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Posições interpretativas

fiscais em face do RE
176.626-3
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Posições interpretativas fiscais em face…

O posicionamento do STF posto em xeque

O Projeto “Nossa Reforma Tributária: Desafios da Era Digital” do Núcleo de


Estudos Fiscais da FGV Direito SP trabalha pela pesquisa, identificação e
proposição de soluções no âmbito da tributação da economia digital.
O objetivo deste artigo é analisar a decisão do Supremo Tribunal Federal
(STF) no Recurso Extraordinário n. 176.626-3/SP[1], tendo em vista que
mesmo que tenha tido seu acórdão publicado nos idos de 1998, continua
servindo como uma das poucas balizas norteadoras do debate da
tributação dos softwares. Na oportunidade, o STF, sob o voto condutor do
Relator Ministro Sepúlveda Pertence, estabeleceu a célebre distinção entre
“softwares de prateleira” e “softwares sob encomenda”, determinando a
partir desta diferenciação a incidência do ICMS e do ISS, respectivamente.

A decisão foi tomada no âmbito da 1ª Turma do STF, portanto sem a


participação do Pleno, e também fora da sistemática da repercussão geral,
que só fora aplicada à rotina da Corte pela Emenda Constitucional n. 45 de
2004. Entretanto, as Administrações Tributárias dos três níveis da
Federação utilizam-na habitualmente para resolver questões atinentes à
aplicação de seus tributos, inclusive conflitos de competência, o que
acarreta insegurança jurídica por decorrência das sérias limitações da
própria decisão per se.
Servirão de base para este estudo as decisões administrativas da Receita
Federal do Brasil, a nível federal, do Estado de São Paulo, a nível estadual,
e do Município de São Paulo, a nível local. Os dois últimos se justificam
pelo pioneirismo com que essas administrações tiveram que lidar com as
questões atinentes à tributação de softwares vis à vis outros Estados e
Municípios brasileiros, servindo, portanto, de paradigma para os órgãos
fiscais das demais unidades federativas.
CONTEXTO HISTÓRICO DO RE 176.626-3
O leading case julgado pelo Supremo Tribunal Federal versou sobre
acórdão do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (TJ/SP), em sede de
Recurso de Apelação em ação declaratória de inexistência de relação
jurídico-tributária, que havia reconhecido a não-incidência do ICMS sobre
as operações de “licenciamento ou cessão de direito de uso de programas
de computador” para a empresa MUNSP – Processamento de Dados Ltda.,
tendo figurado no polo passivo da demanda o Estado de São Paulo,
representado pela Procuradoria-Geral do Estado.
No acórdão recorrido do TJ/SP, o argumento central para fundamentar a
decisão pela não incidência do ICMS foi o de que os softwares não são
mercadorias sujeitas à comercialização por contratos de compra e venda,
mas sim bens intelectuais adstritos à licença ou cessão, com base em: (i)
Lei 7.646/87 (“Lei do Software”) versa que “a exploração econômica de
programas de computador, no País, será objeto de contratos de licença ou
de cessão, livremente pactuados entre as partes”; (ii) Código de
Propriedade Intelectual (Lei 9.279/96) outorga aos titulares de direitos,
seus herdeiros e sucessores, a possibilidade de concessão de licença para
sua exploração; e (iii) não se pode confundir o suporte físico (disquete, fita
cassete, chip) com o software, este último preponderante e sujeito à
cessão ou licença. O acórdão do TJ/SP concluiu que o “conceito de serviço
é mais racionalmente assimilável nessa área que o da circulação de
mercadoria, restrito este último ao do simples suporte físico, desvinculado
do conteúdo que envolve a criação intelectual”, ou seja, a tributação do
software pelo ICMS caracterizaria invasão pelos Estados da competência
tributária dos Municípios.
Em face do referido acórdão do TJ/SP, foram apresentados Recurso
Especial ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) e Recurso Extraordinário ao
Supremo Tribunal Federal (STF).
No acórdão do STJ, que negou provimento ao recurso do Estado de São
Paulo, restaram consignados os mesmos argumentos que embasaram o
acórdão do TJ/SP, no entanto, dando especial relevo ao fato de que os
programas de computador são serviços na pura acepção do termo, pois
requerem dos programadores especialistas criatividade e esforço
intelectual “típico da personalidade do seu criador”.
Além disso, o voto condutor do Ministro Garcia Vieira do STJ apresentou
argumentos no sentido de que: (i) os programas de computador são
protegidos pela Lei dos Direitos Autorais (Lei 5.988/73); (ii) a Lei do
Software (art. 24) obriga ao titular do direito de comercialização a
prestação de serviços técnicos aos usuários; (iii) existia projeto de lei à
época que estabeleceria que, inclusive para fins tributários, programas de
computador teriam a natureza jurídica de serviço; (iv) existência de
disposição na legislação do ICMS do Estado de Santa Catarina (Lei Estadual
7.547/89, art. 4º) que declarava a não-incidência do imposto no caso de
“saída ou fornecimento de programas de computador, personalizados ou
não, exceto em relação ao valor dos suportes informáticos, ‘mouses’,
eprons, placas e materiais similares”; (v) existência de disposição legal
expressa na legislação do ICMS do próprio Estado de São Paulo (Lei
Estadual 8.198/92) que dispensava do pagamento do imposto as
operações com software realizadas até a data de publicação da referida lei
estadual (16.12.1992).
O acórdão do Recurso Especial concluiu que os softwares eram serviços
passíveis de inclusão nos itens 22 e 24 da lista anexa do então Decreto-Lei
406/68, que normatizava a incidência do ISSQN.
Por fim, o Ministro Sepúlveda Pertence do STF relatou os argumentos
suscitados pela parte Recorrente, o Estado de São Paulo, no sentido de
que haveria distinção entre softwares feitos sob encomenda para atender
necessidades específicas de um cliente, cuja competência tributária é de
fato dos Municípios, e os “softwares de prateleira”, que estão à venda em
indistintos pontos comerciais, para um gama infinita de clientes, o que
caracteriza efetiva circulação de mercadoria, pois seriam, na verdade,
“software produto”.
O Estado de São Paulo também argumenta que: (i) o fato do programa de
computador estar protegido pela lei de direitos autorais não o
desqualifica como mercadoria, pois quem adquire o suporte físico com o
programa tem domínio sobre o suporte físico e não sobre a obra
intelectual que ele contém (igual ocorre com o livro, por exemplo); (ii) a
teleologia da proteção da produção intelectual é evitar a reprodução e
comercialização desautorizadas, a “pirataria”; (iii) a aquisição de programa
de computador não personalizado não implica em prestação de serviço do
autor do programa para o adquirente; (iv) violação à competência
tributária conferida pela Constituição Federal aos Estados e ao Distrito
Federal (art. 155, II); e (v) violação ao art. 156, III, da CF, pois o acórdão do
TJ/SP estabeleceu competência não definida na lei complementar que o
referido dispositivo faz alusão.
O parecer do Ministério Público é pelo não conhecimento do Recurso
Extraordinário por questões processuais ligadas ao prequestionamento
nos Embargos de Declaração.
DESCRIÇÃO ANALÍTICA DOS PRINCIPAIS ARGUMENTOS DO VOTO DO
RELATOR MINISTRO SEPÚLVEDA PERTENCE DO STF
Questões preliminares:
1. Falta de prequestionamento da matéria: REJEITADO – o recorrente
interpôs os Embargos de Declaração, se o tribunal a quo se recusou a
suprimir a omissão não há nada mais que se possa cobrar da parte.
2. Erro na indicação dos enunciados constitucionais: REJEITADO – o
recorrente indicou os arts. 155, I, “b”, e 156, IV, que se referem a mesma
disposição expressa dos atuais arts. 155, II, e 156, III, após a redação dada
pela Emenda Constitucional 03/93.
3. Inexistência de matéria constitucional: REJEITADO – o cerne da questão
está na precisão do conceito de “mercadoria” contido no art. 155, II, da CF,
portanto é essencial a demarcação do âmbito constitucional de incidência
possível do ICMS, incluído por aquele dispositivo na competência dos
Estados e do DF.
Mérito:
Será feita análise fragmentada dos argumentos trazidos pelo voto do
Ministro Relator, destacando-se o core de cada uma das proposições
levantas, tendo como pressuposto metodológico o normative systemsde
Carlos Alchourrón e Eugenio Bulygin[2]. A teoria propõe a análise
sistematizada do Direito, partindo da concepção de que os arranjos fáticos
podem ser infinitos, mas os critérios normativos são delimitados pela lei e,
portanto, sua verificação combinada, geram resultados finitos e
determinados[3].
A1. Mercadoria é bem corpóreo, portanto não inclui os direitos em geral,
que são bens incorpóreos
Segundo o Relator, a matéria sobre a qual a demanda versa trata de
operações relativas ao “licenciamento ou cessão de direito de uso de
programas de computador”, portanto são operações que envolvem direito
de uso, o que é um bem incorpóreo/intangível, não passível de incidência
do ICMS. O Relator ressalta que: “o conceito de mercadoria efetivamente
não inclui os bens incorpóreos, como os direitos em geral: mercadoria é
bem corpóreo objeto de atos de comércio ou destinado a sê-lo”.
A2. O bem passível de licenciamento não pode ser comercializado
O argumento é embasado pelo Relator com base em três
fundamentações: i) o autor do software possui “direito de exclusivo”; ii)
não se confunde a aquisição do exemplar com o licenciamento ou cessão
do direito de uso; e iii) o revendedor do software não assume a condição
de licenciado ou cessionário, tampouco pode transferi-la ao consumidor
final, pois não negocia os direitos do autor, mas apenas o corpus
mechanicum da obra intelectual que nele se materializa.
i) O autor do software possui “direito de exclusivo”
A natureza intangível do software acarreta na impossibilidade de proteção
eficaz contra atos de terceiros, senão por intermédio de “direito de
exclusivo” conferido pelo Direito Intelectual. O “direito de exclusivo” não é
mercadoria, nem se aliena com o licenciamento de seu uso, portanto fora
do raio de incidência do ICMS.
ii) Não se confunde a aquisição do exemplar com o licenciamento ou
cessão do direito de uso
Mesmo nos softwares de prateleira subsiste o licenciamento ou cessão do
direito de uso. Em tese, neste tipo de software não há transferência de
titularidade, apenas o direito de uso não exclusivo, o que também não
impede que o cliente adquira as “manifestações físicas” do software
mediante o licenciamento a título definitivo e por preço.
Neste ponto, os contratos de adesão de softwares de prateleira, via de
regra, limitam a liberdade do adquirente, proibindo o aluguel, reprodução,
decomposição, separação dos componentes do software, etc.
iii) O revendedor do software não assume a condição de licenciado ou
cessionário, tampouco pode transferi-la ao consumidor final, pois não
negocia os direitos do autor, mas apenas o corpus mechanicum da obra
intelectual que nele se materializa
A3. A distinção proposta pelo Estado de São Paulo é procedente: software
standard, software por encomenda e software adaptado ao cliente
O Relator consigna a distinção feita pela doutrina de Rui Saavedra[4]  no
sentido de que o: (i) software standard seria o programa bem definido,
estável, concebido para ser dirigido a uma pluralidade de utilizadores com
vista a uma mesma aplicação ou função, sendo admitidas configurações
que adequam o programa para que cada utilizador encontre a solução
buscada para sua realidade; (ii) software por encomenda seria o programa
desenvolvido exclusivamente para atender às necessidades específicas de
um determinado usuário que o encomendou; e (iii) software adaptado ao
cliente seria uma forma híbrida entre as duas anteriores, pois partiria de
uma base standard que é modificada para harmonizar com os recursos
desejados pelo cliente (processo de customization).
A distinção é relevante porque o entendimento consagrado pelo acórdão
foi o de que a padronização é característica intrínseca dos bens corpóreos
amplamentes disponibilizados no mercado, i.e., a estandardização do
software requer primeiro que seja um produto/bem que proporcione a
mesma função a seus utilizadores, e também que necessariamente o
adquiriram sob a forma de corpus mechanicum.
Conclusão do voto:
O Relator concluiu o julgamento ventilando a possibilidade de cobrança
do ICMS nas operações de transferência do corpus mechanicum entre
produtor, revendedor e consumidor final, no entanto ressalta que este
não é o objeto da demanda, cujo cerne está na incidência ou não do
imposto unicamente na hipótese de “licenciamento ou cessão do direito
de uso de programa de computador”. Assim, por esta operação não se
caracterizar como mercadoria, não cabe a exação do ICMS.
A 1ª Turma do STF não conheceu[5] do recurso por unanimidade.
ARGUMENTOS APRESENTADOS NA DECISÃO DO STF E O
POSICIONAMENTO ATUAL DAS ADMINISTRAÇÕES TRIBUTÁRIAS
ARGUMENTOS DO STF POSICIONAMENTO ATUAL DAS
ADMINISTRAÇÕES TRIBUTÁRIAS

A1. Mercadoria é bem Federal: a RFB faz distinção


corpóreo, portanto não inclui entre “licenciamento ou cessão
os direitos em geral, que são do direito de uso” e
bens incorpóreos. “licenciamento para reproduzir
e comercializar” (ainda que
sejam softwares de prateleira).
Em relação à primeira hipótese,
a RFB possui posicionamento
pela não incidência do IRRF e
da CIDE, pois segundo o RE
176.626-3/SP trata-se de
mercadoria, sendo o
pagamento contraprestação
pelo bem, não caracterizando
royalties. No que se refere à
segunda hipótese, por ser caso
em que há contratação do
direito de duplicar e
comercializar o software
acompanhado de licença de
uso no Brasil, não seria
mercadoria nos termos do RE
176.626-3/SP, incidindo, pois,
IRRF e CIDE nas remessas ao
exterior em contraprestação
pelo direito – royalties (Solução
de Consulta COSIT n. 154/16).
Ocorre incidência tributária
também nos casos de
remuneração de SaaS –
software as a service (Solução
de Consulta COSIT n. 191/17).

Estadual: SP – o critério
“corpóreo” é irrelevante, sendo
preponderante a
“padronização” do software,
assim entendida a ampla
disponibilização no mercado do
bem/produto não
necessariamente por meio
de corpus mechanicum (Decisão
Normativa CAT n. 04/17)[6].

Municipal: SP – tanto o critério


“corpóreo” quanto o critério de
“padronização” são
irrelevantes, sendo
preponderante a disposição
expressa na lista de serviços da
Lei Complementar n. 116/03,
especificamente o item 1.05 –
“Licenciamento ou cessão de
direito de uso de programas de
computação” (Parecer
Normativo n. 01/17)[7].

A2. O bem passível de Federal: Sobre a remessa para


licenciamento não pode ser o exterior da remuneração de
comercializado operação de licenciamento
incide o IRRF e CIDE, pois
verifica-se cessão ou licença de
direitos de uso, fruição ou
disposição, o que configura o
conceito de royalties – art. 710
RIR/99 (Solução de Consulta
COSIT n. 154/16).

Estadual: SP – o software de
prateleira (standard) é tido
como mercadoria em sua
acepção mais ampla,
desvinculada da corporificação,
portanto sujeita ao ICMS
(Decisão Normativa CAT n.
04/17).

Municipal: SP – a característica
mercantil do licenciamento não
é verificada, bastando a
existência de operação de
licenciamento ou cessão do
direito de uso de programas de
computação para que se
tribute o ISS (Parecer
Normativo n. 01/17).

A3. A distinção proposta pelo Federal: a principal distinção


Estado de São Paulo é feita pela RFB é a “licença ou
procedente: software cessão do direito de uso” e
standard, software por “licenciamento para reproduzir
encomenda e software ou comercializar”, sendo
adaptado ao cliente aplicável o IRRF e CIDE para o
segundo (Solução de Consulta
COSIT n. 154/16).

Estadual: SP – o critério da
corporificação como necessário
à classificação de software
standard foi abandonada, hoje
o Estado segue a lógica de
padronização como o software
que está disponível para uma
gama de pessoas, sem
adequações personalizadas
(Decisão Normativa CAT n.
04/17).

Municipal: SP – a distinção é
amplamente ignorada, pois a
partir da inserção do item 1.05
na lista de serviços da Lei
Complementar 116/03 todos os
progrmas de computação
sujeitos a licenciamento ou
cessão de direito de uso estão
passíveis da cobrança do ISS
(Parecer Normativo n. 01/17).

Conclusão
A decisão do Supremo Tribunal Federal representa um marco na definição
dos tipos de software e da tributação incidente sobre cada um deles, no
entanto, pelas próprias limitações de 1998, o acórdão necessita de uma
revisão que lhe confira convergência com os desafios da atualidade, tendo
em vista a realidade cambiante da economia digital. De qualquer forma,
nada justifica o descompasso das soluções apresentadas pelas
Administrações Fiscais, que, baseadas na mesma decisão do STF, adotam
posições diametralmente diferentes e notadamente enviesadas pelas
incidências tributárias que se encontram sob a sua gestão.
No que se refere à tributação federal (via de regra IRRF e CIDE), a Receita
Federal do Brasil, com base no mesmíssimo acórdão do STF (RE 176.626-
3/SP) apresenta posicionamentos diametralmente opostos ao longo do
tempo: em 2008, por meio da Solução de Divergência COSIT n. 27,
manifestava entendimento no sentido de que não havia tributação das
remessas pelo pagamento de software de prateleira (cópias múltiplas),
pois estes produtos não poderiam ser considerados bens colocados à
mercancia; já em 2016, na Solução de Consulta COSIT n. 154, passou a
tributar os softwares (mesmo que de prateleira/cópias múltiplas) nas
operações que envolvessem apenas o licenciamento para reproduzir ou
comercializar no Brasil.
Em relação ao Estado de São Paulo, parte recorrente, vale ressaltar, houve
abandono total da posição que sustentava no RE 176.626-3/SP. Quando
da discussão do caso, o Estado vislumbrava clara distinção entre software
de prateleira e software sob encomenda, atrelando ao primeiro a
corporificação como característica necessária. Atualmente, por meio da
Decisão Normativa CAT n. 04 de 2017, São Paulo passou a adotar o critério
da padronização e massificação da produção como aspecto fundamental
da existência de software de prateleira, passível, portanto, da incidência
do ICMS, ignorando o aspecto corpóreo da mercadoria.
O Município de São Paulo, por sua vez, também se desvinculou
completamente do que fora sedimentado pelo STF, pois se apegou à
superveniência da disposição do item 1.05 da Lei Complementar n. 116/03
para defender que todos os softwares, independente se de natureza
personalizada ou cópia múltipla[8], devem ter sua comercialização
tributada pelo ISS, na forma do Parecer Normativo n. 01 de 2017, que
consolidou posicionamento que a Prefeitura de São Paulo vinha tomando
já há certo tempo[9].
Ainda no âmbito municipal, o acórdão do RE 176.626-3/SP foi
sedimentado na vigência do Decreto-Lei n. 406 de 1968 (revogado no que
se refere ao ISS pela Lei Complementar n. 116/03), especificamente os
itens 22 e 24[10]. Enquanto que, estrategicamente, a LC 116/03 adotou a
exata redação do acórdão para compor o item 1.05 de sua lista anexa, o
que demonstra tentativa dos Municípios em alinhar a legislação de
regência do ISS com o precedente do Supremo.
Percebe-se que existe verdadeira corrida contra o tempo das
administrações tributárias para encontrar formas de utilizar suas
materialidades na tributação dos softwares, seja qual for a espécie (“por
encomenda” ou “de prateleira”). Não obstante as críticas severas que
podem ser feitas aos posicionamentos fiscais, por certo os Municípios
ganham proeminência no debate, pois dentro do panorama de abandono
geral da decisão do STF, são os únicos que possuem embasamento
positivado, por meio do item 1.05 da Lei Complementar n. 116 de 2003,
que, importante ressaltar, possui finalidade constitucional (art. 146, I) de
resolver conflito de competência tributária.
___________________________________________________________________________________
[1] RECURSO EXTRAORDINÁRIO N. 176.626-3 SÃO PAULO RELATOR : MIN.
SEPÚLVEDA PERTENCE RECORRENTE: ESTADO DE SÃO PAULO
ADVOGADO: PGE-SP – PATRÍCIA DE OLIVEIRA GARCIA RECORRIDO: MUNPS
PROCESSAMENTO DE DADOS LTDA ADVOGADO: AUREO SANDOVAL
CRESPO E OUTROS EMENTA: I. Recurso extraordinário:
prequestionamento mediante embargos de declaração (Súm. 356). A teor
da Súmula 356, o que se reputa não prequestionado é o ponto
indevidamente omitido pelo acórdão primitivo sobre o qual “não foram
opostos embargos declaratórios”. Mas se, opostos, o Tribunal a quo se
recuse a suprir a omissão, por entendê-la inexistente, nada mais se pode
exigir da parte (RE 210.638, Pertence, DJ 19.6.98). II. RE: questão
constitucional: âmbito de incidência possível dos impostos previstos na
Constituição: ICMS e mercadoria. Sendo a mercadoria o objeto material da
norma de competência dos Estados para tributar-lhe a circulação, a
controvérsia sobre se determinado bem constitui mercadoria é questão
constitucional em que se pode fundar o recurso extraordinário. III.
Programa de computador (“software”): tratamento tributário: distinção
necessária. Não tendo por objeto uma mercadoria, mas um bem
incorpóreo, sobre as operações de “licenciamento ou cessão do direito de
uso de programas de computador” — matéria exclusiva da lide —,
efetivamente não podem os Estados instituir ICMS: dessa impossibilidade,
entretanto, não resulta que, de logo, se esteja também a subtrair do
campo constitucional de incidência do ICMS a circulação de cópias ou
exemplares dos programas de computador produzidos em série e
comercializados no varejo — como a do chamado “software de prateleira”
(off the shelf) — os quais, materializando o corpus mechanicum da criação
intelectual do programa, constituem mercadorias postas no comércio.
[2]  ALCHOURRÓN, Carlos; BULYGIN, Eugenio. Introducción a la
metodología de las ciencias jurídicas y sociales. Buenos Aires: Editorial
Astrea de Alfredo y Ricardo Depalma, 1987.
[3]  SANTI, Eurico Marcos Diniz de. Planejamento tributário e estado de
direito: Fraude à lei, reconstruindo conceitos, entre metáforas e “buracos
no direito”: Evasão, elusão, elisão ou… “ilusão”?Disponível em: 
http://www.fiscosoft.com.br/main_artigos_index.php?
PID=276048&printpage=_
, acesso em 30.10.2017.
[4]  SAAVEDRA, Rui. A proteção jurídica do software e a internet, Don
Quixote, Lisboa, 1998.
[5]  Ao que parece, a Turma do STF analisou o mérito da demanda, no
entanto, estranhamente concluiu pelo não conhecimento do recurso.
[6]  Não obstante o fisco estadual paulista ter demarcado o campo de
incidência do ICMS para os softwares de prateleira (independente de
corpus mechanicum), a tributação está suspensa até que fique definido o
local de ocorrência do fato gerador para determinação do
estabelecimento responsável pelo pagamento do imposto.
[7] No que tange especificamente à SaaS (software as a service) o parecer
normativo municipal admite sua natureza híbrida, podendo, porventura,
os contratos serem fragmentados nos itens 1.03 e 1.07 da lista de serviços
da LC 116/03.
[8] Interessante notar que a Solução de Consulta SF/DEJUG n. 25/11, e.g.,
declara expressamente que o item 1.05 da lista anexa da LC 116/03
alberga tanto softwares por encomenda quanto os softwares standards
(cópia múltipla), muito embora não cite em nenhum momento da decisão
do STF (RE 176.626-3/SP).
[9]  Vide Soluções de Consulta SF/DEJUG n. 28 e 81 de 2007; 33 e 38 de
2008; 29 de 2009; 21 de 2010; 25 e 31 de 2011; 23 de 2012; 18 e 17 de
2013; 08 e 32 de 2014; 13 de 2015; 19 e 27 de 2016.
[10] Cuja redação é a seguinte: 22 – Assessoria ou consultoria de qualquer
natureza, não contida em outros incisos desta lista, organização,
programação, planejamento, assessoria, processamento de dados,
consultoria técnica, financeira ou administrativa; 24 – Análises, inclusive de
sistemas, exames, pesquisas e informações, coleta e processamento de
dados de qualquer natureza.
__________________________________________________________________
Eurico Marcos Diniz de Santi
Professor e Coordenador do Núcleo de Estudos Fiscais da FGV Direito SP.
Diretor do Centro de Cidadania Fiscal (CCiF). Sócio-Fundador do Santi,
Estevão & Cabrera Advogados
Luiz Roberto Peroba
Sócio da área tributária do Pinheiro Neto Advogados
João Alho Neto
Pesquisador do Núcleo de Estudos Fiscais da FGV Direito SP e Mestrando
na Universidade de São Paulo
Ana Carolina Carpinetti
Mestre em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e
Advogada associada da área tributária do Pinheiro Neto Advogados
Stella Oger Pereira dos Santos
Graduada pela FGV Direito SP e Advogada da área tributária do Pinheiro
Neto Advogados
Elena Tavares Esteves Estevão
Tech Expert e Administradora do Santi, Estevão, Simão & Cabrera
Advogados
https://jota.info/artigos/posicoes-interpretativas-fiscais-em-face-do-re-
176-626-3-18112017

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