele piscou.

— E o beijo da noite?

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Foi uma aberração!

— E se eu disser que não foi?

Quando ela o olhou, a única coisa que Gervase pode ver e que pode perceber

foi medo. Madeline não entendia porque ele estava fazendo aquilo. Era hora de

passar pelo assunto.

— Nossa situação, e corrija-me se estiver errado, pode se reduzir a isto. Eu

digo que te desejo em minha cama e você não acredita. É correto?

Ela apertou os lábios. Desejou poder saber o que estava passando por aquela

mente sua, tão masculina, mas não conseguia, de modo que assentiu. A afirmação

de Gervase era correta.

— Se está certa, então não acontecerá nada. — Continuava recostado em sua

poltrona, a personificação de um cavalheiro relaxado, exceto por seus olhos, por

aquele penetrante olhar. — Se não for sério, não te cortejarei, logo perderei o

interesse e desviarei a minha atenção para alguma outra coisa ou pessoa. Se for

certo, o deixarei e desistirei em mais ou menos tempo.

Ouvi-lo expor tudo assim, tão simples e sucintamente, fez Madeline se

perguntar por que havia chegado lá tão histérica, porque passara toda aquela noite

falando a si mesma até que caísse no sono presa do pânico.

Voltou-se para olhá-lo de frente, enquanto sentia como desaparecia a tensão

que a levara até esse ponto.

Mas então Gervase sorriu e a tensão voltou a inundá-la.

Ele continuou:

— Se, não obstante, estiver certo e me sinto sinceramente atraído por você e

verdadeiramente desejo-a na minha cama, então, em minha opinião, no mínimo

deveria dar-me a oportunidade de demonstrá-lo.

Madeline o olhou fixamente. Como demônios haviam chegado a esse ponto?

— Se considerarmos — prosseguiu ele e sua voz se tornou dura como o aço —

que você basicamente, questionou minha palavra e minha honra, o justo e razoável

seria que me permitisse esclarecer o assunto.

―Não, não, não, não, não...‖

Levou uma mão ao seio, flutuou-a e franziu o cenho.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Por quê?

— Isso deveria ser obvio. A única coisa que tem a fazer é responder sim ou

não.

Ela franziu ainda mais o cenho.

— Sim ou não? Ao que?

Gervase suspirou armando-se de paciência.

— Se me permitirá, e isso quer dizer que não porá obstáculos desnecessários,

demonstrar-lhe que a atração que sinto por você é totalmente certa.

Madeline apertou os olhos e estudou seu formoso rosto, mais inexpressivo que

nunca, enquanto Gervase continuava falando de suas escandalosas sugestões como

se fosse um assunto corriqueiro.

— Ao que se refere exatamente com o ―demonstrar‖?

Ele abriu os olhos exageradamente; deteve-se como se estivesse considerando

a resposta e disse:

— Suponho que quero dizer que me permitirá seduzir-te.

Madeline se negou claro. De diversos modos. Mas Gervase não cedeu.

Continuou mareando-a com sua lábia, fazendo-a regressar uma e outra vez a

seus argumentos simples, diretos e claramente razoáveis. Até que, levada ao limite

de sua resistência, com uma dor de cabeça que lhe palpitava nos seios, levantou as

mãos em um gesto de derrota.

— Muito bem! Aceito! — Tirou as luvas do bolso e começou a colocá-las,

ignorando seu calculador olhar.

— Poderia especificar mais?

Ela apertou os dentes, não podia apertar a mandíbula mais do que já o fazia. —

Especificamente, permitirei que tente me seduzir. Sem duvida — com as luvas

abotoadas, fixou nele um olhar tão duro como qualquer dos seus, — não garantindo

que vá sucumbir.

Aquele condenado homem teve a desfaçatez de sorrir, ampla, sinceramente e

se levantou.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Já se vê. Se não, não seria divertido.

―Divertido‖?

Quase se engasgou. Mas após decidir que as palavras não eram uma arma para

ser usada com ele, voltou-se para a porta.

— Eu me vou.

— Já vejo.

Ainda que se movesse rápido, Gervase já estava ao seu lado quando ela

chegou à porta e Madeline se deteve para permitir que a abrisse.

— Dê lembranças a seus irmãos de minha parte.

Ele abriu a porta e Madeline deu um passo, mas hesitou.

Como se pudesse ouvir sua pergunta em sua mente, Gervase lhe disse as suas

costas:

— Não tive notícias sobre seu interesse pelos contrabandistas, nem pelos

saqueadores. Se as tiver, lhe informarei.

Era o que necessitava ouvir para tranqüilizar-se. Baixou a cabeça em sinal de

agradecimento, saiu para o corredor, longe de sua guarda.

Gervase a acompanhou até o pátio dianteiro, onde sua carruagem a aguardava

e a observou afastar-se. Quando regressou ao castelo, percebeu que estava

sorrindo. Levou um momento para saborear seus sentimentos atrás do sorriso.

A vida em Cornualha se tornava de repente muito mais interessante.

Madeline era uma mescla de muitos tipos de mulheres, tão complicada e

confusa que só conhecer a todos; todas as fascinantes facetas de cada uma de suas

personagens, o teria ocupado durante anos. Regressou à biblioteca enquanto

recordava a última hora. Era alentador saber que não havia perdido sua habilidade

para triunfar nas negociações. Assim, agora afinal tinha um objetivo definido, um

branco claro. Tratar com sua futura esposa era muito parecido a manobrar em um

campo de batalha; ao menos já sabia qual seria a seguinte colina que teria que

tomar.

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Capítulo 5

A mansão dos arrabaldes de Breage estava situada a uns três quilômetros ao

oeste de Helston e a península de Lizard, e a um quilometro e meio do porto, em

Porthleven, não demasiado próximo tampouco demasiado longe das valiosas terras

entre Godolphin Cross e Redruth sob as quais se estendiam as ricas minhas de

estanho das quais procedia a grande parte das riquezas do distrito.

O sol vespertino resplandecia através dos vitrais do pequeno salão quando a

porta se abriu e o cavalheiro que havia comprado a pequena propriedade fazia

pouco entrou seguido por seu representante.

Malcolm Sinclair indicou a Jennings que se sentasse em uma das poltronas

colocadas em ângulo diante da lareira apagada e ele se acomodou na outra com

elegância. Jennings, com seu redondo rosto enrugado em um franzimento de

cenho, nervoso, sentou-se na beirada de sua poltrona.

— Nenhum dos demais quer vender. — fez uma careta. — Esses dois primeiros

foram questão de sorte. Em todos os demais lugares que perguntei se limitaram a

sorrir e a negar. Não sei o que dizer para convencê-los. — olhou a Malcolm. —

Também não o tentei muito, porque você disse que só perguntasse e visse qual

seria a resposta.

Malcolm assentiu.

— Sim, desejava saber em que terreno pisava. Agora sabemos...

Guardou silêncio. Ao final de um momento, juntou as gemas dos dedos de

ambas às mãos diante de seu rosto e continuou pensando com o olhar perdido.

Jennings esperou sem rastro de impaciência. Sinclair era um senhor que

combinava com ele, impassível até o ponto de parecer frio, desapaixonado, ainda

que resolvido, e sua prévia associação o levava a crer que qualquer futuro ao seu

serviço lhe traria benefícios. Afinal Malcolm reagiu.

— Creio que deveríamos concentrar-nos nos arrendatários pequenos, os

granjeiros e aldeões, mais que na pequena nobreza. E no concernente a persuasão,

os argumentos diretos não funcionaram. É difícil convencer alguém que é o

momento de vender quando se está ali, ansioso por comprar.

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— Exato — assentiu Jennings. — Inclusive os granjeiros e aldeões tem o

suficiente sentido comum para suspeitar a respeito.

— Claro. Por isso creio que seria melhor se pensássemos que as notícias

poderiam convencer a essa gente, relativamente ignorante e desinformada, que

vender suas explorações a alguém bastante estúpido para fazer uma oferta sem ter

conhecimento das ditas notícias seria um ato próprio de um homem prudente.

Jennings voltou a franzir o cenho, dessa vez, mais pensativo.

Malcolm o viu e aguardou enquanto Jennings estudava as possibilidades.

— Rumores — murmurou este ao fim. — Mas não podemos espalhá-los nós

mesmos.

— Não, porque quem acreditaria que os que trazem as notícias que sugerem

que suas explorações logo não valerão nada desejem comprar essas mesmas

explorações?

— Sim. — Jennings o olhou. — mas o que queremos são os rumores, certo?

Sinclair assentiu.

— Por exemplo, que as veias locais estão se empobrecendo de mineral ou que

o mercado do estanho está decaindo ou, melhor ainda, notícias sobre um superávit

em outra região que fará baixar os preços em um futuro imediato. Qualquer rumor

que surgir de que vão diminuir as entradas funcionará e ―persuadirá‖ a esses

pequenos arrendatários de que vender suas minas a uns ignorantes londrinenses

mal informados será a solução mais inteligente.

Jennings assentiu.

— Mas não podemos ser nós a espalhar os rumores — repetiu.

— Não, será necessário que encontre alguns ouvidos cujos proprietários não

lhe conheçam e que seja improvável que possam lhe reconhecer depois. Ouvi que

há um festival em perspectiva. Os vendedores ambulantes, atores e gente desse

tipo que se reunirão para o evento deveriam ser perfeitos para nosso propósito.

Espere aqui.

Malcolm levantou-se e saiu ao vestíbulo. Parou no meio do mesmo.

Escutou com a cabeça inclinada, mas não lhe chegou nenhum som. Tranqüilo

continuou até a biblioteca, na parte dianteira da casa.

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Tinha mandado aos Galling, o par que havia contratado para cuidarem dele e

da casa, passar o dia nos mercados de Porthleven, uma precaução necessária em

vista que eles o conheciam como Thomas Glendower e não como Malcolm Sinclair.

Não estava de todo certo porque havia decidido comprar a casa com esse

nome, mas como o dinheiro da compra havia saído das contas de Thomas

Glendower, lhe parecera o mais simples no momento.

Mantivera seu alter ego isolado, livre de qualquer mancha que pudesse trazer-

lhe o desafortunado passado de Malcolm Sinclair com seu falecido tutor e o plano

que acabara tão mal.

Malcolm sempre soubera que acabaria assim, por isso, manter Thomas

Glendower e suas contas de investimentos cada vez maiores, desconectado de

Malcolm Sinclair parecia o mais prudente.

Entrou na biblioteca, aproximou-se da escrivaninha diante das janelas, pegou a

chave com seu cadeado e abriu com ela a gaveta central, da qual tirou uma pesada

bolsa. Já havia contado antes as moedas. Fechou a gaveta de novo com chave,

guardou o cadeado no bolso do jaleco e se deteve quando sua atenção foi atraída

pela elegante paisagem além das janelas. Uma agradável vista de um ondulante

prado que se estendia para o sul e descia até desaparecer. Além, na distância podia

ver o mar.

De ambos os lados, o prado estava flanqueado por árvores bem enraizadas; a

casa encontrava-se em uma propriedade de quarenta quilômetros quadrados de

bosque não muito frondoso, com estábulos na parte posterior. Não havia jardins

propriamente ditos, mas Malcolm, até o momento um urbano londrinense, não

sentia necessidade deles.

Percorreu com os olhos a sala acolhedora e elegante, com seus painéis de

carvalho a meia altura.

Sorrindo, dirigiu-se para a porta. Não tinha ido à Cornualha com idéia de

comprar uma casa; mas a propriedade estava ali, justamente do tamanho perfeito,

no lugar perfeito, não longe de um povoado e o bastante perto do mar, com vistas

de todos os cômodos dianteiros, incluindo seu dormitório no primeiro piso; o que

lhe permitia apreciar as tormentas e o espetáculo do clima que arejava essa seção

da costa.

De um modo totalmente inesperado, Malcolm se enamorara do lugar.

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Nunca tivera um lugar de verdade, não desde que ficara órfão aos seis anos.

Até ver aquela casa, não sabia que desejava uma, mas a simples mansão com sua

discreta elegância o cativou.

Como ainda não trocara nada, o mobiliário era uma eclética mescla de estilos

que, de algum modo combinavam com as salas e com ele.

Decidiu esperar alguns meses antes de pleitear se seria necessário fazer

algumas mudanças.

Com a bolsa na mão, regressou ao salão, onde se encontrava Jennings. Este

trabalhava para ele em Londres até que, há um mês aproximadamente, Malcolm

lhe sugeriu que poderia bem passar uma temporada no campo.

Jennings captou a indireta e foi visitar sua tia em Exeter.

Ao deixar Londres, Malcolm decidiu investigar Cornualha, em particular a causa

das minas. Foi buscar Jennings em Exeter e seu antigo empregado o seguiu.

Malcolm saiu de Londres não só para escapar do calor, mas também para

deixar atrás o fedor do suicídio de Lowther, seu tutor e magistrado do Tribunal

Supremo, e o plano de tráfico de escravos que este dirigira.

Através de Jennings, Malcolm fora essencial para a organização da trama, mas

não lamentou ver que o plano se desbaratou. Nunca havia compreendido porque as

pessoas se empenhavam em agir de um modo ilegal para juntar fortuna, não

quando havia tantas formas de acumular fundos respeitando a lei.

Uma delas era a mineração de estanho.

Abriu a porta do salão, se aproximou de seu empregado e deixou cair-lhe a

bolsa na mão. — Prova nas cervejarias e tabernas em Falmouth. O mais provável é

que qualquer vendedor ambulante que se dirija a península de Lizard passe por lá.

---

Nunca voltaria a tentar raciocinar com Gervase Tregarth.

Um dia depois de ter enrolado-a até permitir-lhe tentar seduzi-la, Madeline

subiu a escada do castelo, silenciando severamente a inquietante idéia de que

entrava na jaula de um tigre.

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As portas principais estavam abertas de par em par, assim continuou até o

vestíbulo. Gervase encontrava-se junto à mesa central do mesmo, falando com a

senhora Entwhistlhe.

Iluminado pelos raios do sol vespertino virou a cabeça e a observou aproximar-

se.

Ela se negou a afastar os olhos, se negou a deixá-lo ver o muito consciente que

estava da situação.

— Claudia. — Deteve-se junto a Gervase, saudou a senhora Entwhistle com um

gesto de cabeça e ofereceu a mão a ele. — Milorde.

Seus dedos rodearam os dela, olhou-a com afeto e sorriu.

— Madeline.

Gervase olhou além, aos demais membros do comitê do festival que estavam

chegando.

— Creio que já estamos todos — comentou a senhora Entwhistle observando a

porta com seus olhos de míope.

Nem ela nem os recém chegados viram como os dedos de Gervase deslizavam-

se sobre os de Madeline antes de soltá-los.

Ela os ignorou a ele e aos seus próprios sentidos desenfreados, e se voltou

para acompanhar a senhora Juliard ao salão, onde Sybil e lady Porthleven

aguardavam.

Teve a intenção de sentar-se entre as damas. Em troca, de algum modo — e

não sabia bem como — encontrou-se sentada junto a Gervase em um dos

pequenos sofás colocados em forma de semicírculo diante da lareira.

— Uma vez que o festival esteja oficialmente inaugurado, o reverendo Maple e

lorde Crowhurst farão as honras da varanda dianteira. A primeira exposição que se

julgará será a de trabalhos de ponto. A senhora Juliard será a encarregada.

Daremos vinte minutos e logo...

Madeline se esforçava para prestar atenção ao programa de atos prolixamente

detalhados pela senhora Entwhistle, extremamente consciente do grande corpo

masculino que enchia o sofá ao seu lado. Podia sentir o calor que emanava dele, a

dureza de suas longas extremidades, outra sutil tentação...

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Sua mente regressou a aqueles momentos no terraço de lady Portwhistle.

Aquele beijo fora... Algo fora do normal, ao menos em sua limitada experiência.

Talvez essa fosse à razão de sua resistência a idéia de permitir que tentasse

seduzi-la; não era tão forte como ela sentia que deveria ser.

Porque ―tentar‖ significava mais beijos.

Mas certamente não tinha nada de mal satisfazer sua curiosidade sem ir, além

disso, ainda se só fosse no interesse de sua formação e, em definitivo, de seu

instinto de sobrevivência; para valorizar ao que enfrentava com Gervase, que

tentação lhe poderia supor...

— Madeline?

Piscou. Todos a olhavam.

— Sinto. — negou com a cabeça. — Sonhava acordada. O que dizia?

A senhora Entwhistle e os outros abriram muito os olhos. Madeline maldisse

para si. Desde quando se distraia em reuniões? Normalmente era ela que mantinha

a todos os demais centrados, a que se assegurava que tudo se desenvolveria bem e

rápido, para poder seguir com sua seguinte tarefa.

— O concurso de cavalos de tiro — comentou a senhora Entwhistle. — Quantos

participantes costumamos ter?

Madeline desenterrou a resposta de seu cérebro.

— Oito, às vezes até dez. Mas durante os últimos quatro anos foram no mínimo

oito.

— Pedirei a Robinson que dê uma mão com a avaliação — interferiu o senhor

Ridley. — Para dizer a verdade, se sentiria ofendido se não o pedíssemos.

Robinson era o ferreiro do distrito.

Ela assentiu, olhou atentamente a senhora Entwhistle e obrigou seus sentidos a

afastar-se da distração que tinha ao lado. Não tornaram a surpreendê-la distraída;

custou-lhe um grande esforço, mas o conseguiu.

Evitou olhar para Gervase nos olhos porque, se adivinhasse a origem de sua

abstração, seria algo que ela não ia querer saber.

Finalmente aprovaram-se todos os detalhes e decidiu-se a programação.

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Todos se levantaram e saíram ao vestíbulo, conversando e comentando as

últimas notícias locais. Com a mente em outra parte, Madeline se atrasou, deixando

educadamente que os mais idosos saíssem antes, mas recordou-se demasiado

tarde que isso a deixaria atrás; com Gervase, que lhe tocou o braço antes que ela

pudesse sair.

— Esta manhã eu fui pescar com seus irmãos.

Madeline ergueu os olhos e o viu estudando os que iam diante deles.

Depois a olhou.

— Fique um momento e lhe informarei o que descobri.

Não pode detectar o mais leve rastro de predador interesse em seus olhos de

tigre.

— De acordo.

Saiu ao vestíbulo ao seu lado e parou junto à mesa central enquanto ele

despedia os demais. Quando Sybil saiu à varanda dianteira para dizer-lhes adeus

com a mão, Gervase regressou com Madeline. Então ela teve tempo para pensar e

lhe assinalou o pátio, onde se elevavam as muralhas.

— Faz um dia tão bonito... Porque não passeamos?

Ele olhou para fora.

— O vento sopra por esse lado. As ameias orientais estarão mais protegidas. —

Assinalou-lhe uma porta ao fundo do vestíbulo.

Madeline se mostrou de acordo e caminhou ao seu lado. Muralhas ou ameias,

ambas as coisas estavam fora e, portanto, a luz do dia, sob o olho público.

Gervase abriu a porta e lhe assinalou que subisse uma estreita escada em

espiral. Guiou-a e a seguir fechou a porta atrás dele.

— Os meninos lhe contaram o que estão procurando?

Com dificuldade ele afastou os olhos de seus quadris, que se balançavam

provocadoramente diante dele, e se obrigou a olhar-lhe os sapatos.

— Por assim dizer. Contaram-me que neste verão não tiveram contato com os

contrabandistas, um fato verificado por estes mesmos, e logo me interrogaram

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sobre todos os naufrágios que vivi. Em particular, lhes interessavam aqueles nos

quais os restos chegaram às costas.

— Confio em que os guiou na direção errada...

Gervase sorriu.

— Não foi necessário. Por suas perguntas, estão se concentrando nos arrecifes

ao oeste, junto a Mullion e Gunwalloe. Segundo Abel Griggs, que é o chefe do

bando de Helston, não houve nenhum naufrágio ali desde outubro e se Abel não

sabe, ninguém mais o saberá.

Madeline seguiu subindo em silêncio antes de assinalar:

— Assim, não encontrarão nada, mas irão procurar nas grutas e cavernas de

todo modo.

Chegaram ao patamar da porta que levava a ameia. Gervase chegou atrás

dela.

Ignorando deliberadamente o aroma de sua pele e de seus cabelos, e o efeito

que tinha em seus sentidos, alongou o braço por diante dela, girou a maçaneta e

abriu a porta.

Madeline saiu e, de imediato, ergueu as mãos para segurar as mechas de

cabelo que o vento agitou. Abaixo e diante deles, estendendo-se até Black Head, do

outro lado da Bahia, se via o mar pálido, ondulado e espumoso pelo intenso vento.

Ainda que muito menos ferozes que nas expostas muralhas do oeste, as

caprichosas lufadas que serpenteavam pelas ameias eram fortes o bastante para

moldar o leve vestido de Madeline ao corpo e as pernas. Gervase as contemplou e

recordou o que ia dizer justamente no momento em que ela se voltava para ele.

— Suponho que procurar tesouros, ainda que não encontrem nada, os manterá

igualmente contentes.

— Na realidade não estou certo disso, ao menos não no caso de Harry. —

Gervase fechou a porta e se recostou na madeira.

Madeline se aproximou para ouvir melhor, segurando ainda seus cabelos. Tinha

o rosto franzido.

— O que quer dizer?

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— Tenho a clara impressão que a busca é idéia do Ben. Edmond também se

interessa, mas o pequeno é o que está mais entusiasmado. Harry, ao menos que eu

esteja muito equivocado, participa na aventura pelos outros dois, não porque tenha

interesse real.

Ela seguiu com o cenho franzido.

— Normalmente ele é o instigador. Costumava falar sem parar de unir-se aos

contrabandistas e levar a cabo as saídas com eles.

— Sem dúvida. Mas isso era antes. — Gervase se deteve e perguntou: — tem

quinze anos, certo? — Madeline assentiu. Ele fez uma careta. — Recordo quando eu

tinha quinze anos. Também meu primo Christopher nessa idade. — Hesitou antes

de acrescentar: — Dou-lhe um conselho se o aceitar. A última coisa que alguém

deve aceitar é que um jovem de quinze anos se sinta entediado. E, a menos que

tenha analisado a situação de um modo totalmente equivocado, no fundo Harry

está entediado. Não há nenhum desafio em sua vida.

Os lábios de Madeline se apertaram, seus olhos se tornaram mais atentos. Por

um momento ficou completamente imóvel, piscou e o olhou. Estudou seus olhos

durante um instante e, por último, ergueu as sobrancelhas.

— Tem alguma sugestão.

Afirmou aquilo, não perguntou.

— Uma sugestão nada mais. É o visconde de Gascoigne e com quinze anos já é

crescido para começar a aprender como funcionam as coisas.

Ela seguiu com o cenho franzido.

— Nunca pergunta pelas propriedades nem por nada relacionado. Normalmente

tenho que pressioná-lo para que assuma seu papel, inclusive no plano social.

Gervase não pode reprimir um grunhido.

— Madeline, os aspectos sociais serão os que menos irá gostar. Coloque-o à

prova com algo do trabalho de verdade. Leve-o quando sair a cavalo, quando

visitar as granjas. Comece a pedir-lhe sua opinião, isso lhe dará pé a pedir-te que

lhe explique as coisas.

De novo hesitou enquanto estudava os olhos verdes dela, nesse dia,

extremamente claros.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Não espere que ele lhe pergunte, porque não o fará. Verá isso como uma

intromissão no seu território. Se for entregar-lhe as propriedades, e sei que essa é

sua intenção, terá que fazer as primeiras tentativas de abordagem. Não obstante,

ele sempre esperará que você lhe peça para se envolver. Por lealdade a você, não a

pressionará para fazê-lo.

O franzimento do cenho de Madeline desapareceu para ceder passo, em um

primeiro momento, à confusão que, finalmente, se converteu em uma expressão de

compreensão e de descoberta.

— Oh, entendo. — Após um momento, acrescentou: — Sim, claro. — Voltou a

olhá-lo e sorriu um sorriso glorioso, cheio de felicidade e satisfação.

O impacto em Gervase foi muito maior que se o tivesse esbofeteado.

— Obrigada. Não havia pensado nisso desse modo. — O poder que havia atrás

desse sorriso desapareceu quando surgiu o carinho. — Harry está tão empenhado

em sair correndo, mantendo-se ocupado fora de casa, que havia duvidado em...

Bem, refreá-lo e colocá-lo a prova, por assim dizer. Mas se na realidade está se

impacientando, eu o farei. Obrigada pela sugestão.

— Foi um prazer.

Foi fácil devolver-lhe a piscadela.

Quando viu que ele continuava apoiado na porta, observando-a com aquele

sorriso que suavizava seus duros traços, Madeline sentiu que seu instinto reagia e

ergueu as sobrancelhas.

— Havia algo mais?

— Não. — Seu sorriso se ampliou de um modo que ela reconheceu o suficiente

para desconfiar. — Estou esperando que me agradeça.

— Acabo de fazê-lo.

— Como é devido.

Abriu a boca para repetir a palavra, mas a fechou de repente. Então apertou os

olhos.

— Não vou te beijar outra vez.

Seu sorriso, nada acreditando, se alargou.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Como planeja sair daqui?

Madeline olhou ao seu redor, mas era demasiado tarde.

— A escada que tem atrás dessa porta é a única saída.

Ela deu meia volta e avançou pelas ameias. Não necessitou ir muito longe para

ver que, com efeito, não havia outra saída, nenhuma porta, nem sequer um sótão.

Regressou desgostosa até onde ele esperava pacientemente, com os ombros

colados à madeira, e se deteve a um passo de distância. Jogou os cabelos para trás

quando a brisa soprou com mais força e o fulminou com o olhar.

— É tão... — Ficou sem palavras e gesticulou freneticamente com uma mão.

— Bem, nisso?

Madeline soltou um frustrado suspiro.

— Irritante! — Teve vontade de dar umas patadas no chão. — Por Deus

santo...

Gervase se inclinou para frente, pegou-a pela cintura, apertou-a contra ele,

levantando-a e logo a deixou cair fazendo que se deslizasse pelo seu corpo.

Ela soltou um grito sufocado, com suas longas extremidades pegadas a ele,

seus seios ao seu torso, as cadeiras à parte superior de seus músculos.

Todos os nervos, todos os músculos do corpo de Gervase se endureceram,

incluindo algo que Madeline, totalmente colada a ele, não pode confundir. Viu como

seus olhos se abriram e sorriu com intensidade.

— Ainda assim.

Inclinou a cabeça e a beijou. Ela tinha a boca aberta pela surpresa e Gervase

aproveitou a circunstância. Reclamou seus lábios, saboreou-a, sondou um pouco

antes de dispor-se a cativá-la.

Madeline não resistiu fisicamente — seu corpo permaneceu passivo em seus

braços, aceitando instintivamente seu abraço, — mas apesar disso lutou,

batalhando obstinada e valorosamente por manter-se distante.

Com os lábios sobre os dela, a língua acariciando a sua, seu instinto o

pressionava para que lhe declarasse a guerra, lutasse contra a sua vontade,

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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enfraquecesse-a para que seu desejo pudesse triunfar e Madeline se rendesse e

fosse sua de boa vontade.

Quando inclinou a cabeça e conectou-se com ela de um modo mais intenso;

teve a estranha consciência de uma dicotomia em seu interior, de seu instinto de

guerreiro — uma convicção primitiva lhe fazia sentir que tinha direito a reclamar

aquela mulher — chocando com o sentimento igualmente insistente que tinha que

ser generoso, persuadi-la e negociar, não forçar e insistir.

Não desejava dominá-la, queria-a ao seu lado como um par, disposta, uma

companheira, sua esposa.

O pensamento deslizou-se por sua mente e suavizou sua abordagem e, quase

no instante, obteve sua recompensa. A resistência de Madeline hesitou. De

imediato, ele se forçou a tentá-la mais, em provocá-la e seduzi-la de verdade.

Os lábios dela responderam a pressão dos seus, mais um impulso que uma

ação consciente, mas então percebeu e se deteve durante um segundo para,

finalmente render-se. Ceder.

Deixou de resistir e se uniu a ele.

Sua repentina mudança de atitude — não uma capitulação, mas uma aceitação

do inevitável — o deixou por um momento perdido, enquanto se esforçava

mentalmente para se adaptar a estratégia.

Então, as mãos de Madeline, até então pegadas a seu torso, deslizaram-se até

seus ombros, se aferraram, seguiram até a nuca e subiram pelos cabelos, onde

com os dedos o agarrou levemente... Um provocador rogo que seu instinto não

precisou de tradução.

Gervase respondeu, mais por impulso que deliberadamente. Satisfez sua

demanda e deixou que suas bocas se fundissem, suas línguas se enroscasse em um

intercâmbio mais flagrante, mais explícito do que ele havia planejado.

Ela respondeu, manteve-se ao seu lado na gananciosa e acalorada carícia.

Quando deu um pequeno arquejo, ele interrompeu o beijo para deslizar os lábios

até o oco sob sua orelha enquanto seu torso se enchia ao respirar.

Mas então regressou a sua boca, demasiado faminto, ainda não aplacado, não

mais do que estava ela.

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Os lábios de Madeline eram exuberantes, ardentes exigentes, a úmida caverna

de sua boca um sensual refúgio quando voltou a acolhê-lo. Gervase se submergiu

profundamente e ela se agarrou ao seu corpo com mais força. Já não necessitava

apertá-la contra si, de modo que afastou as mãos dela, até o momento, agarradas

a sua cintura; e estendeu as palmas por suas costas para satisfazer a necessidade

de memorizar todas as suas curvas, todos os longos planos, cada flexível músculo,

cada deliciosa saliência de carne feminina.

Subiu até as omoplatas, acariciou com ambas as mãos e logo, devagar,

percorrendo suas costas, as curvas de sua cintura, a saliência de suas cadeiras, a

curva do traseiro, que abraçou com as palmas.

Madeline estremeceu; Gervase o sentiu, notou o primitivo entusiasmo no mais

profundo do seu ser, através do beijo percebeu sua resposta, seu desejo desinibido

e manifesto. Sentiu como seu desejo se elevava para ir ao encontro do seu próprio,

como surgia para entrelaçar-se com o seu, para complementá-lo, fazer arder à

paixão e despertar seu desejo sensual.

Ela arquejou através do beijo. Nunca antes se sentira assim, como se houvesse

algo, algum ser em seu interior, em sua pele, expandindo-se, tomando o controle,

empurrando-a para aferrar-se, a acolher com agrado cada segundo de sensações,

de experiência, de tudo o que havia pensado que não conheceria nunca.

Sentia-se acalorada, com os nervos a flor da pele, o alento já não era seu, mas

dele; sentiu seu corpo, envolvido, preso em seus braços e feliz, muito feliz de estar

ali. Sua mente racional não conseguia assimilá-lo, mas seus sentidos se

deleitavam. E uma parte de si mesma que não conhecia se regozijava sinceramente

no crescente calor, no compulsivo e florescente aumento do que inclusive em sua

inocência e inexperiência reconhecia como paixão. Ardente, urgente, cada vez mais

explicita.

Seu beijo havia se tornado selvagem, refletindo-se no contato dele, infectando

os dois, pelo que não teve a mínima objeção quando uma mão de Gervase subiu

por suas costas para cobrir-lhe o seio, acariciando, envolvendo, massageando–o

levemente. Uma sensação nova surgiu, aumentou estendeu um prazer sob sua

pele.

E ele soube. Sua mão se fechou mais possessiva. Sob o ajustado corpete de

seu vestido de passeio, seus dedos encontraram o inchado mamilo e beliscou-o e

acariciou-o e o prazer intenso e doce a atravessou.

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Estava impossível respirar.

Levantou as mãos para segurar-lhe a cabeça, que agarrou, sentindo os cabelos

muito mais suaves do que pareciam, sobre os dedos quando o segurou e beijou

com força. Finalmente desesperada se jogou para trás.

— Oh, Deus... Gervase! — Com os olhos fechados, se esforçou para respirar. —

Alguém poderia nos ver.

— Não, não podem. — Sua voz era profunda, áspera junto ao seu ouvido,

enquanto suas mãos continuavam brincando, acariciando-lhe os seios. — ninguém

pode ver-nos aqui em cima, nem sequer com um binóculo.

O fato de que houvesse pensado inclusive em um binóculo a tranqüilizou por

completo. Inspirou novamente e lhe rodeou o rosto com as mãos para atrair-lhe a

boca para a sua. Ainda estava faminta, ávida por seus beijos, seus lábios e as

sensações que lhe produziam, da reação que lhe provocavam e a parte de si

mesma até o momento desconhecida que criava vida em seus braços.

Gervase grunhiu para si e obedeceu-a incapaz de não fazê-lo, incapaz de

recusar, ainda que não imaginasse sonhar que seria tão exigente e tão apaixonada.

Se o soubesse teria escolhido outro lugar para seu encontro. Seus aposentos, por

exemplo, com a cama que pretendia que ela honrasse a sua disposição. Em lugar

disso, estavam nas ameias. Custou-lhe mais que um esforço, uma vontade de

ferro, afastar as mãos de seus seios, agarrá-la pela cintura e mover-se, voltar-se

para que Madeline ficasse de costas para a porta e ele diante dela.

Então, Madeline limitou-se a beijá-lo de novo. Passaram vários minutos de

acalorado intercambio antes que Gervase recordasse de novo porque ele, eles,

tinham que parar. Já. Antes que... Antes que as coisas se descontrolassem por

completo e fosse impossível parar.

Quando finalmente levantou a cabeça ela descobriu que o coração estava

acelerado. Os lábios palpitavam, inchados e ainda ávidos, tão condenadamente

dispostos. Inspirou, irritada ao experimentar uma sensação de perda pelo fato de

não sentir suas mãos nos seus seios.

Abriu os olhos e se obrigou a encontrar-se com os dele. Nunca lhe pareceram

mais os de um tigre, com sua expressão mais intensa.

— Mudou de opinião?

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As palavras ásperas e baixas, carregadas de desejo masculino, quase a fizeram

estremecer. Distraída, tentando reprimir a lasciva reação, quando o olhou sem

compreender, ele esclareceu:

— Sobre esquentar minha cama.

Sua mente se centrou de repente e o contemplou piscando.

— Não.

Tinha as mãos apoiadas em seus ombros e o empurrou com força. Mas ele não

retrocedeu nem um milímetro.

Uma sensação muito estranha lhe percorreu a coluna, uma sensação nova e

assombrosa. Estava indefesa, presa entre a porta e aquele homem, entre a rígida

madeira e seu duro e implacável corpo. Nunca antes um homem a tinha feito

sentir-se presa.

Para libertar-se teria que ceder... Algo.

Piscou e em seu íntimo se libertou dessa ridícula suposição.

— Deixe-me ir.

Tentou por todos os meios infundir até o último hálito de sua vontade às

palavras. Ergueu a cabeça para dar ênfase.

A expressão de Gervase se endureceu, mas afrouxou o agarre de sua cintura.

— No momento.

A advertência era tão explicita como havia sido o beijo.

Madeline lhe dedicou um furibundo olhar, mas foi um débil esforço. Com uma

mão tateou suas costas até encontrar o trinco. Com os olhos fixos nos dele colocou-

se de um lado e abriu a porta.

Gervase retrocedeu e lhe permitiu abri-la de todo.

Respirando com um pouco mais de facilidade e a cabeça alta, lhe lançou um

ultimo olhar desafiante, virou-se e saiu. Começou a descer a escada com uma mão

apoiada no muro de pedra. Fora só um beijo, uma parte de seu estúpido jogo. Não

importava o que tivesse dito, ele não estava não podia estar tentando seduzi-la

seriamente. Se repetisse essa afirmação com a suficiente freqüência poderia

acreditar.

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— Que grande idéia formar seu próprio clube privado de cavalheiros em

Londres para assim ter um lugar onde estar a salvo de males! — Edmond levantou

os olhos da mesa de desjejum e olhou para Madeline. — Engenhoso, não acha?

— Mais que engenhoso — opinou Ben, com a boca cheia de salsicha e livrando

a sua irmã da necessidade de responder.

Melhor, porque no estado de ânimo em que se achava qualquer resposta que

desse relacionada com Gervase Tregarth e suas ações estaria destinada a soar

como fúria.

Tomou um gole de chá e tentou desviar sua mente daquele irritante cavalheiro

e seu efeito sobre ela. Por azar, na companhia em que se encontrava isso parecia

uma causa perdida.

Já era ruim a citação que Gervase organizara nas ameias do castelo e tudo o

que sucedera lá a tivesse perturbado ao longo do sarau anterior e também ao seu

sono; para que, além disso, sua excursão com seus irmãos e as aventuras que lhes

contava fossem os principais assuntos da conversa dos meninos desde então.

Normalmente podia confiar em seu desmiolado trio para que a distraísse em

qualquer inquietação interior. Em troca, suas especulações e comentários sobre

Gervase só reforçavam sua presença, a realidade dele estar ali e ela ter de

enfrentá-lo.

— Acredita que é certo o que Joe e Sam disseram? — Ben se voltou para Harry,

sentado à cabeceira da mesa. — Que logo aqui haverá muitos homens sem trabalho

e as coisas irão mal.

Madeline piscou e prestou atenção no que diziam. Olhou a Ben e depois a

Harry, que franzia o rosto.

— Não sei. Parece estranho que se avizinham semelhantes problemas e poucas

pessoas ouviram falar disso. — Olhou a Madeline. — Você ouviu algo? Verdade que

as minas em Carn Brea vão fechar?

“Quem” foi sua instintiva reação, mas a engoliu e franziu o cenho.

— Não sei nada disso. Onde ouviu isso?

— Em Helford — respondeu Edmond. — Fomos lá depois de voltar da pescaria.

— Fomos aos molhes para ver chegar as embarcações — explicou Harry. —

Sam e Joe estavam lá. O pai de Sam cuida da taberna em Helford e o de Joe é o

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ferreiro. Os dois disseram que seus pais estão preocupados pelo que passará o

distrito quando acabar o dinheiro das minas.

Os irmãos mais velhos de Sam e de Joe trabalham em Carn Brea —

acrescentou Edmond.

Quando Madeline ficou contemplando a mesa com o olhar perdido, Harry se

inquietou.

— Poderiam fechar as minas? Será ruim para o distrito se o fizerem, não?

Ela se obrigou a reagir.

— Sim para a última pergunta e não tenho nenhuma informação que sugiram

que as minas estejam passando sequer dificuldades e muito menos que estejam a

ponto de fechar.

Fizera o que havia dito ao senhor Ridley que faria. Escrevera aos seus contatos

em Londres, que lhe responderam precisamente no dia anterior, confirmando-lhe

que tudo estava como ela acreditava. Olhou a Harry.

— Ontem recebi notícias de Londres informando-me que as minas de estanho,

incluindo as da zona, estão muito bem. De fato, superam as expectativas, pelo que

a perspectiva é otimista.

— Talvez pudesse dizer isso a Joe e a Sam, para que comentem com seus pais.

Pareciam verdadeiramente preocupados.

Madeline assentiu.

— Faça-o. De fato, a menos que tenha algo urgente que fazer, deveria

regressar a Helford agora mesmo. — Fez uma pausa e acrescentou: — Você —

assinalou a Harry com a cabeça — poderia visitar aos pais de Sam e Joe para falar

com eles diretamente. Isso é o que deveria fazer. Pode dizer-lhes que eu o

comprovei há pouco e tudo está como deveria estar. Não precisamos que se

espalhem rumores desse tipo e assustem as pessoas.

Seu irmão, com a expressão muito séria — muito mais adulta, observou

Madeline com uma pontada de dor e assentiu.

— Irei agora de manhã.

— Nós também iremos — anunciou Edmond.

Ben, que ainda estava comendo, se limitou a assentir.

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Ela observou como Harry acabava sua xícara de café, ao qual se habituara

recentemente, enquanto as palavras de Gervase sobre incluí-lo nos assuntos da

propriedade ressoavam em sua cabeça.

— Uma coisa mais — acrescentou. Harry a olhou inquisitivo, enquanto deixava

a xícara. Edmond e Ben também. — Fiquem atentos ao que ouvirem sobre as

minas. Pode ser que haja alguém espalhando rumores a propósito. Sabemos que há

um cavalheiro de Londres interessado em comprar explorações minerais e é

possível que esses rumores estejam relacionados com ele de algum modo.

Harry demorou um momento para perceber a conexão; Edmond a viu um

segundo depois. Ben continuou totalmente absorto em seu lanche de presunto.

Harry e Edmond trocaram um olhar e seus traços adquiriram a mesma

expressão, uma que Madeline nunca as vira neles.

— Estaremos atentos — afirmou Harry, bem sério. — Informaremos você de

qualquer coisa que ouvirmos.

Gervase tinha razão: estavam crescendo. Apesar da pontada de dor que sentiu

perto do coração, não pode evitar sentir-se satisfeita que ambos os jovens, —

homens jovens em desenvolvimento — mostrassem um verdadeiro interesse pelo

distrito, pela indústria e pelas pessoas que formava parte de seu entorno.

---

Apesar da maturidade que Harry começava a mostrar, Madeline não o

pressionou para que assistisse ao baile de lady Moreston nessa noite. Essa festa era

uma das muitas comemoradas ao longo do verão nas quais se divertiam a

aristocracia e a alta burguesia local durante as longas e quentes noitadas.

Vestida com um vestido de cetim vermelho, sentiu-se adequadamente blindada

como a honrada senhorita Madeline Gascoigne. Saudou lady Moreston com sua

habitual segurança e seguiu Muriel para o interior do salão de baile. O longo salão

estava enfeitado com plantas estivais mais ao gosto de Madeline que os laços,

sedas e decorações douradas. Deteve-se no alto da escada e percorreu o salão em

busca de uma cabeça de cabelos escuros e encaracolados. Mas Gervase não estava

ali, ao menos, não ainda.

Enquanto descia a escada atrás de Muriel, Madeline franziu o cenho e percebeu

que esmagava seu sentimento subjacente, fosse qual fosse.

Não podia sentir-se decepcionada sob nenhum conceito.

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O que sentia era só irritação por ter que manter-se em tensão e alerta, até ele

aparecer, porque, uma vez chegando, saberia o que tramava; e não se sentiria tão

perdida tentando imaginar o que poderia ocorrer, o que decidira fazer sua

demoníaca mente.

Aquele homem era perigoso, mas ela não era nenhuma menina boba e para

seu próprio bem não permitiria mostrar demasiada curiosidade. Era fiel aos seus

princípios, era a dona de sua própria vida. As decisões que tomasse seriam suas e

só suas.

Com essa determinação em mente, decidiu-se a aproveitar a noite ao seu

modo. Andou entre os convidados, conversou com os cavalheiros, atenta a

qualquer confirmação dos rumores que seus irmãos tinham ouvido, porque ainda

não decidira como proceder nessa frente.

— Encontrei-me com Penterwell hoje — comentou-lhe Gerald Ridley. — Esse

representante foi vê-lo também. Não é que tenha nenhuma intenção de vender,

mas, como eu, pergunta-se o que há atrás de tudo isso.

— Voltei a perguntar depois de conversarmos — disse ela — e o que tenho

ouvido sugere que tudo vai bem e se espera que melhore ainda mais. Será que

esse cavalheiro de Londres simplesmente acredite que somos ingênuos?

Gerald soltou um bufo.

— Bem, ao que parece, não encontrou ninguém interessado a vender, assim

agora deve ter percebido que deverá se reinventar.

Madeline sorriu e assentiu com a cabeça enquanto se afastava, mas as

palavras de Ridley ressoaram em sua mente.

A alta burguesia não era a única que possuía explorações minerais.

Estava rodeando a pista de dança enquanto pensava naquilo, quando Gervase

apareceu de repente diante dela e prendeu-lhe uma mão com a dele. Sorriu um

sorriso abertamente felino, feroz. De imediato, levantou os dedos e os beijou. Ela

tentou franzir o cenho, mas foi difícil quando tinha os olhos muito abertos.

Ele se moveu para colocar-se ao seu lado e apoiou sua mão no braço.

— Sybil ficou para trás e me deixou sozinho. — olhou ao seu redor. — Esqueci

que no campo se segue um horário diferente, tudo se faz mais cedo. — tornou a

olhá-la. — mas agora que estou aqui, podemos dançar.

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Os músicos começaram a tocar quando Gervase a levou para a pista, Madeline

regressou bruscamente a realidade e retrocedeu.

— Não. Quero dizer, eu não danço.

— Porque não? Não pode esperar que acredite que você nunca aprendeu.

— Claro que aprendi. É só que... — Piscou quando ele a fez girar e a atraiu

para seus braços com total naturalidade.

Então percebeu que tinha de erguer os olhos alguns centímetros para poder

olhá-lo nos olhos, também que a mão em sua cintura e o braço atrás dela possuía

uma força fora do comum; recordou a facilidade com que a levantara do solo no dia

anterior.

Ainda que se sentisse atraída pelo baile, Madeline não participava dele porque

a maioria dos homens era mais baixa que ela. Ou ao menos, não altos e fortes o

bastante.

Após duas amplas voltas girando nos braços de Gervase, quando ele a olhou,

erguendo as sobrancelhas, negou com a cabeça.

— Não importa.

Ele sorriu, olhou a frente e a fez girar de novo. Literalmente, a fez girar. Ela

nunca dançava e nunca fora capaz de fazê-lo com aquela facilidade. Nunca

conseguia adaptar-se ao passo de seu par como fazia com ele, sem ter que

encurtar as passadas, limitar seus movimentos ou refrear sua graça natural.

Quando rodearam o salão, passando sem esforço os outros pares e, ainda

assim, movendo-se com tanta naturalidade que não tinha sensação de velocidade,

só de uma refrescante liberdade. O coração de Madeline se alegrou e ergueu o vôo.

Gervase a olhou nos olhos e sorriu.

— Vê? Você gosta.

Ela apertou os lábios para não deixar escapar a resposta demasiado reveladora

que lhe ocorrera. ―Só com você‖ não era algo que fosse prudente dizer, não a ele.

Não necessitava que o incentivasse. Não para que lhe fizesse perder a cabeça, algo

que conseguia com absurda facilidade.

Que a guiasse por todo o salão com aquela segurança era francamente

excitante para que se sentisse segura a velocidade com que se moviam, mais perto

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de seu corpo do que talvez devesse. Não fora um ataque tão descarado aos seus

sentidos para que se sentisse empurrada a resistir.

A única coisa que se sentia inclinada a fazer era segui-lo, relaxar e deixar que

ele a guiasse.

Seu interior suspirou e acolheu com agrado esses momentos de inesperado

prazer.

Gervase mantinha os olhos fixos em seu rosto, a observava, assim, Madeline

julgou prudente distraí-lo e lhe disse:

— Deve ter dançado muita valsa este ano, com todas essas festas em Londres.

Ele ergueu as sobrancelhas e sua expressão resignada, por uma vez era clara.

— Graças às travessuras de minhas irmãs, passei pouco tempo nos bailes.

Chegava à cidade e, em questão de poucos dias, me reclamavam de volta.

— Então, eram elas as que estavam atrás de todos esses estranhos

acontecimentos?

O gesto dos lábios de Gervase se tornou mal humorado.

— Sim. — Olhou-a nos olhos e o viu hesitar.

Ainda assim, Madeline esperou ansiosa para escutar o que estava a ponto de

dizer, mas sabia que era melhor não pressioná-lo.

Ele esboçou um sorriso torcido.

— Tendo a experiência que tem com seus irmãos, entende bem. Esses

estranhos incidentes, todos eles, estavam expressamente pensados para fazer-me

voltar para casa o quanto antes possível. Era a reação de minhas queridas irmãs a

chegada da nova lady Hardesty.

Madeline piscou surpreendida, tentando imaginar, mas não pode.

— Não vejo a conexão.

— A verdade é que eu tampouco. Elas se convenceram que assim como o

pobre Robert, eu também poderia sucumbir aos atrativos de alguma femme fatale

que as obrigaria a viver com a tia avó Agatha em Yorkshire.

Madeline ficou olhando-o e viu que estava contando-lhe a pura verdade.

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Tentou não rir, mas não o conseguiu.

— Oh, vá.

Gervase limitou-se a dirigir-lhe um olhar resignado. Seus lábios não se

curvaram em um aberto sorriso, ainda que se relaxassem enquanto continuava

fazendo-a girar e ela se esforçava por controlar sua risada.

— Eu... — Deteve-se para inspirar profundamente. — Verdadeiramente não

posso imaginá-lo caindo vitima de nenhuma mulher.

Gervase estudou seu rosto, seus olhos, de brilhante verde oliva à luz das

lâmpadas da arandela. Ele pensava o mesmo, mas agora já não tinha tanta

certeza.

A música parou e a fez girar em um floreado final, no qual Gervase se fixou —

e Madeline gostou. Seu deleite pelo baile, algo que ela lhe tinha permitido ver, fora

para ele um delicioso prazer.

Também era um progresso significativo com relação onde estava quando se

fixou nela pela primeira vez. Então não pudera ver além de sua couraça. Agora em

troca... Em momentos como aquele, espiava a mulher que havia atrás de suas

defesas com clareza.

E com cada nova descoberta se tornava mais fascinante.

Após um rápido olhar por cima das cabeças, pegou-a pelo braço.

— Creio que é hora do jantar. Vamos?

Madeline ergueu as sobrancelhas um pouco diante de sua clara expectativa de

que se mostrasse de acordo, mas então assentiu com a cabeça. Suas seguintes

palavras esclareceram a Gervase por que.

— Os meninos me contaram que junto com uns amigos vocês formaram um

novo clube de cavalheiros em Londres. Se eu entendi bem, um com um propósito

bastante incomum.

Ele sorriu e se dispôs a distraí-la.

E conseguiu com um surpreendente êxito.

Entre as perguntas de Madeline e suas respostas, que trataram sobre o clube

Bastion e seus membros, a verdadeira natureza de seu serviço a Coroa, Dalziel e

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sua oficina, passaram o jantar conversando, bastante absortos para dissuadir a

outros a unir-se a eles.

Quando regressaram ao corredor que levava ao salão de baile, Gervase não

podia recordar ter aproveitado mais em um jantar. Porque, de todas as mulheres,

com Madeline lhe era mais fácil falar, era um mistério que não conseguia decifrar.

Sem dúvida, com seu rápido gênio e a amplitude de seus conhecimentos lhe

permitia conversar livremente de assuntos que normalmente evitava.

Esse fora outro sutil prazer, o simples fato de poder relaxar-se e conversar sem

pensar, sem censurar suas palavras. Talvez fosse o fato de tratar com seus irmãos

o que a tornara tão claramente imperturbável, tão calma e centrada. Com ela

sentia-se seguro de um modo que nunca se sentira antes, com ninguém em

nenhum momento.

— Esse Dalziel — comentou... — Está certo que tem razão e que ainda há um

traidor no governo?

Pegou-a pelo braço e a fez afastar-se do salão de baile.

— Sim. Se conhecer Dalziel irá compreendê-lo, mas fora o fato de que seria a

última pessoa a inventar algo assim, nós também vimos provas que esse traidor

existe. Jack Warnefleet foi o que mais se aproximou dele, quase prendeu o servo

desse homem, mas o traidor matou ao pobre diabo antes de permitir que caísse

nas mãos de Dalziel.

Madeline caminhou ao seu lado olhando a frente e pensando em tudo aquilo,

sem notar para onde se encaminhavam.

Gervase sabia que era assim, porque não colocou nenhuma objeção quando, ao

chegar ao jardim de inverno e abrir as portas de vidro que levavam ao mesmo,

entrou sem dizer nada, com só um leve franzimento das sobrancelhas.

— O que sabe desse homem?

— Outro traidor sugeriu, o qual tinha alguma conexão com o Ministério da

Guerra. Fora isso, a única descrição física que temos é a de um cavalheiro da alta

sociedade, alto, de constituição forte e cabelos escuros.

— Da alta sociedade? — voltou-se para ele quando, após fechar a porta, se

aproximou dela.

Gervase assentiu.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Matou o seu sequaz em uma gala real em Vauxhall. As únicas pessoas que

podiam conseguir entradas eram membros da aristocracia e a jovem dama que o

viu estava bem certa da classe social a qual pertencia o homem. — Deteve-se e a

olhou nos olhos. — Como Dalziel disse: o traidor é um de nós.

Madeline estava séria, com a expressão de uma deusa guerreira reprovadora.

— Não é de estranhar que esteja tão decidido a descobri-lo.

— Exato. Mas basta de falar de Dalziel.

Seu ex-comandante cumprira seu propósito. Agora estavam sozinhos, muito

longe do salão de baile.

Ela piscou e olhou ao seu redor.

Esteve nos braços de Gervase antes que pudesse fazer nada mais que notar

que tinham chegado ao jardim de inverno de lady Moreston, um lugar quadrado de

vidro, sem parede por um lado e aberto ao jardim, com um par de delgadas

colunas de marfim emoldurando a vista.

Ao recordar seu propósito e a oposição dela, apoiou os braços em seu torso e

se jogou para trás fulminando-o com o olhar.

— Você me distraiu.

A acusação o fez sorrir.

— Sim. Admito. — Pegou-a com força com um só braço e ergueu a mão para

tocar com a gema do polegar o seu lábio inferior. Deixou-o palpitante. A seguir,

seus olhos, escuros a tênue luz, se ergueram até os dela. — E agora me

proponho... — moveu a mão, seus longos dedos lhe emolduraram a mandíbula e a

fizeram jogar a cabeça para trás ao mesmo tempo que aproximava os lábios aos

seus — distrai-la ainda mais.

Capítulo 6

Madeline tinha intenção de manter-se firme, negar-se a seguir seu jogo, mas

seu pecado inconfessável tinha outros planos.

Não importava o quanto se esforçasse para manter afastado de seu interesse,

para tirar-lhe importância, aquela parte mais aventureira de si mesma que raras

vezes deixava livre sabia a verdade.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Sabia quanto desejava descobrir mais, conhecer o desejo e a paixão que, com

seus braços rodeando-a e os lábios sobre os seus Gervase parecia levar ao limite.

Foi essa necessidade sua de explorar que a fez rodear-lhe o pescoço com os

braços e responder ao seu beijo, agarrar-se a ele em uma flagrante provocação,

totalmente surda aos protestos de sua mente racional.

A racionalidade e a prudência contaram pouco quando suas bocas se fundiram,

quando o beijo se fez mais profundo e o tempo desapareceu. Simples calor, desejo

e um anelo que brotava de sua alma; que a afetava de um modo como não havia

sentido antes, se inflamava, aumentava e a impulsionava a enroscar os dedos em

seus cabelos e agarrá-lo enquanto a mão de Gervase descia de sua mandíbula, lhe

roçava um seio e se fechava sobre ele.

Sob o cetim vermelho, um hábil dedo lhe rodeou um mamilo e Madeline

arquejou.

Aguardou, diante da borda do precipício, em esquiva tensão, desejosa de saber

mais.

Os lábios de Gervase abandonaram os seus. Por entre as pestanas, viu quando

ele baixou os olhos até onde sua mão abarcava a firme carne. Fechou os dedos

levemente e olhou-a nos olhos. Ao cabo de um instante, tornou a roçar-lhe os

lábios com os seus antes da afastar-se de novo.

— Tem curiosidade. — Seu tom soou como uma descoberta.

Madeline piscou surpresa e sussurrou:

— Como sabe?

— Posso saboreá-la.

A curiosidade teria sabor?

— Quer saber mais sobre isto. — Seus dedos tornaram a se mover.

Os nervos dela reagiram e ela estremeceu.

— Tenho de confessar-lhe uma coisa — continuou ele. Sua voz era grave, um

áspero sussurro. — Eu também quero saber. Desejo saber onde... — Seus dedos

arrancaram outra estremecida resposta de seu corpo — nos leva isto. Ontem, no

castelo, quando você insistiu em sair, quando você deu a volta e desceu a escada,

estive a ponto de carregá-la sobre um ombro e levá-la para minha cama.

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— Oh! — Uma parte totalmente lasciva de seu ser desejou que o tivesse feito.

— Sim. — Gervase fez uma pausa enquanto continuava acariciando com os

dedos e continuou: — Para que saiba que não é a única afetada, a única implicada

aqui.

“Prisioneira. Presa”.

E porque Gervase não o sabia.

Voltou a atraí-la aos seus braços, para seu beijo; ambos submergiram no

momento, nas vertiginosas sensações e na crescente necessidade até onde se

atreveram. Sendo como eram os dois e no lugar onde se encontravam, só podiam

chegar até ali.

Com verdadeira falta de vontade, levantou a cabeça e respirou, sentindo a

palpitação em suas veias, compulsiva, insistente, exigente. Percebeu o mesmo

nela. Viu que suas pestanas se agitavam e que voltava a fixar os olhos em seu

rosto.

— Mudou de opinião?

Madeline o olhou piscando surpresa diante da compreensão que surgiu em seu

olhar. Saiu do feitiço de ambos, não só dele, e se afastou de seus braços.

— Não.

Não esperava outra resposta, ainda não, mas apesar de sua resposta, seu tom

levemente confuso e não muito firme lhe levantou o ânimo. Estava fraquejando!

Mas a experiência advertiu a Gervase que ainda não chegara o momento de

pressioná-la. Teria que procurá-lo por vontade própria, por seus próprios motivos;

ela era esse tipo de mulher, uma dama independente.

Ficou muito sério e afirmou com calma:

— Nesse caso, será melhor que regressemos ao salão de baile.

---

Madeline não desejava regressar ao salão de baile, um fato que demonstrava

até que ponto seu pecado inconfessável havia superado ao seu bom juízo.

Enquanto subia a escada do castelo, na manhã seguinte, se repreendeu

severamente, outra vez. Disse a si própria, que sob nenhuma circunstância deveria

permitir que Gervase a abraçasse de novo. Enquanto seus braços a rodeavam, seu

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pecado inconfessável tomava o controle e a convertia em uma lasciva criatura a

qual simplesmente tinha que saber mais, muito mais do que estava convencida que

seria bom para ela.

Quando entrou decidida no vestíbulo principal, viu o mordomo de Gervase

aproximando-se.

— Bom dia Sitwell. — Deteve-se e tirou as luvas, enquanto o homem a

saudava com uma inclinação de cabeça. — Vim para ver o senhor. Onde posso

encontrá-lo?

— Estou aqui. — Gervase apareceu no corredor e disse ao mordomo: —

Obrigado, Sitwell. Chamarei se necessitar.

Quando ele se retirou, Gervase voltou-se para ela. Olhou-a nos olhos e viu a

determinada expressão no seu rosto. Seus lábios se curvaram em um sorriso

demasiado astuto para o gosto de Madeline.

— Dirigia-me para a biblioteca. Deseja me acompanhar?

Ela assentiu.

— Claro. — Manteve um tom cortante. — tenho certa informação que deveria

conhecer.

Gervase ergueu as sobrancelhas, mas não disse nada mais enquanto

caminhava ao seu lado pelo corredor e a fazia entrar na sala.

Madeline se aproximou da poltrona em frente à escrivaninha e, quando parou e

olhou para trás, descobriu-o junto ao seu ombro. Sentiu que um forte braço a

colhia pela cintura enquanto com a outra mão lhe erguia a cabeça para poder beijá-

la. Um beijo rápido, não muito exigente, nem tampouco enérgico, uma lembrança,

uma promessa. Uma completa e total distração.

Quando ele levantou a cabeça, ela o olhou surpresa, aturdida mentalmente

perdida. Gervase sorriu e a empurrou delicadamente para a poltrona.

— Sente-se e diga-me a que se deve sua visita.

Madeline se sentou enquanto lutava para por ordem em seus pensamentos,

que haviam sumido em um caos no mesmo instante em que ele a beijara... Não,

antes, quando percebeu que estava tão próximo.

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Gervase rodeou a mesa e sentou-se em sua poltrona. A satisfação que tentava

ocultar enquanto a olhava inquisitivo rompeu o feitiço.

Madeline inspirou.

— Trata-se do assunto das explorações minerais.

Uma vez que começou, não foi tão difícil. Explicou-lhe brevemente o que seus

irmãos tinham ouvido, e lhe transmitiu as informações que recebera de Londres.

— Ontem, quando Harry regressou a Helford e falou com o pai de Sam,

ocorreu-lhe perguntar de quem ouvira o rumor. Foi um vendedor ambulante, o pai

de Sam acreditava que o mais provável fosse que se dirigia ao festival. Assim, os

meninos decidiram segui-lo e ver o que poderiam descobrir. Encontraram o homem

na taberna em St. Keverne.

Olhou para Gervase. Todo o rastro de íntima emoção desaparecera de seu

rosto; estava atento ao seu relato como ela desejava.

— O vendedor disse que ouviu o comentário em uma taberna de Falmouth. E

que ali era voz corrente. Não sabia qual fora a fonte específica.

Gervase fez uma careta.

— Falmouth e com a frota em terra. Se alguém quisesse iniciar um boato

anônimo, bastariam alguns sussurros nos ouvidos dos marinheiros bêbados.

— Pensei isso. Supondo, claro, que esses rumores não se baseiem em fatos,

mas que esse cavalheiro londrinense ou seu representante os lançou para animar

as pessoas do lugar a vender suas explorações.

Ele deu uns golpezinhos sobre um monte de cartas empilhadas em um lado da

escrivaninha.

— Como os seus, meus contatos em Londres me confirmaram que não há

nenhum indício da diminuição do comércio de estanho, mas sim, uma expectativa

de maiores benefícios. Ficaram desconcertados porque não ouviram nada que

indicasse o contrário. Fora isso, eu também escrevi a St. Austell, o conde de

Lostwithiel, e ao visconde Torrington; suas propriedades estão perto de Bideford. —

olhou para Madeline. — Os dois possuem explorações minerais de estanho e são

membros do clube Bastion.

— Seu clube privado?

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Assentiu e pegou as duas cartas.

— Os dois responderam de um modo parecido. Não há indícios que exista

algum problema com a mineração do estanho, e se espera que aumentem os

benefícios. — Seus lábios se curvaram com pesar. — Claro, agora eles desejam

saber o motivo de minha consulta.

Tornou a deixar as cartas sobre a pilha.

Quando ergueu os olhos, viu Madeline com o olhar perdido em algum ponto

além de seu ombro.

— Ocorreu-me que, — murmurou ela — enquanto é improvável que nós da

aristocracia e os da alta burguesia vendamos baseando-nos em rumores; no

mínimo não sem confirmá-los com Londres, o mesmo não acontecerá com os

outros que possuem explorações, mas que não têm tão bons contatos nem estão

bem informados.

Olhou-o nos olhos.

— Se esse boato se espalhar e lhes fizerem uma oferta, é provável que os

pequenos granjeiros vendam.

Gervase assentiu. Madeline abaixou a cabeça, apertando a mandíbula, e

começou a colocar as luvas.

— Vou cavalgar até Helston e ver se posso localizar esse representante. Pedirei

que me explique esses boatos. Se não conseguir encontrá-lo, farei com que saiba

que desejo falar com ele sobre a venda de algumas explorações. Ergueu os olhos e

sorriu com frieza. — Isso deverá atraí-lo até minha porta.

Com as luvas já colocadas, levantou-se.

Gervase também se levantou. Nesse momento, recordou-lhe mais que nunca a

deusa guerreira.

— Irei com você.

Pode ser que ela fosse à substituta de seu irmão, mas ele era o conde, o nobre

de maior poder no distrito, um fato que Madeline reconheceu com uma inclinação

de cabeça e nenhum protesto.

Dez minutos mais tarde, galoparam juntos, rápidos e concentrados, sem

distrair-se. Madeline montava seu castanho e Gervase o Cruzader. Dirigiram-se ao

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norte através das colinas cobertas por grama dourada, uma carreira excitante,

compartilhada e despreocupada, até que, em muda sintonia, recordaram quem

eram eles e baixaram o ritmo, se desviaram para o noroeste, em direção a Helston.

Entraram na cidade pelo sul, trotando por um trecho de caminho recentemente

pavimentado.

— Vamos começar a procura pelo quadrante noroeste — disse Gervase olhando

para Madeline. — Por ali há mais tabernas.

Ela assentiu. Quando entraram na cidade caminharam com seus cavalos na

rédea e na hora seguinte, dedicaram-se a falar com sete donos de tabernas e

pousadas. Todos reconheceram o homem que o senhor Ridley havia descrito, todos

o viram pela cidade ou em seus locais, mas nenhum sabia quem era ou onde se

hospedava.

— Não. — John Quiller negou com a cabeça em resposta a pergunta de

Madeline. — Tampouco o vi acompanhado de outra pessoa. É reservado, mas

educado. Não tem inconveniente em falar, se unir a uma conversa se lhe

perguntar, mas claro, ninguém foi tão descarado para perguntar diretamente

porque ele está aqui.

Ela assentiu enquanto suspirava para si.

— Se tornar a vê-lo, John — disse Gervase pegando-a pelo braço, — diga-lhe

que gostaria de falar com ele. Que valerá a pena. Envie-o ao castelo.

— Sim. — O outro homem assentiu. — Eu o farei.

Quando a guiou fora do Cow e Whistle, Madeline considerou a possibilidade de

protestar pela usurpação de sua idéia, mas o descartou. Ela já tinha o bastante

para administrar as propriedades de Harry e com seus irmãos. E, além do mais, ele

era o nobre de maior poder. Era apropriado que lhe delegasse o assunto.

Pararam na calçada e Madeline observou a rua. Haviam perguntado na maioria

das tabernas e deram a volta até chegar de novo ao centro da cidade. Sentiu que

Gervase a observava e olhando-o, ergueu as sobrancelhas.

— O que foi?

Ele negou com a cabeça e voltou a pegá-la pelo braço.

— Estava esperando seu protesto, algum comentário sarcástico ao menos.

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Ela ergueu a cabeça com gesto régio enquanto avançavam pela rua.

— Decidi não fazê-lo.

— Ah.

O suave humor de seu tom apagou qualquer ofensa. De fato, impressionou-a

bastante que ele percebesse que estivera ofendendo-a.

Rodaram por Coinagehall Street, a rua principal da cidade; Gervase olhou ao

seu redor enquanto caminhavam.

— É hora do almoço. Porque não paramos para comer algo?

Indicou-lhe com a mão o Scales e Anchor, o principal restaurante na cidade,

que estava um pouco mais adiante e em cujos estábulos haviam deixado os

cavalos.

Madeline estava faminta depois da ocupada manhã e assentiu.

— A comida de Alice Tregonning é excelente.

— Bom, porque estou faminto. — Foram até lá e, uma vez na porta, Gervase

passou o braço diante dela e abriu.

---

Uma hora mais tarde, após uma comida tão excelente como Madeline havia

anunciado e animada por uma conversa relaxada que nenhum deles teve que

forçar, os dois saíram do restaurante com um afável bom humor.

Pararam na calçada enquanto seus olhos se adaptaram a luz brilhante do sol

depois da penumbra do salão, olharam ao seu redor e, finalmente, Gervase propôs:

— Vamos até o rio. — Coinagehall Street descia até a costa de Helford. — Se

bem me lembro, há duas pensões nos velhos molhes. Talvez nosso homem se

hospede em uma delas.

Madeline assentiu enquanto jogava para trás seus cabelos rebeldes.

— Vamos ver.

Por azar, nenhuma das senhoras das pensões havia visto o desconhecido.

Subiam devagar por Coinagehall Street para recolher os cavalos, quando ouviram o

chocalho de rodas de carruagem as suas costas.

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Eles olharam e viram um Landau aberto com um grupo de damas e cavalheiros

elegantemente vestidos, ao que parecia, procedentes de Londres, segundo revelava

seu estudado ar de sofisticado enfado.

Uma dama de cabelos escuros, sentada no centro do assento traseiro, com

uma sombrinha que protegia sua pálida pele, viu Gervase; estudou-o um instante e

logo se inclinou para frente e falou com o cocheiro.

A carruagem reduziu o ritmo e parou junto a eles dois, que se detiveram por

sua vez e se voltaram.

Madeline usava um traje de montar azul escuro; diferente do vestuário

convencional de amazona, não tinha cauda, mas a saia era bastante longa para que

necessitasse as duas mãos para erguê-la enquanto subiam pela empinada rua. Por

seu lado, Gervase não a segurava pelo braço, mas caminhava ao seu lado como se

fossem simples conhecidos.

A dama fechou a sombrinha e se inclinou para eles. Seu olhar se demorou nele,

depois se desviou para Madeline e sorriu.

— Boa tarde, sou lady Hardesty.

Você deve ser a senhorita Gascoigne. — A dama lhe estendeu a mão enluvada.

— Estava desejando conhecê-la, senhorita Gascoigne. Lamentavelmente, não tive

oportunidade de fazê-lo no chá do vicariato.

— Lady Hardesty. — Ela se aproximou da carruagem e tocou os dedos da

mulher com os seus também enluvados. Viu então que lady Hardesty desviava os

olhos para Gervase. — Creio que ainda não conhece lorde Crowhurst.

— Milorde. — Os olhos da dama cravaram-se nos dele e lhe susteve o olhar

quando Gervase tomou sua mão.

— Lady Hardesty. — Com uma expressão friamente distante, ele se inclinou

levemente e logo a soltou.

A mulher assinalou os demais ocupantes da carruagem.

— Permita-me apresentar-lhes...

Madeline trocou inclinações de cabeça saudando as outras damas e os dois

cavalheiros, um dos quais era lorde Courtland. As demais mulheres presentes

fixaram avidamente sua atenção em Gervase, o mesmo que sua anfitriã, deixando

a Madeline para o senhor Courtland e o senhor Fleming, que não ficaram atrás em

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seus esforços para dar-lhe conversa. Ou, como ela cinicamente suspeitou, para

ganhá-la.

— Talvez, — sugeriu o senhor Courtland — pudesse visitá-la...

Ela dedicou-lhe um sorriso distante no qual havia confiado durante anos para

acabar com as aspirações dos homens excessivamente entusiasmados.

— Minha tia é idosa. Raramente recebe visitas.

O sorriso de Courtland adquiriu um toque de desgosto.

— Não é a sua tia quem iria ver, querida.

Madeline lhe susteve o olhar e, devagar, deliberadamente, ergueu as

sobrancelhas. Sob seu penetrante olhar, Courtland se mexeu nervoso, logo um tom

rosa pouco favorecedor surgiu por debaixo do pescoço e foi subindo. Finalmente

Madeline se voltou para ver como Gervase se saia.

Percebeu que estava fazendo uma excelente imitação de um muro de pedra.

Sem dúvida, os rogos e incitações de lady Hardesty não o haviam

impressionado em absoluto. Olhava a dama com arrogância e com imperturbável ar

de superioridade. Os bons modos lhe impediam cortar a conversa, mas agora que

Madeline acabara a sua, olhou-a, se voltou para lady Hardesty e, com uma fria

cortesia, lhe disse:

— Penso que devemos ir. Temos pela frente um bom trajeto a cavalo. —

Alongou o braço para Madeline. Quando seus dedos se fecharam sobre ele, esta viu

a centelha de desgosto nos olhos escuros de lady Hardesty. Não estava acostumada

a ser recusada, mas foi demasiado prudente para pressionar.

Após uma inclinação de cabeça que se esforçou porque era elegante, a dama se

recostou em seu assento. Seu olhar se dirigiu então para Madeline e, para sua

surpresa, ela não detectou em seus olhos mais que um mero vestígio de enfado.

Estava muito claro que não a via como uma ameaça, como uma rival.

Depreciara-a como mulher, ou melhor, considerou-a pouca coisa para ter alguma

possibilidade de chamar a atenção de Gervase. Seu olhar foi desdenhoso, mas

totalmente falto de malícia, uma simples confirmação da experimentada avaliação

da dama e nada mais, pelo que Madeline ficou estupefata. Claro, conseguiu

pronunciar as frases adequadas quando os dois se despediram do grupo antes que

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ele a fizesse afastar-se da beirada da rua. Lady Harvesty se inclinou para frente

para falar com o cocheiro e voltou a olhar para Gervase.

— Nos veremos logo, milorde.

Com seus olhos escuros fixos nos dele, se recostou no seu assento. Quando a

carruagem se pôs em marcha, a dama abriu a sombrinha com o olhar para frente.

Observaram como se afastavam; Madeline olhou para Gervase e descobriu que

tinha os olhos apertados, fixos na carruagem. Hesitou, mas incapaz de resistir,

finalmente perguntou:

— Qual é seu veredicto?

Olhou-a brevemente e voltou a olhar o coche.

— Minhas irmãs têm razão — respondeu enquanto a apressava a avançar. —

Robert Hadersty cometeu um grave erro.

---

Gervase insistiu em acompanhá-la até Treleaver Park. A tarde já definhava

quando chegaram aos estábulos. Os rapazes saíram para recolher os cavalos.

Madeline desmontou, deslizando-se graciosamente até o solo e, quando se voltou

viu-o ao seu lado.

— Vamos. — Gervase lhe indicou que avançasse. — Acompanho você até a

casa antes de regressar ao castelo.

Ela acedeu com um gesto de cabeça.

Saíram do pátio dos estábulos e, com tácito acordo, reduziram o ritmo até

convertê-lo no próprio de um passeio. O caminho até a casa atravessava os jardins,

uma agradável e serpenteante trilha sob a dourada luz do entardecer.

Dos despenhadeiros, fora da vista, à direita, as ondas ressoavam como

distantes disparos de um canhão, sufocados pelo frondoso dossel das árvores. O

olor do mar não chegava tão longe, mas quando percorreram o caminho, os

aromas de lavanda, rosas e ervas recém cortadas se mesclaram e giraram ao seu

redor.

Caminharam em silêncio; apenas falaram coisas rotineiras, desde que se

despediram de lady Hardesty. Mas havia pouco que dizer, porque enquanto

percorreram as tabernas em busca da sua presa, aproveitaram a oportunidade para

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difundir sua própria opinião sobre as atuais perspectivas das minas locais de

estanho.

Fora isso, até que não falassem com o esquivo representante ou que o homem

se apresentasse diante de Gervase, eles não poderiam fazer nada mais. Quanto à

lady Hardesty...

Madeline deteve-se sob o caramanchão que levava ao roseiral. Mais para lá dos

arbustos em flor, encontrava-se a casa, com suas paredes de ladrilho vermelho

banhadas pelo sol e as brilhantes janelas de vitrais.

Os jardineiros haviam acabado sua jornada e já tinham guardado as

ferramentas. Não havia ninguém perto, nem uma alma a vista. Madeline deteve-se

em silêncio sob o caramanchão, consciente do homem que havia percorrido o longo

caminho atrás dela para parar às suas costas.

Lady Hardesty tinha ou não razão?

Até a pouco, a pergunta não a havia inquietado, se lhe ocorria, descartava-a

sarcasticamente. Mas é que até a pouco não tinha nenhum interesse em atrair a

nenhum homem e, para dizer a verdade, não se acreditava capaz de fazê-lo, não

uma vez que a conhecessem.

Ela era quem era. Uma solteirona de quase um metro e oitenta e vinte e oito

anos, com uma atitude inflexível e um propósito na vida que, em sua opinião,

descartava qualquer preliminar. Claro, até esse dia não se sentira menos mulher

por isso.

Seus sentidos reagiram ao notar que Gervase se aproximava mais e sentisse

seu calor as suas costas. Os pulmões se fecharam, sua respiração se acelerou

quando ele levantou uma mão para acariciar-lhe de um modo provocador, a lateral

do pescoço.

Madeline fechou os olhos, estremeceu e tentou respirar.

Gervase se inclinou então para ela e seus lábios substituíram seus dedos.

Tocou e percorreu, beijou levemente, com a carícia mais cativante e

provocante que nunca lhe fizeram antes.

— Já mudou de opinião?

Suas palavras fluíram em sua mente.

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Com os olhos fechados, Madeline inspirou profundamente. Cheirou a lavanda,

as rosas, as ervas e... A ele, o homem. O desconhecido, o perigoso, rodeado pelo

familiar. Abriu os olhos e se voltou para Gervase. Encontrou-se com seu olhar

âmbar e viu o calor latente em seus olhos de tigre.

— Não, ainda que... — baixou as vistas até seus lábios e umedeceu os seus. —

Estou aberta a persuasão.

Um risco, mas ao qual não podia deixar de assumir, já não.

Passou um segundo, logo dois. Mesmo sentindo a crescente intensidade de seu

olhar, se negou a levantar os olhos e encontrar-se com os dele.

Gervase sorriu, só um pouco, quase com ironia.

— Nesse caso...

Ele percorreu os poucos centímetros que os separavam e lhe cobriu os lábios

com os seus. Beijou-a e acolheu com agrado sua resposta quando ela respondeu. E

o desejo surgiu mais insistente e intenso, insatisfeito e crescente, evoluindo e

desenvolvendo-se, fazendo-se mais forte e profundo.

Gervase inclinou a cabeça e Madeline lhe rodeou o pescoço com os braços.

Suas bocas se fundiram, as línguas se enroscaram tentadoras, selvagens e

desinibidas. Aproximou-se dele, agarrou-se ao seu corpo e sentiu que lhe custava

respirar.

Gervase a rodeou com os braços e, como nas ocasiões anteriores, ela se

converteu em outra pessoa, ou talvez mostrasse quem verdadeiramente era. Já

não estava certa. Já não sabia nada, só existia o presente, a emoção, a excitação o

anelo.

Ele a levantou e girou com ela, voltando a deixá-la no chão um pouco mais

adiante, no caramanchão; Madeline compreendeu por que. Agora eles estavam

totalmente ocultos pela folhagem, ninguém poderia vê-los, a não ser que chegasse

pelo caminho e se aproximasse o suficiente, e como o caminho era de cascalho,

ouviriam com suficiente antecipação.

Assim, pois, quando os braços de Gervase se relaxaram e lhe percorreu as

costas com as mãos para fechá-las sobre seu traseiro, elevando-a contra ele, não

pôs nenhuma objeção.

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Em vez disso se regozijou plena de consciência que, no mínimo ele a desejava.

Não podia ignorar a evidência, colada ao seu estômago. Quando Gervase se

amassou contra ela e se moveu de um modo provocador, Madeline arquejou. Não

podia ter sido mais claro sobre o que desejava exatamente dela, com ela.

Nesse momento, uma vez refutada e descartada a opinião de lady Hardesty,

ela poderia ter retrocedido. Claro que essa idéia nem lhe passou pela cabeça.

Agora que estava em seus braços, beijando e sendo beijada, tinha outras

questões muito mais urgentes que atender. Como por exemplo, se havia algum

limite ao calor que surgia entre os dois, que, como uma chama, parecia esconder-

se, arder e logo os atravessava mediante as carícias dele, penetrando em sua pele,

em suas veias.

Até que ponto poderia arder? O suficiente para que desaparecessem seus ossos

junto com suas forças? O suficiente para reduzir a cinzas qualquer prudência e

cauterizar toda dúvida?

E o mais importante e tentador; o intenso desejo que agora impregnava sua

troca, mais profundo e real, era dele, dela ou dos dois?

Fosse o que fosse, possuía suficiente poder para impulsioná-lo, para deixá-los

arquejantes quando interromperam o beijo, para fazer seus sentidos desaparecer

em um caos ao fechar a mão sobre seu seio e massageá-lo; para deixá-la sem

fôlego, e desejar que continuasse quando seus dedos encontraram os botões que

fechavam seu corpete e, com destreza, os desabotoou; para fazê-la fechar os olhos

e jogar a cabeça para trás, presa em uma rede de expectativas quando lhe abriu o

corpete e deslizou a áspera mão sob a roupa.

Quando com um rápido puxão lhe abriu a camisola e a acariciou, os sentidos de

Madeline se paralisaram e ficou sem respiração.

Com um arquejo sufocado aproximou seus lábios aos de Gervase. Tinha de

beijá-lo profunda e apaixonadamente porque não poderia respirar se não fosse

através dele; e estava desesperada para conhecer, sentir, experimentar o prazer de

seu contato, a reverência e quase a adoração de seus dedos quando a percorreram

e a sondaram até, finalmente, tomar seu seio em sua palma ardente; pele contra

pele, e lhe oferecer tudo o que ela desejava e o que repentinamente necessitava.

Gervase estremeceu. A única coisa que desejava era saborear a firme carne

sob seus dedos, mas aquilo não poderia ser ali, não nesse momento. Morria de

vontade e sabia que as coisas só iriam ser piores. Muito piores.

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Era tão receptiva e desinibidamente ardente, tão desprovida de engano em seu

desejo, que ele só podia pensar em aplacá-la, em saciar sua sensual sede, a custo

da sua própria. Mas não podia permitir que aquilo fosse mais longe. Os dois

estavam em chamas, com o corpo quente e ansioso desejando muito mais que uma

carícia, mas mesmo sabendo exatamente o que necessitavam para saciar a intensa

fome que os devorava; sabia demasiado bem que não podia ser.

Sobretudo, não com Madeline, em vista do que ele desejava dela.

Retirar-se, frear a ambos e afastar-se do limite para o qual galoparam rápido

demais, era uma batalha que ia além de qualquer das que Gervase já lutara.

Conseguiu por pouco e só agarrando-a pelos ombros e afastando-a fisicamente

dele, interrompendo qualquer contato entre seus corpos.

Madeline o olhou surpresa, aturdida. Ele estava se acostumando a ver esse

olhar sensualmente perplexo em seus olhos, uma espécie de bálsamo para sua

ferida libido a qual lhe havia negado a presa que lhe correspondia por direito.

Nunca fora mais consciente da besta que habitava em seu interior, da força de

suas próprias paixões.

Que ela despertou algo que nenhuma outra mulher havia nem sequer roçado

era tanto uma maravilha como uma prova.

Os dois respiravam demasiado rápido. Gervase podia notar como o pulso lhe

martelava nos ouvidos.

Madeline piscou, seus olhos estavam cheios de confusão e incerteza. Ele

inspirou e se obrigou a afastar as mãos de seus ombros. Olhou-a nos olhos.

— Este não é o momento nem o lugar.

Sua voz soou profunda e áspera, mas ela ouviu as palavras e assentiu.

Inspirou, baixou os olhos e abotoou o corpete rapidamente. Quando voltou a olhá-

lo, tentou mostrar uma fria censura, mas seu olhar ainda era ardente.

Piscou, se ergueu, inclinou a cabeça e, sem palavras, deu meia volta e se

dirigiu para a casa.

Gervase a observou afastar-se. Com cada passo que dava, ficava mais difícil

não sorrir. Finalmente, se rendeu e sorriu.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Madeline não havia dito nada porque o que poderia dizer? Quando ela entrou

na casa, ele se voltou e regressou aos estábulos sorrindo e imaginando todas suas

possíveis réplicas, o que o levou a sorrir ainda mais.

---

Já avançada à noite, Helen, lady Hardesty, com os sentidos ainda acesos e a

respiração acelerada, se incorporou no banco de jardineiro sobre o qual seu amante

a havia feito inclinar-se.

Com os olhos apertados diante da tênue luz, acariciou a nacarada pele dos

seios inchados com os dedos. Ainda tinha os mamilos eretos e de um rosa mais

escuro, depois que ele os havia apertado e beliscado. Afivelou o vestido de noite

rapidamente. Com os braços as suas costas soltou a parte posterior da saia e das

anáguas de onde ele as havia segurado por cima da cintura e as sacudiu para

baixo.

Podia ouvi-lo atrás dela, na obscuridade, colocando-se a roupa também.

Sempre que se encontrava em um lugar fechado, nesse caso um derramado de

jardim que raras vezes se usava; oculto entre as frondosas árvores que cresciam

ao longo da costa do rio, ele insistia em deixar-lhe a descoberto os seios, as pernas

e o traseiro, enquanto que por sua parte se limitava a abrir as calças para tomá-la.

Claro que, como fazia isso com consciência e constância, não seria ela a

queixar-se. Os amantes como ele não eram comuns, um fato que Helen podia dar

fé e graças a sua longa experiência.

Ouvi-o se aproximar às suas costas. Uma mão de dedos longos lhe rodeou a

garganta e a acariciou com delicadeza, logo lhe roçou o seio com os lábios.

— Reúna-se comigo aqui amanhã à noite. — Sua voz soou profunda, sinistra,

com aquele toque de perigo que tentava a tantas damas abrir as pernas para ele.

Ela sabia que não era sua única amante, ainda que, nesse momento, era a mais

conveniente.

Também, ele tão pouco era seu único amante, mas sim o mais excitante.

Helen afogou um suspiro.

— Não posso entender porque não se hospeda em minha casa com os demais

hóspedes. Meus dormitórios estão ao final da ala ocidental, poderia compartilhar

meu leito. Posso lhe afirmar que Robert não será um problema.

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Olhou para trás e viu como seus lábios se curvaram.

— Tem que reconhecer que foi uma excelente escolha.

— Claro. — Em seguida, consciente da insinuação que havia atrás dessas

palavras, acrescentou: — Sempre estarei grata a você pela sugestão.

— E por indicar-lhe como caçá-lo.

Helen assentiu. Nisso também estivera inspirado. Uma dama empobrecida, que

aos vinte e oito anos era a ainda jovem viúva de um lorde arruinado que perdera

no jogo até o dote de sua esposa, além das propriedades; tinha poucas opções,

fora buscar um protetor rico.

E havia encontrado um; mas ele como um cavalheiro com profundo

conhecimento de seu mundo, compreendendo sua necessidade de segurança e

posição lhe mostrou como, na pessoa do jovem Robert Hardesty, poderia conseguir

seus objetivos.

Com seu talento, e seguindo os conselhos de seu protetor, seduzir Robert havia

sido um jogo de crianças e caçá-lo para casar-se com ele fora inclusive mais fácil. O

rapaz a adorava.

Sem duvida, o cavalheiro que agora estava de pé as suas costas poderia ter

informado a Robert que esse não era o modo de ganhar a devoção de sua agora

esposa.

Ele deslizou-lhe a mão pelos quadris até as nádegas cobertas de seda, e a

acariciou ociosamente. Com o olhar fixo na janela diante de si, Helen mordeu o

lábio inferior; seu amante nunca fazia nada por si.

— Em Helston Grange há convidados demais.

— Você me pediu que os convidasse. — Ele valorizava sua intimidade, mas

inclusive assim...

— Conhece-os a todos. Você os escolheu.

— Claro. São as desculpas que tenho para encontrar-me com você em

sociedade se o desejo e quando desejo. O que há de mais natural se, enquanto

visito a um parente já ancião na zona, me junte a sua reunião durante um dia ou

uma noitada? — Fez uma pausa e acrescentou: — Não. As coisas estão perfeitas

como estão. E tudo era obra sua, porque Helen nem sequer sabia onde se alojava,

nem tampouco podia averiguar se realmente existia esse parente ancião.

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— Oxalá o resto fosse tão bem.

Helen franziu o cenho.

— O que quer dizer?

— O barco que estou esperando ainda não chegou.

Seus dedos continuaram brincando, apalpando a firme carne. Ainda que suas

carícias se tornassem mais duras, impulsionadas por uma reprimida ira, foi seu

tom, imperturbável e frio, o que a fez sentir os nervos a flor da pele.

— Esperava-o há duas ou três noites, mas ainda não o avistei.

Seu tom se tornara mais cortante, bem diferente do suave que adotava

normalmente.

Tinha gênio. Helen só havia chegado a espiá-lo em fugazes momentos.

Não obstante, sabia que estava ali, formidável, aterrador. Era desapiedado,

totalmente desprovido dos sentimentos mais ternos e às vezes sua intensidade, sua

obsessão para fazer com que estes triunfassem, fazia-a sentir-se muito inquieta.

Engoliu a saliva e manteve o olhar fixo na obscuridade além da janela.

— Talvez pudesse perguntar e ver se alguém ouviu algo.

Ele guardou silêncio enquanto pensava. Finalmente respondeu:

— Ainda não. Mas quero o que esse barco transporta. É meu.

Suas trinta moedas de prata. Seu pagamento, sua última recompensa, também

seu último triunfo. Sua última vingança.

Queria-o, ansiava, quase podia saboreá-lo. Tão perto, mas não era seu, ainda

não estava em suas mãos, ainda não podia recrear-se nele.

— Quero essa mercadoria. — Baixou os olhos até seu perfeito perfil e dobrou os

dedos com mais força. — Mas não desejo arriscar-me a atrair nenhuma atenção

não desejada. Ainda não.

Irritava-o profundamente o fato de ainda ter de esconder-se, tramar e

conspirar para apanhar o que lhe correspondia por direito; ainda que tivesse

ganhado a guerra — essa guerra privada contra um poderoso inimigo que não o

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conhecia, e não porque não o houvesse tentado, — mas porque, apesar de tudo,

ainda temia demais ter de enfrentar-se a ele; de fato, sabia que nunca o poderia.

Seu rosto endureceu, agarrou-a com força e olhou como ficava sem respiração.

— Você entende?

Helen assentiu. Seu ―sim‖ soou sufocado.

Manteve-a ali, entre o prazer e a dor, deixando que o momento se prolongasse.

Ela quase podia ouvir seu pulso troando e notar sem problemas sua crescente

excitação.

Finalmente ele sorriu na obscuridade, afrouxou o agarre e lhe deu umas

palmadinhas na maltratada carne.

— Reúna-se aqui comigo amanhã à noite... Já veremos.

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Capítulo 7

Na tarde seguinte, Gervase entrou decidido no vestíbulo de Treleaver Park e

saudou com um gesto de cabeça a Milson, que havia aparecido para recebê-lo.

— A senhorita Gascoigne?

— Está no escritório, milorde. Deseja que o anuncie?

— Não é necessário. Conheço o caminho. — E dito isto, avançou pelo corredor

para o escritório. Enquanto caminhava, ia polindo os detalhes de seu plano.

Sabia que não podia esperar que Madeline o convidasse a seguir seduzindo-a,

sobretudo não depois do sucedido sob o caramanchão. Com qualquer dama

convencional, sua clara compatibilidade teria sido um estímulo, mas ela reagiria

reforçando suas defesas e baixando a ponte levadiça.

Ainda assim, estava se enfraquecendo e agora a conhecia bem. Sua

curiosidade era uma força tangível, bastante poderosa para vencer sua resistência

e, uma vez captada, se convertia em uma potente arma, muito mais eficaz, porque

trabalhava de dentro para fora.

Sua independência, sua falta de convencionalismo, era outra base que ele tinha

a seu favor. Uma vez que se visse impulsionada pela curiosidade de experimentar

algo novo, seu caráter garantia que considerações sobre o que era apropriado ou

como se deviam fazer as coisas tivessem poucas possibilidades de detê-la.

A união de sua curiosidade e sua independência havia dado lugar aquele

encontro no caramanchão. Havia chegado o momento de pressioná-la mais, de

aproveitar a brecha em suas defesas.

A porta do escritório estava aberta; deteve-se ali e sorriu ao contemplar

Madeline sentada atrás da escrivaninha, com a cabeça baixa e os livros de contas

abertos diante dela. A luz do sol entrava pelas janelas as suas costas e iluminava a

coroa de cabelos que, como sempre, escapava às restrições, para formar um halo

de cobre que lhe emoldurava o rosto.

Gervase era em geral silencioso, por isso não o ouvira aproximar-se. O que

podia ver de sua expressão lhe indicava que estava absorta em suas contas.

Reajustando rapidamente seu plano, entrou na sala e fechou a porta.

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Madeline ergueu os olhos, piscou e se levantou. Às suas costas, ele girou a

chave e o chiado da fechadura encheu o silêncio.

Quando sorriu e se dirigiu para a escrivaninha, ela abriu muito os olhos e

deixou a pena.

— Ah... Gervase. Há algo...

Voltou-se para ele quando rodeou a mesa e abriu ainda mais os olhos ao ver

que ele não parava. Com um joelho, Gervase empurrou para o lado a cadeira e,

finalmente se deteve, prendendo-a entre seu corpo e a escrivaninha.

— O que...? — Madeline inclinou-se para trás, mas logo se ergueu, ficando

tensa. O instinto de afastar-se dele foi compensado por sua vontade.

Gervase a olhou nos olhos, esforçando-se por manter uma expressão suave.

— Disse-me que tinha mais perguntas e eu vou respondê-las encantado.

Deixou que seu olhar descesse até seus lábios. Inclinou-se mais e os roçou com

os seus, não em um beijo, mas em um tentador contato. O suficiente para distraí-

la, mas quando retrocedeu um par de centímetros ela conseguiu livrar-se do efeito

e franziu o cenho.

— Sobre o festival, perguntas sobre o festival.

— Oh. — Infundiu à exclamação um tom de juvenil decepção. — Esperava... —

Tornou a acariciar-lhe os lábios com os seus, um pouco mais dessa vez, até que

sentiu sua resposta instintiva. Ergueu uma mão e lhe rodeou levemente o rosto

com os dedos. Segurando-a apenas, deslizou os lábios pelo seu queixo, roçou-lhe o

rosto, passou-o sobre a orelha e logo aspirou, enchendo os pulmões com seu

aroma enquanto fechava os olhos e deixava escapar o alento suavemente sobre o

sensível oco sob a orelha.

Com a outra mão a pegou levemente pela cintura e sentiu sua reação, a rápida

inspiração, o estremecimento de fascinada expectativa, o despertar da curiosidade.

Sorriu para si e murmurou:

— Esperava... — retrocedeu o suficiente para olhá-la nos olhos — descobrir a

reposta a uma pergunta que me tem atormentado desde a última vez que nos

vimos.

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Seus olhos de um verde brilhante estudaram os dele; seus lábios exuberantes

estavam abertos e os umedeceu antes de sussurrar:

— O que?

Quando sentiu que as mãos de Gervase se moviam entre os dois, baixou os

olhos. Ficou sem ar nos pulmões, a cabeça começou a dar voltas enquanto

observava como seus rápidos dedos lhe desabotoavam os diminutos botões do

corpete do vestido.

Estavam de pé em seu escritório, com o sol vespertino banhando-os e ele

estava descobrindo-lhe os seios e só Deus sabia com que intenção.

Deveria detê-lo, podia detê-lo.

Mas não se moveu. Engoliu a saliva, incapaz de afastar os olhos de seus dedos,

do inchaço dos seios que estava descobrindo rapidamente.

— Qual era a sua pergunta?

— Preciso saber, estou ardendo de desejo de saber... — Com seu corpete

aberto e os seios nus, Gervase tomou um deles, lhe passou o polegar com

delicadeza, tentadoramente, pelo mamilo e observou-o como endurecia.

Madeline ergueu os olhos até seu rosto; não podia respirar. Seus traços nunca

pareceram mais duros e rígidos, mais claramente dominados pela paixão refreada.

— Qual será seu sabor.

As intensas palavras penetraram em sua mente devagar; quando finalmente

lhe chegaram, piscou e baixou os olhos, mas nesse momento Gervase ergueu os

seus e a beijou. Não como havia feito no passado, de forma que perdesse a cabeça

e a capacidade de pensar por completo, mas levemente, de um modo

tranqüilizador, cativante, suplicante, em um patente rogo; de forma que enquanto

seus lábios sugavam os dela, pudesse sentir a mão em seu seio e apreciar

totalmente cada provocadora carícia, como cada contato lhe chegava até o mais

fundo.

— Vai deixar que eu descubra a resposta?

Suas palavras se deslizaram por seus lábios e atravessaram seu cérebro.

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Não havia nada que pudesse dizer ou fazer, a não ser permitir-lhe que tomasse

o que desejava; fechar os olhos e deixar que acontecesse quando lhe roçou a

mandíbula com os lábios e inclinou a cabeça.

Ao sentir como seus lábios desciam por seu pescoço, estremeceu e Gervase se

deteve como se houvesse notado. Essa era toda a resposta e a permissão que

necessitava.

Madeline sentiu que sua cabeça descia ainda mais.

Com os olhos fechados com força, arquejou; ele a fez inclinar-se para trás com

a mão que a segurava pela cintura. A seguir, colou os lábios quentes na parte

superior de seu seio e Madeline estremeceu, perdeu o contato com o mundo

quando com os lábios, a língua e os dentes e com a ardente umidade de sua boca,

saboreou e descobriu.

E por sua vez ensinou-a.

As sensações que lhe provocou eram muito mais intensas do que imaginava

que poderiam ser; e a percorreu, atravessou e a atormentou. Com a boca em seu

seio, a fez adentrar em um novo mundo de calor, paixão e um desejo mais

profundo, intenso, poderoso e aditivo.

Seus sentidos adormecidos durante tanto tempo despertaram, sedentos e se

regozijaram com a recompensa de deleite que sentiu.

Gervase a levantou e Madeline se viu sobre a escrivaninha, estendida em meio

dos livros de contas. Tinha as pernas abertas e as cadeiras dele entre elas.

Inclinou-se sobre seu corpo. De fato, a própria Madeline lhe havia colhido a cabeça

para apertá-lo mais enquanto devorava, sem pressa, buscava a resposta a sua

pergunta e se inundava de prazer, que foi aumentando até que ela começou a

torcer-se levemente quando o calor se elevou, quando a paixão assumiu o controle

e aquele indescritível anelo se tornou mais insistente.

Gervase se deteve e Madeline sentiu sua respiração, tão entrecortada e

arquejante como a sua, estender-se sobre sua carne inchada e a sensibilizada pele.

De repente, ele fechou a mão sobre seu seio, com um contato mais duro e

desesperado. Logo ergueu a cabeça, e submergiu-a em um beijo mais acalorado.

Isso sim conhecia e reconhecia.

Madeline abriu seus sentidos e se deixou levar pelo momento, acumulou todas

as sensações que ele lhe oferecia e sentiu que seu mundo cambaleava.

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Gervase grunhiu algo através do beijo, cada vez mais voraz. Afastou a mão de

seu seio, mas para alívio de Madeline, não de seu corpo. Desceu, reclamou

possessivamente seu estômago e sua cintura, suas cadeiras e o ventre, seus

músculos. Agarrou-a brevemente, logo soltou o tenso músculo e deslizou a mão até

a união de suas pernas.

Tocou-a através do fino tecido do vestido, roçando com a seda da camisola

aquela sensível carne. Ela estremeceu e segurando-o com mais força através do

beijo, o tentou, desafiou com a língua, cambaleou sensualmente quando ele

respondeu com uma devastadora invasão que a deixou presa, e que a empurrou

até um indefinível cume.

De repente, percebeu que eram seus dedos que a acariciavam com astúcia e

destreza entre as pernas; o que fazia com que se sentisse assim, com que lhe

parecesse como se o seu mundo, o mundo o qual a arrastara, estivesse a ponto de

acabar, de entrar em erupção, de fazer-se em cacos.

E aconteceu.

Gervase soube no instante em que lhe sobreveio o clímax, tão poderoso, tão

intenso que a cabeça lhe deu voltas. Ele interrompeu o beijo e a observou, viu

como a paixão lhe endureceu os traços, como chegou e logo se fraturou para ser

substituída por uma potente onda de satisfação.

Continuou empapando-se de sua imagem, das adoráveis linhas de seu rosto

quando se relaxaram, enquanto se sentia secretamente vitorioso por ser o primeiro

a ter provocado essa expressão em particular. E disse para si que também seria o

único.

Não tivera a intenção que esse encontro, esse último movimento em sua

campanha fosse tão longe. Mas não lamentava em absoluto o que havia acontecido.

A curiosidade e a boa disposição de Madeline eram os aspectos chave e ele teve de

ajustar seu ritmo e adaptar-se, coisa que, graças ao céu, significava que estava

mais perto do êxito e da liberação, do que estivera uma hora antes.

Madeline agitou as pestanas e abriu os olhos. Durante um longo momento,

ficou olhando-o aturdida.

Gervase ocultou um sorriso de satisfação, mas não pode evitar que seu olhar

descesse e se demorasse primeiro nos lábios – inchados por seus apaixonados

beijos — e logo baixassem ainda mais para sua cremosa pele, agora corada, até os

seus seios tensos e com as reveladoras marcas de sua posse.

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Teve de esforçar-se para que tudo o que sentia diante dessa imagem não se

refletisse no seu rosto. Com um suspiro que lhe permitiu escutar, retrocedeu e se

ergueu. Pegou-a pelas mãos e a ajudou a se incorporar até que voltou a ficar de pé

no chão. Os dois olharam a escrivaninha, os livros de contas e documentos agora

espalhados em um caos na superfície.

Gervase lhe rodeou a nuca com uma mão e levantou-lhe o rosto, com o polegar

sob o queixo, olhou-a nos olhos um momento antes de inclinar-se e a beijá-la

longa, lenta e profundamente, mas com a paixão bem freada.

Finalmente, interrompeu o beijo, soltou-a e lhe acariciou o lábio inferior com o

polegar.

— Nos veremos amanhã à noite. No momento será melhor que te deixe com

seus assuntos.

Madeline ficou olhando-o, mas Gervase se limitou a sorrir. Voltou-se e se

dirigiu à porta. Notou a distraída confusão de seu olhar enquanto, claramente

atônita, o observava sair.

Quando fechou aporta, seu sorriso se tornou um gesto ardente. Cavalgar

excitado não era sua idéia de prazer, mas com um pouco de sorte o final de sua

campanha estava perto.

---

Ela não era uma mulher lasciva.

Já tarde, nessa mesma noite, quando o resto dos habitantes da casa se deitara,

Madeline permanecia sentada diante de seu toucador, nervosa, escovando os

cabelos.

Espontaneamente, seu olhar desceu até seus seios, decorosamente ocultos sob

o fino linho da camisola.

Nunca antes havia acreditado que eles fossem grande coisa, mas ele parecia

fascinado e, fora meticuloso em sua exploração...

Piscou, inspirou bruscamente e ficou olhando com atenção a prova de que só

pensar nele, a simples recordação do que experimentara essa tarde graças à perícia

de Gervase bastava para excitá-la de novo, era suficiente para fazer que seus seios

se inchassem e os mamilos ficassem duros.

Quanto ao resto dela...

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Juntou os músculos com força e tornou a se fixar no espelho. Não se sentia

uma mulher lasciva, mas em seus braços, se abandonava, perdia todo o bom juízo.

Convertia-se em uma criatura escrava dos sentidos.

Nunca fora assim antes.

Não sabia como era essa parte de si mesma e não sabia até onde poderia levá-

la o fato de descobrir mais de si mesma; não sabia da existência dessa parte da

sua natureza inegavelmente feminina que nunca explorara; e não imaginava ficar

sem descobrir mais, porque no fundo de seu coração e de sua mente também,

sabia que não se sentiria satisfeita enquanto não o fizesse.

Por muito que o fato de ter cedido ao objetivo fixado por Gervase fosse contra

seus princípios, não tinha nenhuma dúvida que em sua cama encontraria resposta

a todas as suas perguntas.

— Por muito que preferisse não dar-lhe o orgulho — fixou o olhar em seu

reflexo no espelho e conversou com ele — com quem mais irei aprender?

Um argumento contundente. Mesmo o fato de que após vinte e oito anos, ele

era o único homem que a estimulava desse modo e despertava a sensual mulher

que havia em seu interior; era também o único, homem em quem podia imaginar-

se confiando o suficiente para ir além. Não estava de todo certa do motivo, mas era

assim; essa confiança era muito profunda, além de todo pensamento ou questão.

As escovadas nos cabelos a desacelerou até o final. Ficou olhando seu reflexo e

apertou os olhos.

— Nunca em minha vida fui puritana.

Deixou a escova e levantou-se. Observou no espelho, todo o comprimento de

seu corpo, a ondulante mata de cabelos, as exuberantes curvas dos seios e dos

quadris não de todo ocultas sob a fina camisola.

Estudou a imagem e finalmente ergueu a cabeça.

— Muito bem, milorde. Amanhã à noite.

Inclinou-se para frente, apagou a luz e se deitou.

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Sabiam que se veriam em Caterham House. Madeline chegou primeiro. Vestida

com um vestido de seda verde lima, andou pelo salão, impaciente e nervosa. Uma

vez decidida, desejava avançar. A festa de lady Caterham era um acontecimento

anual; não havia baile, mas todas as famílias locais de renome assistiam e nesse

momento enchiam o salão e se espalhavam pelo terraço.

Ainda que estivesse acostumada a assistir eventos desse tipo e conversar com

seus vizinhos de boa vontade, nessa noite Madeline sentia-se demasiado nervosa

para relaxar-se com sua habitual rotina. Nessa noite falar sobre as minas de

estanho não lhe despertava nenhum interesse.

Por sorte, com tanta gente era improvável que alguém observasse seu

comportamento tão anômalo.

— Senhorita Gascoigne... Voltamos a encontrar-nos.

Madeline virou-se e descobriu o senhor Courtland inclinando-se diante dela.

Estendeu-lhe a mão e teve que suportar que lhe apertasse os dedos mais

significativamente do que o apropriado.

— Boa noite. Presumo que lady Hardesty honra Caterham House com sua

presença esta noite?

O homem piscou. Sem saber se havia uma observação mordaz no comentário,

respondeu com cuidado:

— Lady Caterham teve a amabilidade de convidar lady Hardesty e estender o

convite aos seus hóspedes.

— Ela sempre convida todas as pessoas que são alguém na zona, e

naturalmente isso inclui qualquer hóspede que se hospede aqui. Sem dúvida, meu

comentário despertou a surpresa de que tivessem aceitado o convite.

— Isto — indicou com um gesto da mão o lugar lotado — não pode comparar-

se com os acontecimentos londrinenses.

Mais seguro agora de sua atitude crítica, Courtland fez uma pausa e disse:

— Começamos a aborrecer-nos, assim... — Encolheu os ombros.

Assim, eles compareceram para ver se podiam divertir-se à custa das pessoas

do lugar.

Madeline resmungou para si.

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Recordou lady Hardesty e sua opinião sobre sua própria pessoa, uma mais

desses locais.

A pura malícia a fez sorrir ao senhor Courtland, que piscou surpreso.

— Talvez pudéssemos reunir-nos com lady Hardesty. Não tivemos muitas

oportunidades de conversar.

Mesmo receoso, ele lhe ofereceu o braço de imediato. Madeline o aceitou e

permitiu que a guiasse entre a multidão ao lugar onde estava Lady Hardesty que se

convertera no centro da atenção.

Madeline reconheceu que era uma mulher atraente.

Usava os reluzentes cabelos negros presos em uns engenhosos cachos sobre a

cabeça e seu vestido de cetim azul estava na última moda.

As duas eram mais ou menos da mesma idade, e quando se uniu ao seu círculo

lady Hardesty lhe sorriu em um gesto de saudação educado. Madeline viu que seu

rosto parecia um pouco enrugado, como se, apesar dos cremes e poções que com

certeza usava, mostrava sua pele suave, mas maltratada, apesar das safiras que

levava ao redor do pescoço.

A dama a saudou com sincera amabilidade e lhe apresentou o resto do círculo;

todos eram de Londres, convidados seus, mas não via Robert Hardesty em

nenhuma parte.

Findas as apresentações e as saudações, lady Hardesty lhe dedicou um

conturbado olhar.

— Senhorita Gascoigne, confesso que lhe agradeço muito que tenha quebrado

o gelo. — Soltou uma gargalhada. — Estou começando a pensar que terei que viver

aqui anos antes que os habitantes do lugar se mostrem cordiais comigo.

Ela se absteve de mencionar que o fato de rodear-se de seus amigos de

Londres não facilitaria a aproximação.

— Não tanto tempo. Logo o farão. — Olhou a mulher nos olhos. — Uma vez

que a conheçam bem. — Deteve-se e acrescentou: — E você a nós...

Lady Hardesty piscou. Quando o senhor Courtland fez um comentário,

Madeline se voltou para ouvir, mas de imediato a distraiu a visão de uma escura

cabeça de cabelos encaracolados do outro lado do salão. Como era bem alta para

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ver por cima da multidão, observou como Gervase a localizava e iniciava o longo

processo de aproximação.

Esperou conversando educadamente, muito consciente do seu avanço.

Percebeu o momento em que ele notou com quem estava e hesitou.

Quase olhou para onde Gervase estava, mas ele tinha a intenção de ir ao seu

encontro e não queria parecer tão em xeque e ansiosa.

Não obstante, de repente, ali estava pegando-lhe a mão, colocando-se ao seu

lado sem problemas, saudando aos demais com uma gélida e distante cortesia tão

imprópria de sua habitual amabilidade que Madeline esteve a ponto de voltar-se

para olhá-lo fixamente.

— Alegra-me tanto que se una a nós, milorde... — O sorriso de saudação que

lady Hardesty lhe dedicou foi muito mais intenso do que o dirigido a Madeline. —

Como dizia à senhorita Gascoigne, estou ansiosa para conhecer melhor os

habitantes da zona.

— Sério? — Gervase captou o evidente convite de seus olhos e não sentiu nada

mais que desgosto. Porque Madeline parou logo ali se o salão estava lotado de

convidados?

— Dizem que você mora num castelo de verdade, milorde. — A senhorita

Bildwell se inclinou para o círculo, quase lhe piscando. — Deve ser tão romântico...

— Muitos acreditam isso, mas a realidade é lamentavelmente branda. — O tom

que usou estava destinado a acabar com qualquer intenção de perguntar se

poderiam visitar o castelo e mais ainda deixar claro que se unira ao grupo com uma

única razão; voltou-se para Madeline: — Querida, Sybil deseja falar com você se

puder dedicar-lhe um momento.

Ela o olhou surpresa, mas o que viu em seus olhos deixou claro seu mau

humor.

— Claro, — permitiu que lhe colocasse a mão que não soltara, em seu cotovelo,

voltou-se para lady Hardesty e inclinou a cabeça com elegância. Se nos

desculparem...

Para surpresa de Gervase, a dama ficou olhando Madeline como se acabasse de

vê-la pela primeira vez; quase um metro e oitenta de deliciosas curvas envoltas em

seda. Não tinha nem idéia de como alguém podia passar por alto de sua deusa

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guerreira, mas após esse momento de assombro, lady Hardesty conseguiu esboçar

um sorriso e inclinar a cabeça com a suficiente graça em resposta.

Com uma olhada geral aos demais, um mínimo educado, Gervase afastou-se

levando Madeline pelo braço. Enquanto a guiava pelo salão, ela o olhou. —

Suponho que Sybil não tem nem idéia que deseja falar comigo.

— Não. — Por cima do mar de cabeças, ele examinou o lugar. — Simplesmente

não vi nenhuma razão para perder meu tempo ou o seu nessa companhia.

Totalmente de acordo, Madeline sorriu e olhou a frente.

— Aonde me leva?

Gervase a olhou e reduziu o ritmo.

— Aonde gostaria de ir?

Ela o olhou por sua vez e respondeu sem mais:

— A um lugar privado.

Ele viu que falava sério e contestou:

— Uma idéia excelente.

A nota de determinação que impregnou na sua profunda voz a atravessou com

um estremecimento de antecipação.

— Ao terraço.

— Há muitos convidados lá fora.

— Não onde estou pensando.

Convencida que se demonstraria estar equivocado, Madeline suspirou para si e

deixou que a guiasse para as portas abertas que levavam a longa varanda.

Seu avanço foi interrompido por numerosos conhecidos que lhes faziam sinais

para saudá-los e contar-lhes as últimas fofocas locais. Custou-lhes meia hora

chegar até o terraço e outros quinze minutos para livrarem-se do grupo de

convidados aglomerados justo do outro lado das portas, aproveitando a agradável e

temperada noite.

Finalmente, Gervase voltou a colocar a mão sobre seu braço e avançou para

longe do salão. O terraço cobria todo um lado da casa.

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Mesmo tendo assistido a muitas festas de lady Catrham, Madeline nunca

explorara esse lado e muito menos havia dobrado a esquina do fundo.

Quando, após uma rápida olhada para trás, Gervase a fez virar por ali, ela se

deteve surpresa. O terraço parecia terminar em uma curva ao final da mesma, mas

na realidade a curva rodeava a esquina e formava um patamar sobre outro trecho

de degraus que desciam aos jardins.

Agora se encontravam nesse patamar, fora da vista dos convidados reunidos

perto do salão e também ocultos aos que se aventuravam até os prados.

Madeline sorriu.

— Perfeito.

Voltou-se para Gervase e se entregou aos seus braços, que a estavam

esperando, muito dispostos a recebê-la, do mesmo modo que os lábios que

aguardavam para encontrar os seus.

Madeline lhe entregou sua boca, grudou-se a ele, submergiu no beijo e se viu

absorvida no instante no já familiar mundo, cada vez mais turbulento e cheio de

desejo reprimido, de brilhante paixão apenas contida. Entregou-se a esse calor, no

momento, ao que veria e ao que desejava. Como um intenso vento, o desejo surgiu

e a dominou, prendeu, envolveu. Lançada a um mar de perplexa necessidade,

cedeu à urgência, fundiu as mãos nos cabelos dele, se agarrou a sua presença e

respondeu ao seu beijo com todo o fogo que, de repente, descobriu que guardava

em seu interior.

Gervase cambaleou mentalmente diante do assalto, ao encontrar-se de repente

inundado pelo calor e pelas chamas que lambiam com genuína cobiça seu corpo

seguindo as mãos dela.

Maldisse para si e lhe chegou a vontade de segurá-la, de acabar com aquela

tortura antes que começasse, mas para isso teria que soltá-la e afastá-la de seus

braços, afastar as palmas de suas exuberantes curvas, da ávida e acalorada

exploração que repentina e inesperadamente se tornara mútua.

Não pode fazê-lo. Não pode deixar de responder ao flagrante convite que ela

lhe fazia com os lábios, a língua e com seu fabuloso corpo. Madeline se moveu, se

agarrou mais a ele e seu controle — o que restava dele – soçobrou.

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Pensou que teria de persuadi-la, de fazer uso do seu talento para convencê-la.

Esperava que ainda se mostrasse receosa, hesitante no melhor dos casos, que

tivesse que enrolá-la...

Em troca, se encontrou esforçando-se para segui-la.

Não esperava que se rendesse com tanta facilidade, que cedesse... Mas

enquanto enroscava a língua descaradamente com a dele, sentia suas mãos sob a

jaqueta acariciando seu torso e percebeu que não era esse o caso.

Madeline não tinha cedido nem mudara de opinião. Não ia aceitar sua tática, só

estava seguindo a sua própria. Decidira que o desejava.

Algo parecido ao canto dos anjos ressoou triunfal em sua cabeça. Mas não teve

tempo para saborear o triunfo, ainda não, porque viu que após dizer o que queria,

ela estava totalmente decidida a consegui-lo, coisa que normalmente a ele não

havia nenhum problema, a menos que...

Os pensamentos giraram em sua cabeça, fragmentados, desconectados, mas

muito claros para ver o perigo. Madeline não estava destinada a ser — não fora

criada para ser — uma mulher tomada às pressas.

Lamentavelmente como suas ações estavam demonstrando com eficácia, ela

não sabia. Cada lascivo movimento seu só derrubava sua intenção; estava disposta

a fazer com que ele a tomasse.

Tentar lutar contra sua reação diante desse descobrimento uma vez que lutava

contra ela era quase impossível.

Quando Gervase interrompeu o beijo e tomou uma desesperada inspiração,

ouviu-a grunhir, uma advertência decidida e ronronante. Ela o fez retroceder até

golpear a parede com os ombros. Estava em cima dele, usando seu peso para

prendê-lo. Poderia afastá-la sem problemas, resistir se fosse capaz de reunir uma

grande força de vontade. Em troca, limitou-se a arquejar e grunhir para si quando

Madeline lhe rodeou o rosto com as mãos e o beijou. Selvagem, desenfreada, tão

abandonada como ele sabia que se mostraria.

Podia sentir o acelerado pulso em seu próprio sangue, já estava duro e essa

insistente palpitação só iria tornar-se mais compulsiva e difícil de ignorar.

Sobretudo diante da ânsia dela, desse desejo tão claro e eficazmente

transmitido.

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Custou-lhe um grande esforço de vontade, uma decisão que ele não sabia

possuir e obrigar suas mãos a afastar-se, procurar e segurar as de Madeline e

então, antes que ela pudesse pensar em alguma objeção, voltar-se e fazê-la se

virar de forma a deixá-la presa.

O beijo de Madeline se tornou mais ávido; Gervase tinha que interrompê-lo e

levantar a cabeça antes que a sensual sereia que até o momento, não havia

percebido, que tinha em seu interior, voltasse a prendê-lo.

Durante um longo momento ficou ali de pé, arquejante, respirando com

dificuldade, esperando que a cabeça deixasse de dar voltas. Tinha-a presa à parede

com as mãos apoiadas em ambos os lados de sua cabeça. Sua boca e seus olhos

estavam a poucos centímetros dos seus.

Madeline umedeceu os lábios e devagar, abriu os olhos e o olhou.

— Por que...? Oh. — Estudou seu semblante. — Suponho que deveria dizer-lhe.

Eu mudei de opinião.

Se ele não estivesse tão anelante teria soltado alguma gracinha, mas se limitou

a grunhir.

— Isso eu deduzi.

Ela tombou a cabeça.

— Então, porque você parou?

— Porque não podemos ir mais longe, não nesse momento nem nesse lugar.

Pareceu confusa.

— Há umas tantas salas nesta casa. Estou certa que poderemos encontrar uma

adequada para nosso propósito.

Gervase apertou os lábios e negou com a cabeça.

Madeline apertou os olhos.

— Por quê?

Havia uma nota de desgosto em sua voz que lhe indicava que seria melhor que

tivesse uma excelente resposta. Por sorte ele a tinha. Voltou a inclinar-se sobre ela,

permitiu-lhe sentir seu peso e tomou seus lábios com delicadeza, de um modo

cativante, mas o contato não foi suficiente para satisfazer a nenhum dos dois.

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Acabando com a tortura, abriu os olhos, esperou que ela fizesse o mesmo e a

olhou.

— Porque te quero nua sob meu corpo e desejo ter tempo, e com isso me refiro

a várias horas, para saborear sua conquista.

Ela voltou a apertar os olhos e abriu a boca. Gervase não teve nenhuma dúvida

que o fazia para protestar, de modo que engoliu um grunhido e a cobriu com a sua

e a reclamou.

Não poderia defender o que sabia que deveria ser assim, quando todos os

músculos de seu corpo se sublevaram contra sua auto-imposta proibição.

Madeline respondeu descaradamente ao seu calor, ao seu fogo, com o seu

próprio; não tinha nada contra a opinião de Gervase, só sua organização.

Poderiam tomar horas... Na próxima vez. Essa em troca... Fora a Caterham

House decidida a descobrir tudo; ao menos o essencial, do que desejava saber e

não estava disposta a retirar-se sem consegui-lo até certo ponto, motivo pelo qual

se apertou contra ele, tentou grudar-se em seu corpo e livrar uma mão, mas com

isso não conseguiu nada exceto sentir sua reação a pressão de seu corpo.

Madeline se moveu contra ele, se contorceu de um lado e outro, esfregando o

corpete de seda contra sua jaqueta, e conseguiu deslizar a pelve por cima da

longitude de sua ereção.

Gervase se jogou para trás o suficiente para grunhir:

— Tem alguma idéia...? — começou e tornou a beijá-la.

Claro que não tinha; isso era o que tinha ido ali para aprender.

Antes que pudesse fazer algo, ele levantou-lhe as mãos por cima da cabeça e

as segurou com uma das suas. A que ficou livre a abaixou até seu seio, que cobriu

e apertou.

Madeline arquejou e empurrou o firme montículo a sua palma. Gervase fez

caso e o massageou. A seguir, através da seda, buscou e encontrou seu mamilo e o

acariciou e apertou entre as pontas dos dedos.

Deliciosas pontadas de sensações a atravessaram e correram como fogo entre

suas veias para concentrar-se em seu estomago. Ele continuou dedicando atenções

ao seu seio até o calor se converter em fogo, e Madeline começar a mexer as

cadeiras contra ele.

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Gervase hesitou ainda submerso em sua boca e deslizou a língua devagar

sobre a sua. Finalmente lhe soltou o seio, abaixou a mão pelas costelas até a

cintura e percorreu-lhe a curvatura das nádegas seguindo pelo músculo até onde

pode alcançar.

Agarrou a saia, subiu-a e passou a mão por baixo, acariciando a pele nua.

Madeline arquejou e estremeceu.

Ele subiu mais, percorreu seu músculo com a palma e os dedos por cima das

ligas, onde sua sedosa pele estava quente ao seu contato.

Apesar de sua experiência, não esperava semelhante deleite tátil; Madeline

cavalgava diariamente, tinha músculos firmes e fortes que prometiam uma

selvagem cavalgada de um tipo muito diferente. A textura de cetim de sua pele

tornou mais fascinante pela força feminina que sentia debaixo dela.

Notar aquela pele sob sua mão, para acariciá-la a sua vontade, seduziu e

enfraqueceu sutilmente sua resolução. Fez o instinto de Gervase anular sua mente.

Já não estava pensando quando sua mão subiu; perdeu o contato com seus

pensamentos racionais quando seus dedos se encontraram com os cachos do

vértice dos músculos dela.

Acariciou, tocou, deslizou as gemas dos dedos em busca da suave carne oculta

sob o velo. E a encontrou. Acariciou e roçou impulsionado a continuar por sua

intensa resposta, pela feroz necessidade que a dominou, que reverteu nele quando

o beijou vorazmente. Impaciente.

Esse último deixou muito claro quando se moveu como uma sereia contra seu

corpo, agarrando-se provocativa a sua mão.

Gervase notou a abrasadora umidade que ele mesmo havia provocado,

impactante para fazer que recuperasse parte dos sentidos, para captar claramente

seu desejo.

Com os lábios ainda sobre os seus, traçou círculos com seus dedos, acariciou e

prometeu, ainda que não oferecesse. Obrigou-se a pensar o melhor que pode.

Tinha traçado um limite, mas não o encontrava, não conseguia pensar em

nenhuma razão para negar-lhe aquilo, a satisfação de sua imediata necessidade.

Madeline estava se desesperando, pelo que ele respondeu: introduziu os dedos

no resvaladiço refugio, em seu interior. Com um dedo abriu sua entrada e

submergiu mais, penetrou-a até onde pode alcançar.

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Inclusive afogado por seus lábios, pode ouvir o provocador arquejo, sentiu

como lhe cravou as unhas ao dobrar os dedos e agarrar-lhe a mão que a segurava,

com as suas, como seu corpo se arqueou, grudada a ele.

Gervase ficou imóvel um momento, permitindo que sentisse e que se

acostumasse à sensação do dedo em seu interior. Depois a acariciou sem pressa,

profundamente, repetidas vezes. Ainda que tentasse, não conseguiu recuperar a

respiração; em menos de um minuto, Madeline estremeceu, se fez em mil pedaços

e se deixou levar.

Ela o liberou do beijo. Respirando entrecortadamente e com os olhos fechados

se deixou cair contra a parede.

Gervase observou seu rosto enquanto com o dedo ainda submerso em seu

interior, saboreava suas rítmicas contrações, sua liberação; graças à difusa luz da

lua, podia ver seus traços, mas era impossível ver qualquer expressão em seus

olhos que ainda mantinha fechados.

Ele sabia que devia mover-se, retirar a mão dos seus músculos e descer-lhe a

saia, antes que recuperasse os sentidos, o suficiente e o pressionasse para seguir

além. Mas... Ironicamente, o impactou o próprio fato que tivesse de enfrentar-se a

seus instintos mais primários; não só para retirar a mão, mas para deixar que a

saia caísse e afastar-se dela até que os dois voltassem a respirar — em lugar de

satisfazer o atávico imperativo da besta interior, que rugia e ansiava por subir-lhe

mais a saia, levantá-la e fazê-la sua.

Isso o levou a tomar plena consciência.

Desde quando se via impulsionado pelo desejo? Ver-se sujeito a aquele anelo,

dominado por ele, era uma fraqueza a qual nunca havia sucumbido. A fria

racionalidade sempre havia sido seu santo e sinal, inclusive, sobretudo em todos os

assuntos sexuais. Nunca em toda sua considerável experiência, a ânsia, a

necessidade sexual, sua besta interior com a qual parecia se conectar diretamente

fora tão excruciante; nunca tivera que lutar contra o impulso de soltar as rédeas e

tomar a força e devorar.

O descobrimento do quão perto estivera disso, de que ainda corria o risco de

fazê-lo, o assustava.

Madeline abriu os olhos e o fitou.

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Gervase lhe soltou as mãos, mas quando ela baixou os braços, não pode

resistir a entrelaçar os dedos com os seus.

Inclusive sob aquela tênue luz, viu-a franzir o cenho.

Umedeceu os lábios e, com uma extraordinária imperiosidade perguntou:

— E então?

Sustendo-lhe o olhar, percebendo o abrasador calor que ainda havia atrás

dessas palavras, a força que o atraia, Gervase se obrigou a erguer as sobrancelhas

em resposta.

— E então o que?

Devia agarrar-se a fria superioridade de Madeline.

Madeline olhou-o confusa.

— Não vai a...? — Com a mão livre, assinalou fracamente aos dois.

Estava agindo por instinto, estivera o tempo todo. Ainda que sua experiência

nesse campo fosse praticamente inexistente, sabia que ele havia renunciado ao ato

principal.

Devido a sua determinação para saber, e por saber naquela mesma noite, não

estava precisamente contente.

Gervase retrocedeu, aumentando a distância entre eles. Manteve as

sobrancelhas erguidas e a expressão impassível.

— Já lhe falei que não é o momento nem o lugar. Se desejar experimentar

mais há um preço, ao qual terá que estar disposta a pagar.

Detectando claramente o desafio em seu tom, Madeline apertou os olhos.

— Pensei que seu objetivo fosse seduzir-me.

Ele curvou os lábios em um tenso sorriso.

— E é.

— Então, qual o problema em fazê-lo aqui e agora? Tenho certeza que se

podem cumprir os requisitos, porque estou claramente disposta.

Gervase a estudou um longo momento e negou com a cabeça.

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— Não, não com você. Com você a sedução equivale a horas de dedicado

intercambio em um lugar propício para a tarefa.

Ela não podia apertar mais os olhos.

Por um breve momento, considerou balançar-se sobre ele, mas Gervase ainda

a segurava pela mão e através de seu agarre, pode notar sua resistência, a tensão,

a determinação a negar-lhe qualquer outra coisa mais e não ficava dúvida que era

mais forte e mais experimentado.

Perder um pulso com ele não melhoraria seu humor.

Levantou a cabeça.

— Onde? — Seu tom foi tão frio e firme como o dele. — E quando?

Gervase não sorriu. Madeline não viu um só indício de arrogância nele.

— Amanhã pela tarde, às duas. Espero você onde no caminho paralelo aos

penhascos que se cruza com o que desce até Castle Cove.

Ela refletiu e finalmente assentiu.

— Muito bem. — Afastou-se da parede, aliviada ao descobrir que tinha

recuperado o controle de suas pernas. Fez com que lhe soltasse a mão, voltou-se e

se encaminhou para a curva do terraço.

Gervase a seguiu e quando eles viraram a esquina, Madeline confirmou com

arrogância:

— Amanhã nos penhascos de Castle Cove.

Ela tivera a intenção de dizer a última palavra, mas enquanto andavam para a

aglomeração de convidados fora do salão, Gervase murmurou em voz baixa e

profunda, impregnada de uma pecaminosa promessa:

— Estarei lhe esperando.

Lutando contra o sensual estremecimento que lhe provocou seu tom, para não

falar de suas palavras, Madeline aceitou a derrota e manteve os lábios fechados.

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Capítulo 8

Às duas horas em ponto do dia seguinte, Gervase sentou-se sobre uma rocha

plana no começo do caminho que descia para Castle Cove. Segurava as rédeas de

Crusader enquanto o grande cavalo cinza comia a erva perto. Contemplou o mar,

as longas ondas que avançavam ondulantes para banhar com delicadeza a areia.

Nesse dia, seu rugido estava apagado até ficar reduzido a um suave chiado.

Tentou não pensar na antecipação, que deixava seu estômago apertado, nem

no inesperado medo que, uma vez longe dele e com tempo para pensar, Madeline

mudasse de opinião.

Chegou aos seus ouvidos o som dos cascos de um cavalo, regular e repetitivo;

ao mesmo tempo em que se voltou para olhar quem se aproximava, recordou-se de

quantas pessoas cavalgavam pelo caminho dos penhascos diariamente.

Mas era ela. Seus cabelos descobertos a identificava sem margem de erro

como mulher e o fato de cavalgar montada em um grande e poderoso cavalo

castanho, confirmava sua identidade.

À medida que se aproximava, reduziu o ritmo até avançar a um passo lento.

Gervase levantou-se, pegou o lanche e segurou o animal enquanto Madeline

desmontava e se aproximava rodeando a cabeça do cavalo.

Usava uma longa saia de montar sobre as calças com uma jaqueta combinando

em cima de uma blusa de linho. Como estavam em pleno verão, a jaqueta, a saia e

as calças eram de tecido leve manchado de azul real. Como sempre, alguns cachos

de seus finos cabelos castanho acobreado conseguiram escapar e lhe emolduravam

o rosto.

Gervase percorreu sua face.

— Não tinha certeza se viria. — A confissão saiu de seus lábios antes que

pudesse sequer pensar.

Madeline ergueu as sobrancelhas.

— Fui eu quem te pediu este... Encontro. — Estudou-o por sua vez. —

Acreditou que voltaria atrás?

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— Acreditei que talvez pensasse melhor. — Guiou o Cruzader até colocá-lo

junto ao cavalo dela, lhe assinalou o caminho com a mão e começou a andar.

Madeline soltou um suave sopro e caminhou ao seu lado.

— Bem, pois aqui estou. Aonde vamos?

Gervase olhou-a nos olhos, mas assinalou para frente, abaixo, pelo caminho

inclinado.

Ela olhou e só então recordou o galpão para os botes do castelo. Era quase tão

antigo como a própria fortaleza, construído com a mesma pedra tosca sobre uma

plataforma rochosa natural que sobressaia do penhasco por cima da linha da maré

alta.

A diferença da maioria dos embarcadouros desse tipo é que tinha pisos.

A planta baixa dispunha de portas duplas como as dos celeiros que levavam ao

mar, com pesadas vigas e polias para levantar e pegar as embarcações da água ou

baixá-las até ela. No nível superior havia um balcão que ficava por cima das vigas

que seguravam a polia.

Não havia nenhuma escada exterior que subisse, mas a diferença da planta

baixa, que não tinha janela, no piso de cima havia muitas, que davam ao balcão e a

ambos os lados. A parte posterior do galpão estava dirigida para o penhasco.

Não ficava longe.

Saíram do caminho, dirigiram-se ao saliente e ataram os cavalos em um

espaço resguardado entre a construção e o penhasco. Quando Madeline acabou de

atar as rédeas de Artur, Gervase a pegou pela mão e a levou até uma porta na

parede lateral. Estava fechada, mas levava a chave presa a um cadeado. Abriu a

porta, deixou-a passar e logo a fechou.

A planta baixa estava escura e desaparecida em sombras. Com todas as

aberturas fechadas, a única luz procedia de cima, além da escada.

Madeline olhou ao seu redor. Viu que havia quatro embarcações de tamanhos

diferentes e diversas polias e cordas penduradas de cima. As mais próximas das

portas eram duas barcas de remos.

Gervase viu que as olhava.

— Quando levei seus irmãos a navegar, usamos o veleiro, o de casco azul.

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Ela olhou então uma das embarcações maiores. Tinha um mastro, nesse

momento com as velas arriadas.

Ele soltou-lhe a mão e se dirigiu a escada.

— Vamos para cima. — Olhou-a brevemente antes de começar a subir. — Este

lugar sempre foi uma espécie de refúgio. Meu pai o mobiliou de novo para minha

mãe. Durante anos foi seu lugar.

Madeline subiu atrás dele. A escada era feita de tabuas de madeira muito

polida e ao chegar acima olhou ao seu redor com muita surpresa. O lugar não era o

que havia esperado. Soltou-se da mão de Gervase e o percorreu devagar, atraída

pelas amplas janelas que davam para o mar.

Como se houvesse ouvido sua muda pergunta explicou:

— Minha mãe era uma artista. Adorava pintar o mar.

Havia caros tapetes sobre o solo e o mobiliário era de excelente qualidade,

todo em escura madeira para que combinasse com o entorno. Havia assentos,

tanto cômodas poltronas como cadeiras de respaldo alto com fofas almofadas, e um

aparador junto à parede com três livros deixados da qualquer modo, como se

alguém os tivesse levado ali para lê-los. Em um lugar junto às janelas orientadas

para o mar havia um cavalete de madeira pregado, apoiado na parede e coberto

por uma tela manchada de pintura.

Sem duvida, tudo isso era secundário.

Dominando o lugar, o principal foco de atenção, colocado em um lugar de

honra, com os pés em ângulo com as janelas, era um amplo canapé com um grosso

colchão e muitas almofadas. Em uma mesa auxiliar havia uma cesta de frutas e

uma licoreira tapada, cheia de vinho da cor do mel.

O lugar estava limpo e cheirava a ar fresco. Não havia uma só nota de pó sobre

aquelas superfícies de madeira tão brilhantes.

Aproximou-se das janelas e contemplou as ondas. Depois se virou e estudou de

novo o lugar. Era fácil ver porque uma artista se encantava com esse lugar. A luz

era tão intensa quanto espetacular e variava com os diferentes estados do mar.

Madeline olhou para Gervase de novo. Percorreu-o inteiro, de cima a baixo.

Estava parado junto ao canapé.

— Seu pai devia compreender muito bem a sua mãe.

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— Ele a adorava. — Com os olhos fixos nos dela, acrescentou: — Eu tinha

catorze anos quando ela morreu, assim, recordo-os bem, recordo-me de vê-los

juntos, sobretudo aqui... Meu pai amava também a Sybil, mas não era o mesmo.

Minha mãe era seu sol, sua lua e suas estrelas e ela o amava igualmente.

Madeline o observou. Quando ele lhe estendeu uma mão e lhe indicou que se

aproximasse, hesitou, mas logo começou a avançar para ele.

— Deve ser... Reconfortante ter essas recordações.

Gervase pegou-lhe a mão quando se aproximou.

— Você não se lembra da sua mãe?

Madeline negou com a cabeça.

— Ela morreu quando eu tinha três anos. Tenho vaga recordação dela, mas

nenhum de meus pais juntos. — Quando ele a atraiu para si, Madeline olhou ao seu

redor uma última vez. — E então... — Sentiu a dificuldade de respirar que havia

ameaçado afetá-la desde que se reunira a ele sobre os penhascos. — De quem é

esse lugar agora?

Os braços de Gervase se fecharam ao seu redor e a olhou nos olhos. Sorriu.

— Meu. — Atraiu-a para ele e abaixou a cabeça. — Ninguém vem aqui, só eu.

E agora, ela. Quando lhe roçou os lábios com os seus e a beijou com confiança,

Madeline se deu conta que havia escolhido como cenário para sua sedução aquele

lugar especial, no qual o amor de seus pais ainda perdurava, ao menos para ele.

Foi seu último pensamento coerente, antes da pressão dos lábios e o impacto

da sua proximidade, dos braços que a apertavam e das mãos que a acariciavam, a

prendessem em uma rede de sensações; dos lábios e língua que a tentavam, dos

beijos que prometiam o que viria a seguir, de carícias que insinuavam com

delicadeza, mas também com firmeza e subornavam seu sentido comum.

Curiosamente, não sentiu nenhuma inquietação; contra o que ela havia

imaginado, não teve nenhuma dúvida. Dormira bem essa noite e havia despertado

calma e centrada, feliz de saber que esse momento — e os que se seguiriam —

estavam a ponto de chegar.

Que passaria a dourada tarde em sua companhia e aprenderia o que ele lhe iria

mostrar e, portanto, experimentaria com Gervase o que pensava que nunca iria

experimentar; toda aquela proibida gloria.

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O beijo a fez entrar em um mundo familiar e o seguiu de boa vontade.

Durante longos momentos nos quais suas bocas se fundiram e suas línguas se

acariciaram descaradamente; sentiu que ele não necessitava reconfortar a ela e

sim a si mesmo, confirmar que não se limitava a estar ali, fisicamente em seus

braços, mas que se entregava a seu plano comum.

Por ter conseguido, Madeline sorriu em troca, levantou os braços, fundiu

devagar os dedos nos seus cabelos e deixou que seus sentidos se deliciassem com

os cachos curtos. Depois lhe agarrou a cabeça e lhe devolveu o beijo.

Uma simples demanda sem adornos que Gervase compreendeu perfeitamente.

Ela sentiu como lhe custava mais respirar quando captou o que queria

transmitir-lhe, notou a mudança nele, o endurecimento de seus músculos, a tensão

que fluía por eles enquanto lhe respondia, reagia igualmente impotente diante do

calor que surgiu entre os dois.

Ele interrompeu o beijo e levantou a cabeça. Seu olhar prendeu o dela

enquanto, entre seus corpos, seus dedos hábeis desabotoaram rapidamente os

botões que lhe fechavam a jaqueta. Quando o último se soltou, Madeline a tirou e

deixou cair ao solo sem se importar onde.

Os lábios de Gervase, tensos em uma linha que agora ela reconhecia, se

curvaram um pouco nas comissuras quando baixou os olhos e se concentrou nos

botões menores da blusa.

Ela não disse nada, se limitou a observar seu rosto e sentiu como o prendia no

momento. Gervase lhe abriu a blusa, deteve-se com os olhos fixos no que havia se

revelado, inspirou com mais dificuldade do que Madeline havia esperado e deslizou

a peça pelos ombros, passando-lhe as palmas pela parte superior dos braços e

descendo até os punhos.

Enquanto ela desabotoava os diminutos botões dos punhos, ele acariciou-lhe os

seios cobertos, mas em absoluto ocultos pela fina seda da camisola. Suas mãos os

aqueceram, abarcando-os levemente. Cada carícia era um tormento, demasiado

leve para satisfazê-la. Tinha os pulmões paralisados quando tirou a blusa, que caiu

as suas costas. Levantou os braços para ele e Gervase sorriu ao mesmo tempo em

que a apertava e tomava sua boca em um longo beijo que a fez estremecer com

crescente desejo.

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Sentiu o puxão na cintura quando lhe soltou os laços da saia enquanto a

mantinha presa pelo beijo, submergindo-a em um caldeirão de ardente desejo que

mexia e crescia sem parar.

Finalmente, notou que lhe descia a saia pelas cadeiras e que caia aos seus pés.

Imediatamente os dedos de Gervase buscaram e encontraram os laços que

seguravam as calças de montar. Com a mesma perícia se encarregou deles e

interrompeu o beijo. Deu um passo para trás, abaixou a cabeça e lhe beijou um

mamilo coberto pela seda antes de ficar em frente a ela. Baixou-lhe as calças... E

sorriu de novo.

— Usa calções. Já me havia perguntado.

O inesperado comentário a fez rir, mas estava tão concentrada em observar

como ele a desnudava... Ou melhor, como o desenvolvia. Porque havia uma

insinuação de descobertas largamente antecipado em seu rosto, habitualmente

impassível; seus traços já não eram tão indecifráveis quando se via dominado pelo

desejo e as emoções que o acompanhavam.

Baixou-lhe as calças até os tornozelos e depois seguiu com as ligas e as meias

para logo tirar-lhe as botas quando ela, sem necessidade alguma, levantou um pé e

depois o outro.

Gervase deixou a roupa de lado, e Madeline descalça sobre as brilhantes tabuas

de madeira. A seguir ele se jogou para trás, sentou-se sobre os saltos e ergueu os

olhos para contemplar o seu rosto.

Apesar da estatura dela, ele era tão alto que o rosto ficava a altura do seu.

Madeline baixou os olhos e ergueu as sobrancelhas perguntando o que faria então.

Gervaze deslizou o olhar lentamente até seus seios, seguiu até sua cintura e

sorriu. Alongou a mão para os laços de seda que lhe seguravam os calções.

Ela pensou que nunca esqueceria aquele sorriso. Levantou uma mão e lhe

enroscou os dedos nos cabelos enquanto observava Gervase. Custava-lhe respirar.

Os nervos se agitaram, a pele corou e esquentou. O coração batia mais rápido e

forte.

Ele sentiu que lhe despenteava levemente os cabelos com os dedos e

compreendeu a muda incitação. Ela seguia ao seu lado, incondicionalmente, ainda

que o seguisse as cegas.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Madeline não sabia o que ele iria fazer; por muito que fosse seu conhecimento

teórico, duvidava que pudesse sabê-lo.

Além do mais Gervase não havia planejado o encontro.

Havia pensado nele muito freqüentemente, mas havia sido incapaz de ver

como isso afetaria os dois. Foi incapaz de prever suas próprias reações e muito

menos as de Madeline, para traçar um plano em qualquer nível.

Assim estava agindo por instinto, puro e sem restrições, seguindo alguma guia

interior e não estava certo se compreendia tudo.

Quando o nó ao qual havia se dedicado se desfez, deixou escapar o ar preso

em seus pulmões e o renovou com uma inspiração mais superficial, enfiou os dedos

pela cintura e baixou a suave peça.

Quase ao mesmo tempo, se colocou em pé e lhe deslizou uma palma pela parte

posterior, do joelho para cima, enquanto se incorporava e se aproximava de

Madeline, numa longa e provocadora carícia; percorrendo sem pressa a parte

posterior dos músculos e acabando por baixo da camisola, onde fechou a mão

sobre uma nádega, pele com pele e a puxou contra ele. Com a outra mão lhe

rodeou o rosto e beijou-a como estivera desejando beijá-la, esperando beijá-la, há

dias, de um modo possessivo.

Já não havia nenhuma necessidade de ocultar o que sentia por ela e o que ela

provocava nele. Estava ali e seria sua. Já não tinha nenhuma dúvida a respeito.

Beijou-a apaixonadamente até deixar que sua besta interior se fartasse. Quando

Madeline tremeu e arquejou, se jogou para trás, afastou a mão de seu traseiro para

rodear-lhe a cintura com o braço e fixar o olhar nos seios agitados.

Retrocedeu o suficiente para desfazer o laço da camisola, enfiar os dedos sob o

franzido do decote e abri-lo.

Deixou deslizar a peça pelos eretos mamilos e lhe baixou o fino tecido até a

cintura.

A seguir, afastou o braço e a beijou mais até que lhe resvalou com os dedos e

caiu ao solo. O som foi um sussurro de rendição que Madeline ouviu e a fez

estremecer.

Com os olhos fixos no rosto dele, as mãos em seus cabelos, estudou seus olhos

e lambeu os lábios inchados.

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— Agora você.

Gervase a olhou, mas seus olhos desceram e se fixaram em seus seios.

Tocara e saboreara-os, mas até esse momento não os havia apreciado por

completo. Sentiu como ela inspirava novamente.

— Em seguida. — Levantou a mão para tocá-la levemente, para observar como

o mamilo endurecia ainda mais. — Em um momento.

Madeline ficou sem respiração.

Gervase afrouxou o braço que lhe rodeava a cintura, certificando-se que ela

podia suster-se e baixou as mãos.

— Deixe-me olhar-te.

Ele deu um passo atrás, depois outro.

Tinha fechado os olhos ante sua dolorosa ereção, mas... Toda sua consciência,

seus olhos, sua mente e sentidos estavam demasiado fascinados, presos pela visão

que tinha diante de si.

Desde o primeiro momento em que havia se fixado nela, sabia que seria

escultural, que nua pareceria uma deusa romana, cheia de curvas e soberba. Mas

suas roupas ocultavam seus encantos, bem mais do que Gervase havia imaginado.

Madeline era muito mais do que esperava. O bastante para fazê-lo perder a

cabeça, roubar-lhe o ar e fixar nela ate o ultimo ápice de consciência e atenção.

Nesse momento só vivia para apreciar, adorar e contemplar sua beleza. Seus

seios eram firmes, perfeitamente formados e imponentes, com a pele cremosa e

com mamilos de um suave rosa.

Mais abaixo, seu torso se estreitava até uma cintura surpreendentemente

pequena, uma cintura que quase poderia abarcar com as mãos. A curva das

cadeiras e a sutil ondulação do firme estômago era a personificação da perfeição

feminina, totalmente proporcionados com sua altura, com suas longas e bem

torneadas pernas.

Permanecia de pé diante dele, não exatamente relaxada, ainda que sem

nenhuma falsa modéstia e muito menos vergonha.

Tombou a cabeça enquanto uma pergunta se refletia em seus olhos e começou

a levantar uma mão.

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— Espere, por favor... — disse Gervase, que umedeceu os lábios secos. —

Fique aí e deixe-me admirá-la.

Madeline ergueu as sobrancelhas, mas baixou a mão.

Ele inspirou fortemente e girou ao seu redor enquanto acariciava com o olhar

centímetro por centímetro, cada curva enquanto absorvia cada faceta, cada

perspectiva e deixava a imaginação enriquecer sua paixão e seu desejo. Sua

necessidade.

Herdara de sua mãe a visão artística suficiente para apreciar o jogo de luzes

sobre a delicada pele, as curvas beijadas por aquele resplendor quase sobrenatural,

nacarado e precioso.

Parou às suas costas e aproximou os dedos do coque, que já estava meio

desmanchado. As presilhas caíram ao chão quando soltou a pesada cabeleira,

sentindo o sedoso toque nas mãos, levou-os ao rosto, inalou seu perfume

profundamente. Inclinou-se para frente com cuidado de não tocar-lhe a pele com

as mãos, ainda não, e lhe acariciou o seio com os lábios. Percorreu os brilhantes

cachos com as mãos, deixando que caíssem pelos ombros.

— É... Indescritivelmente formosa. — Sussurrou-lhe as palavras ao ouvido e

retrocedeu.

Obrigou-se a dar um passo para trás, para admirá-la e estudá-la. Esse

momento, essa inocência dela e a dele, nunca se repetiriam. Devagar, continuou

rodeando-a e deu graças a todos os anjos que conhecia por ela não ser acanhada.

Ainda que o observasse enquanto a contemplava, permaneceu calma e não fez

nenhuma tentativa de se cobrir.

Os acobreados cabelos ondulados que cobriam seu monte de Venus refletia a

luz, brilhava como o metal, ocultando um tesouro que ele desejava ver, tocar,

acariciar. Possuir.

Madeline o observou quando tornou a colocar-se de frente para ela. Com os

olhos havia seguido as expressões de seu rosto e ficara cativada com o que havia

visto nele, gravado em seus traços e proclamado em seus olhos âmbar.

Sentiu seu ardente olhar roçando sua pele nua. Se alguém lhe tivesse dito,

uma hora antes, que concordaria em ficar nua enquanto Gervase a examinava teria

rido. Mas por aquele olhar em sua pele nua teria caminhado sobre brasas ardentes.

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Sabia que ela e seu corpo, podiam atrair sua atenção e excitá-lo, mas o que

não sabia era que ela e seu corpo pudessem afetá-lo até esse ponto e inspirar essa

vontade de sincera e muda reverência.

Sobretudo não dele, de um homem tão experiente. E inclusive a surpreendia

ainda mais que lhe permitisse ver tão claramente o quanto estava admirado.

Como ele lhe fez um presente e lhe proporcionou um valioso prazer.

Quando parou diante dela, Madeline alongou as mãos até as golas de sua

jaqueta.

— Toque-me.

“Toque-me.” Gervase olhou-a nos olhos, viu sua determinação e cedeu. Não

tinha mais pudor que ela, não nesse caso, não nesse momento, não entre eles dois.

E a impaciência, aquela reveladora tensão, o dominou. Não esperou passivamente

enquanto Madeline lhe tirava a roupa, mas a tirou ele mesmo; sentou-se com o

torso descoberto para tirar as botas e as meias, logo se levantou e desabotoou o

cinturão, baixou as calças e as jogou para um lado.

Uma vez nu, não esteve disposto a ficar de pé e permitir que ela o examinasse,

e enquanto se ergueu, alongou o braço e a atraiu para si.

Madeline arquejou. Todos e cada um dos ossos de seu corpo se derreteram

ante o contato. Agarrou-se aos seus ombros, o assombroso calor de sua pele nua

fez arder a dela. Seus peitos ficaram colados ao quente muro daquele torso, com os

mamilos eretos, sumamente sensíveis quando o cacheado véu que cobria seus

tensos músculos os roçou.

Tinha as cadeiras firmemente apoiadas contra aqueles músculos duros como

pedras e suas ásperas mãos agarravam seu traseiro, segurando-a ali, de modo que

sua ereção ardia contra a firme proteção de seu ventre.

Gervase abaixou a cabeça, buscou seus lábios e tomou posse deles, de sua

boca, de seu corpo, dela.

Madeline não sabia o que esperar, mas nunca imaginara aquele calor, o puro

estado selvagem que afetava a ambos; que os percorria sem restrições e acendia

fogos que consumiam e reduziam a cinzas qualquer reserva que ela pudesse

abrigar e acabaram com qualquer hesitação e a substituíram por um desejo voraz.

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A deflagração o afetou do mesmo modo. Suas mãos estavam por toda parte,

exigentes e apaixonadas. Seu patente desejo confrontou o dela, aumentou e o fez

surgir como uma onda que a arrastou para o interior de um turbulento mar de

ardente paixão, de frenético desejo, daquela ávida necessidade.

Madeline se agarrou a ele e o beijou apaixonadamente, deixou seu corpo falar

em seu lugar e o modo como respondeu ao seu contato cada vez mais frenético e a

cada possessiva carícia gritava sua disposição e o urgente desespero, o que não fez

mais que alimentar o desejo dele.

Gervase a levantou e estendeu-a sobre o canapé seguindo-a tão perto, que

seus lábios apenas se separaram para que ela respirasse. Madeline se deleitou ao

notar seu duro corpo junto a ela. Virou-se e rodeou-lhe uma perna com a sua para

poder apertá-lo melhor contra ela. Para saborear melhor a dura força dos músculos

em toda sua longitude, sentir a muralha de seu torso contra os seios quando ele se

colocou em cima e a colou a cama.

Suas bocas se fundiram de novo e nenhum dos dois tinha vontade de se privar

daquele contato e do prazer das línguas se entrelaçando. Quando as mãos de

Gervase encontraram seus seios, sua atenção se desviou para esse contato, para a

natureza do mesmo, uma culminante posse. Massageou-os descaradamente com

seus dedos travessos buscando os mamilos. Madeline arquejou. Ele continuou

brincando brevemente, aumentando com destreza a tensão em seu interior até que

impulsionada por insuportável deleite e consumida pelo fogo de ambos suplicou

uma liberação.

Suas mãos abandonaram seus seios e desceram pelas costelas e cintura até as

cadeiras, que rodearam e deslizaram mais abaixo.

Um duro músculo fez que os dela se abrissem, deixando-a exposta e

vulnerável, desesperada, urgente e ávida de seu contato. Quando ele a abarcou

com a mão e seus dedos abriram suas pregas e encontraram sua umidade, ela

soluçou.

Sentia os pulmões tão tensos que não conseguia respirar, se não através dele.

Fechou os dedos em seus cabelos, grudou-se a ele que com os lábios e língua o

animou a continuar.

Gervase não necessitava que o animasse porque já estava profundamente

submergido no feitiço da paixão, mais perto de sentir-se subjugado do que jamais

estivera.

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Imaginou que esse primeiro encontro seria lento, uma delicada iniciação

durante a qual guiaria Madeline pelo caminho da intimidade e da satisfação sensual.

Em troca, havia calor e fogo abrasador, uma paixão além de tudo o que já havia

experimentado e uma necessidade tão profunda que, se ela não estivesse tão

claramente disposta, controlar aquilo o teria feito cair de joelhos.

Devia tomá-la, tinha que estar no seu interior, fazê-la sua; essa era a única

direção a que sua mente e claro seu corpo parecia capaz de aceitar. Quente e

urgente e tinha que ser assim.

Quando submergiu um dedo em seu interior e a sentiu tremer — não de

comoção nem de surpresa, mas de pura antecipação — jurou que a compensaria na

próxima vez, que seu próximo encontro teria toda a delicadeza e ternura que

aquele não tinha agora.

Madeline se arqueou, interrompeu o beijo e deixou escapar um pouco do ar que

lhe restava, em um arquejo tão provocador e sensualmente desesperado, que fez

Gervase cambalear.

Retirou o dedo e introduziu outro junto para abri-la ainda mais... Mas ela não

estava disposta a que lhe negasse nada. Moveu-se contra ele, arqueou o corpo

contra o seu em muda súplica.

Cavalgava todos os dias e era mais forte que qualquer mulher que Gervase já

tivera sob seu corpo. Não conseguia controlá-la com facilidade, não podia evitar

que se retorcesse sensualmente. E em vista de seu estado e seu objetivo e com o

controle dele, já forçado e fraco, o resultado era de se prever.

Gervase murmurou uma maldição, buscou-lhe os lábios com os seus, amassou-

a de novo nas almofadas, submetendo-a, aplacando-a com um beijo tão exigente

que Madeline teve de concentrar-se por completo para corresponder-lhe...

Enquanto retirou os dedos do abrasador refúgio entre suas pernas e a penetrou.

Deslizou um pouco em seu interior sem problemas, mas de imediato a

constrição daquela parte intata o retardou. Gervase continuou, sem parar e seguro,

enquanto ela se paralisava embaixo de seu corpo e toda sua atenção se desviava

para sua invasão.

Gervase deu graças porque era bastante alta para que pudesse beijá-la sem

problemas enquanto se submergia em seu interior. Usou os lábios e a língua para

tornar a atrair sua atenção para o beijo, mas dessa vez não conseguiu distrai-la.

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Tornou a sentir a tensão dentro dela, fundiu os dedos em seus braços e lhe

cravou as unhas quando ele seguiu avançando mais profundamente e atravessou a

prova de sua virgindade, apenas um leve obstáculo, porque cavalgava montada

todos os dias, durante uma década; outra benção.

Madeline sentiu a leve esticada, uma débil pontada, mas a dor momentânea foi

substituída imediatamente por outra sensação diferente. Gervase não retrocedeu e

a investiu com mais profundidade. Submergiu-se por completo em seu interior e,

de repente, ela arquejou sensualmente, tentando absorver, assimilar, acostumar

seus sentidos a aquele peso que a colava na cama, aquela dureza de músculos

cobertos por um leve velo que lhe tocava a pele que a fazia abrir seus músculos.

Mais que nenhuma outra coisa, a dura e masculina realidade submergida

profundamente em seu corpo. Parecia aço quente envolto em veludo; não lhe

estranhava que os homens se referissem a ele como uma arma, uma espada ou

lança.

Estremeceu ainda presa nas chamas da paixão, mas por um instante soube e

percebeu sua própria vulnerabilidade física, uma sensação que raras vezes havia

experimentado antes e compreendeu porque ele descrevia aquilo como uma

conquista.

Seus lábios seguiam colados aos dele, sua língua acariciava a dela, e ainda que

estivessem totalmente unidos, Gervase ficara imóvel, como se esperasse...

Madeline percebeu que ficara tenso, mas não sabia por quê. Ao pensar, seus

músculos se relaxaram, a tensão desapareceu, revelando o fogo que ainda ardia

com chamas famintas e ávidas inflamando-se de novo, crescendo e exigindo.

Como se o percebesse, antes que ela pudesse pensar em mover-se, Gervase o

fez. Retrocedeu e tornou a invadi-la profundamente, submergindo-se ainda mais

que antes. E as chamas surgiram, rugiram quando repetiu o movimento.

Madeline se agarrou ao beijo, ansiosa de novo, desesperada e ardendo.

Ele retrocedeu e a invadiu uma e outra vez. Madeline se adaptou ao seu ritmo

e respondeu-lhe. Agarrou-se ao seu corpo quando o incêndio cresceu e percorreu

sua corrente sanguínea. O calor emanava deles quando a cavalgou com força e ela

absorveu cada investida, cada profunda penetração.

Acolheu com agrado a paixão, o fogo.

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Atraindo aquelas chamas e a Gervase para seu interior até que o centro de seu

ser incendiou-se e uma brilhante tensão a dominou com tanta ferocidade que

pensou que iria morrer.

Interrompeu o beijo e se arqueou desesperadamente, com a cabeça jogada

para trás, buscando não sabia o que.

Então, o êxtase a atravessou. Gritou sem alento, impotente. E estalou com sua

força infinitamente maior que antes, como se a houvessem lançado por um sensual

penhasco e todos os seus sentidos se fragmentassem.

Com os olhos fechados flutuou no vazio, mas então a sensação tátil regressou

e o sentiu em seu interior, duro, quente e implacável. Baixou suas mãos, em seus

braços, duro e pesado por cima dela; notou-o imóvel. Ouviu suas bruscas e

entrecortadas respirações junto ao ouvido, sentiu seu torso agitado, os músculos

paralisados enquanto se esforçava por dar-lhe esse momento e, finalmente, seu

controle cedeu.

Gervase buscou-lhe os lábios com os seus, e sem nenhum vestígio de

sofisticação, devorou sua boca.

Indescritivelmente feliz Madeline o aplacou, permitiu, lhe deu o que ele lhe

dera antes, lhe entregou seu corpo sem limites. Apaixonado, Gervase arremeteu

em seu interior de um modo poderoso e implacável. Ela o rodeou com os braços e

se agarrou com força.

De repente, ele se tensionou estremecendo e se submergiu profundamente em

seu corpo. Madeline sentiu seu calor, seu peso quando os trêmulos músculos

cederam e Gervase grunhiu e se desmanchou sobre ela. Abraçou-a e sentiu que

sorria, a satisfação se mesclou com uma gloriosa sensação de saciedade.

Os sentimentos enxamearam e a atravessaram, a animaram, abandonando-a

logo em um calmo e maravilhoso oceano.

---

Gervase olhou a mulher que tinha em seus braços. Quente, confiante,

totalmente relaxada, dormindo profundamente. Observou-a, estudou seus traços

relaxados no sono agora saciado; a mata de cabelos solta, convertida em um

selvagem caos, as magníficas e cremosas pendentes de seus seios que lhe davam

água na boca, visíveis sob o xale de seda com o qual a cobrira para proteger sua

pele que começava esfriar.

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Essa imagem cativante o paralisou.

Com cuidado, soltou-a e se afastou de seu lado. Sentou-se na borda do canapé

durante um momento, com a cabeça baixa.

Finalmente se levantou e se esticou. Tornou a olhá-la. Quando ela não se

moveu, aproximou-se sem fazer ruído das janelas.

O mar, o céu, a extensão dos penhascos, o monte longínquo de Black Head.

Nada havia mudado atrás das janelas. Mas o interior do embarcadouro sim o tinha

feito, ainda que não tivesse idéia do que.

O que foi esse poder que conspirou para arrastá-lo tão longe de seu habitual

controle? Parecia como se o destino interferisse e tivesse entregado as rédeas à

besta que havia em seu interior, negando a sua mente racional qualquer influência

sobre como refreá-la.

Tampouco foi porque Madeline o ajudou, ainda que Gervase não se

preocupasse com isso. Não parecia que fora ali, procurá-lo em busca de doçura e

ternura; ela fizera seus próprios planos e esses planos tinham mais em comum com

os desejos de sua besta que com seu lado mais sossegado e lógico.

Ainda que Gervase não o tivesse planejado. Tinha uma visão de como seria

mais ou menos esse encontro, que ele, calmo e tranqüilo lhe ensinaria, lhe

mostraria e lhe apresentaria sua própria natureza sensual... Em troca, tanto se

Madeline pretendesse fazê-lo ou não, lhe mostrou por sua parte algo que ele não

sabia sobre si mesmo.

Não era possível que tivesse a intenção de fazê-lo; como iria sabê-lo se era tão

inocente?

Apesar da promessa que fez a si mesmo, sobre como seria seu próximo

encontro; após ter desfrutado neste sem restrições nem tapumes, não tinha

certeza se lhes seria possível retroceder e unir-se de um modo suave e delicado,

distante e controlado, sem acender aquele fogo; sem sucumbir ao implacável ritmo

da paixão.

Pela primeira vez em sua vida se sentiu inseguro com uma mulher, inseguro

sobre em que ponto se encontrava sexualmente com ela. Contemplou as crescentes

ondas.

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Teria que esperar e ver o que desejava, como reagir, teria que agir segundo os

desejos de Madeline e responder a eles, em lugar de traçar ou seguir algum plano

de sua parte.

Deixar que uma mulher usasse a voz de comando era um conceito totalmente

desconhecido para ele, tão desconhecido que ficou diante das janelas e tentou

encontrar algum modo, algum caminho para evitá-lo.

Madeline o observou, deixou seu olhar percorrê-lo. Despertou quando seu peso

abandonou o canapé, mas ficou quieta e o observava com os olhos entrecerrados.

Parecia distraído, mentalmente em outra parte, e não viu motivo para voltar a

atrair sua atenção, não até que tivesse oportunidade de contemplá-lo até fartar-se.

Como todos os homens que conhecia, sentia-se totalmente cômodo em sua

nudez. A ela tampouco lhe preocupava muito a sua. Eram mais as restrições de

pudor o que governavam suas ações, mas com Gervase isso parecia ter pouco

sentido.

Com os restos do prazer percorrendo-lhe ainda a corrente sanguínea, ficou

deitada no canapé e o estudou, contemplou o imponente conjunto da cabeça, as

costas largas que se estreitavam na cintura e as cadeiras, o traseiro apertado sobre

suas longas e fortes pernas. Uma vez havia ouvido que chamavam pernas de ginete

a aquelas longas, musculosas, mas elegantes pernas.

Todo ele era assim.

Pode apreciar de novo a luz que antes percebeu e que brincava sobre seu

corpo, sobre os planos e ondeados, as bandas de músculos que se moviam e

contraíam sob a pele firme e levemente bronzeada, virou a cabeça e a descobriu

admirando-o.

Para sua surpresa, não sentiu que lhe subira nenhum rubor ao rosto. Em vez

disso, o observou enquanto dava a volta e se aproximava. Madeline o olhou um

pouco mais e sentiu que lhe secava a boca.

Ainda que seguisse sem ruborizar-se, teve que esforçar-se para não esboçar

um sorriso próprio de uma gata que tinha descoberto um caneco cheio de leite.

Esperou não parecer demasiado faminta e esse pensamento a fez reagir.

Incorporou-se e ignorando o xale de seda que tinha por cima do corpo e que

deslizou pela cintura, alongou o braço para a mesinha auxiliar e pegou um ramo de

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uvas. Tornou a recostar-se, arrancou uma e a levou aos lábios enquanto deixou seu

olhar percorrê-lo novamente. Quando notou o interesse e que, apesar de seu

recente encontro estava excitado de novo, ergueu os olhos a contragosto até seu

rosto e ergueu as sobrancelhas. Sua pergunta era clara: E agora o que?

Gervase se deteve junto ao canapé.

Colocou os braços como xícara e a olhou como se não estivesse certo do que

fazer com ela.

De fato Madeline tão pouco estava certa do que pensar de si mesma; sentia-

se... Nova não, mas diferente. Como se durante a última hora houvesse liberado a

mulher sensual que sempre existira em seu interior; e de algum modo, incorporado

essa parte oculta ao resto de si mesma de forma que agora, sem mudar, com uma

tranqüila segurança e a certeza de quem e o que era, podia sentar-se ali nua e

observá-lo, também nu, enquanto esperava com calma para ver o que faria.

Quando ele se limitou simplesmente a olhá-la, com um franzimento de cenho

formando-se entre seus olhos âmbar, Madeline se recostou no canapé, olhou-o de

novo, arrancou outra uva, oferecendo-lhe.

Gervase lhe susteve o olhar durante um tenso momento, se ajeitou no canapé,

pegou a uva com os lábios e deitou ao seu lado. Mastigou, engoliu e lhe tomou o

ramo com as duas uvas que restavam, arrancou uma e a ofereceu.

Madeline o olhou brevemente nos olhos e a pegou. Ele colocou a última na

boca, jogou o talo vazio no prato, suspirou e se recostou. Levantou um braço,

rodeou e a apertou contra seu corpo e lhe deu um beijo no seio.

Ela se acomodou contra seu peito, lhe colocou uma mão sobre o coração e

esperou.

Ao cabo de um momento, Gervase disse:

— Você... Não acreditava que seria... Assim.

— Ao que se refere? — Madeline ergueu os olhos e o olhou. — Tem que

recordar que nunca fiz isso antes. — De qualquer modo, não era tão boba para não

saber que no final ele ficaria saciado.

Sua expressão foi impagável.

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Não costumava ficar sem palavras. Ou melhor, não costumava ter tantas

dificuldades para dizer qual das muitas respostas que lhe ocorreram a cabeça,

devia dizer em voz alta.

Finalmente respondeu:

— Não tinha que ser tão rápido e feroz.

Ela o estudou e ergueu as sobrancelhas.

— Gostei que foi rápido e feroz.

— Obviamente. — Gervase hesitou e perguntou: — Doeu muito?

Madeline olhou para o outro lado da sala enquanto refletia e finalmente

encolheu os ombros.

— Não especialmente. — Não mais que se houvesse cavalgado montada

durante horas. Sentia um leve ardor, mas... — Nada que me impeça de voltar a

repeti-lo.

Ele estudou seus olhos e depois se voltou para ela.

— Nesse caso... — Levantou uma mão para jogar-lhe para trás os cabelos e lhe

roçou a mandíbula com os dedos. — Provemos de novo. Só que desta vez

tentaremos fazê-lo devagar e com delicadeza.

Levou-lhe a cabeça para trás e beijou-a tão delicada, tão sedutoramente que

Madeline quase grunhiu de impaciência e retrocedeu o suficiente para dizer:

— Eu gostei muito do rápido e feroz. — Não obstante, no interesse de sua

educação, tentemos com menos paixão.

Perguntando-se por que queria fazê-lo assim, ela encolheu os ombros, lhe

devolveu o beijo e deixou que as coisas seguissem seu curso.

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Capítulo 9

Na tarde seguinte, Gervase passeava nervoso pelo caminho dos penhascos,

onde este se unia a trilha que descia até o embarcadouro. Seu rosto estava tenso.

Apesar de seu triunfo e sua vitória ao seduzir Madeline, nada saiu como ele previra.

Nem na primeira vez, nem na segunda vez.

Com menos paixão, fora seu objetivo.

Em troca, o fato de ir devagar não fizera nada mais que intensificar a tormenta

de fogo que surgiu entre os dois; alimentada por desejos muito mais primitivos,

urgentes e poderosos que qualquer um dos que sentira anteriormente.

Não sabia por que era assim, de onde saía essa paixão, porque ela e nenhuma

outra lhe provocava, mas de novo, em lugar de ser ele quem lhe ensinava, foi ele

quem tever de batalhar com incríveis e assombrosas revelações.

Não que Madeline pessoalmente estivesse lhe ensinando nada, foi o fato de se

deitar com ela, de unir-se a ela o que lhe abria uma porta a um mundo novo e

desconcertante. Madeline era tão nova naquilo como ele, mas essa circunstância

não parecia preocupá-la o mínimo.

Aceitara todos os aspectos, — tão rápido ou igualmente feroz — daquelas

relações apaixonadas além do imaginável; com tão sincero entusiasmo e evidente

deleite, que o afundou ainda mais no feitiço de... O que fosse.

Até o dia anterior Gervase não sabia que ele, nem sequer a besta que tinha em

seu interior, abrigava uns desejos tão poderosos e primitivos. Necessitava

Madeline, necessitava estar em seu interior, vê-la e senti-la retorcendo-se

desesperadamente debaixo de seu corpo e o necessitava mais que respirar

inclusive que viver.

Nesse momento final de loucura a que ela e só ela podia levá-lo, toda sua

existência parecia girar em torno de Madeline, do objetivo de tê-la, de demonstrar

indiscutivelmente, de modo mais explícito, que era sua.

Passou uma mão pelos cabelos e caminhou sentindo-se mais inseguro do que

podia recordar que se sentira antes em toda sua vida adulta. Nunca havia

dependido de outra pessoa para nada. Fora um excelente espião porque trabalhava

sozinho. Era totalmente auto-suficiente. E agora...

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Respirou e contemplou o mar.

Precisava desesperadamente de uma esposa, mas precisava de Madeline? E do

ela o fazia sentir?

Ouviu os cascos de cavalo e se voltou. Não haviam marcado encontrar-se de

novo.

Ainda que uma parte de si mesmo não se surpreendeu vê-la, outra sentiu e

deu um salto diante de sua visão.

Gervase cavalgara até o embarcadouro, onde deixara o Crusader, e tornara a

subir para passear, nervoso pelos penhascos, onde a brisa era mais fresca.

Madeline parou ao seu lado. Ele pegou a brida de seu cavalo quando ela

desmontou.

— Procurava você. Queria falar-lhe. — Aproximou a cabeça do cavalo enquanto

tirava as luvas.

Falar com ele? Os traços de Gervase estavam tensos e sua expressão séria.

— Sobre o que?

Ela o olhou como a deusa guerreira, protegida, envolta em sua habitual

couraça.

— Sobre ontem. — Baixou os olhos e tirou uma luva.

— Sobre ontem. — Um calafrio lhe desceu pelas costas. — O que acontece com

o de ontem?

— Bem... — Afastou um cacho de cabelos do rosto que o vento lhe soltara,

enquanto apertava os lábios. — Vim para reconhecer sua vitória e dizer-lhe que

ainda que tenha desfrutado do encontro, creio que seria uma temeridade grave se

voltasse a se repetir.

Gervase abriu a boca, mas Madeline o silenciou levantando uma mão.

— Não. Escute-me. — Parou como se estivesse recordando um discurso

ensaiado e continuou: — Percebi que você... Que o seu interesse para seduzir-me

estava alimentado pelo aborrecimento, como em princípio comentamos. É evidente

que me via como um desafio, segundo suas próprias palavras: ―uma conquista‖.

Claro que agora que o conseguiu, por muito... Excitante e instrutivo que tenha sido,

tendo em conta quem é você, nosso papel tão destacado na zona, aos meus irmãos

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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e a suas irmãs, para não falar de Sybil e Muriel, tendo em conta todas essas coisas,

deveríamos deixá-lo. — Inspirou profundamente e o olhou nos olhos. — Nem você

nem eu devemos nos expor ao tipo de escândalo que se produziria se a existência

de uma relação entre nós fosse de conhecimento público.

Gervase ficou olhando-a estupefato, não por suas palavras, mas por sua

própria reação, pela tormenta de emoções que sua decisão havia provocado nele.

Os sentimentos atacavam e rugiam ameaçando inundar sua mente e sair-lhe pela

boca.

Quando viu que não dizia nada, Madeline franziu o cenho.

— Assumo que esteja de acordo? ―Não‖?

Gervase a olhou irritado.

— Não podemos falar aqui. — Pegou-a pela mão e segurou com força o cavalo.

— Vamos ao embarcadouro.

Ela tentou resistir.

— Porque não podemos falar aqui? Não há ninguém perto e podemos ver se

alguém se aproxima a cerca de quilômetros de distância.

— E alguém pode ver-nos também de quilômetros de distância.

— Graças aos céus.

Gervase puxou até que ela avançou e com um irritado bufo, finalmente cedeu

contrariada.

Madeline imaginou que manteriam essa conversa na biblioteca do castelo.

Depois de tudo o que aconteceu no embarcadouro no dia anterior, seria o último

lugar que teria escolhido para dar por finalizada sua relação. Mas Gervase a tinha

desconcertado.

Depois do dia anterior, acreditava que a fanfarronice no mínimo, estaria

claramente apagada de si mesmo.

Em troca... Parecia irritado, infeliz e insatisfeito. Por quê?

Não era um bom momento para que sua curiosidade assomasse a cabeça. Com

os acontecimentos e as conseqüentes revelações do dia anterior deveriam ser o

suficiente para mantê-la ocupada. Mas não. Assim lhe permitiu que a guiasse até o

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embarcadouro, amarrasse Artur junto ao grande cavalo cinza e a acompanhasse ao

interior.

Quando Gervase fechou a porta, Madeline se voltou para ele.

— Bem...

— Aqui não. — Indicou-lhe a escada. — Acima.

Mas diante disso, até sua curiosidade reagiu. Franziu o cenho.

— Não há motivo para que não possamos falar aqui.

— Não seja tola. Mal posso ver-lhe o rosto.

Ela tão pouco podia ver bem o dele, mas... Levantou a cabeça.

— Não nos tomará muito tempo.

Na obscuridade, Gervase a olhou nos olhos. Passou um momento durante o

qual ele claramente sopesou sua resposta. De repente, uma imagem sua

carregando-a sobre o ombro e levando-a ao piso de cima apareceu na mente de

Madeline, que piscou e ficou tensa.

Gervase grunhiu e deu meia volta.

— Não falarei nada com você se não puder ver seu rosto. — Dirigiu-se a escada

e subiu os degraus de dois em dois.

De boca aberta, ela ficou olhando-o. Finalmente, fechou a boca.

— Maldito seja! — Aproximou-se da escada e a subiu com elegância. Seria

infantil fazê-lo dando patadas no chão. Mas estava decidida a não ir além do poste

do final dos degraus.

Por sorte, Gervase parou junto a esse mesmo poste, apoiado no corrimão da

escada. Cruzou os braços, assim como os tornozelos. Contemplou-a com os olhos

apertados quando parou ao seu lado.

— Deixe-me ver se entendi bem. Depois de ontem, sua primeira incursão no

sexo, decidiu que já teve o suficiente e que não necessita aprender nada mais, é

certo?

Madeline se preparou para pronunciar a necessária mentira.

— Correto.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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O olhar dele se tornou mais intenso.

— Não gostou do que fizemos no canapé?

Ela permaneceu em silêncio e o observou. Seu rosto revelava pouco, mas seus

olhos pareciam surpreendentemente turbulentos. Recordou que havia se mostrado

muito preocupado com, segundo suas palavras, o caráter ―rápido e feroz‖ de sua

união. Não podia estar sentindo-se culpado, não?

Havia soltado um bufo, mas conhecia bem os homens.

— Se disser que não gostei estaria mentindo, como já sabe perfeitamente.

Claro... — Baixou os olhos e enfiou as luvas no cinto da saia de montar. — Se

gostei ou não é algo que não tem nada a ver com minha decisão.

Não foi uma completa mentira, porque a questão não era o prazer em si, mas o

fato de perceber o que significava esse prazer e a natureza do mesmo. Apaixonar-

se por Gervase Tregarth quando sabia perfeitamente que ele não estava

apaixonado por ela era a definição exata de uma temeridade.

— Quero dizer-lhe e que você esteja de acordo... — Olhou-o, mas ele tinha o

olhar fixo em um ponto em frente as suas botas, a mandíbula tensa e uma

expressão decididamente teimosa. — Que concorde comigo que o de ontem foi um

incidente ocasional, que não se repetirá. Nós... Eu não posso permitir-me socavar

minha posição no distrito, não enquanto seguir sendo a substituta de Harry.

— Não. — Gervase abaixou os braços e levantou a cabeça.

Madeline olhou seus duros olhos âmbar.

---

— O que quer dizer com esse «não»?

Ele inspirou e, de um modo temerário embarcou na maior aposta de sua vida.

— Quero dizer: não, esse não é o motivo pelo que foge.

Ela apertou os lábios e os olhos.

— Não estou fugindo.

— Sim, sim, está. O que aconteceu ontem lhe pareceu excitante, fascinante,

cativante e está assustada.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Assustada? — Com os olhos muito abertos, estendeu as mãos. — Do que?

— De você mesma. De sua própria natureza apaixonada. De seus próprios

desejos. — Susteve-lhe o olhar implacável e falou com clareza, sem paixão, só com

um toque de desdém. E percebeu como Madeline ficou tensa pelas suas costas,

como seu gênio saltou. Com total deliberação, descruzou as pernas, ergueu e se

afastando do corrimão para colocar-se em frente a ela, jogou mais lenha na

fogueira. — Tem medo do que pode descobrir se continuar se encontrando comigo.

Tem medo da mulher na qual se converte em meus braços, uma mulher completa e

tudo o que poderia ser.

O rosto de Madeline se tornou inexpressivo, parecia emocionada pelas palavras

que saiam de seus lábios praticamente sem pensar, com toda naturalidade. Ainda

que atribuísse a ela o pânico e o medo, eram seus próprios medos que estava

descrevendo. — Tem medo de descobrir mais, do que poderia sentir uma vez que o

descobrisse todo, do que poderia haver entre nós.

Com uma mão lhe afastou os cabelos do rosto e Madeline ficou tensa, mas

permitiu-lhe se aproximar mais. A surpresa e uma fúria incipiente batalhavam em

seus olhos. Se Gervase estivesse controlado, teria sido o homem persuasivo de

sempre, se aproveitaria de seu gênio e a teria pressionado até que fizesse o que ele

desejava; mas, ao ter dito em voz alta o que mexia em seu interior, ao ter se

aproximado tanto dela, que era o foco de suas emoções, já não pensava com

clareza.

Só pode responder ao receio de seus olhos.

— Não tenha medo — disse e, inclinando-se lhe roçou o seio com os lábios. —

Há vezes na vida nas quais alguém tem que se arriscar e dar um salto. Nas quais

simplesmente temos que...

Quando se calou um momento, Madeline sugeriu:

— Saltar no abismo?

Esboçou um sorriso torto.

— Nada tão fatídico. Algo mais parecido a desfraldar as velas e deixar que o

vento nos leve aonde queira.

Ao convencê-la estava convencendo a si mesmo.

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Madeline seguiu olhando-o nos olhos, estudando-os, estudando seu rosto.

Aproximara-se o suficiente para prendê-la se o desejasse, mas com um esforço

manteve os braços relaxados.

Para ganhá-la, ela teria que correr para ele de boa vontade.

De novo a viu apertar os olhos.

— Você se dá muito bem com as palavras.

Gervase sorriu de novo.

— Dou-me melhor com as ações. — Susteve-lhe o olhar a uma distância de

poucos centímetros. — Confie em mim.

Movendo-se devagar, cerrou as mãos em torno de sua cintura e deixou que seu

olhar descesse até seus lábios.

— Só tentar. Há tantas coisas que pode aprende e experimentar... E porque

não comigo?

Passou um segundo, depois outro. Gervase conteve a respiração sem atrever-

se a olhá-la nos olhos porque ela descobriria o quanto era importante sua resposta,

o muito que ela já significava para ele.

Inesperadamente, Madeline soltou um longo e resignado suspiro e se entregou

em seus braços.

— De acordo. — Inclinou a cabeça e levantou o rosto. — Mas não estou sendo

absolutamente prudente.

Ele aceitou sua oferta com presteza e a beijou. A onda de alívio que o inundou

quase o derrubou de joelhos.

Madeline tinha razão, aquilo não era prudente. Não era simplesmente perigoso.

Sem dúvida era uma loucura, por sua parte e com certeza também pela dela.

Deus sabia que ele nunca seria um marido fácil, mas não podia voltar atrás, não

podia negar-lhe aquela loucura no que lhe correspondia.

Do mesmo modo que não podia negar o calor que surgiu entre os dois, que

aumentou e ardeu em chamas quando Madeline esteve entre seus braços; quando

se pegou a ele e lhe entregou sua boca para que a assaltasse a sua vontade. No

mesmo instante em que seu corpo, elegante e ágil, entrou em contato com o dele;

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a única coisa em que Gervase pode pensar foi em aplacar aquele calor, alimentar

aquela loucura, deixar que o dominasse e que o impulsionasse.

Suas roupas caíram como folhas outonais, num rastro espalhado a seus passos

quando centímetro a centímetro avançaram para o canapé. Estenderam-se nus

sobre as fofas almofadas, com o ar estival sussurrando sobre suas ardentes peles

enquanto se tocavam, acariciavam, suspiravam, continham a respiração,

arquejavam.

O provocador som do gemido sufocado de Madeline lhe chegou a alma.

Dessa vez, graças aos céus, tudo foi mais lento, ainda que o calor não

diminuísse nem um ápice e a intensidade de cada prolongado momento foi cada

vez mais brilhante e mais potente. Apesar de tudo, sentiu-se, se não sob controle,

no mínimo mais consciente dela, de como respondia a cada carícia, de si mesmo e

de como fazia se sentir.

O tempo se prolongou enquanto suas mãos e dedos brincaram com as suaves

curvas, logo seguiu o mesmo caminho com os lábios, deleitando-se, provocando

pequenos incêndios a seu passo.

Madeline acolheu com agrado cada sensação. Fechou os olhos e abriu os

sentidos. Com um temerário abandono, se entregou ao momento, a ele. Não podia

pensar, não podia ouvir, apenas podia ver, seu mundo se reduziu a Gervase e a ela

e ao prazer que ele provocava e lhe prodigalizava. Era um amante generoso.

A frase flutuou em sua cabeça e logo desapareceu.

Um amante diabólico; deixou-lhe um rastro com os lábios sobre o ventre, sobre

o velo púbico, logo a fez abrir as pernas e a beijou ali. Madeline gritou. Sem alento,

impotente, se agarrou aos lençóis enquanto a satisfazia até que a fez esquecer

absolutamente de tudo.

A tarde girou ao seu redor enquanto ela lutou contra a embriagadora onda.

Depois o empurrou sobre as almofadas e o explorou. Gervase tinha razão, lhe

ficava muito por aprender e esses momentos com ele, limitados como com certeza

seriam, poderiam ser sua única oportunidade de satisfazer aqueles anelos de

mulher que lhe despertava a sensual criatura na qual se convertia em seus braços.

Mas Gervase também tinha seus limites, suas próprias necessidades bem

definidas. Poucos instantes depois que cerrou as mãos na sua inchada longitude,

ele resmungou algo, a pegou pela munheca e lhe afastou a mão, deitou-a de boca

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para cima, lhe abriu as pernas com as dele entre elas e a penetrou com um único

movimento.

Madeline só pode arquejar e agarrar-se a ele com força quando se adentraram

em um muro de chamas, diretos a um mundo de abrasador calor e exigente desejo,

de uma paixão tão ardente que queimava.

Gervase abaixou a cabeça e seus lábios se uniram, cavalgaram juntos, subiram

diretos ao fim do mundo, para o vazio onde nada existia além do eterno momento e

da ardente sensação. Grunhiu, lutou por mantê-los ali durante um último momento

até que o poder estalou, se desfez e submergiram no terreno do êxtase.

Quando Madeline despertou, estava estendida de boca para cima sobre o

canapé com Gervase em cima dela, relaxado e pesado, ao que parecia em plenas

faculdades. Sorriu espontaneamente e teve que reprimir uma boba risadinha,

tentando não mover-se para não despertá-lo. Na realidade, a situação não tinha

nada de divertido; fez um valoroso esforço para serenar-se e fracassou.

Não podia entender porque seu coração insistia em alegrar-se...

Então recordou, no mesmo instante pensou com desprezo que não podia ser.

Ainda não. O destino, ao ter lhe enviado aquele homem especificamente com a

sedução em mente, certamente lhe daria algum tempo para desfrutar dele antes de

chegar a afetar seus sentimentos.

Não. Ela não era a classe de mulher que se apaixonava em um dia, nem sequer

em dois. Não era uma pessoa de coração brando, não era tão confiante. Sobretudo,

não era crédula. Enquanto tivesse presente que aquilo; aquela relação era um

exercício no qual havia embarcado unicamente para educá-la, para que ela pudesse

ampliar seus horizontes além dos limites que, de outro modo, teria, enquanto

Madeline visse esse trato seu com fria distância de um acordo de negócios, seu

coração seguiria a salvo.

Espontaneamente, deslizou a mão até seus cabelos para brincar com os suaves

cachos. Pensou de novo na discussão sobre o fato dela ter medo do que pudesse

acontecer. Gervase tinha razão sobre seu medo, mas não sobre o que ela temia. Se

soubesse que apaixonar-se era o que a assustava, seguramente por honra teria se

retirado. Mas enquanto seguisse sendo seu segredo, não tinha nada a temer dele

nem o fato de prolongar sua relação e sempre manteria seu coração protegido.

Não teve intenção de expor-se a nenhum risco, não viu motivos para fazê-lo,

não na noite anterior, mas agora que Gervase lhe demonstrou que realmente havia

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mais a aprender; a temerária e curiosa Gascoigne que havia em seu interior não

descansaria até que tivesse descoberto tudo.

Gervase despertou e suspirou. Com um grunhido afogado, se afastou de cima

dela e se deixou cair de costas ao seu lado, Rodeou-a com um braço, apertou-a

contra ele e lhe acariciou a orelha com os lábios.

— Não tem que ir a nenhum lugar, certo?

Madeline lhe pôs uma mão sobre o peito, baixou os olhos para o longo e

musculoso corpo exposto para seu deleite. Todo seu para explorá-lo.

— Não, ainda não.

---

Gervase ficou deitado no canapé depois que Madeline se foi. Quando ela insistiu

que não deveriam arriscar-se a ser vistos saindo juntos, ele cedeu, porque

necessitava digerir tudo o que havia acontecido e o que significava. Ao menos tinha

a resposta à pergunta que se havia feito antes que se encontrassem nesse dia.

Sim. Necessitava, necessitava a Madeline Gascoigne. Nenhuma outra valeria;

no mesmo instante em que ela havia tentado por fim a sua relação e fugir, o

soubera indiscutivelmente sem sombra de dúvida. Pior ainda, a primitiva reação

que o havia dominado não deixara espaço para fingimento.

Não iria renunciar a Madeline, nem então nem nunca, nem mesmo que fosse

casar-se com ela. Esse último não era nenhuma contradição, não em sua opinião.

Nunca se imaginou louco por sua esposa — uma deusa guerreira, além do

mais, — não havia pensou que as coisas seriam assim.

Fez uma careta, moveu-se para pegar a licoreira e se serviu um pouco de vinho

branco em um copo. Bebeu, se relaxou sobre as almofadas e avaliou a situação.

Não é que conseguisse por um nome, muito menos estabelecer alguma medida

significativa para a voragem de emoções que sua intenção de escapar dele havia

liberado.

Assim era como Gervase via esse instante, que escapava dele, e reagiu em

conseqüência, ao menos para si.

Lançara-se a achar um modo de atraí-la de novo e conseguiu, mas só a custo

de aumentar sua própria vulnerabilidade em um ato desesperado. O simples fato de

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expressar seus medos em voz alta o emocionou, ainda que os fizesse passar pelos

dela.

Antes de permitir-lhe levantar-se do canapé, conseguiu chegar a um acordo de

voltarem a se encontrar, que Madeline não tentaria abandonar sua já estabelecida

intimidade.

Satisfez sua necessidade imediata. Agora que conseguira isso dela... O que

deveria fazer a partir desse ponto? Casar-se com aquela condenada mulher o

quanto antes possível seria a resposta que todos seus instintos suportavam.

Imaginou-se o propondo... Fechou os olhos, jogou a cabeça para trás e grunhiu.

―Se digo agora que desejo casar-me com ela vai pensar que alguém nos viu, e

que estou fazendo o que devo — pensou e acrescentou: — Ou pior, que

simplesmente recuperei a razão por ter seduzido uma virgem de nascimento nobre

e que me sinto obrigado a pedir sua mão.‖

Fez uma careta. Não necessitou nem um segundo para ver o tipo de discussão

em que se veria imerso se fizesse a declaração, uma discussão da qual nunca sairia

vencedor.

Abriu os olhos, bebeu, sentiu como o revigorante vinho descia pela sua

garganta.

―Isso não pode acontecer‖.

Se pedisse já sua mão, se arriscava a perder tudo o que havia conseguido até o

momento. Pior ainda, ela se colocaria em guarda contra ele. Franziu o cenho. Com

a mente totalmente fixa de novo, revisou sua campanha, como se consegui-la fosse

uma guerra contra ela, e sua mão o prêmio.

Enquanto que, em seu momento, seduzi-la lhe pareceu uma idéia excelente,

após ganhar essa batalha e ter conseguido essa posição, agora descobriu que seus

lucros faziam com que sua ofensiva para alcançar seu principal objetivo fosse mais

difícil, não mais fácil.

Tinha que mudar de enfoque. Uma manobra mais envolvente.

Repassou as razões de Madeline para acreditar que seria impossível estar

interessado em casar-se com ela. Mesmo que ele acabasse com uma — que não o

atraia realmente — as outras três se mantinham firmes em sua mente: sua idade,

as expectativas da sociedade a respeito do tipo de dama que deveria ser sua

esposa e sua compatibilidade nos assuntos do dia a dia.

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Em vista de onde se encontravam nesse momento, de que Madeline tentou se

retirar, se quisesse convencê-la que verdadeiramente desejava casar-se com ela

teria que atacar e enfraquecer, preferivelmente vencer e anular, essas outras três

razões antes de arriscar-se a pedir-lhe que fosse sua.

Devido às proezas que conseguia de modo rotineiro ao longo dos anos como

espião, isso deveria estar ao alcance de sua mão. Esvaziou o copo com os olhos

apertados enquanto refletia. A persuasão era seu forte, mas as palavras doces não

funcionavam com ela, que se mostrava demasiado receosa e cínica. Os gestos

doces, sem dúvida...

Quando se incorporou e deixou de lado o copo vazio, já tinha claro em sua

mente seu novo plano de ataque.

— Sybil?

Na manhã seguinte quando Milsom exigiu sua presença no salão, Madeline

descobriu que não só Sybil, mas Belinda, Annabel e Jane tinham ido visitá-la.

Apertou a mão de Sybil, respondeu as saudações das jovens com um sorriso e lhes

indicou que se sentassem, enquanto ela se acomodava no divã com a mãe delas.

— Alguma coisa está mal?

— Mal não. — Sybil lhe dirigiu um olhar. — Mas devo confessar minha querida

Madeline, que esta é uma visita social com um propósito concreto.

— Oh! — Contemplou a expressão incomum e séria da mulher e de suas filhas,

igualmente intensas, e durante um momento de susto pensou se alguém teria visto

a Gervase e ela no embarcadouro, no caminho... Ma Sybil não levaria as jovens ali

se esse fosse o caso. Voltou-se de novo para ela e ergueu as sobrancelhas.

— Qual o propósito?

Sybil se inclinou um pouco mais.

— É pelo festival. Com a melhor boa vontade do mundo... Bem, verá, Gervase

é um homem, querida, e necessita desesperadamente a ajuda de uma mulher.

Madeline estudou seus olhos azuis e olhou as jovens.

— Eu pensei que vocês...

— Oh, não, não. — Sybil se recostou, enquanto soltava uma leve risada. —

Estamos encantadas de ajudar e, de fato o faremos até onde nos permita. Mas ele

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nos considera como... Bem, como familiares ao seu encargo, como damas as quais

tem que mimar, não das quais deve considerar suas opiniões.

— Tem sido nosso tutor há anos — interveio Belinda, — pelo que nos vê como

bebês e não nos ouve a sério.

— Não lhe passa pela cabeça que em alguns assuntos poderíamos saber mais

que ele, sobretudo ficando tanto tempo fora. — Annabel parecia desgostosa.

— Bem — Sybil lançou um olhar reprovador a sua filha, — não é que não

apreciemos sua proteção e sua preocupação por nós. — Voltou-se para Madeline e

lhe apoiou uma mão sobre o braço. — Viemos porque compreendemos o motivo

pelo qual provavelmente não escuta nossos conselhos.

De repente Madeline se descobriu no branco de quatro olhares suplicantes;

nem mesmo seus irmãos poderiam fazê-lo melhor.

Sybil lhe deu umas palmadinhas na mão. — Sabemos quanto você é ocupada

querida, mas poderia encontrar um tempo para guiá-lo na direção correta. Revisar

as coisas. Sei que posso confiar que saberá dar-lhe conselhos e fazer com que te

escute e os siga. — A dama sorriu. — O certo é que tem um caráter tão forte para

ter algum efeito sobre ele e, por azar, nenhuma de nós está a sua altura.

Madeline piscou, mas como boa vizinha e amiga não poderia negar-se.

— Farei o que puder claro. Depois de tudo, o festival é para todo o distrito, pelo

que é justo que não só alguns de nós compartilhemos a carga da organização.

— Exato! — Sybil sorriu. — Estava convencida de que saberia como consegui-

lo. Por certo, espero que esteja livre para jantar conosco e com Gervase esta noite.

— Com um movimento da mão, incluiu as jovens. — Pensei que talvez pudesse

levar Muriel e seus irmãos. Seria bom que os meninos dessem alguma sugestão

sobre atividades que pudessem manter os mais jovens entretidos.

Madeline se descobriu aceitando.

Sybil se levantou, pegou seu xale e junto com suas filhas e seu habitual sorriso

doce, saiu.

De pé na varanda dianteira, enquanto dizia adeus acenado a mão para a

carruagem, Madeline refletiu e suspirou. Imediatamente regressou ao escritório e

ao trabalho que ainda ficara pendente da tarde anterior.

---

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Não lhe serviria nada ficar de braços cruzados. Gervase vivera essa máxima

durante a maior parte de seus trinta e quatro anos e não via motivo para renunciar

a ela agora. Assim, enquanto Sybil e suas irmãs se dirigiam a Treleaver Park para

influir em Madeline, ele sulcava as ondas e fazia o mesmo com os irmãos dela.

Saiu para buscá-los após um desjejum cedo e o destino lhe sorriu, porque os

encontrou cavalgando por suas terras. Suspeitava que fossem em busca das

cavernas escondidas nos diversos riachos que enfeitavam a costa ocidental da

península, mas os distraiu sem problemas propondo-lhes sair a navegar em sua

embarcação favorita e rodear Black Head para aproximar-se da costa pelo estuário

de Helford até um ponto de pesca que todos conheciam.

Após jogar a âncora na enseada, junto ao povoado de St. Anthony, e lançar um

anzol ao mar com sua vara, sentaram-se comodamente e observaram como a brisa

agitava a vela dobrada.

Mesmo com o olhar de Gervase fixo no galhardete que ondeava no alto do

mastro, percebeu o que os três meninos conversavam.

— Suponho... — começou Harry — que quando era mais jovem, devia fazer

alguma saída com os contrabandistas.

Gervase escondeu um sorriso e assentiu.

— Algumas. — Enquanto continuava olhando despreocupadamente o

galhardete, continuou: — Naquela época, saíam quase todas as semanas, ao

menos uma vez por mês, ou com mais freqüência. As guerras e os impostos

exigidos em causa delas faziam com que o contrabando fosse um negócio lucrativo.

Agora, sem dúvida...

Consciente do quanto entregue estava Madeline aos seus três ávidos ouvintes e

que quando se casasse com ela independente de qualquer obrigação legal, certas

responsabilidades naturais e morais com respeito aos jovens recairiam sobre ele,

não queria alimentar seu entusiasmo pelos contrabandistas nem para sair com eles,

— Agora que as guerras terminaram, há uma grande dúvida sobre o que

traficar, quais mercadorias merecem passar de contrabando e se há motivos

suficientes para continuar com o negócio. Atualmente, não há muito que possa

compensar os riscos. — Abaixou os olhos para estudar os três atentos rostos. —

Razão pela qual não se tem nenhuma notícia dos bandos.

Deixou que assimilassem esse fato e o que implicava e sorriu.

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— Ouviram falar de como os contrabandistas ajudaram o exército de sua

majestade durante as guerras?

Edmond arregalou os olhos.

— Ajudaram o nosso exercito?

— Frequentemente. — Gervase apoiou os ombros na lateral do barco. — Por

exemplo, quando estava na Bretanha, em um pequeno porto pesqueiro chamado

Roscoff, junto a St. Pol-de-Léon eu precisei regressar a Inglaterra de repente e...

Durante o resto da hora que passaram na enseada, os manteve maravilhados

com histórias sobre aventuras em tempos de guerra, algumas protagonizadas por

ele, outras por agentes como Charles St. Austell e Jack Hendon, cujas façanhas

haviam se convertido em lenda.

Quando notou que o vento assolava, terminou sua última história.

— Assim, essas são algumas das aventuras que minha geração viveu, mas

mesmo a de vocês, sem dúvida, também viverá as suas, como os tempos

mudaram, os que desejarem tê-las deverão buscar em outros contextos. Os novos

desafios virão de alguma direção inesperada e diferente. Essa, rapazes, é a

essência da aventura.

Edmond e Ben sorriram e se levantaram apressadamente para ajudá-lo quando

se dispôs a preparar a vela. Ainda que Harry tivesse sorrido, Gervase notou que

sua expressão era mais reflexiva e se sentiu satisfeito. Não tivera oportunidade de

investigar a causa da subjacente inquietação do jovem. Esperava que Madeline

houvesse seguido seu conselho e tomado medidas para incluí-lo no trabalho da

propriedade.

Com a âncora recolhida e a vela erguida, a tela se inchou e esticou. O casco se

elevou e sulcaram o mar para o sul através das agitadas ondas. Uma vez no

caminho, Gervase viu Ben abaixado diante do mastro.

— Ben, porque não vem e pega o timão?

Os olhos do menino se iluminaram. Olhou aos seus irmãos maiores, mas os

dois lhe sinalizaram com a cabeça para Gervase e se sentaram a ambos os lados da

proa, para observar o vai e vem da espuma que o barco levantava ao avançar

depressa em paralelo com a costa.

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Ben se sentou no banco que Gervase deixara vazio e segurou o timão de

madeira com as duas mãos.

— Não tenho muita prática nisso.

Ele sorriu diante de sua entrecortada confissão. Uma vez que Ben o teve bem

agarrado, ele se sentou do outro lado do timão e apoiou a mão na parte superior,

mais pela tranqüilidade do menino que por sua própria. O mar não estava bravo e

não estavam tão próximo da costa ou dos arrecifes para que não tivesse tempo de

pegar o timão e retomar o rumo se ele se desviasse.

— Está fazendo muito bem. — Relaxou-se contra a popa. — Mantenha a proa

em linha com os penhascos. O vento sopra a nosso favor. Quando chegarmos a

Black Head, direi o que tem que fazer.

Ben não respondeu, simplesmente concordou. Gervase olhou seu rosto e viu a

luz que brilhava em seus olhos. Sorrindo, se recostou para trás, totalmente

satisfeito.

---

Consciente que só havia um caminho certo para chegar ao coração de

Madeline, depois de comer saiu com o Crusader para visitar seus contatos com os

contrabandistas. Não para perguntar sobre o contrabando, mas para descobrir se

havia acontecido algo que sugerisse a entrada em ação dos saqueadores durante a

tormenta que se havia produzido na noitada do baile de lady Porthleven.

Essa manhã havia distraído o trio Gascoigne, mas pela direção que seguiam

quando os havia encontrado e os poucos comentários que deixaram escapar,

estavam totalmente decididos a procurar o tesouro dos saqueadores, um

passatempo que não seria seguro se tivesse ocorrido alguma atividade por parte

dos meliantes.

Deteve-se em Coverack para falar com o taberneiro e depois cavalgou para o

norte, a Porthoustock, continuou até Helford e Gweek, afinal chegou a Helston,

onde falou com Abel Griggs.

— Não. — Abel levantou a espumosa jarra de cerveja que Gervase lhe pusera

na frente e bebeu um bom trago. Deixou-a sobre a mesa, limpou a espuma do lábio

superior e se dispôs a falar: — Não houve nada de ação, nem por nossa parte, nem

pela sua. Essa tormenta foi uma das gordas, certo, mas não estava bem situada

entre eles. Pelo que pudemos saber pelos rumores e os restos de falsos faróis sobre

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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os penhascos, estão usando só os arrecifes ao oeste. Sobretudo, tomaram posse

dos riachos de Kynance a Mullion.

— Para o lado este, não?

Abel negou com a cabeça.

— A esse lado só estão os Manacles e ainda que haja armadilhas irregulares

capazes de desgarrar um barco, é um lugar difícil para os saqueadores que agem

por ali.

— Olhou sua cerveja. — Por outro lado, com o vento que soprou nessa

tormenta, só haveria corrido perigo um barco que se dirigisse ao norte, para o

estuário de Helford, e nenhum capitão nessa costa faria esse caminho em meio de

uma tormenta.

Gervase assentiu.

— Certo.

Mais tranqüilo ao ver que ainda não havia nada que os irmãos de Madeline

pudessem encontrar nas cavernas espalhadas pelos riachos ocidentais, conversou

um pouco com Abel, de umas coisas e outras. Após as recordações que Gervase

lembrara nessa manhã, reviveram juntos certas aventuras compartilhadas décadas

atrás.

Deixou o homem na taberna dos velhos molhes que sempre fora seu

―escritório‖ e se dirigiu a Coinagehall Street e o Scales Anchor, onde deixara

Crusader. Quando girou e passou sob o arco do pátio dos estábulos do restaurante

viu Madeline aproximando-se decidida. Parou ao vê-lo, mas em seguida sorriu e

continuou andando. Reuniu-se com ele sob o arco, onde Gervase havia parado.

— Alegro-me de tê-lo encontrado.

Ele sorriu.

— Boa tarde para você também.

Madeline fez uma careta.

— Sim, claro, boa tarde e espero que seja. Vou a Stannary Court.

Gervase ergueu as sobrancelhas.

— Continue.

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Ela apertou os lábios, mas em seguida se acalmou.

— Esta manhã recebi a visita de um dos nossos arrendatários. Fez uma oferta a

ele e a seu irmão para comprar-lhes suas participações nas minas de estanho. Foi o

mesmo homem de sempre. Tanto Kendrick como seu irmão tinham ouvido rumores

recentes que as minas tinham problemas econômicos, mas Kendrick teve a

prudência de ir ver-me antes de aceitar.

Madeline apertou os olhos e balançou a cabeça, ao final de um momento,

acrescentou:

— Isto não pode continuar. Alguns granjeiros venderam simplesmente porque

os assustaram e lhes fizeram acreditar que deveriam fazê-lo.

— Mas para que vai a Stannary Court?

Ela o olhou nos olhos.

— Porque me ocorreu que quem está por trás disso, com certeza, terá

conseguido comprar algumas explorações de proprietários que não conhecemos ou

que não consultaram antes de vender. Se for assim, o secretario do juizado saberá,

porque deve ter registrado a mudança do titular.

Gervase ficou olhando por um longo momento e lhe pegou o braço.

— Brilhante. — Deu a volta e começou a caminhar com ela para o juizado.

Madeline o seguiu. — Tem toda a razão. É uma excelente dedução.

Caminharam um pouco e ele olhou para os degraus de pedra que levavam às

portas duplas de Stannary Court.

— Claro, o secretário não nos dará tão facilmente informação sobre um novo

proprietário.

— Não. — Ela o olhou nos olhos. — Por isso me alegro tanto de tê-lo

encontrado.

Gervase sorriu.

— Acredita que entre os dois seremos capazes de convencer o secretário de

onde está sua verdadeira fidelidade?

Quando chegaram aos degraus, Madeline se soltou do braço para levantar a

saia.

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— Ficaria surpreso se entre os dois não o conseguirmos. — disse.

Subiu a escada e entrou no vestíbulo totalmente confiante, com ele as suas

costas.

---

No outro lado da rua Malcolm Sinclair ficou surpreso ao ver da venda do

boticário. Através do reflexo do vidro, seguiu o progresso do par que entrava no

edifício em frente, Stannary Court, o juizado onde se discutiam todos os assuntos

referentes as minas de estanho.

Poucas vezes algo mexia com ele, mas ver ali aquele cavalheiro em particular

sem dúvida era algo que não esperava. Não dera importância a repentina opressão

no peito que sentiu, mas sua inata cautela lhe advertiu que deveria prestar atenção

e avaliar adequadamente aquele acontecimento inesperado e não desejado.

Não conhecia a dama, mas ela não era importante. Em troca o homem... A

última vez que o vira, fora em Londres e em umas circunstâncias que sem dúvida

resultariam adversas para seus atuais planos. Mas antes de agir, de reagir, teria

que saber mais.

Olhou de soslaio e viu dois anciões com aspecto de marinheiros aposentados,

sentados a uma das toscas mesas que havia fora da taberna, dos edifícios além.

Adotando sua expressão mais afável — com seu encanto podia conseguir tudo o

que se propusesse se assim o desejasse — caminhou pela calçada, parou diante da

mesa dos homens, saudou-os com um gesto de cabeça, sorriu e trocou com eles

algum comentário sobre o dia tão agradável que fazia.

Eram tipos sociáveis, pelo que foi fácil perguntar:

— O que é aquele edifício? — assinalou para o outro lado da rua. Eles

explicaram sem problemas.

Malcolm ergueu as sobrancelhas.

— Entendo. Tenho que reconhecer que é um pouco sobre minas de estanho.

— Bem — comentou um deles com um malicioso sorriso, — depois do

contrabando, é a principal fonte de emprego por aqui.

Malcolm se mostrou adequadamente impressionado.

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— Não sabia. — Contemplou o edifício. — O certo é que vi entrar um cavalheiro

com uma dama. Creio que o conheci, mas não recordo seu nome. Sabem se é

daqui?

Os dois homens olharam a escada.

— Refere-se ao conde?

Malcolm não teve que esforçar-se para parecer surpreso.

— Alto, forte, bem vestido. A dama era alta também.

O segundo marinheiro assentiu.

— Sim, ela é a senhorita Gascoigne, cuida das rendas de sua propriedade em

nome de seu irmão pequeno, Harry, que é o visconde Gascoigne, de Treleaver

Park. Está ao leste da península.

— E o conde?

— Tregarth, conde de Crowhurst. Foi comandante na Guarda Real, dizem. — Os

marinheiros trocaram um olhar de cumplicidade. — Claro, não era só isso. Era um

dos nossos e estava onde estava a ação. Mas agora voltou para casa e com seu tio

e seu primo falecidos, se converteu no senhor do castelo de Crowhurst, que

também está no lado este da península.

Malcolm sorriu e lhes agradeceu.

— Não é quem eu pensava que fosse. Menos mal que perguntei.

— Bem, você vem de Londres e não cabe duvida que lá há cavalheiros aos

montes, assim é fácil se confundir.

Com um gesto de cabeça e um sorriso, Malcolm se foi, maldizendo para si.

Seus olhos não o tinham enganado; Tregarth era o cavalheiro com o qual Christian

Allardyce, marquês de Dearne, se reunira após informar a Malcolm do suicídio de

seu tutor. Vira-os falar. Eram ou foram colegas, disso não tinha a menor dúvida.

Assim, Tregarth agora era Crowhurst, um importante proprietário que tinha

tratos com outro importante proprietário, ou seu equivalente na figura da alta

senhorita Gascoigne. Quase certo que os dois controlavam várias explorações

minerais, como geralmente era o caso na zona, e haviam entrado juntos em

Stannary Court...

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Possivelmente para fazer averiguações sobre quem havia comprado

recentemente explorações minerais, invadindo seu território.

Malcolm não gostou da idéia, não gostou nada, mas ainda mais preocupante

era que Tregarth o conhecera como Malcolm Sinclair, enquanto que para todos os

demais por ali, com a única exceção de Jennings ele era Thomas Glendower.

---

O jantar dessa noite no castelo de Crowhurst foi relaxante e entretido.

Sybil, Muriel, Gervase e Madeline se viram superados em número pelos mais

jovens, que se saíram às mil maravilhas depois que Edmond acabara com sua

cautelosa reticência inicial ao perguntar a Annabel como elas conseguiram estragar

o moinho.

Fora isso, Madeline esteve encantada de ver que, à medida que a noite

avançava, seus irmãos continuaram mantendo seus bons modos, tratando as três

garotas com uma deferência que elas pareciam considerar merecida.

Quando os maiores se levantaram da mesa, os jovens saltaram de seus

assentos e cada um deles retirou a cadeira das meninas, depois andaram ao seu

lado, atentos e seguiram Sybil e Muriel fora do salão. A imagem fez Madeline sorrir.

— Desculpe-me de antemão se minhas queridas irmãs levarem aos seus irmãos

para o mau caminho.

Ela se voltou quando Gervase se aproximou ao seu lado.

— Que coisa tão estranha. — Apoiou-lhe a mão no braço que lhe oferecia. — E

eu que estava pensando na influência tão boa que pareciam exercer sobre meus

pequenos bárbaros...

— Oh, agora são muito civilizadas — seguiram os meninos, — mas quando

aprontam se convertem em umas astutas harpias.

Madeline riu.

— Astutas eu poderia acreditar em vista dos recentes acontecimentos, mas

duvido sinceramente que possam chegar a serem harpias.

— Acredite-me, elas são.

Chegando ao salão, viram que os mais jovens decidiram jogar cartas. Belinda

pediu a Harry e Edmond que fossem buscar uma mesa e a prepararam, enquanto

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Annabel, Ben e Jane, procuravam de joelhos diante de um aparador, os naipes e as

fichas.

Sybil e Muriel já estavam em um divã e conversavam animadamente. Com

Gervase, Madeline se dirigiu ao outro divã, de onde poderiam observar os meninos

e se necessário, intervir, e onde, por outra parte, poderiam conversar mais ou

menos em particular.

— Creio que devemos fazer uma visita ao senhor Glendower amanhã pela

manhã, antes que tenha a possibilidade de ausentar-se. — Olhou para Gervase com

as sobrancelhas erguidas.

Ele assentiu.

— Parece coincidência demais ter comprado há pouco uma casa em Breage

com duas explorações minerais e logo comprar mais duas.

Descobriram que o senhor Thomas Glendower era a única pessoa que havia

comprado ultimamente alguma exploração mineral na zona. Ao investigar um

pouco mais, averiguaram que também adquirira uma pequena casa junto a Breage

e que vivia ali agora. Averiguaram seu endereço já avançada a tarde, pelo que

decidiram esperar o dia seguinte para visitá-lo.

— Deve ser nosso homem — acrescentou Madeline com um tom decidido. — O

que está por trás do representante e os rumores.

— Vocês o encontraram?

Ela se virou. Gervase ergueu os olhos e descobriu que Harry se aproximara

deles e se encontrava no final do divã, junto a Madeline. Ao ter a atenção focada

nele, o rapaz corou levemente, mas insistiu:

— Ao homem que está por trás desses rumores? Se vão vê-lo, posso

acompanhá-los?

Gervase viu que Harry apertava os punhos nas costas e esperou que Madeline

o compreendesse. Ela se virou para ele com as sobrancelhas erguidas e Gervase

lhe devolveu o olhar, não muito impassivelmente.

— Se quiser...

O rapaz sorriu e abriu os punhos. Brilharam-lhe os olhos quando respondeu a

pergunta que havia deduzido corretamente pelo tom de Madeline.

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— Se é quem está criando todos estes problemas no distrito, bem... —

Interrompeu-se e olhou para Gervase como se buscasse o modo correto de explicá-

lo e tornou a olhar sua irmã. — É o tipo de assunto no qual o visconde de

Gascoigne deveria colaborar e eu já sou bastante crescido para começar a aprender

como funciona tudo.

Madeline sorriu em um claro gesto de aprovação. Alongou o braço, pegou-lhe a

mão e lhe deu um leve apertão.

— Claro. Ficaremos encantados que nos acompanhe.

Gervase assentiu com um gesto de aprovação mais masculino.

— Tal como sua irmã sugere, deveríamos visitá-lo antes que tenha a

possibilidade de sair. Se for o homem, não queremos que atraia mais proprietários

de explorações confiados para sua rede, assim teremos que sair cedo. — Olhou

Madeline. — O melhor será que me reúna com vocês no cruzamento de Tregroose,

digamos... Às nove horas. Poderemos continuar juntos dali.

Madeline e Harry assentiram. A seguir, o jovem se dirigiu decidido à mesa de

cartas e rapidamente ocupou seu lugar. Ela se voltou para Gervase, olhou-o nos

olhos e ergueu as sobrancelhas.

— Foi coisa sua ou realmente é iniciativa dele?

— Em sua maior parte é iniciativa dele. Eu só o empurrei um pouco para agir.

Madeline tombou a cabeça.

— Como?

Ele sorriu e se recostou no assento, ao mesmo tempo em que olhava os

meninos. Sua conversa ficava apagada pelas ávidas exclamações dos jogadores.

— Explicando-lhes que os dias dos contrabandistas, se não acabaram, estão

contados, e que eles, sua geração, terão que procurar a aventura em outros

lugares.

Ela o estudou; sua atitude mais relaxada naquela companhia fazia que fosse

mais fácil de entender. Apoiou-lhe uma mão no braço e o apertou levemente.

— Obrigada. — Logo se voltou também para observar o jogo. — Aceitaram isso

de você.

Gervase não disse nada durante alguns minutos e depois murmurou:

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— Voltei a investigar para ter a certeza de que os saqueadores não tivessem

aproveitado a tormenta da semana passada. Parece que o vento soprou na zona

incorreta, pelo que, apesar da dedicação de seus irmãos, não encontraram nada

que os coloquem em contato com os saqueadores.

— Obrigada de novo. — Tocou-lhe a mão levemente.

Os dois se fixaram no jogo de cartas, ainda que não pelas mesmas razões se

mantivessem concentrados em seus irmãos e irmãs. Uma ou outra vez trocaram

uns olhares, uma risada pelas brincadeiras e graças e tudo o que revelavam.

Belinda tinha dezesseis anos e Harry quinze, mas com a emoção do jogo, os

dois deixaram de lado seus ares de superioridade e se converteram nos meninos

que fazia pouco haviam deixado de ser.

Relacionaram-se felizes e ruidosamente com os demais, o que degenerou em

uma escandalosa atividade.

Madeline observou e apreciou o momento, viu que Gervase o via e

compreendia também. Previamente a noitada, Sybil e ela se prenderam em uma

conversa sobre os diversos aspectos do festival.

Tinha que admitir que agora percebesse o que sua madrasta e suas irmãs

queriam dizer. Estava tão acostumado a mandar com sua tendência a passar por

cima de qualquer oposição que não fosse mais incisiva; ou, como no caso de

Madeline, que não fosse uma opinião contrária, solicitada por alguém de caráter

forte igual ao dele não estivesse disposto a afastar-se de seu caminho.

Por outro lado, ela também era alguém a quem ele tinha motivos para desejar

satisfazer; mas quando Madeline percebeu a avidez com que os observavam suas

irmãs e ergueu as sobrancelhas em direção a Gervase, este a tranqüilizou com um

murmúrio dizendo-lhe que nem as meninas nem Sybil tinham idéia de sua

aventura.

Isso por um lado foi um alívio, mas deixou aberta a questão do porque das

meninas e também Sybil, a olharem desse modo, porque a observavam, com algo

parecido a petulância, mais ainda, com um gesto de aprovação em seus rostos,

pelo fato de conseguir influir nele.

Não pode identificar exatamente o que era aquilo que percebia delas. Ao final,

negou com a cabeça para si e pensou que simplesmente, aplaudiam a uma dama

capaz de manejar Gervase.

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Tarde, nessa mesma noite, com o crescente vento uivando entre os beirais da

casa, enquanto Malcolm Sinclair empacotava seus últimos pertences, um golpe nas

portas de vidro da biblioteca fez com que olhasse para lá. Reconheceu a escura

figura que havia atrás das portas, se aproximou e as abriu para deixar Jennings

entrar; ele o seguiu até a escrivaninha.

O significado da caixa na qual Malcolm estava colocando papéis era muito

claro.

— Vai embora? — A luz da lâmpada, os olhos do homem se abriram muito.

— Sim. E você também. — Com rosto irritado, Malcolm guardou a ultima pasta

e pegou um pedaço de barbante. — Toma, ajude-me a amarrar.

Jennings, obediente, susteve a caixa fechada. Enquanto ele a rodeava com o

barbante e o amarrava com força, lhe explicou breve e sucintamente a quem tinha

visto em Helston essa tarde, aonde tinha ido e o que isso significava.

— Ainda que tudo o que fizemos aqui é completamente legal, não tenho

nenhum desejo de encontrar-me com Tregarth e que me peçam explicações.

Mais concretamente, não desejava explicar porque todos na zona o conheciam

como Thomas Glendower em lugar de Malcolm Sinclair. Não necessitava que o

conde pensasse no passado e decidisse comprovar se havia uma conexão entre

Thomas Glendower e o sinistro plano do falecido tutor. De Malcolm.

A conexão não podia ser demonstrada para um homem com os recursos que

Malcolm temia que Tregarth possuísse e seu segredo seguramente viria à luz.

As autoridades foram indulgentes com seu papel no imoral e criminoso plano

de seu tutor, mas se conhecessem Thomas Glendower e suas contas de

investimento, certamente não se mostrariam tão compreensivos.

E esse era um risco que Malcolm não estava preparado para assumir.

Apesar de tudo o mais, havia aproveitado sendo Thomas, o proprietário

daquele lugar. Detestava ter que ir-se tão precipitadamente, levantar o

acampamento e fugir, mas tinha apenas vinte e um anos, já teria tempo de

regressar a Cornualha, aquela casa e a Thomas Glendower.

Não contou nada disso a Jennings, que não tinha nem idéia de que existisse

seu alter ego. Não faria diferença se o homem pensasse que estava fugindo como

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um coelho assustado, porque Malcolm aprendera que o ego era uma debilidade, um

defeito.

— Nós vamos esta noite. — Olhou para Jennings nos olhos. — Deixarei a maior

parte de minhas coisas aqui. Estarei pronto para sair a cavalo em uma hora.

Quanto tempo levará para preparar-se?

Seu empregado se alojava numa diminuta casinha de campo na aldeia de

Carleen, ao norte, a um quilometro e meio aproximadamente. Apertou os olhos,

pensativo.

— Não deverei levar mais de uma hora para regressar a casa, fazer as maletas,

despejar tudo e regressar.

Malcolm assentiu.

— Bem. Reúno-me com você no caminho de Londres.

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Capítulo 10

Era meia noite; Madeline estava de pé diante da janela aberta de seu

dormitório e ouviu como os relógios da casa batiam as horas. Todos dormiam

profundamente; haviam regressado do castelo fazia mais de uma hora. Quando,

felizes e cansados, seus irmãos se retiraram a seus quartos sem que precisasse

dizer sequer, Muriel e ela trocaram um olhar carinhoso e os seguiram.

A casa desaparecera na calma.

Lamentavelmente, ela não podia descansar. Nervosa, tão agitada como o

tempo, havia se aproximado da janela para contemplar as nuvens e a lua, que

deixavam atrás arrastadas por um forte vento procedente do mar.

Seu dormitório dava para o interior da península, aos jardins da parte dianteira

da casa. Desde muito pequenos, seus irmãos pediram os dormitórios que davam

para o mar e, como eram ruidosos e gritões, Madeline havia se mudado para

aquele dormitório no fundo da ala oposta. Mais tarde, quando Muriel foi viver com

eles, decidiu ocupar seu dormitório da infância, no bloco central da casa, assim

agora se acostumara a esse isolamento, a sua intimidade.

Quando se inclinou sobre o peitoril da janela, entrou um ar cálido que lhe

alvoroçou os cabelos e os fez flutuar ao redor de seu rosto e dos ombros. Estava

sorrindo, imaginando que aspecto devia ter, quando lhe chamou a atenção nos

jardins, uma sombra que se movia devagar.

Madeline já apagara a vela e seus olhos se adaptaram a obscuridade. Observou

o tempo suficiente para assegurar-se que realmente um homem se aproximava da

casa, mas ainda que com cuidado, caminhava com segurança e decisão em lugar

de tentar passar despercebido.

Assim, se certificou que ele se dirigia para as portas de vidro da sala de estar,

uma rota que sabia que seus irmãos usavam de vez em quando em suas incursões

noturnas. Afastou-se da janela. Parou e pensou. Finalmente, pegou o candelabro de

prata que estava sobre o toucador e, em silêncio, se dirigiu a porta. Conhecia a

casa como a palma de sua mão e, mantendo-se entre as sombras, avançou até a

escada.

Sabia que a sombra que vira não era Edmond nem Ben, mas com tão pouca luz

não conseguira ver se era Harry ou não.

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Pensar em seu irmão, na manifestação de sua crescente maturidade que havia

presenciado essa noite, e a alusão de Gervase do que poderia constituir a

emergente idéia de aventura de Harry, a fez perguntar-se o quanto havia crescido

verdadeiramente.

Se esse homem que vira era seu irmão, voltava talvez de algum encontro? Em

vista do tempo transcorrido desde que haviam regressado, era possível. Se fosse

ele, Harry nunca lhe perdoaria que despertasse a casa toda e o envergonhasse

diante de todos. Mas se não fosse ele era... Um intruso na casa.

Aguçou o ouvido e não ouviu passos, mas sim um leve rangido das taboas de

madeira. Por esses sons familiares, seguiu o rastro do homem quando ele

atravessou a sala de estar.

De pé no corrimão do corredor, Madeline observou o escuro buraco do

vestíbulo de cima e viu que a porta da sala estava aberta.

Justo a tempo, recordou que sua camisola era branca e retrocedeu

rapidamente para as sombras, enquanto maldizia para si. Não queria que o intruso,

se não fosse Harry, levantasse os olhos e a visse no alto da escada.

Levar o candelabro seria muito bem, mas o fator surpresa, o fato de que o

surpreenderia lhe seria da maior ajuda, assim se escondeu na penumbra, atrás de

uma antiga armadura que havia na frente da escada, enquanto pensava se o

intruso subiria ali.

Como em resposta, um degrau rangeu. Madeline aguardou com o candelabro

levantado.

Tentando ver entre as sombras, vislumbrou como uma cabeça aparecia

devagar diante de seus olhos. De imediato supôs quem era. Um absoluto assombro

a paralisou o tempo suficiente para que ele chegasse ao corredor e olhasse ao seu

redor.

Madeline abaixou o candelabro, saiu detrás da armadura para onde a leve luz

da lua a iluminaria e sussurrou:

— O que está fazendo aqui?

Gervase virou-se, olhou-a e finalmente alongou o braço e pegou o candelabro.

— Não consegui dormir.

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Percorreu-a com o olhar dos pés a cabeça, deteve-se em seus pés descalços e

depois subiu devagar. Sem olhar deixou o candelabro em um aparador próximo.

— Como dizia, não consegui dormir e como você ainda não concordou em

compartilhar minha cama, pensei que poderia unir-me a você na sua.

Falara com um áspero murmúrio, mas seu tom mudara sutilmente, fazendo

que um delicioso estremecimento de antecipação lhe corresse pelas costas. Sem

dúvida...

— Não pode falar sério...

Interrompeu-se quando ele lhe cobriu os lábios com os seus. Movera-se tão

rápido, atraindo-a para seus braços, que nem sequer teve tempo para falar antes

que a beijasse, respondendo a sua pergunta de um modo sumamente explícito. E

de repente soube por que não podia dormir. Levantou os braços, fundiu os dedos

em seus cabelos e devolveu o beijo. Vorazmente.

Durante uns longos momentos, se beijaram na obscuridade, até que Gervase

interrompeu o beijo para perguntar-lhe quase arquejante:

— Onde está seu dormitório?

— No final do corredor. — Madeline o girou para a direção correta e ele a guiou

até a porta.

Ela não soube como chegaram ali e muito menos como entraram no dormitório

e fecharam a porta ao mundo. Mas uma vez dentro a roupa voou, ainda que ela

tivesse pouca para tirar; isso a deixou com muito mais dele para tirar, o que fez

aumentar sua impaciência até novos frenéticos níveis.

Finalmente, quando já estavam nus, quentes, pele contra pele, as febris mãos

se buscando e acariciando, alimentaram o fogo que ardia em seu interior.

Deitaram-se na cama. Madeline gemeu e se agarrou a ele quando Gervase lhe abriu

as pernas e com uma poderosa investida, os uniu.

Forçaram e cavalgaram, riram, arquejaram e lutaram pela supremacia, ao

mesmo tempo em que a deflagração em seu interior aumentou e os atravessou a

toda velocidade até que os dominou. Madeline se agarrou a Gervase, fraca e em

ponto de lágrimas de prazer, suspensa no vazio com os sentidos tensos e alerta.

Esperando...

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Com um último avanço, ele a lançou em um torvelinho, com todos os nervos a

flor da pele, seus sentidos estalando em um milhão de cacos resplandecentes de

terreno deleite.

Sentiu que o calor a encheu quando Gervase se uniu a ela. Um profundo prazer

a inundou e a atravessou, uma dourada glória percorreu sua corrente sanguínea

quando com um grunhido, ele se perdeu nela. Sorrindo a abraçou e, sem hesitar

nem pensar, se rendeu a noite.

---

Várias horas mais tarde, Madeline reagiu e despertou com a sensação de ter

um duro corpo masculino ainda quente e nu ao seu lado. No instante soube quem

era e seus sentidos nem sequer se sobressaltaram, só ronronaram. Virou-se de

costas e o olhou, a pequena parte do rosto que podia ver, porque estava deitado de

boca para baixo na cama, junto a ela.

Contemplou-o, deixou que seu olhar o acariciasse. Incapaz de resistir à

tentação permitiu aos seus sentimentos surgir e se expandir, vacilantes e

estranhos. O que sentiu não era algo que houvesse sentido antes. Reconhecer isso

já equivalia a admitir que a situação beirasse o perigo, que a hora da verdade podia

estar se aproximando, sua benção se acabava e se desejasse manter seu coração a

salvo, intato, livre, deveria pensar em retirar-se, em acabar com aquela relação.

Desviou o olhar por cima do ombro de Gervase para a janela aberta, para o céu

noturno, ainda escuro e nublado.

— Eu irei antes que amanheça. — Ao ouvir seu murmúrio, olhou-o. Ele

continuou falando com a voz sufocada pela almofada: — Ninguém me verá ou

saberá.

Madeline hesitou, levantou uma mão e apoiou a palma em seu ombro,

deleitando-se na amplitude do músculo, em sua latente força. Devagar, seguiu a

mão com os olhos, que deslizou pela longa linha de suas costas até as cadeiras.

— Então... Ficará um pouco mais?

Gervase se moveu, virou-se de lado, lhe pegou a mão, levou-a a boca e deu-

lhe um ardente beijo na palma. Através das sombras, olhou-a nos olhos.

— Ficarei toda a noite, até que amanheça.

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Foi ela quem cobriu a distancia para aproximar os lábios dos seus, ela quem o

beijou e o empurrou para deitá-lo de boca para cima. Quando se elevou sobre ele e

caiu logo sobre sua dura longitude, suspirou.

Talvez fosse perigoso, mas sabia que não renunciaria a esse prazer, que não

renunciaria a Gervase, ao menos em breve.

Não porque tivesse que lutar para recusá-lo, enfrentar-se a ele por cada

centímetro de separação, nem porque evitá-lo seria um pesadelo social. Fora de

tudo o mais enquanto o cavalgava devagar, saboreando o calor, o doce aumento da

paixão, consciente da tormenta de fogo que ao final viria, sentindo como suas mãos

se fechavam com força em sua cintura, como aumentava a deliciosa tensão, uma

verdade brilhou com clareza em sua mente: não acabaria com aquela aventura

porque não desejava fazê-lo, porque não queria negar-se esse prazer, porque não

queria renunciar aqueles sentimentos que junto com a gloria da satisfação

inundavam seu coração.

---

Na manhã seguinte, tal como haviam combinado, se encontraram junto a

Tregoose, onde o caminho de Coverack se unia a estrada de Point Lizard.

Madeline cavalgava entre Gervase e Harry quando passaram Helston e se

desviaram para o caminho que levava a Penzance.

Breage era um pequeno povoado que ficava ao norte do caminho, a uns três

quilômetros ao oeste de Helston. A casa que procuravam, sem dúvida, estava

situada ao sul, entre o caminho e os penhascos, assim, continuaram e logo

percorreram uma trilha de entrada que finalmente os levou até a porta principal.

Não apareceu nenhum rapaz para pegar-lhes os cavalos. Enquanto olhavam ao

seu redor, ataram as rédeas aos ramos mais baixos de uma árvore próxima. Logo,

com Gervase ao seu lado e Harry um pouco atrás, Madeline se aproximou da porta.

Diante do forte golpe de Gervase, um homem de meia idade abriu a porta.

Suas roupas elegantes estavam cobertas por um gasto avental. Olhou os três e

logo fixou os olhos em Gervase.

— Em que posso ajudá-lo, senhor?

— Lorde Crowhurst, a senhorita Gascoigne e o visconde Gascoigne desejam ver

ao senhor Glendower.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Os olhos do homem se abriram desmesuradamente, porque reconheceu os

nomes. Fez uma reverência.

— Estou certo que meu senhor estaria encantado em recebê-los, milordes,

senhora, mas teve que viajar com urgência. Partiu cedo esta manhã.

— Ele saiu?

Madeline olhou para Gervase, que havia apertado os olhos e esboçava um

sorriso.

— E você quem é?

O homem respondeu ao seu sorriso com um agradecido gesto de cabeça.

— Gatting, senhora. Minha esposa e eu trabalhamos para o senhor Glendower.

— Até pouco tempo não sabíamos que tinha vindo viver no distrito. Quanto

tempo passou aqui?

— Só um mês aproximadamente, senhora. Primeiro se alojou em Helston, mas

logo, segundo nos disse, se enamorou desta propriedade, comprou-a e nos

contratou. Nós estávamos vivendo com a irmã de minha Elsie, em Porthleven, mas

procurávamos um trabalho como este.

Madeline sorriu compreensiva.

— Muito difícil de conseguir no campo.

Gatting se relaxou visivelmente.

— Sim senhora. Posso fazer algo por vocês? Dar uma mensagem ao senhor,

talvez?

Madeline ergueu as sobrancelhas e trocou um olhar com Gervase.

Finalmente, negou com a cabeça.

— Tem idéia de quando voltará?

O rosto de Gatting se endureceu.

— Não senhora. Em sua nota dizia que não podia especificá-lo, mas que nós

continuaríamos contratados indefinidamente e que seu advogado de Londres nos

enviaria nossos salários.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Bem, essas são boas notícias, ao menos para vocês. Que tal é trabalhar para

o senhor Glendower?

Gatting balançou a cabeça.

— Milordes, senhora, desculpem-me, mas a nobreza pode ser difícil às vezes. O

senhor Glendower é um cavalheiro agradável, jovem, diria que não passa muito da

maioridade, é amável, simples, fácil de contentar. Minha Elsie sentiu-se aliviada de

não termos que ir.

Harry apareceu por trás de Madeline.

— Disse-lhe para onde ia? — Quando Gatting olhou, Harry assinalou a Gervase

e Madeline. — Pode ser que vamos a Londres, e se estiver lá, poderemos visitá-lo

se nos der o endereço.

— Isso mesmo. — Madeline assentiu. — Isso seria o que um bom vizinho faria.

— Olhou inquisitivamente apara Gatting, que fez uma careta.

— Sim, ele disse que iria para Londres, mas não deixou nenhum endereço.

Disse-nos para aguardarmos aqui qualquer carta que possa chegar para ele, ainda

que não espere nenhuma, acrescentou.

— Foi com algum outro homem? — Perguntou Gervase. — Um representante,

um servente ou um rapaz?

Gatting negou com a cabeça.

— Só ele. Disse que não necessita a ajuda de ninguém para vestir-se ou

encilhar o cavalo.

— Recebeu visitas enquanto estava aqui?

— Não, milorde, nenhuma visita que eu saiba. — Gatting deteve-se e corrigiu:

— Bem, Elsie disse que veio uma um dia, enquanto nós estávamos em Porthleven.

Disse que havia duas poltronas no salão com as almofadas amassadas. Claro,

poderia ter sentado ele mesmo nas duas, mas acreditou que não foi assim. Mas

mesmo assim, não perguntamos.

— Naturalmente que não. — Madeline lhe sorriu. — Obrigado Gatting, nos

ajudou muito.

O homem fez uma reverência.

— Só lamento que o senhor não esteja aqui para saudá-los, senhora.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Despediram-se com um gesto de cabeça e se afastaram. Não falaram até que

estivessem de novo em marcha; Gervase parou seu cavalo antes de chegar ao

caminho principal.

— Assim ficamos sem saber se nossas idéias eram corretas e se Glendower,

que comprou duas explorações minerais recentemente, é na realidade nosso

―cavalheiro londrinense‖.

Madeline fez uma careta.

— Não tem nenhum representante, ao menos nenhum ao qual se tem visto. E

os Gatting não acreditam que Glendower seja má pessoa. — Olhou para Gervase.

— Uma coisa que aprendi com os anos é que o pessoal normalmente sabe coisas.

Ele assentiu.

— Mas se Glendower é nosso homem e deixou a zona para regressar a Londres

— interveio Harry, — os rumores e as ofertas pelas explorações deveriam parar.

— Certo. Se suceder isso, então quase certo que era ele quem estava por trás

delas, mas se seguir ausente...

— Então o problema deverá desaparecer. — Madeline o olhou. — Se continuar

afastado e todos nossos problemas se evaporarem, não há motivo para persegui-lo,

não é?

Gervase assentiu, mas sua expressão era irritada.

— Essa seria minha conclusão e, a menos que me equivoque, essa foi também

a sua. Ela arregalou os olhos.

— Acredita que percebeu que viríamos vê-lo?

— Não me pergunte por que, mas sua repentina partida ao amanhecer me

parece coincidência demais.

Madeline refletiu, mas logo encolheu os ombros.

Enquanto se mantiver fora de nosso território, estou disposta a deixá-lo em

paz. — Agitou as rédeas e fez seu cavalo avançar.

Gervase manteve Crusader seguro para deixá-la passar, enquanto pousou seu

olhar na brilhante coroa de cabelos que formava um halo em sua cabeça. Recordou

o que sentiu quando na noite anterior havia passado os dedos por ele e decidiu que

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Madeline tinha razão. Tinham coisas mais importantes para fazer. Seguiu-a pelo

caminho.

---

Ao meio dia, oito homens, todos procedentes dos bordéis de Londres, se

reuniram no pequeno salão de uma velha casinha fora de Gweek. Conheciam-se

entre si no mínimo por sua reputação. Formavam uma variada seleção de bandidos,

ladrões e assassinos, que se uniram no que era uma insólita aliança.

Tal como haviam lhes ordenado, viajaram a Cornualha sozinhos ou em pares e

chegaram ao longo no dia anterior. Acabavam de descobrir que a casinha tinha de

ser seu lugar enquanto executavam as tarefas exigidas por seu novo chefe.

O alojamento, por muito pequeno e gasto que fosse, era para todos eles uma

significativa melhora em comparação com suas guaridas de Londres.

Assim, quando seu senhor se colocou diante da apagada lareira e lhes

perguntou se tinham alguma queixa, os homens negaram com a cabeça.

Mesmo se tivesse alguma nenhum a mencionou. Fora isso, seu chefe pagava

bem e havia algo nele que dissuadia até os mais duros de apresentar a idéia de

contrariá-lo.

— Bem. — O cavalheiro, sem dúvida era um cavalheiro, ainda que levasse uma

capa negra, um chapéu enfiado até as sobrancelhas e um lenço de seda negra que

lhe cobria a mandíbula, falou com acento de alguém nascido para mandar.

— Como os informei em Londres, preciso que localizem e consigam uma

mercadoria que deveria ter chegado aqui e ser entregue na costa do rio Helford há

duas noites. O barco...

Deteve-se, estudou seus rostos e continuou imperturbável:

— O barco vinha da França, de um porto da Bretanha, via ilhas de Scilly. A

tripulação é francesa, não da zona, ainda que me assegurasse que o capitão

francês conhece bem estas águas. É o mais corpulento dos homens, uma besta de

olhos pequenos e surpreendentemente inteligentes. Mexeu-se.

— Contrabandistas?

O cavalheiro o olhou.

— Isso é um problema?

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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O bandido negou com a cabeça.

— Não senhor, só queria ter certeza para saber com quem nos enfrentaremos.

Seu chefe inclinou a cabeça.

— Uma pergunta inteligente e, a esse respeito, posso dizer-lhes que a

tripulação do barco não está relacionada com nenhum dos ramos locais da

irmandade. Essa saída é uma que foi levada a cabo sem seu conhecimento.

Hesitou, mas logo continuou com um tom cada vez mais gelado:

— Após abandonar as ilhas, parece que o barco francês desapareceu sem

deixar rastro. É possível que os contrabandistas locais interceptaram-no. Pode ser

que ficaram com a minha mercadoria ou saibam onde está. Além do mais, minhas

fontes me dizem que há saqueadores em ativo na península de Lizard. E a noite na

qual estava prevista a chegada do barco, houve uma tormenta. Assim, também é

possível que os saqueadores estejam agora em posse de... Do que me pertence por

direito.

Parou para controlar a ira que experimentou ao pensá-lo. A sorte, uma volúvel

mulher, que há muito tempo ele considerava irrevogavelmente a seu favor; de

repente se voltara contra ele e entregara o seu tesouro, seu prêmio, a outros,

negando-lhe seu merecido triunfo. Como podia tripudiar de ter enganado seu

Nêmesis sem seu prêmio?

Com um esforço de vontade, bloqueou esse pensamento. Encontraria seu

tesouro e logo se vingaria.

— Os saqueadores são reservados, também violentos, como é de se esperar.

Vossa tarefa é investigar os grupos locais, tanto os contrabandistas como os

saqueadores, e descobrir se sabem de alguma mercadoria recente.

Jogou a capa para trás e deixou uma pesada bolsa sobre a mesinha de centro

da sala. A bolsa caiu com um apagado tilintar que atraiu para ela os oito pares de

olhos.

— Isto é para vossos gastos. — Olhou o bandido que falara antes. — Gibbons,

fica encarregado da bolsa.

Certifique-se que o dinheiro seja bem utilizado. Se precisar mais, o terão, mas

só se gastarem de um modo correto.

O tal Gibbons assentiu e pegou a bolsa de couro.

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— Sim senhor.

O cavalheiro olhou ao redor.

— Todos têm experiência. Sabem como agradecer e como cobrimos as costas e

os seus rastros. Por isso os contratei. Trabalhem em pares, durmam nos locais

bebendo, paguem uma mulher, façam-na soltar a língua.

Com frieza, percorreu o círculo de especulativos semblantes com o olhar.

— Quero essa mercadoria e não me importa o que façam, sempre e quando a

localizarem. — Sorriu com uma fria promessa. — Uma vez que o localizem,

decidiremos como consegui-lo.

Os oito homens sorriram. A avareza brilhou em seus olhos.

Satisfeito, ele lhes fez uma breve inclinação de cabeça e se dirigiu para a porta.

— Sugiro que os ponha para trabalhar.

Os oito homens aguardaram que a porta se fechasse, esperaram um pouco

mais até que ouviram os cascos de cavalo afastar-se. Então, e só então, se

relaxaram.

Gibbons levantou a bolsa, sopesando-a.

— Devo reconhecer que não economiza nos gastos. — Olhou para seus

companheiros e sorriu. — Bem, eninos não deixem para amanhã o que podem fazer

hoje. Será melhor ouvir o que ele disse e começarmos a beber.

Os oito se dirigiram para a porta rindo.

Três horas mais tarde, Madeline estava sentada no salão do castelo de

Crowhurst, sorrindo para si com gesto de aprovação, enquanto Gervase presidia a

última reunião do comitê do festival. A apenas dois dias do acontecimento, toda a

miríade de detalhes estava solucionando-se bem, mas sua satisfação se devia mais

a rápida aceitação por parte de Gervase de seu legítimo papel.

Estava realmente muito satisfeita de ter sugerido que o festival voltasse a ser

comemorado no castelo.

A senhora Entwhistle, ao seu lado no divã, consultou as numerosas listas.

— Jones, o taberneiro de Coverack trará os barris para o jogo da maçã, então

sua gente não precisará se encarregar disso, milorde.

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— Excelente. — Sentado despreocupadamente em uma poltrona, riscou esse

ponto em sua própria lista, a que a senhora Entwhistle lhe entregara ao chegar. —

E as ferraduras? — Olhou a Gerald Ridley.

— Oh, claro! Nós, meus rapazes de quadra e eu, nos encarregaremos disso. A

zona junto ao arco do estábulo, certo?

Com o cenho franzido, Gerald escreveu algo em sua própria lista.

— É isso. — Gervase corrigiu esse ponto e revisou a folha. — Resolvemos tudo?

— Parece que sim — contestou a senhora Juliard, consultando sua cópia.

Todos ergueram os olhos para Madeline, que sorriu. Ela não precisou consultar

sua lista.

— Não me ocorre nada que tenhamos esquecido e nenhum detalhe que não

tenhamos discutido. Até acrescentamos algumas atividades que devem ajudar a

fazer que tudo saia às mil maravilhas.

Olhou a todos e acabou sorrindo para a senhora Entwhistle.

— Creio que deveríamos estar orgulhosos do planejamento. Agora é o

momento de levar a cabo, algo que está em muitas mãos mais que nas nossas.

— Claro. — Sybil, que estava ao lado da senhora Entwhistle, sorriu a todos

encantada. — Sugiro que peçamos que nos sirvam o chá. Você se importaria

Madeline, querida?

Ela se levantou e tirou a campainha.

Quando Sitwell apareceu, Sybil falou com ele, enquanto os outros

conversavam.

Em seguida chegou o carrinho de chá e biscoitos. Madeline ajudou a Sybil e

depois se voltou para o senhor Ridley para falar sobre Thomas Glendower.

— Bem, bem. — Gerald franziu o cenho.

— Sem dúvida, o tempo dirá. Eu me manterei alerta e os informarei a você e —

assinalou a Gervase quando este se uniu a eles —a Lorde Crowhurst se me inteirar

de algo mais sobre as explorações de mineração.

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— Faça-o, por favor. — Gervase trocou um olhar com Madeline. — Se

circularem novos rumores ou se fizerem mais ofertas, isso significará que

Glendower não é o nosso homem. Seria útil sabê-lo.

— Sem dúvida. — Gerald assentiu. — Farei com que corra a voz.

Gervase tocou o braço de Madeline.

— A senhora Juliard tem uma pergunta sobre as mesas de cavaletes que

usaremos para a exibição de bordados. Poderia...?

Ela sorriu.

— Sim, claro.

Juntos se aproximaram da mulher; a questão das mesas de cavaletes se

resolveu sem problemas. Depois, Gervase ficou junto a Madeline, ou melhor,

reteve-a ao seu lado, referindo-se ou recorrendo a sua experiência quando vários

membros do comitê perguntavam sobre pequenos detalhes de última hora.

Ela não percebeu até que ponto Sybil ficou em um segundo plano e só foi

observar plenamente quando, uma vez respondidas as consultas e com tudo

teoricamente preparado para o dia seguinte, quando começaria a organização física

do evento, os assistentes foram para o vestíbulo, dispostos a saírem, e o vigário se

despediu de ambos com um jovial:

— Devo dizer que este ano é especialmente bendito e que o festival parece

estar a ponto de gratificar-nos por nossos esforços.

Não deixou de sorrir-lhes em todo o tempo e apertou a mão de Madeline antes

de apertar a de Gervase.

Então, Madeline olhou ao seu redor e viu Sybil na porta do salão, com a

senhora Caterham.

— Adeus, querida.

A senhora Entwhistle lhe apertou os dedos levemente.

— Até amanhã, Claudia — contestou ela. — E não se preocupe. Tudo sairá às

mil maravilhas.

— Oh, estou certa que sim. — Com um brilho nos olhos, a senhora Entwhistle,

se virou para apertar a mão de Gervase. — Agora que os temos a você e lorde

Crowhurst como supervisores, com certeza tudo irá bem.

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O sorriso de Madeline parecia um pouco distraído. Tornou a olhar Sybil, mas ela

não parecia sentir nenhuma necessidade de ocupar seu lugar legítimo junto a

Gervase. Mais ainda, assim como o vigário, todos os outros pareciam dar por certo

que era ela quem devia estar ao seu lado.

Sentiu-se um pouco estranha; como uma involuntária usurpadora, mas como

Sybil se limitou a sorrir-lhe com doçura quando Madeline conseguiu captar seu

olhar, e não fez nada para substituí-la; pensou que simplesmente se devia a um

hábito adquirido ao longo dos anos anteriores, quando o festival se celebrava em

Treleaver Park e ela era a anfitriã.

Todos estavam acostumados a vê-la nesse papel, incluída Sybil, e agora, ao

ficar a margem, sem dar-se conta, todos haviam atribuído a Madeline essa posição.

Era perfeitamente compreensível.

Não havia porque dar-lhe mais importância nem ver mais do que havia. E

esperava que todos o compreendessem assim.

Com a mão em seu cotovelo, Gervase a guiou até a varanda, no alto da

escada. Antes, Madeline já aceitara ficar e percorrer o pátio do castelo e as

muralhas com ele, para marcar com giz os postos e os diversos espaços para as

tendas e as atividades.

Assim, permaneceu de pé ao seu lado diante das portas principais do castelo e

se despediu com a mão enquanto os outros se afastavam a cavalo ou em

carruagem, e tentou não pensar na imagem que estavam projetando e, em

conseqüência, as idéias errôneas as quais poderiam ter lugar.

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Capítulo 11

—Ah, bom dia, Jones. — Madeline sorriu ao taberneiro de Coverack quando

este ficou de pé junto a sua carreta, com os olhos muito abertos, observando a

frenética atividade no pátio do castelo.

Ela acrescentou: — Por favor, leve esses barris além da escada, e fale com

Sitwell sobre como enchê-los. Você o encontrará na cozinha.

— Obrigado, senhora. — Jones tirou o gorro. — Bonito circo este.

Madeline se limitou a sorrir em resposta, logo se moveu com elegância para

esquivar-se de um burro que puxava um carro.

— Olá, Masters. — Saudou o velho vendedor ambulante; vendia objetos de

ouro em sua juventude e agora viajava por todo o país visitando festivais e feiras.

— De novo aqui este ano.

— Sempre, senhorita Gascoigne. — Masters lhe fez uma reverência e tirou o

chapéu. — O festival de verão da península é um de meus favoritos.

— Bem, sempre ficamos encantados de tê-lo entre nós. Reservamos um dos

principais pontos para seu posto. — Assinalou a Gervase, uma figura alta, de pé a

borda do prado, dirigindo-se aos vendedores ambulantes e comerciantes para seus

lugares designados e enfrentando-se às inevitáveis queixas. — Fale com lorde

Crowhurst e ele te mostrará onde deve instalar-se.

— Muito obrigado, senhorita.

Master fez seu burro avançar.

Madeline olhou a sua volta. Cada minuto que passava e cada pessoa que

entrava pelas portas para entregar uma coisa ou outra ou dar uma mão na

montagem das diversas tendas, postos e mesas, o lufa-lufa no pátio se parecia

mais a um crescente tumulto.

Ela vivera o acontecimento muitas vezes, mas o espaço que usavam em

Treleaver Park era mais aberto enquanto que aquele pátio, ainda que descoberto,

estava rodeado pelas altas muralhas no lado este, norte e noroeste; o próprio

castelo ao sul e mais além dos prados ao sudoeste, as muralhas que davam ao

mar. Muito melhor assim, porque o recinto ficava mais protegido do vento e das

condições climáticas. As muralhas de pedra que os rodeavam, faziam que o nível de

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ruído fosse significativamente maior. Madeline apenas podia ouvir seus próprios

pensamentos.

— Amanhã não será assim — lhe assegurou a senhora Entwhistle quando se

aproximou da agoniada dama entre a multidão e ela se lamentou da cacofonia. —

Hoje ninguém fala, todos gritam instruções.

— Já se vê. — Gritou-lhe a senhora Entwhistle. — tem que gritar para que a

ouçam.

Separaram-se. Madeline andou entre as pessoas, pronta a atender qualquer

possível problema. Sempre assumira esse papel, inclusive antes que o festival se

mudasse para Treleaver Park. Conhecia o pessoal do lugar melhor que ninguém e

todos a ouviam, inclusive os homens, e ali havia mais homens e jovens que tudo

nesse dia.

O som dos martelos, as serras e as blasfêmias enchiam o ar enquanto

trabalhavam. Todos se ofereceram amavelmente para ajudar para que suas

famílias pudessem usufruir do festival no dia seguinte.

Também algumas mulheres foram ajudar com tecidos e bandeirolas para

decorar alguns dos postos. Quando Madeline chegou às muralhas, contemplou o

mar e o céu e decidiu que esses esforços estariam a salvo. Parecia que o tempo

continuaria sendo bom.

Deu a volta, observando a massa de pessoas, todos absortos e concentrados

em alguma tarefa, e sorriu para si mesma. Estava a ponto de entrar na multidão

quando viu Harry, e depois Edmond e Ben, entre um grupo de jovens que estavam

ajudando a montar uma tenda.

Os meninos foram com ela nessa manhã. De nenhum modo eles perderiam

esse dia. Intrigada para saber com quem eles decidiram passá-lo, se aproximou.

Seus irmãos estavam ajudando a levantar um dos postos maiores, que os

proprietários das tabernas usariam para vender cerveja. Madeline apertou os

lábios, viu de qual taberna se tratava e, imediatamente compreendeu o atrativo

que tinha para seus irmãos.

— Noah Griggs. — Suspirou ao recordar que Gervase lhe dissera que o irmão

mais velho desse homem, Abel, era o chefe do bando de contrabandistas de

Helston. — Deveria ter desconfiado.

Falara em voz baixa para si, por isso a surpreendeu ouvir:

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— Sim, deveria — sussurrado em seu ouvido.

Conseguiu não dar um salto, mas foi mais difícil não estremecer. Virou a

cabeça e encontrou-se com os olhos de Gervase.

— Suponho que foi ingênuo de minha parte acreditar que tinham esquecido seu

interesse pelos contrabandistas.

— Em uma situação assim? — Olhou-a sorrindo. — Indubitavelmente ingênuo.

Atraiu seu braço para o dele e ficou próximo, protegendo-a da multidão com

seu corpo.

— Só pense isso: hoje podem passar com impunidade, de fato, com uma

absoluta, mesmo que fingida inocência, muito tempo sob a supervisão de Abel;

escutando as histórias com as quais, sem dúvida, deve estar entretendo os

meninos, e talvez também colaborar o suficiente para que Abel e seu irmão, o qual

é o proprietário da taberna, creio que lhe disse isso, os olhem com bons olhos.

Madeline bufou.

— Pode ser que Abel os olhe com bons olhos, mas eu não.

— Ah, mas na realidade não pode dizer nada, não?

Madeline suspirou.

— Suponho que não.

Gervase se virou e olhou a sua volta.

— Vou conferir os postos da muralha este. Porque não me acompanha? —

propôs-lhe.

Sentiu-se tentada, mas ao recordar o dia anterior e como as circunstâncias os

colocaram em uma situação enganosa, negou com a cabeça.

— Devo ir ver como estão as fiandeiras e tecelãs e confirmar se os

comerciantes de tecidos chegaram. Estão na porta noroeste.

Ele a olhou nos olhos, sorriu, levou sua mão aos lábios e beijou-a levemente.

— Reúna-se comigo quando fizer uma pausa para almoçar. Então precisarei

recuperar a sanidade.

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Madeline sorriu, assentiu e se separaram. Abriu caminho na multidão até que

encontrou as fiandeiras e as tecelãs montando suas rocas e teares e em frente a

elas, os comerciantes de tecidos, os chapeleiros e camiseiros procedentes de

Helston e inclusive alguns que chegaram de Falmouth.

Uma rendeira de Truro viajara até ali e a encontrou montando seu posto

ambulante com a ajuda das irmãs de Gervase. Sorrindo, Madeline parou junto ao

trio e saudou a mulher. Comprara-lhe rendas em alguma ocasião e sabia que seu

trabalho era excelente.

— Vou passar amanhã para ver o que tem.

A rendeira se ruborizou e fez uma reverência.

— Sim, senhorita Gascoigne, mas... — olhou as três garotas — estou pensando

que certamente terá que vir cedo.

— Ah! — Rindo, Madeline olhou para Belinda. — Comprando enfeites para seus

vestidos de apresentação à sociedade?

— Bem... — contestou a jovem. — Nos ensinou algumas coisas e parecem

muito bonitas.

— Oh, sim. — Com um amável gesto de despedida para a mulher, Madeline

voltou-se para continuar.

Após despedir-se também da rendeira, as três jovens a seguiram.

— Já é hora de comer? — Jane colocou-se na ponta dos pés para ver entre as

numerosas cabeças, o relógio que havia na muralha, por cima do arco do estábulo.

Madeline olhou as horas.

— Não, ainda não, mas vamos por ali, para que cheguemos à escada na hora

de entrar.

As jovens avançaram com ela.

Belinda ia a um lado e Jane ao outro com Annabel ao seu lado.

Belinda respirou de um modo bem mais solene. Quando Madeline a olhou,

disse:

— Sobre nossa apresentação à sociedade...

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Quando não continuou, Madeline a animou a dizê-lo:

— O que acontece?

— Bem, verá — Belinda franziu o cenho e retorceu os dedos, — em vista do

que sucedeu a Melissa e a Katherine, nos perguntávamos... Bem... — Olhou-a nos

olhos. — É habitual que uma dama recém casada envie as irmãs de seu esposo

longe desse modo? Que não deseje tê-las por perto? — Os olhos cor de avelã da

garota estudaram o rosto de Madeline. — Pensamos que você poderia sabê-lo.

Ela contemplou um momento seus olhos cor de avelã, muito parecidos aos de

Gervase, depois olhou os azuis de Annabel e finalmente a pequena Jane,

recordando o que Gervase lhe havia contado.

Nesse instante, apreciou por completo o alcance do que havia atrás das

travessuras das meninas. Ergueu os olhos, tomou uma lenta inspiração e

respondeu para Belinda:

— Sinceramente, creio que não tem que se preocupar por nada. O seu irmão

nunca as enviaria longe e, além disso, é improvável que qualquer dama com quem

ele decida se casar as veja como rivais de seu afeto, se uma possível esposa tentar

imiscuir-se entre ele e vocês três, logo perceberia que está equivocado.

Continuaram avançando devagar entre a multidão. Quando Belinda franziu o

cenho, nada convencida, Madeline sorriu com ironia e acrescentou:

— Seu irmão é um homem muito forte, não só no sentido físico da palavra,

mas em tudo. Nenhuma dama que eu já conheci seria forte o bastante para dobrá-

lo e conseguir seu propósito se ele não estiver de acordo.

— Nenhuma dama? — repetiu Jane.

Quando Madeline a olhou, a menina abriu muito os olhos. — Nem sequer você?

Ela riu e lhe apoiou uma mão no ombro.

— Nem sequer eu. — Olhando através das cabeças para a escada, acrescentou

com ar ausente: — Ainda que eu nunca desejasse fazer algo tão estúpido como

enviar vocês para longe.

Quando tornou a olhar para Belinda, viu um rápido sorriso em seu rosto.

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— Não. — A jovem baixou os olhos quando se aproximaram da escada. — Mas

essa é você... A nós nos preocupam outras mulheres. Você nos conhece, assim, é

diferente. Pode ser que outras damas não reajam diante de nós do mesmo modo.

Madeline esboçou um sorriso carinhoso, lhe pôs a outra mão no ombro e o

apertou levemente, de um modo tranqüilizador.

— Qualquer dama que seu irmão escolha pensará do mesmo modo. Agora

silêncio porque está aí.

Gervase estava de pé no alto da escada. Vira-as aproximar-se, contemplou o

semblante de suas irmãs e apertando os olhos, os tinha cravado no rosto de

Belinda.

Parecia bastante sério quando chegaram até ele, mas para surpresa de

Madeline, as três jovens lhe sorriram encantadas quando passaram ao seu lado,

atraídas pela promessa dos sanduíches.

Com os olhos ainda apertados, Gervase voltou-se para observar como se

afastavam.

A seguir, entrelaçou o braço de Madeline com o seu e a apressou a avançar

atrás delas.

— Parece que as fiandeiras e tecelãs se instalaram sem problemas, graças aos

céus. — Quando entraram no frio vestíbulo, olhou para trás. — Sabe se meus

irmãos entraram?

— Já estão aqui dentro. — O pessoal do castelo passou junto a eles, carregados

de bandejas de sanduíches para levar as mesas de cavaletes instaladas a um lado

da escada. Seria a comida de todos aqueles que foram ajudar a prepará-lo para o

grande dia.

Madeline descobriu que a expressão de Gervase estava relaxada. Apoiou a mão

sobre a que estava sobre seu braço.

— Vamos, o comitê está no salão.

Madeline lhe permitiu que a guiasse e a fizesse sentar-se ao seu lado. Sobre

um aparador havia uma pequena seleção de pratos frios. Deixou que ele enchesse

o prato enquanto escutava as últimas novidades de cada membro do comitê e

acrescentava seus próprios comentários.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Apesar de alguns pequenos problemas, tudo ia bem. Tudo parecia pronto para

um maravilhoso festival.

Enquanto comiam rapidamente, conscientes de ter que regressar o quanto

antes ao caos exterior, Madeline pensou nas irmãs de Gervase e em seu medo.

Com freqüência, estava tão ocupada mantendo-se ao corrente da vida de seus

irmãos que poucas vezes lhe sobrava atenção emocional para dedicar a outros no

distrito, nem sequer à família de Gervase, seus vizinhos mais próximos e de

posição similar.

As três jovens estavam sentadas no extremo da mesa e conversavam

animadamente com seus irmãos. Dissimuladamente, Madeline olhou para Gervase.

Ele a estava ajudando com os meninos. Ele a fizera tomar mais consciência da

iminente maturidade de Harry. Talvez, devido a sua nova proximidade e sua

relação, ela pudesse devolver-lhe o favor e assegurar-se que compreendia bem o

fundamento do temor de suas irmãs.

Quando regressaram ao pátio, se viram rodeados pela multidão e separados

pelas demandas de vários colaboradores, para que lhes dessem instruções ou lhes

esclarecessem algo. Estavam chegando mais vendedores ambulantes com seus

postos e tendas e a tarde passou em um organizado e, por sorte, amável caos.

O sol já brilhava no oeste, ocultando-se devagar atrás da muralha antes que a

algazarra começasse a ceder. Os nativos que haviam ajudado com os postos e

tendas se despediram e foram para casa. Satisfeitos com os preparativos, os

vendedores ambulantes se retiraram a seu acampamento fora das muralhas do

castelo, enquanto os comerciantes que viajaram até ali, se dirigiram aos seus

alojamentos temporários nos celeiros e estábulos próximos.

Um a um, os membros do comitê procuraram Gervase e se despediram dele.

Madeline, não obstante ficou até o final. Encontrou-se com Sybil nas muralhas.

Quando se aproximou ouviu-a dizer a sua madrasta:

— Estavam convencidas que se arriscavam a que lhes enviassem a viver com

sua tia avó, em Yorkshire. Pude compreender seu horror, claro.

Quando as damas se aproximaram, Gervase fingiu não ter ouvido nada, como

se o vento tivesse levado as palavras antes que lhe chegassem. Sorriu quando se

viraram para ele.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Surpreende-me poder informar que está tudo pronto. — Olhou Madeline nos

olhos. Tinha razão sobre os comerciantes e seus postos, mas nenhum caso me

chegou às mãos.

Ela lhe devolveu o sorriso enquanto retirava os cabelos que o ar agitava. O

vento soprou grudando o ligeiro vestido de Sybil ao corpo. A mulher estremeceu.

— Se não me necessita mais, vou me retirar.

— Deu umas palmadinhas no braço de Madeline. — Vejo-a amanhã querida.

— Muriel e eu viremos o quanto antes possível.

Gervase fez uma careta.

— Quanto cedo é isso? Quando começará o festival?

Madeline sorriu.

— Oficialmente, como deveria recordar, o senhor Maple e você irão fazer a

inauguração às dez horas, mas as pessoas começam a chegar a partir das sete.

Ele lhe ofereceu o braço e grunhiu.

— E suponho que eu terei que estar visível desde essa hora, para manter a

ordem com minha presença?

Ela soltou uma risada, pegou seu braço e começaram a andar junto à muralha.

— Isso ajudaria, mas basta que esteja a partir das oito. Os mais madrugadores

serão os comerciantes e os que desejam expor alguma coisa. Os visitantes

interessados só aparecem depois do desjejum. Claro, terá que ter seus homens nas

portas desde o amanhecer, para segurança.

Gervase assentiu.

— Isso já está arrumado.

Continuaram caminhando e usufruindo o refrescante vento que lhes soprava no

rosto, contemplando o mar, as longas ondas até romper e estalar em espuma na

costa.

— Suas irmãs falaram comigo. — disse finalmente, Madeline. Olhou-o,

tentando interpretar sua expressão. Ao não consegui-lo, fez uma careta e olhou a

frente. — Sybil disse que você sabe o que há atrás de seu estranho

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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comportamento. Devo admitir que, ainda que o houvesse mencionado, não pensei

realmente em como poderiam extrapolar as decisões de lady Hardesty, em como se

sentem ameaçadas.

Tornou a olhá-lo.

— Perguntaram-me se uma coisa assim é normal. Que uma dama recém

casada mande para longe suas cunhadas e eu lhes garanti que não, mas... —

Calou-se e inspirou. — Independentemente do que possa pensar, seu medo é

razoável. Eu me esqueço às vezes que muitas damas não controlam tanto seu

próprio destino como eu sempre fiz.

Gervase apertou os lábios e a olhou.

— O certo é que, admito que não sinta nenhuma pressa para garantir que

tenham o mesmo controle de suas vidas como você tem da sua. Por razões óbvias,

atualmente não é prudente me estressar com essa questão, não obstante... Não

tem que preocupar-se por elas, de verdade.

Madeline sorriu e olhou a frente.

— Eu sei. Disse–lhe que você nunca permitiria que as mandassem para longe,

como as jovens Hardesty. Assim, todo esse assunto estará em suas mentes até que

escolha a sua esposa e possam se convencer que não têm motivos para preocupar-

se.

Quando ele não disse nada, Madeline o olhou. — Eu as conheço desde que

nasceram e ainda que não passei muito tempo com elas até o momento, isso

mudará quando Belinda e Annabel forem apresentadas à sociedade. Tenho muito

carinho por elas.

Ele sorriu com um sorriso totalmente sincero. Levantou-lhe a mão da manga e

beijou-lhe os dedos.

— Elas têm sorte de contar com sua amizade e apoio, sobretudo nesse

momento de sua entrada na sociedade.

Madeline piscou. Gervase sabia muito bem que isso não era o que ela quis

dizer. Ao fim de um momento, encolheu levemente os ombros.

— Estarei encantada de ajudar em tudo o que puder, mas claro, sua madrinha

será sua condessa.

Ele lutou para apagar toda a intensidade de seu sorriso.

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— Claro.

Chegaram ao extremo da muralha e quando desceram pela escada que levava

ao pátio, Madeline anunciou:

— Devo procurar meus irmãos e regressar a casa.

— Eu os vi na zona das ferraduras. — Guiou-a para lá.

Encontraram os meninos absortos em uma partida improvisada, provando a

distribuição dos rapazes de quadra do castelo. Edmond e Ben estavam prontos para

ir, mas Harry arrumou uma desculpa dizendo que havia algo que queria comprovar

e que acabava de recordar nesse momento.

— Eu os seguirei quando tiver terminado de averiguar.

Madeline o olhou e Gervase pode ver a pergunta que se formava em sua

mente, mas então, ela inclinou a cabeça para Harry e disse:

— Muito bem. Mas não chegue tarde demais.

Junto com Edmond e Ben, montou e saíram. Gervase deu-lhes adeus com a

mão e voltou para o castelo. Harry ficou ajudando os rapazes de quadra a recolher

as ferraduras e a alisar a terra ao redor do gancho.

Enquanto subia a escada, pensou o que o rapaz precisaria comprovar. Uma vez

na varanda, olhou para trás e viu suas irmãs, um trio colorido que se aproximava

do castelo conversando. Deu a volta e entrou no vestíbulo antes que o vissem.

Aguardou entre as sombras até que entrassem.

— Vocês três.

Suas calmas palavras as fizeram parar em seco e virar-se para ele. Captou a

fugaz culpabilidade antes que suas expressões se endurecessem e, por sua vez

ergueram a cabeça para ele.

— Sim? — Perguntou Belinda.

Gervase se esforçou para reprimir um sorriso.

— Se não se importam, quero falar com vocês antes de trocarem de roupas.

Belinda franziu o cenho. Estava a ponto de usar a troca de roupas para o jantar

como desculpa. Seu irmão assinalou o salão, vazio nesse momento.

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Com um leve encolhimento de ombros, ela cedeu e encabeçou a fila. Annabel e

Jane a seguiram.

— O que acontece? — Perguntou.

Ele a olhou nos olhos, depois para Annabel e por último a Jane.

— Ainda que aprecie os seus sentimentos e espero contar com o apoio de

vocês, se eu precisar, agradeceria infinitamente se não começarem suas

artimanhas com Madeline.

As três mostraram seu desgosto.

— Por que não? — Perguntou Annabel — Fizemos muito bem esta tarde.

Belinda assentiu. — Jane foi especialmente brilhante.

Sua irmã sorriu com carinha de santa.

— Agora querem cuidar de mim.

De repente Gervase não estava mais seguro do que haviam feito. E muito

menos conseguido. — O que lhe disseram?

— Não foi o que dissemos — respondeu Belinda, — mas como o dissemos.

Madeline já conhece a ameaça que enfrentamos se você se casar com alguma

dama que não nos aceite e é bastante inteligente para saber que nossa crença na

ameaça não é totalmente sem fundamentos.

— Não é só um produto de nossa imaginação.

— Assim, claro, sendo a classe de pessoa que é e desempenhando seu habitual

papel de defensora dos fracos deste distrito, agora se sente nossa protetora. —

Belinda sorriu. — E é precisamente como queríamos que se sentisse. E se tem

algum sentido comum, verá que isso joga a seu favor.

De novo estava com a sensação de estar perdido. Abrigava a desagradável

suspeita que com suas irmãs, iria sentir-se assim cada vez com mais freqüência.

Levou um momento para se recompor e disse:

— Estou de acordo em que hoje conseguiram seu objetivo sem causar nenhum

problema, mas no que me diz respeito... — Como expressá-lo? — Se vocês a

pressionarem muito e ela perceber, provavelmente jogarão por terra meus

esforços. Por diversas razões, tenho que falar no assunto do casamento e

convencê-la de seus benefícios antes inclusive de insinuar semelhante

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possibilidade. Se fizerem com que ela tome consciência muito depressa, então meu

trabalho será muito mais difícil e, como vocês se lembram, que Madeline se case

comigo é tudo o que desejamos, incluindo vocês três.

— Bem, claro — afirmou Belinda.

— Claro — concordou Annabel.

Jane assentiu com a cabeça, enfaticamente.

Gervase estudou seus brilhantes olhos. — Então, não façam mais tentativas de

manipular Madeline ou suas emoções.

Belinda lhe dedicou um brilhante sorriso.

— Não fique preocupado. Não faremos nada que possa lhe tornar mais difícil

conseguir sua mão.

As outras duas sorriram e assentiram.

Gervase estudou seus rostos e soube que isso era o máximo que iria conseguir.

— Muito bem.

Ainda sorrindo, elas se dirigiram a porta.

— Recordem — repetiu antes que saíssem — manipular Madeline é assunto

encerrado.

Todas lhe dedicaram um risonho olhar fraternal quando saíram, deixando-o de

todo menos tranqüilo.

Regressou ao pátio e encontrou Harry esperando para falar com ele.

— Se tiver um momento, tenho... Algo que gostaria de comentar com você.

— Claro. — Gervase assinalou as muralhas com a mão e se dirigiram para lá.

Chegaram à escada, subiram e andaram de cara para o vento, de forma similar

a que havia feito antes com Madeline.

Harry permaneceu em silêncio, claramente nervoso. Gervase, mais acostumado

a interrogar que a esperar confidências, pensou se havia algo que deveria dizer

para facilitar as coisas ao rapaz, quando este reduziu o passo, se deteve e se virou

para contemplar o mar.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Ele parou também a um passo de distância e observou o perfil do jovem.

Finalmente, contemplou as ondas.

— É... Sobre Madeline. — Harry inspirou nervoso e continuou atropeladamente:

— Nós, Edmond, Ben e eu, bem, notamos que você lhe mostra bastante carinho e

nos perguntamos... Enfim, ela é nossa irmã e não há ninguém mais que irá

perguntar, assim como sou seu irmão... — Tomou então uma grande inspiração e

se voltou para ele. — Pensamos que eu deveria lhe perguntar...

— Qual são minhas intenções. — Gervase disse sério e bastante grave.

Manteve o olhar fixo no mar para dar tempo ao jovem para acalmar-se. — É

totalmente apropriado.

Hesitou, mas logo se obrigou a continuar. Podia ser que houvesse roçado as

bordas de seu dilema ao advertir as suas irmãs, mas em vista do direito que Harry

reclamara; um direito que inquestionavelmente possuía, com idade ou sem ela,

teria que responder-lhe com a verdade, o que significava ter de enfrentar um

problema ao qual se esforçava ao máximo por ignorar.

— O xis da questão é que quero pedir a mão de Madeline, mas ela ainda tem

que ceder e considerar uma proposta assim. — Deteve-se antes de continuar: —

Como já sabe, sua irmã é sua própria dona e senhora, e uso esse termo com

conhecimento de causa. Quando me aproximei dela com mais interesse que o

habitual na primeira vez, ela percebeu isso, claro. Ao longo de nossas seguintes

conversas, me deixou muito claro que se nega fortemente a contemplar a

possibilidade de ser minha esposa.

— Mas... Por quê?

Gervase voltou-se para Harry, que o olhava surpreso.

— Refiro-me que não há nenhum motivo para que não possa ser sua condessa,

verdade? — O rapaz franziu o cenho. — Sei que não temos muita idade nem somos

experientes, mas parece que todos os demais — com um gesto abarcou toda a

zona com as mãos — a vêem já como tal ou quase.

— Exato. Não há nenhum impedimento, a exceção da opinião da sua irmã.

Tenho intenção de fazê-la mudar de opinião, mas sem dúvida, você sabe o quanto

é difícil conseguir isso, sobretudo quando acredita que tem razão.

— Ah.

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— Assim é tudo e estou me esforçando. — Começou a andar de novo. — E

estou decidido a consegui-lo. Ainda que me tome tempo e... Certo grau de

persuasão.

Guardou silêncio durante todo um minuto, enquanto buscava as palavras para

transmitir o que sabia que devia dizer. — Assim, agora você e seus irmãos

conhecem minhas intenções, minhas irmãs as conhecem, Sybil também...

— Creio que Muriel também está ao corrente — afirmou Harry.

Gervase inclinou a cabeça.

— Todos os que tinham que saber, já sabem ou o supõe. A única pessoa

importante que não conhece meus planos é a própria Madeline. — Ergueu uma mão

para silenciar a surpreendida pergunta de Harry. — O motivo é simples. Explicou-

me sua opinião sobre a idéia de ver a si mesma como minha esposa antes que eu

pudesse tocar no assunto. Pelo que, para ter uma verdadeira possibilidade de que

aceite minha proposta, sendo como ela é, tenho que fazê-la mudar de opinião antes

de falar. De fato, antes que possa imaginar que pretendo propor-lhe matrimônio e

que, na realidade, essa tem sido minha intenção desde o principio.

Harry guardou silêncio por vários minutos enquanto analisava a lógica do que

acabava de ouvir, finalmente fez uma careta.

— Se lhe faz uma proposta antes que ela acredite ser uma boa idéia, irá

recusá-la e a partir desse momento vai te evitar como se fosse à peste, para que

não possa aproximar-se o suficiente e convencê-la que está equivocada.

A resposta dele foi breve.

— Sabia que compreenderia.

Haviam chegado ao final das muralhas. Pararam no alto da escada e

examinaram o pátio de entrada, um campo de mesas sobre cavaletes, postos e

toldos.

Após um momento, Gervase murmurou:

— Agradeceria a você e seus irmãos que mantivessem minhas intenções em

segredo até que consiga fazê-la mudar de opinião.

— Oh, sim. Não se preocupe. — Harry lhe dedicou um sorriso. — Não queremos

estragar seu plano.

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Ele lhe devolveu o sorriso e começaram a descer. Quando chegaram ao pátio, o

jovem suspirou.

— As mulheres são tão condenadamente complicadas, certo?

— Sim. — Gervase respondeu, apertando a mandíbula. — Isso e mais.

Lamentavelmente, como sabia desde há muito tempo, as mulheres também

eram uns seres sem os quais seria impossível viver. Seguiu repetindo esse tópico

ao longo de todo o dia seguinte, enquanto se esforçava por manter um sorriso

relaxado nos lábios e ao seu redor mulheres de todos os estados corriam

freneticamente.

Suas irmãs, parentes próximas eram as piores.

O dia do festival amanheceu brilhante e limpo. Às sete horas em ponto, tal

como Madeline prognosticara, os comerciantes começaram a chegar, abriram seus

postos e colocaram as mercadorias. Às oito horas, quando, depois de um rápido

desjejum, saiu para o alto da escada do castelo, muitos nativos com produtos ou

artesanatos para exibir ou com os que iriam participar dos diversos concursos já

estavam entrando pela porta principal.

Burnham, seu encarregado das cavalariças, se aproximou da escada.

— Quando deseja que se abram as outras portas, milorde?

Gervase observou o fluxo de pessoas que saudavam dois corpulentos rapazes

ao passar pela entrada.

— Quando se formar fila na porta principal, abram as outras duas. Recorde que

deve manter dois homens em cada uma.

Burnham tocou o gorro.

— Confirmarei isso. Somos muitos para fazer turnos, assim, estaremos atentos

ao que suceder.

Gervase assentiu. Logo ergueu os ombros, esboçou um sorriso e adentrou no

já crescente tumulto.

A inesperada conversa com Harry, unida aos úteis esforços de suas irmãs, lhe

fizeram tomar consciência de que ao cortejar Madeline suas intenções ficaram

evidentes para a maioria das pessoas ao seu redor e que cada vez o seriam mais.

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Não ocultava a ninguém seu interesse por ela, pelo que não havia nenhum

motivo para não usar aos demais, suas atitudes, suas expectativas, para conseguir

seu objetivo. Por conseguinte, havia feito as disposições apropriadas para o dia.

Eram quase nove horas quando Madeline chegou ao castelo com Muriel e seus

irmãos. Gervase se reuniu com ela junto a escada. Sybil saiu à varanda,

acompanhada de Belinda, Annabel e Jane.

Trocaram saudações e sua madrasta, surpreendentemente, tomou o comando.

— Bem — começou, — como Gervase esteve fora tanto tempo e, de fato,

nunca antes foi o anfitrião do festival, deveria passar o dia circulando entre nossos

visitantes. Eu ficarei aqui e agirei como coordenadora para possíveis problemas que

possam surgir, as meninas farão qualquer recado ou mensagem que precisarem ser

transmitidas.

Madeline sorriu.

— Eu os ajudarei. — normalmente, seu papel era o de supervisora.

— Não, é melhor que não — declarou Sybil. — Você conhece a todos melhor

que ninguém, assim o lógico será que acompanhe Gervase. Os outros membros do

comitê logo estarão aqui para ajudar-me.

Ela piscou e olhou as meninas.

— Mas o certo é que as meninas prefeririam aproveitar percorrendo os postos.

— Oh, já os vimos — assegurou-lhe Belinda. — E além do mais teremos tempo

para dar uma volta mais tarde, quando tudo estiver mais calmo.

— Já compramos metros e metros de rendas — comentou Annabel. — E

pedimos que nos guardassem três pares de luvas.

— Entendo. — A verdade era que Madeline não entendia nada.

Quando olhou Gervase, Muriel interferiu:

— Será melhor que vocês dois se ponham já em marcha. Madeline poderá

vigiar seus irmãos enquanto anda. Já desapareceram.

Gervase a tomou pelo braço.

— Não tente discutir. Eu já cedi aos desejos de Sybil há várias horas.

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Ela finalmente cedeu também e lhe permitiu que a guiasse pela escada e entre

a multidão.

Na hora seguinte passaram sorrindo e saudando as pessoas: aos granjeiros e

suas esposas, jornaleiros, trabalhadores dos povoados próximos.

O festival de verão sempre era um êxito e atraia visitantes inclusive de

Falmouth, além do mais a maioria da população de Helston. Mas era, antes de tudo

e, sobretudo, um festival local.

De braço com Gervase, Madeline observou a multidão.

— Todos os residentes da península de Lizard nos visitarão hoje e falo

literalmente.

Ele cobriu com a sua, a mão que lhe apoiava na manga.

— Por isso sua presença ao meu lado é tão essencial. Mesmo conhecendo aos

meus trabalhadores e inclusive recordando os nomes da maioria de suas esposas,

ainda tenho que localizar a quase todos os demais. Passei aqui todos os verões de

minha juventude e assisti a muitos festivais, mas nunca imaginei que herdaria o

título e pouco me esforcei para recordar demasiado.

Ela o olhou.

— Mas o está fazendo muito bem.

— Com seus conhecimentos a minha disposição, estou certo que o conseguirei.

Madeline ia bufar ante sua arrogância, mas em lugar disso riu. O certo era que

estava se divertindo mais que nos festivais anteriores; de seu braço, sem mais

pesadas responsabilidades que sussurrar-lhe nomes ao ouvido, pode contagiar-se

da alegre atmosfera, escutar as risadas, a excitada brincadeira dos meninos, as

ocasionais exclamações entre o incessante murmúrio das conversas.

Havia poucos verdadeiros desconhecidos; inclusive os vendedores ambulantes

e os viajantes eram assíduos, rostos familiares. Também os apresentou a Gervase.

Rodearam o pátio e quando se aproximaram do pé da escada uma vez mais viram

o vigário, o senhor Maple, sorrindo e conversando com Sybil e a senhora Entwhistle

na varanda.

Gervase consultou o relógio do arco do estábulo.

É quase hora de fazer as honras.

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Juntos, subiram a escada. Os demais membros do comitê se aproximaram,

todos encantados pelas coisas que até o momento estavam segundo o previsto. A

seguir, o senhor Maple, com um tom estridente polido por anos falando no púlpito,

pediu a todos do pátio que se aproximassem.

— Amigos meus! — Sorriu-lhes. — Estou encantado de dar-lhes as boas vindas

ao nosso festival anual de verão. Como é habitual, estou aqui para agradecer a

todos os que contribuíram para fazer possível este dia e agradecer em nome da

paróquia e de nossa igreja a generosidade que derivará de vossas atividades de

hoje. E...

Gervase se moveu para colocar-se ao seu lado, um pouco mais atrás; ele seria

o seguinte a falar. Ao perceber, Madeline afastou o braço do seu com a intenção de

retroceder e ficar com os outros membros do comitê, mas Gervase, de imediato,

lhe pegou a mão.

Ela o olhou, mas ele olhava já ao senhor Maple, que entoava uma oração

pedindo a benção de Deus para esse dia.

Ele a segurava demasiado firme para que pudesse soltar os dedos sem mais,

mas se tirasse pareceria como se estivesse forçando...

— E agora cederei à palavra a nosso novo conde, lorde Crowhurst. —

Sorridente, o senhor Maple se voltou para Gervase e retrocedeu para que ele

ficasse na frente e no centro do pequeno grupo; com Madeline ao seu lado, que não

pode fazer outra coisa que sorrir amavelmente e fixar a atenção nele quando, com

desenvoltura e evidente sinceridade, deu as boas vindas ao castelo à multidão.

Logo repassou brevemente o programa das atividades e comentou as

numerosas novidades. Nomeou os membros do comitê para que recebessem um

aplauso de agradecimento; e terminou expressando seu desejo para que todos

desfrutassem do dia e dos esforços que se exibiam nos postos e tendas que

enchiam o pátio. Por último declarou o festival oficialmente inaugurado, ao que a

multidão respondeu com entusiasmados vivas.

As pessoas se dispersaram para encher os corredores entre os postos e tendas.

Gervase se voltou para Madeline e os demais membros do comitê e sorriu

claramente satisfeito e relaxado. Felicitou a senhora Entwhistle, que parecia muito

mais aliviada agora que seu planejamento estava dando bons resultados. A senhora

Juliard e a senhora Caterham trocaram palavras de ânimo e saíram

apressadamente para supervisionar as resoluções dos primeiros concursos.

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— Não esqueça milorde — advertiu-lhe a senhora Juliard na metade do

caminho, na escada. — Precisaremos que entregue os prêmios de bordado e ponto

em meia hora. Ele confirmou a citação com um assentimento de cabeça. Quando,

ao dispor-se a descer uma vez mais ao pátio, Gervase lhe colocou com firmeza a

mão no oco de seu braço, Madeline pensou que estava se mostrando demasiado

suscetível. Ninguém parecia ver nada digno de menção no fato de que ele a retinha

ao seu lado de um modo tão descarado.

Melhor assim, porque Gervase parecia decidido a não deixá-la ir. Não sabia se

a via em parte como um bastão de apoio ou um escudo, mas era evidente que

acreditava que seu lugar era ao seu lado. Sentiu-se um pouco receosa. De seu

braço deveria ter ido sua condessa. As pessoas pensariam que ela tinha os olhos no

título?

Observou as reações de todos os habitantes e campesinos por igual. Quando se

reuniram com a senhora Juliard junto à exibição de trabalhos de ponto e bordado,

apesar de terem se encontrado com muitas pessoas, ninguém se preocupou com

sua presença ao lado de Gervase.

Enquanto percorriam a exibição, ao observar como Gervase fingia um interesse

que ninguém imaginava que tivesse, inclinou-se para ele e lhe murmurou:

— Não tem a mínima idéia da diferença entre petit point e gros point, certo?

— Nenhuma em absoluto. — olhou-a nos olhos. — Isso importa?

Madeline sorriu e lhe deu umas palmadinhas no braço.

— Limite-se a seguir o exemplo da senhora Juliard. — Teve a intenção de

deixá-lo com ela e retroceder, mas de novo, quando afastou a mão de seu braço,

Gervase a pegou.

Reteve-a ao seu lado, presa entre ele e a senhora Juliard, enquanto sorria,

entregava prêmios às sorridentes damas e lhes apertava a mão.

Quando finalmente continuaram seu avanço com ela mais uma vez ao seu lado,

Madeline o olhou.

— Não posso estar todo o tempo com você.

Gervase ergueu as sobrancelhas.

— Porque não?

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— Por que... — Ao olhar aqueles olhos âmbar, percebeu que não havia

nenhuma boa resposta, nenhuma que ele fosse aceitar.

Compreendendo seu dilema, Gervase sorriu.

— Esta vez a organização não é responsabilidade sua. De fato, a única

responsabilidade que pode reclamar é guiar-me entre os meandros da vida social

local e divertir-se.

Ela soltou um bufo e resmungou:

— Divertir-me não pode ser considerada uma responsabilidade.

Enquanto voltavam a rodear o pátio, descobriu-se tomando muito mais

consciência — aproveitando — dos encantos do festival e do ambiente do que já

fizera antes. As mercadorias expostas nos postos e sobre as longas mesas de

cavaletes eram fascinantes e tentadoras; os produtos dispostos nas diversas tendas

eram impressionantes.

Madeline comprou rendas, dois pares de luvas e um longo rolo de laço. A renda

e o laço ela guardou nos bolsos de seu vestido de passeio, verde maçã; Gervase lhe

ofereceu amavelmente o bolso de sua jaqueta para as luvas.

As horas voaram. Foram requisitados muitas vezes por um ou outro membro

do comitê para anunciar os ganhadores e entregar os prêmios das diversas

competições e concursos. O da melhor cerveja local foi claramente seu favorito;

após ter superado os concurso de ponto e bordado, nenhum dos outros artesanatos

lhe exigiu um verdadeiro desafio.

Para almoçar, todos tomaram os tradicionais produtos locais — pastéis,

salgados, empanados e sanduíches, — fornecidos pelas confeitarias locais junto as

tabernas, que haviam montado tendas e bancos para atender aos famintos

visitantes do festival.

Madeline se sentou em um banco ao sol, ao lado de Gervase, e comeu com

elegância um empanado enquanto ele devorava três pastéis de carne. Quando lhe

perguntou, ela teve que admitir que realmente estava muito bem; nunca se sentira

tão relaxada, não durante um festival.

Não sabia se era o efeito do cálido sol, o alívio por ver tudo correndo tão bem

ou o fato de estar rodeada de tanta gente se satisfazendo com prazeres tão

simples; mas o certo era que à medida que a tarde avançava, começou a ver o

mundo, um mundo familiar mesmo diferente, através de uns cristais cor de rosa.

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Parecia que nada poderia estragar seu ânimo. Nem sequer o fato de ver o grupo de

Helston Grange entre a multidão.

Chegaram à primeira hora da tarde; um grupo de damas elegantes, vestidas

mais para um passeio por Hyde Park, que avançavam por um corredor observando

os produtos do campo com um ar desdenhoso.

Ao ver os bufos e os olhares furiosos que lhes dirigiam as suas costas, Madeline

ocultou um sorriso. Se as damas tivessem visto essas reações, não se sentiriam tão

superiores.

— E esse, — murmurou Gervase ao seu lado, — suponho ser Robert Hardesty.

Ela dirigiu os olhos para onde lhe assinalava com a cabeça. Lady Hardesty

passeava por outro corredor de braço com um cavalheiro de cabelos escuros ao

qual Madeline não havia visto antes. O casal estava acompanhado de perto pelo

senhor Courtland e outros dois aos quais vira no chá do vicariato, com Robert

Hardesty fechando o grupo.

Sim, esse é Robert. — Madeline o observou durante um momento. Foi quase

como se uma pequena nuvem houvesse aparecido para estragar aquele glorioso dia

e flutuasse sobre a cabeça do jovem nobre. Sua expressão não era indiferente, mas

indecisa, como se não estivesse certo de qual sentimento mostrar... — Não parece

feliz. — Parecia mais com um cachorrinho recusado, abatido.

— Já se vê que não parece uma proclamação dos encantos do casamento —

arrematou Gervase com seriedade.

Madeline fez uma careta.

— Não, desde já, não.

Mesmo elegante e bem vestido segundo os estandartes do campo, em

comparação com a sofisticação de sua esposa e a aparência e modos claramente

polidos de seus companheiros, Robert parecia o jovem baronete que era, criado no

campo; não podia e provavelmente nunca conseguiria chegar às solas dos sapatos

dos admiradores de sua esposa.

E o pior era que lady Hardesty não fazia o mínimo esforço para fingir que tinha

sequer o mais superficial interesse por ele.

Apertando os lábios, Madeline contemplou o espetáculo durante um momento

mais da conta, logo olhou ao seu redor e se fixou em que muitos outros — o senhor

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Maple e sua irmã, os Juliard, os Caterham — contemplavam a cena do mesmo

modo. Uma vinheta entre muitas.

A situação era tão clara que ela sabia e não afirmaria que lady Hardesty teria

nenhuma cálida aceitação nos círculos sociais locais.

Por seu modo de comportar-se — disse Gervase, fazendo-a dar meia volta e

guiando-a para a muralha do este, — deduzo que lady Hardesty não abriga

nenhuma ambição de ser aceita nos salões locais, salvo que seja a contragosto.

Madeline ergueu as sobrancelhas.

— Parece isso.

Não voltaram a falar de Robert Hardesty, mas essa visão dele, da demonstrada

desigualdade e da infelicidade na qual derivava, ficou-lhe gravada em um lugar da

mente, uma pequena nuvem escura em seu firmamento por demais glorioso.

— Seus irmãos parecem extraordinariamente interessados no que meu pai

chamaria ―ninharia feminina‖. — Gervase assinalou com a cabeça para Harry e

Edmond, que pareciam absortos em laços e adornos de renda, enquanto Ben corria

adiantando-se e enfiando-se entre eles.

Ela sorriu, tirou o braço e o fez afastar-se.

Gervase desejava levá-la até eles, mas erguendo as sobrancelhas cedeu aos

seus desejos.

Sorridente, Madeline olhou para frente.

— Dentro de poucos dias será meu aniversário. Sempre recebo bugigangas e

bandeiras adquiridas nas tendas do festival.

— Ah. — Após um momento, Gervase comentou: — Suponho que por aqui não

há muitas fontes alternativas de inspiração.

— Na realidade, — inclinando-se um pouco confessou, — eu sempre me

descubro examinando os objetos expostos e pensando quais eu acabarei ganhando

ao cabo de uns dias. Converteu-se em uma espécie de jogo averiguar se posso

identificar o que lhes chama a atenção quando pensam em mim.

Gervase a fitou.

— E acerta?

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— De vez em quando. Curiosamente, é Ben quem parece adivinhar do que

gostarei mais.

— Percepção sem se contaminar pelo pensamento racional — declarou

Gervase. — Lamentavelmente, quando um homem cresce o suficiente para captar a

diferença essencial entre homens e mulheres, essa capacidade se perde.

Soou muito realista. Madeline riu e continuaram passeando.

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Capítulo 12

O festival de verão da península de 1816 foi um êxito retumbante. Mais tarde,

nessa noite, na carruagem com Muriel e seus irmãos, de regresso ao castelo para o

jantar de celebração que Sybil organizava em honra do comitê e suas famílias,

Madeline refletiu sobre o dia.

Sem o conhecimento de ninguém, salvo do pessoal de Crowhurst, Gervase

organizara um final único para o acontecimento, uma salva de três tiros de canhão

disparados pelos grandes canhões que durante os longos anos de guerras haviam

custodiado os rios da muralha do castelo que dava par o mar.

Reuniu-se com o senhor Maple e, levando Madeline com ele como fizera

durante toda a jornada, subiu a escada do castelo, agradeceu a multidão que ainda

passeava pelo pátio e deu a ordem para os disparos das salvas em honra de todos

eles. O primeiro estalido sobressaltou aos presentes, mas inclusive antes que os

ecos se apagassem já se ouviam exclamações, vivas e aplausos, e os meninos

corriam para as muralhas para ver o seguinte tiro do canhão.

Madeline recordou o momento com um sorriso. Um final espetacular para um

dia glorioso. Sua carruagem foi à última a parar diante da escada do castelo. Os

membros do pessoal e muitos voluntários locais haviam trabalhado rápida e

eficazmente para devolver ao lugar seu habitual e espaçoso aspecto; a tênue luz

ocultava os estragos que tinham sofrido os prados e muralhas.

Uma sensação de alívio e de satisfação envolvia tanto o lugar como as pessoas;

os membros do comitê sorriam e não deixavam de felicitarem-se uns aos outros.

O jantar foi ótimo. Madeline não se surpreendeu ver-se sentada junto a

Gervase.

Na realidade, não havia nada mais apropriado para ocupar esse posto; não

significava nem se veria como indicativo de nada mais.

Após uma relaxada refeição, durante a qual se prescindiu da formalidade a

favor das regras menos rígidas normalmente aplicadas as reuniões familiares, os

cavalheiros decidiram levantar-se junto com as mulheres e acompanhá-las ao

salão, para continuar compartilhando ali, as diversas histórias e anedotas

acumuladas durante o dia.

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Lady Hardesty e seus convidados tinham sido observados por muitos. Ao

escutar os comentários, Madeline percebeu que nenhum se referia diretamente à

dama, mas que se fixavam nos modos de seus amigos. Era uma sutil reprimenda,

educada, mas mordaz, não menos real por não pronunciar-se em voz alta.

Lady Hardesty era visada; todos estavam de acordo nisso.

Fazia só dez minutos que haviam regressado ao salão quando Muriel tocou o

braço de Madeline.

— Não, não se levante. — Sua tia se inclinou para falar com ela em voz baixa

enquanto Madeline continuou sentada e relaxada na grande poltrona. — Esteve de

pé o dia todo, igual aos meninos. — assinalou o trio com a cabeça. Estavam em um

banco, quase dando cabeçadas e tentando permanecer acordados, o mesmo que as

irmãs de Gervase e o filho pequeno dos Juliard. — Eu me retiro e os levo a casa,

mas você deve ficar um pouco mais.

Antes que pudesse reagir, Muriel olhou para Gervase, que estava sentado na

poltrona a o lado.

— Tenho certeza que o conde ficará encantado de te acompanhar mais tarde.

Não há necessidade de interromper sua noitada. Merece se divertir um pouco.

— Oh, mas... — Madeline, a quem a sugestão pegou totalmente desprevenida,

olhou para Gervase e o descobriu sorrindo a Muriel com demasiada doçura.

Levantou-se e fez uma reverência a mulher.

— O conde estará mais que encantado, — disse. — Levarei Madeline a

Treleaver Park quando a festa acabar.

Muriel lhe sorriu.

— Excelente.

Ela ficou olhando sua tia. Esta não era exatamente uma mulher que tivesse

aversão aos homens — depois de tudo, era viúva, — mas dedicava pouco tempo a

cavalheiros bem parecidos, pois considerava que a maioria não o merecia.

Gervase, evidentemente, entrava em uma categoria diferente.

— Eu... — Ergueu os olhos para ele, que ergueu as sobrancelhas em um

educado gesto.

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— Só começamos a repassar todas essas pequenas coisas que poderiam ter

saído melhor. Seria bom que ficasse. Mas organizar o festival já não era sua

responsabilidade; depois desse dia, e sem dúvida uma vez que Gervase se casasse,

esse papel recairia sobre sua esposa.

Ele a olhou e se limitou a decidir:

— Por favor.

Com o olhar fixo no dele, inspirou, conteve o ar e finalmente cedeu.

— Muito bem. — Olhou sua tia. — Se está certa disso...

— Claro que estou. — Com um gesto desdenhoso da mão, Muriel se afastou

para ir avisar os meninos, que se aproximaram para despedir-se, inclinando-se

educadamente diante dos convidados antes de retirar-se.

— Parece que caminham dormindo — comentou a senhora Caterham para

Madeline.

— Como nossas duas filhas, mas agora que seus meninos de foram, penso que

se acomodarão ali com as meninas de Sybil. — Disse isso, virou-se para escutar

como o senhor Ridley explicava que dois patifes tentaram roubar alguns adornos

para cavalos e receberam o merecido.

— Nunca tinha visto tanta desfaçatez! — Gerad riu e deu uma palmada no

músculo. — Mas os colocamos no trilho. Burnham os fez limpar o pátio dos blocos.

Com tantos cavalos havia muito que fazer.

Passaram voando várias horas de agradável conversação. A senhora Entwhistle

tomou notas, ainda que não tivessem ocorrido graves dificuldades para levar em

conta. Ao final, com uma sensação predominante de satisfação, os convidados

levantaram-se e se despediram de uma cansada, mas encantada Sybil.

No vestíbulo, Madeline ficou conversando com ela, enquanto Gervase saia à

varanda para despedir-se do senhor Maple.

Sybil sufocou delicadamente um bocejo, sorriu a Madeline e lhe apoiou uma

mão no braço.

— Obrigada. Sei que acredita que não fez muito, mas a verdade é que só tê-la

ao seu lado tornou esse dia muito mais fácil para Gervase.

A mulher olhou para a porta e confirmou que seu enteado continuava ocupado.

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— É mais fácil para você por ter crescido aqui, conhecendo seu lugar. Nem

sequer é muito difícil para mim, porque tive a possibilidade de acostumar-me. Mas

me preocupava como ele conseguiria levá-lo. Não porque não fosse consegui-lo,

mas porque não teve muito tempo para adquirir todos os conhecimentos

necessários. — Voltou a sorrir para Madeline. — Isso é o que você lhe fornece,

querida, um terreno sólido sobre o qual avançar. — Apertou a mão com delicadeza

em seu braço e a soltou. — Sei que ele aprecia sua ajuda. Só queria que soubesse

que eu também.

Ela sorriu. Tinha se negado, mas se o fizesse daria importância ao gesto de

agradecimento de Sybil e lhe tinha muito carinho para ferir seus sentimentos.

Então Gervase apareceu e olhou Madeline nos olhos.

— Burnham foi buscar minha carruagem.

— Nesse caso — comentou Sybil, — deixo-a aos cuidados de Gervase, querida.

Boa noite.

— Boa noite.

Gervase se despediu de sua madrasta com um gesto de cabeça.

— Verei você pela manhã.

— Sim, querido. — Fez um gesto de benção com a mão e se dirigiu a escada.

— Vamos. — Gervase lhe ofereceu o braço. Madeline o pegou e foi com ele até

a carruagem.

Em questão de minutos estavam atravessando os portões do castelo e se

dirigiam ao este, pelo caminho paralelo aos penhascos. Havia pouca luz, mas ela se

sentia muito relaxada. Confiava totalmente na capacidade de Gervase de manejar

os poderosos cavalos negros.

A lua brilhava de modo irregular, débil e velada pelas nuvens altas. Claro, havia

luz suficiente para que, recostada no assento, pudesse observar seu perfil,

considerar o que via ali, projetado como uma moeda romana com o escuro fundo

do mar.

Passaram-lhe pela mente os acontecimentos do dia. Gervase precisava de uma

esposa, esse era um fato que ninguém podia questionar. Mas que tipo de esposa?

Até esse dia não havia pensado demasiado no assunto; não tinha que ruminar

muito para saber que, qualquer que fossem os requisitos, ela não os cumpria.

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Mas depois de como tinha transcorrido a jornada, sobretudo, depois de ver lady

Hardesty com o pobre Robert atrás, a questão havia se tornado ainda mais

agoniante.

Como Sybil, ela só desejava a felicidade de Gervase. Sabia, mais que a maioria

das pessoas, o que ele havia sacrificado durante a guerra e, em sua opinião, a

sociedade lhe devia alguma compensação, concretamente uma vida feliz. Não seria

justo se não a tivesse. O que significava que necessitava a esposa adequada. Mas

nesse contexto, o que era ―adequado‖?

Antes de conhecer o caso dos Hardesty, havia sugerido uma beleza de Londres,

a filha de algum nobre de gama apropriado, com uns sólidos antecedentes no

reluzente mundo da capital. Mas de que serviria conhecer a ordem de prioridade

diplomática ou o tipo de chá mais popular para servir a uma duquesa pela tarde se

a questão mais urgente para o marido era a quem, entre numerosos responsáveis

locais reunidos, era prudente saudar primeiro?

Madeline respondera a essa pergunta em diversas ocasiões nesse dia, de um

modo ou outro e; ainda que qualquer dama pudesse aprender as respostas, fazê-lo

pressupunha um interesse por ele e isso, não só lady Hardesty, mas também suas

convidadas haviam demonstrado — não era uma qualidade que necessariamente as

damas de Londres possuíssem.

As rodas da carruagem sacudiam ritmicamente sobre o desgastado caminho.

Ela havia desempenhado o papel de condessa junto a Gervase nesse dia; não

deveria ser-lhe difícil imaginar a dama capaz de assumir a mesma

responsabilidade.

Evidente que sua mente seguia em branco, inutilmente tentara fixar-se,

pensar... Não lhe ocorria ninguém da zona com a idade adequada, para não falar

que, além do mais, fosse capaz de despertar seu interesse.

Observou os cavalos e se obrigou a centrar-se de novo no presente. Gervase

reduziu o passo e fez girar os animais.

Madeline olhou ao seu redor e percebeu que ele estava pegando o caminho que

levava ao embarcadouro. Custou-lhe um segundo questionar seus próprios

impulsos.

Finalmente encolheu os ombros. Quando estavam no alto do inclinado caminho,

Gervase fez os cavalos deterem-se, desceu e lhe entregou as rédeas.

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— Fique aqui e cuide do freio.

Madeline tinha começado a voltar-se para descer, mas então parou, refletiu e

voltou a sentar-se. Gervase colocou-se junto aos animais, pegou-lhe a brida perto

do bocado e começou a guiá-los caminho abaixo.

Ter alguém no freio era necessário para que os cavalos não tentassem ir rápido

demais e as rodas não resvalassem. A trilha era demasiado abrupta e aqueles

animais, demasiado valiosos para correr o risco.

Madeline manteve as rédeas frouxas em uma mão, apoiou a outra no freio e

deixou que Gervase os guiasse para baixo.

A carruagem encaixou perfeitamente no espaço que havia detrás do

embarcadouro.

Pareceu-lhe normal permitir-lhe que a pegasse pela mão e a ajudasse a descer

e a guiasse para dentro. Era a terceira vez que estava ali com ele, em seu lugar

particular; surpreendeu-se um pouco como se sentia cômoda e segura — serena e

tranqüila — quando a levou até o canapé e a fez virar-se para seus braços.

Beijou-a, uma troca longa e doce, um beijo prolongado quando ela lhe

devolveu o prazer.

Quando Gervase o interrompeu, Madeline tinha os dedos enroscados em seus

cabelos e os dele estavam ocupados com seus laços.

Gervase a olhou no rosto, o dele era uma combinação de delineados planos e

sombras.

— Queria lhe agradecer.

Madeline sorriu.

— Todos já o fizeram. Várias vezes. Mas para você lhe direi o que não disse a

Sybil, não necessito que me agradeça. Aproveitei muito deste dia.

Os lábios dele se curvaram em um sorriso que, na opinião dela, era demasiado

travesso, mas sob aquela luz tênue não podia estar certa.

— Mas desejava agradecer-lhe do meu próprio modo.

O vestido deslizou para o chão; Madeline se esforçou para reprimir um

estremecimento muito ávido, invocado pela sensação de suas mãos, ásperas e

hábeis, e seu calor rodeando-lhe a cintura.

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Umedeceu os lábios e se pôs nas pontas dos pés para murmurar-lhe contra os

seus:

— Do seu modo?

— Humm. — Tinha baixado os olhos para seus seios. Levantou as mãos até

eles e as fechou em cima com reverência. — Disse que desfrutou muito desse dia.

Em troca de sua ajuda, me parece que é justo que me garanta que também...

Desfrutei muito desta noite.

Seus dedos se moveram e Madeline ficou sem respiração. Brincou e ela fechou

os olhos ao mesmo tempo em que abria os lábios em um suave arquejo,

incrivelmente provocador e inegavelmente erótico.

Gervase abaixou a cabeça, beijou-a e, com sua consumada maestria, a fez

dançar aquela dança que ele havia lhe ensinado. Aquela em que seus corpos

falavam com mais clareza que as palavras; em que cada carícia levava consigo um

significado, além de prazer; em que os lábios, línguas e mãos orquestravam e se

comunicavam com um grau de eloqüência inimaginável; em que os corpos, mentes

e inclusive almas podiam falar de um modo direto e sem as tramas intrínsecas do

discurso verbal.

Quando se estenderam no canapé, os dois ardentes com as peles nuas e longas

extremidades entrelaçadas, Madeline percebeu que podia dizer muito mais assim,

desse modo. Quando a atraiu sob ele e com uma poderosa investida os uniu, o

acolheu e agarrou-se, animou-o e exortou, deixou livre seu lado mais selvagem

para que cavalgasse com o dele.

Quando o calor e a paixão aumentaram e os consumiram, Madeline pode abrir

seu coração e deixar que a verdade saísse... E que ninguém a ouvisse. Só ela

soube quando se elevou e se agarrou a ele; quando jogou a cabeça para trás e

deixou a gloria reclamá-la, profunda, forte e poderosamente, até onde havia se

metido ele em seu coração e sua alma, o irreparável e indelével que havia se

convertido em parte de seu ser.

Isso só ela o soube.

A tormenta passou, o frenesi cessou e se transformou em uma bendita calma

de reverberações. Deitada de boca para cima com Gervase caído, relaxado e

pesado sobre ela; Madeline, com os olhos fechados e passando os dedos

ociosamente por seus cabelos, sorriu e pensou que não importava qual fosse o

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preço, só ela o saberia e o pagaria de boa vontade só para saber que poderia se

sentir assim e ser o que uma mulher podia ser.

Ele havia lhe dado isso e estaria eternamente agradecida por esse presente.

Levantou a cabeça e lhe deu um terno beijo no seio. Voltou a deitar-se e

deixou que a satisfação a embargasse.

---

Uma hora mais tarde, Gervase estava recostado sobre o respaldo do canapé,

observando como Madeline bebia delicadamente de um copo de vinho branco e

mordia uma ameixa madura. O suco púrpura escuro lhe manchou os lábios e

ameaçou escorrer pela comissura, mas em seguida o lambeu com a língua.

Ele se obrigou a afastar os olhos, esticou um braço para a mão que segurava o

copo e a levantou para dar-lhe um beijo nos nós dos dedos.

— Obrigado por permanecer ao meu lado hoje. Seus conselhos foram

inestimáveis.

Ainda mastigando, ela sorriu.

Antes de poder pensar demais, Gervase continuou:

— Ninguém mais poderia tê-lo feito. Senti-me muito bem tendo você comigo.

Os demais devem ter pensado o mesmo.

Madeline engoliu e encolheu os ombros.

— Seu papel costumava ser o meu, assim, suponho que, de algum modo, foi

um ensaio para você. — Abaixou os olhos para inspecionar seus dedos. — No

próximo ano, terá sua esposa para te ajudar.

Gervase conseguiu não franzir o cenho.

Madeline não havia feito a conexão que ele pretendia que ela fizesse, mas

antes que pudesse fazer algo para guiar seus pensamentos na direção correta, ela

o olhou nos olhos e disse:

— Não tem que se preocupar. Ninguém deu demasiada importância por eu

estar ao seu lado hoje. Todos pensam que simplesmente estava ajudando-o a

orientar-se.

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Acabada a ameixa, deixou de lado o copo e se deitou de boca para baixo. Seu

traseiro nu o distraiu. Além do mais, ela começou a lamber os dedos para limpá-

los, o que o distraiu ainda mais.

— Não é isso o que me preocupa. — Seu tom estava tremido por um

contrariado desgosto. — Tenho certeza que todos os demais interpretaram a

situação do modo correto.

Madeline o olhou e tentou averiguar qual era seu estado de ânimo; com

expressão interrogativa, tombou a cabeça.

— Então o que te preocupa?

“Você”.

Perguntou-se quanto lhe iria custar para abrir-lhe os olhos, fazê-la ver que

ninguém mais a via como não apta para ser sua esposa.

Mais ainda, que todos os demais estavam começando a supor que seria ela

quem ocuparia essa posição.

Fitou-a nos olhos e sentiu que o inundava a frustração. Desejava fazer oficial

seu compromisso, que se reconhecesse que Madeline era sua prometida; por ela

principalmente.

A hábil manipulação de suas irmãs e a pergunta direta de Harry só havia

conseguido exacerbar sua natural irritação por ter que agir dando tantos rodeios.

Seu impulso natural era enfrentar-se diretamente com a deusa guerreira e insistir

em que se submetesse e que se rendesse por completo, mas...

Havia mantido a expressão impassível; sabia que Madeline não veria nada em

seus olhos. Alongou a mão e a apoiou em sua cintura, logo desceu devagar pela

exuberante curva de seu traseiro.

— Não sei se lhe agradeci o suficiente.

Os olhos dela que se abriram um pouco com a carícia, agora se abriram ainda

mais, com um manifesto interesse.

— Humm. — Emitiu esse sensual murmúrio e se voltou para ele. — Talvez...

Talvez... Mereça um segundo prato.

Gervase abaixou a cabeça e a beijou. Dispôs-se a confirmar, a reafirmar seu

domínio sobre ela, sobre seu corpo e, ao menos, durante esses momentos, sobre

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sua mente. Mas, quanto ao seu coração, para não falar de sua alma... No referente

a isso, não tinha garantias.

No que se referia a isso, agia às cegas.

---

Algumas horas mais tarde, ao amparo dessa mesma noite, Helen Hardesty se

dirigiu de novo a casinha do jardineiro, na costa de Helford, para encontrar-se com

seu ocasional amante.

Encontrou-o andando na obscuridade como um tigre enjaulado.

— Percebo que não recebeu boas noticias.

— Não, maldita seja! A mercadoria parece haver-se esfumado, o que não tem

sentido. Não pode ser. Deve estar aqui em alguma parte e alguém deve saber

onde.

Nunca o vira tão exasperado.

Seu primeiro impulso foi aproximar-se dele, colocar-lhe as mãos no peito para

distraí-lo, mas o conhecia o suficiente para esperar até que se acalmasse.

— Não averiguou nada dos vendedores ambulantes no festival?

— Não. Perguntei nas tendas e postos que vendiam curiosidades e

antiguidades, ninguém tinha, nem havia visto nem ouvido falar da menor peça da

mercadoria. — Olhou-a com intensidade através da penumbra. — tenho homens na

zona, buscando na península e em Falmouth. Não se sabe de nenhum naufrágio e a

Londres não chegou nada, nem informações nem os próprios bens.

— Você o saberia? — Helen estava surpresa.

— Oh, sim. — Seu tom soou malvado. — Creia-me, o saberia.

Passeou um pouco mais. Ela o observou, aguardando.

— Quero que comece a espiar, com discrição. Quero saber se alguém ouviu

falar de algo que pudesse estar relacionado de algum modo com a mercadoria

desaparecida. Se alguém está querendo vender objetos desse tipo, jóias de uma

qualidade digna de um museu, relógios, tabaqueiras, lâmpadas, vasilhas de prata...

— Lançou-lhe outra dura olhada. — Concentre-se na classe alta. Já tenho homens

cobrindo o resto.

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Helen o observou e quando o considerou mais calmo para se aproximar, lhe

apoiou uma mão no peito e o olhou no rosto.

— Porque está tão obcecado com essa mercadoria? Se é algum pagamento que

te devem eu enteno, mas não necessita o dinheiro. Sua família é uma das mais

ricas do país.

Por um momento, ao ver seu rosto contido e imóvel, pensou se havia ido longe

demais. Mas quando ele falou, sua voz soou tranqüila. Seu tom sereno.

— Não tem que entender porque a quero, só que eu a quero.

Helen fez uma careta. Levantou os braços e lhe rodeou o pescoço com eles.

— Muito bem. Farei o que me pede e, com todo o devido cuidado, verei o que

posso descobrir.

— Faça-o. — Abaixou o olhar até ela, aceitou seu evidente convite e a beijou.

Quando levantou a cabeça, Helen murmurou:

— Em troca de minha retribuição habitual, claro.

Ele riu brevemente — Claro.

Levantou as mãos, fechando-as sobre seus seios, abaixou a cabeça e tornou a

beijá-la enquanto a fazia retroceder até que lhe encostou as costas à porta fechada.

---

— Vamos. — Na manhã seguinte, Harry guiou a Edmond e Ben pelo caminho

que descia pelos penhascos, ao norte de Lowland Point. — Podemos caminhar pela

areia e investigar cada caverna que encontrarmos.

Saltou na praia e esperou que seus irmãos se reunissem com ele, depois se

dirigiu a faixa de areia compacta que ficava por cima das ondas e começou a

avançar para o norte pela costa.

Não esperava encontrar nada nas cavernas, mas a expedição mantinha

Edmond e Ben contentes. Os dois estavam certos que se procurassem com afinco,

se investigavam todas as grutas que salpicavam os penhascos da península,

encontrariam um tesouro oculto.

De quem seria esse tesouro oculto seria um ponto discutível.

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Mas para Harry, o tempo que passavam percorrendo a pé as praias,

observando o mar sempre mudado, era um tempo que tinha para pensar, para

fazer-se perguntas, para imaginar, examinar suas alternativas, saber o que

desejava na vida e como consegui-lo.

Tinha começado passeando pelo escritório de Madeline, meio esperando que

sua irmã sorrisse e lhe dissesse para sair com a mão, para não encher a cabeça de

contas e livros de contabilidade, nem preocupar-se com as diversas questões que

ela, em seu nome, fazia todos os dias.

Em troca, Madeline havia aceitado sua oferta de aprender e ajudar a serio e

agora passava todos os dias, um tempo ao seu lado, aprendendo sobre seu

patrimônio e como administrá-lo.

Harry havia se oferecido para ajudar porque sentira que devia fazê-lo.

De fato, nunca imaginara que os campos, os cultivos e as colheitas fossem tão

interessantes. Mas assim havia sido e agora sua maior preocupação era manter seu

entusiasmo pelo ―trabalho‖ na linha e fingir algo de interesse na busca de seus

irmãos.

— Cuidado! — Gritou Edmond.

Harry se voltou e viu Ben, que seguira uma onda que retrocedia, voltava

correndo entre risadas e gritos para a areia; tropeçou, cambaleou e caiu.

Finalmente, a onda o alcançou e o molhou.

Quando a água voltou a retroceder, seu irmão se incorporou escapando. Estava

empapado.

Harry e Edmond trocaram um olhar e estalaram em gargalhadas.

Ben estava sentado na areia, tirando os pedaços de alga dos cabelos e

jogando-os a um lado. Harry e Edmond se aproximaram, desmanchando em

risadas.

— Seu rosto... — arquejou Edmond.

— Que torpe — comentou Harry.

Ben parecia desgostoso.

— Não tropecei. Bem, não com meu próprio pé.

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Não esperou para escutar a opinião de seus irmãos a respeito, em vez disso, se

inclinou sobre um ponto e começou enfiar os dedos na areia.

— Aqui. — Deixou de cravar os dedos e começou a escavar de verdade.

Harry franziu o cenho e se aproximou mais.

— O que é?

— Está aqui. — Ben afundou a mão na areia. — O objeto com o qual tropecei. A

areia molhada continua enchendo o buraco...

Edmond o olhou no rosto, agachou-se e com as mãos retirou também a areia

do ponto onde seu irmão estava escavando. Harry também fez o mesmo por outro

lado e, entre os dois, afastaram terra suficiente para deixar de deslizar dentro do

buraco enquanto Ben escavava.

— Consegui! — Com um movimento e uma puxada, retirou um objeto

incrustado na areia. Um grosso pedaço de alga pendia dele. Enrolada ao seu redor,

essa alga tinha ancorado o objeto ao solo.

— Cuidado! — Edmond assinalou outra onda maior que avançava para eles.

Os três irmãos saltaram para a zona seca. Ben parou e flutuou na areia

compacta e molhada que cobria seu achado. Viu o brilho do metal. O objeto tinha a

forma de um longo oval, bem grande para ocupar toda a palma da mão de Harry.

Mas a areia molhada continuava grudada a ele.

— Dê-me... Deixe-me. — Este tirou a camisa das calças, pegou o oval da mão

de seu irmão menor e, usando a beirada da camisa, o secou com cuidado; sacudiu-

o, agitou e fez com que a areia se soltasse. Alguma coisa que cobria todo o centro

caiu finalmente.

— Oh, Deus meu! — Harry parou e ficou olhando-o.

Edmond e Ben abriram os olhos, de boca aberta.

O pequeno foi o primeiro a se recuperar.

— Conseguimos! Gritou e começou a dançar. — Encontramos um tesouro

enterrado!

— Shist! — Exclamou Edmond. Pegou Ben e o segurou.

— Calados! — Harry olhou ao seu redor.

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Edmond e um compungido Ben fizeram o mesmo. Mas fora eles não havia

ninguém na praia nem nos penhascos, ninguém que pudesse vê-los.

— Sinto muito — murmurou Ben e voltou a olhar seu achado.

Simultaneamente os três abaixaram o olhar para a areia, no lugar onde haviam

feito o descobrimento. A onda tinha voltado a deixá-lo totalmente liso.

Regressaram ali para observar a superfície, deram patadas, fuçaram, mas não

havia nem rastro de nenhum objeto enterrado.

Finalmente, afastando-se das ondas, voltaram a olhar os penhascos.

— Sorte que é cedo e não tem ninguém por aqui. — Harry parou e estudou o

oval. Os outros dois meninos se aproximaram contemplando nas palmas de seu

irmão maior. — É um broche, certo?

Edmond pegou e lhe deu de volta. Um alfinete se estendia sobre toda a

longitude da parte posterior do oval.

— Parece um broche. — Tornou a deixá-lo sobre a palma de Harry, boca para

cima.

Ben percorreu uma das delicadas curvas do metal.

— É de ouro, certo? E isto são diamantes? — A reverencia de sua voz atingiu a

todos. — E o que é isso? — Assinalou uma grande pedra retangular no centro da

jóia.

Harry engoliu a saliva.

— Teremos que levá-lo para casa para limpar e tirar o brilho. Então poderemos

vê-lo melhor,... Mas creio que é uma esmeralda.

Ficaram olhando-o em meio de um estupefato silencio. Edmond, o mais pratico

comentou:

— O que deveríamos fazer com ele?

Harry ergueu as sobrancelhas.

— Acaso é nosso para decidir?

— Claro que é nosso — declarou Ben apaixonadamente. — Vocês me viram

encontrá-lo, é um tesouro oculto. Perguntamos sobre as leis e isso é o que dizem:

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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qualquer coisa que se encontre debaixo da linha da maré é um tesouro oculto e

pertence a quem o encontrar.

— Certo. — Edmond assinalou o broche com a cabeça. — Então, o que...?

— Sei o que deveríamos fazer com ele. — afirmou Ben. — Deveríamos limpá-lo

e presentear Madeline pelo seu aniversário. É muito melhor que essa espécie de

lenço desgastado que compramos no festival.

— Não é um lenço — corrigiu Harry. É um cachecol e ela vai gostar e usar, mas

a maioria das damas utiliza um broche para prender o cachecol. — Susteve seu

achado entre o polegar e o indicador. — Um broche como este.

Olhou para Edmond e depois para Ben e ficou decidido.

— Muito bem. — Edmond deu a volta e se dirigiu para o caminho pelo qual

haviam descido. — Vamos levá-lo para casa e embrulhamos para presente.

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Capítulo 13

Dos dias depois, Madeline despertou quando já havia amanhecido e se esticou

na cama com um sorriso nos lábios, perguntando-se o que lhe reservaria o dia de

seu aniversário.

Seus irmãos estiveram tão ocupados nos dois últimos dias que teve que ir com

cuidado para não topar com nenhuma de suas sussurradas reuniões entre eles,

com Muriel e inclusive com Milsom e outros membros do pessoal. Eles tinham algo

planejado, isso era óbvio, mas o que...?

Eles conseguiram ocultá-lo, o que era toda uma façanha. Quando se levantou

para lavar-se e vestir-se, sentiu a transbordante antecipação que sentia.

A tradição familiar decretava que os presentes fossem entregues na mesa do

desjejum. Chegou ao salão e se encontrou com dois pacotes, um a cada lado de

seu prato.

— Feliz aniversário! — fizeram coro seus irmãos.

A felicitação mais doce de Muriel seguiu a exclamação dos meninos.

Sorridente, Madeline lhes agradeceu e sentou-se na cadeira que Milsom retirou.

O mordomo se inclinou:

— O pessoal lhe envia seus melhores desejos no dia de seu aniversário,

senhorita.

— Obrigada, Milsom. — Acomodou-se na cadeira e olhou primeiro um pacote,

depois o outro. O maior e plano mostrava evidências de múltiplas tentativas de

deixar o papel de seda bem liso e o laço estava torcido. O menor, porém mais

gordo, estava muito melhor embrulhado, era de Muriel. Madeline pegou esse

primeiro e o abriu.

— Luvas novas para montar! Muito bem costuradas de couro preto macio.

Essas luvas não tinham saído do festival. Madeline sorriu para sua tia.

— Obrigada. As minhas estão me deixando louca. Os botões ficam enroscando

em tudo.

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— Eu notei. — Muriel assinalou o presente com a cabeça. — estas estão

cortadas para que se ajustem bem à munheca. Não têm botões.

— Excelente. — Madeline experimentou-as e confirmou que ficavam perfeitas.

Estendeu as mãos, admirando as novas luvas e fingindo não perceber os olhares,

impacientes que seus irmãos trocavam entre eles.

Sem se aborrecer em esconder seu carinhoso sorriso, abaixou o olhar para o

pacote.

— E bem, pergunto-me o que poderá ser isto.

Um lenço foi seu primeiro pensamento quando notou como era macio, mas ao

levantar o pacote para colocá-lo sobre seu prato, sentiu o peso de algo mais pesado

no centro.

— Hum... Um presente misterioso. — Tirou as luvas e as deixou de lado.

Logo desfez o laço e desembrulhou o presente cerimoniosamente, brincando

com a impaciência dos garotos.

Afastou a última folha de papel de seda... E quando viu o que estava ali, piscou

atônita.

— Deus santo! — Ouviu o assombro em sua própria voz e, da distância, notou

os rápidos olhares satisfeitos que os meninos trocaram.

Devagar, um pouco perplexa, levantou o grande broche oval, uma fíbula de

capa dos tempos em que as capas eram a norma. Pegou-o e deixou seus sentidos

se empaparem dele, de seu peso e cor, tinha que ser ouro pelo modo como a luz se

refletia e brilhava nas pedras. As pedras menores ao redor pareciam diamantes,

enquanto que a grande e retangular do centro, de um verde um pouco mais claro

que o verde bosque, tinha que ser uma esmeralda.

A peça representava um nó de folhas de carvalho que rodeavam e seguravam a

pedra central, com diminutas bolotas representadas pelos diamantes e algumas

pedras de ouro branco.

“De onde vocês pegaram isso?”, foram as palavras que lhe vieram à boca. Mas

olhou para seus irmãos com seus rostos ávidos e na expectativa e, em lugar disso,

disse:

— É precioso. — Seu tom reverente sublinhou sua sinceridade.

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Eles se relaxaram e sorriram amplamente.

Então pode respirar e perguntar:

— De onde vocês pegaram isso?

— Nós o encontramos — respondeu Ben. — No festival.

— Em uma das tendas de antiguidade — interveio Edmond. — E na do velho

vendedor ambulante que vende coisas de metal que desenterra por toda parte:

cravos, estribos, todo tipo de coisas e peças.

— Não tinha esse aspecto quando o compramos — comentou Harry. — Nós

passamos os últimos dois dias limpando e polindo. Tinha terra incrustada por todas

as partes e estava imundo e sujo. Pode ver que em alguns pontos a superfície está

riscada. Esfregamos e esfregamos para devolver-lhe o brilho.

Madeline olhou com mais atenção.

— Sim, o vejo. — olhou para Harry, Edmond E Ben, aos seus felizes e

satisfeitos rostos. — Bem... Que achado assombroso!

— Claro, tínhamos que presenteá-la — comentou Ben.

Madeline sorriu.

— Obrigada aos três.

Deixou o broche de lado e se fixou no resto do conteúdo do pacote. Com

ambas as mãos, pegou um delicado cachecol de renda e gaze. De novo não lhe

custou nenhum esforço sorrir encantada. Tinha visto o cachecol em uma das tendas

do festival.

— Isto é perfeito também. Usarei esta noite e como meu novo vestido é verde,

poderei prender o cachecol com o broche.

Os garotos pareciam duplamente satisfeitos e trocaram mais olhares de triunfo.

Ela pensou o que mais eles teriam organizado. Esperava passar o dia de seu

aniversário como habitualmente o fazia coroado por um tranqüilo jantar de

celebração com a família e seus vizinhos e amigos mais chegados.

Supondo que os meninos deviam estar pensando em como seus vizinhos

admirariam os presentes que lhe deram, exibidos junto com seu vestido novo,

voltou-se para o desjejum e lhes recomendou que fizessem o mesmo se desejavam

sair a cavalo com ela para visitar seus campos mais afastados.

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A jornada transcorreu mais ou menos como planejara. Seus irmãos ficaram

com ela como normalmente faziam em seu aniversário, para passarem o dia juntos.

Nesse ano, claro, sua relação com Harry mudara: ele fazia muito mais

perguntas e se interessava muito mais nos deveres que, até o momento, foram

unicamente dela. Isso requeria também uma adaptação por sua parte, mas era

mais fácil do que havia pensado; seu irmão estava sinceramente interessado, não

perguntava simplesmente porque achava que devesse fazê-lo.

Regressaram a casa mais tarde do que planejara. Após o almoço, passaram à

tarde no escritório. Harry e ela repassaram as contas e os pedidos e depois

comentaram prognósticos e planos para a colheita.

Surpreendeu-se quando ouviu os relógios batendo as cinco horas.

— Já? — Observou a luz que entrava de fora e encolheu os ombros. Levantou-

se. — Vamos. Tenho que banhar-me e vestir-me e vocês também.

Enviou os garotos aos seus aposentos.

— Os convidados chegarão às seis e meia. Espero vê-los limpos e vestidos no

salão de festas a essa hora.

Fingiram grunhir, mas Madeline viu os olhares excitados que trocaram.

Certa que estariam prontos a tempo, os deixou para se arrumarem e foi se

preparar também.

Um agradável sabão em um relaxante banho a deixou mais que mimada.

Atou a bata de seda sobre o camisão e se sentou diante do toucador para

escovar os cabelos e prender a rebelde mata em um coque sobre a cabeça. Isso

acrescentaria alguns centímetros a sua já excepcional altura, mas era seu

aniversário e o único cavalheiro cuja opinião lhe interessava continuaria sendo mais

alto que ela.

Levantou-se e colocou com especial cuidado seu novo vestido de seda. Depois

colocou o delicado cachecol sobre o pescoço e enfiou as pontas entre o profundo

vale entre seus seios. Estava certa: o cachecol ressaltava o simples decote do

vestido verde escuro a perfeição. De pé diante do espelho de corpo inteiro,

contemplou a ironia de que ao esconder seus amplos seios, o translúcido cachecol

atraía a atenção para eles em lugar de desviá-la.

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Pegou o broche, virou-o nas mãos admirando o jogo de luz sobre as gemas.

Abriu o alfinete e experimentou até que o colocou perfeitamente sobre o decote,

prendendo os extremos do cachecol por baixo do tecido do vestido. Abotoou e

observou o efeito.

Poucas vezes usava jóias, mas aquele broche era perfeito, de fato, era a peça

perfeita para ela. Grande o bastante para se sobressair, ainda que não demasiado

para parecer excessivo.

Estranhamente satisfeita com seu aspecto e também consciente dele, pegou

seu xale de seda e colocou-o ao redor dos cotovelos e se dirigiu para a escada.

Faltavam poucos minutos para as seis e meia. Não obstante, para sua

surpresa, chegou ao vestíbulo sem cruzar-se com nenhum membro do pessoal,

nem com Muriel, que normalmente descia logo.

Quando entrou no salão, descobriu que seus irmãos também não estavam ali.

Claro, Gervase a esperava. De pé diante da lareira, viu-o irresistivelmente

atraente, com uma jaqueta e calças de festa, escuros. Apesar disso... Madeline

olhou ao seu redor.

— Onde estão todos?

— Virão em seguida. — Avançou para ela, pegou-lhe a mão, beijou-lhe os

dedos e lhe sorriu olhando-a nos olhos. — Eu cheguei cedo.

— Mas é quase... — Olhou o relógio sobre a lareira e se interrompeu.

Franziu o cenho. — Havia jurado que era quase hora.

— Segundo o relógio, que nunca vira funcionar mal, ainda não era nem seis

horas.

Ele o olhou.

— Parece que está bem.

Franzir o cenho não era bom para a cútis, assim, Madeline relaxou o rosto.

— Bem... — Olhou ao seu redor com intenção de convidá-lo a sentar-se.

— Faz uma tarde maravilhosa. Vamos andar no jardim. — Não lhe soltara a

mão e entrelaçou o braço no seu, dirigindo-se às portas de vidro. — Talvez

possamos encontrar um lugar adequado onde possa dar-lhe o meu presente.

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Madeline riu e permitiu-lhe que a guiasse para fora. Como era cedo, não havia

nada que fazer, não até que chegassem mais convidados.

Passearam pela grama aproveitando o mudo prazer da companhia do outro,

perto de si. Então Gervase perguntou:

— Como vai o interesse de Harry pelas propriedades?

— Espantosamente bem. — Passaram uns minutos conversando sobre seus

irmãos. — Presentearam-me este broche.

Tinham chegado ao caramanchão sob o qual, semanas atrás ela o havia beijado

descaradamente. As rosas da estrutura estavam em plena florada e perfumavam o

ar da tarde com seu embriagador aroma. Ao recordar porque o tinha beijado, ao

pensar tudo o que sucedera entre eles desde então, Madeline sorriu. Levantou a

saia e sentou-se em um dos bancos paralelos do caramanchão e tocou o broche

com os dedos.

Gervase sentou-se ao seu lado e inclinou a cabeça para olhá-lo melhor. Franziu

o cenho.

— Parece uma peça muito delicada.

Ela fez uma careta.

— No princípio, pensei que as pedras fossem falsas, mas as falsas não refletem

a luz assim.

— Nem têm facetas. — Gervase bateu com o dedo na pedra central. — Mas as

verdadeiras esmeraldas quase sempre têm. Como esta.

— O ouro também parece autêntico. — Suspirou. — Disseram-me que o

encontraram em um dos postos dos vendedores ambulantes, no festival. Há um

ancião que vem todos os anos conhecido como o velho Joe, mas ninguém sabe

muito dele. O certo é que tem velhos adornos muito sujos, coisas que desenterra

de depósitos romanos ou da Idade de Ferro, assim, é possível que o encontrasse

entre os objetos de seu posto ou em outro parecido. Havia outros três como esse.

Gervase esperou até Madeline erguer a cabeça e a olhou nos olhos.

— Está preocupada porque afinal se encontraram com o tesouro dos

saqueadores?

Ela enrugou o nariz.

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— É possível, suponho, mas fora o sexto sentido me dizendo que não contaram

exatamente a verdade; meu pensamento racional me diz que se não o encontraram

no festival, e não há motivo para supor não o terem feito, poderiam tê-lo

encontrado enterrado entre as coisas de nossa avó. Há caixas e caixas no desvão

com todo tipo de coisas e sempre vão explorar lá em cima. Ainda que não acredite

que houvesse nada desse valor lá, é possível que nossa avó não guardasse essa

peça em seu lugar. Tinha um armário enorme e uma coleção de jóias a sua altura.

Gervase sorriu.

— Diferente de você.

Ela encolheu os ombros.

— Não sou uma mulher de jóias. Poucas parecem cair-me bem.

Gervase colocou a mão no bolso de sua jaqueta e respondeu:

— Isso porque é única e por isso tem que ser feito especialmente para você. —

Deixou um pacote embrulhado em papel de seda no seu colo. — Como isto.

Madeline franziu o cenho diante do presente.

— Como teve tempo para que te fizessem algo?

— Tenho meus contatos.

— Hum. — Desfez o laço e desembrulhou o conteúdo, um leque de marfim com

varetas de filigrana de ouro rosa, maravilhosamente confeccionado, e o que ela

acreditou ser uma ampla pulseira, mas estranha e em duas peças.

Pegou o leque, abriu-o e ficou maravilhada.

— Nunca tive nada tão lindo. — Olhou-o nos olhos. — Obrigada.

Gervase sorriu e ela abaixou os olhos, deixou o leque de lado e pegou a

pulseira, tentando imaginar como...

— Permita-me.

Madeline lhe entregou as duas peças, unidas por uma espécie de mecanismo.

Ele se entreteve um momento, logo se voltou para ela e levantou os braços por

cima de sua cabeça...

Madeline abriu muito os olhos.

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— São adornos para os cabelos! Claro. Especialmente desenhados para ajudar

seus rebeldes cachos. — Deslizou as duas metades por cima e ao redor do coque,

ainda razoavelmente arrumado, enroscou os pequenos aros para fechá-los. Pronto.

Afastou-se, observou o efeito e sorriu satisfeito. Encomendara a peça na

mesma filigrana de ouro rosa do leque. O cálido brilho do metal não fez mais que

ressaltar os ricos reflexos de seus cabelos, o vibrante castanho acobreado.

Gervase a olhou.

— Perfeito.

Madeline observou seus olhos, aproximou-lhe uma mão da mandíbula e se

inclinou para dar-lhe um doce e lento beijo nos lábios.

— Obrigada — murmurou, quando finalmente se afastou. Voltou a olhar o

leque, abriu-o e ambos se levantaram para voltar a casa. — Todos me deram

presentes tão úteis e considerados...

— O que Muriel te deu?

— Umas luvas de montar, sem botões.

Ele riu.

Madeline estava defendendo sua capacidade de manejar as luvas com os

botões quando regressaram ao salão...

— Oh! Aqui está!

— Feliz aniversário, Madeline, querida!

Ela parou estupefata enquanto o coro de vozes ressoava nos seus ouvidos.

— E que faças muitos mais.

Ficou olhando surpresa uma sala repleta de convidados. Tivera um breve

momento para se preparar quando se aproximaram das portas de vidro e ouviu o

volume da conversação, demasiado alto para os poucos convidados que esperava.

Mas Gervase a tinha firmemente segura pelo cotovelo e a fez atravessar o

umbral sem deixar que pensasse duas vezes.

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No instante viu-se rodeada de familiares e amigos, aceitando os cumprimentos

de todos e agradecendo-lhe. Finalmente, chegou até onde se encontrava Muriel,

que sorria com satisfação e estendeu-lhe as mãos em um gesto de assombro.

— Como organizou tudo isso?

Sua tia sorriu.

— Seus irmãos decidiram que já era hora de você ter uma festa em condições

para o seu aniversário. Foi idéia deles. O resto de nós — olhou para Gervase, ainda

junto a Madeline, mas distraído pelo senhor Caterham nesse momento — nos

limitamos a ajudar que acontecesse.

Madeline olhou para Gervase e recordou...

— Como conseguiu que descessem logo...? — olhou para Harry do outro lado

da sala conversando com Belinda e Annabel. — Os relógios?

— Exato. Muito engenhoso por sua parte. Fizemos que Milsom e as donzelas

adiantassem todos os relógios da casa em meia hora enquanto estavam fora,

enquanto se banhava, voltamos e mudamos todos exceto o do teu dormitório.

Madeline balançou a cabeça negando, mas sorria. O que seus irmãos decidiram

que fosse uma ―festa em condições‖ começou com um banquete para sessenta

pessoas. Ela não podia recordar a última vez que haviam acrescentado todas as

alas dobráveis da longa mesa do salão e usado todas as cadeiras.

Harry sentado em frente a ela presidindo a mesa, propôs um brinde ao que

todos responderam com uma ovação. Então chegou a comida, servida em enormes

bandejas de prata que tão raramente usavam, com copos de cristal e alguns

reluzentes cobertos. O som das conversas rodeou a mesa. Divertida e

profundamente emocionada, Madeline sorriu e conversou, relaxou e simplesmente

se divertiu.

Mas ainda havia mais diversão para chegar. Para sua surpresa, a questão de

todos os cavalheiros ficarem para tomar um copo não foi discutida em nenhum

momento. Ao seu sinal, dirigido as damas, todos os convidados se levantaram por

sua vez e seguiram a ela e Gervase não de volta ao salão, mas ao salão de baile,

que fora aberto para a ocasião.

Olhando ao seu redor, enquanto girava para assimilar tudo, deixou que o

assombro se refletisse em seu rosto.

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— Como vocês conseguiram organizar tudo isso sem eu ficar sabendo?

Gervase fez uma careta.

— Parece que o planejaram bem.

Madeline pensou e recordou como seus três irmãos haviam ficado no escritório,

todos fazendo perguntas, mantendo-a ocupada durante toda à tarde.

— O escritório está do outro lado da casa, em outra ala. Seguraram-me lá toda

à tarde.

— Fizeram-na prisioneira?

Ela sorriu com afeto.

— Mais ou menos.

Seus planos incluíam músicos e baile.

As horas seguintes transcorreram em um limitado prazer. Madeline dançou a

valsa duas vezes com Gervase, depois cedeu diante de si mesma e dele e lhe

concedeu também a última valsa.

As portas de vidro que levavam ao terraço permaneceram abertas toda a noite,

permitindo que o balsâmico ar noturno enchesse a reunião. A sala era bem grande

para alojar esse número de convidados sem ficar lotada, de forma que todos

podiam mover-se livremente, falando uns com os outros. Os músicos pareciam

inspirados pela alegre atmosfera e seguiram tocando felizes até bem avançada à

noite.

Todos passaram uma excelente noitada, como afirmaram a Madeline quando,

horas mais tarde, um a um se despediram. Gervase ficara ao seu lado durante toda

a noite e já não lhe restava à mínima dúvida de que todos da zona estavam

esperando ouvir o anúncio de seu compromisso a qualquer momento. Mas, claro,

com ele ao seu lado, nada seria mais torpe que mencioná-lo, nem sequer insinuar,

coisa que Gervase agradecia.

Acompanhou-a assim mesmo ao vestíbulo e ficou ao seu lado, um pouco mais

atrás, enquanto junto com Muriel, Madeline dizia adeus aos convidados; nesses

instantes desejou passar despercebido, ao menos até certo ponto.

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Então viu Harry junto a uma parede próxima, com os olhos fixos nele. O jovem

o fitou em silêncio e logo inclinou a cabeça para o fundo do vestíbulo, onde as

sombras eram mais escuras.

Gervase se voltou para Madeline e esperou a ocasião oportuna para tocar-lhe o

braço e sussurrar:

— Volto em seguida. — E se dirigiu para onde Harry o esperava.

O jovem lhe fez um gesto de agradecimento com a cabeça enquanto mantinha

os olhos fixos em Madeline.

— É sobre o broche. Só queria confirmar. — Olhou para Gervase muito sério. —

Nós o encontramos na praia, sob a linha da maré. Isso o converte em nosso, certo?

Ele assentiu.

— Em qual praia?

— A que está ao norte de Lowland Point, justo depois do cabo.

Gervase considerou as possibilidades.

— O broche é vosso por lei e tem direito a presenteá-lo a Madeline. Não é um

tesouro dos saqueadores porque não se soube de nenhum naufrágio durante este

verão e sei de boa fonte que esses meliantes não estão trabalhando nos Manacles.

— Então, não há nenhum motivo que nos impeça de procurar mais?

Ele parou e fitou Harry nos olhos.

— Evite que seus irmãos procurem mais no momento. Deixe que volte a

comprovar em Falmouth se algum barco registrado se atrasou. Se não for o caso,

então é possível que tenha havido um recente naufrágio nos Manacles, mas de uma

embarcação de contrabandista.

— Então, de quem poderia ser o broche?

— Se estava em um barco de contrabandistas será impossível sabê-lo, mas na

verdade, não posso imaginar porque estes levariam bens desse tipo em suas

embarcações.

Os dois olharam Madeline pensando no broche.

Harry franziu o cenho.

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— Não parece provável certo?

Gervase negou com a cabeça.

— A outra possibilidade é que seja um objeto de um naufrágio ocorrido há

muito tempo, que, por algum motivo, apareceu agora. Ouvi que em Manacles

podem encontrar-se peças de décadas atrás, inclusive séculos.

— Ouvi que se um barco naufraga ali, quase nunca se encontra nada, nem

restos nem corpos.

Gervase assentiu.

— Mas o fato que não haja provas de nenhum naufrágio não significa que não

tenha ocorrido.

Os últimos convidados estavam conversando com Madeline; Sybil e as irmãs de

Gervase tinham ido há bastante tempo. Ele se moveu.

— Perguntarei em Falmouth e lhe informarei. Até então, mantenha seus irmãos

afastados dos penhascos e dos rios.

Harry assentiu.

— Esperaremos suas noticias.

Despediram-se e Gervase regressou ao lado de Madeline. Foi o último a

inclinar-se sobre sua mão.

— Espero que seu dia tenha sido memorável.

Ela sorriu.

— Foi e a noitada ainda mais. — De repente se lembrou e levou a mão à

cabeça, procurando o cacho que costumava se soltar, mas sem encontrar nada. —

Funcionou! Seu sorriso se tornou radiante.

Gervase lhe devolveu o sorriso.

— Claro. Pensei que o faria. Tornou a se inclinar, depois para Muriel, ao lado de

Madeline. Finalmente a olhou de novo, nos olhos. — Verei você dentro em pouco.

Dito isso, saiu e se dirigiu para onde os rapazes o esperavam com sua

carruagem.

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Gervase não voltou para casa.

Madeline pensou se o que queria dizer com seu ―Verei você dentro em pouco‖,

significaria que voltaria essa noite para dar um mágico final ao que fora um dia

perfeito, seria demasiado atrevido. Claro, quando o viu atravessando o prado e

dirigindo-se para as portas da sala de estar, seu coração deu um salto.

Quando tinha tirado as roupas, em lugar de por uma camisola, cobriu-se com

uma bata de seda só com a camisola sob ela e sentou-se diante do espelho de seu

toucador para que Ada, com seus hábeis dedos, pudesse desabotoar o diadema

dourado fechado ao redor do coque.

— Que formosa — tinha sussurrado a donzela, enquanto deixava o diadema

junto ao leque. — O raro foi ter pensado em uma coisa assim.

— Humm. — Madeline despediu Ada e ficou ali sozinha, escovando os cabelos.

Perguntou-se o que a tinha feito levantar-se e, sem deixar de escovar os

cabelos, aproximar-se da janela.

Observou Gervase até que desapareceu de vista. Ficou ali um momento,

imaginando-o abrindo as portas de vidro e entrando, atravessando a sala até o

vestíbulo. Afastou-se da janela para se aproximar do toucador e deixar a escova.

Finalmente, se dirigiu à porta.

Quando andou pelo longo corredor que levava ao seu dormitório, Gervase a

viu, iluminada pela dourada luz da vela e emoldurada pela porta aberta, esperando-

o com um suave e leve sorriso nos lábios. Nunca lhe havia recordado mais aquela

sedutora deusa guerreira.

Não pode evitar sorrir em resposta e teve consciência que sua antecipação

aumentava. Não fez nada para evitar que esta se refletisse em sua expressão.

O sorriso de Madeline se ampliou quando ele se aproximou. Colocou-se ao lado

para deixá-lo entrar. Gervase parou ali mesmo e esperou que fechasse a porta.

Quando se voltou e antes que pudesse dizer nada, se aproximou mais e lhe

emoldurou o rosto com as mãos. Sentiu os delicados ossos, a sedosa pele sob as

palmas.

Usufruiu de novo o fato de que, com ela, não tinha que inclinar a cabeça para

encontrar-se com seus olhos, para observar aquelas profundidades de um verde

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mais intenso e misterioso Á luz das velas, para ver neles sua expectativa de prazer

e deleite... Em seus braços, com ele.

Beijou-a com doçura, sem pressa, sem rastro daquela desenfreada avidez que

se impunha normalmente entre os dois. Beijou-a devagar, saboreou-a quando ela

correspondeu com a mesma tranqüilidade, sem pressa, como se também

reconhecesse que aquele era um momento para seguir um ritmo diferente; para

satisfazer suas paixões de um modo distinto, de prolongá-las, de alongar cada

instante até parecer tão delicado como uma filigrana de vidro; até que as

sensações ficassem a descoberto nuas e expostas para que ambos a vissem, para

reconhecer e apreciar até as mais leves carícias, até a última gota de deleite, para

senti-la tão claramente como o gelo sobre a pele ardente.

Como sempre Gervase foi até ela sem nenhum plano predeterminado, sem

enfoque estabelecido, mas com um firme objetivo: alegrar aquela noite e fazer que

fosse algo especial, melhor, mágica, uma noite em que a paixão, o desejo, a

intimidade alcançassem novas cotas, vislumbrassem novos horizontes.

E assim se entretiveram absortos no beijo, compartindo alentos e caricias,

permitindo que a simples comunhão se prolongasse até que as vibrações da paixão

se convertessem no mais urgente.

Algo que ambos compartilharam e reconheceram.

Quando Gervase interrompeu o beijo, abaixou a vista e aproximou as mãos do

cinturão da bata, Madeline apoiou as suas em cima para detê-lo.

— Não. — Esperou até ele erguer a cabeça e a olhar. — É meu aniversário... Eu

escolho como.

Havia uma luz em seus olhos suave, resplandecente, que Gervase não havia

visto antes. Mais poderosa que qualquer prisão, que o manteve imóvel enquanto,

com um sorriso próprio de uma Madonna de secreto conhecimento, lhe afastou as

mãos e dirigiu as suas para sua jaqueta.

A vela do toucador os banhava em uma luz dourada, enquanto, devagar,

Madeline lhe tirava as roupas, e ele o permitia. O lento e regular ritmo que

estabeleceram com o beijo se convertera em um tamborilar ao som do qual

seguiam movendo-se; um ritmo que orquestrava cada movimento enquanto, com

infinita paciência, ela o despojava do jaleco, do lenço, da camisa, girava em torno

dele deixando, com seus delicados dedos, um rastro de incêndios que ardiam sob

sua pele.

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Finalmente, pegou-lhe a mão e o guiou até a cama onde o fez parar ao seu

lado para poder enrolar-se aos seus pés e tirar-lhe os sapatos, as meias e as

calças. Deixou as peças em uma cadeira.

Em pé diante dela, nu, Gervase observou como se sentava sobre os saltos e,

devagar, observava, saboreava até o último centímetro, para erguer seus olhos

para seus músculos até o entre perna, a cintura, o peito, os ombros e finalmente

até o rosto. Fixou o olhar no seu e colocou uma mão em sua perna para apoiar-se

enquanto rodeava devagar a ereção com a outra.

Gervase ficou sem respiração.

Sentiu que a mandíbula se apertou e como o calor aumentou em seu interior

quando ela o apertou e abaixou o olhar.

Passou-lhe o polegar devagar por cima e ao redor da sensível ponta.

Ele fechou os olhos e soltou um sufocado grunhido. Tombou a cabeça para trás

e sentiu que o peito se apertou quando Madeline o acariciou descaradamente.

Apertou os punhos e lhe pareceu que seus sentidos se precipitavam. Pensou

que isso era o que ela queria era o seu desejo, o presente que decidira reclamar.

Essa idéia fez com que sua cabeça girasse, que o pouco pensamento racional que

lhe restava se fizesse em cacos.

Sentiu que Madeline se aproximava mais, notou seu sedoso cabelo sobre a pele

nua, sobre os músculos, a ereção. O roçar de seu alento no extremo de sua ereção

fez com que os pulmões se paralisassem, o contato dos lábios o fez estremecer.

Então o tomou em sua boca, em seu resvaladiço calor, na abrasadora umidade

e Gervase perdeu o contacto com o mundo, se viu arrastado a outro no qual o

tempo parou, as sensações tomaram o comando e não houve nenhuma realidade a

qual aferrar-se. Só aquela, a lenta e longa tortura. Só ela e seus desejos, suas

caricias, suas atenções.

Sua mente desapareceu em um caos; sentiu-se mareado, o suficiente para

fundir as mãos em seus ondulados cabelos e segurar a si mesmo e a ela; para

juntá-la a ele enquanto desfrutava da lenta e constante sucção de sua boca, a

marcada pressão de seus lábios enquanto experimentava, do contacto mais leve

dos dedos nos testículos enquanto brincava e buscava formas de satisfazê-lo.

Encontrou-as e as pôs em prática. Propiciou-lhe prazer e algo mais que

atravessou a bruma de sensações que ferviam em sua cabeça. Estava enchendo-o

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de gozo, mas ele queria que essa noite fosse para ela. O inexorável aumento da

onda que cada vez com mais habilidade estava convocando, o resultado inevitável,

que flutuava mais perto com cada entrecortada inspiração, o afetou até que tomou

consciência dele, já próximo ao pânico.

— Basta. — Sua voz soou fraca e rouca; não tinha nem idéia se Madeline o

havia entendido.

Obrigou-se a afastar as mãos de sua cabeça, a pegá-la pelo queixo para fazê-la

abrir a boca e o liberar.

Ela obedeceu e voltou a sentar-se sobre os saltos. Com as duas mãos sobre

suas coxas, levantou a cabeça e o olhou. — Não gostou?

Sua voz soou sedutora como a de uma sereia. Gervase a olhou no rosto e

confirmou que falava sério.

— Demais.

Essa palavra quase grunhida pareceu satisfazê-la e voltou a aparecer aquele

sorriso seu de Madonna.

— Venha aqui. — Pegou-a pelos ombros. — É seu aniversário e é a você, aos

seus sentidos que eu deveria estar satisfazendo.

Madeline lhe permitiu levantá-la, mas seu sorriso se intensificara. A risada que

soltou quando lhe permitiu atraí-la tornava seus braços mais eróticos.

— Oh, já o fazes.

Gervase não foi capaz de decifrar o que queria dizer. Controlou com firmeza

sua vontade, rodeou-a com os braços e a beijou. Tomou sua boca em uma longa

troca, uma manifesta reclamação, uma campanha de conquista que só tinha um

único final possível.

Madeline o permitiu, mais ainda, o animou agarrando-o com as mãos enquanto

a urgência aumentava, mesmo mantendo a raia.

Ele a fez deslizar-se, ainda seguindo aquele lento e compulsivo ritmo, na

familiar paisagem de suas paixões, intensificado, mais amplo e intenso, graças a

sua determinação a entreter-se até o limite.

Permitiu-lhe tirar o cinturão da bata, deslizar a peça pelos ombros e deixá-la

cair ao chão e lhe tirar a camisola. Com um arquejo, saltou a fronteira do impacto

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sensual quando seus corpos se uniram ardentes, pele contra pele, longas

extremidades empurrando, mãos buscando, se agarrando, braços rodeando.

Ainda pode saborear sua rendição em seus lábios quando bebeu da paixão que

a atravessou. Gervase se saciou dela, do contato de seu corpo nu em seus braços,

tão receptivo e ardente e todo seu.

Para dar-lhe prazer, então e sempre; seu para prodigalizar-lhe todas suas

espertas atenções. Ela era o motivo para seu passado; era o seu futuro.

Estendeu as mãos e a acariciou, possuiu-a descaradamente; presa em seu

abraço, Madeline verteu nele seu deleite, o elixir do prazer que lhe dava e o animou

a continuar, até que a levantou e os levou a ambos para a cama, onde as múltiplas

almofadas os esperavam; retiraram os lençóis o melhor que puderam para dar

rédeas soltas a paixão e ao prazer.

Forçaram e Madeline riu num som de puro deleite. Gervase o escutou e sentiu

que lhe chegava ao coração. Uma pontada de prazer que encontrou seu objetivo.

Rodou para colocá-la debaixo dele, mas ela resistiu; seus lábios sorrindo sob os

dele, quando tentou empurrá-lo para trás.

Durante longos momentos lutaram sem quartel, sem pensar nos inevitáveis

efeitos de seus corpos se enroscando, pressionado, deslizando... Até que, de

repente alcançaram o tenso ponto em que a paixão e o desejo se intensificaram ao

máximo e a culminação já não podia negar-se.

Os dois o souberam, o sentiram e ficaram imóveis. De repente, Gervase a

jogou para trás, pegou-lhe a perna, a levantou e a fez rodear-lhe as cadeiras com

ela.

— Não... Espere. — Com a cabeça apoiada nas almofadas, Madeline conseguiu

pronunciar as palavras, arquejante, fraca, mas ele ouviu.

Colocou-lhe uma mão sobre o peito, nunca havia sido capaz de detê-lo, mas

Gervase parou. Olhou-a nos olhos. O manifesto desejo que ela viu arder nos olhos

dele a fez sorrir e viu que sua determinação de sair com a sua foi mais forte, mais

intensa, mais necessária.

Levantou a mão, pegou-lhe a mandíbula, sentiu a ambos lutando para conter a

onda. Suas respirações mescladas, entrecortadas, ásperas, próximas ao desespero.

Seus lábios separados apenas uns centímetros, palpitavam.

— Deixe-me.

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Quando Madeline pronunciou a palavra, viu como ele a registrou, como a

confusão lhe nublou os olhos.

— Mas esta noite...

— É minha noite. — Susteve-lhe o olhar. — E isto — com o corpo empurrou-o

para fazê-lo rodar para trás — é o que desejo.

Por um instante, Gervase não se moveu apesar do peso de Madeline, mas

finalmente cedeu se rendeu e rodou de costas. Ela sorriu e o seguiu. Ele a olhou

nos olhos enquanto se acomodava de boca para cima, com a cabeça nas almofadas.

Madeline lhe susteve o olhar e soube que Gervase havia compreendido. O que

se seguiu foi um presente que havia desejado por cima de todos os outros. Foi ela

quem esteve no comando, quem estabeleceu o ritmo e ele lhe entregou as rédeas e

a deixou fazer o que tinha desejo e o que lhe apetecia.

Deixou-a acariciá-lo, encher-lhe os sentidos, a mente, a alma. Deixou-a

deslizar as mãos pelo seu torso, pelo duro abdome, pelas cadeiras, estendendo o

fogo sob a pele ardente. Deixou-a mover suas mãos ao redor dele, os dedos, a

boca, a língua, as suaves extremidades, os sedosos cabelos, tudo parte de sua

sinfonia de sensações, tudo parte de sua devoção, de sua reclamação.

Nisso Madeline não tinha medida, nenhum critério, nenhum plano. Moveu-se ao

ritmo do tamborilar diferente, com o coração, os sentidos, a alma em sintonia.

Abandonou-se a ele, se entregou a ele e não negou nada na entrega. Entregou-

lhe tudo, a consciência dele e a sua própria, na palma da mão.

Contiveram a respiração e juntos avançaram, até sucumbirem ao frenesi, até

que o desespero dominou Gervase com tanta força como embargou a ela. Até que

a paixão se converteu em uma besta de garras afiadas que os atravessou uivando.

Madeline se incorporou para acolhê-lo em seu interior, se colocou montada sobre

ele, e submergiu sua dura longitude na abrasadora suavidade de seu corpo,

descendo devagar enquanto fechava os olhos e sua respiração se acelerava,

submergindo mais e mais até que o abarcou e possuiu por completo.

Cavalgou-o através da noite, devagar, das sombras a luz da lua, agarrando-se

ambos ao mesmo limite de controle, transitando um caminho na mesma borda do

penhasco, tão perto da inconsciência que cada momento era vertiginoso, com os

pulmões tão tensos que apenas podiam respirar.

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Ficaram com os dedos entrelaçados quando tudo voltou demasiado intenso

para beijar-se, para recuperar o chiado, até que puderam continuar cavalgando.

Mais e mais acima.

O pensamento havia desaparecido fazia muito tempo; para ambos, só havia

sensações. Aquilo era uma unidade, uma sensação de compartilhar, muito

profunda.

Uma conexão que fluía total e absolutamente, à medida que sua respiração se

tornava mais difícil, quando, ao final, fecharam os olhos e deram os últimos passos

até lá em cima...

A gloria se derramou sobre eles dominando aos dois. Um brilhante sol de

sensações que estalaram em se interior, lançando estilhaços de deleite que

atravessaram sua corrente sanguínea, fazendo que um prazer sem medida os

percorresse, os inundasse e acabasse com todo rastro de consciência. Arrancou-os

do mundo, os fez girar além das estrelas, um único e brilhante momento de

inexpressível dita que se prolongou até que o vazio, esse lugar além das sensações,

se fechou delicadamente ao seu redor, ocultando-os, envolvendo-os na paz.

Voltaram a terra devagar. Como a água que pinga em um caneco, a

consciência regressou e a capacidade de pensar se restabeleceu pouco a pouco.

Gervase ficou deitado de boca para cima, com os olhos fechados. Nada,

nenhuma experiência em sua vida o havia preparado para aquilo, para aquela

completa e total satisfação. Sentia o peso nas veias, profundamente metida em

seus músculos. Havia alcançado algo em seu interior, algum elemento dentro dele

no qual nunca se vira implicado.

Foi aterrador, excitante, emocionante... Aditivo. Tudo isso e mais.

Madeline se desmanchou sobre seu corpo, totalmente flácida. Rodeou-lhe as

costas com os braços em um gesto protetor; não tinha intenção de deixá-la ir

nunca. Mas o surpreendera. A força que possuía e a determinação também, mas

era sua força de vontade da deusa guerreira, uma força feminina, que o havia

prendido, fascinado e conquistado.

Sorriu ironicamente para si, porque ainda sentia os músculos da cara

demasiado relaxados para conseguir mostrar alguma expressão. A força que

Madeline havia exibido para conquistá-lo não fora só dela. Ao menos a metade

procedia dele, de sua disposição a ceder, a render-se, não a ela, mas ao poder que,

desnudos na noite, surgia dos dois e os unia, os impulsionava, os dominava. O

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poder que, através dela, se impunha sobre ele. Uma idéia mordaz em muitos

aspectos.

Antes que pudesse pensar mais, Madeline se moveu. Elevou-se para deslizá-lo

fora de seu interior e logo voltou a cair em seus braços com as pernas

entrelaçadas. Seus cabelos eram uma mata acobreada que lhe ocultava o rosto,

mas Gervase sentiu que lhe pegava o queixo ao torso e lhe roçava a pele com os

lábios.

— Obrigada. — Madeline deixou que as sussurradas palavras saíssem de seus

lábios, uma íntima confissão na obscuridade. — Isto, mais que qualquer outra

coisa, era o que eu desejava para meu aniversário. Desejava para você. Só você.

―Para mim‖. Só para mim. ―Por uma noite.‖

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Capítulo 14

— Não posso expressar-lhe, milorde, como estou satisfeita de vê-lo de volta no

distrito, no lugar que lhe corresponde.

— Lady Felgate cravou seus olhos saltados em Gervase enquanto ele se

inclinava diante dela. — Os condes absentistas, na realidade, nobres de qualquer

tipo que se dedicam a vagar por aí em busca de diversão, são deploráveis. Não é o

que o país necessita.

Ele se ergueu consciente que o melhor era não discutir.

— De fato, planejo ficar no castelo em um futuro imediato.

Lady Felgate se alegrou ainda mais. — Excelente! Devemos ver o que podemos

fazer, então, para encontrar-lhe uma jovem da zona que possa ser sua esposa. — A

dama assinalou com a mão seu salão de baile. — Há muitas aqui, vá e olhe.

Gervase obedeceu de imediato, ao menos no de seguir a Sybil ao interior do

salão. Sua busca, não obstante, consistiu em examinar as cabeças para localizar

uma mais alta que a maioria. Ao não encontrá-la, suspirou para si e se concentrou

primeiro em acompanhar a sua madrasta a um divã próximo e logo em tentar

manter-se só até que Madeline chegasse.

Lady Felgate era toda uma personagem, uma dessas velhas mesquinhas e

feias, cujas excentricidades todos suportavam simplesmente porque era mais fácil

que resistir. O baile que celebrava em Felgate Priory era uma instituição local, uma

a qual todo mundo assistia. De novo porque era mais fácil que tentar evitá-lo.

Claro, isso significava que todos, literalmente todas as damas e cavalheiros do

distrito maiores de dezoito anos, apareciam no salão de baile nessa noite.

— Obrigada, querido. — Sybil sentou-se em um divã junto a uma parede e

olhou ao seu redor. — Não posso ver a Muriel nem a Madeline, e você?

— Não, mas chegarão logo, sem dúvida.

— Se a vir diga-lhe que venha aqui.

Com um assentimento de cabeça, Gervase se afastou, inclinando-se diante da

senhora Entwhistle, que se aproximou para falar com Sybil.

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Em alguns aspectos, a numerosa multidão era de grande ajuda, porque havia

suficientes cavalheiros altos presentes para oferecer-lhe cobertura. Gervase seguiu

movendo-se, abrindo passo devagar entre os convidados, respondendo as

saudações, trocando as habituais frases de cortesia. Manteve em todo o momento a

farsa que ia reunir-se com alguém. Fazia muito tempo que aprendera que esse era

o melhor modo de esperar a alguém em uma situação como aquela, porque sempre

dava uma desculpa para continuar andando.

Sorrir, saudar com a cabeça, inclusive conversar, requeria pouco esforço

mental e lhe deixava a maior parte da mente livre para batalhar com um assunto

que poucas vezes abordava: seus sentimentos. Por uma parte, sentia-se animado e

alentado pelas atrevidas ações de Madeline na noite anterior, inclusive mais por seu

reconhecimento de que havia desejado fazer-lhe amor e que esse havia sido seu

presente de aniversário mais especial. Por outra parte, uma estranha inquietação

mexia com sua habitual segurança, escavando-a de um modo que não gostava nem

compreendia.

A causa dessa inquietação era o perturbador poder que havia crescido entre

eles dois, que ele sentira e sabia que estava ali desde o princípio; mas o havia

tolerado e aceitado baseando-se em que qualquer coisa que a atraísse para ele,

que prometesse ligá-la a ele, era em seu beneficio.

Ainda sentia que não era algo que desejasse perder, ao menos no sentido de

que os unia e a ligava a ele. Do que já não estava tão seguro, o que o estava

pondo cada vez mais nervoso, era como isso mesmo agora o ligava também a ela.

— Milorde! — A senhora Juliard o saudou efusivamente agitando a mão.

Gervase se deteve ao seu lado, saudou-a e também a uma jovem dama que se

inteirou ser sua sobrinha.

— Harriet veio passar um tempo conosco. Precisamente estava comentando

que foi uma lástima perder o festival no castelo.

Estava bastante interessada porque lhe explicaram os tiros dos canhões.

Gervase sorriu ao juvenil semblante da senhorita Juliard e se perguntou como

demônios qualquer pessoa culta poderia imaginar, tal como a senhora Juliard

claramente fazia, que ele pudesse ter interesse em uma dama tão jovem e

ingênua. Mas como os Juliard lhe agradavam, mostrou-se cortês.

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Estava a ponto de despedir-se delas, dizendo uma educada mentira, quando de

repente soube, simplesmente soube que Madeline chegara. Levantou a cabeça e

olhou para o outro lado do salão diretamente ao lugar onde ela parara junto às

portas de entrada.

Estava divina, vestida com um vestido de seda verde maçã, luzindo os dois

presentes de seus irmãos e os seus também, nos cabelos e pendurando-se da

munheca.

Gervase se voltou para as damas Juliard, sorriu e já não necessitou mentir-

lhes.

— Se me desculparem há alguém com quem devo falar.

Despediram-se com sorrisos e assentimentos de cabeça, já que a senhora

Juliard não abrigava grandes esperanças.

Devia cruzar a maior parte do salão para chegar até Madeline. Após percorrer

alguns metros, teve que começar a refrear sua impaciência, porque não conseguia

abrir espaço entre a multidão a empurrões. Custou-lhe mais de dez minutos cobrir

a distância sem atrair a atenção e, quando se aproximou dela, descobriu que outras

pessoas — varias, de fato — a abordaram antes dele.

Reduziu o ritmo, se deteve e amaldiçoou para si. Estava rodeada pelo grupo de

convidados de lady Hardesty. A imagem o fez deter-se e avaliar a situação antes de

precipitar-se.

Courtland estava ali, junto ao cotovelo de Madeline, esse canalha, junto com

outros quatro cavalheiros da alta sociedade.

Não lhes confiaria a nenhum deles suas irmãs. Tão pouco lhes confiaria

Madeline, mas inclusive a três metros de distância, percebeu que ela estava se

defendendo bem. A couraça de sua deusa guerreira estava totalmente despregada.

Apesar de haver cinco damas atraentes, amigas de lady Hardesty, na festa, os

cinco cavalheiros, incluindo o bem vestido homem em cujo braço se apoiava a

própria lady Hardesty, tiveram seus olhares de predadores fixos em Madeline disse

a Gervase tudo o que necessitava saber.

Lady Hardesty e suas amigas já não eram presas especialmente apetecíveis, ao

menos não para aqueles cinco cavalheiros.

Por isso todos olhavam para Madeline como se fosse um cordeiro, um inocente

e delicioso cordeiro.

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Voltou a avançar e se deteve ao seu lado. Manteve o olhar fixo em seu rosto e,

tal como esperado, ela sentiu sua presença antes que os demais; voltou-se e deu

um passo atrás para deixar-lhe lugar ao seu lado. Um lugar que ele ocupou

rapidamente.

— Madeline, querida. — Com um confiado sorriso, pegou-lhe a mão que lhe

oferecia e se inclinou, regozijando-se para si mesmo pelo sorriso que ela lhe

dedicou; ainda conservava um vestígio de verniz social, mas alguém com um

mínimo de experiência duvidaria ao vê-la que eram amantes.

— Gervase. — Madeline também usou seu nome de batismo e o fez com

suavidade, de um modo íntimo. — Perguntava-me onde estaria.

Ele se ergueu, olhou-a nos olhos e viu que chegara a sua mesma conclusão e

estava impaciente por desfazer-se dos outros cinco cavalheiros, pelos quais não

tinha nenhum interesse.

Gervase lhe apertou os dedos, os apoiou em seu braço, os cobriu com os dele e

só então olhou aos demais, deixando que sua vista percorresse o círculo de rostos

até chegar ao de lady Hardesty.

— Lorde Crowhurst. Que alegria!

Ele esteve a ponto de piscar surpreso. Estava claro que a dama não havia

captado a descarada mensagem de Madeline nem a sua. Com um sorriso que

prometia lascivo prazer, lady Hardesty lhe ofereceu a mão.

— É um prazer vê-lo, milorde.

Contrariado afastou a mão da de Madeline, pegou os dedos da mulher, e meio

se inclinou e os soltou.

— Lady Hardesty, senhoras — saudou com um gesto da cabeça, distante e frio,

as outras damas.

Sorrindo, lady Hardesty lhe apresentou as duas mulheres que ainda não

conhecia.

A tal da senhora Hardingale, uma matrona muito elegante, fixou nele a vista

com uma sobrancelha erguida.

— Diga-me, milorde, este é verdadeiramente o baile mais importante da

região? — Olhou ao seu redor, voltou a dirigir os olhos cheios de humor, ao seu

rosto convidando-o claramente a que denegrisse aos seus vizinhos.

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Gervase a contemplou impassível.

—Creio que é um dos acontecimentos mais importantes, sem duvida uma

tradição muito arraigada. — Deteve-se e logo acrescentou: — No geral é um evento

muito agradável.

Madeline apertou-lhe levemente o braço.

Não teve certeza se era um sinal de apoio ou uma advertência, mas não tinha

que preocupar-se, porque a senhora Hardingale se limitou a olhá-lo perplexa; sem

saber se o comentário fora uma piada e, se assim fora, se deveria ofender-se.

Duas das outras damas riram dissimuladas. Realmente riram. Madeline

conseguiu não ficar olhando-as.

Lady Hardesty se adiantou e soltou o braço do cavalheiro que tinha ao seu lado

para cruzar o círculo e apoiar uma mão sobre a de Gervase.

— Milorde. — Olhou-o no rosto, ignorando por completo a Madeline. — Estou

especialmente contente de vê-lo. Estou desejando ter uma conversa com você. —

Sua voz era baixa, sensual e ergueu as sobrancelhas levemente. — Se me

permite...

“Diga não”.

Madeline conseguiu não fulminá-la com o olhar, mas teve que esforçar-se para

isso, reprimir a inesperada reação alarmante e violenta que surgiu de algum lugar

de seu interior. Gervase se moveu para aproximá-la mais a ele em uma evidente

tentativa de fazer lady Hardesty ver que a levava pelo braço.

A dama foi consciente disso, mas limitou-se a olhar Madeline, sorrir-lhe

levemente e voltar-se para Gervase de novo, como se sua acompanhante fosse

uma palmeira em um matagal. Um cavalo teria merecido mais atenção.

O gênio de Madeline, uma força da natureza raras vezes invocada, começou a

girar em espiral, para cima.

— Perguntava-me, milorde — lady Hardesty se aproximou mais e abaixou a

cabeça com a esperança que Gervase se inclinasse para ela para ouvir suas

palavras, — se poderia persuadi-lo de me dedicar uns minutos de seu tempo... Em

particular.

A mulher ergueu a cabeça e a essa curta distância se esforçou para prendê-lo

com seus olhos escuros.

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Madeline apenas podia acreditar no que via. Olhou para Gervase e o que viu a

ajudou a controlar seu gênio e a relaxar-se. Estava olhando a dama com desprezo e

uma atitude muito distante e superior.

— Temo que não. A senhorita Gascoigne me prometeu a primeira valsa, que

acredito começará em seguida.

No referente a reprimendas, aquilo era o mais direto que um cavalheiro podia

ser. Mas lady Hardesty se limitou a sorrir a Gervase e logo, com ar tranqüilo e

imutável, a Madeline.

— Estou certa que um destes cavalheiros estará encantado em substituí-lo,

milorde. — Voltou a olhá-lo na cara. — Temo que minha necessidade de sua

companhia exceda em grande medida a da senhorita Gascoigne.

Ninguém podia ser tão obtuso por vontade própria e lady Hardesty não era

estúpida, não socialmente falando.

Madeline de repente o compreendeu; pela primeira vez em mais de uma

década, ruborizou-se. Aquela mulher e seus amigos — tal como uma rápida olhada

aos cavalheiros e as damas lhe confirmou — viam-na alta demais, rústica, velha,

uma solteirona a qual já havia passado o momento de ter alguma possibilidade real

com Gervase.

Pensavam que ele estava se limitando a ser cortês com uma vizinha, que suas

atenções para com ela estavam inspiradas por uma amizade protetora, nada mais.

Qual outra coisa, se não, poderia sentir um cavalheiro de sua classe por uma

dama como ela.

A descoberta foi como uma bofetada, que assimilou, mas seu gênio ressurgiu

com toda sua força. Sem dúvida, não tinha nenhuma possibilidade de reagir.

Gervase falou com frieza e calma, com uma dicção tão precisa que cada

tranqüila palavra foi tão cortante como um sabre.

— Penso que não me expliquei bem. A senhorita Gascoigne me prometeu a

primeira valsa porque eu não só lhe pedi, mas lhe roguei de coração que me desse

a honra. — Com o olhar fixo no rosto de lady Hardesty, seus olhos se tornaram

duros como ágatas e frios como o gelo. — E não há nada, repito nada, nesta terra

que possa persuadir-me de renunciar a esse prazer.

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Deteve-se; apesar da conversa que os rodeava, nem um som pareceu penetrar

o círculo, agora silencioso. Ninguém se moveu e Madeline suspeitou que a maioria

estivesse contendo a respiração.

— Confio — acrescentou Gervase finalmente, quando o silencio se prolongou

até encher-se de tensão — que agora me fiz compreender.

Lady Hardesty havia empalidecido, paralisada. Ao lado de Gervase, um tigre

com presas ao qual havia se atrevido a provocar, não soube o que dizer.

Ele se moveu para afastar o braço de sua mão, logo lhe dirigiu um seco

assentimento de cabeça, um claro desprezo, e se voltou para Madeline.

— Vamos querida. — Como se houvesse despontado os dedos, as notas de

abertura da primeira valsa flutuaram sobre suas cabeças. Gervase sorriu com

intensidade. — Creio que devemos desfrutar de uma valsa.

Ela lhe devolveu o sorriso com elegância, se despediu com um régio gesto de

cabeça das damas e cavalheiros emudecidos, e deixou que a levasse dali.

Gervase a conduziu diretamente a pista de baile. Durante uns longos minutos,

se deixou levar pela música, esperando que os amplos giros a acalmassem, que seu

gênio — satisfeito e quase ronronante — se serenasse de novo.

Finalmente, suspirou com prazer e o olhou no rosto.

— Obrigada por resgatar-me. — Sabia que era para isso que ele se unira ao

círculo de lady Hardesty. Estudou seus olhos, sua expressão ainda pétrea. — Só

lamento que fazê-lo te obrigue a fazer um comentário tão extravagante.

Gervase piscou e suas faces se relaxaram. Claramente desconcertado, a olhou,

erguendo as sobrancelhas.

Madeline sorriu.

— Sobre a sua súplica de coração por ter a honra de dançar a valsa comigo e

de que nada na terra lhe poderia fazer renunciar a esse prazer.

Ele franziu o cenho e, após um momento durante o qual a olhou com atenção,

lhe perguntou:

— O que foi que lhe pareceu ―extravagante‖ de tudo isso?

Ela lhe dedicou uma olhada risonha, porém irônica.

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— Sabe perfeitamente que é o único homem com o qual danço a valsa de bom

grado. Se me pedir que dance com você, não me negarei, não há necessidade que

me suplique de coração.

— Bem. — Gervase a aproximou mais dele enquanto girava sem esforço. —

Sem dúvida — continuou, enquanto seguiam percorrendo a sala entre voltas e

voltas, — se alguma vez você se negar, eu lhe suplicaria, inclusive me poria de

joelhos para assegurar-me que dançaria comigo. — Olhou-a nos olhos. — Gosto de

dançar a valsa com você. — Após um momento, acrescentou: — Encanto-me em

dançar a valsa com você e não estou exagerando quando digo isto.

Madeline o olhou nos olhos e o prazer, cálido e sedutor a inundou. Sorriu.

— A mim também me dá muito prazer dançar a valsa com você.

— Eu sei. E isso também me agrada. — Teve que erguer os olhos para guiá-los

através dos outros pares. Quando voltou a abaixar a cabeça, olhou-a nos olhos. —

Assim, como pode ver, não havia absolutamente nada de extravagante no que

disse. Era a verdade.

Falava totalmente a sério e ela sentiu que seu coração se encheu e que a

alegria se estendeu em seu interior. Mas...

— Eles são de Londres e são bastante perversos. Você regressará ali no outono

para procurar uma esposa, eles poderiam...

— Você não tem que se preocupar com isso. — O repentino desgosto em sua

voz foi uma recordação que esse assunto, o de sua futura esposa, não era um

assunto do qual um cavalheiro quisesse falar com sua... Amante.

Apesar de lhe encolher o coração, Madeline manteve a expressão afável e

inclinou a cabeça.

— Muito bem.

Olhou por cima do ombro dele e tentou recuperar a magia da valsa, mas ainda

que seguisse girando em seus braços, o relaxante prazer agora lhe resistia. Sua

menção ao assunto da esposa acabara com ele, criou um abismo entre os dois que

se manteve aberto durante o resto da noitada, ainda que Gervase não se separasse

dela.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Conversaram com seus vizinhos e outros residentes do distrito sem que

ninguém percebesse que ambos tinham a cabeça em outra parte e pensavam no

mesmo.

Não falaram do assunto nem fizeram nenhuma outra alusão a respeito. Quando

o baile estava chegando ao fim e antes que os convidados começassem a retirar-

se, Gervase acompanhou a ela e Muriel a sua carruagem. Depois de ajudar a anciã

a subir, voltou-se para Madeline. Com a mão na sua, observou seu rosto, seus

olhos escurecidos, baixou a cabeça e sussurrou:

— Vá ao embarcadouro e reúna-se comigo esta noite.

Ergueu-se e a olhou, esperando sua resposta.

Ela assentiu.

— Sim. De acordo.

O alívio pareceu embargá-lo, mas foi tão tênue, tão fugaz que Madeline não

pode se convencer que o vira verdadeiramente.

Gervase a ajudou a subir na carruagem, fechou a porta e retrocedeu. Levantou

uma mão em sinal de despedida quando se colocou em marcha.

Ela o olhou fixamente pela janela todo o tempo que lhe foi possível. Suspirou e

se recostou no assento. Fechou os olhos e começou a planejar como chegaria ao

embarcadouro.

---

No terraço que ladeava o salão de baile de Felgat Priory, lady Hardesty

passeava de braço com seu amante, que finalmente se havia dignado deixar-se ver

em sociedade com ela. Localizara-o entre a multidão, conversando afavelmente

com numerosos residentes da zona, pelo que deduziu que sua história sobre a

visita a um familiar já ancião seguramente seria certa. Tinha que alojar-se com

alguma família reconhecida no distrito para ter recebido um convite de lady

Felgate.

Em um dado momento, parou ao seu lado e a isolou de forma que estivessem

sós em meio da multidão, mas unicamente para dar-lhe suas últimas instruções.

Helen sabia o porquê de lhe obedecer, mas mesmo assim, a necessidade ainda a

irritava. Lamentavelmente, ele não era nada suscetível as suas artimanhas e

inclusive mais desafortunado era o fato de que isso formava parte de seu atrativo.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— O que conseguiu averiguar? — perguntou-lhe, quando estava o bastante

longe dos outros pares que tomavam ar.

A noite era mais calorosa do que o habitual; a sombra de uma tormenta

pairava no ambiente.

Helen suspirou.

— Tive que enviar a Gertrude para perguntar. Ela não estava conosco antes,

quando Crowhurst foi tão desagradável. Quem iria imaginar que defenderia a

senhorita Gascoigne com tanta ferocidade? Por muito assombroso que pareça, deve

estar dormindo com ela. É a única possibilidade.

Importa-me pouco Crowhurst ou a qual mulher decida beneficiar. O que me

importa é o broche.

Essas palavras pronunciadas com tanta precisão estavam cheias de ameaça e

violência. Cravou-lhe os dedos no braço, pelo que Helen falou rápido:

— Desde logo e por isso tem que agradecer a Gertrude e a mim. Ela tem que

esconder o fato de que é uma de nós e fingir ser uma dama que visita o distrito.

Seguiu minhas instruções esplendidamente bem.

— E?

— A senhorita Gascoigne lhe disse que o broche foi um presente de aniversário.

— De quem?

— De seus irmãos. E sim, Gertrude perguntou e, segundo a senhorita

Gascoigne, o compraram de um vendedor ambulante do festival. — Fez uma pausa

e o olhou na cara. — Deve ter passado por alto quando olhaste.

Seu amante apertou os olhos.

— Não passei por alto.

Soou muito convencido. Ela franziu o cenho e finalmente se aventurou a dizer:

— Então, os meninos mentiram?

— Oh, sim. Mentiram. Uma mentira perfeitamente crível nessas circunstancias.

E o único motivo pelo qual mentiriam...

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Helen aguardou. Quando seu olhar seguiu perdido, fixo nos escuros jardins e

não disse nada mais, ela insistiu:

— O que? Porque mentiriam?

Apertou os lábios e soltou um grunhido.

— Porque esses indesejáveis encontraram meu tesouro e não querem que

ninguém o saiba, nem sequer sua irmã.

---

Madeline abandonou seu dormitório meia hora depois de regressar. Deixara

que Ada lhe ajudasse a tirar seu novo adorno para o cabelo e o vestido e logo

enviara a sonolenta donzela para a cama.

Ignorando a sua, colocou a saia para montar e os calções, mas nessas

circunstâncias optou por prescindir das calças. Depois de tudo, quem iria vê-la? Por

outro lado, a noite era mais quente que o habitual e o calor pairava como um

manto sobre a terra, quieto e imóvel. Atravessou a escura casa, silenciosa como

um fantasma, até a porta de serviço, saiu e se dirigiu aos estábulos.

Artur se alegrou ao vê-la e ainda se alegrou mais quando lhe colocou a sela no

lombo. Um passeio era um passeio, fosse à luz da lua ou do sol. Qualquer

oportunidade de esticar suas poderosas patas era como o paraíso para ele.

Levou-a rápido pela trilha dos penhascos. O castelo se erguia no horizonte,

diante dela; as ameias e torres se perfilavam sobre o firmamento estrelado. Havia

pouca luz, mas o céu estava claro; o brilho das estrelas banhava de prata os

campos e as ondas e resplandecia fosforescente no mar, que molhava a areia mais

abaixo.

Madeline contemplou a beleza, mas esta não conseguiu distraí-la de seus

pensamentos que a atormentavam desde aquele momento na pista de baile. O

inesperado conflito sem precedentes com lady Harvesty e seus convidados a

obrigara a enfrentar uma serie de fatos que estivera ignorando.

Ela não era uma dama glamorosa de Londres, da classe de dama que a alta

sociedade visse como uma consorte adequada para Gervase. Fora fácil desdenhar

esse aspecto e suas repercussões enquanto estavam rodeados só pelas pessoas do

lugar. Mas lady Hardesty e suas amigas deixaram claro que ela nunca poderia

competir com elas e suas iguais solteiras, entre as quais Gervase escolheria a

esposa.

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Não obstante, Madeline sempre soubera disso; aceitara-o desde o princípio.

Permitira-se esquecer, deixar apagar-se de sua mente que em algum momento ele

voltaria a Londres para procurar uma esposa. Aceitar isso e reconhecê-lo, tê-lo em

mente fazia com que sua própria situação estivesse muito clara.

Ela era sua amante temporária, nada mais. Uma amante para esse verão,

porque quando chegasse o outono, ele se iria e Madeline voltaria a estar sozinha.

Pensava que o tinha aceitado, compreendido, mas agora... Agora que havia

deixado que seu coração se envolvesse, lhe doía só de pensar. Doía-lhe pensar que

seu tempo junto com ele logo chegaria ao fim. Mas doía mais ainda pensar nele

com outra mulher, mentindo com outra, beijando a outra.

Essa era outra coisa que o conflito havia extraído da conversa; não como ela

acreditara em um primeiro momento, seu gênio de Gascoigne, e sim como algo

mais explicito. Sentira-se ciumenta e não pouco. Quando lady Hardesty se mexeu

para se encostar-se a Gervase, seus dedos tinham se dobrado como garras. Ao

menos em sua mente. Mas o que a impressionara, mais que sua própria reação;

uma reação que não tinha o direito de sentir, fora a violência que sentira atrás

dela.

Em vista de seu temperamento, isso não prometia nada bom. Enquanto que,

no geral, em sua família eram equânimes e afáveis, essa veia de temeridade que os

afetava a todos fazia com que permitirem-se violentos ciúmes fosse má idéia.

As pessoas que podiam arriscar ou o arriscariam praticamente tudo no calor do

momento tinham que ser cuidadosas. Pensar nisso fez com que levantasse uma

pergunta que nunca lhe ocorrera antes: como poderia enfrentar-se com a dama

que Gervase decidisse, em última instância, converter em sua esposa? Não pode

imaginar a resposta.

Não importava quanto se repreendesse a si mesma, sempre seria a pior inimiga

da pobre dama. Teria... O que? Ingressar em um convento? Como poderia viver em

Treleaver Park sem encontrar-se constantemente com essa pobre e confiada

mulher?

A idéia, as possibilidades e os cenários que sua imaginação, agora consciente

da situação, lhe oferecia eram simplesmente demasiado horríveis para contemplá-

los. Quando chegou ao alto do caminho que levava a Castle Cove, começava a

sentir o principio de uma dor de cabeça, mas não tinha a mínima idéia de qual seria

o melhor modo de proceder.

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Fez Artur seguir mais devagar e começou a descer deixando que o cavalo

escolhesse seu caminho sob a escassa luz.

Sabia que estava ali porque Gervase havia pedido. Porque lhe oferecera a

perspectiva de outra noite em seus braços. E queria tê-lo, poder estar com ele e

deixar-se levar por seus sentimentos — esses que teria sido mais prudente não

permitir florescer e crescer e muito menos alcançar sua plenitude — só até que ele

se fosse para buscar a sua futura esposa, então tomaria tudo o que lhe desse.

Madeline não pedira isso, não o buscara, mas o destino o havia enviado e ela,

uma Gascoigne até a medula, se enamorara temerariamente daquele homem.

Assim, o desfrutaria, deixaria que aquilo durasse o máximo de tempo possível

antes que aquilo que havia surgido entre os dois se visse obrigado a morrer.

Já teria tempo de enfrentar esse horror quando chegasse.

Sentia as emoções com intensidade, demasiado perto da superfície, quando

girou para o saliente e viu Gervase esperando na lateral do embarcadouro.

Ele segurou Artur pela cabeça e, quando ela desmontou, guiou o cavalo atrás

da construção e o atou junto a sua montaria.

Depois regressou ao seu lado e a pegou pela mão. Madeline sentiu como os

dedos se fechavam firmes e fortes, ao redor dos seus, como se moviam e a

acariciavam quando ele parou e, através das sombras, observou seu rosto; o dele

era, como sempre, impenetrável. Depois olhou o mar.

— Vamos passear pela praia.

Surpresa deu a volta e o deixou guiá-la pelos degraus de pedra talhados na

borda do saliente e sobre a suave areia.

Gervase se dirigiu para as ondas.

Madeline soltou-se dele.

— Espere.

Ele parou e se voltou quando ela retirou a mão da sua e se sentou nos degraus.

Levantou a saia, tirou as botas de montar e as meias e as deixou de lado. Ao vê-la,

Gervase seguiu seu exemplo, se despojou também dos sapatos e das meias e os

deixou sobre os degraus, junto aos dela.

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Finalmente, voltou a pegá-la pela mão e retomou o caminho. Madeline

caminhou ao seu lado até onde a maré baixa deixara uma zona de areia compacta

sobre a qual podiam caminhar com mais facilidade. Quando chegaram até ali,

Gervase girou ao este, em direção contrária ao castelo. Logo reduziram o ritmo e

passearam com calma. Nenhum falou, mas seus pensamentos — mútuos, disso a

ela não ficava nenhuma dúvida — pairavam pesados entre eles.

Reduziram ainda mais o passo quando ambos observaram como as ondas

avançavam pequenas e suaves, com as bordas fosforescentes.

Quando ele não disse nada, Madeline tomou uma tensa inspiração.

— Sobre o que disse esta noite...

— Na pista de baile...

Falaram a uma só voz; pararam e se voltaram um para o outro. Olharam-se

nos olhos e Gervase assentiu.

— Você primeiro.

— Queria dizer... Afirmar-lhe que o entendo. — Quando ele olhou seus olhos e

esperou, Madeline continuou: — Sobre sua futura esposa. Sei que terá que

regressar a Londres para escolher uma e logo trazê-la aqui. Queria dizer-lhe que

quando chegar a hora de fazer isso... — Calou-se e gesticulou com a mão livre. —

Não montarei uma cena.

Segurou-lhe o olhar, inspirou e, com os pulmões tensos, mentiu: — Não quero

que imagine que mudei de opinião e que espero mais de você por que... — De novo

lhe faltaram às palavras e assim, teve que bastar-lhe um gesto.

— Porque nos convertemos em amantes?

A voz dele soou áspera, mas isso poderia ser pelo mar. Madeline assentiu,

ergueu uma mão para segurar os cabelos agitados pela brisa.

— Porque ficamos íntimos.

Gervase mantinha os olhos fixos nos seus; sua expressão não era tão

rigidamente impassível como sempre, mas ela não pode identificar a emoção que

ocultava.

Então o ouviu suspirar através dos dentes apertados, com um arquejo de

frustração.

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— Não entende nada.

Madeline piscou. Soou exasperado.

Gervase lhe soltou a mão, pegou-a pelos ombros e a aproximou mais dele, sem

afastar os olhos de seu rosto.

— Não entendeu nada.

Ela franziu o cenho.

— Acabo de dizer-lhe que entendo perfeitamente.

— O que acaba de me dizer é que não entendeu nada... — Interrompeu-se e a

olhou com os olhos apertados. — Ou prefere ignorá-lo?

Madeline o olhou com os olhos apertados também.

— O que é que estou ignorando?

Gervase apertou a mandíbula.

— Isto.

Atraiu-a para ele e a beijou. Ela teve um momento de lucidez. Sabia tudo sobre

aquilo, sobre o calor, o anelo, a necessidade. Tudo sobre as paixões que iriam

surgir e rugir, os engolir.

Um segundo depois, o calor, o anelo, a necessidade, a paixão e o desejo que o

seguiu a prendeu e lhe arrebatou até o último vestígio de pensamento para

substituí-lo com sensações. E após as sensações, como estava aprendendo a

esperar, chegou à emoção. Mais forte e a cada vez que estava com ele crescia e

aumentava.

Mais poderosa; já não podia negá-la, e muito menos ignorá-la.

Gervase a atraiu e prendeu-a, impulsionou-a a relaxar-se e ceder, a entregar e

tomar, a deixar a um lado qualquer restrição e simplesmente amá-lo.

Fisicamente, se — agora compreendia por que ao ato o chamava fazer amor, —

mas o mais precioso, o presente mais valioso que tinha para fazê-lo residia no que

impulsionava o físico, sua intenção, seu compromisso, sua devoção por ele.

Eles estiveram juntos muitas vezes para que seu beijo não fosse outra coisa

que incendiário; Gervase o queria assim e assim foi. Seus lábios eram duros,

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autoritários, implacavelmente exigentes, Madeline obedeceu de imediato. Em

seguida lhe entregou a boca, arquejou quando fechou a mão sobre seu seio.

Apenas percebeu que lhe abria o traje de montar pela frente e o tirava, porque,

então, seu único pensamento era estar nua em seus braços.

Sua saia caiu ao solo, seguido pela jaqueta dele, o lenço e a camisa, sua

camisola e, a seguir, as calças de Gervase. Só quando seus calções se deslizaram

por suas pernas e a brisa marinha lhe acariciou a pele raras vezes exposta, se deu

conta...

Afastou os lábios dos dele e arquejou: — Estamos na praia.

— E? — Com as mãos estendidas a apertou contra seu corpo, suas cadeiras se

amoldaram as suas. — Não há ninguém em quilômetros daqui. Só você e eu, as

estrelas e o mar.

— Sim, mas... — Madeline piscou. Afastou para trás os cabelos e ficou olhando

a praia, a areia molhada e areia seca, não podia imaginar...

Gervase riu brevemente.

— Na água. Vamos.

— O que? — Mas ele já avançava pela praia com ela segura pela mão. Madeline

seguiu-o, ainda perplexa. — Na água?

Gervase se voltou para ela.

— Aposto que, como uma Gascoigne que é não pulará para trás.

— Ser uma Gascoigne não tem nada a ver com isto — resmungou em voz

baixa.

Chegaram até as ondas; Madeline se preparou para sua gélida caricia e

experimentou uma sensação totalmente diferente. O verão havia sido cálido, os

dias longos e quentes; o mar, ao menos na orla, se esquentara. A água lhe rodeou

os pés e as pernas quando a fez avançar sem duvidar e senti-la fresca sobre sua

acalorada pele, mas não fria. A sensação era agradável, um contraste sensual e

tentador que a distraiu. Foi inclusive mais intenso quando, finalmente, Gervase se

deteve, além da rompante, aonde a água lhe chegava à cintura.

Plantou-se ali e a fez voltar-se para ele em seus braços e a beijou vorazmente,

de novo, um beijo e uma reclamação deliberadamente calculada para fazer com

que seus fogos ardessem de novo com força.

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A deflagração resultante lhe custou menos de um minuto para reduzi-la uma

vez mais a um estado de acalorada, urgente e ávida necessidade desesperada.

Gervase soube e a levantou apoiando-a sobre ele; sem necessidade de

nenhuma indicação, Madeline lhe rodeou o pescoço com os braços, a cintura com

as pernas e respondeu ao seu beijo, em fogo e determinada, desejando, anelando

que a tomasse.

O roçar das pontas de seus dedos sobre a resvaladiça e inchada carne de entre

suas pernas a fez gemer. Agarrou-se ao seu beijo, o apressou a continuar, exigiu,

suspirou, quase soluçou, quando ele empurrou seus dedos e os submergiu

profundamente em seu interior...

Mas não era o suficiente.

Em absoluto.

Gervase percebeu sua crescente necessidade através do beijo, através do

desespero que o alcançou e se uniu com tanta força a sua própria. Não sabia

verdadeiramente o que o havia possuído, só sabia que tinha que tomá-la já, ali

mesmo, tinha que fazê-la ver... Saqueou sua boca, impulsionado pela palpitante

necessidade primitiva de fazê-la sua e que ela fosse consciente deles; de fazer-lhe

saber, entendê-lo, compreendê-lo.

As ondas retrocediam, seu repetitivo movimento era uma carícia em si mesma.

Com os dedos submergidos em sua vagina, ele acariciou e a fez soluçar. Mas a

água estava na mesma altura que sua mão, o ir e vir a distraía, tanto a água como

o ar esfriavam o que não necessitava esfriar-se. Segurando-a contra si, suportando

seu peso, Gervase adentrou mais no mar.

Madeline se agarrou e esperou até que se deteve de novo, com a água ao meio

das costas, por debaixo dos ombros, deixando que as ondas brincassem com seus

seios, com seus mamilos eretos. A sensação lhe provocou um gemido sufocado,

logo apertou as pernas ao seu redor e se moveu inquieta, buscando, desejando.

Sorrindo para si, com sua besta decidida, Gervase tirou os dedos de seu íntimo

canal, aproximou sua ereção e empurrou para cima ao mesmo tempo em que a

fazia descer. Ambos ficaram sem respiração. Com a boca aberta, arquejaram. Por

entre as pestanas, a poucos centímetros de distância, seus olhares se encontraram.

Devagar, ele a elevou e logo voltou a descê-la, invadindo-a ainda mais

profundamente e tomando-a por completo.

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Madeline exalou e lhe acalentou os lábios com seu alento, respirando com ele

enquanto a movia sobre seu corpo. Seus seios subiam e desciam no mesmo ritmo

que seu torso. Quando baixou os olhos até seus lábios, Gervase fechou os olhos,

concentrado em tudo o que podia sentir.

Madeline cobriu o último par de centímetros que os separavam e tomou-lhe a

boca com a sua. Entregou-a, recebeu-a com sua língua, o rodeou com seus braços

e deixou que sua própria onda de sensações os dominasse.

Devagar, contundente, repetitiva; uma interminável forma sumamente intensa

de fazer amor. Aprenderam a não se apressar e o movimento das ondas ao seu

redor os ajudou. O constante, medido e inexorável fluxo e refluxo lhes deu outro

ritmo ao qual seguir quando o seu se tornou demasiado tenso. O frescor da água

ajudou a evitar que o calor reduzisse suas vontades a cinzas rápido demais, lhes

permitiu prolongar os momentos finais... Permitiu-lhes unirem-se intimamente no

escuro mar, nas profundidades da noite, com os selvagens penhascos as suas

costas e as estrelas sobre suas cabeças, com as ondas como um constante sussurro

em seus ouvidos, sozinhos, mas com toda a natureza ao seu redor.

Gervase se entregou por completo, totalmente, e rezou para que Madeline o

soubesse, o visse, para que nessa noite, finalmente o compreendesse. O final foi

espetacular para eles. Chegou de repente, os prendeu e os fez estalar.

Arrancou-lhes até o último ápice de paixão; os elevou além do mundo, onde

todos os sentidos se evaporam e a gloria enche o vazio, e resplandece em suas

veias enquanto gira em uma descida de volta a terra, ao mar, as ondas e a

obscuridade da noite; ao bem estar e a felicidade que encontram nos braços do

outro.

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Capítulo 15

Quando finalmente Madeline levantou a cabeça de seu ombro, ficou fitando-o

nos olhos e tentou averiguar o que significaram esses últimos momentos, o que

revelavam. O poder entre eles, alimentado por sua parte com o que reconhecia que

era amor, se tornara mais forte, mas... Ele o sentia também? Se fosse assim... O

que era aquilo que sentia? Uma pergunta repentinamente essencial, mas que a

expressão de Gervase, mais estóica que impassível, a ajudou pouco a responder.

— Pode manter-se em pé? — Soou resignado.

Ao dar-se conta que seguia rodeando-o com as pernas, as esticou e o tentou;

pode estabilizar-se o suficiente.

Quando afastou os braços de seus ombros, Gervase a pegou pela mão.

— Regressemos ao embarcadouro.

Deixou que a segurasse através das ondas. No embarcadouro, poderia ver-lhe

os olhos e quiçá fizesse alguma idéia do que estava sucedendo, o que era aquilo

que parecia estar movendo-se e mudando na relação entre os dois.

Madeline acreditava que interpretara bem a situação, mas ele parecia desejar

dizer-lhe que havia algo que lhe escapava.

Chegaram até onde tinham a roupa e Gervase lhe ofereceu seu lenço.

— Seque as mãos. Há toalhas lá dentro.

Ela o fez, pegaram as roupas e caminharam pela praia sentindo a brisa fresca,

ainda que não fria, sobre a úmida pele; recolheram seus calçados e subiram a

escada até a porta do embarcadouro.

Gervase deixou sua roupa sobre a mesa e acendeu várias velas, se dirigiu a um

armário e pegou toalhas.

Madeline estendeu sua roupa sobre uma cadeira, pegou uma toalha e secou os

últimos rastros de mar e sal da pele. Feito isso, passou também a toalha pelas

pontas molhadas dos cabelos que, como era de se prever, haviam escapado. Uns

longos e úmidos cachos lhe pendiam sobre os ombros. Esfregou-os com a toalha e,

enquanto ele acabava de secar-se, dirigiu-se as longas janelas que davam ao mar.

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Ali pensou no que sentia e o que poderia estar sentindo Gervase. Finalmente,

se virou e o viu sentado na beirada do canapé, observando-a. Ele observou seu

rosto, lhe estendeu uma mão e lhe indicou que se aproximasse.

— Venha aqui.

Madeline refletiu e a seguir o fez.

Tinham que conversar; tinha que averiguar o que era que ele desejava dizer-

lhe.

Gervase a pegou pela mão, com a outra pegou a toalha e a jogou junto com a

sua.

Atraiu-a para si e segurou-a pela cintura; voltando-a de costas, a fez jogar-se

para trás até que a deitou no canapé entre suas pernas, enquanto ele apoiava os

ombros no respaldo.

Com as costas contra seu peito, Madeline não podia ver-lhe o rosto; era um

quente, sólido e musculoso almofadão que tinha atrás, com as pernas esticadas

junto as suas.

Relaxou-se contra seu corpo quando a rodeou com os braços. Gervase lhe

acariciou o seio com a boca e lhe afastou os cabelos com o queixo para dar-lhe um

terno beijo.

Madeline fechou os olhos e saboreou sua proximidade um longo momento,

depois perguntou:

— Até quando você planeja ficar no campo? — A pergunta mais importante e

vital, uma que já não podia deixar de perguntar.

Ele não lhe respondeu em seguida, mas então disse com voz serena:

— Para sempre.

Madeline franziu o cenho. Conhecia-o muito bem para calibrar o matiz em sua

voz. Quisera dizer para sempre, literalmente. Abriu os olhos e fez um gesto de

voltar-se para ver-lhe o rosto, mas ele apertou os braços para mantê-la imóvel.

Suspirou.

— Há algo que tenho que dizer-lhe. — Passou um momento antes de continuar:

— Ajudaria muito se ficar tal como está, escutar e não disser nada nem fizer nada

até que eu tenha acabado.

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Ela guardou silêncio e paralisou-se entre seus braços, de repente preocupada.

Gervase inspirou profundamente e disse:

— Já sei a quem quero como esposa.

O coração de Madeline se encolheu e sentiu uma dor aguda. Moveu-se, incapaz

de ficar quieta. Mas Gervase apertou seu agarre.

— Só escute-me.

Havia certa urgência em sua voz, uma tensão que a surpreendeu, que a

obrigou a escutar apesar de não desejar ouvir.

— Não sabia quem era quando regressei para arrumar o moinho. Mas minhas

irmãs, e Sybil também, me obrigaram a olhá-la, a olhar de verdade. E quando o fiz,

vi... — Deteve-se, mas logo continuou e suas palavras lhe chegaram ao ouvido,

sinceras e intensas; desejava que ela compreendesse. — Já tinha claros meus

critérios, as coisas que desejava que minha futura esposa tivesse: idade, bom

berço e posição, temperamento, compatibilidade e beleza: essa era minha lista. A

dama em questão obviamente cumpria todos os requisitos. O único problema era

que não a conhecia bem e não podia saber se seríamos compatíveis.

Inspirou novamente. — Assim decidi descobrir se o éramos. — Deteve-se.

Madeline de repente sentiu frio, sentiu um calafrio em seu interior. Não podia

pensar.

Então, com mais suavidade, Gervase lhe perguntou: — Recorda quando lhe

disse que se tratava de nosso primeiro beijo? O que disse? Mas antes que

cheguemos a isso, você já me disse em uns termos muito claros que você nunca

acreditaria; que se negava a acreditar, que eu pudesse desejá-la como esposa.

Sobreveio-lhe um estremecimento, mas Madeline o ignorou e franziu o cenho.

— Comigo?

Gervase se moveu e ela se retorceu para voltar-se. Olhou-o no rosto enquanto

ele pegava o xale de seda estendido sobre o respaldo do canapé e lhe envolvia os

ombros com ele.

Madeline pegou a peça enquanto o fitava estupefata.

— Quer casar-se comigo?

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Gervase a olhou nos olhos e contestou com tranqüilidade: — Sempre desejei

casar-me com você. — Parou antes de continuar: — Recorda-se, quando lhe disse

que desejava que você aquecesse minha cama? — Assinalou o castelo. — Minha

cama, a que está nos aposentos do conde, a que só minha condessa honrará. Ali é

onde a quero, isso era o que queria dizer.

Ela continuava sem poder assimilá-lo.

— Queria casar-se comigo... Praticamente desde o principio.

— Após o primeiro beijo, sim.

— Mas... — Confusa, assinalou ao seu redor, afastou os cabelos. — O que foi

tudo isso então? Este jogo ao qual estamos jogando? Minha sedução?

Os lábios dele se torceram em uma irônica careta.

— Disse-me que não acreditava... Não, por que sabia que nunca consideraria

seriamente casar-me com você, por que acreditava que nunca o faria. Deu-me suas

razões, recorda? Eram quatro: que não me sentia verdadeiramente atraído por

você, não fisicamente; que era demasiado velha; que não era o tipo de dama que a

sociedade aceitaria como minha esposa; e que nunca funcionaria, que não nos

daríamos bem, não na convivência diária, porque éramos demasiado parecidos.

Madeline ficou olhando-o e começou a apertar os olhos à medida que

relacionou as ações com suas palavras.

De repente compreendeu por que estava sendo tão cuidadoso, por que estava

tenso. — Estava refutando minhas razões. Uma por uma.

Os lábios de Gervase se converteram em uma fina linha.

— Socavando-as. Não me deu muita escolha. Vim de Londres frustradíssimo e

então encontrei você e me dei conta que era o que desejava; a mulher que havia

ido procurar na cidade. Estava aqui, diante de meu nariz todo o tempo e a única

coisa que tinha que fazer era abrir seus olhos. Uma vez que o tivesse feito... Não

estava disposto a aceitar sua recusa e sair docilmente.

Madeline bufou.

— Você não sabe o que significa a palavra ―dócil‖.

— Certo. — O tenso sorriso que lhe dedicou foi mais uma advertência que um

gesto para tranqüilizá-la. — Assim, dispus-me a demonstrar-lhe que

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verdadeiramente desejo você; é impossível que coloque isso em dúvida já. E deve

ter notado, a estas alturas, que ninguém mais olha sua idade ou caráter como algo

que te desabilite para ser minha esposa. Todos nossos vizinhos, toda a sociedade

local veria um matrimonio entre nos como um excelente enlace.

— Oh, Deus meu! — Abriu exageradamente os olhos e a boca pela comoção.

Fulminou-o com uma olhada. — Quem mais sabe? Disse que suas irmãs e Sybil,

quem mais?

Sua reação não o surpreendeu e isso ficou claro pela careta que fez e sua

rápida resposta.

— Não todo o mundo. Não é algo que eu gritaria aos quatro ventos.

— Graças aos céus. Então, quem?

Gervase suspirou.

— Minhas irmãs e Sybil como eu já lhe disse. Elas me guiaram para você e

insistiram em que te olhasse de verdade, pelo que estão cientes do meu interesse

desde o principio.

Madeline recordou as três garotas no festival, tudo o que lhe disseram.

— Deus santo! Suas irmãs são piores que você.

— Muito provavelmente; um detalhe que seguramente deverá ter em conta.

Ela o olhou com os olhos apertados.

— Ninguém mais?

Ele apertou os lábios e respondeu: — Muriel o imagina, creio. E seus irmãos.

— Meus irmãos?

Gervase assentiu.

— Harry falou comigo de um modo totalmente correto. Notaram meu interesse,

ainda que você não o tivesse feito.

Madeline ficou olhando-o, perplexa de novo.

— Deus meu. — Não lhe ocorria outra coisa que dizer.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Durante um longo momento ficou simplesmente sentada ali, nua sobre o

canapé, agarrando-se ao xale sobre seus ombros, olhando para ele, completamente

nu, exposto, e tentou freneticamente fazer com que sua mente assimilasse tudo o

que lhe havia dito e reajustar seu mundo.

Afinal, piscou, olhou-o nos olhos e perguntou: — E agora, o que?

— Agora? — Apertou a mandíbula. — Agora continuaremos até que esteja

convencida de que podemos levar-nos bem no dia a dia e depois aceitará casar-se

comigo, organizaremos as bodas e conseguirei que aqueça minha cama. — Pegou-a

pela mão e a apressou para se levantar. — E se tenho que levá-la para casa antes

que amanheça, teremos que vestir-nos.

Madeline olhou para as janelas, para a leve claridade do céu; Gervase tinha

razão. Uma vez de pé, descobriu que sua cabeça girava.

— Espere. — Deixou que o xale caísse sobre o canapé e o pegou pelo braço. —

Está sendo demasiado rápido.

Soltou-o, se dirigiu a cadeira e pegou a camisola do meio da pilha de roupas.

Vestiu-a e se voltou para ele, que estava abotoando as calças.

— Pelo simples fato de ter sido amantes, não vou dizer que sim docilmente e

casar- me com você.

Gervase ergueu os olhos para ela.

— Você não conhece o significado da palavra ―dócil‖.

Madeline fez uma careta e pegou os calções.

— Como disse, somos muito parecidos. E isso não é necessariamente um bom

augúrio para a paz doméstica.

— Sem dúvida, isso significa que, em geral, nos entenderemos um ao outro.

Ela vestiu os calções e se fixou em amarrar as cintas na cintura. Ainda que

antes se sentisse em uma situação dolorosa, ao menos estava segura de que

conhecia as circunstâncias. Agora, ele mudara tudo e já não estava segura de

nada. Dirigiu-lhe um sombrio olhar.

— Tenho consciência que não disse que, como ficamos íntimos, tenho que

casar-me com você para preservar minha reputação.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Claro que tem isso em conta também, lhe rogo. — Lançou-lhe um olhar

igualmente intenso e começou a amarrar-se o lenço. — Se pensasse que esse

estratagema tivesse alguma possibilidade de funcionar, estaria usando esse

argumento com toda sua força.

Quando Madeline arquejou, Gervase lhe dedicou um olhar irritado.

— Mas como sei que se optasse por essa tática só conseguiria que se

mantivesse em sua teimosia ainda mais, nem sequer a considerei.

— Bem, porque não funcionará.

— Eu sei. Vê? Nós nos compreendemos.

Ela soltou um bufo e vestiu seu traje de montar.

— Terá que ajudar-me com estes laços. Gervase se aproximou e ajudou-a

amarrando-lhe rapidamente os laços que havia desamarrado pouco antes. Madeline

sentiu que fazia o nó, mas então parou e a fez virar-se para ele. Com as mãos

sobre seus ombros, olhou seu rosto e seus olhos. Pelo menos uma vez, lhe permitiu

ver nos seus, além de sua couraça, claramente e sem lugar a dúvidas o sentimento

possessivo que estava refreando.

— Quero-a como esposa e não gosto de esperar, mas sei que ainda não está

pronta para ceder. Apesar disso, como lhe disse no princípio, desejo que esquente

minha cama durante o resto de minha vida. O que quiser e o que necessitar para

ceder, eu farei, eu lhe darei. Custe o que custar. Quero que seja minha.

Madeline susteve-lhe o olhar com firmeza, deixou que passasse um momento e

lhe disse simplesmente: — Preciso pensar.

Gervase assentiu e a soltou. Quando se afastou para pegar as botas,

murmurou:

— Se sente algo por mim, não demore demais.

---

Gervase insistiu em acompanhá-la de volta a Treleaver Park, o que não a

ajudou a clarear a mente ou a deter seus céleres pensamentos. Quando despertou

na manhã, tarde, se sentia confusa, mas descobriu que não podia pensar, não

podia concentrar-se em nenhuma outra coisa. Não até que tomasse uma decisão

sobre aquilo. Sobre eles, sobre ele e como deveria enfrentar a questão, sobre o que

desejava de Gervase para poder aceitar ser sua. O que mais necessitava saber e se

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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teria coragem de atrever-se a fazê-lo, porque o casamento entre pessoas como

eles não era algo no qual alguém podia embarcar às pressas, não era um vínculo

que pudesse se estabelecer sem pensar.

Deixou que Harry se enfrentasse com os livros de contas, sozinho, alegando

que lhe doía a cabeça e foi caminhar pelo roseiral ou, melhor, passear nervosa.

Havia considerado que apaixonar-se por Gervase era um risco, um perigo, mas

embarcara nessa aventura, nesse romance, de todo modo. Depois, quando o amor

surgiu em seu interior e floresceu tão facilmente, rendera-se alegre,

temerariamente, a ele.

Teve intenção de manter-se alerta e ser prudente, mas esse sentimento —

Gervase na realidade — conseguiu deslizar de algum modo sob sua couraça para

alojar-se em seu coração.

Isso era uma coisa. Esteve disposta a enfrentar e superar o amor não

correspondido enquanto simplesmente era sua amante temporária, ao menos até

que percebeu a intensidade de seus sentimentos para ele e o quanto possessiva se

tornou a respeito. De todas as maneiras, aceitara o risco e já não podia voltar

atrás. Assim, o amava e o sabia. Mas e Gervase a amava?

Enquanto não eram mais que amantes, isso não importava na realidade.

Mas agora que lhe havia proposto casamento, sim. Um romance durava um

tempo limitado; o casamento era para sempre. Se aceitasse casar-se com ele e

Gervase não a amasse... Então, o que?

Poderia suportar que, ao final de alguns anos, encontrasse outra, uma dama a

quem amasse, e lhe desse as costas? O certo era que não acreditava que pudesse

fazê-lo.

Com a cabeça baixa e as mãos entrelaçadas nas costas, andou com o olhar

perdido pelo caminho pavimentado entre os roseirais. Como poderia averiguar se

ele a amava? Poderia amá-la ou a amaria? Conhecia muito bem o sexo masculino

para confiar nas palavras, sobretudo as pronunciadas no calor do momento, sob

pressão, especialmente sob pressão emocional.

Por muito que ele jurasse ou pela sinceridade com que lhe falava, ela não

aceitaria meras palavras como prova de seu afeto. Em qual outro lugar poderia

buscar essa prova? Essa era a primeira das perguntas as quais se enfrentava, a que

tinha que responder primeiro.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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O aroma das rosas se elevava ao seu redor. Caminhou nervosa e pensou,

batalhou com seus sentimentos e tentou imaginar os dele. Após meia hora em

grande medida infrutífera, entrou na casa sem ter idéia de como avançar, mas com

um objetivo muito definido ao menos. Para evitar um casamento que poderia

destruir sua alma ou, por outro lado, fazer-se com um brilhante premio, tinha que

encontrar algum modo de descobrir se Gervase Tregarth a amava verdadeiramente

ou não.

Para sua surpresa e inquietação, a única pergunta que nem sequer necessitava

levantar era se desejava casar-se com ele.

Isso descobrira não de todo feliz, era um desejo que já estava profundamente

arraigado em seu coração.

---

Um pouco antes do meio dia, Gervase foi de visita a mansão Tregarth, a casa

fora de Falmouth onde havia nascido. Passou meia hora conversando afavelmente

com seu primo, que agora vivia ali com sua esposa, confirmou que já não sentia

nenhum forte vínculo com aquele lugar, já não era seu ―lugar‖, e se dirigiu ao seu

destino, a Falmouth.

Parou na última colina antes da cidade, contemplou os telhados do redor do

porto e agitou as rédeas para que Crusader continuasse. O regular som dos cascos

do grande cavalo acompanhou seus pensamentos, que não deixavam de dar voltas

e mais voltas, já que giravam em torno de uma mulher; uma deusa guerreira cega,

frustrante e teimosa no que dizia respeito a ela mesma, a que estava a um passo

de agarrar pela força e carregá-la até sua cama para retê-la ali até que aceitasse

casar-se com ele de imediato.

Até agora, horas depois do sucedido, ainda estava lidando com a frustração

que o embargara quando percebeu a direção dos pensamentos de Madeline. A

cegueira de lady Hardesty — que havia feito a de Madeline mais compreensível se

não fosse porque viviam em Cornualha, não em Londres — e a afronta que o grupo,

quase involuntariamente, infligira a ela, o havia tirado de sua caixa. Ainda estava

assombrado de que conseguira manejar esse momento com uma educação

aceitável. Porque não se sentira nada ―educado‖.

Mas, então, descobrir que ela ainda não captara a idéia de que era a mais

adequada para ser sua esposa e que continuava vendo-se como um capricho

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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passageiro; uma dama do lugar a qual seduzira para que fosse sua amante durante

o verão, quase fizera picadinho de seu controle.

Sentiu-se verdadeiramente violento na pista de baile e inclusive mais quando,

na praia, lhe confirmou sua total falta de compreensão de tudo o que ele havia

passado nas últimas semanas tentando demonstrar-lhe com fatos, porque as ações

diziam muito mais que as palavras.

Em seu caso, nem sequer isso fora suficiente; ela analisou seus atos, os

racionalizou, fez que encaixassem em sua obcecada opinião de que não era a dama

adequada para ser sua condessa.

Mas o era.

Apertou a mandíbula; tentou que sua irritada determinação não se visse

refletida em sua expressão, não havia necessidade de assustar aos outros viajantes

do caminho. Apesar de sua teimosia, Madeline era a escolhida, a dama que, como

ele já lhe informara, esquentaria sua grande cama no castelo durante o resto de

sua vida.

Em vista de sua decidida negativa a vê-lo, Gervase abandonara seu cauteloso

plano e lhe explicara a verdade; não unicamente para poder avançar mais

abertamente em sua campanha para ganhá-la, mas também em resposta a sua

pergunta de quanto tempo ficaria no campo, quanto tempo ficaria com ela, e a

vulnerabilidade que percebera atrás dessa questão.

Não sabia se Madeline o amava ainda, mas suspeitava que, no mínimo, estava

muito perto de fazê-lo. Essa descoberta foi o único momento brilhante, um

momento de bendito alívio entre as outras revelações menos alegres da noite.

Assim, agora, ao menos, ela estaria pensando neles dois do modo adequado e

considerando se aceitaria ou não casar-se com ele.

Não era que lhe tivesse declarado exatamente. Fez uma careta de dor para si

mesmo quando recordou o que dissera e como o havia expressado.

Mas ao menos agora Madeline sabia como se sentia, como ele a via. Sobre isso,

no mínimo, não poderia abrigar nenhuma dúvida. Espontaneamente, sua mente

avançou até as bodas, que supunha, seria na igreja de Ruan Minor. Parecia

provável, porque as duas famílias formavam parte dessa congregação.

Conhecia bem a igreja e podia imaginar-se de pé diante do antigo altar,

voltando-se para a porta e vendo-a avançar pelo corredor até seu lado...

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Crusader sacudiu a cabeça e tirou Gervase de seu devaneio. Quando percebeu,

o dominou uma frustrada irritação.

— Deus meu! Agora estou fantasiando. — Suas irmãs morreriam de rir. Nem

sequer poderia estar fantasiando com a noite de bodas. — A primeira coisa é a

primeira — resmungou em voz baixa.

Como conseguir que aceitasse.

Assim que se aproximou das primeiras casas, fez Crusader reduzir o passo.

Pensou no que poderia fazer e com quais armas contava. Poderia pegar a

artilharia pesada e recrutar seus irmãos... Ou dar via livre a suas irmãs, a Sybil e

inclusive a Muriel. Tinha certeza que todos se mostrariam encantados de lutar pela

sua causa.

Se Madeline se mostrasse obstinada e ele se desesperasse de verdade, esses

recursos seriam uma opção. Não obstante... Fez uma careta; tentar compreender

as mulheres em geral já era bem difícil, mas tentar entender a ela...

A única coisa que tinha para guiar-se era seu instinto e este se apressava a

dar-lhe, ao menos, um pouco de tempo; o tempo suficiente para ver e aceitar sua

constância, que estava decidido, estivera desde o princípio, e não estava disposto a

perder o interesse, mudar de opinião, nem muito menos voltar atrás.

Para alguém de seu caráter, com seus rasgos particulares, convencê-la disso

seria como ganhar meia batalha e era algo que teria de conseguir sozinho. Como?

Pensou em encher todo o embarcadouro de flores, em arrumá-las para deixar

uma rosa em sua almofada todas às noites, em descobrir o que era que mais

desejava — novas novelas, as últimas partituras, o que mais? — E conseguir-lhe

essas coisas; tudo o que habitualmente podia fazer um cavalheiro para assegurar o

afeto de uma dama lhe passou pela mente, mas nada disso funcionaria, não com

ela. Inclusive poderiam fazer que desconfiasse dele e de seus motivos.

---

Em termos bélicos, que era com os quais estava acostumado, necessitava uma

tática mais ofensiva e enérgica, não simplesmente seguir grudado aos seus saltos,

à sua cavalaria. Precisava um modo mais potente e incisivo de fazer uma

declaração.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Os calçamentos ressoaram sob os cascos de Crusader quando entraram na

cidade. Gervase deixou de lado sua busca de alguma ação convenientemente

radical, ergueu-se na sela e voltou a concentrar-se em seu objetivo imediato.

Conhecia bem a cidade e também a muitos de seus habitantes. Passou junto ao

ajuntamento e girou por Market Street para dirigir-se a Custom Quay. Sua primeira

parada seria a oficina do capitão do porto.

---

As primeiras horas da tarde surpreenderam Madeline no caramanchão, sentada

num banco, estudando a margarida que segurava entre os dedos.

Esteve tentada a provar o ―bem me quer mal me quer‖. Parecia bem provável

que esse método lhe desse uma resposta que nenhuma das outras coisas nas quais

havia pensado; apesar de seus esforços para clarear a cabeça, havia avançado

muito pouco nesse dia.

Suspirando, se recostou no assento e se rendeu. Fixou sua mente no assunto

que, apesar de todos seus esforços, havia dominado seus pensamentos. Talvez

examinar os prós e contras de casar-se com Gervase poderia arrojar algo de luz.

Os benefícios eram fáceis de enumerar: ser a condessa de um conde rico não

era algo que se pudesse desdenhar, ser a senhora de seu castelo, a posição social,

o status local, inclusive estar mais próxima de sua família, de suas irmãs e de Sybil,

todos esses elementos a atraiam.

E no referente aos seus irmãos, era o único homem que havia conhecido no

qual confiava, o havia feito automaticamente desde o principio, para que os guiasse

e orientasse da forma que ela não poderia. Sabia que ele os compreendia e que a

ajudaria a protegê-los quando fosse necessário.

Muitos benefícios. Mas também podia ver as dificuldades. Era mais complicado

expressá-las com palavras, mas assim e tudo eram reais. A maioria derivava do

fato que, em princípio, Madeline havia reconhecido um fato que ele não havia

tentado negar: eram muito parecidos. Os dois estavam acostumados a ter o

controle de seu mundo e, em grande parte, a estar no comando. Se para cada um

deles o outro se convertia em uma parte principal de seu mundo... Então, o que?

Durante toda sua vida adulta, os dois haviam saído adiante em grande parte

sozinhos. Encontrar formas de compartilhar o comando nas suas respectivas idades

e adaptar-se, com o forte que ambos eram não seria uma tarefa fácil.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Esse era um problema com o qual poderiam enfrentar-se. Madeline se conhecia

bem para imaginar que não seria a classe de mulher que abandonaria um caminho

que estava sinceramente convencida de ser o correto e ai haveria uma semente

para desavenças graves. Porque sabia como Gervase reagiria. Exatamente igual a

ela se tivessem os papeis mudados.

Ele era um guerreiro, um ser educado para proteger e defender, mas Madeline

também era assim. Esse tipo de força, de compromisso, fluía pelas veias de ambos.

Era o que havia feito com que Gervase arriscasse sua vida durante mais de

uma década na França; o que havia feito com que ela sacrificasse, sem mudar-se, a

vida que a maioria das jovens damas sonhava, para cuidar e proteger seus irmãos.

Nenhum dos dois podia mudar esses rasgos fundamentais de sua

personalidade, o que a levava a seguinte questão: poderiam de algum modo,

encontrar uma forma de levar-se bem, de viver juntos, sem chocar com os instintos

do outro, sem ferir seu orgulho?

Soltou um longo suspiro.

Em lugar de encontrar respostas, quanto mais pensava em casar-se com

Gervase, mais perguntas lhe surgiam. Pior ainda, perguntas cruciais, mas quase

impossíveis de responder. Negou com a cabeça e se levantou.

Ainda sem nenhum plano nem pista, se dispôs a regressar a casa.

---

O sol havia superado seu zênite quando Gervase pegou Crusader do ferry de

Helford, montou ao lombo do cavalo e o fez galopar para o sul pelo caminho que

levava a Coverack e a Treleaver Park, mais além.

Havia abandonado Falmouth uma hora antes, após ter cumprido os objetivos

que o levaram ali.

Depois de visitar o escritório do capitão do porto, falara com vários oficiais das

patrulhas que vigiavam o molhe. Depois cavalgara até o castelo de Pendennis para

falar com seus contatos navais dali.

Nenhum oficial ouvira nada de nenhum barco perdido no último mês.

Nenhum informe, nenhuma queixa, nada.

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Abandonou o castelo, cavalgou de volta a cidade, para as tabernas junto ao

molhe para procurar a versão não oficial. Mas essa também era a mesma.

Portanto, se o broche que os irmãos de Madeline encontraram procedia de um

naufrágio recente, um em cuja mercadoria alguém pudesse ter algum interesse,

então esse naufrágio tinha que ser alguma embarcação de contrabandistas e, além

do mais que não fosse da zona.

Começava a acreditar que o broche provinha de algum naufrágio acontecido

tempos atrás. Essa idéia foi reforçada após um casual encontro e a subseqüente

conversa com Charles St. Austell, conde de Lostwithiel, e sua esposa, Penny.

Gervase se encontrou com Charles em uma das tabernas menos respeitáveis. Seu

antigo companheiro de armas fazia praticamente o mesmo que ele, mantinha a

relação com os marinheiros da zona que haviam sido seus contatos ao longo dos

anos.

Charles se mostrou encantado de vê-lo. Gervase descobriu que seu próprio

ânimo se levantou quando se apertaram a mão e se deram umas palmadas nas

costas. Sentaram-se para tomar uma cerveja juntos; depois, Charles o levou ao

melhor restaurante de Falmouth, onde se reuniram com Penny e os dois cachorros

de seu amigo. Os dois animais o examinaram com atenção antes de soltar uns

bufos caninos e deitarem-se junto ao lugar, permitindo assim que se aproximasse

da esposa de seu dono.

Gervase ficou impressionado e considerando seriamente conseguir para

Madeline um par de guardiões como aqueles. Apesar da desculpa de Charles de ter

levado os cachorros para que fizessem companhia a Penny, estava claro, ao menos

para Gervase, e suspeitava que também para Penny, que seu amigo se sentia

muito mais tranqüilo se os cachorros protegiam a sua esposa enquanto ele

percorria as favelas dos molhes.

Ao pensar em como seria sua vida e a de Madeline uma vez que ela se

mudasse para o castelo, sobretudo quando chegasse algum filho, seria estupendo

ter a duas bestas grandes e leais para protegê-la enquanto ele saia a cavalgar

pelas propriedades, ainda que não tivesse nenhuma intenção de afastar-se dela por

muito tempo...

Podia compreender o modo de pensar de Charles.

Atravessou Coverack e se dirigiu a Treleaver Park. O mistério do broche ainda o

preocupava, mas quando lhes explicara a historia, Charles e Penny, que, como ele,

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tinham muita experiência com os bandos de contrabandistas locais, chegaram a sua

mesma conclusão. O mais provável seria que o broche procedia de algum antigo

naufrágio. Ainda que, tal como Penny assinalara fazendo eco de seus próprios

pensamentos, seria difícil imaginar por que os contrabandistas iriam transportar

uma mercadoria semelhante.

Como a molesta inquietação persistia, decidiu fazer Harry, Edmond e Ben

mostrarem-lhe onde o encontraram, para ver se o local exato sugeria algo mais,

alguma outra possibilidade.

As portas de Treleaver Park estavam sempre abertas; Gervase as atravessou e

avançou pelo caminho da entrada. O sol descia sobre a península quando parou no

pátio dianteiro. Desmontou e esperou até que uns passos apressados anunciaram a

chegada de um rapaz de quadra, que apareceu por uma esquina para ocupar-se do

cavalo.

— Sinto milorde. — O jovem inclinou a cabeça e lhe tomou as rédeas. — Mas

há um autêntico alvoroço dentro. Estávamos distraídos.

— Ah, sim? — Uma premonição o fez estremecer, descendo fria por suas

costas.

Reagiu a fofocar com o rapaz, assentiu, subiu rápido a escada e atravessou a

porta principal, aberta.

Não havia nada raro na porta que vivia aberta. De fato, a maioria das casas do

campo, sobretudo as que contavam com residentes mais jovens, especialmente no

verão não as fechavam nunca. O que era mais estranho era a ausência de Milsom.

Gervase parou no meio do vestíbulo; ouviu vozes, incluindo a de Madeline.

Estava demasiado longe para distinguir o que diziam, assim, seguiu o som pelo

corredor até o escritório.

Milsom estava junto à porta, seu semblante era uma mescla de comoção,

preocupação e impotência.

Madeline estava apoiada na borda dianteira da escrivaninha, inclinada para

seus irmãos, Harry e Edmond, os dois muito erguidos em umas cadeiras em frente

a ela.

Um só olhar ao seu rosto, ao puro medo que viu nele, fez com que Gervase

entrasse decidido na sala.

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— O que está acontecendo?

Ela ergueu os olhos; por um instante, viu alívio em seu rosto, mas logo sua

expressão se fechou.

— Ben... — Fez um gesto de impotência, claramente indecisa sobre qual

palavra usar. — Desapareceu.

O tremor, o pânico subjacente em sua voz causou-lhe um impacto. Harry se

voltara e o olhou nos olhos quando ele se deteve ao lado de Madeline, pegou-lhe a

mão e a apertou, sem soltá-la.

— Não sabemos o que se passou. Ben desapareceu e não sabemos onde está.

— A angústia tinha os olhos e a voz de Harry.

Os anos de experiência tomaram o controle. Gervase apoiou uma mão no

ombro do menino e o apertou.

— Respire fundo e comece desde o princípio.

Edmond também tinha os olhos muito abertos com expressão aflita.

Harry inspirou e reteve o ar durante um momento e disse:

— No meio da manhã fomos a Helston. Pensamos que deveríamos comprovar

se houve mais rumores sobre as minas de estanho.

Fomos ao Pig & Whistle, que é o melhor lugar para averiguar coisas como essa,

e sabíamos que ali nos encontraríamos com os outros meninos, os quais nos

contam coisas.

Gervase assentiu.

— É um lugar tosco, mas útil. — O Pig & Whistle era uma das tabernas que

ficava junto aos velhos molhes de Helston.

O alívio encheu os olhos de Harry.

— Exato. Mas como é um lugar pouco acolhedor não deixamos que Ben

entrasse na taberna. O velho Henry, o taberneiro, não gosta que meninos entrem.

— Perfeitamente compreensível. — Madeline se inclinou para diante para olhar

primeiro a Harry nos olhos e depois para Edmond. — Não os culpo a nenhum dos

dois por ter deixado Ben fora.

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A chegada de Gervase, com sua sólida presença, proporcionou-lhe um

momento, suficiente para assimilar o que havia descoberto. Um minuto para

compreender as implicações, além do horror, e centrar-se no que devia fazer-se.

Ter a Harry e a Edmond fundidos sob o sentimento de culpa era a última coisa

que necessitava.

— Assim, vocês o deixaram fora — interferiu Gervase. — Onde exatamente?

— Ficou sentado no banco que há em frente à taberna quando entramos, —

respondeu Edmond. — Estava muito contente, balançava as pernas enquanto

observava os barcos no rio. Ele também não queria entrar porque não gosta da

fumaça nem dos odores dali. — A voz de Edmond tremeu. — Essa foi a última vez

que o vimos.

Harry engoliu a saliva e assentiu: — Quando saímos, não tinha nem rastro

dele.

— Por quanto tempo ficaram na taberna? — Perguntou Gervase.

Os dois garotos trocaram um olhar.

— Meia hora? — Harry ergueu os olhos para Gervase. — Quarenta minutos no

máximo. Saímos com Tom Pachel e Johnny Griggs, e Ben havia desaparecido.

— Nós quatro o procuramos — continuou Edmond. — Os outros nos ajudaram

quando viram que estávamos preocupados.

— Quanto mais procurávamos, mais pessoas se uniram na busca. — Harry

retomou o relato. — Cobrimos todos os molhes, mas não havia nem rastro de Ben

por nenhuma parte. Então foi quando Abel, Johnny havia ido buscá-lo, nos disse

que devíamos regressar a casa enquanto os demais continuariam a busca. — Olhou

para Madeline. — Abel nos disse que devíamos voltar e explicar-lhe.

Ela agradeceu em silêncio pela presença de Abel Griggs. Olhou para Gervase.

— Chegaram uns minutos antes de você.

Ele assentiu. Quando Madeline tentou levantar-se da escrivaninha, Gervase a

deteve pegando-lhe a mão e olhando-a brevemente nos olhos virou-se para os

garotos.

— Durante toda a busca, alguém mencionou ter visto Ben andando ou que

alguém se aproximou ou falou com ele? Algo assim?

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Harry olhou para Edmond e de novo para ele.

— O velho Eddie foi o único que disse que o viu, mas bem... — Fez uma careta,

— já conhece o velho Eddie. Não se pode confiar em nada do que diz a partir do

meio dia e já estava muito carregado quando falamos com ele.

O velho Eddie era um dos bêbados do povoado.

— Não importa seu estado — comentou Gervase. — Diga-me o que ele disse.

— Que um cavalheiro ostentoso e de pouca confiança se aproximou do banco e

falou com Ben, não só para dizer-lhe olá. Manteve uma conversa. Eddie disse que

em tom alegre e risonho. E então, Ben se levantou e se foi com o homem.

Gervase franziu o cenho.

— Um cavalheiro ostentoso? Eddie usou essa palavra?

Harry assentiu.

— Suponho que se referia a um cavalheiro vestido de maneira chamativa.

Gervase não respondeu. Madeline o olhou a tempo de ver como um músculo de

sua mandíbula se apertava. De soslaio, ele se encontrou com o olhar dela e hesitou

como se desejasse explicar-se, mas finalmente negou levemente com a cabeça e se

voltou para Harry e Edmond.

— Ninguém mais o viu? Ninguém?

Harry negou com a cabeça.

Edmond se moveu nervoso.

— A senhora Heggarty disse que viu um homem e um menino caminhando pela

sua rua, a que está além de Coinagehall Street, mas não pode assegurar se era

Ben ou não. Não vê três em um, assim, poderia ser qualquer um. Não pode dizer

nada sobre o homem.

Madeline escutara o suficiente.

Olhou para Milsom, que esperava na porta.

Justo quando abriu a boca para pedir que lhe encilhassem Artur, ouviu Gervase

dizer: — Antes de regressar a Helston há coisas que deveríamos fazer, preparativos

que farão com que seja mais fácil e rápido encontrar Ben e com mais segurança.

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Ela o olhou e viu a seriedade em seus olhos.

— Que preparativos?

Gervase inspirou e repassou a lista que organizara em sua cabeça.

Não queria dizer a Madeline, e muito menos a Harry e Edmond, o que era um

―cavalheiro ostentoso e de pouca confiança‖. O velho Eddie fora grande ajuda de

câmara de um cavalheiro londrinense até que fora colhido pelo demasiado carinho a

garrafa. Para ele, como para Gervase e qualquer que conhecesse os submundos de

Londres, um ―cavalheiro ostentoso e de pouca confiança‖ era um vigarista;

frequentemente com residência em Londres, que ganhava a vida levando outros

pelo mau caminho, normalmente as garras de algum vilão mais poderoso e

desagradável.

Não importava o ébrio que estivesse o velho Eddie, se o descreveu assim, isso

era o que quisera dizer.

Mas o que estava fazendo uma pessoa assim em Helston e, sobretudo, por que

se dirigira a Ben...?

Apesar de todas as possibilidades, seu instinto lhe indicava a gritos que seu

desaparecimento tinha algo a ver com a outra coisa inexplicável que sucedera

recentemente em sua jovem vida: a descoberta do broche.

Olhou para Madeline nos olhos.

— Precisamos reunir um grupo de busca bem grande para vasculhar o povoado

de uma só vez.

Tem que reunir os homens da propriedade, todos os que possam montar a

cavalo. Envie também uma nota em meu nome a Sitwell, no castelo, e peça-lhe

que faça o mesmo com minha gente e que os envie a Helston; que nos esperem lá.

— Deteve-se, pensou e finalmente assentiu. — Isso deveria proporcionar-nos

suficientes homens.

Madeline piscou, assentiu, se incorporou, rodeou a escrivaninha para sua

poltrona e franziu o cenho.

— Deveríamos...?

Gervase ergueu uma mão.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Enquanto escreve essas notas, enviarei um de seus rapazes de quadra a

Falmouth. Estive lá hoje e me encontrei com um amigo, outro membro de meu

clube, Charles St. Austell, conde de Lostwithiel. Pedirei a ele que faça duas coisas:

primeiro, falar com o prefeito e o governador do castelo de Pendennis e que

levantem um controle no caminho para Londres. — Quando uma expressão de

alarme sobrevoou o rosto de Madeline, ele se forçou a esboçar um sorriso

tranqüilizador. — É só uma precaução.

Esperemos que não haja necessidade, mas não será mal tê-lo montado se por

acaso...

O que ele estava tomando medidas ―por se acaso‖ pareceu acalmá-la; assentiu

e se acomodou em sua poltrona.

Gervase lhe susteve o olhar.

— A outra coisa que vou pedir-lhe é que se reúna conosco em Helston. Leve

seus cachorros com ele, dois, e recordo que mencionou que são excelentes

rastreadores. E Penny acompanharia Charles; nada era mais provável. Gervase

esperava que a chegada de outra dama de uma posição similar ajudasse a distrair a

Madeline e evitar que pensasse no pior. De fato, ele era capaz de imaginar

possibilidades muito piores que ela, mas sabia que seria inútil e provavelmente

contraproducente pensar nisso.

Nenhum dos dois podia permitir-se deixar que o pânico os distraísse se

quisessem recuperar Ben são e salvo.

—Deixarei que você escreva essas notas. — Então olhou para Harry e para

Edmond. — Necessitarei que um rapaz de quadra leve minha mensagem a

Falmouth, vocês dois podem ajudar-me com isso.

Voltou a olhar para Madeline, que estava pegando papel e pena.

— Envie Fanning, é de confiar sob pressão — disse ela. E olhou para Harry. —

Envie-me outros rapazes, terei preparadas as notas para eles em seguida.

— Milsom pode ficar para ajudá-lo. — Gervase olhou para os meninos

fixamente. — Vamos enviar minha mensagem.

Com um último olhar a Madeline, que já tinha a cabeça inclinada sobre uma

nota, os dois meninos se levantaram e o seguiram pelo corredor.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Encontraram Fanning nos estábulos; Gervase lhe deu sua mensagem para

Charles, em voz alta e fez Fanning repeti-la e depois o enviou a Falmouth.

Enquanto os outros rapazes encilhavam os cavalos para levar as notas de

Madeline ao castelo e as granjas próximas, ele indicou aos dois garotos que o

seguissem e regressou a casa. Deteve-se na porta de serviço e se voltou para eles.

— Onde há um lugar seguro para conversarmos?

Harry trocou um olhar com Edmond antes de responder: — Na biblioteca.

Gervase lhes indicou que passassem adiante e os seguiu pelo corredor. Fechou

a porta e se voltou para eles, que o olhavam com os olhos muito abertos.

— O que acontece? — perguntou Harry.

— Ben sabe onde encontraram o broche? Estava com vocês quando falaram

com ele?

Ambos assentiram.

— Foi ele quem tropeçou com o broche na areia — explicou Edmond.

Harry o olhava assustado.

— Acredita que o seqüestraram pelo broche? Os saqueadores?

— Não. — Gervase falou depressa para afugentar o horror que o espreitava. —

Os saqueadores não, isso parece certo. Eu disse que iria investigar em Falmouth de

novo para ver se havia algum barco desaparecido, por isso estive lá hoje. E

descobri que não há nenhum barco registrado que tenha desaparecido.

Olhou para Harry.

— Como já comentamos antes, isso só nos deixa duas explicações razoáveis

para esse broche: ou procede de um naufrágio muito antigo ou de uma embarcação

de contrabandistas que afundou nos Manacles durante essa forte tormenta de duas

semanas atrás. Como não desapareceu nenhuma embarcação de contrabandistas

locais, até meia hora eu me inclinaria pelo antigo naufrágio como explicação.

Agora... — Deteve-se e olhou-os. — Não posso imaginar nenhuma outra razão para

que alguém leve Ben, e vocês?

Os dois garotos tinham os olhos muito abertos. Pensaram um momento e

negaram com a cabeça.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Acredita...? — Harry lhe falou com a voz trêmula, pigarreou e voltou a tentá-

lo. — Acredita que alguém quer o broche e...? — Franziu o cenho. — Isso não tem

sentido.

— Não, não se vão atrás do broche. Mas...

— Nunca antes usara dois colegiais para demonstrar algum de seus

arrazoados, mas sentia muito respeito por sua agudeza mental e implicação para

tentá-lo. Moveu-se para sentar-se no braço de uma poltrona próxima e por o rosto

na altura de Edmond, o menor dos dois.

— Pensem isto. Se um barco afundou durante essa tormenta e não era um dos

barcos de nossos contrabandistas, tinha que ser um procedente das ilhas Sorlingas

ou da França. Os capitães franceses não teriam que saber necessariamente que é

impossível chegar à costa do estuário de Helford com um vento como aquele, que

os empurraria até os Manacles. Suponhamos que foi isso o que aconteceu a uma

embarcação de contrabando francesa que afundou há duas semanas.

Olhou aos meninos nos olhos, primeiro a Harry e logo a Edmond.

— Se uma embarcação francesa se dirigia ao estuário de Helford, então, tinha

alguém organizando tudo, o barco estaria transportando uma mercadoria da qual

alguém aqui, na Inglaterra, não queria que as autoridades soubessem. Uma

mercadoria sobre a qual deveria se manter segredo. Mas essa pessoa esperou e

não chegou nenhum barco. Digamos que sabia como a maioria de nós sabemos que

estas costas são freqüentadas por saqueadores e contrabandistas locais. Assim,

quando seu barco não apareceu, começou a procurar...

— Qualquer prova de sua mercadoria — interveio Harry.

— E quando viu o broche...? — Edmond franziu o cenho. — Madeline não o

usava no festival, onde poderia tê-lo visto qualquer pessoa? Quando poderia tê-lo

visto algum canalha para reconhecê-lo? — Fixou os olhos em Gervase. — É a isso

que você se refere, não? Que alguém o viu e soube que procedia de sua mercadoria

perdida. — Olhou então a Harry. — Mas nós não dissemos a ninguém, nem sequer

a tia Muriel, antes de dá-lo a Madeline. E ela só o usou em sua festa...

— E também no baile de lady Felgate. — Gervase assentiu. — Tem razão.

Conhecemos todos os assistentes da festa de Madeline, os conhecemos de

anos. Não foi ninguém dali. Mas ao baile de lady Felgate assistiram quase todos os

habitantes da península...

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Incluídas pessoas que não são daqui — comentou Harry. — Gente que veio

passar o verão com as famílias da zona.

— Exato. É impossível saber quem pode ter visto o broche e a pessoa implicada

poderia não ter assistido ao baile. Alguém poderia tê-lo mencionado mais tarde. —

Gervase fez uma careta. — É uma peça única e uma vaga descrição bastaria para

que alguém familiarizado com ele o reconhecesse.

— Mas dissemos a Madeline que o compramos desse vendedor ambulante —

replicou Edmond. — Ninguém exceto você sabia que o havíamos encontrado na

praia.

— E eu não disse a ninguém. — Gervase franziu o cenho e fez uma careta. — A

pessoa que procurava a mercadoria perdida estava no festival, claro. Teria

comprovado todos os postos de vendedores ambulantes, a fonte mais óbvia de

objetos recentemente arrastados pela corrente. Quando perguntaram a Madeline

onde conseguira o broche, e infinitas damas lhe perguntaram no baile, ela explicou

que vocês a presentearam pelo seu aniversário e que o encontraram em um dos

postos de vendedores ambulantes do festival. Mas nosso homem sabia que isso não

era verdade e, portanto, vocês três mentiam, o que em sua opinião significava que

encontraram sua mercadoria desaparecida.

— Então... — A voz de Harry se apagou. Olhou-o fixamente. — Alguém de

Londres seqüestrou Ben?

O puro instinto impulsionara Gervase a sugerir que se montasse o controle no

caminho para Londres. Observou ironicamente para si mesmo que seus instintos

estavam ainda em plena forma.

— É o mais provável, mas não podemos assumir que o levará a Londres. Só

queria assegurar-me que não o levassem fora da zona, ao menos não facilmente. O

caminho para a cidade era a rota óbvia para bloquear. As autoridades registrariam

todas as carruagens e meios de transporte de qualquer tipo, pelo que se tentarem

levá-lo longe, com sorte, o impediremos.

Em vista do tempo que havia passado desde que Ben fora raptado e o

momento em que se montaria o controle, se os meliantes iniciaram a viagem a

Londres de imediato; seguramente escapariam antes que os selos estivessem

colocados.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Gervase deixou de lado esse pensamento, porque deveria concentrar-se no que

poderia fazer e o que poderia conseguir. E que houvessem levado Ben a Londres

era uma possibilidade remota.

— Tentemos pensar como nosso vilão. Perdeu sua mercadoria, vê o que lhe

falam do broche, percebe que vocês três o encontraram em alguma parte. Quer

saber onde, assim, seqüestra Ben, ou arruma para que o seqüestrem pensando que

por ser o mais jovem será mais fácil dizer o que quer saber sem grandes

problemas.

Harry soltou um bufo.

— Seria melhor se tivesse pegado a mim. Ben é o mais teimoso de todos.

Edmond assentiu.

— Provavelmente mentirá e enviará esse homem a outra praia.

Gervase piscou. Se Edmond pensara em seguida nisso, havia muitas

possibilidades de que Ben também o houvesse feito.

— Muito bem. Suponhamos que disse ao homem que encontrou o broche em

algum lugar, bem a praia correta ou outra.

— O que farão com Ben? — se apressou a perguntar Harry.

Gervase ocultou sua reação, mas então pensou um pouco mais...

— Na realidade, o mais provável é que o soltem. Não será considerado como

uma ameaça real. O deixarão em alguma parte, bem longe para que não possa

armar nenhum escândalo antes que tenham recuperado a mercadoria e tenham

tempo de fugirem. Não há nenhum motivo pelo qual deveriam fazer-lhe mal, é bem

fácil assegurar-se que não saiba nada que possa identificá-los. Não, uma vez que

saiam daqui.

A tensão que perturbava Edmond e Harry diminuiu de repente. Respiravam

com mais facilidade.

— Como vai recuperar sua mercadoria perdida? — Gervase levantou a

pergunta.

Um vigarista, muito provavelmente de Londres, se encontrava na zona, o mais

seguro que é contratado pelo homem que buscavam. Quantos mais de sua classe

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haveria por ali? Por outra parte... — Uma vez que Ben lhe diga onde estava,

começará a buscar, a escavar na areia.

Levantou-se e olhou ao seu redor.

— Tem algum mapa por aqui?

— Sim. — Edmond se aproximou correndo a uma estante baixa, pegou uma

grande pasta e a levou até a escrivaninha.

Gervase e Harry se aproximaram quando a abriu e desdobrou o grande mapa

da península.

— Mostre-me em que praia era — Pediu-lhes Gervase. — A que distância

estava de Lowland Point?

— Aqui. — Harry assinalou com o dedo um ponto justo ao norte do cabo.

Gervase olhou os Manacles, marcados como uma linha de irregulares dentes a

direita da praia em questão.

— Muito bem. Se Ben lhes disser a verdade, nosso homem irá a esse ponto.

Seguramente levará outros com ele para que escavem e levem as carretas,

mas também deverá ir em pessoa, porque vai querer garantir que irá recuperar a

mercadoria.

Durante um momento, ficou olhando o mapa e olhou para Harry nos olhos.

—Temos que manter vigiada essa praia. Se Ben os enviar ali, precisamos pegar

a quem for lá desenterrar a carga perdida. Harry vou deixar você e um grupo de

seus homens, todos daqui, para que confiem em você como a pessoa no comando.

Quero que os leve a esse trecho de praia e que a vigiem. Mantenha-os fora de

vista.

Sabe como ocultá-los nas cavernas e ao longe dos penhascos. Esse homem ou

seus sequazes quase certo não serão da zona. Desse modo terá suficientes homens

para prendê-los.

Harry engoliu a saliva, lhe susteve o olhar e assentiu.

— Sim. Claro.

— Não se preocupe. — Gervase lhe deu uma palmada no ombro. —

Acompanhará você o encarregado de vossos rapazes de quadra e outros a quem

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conhece. — Voltou-se para Edmond. — Você terá que cavalgar com Madeline e com

o resto de nós para mostrar-nos exatamente onde estava Ben quando o viram pela

última vez.

Olhou uma última vez o mapa antes de voltar-se para a porta.

— Então, em marcha.

Os jovens o seguiram. Regressaram ao vestíbulo principal. Rapidamente,

Gervase organizou tudo com Milsom. Com a ajuda dos homens mais velhos,

selecionou os mais experientes, além de alguns jovens incondicionais para a ―tropa‖

de Harry.

Milsom se retirou para buscar um servente que transmitisse suas ordens aos

estábulos.

Quando Gervase se voltou para os jovens, Edmond perguntou: — Ben está a

salvo, verdade?

Madeline desceu a escada rapidamente e ouviu a pergunta. Após entregar sua

última nota, a dirigida ao castelo, subira ao seu dormitório para vestir suas calças

de montar sob o vestido de passeio, não havia tempo para troca de roupas.

Passou pelo dormitório de Muriel para explicar-lhe o acontecido. Sua tia tirava

uma soneca pelas tardes quando podia e se mostrou horrorizada, mas não se

desmoronou, aliviada — igual à Madeline — ao saber que Gervase estava ali

ajudando.

Agora, ao ouvir Edmond fazer em voz alta a pergunta que ela mesma

levantara, Madeline sentiu que o coração lhe encolhia. Esperou, respirando com

dificuldade, a resposta de Gervase, que a ouvira aproximar-se e se voltou,

sorrindo-lhe com doçura de um modo tranqüilizador. Depois olhou de novo para

Edmond.

— O mais provável é que uma vez que Ben lhes diga onde encontrou o broche,

eles o deixem amarrado em alguma parte, para que não possa dar alarme

enquanto eles saem em busca do resto da mercadoria desaparecida. Não há motivo

para que lhe façam mal. Uma vez que os peguemos, poderemos averiguar onde o

deixaram.

Madeline abriu uns olhos assustados.

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— O broche? Mercadoria desaparecida? — Era evidente que havia perdido algo

importante.

Gervase disse:

— Eu lhe explicarei tudo pelo caminho.

Temos que nos por em marcha. — Olhou para Harry. — Harry vai liderar um

grupo de seus homens que vigiarão a praia onde encontraram seu broche. —

Olhou-a nos olhos, pedindo-lhe claramente que não os atrasasse com mais

perguntas e que confiasse nele. — Pode pegar uma camisa de Ben ou um lenço de

pescoço?

Algo que não esteja lavado, alguma peça que usou há pouco e que usava sobre

a pele. É para que os cachorros identifiquem seu odor. O ideal seriam duas peças.

Charles tem dois cachorros e pode ser que queiramos enviá-los em direções

diferentes.

Madeline respirou com dificuldade e com os lábios apertados assentiu.

— Vou buscá-las. — Subiu a escada a toda pressa.

Às suas costas ouviu Gervase repetir as ordens a Harry, calmo e seguro,

tranqüilizador em sua clareza.

Ela entrou no quarto de Ben.

Só demorou um momento para escolher entre a pilha de roupa suja acumulada

em um canto. Pegou uma camisa que seu irmão usara no dia anterior e a camisa

de dormir. Saiu ao corredor, deteve-se, fez um rolinho com as peças, colocou-as

sob o braço e correu para seu próprio dormitório.

O broche — como estava conectado com tudo aquilo?— estava sobre o

toucador. Pegou-o e ficou olhando-o sobre sua palma. Não podia acreditar que

valesse a vida de alguém, sem dúvida não a de Ben, mas se os homens que o

seqüestraram iriam atrás dele, o trocaria por seu irmão sem vacilar.

Colocou-o no bolso do vestido e sentiu seu peso contra o músculo, desceu a

toda velocidade a escada. No vestíbulo, esperavam-na Gervase e Edmond. Muriel

também havia descido e estava com eles.

— Tenham cuidado. Todos — disse a anciã. — E tragam Ben de volta.

Madeline se aproximou dela e a beijou no rosto.

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— Nós o traremos.

Olhou Gervase nos olhos e ele assentiu.

— Em marcha.

Fora, encontraram-se com as pessoas, todas a cavalo. Viram Harry falando

com Simpkins, seu encarregado dos estábulos; logo o jovem chamou ao grupo que

tinha a seu redor. Olhou para trás uma vez, a sua irmã, levantou a mão em gesto

de saudação, dedicou um assentimento de cabeça a Gervase e se afastou

encabeçando a pequena partida.

Madeline ficou olhando-o enquanto se afastava pelo caminho.

— Vamos. Monte.

Ao virar-se, encontrou Gervase segurando as bridas de Artur.

— Oh, obrigada. — Obrigou-se a centrar-se, enfiou a roupa de Ben na bolsa da

sela e subiu sobre o lombo de seu cavalo.

Quando teve as rédeas na mão, Gervase se voltou, montou em seu garanhão

cinza e se dirigiu aos demais homens.

— Vamos diretos para Helston pela melhor rota. Se nos separarmos, nos

encontraremos na porta do Scales & Anchor.

Ressoaram murmúrios de assentimento por toda parte. Ele fez um gesto com a

cabeça a Madeline.

— Encabece a marcha.

Ela fez Artur girar para a porta. Quando atravessaram as cercas do final do

longo caminho de entrada, iam já a galope. Ao olhar ao seu redor, Madeline se

fixou em que Gervase estava ao lado de Edmond, mas em seguida viu que não

havia necessidade e avançou para cavalgar ao lado de Madeline.

— Sabem cavalgar tanto como eu — gritou ela.

Ele assentiu.

— Já vejo.

— O que acontece?

Gervase olhou para trás e disse:

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— Eu e você nos adiantaremos. Esperaremos a todos os demais em Helston e

lá explicarei tudo a você.

Acima de tudo, Madeline desejava resgatar Ben o quanto antes possível. Assim,

assentiu, olhou a frente e apressou Artur para acelerar.

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Capítulo 16

Na porta do Scales & Anchor se reuniu uma multidão bem grande para encher

a rua. Abel Griggs e seus rapazes se uniram a eles, igual aos muitos homens e

garotos do lugar. Havia pouco que anoitecera quando Gervase organizou a todos

em grupos e os enviou a procurar por toda a cidade, começando pelos velhos

molhes, onde Ben fora visto pela última vez.

Deixou Abel no banco da porta do Scales & Anchor para receber informações,

tomou Madeline pelo braço e se dirigiram a casa do prefeito, senhor Caldwell, perto

dali. — Deus santo! — O senhor Caldwell ficou comovido pela noticia. — Claro que

devem procurar. Tem homens suficientes? Poderíamos chamar a milícia. É

totalmente aconselhado em um caso assim.

Gervase inclinou a cabeça agradecendo a oferta.

— Não é necessário, não porque não queremos usar seus membros e sim

porque a maioria já se uniu a busca.

— Bem, bem. — Baixinho e bem rechonchudo, o senhor Caldwell abaixou a

cabeça. Parecia perplexo. — É espantoso que tenham seqüestrado a um menino.

— Exato. — Gervase pegou Madeline pelo braço e a afastou antes que o

homem começasse a especular sobre a situação de Ben, algo que ela não

necessitava escutar. — Se nos desculpar, devemos seguir procurando.

— Claro, claro!

Com uma inclinação de cabeça e semblante inexpressivo, Madeline deu a volta

e deixou que Gervase a guiasse até a rua. Tinha os traços tensos, sentia-se

bloqueada em seu interior, como se tudo estivesse acontecendo à distância, mas

ainda assim sabia que era real.

Sabia que Ben fora seqüestrado e que estava em perigo. Gervase a pusera ao

corrente enquanto esperavam os demais. Em grande medida, a explicação foi

secundária; para ela, a única coisa que lhe importava era encontrar seu irmão e

resgatá-lo são e salvo.

Começou a perceber que seu distanciamento era uma benção. Se pensasse

demais na situação e deixasse as possibilidades surgiriam e tomariam forma; o

pânico apareceria e ameaçava superá-la, submergir sua mente em um amassado

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de emoções, mas com Gervase ao seu lado, podia conter a negra onda e agir como

necessitava fazê-lo, como Ben necessitava que o fizesse.

Gervase colocou uma mão sobre a dela em seu braço.

— Uma coisa depois da outra. Assim é como tem que enfrentar-se a isto.

Com o olhar fixo na calçada, em frente a eles, Madeline assentiu.

O som dos cascos, os profundos latidos e um repentino grito os fez erguer a

voz. Dois ginetes avançavam a passo lento, um cavalheiro e uma dama, com dois

enormes cachorros que atravessavam a rua de um lado a outro, cheirando tudo.

Detiveram-se diante deles e desmontaram. A dama tirou o pé do estribo e

desceu antes que o homem pudesse ajudá-la. Ele a olhou e logo, com as rédeas em

uma mão, avançou sorridente.

— O velho marinheiro que está fora da taberna me disse que tinha vindo nesta

direção.

Gervase sorriu e apertou a mão de seu amigo. Voltou-se para Madeline.

— Charles St. Austell, conde de Lostwithiel, e sua esposa, lady Penélope. A

honorável senhorita Madeline Gascoigne.

Ela se obrigou a esboçar um débil sorriso e lhes apertou as mãos.

— Chame-me Charles — pediu-lhe o cavalheiro, inclinando-se com amabilidade

e elegância. — Era tão alto como Gervase, mas de cabelos negros e grandes olhos

escuros.

Fora isso era de constituição parecida e compartilhavam o mesmo ar vigilante,

como se estivessem muito alertas e conscientes, inclusive quando estavam

relaxados.

— Deve estar preocupadíssima. — Lady Penélope, uma ruiva espigada, com um

inteligente olhar de olhos cinza, tomou as mãos de Madeline e lhe sorriu

compreensiva. — E, por favor, me chame de Penny. — Olhou para Gervase. —

Bem, já estamos aqui e os cachorros também; assim sugiro que comecemos as

buscas desse jovenzinho.

Charles esboçou um sorriso.

— É das que mandam.

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Madeline ergueu as sobrancelhas.

— Nesse caso, as duas nos levarão de maravilha.

Penny soltou uma risadinha.

— Claro.

Os cachorros se aproximaram um de cada lado de Charles e Penny. Olharam

para Gervase e Madeline com uns grandes sorrisos caninos, como se eles também

estivessem ansiosos para colocar-se em marcha.

Trouxe duas peças de roupas de Ben — comentou Madeline. — Coisas que usou

há pouco. Tenho-as na sacola da minha sela.

— Nossos cavalos estão na taberna — interferiu Gervase. — Podemos começar

dali.

Dirigiram-se rapidamente ao Scales & Anchor com os cavalos e cachorros

seguindo-os. Madeline observou que Penny olhava suas calças, visíveis sob a ourela

do vestido, dado que caminhava com grandes passadas. Ela também o fazia. Ainda

que as suas tivessem alguns centímetros menos que as de Madeline, sua altura

também era superior a da média entre as damas. Quando chegaram ao arco que

dava ao pátio da taberna, Penny lhe comentou:

— Confesso que estou intrigada. Suponho que cavalga montada. Como as

pessoas nos vêm de calças?

— O sorriso de Madeline foi irônico. — Uso normalmente sob um traje de

montar, há mais de uma década, assim todos por aqui estão acostumados a vê-los.

Mas tenho que cavalgar muito e este aqui é Artur — assinalou, enquanto os guiava

para o grande castanho amarrado a um corrimão, — assim, uma sela de amazona

não é realmente uma alternativa viável.

— Oh, é uma beleza. — Penny acariciou o longo nariz de Artur e o contemplou

com admiração. — E também poderoso.

Madeline assentiu enquanto tirava a roupa da sacola.

Ao seu lado, Charles deu um empurrãozinho em Gervase com o cotovelo.

— Estamos sobrando aqui.

— Não por muito tempo. — Madeline se voltou com a roupa e a ofereceu a

Charles. — Como quer fazê-lo?

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Após consultar-se com Gervase, decidiu amarrar os dois cachorros, para o que

tirou grossas correias de couro de suas sacolas.

— Não queremos que quando encontrem o rastro, saiam correndo rápido

demais e nos deixem para trás. Se seu irmão estiver sozinho, poderia assustar-se

com estes dois se abalando sobre ele.

— Não lhe farão dano — interveio Penny.

Mas não se mostram muito amistosos com qualquer um que estiver com ele,

sendo amigo ou não. — Charles acabou de amarrar as correias e entregou uma a

Penny. — Vamos ao banco onde foi visto pela última vez e comecemos dali.

Assim o fizeram. Abel ficou na porta da taberna, mas os grupos que haviam

regressado, todos sem notícias, seguiram Charles, Gervase, Penny e Madeline até

os molhes. As sombras começavam a alongar-se. A taberna estava vazia; todos os

clientes habituais estavam ajudando com a busca.

Charles fez os cachorros sentarem-se diante do banco, deu a cada um uma

peça de Ben para cheirarem e logo lhes mostrou o lugar do banco onde Edmond

disse que Ben havia se sentado.

Os animais cheiraram, brincaram, dançaram e ficaram olhando a Charles na

expectativa. Aquele era claramente um jogo que conheciam.

— Busquem — disse Charles então.

No instante, ambos baixaram os narizes no solo, deram a volta e avançaram

pelo molhe e logo por uma rua que se estendia paralela a Coinagehall Street.

Todos os seguiram apressando-se. Charles e Penny seguravam os animais,

impedindo que fossem com muita pressa. Estes rastreavam com confiança e sem

problemas. Moviam-se com fluidez. Parecia que o rastro de Ben, ao menos para

eles, era óbvio.

A pequena procissão dobrou por uma rua lateral, depois por outra esquina. Os

giros continuaram, mas ficava claro que sua presa havia atravessado a cidade em

uma direção definida.

Gervase sentiu que o estômago lhe encolhia quando essa direção ficou clara.

Olhou para Madeline e por sua expressão tensa e o crescente horror em seus

olhos, viu que também ela havia feito a conexão.

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Como temiam, os cachorros chegaram até High Road, correram um pouco

mais, pararam e se sentaram, olhando para Charles. Ainda que não estivesse

familiarizado com aqueles animais, Gervase pode interpretar sua pose satisfeita e

segura.

Seguiram o rastro até o final. Seu amigo olhou ao seu redor e ergueu as

sobrancelhas em direção a ele.

— O caminho para Londres. — Com semblante impassível, se voltou para

Madeline. — O homem trouxe Ben aqui, logo o menino subiu ou o subiram a uma

carruagem.

Ela o olhou nos olhos; seu rosto estava quase tão inexpressivo como o dele.

Assentiu e olhou ao seu redor. A seguir, se voltou para os que os haviam

seguido através das ruas. O grupo havia parado a uns metros de distância. A

conclusão de sua busca lhes desagradava tanto quanto a eles quatro.

Para surpresa de Gervase, Madeline escolheu três homens.

— Harris, Cartwright... Miller. Todos vivem por perto, certo?

Os três assentiram e abriram passo entre a multidão.

— Sim senhora.

— Bem, venham comigo. Ben foi seqüestrado a plena luz do dia e pela tarde.

Esta é uma zona das mais transitadas da cidade a essa hora, alguém deve ter visto

algo.

Gervase se reuniu com eles; se foi com Miller por um lado da rua para chamar

as portas e falar com as pessoas. As tendas já estavam fechadas; todas tinham as

persianas fechadas, mas a maioria dos comerciantes vivia no piso de cima; uma

vez que compreenderam o que havia sucedido, todos estiveram dispostos a

responder a suas perguntas.

Logo encontraram três pessoas que confirmaram sem deixar dúvidas, que um

homem o qual não era do lugar nem um cavalheiro de alto berço, havia levado um

menino até uma carruagem que os esperava e subira com ele.

Ninguém o tinha visto forçar, mas todos confirmaram que o subiram rápido e

seguramente ele não tivera tempo de reagir. O homem subiu também à carruagem,

fechou a porta e o veículo se afastou para Londres.

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— Quatro bons cavalos. — Charles repetiu as palavras de uma das

testemunhas, um rapaz de quadra de uma das tabernas.

Gervase o olhou nos olhos e se voltou para Madeline.

— Londres. Não há motivo para levar quatro cavalos a menos que se vá viajar

longe.

Ela estudou seus olhos cor âmbar e tentou reprimir seu medo. Quem tinha

raptado Ben, o havia levado para a capital.

Eles voltaram a toda pressa ao Scales & Anchor, montaram em seus cavalos, e

tomaram o caminho de Londres atrás da carruagem desconhecida. Era uma

possibilidade remota que os controles dos postos de Falmouth se houvessem

montado a tempo...

Ainda assim, cavalgaram com frieza enquanto o sol se punha as suas costas.

Os últimos raios de um dourado vermelho se apagavam e o céu ao oeste se via

em chamas quando avistaram o bloqueio improvisado no caminho, com soldados da

guarnição de Pendennis.

O tenente do comando se aproximou quando pararam. Reconheceu tanto a

Gervase como a Charles e os saudou enquanto dirigia uma inclinação de cabeça a

Madeline e Penny.

— Sem rastro? — perguntou Gervase.

— Sem rastro, senhor. Detivemos a todas as carruagens e carros e os

registramos. Não passou nenhum garoto de nenhum tipo.

Gervase olhou a Madeline, que lhe susteve a mirada.

— Continuaremos até Londres.

---

―Continuaremos.‖ Não havia nenhuma dúvida, claro. Madeline se sentira

aliviada por não ter que discutir. Ficar em Cornualha enquanto Gervase perseguia a

carruagem até Londres seria impensável; não podia deixar de seguir Ben, não

importava se fosse improvável que alcançassem o coche antes dele chegar a

Londres; e que não tivesse nem idéia do que faria uma vez que estivessem lá.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Gervase o saberia; se agarrou a isso e não fez perguntas, deixando que

organizasse o que fosse necessário; as explicações só os atrasariam e ela poderia

perguntar tudo o que quisesse na carruagem, uma vez que houvessem saído.

Gervase era meticuloso. Sugeriu que cavalgassem até o principal posto das

divisas de Falmouth. Estava anoitecendo, o longo crepúsculo avançava e já

dominava quase tudo quando o taberneiro, ao reconhecer Gervase e Charles, se

pôs de pé de um salto para cumprir suas ordens.

Os rapazes de quadra começaram a correr para preparar os cavalos.

Escolheram um veículo e foram buscar em sua casa o melhor cocheiro do posto. O

pátio da mesma estava iluminado com tochas bruxuleantes quando tudo ficou

pronto.

Charles e Penny, que se haviam colocado a disposição de Gervase e Madeline,

concordaram em ir ao castelo de Crowhurst para explicar o sucedido e encarregar-

se de tudo ali e em Treleaver Park. Gervase lhes descreveu brevemente a missão

que havia encomendado a Harry: vigiar a praia onde os meninos encontraram o

broche.

— Irei à praia, falar com Harry e me assegurar que se mantenha a vigilância

noite e dia. Vamos saber o que este canalha e seus sequazes podem fazer. —

Charles olhou para Madeline nos olhos, tomou-lhe as mãos entre as suas e as

apertou com gesto tranqüilizador. — Não se preocupe. Concentre-se em recuperar

Ben são e salvo. Pode confiar em nós para tudo o mais.

Solene e séria ao seu lado, Penny assentiu e susteve o olhar de Madeline.

— Cuidaremos de seus outros irmãos. Estaremos lá quando regressar.

Ela tentou sorrir, mas foi um esforço em vão. Ter outra dama cuidando de

Harry e Edmond era um grande alívio, e sabia, sem ter que perguntar que Penny o

compreendia. De fato, ela mesma havia mencionado que tinha um irmão menor.

Com esse aspecto solucionado, podia concentrar-se totalmente em resgatar

Ben.

Gervase se afastou quando alguém o chamou. Charles abriu a porta da

carruagem e ajudou Madeline a subir. O veículo ia equipado com quatro cavalos e,

sobre o pescante, o experimentado cocheiro que jurava conhecer todos e cada um

dos buracos do caminho para Londres e como conseguir que seus cavalos

alcançassem o melhor ritmo.

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Gervase regressou, se despediu de Penny e de Charles, subiu a carruagem e se

sentou junto a Madeline. Seu amigo assomou ao interior, enquanto segurava a

porta aberta.

— Se chegar a Londres sem alcançá-los, fale com Dalziel.

Com semblante irritado, Gervase assentiu.

— Eu o farei.

Charles lhes fez um gesto de despedida, retrocedeu e fechou a porta. Disse

algo ao cocheiro e um látego resvalou e se puseram em marcha.

---

A noite caiu e a obscuridade era densa e total sob as espessas nuvens, antes

que a mente de Madeline se aclarasse o suficiente para apreciar a comodidade do

coche. O bem estar que lhe proporcionavam os ladrilhos quentes que Gervase

colocara aos seus pés, a suavidade da manta de viagem a seu lado, sobre o

assento. Eram comodidades secundárias, mas ainda assim a reconfortaram.

O tempo mudou e a noite era fresca. Seu sangue também parecia frio, frio

demais para aquecer-se.

Enquanto contemplava pela janela as sombras malhadas, pensou por onde

iriam e que vantagem lhes levaria a carruagem na qual ia Ben.

Grande e sólido ao seu lado, uma fonte de constante calor, de constante

tranqüilidade e bem estar, Gervase lhe pegara a mão quando saíram do posto em

Falmouth e não a soltara nem um segundo. Nesse momento, levou seus nós aos

lábios. Como se lhe houvesse lido o pensamento, disse:

— Verificaremos os principais postos do caminho. Perderemos uns minutos,

mas se pararam não queremos passá-los ao largo.

Madeline olhou seu rosto, seu perfil.

— Acredita que irão parar? — Não se permitira imaginar isso.

Gervase suspirou e apertou os lábios.

— Não. Seja quem for ele não é estúpido. Sabe que se armará um alvoroço e

que buscaremos o Ben. O que não deve saber é que nós percebemos logo que se

dirige a Londres. Não deve esperar que o estejamos seguindo tão de perto.

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Madeline assentiu e olhou a frente enquanto deixava que seus dedos

apertassem levemente os dele, deixando que Gervase lhe pegasse a mão, que a

segurasse.

Uma parte de sua mente estava acelerada. Nunca em sua vida se sentira

assim, tão a mercê de uma situação totalmente fora de seu controle. Tão impotente

e vulnerável, no respeito ao seu próprio bem estar, senão ao bem estar e a vida de

quem era como um filho para ela.

Ben era o bebê ao qual Madeline criara; o levava mais perto de seu coração

que a ninguém. Se estivesse ela mesma em perigo, não teria sentido aquele

horrível pânico, aquela fragilidade. Teria enfrentado sem pressão emocional

qualquer ataque sobre ela; um ataque sobre Ben, sobre qualquer de seus irmãos,

era diferente. Tinha um poder devastador.

Gervase lhe apoiou a mão sobre sua perna e dobrou os longos dedos sobre os

dela. O aço sob sua palma, a sensação, a atitude protetora que esse simples gesto

transmitiu... Madeline a percebeu, a apreciou, agradeceu em silêncio, mas nesse

momento não pode encontrar as palavras para expressar sua gratidão.

Gervase não tentou deixá-la atrás; compreendeu e aceitou a situação e

reconheceu seu direito a acompanhá-lo em busca de Ben. A maioria dos homens,

sobretudo os cavalheiros, teria protestado e se poria de mau humor. Em troca ele

fez todo o possível para facilitar-lhe as coisas, para apoiá-la em sua busca... Não,

na busca dos dois.

Por um lado lhe parecia raro, mas estranhamente adequado incluí-lo. Com seu

comportamento, com sua compreensão, Gervase ganhou o direito de estar ao seu

lado.

Fechou os olhos e engoliu a saliva. Levou um instante saboreando essa

verdade, um instante para reconhecê-la e reconhecer o que significava e o que

anunciava.

Amá-lo era uma coisa, aceitá-lo em sua vida era outra diferente. Aceitara-o já

inconscientemente sem dar-se conta disso até então? Fosse como fosse, aquele não

era o momento de pensar nessas coisas. Inspirou e deixou que o assunto descesse

a um nível mais profundo de sua mente e voltou a pensar em Ben e em sua busca.

Normalmente, uma carruagem rápida e bem preparada levaria dois dias

inteiros para chegar a Londres. Inclusive com bons cavalos, a viagem supunha mais

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de vinte e quatro horas no caminho, também no verão. Mas a maioria das

carruagens não viajava de noite e eles o estavam fazendo.

Era arriscado, mais pelo estado dos caminhos que devido a qualquer outra

ameaça, mas por isso Gervase insistira em contar com o melhor cocheiro e

contratou também ao seu companheiro, para que pudessem se revezar ao longo de

toda a noite e no dia seguinte.

O rítmico balanceio da carruagem, o rápido e regular golpe dos cascos dos

cavalos tranqüilizava Madeline.

Faziam tudo o que podiam. A mão de Gervase seguiu segurando a sua, seu

ombro junto a ela, a sua disposição se necessitasse apoiar-se nele, algo que nunca

imaginou que faria; seus duros músculos, sólidos e quentes, junto a sua perna.

Cada carícia, cada detalhe de sua presença a acalmava.

Iam atrás daquele canalha e viajavam o mais rápido possível. A única coisa que

lhes restava fazer era esperar e seguir em uma espécie de limbo de expectativa

intensa, mas contida, até que a outra carruagem baixasse o ritmo e o alcançassem

ou, melhor ainda, se detivesse.

---

O coche que seguiam não parou para passar a noite. Eles tampouco o fizeram.

Confirmaram nos numerosos postos pelos quais passaram. Paravam e Gervase

descia para indagar.

Normalmente, regressava em questão de uns minutos e saiam em marcha de

novo.

A noite chegou ao seu fim, amanheceu e saiu o sol e eles continuaram naquela

velocidade quase suicida. O dia avançou; Madeline se sentia inchada, suas

extremidades e músculos protestavam pela desacostumada inatividade, mas não

estava disposta a por objeções e muito menos a queixar-se.

Apesar do implacável ritmo, Gervase insistiu continuamente em que ela, e

também os cocheiros, descessem para esticar as pernas a intervalos regulares,

enquanto trocavam os cavalos.

Enquanto os cocheiros supervisionavam aos rapazes de quadra, ela o

acompanhava ao interior do posto no qual se detinham, pedia algo ligeiro e rápido

de comer e enviava cerveja e sanduíches aos condutores.

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Assim foi com o café da manhã e com o almoço.

Ainda que os descansos fossem os mínimos, era outro exemplo da atitude

protetora de Gervase, um hábito quase instintivo de assegurar o bem estar de

quem estava ao seu encargo. Inclusive se essas pessoas tentavam discutir, como o

havia feito Madeline na primeira vez. Viu-se desautorizada por seu tom, a só um

passo do ditatorial. Ela o havia acusado, mas logo, quando se deu conta da

sabedoria que havia atrás de suas ações, se limitou a obedecer sem correções.

Chegaram a Amesbury no meio da tarde.

O companheiro do cocheiro soou o corno e quando atravessaram o arco de Blue

Gun & Pistols, os rapazes de quadra já estavam pegando cavalos descansados e

outros homens esperavam prontos para soltar os arneses e levar aos quatro

animais da carruagem.

Madeline desceu, mas ficou no pátio observando a atividade, enquanto Gervase

andava perguntando ao encarregado dos rapazes e seguindo sua indicação o viu

subir a varanda dianteira do posto para falar com um ancião que estava sentado

em uma cadeira de balanço. Regressou quando as últimas fivelas dos arneses

estavam sendo fechadas.

Os cocheiros já se encontravam no pescante, com as rédeas na mão. Com o

rosto irritado e tenso, Gervase lhes fez um breve sinal.

— Para Londres. — Pegou Madeline pelo braço ajudou-a e subiu também.

Ela aguardou até estarem em marcha de novo para perguntar:

— O que acontece? O que conseguiu averiguar?

Ele a olhou um momento antes de dizer:

— Nada novo. É só que... — Franziu o cenho e se deteve com o olhar perdido.

Madeline aguardou. Finalmente, Gervase continuou:

— Passaram por aqui há horas. O velho da varanda era antes o encarregado

dos rapazes e tem uma vista excelente e sabe de carruagens e cavalos. Disse que

viu passar a carruagem que nós seguimos. Disse que era negra, relativamente

nova, com uma marca verde na porta.

Conseguiram essa mesma descrição no primeiro posto depois de Falmouth.

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— Reconheceu a marca da carruagem, disse que pertence a um dos postos

mais importantes de Londres. Mas foram os cavalos que lhe chamaram a atenção.

De primeira qualidade, alugados, mas os melhores, o que explica por que não os

alcançamos. Estão usando um tiro da mesma qualidade nossa, o que significa que

há dinheiro por trás. O plano e sua execução são obra de outra pessoa que não é

um vigarista londrinense de meio pelo.

Madeline estudou seu rosto.

— Você pensava que um cavalheiro ou alguém de nossa classe, estava

implicado; alguém que poderia ter visto o broche no baile de lady Felgate ou que

conhecia uma pessoa que o tivesse visto.

Gervase suspirou e se recostou em seu assento.

— Sim, mas não é isso o que me preocupa. Se o homem que está por trás

disto se encontrava em Cornualha, onde seguramente está sua mercadoria perdida;

e acredito que estamos no caminho certo quando pensamos que reconheceu o

broche, então, por que leva Ben a Londres? Por que não interrogá-lo em Cornualha

e ir direto procurar essa mercadoria?

Madeline nem sequer tentou pensá-lo.

— Por que você acha que o faz?

Ele inspirou longamente e deixou escapar o ar, dizendo:

— Creio que nos está despistando, fazendo que nos afastemos. — Fez uma

pausa antes de continuar: — Creio que tudo isto faz parte de seu plano; não só a

fuga para Londres, mas também o fato de que o sigamos. Essa é a razão pela qual

está gastando tanto dinheiro para manter sua carruagem a frente da nossa. Desde

o princípio, esperou que o seguíssemos. Não pode saber ao certo que o fazemos,

mas está supondo que sim.

Madeline fez uma careta.

—Tem razão.

— Eu penso que sim. Decidiu seqüestrar Ben, ou ao menos um de seus irmãos,

não só para averiguar onde encontraram o broche, mas também porque qualquer

deles seria o motivo perfeito para fazer que você e eu nos afastássemos da

península. Não sabe que Charles está lá.

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Estando nós dois ausentes, supõe-se que a península esteja sem timão, ao

menos no que se refere ao trato com os de sua mesma classe. Um frio de medo a

inundou e lhe apertou o coração.

— O que fará com Ben quando chegar a Londres?

Gervase a olhou nos olhos.

— Estamos assumindo que o homem está com seu irmão na carruagem, mas,

pensando bem, não creio que seja assim. É astuto e inteligente demais. Deve ter

feito seus homens seqüestrarem-no.

Provavelmente, ele já esteja em Londres, esperando que o levem ali. — Fez

uma pausa enquanto pensava o que faria ele se estivesse no lugar desse canalha.

— Vai falar com Ben e perguntar pelo broche. Seguramente tentará ocultar seu

propósito, mas, afinal, lhe perguntará. As circunstâncias desse encontro farão que

Ben não o reconheça mais tarde. É demasiado inteligente para assumir esse risco.

Inspirou longamente.

— E pela mesma razão, creio que, uma vez que Ben lhe dê uma resposta,

ordenará aos seus sequazes que o libertem em algum lugar em Londres. Sabe que

o buscaremos e não tem motivos para converter-se em cúmplice de um

assassinato. Enquanto Ben não puder identificá-lo, não tem nada a temer.

Madeline estava seguindo seu arrazoado e assentiu.

— E se nos mantém percorrendo Londres, tentando localizar um menino de dez

anos... Pode segurar-nos ali durante um tempo imprevisível.

— Deixando a península, no que a ele interessa como território aberto e

desprotegido. — Gervase a olhou. O sol da tarde iluminava seu rosto e mostrava a

tensão das vinte e quatro horas passadas, mas não pode ver nada em seus olhos,

quando se encontraram com os seus, que sugerisse que Madeline o havia seguido

até onde sua mente chegara à última instância.

Gervase esboçou um sorriso, levou sua mão aos lábios e beijou-a, depois

baixou o braço e olhou para diante.

— Estamos fazendo tudo o que podemos para alcançar a carruagem. Pelo

momento, isso é a única coisa que podemos fazer.

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Sentia-se razoavelmente certo que aquele canalha ordenaria a liberação de Ben

em algum lugar de Londres. O mais provável nos bordéis. Do que não estava em

absoluto tão certo era se aqueles desprezíveis sequazes seguiriam suas ordens ao

pé da letra ou, em troca, decidiriam tomar o que pudessem de um menino de dez

anos de nobre berço.

Isso em si já era um pesadelo, mas igualmente ruim era o pensamento do que

poderia suceder se os homens obedeciam e deixavam Ben vagando pelos

submundos de Londres, sem nenhum protetor, sozinho e indefeso.

---

Anoitecia quando chegaram aos postos de Basingstoke. Quanto mais se

aproximavam da capital, mais carruagens, carros, diligências postais e carretas

enchiam o caminho e sua velocidade se reduzia significativamente.

Madeline suportava a frustração repetindo-se em silêncio o comentário de

Gervase sobre o tráfego que também atrasaria a sua presa. Nenhum dos dois

dormira a noite anterior, só breves cabeçadas, inquietos, sem descansar realmente.

O cansaço agora era uma verdadeira carga que pesava em sua mente.

O corno soou e um minuto mais tarde giraram para atravessar o arco do Five

Bells, um dos postos mais importantes da cidade. Quando a carruagem se deteve,

Gervase abriu a porta, desceu e a fechou as suas costas. Madeline assomou pela

janela e observou como falava com o encarregado das quadras, cuja equipe estava

desenganchando aos grandes cavalos dos arneses.

Gervase fez perguntas que o homem respondeu, assentiu brevemente. Deteve-

se durante um segundo, deu meia volta e regressou a carruagem. Com semblante

sério, abriu a porta e lhe estendeu a mão indicando-lhe que descesse.

Madeline obedeceu e, olhando-lhe o rosto, perguntou:

— O que acontece?

Gervase a olhou nos olhos.

— Pararam aqui para mudar os cavalos. O encarregado teve oportunidade de

olhar no interior da carruagem. Viu um menino, Ben, dormindo no assento,

envolvido em uma manta. Pode ser que estivesse amarrado de algum modo, mas o

encarregado não viu. Por sua descrição dos dois homens que o acompanhavam,

estávamos certos ao pensar que são só asseclas. De fato, o motivo pelo qual o

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encarregado olhou no interior foi porque estranhou que esses homens pudessem

viajar com tanto luxo.

— E então... — Madeline olhou a parte dianteira do coche, com as barras

apoiadas nos blocos quando retiraram os cavalos. Ao ver que não pegaram cavalos

descansados, franziu o cenho. — Suponho que sairemos o antes possível...?

Com as sobrancelhas arqueadas, olhou para Gervase.

— Sua carruagem tem mais de uma hora de vantagem. Encurtamos muito a

distância, mas estamos a quatro ou cinco horas da capital, inclusive a velocidade

que vamos, não poderemos alcançá-los nesse tempo.

O medo que ela conseguira manter na linha lhe apertou o coração.

Manteve o olhar fixo no dele e se agarrou ao contato quando insistiu:

— E então...?

Gervase não afastou os olhos.

— Então vamos ter que aceitar que chegarão a Londres antes de nós e que

desaparecerão em suas ruas; e vamos ter que buscar Ben ali quando o soltarem. O

único ponto em tudo isto em nosso favor é que não será imediatamente. Esse

canalha necessitará encontrar-se com Ben primeiro assim, com certeza, o libertará

amanhã pela tarde.

Madeline estudou seus olhos âmbar e leu neles uma resoluta e sólida promessa

de que encontrariam Ben.

— E, agora, o que? O que sugere?

— Continuaremos até Londres, mas já não tem sentido que nos forcemos nem

aos cavalos. — Olhou ao seu redor. — Descansaremos aqui, jantaremos e faremos

uma breve pausa antes de voltarmos ao caminho.

Este é um excelente posto e sua cozinha é muito bem considerada.

Madeline não acreditava que pudesse comer ou, se o fizesse, tudo lhe pareceria

insípido, mas reunia seus irmãos com freqüência para assumir riscos

desnecessários de um modo temerário.

Gervase sorriu como se lhe tivesse lido a mente.

— Será de pouca ajuda para Ben quando o encontrarmos se desmaiar de fome.

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Ela soltou um bufo.

— Eu nunca desmaio. Mas talvez seja aconselhável jantar. — De fato, não

havia comido nada consistente desde o almoço do dia anterior.

Gervase tomou o comando. Levou-a para dentro e enviou ao cocheiro e a seu

companheiro ao bar principal para que comessem e se refrescassem. Pediu salas

onde eles dois pudessem assear-se e tirar o pó do caminho antes de retirar-se a

um salão privado, onde poderiam comer algo consistente quando estivessem

prontos.

Ainda que lhe parecesse estranho que outra pessoa organizasse as coisas por

ela, que desse as ordens para seu bem estar; Gervase foi eficiente e prático, e

parecia saber exatamente como não irritá-la, como fazer parecer natural que ela se

apoiasse nele, que lhe permitisse cuidar dela. Um apoio sedutor, assim lhe pareceu

e nesse caso deixou que a envolvesse.

Acompanharam-na a um bonito dormitório, onde se olhou ao espelho, suspirou

e tentou melhorar os estragos da viagem. Lavou-se e reviveu enquanto uma

donzela lhe sacudia o vestido, escandalizada pelas calças que ainda usava.

Voltou a vestir-se e tirou as calças, porque chegar a Londres com semelhante

roupa, sem duvida poderia considerar-se outro risco desnecessário. Soltou os

cabelos, passou os dedos por eles, penteando-os o melhor que pode e os prendeu

em um coque, mais ou menos bem com os garfos que lhe sobraram.

Quando desceu ao salão privado, encontrou Gervase esperando-a. Sentaram-se

à mesa e lhes serviram a comida. Ao contrário do que Madeline esperava, pode

saborear bem o pastel de carne de caça porque estava morta de fome.

Entre os dois, comeram a maior parte do que a sorridente esposa do taberneiro

lhes colocou a frente. Não obstante, Madeline se sentiu aliviada quando, uma vez

retirados os pratos, Gervase deu ordem aos cocheiros que se preparassem e

colocassem cavalos descansados.

Quando a porta do pequeno salão se fechou atrás das costas do taberneiro,

Gervase se voltou para ela, que estava limpando os dedos no guardanapo.

— Não é necessário apressar-se. Vamos sair em seguida.

Madeline deixou o guardanapo de lado e franziu o cenho.

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— O que faremos quando chegarmos a Londres? — Sentia a cabeça mais leve,

o bastante para fazer uma pergunta na qual, até o momento, não pensara demais,

porque se concentrara, sobretudo em alcançar a carruagem e Ben antes de chegar

à cidade.

Gervase pensara no assunto longo tempo.

— Iremos ao clube Bastion.

Ela franziu o cenho.

— Pensei que era um clube de cavalheiros.

— E é, ou era. Mas dos sete membros, cinco já estão casados. Exceto eu,

ninguém se aloja ali. Christian Allardyce, é outro solteiro, tem sua própria casa na

cidade. Só usa o clube como um refúgio, um lugar onde ocultar-se das mulheres de

sua família e de outras que desejam dar-lhe caça.

— Oh. — Sua expressão sugeria que estava bastante intrigada para aceitar o

seu plano. — Então, iremos ali, e...?

— Usando o clube como base eu organizarei a busca de Ben. Avisarei a todos

que se encontrar em Londres. Christian está ali, eu sei. Não estou certo a respeito

de Trentham... Ou Dalziel.

— O seu ex-comandante?

Gervase assentiu.

— Ele tem... Capacidades, recursos e colaboradores que só podemos tentar

adivinhar. — Empurrou a cadeira para trás e se levantou.

Madeline franziu o cenho e lhe estendeu a mão para que a ajudasse a levantar-

se.

— Mas nos ajudará? Refiro-me a Dalziel. Depois de tudo, não conhece nada

sobre mim nem a Ben.

— Isso não lhe importará. É a necessidade ao que responderá... Um menino

seqüestrado nestas circunstancias e abandonado em Londres. — Sentiu que se

apertava a mandíbula, mas tentou manter-se inexpressivo. — Nos ajudará, não

será demais se lhe pedirmos duas vezes.

Madeline pareceu aceitá-lo. Gervase a guiou até a porta, mas antes de sair, se

deteve diante dela e a olhou nos olhos.

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— Pronta para continuar?

Madeline levantou a cabeça e assentiu como a deusa guerreira que era.

— Vamos..

---

Entraram em Londres pouco antes do amanhecer. O céu, veludo negro na

noite, apenas clareava; o horizonte ao este era uma tênue franja de cinza escuro.

Não tinham pressionado os cavalos, mas assim e tudo tinham ido a bom ritmo.

Era entre três e quatro horas da madrugada, à hora em que ninguém se movia,

nem os homens honestos nem os meliantes. As ruas estavam silenciosas quando os

cavalos, cansados, mas ainda em forma, avançaram.

Madeline se inclinou para diante para contemplar o céu. Gervase estudou seu

perfil e soube que estava pensando em Ben, perguntando-se onde estaria e se

estaria bem.

Encontrar ao pequeno, toda a atenção de Gervase estava centrada nisso; nada

mais importava até que não devolvesse Ben aos braços de Madeline.

Dera indicações ao cocheiro varias vezes. Quando a carruagem girou por

Montrose Place, se assomou e disse com suavidade:

— O número 12, o portão verde à esquerda.

O homem puxou as rédeas, o coche reduziu a velocidade e se deteve diante da

porta. Gervase desceu. A casa, como todas as demais da rua, estava às escuras.

Voltou-se para Madeline, que forçava sua postura para poder ver o escuro perfil da

casa mais além do muro de pedra.

— Espere aqui. Irei despertá-los.

Chegara ao clube em plena noite em numerosas ocasiões, pelo que não

estranhou ver que, em questão de minutos, um adormecido Gasthorpe respondia a

sua reconhecível chamada, enquanto vestia a jaqueta.

O que sempre surpreendia Gervase era que o corpulento ex-sargento mais

velho e agora mordomo fosse capaz de vestir-se apressadamente e parecer

passavelmente arrumado em só esses poucos minutos.

— Milorde! — Um sorriso iluminou o rosto de Gasthorpe, que abriu a porta de

par em par. — É um prazer dar-lhe as boas vindas.

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— Obrigado, Gasthorpe, mas não venho sozinho. Acompanha-me uma dama, a

honorável senhorita Madeline Gascoigne, e necessitamos usar o clube como base.

— Olhou aos olhos do homem, agora muito abertos. — O irmão pequeno da

senhorita Gascoigne foi seqüestrado. Seguimos a carruagem do canalha que o fez

até Londres, mas não conseguimos alcançá-lo. Necessitaremos organizar uma

busca às primeiras horas da manhã.

Ao primeiro sinal de problemas, os olhos de Gasthorpe se iluminaram.

— Naturalmente, milorde. — Olhou para fora e, ao ver a carruagem, se ergueu.

— Acompanhe para dentro a dama, terei um dormitório, o maior à esquerda da

escada, em seguida estará pronto.

Gervase assentiu, aliviado por poder confiar em sua capacidade e em sua

discrição.

Voltou para a rua, mas recordou algo... E se voltou de novo para Gasthorpe.

—Tivemos que iniciar a perseguição inesperadamente desde Helston. Não

temos bagagem, nem roupas, fora a que usamos. — Fez uma careta. — E

gastamos viajando mais ou menos sem parar desde anteontem pela noite. Também

necessitaremos alojar aos cocheiros, são dois, durante o tempo em que ficarmos.

Suspeito que teremos que regressar a toda velocidade a Cornualha em algum

momento e são excelentes condutores.

Gasthorpe se ergueu.

— Deixe tudo em minhas mãos. Estamos muito tranqüilos ultimamente. Será

um prazer entrar em ação de novo.

Apesar da hora, apesar da situação, Gervase sorriu; sabia ao que se referia o

ex-militar. Quando saiu a varanda, comentou: — Por certo, Lostwithiel te envia

saudações, os deixei a ele e a sua esposa no comando de tudo em Crowhurst.

— Muito amável por parte do conde.

Espero vê-los a ele e a sua dama logo por aqui.

O sorriso de Gervase se alargou.

— Eu o direi. — Verdadeiramente, teriam que retornar se o uso do clube ou

Gasthorpe e seus ajudantes se tornassem loucos. Nenhum era do tipo habitual de

pessoal e a inatividade não se encaixava com eles.

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Regressou a carruagem e ajudou Madeline a descer, a qual olhou ao seu redor

enquanto Gervase indicava aos cansados cocheiros onde estavam as cavalariças,

enlaçou seu braço com o dele e avançou com ela pelo caminho da casa.

— Seu mordomo ficará estupefato.

Gervase riu em voz baixa.

— Não temos um pessoal normal. Gasthorpe agora é mordomo, mas foi

sargento maior durante a guerra e garanto-lhe que ainda não o vi desconcertar-se,

em que pese às muitas e variadas, inclusive às vezes surpreendentes, petições que

todos em um momento ou outro lhe fazemos. — Olhou a frente, para o vestíbulo

que nesses momentos já estava iluminado com a cálida luz das velas. Mais além

pode ouvir o rápido som de passos dos serventes que subiam a escada para

cumprir as ordens de Gasthorpe. — Se não me acredita, observe como maneja esta

situação.

Madeline se tinha dúvidas, seriam dúvidas de que qualquer lugar destinado a

homens pudesse fazer frente a suas inesperadas petições, mas até a última delas

se apagou quando o mordomo a acompanhou a um dormitório arrumado com

simplicidade, mas excepcionalmente limpo e acolhedor; e explicou-lhe com um

decoroso assentimento de cabeça onde estava tudo e lhe rogou que lhe pedisse

qualquer coisa que ele não lhe houvesse proporcionado.

— De acordo. — Quando seus cansados olhos viram a fina camisa de noite de

linho sobre a cama, de homem, mas perfeitamente adequada em sua situação, e a

toalha e a bacia com a jarra em conjunto, fumegante, a única vela acesa sobre o

toucador, pode sentir que os músculos se relaxavam. — Obrigada, tudo isto é

excelente. Mais do que esperava.

— Sugiro senhora, que deixe seu vestido fora, na porta. Pedirei a donzela da

casa ao lado que o ventile.

Madeline sentiu que umas tontas lágrimas lhe escorriam nos olhos quando se

voltou para o homem, claramente encantado de ser-lhe de ajuda.

— Obrigada, o farei. Você está sendo extraordinariamente amável.

O mordomo sorriu e se retirou fechando a porta atrás dele com delicadeza.

Madeline suspirou e reprimiu um bocejo. Dez minutos mais tarde, lavada e

limpa, com os cabelos soltos caindo sobre os ombros, caiu profundamente

adormecida entre os lençóis limpos.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Gervase se deteve na porta e observou a cena. Madeline apagara a vela, mas

uma tenue luz banhava o dormitório. Sob aquele suave resplendor, pode ver que a

tensão do dia, a rigidez ao redor de seus olhos e seus lábios havia desaparecido.

Esse detalhe acalmou uma parte primitiva e inquieta de si mesmo. Observou a

cama, sua amplitude muito pouco adequada e logo, com um suspiro, deu a volta,

fechou a porta e se dirigiu a seu dormitório, ao outro lado do piso.

Gasthorpe lhes havia servido chá e bolos na biblioteca enquanto preparavam

seus dormitórios. Quando Madeline se retirou, Gervase ficou escrevendo umas

notas, chamando a ação, só dois, porque não havia muito tempo.

Gasthorpe verificou que, de todos os membros do clube, só Christian Allardyce

estava ainda na cidade. Os demais já tinham se retirado para suas propriedades no

campo para passar o verão e não se esperava que voltassem a Londres, ao menos,

não nos próximos dias.

O destino de Ben já estaria decidido então. Se não o encontrassem nos dois

primeiros dias, provavelmente não o fariam nunca. Gervase entrou em seu

dormitório, fechou a porta e se obrigou a apagar esse pensamento de sua mente.

Em lugar disso, se concentrou em como localizar o pequeno.

Tirou a jaqueta, desabotoou os punhos e fez uma careta. Gasthorpe tinha suas

duas notas, que entregaria ao amanhecer. A única coisa que restava para fazer

nesse momento para melhorar as possibilidades de encontrar Ben era rezar para

que o segundo cavalheiro ao qual havia informado ainda não tivesse abandonado

Londres.

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Capítulo 17

Como Gervase imaginou, Christian foi o primeiro a responder a sua chamada.

Gasthorpe o despertou as nove, com a notícia de que o marquês havia chegado e o

esperava a mesa do desjejum.

Esfregou os olhos e lavou o rosto.

Arrumou-se rapidamente e se vestiu enquanto agradecia pelo maravilhoso que

era Gasthorpe; além de conseguir-lhe a navalha, uma camisa, um lenço e um pente

recém comprados, o mordomo fizera maravilhas com a jaqueta e as calças que

usara durante toda a viagem, e suas botas brilhavam. Pelo menos, já não parecia

que chegara cavalgando desde a estepe russa.

Quando saiu de seu dormitório, deteve-se e observou a porta ao outro lado do

patamar. Aproximou-se em silêncio da porta, abriu e viu que Madeline continuava

profundamente adormecida, coberta com as mantas e com seus cabelos dourado

acobreado espalhados sobre a almofada. Sentiu uns impulsos contraditórios; uma

parte de si mesmo desejava deixá-la ali, recuperando-se em paz. Claro, ela

esperaria que a incluísse em qualquer reunião relacionada com o destino de Ben e

tinha todo o direito do mundo de estar presente.

Suspirou para si, se aproximou da cama sem fazer ruído, afastou os cabelos, se

inclinou e lhe deu um beijo no rosto.

Quando despertou, murmurou e se voltou para ele, Gervase deixou seus lábios

ali para encontrar-se com os seus. Um beijo terno, nada exigente. A seguir,

levantou a cabeça e a viu piscar.

Madeline o olhou e percorreu o dormitório com a vista.

— Oh. — Incorporou-se sobre um cotovelo e observou a janela. — Que horas

são?

— Um pouco mais das nove. Christian Allardyce está embaixo, no salão do

desjejum. Reúna-se conosco quando estiver pronta.

— Sim, claro. — Começou a levantar-se.

Gervase se voltou para a porta e viu uma pequena donzela no umbral, com a

mão levantada e paralisada. Estava a ponto de chamar a porta quando o viu.

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Ele sorriu e lhe indicou que entrasse e informou a Madeline enquanto seguia

avançando: — Chegou ajuda. Inclusive lhe trazem um vestido limpo.

— O que...?

Quando chegou a porta, se voltou e viu Madeline olhando incrédula a donzela,

que levava não só um vestido, mas roupa interior, um pente e presilhas.

Madeline fechou a boca e o olhou como buscando uma explicação.

— Os milagres de Gasthorpe. — Com um sorriso, Gervase lhe disse adeus e

saiu, fechando a porta as suas costas.

Ficou sério enquanto descia a escada. Christian Allardyce, marquês de Dearne,

estava sentado a um extremo da mesa do desjejum, comendo uma importante

porção de presunto e ovos. Ergueu a vista quando ele entrou.

— Excelente. Estou impaciente. Ia subir e exigir explicações imediatas, mas

Gasthorpe me advertiu que havia uma dama. — Christian ergueu as sobrancelhas.

— E bem, o que acontece?

A límpida inocência de seus olhos cinza não ocultou em absoluto sua ávida

curiosidade nem seus receios. Gervase lhe susteve o olhar um instante, fez uma

careta e se dirigiu ao aparador.

— Vou casar-me com ela, mas, por Deus, não o menciones porque Madeline

ainda não aceitou fazê-lo.

— Ah... Está nessa fase. — Christian voltou a concentrar-se em seu prato e

disse: — E o que trouxe os dois até aqui tão precipitadamente, e no que necessita

que os ajude?

Com o prato transbordando de presunto, salsichas e dois ovos, Gervase

sentou-se na cadeira ao lado de seu amigo e lhe explicou tudo de um modo simples

e conciso, sem deixar nada importante. Quando acabou, Christian franzia o cenho.

Após arrebanhar os últimos pedaços de ovo com um pedaço de torrada

colocou-o na boca, mastigou e, com os olhos apertados e distantes, disse:

— Então, pensa que esse plano, o de trazer o menino a Londres, é uma trama

para afastar os dois de Cornualha?

Gervase assentiu.

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— Madeline é a representante de seu irmão de quinze anos, tem levado as

rédeas de tudo durante tanto tempo e tão bem que é a viscondessa de fato e todos

recorrem a ela em busca de conselhos, inclusive mais ainda devido a minha

ausência.

Christian arqueou as sobrancelhas.

— Parece uma dama pouco comum.

— É uma mulher excepcional — contestou Gervase, — razão pela qual esse

canalha nos queria em Londres. Com os dois fora, não há ninguém na península

com a autoridade, posição ou experiência suficiente para tomar o comando. Só

resta a pequena nobreza da própria península e alguns barões menores ao norte do

estuário; mas inclusive se eles forem chamados a ação, quando chegarem para

investigar um desconhecido que com um bando de assassinos está escavando uma

praia, tudo já teria terminado e faria tempo que esse canalha teria fugido.

Deteve-se e sorriu, mas foi um gesto desprovido de humor.

— Claro, nosso homem não sabe que Charles está lá. Os deixei a ele e a

Penélope no castelo, cuidando de tudo.

— Assim quando esse canalha chegar...

— Christian fez uma cara feia, o equivalente a um moinho masculino. — Pois eu

me nego redondamente a permitir que St. Austell leve toda a diversão.

— Claro. O que é outra excelente razão para encontrar Ben o quanto antes,

ainda que não necessitemos nenhum motivo, e assim possamos dirigir-nos com

toda pressa a Cornualha e participar também do final.

— Um motivo não — replicou Christian. — Um incentivo. Encarregar-nos desse

tipo será nosso prêmio por encontrar rápido ao Ben.

Os sentidos de Gervase reagiram, ergueu a vista e viu Madeline na porta.

Sorriu e se levantou.

— Aqui está. Venha e sente-se conosco.

— Obrigada.

— Ela sorriu com afeto. De repente, sentiu o coração ligeiro. Havia descido

aborrecida pela preocupação e o pânico incipiente. Então havia escutado as

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palavras de Gervase, sua descrição dela, a clara confiança sua e de seu colega de

que encontrariam Ben e se ocupariam do canalha que o havia raptado.

---

— Inspirou, sentiu como sua segurança a embargou, como sua confiança se

intensificou e se acalmou.

Entrou no salão e olhou ao outro cavalheiro, que se levantara com elegância.

— Dearne, senhorita Gascoigne. — Inclinou-se e lhe dirigiu um sorriso

encantador. — Mas espero que me chame de Christian.

Havia algo em seu modo de agir, um ar amável, um convite a rir de tudo, que

a fez sorrir em resposta sem ter que esforçar-se. Ela inclinou a cabeça.

— Madeline, por favor. — Sentou-se em uma cadeira que Gervase lhe ofereceu,

olhou ao seu redor e viu que se dirigia ao aparador; pelo que decidiu permitir-lhe

que lhe servisse o prato, para assim poder centrar a atenção em seu amigo. —

Entendo que é outro membro deste estranho clube.

— Exato. Não a aborrecerei com os detalhes de sua criação, mas diria que

cumpriu bem seu propósito.

Sorriu de um modo que a fez perguntar-se qual seria o verdadeiro propósito do

clube.

Antes que pudesse pensar em como perguntar-lhe, Gervase regressou a mesa.

— Pedi o chá. — Deixou-lhe um prato transbordando de pescado com arroz e

ovo duro, além de presunto e uns grossos e suculentos arenques defumados.

Ela ficou olhando-o e pensou quando havia mencionado que adorava arenques

defumados; não conseguiu recordar tê-lo feito nunca, assim, como o sabia ele?

Encolheu os ombros para si, agradeceu-lhe, pegou a faca e o garfo e provou o

pescado com arroz e ovo. Estava delicioso, e percebeu que estava morta de fome.

Acostumada aos hábitos do sexo masculino à mesa, apenas notou o silêncio

que se fez de repente. Gervase continuava absorto em suas salsichas quando

Christian se recostou em seu assento e bebeu café com o ar de um homem

totalmente saciado.

Por entre as pestanas, Madeline o observou intrigada por ver a outro amigo de

Gervase. Tinha a mesma constituição que ele e Charles. Recordou, então, que

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Gervase fora membro da Guarda Real e suspeitava que esse também fosse o caso

dos demais; todos contavam com a clássica constituição desses militares. Eram

todos altos e de costas largas.

Quanto ao resto... Olhos cinza, certa tendência a rir de si mesmo, como se

fosse divertido ser cínico consigo mesmo; mas sob a superficie, Madeline pode ver

a mesma força implacável que chegara a valorizar em Gervase, esse compromisso

inamovível por defender e proteger, fosse aos fracos e indefesos, aos seus amigos,

a sua família ou ao seu país. Eram iguais e simplesmente quem era e nada os

mudaria nunca.

Nada os abrandaria.

Em sua opinião, assim era como deveria ser e esse pensamento foi mais um

consolo que uma ameaça. Pegou o último diminuto pedaço de arenque defumado

com o garfo, justamente quando Gervase afastou seu prato.

Ela ergueu a vista e sorriu quando Gasthorpe lhe serviu o chá. Limpou

delicadamente os lábios com o guardanapo, pegou a fina xícara de porcelana e

bebeu...

Esteve a ponto de fechar os olhos e suspirar. Quando olhou ao seu redor, o

mordomo já não estava. Voltou-se, então, para Gervase e Christian.

— Não sei onde o encontraram, mas Gasthorpe é um tesouro. Não sei como

fez, mas inclusive encontrou-me este vestido. — Interrompeu-se para explicar a

Christian que iniciaram a busca de seu irmão sem bagagem. Voltou a olhar o

vestido. — Disse que pertenceu a dama que vivia na casa ao lado. Pediu que uma

donzela dali viesse ver-me para ajustar o tamanho e descer a barra.

— A dama era Leonora — comentou Christian. — Agora condessa de Trentham.

— Trentham. — Madeline olhou para Gervase. — É outro de seus amigos,

certo? Casou-se com a vizinha do lado?

Gervase assentiu.

Ela acabou o chá e deixou a xícara sobre a mesa. Sentia-se totalmente

recuperada, pronta para enfrentar-se ao mundo e a qualquer canalha, em sua

aventura para resgatar Ben. Olhou aos homens.

Como sempre, Gervase, que bebia seu café, pareceu ler sua mente.

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— Já expliquei a Christian toda a história. — Diante de suas palavras, a

seriedade os envolveu. — Temos que decidir o melhor modo de procurar Ben.

Christian está de acordo em que é improvável que o libertem antes desta

tarde.

Seu amigo se inclinou para frente, com as mãos unidas sobre a mesa. Olhou

para Madeline aos olhos.

— Estive pensando, avaliando os modos, os melhores modos, de localizar o

Ben. —Olhou a Gervase e voltou a olhá-la antes de continuar: — É provável que

quando o libertarem, o façam nos submundos. Não vão querer que o encontremos

rápido demais, porque esse tipo quer que vocês fiquem em Londres durante alguns

dias no mínimo. Assim, deveríamos assumir que Ben se encontrará de repente

sozinho na rua, em uma zona perigosa da cidade. — Christian voltou a fazer outra

pausa e disse: — Tenho muitos contatos nos submundos de Londres. Proponho me

contatar com eles, que são basicamente os chefes supremos de cada um desses

bairros, e os alertar sobre a situação. Enviarei a eles uma descrição de Ben e lhes

direi que o quero recuperar são e salvo. Farão que corra o boato e toda sua gente o

buscará. As possibilidades que o encontrem rápido e ileso são muitas.

Madeline estudou seus olhos cinza, que a olhavam imperturbáveis.

— E qual é o inconveniente? Porque obviamente há um.

Christian esboçou um sorriso torto e inclinou a cabeça.

— Claro. Não enviarei a mensagem a menos que você o aprove. O

inconveniente é que para os chefes dos submundos de Londres o resgatar, Ben terá

que entrar em contato com eles e seus sequazes; e não seria sincero se não disser

que alguns deles são mais que repugnantes, o suficiente para fazer com que

qualquer dama desmaie.

Madeline o estudou durante um momento e afirmou: — Uma dama delicada,

talvez. Inclusive eu, talvez. Mas um menino inocente de dez anos criado no campo

com uma curiosidade insaciável? — Quando Christian ergueu as sobrancelhas,

surpreendido por sua determinação, ela olhou para Gervase. — Você sabe do que

está falando, tem experiência nisso, eu não. Mas deve recordar-se de quando tinha

dez anos, a essa idade teria escandalizado e ficado horrorizado ou teria pensado

que unir-se a essas figuras dos submundos seria uma grande aventura?

Gervase fez uma careta e olhou para Christian.

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— Não sei para você, mas para mim teria sido toda uma aventura.

— Para mim também — conveio este fazendo, a si mesmo, um gesto com o

rosto. — E qual é a alternativa? — perguntou Madeline. — Confiar em que alguém

amável e honorável o encontre primeiro? Nunca estive nesse tipo de lugar, mas não

creio que goste dessa alternativa. — Levantou-se da mesa. — Como enviaremos

essas mensagens? Posso ajudar a escrevê-las?

Christian olhou para Gervase.

— Fazemos assim, então?

Seu amigo levantou-se e assinalou a porta.

— A dama manda. Vamos à biblioteca.

Assim o fizeram. Passaram um tempo elaborando um rascunho da mensagem,

logo Christian e Madeline sentaram-se um em frente ao outro para começar a

copiar com letra elegante e legível.

Gervase andava nervoso e olhava por cima de seus ombros. Não havia lugar

para que ele pudesse sentar-se e ajudá-los e sua caligrafia não era tão clara.

— Temos muito tempo — disse Christian sem levantar a vista. — Não há

movimento nessas zonas até o meio dia. Sempre enviamos estas notas para que

eles tenham tempo de sobra de estender o boato antes que soltem o Ben em seu

território.

Gervase soltou um bufo e seguiu andando. Christian e ele estavam de acordo

em que seria mais provável que libertassem Ben na última hora da tarde. O que

significava que teriam que esperar horas...

O distante som da aldrava da porta principal fez com que se voltasse ansioso

para a porta da biblioteca.

Christian olhou também para ali quando ouviram uns firmes passos na escada;

deixou a pena sobre a mesa. Madeline, absolutamente concentrada, continuou

escrevendo. Ouviu que se abria a porta e Gasthorpe anunciava:

— O senhor Dalziel, milordes.

Ela piscou surpresa e ergueu a vista quando uma profunda voz saudou:

— Dearne. Crowhurst. Entendo que há algo que acreditam que eu deveria

saber.

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Uma primitiva premonição fez com que um calafrio a percorresse. Madeline

ficou olhando o cavalheiro que entrou na biblioteca. A primeira vista, se parecia a

Gervase e a Christian: alto, de costas largas e cabelos escuros, rosto austero e

elegante, como testemunho de seu nobre nascimento. Sem dúvida, sob seu

aspecto sofisticado e urbano havia algo mais duro e intenso, em conjunto mais

inconscientemente alarmante.

De repente, sentiu-se contente que Gervase se encontrasse, ao menos

metaforicamente, entre ela e seu ex-comandante.

Havia homens perigosos, mas também havia homens sumamente perigosos.

Dalziel pertencia à segunda categoria.

Fosse quem fosse Madeline podia ver por que Gervase e seus colegas

acreditavam que Dalziel não era um simples cavalheiro.

Gervase avançou para ele para apertar-lhe a mão.

— Alegro-me ter conseguido localizá-lo, temia que pudesse ter deixado a

cidade.

Um leve sorriso sobrevoou os lábios do recém chegado.

— Ainda não. — Voltou-se para apertar a mão de Christian e logo a olhou

brevemente antes de dirigir um olhar inquisitivo a Gervase, que dedicou um sorriso

a Madeline e se voltou para Dalziel.

—Permita-me que lhe apresente a honorável senhorita Madeline Gascoigne.

— Sim, disse a ela: — Dalziel, de quem já me ouviu falar.

Madeline ficou sentada, apesar de todos estarem de pé. Ainda que se

levantasse, eles continuariam sendo mais altos que ela e havia certa declaração

que deixava clara: as rainhas permaneciam sentadas, pelo que assim ficou frente a

ele, com a cabeça alta; sorriu com sutileza e, conscientemente imperiosa, lhe

ofereceu a mão.

— Bom dia, senhor.

Captou outro levíssimo sorriso nos lábios de Dalziel quando lhe tomou os dedos

e com grande correção se inclinou sobre eles. — É uma honra, senhorita Gascoigne,

ainda que acredite que o motivo de vir à cidade foi uma circunstância bastante

desagradável.

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— Exato. Um canalha seqüestrou meu irmão pequeno. — Madeline olhou para

Gervase, que indicou a Dalziel que se sentasse.

— Sente-se e lhe explico toda historia. Será melhor que comece pelo principio.

O homem se acomodou em uma poltrona, cruzou as pernas com elegância e

assentiu.

— Estou ouvindo.

Enquanto Gervase relatava a história de como seus irmãos encontraram o

broche e, a seguir, onde Madeline o havia usado; a informação que reuniram sobre

a possível procedência da jóia, o desaparecimento de Ben e tudo o que sabiam a

respeito; ela se voltou para a escrivaninha e continuou escrevendo as notas de

Christian.

Christian também continuou, mas de vez em quando erguia a vista, franzia o

cenho e a tinta secava em sua pena quando se distraía com a história.

Madeline não se aborreceu em recordar sua tarefa. Só faltavam poucas notas

para escrever e eram apenas onze horas.

Christian dissera que poderia ser contraproducente enviar as mensagens antes

do meio dia e, ao menos, escrevê-los lhe dava algo com o que passar o tempo,

fazia com que se sentisse ativamente envolvida na tarefa de resgatar Ben.

Com os lábios apertados, seguiu escrevendo, consciente que Dalziel fazia

perguntas e Gervase as respondia.

Pode ver e compreender que Dalziel podia ser intimidante, mas não era uma

ameaça e a única coisa que a ela importava era se poderia ajudá-los a resgatar Ben

e se desejava fazê-lo.

— Então, esse broche poderia ser a chave. — O homem franziu o cenho;

Gervase lhe havia dado uma breve descrição da jóia. Fez uma careta. — Oxalá o

houvesse trazido.

Madeline levantou a cabeça.

— Eu o trouxe. — Colocou a mão no bolso de seu vestido emprestado e tirou o

pesado broche. Pegou-o de seu próprio vestido, porque desejava levá-lo com ela.

Deixou a pena, voltou-se da escrivaninha e estendeu o prendedor a Dalziel; quando

ele o pegou em sua palma, a jovem olhou a Gervase. — Pensei que se por acaso

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nos encontrássemos com esse tipo cara a cara, poderia estar disposto a trocar Ben

por sua jóia.

Ele a olhou nos olhos e logo olhou a Dalziel. Madeline o fez também, assim

como Christian. O comandante não disse nada, não fez nenhum movimento para

atrair sua atenção; foi sua imobilidade, a intensidade concentrada desta que captou

a atenção de todos.

Com o broche entre os longos dedos, o fitava como se fosse o Santo Graal.

— Deus santo — sussurrou.

Como continuou sumido em um atônito silêncio, Christian perguntou vacilante:

— O que foi?

Dalziel tomou uma longa inspiração e se recostou em seu assento. Apoiou o

broche no braço deste enquanto seus dedos percorriam as curvas, as pedras.

— Nossos caminhos, ao que parece se cruzam novamente.

Seu tom era distante, ausente, Madeline fitou Gervase, que parecia tão confuso

como ela.

Sem afastar a vista do broche, Dalziel, finalmente, disse: — Deixe que lhes

diga o que me retém em Londres; uma das coisas pelo menos. Como nós, os

membros deste clube e eu sabemos, há uma pessoa, um inglês, um membro da

aristocracia, que foi espião francês durante as guerras, mas que não foi detectado.

Continua iludindo-nos a mim e a todos os demais, mas sabemos que existe e que é

um homem de carne e osso. — Fez uma pausa, ergueu a vista para Gervase e a

desviou depois para Christian. — Os homens de carne e osso frequentemente

exigem algo por seus serviços. Durante anos, tivemos montada uma rede que

identificava todos os pagamentos que procediam dos canais habituais em dinheiro

vivo, por transferência ou através de qualquer outro meio monetário normal.

Tomamos nota de todas essas transações, deixando sem responder a pergunta de

como se pagava ao nosso esquivo traidor.

Seus longos dedos golpearam levemente o broche.

— Depois de Waterloo, inclusive antes disso, começamos a receber informes

das novas autoridades francesas. Estavam dispostas a trabalhar conosco para

rastrear qualquer pagamento feito pelos chefes dos espiões de Napoleão. Claro,

continuamos sem conseguir nada, que não descobríramos já, até que um

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empreendedor funcionário francês iniciou um inventário dos palácios e das obras de

arte e objetos que continham, das coleções de jóias acumuladas pelas diversas

famílias nobres dos antigos regimes. Começou a informar sobre peças

desaparecidas. Não saques a grande escala, mas de uma peça aqui, outra ali. A

princípio supôs-se que se tratasse de objetos extraviados, o resultado natural do

transtorno da guerra, mas à medida que foi descobrindo mais desaparecimentos,

começou a perceber um padrão. Foi quando falou com seus chefes e me enviaram

sua lista.

Dalziel apertou seus escuros olhos e levantou o broche, girando-o devagar

entre os dedos.

— Os surpreenderia descobrir que nessa lista há uma fíbula ovalada que data

da época de Carlos Magno, uma peça de ouro celta com diamantes que rodeiam

uma grande esmeralda retangular?

Sua voz se perdeu em um absoluto silêncio, que Madeline finalmente

interrompeu:

— Está dizendo que o homem que está atrás do broche, o qual busca uma

mercadoria da qual este toma parte, o que tem a Ben, é esse traidor sem

identificação?

Dalziel a olhou.

— Eu temo que sim. — Deteve-se e acrescentou: — De fato, isso aumenta as

possibilidades de seu irmão ser libertado ileso quando identificar a praia para nosso

traidor. Nosso homem é cuidadoso e astuto, só matou uma vez, até onde sabemos,

e se viu obrigado a fazê-lo, quando um colaborador seu que conhecia sua

identidade se viu encurralado. O assassinato atrai demasiada atenção. Só quer

deixar Ben perdido durante um tempo, mais para mantê-los ocupados do que para

outra coisa. Gervase e Christian estão certos nisso. — Olhou a jóia. — Agora que

sabemos que é ele, as coisas tem mais sentido.

Ficou admirando o broche, se inclinou para frente e, com cuidado, o devolveu a

Madeline.

— Passe o que passar, por favor, não se ofereça a devolvê-lo. Se o pedir e não

houver alternativa vale, mas você não o ofereça.

Ela estudou a jóia, sentiu seu peso na palma. Compreendeu por que ele a havia

devolvido e apreciou sua compreensão.

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Ergueu a vista e lhe susteve o olhar.

— Obrigada, não o farei.

Dalziel assentiu e se voltou para Gervase.

— Creio que podemos concluir que vosso canalha é, de fato, nosso velho

inimigo, e está atrás dessa mercadoria. Não é de estranhar que fosse o bastante

prudente para não aceitar os pagamentos em moeda francesa, e muito cuidadoso

em esperar até agora para trazer seus lucros adquiridos de forma ilícita para a

Inglaterra, usando contrabandistas franceses para fazê-lo.

Era muito mais seguro esconder o pagamento de sua traição na França

enquanto Napoleão estava no poder e trazê-las agora, muito depois de acabada a

guerra e, como ele deduziu, quando ninguém vigiava mais.

Gervase assentiu com o olhar fixo no broche.

— Tudo tem sentido.

— Claro. Já estabelecemos qual é o tipo de homem. Não necessita dinheiro,

mas objetos como esta jóia — Dalziel observou como Madeline voltava a guardá-la

no bolso, — os tesouros de reis e imperadores se supunham um verdadeiro

incentivo, algo que só ele foi inteligente e poderoso para ganhar, algo que ninguém

mais terá nunca.

Christian soltou um bufo.

— Símbolos de sua grandeza.

Dalziel assentiu e se levantou em um arranco de nervosa energia.

— Quer essa mercadoria. Depois de todo este tempo, de todos seus planos, da

espera de seu momento de triunfo, estará obcecado em recuperar seu tesouro. —

Esboçou um glacial sorriso. — E os homens obcecados cometem erros.

Olhou para Gervase.

— Passe o que passar esta tarde partirei para Cornualha.

O rosto de Gervase se endureceu.

— Madeline e eu não iremos daqui até não encontrarmos Ben.

Dalziel assentiu.

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— Os ajudarei em tudo o que estiver em minhas mãos, mas esta pode ser a

nossa última oportunidade de prender esse homem e não podemos deixá-la

escapar.

— Teremos que encontrar Ben primeiro — afirmou Madeline.

O homem voltou a assentir, mais brevemente.

— Porei todos os meios ao meu alcance a vossa disposição antes de partir...

— Não, não o entende. — Sua voz tinha a suficiente decisão para fazer com

que Dalziel lhe franzisse o cenho.

— O que é que não entendo?

Madeline sabia que se supunha que devia sentir-se intimidada por aquela voz,

por sua gélida dicção, mas agora o tinha calado, assim lhe susteve o olhar com

calma. — A península de Lizard é grande. Não poderá vigiar todas as praias, nem

tampouco poderá controlar o acesso a própria península. Há caminhos demais para

chegar a ela, incluindo o mar. Para prender ao seu último traidor, necessitará saber

a qual praia se dirige. E enquanto não encontrarmos o Ben não o saberemos.

O gesto robusto de Dalziel não desapareceu.

— Mas se sabemos de qual praia saiu o broche.

Madeline assentiu.

— Sim. Mas como Edmond, outro de meus irmãos, assinalou, é muito provável

que Ben minta.

A rudeza de Dalziel se evaporou e foi substituído por uma expressão de

frustração. Ao fim de um momento, deixou-se cair de novo em sua poltrona.

— Não lhe ensinou a não mentir?

Ela sorriu para si diante de seu protesto.

— Sim, mas as lições não funcionam com Ben. Talvez quando estiver maior. De

todo modo, atualmente, sabe mentir que é uma maravilha, tem tanta... — fez um

gesto — soltura, e inclusive quando sei que está mentindo, faz com que eu acredite

que poderia estar equivocada.

Dalziel olhou fixamente ao solo e fez uma careta.

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— Muito bem. — Levantou a cabeça, fixou a vista primeiro em Christian e logo

em Gervase. — Como vamos localizar o menino?

Reprimindo um sorriso, Madeline regressou a escrivaninha. Acabou de escrever

a última das notas enquanto ao seu redor tinha lugar uma ampla discussão sobre

como verificar Londres, sobretudo os submundos.

Dalziel estava planejando contatar com diversos comandantes da Guarda Real

quando ela deixou a última nota sobre a pilha. Consultou o relógio. Faltavam vinte

minutos para as doze. Voltou-se para Christian com intenção de sugerir-lhe que

fizesse chamar aos serventes que havia pedido a Gasthorpe que lhe

proporcionasse, quando a aldrava da porta principal soou, não uma nem duas

vezes, mas repetidas e persistentemente.

Os três homens guardaram silêncio e se voltaram para a porta da biblioteca.

Estava fechada e amortizava os sons que chegavam do vestíbulo, no piso inferior,

mas os golpes tinham parado.

Madeline aguçou o ouvido e ouviu uma leve voz que perguntava

educadamente...

Levantou da cadeira, passou junto a Dalziel e abriu a porta da biblioteca antes

que qualquer dos homens pudesse sequer piscar. Correu a toda velocidade para a

escada, com o coração na boca. Deteve-se no patamar e olhou para baixo, ao

vestíbulo, ao grupo reunido diante da porta. Levantou a saia e desceu correndo.

—Ben! — Não podia acreditar no que viam seus olhos, mas ali estava seu

irmão; viu o alívio que inundou seu rosto quando ergueu os olhos para ela sem dar

crédito a seus olhos, do mesmo modo que Madeline não o dava aos seus próprios.

Atraiu-o para seus braços e o estreitou com força. Recordou justo a tempo que

não devia levantá-lo do solo, mas abaixar-se e pegá-lo a seu corpo, enquanto lhe

passava as mãos por todas as partes.

— Está bem? — Tinha a roupa cheia de pó, enrugada e manchada, mas não

rasgada nem imunda.

Ben assentiu, e a apertava com a mesma força que ela a ele. Mas então,

afastou-a e, a contragosto, Madeline se obrigou a soltá-lo. O menino a olhou no

rosto.

— Esse homem...

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Calou-se quando viu Gervase, que descera a escada com Dalziel e Christian às

suas costas. Ben sorriu um pouquinho tímido e saudou ao primeiro com a cabeça.

— Olá. — Olhou a Dalziel, logo a Christian; seus olhos se arregalaram, logo de

novo a Gervase quando este se aproximou.

Sorrindo, lhe apoiou uma mão no ombro e o apertou levemente.

— Não tem nem idéia de como estamos contente de vê-lo. Mas como escapou?

E como sabia que tinha que vir aqui?

Ben o olhou no rosto.

— Você me disse, recorda?

Quando estávamos pescando, você falou do seu clube em Londres. Disse que

estava em Montrose Place. Quando esses horríveis homens me jogaram da

carruagem em uma espantosa rua — olhou a Madeline — que cheirava mal e estava

suja e onde as pessoas pareciam más, encontrei um coche de aluguel.

Deu a volta e assinalou a um individuo corpulento que observava da porta

principal aberta.

— O coche de aluguel de Jeb. Eu lhe disse que era amigo seu, de lorde

Crowhurst do castelo de Crowhurst, e que se me trouxesse ao seu clube em

Montrose Place, as pessoas daqui lhe pagariam o dobro de sua tarifa.

Olhando a Gervase, Ben abriu muito os olhos.

— Pagará a Jeb o dobro por trazer-me aqui, certo?

— O dobro, não. O triplo. Com uma propina. — Dalziel passou por diante de

Gervase até a porta, enquanto buscava no bolso. — De fato, o quádruplo da tarifa

não seria demasiado nas circunstâncias atuais.

Jeb o olhou estupefato. Pegou as moedas que Dalziel lhe oferecia e ficou

contemplando-as.

— Não, isto é demasiado.

— Não — replicou Dalziel. — Acredite-me, não o é. Se por mim fosse, lhe daria

uma medalha.

Jeb parecia inseguro.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— A única coisa é o fato de trazer o menino até aqui de Tothill é que não está

tão longe. — Ainda assim. Hoje fez ao nosso país um grande serviço. Se eu

estivesse em seu lugar, tomaria o resto do dia livre.

— Sim. — Jeb balançou a cabeça enquanto contemplava o esplendido

pagamento na palma de sua mão. — Certamente farei isso. — Inclinou a cabeça,

começou a sair, mas voltou-se e se moveu para ver a Ben, além de Dalziel e

Gasthorpe. — Sempre que voltar a capital, garoto, procure o Jeb.

Ben esboçou seu enorme sorriso infantil.

— Eu o farei. Adeus. E obrigado!

— Parece que sou eu quem deveria agradecer — resmungou o cocheiro

enquanto se afastava pelo caminho para a rua, onde o esperava pacientemente sua

égua.

Dalziel voltou-se para o grupo reunido no vestíbulo. Ben o olhou curioso e

intrigado.

— Não o conheço.

Dalziel lhe sorriu; Gervase piscou diante do gesto. Não era a classe de sorriso

que estava acostumado a ver de seu ex-comandante. Dizer que era juvenilmente

encantador era ficar muito bobo.

— Ainda não me conhece, mas me conhecerá. — Com o olhar fixo em seu

rosto, lhe indicou a escada. — Subamos a biblioteca e ali poderá contar-nos tudo,

poderá explicar-nos com cabelos e sinais seu seqüestro, confinamento e fuga. —

Sem nenhum esforço, com nada mais que um olhar, atraiu a Ben para si e se

voltou com ele para a escada. — Já tomou o café da manhã?

— Não. — Pensar em comida fez com que o menino se detivesse em seco e

começasse a virar-se para Madeline.

— Não importa, Gasthorpe... Já conheceu o temível Gasthorpe, verdade?

Ben esboçou um tímido sorriso para o mordomo, que havia fechado a porta e

se encontrava ao lado do vestíbulo, esperando ordens.

— Gasthorpe — continuou Dalziel enquanto com um só toque no ombro de Ben

guiava o menino escada acima — trará um desjejum adequado para sua idade.

Poderá comer enquanto tranqüiliza a sua irmã.

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Ben se voltou para olhar Madeline, mas ao ver que ela os seguia com Gervase

ao seu lado e encontrar-se com seu sorriso de ânimo, o menino sorriu, olhou a

frente e subiu a escada alegremente.

Quando todos estavam na biblioteca, acomodados nas poltronas ao redor da

lareira e enquanto Ben devorava o sanduíche de presunto e queijo que Gasthorpe

lhe levara, Gervase olhou para Christian nos olhos e viu sua própria confusão

refletida neles. Estava muito claro quem se autoproclamara interrogador de Ben.

Por um momento, Gervase pensou se deveria ofender-se pela usurpação de

Dalziel, mas desejava que o menino o considerasse a ele um amigo inofensivo e

sempre leal, e agir como interrogador, mesmo que de um modo relativamente

suave, não seria um bom modo de alimentar um vínculo como esse. Assim, se

recostou em sua poltrona e observou bastante fascinado, como seu ex-comandante

mostrava um lado de si mesmo que nenhum de seus ex-agentes imaginava que

tivesse.

Sentado em frente ao pequeno, em uma poltrona, comodamente entre a de

Gervase e a de Madeline, Dalziel irradiava a classe de confiança evidente que lhe

garantia a atenção de um garoto; a autoridade que essa confiança ocultava era

sutil e estava ali, aportando a sua interpretação um toque quase irresistível.

Aguardou com fingida paciência até que Ben acabasse com o sanduíche e o

copo de leite antes de começar, com um sorriso alentador.

— E bem, comecemos pelo momento em que estava sentado no banco fora da

taberna de Helston. O que disse o homem que se aproximou?

Inclinando-se para frente na poltrona, Ben respondeu diligentemente:

— Perguntou-me como chegar ao caminho para Londres. Disse que tinha de

encontrar-se ali com um homem em uma carruagem, que estava perdido e que

chegava tarde. Ofereceu-me um xelim se lhe mostrasse a rota mais rápida.

Ruborizou-se e olhou Madeline.

— Sei que não deveria ter aceitado o dinheiro, mas não estava longe e, era de

dia e havia gente por toda parte.

Ela alongou o braço e lhe acariciou a mão.

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— Claro — comentou Dalziel com tom firme. — Assim já sabe que não deve

voltar a fazê-lo. Então, levou a esse homem até o caminho de Londres, ele te

pegou e te colocou na carruagem.

Ben assentiu.

— Era uma grande carruagem negra de viagem.

Levava quatro cavalos.

— E te amarraram, te amordaçaram e te trouxeram até Londres.

— Sim. — Ben fez uma pausa e acrescentou: — Mas não me fizeram mal, nem

sequer quando lhes dei patadas nas costas.

Dalziel assentiu.

— Tinham ordens de mantê-lo são e salvo. — Deteve-se uns segundos antes de

continuar: — Assim, o trouxeram a Londres, a algum lugar dos submundos.

— Eram os submundos? — O menino olhou para Gervase, que assentiu. —

Estava muito sujo.

— Suponho que sim — comentou Dalziel. — Chegou esta manhã cedo e

retiveram você ali, mas não por muito tempo.

— Na carruagem, no principio, me disseram que só me levavam para ver a um

cavalheiro que desejava perguntar-me uma coisa. Não podia entender por que

tinha que vir a Londres para isso; mas me garantiram que eles não sabiam o que

queria perguntar-me, só cumpriam ordens. Disseram que não era dos que davam

explicações — deteve-se, logo deslizou a mão pelo braço da poltrona para pegar a

de Madeline. — Disseram que se soubesse o que era bom para mim, lhe dissesse o

que queria saber, e rápido. — Olhou a Dalziel. — Não estavam brincando. Creio que

tentavam advertir-me.

O comandante ergueu as sobrancelhas.

— Às vezes, encontra-se honra entre ladrões. Assim,... Levaram você ao

encontro desse homem esta manhã.

O menino assentiu.

— Ficaram comigo toda a noite em uma sala que cheirava muito mal, depois

das dez da manhã... Sei por que podia ouvir os sinos, me disseram que era hora de

ir vê-lo.

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— Aonde o levaram? — A tensão na voz de Dalziel era difícil de detectar, mas

estava ali.

— Ao piso de baixo. Na outra sala.

Não vi, porque me taparam os olhos, mas dava a impressão que estava mais

limpa.

Dalziel trocou um rápido olhar com Gervase. — Parecia um bordel, com uma

sala mais limpa abaixo para receber os ―hóspedes‖, uma sala que estaria vazia pela

manhã.

Dalziel olhou a Ben e repetiu, Gervase suspeitou que por Madeline:

— Então tinha os olhos tapados, pelo que não viu o cavalheiro, o que

perguntou para você?

Planejara poucas perguntas ao menino. Em lugar disso, fazia afirmações,

explicava a historia de Ben e deixava que o garoto o corrigisse ou complementasse.

Este negou com a cabeça e franziu o cenho enquanto recordava.

— Era um cavalheiro, falava como nós. — Com a cabeça tombada, olhou a

Dalziel. — Soava muito parecido a você.

O comandante assentiu devagar.

— Um cavalheiro da alta sociedade, um membro da aristocracia, isso

acreditamos que é. Como você disse: um de nós. Falou com você... O que lhe

disse?

— Que se respondesse a sua pergunta ele diria aos homens para me

acompanhar pelas ruas por um trecho e me deixar ir. Que poderia regressar a

Cornualha com minha família. Avisou-me que saberia se estivesse mentindo. —Ben

se ruborizou.

Dalziel sorriu.

— E você respondeu a sua pergunta e lhe disse que você e seus irmãos

encontraram o broche que presentearam a sua irmã pelo seu aniversário em... Em

qual praia?

Ben franziu o cenho.

— Como sabe que era isso que ele queria saber?

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— Porque é um traidor ao qual estou perseguindo durante algum tempo. E sua

irmã e Crowhurst perceberam que era algo relacionado com o broche. — Fez uma

pausa quando o menino soltou uma exclamação de surpresa, mas insistiu: —

Então... A qual praia o enviou?

Ben se moveu e olhou a Madeline.

— Eu menti. Não queria que encontrasse nosso tesouro, se é que está

enterrado na areia, e pensei que não se importaria se eu mentisse. — Apertou a

mandíbula. — Ele é um homem mau e mostrou isso me seqüestrando dessa forma.

Ela sorriu e lhe apertou a mão que ainda segurava.

— Era razoável a mentira.

Mais tranqüilo Ben olhou a Dalziel.

— Disse-lhe que encontramos o broche em Kynance Cove.

Gervase captou o olhar que Dalziel lhe dirigiu, com as sobrancelhas levemente

erguidas.

— Está no outro lado da península em relação à Lowland Point, a praia onde

realmente encontraram o broche e onde Charles e Harry estão montando guarda.

— Darão conta se nossa presa se dirigir a essa outra praia? — Dalziel se mexeu

para frente, preparando-se para levantar-se.

Gervase negou com a cabeça e se levantou também.

— Não está perto. Nosso homem poderia levar ali um pequeno exército e só

uns poucos granjeiros...

— Um momento! Espere — pediu Madeline.

Guardou silêncio e olhou ao seu redor.

Logo lhes voltou a indicar que se calassem.

Tinha o olhar fixo em seu irmão.

— Ben, por que Kynance?

O menino se retorceu e olhou a Dalziel, que não reagiu, olhou a Gervase antes

de voltar a dirigir a vista para sua irmã.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Porque é a cala que os saqueadores usam. Não só para esconder suas

coisas. Não saíram este verão, mas suas embarcações estão ocultas em alguma das

cavernas e se reúnem ali também.

Inspirou antes de olhar a Dalziel.

— Eu o enviei ali porque é um homem mau e qualquer que o acompanhe

também; assim vai encontrar-se com alguém de nossa gente, deveria ser com os

saqueadores, que são inclusive piores que eles.

Dalziel ficou imóvel durante um momento e olhou a Gervase.

— Realmente tem saqueadores ali?

Ele confirmou e seu rosto se tornou inexpressivo quando imaginou o que

poderia acontecer.

— Oh, sim. — Voltou a olhar ao seu comandante. — Poderia ser um banho de

sangue.

Dalziel refletiu e arqueou as sobrancelhas. Olhou a Ben com um sorriso nos

lábios. — Um pouco sanguinário, talvez, mas em geral isso seria muito bem feito.

O pequeno pareceu aliviado, voltou-se para Madeline e sorriu. O comandante

se levantou, assim como Gervase e Christian, e sorriu sinceramente com o aspecto

de um lobo impaciente para lançar-se sobre sua próxima vítima.

— Acho que a única coisa que temos que fazer é regressar a toda velocidade a

Cornualha e prender ao nosso refinado traidor em Kynance Cove.

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Capítulo 18

Madeline estava mais que farta de sofrer as sacudidas de uma carruagem que

viajava a toda velocidade. O único aspecto que fez essa segunda viagem suicida

infinitamente mais suportável em primeiro lugar foi ver Ben encolhido no assento,

com a cabeça em seu colo, dormitando enquanto avançavam a toda velocidade.

Era o meio da manhã; como no trajeto de ida, viajaram durante toda a noite e

só haviam parado para mudar os cavalos. Gervase, Ben e ela lideravam a marcha

em sua carruagem alugada, com os mesmos cocheiros de Cornualha no pescante.

Christian e Dalziel os seguiam de perto em um bom veículo com o escudo de armas

do marques de um lado.

Isso e a muda rivalidade entre os cocheiros de Christian e os deles, contribuía,

mais que qualquer outra coisa, para sua velocidade. Haviam abandonado Londres

uma hora depois de Ben ter revelado tudo. Agora, apenas vinte e quatro horas

mais tarde, se aproximavam de seu destino.

Madeline olhou pela janela.

— Estamos quase chegando a Helston. Aonde deveríamos ir primeiro? —

perguntou a Gervase.

— Os lábios dele se curvaram mais em um gesto tranqüilizador que em um

sorriso.

— Eu disse aos dois maníacos lá de cima que vamos diretos a Treleaver Park.

Conhecem o caminho.

Ela assentiu e voltou a olhar pela janela, consciente que uma estranha urgência

aumentava em seu interior.

Precisava chegar a casa, confirmar que Harry e Edmond estavam bem, que não

havia sucedido nada durante sua ausência.

Um forte impulso de confirmar que tudo em seus domínios; todas as pessoas

que lhe importavam e considerava sob seu cuidado estavam a salvo, que tudo

estava como deveria estar, que aquele traidor desconhecido não havia feito ainda

nenhum movimento. E, como sempre, Gervase pareceu ler sua mente.

— Pode ser que esse canalha chegou antes de nós, mas não nos escapará,

desta vez não. Irá a Kynance Cove e o prenderemos lá.

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Madeline estudou seus olhos, de um escuro âmbar no interior da carruagem.

— Acredita que a carruagem que vai à frente é a dele?

Gervase assentiu.

— Parece provável. — Perguntaram aos rapazes dos postos nos quais haviam

parado uma vez fora de Londres, quando viajaram durante a noite. Ficou claro que

uma carruagem ia à frente deles. Só levava um ocupante, descrito uma e outra vez

como um cavalheiro da alta sociedade e cabelos escuros, mas ninguém o

reconheceu o suficiente para dar o nome.

Não muita gente se arrisca a percorrer os caminhos, nem sequer os mais

importantes, pela noite, não a essa perigosa velocidade que eles viajavam.

Gervase continuou:

— Ele saiu com menos de duas horas de vantagem, possivelmente mais, e

conduz uma carruagem com quatro cavalos, muito mais ligeiro e rápido que nós.

Seguramente terá chegado à península esta manhã, mas ainda que vá direto a

Kynance e comece a procurar, como não há nada para encontrar lá e é uma praia

de grandes dimensões, continuará procurando ainda, quando chegarmos e

poderemos capturá-lo.

Madeline franziu o cenho.

— Não estará procurando sozinho. Com uma única olhada a Kynance perceberá

que necessitará ajuda. — Olhou a Gervase nos olhos. — Terá outros homens lá? A

quem recrutará?

— Não sei, mas é possível que já tenha homens na zona aos quais possa

recorrer como os dois que levaram Ben. Normalmente planeja tudo com cuidado e

é extremamente precavido. Tem que ser para ter escapado das garras de Dalziel.

Ela soltou um bufo.

— O seu ex-comandante disse que esse traidor está obcecado... Parece-me que

ele é outro homem que parece obcecado.

— Certo, mas Dalziel está há anos atrás dele e durante os últimos seis meses,

enquanto ligava todos os fatos que ficaram soltos após a guerra, esteve tentando

quase exclusivamente prendê-lo.

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Não ficará bem, nem a ele, nem, de fato, a nenhum de nós sete, ter que deixar

este último traidor escapar das mãos; não agora que sabemos que é real.

Deteve-se um momento e acrescentou:

— Inclusive agora que sabemos que foi pago com objetos como seu broche.

Dalziel mencionou que havia mais de trinta peças similares que os franceses

consideravam desaparecidas do mesmo estranho modo. Com todas essas jóias que

são consideradas de inestimável valor, o total é uma verdadeira fortuna. Em vista

do que ele deve ter oferecido em troca se lhe outorgava semelhante preço... — Seu

rosto se endureceu. — Não só Dalziel quer vê-lo na forca.

Ao ouvir seu próprio tom, Gervase olhou a Ben e se sentiu aliviado ao ver que

continuava dormindo. Não era necessário que sentisse medo depois; o menino

tinha passado um inferno sem sofrer danos perceptíveis. A única indicação de que

ficara muito assustado era o modo em que mantinha a mão de sua irmã fortemente

agarrada. A carruagem reduziu a velocidade. Em seguida, ouviram o repentino

golpear das rodas sobre os calçamentos.

— Helston. — Madeline contemplou as familiares fachadas.

Ben despertou e se incorporou.

Bocejou, esfregou os olhos e olhou ao seu redor animado.

— Estamos quase em casa.

Madeline sorriu. Bagunçou-lhe os cabelos e, depois, com os dedos, voltou a

arrumá-los.

— Sim. Quase.

Atravessaram a cidade e depois continuaram para o sul pelo caminho que

atravessava a península até Lizard Point. A três quilômetros de Helston, a

carruagem virou para o este pelo caminho para Coverack. Atravessaram os portões

de Treleaver Park meia hora mais tarde e subiram pelo longo caminho da entrada.

Pararam no pátio dianteiro, com o barulho do cascalho e o ruído dos cascos dos

cavalos.

Ben estava apoiado na porta da carruagem, preparado para descer de um

salto. Quando o coche se deteve, abriu e saiu. Enquanto Madeline se mexia sobre o

assento para segui-lo, olhou ao seu redor.

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Os rapazes chegaram correndo detrás da casa; atrás deles, viu que Harry,

seguido por Charles, aparecia na varanda dianteira.

Os dois se detiveram e observaram a Ben, que conversava com os rapazes de

quadra e os cocheiros. Madeline sorriu esperando ver como desaparecia a tensão

que atormentava Harry e Charles... Não o fez. Com rosto sério, desceram da

varanda e se aproximaram das carruagens, com Harry na frente.

— Algo vai mal. — Uma espécie de terror a embargou, mas podia ver Harry,

são e salvo e Ben dançando exageradamente.

Gervase olhou fora. Com delicadeza, a fez retroceder, desceu da carruagem e a

ajudou a sair. Madeline ergueu a vista quando Harry chegou até eles.

— O que acontece?

Seu irmão parecia atormentado, mas totalmente ileso. Lançou uma olhada de

impotência a Gervase e logo olhou para ela nos olhos.

— Pegaram Edmond.

―O que?‖ Nem sequer pode dizê-lo em voz alta. O pânico a sufocou.

Dalziel e Christian tinham se aproximado.

— Quem é Edmond? — perguntou o comandante.

Harry piscou e respondeu:

— Meu irmão.

— Um ano mais jovem que Harry. — Madeline sacudiu o pânico. Os dedos de

Gervase tinham se cerrado ao redor dos seus, duros, firmes, recordando-lhe que

não tinha tempo para deixar-se levar pelo medo. — Como? Supunha-se que estaria

aqui, a salvo, em casa.

Charles fez uma careta; parecia anormalmente sério.

— Nós acabamos de receber a notícia. Entrem e poderemos escutar a historia.

Fez Harry retroceder e assinalou a Ben.

— Você deve ser Ben.

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Tão curioso como sempre, o pequeno se colocou ao lado de Harry esperando

que o apresentassem. Madeline tentou respirar através da forte opressão que

sentia no peito. A mente corria a mil por hora.

Gervase entrelaçou o braço com o seu e se inclinou para ela.

— Tudo irá bem. Recuperamos Ben e também recuperaremos Edmond.

Madeline encheu os pulmões e levantou a cabeça. Olhou para Christian e para

Dalziel, os dois aguardavam que ela os precedesse, percebeu mais que viu seus

assentimentos, seu compromisso com aquela causa. Sem dúvida, não estava

sozinha. Levantou um pouco mais a cabeça e assentiu.

— Claro. Entremos.

No vestíbulo, viu um pequeno grupo reunido ao redor dos homens, Crimms, o

rapaz dos meninos, e Abel Griggs, ambos estavam sentados em umas cadeiras de

respaldo reto e estavam sendo atendidos por numerosos empregados; Milsom e

Ada estavam ali, com duas donzelas mais e um servente.

Muriel, com um xale rodeando seus delgados ombros, estava supervisionando

tudo.

— Mantém essa compressa apertada, Abel Griggs, ou não poderá voltar a ver o

sol se por, com esse olho.

O homem grunhiu, mas fez o que lhe ordenavam. Ficou claro que os dois

homens haviam sido golpeados; Abel tinha um enorme inchaço na frente e um olho

roxo, enquanto que Crimms estava triste; pálido e machucado por toda parte. Sua

casaca estava cheia de pó e rasgada.

Horrorizada, Madeline ficou olhando-os. Não podia imaginar como Abel Griggs

havia chegado ao vestíbulo de sua casa, e muito menos em semelhante estado.

Olhou a Harry e a Charles, que tinha um aspecto indubitavelmente sombrio.

— O que sucedeu?

Charles repetiu em tomo cortante:

— Foram atacados e agredidos. Golpearam-nos com porretes e os deixaram

inconscientes no caminho. Sem embargo... — Deteve-se e tomou uma profunda

inspiração. — Para começar pelo princípio, Harry e eu ficamos vigiando a praia. —

Olhou a Gervase. — Penny está no castelo com os cachorros. Disse-lhe que nos

informasse se ouvisse qualquer coisa que pudesse estar relacionada com isto.

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Gervase assentiu. Charles continuou: — Esta manhã, Harry e Edmond

comentaram que nossa posição não era forte se esse canalha chegasse pelo mar.

Chegaria à praia antes que pudéssemos alcançá-lo e se fosse de noite, poderia

ser que nem sequer o víssemos. Tampouco poderíamos manter a todos nossos

homens constantemente na praia... Falamos de buscar reforços. Os meninos

sugeriram, e eu estava de acordo, que deveríamos notificá-lo aos contrabandistas

locais, não só para perguntar-lhes se estariam dispostos a unir-se a nós, e também

para assegurar-nos que não se veriam atraídos por esse tipo para o lado

equivocado.

— Um arrazoado muito bom — comentou Gervase. — Suponho que por isso

Abel está aqui?

Charles assentiu.

— Edmond se ofereceu a cavalgar até Helston para explicar-lhe. Ele conhece a

Griggs e sabia onde encontrá-lo. Enviamos Crimms com Edmond, claro. — Charles

olhou a Abel Griggs. — A única coisa que pude averiguar até o momento é que os

atacaram enquanto cavalgavam de regresso e seus assaltantes levaram Edmond.

Gervase olhou a Crimms; o rapaz apenas estava consciente. Dirigiu a vista

então para Abel, que o olhava por baixo da compressa.

— O que aconteceu, Abel? Edmond te encontrou?

O homem assentiu.

— Sim, me encontrou. Explicou a historia, que poderia haver algo de ação em

Lowland Point, e me perguntou se poderia ajudar. Disse-me... — assinalou a

Gervase com a cabeça — que você e alguns amigos seus estavam envolvidos e que

não era nada raro, mas que poderia haver algo de animação.

Encolheu os ombros.

— Os rapazes estiveram tranqüilos durante algum tempo. Desde o final da

guerra não tivemos muitos motivos para jogar os barcos ao mar. Parecia, como

disse esse garoto, Edmond, que poderia ser uma desculpa para molhar nossas

quilhas. Assim, enviei uma mensagem aos rapazes e sai com o jovem Edmond e

Crimms para aqui, depois nos atacaram.

— Onde? — perguntou Gervase.

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— Justo nos postos de Helston. — O olho bom de Abel se perdeu na distância.

— Uma carruagem passou voando, nós nos afastamos a um lado para deixá-lo

passar. Um cavalheiro totalmente coberto com um cachecol e um chapéu e uma

dama com uma capa. Não reconheci a nenhum deles, mas os dois eram de nível,

sem nenhuma dúvida. Deixaram-nos no meio de uma nuvem de pó e seguimos

cavalgando. Chegamos ao cruzamento do caminho que leva até Lizard, uns dez

minutos mais tarde um grupo de homens saltou da vala e de trás da cobertura que

tem lá. Alguns levavam porretes. Tiraram-nos dos cavalos. Lutamos, mas eram no

mínimo mais de seis. A Crimms e a mim nos deram por mortos. Sim, senhor. Mas

era Edmond que eles queriam.

Abel olhou a Madeline, que estava abaixada entre Muriel e Harry, com Ben

abraçado diante dela.

— Não lhe fizeram mal, só o levaram.

— Alguma idéia de onde? — perguntou Charles.

Abel olhou aos homens com o olho bom.

— Essa é a questão! Que me matem se essa carruagem, com o cavalheiro e a

dama com ele, não estavam esperando um pouco mais a frente no caminho que vai

a Lizard.

Parecia que esses bastardos, desculpem senhoras, estavam arrastando Edmond

para a carruagem, logo um deles me viu olhando e me golpeou outra vez.

— Apertou a compressa contra o inchaço da frente. — Isso é a última coisa que

recordo.

Madeline reagiu. Olhou ao mordomo.

— Milsom, por favor, traga um brandy para o senhor Griggs e para Crimms.

Abel inclinou a cabeça.

— Muito obrigado, senhora. — Olhou a Gervase. — Quando recuperamos os

sentidos, Crimms e eu, conseguimos pegar nossos cavalos e pensamos que o

melhor seria vir aqui para informar o sucedido.

Ele concordou.

— Bem feito. — Olhou a Crimms, que ainda tinha o rosto pálido, depois a

Madeline. — Deveríamos mudá-lo ao salão para falar.

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Ela piscou e assentiu.

— Sim, claro.

— Abel, se está em condição, gostaria que nos acompanhasse. — Gervase

olhou ao rapaz. — Creio que Crimms deveria deitar-se um pouco.

— Eu cuidarei, milorde. — Milsom se encarregou do jovem e deixou que o

servente ajudasse Abel a ir para o salão.

O fato de mudar de lugar deu um momento a todos para reagrupar-se.

Madeline sentou-se no divã, com Muriel ao seu lado e Ben ao outro, grudado a ela.

Harry sentou-se na lateral do divã, próximo.

A cabeça ainda estava a mil por hora tentando encaixar os acontecimentos em

alguma imagem razoável e inteligível; mas graças ao céu, Gervase, sentado na

poltrona próxima, e seus três amigos, que aproximaram poltronas e as colocaram

perto, já haviam controlado eficazmente o pânico, totalmente concentrados em

trazer Edmond de volta são e salvo. Eles fazendo planos eram como uma imagem

tranqüilizadora.

Dalziel olhou para Abel quando este se sentou com cuidado em uma cadeira de

respaldo reto. — Os homens que os atacaram, eram daqui?

O marinheiro negou com a cabeça.

— Não, de nenhum lugar por aqui. Nem de Falmouth, nem de Plymouth. —

Franziu o cenho. — Se tivesse que apostar, diria que eram de Londres. Faz muito

que não vou lá, mas assim era como soavam. Tipos toscos, um pouco mais

perigosos que os habituais arruaceiros de taberna.

Todos os presentes franziram o cenho.

Gervase se mexeu, atraindo a atenção de Abel.

— Disse que mandaram uma mensagem a seus rapazes, que lhes dizia?

Abel sorriu.

— Que pegassem as embarcações e se dirigissem a Castle Cove. Supunha que

se você estivesse verdadeiramente implicado nisto, seria ali onde começaríamos, é

mais fácil fazer escala ali que em qualquer outra parte por aqui... O certo é que

também queria assegurar-me do que havia dito o jovem Edmond e que tudo

contava com sua aprovação. Os jovens às vezes se entusiasmam.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Apesar de sua latente antipatia para o velho réprobo, pois não podia aprovar ao

chefe do bando de contrabandistas maior da zona, Madeline se descobriu sorrindo

compreensivamente.

Dalziel olhou a Gervase.

— Todo seu.

Este olhou a Madeline nos olhos durante um tranqüilizador instante, voltou-se

para os homens, seus três amigos e Abel Griggs. Ao fim, disse a Abel: — Nós

seguíamos a um cavalheiro que acreditamos ser um traidor e que tivemos em

nosso ponto de mira em outras ocasiões. Esse mesmo homem, que acreditamos

que seqüestrou Ben, chegou esta manhã conduzindo uma carruagem.

O rosto enrugado de Abel se tornou irritado.

— Você disse um traidor?

Gervase concordou.

— Dirige-se a Kynance Cove...

—Kynance! — Harry olhou para Ben. — Disse-lhe Kynance?

Seu irmão assentiu.

— Não queria que encontrasse com ninguém, tampouco com você nem com

Edmond. — Olhou para Abel. — Nem com seus homens tampouco. Assim, os enviei

a ele e a seus canalhas a Kynance Cove.

Abel tinha os olhos muito abertos.

— Agradeço sua consideração, jovem Ben, mas... — Dirigiu sua olhar a

Gervase. — Kynance não está precisamente deserto.

Ele voltou a assentir, com os lábios apertados.

— Assim, esse canalha, tinha que ser ele a quem viu nessa carruagem, parou

para recolher a uma dama. Por que e a quem não sabemos. Viu algo dela? A cor

dos cabelos, o vestido?

Abel negou com a cabeça.

— Usava um capuz e a capa. Nem sequer poderia dizer se era alta ou baixa.

Gervase fez uma careta.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Deixemos a dama por um momento. Nosso homem chega à península, deve

ter alertado a seus sequazes. De algum modo, os envia na frente, pelo que se

encontravam no caminho para Kynance. Vai reunir-se com eles e os adianta a você,

a Crimms e a Edmond.

Apertou os olhos.

— Reconhece Edmond. Ele já sabe, ou acredita que saiba que sua mercadoria

está enterrada em alguma parte da praia em Kynance Cove, mas não trouxe Ben

com ele porque era seu truque para manter-nos em Londres. Mas, de repente, ai

está Edmond, que também sabe onde encontraram o broche.

Fitou os demais.

— Recordem que não sabe que o seguimos tão de perto. Imagina que conta no

mínimo, com vinte e quatro horas, se não mais, para encontrar sua mercadoria e

abandonar a zona sem nenhum risco de que o prendam.

— Edmond não lhe dirá nada — interferiu Harry. Sua voz soou claramente

preocupada.

Gervase o olhou aos olhos e voltou-se para Madeline.

— Creio que quando Edmond perceber que o homem se dirige a Kynance e que

acredita que a mercadoria está lá...

— Ed saberá que menti — exclamou Ben.

Olhou para Harry. — Saberá que o homem vai em direção contrária. Levará

Edmond a Kynance e lhe perguntará onde encontramos o broche.

Harry ficou fitando seu irmão e depois a Gervase.

— Ed lhe dirá que o encontramos no centro. Desse modo, terão que buscar por

toda a cala.

Gervase arqueou as sobrancelhas e assentiu devagar.

— Muito bem, digamos que isso é o que acontece. Esse canalha reterá Edmond

enquanto seus homens procuram a mercadoria, até que a encontre. Agora Edmond

é seu refém, não lhe fará mal.

— Não. — Dalziel fitou Madeline aos olhos. — Fazer mal ao menino não entra

nos seus planos. Ainda que Edmond lhe veja a cara, pelo que soubemos por outros,

não há nada que o distinga da infinidade de outros cavalheiros, por isso não o fará

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correr um risco maior. Nosso homem é demasiado inteligente para assassinar

desnecessariamente. — Fitou Gervase. — Assim, neste momento temos a nosso vil

amigo e Edmond em Kynance Cove, e estará ocupado buscando pelo tempo

suficiente para que o capturemos. Como o faremos?

— Mapas? — Charles ergueu as sobrancelhas em direção a Harry.

— Irei buscá-los. — O garoto se levantou e saiu.

Madeline abraçou Ben com mais força. O menino a olhou e sorriu.

— Ed estará bem, já verá. Gervase e os demais o trarão de volta.

A confiança que brilhava em seus grandes olhos a fez sorrir e piscar

dissimuladamente para conter as lágrimas.

Harry chegou com os mapas. Os homens colocaram uma mesa no centro e se

aproximaram dela. Gervase traçou os caminhos, assinalou Treleaver Park, o castelo

e Kynance Cove.

— Este é o lugar, mas os penhascos estão quase vazios, totalmente

desprovidos de cobertura. Poderão ver-nos aproximando de quilômetros de

distância, assim, essa não é uma boa opção.

Dalziel franziu o cenho.

— Mas estarão abaixo na cala, buscando, e não sabem que iremos. Pensarão

em colocar sentinelas?

— Não há possibilidade de sentinelas agora mesmo — interveio Abel, — nem de

que estejam abaixo na praia.

Todos se voltaram para ele. O marinheiro piscou e olhou para Gervase.

— Há maré alta. A praia de Kynance estará na baixa durante o resto do dia. É

impossível buscar nada ali até que as ondas retrocedam, e só o farão depois do

entardecer.

— Assim, se encontrarão no alto dos penhascos, olhando para a praia, sem

poder buscar? — perguntou Christian.

Abel confirmou.

Fez-se o silêncio; os homens trocaram um olhar enquanto reorganizavam suas

idéias.

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— Ele não vai esperar. — Dalziel negou com a cabeça. — Buscará de noite. Se

esperar até o amanhecer lhe ficará pouco tempo, não se arriscará a que alguém o

alcance. E quanto mais tempo passar na zona, maior será o risco de que se fixem

nele.

Além do mais, verá no instante que estar no extremo da península de Lizard,

nessa cala, é demasiado perigoso.

— Podemos fechar a zona — comentou Charles, enquanto estudava o mapa de

novo. — Se colocamos homens no caminho que vem de Lizard Point, se lançará

direto em seus braços.

— Sobretudo porque não saberá que eles estão ali — assinalou Christian.

Madeline percebeu que Dalziel, mais que andar nervoso, traçava círculos como

uma pantera que estivesse dizendo quando e como avançar.

Gervase, por outro lado, ficara imóvel, mas a sua era uma imobilidade intensa

que agora reconhecia como uma tensão implacavelmente contida. Igual a ela,

estava impaciente por colocar-se em marcha, por agir, mas sabia como controlar o

impulso, como manejá-lo.

Madeline comentou com voz firme: — Se não podem baixar a cala, mas tem

intenção de fazê-lo quando a maré baixar eles estarão esperando nos penhascos,

de onde poderão ver-nos chegar quando ainda estivermos literalmente a

quilômetros de distancia e terão tempo de sobra para... Reagir. — Tomou uma

tremida inspiração. — Edmond correrá demasiado perigo e podem levá-lo longe no

mínimo, se tentarmos rodeá-los agora, a plena luz do dia.

Todos os homens a olharam e consideraram suas palavras. Nenhum a

contradisse.

— Necessitamos um plano. — Dalziel sentou-se em sua cadeira. —

Suponhamos que espere com seu pequeno bando no alto dos penhascos até que a

maré baixe e seja de noite. Então desce a praia levando Edmond com ele e

começam a procurar, aí é quando nós nos aproximamos. Mas — olhou de novo a

Gervase, — como fazemos isso?

Os demais voltaram a sentar-se, todos exceto Charles, que estudava o mapa.

Muriel roçou a manga de Madeline e sussurrou que ia ver como estava Crimms

e saiu. Ela escutou enquanto os homens embaralhavam opções, falavam de

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quantos homens poderiam reunir e como reparti-los do melhor modo, como

agrupar-se na cala...

Abel tossiu e atraiu a atenção de Gervase.

— Há um problema que não estão levando em conta. — Ele ergueu as

sobrancelhas e o marinheiro continuou: — Esta noite será perfeita para os

saqueadores.

Gervase parou olhando-o e amaldiçoou em voz baixa, levantou-se e se

aproximou da janela para observar o céu do oeste. — Tem razão. O vento mudou e

se aproxima uma tormenta.

— Sim. As nuvens cobrirão a lua e o vento se levantará na zona adequada para

empurrar as embarcações para o arrecife junto a Kynance. — Abel fez uma careta.

— E como nesta temporada ainda não tiveram nenhuma oportunidade, não resta

dúvida que hoje colocarão falsos faróis nos cabos. Farão todo o possível para atrair

a algum confiado capitão. O que significa que estarão no alto dos penhascos esta

noite. — Olhou a Dalziel. — Não importa quantos bandidos de Londres tenha seu

homem com ele, não poderá aproximar-se de Kynance uma vez que o sol se ponha.

Christian arqueou as sobrancelhas.

— Podemos confiar em que os saqueadores impedirão que chegue ao cabo? —

Não. — A voz de Dalziel soou dura e fria. — Ele os recrutará. Nunca teve problemas

em usar a outros. Oferecerá dinheiro seguro aos outros e a única coisa que terão a

fazer será unir-se a seus homens e buscar, nem sequer colocarão seu trabalho

habitual em perigo.

Abel assentiu devagar.

— Não conheço nenhum deles, mas ouvi que por um bom dinheiro, matariam a

sua própria mãe.

Madeline sentiu-se aterrorizada. Na única coisa que podia pensar era em

Edmond que estava em meio de tudo isso...

Seus olhos se abriram exageradamente. O horror deslizou-lhe uns gélidos

dedos pelas costas.

— Edmond reconhecerá os saqueadores, saberá quem são. — Olhou para

Gervase. — Irão matá-lo.

Ele lhe susteve o olhar.

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— Não terão a oportunidade de fazê-lo, porque chegaremos lá antes que o

traidor saia. Até que encontre a mercadoria e se vá dali, Edmond estará a salvo.

Uma vez que o faça, já não estará, mas como esse canalha não vai encontrar nada

em Kynance Cove, Edmond estará lá quando aparecermos para resgatá-lo.

Essa afirmação pronunciada com firmeza fez com que ela piscasse e que seu

incipiente pânico se desinflasse como um balão furado. Engoliu a saliva, assentiu...

Sentiu-se mais calma. O suficiente para sorrir a Ben e a Harry quando a fitaram em

busca de confirmação.

―Graças, Deus meu, por Gervase.‖

Estreitou Ben contra ela e se repetiu essas palavras mentalmente.

— Quantos saqueadores há ali? — Dalziel olhou a Abel com os olhos apertados.

Este encolheu os ombros e olhou a Gervase.

— Dez talvez. Não mais. — Como explicação, acrescentou: — São marinheiros

de água doce todos eles, enquanto os contrabandistas são todos do mar.

Nunca havia muitos saqueadores, ou nós o saberíamos, mas sempre estiveram

escondidos em um grande segredo; assim, nunca ninguém esteve certo de quem é

e quem não e não há nenhum modo de sabê-lo, não por aqui. Só o que sabemos é

que sua cala favorita durante estes últimos anos tem sido Kynance.

Dalziel assentiu.

— A quantos homens que não são da zona reuniu esse canalha?

Baixaram números e concluíram que menos de dez.

Dalziel olhou então a Gervase.

— Quanto homem poderá reunir?

A resposta foi uns trinta.

— Possivelmente mais, dependendo do que encontre quando chegar ao castelo.

Suponho que está sugerindo que aproveitemos para fazer uma limpeza doméstica

enquanto nos enfrentamos ao nosso refinado traidor? — perguntou a seu ex-

comandante.

Dalziel encolheu os ombros.

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— Se o destino nos conduz para essa direção, eu, por minha parte, digo que

não deveríamos ir contra a corrente. Há mais de um canalha em nosso mundo.

Os demais murmuraram mostrando seu acordo.

Madeline, sentada e agarrada às mãos de Ben, que estava recostado sobre ela,

escutou enquanto discutiam e planejavam como dar seu merecido aos saqueadores

locais, superar os ladrões forasteiros e capturar o homem que seqüestrara Ben e

agora Edmond, ao mesmo tempo em que mantinham a salvo a este.

Ainda que não visse nada que pudesse discutir nos planos que estavam

tomando forma lentamente; havia uma coisa, um aspecto, que haviam passado por

alto.

— Então... — Dalziel olhou o mapa ao redor do qual tinham voltado a reunir-se,

Abel incluído; Gervase terminara de explicar-lhes como era o terreno que havia no

alto dos penhascos, confirmando que aproximar-se sem ser vistos por terra era

impossível. — Teremos que aproximar-nos da cala rodeando a costa.

— Não podemos. — Gervase negou com a cabeça. — O caminho é intransitável

em alguns pontos.

Dalziel o fitou e ergueu as sobrancelhas.

— Como, então?

Ele olhou para Abel, do outro lado da mesa. — Nos aproximaremos pelo mar.

O marinheiro sorriu e era uma imagem surpreendentemente feroz.

— Sim, logo haverá uma pequena frota em Castle Cove.

---

Trasladaram seu centro de comando ao castelo. Gervase e Madeline se

adiantaram a cavalo e os demais os seguiram em uma procissão de carruagens.

Deixaram Harry e Ben em Treleaver Park; Ben já tivera suficientes emoções

pelo momento e Harry aceitou que tinha que ficar para atender os homens que

deixaram em Lowland Point como força simbólica, caso necessitassem outras

instruções. Juntos, Gervase e Madeline entraram no pátio do castelo e

desmontaram. Antes que chegassem à escada de entrada, Belinda, Annabel e Jane

saíram correndo.

Com os olhos muito abertos, pegaram Gervase.

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— Tem que vir vê-lo! — Jane puxou-o.

— Há embarcações, muitas embarcações aproximando-se da cala — informou-

lhe Belinda.

— Os marinheiros têm um aspecto tosco. São contrabandistas? — perguntou

Annabel.

Gervase levantou as mãos com as palmas para fora.

— Sim, o sei. — Olhou a suas irmãs. — E sim, são contrabandistas locais.

— É sério? — Belinda abriu os olhos assombrada. Voltou-se para a casa. — Que

emocionante!

Annabel não disse nada, simplesmente a seguiu com a mesma expressão de

fascinação no rosto.

— Talvez, se lhes pedirmos amavelmente, nos levem para dar uma volta.

— Jane soltou Gervase e correu atrás de suas irmãs.

Gervase ficou olhando como se afastavam, voltou-se para Madeline, que lhe

susteve o olhar e viu sua muda súplica. Ela sorriu e lhe deu umas palmadinhas no

braço.

— Irei falar com Sybil e suas irmãs. Será melhor que você desça a cala.

— Obrigado. — Seu alívio era sincero; viu refletido em seu rosto.

Levou sua mão aos lábios e lhe beijou os nós e saiu. Madeline o observou

descendo a escada e se dirigir as muralhas e entrou em casa.

Encontrou Sybil no salão com Penny. As meninas estavam em fila frente a sua

mãe, sentada no divã, pedindo-lhe permissão para descer a cala.

— Madeline! — Sybil se voltou para ela com alívio. — Porque os

contrabandistas estão tomando a cala? Você sabe?

— O maior bando de contrabandistas da zona trouxe suas barcas a cala, mas,

meninas... — Esperou até que as meninas a olhassem. — Penso que temos uma

situação muito séria entre as mãos.

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Explicou-lhes a historia; Sybil, Penny e as três garotas escutaram com muita

atenção, exclamando horrorizadas e depois aliviadas ao final quando lhes disse que

os cavalheiros planejavam resgatar Edmond essa noite.

Quando acabou, as irmãs de Gervase, agora sérias e caladas, se olharam e se

voltaram para ela.

— Prometemos nos comportar, Gervase e você já têm muitas preocupações

sem nós aborrecendo-os.

Madeline sorriu, sentindo que o gesto lhe parecia trêmulo.

— Agradecemos, porque esta noite vai ser complicada.

Levantou-se com a intenção de ir à busca de Gervase e ver o que estava

fazendo.

Penny se levantou também.

— Deveria ir ver meu marido. Estou certa que ouvi sua voz faz um momento e

os cachorros estão inquietos, o que significa que provavelmente estejam fora com

ele.

Saíram juntas do salão. As suas costas, Sybil chamou a Sitwell para perguntar-

lhe sobre seus inesperados convidados e dar-lhe as ordens necessárias.

Madeline assinalou a porta ao fundo do vestíbulo.

— Subamos as muralhas orientais, nos proporcionarão uma excelente vista da

cala.

Subiram a escada e saíram nas muralhas açoitadas pelo vento. Madeline deixou

seus cabelos como uma causa perdida, se dirigiu as muralhas de pedra e observou.

— Ali. — Assinalou o lugar onde uma pequena frota de botes de remos

balançava sobre as ondas. Logo, viu que as portas do embarcadouro do castelo

estavam abertas.

— Estão pegando as embarcações do castelo também.

Penny e ela observaram como uma primeira embarcação e depois outra

surgiam e desciam até a água. Gervase e Charles manejavam o cabrestante, dois

dos homens que ajudavam saltaram cada um em uma embarcação, sentaram-se,

colheram os remos e se reuniram com as outras junto à escada do castelo que

chegava até a água.

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Madeline contou os assentos.

—Podem levar a... Dezoito, sem contar os remadores, que terão que ficar com

as barcas.

Penny se apoiou na parede ao seu lado.

— Quantos homens haverá na praia, entre londrinenses e saqueadores?

— Não estão certos, mas esperam uns vinte. — Mas alguns deles estarão no

alto dos penhascos.

— Duas sentinelas, no mínimo. — Madeline enrugou o nariz. — Podemos enviar

mais homens por terra, mas as possibilidades para o ataque na praia, como o

chamam eles, não são boas. Os que vão por terra não poderão chegar a cala a

tempo de ser de alguma ajuda ali.

— Olhou um momento mais e com os lábios apertados, voltou-se. — Será uma

luta corpo a corpo na praia.

Penny a olhou e depois a seguiu pela escada.

— Sei que é mais fácil dizer que fazer, mas não se preocupe. Tenho visto os

membros do clube Bastion em ação e de uma coisa pode estar certa, ganharão de

um modo ou de outro.

Madeline assentiu. Esperava que assim fosse, mas depois de estar a ponto de

perder um irmão nos turvos submundos londrinenses, não estava disposta a ficar

em casa de braços cruzados enquanto os membros do clube Bastion corriam ao

resgate como cavalheiros andantes. Não importava o que eles pensassem, não

importava o que Gervase pensasse, ela sabia qual era seu lugar.

Esperou que chegasse o momento oportuno, necessitava abordar Gervase a

sós, mas não em um corredor nem rodeados de gente, mas em algum lugar onde

pudessem conversar em particular e, contudo, fosse um entorno formal.

Os homens passaram as horas seguintes preparando tudo. A biblioteca e

estúdio de Gervase se converteram no centro de toda a atividade. Madeline se

reuniu com o grupo ali, esperando que seu habitual status, similar ao dos homens,

lhe permitisse passar despercebida como observadora, mas por desgraça Christian,

Charles e Dalziel a viam claramente como uma mulher, e mais, como uma dama, e

se comportavam em conseqüência. Eram muito conscientes que ela estava ali, que

estava escutando.

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Quanto a Gervase, sua visão dela havia mudado radicalmente; sem dúvida,

não a via como a vira antes. Seu crescente vínculo, a conexão sexual e emocional

entre eles não havia diminuído o mínimo apesar da inesperada atividade. Ainda se

encontravam nesse curioso impasse no qual ele desejava casar-se com ela

enquanto Madeline simplesmente não o sabia, como se estivessem contendo a

respiração, como se estivessem diante de algum abismo emocional, a espera de

ver, de averiguar, para onde deviam lançar-se.

Devido a isso, Madeline aceitava que tinha que ir com cautela, com cuidado,

com ele. A porta se abriu e Charles entrou; Penny apareceu atrás dele.

— Nenhum de nossos exploradores viu a carruagem. — Charles havia saído ao

pátio para reunir-se com três rapazes de quadra aos que haviam enviado aos

penhascos como se eles, os rapazes da zona, estivessem desfrutando de um

passeio a cavalo. — Nenhum sinal de atividade incomum nos penhascos sobre

Kynance Cove.

Gervase fez uma careta e observou o detalhado mapa estendido sobre a

escrivaninha.

— O povoado de Lizard é pequeno, mas há numerosas granjas, casinhas e

inclusive silos que lhe seriam mais úteis espalhados por essa área, pode ser que

ocuparam uma ou mais.

—Sem dúvida, é muito astuto para ocultar-se enquanto espera que baixe a

maré. — Dalziel voltava a caminhar em círculos. — Sugiro que resistamos à

tentação de investigar mais. A última coisa que queremos é que saiba que estamos

aqui, preparando-nos para atacar.

Deteve-se, olhou para Gervase aos olhos, depois a Charles e a Christian.

— Esta pode ser nossa última e melhor oportunidade de prender esse canalha.

Sabemos que estará nessa cala esta noite. Deveríamos concentrar-nos em prendê-

lo então. Se descobrir que estamos por perto, na zona, apesar de seu desejo de

conseguir a mercadoria, seu instinto de sobrevivência será bastante forte para

fazê-lo fugir.

Os outros assentiram.

Madeline abriu a boca, mas antes que pudesse dizer nada, Gervase

acrescentou: — E também tem Edmond.

Dalziel assentiu tranquilizadoramente sério.

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— Exatamente.

Penny se aproximou de Madeline. Em uma lateral da sala, juntas escutaram

como se realizavam os preparativos finais. Como Gervase e seus três amigos, Abel

estava ali, junto ao encarregado das quadras de Gervase, um dos irmãos de Abel,

Gregson, o chefe local, e outros mais.

Christian não se sentia especialmente à vontade na água, pelo que era a

escolha óbvia para dirigir as forças em terra, o pequeno bando de rapazes,

granjeiros, jardineiros e jornaleiros que haviam reunido.

— Então, bloqueamos o caminho aqui. — Christian se inclinou sobre o mapa e

apoiou o dedo em um ponto em particular.

Esticando o pescoço entre vários ombros, Madeline viu que havia assinalado

um lugar ao sul de Cross Lanes.

— Há uma curva e uma inclinação — comentou Gervase. — Ele estará baixando

pela pendente direto para você assim que o vir.

Seu amigo assentiu.

— Colocarei suficientes homens para deter uma carruagem enquanto chegamos

lá, para que não fique nervoso e fuja antes do tempo, mas supondo que esteja na

praia, ao menos até vocês agirem, pegarei o resto dos homens e reconhecerei o

terreno. Poderia ir bem, em vista da zona que tentamos garantir; que

comprovemos que não há cavalos disponíveis dos quais ele possa apropriar-se no

caso de conseguir fugir de nós na praia.

Dalziel concordou.

— Tomaremos todas as precauções possíveis. — Estudou o mapa e fez uma

careta. — Como você bem disse, a zona é extensa, qualquer rede que planejemos

estender terá necessariamente grandes falhas. Se nos escapar na cala e não pegar

sua carruagem, não será fácil evitar que fuja. — Mas estou certo que podemos

fazer — interveio Gervase.

Os outros concordaram.

— Então — Gervase fitou Charles — quanto à ação na praia...

Charles e ele eram os que tinham mais experiência com contrabandistas e

escaramuças em praias, lançadas desde o mar.

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Charles enrugou o nariz.

— Não vejo nenhum sentido em levar pistolas, e você?

Gervase negou com a cabeça.

— Ficarão molhadas e também não são muito úteis em distancias tão curtas,

em vista da confusão que certamente reinará e também em vista do número de

homens com o qual nos enfrentaremos.

— Não é provável que eles levem armas de fogo. — Charles sorriu numa

expressão de predador claramente antecipada. — Usaremos espadas, cutelos e

adagas.

Tanto Abel como seu irmão assentiam. Gervase os olhou.

— Aqui temos um pequeno arsenal.

Suponho que seus homens tenham suas próprias armas, mas podemos

providenciar que todos nas barcas sejam bem equipados.

— Sim — respondeu Abel. — Com certeza precisaremos algumas armas extras.

— Bem. — Dalziel mudou de assunto bruscamente. — Agora falemos da

coordenação no tempo.

Madeline se fixou nos perplexos olhares que Christian, Charles e Gervase lhe

lançaram e o subseqüente movimento de seus olhos para ela e Penny, antes de

olhar de novo ao seu ex-comandante.

Madeline contemplou-os receosa. Não iam discutir os detalhes do assalto a

praia diante de Penny e dela. Ao seu lado, a outra jovem soprou. Era óbvio que

chegara a mesma conclusão. Olhou-a e viu que dirigia um intenso olhar ao seu

marido; estava claro que tinha a intenção de saber todos os detalhes mais tarde.

Madeline olhou para Gervase, refletiu e ergueu as sobrancelhas em direção a

Penny.

— Creio que irei falar com Sybil para que adiante o jantar. Vem?

A outra lançou um ressentido olhar aos homens reunidos ao redor da

escrivaninha e soprou.

— Sim, lhe acompanho.

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Retiraram-se para levar a cabo aquela tarefa apropriada para umas damas,

mas, quando o assunto do jantar foi organizado, Madeline regressou a biblioteca,

dessa vez sozinha. Dirigiu-se ao outro extremo da sala e olhou pela janela, sem

nenhum interesse em escutar os planos dos homens. Não precisava, porque ela era

mais que capaz de planejar por si mesma.

Sitwell chegou para anunciar que a comida fria estava preparada para os

cavalheiros e damas no salão e na cozinha para os outros. Madeline esperou

enquanto os outros saíam consciente que Gervase não abandonaria a sala sem

ela...

Com o que não contava era com a irritante previsão de seu ex-comandante.

Dalziel tampouco se moveu. Depois que todos os outros se retiraram, ficou de

pé junto à escrivaninha, com Gervase; ambos a olhavam esperando pacientemente

para acompanhá-la ao salão.

Com os lábios apertados, se aproximou deles. Se Dalziel pensava que, com sua

presença, evitaria que ela entrasse em seus planos, estava muito enganado.

Susteve seu escuro olhar quando parou diante da escrivaninha, se virou e

procurou o olhar de Gervase.

— Eu também irei às barcas que se dirigem a cala.

Os olhos de Gervase e seu rosto se endureceram.

— Não. Tem que ficar aqui.

Madeline ergueu as sobrancelhas com os olhos fixos nele.

— Você não tem nenhuma autoridade sobre mim. — Olhou para Dalziel. — E

você tampouco. — Tornou a dirigir-se a Gervase. — Se pedir a Abel que me leve, o

fará. Não pode permitir-se contrariar-me e, também, não creio que pense que meu

pedido seja maluco... — Gervase abriu a boca para protestar, mas Madeline o

silenciou levantando uma mão e esboçando um tenso sorriso. — Por uma vez

escute minhas razões.

Com os lábios apertados, ele a observou. Lançou um breve olhar a Dalziel, de

pé em silêncio e imóvel um passo a direita de Madeline, voltou a olhar para ela e

perguntou: — Quais razões?

Madeline sorriu para si, consciente que tinha a batalha ganha, mas não deixou

que nada mais, fora uma calma segurança, se refletisse em seu tom.

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— Consideremos seu plano para resgatar Edmond. Aproximar as barcas, mas

os manter bem afastados para que os que se encontrem na praia não possam ver-

nos. Uma das barcas se aproximará o máximo possível, onde a água é mais rasa, e

você e Dalziel descem e caminham pela costa. Será improvável que algum homem

no centro da praia os veja de noite.

Estarão fora do alcance da luz de qualquer tocha. Enquanto Dalziel vai pelo

traidor, você... — com a cabeça assinalou Gervase — encontrará e liberará

Edmond, que supomos estará amarrado de algum modo e seria muito perigoso

deixá-lo assim enquanto se desenrola uma batalha ao seu redor.

Parou e ergueu as sobrancelhas em direção a Gervase.

— Estou certa até... Aqui?

Com rosto irritado, Gervase concordou.

— Muito bem. Em seguida, Charles, que estará com as barcas, dará os minutos

suficientes para... Como é a frase? Que alcancem seus objetivos? Então,

aproximará as barcas e iniciam a batalha em toda a praia. Durante essa luta, sua

tarefa específica será proteger Edmond. Ordena-lhe que fique atrás de você e

monta guarda, como se diz, sobre ele. — Susteve-lhe o olhar. — Isso é o que

planeja fazer, certo?

Gervase lançou outro rápido olhar para Dalziel antes de olhar para ela.

— Essencialmente sim.

Nenhum conseguiu saber onde queria chegar, o que falhou em seus planos

descobriu e estava a ponto de sinalizar-lhes. Percebeu a inquietação de ambos.

Madeline sorriu, não com suficiência, mas — não pode evitar — sim com um

pouco de condescendência.

— Enquanto você o defende, quem o refreará?

Gervase franziu o cenho.

— Ordenarei que fique atrás. Ele...

— Acha mesmo que escutará? — A pergunta refletia sua total incredulidade. —

Por favor, lembre-se que está falando de um menino de catorze anos. Não, deixe

que me expresse com mais precisão: de um varão Gascoigne de catorze anos que,

depois de ser raptado por um canalha e seus toscos sequazes; se encontrará no

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meio de uma batalha campal entre as forças do bem e do mal, em uma praia, com

os contrabandistas de sua parte e espadas e cutelos piscando no meio da noite. —

Sua voz se elevou levemente, sua dicção era dura e precisa.

Cravou um duro olhar em Gervase e se virou para submeter Dalziel ao mesmo

escrutínio. — Acredita seriamente que ficará a margem obediente, que observará e

não participará?

Ficaram admirando-a, sem palavras.

Incapazes de responder, porque ela tinha razão.

Satisfeita, reforçou seu argumento: — Quando vir qualquer conhecido

ameaçado vai correr em sua ajuda. Armado ou não. — Parou e acrescentou: —

Apesar de qualquer ordem ou proibição que pensar, por mais contundente que seja.

Fez-se um silêncio. A expressão de Gervase era pétrea, seus olhos totalmente

inexpressivos e duros, impossível de decifrar.

— Ele escutará a você? — A calma pergunta foi de Dalziel.

Madeline o olhou aos olhos e sorriu levemente.

— Oh, sim. Pode ter certeza que me escutará e obedecerá. Esteve fazendo isso

durante toda sua vida e sabe que há ocasiões nas quais a obediência não é

negociável. Fará o que eu lhe disser.

Com o rabo do olho viu que Gervase apertava os lábios, mas quando se virou

para ele, sua expressão era tão implacavelmente impassível como sempre.

Madeline não poderia explicar como, mas ela sabia que seria sempre. Não podia

opor-se a que fosse a praia, e o sabia. Sua opinião lhe chegou claramente, sem

necessidade de palavras.

Dalziel se voltou, afastando-se uns passos e disse: — Quando estiver na praia,

terá de ser capaz de defender-se e a Edmond também, ao menos, até certo ponto.

Virou-se para ela e Madeline viu que agora segurava duas espadas leves.

Ergueu os olhos e viu que eram as duas espadas que normalmente estavam

cruzadas sobre o beiral da lareira.

Gervase devia tê-las descido, uma para Dalziel e outra para ele.

As duas espadas estavam desembainhadas. O homem as segurava sem

problemas em suas mãos, a seguir, lhe lançou uma com o punho para frente e

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Madeline, que reagiu sem pensar a pegou no ar com destreza deslizando os dedos

e a mão pela empunhadura com uma familiar facilidade.

Dalziel piscou surpreso. Mas então, lhe indicou que se afastasse da

escrivaninha com a que ele segurava.

— Por exemplo, o que vai fazer se...?

Avançou sobre ela, não com força, mas sim com a clara intenção de desarmá-

la. De novo, o hábito foi em sua ajuda, levantou a espada, o bloqueou e teve a

satisfação de ver como arregalava os olhos.

Dalziel desenganchou as folhas com um giro e voltou a atacá-la, mas dessa vez

Madeline estava preparada; levantou a saia e avançou de lado, golpeou a espada

com a sua, obrigando-o a afastá-la de um lado e para baixo. O inesperado

movimento o desequilibrou; antes que pudesse recuperar-se, Madeline se

aproximou, levantou um pé e o cravou com força na parte externa do joelho.

Dalziel dobrou a perna.

Agitando os braços freneticamente, se esforçou para manter-se erguido.

Madeline girou para ficar fora de seu alcance, deu uma patada em um pequeno

banquinho atrás dele e o empurrou com força em um ombro.

A expressão em seu rosto quando caiu foi pura magia. Inclusive melhor foi ver

seus olhos quando, estendido de boca para cima, ficou olhando a longitude da

espada de Madeline, desde a ponta, que tinha apoiada no elegante lenço do

pescoço, até a mão, firme na empunhadura. Ao fim, com os olhos apertados,

ergueu-os até seu rosto.

Ela sorriu. Um sorriso claramente arrogante. — Tenho três irmãos. Não jogo

limpo.

Dalziel nem sequer piscou.

— Treinaram você.

Ela ergueu as sobrancelhas.

— Bem, claro. Acredita que só os homens poderiam brandir espadas?

Foi muito inteligente para não responder. Madeline deixou que seu sorriso se

suavizasse e lhe afastou a ponta da espada da garganta.

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— Meu pai me ensinou, fez com que me treinassem para que pudesse formar

mais tarde a meus irmãos e fazê-los treinar.

Levantou a espada, estudou-a e olhou para Gervase, que não disse nada, não

se moveu nem um milímetro. Ela foi consciente da explosiva tensão que o

perturbou no instante em que Dalziel a tinha ―ameaçado‖.

Olhou-o nos olhos e lhe lançou a espada.

— Tenho minhas próprias armas, pedi que as trouxessem de Treleaver Park. —

Olhou para Dalziel, mas era a Gervase que falava. — Não necessita se preocupar

por mim na praia. Qualquer homem da zona me reconhece, os outros, no mínimo,

devem me ver como uma mulher e me subestimam, do mesmo modo que você.

Não atacarão com frieza, e irão imaginar que será fácil desarmar-me. Mas

subestimar as mulheres nunca é uma decisão inteligente.

Rodeou Dalziel e se dirigiu a porta.

As suas costas, Gervase se mexeu.

—Teremos que vadear através nas ondas com a água até a cintura ou mais

acima...

— Não tem que preocupar-se. — Na porta, se voltou e o olhou nos olhos. —

Não usarei saia.

Com essa declaração final, abriu a porta e saiu.

Gervase ficou olhando a porta entreaberta e recordou o jantar que os

aguardava. Desceu os olhos até Dalziel.

Seu antigo comandante se incorporou devagar, se virou nos joelhos dobrados

com os braços e olhou desgostoso para o banquinho.

Apesar de tudo, da seriedade da situação, do puro horror que sentia pelo fato

de Madeline ter-se incluído na ação planejada; e que o tivesse feito de um modo

que o deixava sem argumentos, sentiu que seus lábios se curvavam. Rapidamente,

apagou o sorriso quando Dalziel o olhou com os olhos apertados.

— Se alguma vez disser uma só palavra disto a alguém eu o negarei.

Gervase não pode evitá-lo e agora sim sorriu.

— Sempre guardarei a recordação.

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Capítulo 19

O sol desceu e chegou à noite, escura e tormentosa, mas pelo menos não

chovia.

Gervase estava de pé junto a Madeline, na escada que descia até a água, com

os dedos em seu cotovelo, esperando que as barcas de remos maiores, tripuladas

por um seleto grupo de ―meninos‖ de Abel se aproximassem.

Fizera uma só tentativa de dissuadi-la. Seguiu-a ao piso de cima quando ela

subiu para mudar para uma roupa que fosse mais adequada para caminhar entre as

ondas e lutar na praia.

Entrou no dormitório que Sybil lhe tinha designado, fechou a porta e se virou.

Madeline o olhou com as sobrancelhas erguidas.

Gervase a olhou diretamente nos olhos.

Compreendia demasiado bem seus motivos.

Admirava-os, e a ela também, ainda que ele e tudo o que era se opunha

ferozmente.

— Não quero que vá.

— Eu sei. Mas tenho que fazê-lo. Não posso deixar de ir. — Hesitou e

acrescentou: — Não é que não confie que você não vai proteger Edmond. É que

conheço ao meu irmão e estou convencida que se comportará exatamente como

disse.

Gervase ficou calado; não havia pensado que ela não confiasse nele, isso nem

sequer lhe passara pela mente e, durante um segundo, pensou se poderia tirar

alguma vantagem desse argumento...

Finalmente, apoiou os ombros na porta, colocou as mãos nos bolsos e observou

como se desabotoava a jaqueta.

— Com sinceridade, não sei como reagir se estiver lá, se está ao meu lado no

que muito provavelmente será uma batalha perigosa de corpo a corpo.

Não tinha intenção de dizer-lhe isso, mas era a pura verdade. Madeline o

olhou. Com a cabeça inclinada, o observou durante um longo momento, sorriu

irônica e, de algum modo indefinível, com ternura.

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— Parece que vamos descobri-lo. — Baixou os olhos e desabotoou a saia. —

Sabe que devo ir.

Gervase sabia. Apesar dos protestos de sua parte masculina mais primitiva,

algo no mais profundo de seu ser o compreendia e o aceitava. Fora a ―tutora de

seus irmãos‖ durante mais de uma década, pelo que era impossível pedir-lhe que

ficasse a margem; que mudasse e se convertesse em uma pessoa diferente, uma

mulher diferente, uma dama diferente porque ele não podia suportar sequer a idéia

que ela estivesse exposta a algum perigo.

E no fundo a valorizava tal como era, motivo pelo qual não poderia discutir com

sinceridade para fazê-la mudar de opinião.

Gervase suspirou e fechou brevemente os olhos.

— Muito bem.

Quando se virou para a porta, ouviu que Madeline exalava um suspiro igual.

— Não vou só por Edmond, ele não é o único ao qual eu... Sinto-me

impulsionada a proteger. Mas se não o defender ativamente, no mínimo irei velar

por ele.

Gervase deu a volta, mas ela não levantou a cabeça, não o olhou.

— Sei que você o compreende, porque você também é assim. E pode ser que

não aprecie que algumas mulheres, algumas damas, sintam o mesmo. Nós

protegemos, defendemos, é o que fazemos e o que somos. — Então o olhou. — É o

que sou e não posso mudar, nem sequer por você. — Sorriu, um rápido e sentido

gesto, e abaixou os olhos para os laços. — Sobretudo não por você.

Gervase hesitou, finalmente atravessou a sala, pegou-a nos braços e a beijou,

rápido, urgente. Doce.

Quando levantou a cabeça, olhou-a nos olhos, assombrado uma vez mais ao

ver como parecia aturdida a sua deusa guerreira e sentiu que seu próprio rosto se

endurecia. Deixou-a no solo, assentiu e virou-lhe as costas.

— Reúna-se comigo nos fundos do vestíbulo principal.

Mais tarde a acompanhou até ali, a escada que descia até a água para esperar

a barca que os levaria a eles e a Dalziel, para a praia.

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Gervase pegou o cabo que um dos contrabandistas lançou, puxou-o e, com

destreza, imobilizou a proa.

Dalziel subiu a barca e depois se voltou para ajudar Madeline. Com sua mão

livre, Gervase a segurou quando seguiu ao ex-comandante, vestida com umas

calças, uma camisa e uma jaqueta que emprestara de um rapaz.

Quando esteve a salvo a bordo do barco, o comandante retrocedeu e sentou-se

no banco de trás, Madeline passou por cima do que estava na frente e sentou-se no

do meio da barca.

Assim que o fez, Gervase soltou o cabo e deu um rápido salto ao mesmo tempo

em que os remadores, perfeitamente sincronizados, afastavam a embarcação dos

degraus. Sentou-se e os quatro contrabandistas fizeram a barca deslizar com força

através da noite e das ondas cada vez mais agitadas.

---

A travessia ao redor de Lizard Point na obscuridade, com uma tormenta

formando-se e o mar agitado, não era apta para medrosos.

Os botes subiam e desciam sobre as ondas, mas todos os que estavam ao

timão e nos remos eram marinheiros espertos que conheciam aquelas águas,

sabiam por onde circulavam as correntes e como usá-las melhor.

A espuma salpicava a proa das embarcações ensopando os que estavam

abaixados entre os remadores. O vento soprava com força. No inverno, a viagem

teria sido impossível, mas no verão, ainda que a água estivesse fria, não era glacial

e o vento, apesar de cortante, não era gélido. Enquanto as barcas se mantivessem

longe das rochas, os longos minutos seriam suportáveis.

Avançaram ao redor de Lizard Point, quilometro a quilometro, abrindo caminho

através das crescentes ondas. Não sabiam a duração exata da travessia, porque

ninguém se arriscara a levar um relógio.

Estava totalmente escuro, o céu era uma massa de azul meia noite e cinza

quando, através da água e da espuma, avistaram as tochas em Kynance Cove, a

primeira cala ao norte de Lizard Point.

— Está ali. — Dalziel se inclinou para diante e olhou fixamente através das

cristas das ondas, tão grandes que, das barcas, que subiam e desciam sobre o

movimentado ondeante, só tinham uma visão clara da praia de vez em quando.

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— Não há nenhum farol. — Gervase examinou a obscuridade onde sabia que se

encontravam os penhascos. Olhou para Dalziel. — Os saqueadores devem estar

trabalhando com os faróis que já tinham acendido.

Entre eles, Madeline se mexeu.

— Contei vinte e três homens na praia.

Mais do que previram, mas não tantos para colocar em perigo seu plano.

— Nos encarregaremos deles mais tarde. — Gervase se votou e lhe apoiou a

mão no ombro, apertando-o levemente, depois olhou para o timoneiro.

Com a cabeça lhe assinalou as rochas do extremo sul da cala.

O homem assentiu e se inclinou sobre a vara. A barca girava enquanto os

remadores esperaram. Logo pegaram os remos com força e se dispuseram a remar

de novo. Em silêncio, avançaram entre as ondas e se afastaram dos outros, que se

centraram em manter a posição em uma linha paralela a praia.

Em uma das barcas, Madeline viu Charles, que os saudou com a mão.

Aproximaram-se das rochas. Na praia propriamente dita, a maré deixara uma

franja de nove metros de areia razoavelmente seca aos pés dos grandes

penhascos. Contendo a respiração e com os nervos a flor da pele, Madeline

observou a cala, examinou-a com frenesi cada vez que as ondas os elevavam o

suficiente para oferecer-lhes uma vista clara e quando encontrou a figura que

procurava, buscou Gervase às cegas, encontrou seu braço e o agarrou.

— Ali, Edmond.

Seu irmão era uma pequena figura, que se via ainda menor porque estava

sentado com as pernas cruzadas perto dos penhascos, entre o ponto ao qual se

dirigiam e o centro da praia, onde estava concentrada toda a atenção dos outros,

como Harry e Ben tinham previsto.

Havia tochas, longos paus envolvidos com trapos ensopados no azeite,

cravadas na areia formando um grande círculo de luz que fazia com que as

sombras próximas fossem mais escuras.

Edmond estava na borda do cintilante resplendor. O estranho ângulo de seus

braços sugeria que tinha as mãos amarradas às costas.

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Na zona iluminada pelas tochas, muitos homens estavam cavando e avançando

pela pesada e úmida areia. Com exceção de um que vigiava Edmond, não havia

nenhum outro vigia na praia. Toda atividade e atenção estavam centradas na

escavação. Não esperavam ser interrompidos; sem duvida, não pelo mar.

Madeline reconheceu alguns dos homens que escavavam e lhe encolheu o

coração. Inclinou-se para Gervase e sussurrou:

— Os rapazes Miller. — Os dois filhos de John Miller.

Ele seguiu seu olhar e assentiu severo.

— E os Kidson de Predannack.

Essa noite teria mais repercussão do que anteciparam. Madeline vira um

homem com um abrigo, mas agora que estavam mais perto as figuras eram mais

difíceis de distinguir, movendo-se e confundindo-se com a cintilante luz das tochas.

Madeline se inclinou para Dalziel.

— Pode ver o seu homem? — Sua pergunta foi pouco mais que um sussurro; se

aproximavam devagar das rochas.

Com o olhar fixo na praia, o comandante negou com a cabeça.

— Mas está ali em algum lado, do contrario não escavariam com tanta

excitação.

Gervase lhe deu uns golpezinhos no braço e indicou aos dois que deixassem de

falar. Avançou até onde um remador na proa comprovava a profundidade.

Dependiam da experiência do timoneiro e os remadores para aproximar a barca

em silêncio e sem problemas até as rochas. Bem perto para que pudessem

desembarcar e vadear até a praia. O som das ondas quebrando contra as rochas e

a espuma os ajudaria, tanto para cobrir os ruídos que pudessem fazer como para

ocultá-los da vista.

Madeline voltou a olhar Edmond. O homem que o vigiava era relativamente

baixo, esquálido, um forasteiro. A atenção do vigia não estava centrada no menino,

nem no trabalho da praia que havia além nem nas sombras mais escuras que

rodeavam a base dos penhascos as costas de seu prisioneiro; como todos os

outros, estava observando a atividade no centro da praia.

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Gervase tornou a dar uns golpezinhos no braço de Madeline e com habilidade,

deslizou-se pela lateral e desapareceu. O bote se inclinou. Apareceu de pé, com a

água até o peito, por baixo dos ombros. Ela se agarrou a borda da barca, passou

uma perna por cima e se deixou cair.

Gervase a pegou e segurou antes que uma onda pudesse derrubá-la. Agarrou

com firmeza por um braço e Dalziel a segurou pelo outro. Pegaram as armas que os

contrabandistas lhes passaram e começaram a avançar até a praia. Na água, os

dois homens se moviam com sua costumeira agilidade de predadores.

Arrastaram Madeline sem esforço.

Apenas tiveram tempo de sentir a frieza da água.

Chegaram à praia entre as rochas. Abaixaram-se e avançaram sem ser vistos

nas densas sombras da base dos penhascos. Aguardaram, observando, mas os

homens da praia não tinham a mínima idéia que eles ou seus botes estivessem ali.

A atenção do grupo seguia fixa nas escavações.

Edmond devia ter sido totalmente convincente.

Madeline sentiu uma opressão no peito e os nervos em tensão. Olhou para trás.

Sabia que o bote estava lá, mas já não pode vê-lo. Os cinco contrabandistas

tinham se afastado das primeiras ondas tão silenciosamente como tinham se

aproximado.

A tormenta que se avizinhava e seus efeitos elementares, o movimento e a

altura das ondas e o crescente rugido do vento, agora eram uma vantagem para

eles, porque ocultaria seu avanço, o som de seus passos na areia.

Gervase, diante dela, olhou atrás e fez um sinal. Os três se ergueram e

avançaram em fila indiana, colados a parede do penhasco. Aproximaram-se de

Edmond furtivamente, em silencio.

Madeline deu graças de seu irmão não estar olhando nessa direção; observava

com estoicismo como os homens escavavam. Parecia totalmente impassível, como

se soubesse que era só uma questão de tempo para lhe chegar o resgate. Um traço

típico dos Gascoigne: essa inquebrantável crença em sua própria invulnerabilidade.

Gervase se deteve a menos de dois metros dele, com Madeline ao seu lado e

Dalziel atrás. Um instante mais tarde, ela sentiu que lhe tocavam o ombro. Olhou

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ao seu redor quando Dalziel a adiantou e passou adiante de Gervase para

encabeçar a marcha.

O objetivo de Dalziel, o traidor, estava em algum lugar na praia.

Madeline olhou com atenção, tentando distinguir cada homem, mas de novo os

corpos que não deixavam de mover-se a superaram. O homem do abrigo que tinha

visto antes se confundia entre o tumulto.

Esse era o momento em que corriam mais perigo. Expostos, entre as sombras

ainda que perfeitamente visíveis se alguém olhasse para onde estavam, teriam que

esperar até que Charles os visse e dirigisse as barcas para o desembarque. Quanto

tempo demoraria isso...

Chegou um repentino rugido que não tinha nada a ver com o vento ou a água.

Cinco botes subiram a praia arrastados pela crista de uma única e grande onda. Na

proa de uma das embarcações, com os encaracolados cabelos negros molhados e

uma espada brilhando em sua mão, Charles tinha todo o aspecto de um pirata.

Quando as quilhas se deslizaram sobre a areia, os homens saltaram a terra firme,

brandindo espadas e longos cutelos.

Os saqueadores, momentaneamente estupefatos — o tempo suficiente para

que todos os ocupantes das barcas chegassem até a praia, — caíram em si de

repente e lançaram um rugido em resposta. Produziu-se um frenético caos no qual

todos buscavam suas armas; os dois grupos se encontraram e levantaram uma

nuvem de areia.

Madeline se concentrou em sua própria tarefa ao sentir que Gervase se

afastava. Viu como ele se deslizou atrás de Edmond, que estava cativado pela

batalha que se desenrolava diante dele, em direção ao guarda que se debatia

claramente entre ficar com seu prisioneiro ou unir-se aquele frenesi.

Dalziel havia desaparecido.

Gervase se aproximou do guarda. O homem sentiu algo e começou a virar-se,

mas ele o golpeou na cabeça com a empunhadura da espada e o vigia caiu.

Ao ver o conde, Edmond se levantou, mas Madeline o pegou pelos ombros.

—Não, mantenha-se abaixado!

O menino se ajoelhou e a olhou com os olhos muito abertos.

— Maddie?

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— Sim, sou eu. Não se mexa enquanto eu te desamarro. — Madeline não

percebeu nem um pingo de medo, e muito menos de terror, na voz de seu irmão.

Estava excitado, ansioso por participar. — Nosso trabalho — lhe disse enquanto

cortava as cordas — é proteger as costas de Gervase.

— Muito bem. — Edmond quase tremia de impaciência.

— Certo. — Libertou-o das cordas e levantou-se. Esperou enquanto ele

esfregou as munhecas e se levantou. O garoto se voltou para ela e Madeline lhe

deu o cutelo curto que usara para cortar as cordas. — Este é para você.

Conhecia muito bem aos seus irmãos.

Com os olhos brilhantes, Edmond pegou a arma. — Onde...?

— Você e eu devemos ficar aqui; eu atrás, a esquerda de Gervase, e você um

pouco além, a sua direita. — O menino olhou as amplas costas que tinha a frente e

retrocedeu um pouco. Madeline assentiu. — Sim, assim. Agora estamos em posição

para termos certeza que ninguém irá atacá-lo enquanto nos defende.

Edmond assentiu com os olhos fixos na frenética massa de corpos que se

balançavam uns contra os outros. O ruído de metal contra metal ressoava por cima

do rugido das ondas. Por um momento, Madeline se sentiu longe, como se aquela

batalha campal fosse um sonho que observava de uma distancia segura...

Então, dois homens retrocederam cambaleando do grupo. Grandes, fortes, não

eram da zona. Viu que trocavam uma olhada e algumas palavras, se afastaram da

luta e correram pela praia, diretos para ela e Edmond, com Gervase diante deles.

Os homens o atacaram. Centraram sua fúria e medo nele, mas justo um

instante antes que o alcançassem, Gervase se moveu com fluidez, traçou com a

espada um poderoso arco e alcançou um deles no braço. O desconhecido gritou e

retrocedeu junto com seu companheiro. Seus olhos brilhavam enquanto avaliavam

a situação e lambiam os lábios. Abaixaram e o rodearam.

Gervase os animou a que avançassem.

— Vamos, não sejam tímidos.

Atrás dele, com sua própria espada oculta junto à perna, Madeline mordeu o

lábio. Gervase sonhava totalmente relaxado, zombeteiramente confiante.

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Outro homem se afastou do tumulto do centro. Viu seus dois companheiros,

adivinhou seu estratagema e se dispôs a unir-se a eles. — Gervase... — lhe

advertiu Madeline.

— Sim. Hora de mudar de tática.

Essa foi a única advertência que lhes fez antes de lançar-se a um feroz ataque

contra os dois homens e fazê-los retroceder. Mas outros desconhecidos os tinham

visto e compreendendo seu valor, o de Madeline e Edmond como reféns,

afastaram-se da refrega e correram desesperados para garantir uma escapatória.

Madeline ouviu que Gervase amaldiçoava.

Com um só movimento, feriu um dos dois e o deixou choramingando e

segurando o braço sobre a areia, enquanto se colocava de novo entre ela e Edmond

e a avalancha de homens.

Charles os vira, mas estava rodeado por arquejantes atacantes, pelo que não

pode correr em sua ajuda de imediato.

Dalziel estava longe, a sua direita; sua missão era localizar o traidor e prendê-

lo ou, se não conseguia esse objetivo, bloquear toda saída da praia tomando e

cortando o único caminho que subia pelo penhasco. Madeline o viu no inicio do

mesmo, cercando o passo dos homens que tentavam fugir desesperadamente.

Com nada a perder, os meliantes redobraram seus esforços, mas a implacável

ferocidade com que o ex-comandante se enfrentava a eles os fez retroceder.

Madeline voltou a olhar os homens que carregavam contra eles e viu que se

separavam para atacar Gervase de vários ângulos. Sentiu que o coração lhe

trovejava. Ficara um pouco sem respiração. Engoliu a saliva, agarrou a espada com

mais força e tirando um longo cutelo de sua bota se aproximou de Edmond.

— Segue meus movimentos.

Com o rabo do olho, viu que seu irmão assentia. Ele também observava o

avanço dos atacantes, mas a diferença dela, não havia nem rastro de medo em seu

coração.

Os chacais os rodearam, e dois deles se lançaram a um feroz ataque frontal;

Gervase lhes respondeu e os fez retroceder, mas em seguida teve que enfrentar-se

a outro. Entretanto, mais dois homens avançaram um de cada lado.

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Ao vê-los, Madeline se abaixou, pegou um punhado de areia e atirou na cara do

ogro de sua esquerda; deixou-o maldizendo e cambaleando enquanto esfregava os

olhos. Passou diante de Edmond, levantou a espada e atacou outro homem menor

que se aproximava pela direita de Gervase. O meliante deu um salto para trás com

os olhos arregalados e expressão escandalizada.

— A puta tem uma espada!

Madeline desejou segui-lo, mas não se atreveu a deixar desprotegida as costas

de Gervase, que se moveu e contra atacou. Ela retrocedeu e olhou a sua esquerda

a tempo de ver que o ogro levantava uma espada curta e se dirigia para Gervase.

Madeline levantou sua arma a tempo de desviar o golpe; arquejou quando a força

deste reverberou em seu braço. Cruzou o cutelo com a espada, prendendo a do

ogro na sua e o empurrou fazendo com que cambaleasse para trás.

Com olhar perverso e uns olhos pequenos e brilhantes como os de um porco,

fixos nela, o homem ergueu a espada e se balançou sobre Madeline, que levantou

as duas folhas cruzadas... De repente, o gigante gritou e caiu de lado. Ao olhar

para baixo, ela viu que Edmond, agarrado a parte de trás de sua jaqueta, retirava a

faca do grosso músculo do homem, justo por cima do joelho. Madeline inclinou a

cabeça em sinal de aprovação e viraram juntos, deixando o ogro uivando,

maldizendo e rodando sobre a areia — era bem grande para bloquear o passo a

outros nessa direção — e se dispuseram a proteger Gervase pelo outro lado.

Justo a tempo, porque ele se encarregara de mais dois, todos desconhecidos,

mas chegaram outros três homens desesperados e decididos a prendê-los. Dois

lutavam contra Gervase fazendo-o avançar, enquanto o terceiro aguardava antes

de atacar pela esquerda...

De novo, Madeline bloqueou o ataque, mas o homem teve a agilidade e a força

para girar com ela e mudar a direção de seu avanço. De repente, se encontrou cara

a cara com um forte matador de Londres, no mínimo, com o dobro da força dela.

A jovem tinha os braços levantados, com suas duas armas cruzadas no ar,

prendendo a dele, mas o homem estava de pé, com as pernas separadas para

manter bem o equilíbrio, agarrando a empunhadura da espada com força com

ambas as mãos. Sorriu cruelmente e se aproximou ameaçador.

Os músculos do braço começaram a tremer, a falhar. Olhou-o fixamente nos

olhos, moveu os pés e lhe deu uma forte patada entre as pernas.

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Ele abriu os olhos exageradamente e a cara se retorceu de dor. Soltou um uivo

animalesco; caiu ao solo enquanto soltava a espada para enrolar-se como um ovo;

e uivou ainda mais quando Edmond se aproximou e o apunhalou no músculo, antes

de voltar a colocar-se em seguida atrás de Madeline, que dirigiu ao seu irmão um

único olhar, justo para ver que tinha os olhos brilhantes, cheios de entusiasmo.

Respirou com dificuldade enquanto rezava porque o coração se acalmara no

peito; comprovou que estiveram razoavelmente protegidos pelos dois homens

caídos de ambos os lados e dirigiu a atenção para diante a tempo de ouvir Charles

dizer:

— Desculpa.

Um segundo depois, o último atacante que se enfrentava com Gervase caiu ao

solo. Ele respirava um pouco mais depressa que o normal; contemplou o vulto

imóvel a seus pés e ergueu a vista para Charles.

— Festa nas águas.

Seu amigo encolheu os ombros.

— Estava demorando muito. — Olhou por trás dele. — Tudo bem por aqui?

Gervase abaixou a espada e se virou.

Sabia que tanto Madeline como Edmond estavam bem. Olhara-os uma

infinidade de vezes. Fora tão consciente de sua presença todo o tempo que teve

que esforçar-se para manter os olhos e os instintos centrados em quem o atacava,

obrigando-se a confiar na capacidade de Madeline para defender Edmond...

Com o que não contava era com que defendesse a ele. Mas o fizera sem

hesitar. Ainda que visse cada ataque chegar antes que ela agisse e fizesse algo

para evitar o pior, Madeline — habilmente secundada por Edmond — o salvara, no

mínimo, de algumas feridas feias.

Olhou-a nos olhos e viu preocupação nos seus e algo mais. A excitação da

batalha ainda o embargava familiar e potente, mas essa noite havia outras

emoções mescladas com essa. Descobriu-se sorrindo, levantou um braço, lhe

rodeou os ombros, estreitou-a contra ele e a aproximou.

— Obrigado. — Sussurrou a palavra ao ouvido, abraçando-a com força e

afrouxou seu agarre o suficiente para olhar para Edmond e dizer-lhe ainda

sorridente: — Obrigado a você também. O fez bem e cumpriu as ordens.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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O menino estava radiante e levantou a faca.

— Formamos uma excelente equipe.

Gervase riu e concordou.

— Sim. — Nunca tinha lutado em equipe antes, mas pensou que poderia

acostumar-se.

Madeline tinha as mãos sobre o peito molhado dele. Os dois estavam

ensopados e cobertos de areia até quase os ombros, mas um lento ardor de júbilo

subiu em seu interior, anulando qualquer possibilidade de sentir frio.

Apertando-a ainda com o braço, e com Madeline feliz de seguir colada às suas

costas, se voltaram para examinar a praia.

Charles e Abel, ajudados pelos outros homens que os tinham acompanhado nas

barcas, arrastavam e empurravam os perdedores conhecidos e desconhecidos, para

formar um grupo a uns metros do final do caminho do penhasco.

Nenhum dos seus parecia ter sofrido ferida mortal, nada mais que rasgões e

cortes; alguns bem feios, mas nenhum grave. Não se podia dizer o mesmo dos

saqueadores; ao menos dois deles estavam estendidos imóveis na areia e outros

dois necessitavam a ajuda de seus companheiros, porque estavam incapazes de

caminhar sozinhos.

Quando Madeline, Edmond e Gervase avançaram para eles, este ficou sério.

Haveria mais mortes; independente do que sucedesse aos londrinenses, os

saqueadores acabariam na forca.

Fora a gravidade que a lei atribuía a essa atividade, ali na Cornualha, onde a

maioria das famílias tinha uma longa associação com o mar, esse tipo de meliantes

era considerado os seres mais que aborrecíveis.

Não o surpreendeu descobrir que Madeline estivera pensando mais ou menos o

mesmo quando murmurou:

— Teremos que assegurar-nos que suas famílias não sofram as conseqüências

de seus atos.

Gervase assentiu. Inclusive os parentes mais próximos quase sempre não

tinham nem idéia sobre essas atividades atrozes de seus parentes.

—John Miller ficará destroçado.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Ela assentiu com gravidade.

Rodearam os homens vencidos e abatidos para aproximar-se de Dalziel, que se

encontrava de costas no caminho do penhasco, com a espada ainda na mão.

Ninguém conseguira passar por ali. Uma intensa frustração apenas reprimida

emanava dele enquanto estudava os homens esgotados.

Sua expressão era tensa, sumamente irritada. Ergueu a vista, olhou a Gervase

nos olhos e lhe assinalou a parte alta das rochas que tinha as suas costas.

— Não está lá em cima. Os caminhos estão bloqueados. Christian está ai e

encontrou um cavalo esperando, mas nenhuma carruagem. Deve ter trocado pela

montaria durante a tarde.

Olhou os homens reunidos na areia, diante dele. Os vencedores pairavam sobre

eles a espera de suas ordens.

Com olhar frio, se abaixou diante do ogro ao qual Edmond havia apunhalado na

perna. O homem estudou o rosto de Dalziel e se jogou para trás com seus

pequenos olhos brilhantes.

— Onde está vosso chefe?

Um sombrio murmúrio surgiu do grupo quando os outros, junto com o

primeiro, olharam ao seu redor e perceberam que os havia abandonado.

O homem ao qual Dalziel perguntara vacilou e disse:

— Não sei. Mas estava aqui. Passeava de um lado ao outro, observando como

cavávamos e dizendo-nos que tivéssemos cuidado...

— O reconheceria se o visse — interveio o esquálido vigia. — Era como você,

um demônio de cabelos escuros e muita lábia.

— Vi um que parecia um cavalheiro — comentou um dos jovens recrutas. — Eu

o vi quando nossa barca subiu a crista de uma onda antes que atacássemos, mas

logo já não o vi mais.

— Eu também o vi — assentiu Madeline. — Antes que nós chegássemos à

praia. Usava um abrigo, mas depois o perdi.

Dalziel se ergueu.

— E onde está agora?

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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Todos, incluindo os homens derrotados, olharam ao seu redor. Além da zona

iluminada pelas tochas a noite era um negro manto de veludo. Dalziel olhou para o

extremo norte da praia.

— Não subiu pelo caminho nem chegou ao alto do penhasco. O que há nesse

cabo? Poderia ter caminhado ou nadado para rodeá-lo?

— Não — replicou Gervase. — E não pode fugir pelo sul tampouco.

— Estaria morto se o houvesse tentado — opinou Abel.

— Estão nas cavernas. — Edmond olhou para Dalziel, ao qual não havia visto

nunca antes. — Pode ser que se escondeu nelas.

O comandante voltou-se e ficou olhando os escuros penhascos.

— Pode chegar ao alto das rochas através de alguma das cavernas?

Edmond, Gervase e Abel responderam que não.

Com expressão decidida, Dalziel assentiu.

— Nesse caso, vamos procurá-lo com cuidado.

Deu ordens claras e concisas e apontou a dois homens para vigiarem o

caminho do penhasco e dois mais para que ficassem com os vencidos; amarraram

os que poderiam dar-lhes problemas antes de afastar-se.

Gervase os guiou até a entrada da caverna que ficava mais ao norte.

— Nos manteremos juntos e buscaremos em todas as grutas de uma em uma.

Não é necessário dar-lhe a oportunidade de tomar mais reféns — explicou Dalziel.

— Avançaremos pela praia e deixaremos dois homens fora de cada caverna que

revistarmos, para assegurar-nos que não tente enganar-nos e escondendo-se em

uma na qual já entramos.

Passaram mais de uma hora revistando todas. Por impossível que parecesse, o

traidor havia escapado da praia de algum modo.

Quando saíram da última caverna, Gervase e Charles trocaram uma olhada;

eles sabiam o quanto Dalziel devia sentir-se frustrado.

Quando chegaram ao pé do caminho do penhasco, Gervase se deteve e se

ergueu para esticar as costas.

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— E agora o que?

---

Durante um longo momento, Dalziel não respondeu, enquanto contemplava as

ondas. Finalmente inspirou.

— Eu subirei e me reunirei com Allardyce. Buscaremos pela costa e nos

penhascos que vão para o norte até Helston. — Olhou para Gervase, que assentiu

igualmente sério.

Nós iremos a pé e faremos o mesmo na outra direção até o castelo. Deve ter se

arriscado a rodear as rochas, para o norte ou o sul. Se ele conseguiu chegar até os

penhascos, seja por um lado ou outro, deveremos encontrá-lo.

Tinha razão. Não obstante, parecia que nenhum deles, nem Charles nem

Dalziel, nem ele mesmo, tinham muitas esperanças. Por muito incrível que parecia,

sua presa havia escapado.

Outra vez.

Abel se aproximou e disse que ordenaria a seus meninos que levassem suas

barcas até Helston e também que devolvessem as duas embarcações do castelo.

— Os rapazes examinarão as calas quando passarem diante delas.

Também se ofereceu para supervisionar a subida dos vencidos até o alto dos

penhascos e sua entrega a polícia em Helston. Sorriu.

— Isso fará que minha relação com as autoridades melhore. Deste modo,

tirarei proveito à noite.

— Desfrutou da ação, velho réprobo — replicou Gervase.

— Certo. — O sorriso de Abel se ampliou. — Mas quando se chega a minha

idade, aprende-se a tirar o máximo proveito a tudo o que o bom Deus lhe envia. —

Com uma risada, se afastou para ordenar aos seus as diversas tarefas.

Gervase pegou a Madeline pela mão, olhou a Edmond e começou a subir o

caminho.

Charles se uniu a eles, junto com aqueles que procediam do castelo ou tinham

sua casa nessa direção. Quando chegaram ao alto das rochas, viram que Dalziel e

Christian já se tinham posto em marcha. Eles se puseram a andar em paralelo a

costa, em direção a Crowhurst.

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---

Ensopado e tremendo, o homem ao qual todos buscavam seguiu oculto em seu

refugio, um oco em uma pequena ilhota em frente a cala. Vira a irregular formação

rochosa a uns trinta metros da costa quando contemplou a baia do alto do

penhasco nessa tarde. Não lhe deu importância, não até que, abaixo na praia;

enquanto supervisionava a busca e alertado por um sexto sentido havia olhado ao

outro lado do círculo de luz e, entre as sombras; na base do penhasco, vira ao

único homem ao qual não desejava encontrar-se nunca em seu papel de traidor.

Emocionado e desesperado, viveu um instante de puro terror seguido por um

segundo momento de horror quando percebeu que as três figuras abaixadas

esperavam algo, que deveria vir do mar.

Quando se virou e olhou para lá, vislumbrou fugazmente um rosto branco por

cima das ondas.

O instinto de sobrevivência o dominou. Sua única escapatória possível dependia

que agisse no instante. Sem chamar a atenção dos homens que estavam cavando,

deu alguns passos sem pressa para o mar e seguiu caminhando enquanto tirava o

cachecol e o chapéu. Quando pode, se enfiou na água, se despojou do abrigo e

nadou, lutando, lidando desesperadamente contra as ondas e as traiçoeiras

correntes para chegar às rochas que sabia que estavam ali, mas que na metade da

noite não podia ver.

Se ele não podia vê-la, outros tampouco poderiam. Acreditava que não as

alcançaria; pensava que depois de tudo, sua vida acabaria assim.

Estava pensando que se fosse esse o caso, ainda seria uma espécie de triunfo

para ele, porque Dalziel nunca o saberia, duvidaria para sempre, quando sua mão

chocou-se com uma rocha.

Agarrou-se a ela, se segurou e, arquejante, tremendo, rezando, se içou sobre

as pedras e encontrou o buraco no qual agora estava metido. Submergido na água

até o pescoço e parcialmente protegido do constante embate das ondas, se agarrou

com desespero. Pouco a pouco, o pânico desapareceu e recuperou a capacidade de

pensar.

A batalha na praia acabou. Para seu desgosto, mas não para sua surpresa, as

forças de Dalziel venceram. Pelo momento estava a salvo, mas tinha que sair dali

sem deixar nenhum rastro.

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Nenhum em absoluto.

Ainda que, dessa vez o comandante havia se aproximado muito, não gastou

tempo demais maldizendo nem pensando como seu Nêmesis havia aparecido tão

inesperada e aterradoramente, quase lhe pisando os saltos. A resposta a viu na

praia diante dele.

Não havia reconhecido Crowhurst como um dos homens de Dalziel, mas a St.

Austell o conhecia de vista e o modo com que os três falavam lhe deixou claro que

o aristocrata era um deles, e também ficou claro que aquela maldita mulher,

Madeline Gascoigne, era a mulher do conde. Isso fazia com que fosse demasiado

perigoso perseguir aos seus irmãos. Se conhecesse a conexão, nunca teria se

aproximado tanto.

De fato, até esse momento sobrevivera evitando sempre a Dalziel e aos seus

homens. Agora... Agora tinha que cobrir seu rastro e sair do distrito rapidamente,

porque se o comandante o visse ali, adivinharia e o saberia tudo em um abrir e

fechar de olhos. Dalziel então agiria e, nessas circunstancias, não teria nenhuma

piedade. Se o visse na zona o relacionaria de algum modo com as atividades do

traidor, sua vida se mediria pelo tempo que custasse ao seu inimigo alcançá-lo.

Sabia isso desde o principio; formava parte da emoção, da duradoura

satisfação. Jogar com a morte e ganhar era de verdade estimulante.

Recordando-se que até o momento triunfou e superou todos os obstáculos,

observou como Dalziel deixava a praia e subia pelo caminho até o alto do

penhasco.

O alívio o inundou; odiou senti-lo, mas assim foi. Apertou a mandíbula e se

centrou em seus planos. Sabia muito bem que não devia deixar nada a sorte; que

não devia deixar nenhum fio solto que os levasse até ele, por muito vago que fosse.

Estava molhado até os ossos, ficou onde estava, observou e tramou, lutando

para evitar que o medo que o paralisara antes voltasse a surgir e a bloquear-lhe a

mente.

Viu que rodeavam seu improvisado exército, mas nenhum deles sabia seu

nome. Não significavam nenhuma ameaça.

Fizeram-nos avançar e subir também o caminho do penhasco. Alguns

seguravam os feridos e os ajudavam a subir a abrupta ladeira. Outros homens

regressaram aos botes.

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Pensou se deixaria algum até a manhã seguinte, mas todos foram arrastados

além das ondas.

Duas embarcações se dirigiram ao sul, as outras ao norte, passando a menos

de dez metros de distancia dele. Agarrou-se a rocha e não fez nenhum som nem

movimento; na obscuridade não o vieram, uma densa sombra contra a rocha

negra.

Esperou durante muito tempo depois que a praia ficou deserta. Aguardou ainda

um pouco mais. Olhou através das ondas ao lugar onde pensava que sua

mercadoria perdida estava enterrada. Em vista do completo desinteresse mostrado

por Dalziel e sua equipe para a zona iluminada pelas tochas e para as cavernas que

havia ao longo da praia, supôs sem lugar a dúvidas que os meninos, ambos, lhe

haviam mentido.

Era irônico que ele que podia mentir tão bem, tivesse engolido tão facilmente

aquele conto. Mas os dois pareciam tão inocentes, incapazes de enganar. Tão

jovens.

Gostaria muito de por lhes a mão em cima e tirar-lhes a verdade a tapas, mas

sabia quando devia se retirar. Ainda que uma parte dele sentisse a necessidade de

escapar, de seguir no anonimato e, portanto, viver, outra parte uivava, maldizia e

gritava diante da perda de sua valiosa mercadoria. Não obstante, seu eu mais

prudente sabia que nenhuma quantidade de ouro e jóias, nenhum adorno ou

miniatura, o aqueceria se estivesse morto. Não lhe serviriam nada se Dalziel o

prendesse.

Sempre vira seus prêmios como provas tangíveis de suas vitorias sobre o

militar, mas a verdadeira prova dessa vitoria era o fato de seguir com vida.

Depois que a praia ficou deserta durante horas e as tochas foram apagadas há

um bom tempo, deixando que a escuridão se apoderasse de tudo, inspirou

profundamente e saiu da gruta e nadou para a costa. As correntes já não eram tão

fortes. Chegou à praia, conseguiu ficar de pé e cambaleou até o penhasco.

Na escuridão, custou um tempo encontrar a estreita trilha de ascensão.

Subiu devagar, com as botas cheias de água. Tremia, mas agora que a

tormenta havia parado e o tempo mudara logo a roupa estaria seca.

Quando chegou ao alto das rochas, olhou ao norte, a linha do mar, o limite de

uma densa sombra visível diante do cinza da água. Ao longe, viu um ponto de luz

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que aparecia e desaparecia. Estavam procurando por ele nos penhascos e nas

cavernas abaixo. Não podia arriscar-se a pegar o caminho sobre as rochas, mas,

casualmente, essa não era a direção que necessitava tomar.

Com a cabeça baixa, se dispôs a atravessar os campos. Após explorar as praias

da península durante semanas, tinha um mapa mental da zona. Planejara uma rota

direta que o levaria terra adentro passando por diversas aldeias muito pequenas e

granjas isoladas, onde poderia encontrar um cavalo.

Inclusive, se não o encontrasse, poderia percorrer sem problemas essa

distancia e alcançar seu objetivo antes do amanhecer.

Depois que houvesse se encarregado de um último fio solto, desapareceria

para sempre.

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Capítulo 20

De madrugada, Gervase, Madeline, Edmond e Charles entraram no pátio do

castelo e subiram devagar a escada principal. Haviam percorrido a costa desde

Kynance Cove e, tal como Gervase havia suposto, não viram nada.

Ao longo do caminho se despediram dos que lutaram com eles e que viviam

nos povoados pelos quais iam passando. Ao chegar ao castelo, Gervase se virou

para o pequeno grupo congregado, rapazes de quadra e serventes; todos estavam

esgotados e caminhavam arrastando os pés, mas seus rostos refletiam que tinham

gostado da aventura e que o fato de prender os saqueadores compensava todos os

duros momentos.

Gervase sorriu.

— Obrigado por vossa ajuda. Não prendemos o cavalheiro em questão, mas

fizemos um grande bem ao distrito ao deter os saqueadores. Agora vão descansar e

direi ao Burnham que estão dispensados até o meio dia.

Sorriram sonolentos e inclinaram a cabeça como despedida, afastando-se;

alguns para os estábulos, outros para a parte posterior do castelo.

Com Madeline ao seu lado segura pela mão, Gervase virou-se e seguiu Charles

e Edmond para o interior do vestíbulo. Sybil, Penny e Sitwell os esperavam.

— Graças a Deus! — Sybil deu um forte abraço em Edmond e olhou para

Gervase e Madeline. — Deus meu, tiveram que nadar?

Madeline e ele olharam para suas roupas; uma vez passada a tormenta, a noite

ficara cálida, mas eles continuavam molhados e cheios de areia. Gervase lhe

apertou a mão e a olhou nos olhos.

— Será melhor que subamos para tomar banho e trocar de roupas.

— Já. — Concordou Sybil. — Não queremos que ninguém se resfrie. — Olhou

para Edmond, ainda entre seus braços. — E quanto a você, jovenzinho, há uma

cama quente te esperando. Será melhor que se deite antes que durma em pé.

O menino sorriu; o fato de não protestar e permitir que o guiassem para a

escada deixava mais claro que estava cansado. Virou-se sonolento para Madeline e

os outros.

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— Obrigado por me resgatar. Boa noite.

Sua irmã e Gervase sorriram e se despediram dele com a mão desejando-lhe

boa noite.

Penny estava recebendo e examinando seu marido. Quando viu um corte na

mão, suspirou com gesto de desaprovação: — Os homens e suas espadas...

Charles soltou uma risada e lhe rodeou os ombros com o braço.

— Vamos. Se os cachorros estão em nosso dormitório, será melhor que

subamos antes que comecem a latir. Poderá tratar meus ferimentos lá.

Ela franziu o cenho.

— Tem mais? Quantos? — Mas permitiu que a conduzisse até a escada e se

despediu com um gesto de cabeça de Gervase e Madeline quando passaram junto a

eles. — Veremos vocês no desjejum.

—Tarde — pontuou Charles sem olhar para trás.

Gervase e Madeline sorriram. Ele a olhou nos olhos.

— Será melhor irmos também. — Baixou a voz. — E tirarmos estas roupas.

Quando começaram a subir a escada, as suas costas, Sitwell tossiu.

— O senhor Dalziel e o marquês regressarão também esta noite, milorde?

— Sim. — Gervase não se deteve. — Estão a cavalo e não deverão demorar

muito.

— Muito bem, milorde. Fecharei tudo assim que chegarem. Deixarei uma

mensagem a Burnham para que deixe seus rapazes dormir até mais tarde. E

atrasaremos o desjejum pra as nove.

— Obrigado, Sitwell. — Com o olhar fixo nos olhos cor de água marinha de

Madeline, Gervase lhe entrelaçou o braço com o dele e, devagar, subiram por fim a

escada.

Quando chegaram acima, viram a luz da vela de Charles e Penny que

desaparecia num corredor. Ficava outra vela na mesa auxiliar; Madeline a pegou e

suspirou.

— Dalziel se sentirá frustrado, não é verdade?

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Gervase a guiou para a direita.

— Penso que sim. Se tivesse prendido esse canalha, a notícia chegaria aqui

antes que nós. Não sei como fugiu dessa praia, talvez não o tenha conseguido são

e salvo.

Madeline o olhou a tremula luz da vela.

— Mas você não acredita.

Gervase apertou os lábios e olhou-a nos olhos.

— É a explicação lógica e mais provável. Não. Creio que conseguiu escapar de

algum modo. Tornou-se um expert nisso, em fugir das redes de Dalziel.

— Suponho que isso seria o certo.

Gervase grunhiu.

— Claro.

Avançaram devagar e depois acrescentou: — Disseste que Dalziel estava

obcecado, e até certo ponto é certo; mas como o resto de nós, agora que a guerra

terminou, deve ter uma vida esperando-o, uma a qual deverá regressar.

— Acredita que depois disto se renderá e renunciará?

— Há algumas semanas, Christian disse que pensava que Dalziel estava

―lançando assuntos‖. Este canalha, nosso traidor, é quase certo o último ponto de

sua lista. Se depois que todo o resto estiver arrumado e o assunto seguir sem

resolver-se, então, sim, creio que Dalziel deixará de lado a lista e continuará com

sua vida.

Madeline refletiu e disse: — Para alguém como ele, isso vai exigir uma enorme

força de vontade.

Gervase concordou.

— Agora que o conhece, acredita que não a tem o suficiente para fechar a

porta ao passado?

Ela pensou antes de assentir: — Sim, mas não lhe será fácil.

Ele a guiou para a porta do final do corredor.

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— Estou de acordo, mas no fundo tem poucas alternativas. Não é um soldado

de carreira, como todos nós éramos. Não tem nenhuma graduação oficial. Nunca

esteve na Guarda Real ou em nenhum outro regimento. Como chegou onde está ou

como chegou a ocupar esse cargo, nunca o soubemos. Mas quando quiser, deixará

Whitehall, ou deixará tudo para trás.

— Como todos fizeram, mas ele o seguiria, não?

Gervase fez uma careta.

— Certo, mas quando Dalziel se for, suspeito que seja verdadeiramente o final.

— Deteve-se ante a porta e a olhou nos olhos. — Nós nos aproximamos desse

canalha duas vezes. Quando Dalziel aparece ou, como em uma ocasião anterior,

estava a ponto de aparecer, o homem deixa tudo, mata a qualquer que conheça

sua identidade e desaparece. Por isso creio que escapou na praia, porque viu

Dalziel e deve ter feito algo tão desesperado que nenhum de nós podia sequer

imaginar. Você o viu, um dos recrutas também. Estava lá, mas então viu Dalziel e

se esfumaçou.

— Eu suponho que a maioria dos delinqüentes deve fugir de Dalziel.

Seja quem for.

Gervase assentiu.

— Por isso creio que não voltaremos a vê-lo e é improvável que Dalziel tenha

outra oportunidade de jogar a luva. O homem estava aqui, no distrito, para

recolher o pagamento de sua traição, mas pela natureza desse pagamento e pelo

fato de ter deixado seu tesouro durante tanto tempo na França, está claro que não

necessita o dinheiro. Agora sabe que Dalziel tem conhecimento de sua mercadoria

perdida e esta já não merece o risco. E este movimento de vir buscá-la, era o

último na partida de nosso traidor. A guerra terminou e não lhe ficam mais

movimentos a fazer.

Madeline franziu o cenho.

— Então, é o próprio Dalziel que representa uma ameaça para esse canalha?

Gervase abriu a porta.

— Por alguma razão, para Dalziel supõe o máximo risco, a máxima ameaça.

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Quando ela entrou no dormitório, fechou a porta e observou como, pensativa,

se aproximava de uma cômoda e deixava a vela em cima. Finalmente, reagiu e a

seguiu.

Madeline se voltou quando ele a puxou para seu lado.

Gervase levantou as mãos, lhe rodeou o rosto com elas e fitou seus adoráveis

olhos.

— Mas agora tudo isto terminou para nós, para os daqui. O perigo passou. Ben

está a salvo. Edmond está a salvo... — Susteve o olhar. — E, sobretudo, você está

a salvo.

Madeline o fitou por sua vez. Então, sorriu, pegou-o pela jaqueta e o

aproximou a ela. — E você.

Gervase abaixou a cabeça e a beijou, um beijo que Madeline lhe devolveu

acolhedora e infinitamente generosa.

Ele lhe soltou o rosto, rodeou-a com os braços e a puxou para ele. Inclinando a

cabeça, aprofundou o beijo e deu a ambos o que desejavam. Simplesmente deu

rédea solta à paixão contida, a inevitável reação aqueles horríveis momentos na

praia. Reprimida até esse momento, o anseio se converteu em desejo e este se

transformou em necessidade; subiu vertiginosamente atravessando-os e fluindo em

seu interior, crescendo e buscando uma liberação.

A incondicional rendição dele permitiu a Madeline fazer o mesmo, e permitiu

entregar-lhe sua paixão, seu desejo e sua necessidade em resposta. Durante uns

longos momentos, nada mais importou, exceto aquela simples comunhão, aquele

prolongado beijo, o reconhecimento, a degustação e a compreensão elementar.

Eles o necessitavam. Pelos mesmos motivos, os dos tinham necessidade desse

momento, desse consolo, o primitivo reconhecimento que ambos sobreviveram e

que os dois estavam ali, sãos e salvos, triunfantes e vitoriosos.

Que, no fundo, apesar de tudo, cada um seguia sendo o mundo para o outro.

O desejo brotou, cresceu e os encheu. Suas bocas se abriram; contendo a

respiração, os lábios ardendo, se separaram e se olharam nos olhos e, de repente,

desesperadamente se necessitaram todo.

Tinham que compartilhar tudo o que eram.

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Tinham que tomar tudo e cada acalorado momento; cada batida do coração,

cada roçar e cada ardente carícia.

Tiraram as roupas dos corpos úmidos e as deixaram cair ao chão espalhadas a

sorte. O fato de tirar as botas molhadas os fez rir pelo momento de alívio, antes

que seus olhares se encontrassem e o desejo familiar com um toque mais intenso,

delicado e profundo voltasse a surgir.

Foram dominados e empurrados aos braços, um do outro, com a cálida nudez,

a única coisa que importava era sentir o contato da pele, a carícia de tocar, adorar

e... Possuir e desejar.

Além das palavras, da descrição, arquejando, quase às cegas, deitaram-se

sobre os lençóis e o velho colchão que os acolheu, entre almofadas esparramadas

ao seu redor.

Madeline separou as pernas e o agarrou pelas costas. Gervase pairou sobre ela,

e com a mão entre os dois percorreu e acariciou-a até que a fez gritar.

Só então se moveu, abaixou a cabeça e a beijou. Tomou sua boca e com uma

única e poderosa investida se uniu a ela, lançando-os naquela familiar dança.

Familiar, ainda que diferente.

Os momentos se prolongaram e giraram em espiral. Juntos se esforçaram e

juntos desfrutaram. Alcançaram o familiar climax e se agarraram a ele até que o

êxtase os despedaçou, os fundiu e os deixou flutuando a deriva como um só ser;

enquanto a satisfação percorria suas correntes sanguíneas e seus acelerados

pulsos, se tornaram mais lentos, marcava um relaxante ritmo em seus ouvidos com

o amor, simples e puro e um brilhante esplendor encheu seus corações.

---

Chegou o amanhecer e, ao seu redor, o castelo despertou. Estendidos no meio

de um emaranhado de lençóis da cama de Gervase, eles continuaram dormindo. O

sol entrava já obliquo através das janelas quando ele acordou.

Antes de abrir os olhos e antes que sua mente se pusesse em funcionamento

ele o soube. Em algum primitivo nível o reconheceu e não só o cálido corpo meio

estendido sobre o seu, com os seios colados ao seu torso, seu próprio braço

abraçando-o e as longas pernas entrelaçadas com as suas, mas o que mudara e o

que dera a sua familiar paisagem aquela luz dourada.

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Sorriu antes mesmo de abrir os olhos.

Olhou para Madeline e o caos de cachos que lhe ocultava o rosto. Sentiu que se

mexia.

Como se tivesse sentido seu despertar, ela despertou também. Levantou uma

mão, e afastou os cabelos do rosto olhando-o.

Gervase lhe sorriu. Não recordava ter se sentido tão feliz antes e muito menos

tê-lo mostrado tão abertamente.

Confusa, Madeline o olhou nos olhos.

— O que foi?

O sorriso dele se ampliou e ergueu os olhos para o dossel a fim de ocultar

qualquer arrogância que pudesse refletir-se nele.

— Você vai casar-se comigo.

Madeline não respondeu imediatamente. Gervase a olhou e viu que lhe custava

um momento franzir o cenho.

Afinal conseguiu, mas era um gesto de leve descontentamento mais que de

enfado, e o dirigiu a ele.

— Por que acredita nisso? Não aceitei nenhuma proposta e se recorda bem,

tampouco me fez nenhuma.

Gervase voltou a sorrir.

— Eu sei. Mas a farei e você aceitará. Você já tomou a decisão.

Ela apertou os olhos.

— Não pode saber isso.

Ele lhe segurou o olhar e esboçou um sorriso mais terno. Levantou uma mão e

jogou seus cabelos para trás sem afastar os olhos. — Eu sei. Está em minha cama.

Nua na cama do conde de Crowhurst, onde só as condessas de Crowhurst ficam.

Madeline arqueou as sobrancelhas, se incorporou, apoiou-se sobre seu torso e

olhou a grande sala ao seu redor.

Gervase riu e a rodeou com os braços.

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Não é só sedução — Série El Club Bastion 06 — Stephanie Laurens
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— Você sabia à noite quando entramos, mas não se preocupou em mencioná-lo

porque em sua opinião isso já não importava.

Quando Madeline voltou a olhá-lo, ele apertou os braços ao seu redor em um

delicado abraço.

— E tinha razão. Este é seu lugar. Neste dormitório, nesta cama, comigo. Aqui

é onde deveria passar e passará suas noites durante o resto de sua vida. Aqui, ao

meu lado.

Ela continuou olhando-o como se não estivesse certa de como enfrentar aquilo,

ao seu repentino e absoluto conhecimento.

Gervase ergueu as sobrancelhas e tentou adotar uma expressão e um tom

vulnerável, tarefa que não foi fácil.

— Estou equivocado?

De um modo absolutamente involuntário, Madeline riu. Tentou olhá-lo com os

olhos apertados, mas sem consegui-lo. Deitou-se de boca para cima ao seu lado e

olhou o dossel também.

— Espero que isto não se converta em um hábito por sua parte; o de ser tão

irritantemente sabe tudo.

Gervase riu. Pegou-lhe uma mão, entrelaçou os dedos com os seus, levou-os

aos lábios e lhe beijou os nós.

— Só com você.

Madeline suspirou.

Ao final de um momento, no qual Madeline tinha certeza que ambos haviam

contemplado juntos esse futuro que se abrira diante deles de uma maneira tão

repentina, ele perguntou:

— O que a convenceu a mudar de opinião?

Ela guardou silencio uns segundos enquanto pensava. Finalmente, respondeu:

— Como você pretendia, e ao longo das últimas semanas ficou muito claro, na

verdade necessitava de uma esposa desesperadamente, não só para dirigir todos

os aspectos de sua vida como conde para a qual não está preparado para enfrentar.

E também ficou claro que Sybil, suas irmãs, Muriel, meus irmãos e, com umas

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poucas exceções, se é que há toda a comunidade local e inclusive seus ex-colegas e

ex-comandante acreditam que essa tarefa deveria recair sobre mim.

— E isso foi o que a convenceu?

Madeline ouviu a surpresa e o ceticismo em sua voz e sorriu; conhecia-a

realmente bem.

— Não. Isso só me deixou mais nervosa. Todos aqui me viam como uma dama

que não necessitava casar-se, a qual havia se eximido do casamento durante mais

de uma década e então, assim, de repente, mudam de opinião? Talvez estivessem

certos, mas o que sabiam de mim? — Fez um gesto de desdém com a mão. —

Nunca fui uma jovem dama que ansiasse casar-me, nunca tinham visto essa faceta

minha. Nunca lhes mostrei. Só me viam como a representante de meus irmãos. O

que sabiam dessa outra parte de mim?

Gervase aguardou um segundo e perguntou:

— Então, o que inclinou a balança a meu favor?

Madeline sentiu que seus lábios se curvavam.

— Você... E de um estranho modo, esse canalha, o traidor, ou melhor, suas

maquinações e como nos enfrentamos a ele. O fato que fizesse o esforço de olhar a

mim, ao meu verdadeiro eu. Não o fizera antes, mas então, não sei como, você

retrocedeu e conseguiu uma perspectiva diferente, mais profunda e verdadeira, e

uma vez que o fez não se retirou, mas sim começou a tratar comigo de verdade,

não com quem todos os outros pensavam que era. Isso foi estranho, inquietante e

perturbador no principio, mas... Em alguns aspectos, foi uma liberação. Com você

posso ser quem sou sem nenhum véu nem disfarce. Posso ser eu, a pessoa que

nunca acreditei que teria a oportunidade de ser.

Ele tornou a roçar-lhe os dedos com os lábios.

— A mulher que pensava que devia manter oculta, encerrada e esquecida para

poder cuidar de seus irmãos.

Não era uma pergunta e Madeline ouviu e concordou.

— Esse foi e ainda é um ponto importante ao seu favor, mas não é único e nem

o principal.

— Não é o que a convenceu a mudar de opinião.

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Ela assentiu de novo.

— Minha lista de razões pelas quais não deveria casar-me com você, em

retrospectiva, era menos relevante. De algum modo, mas não a questão essencial.

Quando fiz essa lista, não sabia verdadeiramente, não compreendia qual era a

questão essencial, qual é. Mas então você se empenhou em demonstrar que

minhas razões não eram como eu acreditava, ou que deixava só essa questão

essencial sem resolver.

Ali era onde nos encontrávamos quando me disse que, desde o princípio,

desejava, tinha intenção de se casar comigo. — Virou a cabeça sobre a almofada e

olhou-o nos olhos. — Esse foi o momento no qual me encontrei, de repente,

enfrentando-me a essa questão essencial e, algo pouco comum em mim; descobri

que não sabia a resposta. Nem sequer sabia como averiguar.

Deteve-se e estudou seus olhos cor âmbar. Quando Gervase não perguntou, se

limitou a erguer as sobrancelhas e esperar, Madeline sorriu.

— Não houve um momento único, uma repentina revelação. Quase

imediatamente depois, Ben foi seqüestrado e não tive tempo de pensar nisso. Mas

a resposta me foi chegando. Não foi pelo que você fez ou pelas ações que levou a

cabo para recuperar Ben e resgatar Edmond; ainda que me sentisse agradecida —

apertou-lhe a mão, — mais agradecida do que posso expressar, de que estivesse ali

para ajudar-me a recuperar os meninos sãos e salvos.

Inspirou, tentou encontrar as palavras, a forma correta de explicar o que

ocorrera para que, tal como ele adivinhara corretamente, agora ela conhecia o

caminho sem lugar a dúvidas.

— Não foi o que você fez, mas como o fez. O modo de tratar a alguém é o

reflexo de como o vi e ao longo destes últimos dias nos quais me tratou de uma

maneira única: como se já fosse sua esposa e não pudesse olhar-me de outro

modo, como se a resposta a minha questão essencial, ao menos em sua mente, se

desse por certa.

Observou seus olhos, inspirou e continuou:

— Minha questão essencial era se me queria. Sabia que eu te queria muito,

mas não sabia se me correspondia, não até esse ponto. Mas se era assim, eu não

sabia, não podia ver como poderia conseguir me convencer... Mas você o fez.

―Mostrou-me a resposta‖ em lugar de palavras suas ações falam por si. Compreendi

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o quanto lhe custou permitir-me acompanhá-los a praia em Kynance Cove, mas

você o fez. Aceitou porque para que fosse eu mesma deveria ser assim, cedeu e se

adaptou para agradar-me mesmo sabendo que o que eu pedia era uma das coisas

mais difíceis para permitir sendo como é.

Olhou-o nos olhos, se agarrou a compreensão que viu em seus olhos e se

alegrou por isso.

— Você me mostrou que, apesar de sermos tão parecidos, sobretudo nesse

aspecto, ainda assim poderíamos ter uma vida juntos, poderíamos compartilhar

todos os momentos da existência, os difíceis e os fáceis, que poderíamos construir

uma vida e aproveitar dela juntos sem deixar de sermos nós mesmos. Mostrou-me

que seu amor e o meu permitiriam que fosse assim.

Sorrindo, Madeline deixou que sua segurança se refletisse, que lhe iluminasse

os olhos.

— E isso é o que agora desejo; passar o resto de minha vida com você, ao seu

lado, ocupando esse espaço que todos parecem estar tão certos que estou

destinada a ocupar, amando-o e fazendo que me ame. — Seu sorriso se relaxou;

sentiu que se tornava mais séria, mas não menos sincera. — Se isso é o que você

deseja, então eu também o desejo.

Gervase não riu, não sorriu, mas seus lábios estavam relaxados. Deitou-se de

costas, levantou uma mão, lhe rodeou o rosto e a olhou nos olhos como se através

deles visse sua alma, como se falasse com ela.

— Isso é o que desejo, isso é o mais importante que pediria a vida. Nunca

estarei completo, nunca, a menos que seja minha esposa, que esteja comigo ao

meu lado, que seja minha... — Inspirou profundamente. — Minha para amá-la e

cuidar de você, para construir e desfrutar uma existência juntos, para ter você no

centro de meu ser, meu coração, minha alma.

Hesitou se inclinou e roçou-lhe os lábios com os seus. Afastou-se e a olhou nos

olhos.

—Ainda não lhe fiz uma proposta formal. O que gostaria de pedir é que seja

minha esposa para que minha vida possa girar em torno de você agora e sempre.

Você quer se casar comigo?

Madeline sorriu com os olhos um pouco embaçados.

— Sim.

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Eles se beijaram; a nenhum dos dois importando quem deu o primeiro passo.

Madeline lhe rodeou o pescoço com os braços e o atraiu para si. Com os lábios

sobre os seus, Gervase sorriu para si, ia ser sua esposa e nunca a deixaria ir.

---

Duas horas mais tarde, quando entraram no salão do desjejum, viram que

todos os outros desceram antes que eles. Sybil, Belinda, Annabel e Jane os

cumprimentaram. Depois de lhes devolverem o cumprimento e saudarem aos

demais, Madeline se surpreendeu ao ver Muriel e seus três irmãos sentados a

mesa, conversando avidamente com Dalziel, Christian, Penny e Charles.

Sua tia se virou para trás e lhe pegou a mão. — Tínhamos que vir. Harry e Ben

estavam impacientes por saber o que sucedeu e eu também.

Madeline sorriu, apertou lhe a mão e seguiu Gervase até o aparador.

Serviram-se com salsichas, rins, presunto, pescado com arroz, ovos e arenques

defumados, ele lhe puxou a cadeira junto a sua, na cabeceira da mesa e sentou-se.

Edmond estava explicando o que sucedera quando foi seqüestrado.

— O homem, o cavalheiro de Londres, me disse que já sabia que tínhamos

encontrado o broche na praia de Kynance. Disse-me que não me preocupasse em

mentir-lhe. A única coisa que queria era que lhe indicasse o lugar da praia onde o

encontramos, então, claro, eu lhe indiquei o centro.

Christian assentiu.

— Muito astuto.

— O que aconteceu quando chegaram a cala e descobriram que estava coberta

pela maré? — perguntou Charles.

Edmond explicou descrevendo os acontecimentos de um modo parecido ao qual

eles imaginaram; que o cavalheiro amaldiçoou, e saiu com a dama deixando seus

homens escondidos em um silo.

Regressou sozinho e a cavalo justamente antes do entardecer. Mais tarde, se

encontraram com os saqueadores e, tal como eles haviam suposto, o traidor os

convenceu para que o ajudasse.

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Pelas expressões corteses de Dalziel e Christian e o cansaço que se via em seus

olhos, era evidente que não tinham boas noticias para dar a respeito de seu

cavalheiro londrinense. Gervase atraiu sua atenção e ergueu as sobrancelhas.

— Nem sequer viu ninguém?

Os lábios de seu ex-comandante se curvaram para baixo em uma careta.

— Deve ter escapado as nossas costas.

Charles negou com a cabeça.

— Só Deus sabe onde se escondia.

Madeline contemplou seus irmãos com um carinhoso olhar e percebeu a luz,

uma luz da qual sabia que devia recear, brilhando nos olhos de Edmond e Ben.

Seguiu seus olhares... Até Dalziel.

Olhou Harry também, mas ele não estivera tão exposto a Dalziel como os

outros dois. Então olhou para Christian, Charles e Gervase... E lutou contra o

impulso de apertar os olhos.

Suspeitava que Dalziel fosse um desses homens que, com demasiada

freqüência, costumava ser uma influencia perigosa para certo tipo de varões

sugestionáveis. Em sua opinião, todos os cavalheiros e jovens sentados a mesa,

exceto Dalziel, formavam parte desse tipo.

Quanto ao próprio comandante, duvidava que fosse sugestionável ou

influenciável em absoluto, era alguém nascido para mandar.

— Se ao menos, houvesse algum modo de conseguir alguma pista boa sobre

sua identidade... — Os olhos de Dalziel mostravam uma expressão remota,

distante, predadora. — Parece que não deseja que eu o veja, o que seguramente

significa que o reconheceria... Mas em troca nenhum de vocês o faria.

— Nenhum dos homens que traiu em Londres tem alguma idéia? Uma direção?

Um modo de contatar?

— Gervase olhou para Christian, que negou com a cabeça.

— Nem uma só pista. Foi a diversas tabernas de Londres, os contratou e lhes

ordenou que se reunissem com ele aqui em uma casinha caindo aos pedaços. Falou

com eles algumas vezes nesse lugar. Fora isso, eles não o viram mais e não têm

nem idéia de onde teria se alojado. Sempre usava cachecol e chapéu para esconder

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seu rosto, inclusive quando andava acima e abaixo pela praia de Kynance. —

Christian olhou ao outro lado da mesa, para Edmond. — A descrição de Edmond foi

à mesma.

O menino sorriu timidamente e se mexeu nervoso sob seus olhares e olhou

para Dalziel.

— Talvez lady Hardesty saiba seu nome.

Todas as conversas se interromperam. Todos se voltaram para olhá-lo

fixamente, perplexos...

Dalziel foi o primeiro a estabelecer a conexão.

— A dama da carruagem?

Edmond assentiu, mas o fez de um modo inseguro. Olhou para Madeline e

Gervase.

— Não a conheço, mas creio que era ela. Alta, maior, cabelos escuros e não era

daqui. Usava uma capa e a manteve ao redor de seu rosto a maior parte do tempo,

mas tinha acento londrinense, como o homem.

Belinda se inclinou para frente e o olhou atentamente.

— Tinha um luar aqui? — Assinalou um ponto justo por cima da comissura

esquerda do lábio.

— Sim! — O menino assentiu. — Eu o vi. Era negro.

Belinda olhou os outros e assentiu.

— Lady Hardesty. Katherine e Melissa mencionaram a lua.

Madeline o recordou e também assentiu.

— Sim, é certo, tem uma lua ali.

Ao seu redor ouviu o som das cadeiras arrastando-se quando todos os homens

se levantaram.

Dalziel deixou seu guardanapo.

— Terão que nos desculpar. — Inclinou a cabeça para Madeline e para Sybil. —

Temos que encontrar lady Hardesty o quanto antes possível.

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Madeline recordou que aquele canalha tinha o costume de matar a todo aquele

que pudesse identificá-lo e sentiu que empalidecia.

— Sim, claro. — Levantou-se da mesa. Gervase já havia enviado um servente

aos estábulos para que encilhassem quatro cavalos rápidos e os levassem a porta.

Trocou um olhar com Madeline e guiou os homens até o arsenal em busca de

pistolas.

As damas se olharam umas as outras. Em seguida, com os desjejuns já

esquecidos, todos se levantaram e saíram ao vestíbulo, para reunir-se diante da

porta aberta.

Os homens regressaram decididos, cada um levava duas pistolas e as

verificava, enquanto Gervase lhes descrevia o caminho a Helston Grange, a casa de

Robert Hardesty.

Ouviram-se cascos no pátio. Charles deu um beijo no rosto de Penny quando

passou junto a ela. Gervase se deteve e roçou os lábios de Madeline com os seus.

— Não sei o que encontraremos nem quando estaremos de volta.

Ela lhe apertou o braço, assentiu e o soltou. — Vá e que tenha boa caça.

Dalziel a saudou ao passar por seu lado.

Seu rosto estava tenso.

Os quatros comprovaram as cinchas das selas e os estribos antes de montar.

Em menos de um minuto, viravam para o arco de entrada do pátio.

Com Sybil e Penny ladeando-a, Madeline ficou na varanda e os observou

saindo.

— Espero que cheguem a tempo.

Sybil lhe deu umas palmadinhas no braço, se aproximou dos meninos e os fez

entrar.

Penny ficou junto a Madeline, olhando fixamente as silhuetas dos homens que

se afastavam.

— Espero que a encontrem antes dele, mas pelo que ouvi desse tipo, creio que

levaremos uma decepção nisso também.

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Madeline a olhou nos olhos. Ao final de um momento, voltaram-se e entraram.

---

Os quatro companheiros percorreram a distancia até Helston Grange a uma

velocidade vertiginosa. Era a primeira vez que Gervase cavalgava com Dalziel e não

o surpreendeu descobrir que seu ex-comandante era tão bom cavaleiro quanto o

resto deles.

Chegaram e descobriram que a maioria dos residentes da casa ainda não tinha

se levantado. Quando pediram que Robert Hardesty descesse ao salão, o jovem

acorreu timidamente, mais perplexo que irritado pela intrusão.

— Lorde Crowhurst. — Sorriu a Gervase e lhe estendeu a mão. — Há quanto

tempo...

— Exato. — Ele a apertou. — Desculpe a brusquidão, Robert, mas explicaremos

tudo em seguida, porém é com lady Hardesty que viemos falar. É urgente que

falemos com ela.

Sua expressão séria, assim como a de Charles, Christian e Dalziel as suas

costas, fizeram com que Robert abrisse muito os olhos. Finalmente, assimilou o

pedido de Gervase.

— Ah... Eles, minha esposa e seus amigos, costumam usar os horários de

Londres.

Duvido que esteja acordada...

— Lorde Hardesty. — Dalziel atraiu seu olhar. — Não estaríamos aqui,

fazendo-lhe semelhante pedido a esta hora se a necessidade não fosse grande.

Poderia enviar uma donzela para que chame sua esposa?

Robert Hardesty se ruborizou. Desviou a vista. Era evidente que não sabia se

sua mulher estaria só em sua cama. Mas então engoliu a saliva, olhou para Gervase

e assentiu.

— Se insistem...

Tocou a campainha e deu a ordem.

Gervase estava consciente de seu próprio impulso de andar, algo que poucas

vezes fazia. Também podia sentir o esforço que Charles e Dalziel estavam fazendo

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para não dar voltas pela sala. A tensão os dominava, inquietando Robert Hardesty

inclusive mais que suas caras.

Nesse momento ouviram o primeiro grito.

Gervase afastou para um lado a Robert e foi direto a escada, com Dalziel atrás

dele. Não teve que olhar para saber que Charles e Christian se dirigiram para o

outro lado; para a porta principal, para rodear a casa. Se acaso...

Não foi necessário pedir que lhes indicassem o caminho; seguiram os gritos,

que aumentaram em intensidade até alcançar a histeria.

Ao chegar ao quarto do final do corredor, abriram a porta. Uma donzela estava

colada a parede a alguns metros. Tapava a boca com os dedos e tinha os olhos

quase fora das órbitas e o olhar fixo na figura estendida na cama.

Os olhos saltados, a língua que sobressaía, o colar de nódoas negras que

rodeava o longo pescoço, o indescritível horror no qual fora um formoso rosto

deixava claro que a vida se extinguira há pouco.

Dalziel entrou e se aproximou da cama.

Gervase pegou a donzela e a acompanhou para fora. Deixou-a aos cuidados do

mordomo, que acorrera a toda pressa.

— Lady Hardesty está morta. Leve a jovem para a cozinha e dê-lhe um chá.

Faça vir o médico.

Ainda que estivesse comovido, o mordomo assentiu.

— Sim, milorde. — Levou a donzela, que nesse momento chorava.

Gervase voltou ao quarto.

Dalziel afastou os dedos da lateral do pescoço machucado de lady Hardesty.

— Não está fria, mas está esfriando.

Está morta há várias horas.

Voltou-se para as longas janelas que davam ao balcão, uma estava aberta.

Gervase o seguiu fora; o terraço dava a um trecho de bosque que ladeava o rio

Helford. Dalziel assinalou uns rastros de barro no corrimão.

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— Não é nenhum mistério sobre quem entrou.

Olharam para baixo. Uma nodosa glicínia com um tronco de trinta centímetros

de grossura se enroscava em uma coluna para rodear o corrimão de ferro forjado.

Gervase fez uma careta.

— Não poderia ter sido mais fácil.

Charles saiu do bosque por um caminho e se deteve abaixo, com os braços em

jarra.

— Morta? — perguntou.

Dalziel assentiu.

— Algo ai embaixo?

— Chegou do rio. — Charles assinalou o caminho atrás dele. — Suas pegadas

são claras. Sabia o que estava fazendo e aonde ia. Há um bote de remos a deriva.

Provavelmente o roubou de algum lugar do outro lado.

Dalziel suspirou.

— Duvido que reste algo para nós por aqui, mas se houver alguém que souber

alguma coisa, falaremos com todos os hospedes.

Christian apareceu da outra direção; Charles e ele assentiram e se dirigiram

para a parte dianteira da casa. Gervase e Dalziel entraram novamente no quarto de

lady Hardesty e se encontraram com Robert na porta, olhando fixamente sua

esposa morta.

Tinha o rosto em branco, vazio; sem nenhuma expressão em seus olhos

quando os olhou.

Dalziel inclinou a cabeça e passou junto a ele. Na porta, virou-se para Gervase.

— Falarei com o mordomo.

Gervase, por sua vez, se deteve diante de Robert Hardesty e assentiu. Olhou

aos olhos perplexos do jovem e lhe falou com calma, tranqüilizador: — Pedimos

que chamassem o médico. Logo estará aqui. Ele saberá o que fazer.

Robert assentiu, mudo. Depois voltou a fitar a cama e sua compostura

fraquejou, ameaçando desaparecer.

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— Mas quem...? — Olhou para Gervase angustiado e assustado. — As pessoas

pensarão que fui eu. Mas eu não...

— Sabemos que não foi você. Quem a matou foi um homem, um cavalheiro de

Londres ao qual acreditamos que ela conhecia.

Foi vista com ele ontem à tarde. É um comprovado assassino e um traidor.

Acreditamos que a matou para não identificá-lo.

Robert Hardesty ficou olhando-o.

Gervase não podia saber quanto de suas palavras assimilara.

Então, o jovem se voltou e olhou de novo para a cama.

— Minhas irmãs e minha tia tinham razão. Diziam que ela e todos seus

contatos em Londres não eram... Bons. Deveria tê-las escutado.

Ele encolheu os ombros.

— No que respeita as mulheres, às vezes inclusive as jovens vêem com mais

clareza que nós. — Suas irmãs sem duvida o tinham feito. Pegou Robert pelo braço.

— Venha e tome um brandy. Vai ajudá-lo.

Sem resistir, o outro permitiu que o afastasse do quarto.

---

Levaram mais de duas horas para interrogar todos os hospedes de Helston

Grange.

Falaram com todos; nenhum deles era o traidor ou, a primeira vista, sabia

nada dele.

Dalziel e Gervase terminaram os interrogatórios, enquanto Christian falava com

o pessoal e Charles vagava por fora, falando com os jardineiros e os rapazes de

quadra.

Quando finalmente se reuniram na escada principal, suas expressões eram

sérias. — Nosso homem não se alojava aqui — Dalziel afirmou em resposta as

sobrancelhas erguidas de Charles. — Duas das amigas íntimas da morta têm

certeza que há muito tempo mantinha uma relação com um cavalheiro da alta

sociedade, uma relação de vários anos antes de seu casamento.

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Acreditam que essa relação continuou, ainda que de uma forma mais

esporádica, após seu casamento. A dama era livre na hora de oferecer seus favores

e tinha muitos outros amantes, mas o único respeito ao que se comportava com

absoluta discrição, até o ponto de não dizer seu nome nem contar nenhum detalhe

a estas duas amigas, era esse antigo amor. — Deteve-se e depois acrescentou: —

Acreditam que ele veio aqui e que a encontrou ao longo do verão, mas nenhuma

sabe nada mais.

Christian interveio:

— Sua donzela, que é da zona, opina praticamente o mesmo, que apesar dos

demais amantes, incluídos alguns dos homens que se hospedam aqui, havia um ao

qual conhecia de seu passado e a quem via clandestinamente. Segundo a jovem,

ele nunca vinha a casa.

Charles fez uma careta.

— Um dos jardineiros acredita que a dama e um cavalheiro de Londres, alto, de

cabelos escuros, como nosso suspeito, estiveram usando um dos velhos galpões do

jardim no rio para seus encontros.

— O que confirma que nosso homem não era um dos hospedes, mas muito

provavelmente esse antigo amor — interveio Gervase.

—E — continuou Charles com voz cheia de resignação — falta um cavalo. Um

bom exemplar castanho, e uma sela e arreios.

Guardaram silencio e Dalziel amaldiçoou em voz baixa.

— Esse canalha escapou de novo. Fugiu.

Por um instante planejaram segui-lo, mas pensaram em quantas direções

poderia ter tomado um homem a cavalo.

Com o rosto tenso convertido em uma impassível máscara, Dalziel desceu a

escada da varanda.

— A única coisa que nos resta fazer é regressar a casa.

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Epílogo

Gervase Aubrey Simon Tregarth, sexto conde de Crowhurst, se casou com

Madeline Henrieta Gascoigne, dos Gascoigne de Treleaver Park, na igreja de Ruan

Minor quatro semanas depois.

A igreja, com sua estranha pedra serpentina estava abarrotada, as pessoas se

apertavam nos corredores, nas escadas e além, todos reunidos para presenciar a

união não só de duas das principais famílias locais, mas também de duas pessoas

que eram muito conhecidas e admiradas. Ali se encontrava a maior parte da

nobreza local; os únicos forasteiros eram os colegas de Gervase e suas esposas, a

madrinha de Madeline e alguns parentes distantes. Esse era um dia que as pessoas

da península não estavam dispostas a perder e que tinham intenção de celebrar; se

observaram as formalidades, mas predominava um ar alegre e relaxado.

Produziu-se um grande alvoroço quando a carruagem de Madeline parou diante

do portão. Exclamações de admiração se estenderam através da multidão quando

desceu do veículo, envolta em uma nuvem de seda e rendas. Radiante, de braço

com Harry, entrou na igreja e avançou pelo corredor ao ritmo da música do órgão.

Harry a entregou e colocou sua mão sobre a de Gervase e retrocedeu para

sentar-se com Edmond e Ben. Charles e o primo de Gervase atuaram como

testemunhas do noivo, enquanto Penny e Belinda seguiram Madeline pelo corredor.

O serviço foi breve, claro e direto.

Quando o vigário os declarou marido e mulher, Madeline sorriu, ergueu o véu e

se deixou abraçar por Gervase, que sorriu e a beijou com brevidade, ambos

conheciam seu papel.

De braço com Gervase e com rosto sereno e alegre, avançaram devagar pelo

corredor, agradecendo as felicitações de todos os que se inclinaram para beijá-los

no rosto e apertar-lhes as mãos. A sua volta, o órgão tocava uma alegre melodia

que quase parecia triunfal. Sem dúvida havia um toque disso no teor de muitas das

mensagens de felicitação.

Parecia evidente para todos que a sua não era só uma união que deviam

aplaudir; mas que deviam celebrar-se como um exemplo de que tudo voltava a

estar bem naquele lugar do mundo. As guerras ficaram para trás. Aquele era o

futuro, um futuro que se devia esperar com ânsia e ao que se devia saudar.

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Madeline e Gervase demoraram quase uma hora para percorrer o corredor até

os degraus da igreja, onde seus irmãos os regaram profusamente com arroz até a

carruagem que esperava para levá-los ao castelo.

Uma vez dentro do coche, se relaxaram com idênticos suspiros, se estreitaram

os dedos com delicadeza enquanto trocavam um risonho olhar e, finalmente, se

recostaram no assento para recuperar forças durante o breve trajeto.

Gervase olhou o broche preso entre os seios de Madeline.

— Pode ser que essa peça seja antiga, mas duvido que brilhasse mais antes.

— Encontrava-se perfeitamente colocada entre o encaixe marfim que adornava

o decote do vestido.

Sorrindo, Madeline baixou os olhos e percorreu a elaborada peça.

— Foi muito amável por parte de Dalziel enviar a confirmação que o broche foi

declarado oficialmente um tesouro oculto.

— Humm. — Gervase não havia se surpreendido que seu ex-comandante

houvesse pensado nisso; era um homem ao qual raras vezes deixava escapar

algum detalhe.

A confirmação significava que se reconhecia aos meninos como proprietários e

que Madeline podia ficar com o presente.

— Pensei se seria apropriado usá-lo — disse ela, — usar algo pelo que um

traidor vendera informações que prejudicaram nossas tropas. — Olhou-o nos olhos.

— Mas decidi que, por outra parte, era um sinal de que ele, nosso cavalheiro

traidor, não saiu ganhando. Eu tenho o broche, ele não.

Gervase lhe sorriu.

— Um desafio.

Madeline pensou também que era um símbolo, ao menos para ela, dos

acontecimentos que a tinham feito abrir os olhos e a levaram até aquele momento,

a ser a esposa de Gervase, a ter confiança em seu amor, a ser capaz de dizer ―Sim,

quero‖ com tanta sinceridade.

Todos haviam se reunido no pátio dianteiro e na escada do castelo para saudá-

los; a carruagem entrou e parou entre aplausos e vivas. Quando Gervase desceu e

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a ajudou a descer, soou um rugido, seguido imediatamente por um estrondo. Todos

olharam para as muralhas, logo se seguiu outro disparo dos canhões do castelo.

Madeline olhou para Gervase, mas ele negou com a cabeça. Não fora ele.

Charles apareceu ao seu lado, fechou a porta da carruagem e lhes indicou a

escada.

— Seus irmãos — informou a Madeline, enquanto o último dos canhões troava.

— Pensaram que seria apropriado e recrutaram Christian, Tony e Jack Hendon para

que lhes dessem uma mão. Não se preocupe, estão a salvo.

Madeline riu aliviada pela noticia e divertida porque Charles se houvesse

oferecido tão prestamente a dá-la.

Talvez, como Penny estava esperando seu primeiro filho, o homem estava

desenvolvendo a sensibilidade de um pai. Pensou que não devia esquecer-se de

mencioná-lo a ela justo antes que a multidão reunida a rodeasse com seus sorrisos

e felicitações. De braço com Gervase, entrou no vestíbulo principal e dali foi ao

vasto salão de baile, onde aguardava o almoço nupcial.

As horas que se seguiram estiveram cheias de felicidade, pura, simples, toda

uma série de prazeres relaxados; desses pequenos momentos que brilham na

memória para sempre, um prêmio adequado, pensou mais tarde Madeline com os

olhos fixos em Gervase, para um homem que havia servido tão generosamente a

seu país durante tanto tempo.

Olhou ao seu redor, aos amigos de seu agora marido e suas esposas, a maioria

das quais se encontravam grávidas, e viu a felicidade que brilhava em seus olhos,

outros prêmios adequados.

Só Christian seguia sozinho. Refletiu sobre ele até que uma alegre risada atraiu

sua atenção para Belinda, que punha a prova seus encantos com um dos

cavalheiros mais jovens. Olhou rapidamente à volta e localizou seus irmãos.

Surpreendentemente, estavam se comportando, como se sua boa conduta

fosse seu presente de bodas para ela.

Esboçou um sorriso agridoce.

Eles regressariam a escola em algumas semanas e a próxima vez que os veria,

Harry seria um adulto, seguido muito de perto por Edmond. Seu tempo dedicado

exclusivamente a eles estava chegando ao seu fim, mas Gervase estava ali agora

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para acompanhá-los na fase seguinte, para ensinar-lhes a ser homens, algo que ela

não seria capaz de fazer e não havia nenhum cavalheiro ao qual Madeline desejasse

mais que imitassem.

Depois desviou os olhos para Annabel e Jane, e de novo para Belinda, que

ainda sorria ao deslumbrado jovem; seria ela quem se encarregaria das três

jovens. Ainda que Londres não a entusiasmasse, por elas enfrentaria a alta

sociedade e a temporada e garantiria que fossem apresentadas na sociedade como

era devido.

Sybil e Muriel ajudariam, mas Madeline aceitava que, assim como com seus

irmãos, o papel principal recaísse sobre ela. Correspondia-lhe ser sua mentora, a

verdadeira tutora das irmãs de Gervase.

Perguntou-se se ele pensaria que o fato de que lhes ensinasse a lutar e

defender-se, ao menos até certo ponto, era algo impróprio de uma dama. Fosse

como fosse, ela o considerava algo necessário antes de suas apresentações na

sociedade.

A vida seguia. Um papel acabava e outro começava.

E, sem dúvida, outro estava se desenvolvendo. Segundo seus cálculos, tinha

oito meses para fazer todos os preparativos necessários antes que a próxima

incorporação na sua extensa família chegasse. Olhou a Gervase e sorriu.

Ainda não lhe contara, porque estava reservando a notícia para dar-lhe uma

surpresa mais tarde, nessa noite.

Ele sentiu o olhar, se virou e captou aquele reservado sorriso de madonna que

sobrevoou seus lábios. Estivera muito serena nesses dias; se encarregara da

organização das bodas com uma facilidade que o deixara pasmo. Quando o

bombardeio de decisões o aborreceu de tal modo que decidiu refugiar-se na

biblioteca, Madeline se limitou a sorrir; permitiu-lhe esconder-se e se encarregou

de tudo com elegante aprumo.

Graças a Deus que tivera o senso comum de casar-se com ela. Afastou-se das

pessoas com as quais estivera conversando, se aproximou, pegou-lhe a mão e a fez

levantar-se. Quando Madeline ergueu as sobrancelhas com gesto interrogativo,

Gervase sorriu: — Vamos dançar uma valsa.

Levou-a até a pista, atraiu-a para seus braços e a fez girar. Os dois relaxaram-

se e deixaram que as barreiras que erigiam com os demais caíssem. Eram finos

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véus, certo, mas ainda assim estavam ali. Sorriram olhando-se nos olhos e

simplesmente compartilhando o momento.

Aquela curiosa, fabulosa e infinitamente preciosa unidade de sentimento, de

ser.

Dançaram a primeira valsa fazia tempo e restava pouco entre eles no referente

às formalidades. Os músicos tocaram toda uma série de valsas que um grande

número de pares dançou.

Seguindo seu olhar através do salão, Madeline suspirou satisfeita.

— Acredito que foi tudo bem.

— Sim. — Gervase esperou que o olhasse nos olhos. — Mas independente de

tudo, eu tenho tudo o que necessito hoje. A você.

Ela já estava sorrindo, mas seus olhos verdes cinza se suavizaram, brilharam

com uma luz serena na qual ele se sentiria totalmente feliz de fundir-se durante o

resto de sua vida. Atraiu-a mais para si, a fez girar e se entregou ao momento.

A sensação de felicidade perdurou e uma suave calidez o embargou.

Mais tarde, quando se uniu aos seus ex-companheiros com Jack Hendon em

uma lateral do salão, no qual havia chegado a ser uma espécie de tradição,

Christian ergueu as sobrancelhas e perguntou pela mercadoria do traidor.

— As autoridades de Falmouth enviaram a uma unidade de marinheiros no dia

seguinte após você e Dalziel sairem.

Revistaram toda a praia e encontraram outras três peças, todas relativamente

pequenas, uma tiara, um colar e uma esfera de filigrana. Uma vez que os

marinheiros se retiraram, baixaram as pessoas do lugar. Eles procuraram com mais

afinco, mas não encontraram nada mais. A opinião geral é que seja pouco provável

que os objetos mais pesados foram arrastados a praia, assim, a maioria do

pagamento de nosso traidor estará quase seguramente no fundo do mar, em algum

lugar ao redor dos Manacles.

Tony Blake grunhiu.

— Pelo menos lhe foi negada a recompensa. Isso oferece certo consolo.

Ainda que todos e cada um deles preferissem vê-lo na forca.

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— Se ao menos tivesse algum rasgo especial — comentou Charles. — Mas ser

um cavalheiro de cabelos escuros e acento impecável que, a primeira vista, parece

e soa como Dalziel é inclusive a quarta parte da aristocracia.

— E é improvável que tenhamos outra oportunidade de prendê-lo. — Jack

Warnefleet bebeu um gole de seu brandy. — Isso é o mais irritante.

— Para nós e para Dalziel. — Deverell apertou os olhos. — Não posso imaginar

que esteja contente depois de tê-lo tão perto, na mesma praia, na mesma zona e

vê-lo escapar por entre os dedos.

Gervase franziu o cenho.

— Não, contente desde logo, não. Creio que está estranhamente resignado. —

Ergueu as sobrancelhas em direção a Christian, que assentiu.

— Viajei de volta a Londres com ele.

Quando chegamos à cidade, me deu a impressão que havia deixado de lado o

traidor e todos seus esforços.

— Isso coincide com os rumores que esteve ouvindo nas últimas semanas

interveio Tristan, — que espera retirar-se durante o próximo mês.

— Comentou que estava procurando assuntos — disse Christian. — Não devem

restar muitos mais.

Charles ergueu as sobrancelhas.

— O que nos leva a uma pergunta muito interessante: uma vez que se retire,

seremos capazes de averiguar ao fim quem é?

Todos refletiram.

— A menos que se converta em um ermitão — opinou Tony, — seguramente

nós o encontraremos com sua verdadeira identidade, ―Royce quem quer que seja‖,

―lorde vai você saber‖.

— A curiosidade é meu pecado inconfessável — comentou Charles. — Estou

impaciente por preencher os vazios.

— Brindarei por isso. — Jack Warnefleet levantou seu copo.

Todos o fizeram, logo Jack percorreu o círculo de seus amigos com a vista.

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— Ao que parece, temos convertido isto em um costume, reunir-nos em nossas

bodas. Recordo que a última vez... — assinalou a Deverell, — em suas bodas, todos

nós vimos como Gervase saia porque o reclamavam em seu castelo e nos

perguntamos o que o fazia voltar.

— Com um gesto, Jack abarcou o resto do salão. — Agora já sabemos, e aqui

estamos dançando em suas bodas.

— Desta vez, — interveio Charles, — só há um de nós sobre o qual especular.

— Voltou-se para Christian e sorriu. — Você.

Seu amigo riu totalmente imperturbável, mas Gervase pensou que era o mais

difícil de perder a calma entre todos eles.

Christian lhes dedicou uma brincalhona reverência.

— Sinto informar-lhes, cavalheiros, que apesar de meu considerável

reconhecimento do terreno, até o momento não consegui descobrir nenhuma dama

a respeito da qual me senti impulsionado a fazer planos. Por muito que admire

vossos esforços e o exemplar triunfo dos mesmos, como último membro do clube

Bastion solteiro, não tenho nenhuma pressa para mudar minha condição. Por outra

parte, todos me puseram no lugar mais alto da lista e não gostaria de decepcioná-

los. Está claro que necessito polir meus metais, e minha destreza.

Não o deixaram tranqüilo, claro, e brincaram de um modo alegre e amistoso.

Christian, de todos eles, era o último ao qual ninguém tentaria pressionar, porque

seria um vão esforço. Enquanto ria e replicava aos seus comentários com esperta

facilidade, sua atitude não fraquejou o mínimo.

Ao final, ele mesmo assinalou: — Como o mais antigo e veterano lorde do

grupo, meu caminho para encontrar a esposa perfeita sempre esteve destinado a

ser o menos simples.

Todos o olharam, tentando ver além do comentário, percebendo que escondia

um significado mais profundo.

Fosse o que fosse nenhum deles podia imaginar.

Como era de se prever, foi Charles quem expressou a resposta coletiva e

dedicou a Christian um olhar de surpresa.

— Quem disse que enamorar-se é simples?

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Christian regressou a Londres dois dias depois. Como sempre fazia, procurou

refúgio no clube Bastion. Era o meio da tarde quando subiu a escada para a

biblioteca da casa. Fechou a porta, se aproximou da licoreira, se serviu um copo de

brandy e se acomodou em uma das cômodas poltronas junto à lareira. Ali bebeu e

pensou.

Não havia nenhum outro membro alojado ali; era o único que continuava

solteiro, sem uma dama esperando-o em casa, na enorme casa de Grosvenor

Square.

Pensou de novo nas bodas de Gervase, em sua reunião ali e recordou as

palavras dos outros, o conselho que, brincando, lhe haviam dado. Sorriu ao

recordar-se, mas então as últimas palavras de Charles ressoaram em sua mente e

seu sorriso se desvaneceu.

Charles e os demais haviam mal interpretado seu comentário. Não havia

sugerido que não lhe seria simples enamorar-se, mas que, para ele, encontrar a

esposa perfeita não ia ser simples. E isso por uma única e muito simples razão.

―Quem disse que enamorar-se é simples?‖

Nisso podia demonstrar que Charles se equivocava. Para ele, enamorar-se

havia sido o mais fácil, simples e natural no mundo. O que em seu caso havia que

as coisas fossem de todo menos simples eram as dificuldades as quais se

enfrentava para casar-se com a dama em questão.

Principalmente porque já estava casada.

Fechou os olhos e jogou a cabeça para trás. Uma série de recordações lhe

passou pela mente, todas as coisas que aconteceram que ele não podia mudar.

Ouviu ao longe a campainha da porta; uma parte de sua mente seguiu os

passos de Gasthorpe quando se dirigiu para abrir... Mas então, o passado o

arrastou, envolvendo-o em uns braços suaves e em olor a jasmim.

Uma chamada na porta, seguida por Gasthorpe o fez regressar ao presente.

Christian abriu os olhos.

O mordomo fechou a porta e se voltou para ele.

— Veio uma dama, milorde. Deseja vê-lo. Não me disse seu nome, mas me

entregou esta nota.

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Christian lhe indicou que se aproximasse.

Enquanto o homem obedecia, se perguntou quem, de toda a alta sociedade,

desejava falar com ele e sobre o que, e como, se nenhuma dama sabia que podia

encontrá-lo ali. Seu pessoal de Grosvenor Square sabia perfeitamente que não

devia revelar seu paradeiro a ninguém, ao menos não a qualquer pessoa.

Pegou o papel da bandeja de prata que Gasthorpe lhe estendia.

A visão da caligrafia o deslocou.

Por um momento, ficou simplesmente olhando-a, a adrenalina o percorreu,

liberando-o de seu letargo, como se lhe houvessem dado um forte bofetão.

Percorreu o nome com a gema dos dedos, não o de tanto tempo, mas o título

que havia adquirido recentemente.

Antes de abrir a nota, sentiu o perfume de jasmim. E não era produto de sua

imaginação ou de sua memória. Foi abrir com rapidez e quase a deixou cair ao solo.

Inspirou profundamente, fez com que seus movimentos fossem mais lentos e

se serenou.

Leu as poucas linhas e se recostou na poltrona, com o olhar fixo na lareira.

Não sabia o que sentir. As emoções o percorreram a toda velocidade, um

torvelinho de reações impossíveis de discernir.

Respirou profundamente, tomando ar através da opressão que notava no peito.

Pouco a pouco uma fria e uma férrea tensão se apoderaram dele.

O destino agia de modos inescrutáveis e condenadamente misteriosos.

Gasthorpe pigarreou.

— Milorde?

Christian se ouviu a si mesmo dizer por cima do estrondoso martelar de seu

peito: — Irei me reunir com a dama em um momento, Gasthorpe. Peça-lhe que

espere.

Fim

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