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Georg Groddeck ESCRITOS PSICANALITICOS SOBRE LITERATURA E ARTE SELECIONADOS E EDITADOS POR EGENOLF ROEDER VON DIERSBURG IW, Be -& eomorapensrectiva ZS Sobre a Linguagem Os Senhores nao esperem de mim que, nestas conferéncias, eu ihes trace um retrato perfeito de nosso tempo. E se esperam de mim algo de novo ficaréo desapontados. O que tenho a dizer estd nas ruas, ¢ todo mundo 0 vé, talvez melhor do que eu, com certeza de maneira diferente de mim. No entanto, vale a pena mais uma vez observar fatos conhecidos com os olhos de um estranho, e se daf nfo resultar outra coisa sendo uma intensa controvérsia de opinides, isso para mim jaé suficiente. Com essas palavras acho-me em meio ao meu tema de hoje. Pois, para trocar opinides, é preciso falar, ¢ sobre o nosso modo de falar é que desejo conversar um pouco com os Senhores. Diariamente ¢ a toda hora nos servimos de um instrumento, isto é, da linguagem, e ela se tornou para nés algo t&o natural que quase nun- ca refletirnos sobre 6 que ocorre com essa ferramenta, da mesma ma- neira gue usamos o lengo sem indagar a antiguidade do costume e de sua origem. E isso o que acontece com os objetos cotidianos, Uma coisa é evidente: a linguagem ¢ 0 esteio da cultura. E a con- digdo basica da comunicagao humana. A linguagem criou as religides ea arte, construiu as estradas e difundiu o comércio pelo mundo. Na verdade, € 0 meio de transformar os pensamentos em ato, e, eterna- mente fecunda, provoca novas idéias. Nao se pode imaginar a agricul- tura sem a linguagem, tanto quanto a filosofia, o conforto da casa, sim, mesmo a casa é erigida por ela, todos os atos, pensamentos e sentimentos, até 0 amor e 0 édio, mesmo Deus ¢ a natureza siio de- SOBRE A LINGUAGEM. 25 Eis uma delas: 0 homem nfo consegue colocar em palavras a sua maneira de ser, o falar nao 0 capacita nem um pouquinho a dizer a verdade. E, dando um passo além, percebe-se que no ato de falar j4 estd implicito o falseamento da verdade. Falamos de um pedago de pao, de um copo d’dgua, de um quadro, de uma estrela, como se fos- sem coisas que repousassem sobre si mesmas, com limites definidos. Mas isso é errado. Essas coisas nao existem como coisas isoladas, tampouco as percebemos como uma coisa tinica. Quando vemos um copo d’4gua, enxergamos ao mesmo tempo a mesa sobre a qual ele estd, ou a mao que o carrega, 0 quarto dentro do qual estd a mesa, ou a homem a quem pertence essa mio. Ou uma outra representaciio: 0 pe- dago de pao é um pedago de pio, sem dtivida. Todo mundo 0 conhece e designa. Mas deixem-no num lugar qualquer por apenas dois dias. Entéo, continua sendo para nds um pedaco de pio, mas nesse interim ele se modificou, mesmo para os sentidos mais embotados ele se trans- formou. Esta duro e seco, est4 mofado. Apesar disso, todos nds dize- mos: isso é um pedago de pio que ficou do outro dia. Mas isso também é verdadeiro? Nao. Basta toca-io ou mordé-lo, para se saber que nio & mais o mesmo. Entao recorremos a um subterfiigio e dizemos: Ele ficou velho. Ora, 0 que significa isso, ele ficou velho? Quando ele ficou velho? Hoje? Ontem? Nao, ele ficou velho aos poucos. Aos pou- cos? Quando ent&o comegou isso? Pode-se muito bem perguntar dessa maneira, e no final a resposta é: ele nunca comegou a ser velho. Ele se transformou continuamente, ininterruptamente, nao era 0 mesmo nem na menor fragdo de segundo, nem mesmo no momento em que o segu- tamos na mao, mas ele se transformava continuamente por causa de forgas totalmente definidas, que vivem dentro dele e o mantém em conex&o com 0 todo. Sim, compreendemos imediatamente: 0 pio s6 existe como ente individual porque o designamos, porque o tiramos do contexto de modo totalmente arbitrdrio e falso, porque falamos dele. Estamos aqui diante de um fato: cada palavra da nossa linguagem, seja ela vocalizada ou construfda silenciosamente no cérebro, é uma mentira que viotenta os fatos, que nos leva a contemplar o mundo de maneira errada e a pensar de modo errado. Pois, assim como acontece com 0 pao, ocorre com a Agua, que nao para um s6 momento de evapo- Yar, torna-se mais fria ou mais quente, nela cai poeira continuamente, ¢ a luz e as correntes da eletricidade. Separamos uma gota e a coloca- mos sob 0 microscépio, e perguntamos admirados: E isso a mesma Agua, a dgua que bebo? La dentro aparecem milhares e milhares de animais que lutam entre si, amam, respiram, se alimentam, morrem e nascem, Ou um quadro, Estamos na frente dele ¢ o olhamos. Como parece escuro! Isto 0 pintor fez mal, todo confuso, todo borrado e sem vida. Aqui uma linha dura demais, 14 uma porgo de carne informe. E entio da janela desce um raio de luz sobre 0 quadro. E 0 mesmo qua- dro. Mas 0 que aconteceu com ele? De repente ele é outro, resplande-

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