Anda di halaman 1dari 13

IMIGRAÇÃO - OS M ITOS E OS FACTOS I M I G R AÇ ÃO - O S M I TO S E O S FAC TO S

Responda às
Como em outras esferas da sociedade há, em torno da imigração, “verdades” que
se criam a partir de ideias feitas e aparentemente coerentes que, no entanto, são
profundamente erradas. Verdades estas que, em muitos casos, servem interesses e
ideologias.
seguintes questões:
O paralelo mais óbvio é a odisseia de Galileu, na contestação à “verdade” de que o
Sol girava em torno da Terra. Não era evidente o que todos viam: o Sol a “movimen-
tar-se” entre o Nascente e o Poente? Como se podia duvidar disso?

Há hoje no domínio do senso comum, na opinião pública sobre imigração, vários ca-
sos equivalentes de “Sóis a girar em torno da Terra”. Ideias correntes como a de que
a imigração vem roubar os nossos empregos, que está ligada ao crime ou que des-
gasta a nossa Segurança Social, são exemplos cristalinos destes erros de análise.

Mas importa sermos rigorosos e sérios, na procura da verdade para além das ilu-
sões de óptica. Por isso, enfrentaremos alguns dos mitos sobre imigração, a partir
do conhecimento científico adquirido, através de uma discussão dos factos e da sua
interpretação rigorosa.

Além disso, convém relembrar que Portugal tem 4,5 milhões de emigrantes espa-
lhados pelo Mundo. Por cada imigrante que temos entre nós, temos 10 emigrantes
portugueses pelos quatro cantos do mundo. Tudo o que dissermos sobre imigração,
lembremo-nos que também se aplica aos nossos emigrantes.

.... Agora leia atentamente as próximas páginas e cruze


a informação disponível com as suas respostas.

p.2 p.3
IMIGRAÇÃO - OS M ITOS E OS FACTOS I M I G R AÇ ÃO - O S M I TO S E O S FAC TO S

Quando se contextualiza desta forma o aumen- ro de pessoas em idade activa (entre 15 e 64


Os imigrantes to do número de imigrantes, percebe-se que, anos) desceria 19% até essa data3. No mesmo

estão a invadir-nos?
e como sempre nos fenómenos migratórios, período, as pessoas com mais de 64 anos, au-
essa oportunidade/necessidade encontra de mentarão de 73 para 125 milhões. Em 2050,
imediato resposta nos fluxos migratórios. por cada 2 trabalhadores no activo haverá 1
reformado/pensionista. Hoje a proporção é de
Esta é, seguramente, uma ideia que assalta os países europeus com maior percentagem
Sem a entrada de novos 4 trabalhadores para cada reformado.
muitos portugueses e com uma explicação de imigrantes no seu território eram a Suíça imigrantes, o nosso pro-
Este cenário é muito complexo e de sustenta-
compreensível. Tem sido repetido à exaustão (19%), seguida da Bélgica, da Alemanha e da blema demográfico será bilidade duvidosa e torna-nos dependentes da
que Portugal viveu nos últimos anos um cres- Áustria, com valores entre os 8 e 10%. muito mais grave imigração como um dos principais factores de
cimento muito significativo do número de imi- compensação.
grantes. Em números redondos, sublinha-se Ora, Portugal, só tinha, nessa época, 2,1% de
Mas o mais importante é sublinhar que este
que, em 1990, este número era de 100.000, população imigrante no seu território. Ainda
crescendo até 1999 para 200.000 e, em qua- hoje, mesmo depois do crescimento acelera-
crescimento do número de imigrantes, con- Portugal está longe de ser
tro anos, até 2004, subiu até 400.000, repre- do dos últimos anos – que também afectou os
sequência das exigências do desenvolvimento um dos países europeus
outros países – Portugal atingiu só os 4%.
do país não constitui problema para Portugal. com maior percentagem
de imigrantes
sentando então 4% da população residente. Como sublinhava o Comissário Europeu Gil-
Robles, no seu relatório de 2003 sobre Portu-
Este crescimento é realmente significativo, no- Acresce que este aumento de imigração se
gal: “(…) o aumento do número de estrangei-
meadamente se atendermos ao curto período deveu a um período de grande crescimento
ros em Portugal, seja da Europa de Leste, seja
em que decorreu. Mas desconstruamos os nú- económico de Portugal, na segunda metade Como foi sublinhado pelo estudo da Profª.
dos países de língua portuguesa foi absorvido
meros. dos anos 90. Doutora Maria João Valente Rosa4, os imigran-
sem crescimento de tensões sociais ou ra-
tes contribuíram para o reequilíbrio dos dois
Apesar do crescimento do número de imigran- Este exigiu, para a sua concretização, uma ciais. Isto é seguramente um testemunho da
sexos, para o aumento de efectivos em idade
tes, Portugal está longe de ser um dos países disponibilidade de mão-de-obra muito signifi- abertura geral e da tolerância da sociedade
activa (na década de noventa, o número de
europeus com maior percentagem de imigran- cativa, à qual Portugal não tinha capacidade portuguesa e um exemplo para outros países
indivídos com 15-34 anos teria diminuído em
tes. Em 20001, não considerando o caso es- de responder. Era o tempo da Expo 98, da da Europa.”2.
Portugal sem a presença de estrangeiros) e,
pecífico do Luxemburgo, com cerca de 37% de Ponte Vasco da Gama, da Auto-estrada do Sul com as suas últimas vagas, para um povoa-
Importa também abordar agora outra perspec-
imigrantes (a maioria dos quais portugueses), e, mais tarde, dos Estádios do Euro 2004. mento mais equilibrado. Mas, fundamental-
tiva complementar da mesma questão: pode
Portugal, a médio-longo prazo, dispensar a mente, “a manutenção de um saldo migra-
“(…) o aumento do número de estrangeiros em Portugal, seja da presença de imigrantes? tório positivo5 pode contribuir para inverter
a tendência de efectivos e para “segurar” o
Europa de Leste, seja dos países de língua portuguesa foi absor- decréscimo de efectivos em idades activas”.
O nosso país, como toda a Europa, vive um
vido sem crescimento de tensões sociais ou raciais. Isto é segura- ciclo de quebra demográfica, com a redução Apesar disso, não será suficiente para con-
mente um testemunho da abertura geral e da tolerância da socie- significativa do número total de habitantes e trariar, em absoluto, a quebra demográfica.
dade portuguesa e um exemplo para outros países da Europa.” o crescente envelhecimento da população. As Ou seja, sem a entrada de novos imigrantes,
previsões apontam para que a Europa perca o nosso problema demográfico será muito
p.4 Gil-Robles - Comissário Europeu dos Direitos Humanos até 2050, pelo menos, 22 milhões de pesso- mais grave. p.5
as. E que se não existisse imigração, o núme-

2. do Relatório da visita a Portugal, em Maio de 2003, do Senhor Gil Robles, Comissário para os Direitos Humnaos do Conselho da Europa, disponível em http://www.fd.uc.pt/hrc/
1. Trends in International Migragion 2002, OCDE. enciclopedia/temas_dh/direitos_prisao/comissaire.doc.
3. cf. Holzmann, R.; Munz, R. (2004) Challenges and opportunities of international migration for EU, its member States, neighboring countries and Regions:a policy note, World Bank.
4. Valente Rosa, Maria João et al (2004) Contributos dos Imigrantes na Demografia Portuguesa – O papel das populações de nacionalidade estrangeira, Observatório da Imigração.
5. Entrada de imigrantes superior á saída de emigrantes.
IMIGRAÇÃO - OS M ITOS E OS FACTOS I M I G R AÇ ÃO - O S M I TO S E O S FAC TO S

Por outro lado, a taxa actual de desemprego, Volta a ser interessante verificar que esta dife-
Os imigrantes vêm que aponta para cerca de 7% com um universo rença é significativamente menor em países

“roubar” empregos
de cerca de 400.000 imigrantes, é idêntica à de grande tradição de acolhimento de imigran-
dos anos 80/81 em quetínhamos só 58.000 tes (Canadá, Austrália,...).
imigrantes.
e fazer baixar os salários? Por outro lado ainda, os períodos de mais bai-
Acresce que neste momento de vulnerabili-
dade perante o desemprego nem todos os
xa taxa de desemprego correspondem quer imigrantes beneficiam de protecção social.
Esta ideia corrente baseia-se na convicção Este potencial de atracção evolui dinamica- a períodos onde não existiam imigrantes em Assim, em 2005, de 21.083 beneficiários es-
que uma nova mão-de-obra introduzida no mente com os ciclos económicos de desenvol- Portugal (4% em 1974) quer em períodos onde trangeiros desempregados inscritos no IEFP,
mercado de trabalho competirá pelos postos vimento e, dada a grande mobilidade e flexibi- existiam 350.000 imigrantes. Estes números somente 13.695 beneficiavam de subsídio de
de trabalho existentes, expulsará os residentes lidade da mão-de-obra imigrante, esta evolui evidenciam inequivocamente que não há cor- desemprego7, ou seja, 35% dos desemprega-
e, segundo as leis do mercado, fará baixar sa- com ela. É significativo o exemplo de que o relação entre desemprego e imigração. dos inscritos não recebiam subsídio de desem-
lários. Simples, óbvio... e, por regra, falso. crescimento da taxa de desemprego em Por- prego.
tugal, entre 2001 e 2005, de 4% para próximo A este ponto importa acrescentar um outro
Vejamos porquê. dos 7%, foi acompanhada da não renovação que também é evidenciado pelas estatísticas: as maiores taxas de desempre-
– e provável saída – de 65.000 imigrantes que os imigrantes, em contexto de crise económi- go estão em países com baixas
Comecemos por uma análise macro. Se fos- correspondiam a 15% do contigente existente ca, são os primeiros a perderem o emprego, percentagens de imigrantes e
se verdade esta correlação automática entre e a 1/3 dos imigrantes entrados nos últimos dado a sua maior vulnerabilidade contratual e os países com maiores percen-
imigração e desemprego, encontraríamos cinco anos. por estarem em sectores de actividade muito tagens de imigrantes, têm taxas
uma maior taxa de desemprego nos países sensíveis às crises. Isso faz com que exista de desemprego relativamente
com maior percentagem de imigrantes. Ora, É também significativo que os picos de taxa mais uma desvantagem competitiva para esta baixas.
a partir de um estudo da OCDE, demonstra-se de desemprego tenham ocorrido em anos que comunidade que mais facilmente é “descar-
o contrário: as maiores taxas de desemprego não registávamos uma presença relevante de tada” pelo sistema. De uma forma grosseira, Numa dimensão mais micro, importa reter o
estão em países com baixas percentagens de imigrantes, como por exemplo, nos anos de quando escasseiam os empregos, os mais perfil socio-psicológico do imigrante que, no
imigrantes e os países com maiores percenta- 1984 e 1985 (10,4% de taxa de desemprego) ameaçados são os imigrantes, que sofrem per- domínio profissional, é marcado pela flexibili-
gens de imigrantes, têm taxas de desemprego ou 1987 (8,7%). centagens de desemprego proporcionalmente dade e capacidade de adaptação, pela vonta-
relativamente baixas (Canadá, Austrália, USA, maiores que os nacionais. Os dados disponibi- de de trabalhar para ganhar o máximo, pela
Suíça). A presença de taxas elevadas de imi- lizados pela OCDE6 são inequívocos (ver gráfi- mobilidade para ir à procura de emprego onde
grantes num país não é um factor explicativo co na página seguinte). ele existe - e não esperar que o emprego venha
de elevadas taxas de desemprego. ter consigo - e, finalmente, por não bene-
ficiar, em regra, de apoio e protecção social
Nos fluxos migratórios de motivação económi-
que torne mais rentável permanecer sem tra-
ca existe uma natural racionalidade. A correla-
balhar. Nesta linha, o então Comissário euro-
ção é, em certa medida, a oposta: onde existe
peu António Vitorino, responsável pelo dossier
desemprego alto, aí está um destino não atrac-
da política de imigração na Comissão Euro-
tivo para imigrantes; onde há baixo desempre-
p.6 peia, afirmava inequivocamente, em 2002, no p.7
go e oferta de trabalho disponível, temos um
Iº Congresso - “Imigração em Portugal”:
destino atractivo para imigrantes.

6. Gráfico disponível no relatório da OCDE “Trends in immigration and economics consequences” de Coppel et al (2001), pag.
15. Ver em www.oecd.org/eco/eco.
7. Dados disponibilizados pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional, em 28 de Fevereiro de 2005, em sessão do
Observatório do Emprego e Formação Profissional.
IMIGRAÇÃO - OS M ITOS E OS FACTOS I M I G R AÇ ÃO - O S M I TO S E O S FAC TO S

Curiosamente, desta forma, políticas de ges-


os imigrantes, em contexto de tão de fluxos migratórios muito restritivas, em
crise económica, são os pri- países com economia subterrânea forte, como
meiros a perderem o emprego, é o nosso, são causadoras de graves pertur-
dado a sua maior vulnerabilida- bações no mercado de trabalho por, indirecta-
de contratual e por estarem em mente, reforçarem o negócio de mão-de-obra
sectores de actividade muito imigrante indocumentada. O grande combate
sensíveis às crises à imigração irregular não pode, nem deve fa-
zer-se contra os imigrantes irregulares, mas
É evidente que todo este raciocínio é válido, contra aqueles que os contratam e exploram.
como regra, para a imigração regulada. A imi-
gração irregular foge a esta regra e constitui No entanto, sobre o impacto no desemprego e
uma perturbação ao funcionamento correc- na redução de salários decorrente da presen-
to do mercado de trabalho. Mas importa aí ça dos imigrantes há uma outra abordagem
também perceber qual é a causa: indiscuti- relevante, raramente sublinhada. É indiscuti-
velmente que a principal causa é a existência velmente positiva, para a criação de riqueza,
de uma economia informal que precisa - e es- desenvolvimento económico e criação de
timula - a presença de imigrantes irregulares emprego, a presença de imigrantes enquanto
“Do ponto de vista económico, a comunidade cados, por outro nos muito pouco qualificados para que, explorando o seu trabalho, pagando consumidores. Como refere o já citado estudo
imigrante é uma fonte de diversidade, flexibi- – e em determinadas circunstâncias pode ve- salários abaixo do previsto na lei e, sobretu- da OCDE, “a imigração cria procura de bens e
lidade e inovação que vai permitir suprir as rificar-se pontualmente essa competição. Foi do, evitando os custos da Segurança Social e serviços, produzidos pela população hóspede,
lacunas no mercado de trabalho, quer relativa- o caso, por exemplo, da crise em torno dos dos impostos, obtenha maior rendimento. com impacto positivo no emprego”9.
mente à mão-de-obra qualificada, quer relati- dentistas brasileiros. Mas curiosamente, um
vamente à mão-de-obra não qualificada. A sua dos segmentos em que pode acontecer essa Para muitos imigrantes irregulares, apesar
existência não vai aumentar o desemprego concorrência – os muito pouco qualificados da exploração, no balanço que fazem, esta
mas vai antes, pelo contrário, complementar – que desenvolvem actividades que poucos opção é elegível, quer por não ser possível
e colmatar certas falhas sectoriais. Em rela- querem (exigentes, “sujas” e mal pagas), exis- a imigração legal, quer por o horizonte de
ção ao trabalho não qualificado, a comunida- te uma forte concorrência com mão-de-obra já esperança no seu país de origem
de imigrante geralmente faz o trabalho que existente que, na sua maioria, é...imigrante. ser nulo. Não tenhamos qual-
os nacionais se recusam a fazer porque não Ou seja, um dos poucos quadros onde se dá quer dúvida: se não existissem
compensa trocar o apoio dado pela segurança uma concorrência pelos mesmos empregos, oportunidades de trabalho no
social ou pela família por um trabalho que re- os protagonistas – os que estão e os que che- mercado informal, dinami-
munera tanto ou menos do que o decorrente gam - são ambos imigrantes. Quando os que zadas na sua esmagadora
de um tal apoio8”. chegam dispõem de maiores competências e maioria por nacionais,
habilitações e são percebidos pelos emprega- não haveria imigração
Há excepções, que uma análise rigorosa não dores como mais rentáveis, os que ocupavam irregular.
p.8 pode ignorar. Em determinados segmentos estes lugares correm sérios riscos de desem- p.9
– por um lado, nos imigrantes muito qualifi- prego.

8. Actas do Iº Congresso Imigração em Portugal, pag. 34. 9. ibidem, pag. 16.


IMIGRAÇÃO - OS M ITOS E OS FACTOS I M I G R AÇ ÃO - O S M I TO S E O S FAC TO S

Saldo das Contas para o caso Espanhol 96-98 qualquer subsídio ou apoio so-
Os imigrantes vêm desgastar 1996 1997 1998
cial específico, exclusivamente
a eles destinados.
a nossa segurança social e Receitas 308.004.606 328.007.380 403.727.836

viver de subsídios ?
Despesas 128.963.325 144.718.415 Ao nível do apoio social, cum-
178.332.331
Saldo (cts) 179.041.281 183.288.964 225.395.505 prem os mesmos prazos de
garantia que os nacionais para
Saldo (Euros) 893.054.145 914.241.498 1.124.268.039
poderem beneficiar de, por
Esta é outra ideia frequente, que em Portugal Comecemos pelo World Economic and Social exemplo, subsídio de desem-
se tem reduzido, mas que ainda persiste. Nos Survey 2004, das Nações Unidas, sobre Mi- Também em Portugal, André Corrêa prego, e só acedem gratuitamente, ou com
inquéritos sobre Imagens Recíprocas entre Imi- grações internacionais que refere: d´Almeida, do Observatório da Imigração , 12 taxas moderadoras, ao Sistema Nacional de
grantes e Nacionais10, desenvolvidos em 2002 “Em geral, estes exercícios tendem a elaborou uma análise mais vasta, indo para Saúde se estiverem inscritos na Segurança
e 2004, pelo Centro de Estudos e Sondagens mostrar que os imigrantes dão uma além do sistema de segurança social e obser- Social. Quanto a isto, nada a opor. É o justo
de Opinião Pública da Universidade Católica, o substancial contribuição para aliviar vando o impacto no conjunto das contas pú- princípio da igualdade. Mas importa ter cons-
número de portugueses, que respondeu “con- a carga fiscal de gerações futuras em blicas. As suas conclusões apontam para um ciência - e que a opinião pública o saiba - que
cordo” com a afirmação “os imigrantes rece- países da Europa com baixa fertilidade saldo positivo, em 2001, de 323 milhões de nada é oferecido aos imigrantes: os benefí-
bem da Segurança Social mais do que o dão”, (Collado, Iturbe-Ormaetxe and Valera, Euros (cerca de 65 milhões de contos), o que cios que podem usufruir decorrem das suas
desceu de 42% para 21%. 2003; Bonin, 2002). Cálculos da Ale- corresponde a que “em média, cada estran- próprias contribuições. São, por isso, direitos
manha, mostram que o seu ganho fis- geiro legalizado (ou em vias de) empregado adquiridos e não benesses da sociedade de
Os dados objectivos são, no entanto, inequívo- cal, decorrente da admissão de traba- terá sido um contribuinte líquido do Estado acolhimento.
cos, em Portugal e noutros países. Apesar da lhadores migrantes, é potencialmente Português em 2001 no montante de 1391,6€
complexidade da análise, nomeadamente na grande (...). Devido à composição etária (279 cts). Se no denominador considerarmos No domínio da Segurança Social, há ainda
sobreposição de diferentes ciclos de vida de favorável, a sua média de pagamentos também os não empregados, portanto a totali- uma outra dimensão a sublinhar, que contraria
contribuições e de diferentes metodologias de para o sector público pode ser positiva, dade dos estrangeiros legalizados (ou em vias o mito de que os imigrantes sobrecarregam o
cálculo, quando se procura estudar o contribu- mesmo depois de descontar os gastos de), este montante passa para 1032,4€ (207 sistema. A quebra demográfica acentuada que
to dos imigrantes para as contas do Estado, adicionais com eles(...).”11 cts).”13. O mesmo estudo para 2002 aponta temos vindo a sentir em toda a Europa, e tam-
todas as conclusões são convergentes. valores de saldo positivo de 238 milhões de bém em Portugal, vai agravar-se. Ao mesmo
Em Espanha, a Profª. Rosa Aparício Gomez, euros o que equivale a que “cada imigrante le- tempo, a esperança de vida alarga-se, havendo
da Universidade Pontifícia de Comillas, desen- galizado (ou em vias de) empregado terá sido um número de beneficiários cada vez maior
volveu estudos sobre esta realidade e concluiu um contribuinte líquido do Estado Português e a usufruir de mais tempo de apoio social.
que Espanha obteve, entre 1996 e 98, um sal- em 2002 no montante de 812,1€ (162,8 cts). Este fenómeno arrasta a preocupante questão
do positivo médio anual entre os 900 milhões Se no denominador considerarmos também da sustentabilidade do sistema de segurança
e os 1.100 milhões de euros. os não empregados, portanto a totalidade dos social. Ora, não sendo a solução completa, a
imigrantes legalizados (ou em vias de), este contribuição de mão-de-obra imigrante legal,
montante passa para 642,3 € (128,8 cts)”. que entra de imediato na vida activa e é contri-
buinte líquida, não só não é um peso, como é
p.10 Ainda sobre a situação portuguesa, importa importante para a sustentabilidade do sistema p.11
referir que os imigrantes não beneficiam de da segurança social.

10. Disponíveis em www.oi.acime.gov.pt. 12. Corrêa D´ Almeida (2002) Impacto da Imigração em Portugal nas contas do Estado, ACIME.
11. World Economic and Social Survey 2004 – International 13. Corrêa d´Almeida (2002): 29.
Migrations, United Nations, pag. 121.
IMIGRAÇÃO - OS M ITOS E OS FACTOS I M I G R AÇ ÃO - O S M I TO S E O S FAC TO S

droga”, ou seja, pessoas sem residência ou teria alguma explicação, pelo maior risco de

Os imigrantes estão profissão em Portugal que procuraram intro-


duzir droga no nosso país, numa viagem de
fuga – até à comparação das penas pelo mes-
mo tipo de crime, como se verifica, por exem-

associados ao crime? curta duração. Daqui se conclui, que da taxa


bruta de criminalidade nos estrangeiros, uma
parte não corresponde a imigrantes.
plo, na percentagem de aplicação de pena de
prisão efectiva por tráfico de droga, entre os
anos 1997 e 2003.

Recorrentemente, nos meios de comunicação bilitações académicas básicas. Até aqui, tudo A desconstrução do mito que associa imigra-
Em média, os estrangeiros ção a criminalidade, poderia ter começado por
social, surgem notícias que associam os imi-
grantes ao mundo da criminalidade.
bem. Mas, no passo seguinte, dá-se um enor-
me enviesamento: no caso dos nacionais, o
são sujeitos, para os outra perspectiva de abordagem: a exclusão
universo de referência, sobre o qual se faz a mesmos crimes, a penas social que gera criminalidade. Com efeito, fru-
Quando se olha as taxas brutas de crimina- percentagem para obter a taxa bruta de crimi- mais pesadas. to de um percurso de discriminação face às
lidade e se analisa o grupo de nacionais e o nalidade, é o de todos os cidadãos nacionais, oportunidades geradas e de uma acentuada
grupo dos estrangeiros verifica-se que para os ou seja, dos 0 aos 100 anos, com proporção desvantagem competitiva em relação à maio-
primeiros esta é de 7‰ e no segundo 11‰. equilibrada no género e de todas as classes Se se corrigirem os universos de comparação, ria dos nacionais - que reduz muitas vezes a
Aparentemente, os números confirmam esta sociais e níveis académicos. Já o universo equiparando-os, o valor da taxa bruta de cri- zero o horizonte de futuro - alguns imigrantes,
ligação. Mas, veremos, trata-se de mais um de referência dos estrangeiros é maioritaria- minalidade encontrado nos nacionais sobe de especialmente de 2ª geração, chegam à cri-
erro de análise. mente masculino, em idade activa e de nível 7‰ para 11‰, enquanto se mantém nos 11‰ minalidade. Não porque sejam estrangeiros,
sócio-economico médio-baixo. À partida, são para os estrangeiros. Isto é, se compararmos mas porque são excluídos. Sendo uma expli-
universos não comparáveis, pois o dos nacio- o comparável, não há diferença na taxa de cri- cação parcial – verídica também para bolsas
Se a comparação for nais inclui um peso muito significativo da faixa minalidade entre nacionais e estrangeiros. de exclusão social composta por nacionais
feita correctamente não 0/16 anos (inimputável) e acima dos 60 anos - esta perspectiva é eminentemente justifica-
há diferença na taxa de (onde praticamente já não há criminalidade), Finalmente, para concluir, em média, os es- tiva e pode dar involuntariamente a ideia (erra-
criminalidade entre faixas que quase não existem no universo dos trangeiros são sujeitos, para os mesmos cri- da) que a taxa de criminalidade é fatalmente
nacionais e estrangeiros estrangeiros. Desta diferença dos universos de mes, a penas mais duras. Isso é evidente des- maior entre os imigrantes. E como ficou ante-
referência, resulta, naturalmente um resultado de a aplicação da prisão preventiva – facto que riormente provado, isso não é verdade.
Interpretemos melhor estes números. Os in- errado.
vestigadores Hugo Martinez de Seabra e Tiago Pena de Prisão Efectiva por Tráfico de Droga15
Santos, num estudo pioneiro, “Criminalidade Mas há ainda outro factor a considerar. O que
de Estrangeiros em Portugal: um inquérito as estatísticas da Justiça nos dão é simples-
Estrangeiros
científico”14 deram passos significativos nesse mente a nacionalidade, distinguindo entre na-
objectivo, começando pelos universos de com- cionais e estrangeiros. Ora, não é coincidente
paração. o conceito de estrangeiro e de imigrante. Por
exemplo, todos os turistas que nos visitam,
A caracterização demográfica do universo da são estrangeiros, mas não são imigrantes. No Nacionais
criminalidade é semelhante para nacionais número de condenados estrangeiros há uma
p.12 e estrangeiros, com uma predominância de presença significativa de estrangeiros não p.13
homens, em idade activa, solteiros e com ha- imigrantes, nomeadamente de “correios de

14. Disponíveis em www.oi.acime.gov.pt. 15. A partir do Estudo de Seabra, H. ; Santos, T.(2005) “Criminalidade de Estrangeiros:
um Inquérito científico”, NÚMENA/ACIME.
IMIGRAÇÃO - OS M ITOS E OS FACTOS I M I G R AÇ ÃO - O S M I TO S E O S FAC TO S

As explicações são várias e bastante consis- com episódios em que o imigrante se sente

Os imigrantes tentes. Por um lado, a dureza da vida imigran-


te, está associada a vários factores de risco,
discriminado ou vítima de actos racistas. Este
quadro arrasta por sua vez, num círculo vi-

trazem-nos doenças?
como má alimentação, más condições de cioso, para comportamentos desviantes que
alojamento, profissões perigosas ou receio constituem um factor de risco de agravamento
de contacto com o sistema de saúde. Estes do estado de saúde já débil.
factores criam condições para que a doença
se instale. Os imigrantes revelam à
Desde tempos imemoriais sempre se agitou são os mais saudáveis e com maior resis- chegada, em média, melhores
o fantasma da associação entre doença e es- tência física e psíquica. Este facto bloqueia Surgem então, exactamente como na popu- indicadores de saúde do que
trangeiro. Desde as descrições dos leprosos, significativamente a entrada de imigrantes lação nacional com o mesmo contexto socio- a população residente.
a vaguearem de terra em terra, agitando cam- doentes. E se é certo que ao terem origem em económico, as doenças associadas à pobreza
painhas para que ninguém se aproximasse, países mais pobres, tiveram possibilidades de e à exclusão social: a tuberculose e outras Neste domínio, importa também sublinhar
até à associação entre as pestes do século contactar com algumas patologias que os paí- doenças infecto-contagiosas, por um lado, os que as dificuldades de acesso à saúde – ain-
XIV e os estrangeiros, nomeadamente com a ses mais ricos já resolveram (como a malária, acidentes de trabalho e as doenças profissio- da maiores que para os nacionais – agravam
perseguição aos judeus, sempre se verificou a por exemplo, que desapareceu em Portugal nais, por outro, bem como o alcoolismo e o todos estes riscos. Por exemplo, muitos dos
tentação de culpar o estrangeiro, por todos os há cerca de cinquenta anos ou as parasitoses excesso de consumo de tabaco. imigrantes para se deslocarem a uma con-
novos males da sociedade, nomeadamente, intestinais) estes imigrantes vêm encontrar sulta médica, perdem um dia de trabalho e,
as doenças epidémicas. Essa atitude, ainda outras doenças, nomeadamente decorrentes Acresce que estes imigrantes que estão en- com ele, o salário associado. Outros, não tendo
que mais discreta, também se verifica hoje, de estilos de vida pouco saudáveis, com as tre nós, têm outros riscos específicos para a enquadramento de apoio na aquisição de me-
em relação aos imigrantes, considerando-os quais não contactavam. sua saúde, nomeadamente os associados à dicamentos, não têm meios para os comprar
como potenciais portadores de doenças que saúde mental. A solidão e a por si mesmos e não cumprem os tratamentos
nos ameaçam. Se a situação à chegada desmente este pre- dificuldade de integração, que deveriam. Por fim, as diferenças culturais
conceito de que os imigrantes, por regra, tra- associadas à saudade e linguísticas criam ainda outras barreiras, al-
Esse receio é injustificado. zem doenças com eles, regista-se por outro de casa, da família e gumas difíceis de ultrapassar, que afastam os
lado, que a vida dos imigran- dos amigos, provocam, imigrantes do sistema nacional de saúde.
Vários estudos nos Estados Unidos da Améri- tes, já no país de acolhimento, muitas vezes, qua-
ca16 evidenciaram, por exemplo, um fenómeno tem elevados riscos para a sua dros de depressão Um argumento ainda, no que se refere à SIDA.
identificado como “paradoxo hispânico”, em saúde. grave e de grande Sendo justamente considerados os imigrantes
que os imigrantes revelam à chegada, em mé- sofrimento – sín- como um grupo particularmente vulnerável,
dia, melhores indicadores de saúde do que a E porquê? droma de Ulisses criou-se na opinião pública a ideia – errada
população residente. - que se acentua – que são os imigrantes que trazem a doença.
Ora um estudo recente, realizado por inves-
Dado o processo muito exigente de selecção tigadores portugueses17, evidenciou que 40%
natural que decorre durante o ciclo migratório, dos imigrantes estudados, infectados com
em que os mais fracos ficam pelo caminho, HIV, foram-no em Portugal. Ou seja, chegaram
p.14 os imigrantes que conseguem vencer todas as saudáveis e aqui foram infectados com o vírus p.15
barreiras e chegam aos países de acolhimento, da SIDA.

16. Estudos comparativos entre imigrantes latinos e brancos não hispânicos americanos evidenciam que
os primeiros têm taxas mais baixas de mortalidade por doenças cardíacas, cancro e derrames cerebrais. 17. Coordenados por Ricardo Camacho, do Laboratório de Virologia do Hospital Egas Moniz.
IMIGRAÇÃO - OS M ITOS E OS FACTOS I M I G R AÇ ÃO - O S M I TO S E O S FAC TO S

Como defendem as médicas portuguesas tornam as comunidades imigrantes particular-


Domitília Faria e Helena Ferreira18, “Será in-
correcto assumir que os imigrantes têm maior
mente vulneráveis a esta infecção, no país de
acolhimento.”
Os imigrantes
probabilidade de ser infectados no país de
origem. A exposição ao VIH pode ocorrer em
qualquer das etapas do processo migratório
O que se passa com a SIDA, assim como com
outras doenças, é que os imigrantes, tal como
“ilegais” são perigosos?
– país de origem, locais de trânsito, destino ou os portugueses em iguais circunstâncias
retorno à origem. sócio-económicas e culturais, estão mais ex- As notícias recorrentes de detenções de imigran- Mas mais fácil ainda, para percebermos melhor
postos, por via da pobreza, da exclusão e de tes “ilegais” em operações policiais estabelece esta realidade, é recordarmos a nossa experiên-
A vida de imigrante, já comportamento de risco, a serem contagiados uma perversa ilusão de óptica na opinião pública cia de imigrantes irregulares. A nossa imigração
no país de acolhimento, ou a desenvolver determinadas doenças. que tende a olhar estas pessoas - alvos das polí- “a salto”, por exemplo, representava nos anos
tem elevados riscos Por isso, em vez de ameaça, eles são, sobre-
cias - como potenciais perigos para a sociedade. 60, mais de metade das saídas: eram perigosos
esses emigrantes “ilegais” que partiam de Por-
para a sua saúde tudo, vítimas da sua circunstância e das vicis- Mas, quem é o imigrante “ilegal”? tugal?
situdes da sua vida.
Esta questão não se esgotou no passado. Ac-
No entanto, a quebra de laços familiares, a É, tão só, um homem ou uma mulher que abando-
tualmente, discute-se no Canadá, que destino
falta de recursos económicos, o isolamento e nou o seu país à procura de uma vida melhor, mas
deve dar o governo de Toronto a cerca de 10.000
a marginalização, a dificuldade no acesso aos não tem autorização para permanecer e trabalhar
18. Respectivamente Assistente Hospitalar de Medicina Interna – Hospital do imigrantes portugueses ilegais que aí permane-
cuidados de saúde, são factores comuns que, Barlavento Algarvio e Assistente Graduada de Saúde Pública – Comissão Distrital de no país para onde se dirigiu. Ou seja, não está au-
Luta Contra a Sida/ARS do Algarve, em comunicação “Infecção VIH e Imigração cem.
acrescidos de barreiras linguísticas e culturais, em Portugal”, 2002. torizado a permanecer e trabalhar. Não se trata,
por isso, de um perigo para a segurança pública, É evidente que se defende a imigração legal,
ou uma ameaça para qualquer um de nós. Aliás, bem como o respeito das leis nacionais e in-
teremos todos a experiência pessoal de contacto ternacionais. Não é desejável, para protecção
com muitos imigrantes que estão irregularmente dos próprios imigrantes, que entrem no circui-
em Portugal e, nesse contacto personalizado, per- to irregular. Mas não nos deixemos confundir:
cebemos quanto é disparatado este receio. não estamos perante criminosos!

“Muitos dos emigrantes ilegais estão no Canadá há mais de sete anos, trabalham e fazem os seus des-
contos. É injusto deportar estes cidadãos que têm contribuído para o futuro deste país”, sustentou.
A comissão de apoio aos portugueses indocumentados surge após a deportação de várias dezenas de
famílias portuguesas.
No verão do ano passado estavam a ser deportadas “muitas famílias portuguesas”, que depois de serem
interrogadas pelos oficiais da imigração eram expulsas por estarem ilegais, afirmou. “Actualmente estão
a deportar menos portugueses”, referiu sem adiantar o número de portugueses que já foram expulsos
do Canadá.
De acordo com António Letra, vivem em Toronto e nos arredores entre oito a dez mil portugueses ilegais
e a maioria trabalha na construção civil e limpezas. A morar em Toronto há mais de sete anos, alguns
destes portugueses indocumentados já compraram casa, vivem na Dundas Street (zona de concentração
de portugueses), não sabem falar inglês e vieram para o Canadá porque já tinham uma pessoa de família
p.16 a viver neste país.” p.17
Excerto de notícia da Agência Lusa, 18 de Fevereiro de 2005
IMIGRAÇÃO - OS M ITOS E OS FACTOS I M I G R AÇ ÃO - O S M I TO S E O S FAC TO S

Outra confusão que é feita é entre imigração


irregular e máfias, como se fosse a mesma
coisa. Os imigrantes irregulares não são mem- Os imigrantes
bros de máfias: são as vítimas das máfias.

Estas operam – e prosperam tanto mais quan-


rejeitam Portugal?
to mais restritiva é a política de imigração legal
- em todo o mundo, e também em Portugal. Em Portugal, este mito não tem grande ex- Mas, reportando-nos a Portugal, esta questão,
Fazem contrabando ou tráfico de pessoas, que pressão. Pelo menos, de uma forma explícita. com este formato, não existe. Existem sim,
introduzem ilegalmente em território nacional, Noutros países, principalmente do centro da alguns discursos que reproduzem vozes de
prometendo muitas vezes uma legalização fácil. Europa, é mais evidente esta cisão, com ati- revolta de alguns jovens imigrantes de 2ª gera-
Estas organizações enganam homens e mulhe- tudes estruturadas de rejeição da sociedade ção que repudiam Portugal e os portugueses.
res desejosos de encontrar uma oportunidade de maioritária por parte de algumas comunida- Procura-se encontrar aí a evidência que os
uma vida diferente no nosso país. Só que, uma des imigrantes, fundadas em diferenças cultu- imigrantes não querem fazer parte da nossa
vez nas malhas destas máfias, um imigrante rais e religiosas. É conhecida a tensão com al- sociedade. Não é verdade, quer na expressão
irregular dificilmente saí, até ao momento que gumas comunidades de matriz islâmica, seja quantitativa destas vozes de revolta, quer so-
estas se considerem satisfeitas. É praticada uma na Alemanha, na Holanda ou em França. Este bretudo, após a descodificação desse grito de
extorsão mensal de parte significativa do salário, fenómeno merece uma análise aprofundada, revolta. Importa, nesse contexto, fazer notar
apreendidos os documentos e, se há uma recusa pois poderá esconder realidades mais comple- que esta é uma atitude reactiva, fundada na
de pagamento, é usada uma violência extrema xas que o linear “choque de civilizações”. rejeição – real e/ou imaginada - que sentem
que pode ir até ao homicídio.

O TRÁFICO DE BRANCOS Há, no entanto, um alerta que importa fazer. A


Mais de 66% dos Portugueses que estão em permanência prolongada nos territórios de exclu-
França passaram as fronteiras clandestina-
são social, entre os quais se conta a imigração
mente. Os seus passaportes, são os da monta-
nha, “a salto”. irregular - mas também a pobreza e a guetização
Atravessar a fronteira pelos montes, eis a salva- de populações portuguesas - pode criar, em si-
ção deles, sem carimbo da fronteira. tuações extremas, becos sem saída que levam
Outros, que tentaram pedir um passaporte homens e mulheres em desespero a lançar mão
de emigrante, esperam seis meses, um ano,
de expedientes e actividades ilícitas.
antes de terem uma resposta, que no fim é
negativa. “Muito pobre, dizem-lhes, não podem
ir para nenhum lado. Por isso, é essencial o combate à imigração
Jean Erwan irregular, promovendo verdadeiramente e em
“Juri-Press” todas as frentes a imigração legal. Mas nun-
9 de Abril de 1970
ca esquecendo que dentro de um imigrante
irregular mora uma Pessoa, com toda a sua
De uma exposição da Federação das Associações Por-
p.18 tuguesas de França disponível em http://www.museu- dignidade humana. p.19
emigrantes.org/sonho_portugues.htm

LUSA
IMIGRAÇÃO - OS M ITOS E OS FACTOS I M I G R AÇ ÃO - O S M I TO S E O S FAC TO S

da parte da sociedade portuguesa. É o fruto de Esta vontade vai mesmo ao limite de am-
um ciclo vicioso de rejeição/revolta/reforço da
rejeição que não termina.
bicionar para si e, sobretudo para os seus
filhos, a nacionalidade portuguesa. Em ter- Os imigrantes vão colocar em risco
A esmagadora maioria
mos colectivos, a forma como celebram,
por exemplo, a festa desportiva em solida-
a nossa cultura e as nossas tradições?
dos imigrantes quer riedade com todos os nacionais em torno de
fazer parte da sociedade grandes momentos, como foi o Euro 2004, Verifica-se no já referido Estudo sobre “Ima- O segundo erro é o que resulta da inversão
portuguesa. ou, em termos individuais, o brio com que gens recíprocas entre imigrantes e autócto- de pesos relativos na inter-influência entre
figuras como Francis Obikwelu assumem nes”, uma natural percepção da diferença imigrantes e autóctones. Os fenómenos de
Mas, a regra, mostra evidências de atitudes as suas vitórias defendendo as cores nacio- do “outro” que se reflecte, por exemplo, nas aculturação, sempre discutidos, umas vezes
opostas. A esmagadora maioria dos imigran- nais, evidenciam um sentido e um desejo respostas ao inquérito, onde 4 em cada 10 como positivos, outras como negativos, agem
tes quer fazer parte da sociedade portuguesa. de pertença que todos devíamos respeitar portugueses consideram os imigrantes “muito sobre as minorias imigrantes que se vêem
Essa é, aliás, uma das suas grandes lutas. e reforçar. diferentes nos seus usos e costumes” e “na forçadas ou que aderem voluntariamente a
forma como educam as suas crianças”21. uma mudança de crescente identificação
com a sociedade de acolhimento que consti-
“Francis Obikwelu con- Na manipulação desta percepção da diferen- tui a referência. O poder de influência não é
quistou a Medalha de ça, mobilizada em torno de uma visão defen- minimamente comparável. O “em Roma, sê
Prata na final masculina siva e de medo, estrutura-se um outro mito romano” constitui uma norma tão forte que
dos 100 metros dos Jo- em torno da imigração que passa pelo suposto o que se coloca frequentemente é o desafio
gos Olímpicos de Atenas risco de “contaminação” da nossa cultura e para as comunidades imigrantes de mante-
2004, com o tempo de das nossas tradições por outras que nos são rem os seus traços identitários próprios, sem
9, 86 segundos, um novo estranhas. se deixarem assimilar totalmente.
recorde da Europa. Dedi-
cou o resultado aos por- Esta visão, no entanto, incorre num triplo erro. Finalmente, o terceiro erro resulta de uma
tugueses, que o apoiam, O primeiro erro radica em acreditarmos que, análise desajustada da identidade portu-
acarinham e torcem por num contexto de mundo aberto e globalizado, guesa. Mesmo que não o quiséssemos, o
ele. “Quero fazer tudo é possível não sermos influenciados por outras ser português é o resultado de múltiplas
por Portugal, quero ser culturas e tradições, que nos chegam das mais influências culturais e de tradições que,
LUSA

lembrado no país como diferentes formas, todas elas mais importantes ao longo de séculos, se foram cruzando
alguém que o ajudou a projectar. Fui espectacularmente bem recebido, sou que a influência dos migrantes com quem con- aqui e outras com que nos fomos cruzan-
acarinhado e gostava muito de dar uma alegria aos portugueses”. Fiel ao que tactamos diariamente. Com a influência impa- do pelo mundo. Somos um povo de fusão.
prometera anteriormente, dedicou ainda a medalha conquistada aos deficien- rável dos media e da sociedade de consumo, Soubemos integrar uma diversidade que
tes portugueses.”19 importamos permanentemente traços que nos nos fez únicos, não pela homogeneidade
influenciam, quer consciente, quer inconscien- mas pela miscigenação. Por isso, nada te-
“No final, o atleta de origem nigeriana deu a volta de honra ao estádio, acenan- temente. Tornamo-nos mais “outros”, em tor- mos a temer do contacto com outras cul-
do efusivamente com a bandeira portuguesa, aquela que ele afirma ser a sua, no de tantos “Pais Natais” que assimilamos e turas e tradições. Pelo contrário, se com
p.20 símbolo do seu país.”20 integramos nas nossas tradições. E isto, não é elas soubermos aprender, iremos ficando p.21
obrigatoriamente negativo. sempre mais ricos, porque mais diversos.

19. Excerto de notícia da LUSA disponível em http://www.acime.gov.pt/modules.php?name=News&file=article&sid=552. 21. Este valor verifica-se para imigrantes africanos e do leste europeu. Para os imigrantes brasileiros o valor é menor: 22 e 24% respectivamente.
20. in Correio da Manhã, 23/8/2994.
IMIGRAÇÃO - OS M ITOS E OS FACTOS I M I G R AÇ ÃO - O S M I TO S E O S FAC TO S

As respostas às Não me chames estrangeiro

seguintes questões são: Não me chames estrangeiro, só porque nasci muito longe
ou porque tem outro nome essa terra donde venho.

Não me chames estrangeiro porque foi diferente o seio


ou porque ouvi na infância outros contos noutras línguas.

Não me chames estrangeiro se no amor de uma mãe


tivemos a mesma luz nesse canto e nesse beijo
com que nos sonham iguais nossas mães contra o seu
peito.

Não me chames estrangeiro, nem perguntes donde venho;


é melhor saber onde vamos e onde nos leva o tempo.

Não me chames estrangeiro, porque o teu pão e o teu fogo


me acalmam a fome e o frio e me convida o teu tecto.

Não me chames estrangeiro; teu trigo é como o meu trigo,


tua mão é como a minha, o teu fogo como o meu fogo,
e a fome nunca avisa: vive a mudar de dono.
Não deixe que os preconceitos substituam a verdade dos factos. Não se deixe
dominar por mitos falsos. Não se esqueça que qualquer um de nós poderia (...)
ser imigrante, se a vida a isso nos obrigasse e se tivessemos coragem e capa-
cidade de sacríficio para tal aventura. Não me chames estrangeiro; olha-me nos olhos
Muito para lá do ódio, do egoísmo e do medo,
CONTACTOS ÚTEIS E verás que sou um homem, não posso ser estrangeiro”
1. Alto Comissariado para a Imigração e Minorias Étnicas
Praça Carlos Alberto, no 71 4050-157 Porto Tel. 22-20 46 11 0 Fax. 22-20 46 11 9
Rua Álvaro Coutinho, no 14 1150-025 Lisboa Tel. 21-81 06 10 0 Fax. 21-81 06 11 7
acime@acime.gov.pt www.acime.gov.pt Rafael Amor
2. Centro Nacional de Apoio ao Imigrante (Lisboa)
Rua Álvaro Coutinho, no 14 1150-025 Lisboa Tel. 21-81 06 10 0 Fax. 21-81 06 11 7
p.22 Horário de funcionamento: 8h30 às 16h30 p.23
3. Centro Nacional de Apoio ao Imigrante (Porto)
Rua do Pinheiro, no 9 4050-484 Porto Tel. 22-20 73 81 0 Fax. 22- 20 73 81 7
Horário de funcionamento: 8h30 às 14h30
4. Linha SOS Imigrante
808 257 257

Anda mungkin juga menyukai