DESCRIÇÃO DO C. BOTULINUM
C. botulinum é uma bactéria anaeróbia restrita, Gram positivo, produtora de esporos.
Esta bactéria é produtora de neurotoxinas, libertadas por lise da bactéria, sendo este o
mecanismo mais provável.
Habitat :
Esta bactéria encontra-se naturalmente no solo e em sedimentos marinhos.
CARACTERÍSTICAS DA TOXINA
Dividem-se em vários grupos, de acordo com diferenças genéticas e características
fenotípicas. As diferentes toxinas têm actividade farmacológica semelhante, mas
propriedades serológicas diferentes:
- Grupo I: toxinas A, B e F.
- Grupo II: toxinas B, E e F.
- Grupo III: toxinas C e D.
- Grupo IV: toxina G.
NOME COMERCIAL
Botox ® - toxina botulínica A (nos EUA).
DYSPORT ® - toxina botulínica A (na Europa).
BTX A – toxina botulínica A (na Índia).
MYOBLOC – toxina botulínica B (nos EUA).
NEUROBLOC – toxina botulínica B (na Europa).
Com base em estudos em ratos e primatas, fez-se uma projeção para a dose a usar em
humanos: 5 ng de toxina botulínica são usadas para produzir 100 doses unitárias.
A toxina A é preferível porque é de maior duração de ação, mas de um modo geral o seu
efeito começa em 24-48 horas, com pico de açãonas 2-3 semanas e a duração de ação é de
3-4 meses.
A toxina botulínica é absorvida através do tracto GI, atingindo a corrente sanguínea e
é transportada até aos terminais neuromusculares.
Se a via de infecção foi através da pele lesada, a toxina é transportada ao sistema
linfático e daí levada aos terminais neuromusculares.
A afinidade pelo tecido nervoso varia com o tipo de neurotoxina, sendo o tipo A a que
maior afinidade apresenta.
É essencial que a toxina penetre o terminal nervoso, de forma a exercer o seu efeito. Esta
internalização é feita, segundo alguns estudos, por um mecanismo envolvendo as vesículas
endocíticas/lisossomais, mediado por receptores. Este processo é independente do cálcio e
é dependente de energia e parcialmente, de estimulação nervosa.
A ligação dissulfídrica, entre cadeia leve e pesada da toxina, desempenha um papel
essencial na penetração da célula e a sua clivagem, por redução, elimina a toxicidade da
molécula: se a ligação dissulfídrica é quebrada antes da toxina ser internalizada na célula, a
cadeia leve não consegue penetrar a membrana terminal do axónio e há completa perda de
toxicidade.
MODO DE AÇÃO
A toxina botulínica liga-se à membrana neuronal, na terminação nervosa a nível da
junção neuromuscular. A ligação com a membrana neuronal ativa o deslocamento para o
citoplasma do terminal axónico (endocitose mediada por clatrinas), onde bloqueia a
transmissão sináptica excitatória, provocando paralisia flácida. A ação da toxina desenvolve-
se em três etapas (img1):
img1
1) internalização,
2) redução da ligação dissulfito e translocação (o transporte é mediado por clatrinas)
3) inibição da libertação de neurotransmissor.
A toxina tem de penetrar no terminal nervoso para exercer o seu efeito. A ligação da
toxina aos nervos, centrais e periféricos, é seletiva e saturável. A especificidade colinérgica
da toxina é determinada pela metade C-terminal da cadeia pesada, enquanto que a
toxicidade intracelular é conferida pela cadeia leve. A ligação dissulfídrica, entre cadeia leve
e pesada, desempenha um papel essencial na penetração da célula e a sua clivagem, por
redução, elimina a toxicidade da molécula: se a ligação dissulfídrica é quebrada antes da
toxina ser internalizada na célula, a cadeia leve não consegue penetrar a membrana
terminal do axónio e há perda quase total de toxicidade.
Apenas a libertação de acetilcolina é inibida e não a sua síntese ou armazenamento,
visto tratar-se de uma endopeptidase associada ao zinco específica para os componentes
protéicos do aparelho neuroexocítico. A toxina botulínica lisa a sinaptobrevina (VAMP), uma
proteína da membrana das vesículas sinápticas. As toxinas A, B, C e E atuam em proteínas
da membrana pré-sináptica (img2): A e E lisam a SNAP-25 enquanto que o serotipo C
quebra a sintaxina e o tipo B quebra a sinaptobrevina.
img2
TOXIDADE
Dose letal: 135 – 150 ng, o que corresponde à administração de 30 uni-doses de injecção
intra-venosa.
Bioterrorismo
Dose oral letal: 10 a 20 µg.
60 a 120 kg corresponderia ao LD50 para a população mundial.
TIPOS DE BOTULISMO
Botulismo infantil
É resultado da colonização do tracto intestinal após ingestão de esporos de C.
botulinum, uma vez que o tracto intestinal de uma criança com menos de 1 ano não contém
ainda uma flora microbiana normalizada, assim como ácidos biliares inibidores do
crescimento de C. botulinum, que é evidente num indivíduo adulto.
Neste tipo de botulismo as neurotoxinas mais frequentes são a A e a B.
Ocorre, geralmente, em crianças com menos de 1 ano e está associado à ingestão de mel,
devido à prevalência de esporos.
A nível neuronal: afecção a nível do SNC, nomeadamente, paralisia dos nervos cranianos,
provoca: boca seca, visão turva e diplopia, inicialmente, seguindo-se ptose, disfagia,
disartria, distonia e oftalmoplegia, instala-se, assim como dilatação gástrica e íleo paralisado.
A disfunção neuronal leva a efeitos musculares graves, começando com fraqueza
muscular que leva à paralisia. Após afectar os nervos cranianos, verifica-se, a nível do
sistema nervoso periférico, uma afecção muscular simétrica e descendente começando nas
extremidades superiores, músculos respiratórios e depois extremidades inferiores.
A paralisia muscular respiratória leva muitas vezes à falência da ventilação, que pode
ser fatal, pelo que se exige monitorização do doente e muitas vezes é necessário recorrer à
ventilação artificial.
A instabilidade do SNA, devido ao bloqueio das junções colinérgicas autónomas,
pode induzir efeitos cardiovasculares como taquicardia, hipertensão ou hipotensão
ortostática e também boca seca, fraqueza da língua, visão turva (pupilas dilatadas, ou fixas),
fraqueza dos músculos extra-oculares, obstipação, retenção urinária, nistagmo e supressão
do reflexo do vómito.
A nível muscula: verifica-se fraqueza progressiva até à paralisia flácida, simétrica e
descendente. A paralisia muscular respiratória leva muitas vezes à falência da ventilação,
que pode ser fatal, pelo que se exige monitorização do doente e muitas vezes é necessário
recorrer à ventilação artificial.
TRATAMENTO
Desintoxicação
Se for detectada a ingestão de toxina botulínica em menos de 1 hora, (situação rara, porque
sintomatologia só aparece muito depois), é aconselhável lavagem ao estômago ou indução
de vómito. A administração de carvão activado ou de sorbitol, (purgativo) também é eficaz.
O agente purgante não deve ser composto à base de sais de magnésio, uma vez que há
estudos que defendem que o aumento dos níveis de magnésio potenciam a acção da toxina
botulínica. Também não se deve usar catárticos em caso de íleo paralítico.
Cuidados: casos de asma ou alergias que podem ser exacerbados por reacção alérgica ao
soro equino.
PREVENÇÃO
Toxina botulínica é eliminada quando se processa alimentos, especialmente enlatados, por
forma a:
- Aumentar a temperatura – porque a toxina botulínica é termolábil;
- Diminuir o pH;
- Desidratar;
- Salificar;
- Adição de conservantes;
- Correcto armazenamento.
APLICAÇÕES DIRETAS
Uma vez que a toxina botulínica, tipo A ou B, paralisa ou enfraquece reversivelmente
o músculo esquelético, por inibição da libertação de acetilcolina da vesícula sináptica nos
terminais nervosos motores colinérgicos. Esta ausência de acetilcolina também provoca
uma inibição de secreções.
Nos últimos anos, isto tem sido aplicado a nível terapêutico em diversos distúrbios,
especialmente a nível muscular e de secreção glandular. A toxina A e B são aplicadas numa
dose muito mais baixa que aquela que provoca doença.
O neurónio invadido pela toxina, após algum tempo é reactivado, visto que há uma
certa regeneração neuronal daí ser necessário várias administrações de toxina em tempos
controlados.
Outras Aplicações:
Dores de cabeça
Estética: Para eliminar rugas e imperfeições da testa da testa e “pés de galinha”dos olhos.
Efeitos secundários:
A nível muscular há um obrigatório que é a diminuição da força muscular fisiológica.
Contra- indicações
1) Miastenia gravis
2) Reacções de hipersensibilidade à toxina A ou B:
a resposta imunológica pode ser minimizada se se usar a dose mínima possível e se se
evitar injecções frequentes. O intervalo mínimo recomendável entre injecções é de 2 meses.
Interacções
Aminoglicosídeos: potenciação do efeito, o que é indesejável, visto ser de difícil controlo.
Relaxantes musculares como tubocurarina e aparentados.
Resistência: podem ocorrer fenómenos de resistência para determinada toxina por
produção de anticorpos pelo organismo. Nestas situações recomenda- se a mudança para
outro tipo de toxina botulínica.
NOVOS DESENVOLVIMENTOS
Engenharia genética: encontra –se em estudo a criação de uma toxina botulínica que exija
apenas uma administração, e que, portanto seja de efeito vitalício.
Novas toxinas: este tipo de investigação tem por objetivo combater as imuno- resistências
que têm surgido. Toxinas como a E, F ou G são atualmente alvo de estudo, mas com a
certeza porém de só virem a ser utilizadas em caso de resistência, visto que são de curta
duração de ação.
LINKS
www.cdc.org- Center disease control
http://www.botox.com
http://www.myobloc.com/index.html
http://www.hosppract.com
http://www.emea.org