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Gil Vicente

Conhece-se mal a sua biografia. Um dos problemas maiores que se apresentam no estudo da
biografia do autor é o da identificação do poeta Gil Vicente com um outro Gil Vicente, ourives
muito conhecido na época e autor da célebre custódia de Belém. Trata-se do mesmo homem ou
de dois homens diferentes? A tese de identificação parece a mais provável, mas o debate não
está ainda encerrado... Para determinar a data do seu nascimento tem-se recorrido várias vezes
ao perigoso método que consiste em dar-lhe a idade que a si próprias atribuem certas
personagens nas suas peças teatrais. Terá nascido na década de 1460-1470. Mais séria,
embora vaga, é a menção contida na carta que Gil Vicente dirigiu ao rei após o tremor de terra
de Santarém, em 26 de Jan. de 1531: «...assi vezinho da morte como estou». Deve ter ocorrido
em 1536 ou pouco depois. Foi casado duas vezes. Esteve muito tempo ao serviço da «Rainha
Velha» Dona Leonor. Esta encontrava-se presente na câmara da rainha Dona Maria, na terça-
feira, 7 de Junho de 1502, quando ali foi recitado o Monólogo do Vaqueiro, primeira obra
conhecida do autor. Passou de seguida diretamente para o serviço do rei, D. Manuel. Continuou
a gozar da mesma confiança sob o reinado de D. João III, que lhe concedeu diversas «mercês»
financeiras. Fez toda a sua carreira como personagem oficial da corte, na roda imediata da
rainha Dona Leonor, de D. Manuel I e de D. João III.

Perfil literário: Gil Vicente foi sem dúvida um homem que viveu um conflito interno, por conta da
transição da idade Média para a Idade Moderna. Isso quer dizer que foi um homem ligado ao
medievalismo e ao mesmo tempo ao humanismo, ou seja, um homem que pensa em Deus mais
exalta o homem livre. O Autor critica em sua obra, de forma impiedosa, toda a sociedade de seu
tempo, desde os membros das mais altas classes sociais até os das mais baixas. Contudo as
personagens por ele criadas não se sobressaem como indivíduos. São sobretudo tipos que
ilustram a sociedade da época, com suas aspirações, seus vícios e seus dramas (tipo é o nome
dado aos personagens que apresentam características gerais de uma determinada classe
social). Esses tipos utilizados por Gil Vicente raramente aparecem identificados pelo nome.
Quase sempre, são designados pela ocupação que exercem ou por algum outro traço social
(sapateiro, onzeneiro, ama, clérico, frade, bispo, alcoviteira etc.). Ainda com relação aos
personagens pode-se dizer que eles são simbólicos, ou seja, simbolizam vários
comportamentos humanos.

Os membros da Igreja são alvo constante da crítica vicentina. É importante observar, no entanto,
que o espírito religioso presente na formação do autor, jamais critica as instituições, os dogmas
ou hierarquias da religião, e sim os indivíduos que as corrompem.Acreditando na função
moralizadora do teatro, colocou em cenas fatos e situações que revelam a degradação dos
costumes, a imoralidade dos frades, a corrupção no seio da família, a imperícia dos médicos, as
práticas de feitiçaria, o abandono do campo para se entregar às aventuras do mar. A linguagem
é o veículo que Gil melhor explora para conseguir efeitos cômicos ou poéticos. Escritas sempre
em versos, as peças incorporam trocadilhos, ditos populares e expressões típicas de cada
classe social. A estrutura cênica do teatro vicentino apresenta enredos muito simples.
Provavelmente as peças do teatrólogo eram encenadas no salão de festas do castelo real. O
teatro de Gil Vicente não segue a lei das três unidades básicas do teatro clássico (Grego e
Romano) ação, tempo, espaço. A ideologia das obras vicentinas apresentam sempre o confronto
entre a idade Média e o Renascimento ou Medievalismo (Teocentrismo versus
antropocentrismo).
Auto da Barca do Inferno: Na tradição medieval, o céu é para poucos. Denomina-se auto uma
peça de tradição medieval e de caráter popular que verte assuntos religiosos ou profanos.
Enquanto divertiam, os autos tinham função moralizadora.
A mentalidade medieval, voltada à religiosidade, acreditava que, após a morte, as almas eram
conduzidas a embarcações que as transportavam ao Céu, Inferno ou Purgatório. Em cada
barca, um anjo ou o demônio as julgava. Gil Vicente, em Auto da Barca do Inferno, encerra uma
virulenta crítica ao condenar todos aqueles que carregavam os valores terrenos, como é o caso
do Fidalgo orgulhoso, do Usurário que não se liberta do dinheiro, do Sapateiro que explora o
povo e quer comprar seu lugar no reino dos Céus, do Frade dominicano, dissoluto,
acompanhado por uma concubina, da Alcoviteira, do Judeu, do Enforcado e alguns outros. Os
personagens são alegóricos e a maior parte deles é condenada ao fogo do inferno, indo para o
Céu somente um Parvo e quatro Cavaleiros das Cruzadas, que matam, mas lutam pela fé de
Cristo. O auto transcorre ligeiro, perfeito e bem-humorado, não lhe faltando lapidação de
personagens e crítica social, fatores que atribuem atualidade à produção de Gil Vicente.

Analisando personagens:

Fidalgo: representa a nobreza, que chega com um pajem, uma roupagem exagerada e uma
cadeira de espaldar, elementos característicos de seu status social. O diabo alega que o Fidalgo
o acompanhará por ter tido uma vida de luxúria e de pecados. Ao Fidalgo, nada lhe valem as
“compras” de indulgências, ou orações encomendadas. A crítica à nobreza é centrada nos dois
principais defeitos humanos: o orgulho e a prática da tirania. Representante da nobreza. Chega
com um pajem, roupas solenes e uma cadeira. É condenado por sua vida pecaminosa, em que
a luxúria, a tirania e a falta de modéstia pesam como graves defeitos. A figura do Fidalgo,
orgulhoso e arrogante, permite a crítica vicentina à nobreza.

Onzeneiro: o segundo personagem a ser inquirido é o Onzeneiro, usuário que ao chegar à barca
do Diabo descobre que seu rico dinheiro ficara em terra. Utilizando o pretexto de ir buscar o
dinheiro, tenta convencer o Diabo a deixá-lo retornar, mas acaba cedendo às exigências do
julgamento. Usurário que alega ter deixado suas posses em terra; querendo buscá-las, revela
seu apego às coisas mundanas. O Diabo não que ele volte à terra para reaver suas riquezas,
condenando-o ao fogo do Inferno.

Parvo: simplório, sem malícia, ele escapa ao Inferno, driblando o Diabo. É uma alma pura, cujos
valores são legítimos e sinceros, o que o conduz ao Paraíso. Em várias passagens da peça, o
Parvo ironiza a pretensão de outros personagens, que se querem passar por "inocentes" diante
do Diabo. Um dos poucos a não ser condenado ao Inferno. O Parvo chega desprovido de tudo,
é simples, sem malícia e consegue driblar o Diabo, e até injuriá-lo. Ao passar pela barca do Anjo,
diz ser ninguém. Por sua humildade e por seus verdadeiros valores, é conduzido ao Paraíso.

Sapateiro: representante dos mestres de ofício, que chega à embarcação do Diabo carregando
seu instrumento de trabalho, o aventar e as formas. Engana na vida e procura enganar o Diabo,
que espertamente não se deixa levar por seus artifícios. Representante dos mestres de ofício, é
um desonesto explorador do povo. Chega com todos os aparatos de sua profissão e, habituado
a ludibriar os homens, procura enganar o Diabo, que o condena.

Frade: como todos os representantes do clero, focalizados por Gil Vicente, o Frade é alegre,
cantante, bom dançarino e mau-caráter. Acompanhado de sua amante, o Frade acredita que por
ter rezado e estar a serviço da fé, deveria ser perdoado de seus pecados mundanos, mas contra
suas expectativas, é condenado ao fogo do inferno. Deve-se desar que Gil Vicente desfecha
ardorosa crítica ao clero, acreditando-o incapaz de pregar as três coisas mais simples: a paz, a
verdade e a fé. É acompanhado de uma amante. Ele é alegre, risonho, cantante, mas mau-
caráter. Crê-se inocente por ser membro da Igreja, por haver rezado e estar à serviço da fé. Ele
dá uma lição de esgrima ao Diabo (que finge não saber manejar uma arma), o que prova a culpa
do espadachim, já que frades não lidam com armas. A crítica vicentina ao clero é incisiva: os
homens da fé não sabem ser pacíficos, verdadeiros e bons.

Brísida Vaz: agenciadora de meretrizes e feiticeira. Ela é conhecida de outros personagens, que
utilizaram em vida seus serviços. Inescrupulosa, traiçoeira, cheia de ardis, não consegue fugir à
condenação. Misto de alcoviteira e feiticeira. Por sua devassidão e falta de escrúpulos, é
condenada. Personagem interessante que faz o público leitor conhecer a qualidade moral de
outros personagens que com ela se relacionaram.

Judeu: entra acompanhado de seu bode. Deplorado por todos, até mesmo pelo Diabo que
quase se recusa a levá-lo, é igualmente condenado, inclusive por não seguir os preceitos
religiosos da fé cristã. Bom lembrar que, durante o reinado de D. Manuel, houve uma
perseguição aos judeus visando à sua expulsão do território português; alguns se foram,
carregando grandes fortunas; outros, converteram-se ao cristianismo, sendo tachados cristãos
novos. Acompanha-o um bode. Não obedece à doutrina cristã e é detestado por todos, inclusive
pelo próprio Diabo. É oportuno ressaltar que, durante o reinado de D. Manuel (época em que
viveu o autor), houve uma grande perseguição aos judeus, com o propósito de expulsá-los de
Portugal.

Corregedor e Procurador: juiz e advogado, personagens condenados pela imoralidade. Eles


faziam da lei uma fonte de ganhos ilícitos e de manipulação de sentenças, dadas conforme as
propinas recebidas. A índole moralizadora do teatro vicentino fica bastante patente com mais
essa condenação, envolvendo a justiça humana, na figura dos representantes do Direito. Ambos
representantes do judiciário. Juiz e advogado deviam ser exemplos de bom comportamento e
acabam sendo condenados justamente por serem tão imorais quanto os mais imorais dos
mortais, manipulando a justiça de acordo com as propinas recebidas.

Enforcado: chega ao batel, acredita ter o perdão garantido: seu julgamento terreno e posterior
condenação à morte o teriam redimido de seus pecados, mas é condenado também a ir para o
Inferno. Acredita que a morte na forca o redime de seus pecados, equivalendo a um perdão; tal
não ocorre e ele é condenado.

Cavaleiros cruzados: como lutaram contra os mouros em prol do triunfo da fé, são conduzidos à
barca da Glória. Finalmente chegam à barca quatro cavaleiros cruza dos, que lutam pelo triunfo
da fé cristã e morrem em poder dos mouros. Obviamente, com uma ficha impecável, serão todos
julgados e perdoados. Cada um dos personagens focalizados adentram a morte com seus
instrumentos terrenos, são venais, inconscientes e por causa de seus pecados não atingem a
Glória, a salvação eterna.

Diabo: Destaque deve ser feito à figura do Diabo, personagem vigorosa que conhece a arte de
persuadir, é ágil no ataque, zomba, retruca, argumenta e penetra nas consciências humanas. Ao
Diabo cabe denunciar os vícios e as fraquezas, sendo o personagem mais importante na crítica
que Gil Vicente tece de sua época. E o Anjo a ser justo e fiel a Deus. Condutor das almas ao
Inferno, conhece muito bem cada um dos personagens que lhe cai às mãos; é zombeteiro,
irônico e bom argumentador. Gil Vicente não pinta o Diabo com responsável pelos fracassos e
males humanos; o Diabo é um juiz, que exibe às claras o lado mais recôndito dos personagens,
penetrando nas consciências humanas e revelando o que cada um deles procura esconder.

Estilo: obra escrita em versos heptassílabos, em tom coloquial e com intenção marcadamente
doutrinária, fundindo em algumas passagens o português, o latim e o espanhol. Cada
personagem apresenta, através da fala, traços que denunciam sua condição social.

Estrutura: peça teatral em um único ato, subdividido em cenas marcadas pelos diálogos que o
Anjo ou o Diabo travam com os personagens.
Cenário: um ancoradouro, no qual estão atracadas duas vbarcas. Todos os mortos,
necessariamente, têm de passar por esta paragem, sendo julgados e condenados ou à b arca
da Glória ou à barca do Inferno.

Auto de moralidade composto por Gil Vicente por contemplação da sereníssima e muito
católica rainha Lianor, nossa senhora, e representado por seu mandado ao poderoso príncipe e
mui alto rei Manuel, primeiro de Portugal deste nome.

Começa a declaração e argumento da obra. Primeiramente, no presente auto, se figura que, no


ponto que acabamos de espirar, chegamos subitamente a um rio, o qual per força havemos de
passar em um de dois batéis que naquele porto estão, scilicet, um deles passa para o paraíso e
o outro para o inferno: os quais batéis tem cada um seu arrais na proa: o do paraíso um anjo, e
o do inferno um arrais infernal e um companheiro.

Num braço de mar, onde estão ancoradas duas barcas, chegam as almas de representantes de
várias classes sociais e profissionais. Uma das barcas dirige-se ao Purgatório ou ao Inferno; a
outra, ao Paraíso. A primeira será tripulada pelo Diabo e seu Companheiro; a outra, por um Anjo.

O Diabo tem pressa de partir e procura apressar o seu Companheiro. Nos preparativos para a
viagem, convoca os passageiros e dá ordens ao ajudante, demonstra conhecimento sobre o
equipamento do navio e apresenta desenvoltura na linguagem insinuante e irónica. É um
magnífico dissimulado, nem parece que vai levar as almas para as terras da danação! Mostra-se
entusiasmado, feliz e é com muita cortesia que recebe os seus passageiros, com exceção do
Judeu, como se verá.

Eis que chega a primeira alma para a viagem. É Dom Henrique, o Fidalgo, garbosamente
acompanhado por um criado que transporta uma cadeira e carrega um manto para seu Senhor.
Como acontecerá com outros personagens, argumenta contra sua ida para o Inferno, considera
que a barca não é digna de sua nobre pessoa. O Diabo procura ironizar os diversos
argumentos apresentados pelo Fidalgo, dizendo que uma vida cheia de prazeres e pecados só
podia resultar em punição.

O Fidalgo reporta-se à barca do Anjo. Afinal, quem quer ir para o Inferno? Alega direito de
embarcar por pertencer a uma boa linhagem. Boa linhagem, mas muito tirano e vaidoso, o tal
Fidalgo. Seu esforço foi em vão e, retornando à barca do Inferno, quer demonstrar força moral
ao reconhecer que vivera erradamente.

Numa última tentativa, o Fidalgo tenta ser sagaz e implora ao Diabo que o deixe voltar à vida
para despedir-se da amante que queria matar-se por sua causa. O Diabo, divertindo-se em ser
maldoso, ironiza as crenças do Fidalgo nas juras da moça, que já estaria com outro quando o
nobre dava seus últimos suspiros.

Chega o Onzeneiro. Claro, carrega sempre seus bolsões de dinheiro. Recusa-se a embarcar
quando toma conhecimento do destino da barca do Diabo. O Diabo, sarcástico, se faz de
espantado com o fato de o dinheiro do Onzeneiro não ter servido para salvá-lo da morte. O
agiota ainda reclama que não pudera trazer nenhum centavo, nem mesmo para pagar pela
viagem _ . Procura então a barca do Anjo, pedindo-lhe que o deixe entrar, pois queria mesmo
era o Paraíso. Seu pedido é recusado quando o Anjo vê seus bolsões e afirma que estariam tão
cheios de dinheiro, que tomariam todo o espaço do navio. O Onzeneiro contra-argumenta,
declarando que nada tem de dinheiro, mas o Anjo afirma que ele pode não ter nada nos bolsos,
mas seu coração ainda está tomado da idéia de lucro. O Onzeneiro, desconsolado também,
entra na barca infernal, cumprimentando com respeito o Fidalgo, que lá já estava, aguardando a
triste partida.
Joane, novo personagem, caracterizado como o Parvo, conversa com o Diabo e começa a
praguejá-lo quando descobre o destino de sua barca. Entra em território do Anjo porque - assim
lhe haviam dito - o reino do Céu seria dos pobres. Para o Anjo, os atos do bobo eram fruto da
sua doença, sendo provas de sua inocência e não de sua sagacidade. Irá ao Paraíso, portanto,
o Parvo, passageiro único do barco que vai à Glória! Mas antes de entrar, mantém-se ao lado do
Anjo, para ajudar na avaliação dos próximos passageiros.

Chega ao barco do Inferno um Sapateiro com suas ferramentas de ofício. Aparentemente, um


bom trabalhador. Quando é convidado pelo Diabo a entrar, rebate com o argumento de que
morrera comungado e confessado. Que bom cristão parece ser! Mas o Diabo responde-lhe que
foi excomungado por omissão de seus pecados, pois roubava seus fregueses ao cobrar seus
serviços prestados. O Sapateiro, não contente, dirige-se à barca do Anjo e é barrado com a
explicação de que o lugar de quem rouba na praça é no barco que vai ao Demo. De nada
adiantava ter ido à missa se ao mesmo tempo havia roubado, cobrando preços extorsivos.
Assim, o Sapateiro se dirige a outra barca, aceitando seu destino.

Chega então um Frade, trazendo uma moça pela mão. Esta moça era sua amante - Florença.
Com ela, traz um broquel, uma espada e um capacete, representando sua paixão pelo esporte.
Ao chegar, canta e dança. É muito folião esse Frade! Ao ser repreendido pelo Diabo, responde:
"Deo gratias! Sou cortesão". Dessa forma, aproveita-se da sua posição, desmascarando a
falsidade da figura religiosa da época. Conciliar prazeres e penitências resultou em hipocrisia,
defeito grave. O Anjo não poderia perdoá-lo.

O Frade tenta convencer o Diabo de sua inocência, ensinando-lhe a arte da esgrima, mas seu
esforço foi em vão. Não contente, busca a barca do Anjo para tentar defender seus direitos
enquanto representante da Santa Madre Igreja, mas nada consegue, nem sequer uma resposta
do Anjo. Volta à barca do Diabo ridicularizado pelo Parvo, que lhe pergunta se furtara o facão.

Assim que o Frade e sua amante são embarcados, chega uma alcoviteira, Brísida Vaz, que se
recusa a entrar na barca. Representa a mais terrível das almas penadas, passara a vida
seduzindo meninas para os padres. O Diabo sente-se lisonjeado com o receio da nova
passageira e pergunta o que ela traz para o embarque. Brísida, franca ao extremo, franca até
demais, responde que carregava seiscentos himens postiços e três arcas de feitiços, além de
produtos de furtos e até uma casa movediça; porém o seu maior tesouro eram as moças que
vendia.

A Alcoviteira dirige-se à barca do Anjo que nem quer ouvi-la, alegando que é uma pessoa
inoportuna. Brízida, então, volta à barca do Diabo, pedindo-lhe a prancha e embarcando nela.

Depois da Alcoviteira, chega o Judeu com um bode às costas. O Diabo nega-se a embarcar o
animal, mas o Judeu tenta suborná-lo com alguns tostões. Sem muita discussão, o Judeu é
rebocado pela barca do Diabo.

Então chega a vez do Corregedor. Carregado de processos, aproxima-se da barca do Inferno.


Recusa-se a rumar para destino tão cruel, tentando defender-se, é desmascarado pelo Diabo
que expõe o recebimento de propinas através de sua mulher. Para se defender, o Corregedor
culpa sua própria esposa, mas o esforço foi em vão.

Enquanto o Corregedor conversa com o Diabo, chega um Procurador cheio de livros. Ambos se
recusam a entrar no barco do Diabo, chamando pelo Anjo e dirigindo-se até ele. O Anjo roga
praga aos documentos jurídicos que carregam e os manda de volta.
Dentro do barco do Inferno, o Corregedor reconhece Brísida e começam a conversar. Nesse
momento, percebe-se a corrupção pelas vias legais, o uso das instituições para privilégios
pessoais.

Nova alma vai se aproximando: o Enforcado, que se julga merecedor do perdão por ter tido uma
morte cruel. É o próximo personagem a entrar na barca do Diabo, que não se comove com o
sofrimento de um homem que tantos furtos cometera em vida. O Enforcado simboliza o ladrão
que rouba sem vantagens, sendo manipulado por outros de posições mais privilegiadas.

Dirigem-se agora à barca do céu os Quatro Cavaleiros, empunhando a cruz de Cristo. Lutaram
pela expansão da Fé Católica e ganham a vida eterna como recompensa, por terem sido mortos
pelos mouros. Prosseguiram na barca do Anjo, cantando e sentindo-se aliviados por terem
cumprido corretamente suas missões.

Comentário: a peça caracteriza-se como um auto, designação genérica para peças cuja
finalidade é tanto divertir quanto instruir; seus temas, podendo ser religiosos ou profanos, sérios
ou cômicos, devem, no entanto, guardar um profundo sentido moralizador.

I - O nobre pecador: Estavam o Diabo e o seu companheiro a arrumar a barca que transportaria
os condenados ao fogo do inferno. Os dois estavam colocando várias bandeiras e fazendo os
últimos preparativos para a triste viagem , muito satisfeitos com a arrumação , quando vêem
chegar à embarcação um fidalgo , acompanhado de um pajem , que lhe segurava o manto , e
carregando uma cadeira de encostar. Este fidalgo tinha por nome Dom Henrique. Ele se dirigiu
ao Diabo , querendo saber para onde ia uma barca tão enfeitada. O Diabo fingiu surpresa ao vê-
lo chegar , pois , na verdade já sabia que ele iria naquela barca , já que o fidalgo tinha sido um
homem muito vaidoso e presunçoso em vida. Então, o barqueiro infernal respondeu ao nobre
que a barca iria para o fogo do inferno.
O fidalgo duvidou do que lhe foi dito , mas ficou muito espantado quando soube que ele também
iria na barca infernal. Ele tentou se salvar, dizendo que deixou na terra uma mulher desesperada
, que queria se matar por ele. O Diabo, irónico , disse que ele era um verdadeiro tolo por
acreditar na mulher , e ainda completou dizendo que , no momento em que o nobre morria , ela
já estaria com outro. O fidalgo ainda recusou -se a entrar na barca do Diabo, e foi tentar
encontrar um lugar na barca do Anjo , que era a barca que ia para o Paraíso. Chegando lá ,o
fidalgo começou a gritar e a bater palmas , esperando ser atendido , mas ficou muito indignado
com a demora pois julgava- se muito importante para ser ignorado. De repente , apareceu o
Anjo , e lhe perguntou o que ele desejava. O fidalgo rogou que o deixassem ir na barca do
Paraíso , apelando ainda para sua condição de nobre , esperando atingir seu objetivo com
esses argumentos. Mas o Anjo disse que , para um "senhor tão nobre" como o fidalgo, aquela
barca era muito pequena para tanta vaidade .O fidalgo então voltou para a barca do Diabo ,
furioso , mas por fim aceitou seu triste destino.

II - O agiota: Enquanto o fidalgo se lamentava , chegou à barca um agiota , carregando uma


enorme bolsa de dinheiro , e querendo saber para onde ia a barca. Quando o Diabo o viu ali ,
tornou a fingir surpresa , chamando o agiota de "seu parente " , e comentando o atraso dele. O
agiota , então , explicou que , por ele, "se atrasaria" mais , já que morrera bem na época de
receber seus lucros. O Diabo perguntou-lhe se nem o dinheiro o salvara da morte , com um tom
irônico. Completando , mandou que o agiota entrasse logo na barca , ao que o recém chegado
ficou desconfiado , e perguntou novamente o destino da barca. Indagou também se partiriam
logo. O Diabo se prontificou a responder que a barca iria para o fogo do inferno. Foi o suficiente
para que o agiota dissesse um sonoro "não" , e se dirigisse à barca do Anjo sem demora. Lá
chegando , perguntou ao barqueiro dos Céus se poderia ir com ele . O Anjo se recusou a levá
-lo , alegando que sua bolsa de dinheiro ocuparia todo o espaço da barca. O agiota jurava que
vinha sem nada , mas o barqueiro ainda se recusava a levá -lo , porque , em vida , ele havia
sido muito materialista e ganancioso , não poderia ir ao Paraíso. Tentando resolver o problema ,
o agiota voltou à barca do Inferno , pedindo ao Demônio que o deixasse voltar ao mundo para
trazer todo o dinheiro que lá deixara , acreditando ter sido essa a razão pela qual o Anjo tê-lo
recusado na barca celestial , mas também este pedido lhe foi negado. O agiota ainda pediu e
pediu , mas , vendo que não adiantava , entrou na barca infernal para aguardar a partida. Ele se
espantou muito ao ver o fidalgo Dom Henrique ali também , condenado. Viu que não era o único
pecador.

III - João , o tolo: Enquanto o agiota conversava com o fidalgo , apareceu diante da barca um
homem com ar apatetado , um tolo que tinha por nome João. João , o tolo , nem bem havia
chegado , perguntou ao Diabo se aquela era a barca dos tolos e para onde ia. O barqueiro do
inferno respondeu-lhe que aquela barca era , sim , a dos tolos, cínico , e que estava de partida
para o porto infernal. Ao ouvir aquilo , o tolo João começou a proferir insultos contra o Diabo , e
cada um mais absurdo e sem sentido do que o outro. Dirigiu- se ,então, à barca do Anjo.
Quando perguntado quem ele era , respondeu , humildemente , que não era ninguém. Após
ouvir o que o tolo disse , o Anjo deu -lhe a permissão de entrar na barca , dizendo que , de tudo
o que ele fizera em vida , nada teve maldade , e que sua simplicidade já lhe bastava. O tolo
entrou na barca , e permaneceu ao lado do Anjo , com a intenção de avaliar todas as pessoas
que chegavam , para ver se alguma delas tinha méritos para ir ao Céu.

IV - O sapateiro ladrão: Carregado de todos os seus utensílios de trabalho , chegou na barca


um sapateiro , que perguntou ao Demônio qual era seu destino. Este , então , ironizou mais uma
vez , comentando como o sapateiro era honrado e como vinha carregado. Respondeu -lhe ,
então , que a barca ia ao cais infernal , ao que o outro , indignado , perguntou para onde iriam
os que haviam comungado e confessado , como ele , o que era uma grande mentira. O
barqueiro do inferno confirmou que aquela mesmo era a barca do sapateiro , que voltou a mentir
,dizendo que , antes de morrer ,havia se confessado. O Diabo o desmentiu , dizendo que bem
sabia de todo o dinheiro que ele roubara do povo com seus serviços de sapataria. O ladrão
continuou tentando encontrar motivos que o livrassem de tão horrorosa viagem , mas nada
adiantava. Como continuava a recusar o inferno , dirigiu- se à barca do Anjo , mas lá não
conseguiu sua vaga , pois quem roubou tão descaradamente , no Paraíso não merecia lugar.
Por fim , o sapateiro , sem ver outra saída , voltou ao Diabo , entrou na barca e pediu que não
perdessem mais tempo com ele.

V - O padre: Embarcado o sapateiro , chegou à embarcação um padre , acompanhado de uma


mulher , portando um escudo e uma espada. Sem dúvida , era uma padre pecador. O Diabo ,
vendo aquele padre acompanhado por uma mulher , começou a rir , e perguntou a ele se , no
convento onde ele vivia , nunca lhe perguntaram sobre sua vida nada celibatária . O padre ,
muito alegre , respondeu que ele não era o único pecador na Igreja , e perguntou para onde ia a
barca , sem desconfiar que ela ia para o inferno. Porém ,quando soube , ficou muito
desorientado , pois julgava que só pelo fato de ser padre , já estaria livre de todo o mal. O Diabo
ordenou -lhe que entrasse na barca , ao que o padre recusou . O barqueiro do inferno então
percebeu que o padre tinha com ele uma espada e um escudo. Concluiu que ele praticava
esgrima , um esporte proibido para os padres , portanto , outro pecado. Pediu ao padre que lhe
desse uma lição de esgrima , pedido que foi aceito com entusiasmo. E começaram a esgrimir .
Acabada a lição , o padre foi até a barca do Anjo , acreditando que lá iria conseguir lugar. Estava
enganado. Não pôde entrar porque pecara , tendo uma mulher , e ainda praticando um esporte
proibido . Finalmente , aceitou ir com o Diabo para o inferno.

VI - A prostituta mentirosa: Assim que o padre embarcou , chegou à barca a prostituta Brísida
Vaz . Quando o Diabo lhe pediu que entrasse em sua barca infernal , ela retrucou , dizendo que
aquela não era a barca que procurava. O Diabo lhe perguntou o que ela trazia da vida ,ao que
Brísida contou que trazia a sua experiência na prostituição , as moças que ela vendera , suas
mentiras e seus feitiços , pois além de prostituta ,ela era também feiticeira. Ela ainda afirmou
que sua maior bagagem se constituía das moças que ela vendeu. Ouvindo tantos pecados , o
Diabo ordenou -lhe sem demora que subisse na barca. Brísida se negou a entrar , dizendo que
merecia o Paraíso , já que ,em sua vida , suportara tantos tormentos e castigos , que convertera
ao bem várias moças , como se fosse uma santa. E foi- se à barca do Anjo pedir ajuda. Mas de
nada adiantou-lhe dizer ao Anjo que ela criava as moças para os padres , e que por obra dela ,
nenhuma moça se perdeu na vida. O Anjo não queria levá -la . Brísida então reclamou que
,sendo assim , não lhe foi útil tudo o que fizera. As mentiras que ela contou ao Anjo de nada
valeram. Voltou , então , à barca do Diabo e lá embarcou.

VII - O judeu que ninguém queria levar: Estando Brísida embarcada , chegou um judeu ,
carregando um bode nas costas. O judeu perguntou se poderia embarcar na barca do Diabo ,
nem que tivesse de pagar para entrar. O Diabo perguntou se o bode iria também, o judeu disse
que sim ,que sem seu bode não iria. Porém, nem mesmo o Diabo quis levar o judeu , de tão
ruim que ele foi em vida , mandando -o à barca do Anjo . Nem bem lá chegou o judeu , e João ,
o tolo ,que lá estava , não o deixou embarcar , dizendo que ele era um pecador , um homem
mau , desqualificado. Ninguém queria levar o judeu e seu bode , mas o Diabo acabou
concordando em levá-lo , ainda que a reboque. E o judeu foi embarcado junto com o bode.

VIII - O juiz corrupto: Embarcado o judeu , chegou à barca do inferno um juiz , carregado de
processos. O juiz perguntou ao Diabo para onde ia a barca , ao que o Diabo rebateu ,
perguntando , cinicamente , mais uma vez , "como andava o direito" . Disse então que a barca ia
para o inferno ,e que o juiz deveria entrar. De forma alguma o juiz quis entrar , porque acreditava
que , ao trabalhar com as leis , não poderia ser um pecador. O Diabo acusou o juiz de aceitar
suborno ,só atendendo às pessoas que lhe pagavam mais ,e sendo muito injusto ,agindo assim.
O juiz mentiu que sua mulher era quem aceitava os subornos ,mas o Diabo ordenou-lhe que
entrasse na barca sem demora. Ainda disse que o papel dos processos seria um ótimo
combustível para o fogo do inferno.

IX - O procurador: Estavam o Diabo e o juiz nessa discussão , quando chegou um procurador ,


carregado de livros , que se dirigiu ao juiz ,seu conhecido , querendo saber o que o Diabo dizia.
Este entrou na conversa e disse que , tanto o juiz como o procurador seriam ótimos remadores
rumo ao inferno. O procurador achou que aquilo era uma brincadeira de muito mau gosto , e
então ele e o juiz foram até a barca do Anjo. A caminho da barca celestial , o juiz disse ao
procurador que ,antes de morrer , havia se confessado , mas não confessara tudo o que já havia
roubado em vida. Ao chegarem ao Anjo e pedirem lugar na barca, tudo o que ouviram foram
insultos do Anjo e de João , o tolo , reforçando o vexame. Voltaram à barca do Diabo , muito
aborrecidos . O procurador ainda tentou consultar as leis ,mas o Diabo os mandou entrar antes
que isso fosse possível. E embarcaram.

X - O enforcado: Nisso, chegou à barca do inferno um homem que morrera enforcado , e mal
chegou , já ouviu a ordem do Diabo para que entrasse na embarcação . O enforcado se
espantou muito , pois, antes de ser executado , lhe disseram que , por morrer na forca, merecia
ir ao Céu. O Diabo então lhe perguntou se não haviam lhe falado no purgatório , se o enforcado
não fizera confusão , ao que ele respondeu que não. O Diabo o mandou novamente entrar na
barca , mas , como esta já estava tão cheia , acabou por deixar o enforcado ir para onde bem
quisesse , sendo que não cabia mais nenhum passageiro na embarcação. E o enforcado foi
embora.

XI - Os Quatro Cavaleiros: Assim que o enforcado se foi , passaram em frente à barca do


Diabo , quatro cavaleiros, carregando uma cruz de Cristo. Nem bem os viu chegar, o barqueiro
do inferno perguntou quem eles eram. Um deles respondeu que eram cavaleiros que morreram
lutando. O Diabo ordena que todos entrem ,mas prontamente eles se recusam , dizendo que ,
quem morre defendendo o cristianismo e a Igreja Católica , não iria jamais ao porto infernal. E
seguiram caminho até a barca do Anjo , que , ao vê-los , disse que os estava esperando para
irem ao Paraíso , livres de todo o mal. E assim , os honrados cavaleiros embarcaram , e as duas
barcas , a do inferno e a do céu , partiram.

FIM DO AUTO.

Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente – Ficha de leitura

Nome____________________________________ Turma__________Data________________

1-Qual é a data provável do nascimento de Gil Vicente? E a data limite do seu falecimento?
2-Como se chama a peça que inaugurou a sua carreira dramática?
3-Refere as diferentes actividades que Gil Vicente realizou ao longo da sua vida.
4-Com D. João III, entrou a Inquisição em Portugal. Gil. V. e o seu teatro sofreram com isso?
Explica.
5- A unidade de acção, de tempo e de espaço era ou não uma preocupação para Gil Vicente?
6-De que fala Gil Vicente neste Auto? Com que objectivo?
7-Diz em que consiste cada um dos recursos cómicos de que G.V. se servia para divertir a corte.
8-Aponta quatro circunstâncias histórico-sociais do aparecimento do teatro vicentino.
9-Quais são as personagens que entram na barca do inferno e quais são as que se salvam?
10-Comenta com base no Auto a seguinte frase: “Gil Vicente não faz retratos mas sim
caricaturas”.
11-Ao longo do Auto também o Clero é alvo de críticas. Qual é a personagem que o representa?
12-Faz o resumo de um episódio à tua escolha.

Auto da Barca do Inferno

Na tradição medieval, o céu é para poucos

Denomina-se auto uma peça de tradição medieval e de caráter popular que verte assuntos
religiosos ou profanos. Enquanto divertiam, os autos tinham função moralizadora. A mentalidade
medieval, voltada à religiosidade, acreditava que, após a morte, as almas eram conduzidas a
embarcações que as transportavam ao Céu, Inferno ou Purgatório. Em cada barca, um anjo ou o
demónio as julgava. Gil Vicente, em Auto da Barca do Inferno, encerra uma virulenta crítica ao
condenar todos aqueles que carregavam os valores terrenos, como é o caso do Fidalgo
orgulhoso, do Usurário que não se liberta do dinheiro, do Sapateiro que explora o povo e quer
comprar seu lugar no reino dos Céus, do Frade dominicano, dissoluto, acompanhado por uma
concubina, da Alcoviteira, do Judeu, do Enforcado e alguns outros. Os personagens são
alegóricos e a maior parte deles é condenada ao fogo do inferno, indo para o Céu somente um
Parvo e quatro Cavaleiros das Cruzadas, que matam, mas lutam pela fé de Cristo. O auto
transcorre ligeiro, perfeito e bem-humorado, não lhe faltando lapidação de personagens e crítica
social, fatores que atribuem atualidade à produção de Gil Vicente.

Os maiores avanços que surgirão no Renascimento advém de toda uma produção de um dos
mais longos períodos da História. Gil Vicente faz parte da transição entre Medievalismo e
Renascimento, e como todo período de transição cultural há uma tensão explícita na arte, no
nosso caso, no teatro. O que Gil Vicente encena é o drama do homem que percebe que seus
valores morais e religiosos estão falidos. É muito atual a peça ‘A farsa de Inês Pereira" , na qual
Gil Vicente coloca a questão do casamento por interesse e da traição na alta corte, o que
corresponderia à nossa alta sociedade. No auto da Barca do Inferno acontece a mesma crítica
ácida de Gil Vicente. Ela só pode ser entendida se for lida dentro de sua trilogia. Este auto é o
do meio, ou seja, há o auto da Glória, o auto do Inferno e o auto do Purgatório. No auto da
Barca do Inferno o que acontece, entre duas barcas, entre o anjo e o demônio a serviço de
Deus, é um julgamento moral de todas as facções da sociedade da época, do comerciante que
explora o povo para enriquecer ao clero ,que vende pedacinhos do céu para também enriquecer.
Gil Vicente, claro, defende o credo católico, não poderia ser diferente naquela época, mas ele
coloca em cheque o sistema clerical , social e moral de sua época. Se nos seus autos ele utiliza-
se de anjos e demônios isso advém do simbólico que representava o pensar deste período.Hoje,
talvez, se fizéssemos uma adaptação deste julgamento social teríamos que colocar em cada
uma das barcas outros valores ou seres, mas o final não seria diferente, quem é salvo é aquele
que sofre o processo de exploração e que não tem como fugir dele..., em Auto da Barca do
Inferno é o pobre, o povo. Este texto permite-nos ver nele o nosso tempo e a originalidade e a
coragem de Gil Vicente, instaurador do teatro moderno em Portugal.

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