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Frederico Figueira

Série Barra-Cordenses Ilustres


Notas Biobibliográcas

Pesquisa e Edição

Kissyan Castro
Copyright © 2019 by Kissyan Castro

Todos os direitos reservados. A reprodução não autorizada desta


publicação, no todo ou em parte, constitui violação
de direitos autorais (Lei 9.610/1998).

Edições ABCL

Castro, Kissyan.

Aarão Brito; Série Barra-Cordenses Ilustres; Notas Biobiblio-


gráficas/ pesquisa e edição de Kissyan Castro. Barra do Corda: Edições
ABCL, 2019.
36p.
1. Biografia nacional 2. Biografia maranhense
I. Título

CDD 921
CDU 929:82
NÓTULA DO EDITOR

A “Série Barra-Cordenses Ilustres” é resultado


de séria pesquisa, consulta recorrente a arquivos
públicos e acervos particulares, estudo de material
bibliográfico, incluindo-se livros, jornais e revistas,
impressos ou digitalizados. Nasceu, portanto, da
necessidade de se compor a história do município de
Barra do Corda a partir das personalidades que mais
influenciaram o seu desenvolvimento social, político,
econômico e cultural. Vem, pois, suprir considerável
lacuna e favorecer a sociedade, sobretudo a classe
estudantil, com informação ampla e sólida sobre os
nossos principais vultos do passado, em formato
simples, gratuito e para pronta consulta.

Kissyan Castro
o n

n Frederico Figueira
(1849-1924)
n
SUMÁRIO

OS PRIMEIROS ANOS/7
FREDERICO FIGUEIRA E ARTUR AZEVEDO/9
A MUDANÇA PARA BARRA DO CORDA
E A TRAJETÓRIA POLÍTICA/11
O DECANO DA IMPRENSA MARANHENSE/15
DUAS VEZES À FRENTE DO GOVERNADO DO ESTADO/17
A CRUZADA GONÇALVES DIAS/19
FREDERICO FIGUEIRA E A CRISE
NO GOVERNO DE LUÍS DOMINGUES/21
PROJETOS LEVADOS A EFEITO/25
O FIM DA JORNADA/26
TRABALHOS PUBLICADOS/32
REFERÊNCIAS PARA ESTUDO/32
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA/34
CRÉDITO DAS IMAGENS/34
SOBRE O AUTOR/35
Editorial

OS PRIMEIROS ANOS

FREDERICO PEREIRA DE SÁ FIGUEIRA nasceu em


1
Picos, atual município de Colinas , no Maranhão, em 10
de dezembro de 1849. Segundo J. S. dos Reis Júnior, em
“Minha Terra, Minha Gente”, ao tempo da Balaiada
(1838-1841), era Picos uma extensa fazenda de criação
e agricultura pertencente ao chefe conservador José
Pereira de Sá, avô de Frederico Figueira, morto em
combate ao defender sua propriedade. Filho do major
Francisco Joaquim da Costa Figueira, antigo chefe
político no Brasil Império, fez os estudos primários em
Caxias/MA, onde, em 1860, chegou a encontrar-se com
o poeta Gonçalves Dias, ocasião que trouxe à memória
muitos anos depois, numa homenagem ao quadra-

1 Alguns há que sustentam que o seu nascimento ocorreu no município vizinho de


Passagem Franca, do que discorda o historiador Mário M. Meireles que em seu
“Panorama da Literatura Maranhense”, publicado em 1955, defende Colinas, antiga
Picos, como lugar de seu nascimento, assim como o poeta e escritor bacabalense
Felix Aires (1904-1979) que, num seu poema, publicado em “O Imparcial”, de 6 de
junho de 1930, intitulado “Picos”, a chama de “berço do jornalista cintilante/
Frederico Figueira”.
7
gésimo aniversário da morte do célebre cantor dos
Timbiras:
“Foi no ano de 1860, se não me falha a
memória. Eu estava nos meus dez anos e
frequentava uma escola de primeiras letras
na legendária Caxias. Lembro-me que num
dia daquele ano aportara na cidade um
moço de cabelos fartos, tez morena, olhos
meigos, semblante contemplativo. Com-
pacta multidão o aguardava e, por entre as
expansões efusivas, que a todos se comuni-
cavam, o vi transpor as ruas despendendo
gentilmente gestos atenciosos, sorrisos

Frederico Figueira em
foto da juventude.

8
benévolos à massa curiosa que à passagem
atenta o contemplava” (Glorificação a
Gonçalves Dias, 1904, p. 47).

Em Barra do Corda, informa-nos o historiador


Galeno Edgar Brandes, “chegara menino, nos anos de
1865”, ao tempo em que Barra do Corda se mobilizava
para atender ao chamado do presidente da província
no sentido de reunir um contingente de voluntários
para lutar na Guerra do Paraguai.

FREDERICO FIGUEIRA E ARTUR AZEVEDO

Sabe-se, no entanto, que entre 1868 e 1870,


Frederico Figueira residia em São Luís, onde trabalhou
como caixeiro da casa comercial Manoel Ferreira
Campos & Cia, tempo em que privou da amizade de
Arthur Azevedo, irmão do célebre romancista Aluísio
Azevedo e que despontaria mais tarde como um dos
maiores dramaturgos brasileiros e um dos fundadores
da Academia Brasileira de Letras. Certo é que se
tornaram amigos inseparáveis, sempre em palestras
amistosas e passeios habituais. Contam os jornais que
em 1870 Frederico e Artur Azevedo, empregado tam-
bém na mesma casa comercial, envolveram-se numa
ruidosa arruaça entre estudantes e caixeiros, parti-
dários, respectivamente, de Pope e de Adèle, atrizes
9
Artur Azevedo (1855-1908), grande amigo de Frederico Figueira nos tempos da
mocidade, aparece nesta foto, num momento de descontração, deitado em um
banco enquanto Coelho Neto, com um sabre de policial, ameaça abrir sua barriga,
sob as vistas do poeta Olavo Bilac (em pé à esquerda).

Adèle Isaac (1854-1915), por


causa de quem Frederico Figueira
se envolveu numa arruaça e
acabou preso.

10
francesas que, numa companhia de operetas, então
fizeram época em São Luís. Os caixeiros exaltavam
Adèle por sua graça e talento, os estudantes, por sua
vez, aclamavam Pope; cada facção tratava também de
rebaixar a rival, desqualificando-a. As atrizes se diver-
tiam com essas disputas. A situação, porém, foi ficando
fora de controle, resultando em apupos e agressões
físicas. Artur e Frederico, que encabeçavam o grupo
dos caixeiros, foram parar na polícia, para escândalo
das famílias maranhenses. E, como se não bastasse, o
patrão de ambos, o comerciante português Manoel
Ferreira Campos, tirou-lhes das mãos a insígnia
simbólica – feita de madeira e piaçaba – das funções
2
que eles exerciam no seu armazém .

A MUDANÇA PARA BARRA DO CORDA E A


TRAJETÓRIA POLÍTICA

É provável que somente em 1873, Frederico


Figueira tenha deixado a capital maranhense, posto
que neste ano transferira-se Arthur Azevedo para o
Rio de Janeiro e pela primeira vez o seu nome
aparecerá nos registros da vida pública da vila de Barra
do Corda, então como suplente de vereador, para o
quatriênio 1873 a 1877.

2 Jornal do Comercio, RJ, 11.abr.1937


11
De acordo com o Expediente de 24 de março de
1875, o governo da província resolve nomeá-lo Subde-
3
legado de Polícia da vila de Barra do Corda , cargo que
ocupa até o dia 15 de janeiro de 1876, ano em que é
nomeado Promotor Público de Barra do Corda, ficando
no cargo até abril de 1878. Os motivos de sua saída não
ficaram claros, exceto que o seu antecessor, o Sr. Fábio
M. Chaves, “que se julgava agarrado no ubre oito anos
apojando”, arquitetou um golpe contra o Major
Figueira, seu progenitor, no afã de anular sua
influência dentro do partido conservador do Ma-
4
ranhão .
No dia 7 de fevereiro de 1881, tomou posse como
vereador da Câmara Municipal de Barra do Corda. É
eleito Deputado Provincial pelo 6º Distrito, em 1882.
Em 17 de outubro de 1884, é novamente nomeado
Promotor Público da Comarca, fato que foi noticiado
no Publicador Maranhense, de 5 de fevereiro de 1885:

“Comunico a v. s. para os fins conve-


nientes, que no dia 6 de dezembro findo,
assumiu o cidadão Frederico Pereira de Sá
Figueira, o exercício do cargo de promotor
público interino da comarca de Barra do

3 Publicador Maranhense, 31.mar.1875


4 Diário do Maranhão, 29.set.1875
12
Corda, para o qual foi nomeado pelo juiz de
direito da dita comarca por portaria
daquela data”.

No entanto, sua exoneração da promotoria, em 5


de abril de 1886, e subsequente reintegração, em 4 de
maio do mesmo ano, em detrimento do bacharel José
da Silva Ramos, que fora nomeado para aquele cargo,
provoca revolta por parte de alguns oposicionistas,
conforme registra a Pacotilha de 4 de maio de 1886:

“Este Maranhão é uma terra incom-


parável. Chegou hoje de Pernambuco o sr.
Dr. José da Silva Ramos, promotor público
nomeado pelo conselheiro Bandeira de Melo
para a comarca da Barra do Corda. Pois, hoje
mesmo, segundo nos consta, acaba de ser
reintegrado Frederico Pereira de Sá Figueira
no exercício daquele cargo, de que havia
sido demitido. Esse ato do sr. dr. 1º vice-
presidente tem um extraordinário alcance -
fere cruelmente as disposições legislativas
que garantem aos bacharéis em Direito a
preferência para os lugares de promotor e
prejudica extraordinariamente ao dr. Silva
Ramos, que acaba de fazer despesas
consideráveis com a sua vinda a esta

13
província. Coisas dessa ordem só se veem
aqui. Não há dúvida de que o Maranhão é
uma terra incomparável”.

A secretaria do governo narrou sua versão do


fato e emitiu uma portaria pouco convincente. Só para
constar, o Dr. José Júlio da Silva Ramos (1853-1930) foi,
além de magistrado, professor, filólogo e poeta bra-
sileiro, membro fundador da Academia Brasileira de
Letras. Em Portugal, onde formou-se em Direito pela
Universidade de Coimbra, conviveu com grandes es-
critores, entre eles os poetas João de Deus e Guerra
Junqueiro, e publicou um livro de poemas intitulado
“Adejos”.

Em 1885, organizou-se em Barra do Corda a


Junta do Partido Conservador, elegendo o Major
Francisco Joaquim da Costa Figueira, presidente,
Fortunato Ribeiro Fialho, vice-presidente e Frederico
Figueira, secretário.

Exonerado da promotoria de Barra do Corda, a


18 de agosto de 1888, Frederico Figueira “recebera com
muita naturalidade e compreensão a sua substituição
pelo Dr. Dunshee de Abranches, certo de que não fora
5
por desprezo e desconfiança” .

5 BRANDES, Galeno Edgar. Barra do Corda na História do Maranhão. São Luís:


SIOGE, 1994, 1ª ed., p. 219.
14
1909: Rua Formosa, atual Frederico Figueira, no centro de Barra do Corda.
A seta indica a antiga casa de residência de Frederico Figueira.

O DECANO DA IMPRENSA MARANHENSE

Advogado, fecundo jornalista e defensor acér-


rimo dos ideais democráticos, fundou, em 12 de
novembro de 1888, juntamente com Isaac Martins,
Antônio da Rocha Lima e Dunshee de Abranches, o
jornal “O Norte”, um dos mais antigos e conceituados
órgãos da imprensa maranhense, do qual foi redator-
chefe. A despeito da pouca condição financeira, tendo
de empenhar-se muitas vezes em modestos misteres,
Frederico Figueira não negou a Isaac Martins a sua
preciosa colaboração em O Norte, “para maior brilho

15
da campanha que, em prol dos princípios democrá-
ticos, fez, nos sertões maranhenses, aquele hebdoma-
dário”. A propósito, Frederico Figueira não engajou-se
de imediato na campanha republicana “devido à
natural veneração pelo seu velho progenitor”, que era
conservador, como bem registrou Dunshee de
Abranches que, não obstante, acrescentou ser ele “um
6
espírito adiantado e livre de preconceitos facciosos” .
Quando, porém, atirou-se na propaganda republi-
cana, o fez de corpo e alma, com coragem e denodo.
Após a morte de Isaac Martins, assumiu a dire-
ção do jornal e o manteve em circulação, não obstante
os muitos obstáculos que teve ele de vencer para
sustentar por quase três decênios, com galhardia,
aquele “órgão das ideias republicanas”.
O Governo do Estado, em conformidade com o
art. 1º do Dec. nº 15, de 12 de fevereiro de 1890, resolve
nomeá-lo membro do Conselho de Intendência
Municipal. Em julho do mesmo ano, é nomeado
membro da Comissão Municipal de Instrução Pública.
No dia 26 de junho de 1891 é pela terceira vez nomeado
Promotor Público de Barra do Corda, cargo para o qual
tomou posse no dia 18 de agosto daquele ano e
permanecendo, a partir do ano seguinte, como adjunto
da promotoria.

6 ABRANCHES, Dunshee de. A Esfinge do Grajaú. São Luís: ALUMAR, 1993, 2ª


ed., p. 73.
16
Presente em 20 de março de 1892, na reunião
extraordinária da organização do Partido Republicano
da Comarca de Barra do Corda, realizada na residência
de Rocha Lima, onde grande multidão havia afluído,
proferiu memorável discurso, enfocando a neces-
sidade de se manter unida a oposição.
Eleito membro da Comissão Diretora, deliberou
naquele dia, na qualidade de Secretário do partido, que
a comissão oficiasse ao Diretório do Partido Repu-
blicano na capital do Estado e ao eminente cidadão
Quintino Bocaiúva, na capital federal, comunicando a
efetiva organização do Partido Republicano na vila e
pondo-se à disposição os seus serviços.

Também compunha, em 1894, a diretoria da


Companhia Prosperidade Barra-Cordense, entidade
destinada a arrecadar fundos para obras no município.

DUAS VEZES À FRENTE DO GOVERNADO DO ESTADO

Eleito presidente da Câmara Municipal de Barra


do Corda, em 1º de janeiro de 1910, foi também conco-
mitantemente eleito Deputado Estadual, desembar-
cando em São Luís no dia 26, depois de trinta anos
ausente.
Na sessão do dia 2 de fevereiro de 1910, é pela
primeira vez eleito presidente do Congresso Legis-
17
Frederico Figueira, ao
centro, ladeado por
Rocha Lima (à esquerda)
e Dunshee de Abranches
(à direita), em foto de
1910, ao tempo em que
presidia o Congresso e
governava interinamente
o Estado.

lativo e, neste caráter, assume interinamente, no dia 5


de fevereiro, o exercício do cargo de Governador do
Estado, passando-o, na forma da Constituição, no dia 1º
de março do mesmo ano, ao governador eleito, Dr. Luís
Domingues.
Voltando ao posto na cadeira presidencial do
Congresso, no dia 3 de março, afirmou que, tanto
quanto estivesse na sua alçada, promoveria a ação do
legislativo para a conquista do que todos aspiram – o
desenvolvimento da terra que o elegeu. No dia 23 de
março de 1910, proferiu no Congresso um eloquente
discurso, onde apresentou o projeto para a criação de
18
um externato de ensino misto em Barra do Corda.
Em 1912, o Governador Luís Domingues, “por
motivo de moléstia”, precisou sair de licença para
Turiaçu/MA, sua terra natal, onde permaneceria
incomunicável, já que a cidade não dispunha de
serviços telegráficos. Antes, porém, no dia 20 de maio,
passou o governo do Estado ao seu substituto legal,
Frederico Figueira, reeleito à presidência do Con-
gresso Legislativo, ficando no poder até o dia 16 de
agosto daquele ano.

A “CRUZADA GONÇALVES DIAS”

No dia 12 de outubro de 1911, Frederico Figueira


criou e presidiu a “Cruzada Gonçalves Dias”, agremi-
ação que tinha como finalidade “obter o concurso de
todos os maranhenses para que só sejam empregados
nas relações a entabular com eles [os índios], justiça e
constância, brandura e sofrimento da nossa parte, –
segundo os conselhos do venerando e sábio José
5
Bonifácio” . Frederico Figueira, desde o fatídico episó-
dio ocorrido em Alto Alegre, em 13 de março de 1901,
julgava mal apreciadas as causas que determinaram o
morticínio e que dividia a opinião pública e os próprios
religiosos. Enquanto alguns o atribuíam ao excessivo

5 Diário do Maranhão, S. Luís, 13.out.1911.


19
zelo do frade pela catequese, outros preferiam respon-
sabilizar os negociantes pouco escrupulosos, que
insuflavam os índios contra os frades. Por outro lado,
ele cria que a verdadeira causa era “toda psicológica”,
pois “ela está na índole do indígena, por natureza
altivo, habituado à liberdade das selvas, sem compro-
missos, sem deveres sociais, indo aonde quer e quando
quer, opondo-se, armando-se, resistindo, declarando-
se em guerra aberta contra os que lhe queiram res-
tringir a amplíssima liberdade em que vive”.
Com a “Cruzada”, Frederico Figueira propunha
um novo modelo em que a civilização do indígena fosse
levada “ao próprio aldeamento, sem deslocá-lo do seu
meio, fundando a escola no seio da própria tribo,
ensinando-lhes os nossos hábitos, começando pela
6
infância” . Foi com ele, portanto, que entre nós tomou
forma as discussões sobre as políticas indígenas,
influenciado já pelas ideias do Marechal Rondon que,
um ano antes, organizou e passou a dirigir o Serviço de
Proteção aos Índios – SPI, órgão precursor da atual
FUNAI.
Fundado o Instituto de Proteção e Assistência à
Infância do Maranhão, em 10 de agosto de 1911,
Frederico Figueira foi aclamado seu primeiro presi-
dente, por ocasião de sua instalação no dia 7 de
setembro do mesmo ano.

6 Pacotilha, S. Luís, 11.mar.1911.


20
Coronel Frederico Figueira, ao centro (2), ladeado por Cesário Arruda (1), Domingos
Barbosa (3) e Virgílio Domingues (4), no edifício do Instituto de Proteção e
Assistência à Infância do Maranhão, em 7 de setembro de 1911.

FREDERICO FIGUEIRA E A CRISE NO GOVERNO


DE LUÍS DOMINGUES

Pretendia o Dr. Luís Domingues lançar a candi-


datura de Frederico Figueira ao Senado Federal, em
substituição a Fernando Mendes de Almeida, cujo
mandato encerraria no fim do ano de 1911, mas não
encontrou apoio na bancada chefiada na Câmara pelo
Sr. Costa Rodrigues que, diz-se, ambicionava aquele
posto. O senador Urbano Santos, chefe do antigo par-
21
O Dr. Costa Rodrigues
articulou no sentido de
desancar Frederico Figueira
em proveito próprio.

tido de Benedito Leite e armado de plenos poderes,


organizou a chapa para as eleições de 31 de janeiro de
7
1912, eliminando o nome de Frederico Figueira , can-
didato ostensivo do governador, e incluindo somente o
de Costa Rodrigues, provocando uma cisão no partido.
Domingues então resolve lançá-lo candidato a De-
putado Federal. Diante desse impasse, Frederico Fi-
gueira, sempre conciliador, envia um telegrama ao
Governador propondo uma solução:

“Dr. Luís Domingues – Turiaçu – Consta


que a representação maranhense aceita,
como medida de concórdia, ser reeleita no
próximo pleito. Se, para harmonia política

7 É a este momento histórico que se reporta Carlota Carvalho, autora da célebre obra
“O Sertão”, quando diz que Frederico Figueira “foi por Urbano Santos excluído da
representação nacional por não ser bacharel” (Op. Cit., p. 146).
22
em nosso Estado, for necessária a minha
desistência à candidatura, desde já vos
autorizo a fazê-lo. Não tenho ambição
política, sendo o meu maior desejo cooperar
ao vosso lado, para a harmonia e o engran-
decimento de nossa terra, não me poupando
a nenhum sacrifício para corresponder à
8
vossa confiança. Abraços afetuosos.”

A desmoralização de Luís Domingues perante o


povo maranhense e o situacionismo político vigente
acabou por refletir negativamente em Frederico
Figueira, que sempre o defendeu. Assim foi que, em sua
última sessão como presidente do Congresso naquela
Legislatura, no dia 3 de fevereiro de 1913, determinou
que a eleição da nova mesa fosse realizada na seguinte
sessão, enquanto que a Casa, “firmada em seu
dispositivo regimental”, decidiu contra a sua
deliberação. Frederico, contrafeito, abandonou a pre-
9
sidência, retirando-se da sessão . O Dr. Luís Domin-
gues, num ímpeto de indignação, quis renunciar ao
governo do Maranhão; isto, segundo o senador Urbano
Santos, por não ter sido Frederico Figueira reeleito
presidente do Congresso Legislativo, nome que
cogitava para sucedê-lo em definitivo no governo. Este

8 O Paiz, RJ, 29.dez.1911


9 Pacotilha, S. Luís, 5.fev.1913; O Paiz, RJ, 6.fev.1913
23
Licenciado em 1912, o Dr. Luís
Domingues, Governador do Maranhão de
1910 a 1914, convidou Frederico Figueira,
seu bom e confiável amigo, a assumir o
governo em sua ausência. O velho
republicano era para ele um exemplo de
dedicação patriótica.

fato marcou a falta de coesão e um princípio de cisão


no partido, que não demoraria a fragmentar-se.

Finda a Legislatura vigente, volta, em 1918, ao


seio do Congresso, tendo sido novamente eleito
Deputado Estadual. No dia 13 de fevereiro de 1919,
reúne-se a maioria do Congresso e, por unanimidade, o
escolhem para “leader”.

Foi ainda presidente honorário da sociedade


literária “Barão do Rio Branco”, em 1919, e presidente
da Comissão de Instrução do Congresso do Estado, em
1920. Em 1921, elegeu-se novamente Deputado
Estadual e, em 1923, foi apontado à vice-presidência do
Estado pelo governador Godofredo Viana, porém
acabou recusando a alta distinção.
No dia 15 de março de 1924, assume, em seu
último mandato, a presidência do Congresso Legis-
24
lativo, ainda que temporariamente, pois a reforma da
Constituição Estadual, promulgada oito dias depois,
determinava que o referido cargo fosse a partir de
então ocupado pelo vice-presidente do Estado.

PROJETOS LEVADOS A EFEITO

Dentre os projetos pelos quais envidou esforços


e entusiástico civismo estão a inauguração, em 24 de
agosto de 1911, da Estrada de Ferro Coroatá–To-
cantins; a expedição do decreto nº 8037 de 22 de
setembro de 1911, criando um “Centro Agrícola” no
município de Alcântara; o projeto elevando à categoria
de Vila, com a denominação de “Cândido Mendes”, o
povoado “Redondo”, no município de Turiaçu; o
projeto de lei que elevou à categoria de cidade a
florescente vila de Carutapera; o projeto nº 82 de 26 de
março de 1923, que aprova e ratifica um contrato
celebrado entre o Estado e a sociedade Norte-Ame-
ricana Ulen & Company para a construção, na capital,
por aquela companhia, de uma rede de esgotos e
abastecimento de água, fornecimento de luz elétrica,
bem como a instalação de linhas de bonde e máquinas
para prensagem de algodão e, em 1924, a aprovação do
projeto de reforma da Constituição Estadual, quando
presidente do Congresso.

25
O FIM DA JORNADA

Faleceu Frederico Figueira no dia 8 de julho de


1924, em Barra do Corda, onde também repousam seus
restos mortais, no cemitério Campo da Paz.

Sobre sua morte assim se expressou a Pacotilha,


10
de 11 de julho de 1924 :

“Revestiu-se de verdadeira consa-


gração popular o enterramento do coronel
Frederico Figueira, que conservou lucidez
de espírito até o momento do desenlace,
fazendo várias recomendações aos amigos
políticos, dos quais se despedia, assim como
de todos os membros da sua família,
produzindo isso dolorosíssima impressão.
Desde a hora do falecimento do ilustre
morto, a sua casa esteve repleta de famílias
e numerosos amigos que iam visitar o
cadáver, derramando, quase todos, copiosas
lágrimas. Foi geral a consternação. O co-
mércio fechou, as repartições hastearam
bandeira à meia verga e as escolas públicas
e particulares suspenderam as aulas por
três dias. São indescritíveis as cenas havidas

10 Vide também a “Folha do Povo”, S. Luís, 11.jul.1924


26
na ocasião do saimento do enterro, para o
qual não houve convites, tendo compare-
cido todas as classes sociais, autoridades,
senhoras, senhoritas, confrarias religiosas,
enorme massa popular, sendo acompa-
nhado da banda de música local executando
marchas fúnebres. Foram oferecidas
inúmeras coroas. No momento de baixar o
corpo ao túmulo, perante a multidão
emocionada, o sr. Luís Roland proferiu,
entre soluços, comovente discurso em nome
do Partido Republicano, do município e dos
amigos do pranteado extinto.”

Frederico Figueira em idade


próxima de seu falecimento.

27
Nas palavras do Dr. Costa Gomes, Frederico Fi-
gueira, cuja morte muito o abateu, foi “o paladino das
ideias liberais no sertão, um batalhador que só a morte
o tirou do combate”. Em 1921, Aquiles Lisboa declarou
que “nenhum representante lhe serviria melhor aos
interesses do Congresso Federal do que Frederico
Figueira, que mais que todos os que para ali se desti-
nam, conhece as necessidades do mesmo Sertão, a que
11
tem devotado o melhor de sua operosa existência” .

Não deixou livros publicados e o que escreveu


encontra-se esparso nos jornais e revistas em que
colaborou, sobretudo “O Norte”, “Pacotilha”, “Revista
Maranhense” e “Os Anais”, órgão do Congresso
Maranhense de Letras, em cujas colunas expunha
artigos sobre interesses sertanejos, conferências,
discursos parlamentares, pareceres jurídicos e
literatura em geral.

Em sua homenagem fundou-se em Barra do


Corda, em 1934, o Grupo Escolar “Frederico Figueira”.
A antiga rua Formosa, onde residiu, passou a
denominar-se rua “Frederico Figueira”. Em São Luís, a
municipalidade quis homenageá-lo, dando-lhe o nome
à antiga rua das Barraquinhas. Frederico Figueira é

11 Diário de S. Luís, 27.jan.1921


28
também patrono da cadeira nº 8 da Academia Barra-
Cordense de Letras, fundada pelo poeta William Stead
Figueira.

***

Dois dias após sua morte, o jornal O Imparcial, do


Rio de Janeiro, publicou uma interessante nota
necrológica, sem identificação do autor, contendo
emocionante e lúcido testemunho do que representou
e poderia ter representado ao inteiro Brasil a figura
emérita de Frederico Pereira de Sá Figueira, e que, pela
lucidez e pertinência a essas notas biográficas, deixo
transcrita abaixo:

“A extensão territorial do Brasil, divi-


dido em numerosos centros de civilização,
determina fenômenos que são, em geral,
peculiares aos continentes. E um destes é a
notoriedade de certas figuras políticas ou
literárias puramente regionais, que são
quase, ou totalmente, desconhecidas fora
das fronteiras do Estado.
A morte de Frederico Figueira, no Ma-
ranhão, é um documento novo dessa
verdade velha. Não há, em toda a extensão
do território maranhense, quem não tenha

29
ouvido esse nome; fora, porém, do Estado,
quantos o terão pronunciado ou escrito?
É que Frederico Figueira, cujo desapa-
recimento acaba de ser anunciado pelo
telégrafo, era um nome puramente mara-
nhense. Vivendo no interior do Estado, onde
assentava os seus arraiais políticos e lite-
rários, surgira ele, aí, no antigo regimen,
batendo-se por ideais que eram ainda
novidade nas cidades mais adiantadas.
Assim, quando a República e a Emanci-
pação constituíam, ainda, uma utopia no

Túmulo em forma de obelisco


no cemitério Campo da Paz,
onde repousam os restos
mortais de Frederico Figueira.

30
Sul, era já Frederico Figueira, em 1885, no
interior maranhense, um vigoroso campeão
do abolicionismo e das ideias republicanas.
Com a vitória dos seus ideais, podia o
paladino sertanejo ter descido para a
Capital, à conquista dos postos públicos que
por direito lhe cabiam; preferiu, porém,
ficar na sua cidadezinha do interior, ba-
tendo-se pelo seu progresso e pela cultura
dos seus conterrâneos, tornando-a, naque-
las regiões, um dos focos intelectuais e
industriais do sertão.
Frederico Figueira foi, em síntese, uma
glória que devia ser nacional, e que só a sua
modéstia, o seu retraimento, e o amor ao seu
12
torrão, tornaram puramente regional”.

12 O Imparcial, RJ, 10.jul.1924


31
TRABALHOS PUBLICADOS:

Reminiscência, homenagem – “Glorificação a


Gonçalves Dias”, Maranhão, 1904, p. 47;
As belezas do meu Sertão, conferência – O Paiz, Rio
de Janeiro, 13.mai.1910;
Pelo Maranhão, artigo – Correio da Tarde,
1º.mar.1911;
O morticínio do Alto Alegre, artigo – Pacotilha, São
Luís, 11.mar.1911;
As riquezas do Maranhão, artigo – Pacotilha, São
Luís, 25.mar.1911;
A proteção ao índio, artigo – Pacotilha, São Luís,
30.set.1911.

REFERÊNCIAS PARA ESTUDO

· ABRANCHES, Dunchee de: A Esfinge do Grajaú. 2ª


ed., São Luís, Alumar, 1993, p. 73-74
· BRANDES, Galeno Edgar: Barra do Corda na
História do Maranhão. São Luís, SIOGE, 1994, p. 249-250;
427-428
· MEIRELES, Mário Martins: Panorama da Litera-
tura Maranhense. São Luís, Imprensa Oficial, 1955, p. 131
· BRAGA, Álvaro. Discurso de posse in RABCL nº 2 –
Barra do Corda, 2011, p. 16-19
· MORAES, Nascimento. O momento político in “O
Jornal”, São Luís, ed. de 28 de julho de 1917
32
· MORAES, Nascimento. Frederico Figueira in
“Diário de S. Luís”, ed. de 8 de julho de 1924
· DOMINGUES, Virgílio. Discurso pronunciado pelo
deputado Virgílio Domingues na sessão do Congresso do
Estado, no dia 7 de fevereiro de 1925 in “Diário de S. Luís”,
ed. de 6 de abril de 1925.
· ROLAND, Luís. Frederico Figueira in “O Norte”, ed.
de 11 de julho de 1925
· MENDONÇA, João Alfredo de. Frederico Figueira
in “O Imparcial”, ed. de 8 de julho de 1927.

33
13
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

CARVALHO, Carlota. O Sertão. Imperatriz: Ética, 2000.


ABRANCHES, Dunshee de. A Esfinge do Grajaú. São Luís:
ALUMAR, 1993.
BRANDES, Galeno Edgar. Barra do Corda na História do
Maranhão. São Luís: SIOGE, 1994.
FILHO, Domingos Vieira. Breve História das Ruas e Praças
de São Luís. Rio de Janeiro: Gráfica Olímpica
Editora, 1971.
MEIRELES, Mário Martins. Panorama da Literatura
Maranhense. São Luís: Imprensa Oficial, 1955.
__________________. O Maranhão e a República. São
Luís: SIOGE, 1990.

CRÉDITOS DAS IMAGENS


Acervo do autor, 30
Álbum do Maranhão - 1923, 27
Astolfo Marques (1910): O Dr. Luís Domingues, 24
Casa de Cultura Galeno Edgar Brandes, 5
Jornal Pacotilha, 22
Ministério Público do Maranhão, 8
Revista Fon-Fon, 15, 18
Revista O Malho, 10
Revista da Semana, 21

13 Não constam deste rol a relação dos periódicos já citados nas referências
marginais.
34
KISSYAN CASTRO nasceu em Barra do Corda, Ma-
ranhão, no dia 23 de dezembro de 1979. Desde cedo, levado
por necessidades de ordem econômica, deixa sua província
natal e se lança pelo mundo, incursionando no Pará, Brasília
e Tocantins. Aí, aos vinte anos de idade, começa a produzir
seus primeiros poemas. Junta-se a três jovens poetas e cria o
grupo “Fênix”, resultando na publicação conjunta do livro
“Sete Amores Em Um Só” (Palmas, 2002). No entanto, é com o
livro “Vau do Jaboque”(Rio de Janeiro: CBJE, 2005) que se dá a
sua estreia como poeta. Dois anos depois está em São Paulo,
onde entra para a Faculdade de Farmácia e Bioquímica da
Universidade Paulista, filia-se a agremiações e ganha
prêmios literários.
Após longo período de existência andarilha, volta à
terra natal robustecido no aprendizado da vida e da poesia,
para lançar-se a novos empreendimentos literários, de que é
fruto “Bodas de Pedra” (Lisboa: Chiado, 2013), livro elogiado
pela crítica, cujos “poemas, de sabor ameno, denunciam um
artista que trabalha com a lupa engastada na órbita, não
presumindo a menor aspereza na pedra preciosa em que os
esculpe”, afirmou o jornalista Nonato Silva. Prefaciando

35
Bodas de Pedra, o poeta Nauro Machado confessa: “Foi, para
mim, uma grande e grata surpresa a leitura desses poemas
de Kissyan Castro, nome a já fazer parte dos melhores e mais
autênticos poetas da nova geração maranhense”.
Pesquisador, reuniu a obra dispersa em verso de
Maranhão Sobrinho, sob o título “Maranhão Sobrinho –
Poesia Esparsa” (São Luís: 360°, 2015), obra que, segundo
Jomar Moraes, “representa uma das mais significativas
homenagens prestadas ao grande poeta de Papéis velhos...
roídos pela traça do Símbolo”, mormente “a empenhada e
perspicaz pesquisa que resultou na reunião de dados com os
quais o organizador reconstruiu, documentadamente, uma
quase história completa da aventurosa e tumultuária vita
brevis do bardo”. Publicou ainda “Rio Conjugal” (Imperatriz:
Ética Editora, 2016) e “O Estreito de Éden” (São Paulo:
Penalux, 2017)
Tem colaborado com crônicas, poemas e haikais em
vários sites e revistas eletrônicas, entre as quais Recanto das
Letras, Caqui, Germina, Mallarmargens e Portal de Poesia
Ibero-Americana, de Antonio Miranda. Participou ainda das
antologias “Caleidoscópio” (São Paulo: Andross, 2006),
“Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos” (Rio de
Janeiro: CBJE, 2011), “Os 50 Melhores Sonetos do Ano”
(Academia Jacarehyense de Letras, 2012) e “Antologia de
Poesia Brasileira Contemporânea – Além da Terra Além do
Céu” (São Paulo: Chiado, 2017). Atualmente Kissyan colabora
no site www.barradocorda.com, é funcionário público e
membro efetivo da Academia Barra-Cordense de Letras.
E-mail: kissyancastro35@gmail.com
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