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Teses do STJ sobre o Estatuto do Desarmamento

Acesso o estatuto em : http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.826compilado.htm

1) O crime de posse irregular de arma de fogo, acessório ou munição


de uso permitido (art. 12 da Lei n. 10.826/2003) é de perigo abstrato,
prescindindo de demonstração de efetiva situação de perigo,
porquanto o objeto jurídico tutelado não é a incolumidade física e sim
a segurança pública e a paz social.

O art. 12 da Lei 10.826/03 tipifica a conduta de posse irregular de arma de


fogo de uso permitido:

“Possuir ou manter sob sua guarda arma de fogo, acessório ou munição,


de uso permitido, em desacordo com determinação legal ou regulamentar,
no interior de sua residência ou dependência desta, ou, ainda no seu local
de trabalho, desde que seja o titular ou o responsável legal do
estabelecimento ou empresa”

Há quem sustente que a punição pela conduta subsumida ao art. 12 só se


justifica diante de uma concreta situação de perigo para a segurança e a
paz púbicas, bens jurídicos tutelados pelo tipo. Por isso, a posse de arma
desmuniciada e a posse de munição desacompanhada da arma não seriam
capazes de caracterizar o delito. É o que defende Luiz Flávio Gomes, que,
ao comentar o voto da ministra Ellen Gracie no HC 75.073 sobre o porte
ilegal de arma (art. 14), observou:
“O crime é de mera conduta, mas essa classificação (do provecto Direito
penal) é puramente naturalista. Depois de Roxin (1970), sobretudo, o
Direito penal e, especialmente, a tipicidade, se desenvolve,
necessariamente, em dois planos: formal e material. O crime (portar arma
de fogo), no plano formal, é de mera conduta. No plano jurídico-material é
um crime de perigo (perigo de lesão). Por força do princípio da
ofensividade, sem a comprovação efetiva do perigo (concreto) não existe
crime.

Para a Ministra basta a ação (desvalor da ação) para a configuração do


crime, porque tratar-se-ia de perigo abstrato. Com a devida vênia, não
existe mais (já não pode existir) crime fundado exclusivamente no desvalor
da ação. Todo delito, necessariamente, exige também desvalor do
resultado jurídico (que é a lesão ou o perigo de lesão ao bem jurídico
protegido). Para a Ministra a ofensividade reside no poder de intimidação
da arma. Ocorre que o bem jurídico protegido não é a tranquilidade social
(tranqüilidade das pessoas), sim, a incolumidade pública (de forma direta)
assim como bens jurídicos pessoais tais como a vida, integridade física etc.
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(de forma indireta). Claro que a arma de fogo (municiada ou desmuniciada)


tem poder de intimidação. Precisamente por isso, quando usada numa
subtração, o delito é o de roubo (não o de furto). A arma desmuniciada pode
ser instrumento do delito de roubo (não há nenhuma dúvida). Mas a
questão, problemática, é outra: e quando a posse da arma é o único fato
cometido? Para nós (teoria constitucionalista do delito) só existe crime,
nesta situação, se a arma tem capacidade de disparo e disponibilidade de
uso (RHC 81.057-SP).”

A orientação dominante, no entanto, aponta em sentido diverso, isto é, de


que se trata realmente de crime de perigo abstrato, que dispensa a
demonstração de risco efetivo à incolumidade pública:

“1. A decisão agravada está em consonância com a jurisprudência desta


Corte, sedimentada no sentido de que o crime previsto no art. 12 da Lei n.
10.826/03 é de perigo abstrato, sendo desnecessário perquirir sobre a
lesividade concreta da conduta, porquanto o objeto jurídico tutelado não é
a incolumidade física e sim a segurança pública e a paz social, colocadas
em risco com a posse de arma de fogo, acessório ou munição (AgRg no
HC 414.581/MS, Rel. Ministro FELIX FISCHER, Quinta Turma, julgado em
15/3/2018, DJe 21/3/2018).” (AgRg no AREsp 1.319.859/SP, j. 18/09/2018)

2) O crime de porte ilegal de arma de fogo, acessório ou munição de


uso permitido (art. 14 da Lei n. 10.826/2003) é de perigo abstrato e de
mera conduta, bastando para sua caracterização a prática de um dos
núcleos do tipo penal, sendo desnecessária a realização de perícia.

Esta tese envolve de alguma forma a mesma discussão destacada na


anterior sobre a natureza do crime. Não obstante haja vozes contrárias à
caracterização do delito sem que se comprove efetivo risco à incolumidade
pública, também no porte de arma firmou-se a orientação de que o crime
se perfaz pela simples prática de uma das condutas típicas, sem
necessidade de perquirições a respeito da lesividade.

De fato, se os tribunais se orientam de maneira severa frente à posse


irregular de arma de fogo, não faria sentido adotar outra postura diante do
porte ilegal, consideravelmente mais grave (a pena passa de detenção de
um a três anos para reclusão de dois a quatro anos) e que, aliás, pode se
caracterizar não apenas pelo porte:

“Portar, deter, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar,


ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob
guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição, de uso permitido,
sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar”
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Em razão disso, o STJ tem se orientado no sentido de que a condenação


pelo porte ilegal de arma dispensa até mesmo a realização de exame
pericial sobre o artefato apreendido:

“3. “A jurisprudência desta Corte Superior é pacífica no sentido de que, para


a caracterização do delito previsto no artigo 14 da Lei n. 10.826/2003, por
ser de perigo abstrato e de mera conduta, e por colocar em risco a
incolumidade pública, basta a prática de um dos núcleos do tipo penal,
sendo desnecessária a realização de perícia (AgRg no AgRg no AREsp n.
664.932/SC, Ministro Felix Fischer, Quinta Turma, DJe 10/2/2017).” (REsp
1.726.686/MS, j. 22/05/2018)

Parece-nos, no entanto, que o fato de ter se estabelecido que o porte ilegal


de arma é de perigo abstrato culminou em uma conclusão equivocada
sobre a comprovação da materialidade delitiva, que não tem relação com a
abstratividade do perigo.

Com efeito, no crime de perigo abstrato se presume absolutamente o perigo


advindo da conduta, fazendo com que se dispense a apuração de que a
ação criminosa gerou risco efetivo a alguém ou a um grupo de pessoas.
Isto, no entanto, não se confunde com a comprovação de que o crime de
fato ocorreu. O que a lei presume é o perigo decorrente da conduta, não a
existência do objeto material. É o que ocorre, por exemplo, no tráfico de
drogas, delito de perigo abstrato e no qual o exame sobre a substância
apreendida não tem o propósito de demonstrar que o traficante gerou
perigo para alguém; tem a finalidade de demonstrar que se trata
efetivamente de uma das substâncias de uso proscrito no Brasil segundo a
Portaria 344/1998 do Ministério da Saúde.

Dá-se o mesmo com as armas de fogo. O exame pericial não é realizado


para apurar se quem portava a arma gerou perigo de dano a alguém; o
exame existe para apurar se de fato se trata de uma arma de fogo segundo
as definições do Decreto 3.665/00 (anexo, art. 3º, inc. XIII):

“XIII – arma de fogo: arma que arremessa projéteis empregando a força


expansiva dos gases gerados pela combustão de um propelente confinado
em uma câmara que, normalmente, está solidária a um cano que tem a
função de propiciar continuidade à combustão do propelente, além de
direção e estabilidade ao projétil”

Se não se realiza a perícia, como ter certeza de que se trata efetivamente


de uma arma de fogo e não de uma réplica? Lembramos que o art. 158 do
CPP impõe a realização de exame de corpo de delito nos crimes que
deixam vestígios para que se estabeleçam no processo certas garantias
contra acusações e condenações injustas, o que não se descarta nas
situações em que a perícia não é realizada sobre armas apreendidas. E,
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nesta esteira, tanto é necessária a perícia que o próprio STJ, no mesmo


acórdão citado acima (REsp 1.726.686/MS), concluiu o seguinte:

“Os precedentes desta Corte são uníssonos no sentido da desnecessidade


da realização de perícia para a caracterização do delito em questão, por se
tratar de crime de mera conduta e de perigo abstrato. No entanto, uma vez
realizada perícia técnica, constatando a absoluta ineficácia da arma
apreendida, resta descaracterizado o delito, diante da ausência de
ofensividade da conduta.”

Ora, se o exame que atesta a ineficácia da arma é capaz de afastar a


tipicidade, resta-nos a conclusão de que é sempre necessário para apurar
a tal capacidade, evitando-se assim condenações lastreadas no acaso.

Não podemos deixar de observar, finalmente, que a conclusão exposta


nesta tese contraria a orientação do próprio STJ a respeito da necessidade
de realização do exame pericial no crime de tráfico de drogas (Edição nº
111, tese nº 10). Se é obrigatória a perícia no tráfico para estabelecer a
natureza e as características da substância apreendida, nada mais
apropriado do que adotar a mesma postura diante do crime de porte ilegal
de arma para comprovar a natureza e as características daquilo a que se
atribui a qualidade de arma de fogo.

3) O art. 14 da Lei n. 10.826/2003 é norma penal em branco, que exige


complementação por meio de ato regulador, com vistas a fornecer
parâmetros e critérios legais para a penalização das condutas ali
descritas.

O art. 14 da Lei 10.826/03 pune o porte ilegal de arma de fogo de uso


permitido. E, não obstante a rubrica, diversas outras condutas além do
porte podem caracterizar o crime: deter, adquirir, fornecer, receber, ter em
depósito, transportar, ceder, emprestar, remeter, empregar, manter sob
guarda ou ocultar.

Os objetos materiais do crime são a arma de fogo, o acessório e a munição


de uso permitido, sendo que as condutas devem ocorrer sem autorização
e em desacordo com determinação legal ou regulamentar.

Trata-se de norma penal em branco própria (em sentido estrito ou


heterogênea), pois as definições de arma de fogo, acessório e munição,
assim como o que se deve entender pela expressão uso permitido, bem
como as situações em que alguém porta uma arma com autorização e de
acordo com determinação legal e regulamentar são todas extraídas de
decretos que regulamentam a Lei 10.826/03.

Mas, diante de tão óbvia constatação, que se extrai da simples leitura do


tipo, o que teria motivado a edição da tese nº 3? Analisados os precedentes
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utilizados para a formulação desta tese, constata-se que foram analisadas


circunstâncias que, em determinados casos, tornaram ilegal o porte de
arma devido ao desrespeito a normas específicas de regência.

No RHC nº 35.260/PI (j. 14/11/2017), por exemplo, considerou-se


caracterizado o delito do art. 14 porque o agente, embora habilitado, de
acordo com a lei, a portar armas de fogo, agiu contrariamente ao disposto
no art. 26 do Decreto 5.123/04, que dispõe:

“O titular de porte de arma de fogo para defesa pessoal concedido nos


termos do art. 10 da Lei nº 10.826, de 2003, não poderá conduzi-la
ostensivamente ou com ela adentrar ou permanecer em locais públicos,
tais como igrejas, escolas, estádios desportivos, clubes, agências
bancárias ou outros locais onde haja aglomeração de pessoas em virtude
de eventos de qualquer natureza.”

No caso, o agente havia ingressado em um bar portando ostensivamente a


arma e intimidando alguns dos presentes. Concluiu o STJ que, nos casos
em que existe autorização de porte de arma, o modo como ocorre o porte
é, segundo o regulamento, determinante para que a conduta seja
considerada legal.

Em outro caso (RHC 51.739/DF, j. 02/12/2014), considerou-se


caracterizado o crime porque um agente de trânsito havia sido
surpreendido portando uma arma de fogo enquanto se encontrava em uma
festa, durante a qual, momentos antes, havia intimidado outras pessoas
presentes. Alegava-se no recurso que normas regulamentares concediam
ao agente o direito de portar a arma, mas o STJ concluiu não só que tais
normas vedavam o porte ostensivo em locais de aglomeração pública, mas
que também, no caso dos agentes de trânsito, permitiam o porte apenas
no exercício da atividade.

4) O crime de disparo de arma de fogo (art. 15 da Lei n. 10.826/2003) é


crime de perigo abstrato, que presume a ocorrência de dano à
segurança pública e prescinde, para sua caracterização, de
comprovação da lesividade ao bem jurídico tutelado.

O art. 15 da Lei 10.826/03 pune, com reclusão de dois a quatro anos, a


conduta de disparar arma de fogo ou acionar munição em lugar habitado
ou em suas adjacências, em via pública ou em direção a ela, desde que
essa conduta não tenha como finalidade a prática de outro crime.

Destaca-se que o tipo estabelece uma espécie de subsidiariedade baseada


na finalidade do agente, ou seja, se o disparo é efetuado com o propósito
de cometer outro crime, somente este se caracteriza. A respeito da
subsidiariedade, ensina Guilherme de Souza Nucci:
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“É natural que, dando disparo de arma de fogo em lugar habitado, sem a


finalidade de atingir alguém, embora tal situação ocorra, é preciso cautela.
Pensamos que, em face da gravidade do crime previsto no art. 15 (vide a
pena aplicável), não se pode abrir mão de punir o agente com base na Lei
10.826/2003, ainda que uma ou outra vítima, efetivamente atingida, sofra
lesões. Não era essa a finalidade do autor dos disparos, motivo pelo qual a
lesão culposa ocorrida deve desaparecer (pelo critério da absorção),
cedendo espaço ao crime mais grave, que é o disparo de arma de fogo em
lugar habitado. No entanto, se a intenção do agente era ferir, ainda que
levemente, a vítima, o delito de dano prevalece sobre o de perigo, embora
este tenha pena abstrata mais grave que o outro. É a incoerência do
sistema penal brasileiro.”

Seja como for, o STJ se orienta no sentido de que, uma vez efetuado o
disparo em lugar habitado, em suas adjacências, em via pública ou em
direção a ela, não há necessidade de comprovar o perigo concreto de lesão
a bem jurídico alheio, pois se trata de crime de perigo abstrato, presumido
pela lei:

“2. O disparo de arma de fogo em local habitado configura o tipo penal


descrito no art. 15 da Lei n. 10.826/2003, crime de perigo abstrato que
presume o dano à segurança pública e prescinde, para sua caracterização,
de comprovação da lesividade ao bem jurídico tutelado.” (AgRg no AREsp
684.978/SP, j. 05/12/2017)

5) O crime de posse ou porte ilegal de arma de fogo, acessório ou


munição de uso restrito (art. 16, caput, da Lei n. 10.826/2003) é crime
de perigo abstrato, que presume a ocorrência de dano à segurança
pública e prescinde, para sua caracterização, de resultado
naturalístico à incolumidade física de outrem.

O art. 16 da Lei 10.826/03 pune diversas condutas relativas a armas de


fogo, munições e acessórios de uso restrito ou proibido segundo os
regulamentos da Lei 10.826/03.

Seguindo na mesma linha dos crimes dos artigos 12 e 14, o STJ tem
decidido que as condutas relativas ao art. 16 são puníveis
independentemente da demonstração de perigo concreto. Essas decisões
se dão geralmente no âmbito do porte de armas desmuniciadas e de
munições desacompanhadas das armas:

“2. O posicionamento perfilhado pelo Tribunal de origem coaduna-se com


a jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça, que é no sentido de
que o crime previsto no art. 16 da Lei n. 10.826/2003 é de perigo abstrato,
sendo desnecessário perquirir sobre a lesividade concreta da conduta,
porquanto o objeto jurídico tutelado não é a incolumidade física, e sim a
segurança pública e a paz social, colocadas em risco com a posse da arma
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de fogo, ainda que desprovida de munição, revelando-se despicienda a


comprovação do potencial ofensivo do artefato através de laudo
pericial.” (AgRg no AREsp 1.219.142/SP, j. 17/04/2018)

*****

“II – Este Superior Tribunal de Justiça firmou compreensão no sentido de


que os crimes previstos nos arts. 14 e 16 da Lei n. 10.826/2003 são de
perigo abstrato, sendo suficiente a prática do núcleo do tipo, in casu,
“portar” a munição, sem autorização legal, para a caracterização da
infração penal, pois são condutas que colocam em risco a incolumidade
pública, independentemente de a munição vir ou não acompanhada de
arma de fogo.

III – O crime de posse ou porte irregular de munição de uso permitido,


independentemente da quantidade, e ainda que desacompanhada da
respectiva arma de fogo, é delito de perigo abstrato, sendo punido antes
mesmo que represente qualquer lesão ou perigo concreto de lesão, não
havendo que se falar em atipicidade material da conduta.
Precedentes.” (AgRg no RHC 86.862/SP, j. 20/02/2018)

6) A abolitio criminis temporária prevista na Lei n. 10.826/2003 aplica-


se ao crime de posse de arma de fogo de uso permitido com
numeração, marca ou qualquer outro sinal de identificação raspado,
suprimido ou adulterado, praticado somente até 23/10/2005.

Esta tese foi julgada sob o rito dos recursos repetitivos (tema 596) e
reproduz literalmente o teor da súmula 513 do STJ.

Ao entrar em vigor, em 22 de dezembro de 2003, a Lei nº 10.826/03 punia,


no art. 12, a posse irregular de arma de fogo de uso permitido. E, no art.
16, a posse irregular de arma de fogo de uso restrito – caput – ou com
numeração raspada, suprimida ou adulterada – parágrafo único, inciso IV.
Havia, no entanto, no art. 32, disposição – tratada como abolitio
criminis temporária – que permitia aos possuidores e proprietários de
armas de fogo não registradas entregá-las à Polícia Federal no prazo de
cento e oitenta dias.

Mas houve sucessivas medidas provisórias e leis que prorrogaram o prazo


para que os possuidores de armas de fogo sem registro pudessem efetuar
a entrega dos artefatos, obstando a punição. A abolitio criminis não se
aplica, todavia, a todos os casos de posse irregular. Relativamente ao
período dessa benesse, há as seguintes situações:

a) para a posse de armas de fogo de uso permitido com numeração intacta,


31/12/2009;
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b) para a posse de armas de fogo com numeração suprimida ou de uso


restrito, a abolitio tem como termo final o dia 23/10/2005.

Note-se que, embora o texto da súmula trate expressamente apenas da


posse de arma de uso permitido, há inúmeras decisões do STJ
considerando atípica, até 23 de dezembro de 2005, também a posse de
arma de uso restrito:

“I – ‘[é] atípica a posse de arma de fogo, acessórios e munição, seja de uso


permitido ou de uso restrito, incidindo a chamada abolitio criminis
temporária nas duas hipóteses, se praticada no período compreendido
entre 23 de dezembro de 2003 a 23 de outubro de 2005. Este termo final
foi prorrogado até 31 de dezembro de 2008 somente para os possuidores
de armamentos de uso permitido (artigo 12), nos termos da Medida
Provisória 417 de 31 de janeiro de 2008, que estabeleceu nova redação
aos artigos 30 a 32 da Lei 10.826/2003, não mais albergando o delito
previsto no artigo 16 do Estatuto – posse de arma de fogo, acessórios e
munição de uso proibido ou restrito. Com a publicação da Lei 11.922, de
13 de abril de 2009, o prazo previsto no artigo 30 do Estatuto do
Desarmamento foi prorrogado para 31 de dezembro de 2009 no que se
refere exclusivamente à posse de arma de uso permitido’ (HC n.
346.077/SP, Quinta Turma, Rel. Min. Jorge Mussi, DJe de 25/5/2016 –
grifei)” (AgInt no AREsp 1.127.872/SP, j. 15/05/2018)

7) São atípicas as condutas descritas nos arts. 12 e 16 da Lei n.


10.826/2003, praticadas entre 23/12/2003 e 23/10/2005, mas, a partir
desta data, até 31/12/2009, somente é atípica a conduta do art. 12,
desde que a arma de fogo seja apta a ser registrada (numeração
íntegra).

Vimos nos comentários à tese anterior que o STJ reconhece a abolitio


criminis da posse de arma de fogo de uso permitido ou restrito até 23/10/05.
Superada esta data, a abolitio criminis permaneceu até 31/12/2009 – por
força da Lei 11.922/09 – somente para condutas subsumidas ao art. 12 do
Estatuto do Desarmamento, isto é, em benefício dos possuidores de armas
de fogo de uso permitido com numeração intacta, passíveis portanto de
registro.

Ressalte-se ainda que não tem nenhuma relevância para a tipificação o fato
de o Decreto 5.123/04 estabelecer, no art. 69 (com redação dada pelo
Decreto 7.473/11), que se presume a boa-fé dos possuidores e
proprietários de armas de fogo que espontaneamente entregá-las na
Polícia Federal ou nos postos de recolhimento credenciados, nos termos
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do art. 32 da Lei 10.826/03. Isto porque, além de não se alterarem os


prazos estabelecidos por lei, o dispositivo trata da entrega espontânea, não
das situações em que o agente é surpreendido com o artefato em sua
residência:
“3. É atípica a conduta relacionada ao crime de posse de arma de fogo,
acessórios e munição, seja de uso permitido, restrito, proibido ou com
numeração raspada, incidindo a chamada abolitio criminis temporária, se
praticada no período compreendido entre 23/12/2003 e 23/10/2005. O
respectivo termo final foi prorrogado até 31/12/2008 pela Medida Provisória
417, de 31/1/2008, convertida na Lei 11.706/2008, que deu nova redação
aos artigos 30 a 32 da Lei 10.826/2003, somente para os possuidores de
armamentos de uso permitido, não mais albergando o delito previsto no
artigo 16 do Estatuto do Desarmamento. Na mesma esteira, a Lei 11.922,
de 13/4/2009, prorrogou o prazo previsto no artigo 30 da Lei 10.826/2003
até 31/12/2009 apenas no que toca ao crime de posse de arma de uso
permitido.

4. “[…] o Decreto nº 7.473/2011 não ensejou extensão do prazo de


descriminalização quanto ao delito de posse irregular de arma de fogo de
uso permitido, ressaltando a necessidade de entrega espontânea à
autoridade competente para que se presuma a boa-fé do possuidor” (HC n.
262.895/RS, Rel. Min. FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, Dje 3/11/2014).

5. Os termos do Decreto n. 7.473/2011 e a Portaria n. 797/2001, por serem


normas de hierarquia inferior à lei, não podem estender o prazo para a
regularização de arma de fogo. Logo, típica a conduta do agente flagrado
com a guarda e posse de arma de fogo com numeração raspada em sua
residência, em desacordo com determinação legal ou regulamentar, em
27/3/2009” (HC 405.337/SP, j. 03/10/2017)

8) A regra dos arts. 30 e 32 da Lei n. 10.826/2003 alcança, também, os


crimes de posse ilegal de arma de fogo praticados sob a vigência da
Lei n. 9.437/1997, em respeito ao princípio da retroatividade da lei
penal mais benéfica.

A Lei 10.826/03 não inaugurou a punição da posse ilegal de arma de fogo


no ordenamento jurídico brasileiro, mas apenas recrudesceu o tratamento
penal conferido à conduta. Antes, a Lei 9.437/97 já trazia a respectiva
tipificação em seu artigo 10.

Com a entrada em vigor da Lei 10.826/03, houve, como já destacamos,


diversos diplomas normativos que impediram a punição da posse ilegal de
arma. Há quem sustente que não se trata de efetiva abolitio criminis, mas
de regras de caráter transitório que, no intuito de fomentar a entrega das
armas por quem as possuía sem registro, impediram momentaneamente a
punição. Por esta razão, tais normas não poderiam retroagir, aplicando-se
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apenas para fatos cometidos já sob sua vigência. Há inclusive decisão do


STF neste sentido:

“I. A vacatio legis de 180 dias prevista nos artigos 30 a 32 da Lei


10.826/2003 não tornou atípica a conduta de posse ilegal de arma de fogo.
II – Não há abolitio criminis do delito de posse ilegal de arma de fogo
ocorrido anteriormente à vigência da Lei 10.826/2003, a qual somente
instituiu prazo para aqueles que possuíam armas fogo de maneira irregular
procedessem à sua regularização. III – Ordem denegada.” (HC 98.180/SC,
j. 29/06/2010)

O STJ, no entanto, se orienta no sentido oposto para considerar viável a


extinção da punibilidade de condenados pela posse de arma de fogo sob a
vigência da Lei 9.437/97:

“1. Conforme precedentes desta Corte, a abolitio criminis temporalis


prevista na Lei n. 10.826/03 (SINARM) retroage para alcançar fatos
cometidos na vigência da Lei n. 9.437/97.” (AgRg no REsp 1.451.170/DF,
j. 21/06/2018)

*****

“1. No caso, foi declarada extinta a punibilidade do réu – condenado à pena


de 1 ano de detenção pela prática, em 3/6/2003, do delito previsto no art.
10, caput, da Lei 9.437/1997 – pelo Juízo da execução penal, em
27/2/2014, pois, com a superveniência da Lei n. 10.826/2003, que
consentiu aos possuidores de arma de fogo de uso permitido regularizar
sua situação, considera-se atípica a conduta do ora agravado, em face da
aplicação retroativa da norma penal mais benéfica.

2. A regra do art. 30 da Lei n. 10.826/2003 alcança, também, os crimes


praticados sob a vigência da Lei n. 9.437/1997, em respeito ao princípio da
retroatividade da lei penal mais benéfica.” (AgRg no AREsp 684.801/DF, j.
16/06/2015)

9) A forma qualificada do art. 10, § 3º, IV, da Lei n. 9.437/1997, que foi
suprimida do ordenamento jurídico com o advento da Lei n. 10.826/03,
não tem o condão de tornar atípica a conduta, mas apenas de
desclassificar o delito para a forma simples, prevista no caput do
dispositivo legal mencionado.

A revogada Lei 9.437/97 estabelecia, no art. 10, § 3º, inciso IV, uma
qualificadora para as situações em que os autores de condutas relativas,
dentre outras, à posse e ao porte de arma de fogo ostentassem
condenação anterior por crime contra a pessoa, contra o patrimônio e por
tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins.
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A qualificadora deixou de existir na Lei 10.826/03, mas, segundo a tese


firmada pelo STJ, não se trata de abolitio criminis em relação às condutas
criminosas tipificadas no art. 10, mas tão somente de desclassificação:

“2. Esta Corte Superior firmou o entendimento de que a forma qualificada


do art. 10, § 3º, IV, da Lei n. 9.437/1997 foi suprimida do ordenamento
jurídico com o advento da Lei n. 10.826/03, razão pela qual tal conduta deve
ser desclassificada para a forma simples, expressa no art. 10, caput, do
estatuto revogado.

3. Habeas corpus não conhecido, mas, ordem concedida, de ofício, para


desclassificar o delito para a forma simples expressa no art. 10, caput, da
Lei n. 9.437/97, fixando a pena definitiva em 1 ano e 3 meses de reclusão,
além de 12 dias-multa.” (HC 162.244/RJ, j. 05/11/2015)

10) Não se aplica o princípio da consunção quando os delitos de


posse ilegal de arma de fogo e disparo de arma em via pública são
praticados em momentos diversos e em contextos distintos.

Ocorre a consunção (também denominada absorção) quando se verifica a


continência de tipos, ou seja, o crime previsto por uma norma (consumida)
não passa de uma fase de realização do crime previsto por outra
(consuntiva) ou é uma forma normal de transição de um crime para o outro
(crime progressivo).

É possível, nos crimes relativos às armas de fogo, que a posse ou o porte


da arma seja considerado um meio para a prática do disparo, mas esta
conclusão não pode ser automática, deve ser ditada pelas circunstâncias
do caso concreto. Somente se considera a absorção se ambas as condutas
se derem no mesmo contexto fático.

Dessa forma, se “A” tem a posse legal de uma arma de fogo em sua
residência e, decidido a efetuar disparos, dirige-se à via pública e de fato
aciona o artefato, é possível defender a absorção do porte pelos disparos.
Se, no entanto, depois de manter ilegalmente a arma em sua residência
por vários anos, “A” efetua disparos em direção à via pública, o correto é
lhe imputar os dois crimes em concurso, pois a posse e os disparos não
ocorreram no mesmo contexto:

“1. Aplica-se o princípio da consunção aos crimes de porte ilegal e de


disparo de arma de fogo ocorridos no mesmo contexto fático, quando
presente nexo de dependência entre as condutas, considerando-se o porte
crime-meio para a execução do disparo de arma de fogo.

2. Concluindo o Tribunal de origem, com apoio no conjunto probatório dos


autos, que os crimes de posse e de disparo de arma de fogo não foram
praticados no mesmo contexto fático, porquanto se aperfeiçoaram em
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momentos diversos e com desígnios autônomos, a reversão do julgado


encontra óbice na Súmula 7/STJ.” (AgRg no AREsp 1.211.409/MS, j.
08/05/2018)

11) A simples conduta de possuir ou de portar arma, acessório ou


munição é suficiente para a configuração dos delitos previstos nos
arts. 12, 14 e 16 da Lei n. 10.826/2003, sendo inaplicável o princípio da
insignificância.

Esta tese vem na esteira da orientação de que a posse e o porte de arma


de fogo, munições ou acessórios são crimes de perigo abstrato, que
dispensam a comprovação de efetivo risco à segurança pública. Por isso,
o princípio da insignificância – aplicável em situações em que a ofensa é
incapaz de atingir materialmente e de forma relevante e intolerável o bem
jurídico protegido – tem sido rechaçado nos delitos relativos a armas de
fogo.

Não obstante o teor da tese, devemos ressaltar que há decisões, tanto no


STF quanto no próprio STJ, em que a insignificância foi admitida porque
evidenciada a desproporcionalidade entre a conduta praticada e a resposta
penal. Trata-se, no geral, de situações em que o agente é surpreendido
com apenas um projétil de arma de fogo ou até mesmo com pequena
quantidade de projéteis:

“Não é possível vislumbrar, nas circunstâncias, situação que exponha o


corpo social a perigo, uma vez que a única munição apreendida, guardada
na residência do acusado e desacompanhada de arma de fogo, por si só,
é incapaz de provocar qualquer lesão à incolumidade pública” (STF: RHC
143.449/MS, j. 26/09/2017).

“1. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça aponta que os


crimes previstos nos arts. 12, 14 e 16 da Lei n. 10.826/2003 são de perigo
abstrato, sendo desnecessário perquirir sobre a lesividade concreta da
conduta, porquanto o objeto jurídico tutelado não é a incolumidade física e
sim a segurança pública e a paz social, colocadas em risco com a posse
de munição, ainda que desacompanhada de arma de fogo, revelando-se
despicienda a comprovação do potencial ofensivo do artefato através de
laudo pericial. Por esses motivos, via de regra, inaplicável, nos termos da
jurisprudência desta Corte, o princípio da insignificância aos crimes de
posse e de porte de arma de fogo ou munição, sendo irrelevante inquirir a
quantidade de munição apreendida.

(…)

3. No caso, o réu foi preso em flagrante na posse de 5 munições calibre


.38, de uso permitido, desacompanhadas de dispositivo que possibilitasse
o disparo do projétil. Por conseguinte, deve ser reconhecida a inocorrência
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de ofensa à incolumidade pública, sendo, pois, de rigor o afastamento da


tipicidade material do fato, conquanto seja a conduta formalmente
típica.” (STJ: EDcl no AgRg no REsp 1.700.630/RS, j. 04/10/2018)

12) Independentemente da quantidade de arma de fogo, de acessórios


ou de munição, não é possível a desclassificação do crime de tráfico
internacional de arma de fogo (art. 18 da Lei de Armas) para o delito
de contrabando (art. 334-A do Código Penal), em respeito ao princípio
da especialidade.

A Lei 10.826/03 pune no art. 18, com reclusão de quatro a oito anos, as
condutas de importar, exportar, favorecer a entrada ou a saída do território
nacional, a qualquer título, de arma de fogo, acessório ou munição, sem
autorização da autoridade competente.

Trata-se de uma forma especial do contrabando (art. 334-A do Código


Penal) aplicável em todas as situações de importação ilegal de armas de
fogo, acessórios ou munições. Seja qual for a quantidade importada, não
há possibilidade de que a conduta se subsuma ao dispositivo do Código
Penal:
“1. A importação ilegal de munições, ab initio, poderia ser enquadrada no
art. 334 do Código Penal, não fosse a especialização conferida pelo art. 18
da Lei n. 10.826/2003.

2. Consoante a jurisprudência deste Superior Tribunal, é típica a conduta


de importar munição sem autorização da autoridade competente, nos
termos dos arts. 18 c/c o 19, ambos da Lei n. 10.826/2003, mesmo que o
réu detenha o porte legal da arma, no Brasil, em razão do alto grau de
reprovabilidade da conduta.

3. Tipificada a conduta de importar munição sem autorização da autoridade


competente pelo art. 18 da Lei n. 10.826/2003, não há que se falar em crime
de contrabando.” (AgRg no REsp 1.599.530/PR, j. 16/08/2016)

Note-se, no entanto, que não se aplica a Lei 10.826/03 no caso de


importação de simulacro de arma de fogo. Embora a proibição de
importação esteja na mesma lei (art. 26), a tipificação recai no art. 334 do
Código Penal porque o tipo do art. 18 se restringe a armas, munições e
acessórios verdadeiros:

“1. Nos termos do artigo 26 da Lei n. 10.826/2003, são vedadas a


fabricação, a venda, a comercialização e a importação de brinquedos,
réplicas e simulacros de armas de fogo, que com estas se possam
confundir.

2. A importação de arma de brinquedo capaz de ser confundida com


verdadeira configura o delito de contrabando, diante da proibição contida
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no artigo 26 da Lei n. 10.826/2003, considerando os riscos à segurança e


incolumidade públicas.

3. No crime de contrabando a tutela jurídica volta-se não apenas ao


interesse estatal patrimonial, mas também à segurança e à incolumidade
pública, de modo a afastar a incidência do princípio da insignificância.
Precedentes.” (REsp 1.727.222/PR, j. 02/08/2018)

Créditos: Rogério Sanchez (meusitejuridico.com.br), Wendell Ribeiro (@descubraocrime).

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